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HEPATITE AUTO-IMUNE

ATUALIZAÇ‹O 2005

1. INTRODUÇ‹O 2. DIAGNŁSTICO LABORATORIAL


A Hepatite Auto-Imune pertence a um grupo Não existe um exame específico para
de doenças hepáticas relacionadas à formação de Hepatite Auto-Imune. Após exclusão diagnóstica
auto-anticorpos. É uma doença inflamatória de outras doenças hepáticas, avaliam-se alguns
crônica do fígado, de etiologia desconhecida, na parâmetros clínicos, bioquímicos, imunológicos e
qual há auto-agressão aos hepatócitos e ductos histológicos.
biliares (1). Ocorre com mais freqüência no sexo As transaminases estão sempre aumentadas
feminino em relação ao sexo masculino, em uma durante a atividade da doença, com valores
proporção de até 8:1 (2). Apresenta duas faixas geralmente acima de 1500 U/l. As enzimas
etárias de maior incidência: de 10 a 25 e de 40 a 70 canaliculares (GGT, Fosfatase Alcalina, 5-
anos de idade (2,3). nucleotidase) podem estar levemente aumentadas,
A Hepatite Auto-Imune clássica acomete mas com valores menores do que as transaminases.
geralmente mulheres, apresentando alta As gamaglobulinas podem apresentar-se elevadas
concentração de transaminases, hipergama- com padrão policlonal. A diminuição da atividade
globulinemia, amenorréia, artralgias e auto- de protrombina e a hipoalbuminemia indicam
anticorpos circulantes (3). acometimento hepático mais grave. Pode-se
O início pode variar de um quadro insidioso, encontrar anemia típica de doenças crônicas.
sendo que em 25% dos pacientes assemelha-se a Citamos a seguir alguns critérios importantes
hepatite aguda viral com colúria, icterícia e acolia utilizados no diagnóstico de Hepatite Auto-Imune
fecal, podendo apresentar-se também com um (2,3):
quadro de hepatite fulminante e com necrose
hepática maciça (2,3). Cerca de 20% a 50% dos
pacientes podem apresentar doenças auto-imunes
associadas, tais como, diabetes mellitus, doenças • Perfil de lesão hepatocelular ou misto.
da tireóide, vitiligo, anemia hemolítica ou • Ausência de marcadores da hepatite crônica
perniciosa, glomerulonefrite, doença reumatóide e viral, principalmente B e C. Deve-se afastar
lúpus eritematoso sistêmico (Tabela 1) (4). essas infecções virais devido à produção
Pacientes que apresentam elevação crônica de primária de anticorpos, principalmente contra
transaminases e que não possuem diagnóstico de o vírus da Hepatite C, produzindo resultados
hepatite viral, hemocromatose ou doenças falso-positivos.
induzidas pelo abuso do álcool, medicação ou • Não ingestão alcoólica em níveis que
esteatose hepática devem ser avaliados para produzam lesão hepática.
Doença Hepática Auto-Imune. • Não uso de medicamentos hepatotóxicos (ex.:
alfametildopa) ou persistência de lesão
Tabela 1. Doenças Auto-Imunes Associadas hepática em atividade após três meses de
Tireoidite Crônica Auto-Imune suspensão do medicamento.
Hipertireoidismo (Doença de Graves) • Marcadores ausentes para Doença de Wilson
Colite Ulcerativa (dosagem de cobre, ceruloplasmina),
Anemia Hemolítica Deficiência de alfa-1-antitripsina e
Trombocitopenia Idiopática Hemocromatose.
Diabete Mellitus • Presença de auto-anticorpos.
Diabetes Insipidus
Doença Celíaca • Presença de outras doenças ou manifestações
Polimiosite auto-imune.
Miastenia Gravis • Marcadores genéticos para doença hepática
Fibrose Pulmonar auto-imune (HLA-A1, B8 e DR3).
Síndrome Hipereosinofílica
Síndrome de Sjögren
Doença Mista do Tecido Conjuntivo
Glomerulonefrite

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3. PRINCIPAIS AUTO-ANTICORPOS antígenos sensíveis à tripsina da membrana
mitocondrial interna (AAM-M2) (5).

Anticorpo Anti-núcleo (FAN-HEp2)


Anticorpo Anti-actina (AAA)
Após o anticorpo Anti-músculo liso (AAML),
É o marcador mais específico da hepatite
é o segundo marcador, em freqüência, mais
auto-imune quando sua pesquisa é direcionada para
utilizado no repertório diagnóstico padrão da
actina F polimerizada (3,5). Seu método de
Hepatite Auto-Imune (4). Está presente em
detecção ainda não foi padronizado,
aproximadamente 50% a 70% dos pacientes,
consequentemente não foi incorporado aos
associado ao anticorpo anti-actina. É considerado
algoritmos diagnósticos (5).
um marcador da Hepatite Auto-Imune quando
A positividade do AAA não é 100%
outros anticorpos mais específicos estão ausentes.
específica para o diagnóstico da Hepatite Auto-
Os padrões homogêneo ou pontilhado são os mais
Imune. Títulos baixos (<1:160) poderão ser
encontrados (3,5). É o marcador isolado da
encontrados em outras doenças hepáticas (7).
Hepatite Auto-Imune em apenas 10% dos
Alguns estudos sugerem que a presença desse
pacientes (3). Deve-se considerá-lo como marcador
marcador na Hepatite Auto-Imune está associada a
quando está associado a outros critérios
pacientes HLA-DR3, início da doença em idade
diagnósticos.
precoce e baixa resposta à terapêutica
convencional quando comparados aos pacientes
Anticorpo Anti-músculo liso (AAML) AAA negativos (5).
Conforme Gabbiani e cols., esse marcador
representa anticorpos dirigidos contra o
microfilamento de actina (3). Testes para 4. ANTICORPOS AUXILIARES
anticorpos anti-actina ainda não estão amplamente
disponíveis em laboratórios clínicos, embora eles
sejam mais específicos. Títulos do AAML maiores Anticorpos Anti-citoplasma de neutrófilos
ou iguais a 1:320 geralmente refletem a presença perinuclear (p-ANCA)
de anticorpos anti-actina (6). É considerado o
Anteriormente, pensava-se que este padrão
marcador padrão da Hepatite Auto-Imune Tipo 1.
estaria somente relacionado à Colangite
Esclerosante Primária, mas alguns estudos sugerem
Anticorpo Anti-microssomo de fígado e rim que altos títulos deste anticorpo podem estar
tipo 1 (Anti-LKM 1) presentes em até 90% dos pacientes com Hepatite
Auto-Imune (5,8). Sua determinação torna-se útil
Representa anticorpos dirigidos contra
na distinção entre pacientes com Hepatite Auto-
antígenos localizados nos retículos endo-
Imune daqueles com Hepatite Viral que
plasmáticos liso e rugoso. Geralmente ocorre na
desenvolvem auto-anticorpos. Cerca de 20% a 40%
ausência de outros marcadores da Hepatite Auto-
dos pacientes com Hepatite Crônica B e C podem
Imune (FAN-HEp2 e AAML) (3,5).
apresentar títulos significativos de FAN-HEp2 e
A presença de Anti-LKM tipo 1 (alta
AAML e 6% dos pacientes com Hepatite Crônica
especificidade para o citocromo CYP2D6)
C podem apresentar positividade para Anti-LKM
relaciona-se a um subgrupo de Hepatite Auto-
1. No caso de não associação desses quadros com
Imune freqüentemente encontrado em mulheres
Hepatite Auto-Imune a determinação do p-ANCA
jovens e crianças que apresentam quadros clínicos
será negativa. Poderá ainda ser utilizado na
mais graves e evolução mais rápida para
diferenciação entre Hepatite Auto-Imune e
insuficiência hepática grave (5).
Colangite Esclerosante Primária. Nessa, o
anticorpo reage somente com neutrófilos, enquanto
Anticorpo Anti-mitocôndria (AAM) na Hepatite Auto-Imune sua presença pode ser
A presença isolada do AAM ocorre observada em neutrófilos e monócitos (5).
freqüentemente na Cirrose Biliar Primária, todavia,
identifica grupos com características híbridas de Anticorpo Anti-antígeno hepático solúvel
Cirrose Biliar Primária e Hepatite Auto-Imune (6).
Nessa última, pode ser encontrado associado aos (Anti-SLA)
anticorpos anti-actina, anti-músculo liso ou ambos. Embora muito específico para Hepatite Auto-
A especificidade do anticorpo para Cirrose Imune, sendo detectado em conjunto com outros
Biliar Primária pode ser aumentada pela auto-anticorpos, não define um subgrupo
determinação do anticorpo que reage contra específico de Hepatite Auto-Imune. Este marcador
torna-se importante na avaliação das doença

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hepáticas de etiologia não definida e na Em caso de negatividade para esses principais
reclassificação da Hepatite Crônica Criptogênica marcadores, além de avaliarmos o padrão
(5). laboratorial da hepatite, as anormalidades
bioquímicas, a hipergamaglobulinemia, os achados
Anticorpo Anti-citosol Hepático 1 histológicos típicos, a pesquisa imuno-genética e a
exclusão de outras possíveis causas, podemos
(AACH-1) utilizar os auto-anticorpos auxiliares.
É um anticorpo órgão específico para
antígenos hepatocitários. Geralmente está • A Hepatite Auto-Imune tipo 1 (clássica)
associado ao Anti-LKM 1, sendo considerado um caracteriza-se pelo quadro de apresentação da
segundo marcador e o exame mais específico para doença descrito anteriormente associado aos
o diagnóstico de Hepatite Auto-Imune tipo 2, auto-anticorpos FAN-HEp2 e AAML.
devido à possibilidade de associação do Anti-LKM • A Hepatite Auto-Imune tipo 2 define um
1 com o vírus da Hepatite C (3,6). grupo geralmente encontrado em crianças
menores de 15 anos de idade, associado a
Anticorpo Anti-proteína específica hepática quadro de hepatopatia grave e evolução mais
rápida para cirrose. Essa forma caracteriza-se
(Anti-LSP) e Anticorpo Anti-receptor de pela presença de Anti-LKM 1 e de anticorpo
asialoglicoproteína (Anti-RAGP) anti-citosol hepático tipo 1 (AACH-1). O
O LSP é um complexo macromolecular de paciente apresenta baixos níveis de IgA, sendo
conteúdo lipoprotéico apresentando antígenos a hipergamaglobulinemia menos proeminente
hepatocitários. Dentro do complexo LSP encontra- (3,6). Alguns autores sugerem uma divisão em
se um antígeno receptor de asialoglicoproteína, a dois subgrupos, tipo 2a e 2b (10). O tipo 2a
lectina hepática, antígeno alvo na Hepatite Auto- acomete mulheres jovens que apresentam altos
Imune (3,5). títulos de Anti-LKM 1, sorologia negativa
Os seus níveis estão relacionados ao grau de para o vírus da Hepatite C e resposta
necrose hepática em saca bocados, sendo que o terapêutica aos esteróides. A variante 2b
Anti-LSP é considerado o melhor marcador para ocorre em pacientes idosos com menor
definir a persistência de atividade na Hepatite preponderância em mulheres. Os pacientes
Auto-Imune (3). Esses marcadores não foram apresentam baixos títulos de Anti-LKM 1,
incorporados aos algorítmos diagnósticos devido à leve acometimento hepático, menor resposta
falta de padronização (5). terapêutica imunossupressora em relação ao
tipo 2a e freqüentemente apresentam sorologia
positiva para o vírus da Hepatite C.
5. AVALIAÇ‹O DOS AUTO-ANTICORPOS E
O grupo Internacional de Estudos da Hepatite
CLASSIFICAÇ‹O DA HEPATITE AUTO- Auto-Imune propôs um sistema de score (Tabela 2)
IMUNE com objetivo de melhorar a sistematização do
diagnóstico da doença.
Aproximadamente 70% a 80% dos pacientes
com Hepatite Auto-Imune apresentam títulos de
AAML e FAN-HEp2 maiores que 1:40. O Anti-
LKM 1 está presente em aproximadamente 3% a 6. ALTERAÇ›ES HISTOLŁGICAS
4% dos pacientes, principalmente em mulheres Os achados clássicos de infiltrado portal com
jovens (9). células plasmáticas, roseta de hepatócitos e
hepatite de interface (piecemeal necrose)
Na prática clínica a detecção de FAN-HEp2, contribuem para o diagnóstico de Hepatite Auto-
AAML e Anti-LKM 1 tornam-se os principais Imune (2,11). Os achados histológicos permitem
auto-anticorpos no diagnóstico da Hepatite Auto- quantificar a atividade da doença e a extensão da
Imune e devem ser realizados em todos os fibrose, além de avaliar a resposta ao tratamento
pacientes que apresentam doença hepática de (11).
etiologia não definida, independentemente do
tempo de duração da patologia (Figura 1) (5). A
positividade para os auto-anticorpos é mais 7. TESTES GENÉTICOS
importante do que o seu título, sendo que o
A identificação de HLA-A1, B8 ou DR3
diagnóstico de Doença Hepática Auto-Imune
poderá predizer doença hepática mais agressiva e
nunca deverá ser descartado com base somente nos
baixa resposta à terapêutica imunossupressora
baixos níveis de auto-anticorpos (5).
(1,12).

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Fig. 1 - Algorítmo Das Doenças Hepáticas de Causa Indefinida.

AAN: Anticorpo Anti-nuclear (FAN-HEp2).


AAML: Anticorpo Anti-músculo liso.
AAM: Anticorpo Anti-mitocôndria.
ANTI-LKM 1: Anticorpo Anti-microssomo de fígado e rim tipo 1.
ANTI-SLA: Anticorpo Anti-antígeno hepático solúvel.
AAM-M2: Anticorpo Anti-mitocôndria M2.
p-ANCA: Anticorpos Anti-citoplasma de neutrófilos perinuclear.

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Tabela 2. Sistema de score para o diagnóstico de Hepatite Auto-Imune (2,3,7,9,10)

PARÂMETROS SCORE
Sexo feminino +2
Fosfatase Alcalina: AST/ALT
<1,5 +2
1,5-3,0 0
>3,0 -2
Globulinas, Gamaglobulinas ou IgG (número de vezes acima do anormal)
>2 +3
1,5-2,0 +2
1,0-1,5 +1
<1,0 0
Auto Anticorpos
Adultos
AAN, AAML, Anti-LKM 1
> 1/80 +3
1/80 +2
1/40 +1
< 1/40 0
Crianças
AAN ou Anti-LKM 1
> 1/20 +3
1/10 ou 1/20 +2
< 1/10 0
AAML
> 1/20 +3
1/20 +2
< 1/20 0

Anticorpo Anti-mitocôndria Positivo -4


Marcadores Virais
Anti-HAV IgM, HBsAg ou Anti-HBc IgM positivo -3
Anti-HCV e RNA do HCV positivo -3
Outros fatores etiológicos
História recente de uso de drogas hepatotóxicas positiva -4
História recente de uso de drogas hepatotóxicas negativa +1
Consumo alcoólico
< 25 g/dia +2
> 60g/dia -2
Outra Doença Auto-Imune no paciente ou em familiar de primeiro grau +2
Histologia
Hepatite de Interface +3
Rosetas +1
Infiltrado inflamatório predominantemente linfoplasmocitário +1
Nenhuma das acima -5
Alterações biliares sugestivas de CBP e CEP -3
Outra alteração sugestiva de outra etiologia -3
Outros anticorpos auxiliares em pacientes com AAN, AAML, ANTI-LKM 1 negativos:
Anti-SLA, AACH-1, Anti-LSP, Anti-RAGP, p-ANCA: Positivo +2
Anti-SLA, AACH-1, Anti-LSP, Anti-RAGP, p-ANCA: Negativo 0
HLA-DR3 ou DR4 +1
Resposta terapêutica
Completa +2
Recidiva durante ou após retirada do tratamento após resposta completa inicial +3
DIAGNÓSTICO DEFINITIVO
ANTES DO TRATAMENTO > 15
APÓS O TRATAMENTO > 17

DIAGNÓSTICO PROVÁVEL:
ANTES DO TRATAMENTO 10-15
APÓS O TRATAMENTO 12-17

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Tabela 3. Auto-anticorpos na Hepatite Auto-Imune (3,4,5)

Tipo Auto-anticorpos principais Auto-anticorpos auxiliares

1 (Clássica) Anti-nuclear (FAN-HEp2) Anti-mitocôndria (AAM)


Anti-músculo liso (AAML) Anti-antígeno hepático solúvel (Anti-SLA)
Anti-actina (AAA) Anti-proteína específica hepática (Anti-LSP)
Anti-receptor de asialoglicoproteína (Anti-RAGP)
2 (Anti-LKM 1) Anti-microssomo de fígado e rim tipo 1 (Anti-LKM 1) Anti-nuclear (FAN-HEp2) *
Anti-citosol hepático 1 ( AACH-1)
* Raramente encontrado.

Tabela 4. Diagnóstico Diferencial da Hepatite Auto-Imune (3,4,5,7)

Hepatite C: Pacientes infectados pelo vírus da Hepatite C (HCV) podem ter auto-anticorpos positivos. Um resultado
negativo de Anti-HCV deverá ser confirmado após a oitava semana em caso de forte suspeita de Hepatite Viral C e, se
necessário, confirmação pela positividade do RNA do vírus C por PCR ou TMA (3).

Doença de Wilson: Nas doenças hepáticas de início agudo ou crônico com marcadores sorológicos negativos deve-se
pesquisar Doença de Wilson. História de consangüinidade, presença de Anel de Kaiser-Fleisher, níveis de
imunoglobulinas e transaminases pouco elevados, ceruloplasmina baixa, hipocupremia e hipercuprúria são achados
característicos (3,7).

Deficiência de Alfa-1-antitripsina: Defeito metabólico associado à Hepatite Neonatal, cirrose na infância e enfisema
pulmonar no adulto.

Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES): O comprometimento hepático não é proeminente. O padrão homogêneo
periférico do FAN-Hep2 corrobora com o diagnóstico de LES. Neste caso, o estudo das alterações histológicas é
fundamental para o diagnóstico diferencial (3).

Cirrose Biliar Primária (CBP): Maior freqüência de associação com doenças reumatológicas, gamaglobulinas menos
elevadas, positividade obrigatória para o AAM, elevação mais proeminente das enzimas canaliculares, agressão aos
ductos biliares e colestase, além das características clínicas (prurido, xantomas e xantelasma) (3,7).

Colangite Esclerosante Primária (CEP): Associação característica com Doença Inflamatória Intestinal notadamente a
Retocolite Ulcerativa. Predomínio de quadro de colestase. Presença de p-ANCA (3,5,7).

Tabela 5. Síndromes de Superposição com a Hepatite Auto-Imune

Hepatite Auto-Imune/Cirrose Biliar Primária: Achados clínicos compatíveis com Hepatite Auto-Imune com
positividade para AAM e achados histológicos de acometimento de ductos biliares (4,9,11).

Hepatite Auto-Imune/Colangite Esclerosante Primária: Caracteriza-se pela ausência de AAM,


hipergamaglobulinemia, colestase, Doença Inflamatória Intestinal associada e colangiografia alterada (9,11,14).
Hepatite Auto-Imune/Hepatite Crônica C: Altos títulos de auto-anticorpos (1:320), hipergamaglobulinemia, RNA do
Vírus C positivo e achados histológicos compatíveis com Hepatite Auto-Imune (11).

Colangite Auto-Imune: Presença de auto-anticorpos tipicamente associados à Hepatite Auto-Imune, perfil bioquímico
de colestase, ausência de Doença Inflamatória Intestinal, colangiografia normal e histologia evidenciando acometimento
de ductos biliares (9,11,14).

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8. S¸NDROMES DE SUPERPOSIÇ‹O resposta terapêutica com normalização bioquímica
(diminuição das transaminases e dos níveis da
Os aspectos clínicos, bioquímicos e os
globulinas) ocorre um a três meses após o início da
marcadores específicos das Doenças Hepáticas de
terapêutica (4).
etiologia Auto-Imune, embora possam apresentar
Aproximadamente 20% dos pacientes não
certa especificidade, algumas vezes manifestam-se
respondem ao tratamento, principalmente aqueles
em sobreposição (figura 2), tornando o diagnóstico
com cirrose estabelecida, jovens com longa
definitivo difícil e a orientação terapêutica
duração da doença antes do início da terapêutica e
variável, dependendo se o componente de agressão
com fenótipo HLA-B8 ou DR3. A recidiva da
predomina no hepatócito ou na via biliar (2,13,14).
doença é comum, podendo ser necessária terapia
A colestase é o denominador comum. Na tabela 5
de manutenção com baixas doses de Prednisona ou
citamos as superposições mais encontradas
Azatioprina após várias recidivas (4). Uma
(4,9,13,14).
resposta sustentada ao tratamento poderá ser
alcançada em 47% dos pacientes em até 10 anos,
mesmo após várias recidivas, não sendo necessária,
9. TRATAMENTO nestes casos, terapia de manutenção por tempo
A Hepatite Auto-Imune caracteriza-se indeterminado (17).
geralmente por uma boa resposta terapêutica aos O transplante hepático deve ser considerado
corticosteróides (15). A administração simultânea em pacientes jovens que, após quatro anos de
de Azatioprina poderá diminuir a dose do tratamento adequado, ainda apresentam
corticosteróide utilizada e seus efeitos colaterais descompensação hepática, ascite principalmente
(tabela 6) (4,16). O tratamento combinado é mais (6).
indicado nas mulheres na menopausa, nos
pacientes com osteoporose, antecedentes de Tabela 6. Tratamento da Hepatite Auto-Imune
distúrbios psiquiátricos ou com doenças sistêmicas
Tipo de Monoterapia Terapia Combinada
associadas, tais como, a Hipertensão Arterial e o Terapia
Diabetes (4). Inicial Prednisona 20-30 mg Prednisona 10-20 mg e
É aconselhável a manutenção da terapêutica Azatioprina 50-100 mg
por período de pelo menos dois a três anos, mesmo Manutenção Prednisona 5-10 mg Prednisona 5-10 mg e
ou Azatioprina, 100- Azatioprina 50-150 mg
que a remissão seja atingida precocemente (2). A 200 mg (2
taxa de remissão inicial é de aproximadamente mg/kg de peso)
80% em até três anos (4,17). Geralmente, a

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10. PROGNŁSTICO 11. REFER¯NCIAS BILBLIOGR˘FICAS
A melhor maneira de aumentar a sobrevida é
o diagnóstico precoce e a instituição de uma 1- Gish RG, Mason A. Autoimmune Liver Disease.
terapêutica inicial adequada. A taxa de mortalidade Clinics in Liver Disease.2001; 5: 287-314.
em pacientes não tratados com grau 3 ou 4 de 2- Cançado, ER. Diagnóstico e Tratamento das
atividade inflamatória determinada histolo- Formas Clássicas da Hepatite Autoimune. In:
Castro LP, Savassi-Rocha PR, Filho JG, et al.
gicamente é de 40% em 6 meses, 50% em 3 anos e Tópicos Em Gastroenterologia 9. Rio de Janeiro:
90% em dez anos (15). A sobrevida em pacientes MEDSI. 1999: 225-41.
adultos e pediátricos tratados é superior a 90% 3- Cançado ER. Hepatite Auto-Imune. In: Silva LC.
após 10 anos de diagnóstico (7). Aproximadamente Hepatites Agudas e Crônicas. São Paulo:
50% dos pacientes permanecerão em remissão ou Sarvier.1995:218-43
com atividade leve da doença após a retirada da 4- Edward L. K. Autoimmune hepatitis. Medical
medicação (4). A taxa de recidiva após transplante Progress 1996; 334: 897-903.
é maior que 20% em adultos e crianças (7) . 5- Czaja AJ, Homburger HA. Autoantibodies in liver
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6- Krawitt EL. Autoimmune hepatitis. N Engl J Med.
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7- Porta G. Hepatite Autoimune. In: Mattos AA,
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O Instituto Hermes Pardini disponibiliza para o Fundação Byk. 2001: 535-47.
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type 2 autpimmune hepatites. Hepatology. 1997;
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Método: Imunofluorescência Indireta. evaluation in the diagnosis and management of
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Assessoria Médica - 2005

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