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Métodos de Investigação

em Psicologia: Temas
Avançados

2º Semestre – 3º Ano
2021/2022
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Inês Matias
Teórica 1

É proibida a entrada a quem não andar espantado de existir!

O que é isto?

Chapéu Elefante comido por cobra

Symphony of Science - The quantum world

A teoria quântica oferece uma explicação muito diferente do nosso mundo (12
partículas de matéria, 4 forças da natureza)

As coisas pequenas comportam-se de forma muito diferente das coisas grandes.


Nada é o que realmente parece. O mundo é uma bagunça dinâmica de coisas
chacoalhantes.

No mundo quântico, o mundo das partículas, nada é certo, é um mundo de


probabilidades.

É muito difícil de imaginar todas as coisas loucas como elas realmente são.

Eletrões comportam-se como ondas → não, não exatamente.

Eletrões comportam-se como partículas → não, não exatamente.

Precisamos de uma Teoria de Tudo, que está apenas para além da nossa
compreensão.

Eu tenho de parar nalgum lugar, deixo-lhe algo para imaginar.

“A realidade é silenciosa; torna-se indispensável questioná-la para produzir


respostas.”

“A investigação começa com a curiosidade sobre o mundo”

A ciência que crê tudo esclarecer, cega. Ora, a verdadeira ciência é a que chega
ao conhecimento da ignorância (…)

“(…) Quanto mais se caminha para o conhecido mais se vai para o incognoscível.
O novo conhecimento conduz à nova ignorância. (…) Precisamos da explicação
para chegar ao inexplicável”

“Gostaria de aludir a Sócrates como ao homem que não sabia, ao homem que
soube que nada sabia. Na verdade, não sabemos nada (…) Somos pesquisadores,
a vida é, desde o início cética – em grego, pesquisante.”
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“O conhecimento do conhecimento ensina-nos que apenas conhecemos uma
pequena película da realidade”

“A ciência investiga; não prova”

Os dados
Trabalhar sobre os dados leva-nos a resultados. Ainda que os resultados possam
produzir novos dados para novas investigações.

É através dos dados que se vai construindo a ciência, com recurso a teorias e
métodos científicos

Os Dados CIÊNCIA Teorias e Métodos Científicos

Ciência
Origem: Scientia (conhecimento), remete para Scire (saber)

• Consciente (com saber)


• Consciência (capacidade de saber)
• Consciencializar (fazer com que alguém saiba)
• Científico (scientificus = pessoa que faz a ciência)
• Néscio (nescius = ignorante)

Teoria
Theoré: ver, examinar, observar

“Uma teoria não é o conhecimento; permite o conhecimento. Uma teoria não é


uma chegada; é a possibilidade de uma partida. Uma teoria não é uma solução; é
a possibilidade de tratar um problema. Por outras palavras, uma teoria só realiza o
seu papel cognitivo, só ganha vida com o pleno emprego da atividade mental do
sujeito. É esta intervenção do sujeito que dá ao termo método o seu papel
indispensável”

Metodologia
Metà (para além de) + Odòs (caminho) + Logos (estudo)

Estudo do Método
(vem de caminho, caminho para)

Implica uma posição teórica e epistemológica para a seleção de métodos


concretos de investigação

Epistemologia
Episteme (conhecimento/ciência) + Logos (estudo

Estudo/Teoria do Conhecimento, da Ciência


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Estudo da natureza, origem, estrutura, métodos e validade do conhecimento

Prática 1

Conceptualização da investigação
Antes de iniciar uma investigação é importante refletir sobre a nossa posição
filosófica, o objetivo que temos ao investigar, o tipo de conhecimento que queremos
produzir.

Qual a orientação que melhor corresponde à nossa visão da realidade e do


conhecimento? Que orientação melhor se adequa à questão a que pretendemos
responder?

A posição filosófica
Posição ontológica - crenças
A nossa visão sobre a realidade → acerca da natureza da realidade

Posição epistemológica -
A nossa visão sobre o conhecimento → crenças acerca da natureza
do conhecimento

Posição ontológica

Questionar como é a realidade? A realidade existe? É única? É objetiva? É estável?


É mensurável?

Posição Epistemológica

Como acedemos ou conhecemos a realidade?

O conhecimento é objetivo? O conhecedor (investigador) e o conhecido


(participante) são independentes? O conhecedor influencia o conhecido? O
conhecido influencia o conhecedor? o conhecedor é objetivo? O conhecido é
objetivo? E possível descrever a realidade sem a interpretar?

Os Paradigmas

Estas posições teóricas definem o paradigma

Paradigma: conjunto básico de crenças, valores e pressupostos que representam


uma dada imagem do mundo, definindo, assim, uma determinada natureza do
mundo, a posição do indivíduo nele e a sua relação com ele.
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As investigações são guiadas “por um conjunto de crenças e sentimentos sobre o
mundo e sobre o modo como ele pode ser compreendido e estudado” (Denzin &
Lincoln, 1994, p.13).

Paradigma
(“carta conceptual”)

(permite gerar)

Teoria “Realidade”
Método
(“mapa”)

(permite conhecer)

(permite intervir/mudar)

O paradigma define as posições ontológica (qual a natureza da realidade e o que


pode ser conhecido sobre ela?), epistemológica (qual a relação entre conhecedor
e conhecido?) e metodológica (como aceder ao que pode ser conhecido?)
subjacentes a um processo de investigação.

Paradigmas científicos

• Positivista
• Pós-Positivista
• Interpretativos (e.g., Construcionista; Teoria Crítica)

Orientação Positivista
Sublinha o realismo (próximo do ingénuo) – a realidade é real, única, imutável e
universal. É guiada por leis e mecanismos imutáveis (não considera o contexto).

A realidade é observável. objetiva, estável e mensurável

• O conhecedor é objetivo
• O conhecedor é superior ao conhecido – é um especialista do conhecimento;
conhece melhor o significado de um fenómeno do que o conhecido
• Conhecedor e conhecido são entidades desligadas, independentes
• O conhecedor não influencia nem é influenciado pelo conhecido

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O objetivo é predizer, controlar, generalizar. Investigação conduzida por teorias e
hipóteses previas, com controlo máximo de variáveis e mensuração dos dados.

Tipo de Investigação: Abordagem experimental e quantitativa

Orientação Pós positivista


A realidade é única e existe, mas só pode ser apreendida por aproximação -º-
dificuldade de lhe aceder → realismo crítico

• O conhecedor não é inteiramente objetivo, mas a objetividade deve ser


maximizada
• Conhecedor e conhecido não são completamente independentes, mas a sua
independência deve ser maximizada
• Reconhece que o conhecimento é mais relativo que absoluto, mas que é
possível, através da evidência empírica, distinguir entre mais e menos plausível
ou provável.

O objetivo é aceder à realidade “mais provável”. Investigação conduzida por


teorias e hipóteses/questões pré-definidas, com controlo máximo de variáveis.

Tipo de investigação: Quantitativa; Qualitativa; Mista

Orientação Interpretativa
Assume que a realidade é socialmente contextualmente construída, não há 1
realidade observável, mas sim múltiplas interpretações ou realidades de um
acontecimento (filtradas e contaminadas pelas nossas vivencias, crenças e valores)
→ Relativismo
Ex: o mapa não é a realidade

O que importa não é o que acontece (o mundo real) mas as interpretações do que
acontece, o significa que é atribuído por cada um (o mundo tornado real)

• O conhecimento é criado a partir da interação entre o conhecedor e o


conhecido

Objetivo é compreender as experiências vivencias significações. Compreender


em profundidade, não em extensão – não faz sentido a generalização

Tipo de investigação: Qualitativo, fenomenológico

Há procedimentos para impedir que a subjetividade (inevitável) vá enviesar todos os


resultados obtidos – importante para a qualidade dos estudos qualitativos.

Perde-se a possibilidade de chegar à verdade.

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Vídeo Aula Prática 1

Ontologia – crenças da realidade.

Filosofias da realidade, tipos de ontologia

Realismo – uma verdade existe e não muda, pode ser descoberta por instrumentos
objetivos e pode ser generalizada.

Relativismo – oposto do realismo. Múltiplas versões da realidade, depende do


significado associado. Evolve e muda com as circunstâncias, como esta
associada a um contexto não pode ser generalizada.

Ontologia dita a epistemologia

2 crenças sobre adquirir conhecimento

ETIC – Forma objetiva, sem influência do investigador, deve estar distante do que
está a ser investigado → Realismo

EMIC – realidade subjetiva, interagir com a pessoas para perceber o que elas
acreditam sobre a realidade, que estar dentro do aquário → Relativismo

Truth is created by meaning and experiences,

Methodology – como o conhecimento é descoberto e analisado;

Methods – específico das formas de obter dados.

Experiências (metodologia experimental) – ETIC e realismo → metodologia criada


para descobrir de forma objetiva, do exterior

Abordagem dedutiva, quantitativa → para generalizar → hipóteses, obtenção de


dados para comprovar → medidas objetivas

Estudo fenomenológico – experiencias vividas, in depth interviews para entender


o contexto → relativismo → EMIC → informação especifica, procuram padrões e
formam hipóteses (não sendo assim denominadas) que vão levar a mais pesquisa
e a conclusões → abordagem indutiva

Ontologia – Epistemologia – Metodologia – Métodos

Abordagem quantitativa – amostras grandes

Abordagem qualitativa – amostras pequenas

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Teórica 2

Paradigmas

Estudo Experimental
Para responder à pergunta de investigação é necessário planear a investigação. Os
objetivos do estudo guiam as tomadas de decisão no planeamento:

• Medição de comportamentos;
• Manipulação experimental;
• Controlo de variações estranhas;
• Planos univariáveis, fatoriais e correlacionais;
• Método: seleção dos participantes, escolha dos materiais e especificação do
procedimento.

Uma experiência é um estudo de investigação sistemático em que o investigador faz


variar diretamente um fator (ou vários fatores), mantendo os outros constantes, e
observa o resultado dessa variação:

• Os comportamentos observados/medidos são as variáveis dependentes (VD).


• Os fatores que o investigador manipula/varia são as variáveis independentes
(VI).
• Os fatores que são mantidos constantes/controlados são as variáveis estranhas
(VE)

Delineamento experimental Um dos objetivos principais do estudo científico


• Amostragem é ser capaz de generalizar através de amostras.
• Fiabilidade e validade A População são os membros existentes de um
• Variáveis experimentais e controlo determinado grupo. Como esta é,
• Tipos de planos experimentais normalmente, muito ampla, para realizar
investigações seleciona-se uma pequena
amostra que seja representativa da população.

Amostragem
A maior parte dos estudos experimentais em Psicologia recorre a amostras de
estudantes universitários.

Quão representativas da população são estas amostras?

Podem estes resultados ser inferidos para a população em geral?

A amostra universitária é altamente homogénea, com características demográficas


semelhantes, como a idade, ano de escolaridade SES. Mas consoante o estudo, isto
poderá ser mais ou menos relevante. Estas questões vão estar bastante associadas à
pergunta de investigação e aquilo que se procura medir.

As premissas das quais estes estudos partem:

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• Estudam-se processos universais – comuns a todas as pessoas, até em ao
longo do desenvolvimento, partilhadas com outras espécies de animais
• Pouco interesse nas diferenças individuais
• Assume-se que os processos em causa têm pouca variação cultural e que este
grupo de participante é tão representativo como outro qualquer, sendo assim
uma amostra válida e representativa no estudo dos processos cognitivos
universais.

The weirdest people in the world? (Heirich, Heine & Norezayan, 2010)

WEIRD participants: Western, Educated, Industrialized, Rich and Democratic societies.

Os resultados mostraram que entre 2003 e 2007 96% dos participantes eram de países
ocidentais industrializados (EUA, Europa), Austrália e Israel. Estes países representam
apenas 12% da população universal, o que põe em causa a representatividade
desta amostra.

Nem todos os processos cognitivos são universais. → Ex: ilusões


percetivas

Ilusão de Muller-Lyer: a linha vertical da esquerda parece maior do


que a da direita.

Os ângulos nas esquinas fazem parecer que a linha da esquerda


está mais longe (logo é maior). Pessoas de culturas em que não há
este tipo de esquinas (comunidades do deserto do Kalahari), não
são suscetíveis à ilusão (Segall et al., 1966).

Isto mostra que processos visuais percetivos que são considerados universais,
não são transversais a toda a população, podendo então depender da
cultura.

Mas muitos processos cognitivos são universais. Ex: “sentido do número” - capacidade
básica transversal de conhecer quantidades, saber quantificar coisas. Não o exato
número, mas se é mais ou menos.

• A capacidade de discriminar quantidades é universal – existe


em várias culturas, como a tribo Munduruku na Amazónia
(Pica et al., 2004) que não têm um sistema numérico, mas
conseguem facilmente dizer que na imagem o conjunto da
direita tem mais quantidade do que o da esquerda.
• Isto observa-se também em bebés e noutras espécies
(preferirem sítios com mais comida e sítios com menos
inimigos).
• Competências numéricas mais complexas (ex: aritmética) dependem da
perícia.

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Grande parte dos processos psicológicos básicos são universais, mas alguns
apresentam variação (entre pessoas, culturas, etc.). Essa variação é frequentemente
ignorada em estudos que recorrem a amostras especificas (ex: estudantes
universitários). Isto não significa que estes estudos sejam inválidos. Contudo, as suas
conclusões devem ser cautelosas, evitando generalizações para toda a população.

Devem ser feitos estudos mais abrangentes, interculturais e comparativos são


necessários e devem ser mais promovidos.

Amostragem por conveniência


• Os elementos são escolhidos por conveniência ou facilidade.
• Essas amostras podem não ser representativas da população e muitas vezes
são enviesadas. Ex.: alunos do 1º ano de psicologia.
• Muito utilizado por ser um método fácil, rápido, barato.

Amostragem Bola de Neve


• O investigador escolhe um grupo inicial de indivíduos
pertencentes à população.
• A amostra vai crescendo, como uma bola de neve, à medida
que mais pessoas são indicadas ao investigador.
• Muito útil para estudar grupos específicos. Ex: iletrados
• Pode originar resultados enviesados uma vez que os
participantes tendem a indicar pessoas próximas
(semelhantes).

Amostragem por quotas


• São definidas quotas para cada grupo que se pretende representar (ex:
pessoas de diferentes regiões do país)
• A escolha dos elementos dos grupos não é aleatória (tornando esta
amostragem menos representativa). Vão-se entrevistando os elementos a que
se tem acesso.
• Método muito popular em sondagens e estudos de opinião.

Amostragem estratificada
• São definidos grupos que se pretende representar, na proporção existente na
população.
• Os elementos desses grupos são escolhidos aleatoriamente, o que lhe confere
o carácter representativo.

Amostragem aleatória
• Cada elemento da população alvo tem igual probabilidade de ser incluído
na amostra. É a melhor forma de evitar o enviesamento das amostras.
• No entanto, há dificuldades importantes neste tipo de amostragem: é difícil
obter acesso a toda a população a inquirir (demorado, custo elevado).
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• Apesar de os estudos com estudantes universitários recorrerem à amostragem
por conveniência, dentro dessa amostra, os participantes são escolhidos de
forma aleatória.

Dimensão da amostra
O número de participantes depende do estudo, devendo ser testados o número
necessário e suficiente de participantes.

• Pequenas amostras são problemáticas, pois apresentam baixo poder


estatístico, inflacionam o número de falsos positivos, o tamanho do efeito e
apresentam baixa replicabilidade.
• Por outro lado, devem testar-se apenas o número de participantes necessários
e não aumentar a amostra apenas para tentar tornar significativos efeitos não
significativos.

O tamanho da amostra deve ser definido antes da recolha de dados. Existem


métodos para determinação da dimensão da amostra, baseados em estimativas
não-arbitrárias do tamanho do efeito esperado e do nível de confiança necessário.

Dificuldades da amostragem
O caso da Literary Digest Poll:

Este exemplo demonstra que as dificuldades não dependem apenas do número de


participantes.

Nas eleições de 1936 para a presidência dos EUA havia dois candidatos, Landon e
Roosevelt. A sondagem da revista Literary Digest, com 2,4 milhões de participantes,
previu a vitória de Landon (57% vs. 43%).

George Gallup conduziu uma sondagem com 50 mil pessoas e previu a vitória de
Roosevelt (56% vs. 44%).

O resultado da eleição foi: Roosevelt 62% e Landon 38%.

Como é que esta discrepância pode ser explicada?

→ A amostra da Literary Digest incluía apenas leitores da revista, pessoas com


automóvel e pessoas com telefone.

Era, portanto, uma amostra enviesada, não representativa dos eleitores americanos.
Incluir muitos participantes não elimina o viés da amostra, não a torna mais
representativa. A representatividade tem a ver com a natureza, com a forma como
se consegue ter acesso à população.

Fiabilidade e validade
Duas características essenciais das medidas:

Fiabilidade (Precisão):
• Os valores da medição são reproduzidos quando novas medições do mesmo
comportamento são realizadas?

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• Prende-se coma consistência na medição e com a possibilidade de
replicação
Nenhuma medida comportamental é perfeitamente confiável, então algum grau de erro
de medida ocorre com todas as medições. Ou seja, toda medida é uma combinação de
uma pontuação verdadeira hipotética mais algum erro de medição. Idealmente, erro de
Validade:
medição é baixo o suficiente para que a pontuação observada seja próxima da
• A medida mede o que é suposto medir?
pontuação verdadeira.
• Prende-se com o significado da medição.

Validade pressupõe Fiabilidade, mas não o inverso.

Exemplo da Frenologia:

A área que fica 2 cm acima da orelha é a área da tendência destrutiva.”

Esta medição é fiável? E é válida?

Ela é fiável → se quisermos reproduzir a medição encontramos a mesma área.

Mas não é válida → a área não representa a tendência destrutiva.

Amostragem, fiabilidade e validade


Bons métodos de amostragem e dimensões adequadas da amostra são um primeiro
passo crucial no planeamento experimental.

• Impedem enviesamentos sistemáticos;


• Garantem a representatividade da amostra;
• Permitem o uso de testes estatísticos para inferir os resultados da amostra para
a população.

Mas uma amostragem adequada não garante resultados relevantes para os


objetivos do estudo. Temos de saber se os resultados são fiáveis (consistentes e
replicáveis) e válidos (se estamos a medir o que pretendemos medir.

Além disso, precisamos de garantir que as manipulações experimentais, e não outros


fatores estranhos, afetam as variáveis que queremos medir.

Variável é qualquer coisa que varia, são eventos hipotéticos ou


Variáveis
observáveis que podem mudar e essa mudança pode ser medida.
Variável dependente
As Variáveis Dependentes (VD) correspondem aos fatores medidos no estudo:

Os comportamentos passiveis de serem medidos são muitos e variados, o que implica


uma escolha ponderada da VDs

A escolha das VDs prende-se com a definição operacional dos construtos


psicológicos e com a fiabilidade e validade dessas medições.

Escala de depressão de Beck como medida de depressão.


Teste da memória de dígitos como medida de memória de trabalho.
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Aspetos importantes a considerar na escolha das VDs:

• Escalas de medida: nominal, ordinal, métrica


• Momento da medição: pós-teste e (Quando se faz apenas uma medição) vs.
pré-pós-teste (Quando se realiza duas medições antes e depois da
manipulação das variáveis independentes).
o Teste como manipulação da VI
o Há algumas perguntas de investigação, com certos objetivos que não
faz sentido uma medição pré-teste.

Variável Independente
As Variáveis Independentes (VI) correspondem aos fatores que o experimentador
manipula, para averiguar se têm ou não consequências no comportamento:

• Só podemos averiguar o efeito de um número limitado das VIs


• Cada VI tem pelo menos 2 níveis (condições experimentais)

Como é que a demência afeta os sintomas de depressão?


A capacidade de memória de trabalho é influenciada pelo stress?

Aspetos importantes a considerar na escolha das VIs:

• Forma de manipulação: intra-participante (há um único grupo na amostra e


todos eles passam por todas as condições experimentais) vs. inter-participante
(existem vários grupos divididos por condições experimentais).
o Vantagem Intra-participante: Se todos passarem pelas duas condições,
se se detetar uma variação é devido à VI e não por diferenças
individuais.
• Uma manipulação inter-participante comum é a existência de um grupo
experimental e um grupo de controlo

Variáveis Estranhas
• Correspondem aos fatores que o experimentados tenta controlar – fator de
interesse que pode influenciar o comportamento porque co-varia com a VI.
• As VEs devem ser mantidas constantes de modo a minimizar os seus efeitos
nos resultados.

Controlo
O controlo experimental visa minimizar o efeito de variáveis estranhas que podem
afetar (confundido) os resultados do estudo.

Deve-se controlar qualquer fator que não é de interesse para a investigação, mas
que pode influenciar o comportamento, porque co-varia com o fator de interesse.

Desde que mantidos constantes as VEs não afetam os resultados.

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Estratégias de controlo:
• Aleatorização – Escolha aleatória de participantes e a sua distribuição aleatória
sobre as condições experimentais. Permite que todas as variáveis estranhas
também se distribuam de maneira aleatória pelos grupos.
• Emparelhamento – Duas condições distintas e queremos que sejam diferentes no
fator de interesse, mas idênticas em tudo o resto.
o P.e. estudar o efeito da demência, emparelhando a idade.
• Balanceamento – Tem a ver com efeitos de ordem, se temos diversas tarefas que
queremos aplicar devemos alterná-las
o Se tivermos duas tarefas A e B, devemos usar ordem alternadas entre
pessoas, para umas A-B e para outras B-A.

Exemplo:

Um investigador pretende saber se a aprendizagem faseada no tempo é mais eficaz


do que a aprendizagem concentrada num só dia. Para isso concebeu o seguinte
plano experimental:

2ªF 3ªF 4ªF 5ªF 6ªF


Grupo 1 3h --- --- --- teste
Grupo 2 3h 3h --- --- teste
Grupo 3 3h 3h 3h --- teste

Seria útil um pré-teste, para ter a


certeza que partem todos do mesmo
Erro – Falta de controlo de diversas variáveis estranhas: nível de conhecimento.

1. O número de horas de estudo está a aumentar. Não se pode saber se houver


uma melhoria, se se deve ao tipo de aprendizagem (VI) – faseada ou
concentrada – ou se se deve a maior ou menor número de horas (VE).
2. As sessões de aprendizagem devem acabar todas no mesmo momento, o
intervalo de tempo, o tempo de retenção, até ao teste vai afetar a memória.
a. Quando o faseamento aumenta, o tempo de retenção diminui.

A implementação de estratégias de controlo é crucial em qualquer estudo


experimental.

A existência de um grupo/condição de controlo não é obrigatória, mas é um


procedimento comum. O grupo/condição de controlo serve de “baseline”
(referência), pois é igual ao grupo/condição experimental em tudo menos no fator
de interesse (VI).

Planos experimentais
Plano ou paradigma experimental é uma estratégia sistemática, desenvolvida pelo
investigador, para verificar como é que as manipulações experimentais (VIs) afetam
os comportamentos medidos (VDs), mantendo outros fatores potencialmente
confundentes (VEs) constantes.
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Permite estabelecer relações de causa-efeito, porque:

• Avalia-se como é que variações da VI provocam alterações na VD.


• Controlam-se outras variáveis, logo pode descartar-se o seu efeito destas sobre
a VD.

Há 2 tipos de planos experimentais mais frequentemente usados: univariável e fatorial.

Plano Univariável
Plano experimental que contém apenas uma VI:

• No plano mais simples, essa VI tem apenas 2 níveis (condições).


• Estes planos mais simples são infrequentes, pois os investigadores preferem
paradigmas mais complexos que produzem resultados mais elaborados.
• Em planos mais complexos, essa VI pode ter 3 ou mais níveis.

Exemplo: Estudo com o paciente SE com défice específico de categoria (este


paciente perde informação sobre as categorias; Moss et. Al, 1997).

Neste estudo pediu-se ao paciente que desenhasse vários objetos e, pelos desenhos
consegue identificar-se cada um dos objetos. Mas, quando se pede que este
desenhe seres vivos, não é possível identificá-los, uma vez que este paciente
apresenta um défice específico para seres vivos, não défice de acesso à
representação, mas de perda de representação (afeta outras modalidades, se ouvir
o som de um gato não consegue associar ao gato). Esta experiência foi feita com
base num plano univariável, em que a única manipulação é na categoria dos
objetos, domínio semântico, entre seres não-vivos e vivos.

Este estudo é informativo, pois conseguimos observar o défice do paciente e que este
consegue diferenciar seres vivos de seres não-vivos, pois nos desenhos essa diferença
é notória. Características que são partilhadas por vários exemplares (por exemplo ter
patas e olhos nos animais) são preservadas neste tipo de défices, mas as
características que são únicas (por exemplo ter bossas, no caso de um camelo) são
perdidas neste tipo de défice.

Plano Fatorial
Plano experimental que contém duas ou mais VIs:

• Cada VI tem de ter pelo menos dois níveis. Portanto, um plano fatorial tem pelo
menos quatro condições.
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• Na nomenclatura utilizada, cada número corresponde a uma VI, o valor que
esse número toma identifica o número de níveis de cada VI. Ex. 2x2; 2x3x2.
• Permite olhar para efeitos principais: efeito de uma VI sobre a VD.
• Permite analisar efeitos de interação: efeito de uma VI depende do nível da
outra VI.

Exemplo: Efeito da categoria semântica (ser vivo, não vivo) e do grau de partilha de
atributos (partilhado, distintivo) no processamento de objetos (Reilly et al., 2018).

Partilhado Distintivo
Ser vivo Condição 1 Condição 2
Não vivo Condição 3 Condição 4

Exemplos de estímulos em cada condição:

• Condição 1: águia-olhos
• Condição 2: leão-juba
• Condição 3: martelo-metal
• Condição 4: piano-teclas

Delineamento experimental
Investigação experimental oferece os métodos mais poderosos para testar hipóteses
causais:

• Garante que as manipulações experimentais, e não outros fatores estranhos,


afetam as variáveis que se pretendem medir.
• Os participantes são recrutados e distribuídos de forma aleatória pelas
condições experimentais, assegurando que diferenças individuais não são
responsáveis por diferenças nos resultados.

E a falta de validade ecológica? Uma das principais críticas a esta metodologia é


não ser claro se os mesmos resultados são encontrados em contextos naturalistas.

• Estudos experimentais e naturalistas têm objetivos diferentes (ambos


igualmente importantes).
• Às vezes o que precisamos é de “invalidade ecológica”, se o importante for
isolar variáveis que estão naturalmente correlacionadas (Mook, 1980).

Prática 2

Variáveis dependentes
Correspondem aos fatores medidos no estudo. Muitas vezes correspondem á
múltiplos correlatos do comportamento:

• Desempenho (precisão, tempo de resposta)


• Resposta fisiológica (pressão arterial, sudação)
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• Ativação neuronal (áreas cerebrais)
• Atividade eletrofisiológica (potenciais elétricos)
• Movimentos oculares
A escolha e definição das VDs depende da operacionalização dos construtos
psicológicos que pretendemos investigar. VDs usadas em estudos anteriores
asseguram a fiabilidade e viabilidade das medidas.

Variáveis independentes
Correspondem aos fatores que o experimentador manipula para observar se têm ou
não consequências no comportamento:

• Cada VI tem pelo menos 2 níveis


• O número de Vis e o número de níveis definem o tipo de plano experimental
(univariável ou fatorial)
• A manipulação pode ser inter-participantes (grupos diferentes entre
condições) ou intra-participantes (os mesmos participantes passam pelas
várias condições).
Embora possamos ter o número de VIs que quisermos, pode tornar-se complicado
compreender os resultados e de onde vêm os efeitos.

Variáveis estranhas
São variáveis de não interesse. São uma componente fundamental dos estudos
experimentais que permite concluir com mais segurança sobre efeitos causais (entre
VI e VD).

• Deve-se controlar qualquer fator que não é de interesse para a investigação,


mas que pode influenciar o comportamento, porque co-varia com a VI.
• As variáveis estranhas (fatores confundentes) devem ser mantidas constantes
de modo a minimizar os seus efeitos nos resultados.
• Estratégias de controlo mais frequentes: aleatorização, emparelhamento e
balanceamento (alternar a apresentação dos estímulos ou tarefas).

Plano experimental
• Univariável: apenas uma VI
• Fatorial: tem duas ou mais VIs. Recorre a uma terminologia específica. Por
exemplos:
o 2x2 = plano com duas variáveis independentes com dois níveis cada
uma.
o 2x3x3 = plano com 3 variáveis independentes, uma delas com dois
níveis e as outras duas com três níveis.

Vídeos
Para cada vídeo responder:

➢ Quais as VDs e as VIs? Como foram manipuladas e medidas?


➢ Quais os cuidados metodológicos tidos com potenciais variáveis estranhas?
➢ Qual o plano experimental utilizado?
➢ Proponha um novo estudo, dentro da temática apresentada, especificando
a metodologia a usar (variáveis, controlo e plano).
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Vídeo 1:

Objetivo: estudar o altruísmo em crianças através dos comportamentos de ajuda.

Estabeleceram 4 categorias de problemas do adulto

1. Objeto fora do alcance;


2. Utilizar os meios errados;
3. Ter o resultado errado;
4. Encontrar um obstáculo.

Tinham outras 4 condições de controlo correspondentes a estas categorias. Este


controlo permite perceber se a criança consegue distinguir as situações em que o
ajudo precisa de ajuda ou não.

1. Na situação da mola, esta é intencionalmente deitada ao chão


2. No da colher, atira-a de propósito para dentro da caixa
3. Põe intencionalmente o livro de lado e não em cima
4. Em vez de tentar por os livros no armário, nem abre a porta

São de controlo pois transmitem o facto de o de adulto precisar de ajuda, e é por


isso que a criança ajuda.

• Há uma única VD – ajudar ou não → Escala de medida nominal


• Há duas variáveis independentes:
1. Categoria de problema apresentado – com 4 níveis (as 4 situações)
2. Intencionalidade – com 2 níveis (se a ação é ou não intencional,
controlo vs. experimental)
• Plano experimental: 4x2 → ou seja 8 condições: cada uma das categorias de
problema, na condição de controlo ou experimental.
• Cuidados tidos relativamente as variáveis estranhas:
o Recrutamento aleatório dos participantes e distribuição dos participantes
pelas condições deve também ser aleatória.
o Emparelhar as condições de controlo e experimental (e.g., emparelhar
experimentador, materiais, presença dos pais, etc.)
o Balancear a ordem das condições (controlo e experimental)- São expostas
aos quatro, mas se ficam na experimental numa, já não fazem a de
controlo da mesma) ou randomização
o Emparelhamento das vocalizações

Vídeo 2:

• Variável dependente: proporção de respostas corretas


• Variável independente: macacos vs. pessoas
• Cuidados:
o Aleatorização dos lados em que aparecem as diferentes quantidades
o Aleatorização dos tamanhos – distinguir entre quantidade e espaço que
ocupa.
o Controlo dos 2s para prevenir que os humanos comecem a contar, em
comparação com os macacos

18
Teórica 3

Metodologia de ressonância magnética funcional


• Técnica que tem sido muito usada quer na psicologia quer noutras
neurociências;
• Ressonância magnética vai busca muito à metodologia comportamental.

Mapeamento da cognição
“Se a mente ocorre em algum espaço de todo, ocorre certamente a norte do
pescoço. O que é que nos informa saber em que localização é que esses processos
cognitivos ocorrem? O que é que isso nos traz?”

Fodor (1999)

“O equipamento mais crítico que o invertigador tem é o seu cérebro. Todo o


equipamento no mundo não nos vai ajudar se nós não soubermos como o usar de
forma correta e apropriada, o que requer mais do que apenas saber como é que ele
opera. O Aristóteles não teria sido necessariamente mais profundo se tivesse um
laptop e se soubesse programá-lo. O que é extremamente necessário hoje em dia,
com todos esses scanners de ressonância magnética, é um entendimento exato do
que é que estamos a observar, a ver, a medir e sobre o que estamos a pensar e
imaginar, diria eu.” E, portanto, aqui, transmite bem a ideia de que não basta termos
um scanner de ressonância magnética para isso ser informativo sobre os processos
cognitivos e sobre o cérebro. Nós temos de saber exatamente o que queremos medir
e observar.”

Tulving (2002)

Nova frenologia?
Surge como o primeiro mapeamento (popular) da cognição, em que a partir da
forma e protuberâncias do crânio poderíamos ser informados sobre as aptidões
mentais e traços de carácter de uma pessoa;

Século XIX 200 anos depois


Natureza Exame das elevações e depressões Exame das ativações e lesões
da medida do crânio. cerebrais.
Traços de personalidade complexos Processos cognitivos associados a
associados a regiões específicas do redes neuronais distribuídas no
cérebro. cérebro (e não localizados numa
Aquilo que É a primeira vez que se fala da mente região específica). A mesma região
procurava
e dos processos cognitivos e pode participar em mais do que uma
estudar
emocionais poderem ter uma função, logo vê-la ativada não nos
representação no cérebro. diz logo que processos estão
envolvidos.
Ausência de método experimental e Abordagem experimental rigorosa e
análises estatísticas. validação estatística.

19
Imagiologia da cognição
“O sujeito que vai ser observado, deita-se numa mesa delicadamente equilibrada,
que poderá baixar num dos extremos, da cabeça ou dos pés, se o peso em alguma
dessas extremidades aumentar. No momento em que a atividade emocional ou
intelectual começa, no sujeito, então a parte da cabeça baixa, na sequência de
uma redistribuição no seu sistema.”

Dispositivo de medição do fluxo sanguíneo cerebral


proposto por Angelo Mosso.

Será que isto é um absurdo?


Há, de facto, aqui coisas que não fazem sentido, por exemplo, numa situação destas
a parte da cabeça não fica mais pesada por começarmos a pensar. Contudo, há
uma relação estreita entre a atividade neuronal e fluxo sanguíneo.

Relação entre atividade neuronal e fluxo sanguíneo.


A medida mais direta é medir a atividade elétrica, os potenciais elétricos. Mas o fluxo
sanguíneo é uma medida indireta da atividade neuronal, obtida através da RM
funcional.

Imagiologia de ressonância magnética: MRI


Imagiologia de ressonância magnética recorre a campos magnéticos muito fortes e
a ondas de rádio para produzir imagens detalhadas do corpo.

A força do campo magnético é expressa em unidades de Tesla.


• Campo magnético da Terra ~0.00005 T.
• Scanners de MRI variam entre1.5 and 7 T.

Ressonância Magnética permite adquirir imagens estruturais (anatómicas) do


cérebro com alta resolução

20
Imagiologia de ressonância magnética funcional: fMRI
Imagiologia de ressonância magnética funcional mede a atividade cerebral através
da deteção de alterações associadas ao fluxo sanguíneo.

fMRI baseia-se no facto de o fluxo sanguíneo cerebral e a ativação neuronal estarem


acoplados: quando uma área do cérebro está a ser utilizada, o fluxo de sangue que
acede a essa região aumenta.

As imagens que temos mostra a ativação cerebral.

Contraste BOLD
Contraste BOLD (blood oxygenation level dependent) é o método de imagem mais
comum (Ogawa et al, 1990).

Quando a atividade neuronal aumenta, há um aumento da necessidade de


oxigénio, resultando num acréscimo de fluxo sanguíneo a essa região cerebral. →
Resposta dependente do nível de oxigenação do sangue

A molécula da hemoglobina tem propriedades magnéticas que


diferem dependendo se está ou não ligada ao oxigénio.

A concentração de desoxi-hemoglobina (dHb) afeta a taxa de


magnetização dos protões. A intensidade do sinal das imagens
de MRI refletem a concentração de dHb

Quando os neurónios de uma dada região cerebral entram


em atividade, dáse um aumento do fornecimento de
hemoglobina oxigenada a essa região, acima daquela que
é necessária para consumo das células. Isto traduz-se num
decréscimo da quantidade de dHb e numa diminuição da
perda de sinal.

É a perda de sinal que é medido e que nos diz se aquela área está em atividade.

Resposta hemodinâmica
Alteração desta dinâmica do sangue, com características específicas que são
conhecidas.

Resposta hemodinâmica: alteração no sinal de MRI em função da atividade


neuronal.

21
Resposta da função hemodinâmica (HRF): evolução ao longo do tempo da resposta
hemodinâmica.

Se uma determinada região está a ser usada numa atividade, a


resposta hemodinâmica aumenta, atinge um pico e reduz para
além da baseline, voltando com o tempo ao valor inicial.

Quanto tempo demora a resposta hemodinâmica a atingir o pico?


• ~5s

O que isso significa em termos de resolução temporal?


• É má! Nós somos muito mais rápidos que 5 segundos a responder a tarefas.

Baixa resolução temporal:

A fMRI não é muito boa medir acontecimentos muito próximos e rápidos.

• Pico da resposta apresenta um atraso de ~5s relativamente ao início da


apresentação do estímulo (i.e., início do processamento).
• A resposta estende-se ao longo do tempo.
• Não é por isso possível identificar o momento inicial (onset – quando começa
o processamento) da resposta.

Elevada resolução espacial: o tamanho do voxel varia entre 1 e 5mm.

Bom par ver onde no cérebro, que regiões são recrutadas em diferentes tarefas, mas
não para ver se somos rápidos ou não a responder a um estímulo.

Resposta
hemodinamica é
aquilo que se mede
com o Contraste BOLD.

• HRF varia entre participantes (A).


• No mesmo participante, a HRF depende da região cerebral (B).

Sumário interino
• fMRI é uma medida indireta da atividade neuronal. Reflete uma correlação
entre o sistema vascular e a atividade neuronal. Vários estudos mostram que a
resposta BOLD é um indicador (indireto) fidedigno da atividade neuronal.
o Relação indireta – não permite estabelecer uma relação causal
• A resposta BOLD é lenta. Atinge o pico alguns segundos depois do início da
atividade neuronal. Esta característica tem que ser tida em conta na
preparação dos paradigmas experimentais e na análise dos dados.
• A resposta BOLD varia de pessoa para pessoa e depende da condição de
saúde, localização cerebral, hora do dia, etc.

22
Vantagens e Limitações

Vantagens Limitações
Elevada resolução espacial (1-2 mm). Baixa resolução temporal (~5s de atraso).
Cobertura do cérebro todo.
Não é invasiva e não apresenta riscos Participantes têm de manter-se quietos
para a saúde ou segurança dos num tubo barulhento (>95dB) e estreito
participantes. (60cm diâmetro). Não pode ter metal.
Permite a combinação de métodos Custo elevado (~350€/hora).
comportamentais e análises estatísticas
padrão.

Publicações
Na última década a fMRI tornou-se uma técnica
dominante em neurociências.

Estudo pioneiro

Paradigma experimental
Há muitas formas de analisar dados das ressonâncias, mas a mais usada é a da
subtração.

Princípio da subtração: tarefa A – Tarefa B


• Duas tarefas (A e B) partilham alguns processos cognitivos e neuronais e diferem
noutros.
• Subtraindo uma das tarefas (B) à outra (A) temos acesso aos processos cognitivos
e neuronais específicos de uma da tarefa (A).
o Subtrai-se aa ativação neuronal em condição de controlo, à ativação
neuronal aquando do estímulo experimental.

23
• Incluir sempre pelo menos uma condição de controlo.
• Respostas motoras simples (carregar em botões para sim/não) são preferíveis do
que respostas orais ou respostas mais complexas, uma vez que o movimento afeta
a qualidade das imagens.
• Usar estimulação visual, em vez de auditiva, dado que o scanner é barulhento.
• O intervalo inter-estímulos deve ser maior do que em estudos comportamentais
(1500-7000ms), para melhor detetar e destrinçar a HRF associada ao
processamento de diferentes estímulos.
o Intervalo de 1500-7000ms porque tem de dar tempo da respostas baixar
para se notar o subir para o pico em relação a um novo estímulo.
• Pelo menos 30 ensaios por condição; máximo de 40 min em tarefa; cerca de 20
participantes por grupo.

Hierarquia de dados
1 participante →1 sessão → vários blocos

A análise dos blocos resulta num volume


(ativação de um cérebro inteiro) → é dividido
em cortes → aquilo que é analisado são os
clusters ativos (constituídos por voxels –
semelhante a pixéis)

A ativação analisada é uma média da


ativação de todos os ensaios de uma dada tarefa.

Segurança e ética
• Questionário de inclusão detalhada a todos os participantes.
• Além da verificação da ausência de metal (no corpo ou nas roupas): exclusão
de mulheres grávidas, pessoas com dores nas costas e com claustrofobia, dar
proteção auditivas (auscultadores).
• Notificar o participante no caso de deteção de alguma anomalia (se esta
pessoa assinou o consentimento informado e disse que queria ser notificado).

Predição da memória
Quais os processos que nos permitem formar novas memórias?

• São recolhidas imagens do cérebro enquanto os participantes


estudam uma lista de palavras. Seguidamente, fora do scanner,
tentam recordar as palavras lidas, dizendo se numa nova lista as
palavras eram repetidas ou novas.
• Os autores compararam a ativação cerebral durante o estudo das
palavras que são posteriormente recordadas vs. esquecidas.
• Verificaram que a ativação em várias áreas do córtex pré-frontal
esquerdo durante o estudo das palavras prevê o posterior sucesso
da memória → Os processos são diferentes desde a codificação.

24
Impacto da literacia
• Como é que a aprendizagem da leitura e da escrita influencia
as redes corticais?
• Adultos letrados, ex-iletrados e iletrados participaram neste
estudo de fMRI.
• Os adultos letrados e ex-iletrados mostraram diferenças de
ativação em regiões de visão e linguagem falada quando
veem texto em comparação com adultos iletrados.
• Reciclagem neuronal: a aprendizagem da leitura, mesmo
tardia, modifica a organização cortical (Dehaene et al., 2010).

Medo no branco do olho


• Amígdala responde robustamente a expressões faciais de medo.
Testou-se a hipótese de que a informação sobre o medo é
indicada pelo branco do olho (esclera).
• O branco do olho numa expressão de medo foi comparado com
uma expressão de felicidade e com condições em que a cor foi
invertida.
• Observou-se uma interação significativa entre a cor da esclera e a
expressão facial: a amígdala respondeu apenas ao branco do
olho em expressão de medo (Whalen et al., 2004).

Pacientes em estado vegetativo


• Estudo de fMRI com pacientes em estado vegetativo,
que foram instruídos a imaginar-se a jogar ténis e a
imaginar-se a ir para casa.
• Os pacientes vegetativos mostraram ativações
cerebrais diferentes nas duas situações e o seu padrão
de ativação é muito semelhante ao dos participantes
saudáveis.
• Em alguns casos de estado vegetativo, os pacientes
mostram ativação cerebral e é possível comunicar
com eles (Owen et al., 2006).

Prática 3

MRI é uma medida indireta da atividade neuronal. Reflete uma correlação entre o
sistema vascular – sanguíneo – e a atividade neuronal. Vários estudos mostram que a
resposta BOLD é um indicador (indireto) fidedigno da atividade neuronal e, portanto,
a resposta cerebral é usada como uma medida indireta da atividade dos neurónios,
tal como o comportamento é uma medida indireta da atividade dos neurónios.

25
A resposta BOLD é lenta.

• Atinge o pico alguns (5) segundos depois do início da atividade neuronal.


• Por esta razão não é possível determinar com exatidão o início da atividade
neuronal, nem destrinçar respostas neuronais associadas a eventos ou
processos cognitivos muito próximos no tempo.
• Tem, contudo, uma resolução espacial muito elevada, permitindo distinguir
ativações neuronais que ocorrem a pouco milímetros de distância.

Análise de contraste

• Uma das análises mais comuns em fMRI baseia-se no contraste entre


condições experimentais.
• Este tipo de análise parte do princípio da subtração
• Como o cérebro está sempre em atividade (mesmo quando estamos a
dormir), para conhecer as redes neuronais especificas a um determinado
fenómeno cognitivo (ex: ouvir um som), é necessário comparar esse fenómeno
c outro (ex: silencio)
• Isto permite excluir toda a atividade neuronal comum aos dois fenómenos (ex:
batimento cardíaco) …

Perguntas
1. Pessoas com contraindicações (Ex: claustrofobia) podem, em certas
circunstâncias, realizar exames clínicos de MRI, mas devem ser excluídas de
estudos de investigação. Por que razão deve haver diferentes normas para a
inclusão de participantes em exames clínicos e de investigação?

Essa pessoa ao sentir-se de forma diferente de outras (ansiedade, medo) vai introduzir
ruído e variabilidade no padrão de ativação neuronal. É preferível não introduzir esta
variabilidade.

Questões éticas, os benefícios de uma investigação, não sendo sequer para o


próprio, não se sobrepõem ao medo induzido na pessoa, enquanto um exame clínico
pode ser necessário para um bem-estar maior da pessoa.

O consentimento é obrigatoriamente escrito

2. Explique porque é que em estudos comportamentais, o intervalo inter-estimulos é


geralmente curto (ex: 500ms) enquanto em estudos de fMRI

Na resposta comportamental é muito rápida, na fMRI a resposta vascular é lenta e é


preciso esperar para se ver esta resposta. Alem disso, tem de haver um intervalo de
tempo maior para que o nível da resposta baixar para se notar o subir e o pico de
uma nova resposta em relação a um novo estímulo.

3. O vídeo seguinte descreve uma investigação com registo de movimentos


oculares para investigar o processamento de faces emocionais em pessoas com
síndrome do espetro do autismo.

26
Proponha um novo estudo, dentro da temática apresentada, com recurso à
metodologia de fMRI. Descreva:

3.1. As condições/grupos experimentais e de controlo que pretende testar


• V. Independente:
o Emoções – 6 emoções
o Autismo ou não
• V. Dependente: ativação neuronal

3.2. Que técnicas de controlo utilizaria para minimizar a influência de variáveis


estranhas
• Emparelhamento: nº de estímulos apresentados
• Aleatorização ordem dos estímulos: apresentando todas as emoções,
aleatoriza-se a ordem.
• Emparelhamento das caras dos estímulos
• Emparelhamento do sexo dos participantes (devido às diferenças nas
expressões do autismo nas raparigas e rapazes), das idades.
• Emparelhar condições das condições
• Excluir participantes com claustrofobia
• Controlo do nível de autismo

3.3. A tarefa a usar


• Imagens de caras com expressões de emoção

3.4. Os resultados neuronais esperados


• Ativação diferencial do sistema límbico, mais organizado nas não autistas, mas
esperando diferenças entre tipos de emoções

Teórica 4

Análise de dados e argumentação persuasiva


Estatística descritiva e inferencial
Estatística Descritiva
Na análise dos dados, a estatística descritiva permite descrever e sumarizar os dados
da amostra de forma útil e com significado.

A Estatística descritiva mais frequentemente reportada: média, desvio-padrão,


coeficiente de correlação, moda, mediana, outliers, amplitude interquartis,
histogramas, frequências.

Procedimentos estatísticos descritivos permitem transformar um grande número de


números que não podem ser compreendidos à primeira vista, num conjunto muito
pequeno de números.

Estatística Inferencial
A estatística inferencial permite inferir os dados da amostra para a população.

27
Estatística inferencial mais frequentemente reportada e aconselhada pela APA: teste
de hipóteses (teste t, anova…), intervalo de confiança, tamanho do efeito.

Embora um estudo analise apenas uma pequena amostra (um subconjunto dos
membros de algum grupo definido – 50 estudantes, por exemplo) de todos os dados
que poderiam ser recolhidos, a esperança do pesquisador é para chegar a uma
conclusão que será aplicada à população em geral (todos os membros de um grupo
definido - todos os estudantes universitários, por exemplo).

Teste de Hipóteses
Implica a especificação da hipótese nula (H0) e hipótese alternativa (H1) – hipóteses
estatísticas.
• H0 é especificada como a ausência de efeito (ausência de diferença entre
grupos, ausência do fenómeno).
• H1 é especificada como a existência de efeito (existência de diferenças entre
grupos). Geralmente corresponde à hipótese experimental ou hipótese de
investigação.

→ Se o estudo é sobre o efeito do sono na memória a H0 é que o o sono não


afeta a memória

Muitas vezes na especificação das hipóteses em artigos ou teses científicas, só é


indicada H1, i.e., a hipótese do investigador. H0 aparece de forma implícita (é
inferida), mas tem sempre que existir, pois o teste de hipóteses é feito sobre H0.

A H1 nunca é verdadeira em sentido absoluto, assim, H0 só pode ser rejeitado (e ao


mesmo tempo suportado por H1) com algum grau de confiança, definido pelo que
é chamado o alfa (α). Tecnicamente, alfa refere-se à probabilidade de obter
resultados particulares se H0 (nenhuma diferença verdadeira) for realmente
verdadeira.
Os testes de hipóteses são sempre sobre H0
No teste de hipóteses em investigação em psicologia usa-se, por convenção, um
nível de significância de α=0.05:

• Se o valor p encontrado for inferior a α (p≤0.05) então a probabilidade de H0


ser verdadeira é muito baixa e, portanto, rejeita-se H0 (admite-se H1).
• Se o valor p encontrado for superior a α (p>0.05) então a probabilidade de H0
ser verdadeira é (suficientemente) alta e, portanto, admite-se H0. Conclui-se
que não encontramos evidência para a presença do efeito.

Valor p reflete a probabilidade do acaso, de uma diferença ser aleatória ou casual.

Exemplo:
Pretende-se saber se existem diferenças entre adultos jovens e idosos na capacidade
de memória episódica (i.e., recordar um conjunto de palavras vistas anteriormente)

28
e numa tarefa de memória semântica (i.e., teste de vocabulário). Os dados estão
apresentados em baixo. O que se pode concluir?

Espera-se que os idosos (relativamente aos jovens adultos) tenham pior desempenho
nas duas tarefas.

Tarefa de Memória Episódica:

Como p≤0.05 então a probabilidade de


H0 ser verdadeira é muito baixa e,
portanto, rejeita-se H0 (admite-se H1). Os idosos têm pior desempenho na tarefa de
memória episódica que os jovens adultos (hipótese do investigador é apoiada).

Tarefa de Vocabulário:

Como p >0.05 então a probabilidade de


H0 ser verdadeira é alta e, portanto,
admite-se H0. Os idosos não têm pior desempenho no vocabulário que os jovens
adultos (hipótese do investigador é rejeitada, não há diferenças).

“O grupo de idosos teve um desempenho médio de 0.66 na tarefa de memória


episódica (DP=0.32) enquanto o grupo de jovens adultos teve um desempenho
médio de 0.87 (DP=0.18). A diferença entre os dois grupos é significativa (t(28)=-4.4,
p=0.0001).

Relativamente à tarefa de vocabulário, os idosos tiveram um desempenho médio de


0.94 (DP=0.24) e os jovens adultos de 0.92 (DP=0.20). A diferença não é significativa
(t(28)=0.4, p=0.68).”

Intervalo de confiança
É a estimativa de um intervalo que assegura que a média da população está dentro
desse intervalo, para um determinado nível de confiança.

Um intervalo de confiança é um intervalo de valores no qual se espera incluir um valor


da população com um certo grau de confiança. O que nos diz é que com base nos
dados de uma amostra, podemos ter 95% de confiança de que o intervalo calculado
captura a média da população.

Para um nível de confiança de 95%:

• Limite inferior do IC = M - 1.96*SE


• Limite superior do IC = M + 1.96*SE
• Em que: M=média, SE=erro-padrão

Exemplo:

Um estudo estimou que as pessoas saudáveis passam em média entre 1,5 e 1,8 horas
em sono profundo por cada noite de sono, para um IC de 95%. O que significa este
resultado?
Muito usado pela OMS em relação ao covid.
29
Se observássemos 100 pessoas, para 95 delas iríamos verificar que a duração do sono
profundo é entre 1,5 e 1,8 horas por noite.

Em 5 casos, observar-se-ia que a duração do sono profundo é inferior a 1,5 ou superior


a 1,8 horas por noite.

Tamanho do efeito
O resultado de um teste de significância da hipótese nula pode ser que existe uma
diferença estatisticamente significativa entre dois grupos ou entre vários grupos. Mas
este resultado não informa acerca do tamanho da (s) diferença (s).

Reflete a magnitude de um fenómeno (se uma dada diferença encontrada é grande


ou pequena), dando informação complementar ao teste de hipóteses.

d de Cohen é uma medida de tamanho do efeito frequentemente utilizada.


Estabelece o tamanho do efeito quando comparamos duas médias independentes
(outras medidas são usadas para outros testes).

O d de Cohen representa a diferença estandardizada entre as médias, porque o


desvio padrão é igual nos dois grupos (assume-se que a diferença entre DP dos dois
grupos não é significativa).

Exemplo:

Testou-se um fármaco para reduzir o peso em ratos. Um grupo de


ratos recebeu uma alimentação normal (A), o outro grupo além da
alimentação normal recebeu o fármaco (B). Ao fim de 30 dias os ratos
do grupo A tinham um peso médio de 550g enquanto os do grupo B
pesavam em média 500g. Será que o fármaco tem um efeito grande ou pequeno no
peso dos ratos?

Não podemos responder a esta pergunta, a menos que se saiba a variação normal
da população, é preciso o desvio-padrão!

A diferença no peso entre os dois grupos (550-500g) é grande ou pequena


dependendo da variação de peso existente na população (“variação normal”).

Se existir uma grande variação de peso entre os ratos, na população (variação


normal) (ex.: um desvio-padrão de 100g), então uma diferença de 50g, não é
grande.

30
Cohen’s d: 0.5

Se a diferença de peso, na população (variação normal), for pequena (ex.: um


desvio-padrão de 20g) então, uma diferença de 50g é grande.

Cohen’s d: 2.5

Então, um tamanho do efeito não é grande nem pequeno por si só, depende da
variação que existe naturalmente, daí a importância do desvio-padrão.

Estes valores são convenções (linhas orientadoras,


para termos formas comuns de analisar os dados)
para o tamanho do efeito e devem ser usadas
com cuidado e flexibilidade.

Um tamanho de efeito pequeno não deve necessariamente ser descurado,


especialmente em contextos em que um pequeno efeito pode ter um grande
impacto. Em psicologia social os efeitos que geralmente se encontram são pequenos,
mas significativos.

Inevitabilidade da incerteza
Em ciência, há sempre um nível de incerteza associado às decisões (teóricas e
estatísticas) que tomamos (teóricas, estatísticas).

Há uma probabilidade de erro associada à decisão (mas que se tenta que seja o
mais baixa possível).

Tipos de erros
Não podemos testar toda a gente para saber se a h0 é verdadeira ou falsa em toda
a população.

Erro do Tipo I (alfa) → Rejeição da H0 quando esta era verdadeira. A probabilidade


de acontecer é igual ao valor p, normalmente 0,05 (5%). Às vezes, suspeita-se de erros
do tipo I quando uma há falhas nas várias tentativas de replicação.

31
Erro do Tipo II (beta) → Aceitar a H0 quando ela na verdade é falsa. Às vezes, erros do
tipo II ocorrem quando as medições usadas não são muito confiáveis ou sensíveis o
suficiente para detetar verdadeiras diferenças entre grupos.

p é o valor da probabilidade da nossa decisão estar errada – p=0.001


probabilidade de 0,1% de estar errada

Dado o grau (mesmo que pequeno) de incerteza, as decisões envolvem sempre uma
certa ambiguidade e dúvida.

Liberdade do investigador
No decorrer de um estudo, os investigadores têm de tomar decisões que nem sempre
têm respostas óbvias:

• Quantos participantes devo testar?


• Devo excluir alguns participantes da base de dados?
• Tenho de reportar todas as análises realizadas e efeitos encontrados?
• Posso recolher mais dados depois de realizar as análises?

Há uma certa ambiguidade nestes “graus de liberdade” do investigador deixa


espaço para enviesamentos.

Pressão para publicar


O sucesso académico é medido sobretudo pela quantidade de publicações
(“publish or perish”).

Taxa de rejeição de artigos das revistas científicas internacionais em Psicologia: 70-


90%.

Nas publicações, são favorecidos artigos que apresentam dados novos, contra-
intuitivos e dados “limpos” (sem grande ruído, variação).

Esta prática de incentivos para a publicação e para o sucesso profissional está em


desacordo com as práticas científicas mais válidas (ex.: replicação de resultados,
variação nos dados etc.).

A inevitabilidade da incerteza em ciência, a liberdade que o investigador tem para


tomar decisões e o que tem sido valorizado nas publicações têm levado a algumas
práticas de investigação questionáveis.

Práticas de investigação questionáveis


Procedimentos comuns entre investigadores que não são intencionalmente
fraudulentos, mas promovem os resultados desejados, através de práticas de recolha,
análise e descrição dos dados pouco adequadas (“zona cinzenta” da investigação).

32
John, Loewenstein & Prelec (2012)

Incluir no estudo várias VD e reportar apenas a que funcionou (i.e., em que se obteve
um resultado significativo):

• Medir muitas VDs aumenta a probabilidade de encontrar um efeito


significativo por acaso (aleatório), ou seja, um falso positivo. Quando se
aumenta o número de VD, há uma maior probabilidade de que uma delas
surja como significativa.
• Não há problema de usar várias medidas dependentes. O problema está em
não reportar todas.

Não reportar todas as condições do estudo (VIs), reportando apenas as que


funcionaram:

• Ao omitir as VIs que não tiveram efeito significativo, aumentamos


artificialmente os efeitos do estudo e dificultamos o desenvolvimento da teoria.
• É importante conhecer os fatores que afetam e os que não afetam a medida.

Recolher mais dados depois de ver se os resultados foram significativos (para tentar
tornar significativos resultados que não são significativos):

• O tamanho da amostra deve ser definido antes da recolha de dados,


baseado em estimativas do tamanho do efeito e nível de confiança
necessário.
• A confirmação de uma hipótese não deve depender da inclusão de mais
participantes, desde que a amostra seja representativa e tenha o tamanho
necessário para o estudo ter robustez estatística.

“Arredondar” o valor p, apresentando um p=.054 como se fosse p<.05 (“pês


tosquiados”):

• O valor p indica a probabilidade de rejeitar H0 quando esta é verdadeira (ou


seja, a probabilidade de estarmos a tomar a decisão errada).

33
• Ao alterar o valor p para que este se torne significativo (favorável à hipótese
do investigador) não informamos corretamente a comunidade científica da
probabilidade de erro na decisão sobre as hipóteses.
• Estas práticas são genericamente designadas de “p-hacking” ou “data
fishing”, isto é “andar à pesca” de resultados significativos.

Reportar um resultado inesperado como tendo sido previsto antecipadamente


(“HARKing”): (as investigações geralmente são confirmatórias e não exploratórias)

• HARK — Hypothesis After Results are Known.


• Resultados que confirmam uma hipótese colocada à priori tendem a ser mais
robustos e replicáveis do que resultados que confirmam hipóteses
especificadas à posteriori (o resultado pode ser espúrio, pois não foi previsto
pela teoria).
o As teorias são muito importantes para nos guiarem, se certos resultados
forem previstos pela teoria, se acontecerem serão mais robustos
• Overfitting — Ao ajustar o modelo estatístico aos dados, o erro do modelo
(variância aleatória) passa a ser integrado (incorretamente) na explicação
(variância sistemática).
• Se não reportamos a hipótese original (não apoiada pelos dados), outros
investigadores podem perder tempo e recursos a testá-la.

Crise das replicações


Estas práticas questionáveis estão na base da “crise das replicações” em Psicologia.
E a crise das replicações leva à crise de confiança na Psicologia, se um resultado não
é replicado ficamos com dúvidas acerca do mesmo.

Neste estudo fizeram um esforço para replicar 100 resultados tradicionais da


Psicologia. Desses 100, apenas 39, foram replicados. Dos 61 que não foram replicados,
os resultados numa grande parte deles eram semelhantes ao estudo original, mas
não iguais. Existem alguns que não foram nada semelhantes ao original.

34
O gráfico refere-se ao tamanho de efeito nos estudos originais e nas replicações. Os
pontos abaixo da linha, o tamanho do efeito do estudo original foi maior do que a
replicação, o que significa que o efeito encontrado foi inverso na replicação (p.e., 1º
A>B e na replicação B>A). Só os pontos acima da linha correspondem a estudos
originais em que se verificou um tamanho do efeito igual (se estiverem na linha) ou
superior nas replicações.

Gilbert et al. (2016) mostraram que o artigo da OSC continha 3 erros


metodológicos/estatísticos, concluindo que o estudo não fornecia evidências para a
“crise das replicações”:

• Método usado pela OSC para analisar replicações apresenta fraco poder
estatístico — quando este método foi usado para analisar estudos que se sabia
terem elevada replicabilidade, o resultado também revelou baixa
replicabilidade – não reflete a capacidade dos estudos.
• Vários estudos não eram replicações de estudos originais — usavam amostras
de outras populações e procedimentos diferentes.
• Problema de enviesamento dos procedimentos — a OSC inquiriu os autores
dos estudos originais sobre se endossavam as replicações (no sentido de dar
apoio a essa replicação). A comparação das replicações endossadas vs. não
endossadas revelou que nas primeiras o sucesso da replicação foi de 59,7% e
nas segundas de 15,4%.
o Os investigadores originais quando endossam dão indicações e
explicam como chegaram aos resultados

Recomendações
• Descrever todas as condições (VIs) e medidas (VDs) do estudo.
• O tamanho da amostra, assim como os critérios de inclusão ou exclusão de
participantes ou respostas (ex.: outliers) têm de ser definidos antes do teste de
hipóteses.
• Nem todos os testes estatísticos são iguais. Devem usar-se testes específicos
para testar hipóteses específicas e não “andar à pesca” do teste com o
melhor resultado.
• Reportar de forma completa os resultados estatísticos (incluindo o valor da
estatística de teste, valor p e tamanho do efeito), tanto para hipóteses
apoiadas como para hipóteses rejeitadas.
• A interpretação dos resultados deve ser fundamentada em propostas teóricas
fortes e acompanhadas de interpretações alternativas.
• Revisão das políticas das revistas científicas, no sentido de aceitar para
publicação dados imperfeitos, dados que apoiam ausência de efeitos,
promover as replicações.
• Pré-registo dos estudos — especificação do desenho experimental, hipóteses
e plano de análise antes da observação dos resultados do estudo.

Permite distinguir entre investigação confirmatória (que usa dados para testar
hipóteses) e investigação exploratória (que usa dados para gerar hipóteses).

Poderá reduzir o viés nas publicações que tendem a favorecer artigos com resultados
significativos e efeitos grandes. O pré-registo permite aceder a dados de muitos
35
estudos sobre um tópico e perceber o que têm mostrado, mesmo quando não são
publicados.

Critérios MAGIC- Critérios Para uma Argumentação Estatística


Persuasiva (Abelson, 1995):
Os estudos devem investir em bases teóricas (argumentos) sólidas.

Abelson (1995): Propôs que a análise estatística dos dados como uma evidência
empírica de apoio a um argumento. Este argumento deve ser apresentado numa
narrativa envolvente (cativante) sobre a investigação.

“Para defender melhor o seu caso, o investigador tem de combinar as competências


de um advogado honesto, de um bom detetive, e de um bom contador de histórias.”

Critérios MAGIC

1) Magnitude
2) Articulação
3) Generabilidade
4) Interesse
5) Credibilidade

1. Magnitude
Prende-se com o tamanho do efeito (d de Cohen). Deve ser reportado a par do teste
de hipóteses (nível de significância).

2. Articulação
Grau de detalhe em que os resultados são descritos e explicados. Interpretar tanto a
existência de efeitos como a ausência de efeitos. Quando há efeitos, explicar o
sentido dos efeitos. Não basta dizer que há diferenças, temos de dizer em que sentido
e em que grupos há estas diferenças.

3. Generabilidade
Até que ponto os resultados podem ser inferidos para a população e são extensíveis
a outras condições. Pode-se aumentar a generalidade através da inclusão de maior
diversidade de populações, materiais, contextos no plano de investigação, assim
como através de meta- análises (análise de dados provenientes de vários estudos).

Estes 3 fatores são considerados objetivos, relacionados com as evidências empíricas.

Exemplo: Semelhanças entre géneros. Há imensos estudos sobre diferenças e


semelhanças sobre homens e mulheres. E o que se deve fazer é pegar em vários
estudos realizados sobre estas diferenças e semelhanças, e perceber o quê que há
de comum e o que há de diferente.

36
4. Interesse
Prende-se com a relevância dos resultados, incluindo:

• Interesse teórico (vertente mais teórica): nova maneira de entender um


fenómeno; potencial para mudar o que as pessoas acreditam;
• Interesse prático (vertente mais prática; aplicado): resultados contribuem para
o desenvolvimento de novos instrumentos e produtos; funcionam como guia
para novas práticas e políticas sociais

5. Credibilidade
Refere-se à confiança que podemos ter nos argumentos. O grau de plausibilidade
do argumento provém da fundamentação teórica e da solidez metodológica. A
teoria na qual o trabalho é fundamentado e a adequação metodológica do estudo
são tão importantes como o resultado estatístico das análises efetuadas.

Estes 2 fatores são considerados subjetivos, associados à envolvência da narrativa.

Análise de dados e argumentação persuasiva


Os investigadores devem estar alerta do seu “viés confirmatório”, i.e., tendência para
procurar e dar mais atenção a informação que confirma as suas expectativas.

As suas decisões devem ser reportadas para poderem ser discutidas e a sua influência
nos resultados avaliada. Não reportar as decisões pode conduzir a representações
erradas dos dados, sendo difícil a sua correção.

Aprofundar os conhecimentos metodológicos e estatísticos é um antídoto para


convenções ritualizadas e mal compreendidas.

É fundamental apostar em delineamentos experimentais sólidos, métodos estatísticos


sofisticados e em debates teóricos fundamentados.

Prática 4

Análise de dado
Tamanho do efeito
Reflete a magnitude de um fenómeno.

d de Cohen é uma medida de tamanho do efeito frequentemente utilizada.


Estabelece o tamanho do efeito quando comparamos duas médias independentes
(outras medidas são usadas para outros testes).

37
Intervalo de confiança
Estimativa de um intervalo que assegura que a média da população está dentro
desse intervalo, para um determinado nível de confiança.

Para um nível de confiança de 95%:

• Limite inferior do IC = M - 1.96*SE


• Limite superior do IC = M + 1.96*SE

Em que: M=média, SE=erro-padrão

Teste de Hipóteses
Método de inferência estatística que indica qual a probabilidade de a diferença
observada entre dois ou mais grupos/condições ser devida ao acaso. Por convenção
é habitualmente usado um nível de significância de 0,05.

Grande parte dos estudos em psicologia recorre a planos fatoriais, que permitem
olhar para o efeito de duas ou mais variáveis independentes e, adicionalmente, para
a interação entre as variáveis.

• Efeito principal: efeito de uma variável independente sobre a variável


dependente (independentemente do efeito de outras variáveis
independentes).
• Efeito de interação: efeito de uma variável independente na variável
dependente, em função da outra variável independente. Ou seja, quando o
efeito de uma VI varia de acordo com os níveis da outra VI.

Efeitos principais e de interação


Para determinar a presença ou ausência de efeitos nos resultados, é necessário
recorrer a análises estatísticas.

Nos exemplos seguintes, olhamos apenas para padrões de resultados,


! assumindo que quando os valores são iguais não há efeito e que quando os
valores são diferentes há efeito.

Exemplo 1: Pretende-se saber se o salário (em euros) depende da profissão e da


idade.
1

2
1.1. Será que há um efeito principal de profissão?
Sim: em média, os arqueólogos têm salários mais elevados do que os
enfermeiros.

1.2. Será que há um efeito principal de idade?


Não: em média, pessoas com 25 anos recebem o mesmo que pessoas com 55
anos.

1.3. Será que há uma interação entre profissão e idade?


38
Não: a diferença de salário entre arqueólogos e enfermeiros não depende da
idade. Do mesmo modo, a diferença de salário entre pessoas com 25 e 55
anos de idade não varia com a profissão.

Interação ocorre quando o salário depende simultaneamente da profissão e da


idade. Sempre que a diferença que existe entre dois níveis de uma primeira variável
seja diferente da diferença que existe nos mesmos dois níveis dessa primeira variável,
nos níveis da segunda variável.

Ilustração gráfica dos efeitos

Exemplo 2: Pretende-se saber se o salário (em euros) depende da profissão e da


idade.
1

2.1. Será que há um efeito principal de profissão?


Sim: em média, os enfermeiros têm salários mais elevados do que os
arqueólogos.

2.2. Será que há um efeito principal de idade?


Sim: em média, pessoas com 25 anos recebem menos que pessoas com 55
anos.

2.3. Será que há uma interação entre profissão e idade?


Sim: para arqueólogos, o salário não varia com a idade, enquanto para
enfermeiros o salário aumenta com a idade. Ou seja, o salário dos enfermeiros
é melhor do que o dos arqueólogos apenas no grupo de 55 anos.

39
Ilustração gráfica dos efeitos

Exemplo 3. Pretende-se saber se o salário (em euros) depende da profissão e da


idade.
1

3.1. Será que há um efeito principal de profissão?


Não: em média, os arqueólogos têm salários idênticos aos enfermeiros.

3.2. Será que há um efeito principal de idade?


Não: em média, pessoas com 25 anos recebem o mesmo que pessoas com 55
anos.

3.3. Será que há uma interação entre profissão e idade?


Sim: para arqueólogos, o salário aumenta com a idade, enquanto para
enfermeiros diminui com a idade. Ou seja, o salário dos arqueólogos é melhor
do que o dos enfermeiros aos 55 anos, enquanto o dos enfermeiros é melhor
que o dos arqueólogos aos 25 anos.

Ilustração gráfica dos efeitos

40
Exercícios
1. Numa tarefa sobre raciocínio analógico, manipulou-se a complexidade de
analogias (simples, complexas) e mediu-se a proporção de respostas corretas num
grupo de pacientes e num grupo de controlo. Os dados estão apresentados em
baixo. Calcule o tamanho do efeito (d de Cohen).

• Pacientes, analogias simples: M=78, DP=5


• Pacientes, analogias complexas: M=40, DP=10
• Controlo, analogias simples: M=80, DP=5
• Controlo, analogias complexas: M=70, DP=10

Resolução:

d = (média do grupo 1 - média do grupo 2) / DP

Tarefa de analogias simples: d = (|78-80|) / 5 = 0.4 → Tamanho do efeito médio.

Tarefa de analogias complexas: d = (|40-70| / 10) = 3 → Tamanho do efeito grande.

Isto significa que a tarefa de analogias complexas é mais discriminativa dos dois
grupos (permite diferenciá-los melhor).

2. Selecionaram-se ao acaso 78 conferências no domínio da Psicologia. A média da


duração dessas conferências é de 2,71 dias com um erro-padrão de 0,85 dias.
Indique qual o intervalo de confiança da duração das conferências de Psicologia na
população e o que esse resultado significa.

Resolução:

Limite inferior do IC = 2.71 - 1.96*0.85 = 1.04

Limite superior do IC = 2.71 + 1.96*0.85 = 4.38

Na população, as conferências de Psicologia duram entre 1.04 e 4.38 dias, para um


IC de 95%. Ou seja, em cada 100 conferências, 95 duram entre 1.04 e 4.38 dias, sendo
que 5 conferências têm uma duração fora desse intervalo

3. Considere o gráfico dos resultados obtidos num teste em que se manipulou a


dificuldade do teste e a temperatura da sala onde o teste foi realizado. Descreva os
efeitos principais e de interação observados.

41
Observou-se um efeito significativo de dificuldade do teste, sendo que, em média, o
teste de dificuldade baixa teve melhores resultados do que o de dificuldade alta.

Não houve um efeito principal de temperatura da sala, sendo que, em média, o


desempenho não difere quando a temperatura é 18 graus e 30 graus.

Não houve efeito de interação entre dificuldade do teste e temperatura da sala. A


diferença de desempenho no teste de alta e baixa dificuldade é idêntica nas duas
condições de temperatura da sala.

4. Um estudo mediu os tempos de resposta na resolução de problemas de


matemática. Usou-se um plano fatorial 2x2: nível de stress dos participantes (baixo,
alto) e tipo de exercício (cálculo, estimação). Crie 3 gráficos dos resultados que
ilustrem, respetivamente:

4.1. Um efeito principal de stress, um efeito principal de tipo de exercício e uma


ausência de interação entre as duas variáveis.

Resolução:

4.2. Uma ausência de efeito principal de stress, uma ausência de efeito principal de
tipo de exercício e uma interação cruzada entre as duas variáveis.

42
4.3. Um efeito principal de stress, uma ausência de efeito principal de tipo de
exercício e uma interação entre as duas variáveis

Teórica 5

Relação entre estrutura e função


Segregação e Integração Funcional
Cérebro
• O conhecimento do cérebro é um dos grandes desafios da investigação
científica atual. Tal como os primeiros mapas do mundo, o mapeamento das
funções cerebrais contém erros, inconsistências e mistérios que precisam de
ser resolvidos.
• De todos os objetos no universo, o cérebro humano é o mais complexo. Há
tantos neurónios no cérebro como estrelas na Via Láctea. Daí que, apesar dos
importantes avanços no conhecimento sobre o cérebro e a mente, ainda
existam muito “buracos negros” por entender.

Estrutura e função
• A especificação de hipóteses em estudos de fMRI, assim como a análise dos
resultados e a sua interpretação, devem ser firmemente baseadas no
conhecimento adquirido, a partir de estudos prévios, sobre a relação entre
estrutura neuronal e função cognitiva.
o Se não tivermos hipóteses prévias vamos ter dificuldade em interpretar as
várias regiões ativas, pois estas poderão estar relacionadas com outros
processos. Só olhar não chega.
• O conhecimento sobre a organização das várias estruturas cerebrais fornece
informação útil sobre a função cognitiva das diferentes regiões, a cooperação
em rede de múltiplas regiões e a limitação em termos de processamento da
informação.

As estruturas permitem informar-nos sobre as limitações do funcionamento,


conhecendo as características de determinada região, conseguimos saber para que
funções esta região está apta para exercer.

43
Segregação funcional
• A abordagem mais comum na análise de dados de fMRI consiste na
segregação funcional, isto é, estabelecer uma relação entre uma estrutura
cerebral e uma função cognitiva (ex. audição)

Aquela área responde quando ouvimos um som, mas não silêncio

• Num estudo para investigar o processamento auditivo, apresentou-se aos


participantes mini blocos em que ou ouviam palavras ou não ouviam nada.
Verifica-se que, medindo um determinado voxel, esse voxel apresenta maior
ativação nos momentos em que a pessoa está a ouvir a palavra e essa
ativação baixa nos momentos de silêncio. Com padrões deste género, pode-
se construir mapas das regiões cerebrais que mostram uma resposta BOLD
(resposta neuronal maior) quando se ouve palavras vs silêncio, agrupando
todos os voxels que mostram esse padrão. É segregação funcional pois
segrega-se o que é específico de ouvir palavras vs silêncio.

Integração funcional
• Mais recentemente, a abordagem de integração funcional tem
complementado a abordagem tradicional de segregação funcional.
• Pretende-se perceber que diferentes regiões cerebrais interagem e cooperam
para a realização de tarefas cognitivas específicas. Essa interação pode ser
estudada através de métodos de conectividade.
o Conetividade estrutural significa que duas regiões cerebrais distintas
estão ligadas fisicamente entre si e funcionam em cooperação uma
com a outra (como a área de Broca- produção – e de Wernicke –
compreensão, associadas ao processamento da linguagem, ligadas
pelo fascículo arqueado).

Um exemplo de integração/conectividade funcional é a rede de repouso (default


mode network). Esta rede, constituída por múltiplas áreas cerebrais, ativa-se quando
as pessoas estão em descanso (“sem fazer nada”).

Ativação em conjunto ou inversa quando a pessoa faz, ou não, alguma coisa


específica.

Mais do que fazer uma localização de funções especificas, fazer uma associação
entre a tarefa e a rede neuronal no seu conjunto responsável.

44
Esta rede de repouso tem disso amplamente estudada. Um dos primeiros estudos
(Buckner et al., 2008) apresentou as áreas associadas a essa rede, que são múltiplas,
incluindo o córtex frontal medial e também regiões mais posteriores occipitais e
temporais. Estas áreas, ao contrário da área de Wernicke e de Broca, não estão
ligadas entre si fisicamente, mas está bem estabelecido que estas regiões cooperam
entre si numa tarefa específica ( estão mais ativas quando a pessoa não está a fazer
nada, do que quando está a fazer uma tarefa como ler). Portanto, chama-se a isto
integração ou conetividade funcional porque elas estão
ligadas/integradas/cooperam para o desempenho de uma função, mas não têm de
estar ligadas entre si fisicamente.

Anatomia e função cerebral


Qualquer abordagem requer o conhecimento da relação entre regiões cerebrais
(anatomia) e funções cognitivas.

Tronco encefálico

• Não há ativação neuronal, não é captado pela RM


• Estabelece a ligação entre o cérebro e a medula (corpo).
• Desempenha funções vitais na respiração, pressão arterial e temperatura
corporal.
• Uma lesão nesta estrutura pode provocar a morte, ao contrário de lesões no
cérebro.

Cerebelo

• Cerebellum = Pequeno cérebro (latim).


• Controla a coordenação de movimentos finos, equilíbrio, marcha e postura.
• O cerebelo recebe uma cópia dos sinais que o córtex motor envia para o
corpo para realização de um movimento. Recebe também a resposta
sensorial do corpo. Pode assim detetar e corrigir desajustes entre a ação
realizada e a ação desejada.

Cérebro

Constituído por:

• Matéria cinzenta, designada de córtex cerebral: camada exterior formada


pelo corpo celular dos neurónios
• Matéria branca: camada interna formada por fibras (axónios e dendrites).
Feixes de fibras que permitem as relações entre as regiões da matéria cinzenta
do córtex.

Dois hemisférios: Hemisfério esquerdo e direito comunicam através do corpo caloso


(~200 milhões de fibras nervosas= feixe de fibras) e da comissura anterior.

Lobos Cerebrais: Principais Funções

45
Quatro lobos cerebrais dos hemisférios:

Circunvoluções, sulcos, fissuras

• Circunvoluções (gyrus): saliências, elevações.


• Sulcos: depressões.
• Fissuras: depressões muito pronunciadas.

Circunvoluções principais

O córtex frontal separa-se do parietal através do córtex pré-central e pós-central


(onde está o córtex motor primário).

Orientação dos cortes

Axial ou horizontal

Coronal

Sagital

Descrição da localização

Áreas de Brodmann

• Definidas com base na estrutura citológica. Usadas em conjunção com a


descrição dos lobos para especificar a área

46
Lobo occipital
• Centro do processamento visual.
• Contém o córtex visual primário (V1), responsável pelo tratamento de
informação visual de baixo nível (orientação, frequência espacial e cor).

O córtex visual primário projeta-se para outras áreas do cérebro:

o Via ventral (via “o quê”): envolvida no reconhecimento de objetos (visão para


perceção) (lilás). Projeta do córtex occipital para áreas temporais.
o Via dorsal (via “onde”): envolvida no processamento da localização espacial
dos objetos (visão para ação) (verde). Projeta do córtex occipital para áreas
parietais.

Lobo temporal
• Processamento visual (faces, objetos), via ventral.
• Processamento auditivo.
• Compreensão da linguagem.
• Formação de memórias.

Reconhecimento visual de estímulos complexos, incluindo faces e lugares.

Córtex auditivo primário (zona mais dorsal do lobo temporal), responsável pelo
processamento auditivo (sons, palavras) interage com áreas clássicas de linguagem
(área de Wernicke e área de Broca).

Compreensão da linguagem:
A área de Wernicke, localizada na secção posterior do córtex temporal
superior esquerdo, é uma das regiões clássicas necessária à compreensão da
linguagem (conceitos e significados).

Estudos mais recentes apoiam o papel desta área na compreensão da


linguagem, em cooperação com outras regiões (lobo temporal médio e
cortéx frontal inferior, ínsula e lobo frontal), numa rede cortical distribuída.

O lobo temporal medial (hipocampo – situa-se exatamente no meio do cérebro – e


estruturas adjacentes) desempenha um papel crítico na formação de memórias,
consolidação da informação a longo prazo e navegação espacial.

Lobo frontal
Lobo frontal posterior inclui o córtex motor. É a estrutura mais tardia ao longo do
desenvolvimento, até ao início da idade adulta.

Regiões mais anteriores associadas ao processamento de tarefas cognitivas


complexas (mais tipicamente humanas), incluindo:

o Controlo cognitivo em vários domínios (linguagem, memória) e tomada de


decisão.

47
o Empatia e mentalização (teoria da mente).

• O córtex motor primário (circunvolução que faz a transição entre o córtex


parietal e frontal), em cooperação com o córtex pré-motor, área motora
suplementar e córtex parietal posterior, é responsável pelo planeamento e
execução de movimentos.
o Muito estudado e muito segregado.
• A área de Broca, em conjunto com outras regiões do córtex frontal inferior
esquerdo, desempenha funções fundamentais na linguagem: produção de
linguagem, processamento sintático, compreensão de ambiguidade
semântica (ex.: homónimas: mesmo som, significado diferente),
processamento fonológico.
• O córtex frontal tem sido consistentemente associado a redes distribuídas
responsáveis por processos de tomada de decisão (rede medial frontal) e de
controlo cognitivo (inibição de tendências de resposta, monitorização de
conflito, alternância entre tarefas) (rede lateral frontal).
• O lobo frontal é uma estrutura central na cognição humana.
o Um aspeto central da cognição humana é a capacidade tomarmos a
perspetiva do outro, i.e., sermos capazes de entender as suas intenções,
desejos e crenças. Esta capacidade tem sido associada à interação
entre o córtex frontal medial e regiões do córtex temporal. O córtex
frontal é também importante na empátia.
o A empatia refere-se a um estado afetivo desencadeado pela
capacidade de partilharmos o estado emocional da outra pessoa.
Também envolve regiões frontais, nomeadamente do córtex cingulado
anterior.

Lobo parietal
Inclui o córtex somatossensorial (processamento sensorial e espacial).

Inclui também o córtex parietal posterior responsável por:

o Competências numéricas e visuo-espaciais.


o Processamento de frases e narrativas.

Córtex somoatossensorial primário: processamento de informação tátil e


propriocetiva

Córtex somoatossensorial secundário: coordenação visuo-motora (agarrar objetos,


evitar obstáculos) e orientação espacial (“células GPS”)

• Sulco intraparietal (no córtex parietal posterior) é fundamental na cognição


numérica, incluindo comparação de quantidades e magnitudes, e
competências de cálculo (Cantlon et al., 2006), envolvido no processamento
de números (quantidades) em crianças e adultos.

48
• A circunvolução angular (no córtex parietal posterior) tem sido envolvida no
processamento de frases e narrativas, incluindo estabelecimento de
inferências e compreensão de metáforas (Price et al, 2015).
o Quando a combinação de palavras que fazem sentido vai ativar
áreas de atribuição de significado, vs. combinação de palavras que
não faz sentido,
• Exemplo de como a linguagem está distribuída no cérebro em diferentes
regiões: desde o lobo temporal (no processamento de significados) ao lobo
frontal (processamento sintático e “desambiguação” de significado), mas
também regiões parietais (estabelecimento de frases e narrativas de um todo
coerente e de estabelecimento de inferência e compreensão de metáforas).
Portanto, embora haja regiões com uma função específica, a maior parte das
regiões cerebrais desempenha múltiplos papéis e uma determinada função
cognitiva está distribuída por uma rede de ativações e não um mapeamento
1 para 1.

Sistema Límbico
• Inclui o hipotálamo, amígdala, hipocampo, córtex orbitofrontal.
• Envolvido na emoção, motivação e sua relação com memória.

Hipotálamo: funções automáticas e endócrinas associadas a estados emocionais


(temperatura, batimento cardíaco, pressão sanguínea).

Amígdala: processamento emocional, incluindo medo e stress.

Hipocampo: papel fundamental na formação de memórias (explícitas) e respostas


emocionais por condicionamento (memória implícita).

Córtex orbitofrontal: tarefas de julgamento e tomada de decisão (funções


executivas). Importante no processamento de reforço e incentivos

Relação estrutura-função
O aparecimento, nos últimos 30 anos, de métodos não invasivos de imagiologia e de
medição da atividade cerebral humana enquanto os participantes realizam diversas
tarefas, tem impulsionado um entendimento mais aprofundado dos processos
mentais.

A existência de muitas perguntas em aberto sobre a arquitetura e funções do cérebro


e da mente incentivam uma colaboração estreita entre a psicologia cognitiva e a
neurociência.

Prática 5

1. A
2. C
3. C – Motor
49
4. Circunvolução temporal lateral (médio)
5. Secção posterior do córtex temporal superior esquerdo
6. Córtex frontal inferior esquerdo
7. B – Córtex temporal medial
8. B – Cognição numérica
9. D - Tátil
10. C – Recuperação controlada de informação
11. Tomada de perspetiva do outro
12. C - Funcional
13. Formação de memórias (consolidação da informação a longo prazo e
navegação espacial)
14. A - Temporal
15. C – Parietal
16. A - Temporal
17. Interativa
18. B – Citológica
19. C – Tomada de Decisão
20. C - Cerebelo

Teórica 6

1. Porquê utilizar um questionário?


Um questionário é um instrumento de recolha de respostas a questões, por escrito

• Distingue-se da entrevista, em que a recolha é pessoal e oral (há uma


interação em tempo real)
• Embora haja muitos formatos intermédios (o que torna difícil a distinção)

Como escolher entre entrevista e questionário?

Quem despende mais recursos?

• O investigador, na entrevista
• O sujeito, no questionário

Utilizar um questionário se:

• Os potenciais sujeitos têm boa quantidade de recursos (motivação,


capacidade de compreensão, conhecimento)
• É necessário recolher muitos dados com pouco trabalho
• Se estas situações não se verificarem, considerar a possibilidade de usar uma
entrevista (maior aprofundamento dos dados)

50
2. O formato das questões (itens)
Questões abertas
O questionário deve ter questões abertas e as pessoas escrevem aquilo que
entenderem?

• Não recomendáveis – tem tendência a não correr bem


o Arriscam-se a levar a pouca adesão dos participantes, pelo esforço que
implicam (se tivermos de pôr, que ponhamos no fim)
o As respostas são geralmente lacónicas, muito incompletas e pouco
informativas. – Quando se quer fazer a análise de conteúdo, não se tem
quase material nenhum
o Têm de ser analisadas, o que implica mais trabalho e introdução de
subjetividade adicional
• Só se justificam se é inviável a recolha oral, é impossível prever as possibilidades
de respostas relevantes (que constituiriam uma lista para os participantes
escolher), e os participantes estão altamente motivados.
o Se só se verifica a segunda condição, deve-se pensar na entrevista
como alternativa.

Questões de resposta fechada


• São as mais usadas nos questionários psicológicos, pois permitem fazer
avaliações quantitativas, somando os resultados de cada item para obter um
resultado total

Questões ipsativas (respostas dependentes de outras)


• Exemplos: colocar alternativas por ordem, escolher a mais e a menos
desejável, ou as N mais importantes, etc.
• Não recomendáveis, como regra geral
o Levantam problemas difíceis na cotação e análise de dados,
fornecendo indicadores enviesados
o As suas supostas vantagens podem ser geralmente obtidas de outra
forma

3. A estrutura dos itens


As questões colocadas numa escala nominal são mais características dos
questionários sociológicos, ou da recolha de dados demográficos.

Exemplo: Qual a sua afiliação religiosa?

É raro e não muito recomendável serem usadas para medir propriamente variáveis
psicológicas, pois as medidas em escala nominal têm muitas limitações quanto ao
que permitem fazer em termos psicométricos e de análise estatística.

51
Nos casos em que foram utilizadas a certa altura (p.e., avaliação dos estilos de
vinculação nos adultos – escolher que parágrafo melhor os descrevia), rapidamente
foram substituídas por outros formatos.

O formato mais comum nos questionários psicológicos quantitativos é constituído por


uma expressão, palavra, pergunta, etc., (chamada em inglês item stem, o “caule”
ou “tronco” do item) e um conjunto de alternativas de resposta, entre as quais o
respondente tem que optar.

Para permitir uma medição a um nível superior ao nominal, essas alternativas


procuram corresponder a diferentes níveis do construto que se pretende medir e o
respondente deve escolher aquela que melhor reflete a sua posição.

Exemplo: Escala de Satisfação com a vida

Entretanto embora o formato “caule e folhas” seja o mais comum, nos questionários
psicológicos, há que manter a mente aberta a formatos criativos, tendo em conta as
características da variável que se pretende medir

• O segundo formato mais comum é, provavelmente, o de ter só as alternativas,


mas isso tende a tornar o item mais extenso e demorado de ler

Exemplo – Inventário de Depressão de Beck

• Não perdi o interesse nos outros ou nas minhas atividades


• Estou menos interessado nas coisas ou nos outros
• Perdi a maioria do interesse nas coisas ou nos outros.
• É difícil interessar-me pelo que quer que seja.

Mas há muitos outros formatos, ainda mais quando os questionários são aplicados por
computador (ex: plataforma Qualtrics)

Quantas alternativas devemos ter?

• Quanto mais alternativas houver, mais informação o item fornece, mas isso
também tem limitações
o Quanto maior o número de alternativas, menor o ganho em
acrescentar mais

52
o Não há utilidade em colocar mais alternativas do que os níveis que as
pessoas conseguem discriminar
o Um grande número de alternativas torna muito difícil ter um rótulo
descritivo para cada uma (e a investigação mostra que esses rótulos
melhoram a consistência das respostas)

Um exemplo de um possível formato de item, que não utiliza estes rótulos, embora
possa ter números, é o chamado “diferencial semântico”

Assim:

• As respostas dicotómicas (Sim/Não; Concordo/Discordo) são de evitar, porque


são pouco discriminativas; usavam-se antigamente, quando se fazia a
cotação à mão
• Cinco alternativas constituem uma solução equilibrada, daí o serem usada na
maioria dos questionários, mas tudo depende da capacidade discriminativa
dos respondentes (p.e., se as respostas forem muito comparativas, pode fazer
sentido aumentar este número)

Devemos ter um número de alternativas par, para evitar as “respostas ao meio”? Não

• As respostas “ao meio” são uma posição legítima, não faz sentido frustrar os
respondentes, impedindo-as
• Se as pessoas procuram dar uma resposta que “não as comprometa”, isso
deve-se a algum tipo de resistência, com a qual se deve lidar por outras
formas, através do cuidado na elaboração dos itens, instruções, escolha do
tema, metodologia, população, etc.
• Quando os itens colocam questões relevantes e compreensíveis para as
pessoas, as “respostas ao meio” são raras

As respostas a itens deste tipo constituem variáveis de nível ordinal, ou intervalar? De


facto, são de nível ordinal, mas:

• Assumir que são apenas de nível ordinal significa que praticamente todos os
procedimentos mais comuns, como o somatório dos resultados dos itens para
obter um resultado total, o cálculo de índices de consistência interna, como o
alfa de Cronbach, etc., se tornam ilegítimos.
• É possível trabalhar assumindo apenas o nível ordinal, mas isso implica
procedimentos muito mais complexos (correlações policóricas, teoria da
resposta ao item, etc.), que raramente surgem utilizados na literatura de
investigação,
• A esmagadora maioria da investigação publicada em psicologia acaba por
assumir implicitamente que este tipo de itens fornece resultados ao nível
intervalar, de modo a poder aplicar os procedimentos mais comuns.

53
• De qualquer forma, as diferenças de magnitude entre os intervalos não devem
ser muito grandes, e tendem a anular-se quando os resultados dos vários itens
são somados.
• Mas convém escolher com cuidado os rótulos das alternativas, para que os
intervalos sejam tanto quanto possível semelhantes; a colocação de números
também ajuda a dar essa ideia de igualdade de intervalos

4. Redação e avaliação de itens: Breve checklist


(maus exemplos, com itens para avaliação de sintomas psicopatológicos)

O item está dentro do domínio do que se pretende avaliar?

Prefiro calar-me em vez de me sentir humilhado

Isto tem a ver com psicopatologia? Que tipo de perturbação levaria alguém a
responder a este item? Na verdade, qualquer pessoa responderia sim ao item logo
ele não é bom para avaliar sintomas psicopatológicos

É claro e compreensível para todos?

Sinto necessidade de repetir várias vezes a mesma ação

Algumas ações têm de ser repetidas várias vezes que nada tem a ver com sintomas
psicopatológicos. Um participante inteligente chega à ideia do que item está
perguntar – OCD – já que se trata de um questionário de sintomas psicopatológicos,
mas para outras pessoas pode não ser claro.

Pergunta só uma coisa?

Quando estou sozinho sinto a falta de outras pessoas, mas quando estou rodeado de
outras pessoas apetece-me estar sozinho.

Não permite a interferência de outros aspetos?

Sou totalmente incapaz de controlar a minha ansiedade

Outros aspetos relevantes


Representação do construto
Ao elaborar os itens para medir um construto, é importante ter presente os objetivos
essenciais da sua representatividade.

• As diferentes facetas do construto devem estar representadas de uma forma


equilibrada de acordo com a definição de partida.
• Se se pensa que o questionário vai incluir várias escalas, utilizando a análise
fatorial, considerar que deverá haver pelo menos 3 itens para cada
fator/escala.
• Isto significa que deverá haver um certo grau de redundância nos itens, mas
ela não deve ser excessiva, senão o item pouco irá contribuir.

54
• Deve-se evitar a presença, influência ou interferência de outras variáveis que
não pertençam ao construto, como já foi dito
• Deve-se também evitar redundâncias que sejam estranhas ao construto,
como sejam o utilizar as mesmas palavras ou as mesmas estruturas gramaticais,
sem necessidade,
• O grau de generalidade vs. especificidade dos itens deve ser
aproximadamente equilibrado nas diferentes facetas.
• Estas questões não são fáceis porque não há critérios muito objetivos, mas é
importante estar atento a elas
• A seleção de itens após a aplicação em pré-teste permite resolver alguns
problemas, mas não se deve confiar nisso em demasia.

Número de itens
• Pensar em quantos itens poderá ter a versão final, em função da estrutura do
questionário e do seu contexto de utilização
• É geralmente recomendado que o número de itens inicialmente produzido
seja entre 2 a 3 vezes o número pretendido final, podendo ir de 1,5 a 4 vezes
em casos excecionais.
• Ter também em conta o contexto em que vai ser feito o pré-teste, para decidir
quantos itens se pode incluir.
• Considerar incluir no pré-teste itens cujo desempenho se tem dúvidas (p.e., de
cotação inversa, tão semelhantes que sejam alternativos, etc.)

Regras que ajudam à clareza


• Evitar itens excessivamente longos
• Evitar estruturas gramaticais complexas
• Evitar palavras que muitas pessoas da população-alvo possam não conhecer
• Evitar itens formulados na negativa, ou que incluam negações
• Tentar detetar ambiguidades e possibilidades de interpretação não previstas
• Tentar detetar itens que perguntam duas coisas ao mesmo tempo

5. A estrutura dos questionários


Questionários fragmentados

• Cada resposta tem interesse em si e é analisada separadamente


o Ex: Questionários de Saúde da SMU

Questionários unidimensionais

• Medem uma só variável, somando-se os resultados de todos os itens


o Ex: Escala de Stress Percebido

Questionários multidimensionais

• Medem várias variáveis, cada uma com um conjunto de itens (escala)


• Podem ser hierárquicos, se também se pode obter um resultado geral.
o Ex: Escala de Provisões Sociais
• Ou paralelos se as escalas são independentes

55
o Ex: Mother-Father-Peer Scale
• Ou multinível, se há vários níveis com mais do que uma escala
o Ex: BFI-2

6. A construção de um questionário
1. Definição do construto que se pretende medir
2. Pesquisa de questionários já existentes
3. Redação dos itens (geralmente em número superior ao necessário) ou
tradução (e retroversão) e das instruções
4. Aplicações piloto (controlo de compreensão)
5. Pré-teste e seleção de itens por critérios estatísticos
6. Exame das qualidades psicométricas dos resultados (precisão e validade)

7. Tradução/Adaptação de um questionário
1. Verificar se não existe já uma versão portuguesa
2. Contactar o autor, pedindo autorização, para evitar a proliferação de versões
3. Fazer a tradução, procurando manter o sentido, mais do que traduzir
literalmente, consultando outras pessoas.
4. Obter uma retroversão, de uma ou mais pessoas que dominem bem a língua
de origem
5. Enviar a retroversão para o autor original, para verificação
6. Obter dados para testar psicometricamente a versão portuguesa.

8. Avaliação psicométrica
Precisão (reliability)
O questionário mede algo de consistente (isto é, que não varia de forma aleatória)?

1. Reteste
2. Coeficiente alfa de Cronbach
3. Teoria da generalizabilidade

Validade
O questionário mede o construto que eu quero ou penso que mede (isto é, posso
fazer as interpretações que me interessam)?

1. Exame dos conteúdos


2. Exame dos processos de resposta
3. Análise fatorial
4. Informação proveniente do estudo da precisão (estabilidade)
5. Correlações com outros instrumentos psicométricos
6. Correlações com outras variáveis/critérios
7. Diferenças entre grupos específicos
8. Diferenças entre situações.
56
Prática 6

É claro e compreensível para todos?

Está dentro do domínio?

Pergunta uma só coisa?

Não permite a interferência de outros aspetos?

Regras que ajudam à clareza:

• Evitar itens excessivamente longos


o Aumentam o risco de não serem claros, de se perguntar mais do que
uma coisa e levar à interferência de outros aspetos.
• Evitar estruturas gramaticais complexas
o Porque, orações subordinadas, relações lógicas complexas.
• Evitar palavras que muitas pessoas da população alvo possam não conhecer
• Evitar itens formulados na negativa, ou que incluam negações
• Tentar detetar ambiguidades e possibilidades de interpretação não previstas
• Tentar detetar itens que perguntem duas coisas ao mesmo tempo.

Tem dificuldade em controlar a sua ansiedade? – está a perguntar duas coisas

Ex: Sintomas psicopatológicos

• Por sentir medo, evito com frequência espaços com muitas pessoas, como
autocarros, auditórios, ruas muito largas ou multidões em geral.
o Muito longo, avalia várias coisas ao mesmo tempo [se evita e por que
razão (medo) – a pessoa pode ter medo e não evitar, pode evitar e não
por medo].
o Pode-se dividir ao meio, uma pergunta para medo e outra para
evitação
o Ruas muito largas têm mais a ver com espaços abertos (típico da
agorafobia) e não tanto a ver com muitas pessoas
• Tenho tido dificuldades no meu trabalho habitual
o O que se está a perguntar mesmo? Não se percebe
o Está dentro do domínio – dificuldades no trabalho significa patologia?
Qual é a psicopatologia?
o Aplicabilidade para todos: este item só pode ser respondido por uma
pessoa que trabalhasse – pessoa entre empregos, reformados,
estudantes, desempregada.
• Tenho sentido perda de vontade em realizar atividades que dantes me davam
prazer.
o Alguns dizem que o facto de ter uma perda indica diminuição de algo
que existia antes, tornando o “que dantes me davam prazer”
desnecessário. Mas outros acham que faz sentido.
• Sempre que eu estou no meio da multidão sinto que perco o controlo ou sinto-
me impotente e vulnerável.

57
o Avalia mais do que uma coisa ao mesmo tempo.
• Sinto-me relutante em confiar nos outros porque tenho medo que a
informação possa ser usada contra mim.
o Extenso;
o Pergunta duas coisas;
o Pode ser dividido em dois;
o A palavra relutante pode não ser conhecida por todas.
• Sinto que não tenho valor.
o Está na negação, mas não incomoda muito.

Na sociedade atual, cada vez mais multicultural, a convivência e a aceitação


recíproca dos diferentes grupos sociais é cada vez mais importante. Para promover
essa boa convivência, é muito importante conhecer a perceção que as pessoas têm
das características comportamentais desses grupos, sejam elas positivas ou
negativas. Considerando os itens abaixo apresentados, indique em que grau lhe
parece que o conteúdo de cada um deles é característico do grupo social indicado,
utilizando a seguinte escala.

6 itens

Os indivíduos da população em questão:

1. São pouco higiénicos.


2. Têm vontade de trabalhar.
3. São pessoas pouco escolarizadas.
4. Têm mais comportamentos violentos.
5. Têm maior capacidade de resolução de problemas.
6. Roubam oportunidades de trabalho.

58
Teórica 7

1. Quando é que se deve utilizar um questionário?


Do mesmo modo que as entrevistas, os questionários são uma forma de recolher
dados de autorrelato, ou seja, em que a pessoa nos dá informação, na maior parte
dos casos respondendo a perguntas, acerca de quaisquer aspetos que sejam
relevantes para o estudo que se pretende fazer:

• Tanto de aspetos subjetivos que não podem ser obtidos de outra forma (por
exemplo, opiniões, crenças, etc.);
• Como acerca de aspetos objetivos do seu comportamento ou do seu
ambiente, que também poderiam ser recolhidos através de observação mas
em que os questionários ou as entrevistas têm a vantagem de ser mais
económicos, sobretudo em termos de tempo.

A decisão de usar ou não um questionário é, por isso, tomada quase sempre em


alternativa à de usar uma entrevista, pois outros tipos de métodos são bastante
diferentes e raramente seriam uma alternativa plausível a estes.

Ora, a distinção entre questionários e entrevistas nem sempre é inteiramente clara,


havendo muitos formatos intermédios cuja classificação levanta dúvidas (por
exemplo, quando o participante responde no computador e é este que apresenta
oralmente as perguntas, reproduzindo ficheiros de som em que elas estão gravadas).
Haveria vários possíveis critérios, mas aquilo que me parece mais importante é
escolher aqueles que seriam mais úteis quando se trata de decidir entre usar um
questionário ou uma entrevista.

Deste modo, a minha proposta é a de definir que nas entrevistas a recolha de dados
é feita durante uma interação, presencial ou à distância, por exemplo por telefone,
Zoom, Whatsapp, etc., entre o participante e um elemento da equipa de
investigação.

Pelo contrário, nos questionários não existe essa interação durante a recolha de
dados, e a apresentação das perguntas e a recolha das respostas são feitas por
escrito ou de modo semelhante (por exemplo, assinalando com o rato do
computador).

• Note-se, por exemplo, que, de acordo com esta definição, se temos um estudo
em que o participante clica com o rato num certo ponto do ecrã para ouvir um
ficheiro de som que lhe apresenta uma pergunta e depois noutro ponto para
gravar um ficheiro de som com a sua resposta, estaremos perante um
questionário, visto que não existe uma interação com um investigador durante o
período da aplicação.

Em outras obras de outros autores poderão ser encontradas outras definições, mas
esta parece-me a mais útil para a decisão que é necessário tomar. Espero que um
pouco mais à frente fique claro o porquê.

Sendo assim, a principal diferença entre entrevistas e questionários é a possibilidade


de o investigador intervir durante o processo de recolha de dados. Essa possibilidade
existe nas entrevistas, mas não nos questionários. E a sua grande vantagem é a de
59
permitir fazer face a situações imprevistas e adaptar o processo de recolha de dados
enquanto ele decorre. Por outras palavras, a grande vantagem das entrevistas reside
na sua flexibilidade. Esta flexibilidade torna possíveis as entrevistas semiestruturadas
ou não-estruturadas, de que não existem equivalentes nos questionários (ou pelo
menos não são viáveis na prática, como veremos).

Daqui decorre que deveremos optar por entrevistas se prevemos com elevada
probabilidade que irão acontecer situações imprevistas, às quais teremos de nos
adaptar, se queremos evitar que os nossos dados se revelem inválidos.

Só será sensato utilizar um questionário se acreditamos que, na forma como iremos


recolher os nossos dados, não irão acontecer imprevistos relevantes. Caso eles
aconteçam de facto, o problema será grave porque, não estando um investigador
presente, poderá nem sequer se aperceber do problema e não ter consciência do
efeito que ele terá sobre os dados.

Daqui decorre, por sua vez que, para se utilizar um questionário, temos de ter
garantido as melhores condições para a recolha dos dados, uma vez que não
poderemos lidar com imprevistos nem, muitas vezes, detetá-los. Isto significa, por
exemplo, um enorme cuidado na redação das perguntas, pois será necessário tentar
garantir que elas são sempre interpretadas da maneira que o investigador pretende,
não se podendo alterá-las e esclarecê-las no momento nem detetar os problemas
de interpretação, como acontece nas entrevistas.

Por outro lado, isto implica também que os participantes tenham os recursos
cognitivos (e outros, eventualmente) necessários para lidar adequadamente com a
tarefa que lhes é pedida, sem a ajuda do investigador.

Outra consequência importante da inflexibilidade dos questionários é que, sendo


impossível introduzir ou modificar perguntas, o investigador necessita de ter a certeza
de ter no seu questionário todas as perguntas que seriam relevantes para o estudo.

• Se, por exemplo, existem respostas que o investigador não consegue antecipar
e em relação às quais seria importante pedir aos participantes especificações,
clarificações, aprofundamento, etc., ou seja, num estudo de caráter claramente
exploratório, os questionários são geralmente inadequados.

Se o objetivo do estudo passa por solicitar aos participantes que se posicionem (por
exemplo, em termos de opiniões ou crenças) relativamente a uma lista de itens que
se pretende que seja o mais completa possível, o mais adequado é geralmente
realizar primeiro um estudo qualitativo, através de entrevistas, e de seguida preparar
um questionário com base nos resultados desse estudo e realizar um segundo estudo,
com esse questionário.

• Por exemplo, suponhamos o caso de um investigador que pretende conhecer


as crenças das pessoas acerca dos fatores que contribuem para as doenças
cardiovasculares.
o Essas crenças não são conhecidas do investigador à partida. Uma vez que
o investigador tende a ser alguém com bastante conhecimento do

60
assunto, as suas crenças não incluem provavelmente muitos dos mitos e
crenças erróneas mantidas por muitos leigos pouco informados.
o Por isso, o investigador não consegue geralmente, mesmo com a ajuda de
colegas, criar uma lista suficientemente completa daquilo que poderão ser
as crenças relevantes da população estudada.
o Mesmo recorrendo à literatura sobre o assunto, o risco de escaparem
aspetos importantes é elevado, pois dificilmente haverá um estudo
suficientemente atualizado, com a mesma população, com a mesma
definição de fatores de risco que o investigador pretende, etc.
• Portanto, se queremos evitar o imprevisto de as pessoas da nossa amostra terem
uma crença de que não estávamos à espera, o melhor será fazer um estudo
qualitativo, certamente utilizando entrevistas, com o número suficiente de
participantes da mesma população para garantir que atingimos a saturação e
novas entrevistas não nos permitem aumentar a nossa lista de crenças.

Mas porque não ficar, então, apenas pela entrevista e pelo estudo qualitativo?

Acontece que, primeiro, numa entrevista não-estruturada ou semiestruturada, se não


é apresentada à pessoa a lista completa das possíveis crenças, haverá muitas que a
pessoa com certeza não irá mencionar explicitamente, por não lhe ocorrerem no
momento ou por outras razões. A pessoa pode até considerar que aquele é um fator
importante, mas ele não surge na entrevista.

Em contraste, se fizermos um questionário e pedirmos à pessoa para dar a sua opinião


acerca da importância de cada um de uma lista de fatores, ficamos com uma
informação bastante mais completa acerca das suas crenças quanto a esses fatores,
pois temos a certeza de que os considerou todos e se pronunciou sobre eles.

Neste caso, um estudo com um questionário daria uma informação mais completa
do que se fosse utilizada uma entrevista não estruturada ou semiestruturada. Por este
motivo, é legítimo considerar que nenhum dos métodos fornece sistematicamente
informação mais rica e completa do que o outro. → Isso depende das circunstâncias
do estudo, não obstante aquilo que é muitas vezes dito, sobretudo pelos defensores
dos métodos qualitativos, que procuram defender a superioridade destes.

Mas porque não usar, então, uma entrevista estruturada em vez do questionário?

1. Provavelmente porque, em primeiro lugar, tendo o participante que se pronunciar


sobre uma extensa lista de fatores de risco para doenças cardiovasculares, não
será possível obter uma resposta extensa e detalhada sobre cada um deles. Será
necessário, muito provavelmente, limitar a resposta a um número relativamente
restrito de alternativas.

Com isto, eliminamos praticamente todos os imprevistos que poderiam acontecer


durante a recolha de dados, o que nos abre a possibilidade de utilizar um
questionário. Ou seja, a entrevista teria poucas vantagens, uma vez que a maior parte
dos imprevistos foram excluídos.

2. Em segundo lugar, vem juntar-se aqui a principal vantagem dos questionários, em


contraponto à da flexibilidade das entrevistas: Por não obrigar um investigador a

61
interagir individualmente ou em pequenos grupos com os participantes, e estes
realizarem a tarefa sozinhos, os questionários tornam a recolha de dados muito
mais eficiente em termos do rácio entre a quantidade de informação produzida e
o tempo despendido pelos investigadores.

Quer isto dizer que se torna possível recolher amostras muito maiores com o mesmo
dispêndio de tempo e, portanto, o questionário teria com certeza vantagens sobre a
entrevista neste estudo.

Em resumo, no questionário o participante realiza a tarefa sozinho, sem a ajuda do


investigador, o que significa uma poupança de recursos para este (o investigador),
mas com a contrapartida de uma maior exigência de recursos da parte do
participante.

Por isso, antes de decidir usar um questionário, é importante assegurar que a


população alvo dispõe dos recursos suficientes para conseguir realizar a tarefa sem
a ajuda dos investigadores.

Mesmo no caso do estudo que usamos acima como exemplo, e apesar de um


questionário parecer ser a alternativa mais vantajosa, seria necessário verificar se a
população que se pretende estudar dispõe dos recursos necessários (por exemplo,
capacidade de leitura e interpretação) para responder ao questionário de forma
válida.

Caso esses recursos não sejam suficientes, o melhor será provavelmente o


investigador contribuir com alguns, num formato de entrevista, em que pode verificar,
por exemplo, a compreensão das questões e reformulá-las conforme necessário.

2. O formato dos itens nos questionários


Tal como foi indicado no PowerPoint, as questões abertas nos questionários raramente
funcionam bem.

• Os participantes não gostam, pelo esforço que implicam, e as respostas são


geralmente muito breves e incompletas.

Por isso, eventualmente com raríssimas exceções, não são de recomendar, e quase
sempre as entrevistas são mais vantajosas nesses casos.

Os itens de resposta "fechada", em que o participante apenas tem de escolher entre


um conjunto de respostas pré-definidas, são geralmente muito mais bem aceites,
práticos e vantajosos.

Obviamente, o formato específico dos itens depende daquilo que se pretende


avaliar, e não é possível aqui estar a abordar todos os formatos possíveis ou
conhecidos.

De modo geral, no entanto, os tipos de itens mais usados para medir variáveis
psicológicas são aqueles que utilizam escalas de avaliação (em inglês, rating scales),
que permitem uma quantificação em termos de graus, por exemplo de
concordância, frequência, veracidade, etc.

62
Essas escalas são depois traduzidas em números, de modo que os resultados dos
vários itens possam ser somados e calculados os indicadores estatísticos.

Importa, entretanto, mencionar a este respeito os itens chamados de "resposta


ipsativa".

• Trata-se de itens cujas diferentes alternativas de resposta medem diferentes


variáveis e em que os participantes têm de escolher entre elas, geralmente
colocando-as por ordem (havendo apenas duas, escolher uma mais do que
a outra significa colocá-las por ordem; se houver 3, indicar a mais e a menos
desejada significa igualmente pô-las por ordem).
• Estes itens colocam enormes problemas em termos estatísticos, pois fazem
com que a medição das diferentes variáveis não seja independente.
o O facto de atribuir um certo valor a uma implica ter de atribuir um valor
diferente a outra, e isso força correlações negativas entre as variáveis,
que enviesam os resultados do questionário.

Por isso, este formato parece-me de evitar e, mesmo que alguns autores defendam
que ele pode ter vantagens em alguns casos, essas vantagens não foram
comprovadas pela investigação e as desvantagens são sempre maiores.

Note-se, no entanto, que, para que um item seja considerado ipsativo, é necessário
que as alternativas colocadas por ordem correspondam a variáveis diferentes.

Vejamos o que é provavelmente o exemplo mais famoso.

escala de locus de controlo de Rotter, cada item é composto por duas alternativas, uma
respondente a um locus de controlo interno e a outra a um locus de controlo externo. Isto significa
e a correlação entre os totais das avaliações independentes dos locus de controlo interno e externo
á sempre de -1. Por seu turno, isto significa que é impossível obter avaliações independentes dos
us de controlo interno e externo (são a mesma variável, apenas invertida).
esultado do questionário corresponderá a uma única dimensão de locus de controlo, entre os polos
remos de interno e externo. Assim sendo, as duas alternativas estarão a medir a mesma variável, e
roblema desaparece, desde que se parta de uma conceção teórica bipolar (interno-externo) do
us de controlo.
a nossa conceção for a de que locus de controlo interno e externo são dois tipos de crenças algo
ependentes e que podem coexistir na mesma pessoa, já teremos um problema, e este formato de
m será inadequado.

Note-se, ainda, que este é um caso extremo. Nos casos em que as alternativas são
mais do que duas, a correlação não é obrigatoriamente de -1, mas é ainda assim
fortemente enviesada no sentido negativo.

Outra questão importante é a dos itens dicotómicos, ou seja, dos itens que apenas
admitem duas alternativas de resposta (sim/não, concordo/discordo, etc.) O
principal problema com estes itens é que são muito pouco eficientes em termos da
discriminação entre diferentes níveis das variáveis que se pretende medir. Um item
com, por exemplo, 5 níveis de concordância, estabelece quatro distinções (entre
alternativas adjacentes), enquanto o item dicotómico apenas estabelece uma.

63
Significa isto que, para termos a mesma capacidade discriminativa, teríamos de usar
mais itens.

• Suponhamos, por exemplo, um questionário com 10 itens.


o Se as respostas forem dicotómicas, pontuando zero ou um, o resultado final
poderá ir de 1 a 10. Onze resultados diferentes possíveis, portanto.
o Mas se cada item for respondido numa escala de zero a 4, os resultados
irão de zero a 40. Quarenta e um resultados possíveis.
o Para obter o mesmo nível de discriminação (aproximadamente, pois a
questão é um pouco mais complexa), com itens dicotómicos, teríamos de
usar 40 itens.

Por isso, mesmo que a resposta a itens dicotómicos possa ser muito ligeiramente mais
rápida e fácil (e a diferença será sempre pequena), qualquer vantagem a esse nível
será anulada pela necessidade de inserir mais itens para obter resultados
comparáveis. A leitura desse maior número de itens irá fazer com que o tempo
despendido acabe por ser maior.


Isso fez com que os itens de resposta dicotómica tenham praticamente desaparecido
dos questionários atuais. Aqueles que ainda os apresentam, ou são questionários
antigos, criados décadas atrás e que ainda permanecem em uso, devido ao
patrimônio de investigação e experiência acumulados no seu uso, ou então são
questionários criados por pessoas com pouca formação e conhecimentos nesta
área, e que ignoram as suas desvantagens.

A única razão pela qual este formato era preferido no passado tem a ver com a
maior simplicidade da análise de dados, por permitir realizá-la através de técnicas
simplificadas, hoje totalmente em desuso e que se destinavam a facilitar os cálculos
quando eles eram feitos à mão.

Em geral, quanto maior o número de níveis na escala de avaliação, maior a


quantidade de informação que o item fornece, o que se chega a comprovar, por
exemplo, através do alfa de Cronbach.

No entanto, os ganhos vão sendo progressivamente menores conforme se aumenta


o número de níveis da escala e, a partir de 9, os ganhos são muito pequenos, pelo
que geralmente não há interesse em usar um número superior a esse. Mesmo antes
disso, os maiores ganhos vão até um número próximo de 5. Acima disso, são
modestos.

Por outro lado, números superiores a 5 tornam bastante difícil encontrar descritores
verbais para cada um dos níveis. Estas são as principais razões para que o mais
comum nos questionários quantitativos sejam os itens com 5 alternativas de resposta,
a ponto de muita gente achar que "escalas de Likert" significam escalas com 5 níveis,
e não a ideia do Sr. Rensis Likert de somar os resultados de escalas de avaliação
quantitativas. A

h, e por se tratar de um nome próprio, a palavra "Likert" deve ser sempre escrita com
maiúscula.
64
3. A estrutura dos questionários
Tal como foi explicado nas aulas e está indicado no PowerPoint, parece vantajoso
distinguir entre quatro grandes tipos de questionários neste aspeto.

No primeiro, a que eu chamei questionários "fragmentados" (e é um termo que não


vão encontrar na literatura, pois não conheço nenhum outro autor que tenha
abordado este aspeto desta forma), cada item é considerado individualmente.

• Por exemplo, se no estudo anterior quiséssemos saber quais os fatores de risco


para doenças cardiovasculares considerados como mais importantes na nossa
amostra, iríamos calcular a média da importância atribuída a cada item.
• Ou seja, o questionário fornece tantos resultados separados quantos os itens que
o compõem.

Neste caso, não fará sentido calcular o alfa de Cronbach, pois este pressupõe que o
conjunto de itens que vão ser somados para obter um resultado global são
internamente consistentes, ou seja, medem uma mesma variável.

Ora, se neste caso cada item mede uma variável diferente e fornece um resultado
separado para a análise, não faz sentido utilizar esta forma de avaliar a precisão.

A análise fatorial pode ser usada com este tipo de questionários apenas para fins
exploratórios (p. ex., saber como os fatores de risco tendem a agrupar-se no sentido
de serem considerados mais vs. menos importantes pelas mesmas pessoas), mas não
para decidir como apurar os resultados.

Se se fizer isso, o questionário passará de “fragmentado” a multidimensional.

No outro extremo, temos os questionários unidimensionais, que pretendem medir


uma única variável e em que todos os itens são somados para um único resultado
final. Neste caso, o alfa de Cronbach será calculado para o conjunto dos itens
somados, ou seja, para o questionário na sua totalidade.

Também neste caso, não é estritamente necessário realizar uma análise fatorial, pois
o objetivo é o de selecionar itens que meçam uma única dimensão, e não verificar
quais as diferentes dimensões presentes. Os itens para questionários deste tipo são
muitas vezes selecionados apenas com base na correlação item-total, que se obtém
através do procedimento de cálculo do alfa de Cronbach no SPSS.

Mas a análise fatorial pode ser útil no sentido de verificar a possível presença de
outras dimensões indesejáveis, de modo a poder eliminar os itens que se relacionem
com elas em grau relevante.

Um pouco mais complexos são os questionários multidimensionais, que medem


diferentes facetas do mesmo construto, através de escalas (conjuntos de itens)
separados.

Multidimensional paralelo
• Seria o caso, por exemplo, de um questionário que pretendesse medir os cinco
grandes fatores da personalidade. Teríamos 5 resultados separados, cada um
deles resultado da soma de um conjunto de itens igualmente separado. Não

65
se recomenda que o mesmo item possa pontuar em diferentes escalas, pois
isso iria introduzir correlações artificiais entre elas, enviesando os resultados.
• Teremos, assim, 5 conjuntos separados de itens, e deveríamos calcular para
cada um deles o respetivo alfa de Cronbach.

Note-se ainda que, neste caso, não faria sentido calcular um resultado global.

• Uma variável que fosse resultado do somatório dos 5 fatores não


corresponderia a nenhum conceito psicológico útil.

Por isso, não faria sentido calcular o alfa de Cronbach global, reunindo todos os itens
do questionário.

A este tipo de questionário dei a designação de “multidimensional paralelo”.

Multidimensional hierárquico
Um caso diferente se coloca quando o somatório das diferentes escalas poderia dar
um resultado com um significado psicológico.

• Por exemplo, um questionário que avaliasse o autoconceito poderia avaliar


várias facetas desse construto: autoconceito físico, social, moral, intelectual,
etc.

Neste caso, ao contrário do anterior, o somatório de todas as facetas faria sentido,


pois corresponderia a uma avaliação global do construto de autoconceito. Por isso,
e para além de se calcular o alfa de Cronbach para cada uma das escalas
construídas para as diferentes facetas, dever-se-ia calcular também um alfa para o
conjunto dos itens (juntando os de todas as facetas).

A este tipo de questionário dei a designação de “multidimensional hierárquico”.

Note-se, ainda, que a decisão entre um e outro tipo não depende da preferência do
investigador nem de resultados da análise estatística. Depende de questões teóricas,
nomeadamente se o resultado global corresponde a qualquer conceito psicológico
compreensível ou não.

Multidimensional multinível
Outro caso ainda é quando, no nível superior, temos mais do que um construto.

• Por exemplo, dentro de cada um dos domínios do modelo dos 5 grandes é


possível distinguir diferentes facetas.
o Dentro do conceito de Neuroticismo podemos distinguir a ansiedade, a
depressão, a hostilidade, a impulsividade, a sensibilidade ao stresse, etc.
o Num questionário que fosse bastante extenso, poderia considerar-se a
possibilidade de avaliar cada uma destas facetas através de um conjunto
separado de itens.
o Aqui teríamos vários resultados em cada um dos níveis (facetas e
domínios).

A questionários com uma estrutura deste tipo (ou ainda mais complexa) dei o nome
de “multinível”.

66
Quanto ao alfa de Cronbach para estes casos, a regra geral é que a cada resultado
que se calcula por somatório de itens deve corresponder um alfa de Cronbach
calculado para esses itens, e reciprocamente a cada alfa tem de corresponder um
somatório de itens.

4. A construção de questionários
A construção de um questionário passa por diversas fases, cada uma com a sua
função e propósito específicos.

1. Definição do construto que se pretende medir

A primeira será naturalmente a elaboração de uma definição completa e rigorosa


do conceito/construto que se pretende que o questionário avalie.

Esta etapa é muitas vezes desvalorizada, mas é essencial para que as etapas
subsequentes corram bem, sobretudo aquela em que são elaborados os itens, uma
vez que, sem uma definição exata daquilo que se pretende medir, será difícil
determinar se os itens são pertinentes e se refletem o construto alvo.

Deve ser também evidente que esta etapa não tem fronteiras estanques, ou seja,
muitas vezes, ao construir os itens, realizar as análises fatoriais, etc., vai-se
reformulando e afinando a definição do construto.

2. Pesquisa de questionários já existentes


Uma vez definido o construto, uma segunda fase vai passar pela pesquisa de
questionários eventualmente já existentes e que cumpram a função que se pretende.

Para isso, é importante ter em conta o que resultou da fase anterior. Isto significa que,
se concluímos que o nosso construto alvo deve ser definido de uma certa forma, que
melhor se adapta aos nossos objetivos ou ao estudo que pretendemos realizar, é
necessário verificar se um questionário já existente e que estamos a pensar adotar
segue a mesma definição do construto.

Não nos devemos basear exclusivamente no nome do questionário, pois muitas vezes
o mesmo nome esconde conceitos definidos de forma bastante diferente.

Uma vez que nem sempre os autores apresentam a sua definição de forma explícita,
a melhor forma de perceber qual a definição subjacente a um determinado
questionário é através do exame dos conteúdos dos itens. É normalmente a partir daí
que conseguimos melhor perceber se o questionário é adequado para o fim que
temos em vista.

É preciso considerar, ainda, a possibilidade de existirem questionários que serviam os


nossos propósitos, mas que não existem em língua portuguesa.

• Desde que apresentem boa qualidade e a credibilidade que lhes é dada por
artigos publicados avaliando a sua precisão e validade, devemos considerar
seriamente a possibilidade de os traduzir em vez de criar um questionário
completamente novo.

67
Trabalhar a partir de questionários já existentes, em língua portuguesa ou traduzidos
tem, além de poupar trabalho, a importante vantagem de assegurar que os nossos
resultados serão comparáveis aos obtidos noutros estudos.

3a. Tradução
3.1a. Verificar se não existe já uma versão portuguesa

3.2a. Contactar o autor, pedindo autorização, para evitar a proliferação de versões

Ao utilizar ou traduzir questionários elaborados por outros autores, as regras da boa


educação académica mandam que se peça autorização aos autores para fazer a
tradução ou usar o questionário.

No caso da tradução, esta prática tem ainda outras importantes vantagens:

• Aumentar a probabilidade de o nosso trabalho ser mais divulgado, com a


ajuda do autor da versão original, que pode recomendar a nossa versão
traduzida a outras pessoas que o contactem no sentido de utilizar o
questionário em português;
• Se ele já foi traduzido, provavelmente o autor poderá enviar-nos a versão
traduzida ou pôr-nos em contacto com os colegas que elaboraram essa versão
portuguesa, poupando-nos o trabalho de ir refazer algo que já estava feito.

3.3a. Fazer a tradução, procurando manter o sentido, mais do que traduzir


literalmente, consultando outras pessoas.

Na tradução de um questionário, devemos começar por fazer uma tradução, da


versão original para a portuguesa, com o cuidado de ser o mais fiel possível, mas
sem cair no erro de fazer uma tradução literal, pois aquilo que nos interessa é que o
item traduzido tenha o mesmo significado do original. Muitas vezes, para obter um
sentido o mais possível idêntico numa frase que seja clara, de leitura fácil e
esteticamente agradável, pode ser necessário mudar bastante a estrutura da frase.

O melhor, nesta fase da tradução, será ter uma variedade de pessoas, que fazem
traduções independentes, que depois são comparadas numa reunião entre todos
(por vezes fala-se em “comités de tradução”), escolhendo-se a melhor entre elas.

3.4a. Obter uma retroversão, de uma ou mais pessoas que dominem bem a língua
de origem

Uma vez aceite uma tradução consensual, deve-se passar à fase da retroversão.

• Esta consiste em, recorrendo a pessoas com um conhecimento o melhor


possível da língua de origem do questionário, mas que não o conhecem na
sua versão original, tentar reconstruir essa versão, fazendo uma tradução
“cega” de volta para a língua original.
• O resultado dessa tradução é, então, comparado com o original, para tentar
verificar se as discrepâncias encontradas são resultado de:
o Formas alternativas de dizer a mesma coisa, ou de outros aspetos
inconsequentes de dificuldades de tradução

68
o Ou se, pelo contrário, são resultado de distorções no sentido dos itens,
introduzidas pela tradução para português, e que depois foram
devolvidas à língua original pela retroversão.

Também no caso da retroversão poderá haver interesse em utilizar mais do que uma
pessoa e encontrar uma versão consensual, se houver facilidade em encontrar
pessoas disponíveis para fazer esse trabalho.

3.5a. Enviar a retroversão para o autor original, para verificação

Uma vez terminado este processo, é boa ideia enviar a retroversão para os autores
do questionário original, para que estes possam verificar se a tradução parece
manter o sentido que tinham pretendido para os itens originais.

• Caso exista algum problema com a tradução, os autores originais poderão dar
boas sugestões para a sua resolução.

Concluído este processo, pode avançar-se para a fase do pré-teste, descrita mais à
frente.

3.6a. Obter dados para testar psicometricamente a versão portuguesa.

3b. Redação dos itens (geralmente em número superior ao necessário)


No caso de se decidir pela criação de um questionário completamente novo, em
lugar da tradução teremos o passo da elaboração dos itens, assegurando que eles
estão de acordo com a definição que foi escolhida para o construto que se pretende
medir, embora a relação aqui seja um pouco bidirecional, como já foi referido.

Os princípios e regras para a elaboração dos itens estão indicados no PowerPoint e


foram trabalhados nas aulas práticas, pelo que não os irei voltar a referir aqui.

• O item está dentro do domínio do que se pretende avaliar?


• É claro e compreensível para todos?
• Pergunta só uma coisa?
• Não permite a interferência de outros aspetos?

Importa salientar que nesta fase se deve elaborar um número de itens muito superior
àquele que se pensa que será necessário.

Ao planificar a construção do questionário, devemos pensar, em função de se se


trata, por exemplo, de um breve questionário para uma investigação ou de um
instrumento mais longo para ser usado em diagnóstico clínico, qual será
aproximadamente o número de itens necessários e possíveis no questionário final.

Considerando este número, deveríamos tentar elaborar pelo menos o dobro dos
itens, para que os melhores possam ser depois selecionados por critérios estatísticos
no pré-teste.

Depois de os itens serem escritos e, desejavelmente, revistos ao longo de algum


tempo e por diferentes pessoas, tendo em conta os princípios já conhecidos, avança-
se para a fase das aplicações-piloto.

69
4. Aplicações piloto (controlo de compreensão)
Aqui, o objetivo é o de detetar problemas com a redação dos itens, realizando
aplicações individualmente com um número relativamente pequeno de pessoas que
sejam representativas da população que irá responder ao questionário.

Embora esse número seja limitado, devido ao facto de o investigador dever estar
presente (ou pelo menos em contacto por telefone ou Skype) com a pessoa que
responde, de modo a poder obter um feedback imediato (digamos que 4 a 10
pessoas será o normal), deve-se tentar que essas pessoas sejam representativas da
diversidade da população com que se irá depois utilizar o questionário final.

O objetivo é verificar se os itens são compreensíveis, se são interpretados da maneira


pretendida, etc., pedindo às pessoas para explicar os itens nas suas próprias
palavras, explicando como fariam para decidir como responder, ou colocando
outras perguntas que se considere relevantes para detetar eventuais problemas.

Concluída esta fase e modificados os itens para resolver os problemas que tenham
sido detetados, passa-se a fase do pré-teste.

5. Pré-teste (e seleção de itens por critérios estatísticos)


Aqui, as aplicações já serão feitas de forma semelhante às circunstâncias reais de
utilização do questionário final, ou seja, coletivamente ou online, sem o
acompanhamento dos investigadores.

O objetivo desta fase é o de selecionar os itens para a forma final do questionário,


eventualmente com o auxílio da análise fatorial, pelo que é importante ter uma
amostra numerosa, em caso algum inferior a 100 participantes.

É comum, no entanto, em projetos de construção de questionários considerados


muito importantes, que este número ascenda a várias centenas ou mesmo mais de
1000 participantes.

Uma possibilidade a considerar, sobretudo para quem tenha bastantes


competências e prática na redação de itens, é a de incluir um número não muito
grande de itens no pré-teste e realizar esta recolha de dados juntamente com a do
estudo principal.

Uma vez selecionados os itens para o questionário final, serão esses conjuntos de itens
a ser usados na análise dos resultados, e os restantes itens ignorados. ~

6. Exame das qualidades psicométricas dos resultados (precisão e validade)


Finalmente, e antes de se apresentar o novo questionário à potencial comunidade
de utilizadores (investigadores ou profissionais da psicologia), devem ser recolhidos
dados que comprovem as suas qualidades psicométricas, nomeadamente a
precisão e a validade.

70
5. A seleção dos itens
Utilizando os dados do pré-teste, o processo de seleção dos itens vai depender, em
parte, da estrutura do questionário.

Nos questionários multidimensionais, que constituem a grande maioria dos casos, a


análise fatorial é a ferramenta essencial (analyse → dimension reduction → factor →
selecionar os itens todos).

Uma vez submetido o conjunto de itens incluídos no pré-teste a uma análise fatorial,
o primeiro passo é o da escolha do número de fatores a considerar.

Aqui, é importante sobretudo não confiar no critério utilizado automaticamente pelo


SPSS, o chamado “critério de Kaiser”, que seleciona todos os fatores com valores
próprios superiores a 1.

• Este método é amplamente conhecido por indicar um número de fatores muito


superior ao correto, e deve ser geralmente evitado.

Os métodos mais eficazes são:

1. O chamado "teste do cotovelo", que se baseia num gráfico dos valores próprios,
obtido no SPSS através de uma opção com um nome de "scree plot" ou "gráfico
de escarpa" na versão portuguesa.
a. O procedimento consiste em tentar
detetar no gráfico um "cotovelo", à
direita do qual ele assume uma linha
praticamente reta, e considerar os
fatores que estejam antes desse
cotovelo.
b. O fator onde se situa o cotovelo, ou
seja, o primeiro da linha reta à
direita, já não se considera.
2. Outro método eficaz é o da chamada
"análise paralela", mas que exige software
especializado e está para lá do nível
pretendido neste módulo.

Uma vez escolhido o número de fatores, realiza-se a análise fatorial, pedindo ao SPSS
esse número de fatores e que seja feita a sua rotação.

Este processo de rotação é essencial, pois geralmente os fatores são muito menos
claros e difíceis de interpretar antes da rotação.

De facto, como regra geral, não se interpretam os fatores antes da rotação. A


chamada "matriz de fatores" é ignorada, e apenas se olha para a "matriz de fatores
rodada" (chamada “rotativa” na versão brasileira do SPP).

Existem diversos métodos de rotação, mas se os fatores forem claros, na generalidade


dos casos a sua interpretação será praticamente idêntica, seja qual for o método de
rotação utilizado.

Isto aplica-se também à distinção entre métodos de:


71
• Rotação ortogonal (em que os fatores após a rotação têm correlações de 0
entre si)
• Rotação oblíqua (em que os fatores podem correlacionar-se).
o A rotação oblíqua introduz, na minha opinião, complicação adicional sem
ter grandes vantagens práticas.
o Quanto mais agudo for ângulo das retas de duas variáveis, mais
correlacionadas estão. Se a correlação for de 1 ou -1 as linhas sobrepõem-
se, o que muda é o sentido em que co-variam (MJAfonso, PDI).

O método de rotação Varimax, do tipo ortogonal, dá, regra geral, bons resultados
na generalidade dos casos, e é de longe o mais utilizado.

Uma vez realizada a rotação, passa-se à fase de interpretação dos fatores.

Para cada fator, identifica-se quais os itens que apresentam uma correlação mais
elevada com o fator (o valor de 0,5 constitui, de acordo com a experiência prática,
um bom limiar para aquilo que é útil considerar).

É importante ter em conta que devem ser considerados os itens com valores de
correlação com o fator, tanto positivos como negativos. O que se irá perceber, ao
considerar o conteúdo do item, é que ele estará certamente a refletir o fator no seu
sentido inverso.

Através deste processo, e vendo os conteúdos do conjunto de itens com correlações


elevadas em cada fator, tentamos encontrar um significado psicológico
(interpretação) para esse fator, e encontrar um nome para o construto que ele estará
provavelmente a refletir (e para a escala a que ele dará origem no questionário final).

Terminado este processo, e sempre tendo em conta que estamos a construir um


questionário multidimensional, passamos ao processo de escolha dos itens que serão
incluídos em cada uma das escalas. Aqui, é importante entender que cada item
deve refletir (ou seja, medir) um dos fatores, separando-o claramente de todos os
outros. Significa isto que, não só cada item só poderá entrar numa escala, nunca em
mais do que uma simultaneamente, como também que devemos rejeitar os itens que
tenham correlações elevadas em mais do que um fator, como veremos.

Assim, o processo de escolha dos itens deve seguir os seguintes princípios:

• Só devem entrar numa dada escala, que vai corresponder a um fator, itens
que tenham uma relação (saturação) elevada com esse fator.
• Não devem entrar nessa escala, itens que tenham saturações elevadas
noutros fatores, ou que tenham saturações próximas neste e noutros fatores.
• Tendo em conta o número de itens que se considera razoável incluir no
questionário (e, portanto, em cada escala), se o número de itens disponíveis
for superior, o conjunto final deve ser selecionado tentando equilibrar três
objetivos, que são contraditórios entre si:
a. o número de itens o mais reduzido possível;
b. um valor para o alfa de Cronbach que esteja dentro do que é
considerado desejável;

72
c. um conjunto de itens que seja representativo dos diferentes tipos de
conteúdos encontrados no fator, não sendo, portanto, excessivamente
homogéneo.

Neste processo, é obviamente essencial o cálculo dos valores do alfa de Cronbach


para cada escala.

Aqui, há que ter especial cuidado com os itens que apresentem saturações nos
fatores com sinal diferente dos restantes. Para que deem bom resultado no alfa de
Cronbach e no somatório final, os itens devem ir todos na mesma direção. Para isso,
os itens que pontuem na direção inversa dos restantes devem ter a sua pontuação
invertida.

• Por exemplo, numa escala de 1 a 5, os valores de 1 devem ser trocados com


os de 5 (e vice-versa), e os de 2 com 4. Só depois de realizado este processo,
nos itens em que ele seja necessário, se deve calcular os alfas de Cronbach.
• Caso haja algum erro neste procedimento, ele irá refletir-se nos resultados do
alfa de Cronbach. O valor deste será bastante baixo, será visível uma
correlação negativa desse item com o total, e verifica-se que o alfa seria
bastante mais elevado se o item fosse eliminado.

Uma vez selecionados os itens para cada escala, o processo de construção estará
terminado e teremos o nosso questionário final, podendo obter-se o resultado de
cada escala através da soma dos itens que a compõem. Isso permitirá depois todos
os outros tipos de análise (correlações, comparações de médias de grupos, etc.), que
procurem demonstrar a sua estabilidade temporal e validade.

No caso de se tratar de um questionário hierárquico, em que existe também um


resultado global, deve ser calculado também o seu alfa de Cronbach.

No caso de um questionário unidimensional, a análise fatorial é geralmente


dispensável, como já foi dito. Mas quer se utilize o procedimento do alfa de Cronbach
no SPSS, selecionando os itens em função da correlação com o total, quer se faça a
análise fatorial e se considere a saturação no primeiro fator, o procedimento é
idêntico ao descrito acima, ou seja, tentando encontrar um equilíbrio entre o número
de itens, a sua heterogeneidade e o valor do alfa.

No caso dos questionários ditos "fragmentados", uma vez que cada item vale por si e
não se tem hipóteses a priori relativas a como eles se irão relacionar, o processo de
seleção de itens não faz uso de critérios estatísticos como as correlações ou a análise
fatorial, baseando-se apenas no conteúdo dos itens.

73
Teórica 7 – meus apontamentos

Não se deve fazer uma análise fatorial com menos de 200 participantes

Se tivermos três itens que se correlacionem a 0.6 , o fator vai aparecer.

Análise fatorial: analyse → dimension reduction → factor → selecionar os itens todos


(clicar no 1º item, com a tecla Shift a ser pressionada, e clicar no último).

Não usar aquilo que o SPSS por defeito – critério de Kaiser: dá um número de fatores
exagerado, muito maior do que o real, adequado e replicável

Há 2 critérios que funcional relativamente bem:

1. Análise paralela - mais complicada


2. Cotovelo - mais simples e prático, desvantagem de ser mais subjetivo
a. Vai-se a Extraction e escolhe-se Scree Plot: gráfico da variância que
naquele conjunto de dados é explicada por cada fator
b. Conforme se avança na lista de fatores, temos cada vez menos
variância explicada.

Antes da descontinuidade há 7 fatores. A partir daqui temos de fazer outra análise


fatorial, agora dizendo que os fatores são 7

Extraction, desliga-se o scree plot e pedimos um fixed number of factos: 7

Aqui faz-se a rotação dos fatores, que mantendos as posições das variáveis, o sistema
vai tentar ajustar os eixos (fatores) que orientam o espaço fatorial, de modo que as
variáveis tenham ou relações mais próximas de 1/-1 ou 0.

Há várias formas de rotação:

• Ortogonais: os fatores rodam, mas mantém ângulos retos entre si


• Obliquas: em que os fatores se correlacionam-se, em teoria é mais fidedigna,
visto que geralmente as variáveis

Mas a mais simples, que dá menos complicações é a ortogonal, sendo que a Varimax
é uma das mais equilibradas, serve para quase tudo e dá bons resultados.

Nas obliquas têm-se de pôr um número que definem quanto é que os fatores se
correlacionam entre si, quão oblíquos são. É o investigador que decide.

Fez-se a rotação.

Obtém-se novamente a percentagem de variância explicada pelos fatores e a


variância explicada no total.

Obtém-se uma matriz (antes da rotação):

• linhas- itens;
• colunas – fatores;
• os números indicam-nos a correlação (que não é bem, visto que uma
correlação é entre duas variáveis observadas, e aqui temos só uma variável
74
observada e uma variável que é uma construção, porem estão numa escala
como se fossem correlações) do item com o fator

Depois temos a Matriz de componentes rodada – é esta que vamos interpretar para
tentar descobrir o que é cada um dos fatores.

• Vamos tentar perceber quais os itens que mais se correlacionam com cada
fator. Através do conteúdo desses itens tenta-se interpretar a que é que os
fatores correspondem

Passamos esta Matriz para o Excel.

Seleciona-se a matriz toda e ordena-se pelo fator 1.

Para arranjar um nome para o fator:

Pelo primeiro item “tenho de ter a última palavra” parece teimosia, mas mais abaixo
outro item “gosto de ser o centro das atenções”, já não parece o mesmo. Tem de se
arranjar algo mais abrangente como egocentrismo ou dominância.

Quanto ao número de itens temos de conciliar 3 coisas inconciliáveis

1. Não queremos um questionário muito longo – geralmente quando é em


contextos clínicos podem ser mais longos, mas em investigação deve ser mais
curto
a. 70 itens, 10 para cada escala parece bom
2. Queremos um índice de precisão (alfa de Cronbach) aceitável, geralmente
mais que 0.7, abaixo é complicado (para investigação). Para clínica deveria
aproximar-se de 0.9.
a. Um alfa mais elevado significa ter mais itens
b. O alfa avalia se aquilo que é avaliado não é contaminado por outros
fatores, devem ter altas correlações com o fator a avaliar e baixas com
os outros (ter correlações mais próximas com mais do que um fator
acontece mais ao usar-se uma rotação oblíqua)
3. Cada fator tem várias facetas, teimosia, dominância, agressividade,
egocentrismo. Se só usarmos itens de uma faceta, ficamos com uma
presentação limitada desse fator. Os itens que escolhemos devem abranger
as várias facetas.

Chegamos a um conjunto de itens, mais ou menos o que tínhamos pensado para a


nossa escala. Agora temos de ver o alfa de Cronbach para esta escala

Analyse → scale → reliability analises → alpha → e seleciona-se os itens

Scale if item deleted – permite-nos perceber se um item está a funcionar mal

75
Uma vez decidido quais os itens que vão entrar podemos avaliar todos os indivíduos
naquela variável.

Vamos a tranform, compute variable, para criar uma variável, e depois dá-se o nome
à variável. Obtém-se o resultado através do somatório dos scores nos itens que
constituem essa variável, por isso adiciona-se os itens um a um e somam-se.

Depois obtém-se essa variável e os resultados somados de cada indivíduo.

Teórica 8

Metodologias Qualitativas
• Mais num quadro de relativista
• Caracter mais exploratório e mais subjetivo
• Mais flexibilidade
• Não partimos de hipóteses prévias, o que devem aparecer são questões de
investigação, podendo chegar a hipóteses explicativas
• Permitem aprofundar, enquanto as quantitativas permitem alargar

A relevância da Investigação Qualitativa~


• A geologia, a meteorologia, a astronomia, a oceanografia (e.g., imagens de
satélite; narrativas sobre vulcões, furacões)
• A química, a biologia molecular, a fisiologia (e.g., imagens captadas por
microscópios eletrónicos)
• A botânica e a zoologia (e.g. classificação de plantas, animais)
• A biologia (e.g., descrição da estrutura e função dos sistemas e órgãos;
descrição dos estágios do desenvolvimento embrionário).

A investigação quantitativa era considerada a boa ciência, devido à possibilidade


de generalizar, mas mais tarde percebeu-se que a investigação qualitativa pode vir
colmatar lacunas.

Todas as ciências usaram narrativas e dados qualitativos, ainda assim dando-se a


evolução do conhecimento.

Jean Piaget – estádios do desenvolvimento humano

Kohlberg – tipos de raciocínio moral no desenvolvimento humano.

Quantitativo e quantitativo
Foi atribuída uma categoria: é um cachecol – domínio do qualitativo

Parece ser de lã e tem várias cores (padrão xadrez) – para chegar a este
padrão teve de ser estipulada uma quantidade para cada cor

A qualidade que é o cachecol e o padrão veio de uma relação entre


quantidades

76
Quando separamos completamente o qualitativo e o quantitativo, isto não é muito
correto: 1 (número) remete para a unidade (categoria)

Qualitativo Quantitativo

Qualidade = propriedades Quantidade = conjunto de


que emergem da coisas que se contam; parte
configuração de elementos de um todo
num todo

Dados
Análise Qualitativos Quantitativos
Procura e apresentação de
Interpretação de textos
significados em resultados
(procura de temas e
Qualitativa processados quantitativamente
significados) (e.g. análise
(e.g., categorização de resultados
temática, grounded theory)
de uma análise fatorial)

Quantificação de fontes que


Análise matemática e estatística
Quantitativa referem um determinado
de dados numéricos
tema/significação/experiência

A investigação Qualitativa – Características Nodais


A investigação qualitativa permite e pretende ver o mundo a partir da perspetiva
contextualizada dos envolvidos num determinado fenómeno (sempre que estou a
falar com alguém, essa pessoa tem a sua experiência num determinado contexto),
dar-lhe “voz”; pretende “des-cobrir” (tirar o véu) e compreender vivências, processos
e significações, a partir dos próprios participantes do estudo, ou seja, o modo como
interpretam as suas experiências e como constroem a sua realidade (não estamos à
procura da realidade, mas do mundo tornado real, da realidade para cada pessoa).

Social construcionist stand, we aim to indagate the couples’ own ideas and theories
regarding the construct of couple intimacy and what they perceive as damaging
(and as enhancing) to their intimacy – to attain a representation of their own voices
in the matter and an illustration their lived realities.

Using a qualitative methodology, this study provides depth of

77
O propósito e o foco
This study adopted the
Qualitativo
phenomenological approach in
Compreender, descrever e analisar com qualitative research to explore the work
detalhe e em profundidade, significações stress experience of nurses related to
vivências e processos em contexto regular epidemic prevention and control.

Foco nas “vozes” dos participantes.

We intend to examine how exposure to potential


traumatic events related to psychological distress
Quantitativo
in refugees, with a particular focus on factor that
• Compreender relações may protect from negative effects of traumatic
entre variáveis events or mental health problems. To this end, we
• Foco nas variáveis (não examined the broad construct of psychological
nas pessoas) resilience as well as the specific resilience
enhancing factors social support and support by
religious faith in both refugees and residents.

Qualitativo Grounded theory seeks to construct


Processo sobretudo indutivo theory through an inductive process of
data collection, in which new information
Parte-se dos dados, a informação recolhida, is created from the data instead of testing
dos dados que obtenho, para a teoria. theory-derived hypothesis.

Quantitativo
The hypothesized model depicted in
• Processo dedutivo
Figure 1…
Nos estudos quantitativos partimos de
This study aimed to examine the model…
hipóteses, de um modelo, que depois
confirmo ou não. Parte do geral para o Base on literature (…) we hypothesized
particular. that…

Qualitativo The systemic model of intimacy (emerged


Emergir e hipóteses e teorias from data analysis)

Processo inverso entre qualitativos e quantitativos

Foi a partir de todos os dados que chegou ao modelo triangular

Quantitativo

• Testar hipóteses e teorias This study aimed to examine the model ...

We hypothesized that…

78
Qualitativo Data were collected trough in-depth semi-
Investigador: instrumento central structured interview (…) lasted on average 90 min.

Na investigação qualitativa o To minimize the chances of participants


investigador é central: toma decisões, concealing pertinent information (…) and to
constrói o guião/grelha de improve our chances of gathering information (…)
observação, é ele que coloca as all the interviews were conducted individually.
questões, é ele que está com os entrevistados.
Current data were part of a longitudinal
Investigador como o único codificador online survey study that aims to examine
Quantitativo determinants of mental health…

• Investigador independente do fenómeno em estudo

Nos quantitativos usa-se instrumentos já feitos.


At the beginning, purposeful sampling involved the
search for sources of data which were relevance
Qualitativo to the research aims. This was followed by
theoretical sampling, namely involving the
Indefinição prévia sobre amostras researcher making decisions about sampling
A meio do estudo posso perceber throughout the research process. Therefore, the
researcher made strategic decisions regarding
também que o instrumento não era
who would be most likely to yield the richest and
adequado e mudar.
most pertinent information to develop the
Não há nem deve haver uma definição emerging theory and chose subsequent
rígida. É o processo de análise que me diz participants based upon the theoretical analysis,
rather than on quantitative concerns such as quote
que a recolha terminou.
sampling or empirical distributions.
Quantitativo
The process of collecting data was halted when
• Definição prévia da amostra e the concomitant qualitative analysis evidenced
that the collection of new data no longer
instrumentos
contributed to further advances in emerging
theory, meaning their theoretical saturation or
sufficiency was reached.

Qualitativo In line with GTM procedures, data analysis


and data collection were developed
Recolha e análise simultânea; comparação
concomitantly. The analysis required a
permanente
continuous comparison process of
Torna todo o processo mais demorado segments of data and interpretations.

Analysis of interview transcripts began with (…) close examination of fragments of data.
We then used focused coding to explore similarities and differences (…). Finally we
examined how these categories is related to each other. The steps followed in the data
analysis were not strictly sequential. Instead, we moved forward and backward constantly,
reexamining data codes and categories. Data collection and coding were concluded
when all codes and relationships were substantiated by the data and no new insights
emerged, therefore, achieving data saturation. Throughout the analysis, it was necessary
to return to the data for constant comparison.

79
Quantitativo

• Análise após a recolha

Qualitativo Adaptive grief/ coping, and mutual


support: “Fortunately, since my daughter
Questionar os dados (na análise) para chegar a
died, there is always one of us who is a little
resultados; questionar resultados para chegar a
bit better and can pull the other up.”
hipóteses e explicativas.

Tem de haver sempre um diálogo com os dados, para saber onde os vou arrumar

Dados não numéricos.

Quantitativo

• Resultados numéricos
• Questionar os resultados, face
às hipóteses que tinha

Qualitativo Because of the sensitive nature of the


theme, careful attention was given to
Interações geram, alteram e mantêm significados
strategies for minimizing parents’ distress

Descriptive statistics were used to capture demographic details.


Quantitativo Chi-square and t-tests were used to compare the differences
• Controlo de variáveis between PTSD and no-PTSD groups in terms of trauma
characteristics, trauma centrality, self-efficacy, emotional
suppression, and psychiatric co-morbidity.

Qualitativo

Resultados não generalizados The main purpose was to sample for


ideas to enable conceptual and
Não são generalizáveis porque não estão theoretical development rather
preocupados com uma amostragem de pessoas, than sampling people to represent
mas uma amostragem de ideias a population or generalize results

Quantitativo

• Generalização

80
Qualitativo In light of the influence of the researcher's subjectivity, reflexivity
(the ongoing self-scrutiny about the influence of the researcher's
Subjetividade + Reflexividade
assumptions, thoughts, decisions and interpretations related to
the research process) was followed mainly through memoing
(written records of the researcher's thoughts, decisions and
interpretations) (Birks and Millls, 2011; Charmaz, 2006; Daly, 2007;
Levitt et al., 2017). The team met regularly to discuss the analysis
Quantitativo process. Additionally, the main researcher discussed the
• Objetividade preliminary results of the analysis process with groups of
psychology researchers and students, and also with groups of
psychosocial professionals working with economically and
The difference of TGIC scores socially disadvantaged families. (…)
between the experimental
group and the control group The analysis was carried out by the first author, albeit in constant
in pre-test and post-test was dialogue with the second and third authors, who were all experts
significant (p = .001). in qualitative methodologies.

Qualitativo

Descrição detalhada da investigação

Qual o processo de raciocínio, quais as decisões do investigador, o que é que


caracteriza uma categoria.

Quantitativo

• Descrição objetiva e sucinta

A Investigação Qualitativa – O Processo

Tema/
problema
Disseminação/ Quadro teórico/
Conclusões/ Revisão de
Implicações Literatura

Estratégias de Questão
Validação inicial

Metodologia/
Análise de Desenho de
Dados investigação

Recolha de Ensaio/ Estudo


dados piloto 81
Prática 8 Os objetivos têm de ter
sempre um verbo no
A Investigação Qualitativa – O Desenho
infinitivo: compreender,
“Se não sabe para onde vai, nunca saberá se já chegou”
analisar, perceber…
• A questão inicial – Onde vou?
• O mapa conceptual – levo um mapa para me orientar
• Os objetivos – O que pretendo com esta viagem?
• As hipóteses e/ou questões de investigação – o que quero exatamente
conhecer/saber sobre cada sítio

(hipóteses e questão para quantitativos, e apenas questão para qualitativos)

Questão inicial – ponto de partida


Onde vou?

Fio condutor provisório que permite estruturar e dar coerência à investigação.

Pergunta de partida que exprime, de uma forma muito genérica, o que o


investigador pretende saber, elucidar, compreender.

• Clareza: precisão e clareza no modo de formular a pergunta;


• Exequibilidade: realismo relativamente ao trabalho que a pergunta implica
(tempo, dinheiro, recursos logísticos, disponibilidade da amostra – crianças
adotadas e populações clínicas não são as populações mais acessíveis)
• Pertinência: intenção de aumentar o conhecimento dos fenómenos
estudados

Questão inicial (ou de partida) – abrangente e genérica, que já dá alguma


informação ao leitor, mas não entra em detalhes

Questões de investigação – subperguntas que exigem mais detalhe

Questão inicial: Como é que mães em contexto de desvantagem económica e


social conceptualizam e experienciam a parentalidade?

Objetivos
“O que pretendo com esta viagem?”

1. Compreender as vivências sobre parentalidade de mães em contexto de


desvantagem económica e social.
2. Analisar indicadores de reflexividade parental em mães em contexto de
desvantagem económica e social

82
Nota: Os objetivos começam SEMPRE com um verbo no infinitivo: compreender,
relacionar, identificar…

Mapa conceptual
“Levo um mapa para me orientar”

Mapas Conceptuais: explicitação gráfica dos construtos ou variáveis chave e suas


relações

Nível de Conceptualização

• Significações de “boa mãe”


• Crenças associadas à
parentalidade Nível de Experiência Analisada

• Indicadores de reflexividade
parental (e.g., processo
Nível de Experiência Vivida atribucional, sentido de auto-
eficácia, sentido auto-crítico,
• Auto-caracterização parental
necessidades de mudança)
• Caracterização dos filhos
• Práticas parentais
• Fontes de apoio
• Gratificações, dificuldades e desafios
• Satisfação parental

Questão de investigação
“O que quero exatamente conhecer/saber sobre cada sítio?”

Orientam o investigador na exploração e análise dos Descritivas – questões sobre a


dados. caracterização da realidade que
se pretende estudar e, sobretudo
Equivalentes a hipóteses – centradas na confirmação nas suas significações (na
de conceções já existentes. perspetiva dos participantes).
Questões generativas – centradas na descoberta de Explanatórias – centradas na
explicações (conduzem a hipóteses). compreensão e explicação de
Exploratórias – formuladas sobre áreas que são pouco processos relativos ao fenómeno
conhecidas. em estudo e das relações entre
as diferentes variáveis.
(não são mutuamente exclusivas)

Se puder colocar a pergunta diretamente à pessoa então algo não está muito bem.

Questões de investigação:

• Como conceptualizam as mães a “boa mãe”?

83
• Que narrativas descritivas e explicativas emergem sobre a experiência de
parentalidade em diferentes dimensões (e.g., características, atitudes e
comportamentos enquanto mães; características, atitudes e comportamentos
dos filhos
• Que processos de reflexividade parental se identificam?

Exercício
Quais as políticas e práticas de intervenção com crianças e jovens que vivem nas
ruas e como é e deveria ser avaliada a sua eficácia na perspetiva de técnicos das
ciências sociais?

Que fragilidades, forças, dificuldades e necessidades de crianças e jovens que vivem


na rua em diferentes culturas?

Quais as atribuições de assistentes sociais e trabalhadores das instituições acerca das


crianças que vivem nas ruas?

Objetivo:

• Compreender se assistentes sociais e trabalhadores de instituições atribuem a


situação da criança a fatores internos e disposicionais ou a fatores externos e
situacionais.
• Compreender se estas atribuições variam com a idade e o género das
crianças

Assistentes sociais fazem mais atribuições disposicionais com crianças mais velhas do
que mais novas?

Assistentes sociais fazem mais atribuições situacionais com crianças do género


feminino?

Qual (is) o(s) tipo(s) de temperamento predominante(s) nas crianças que vivem na
rua?

Objetivo:

• Analisar se as crianças que vivem na rua tendem a apresentar temperamentos


considerados mais difíceis.
• Analisar a distribuição destes temperamentos em relação à zona geográfica
onde vivem
• Analisar a distribuição destes temperamentos em relação ao género.

As crianças que vivem na rua tendem a apresentar temperamentos mais difíceis do


que crianças que não estejam nessa situação?

Os temperamentos das crianças são mais difíceis quando estas crianças vivem na rua
em bairros problemáticos?

Os rapazes têm temperamentos mais difíceis?

84
Teórica 9

Métodos de Recolha de Dados

Entrevistas
individuais ou Focus Group
diádicas

Observação Documentos

Observação
Observação (direta ou indireta) é um método sistemático de ver e escutar um
fenómeno ou uma interação em função de determinados objetivos de investigação.

As observações podem ser feitas em 2 condições:

• Natural – observação num contexto natural, espontâneo, não criado


artificialmente, e o observador não interfere no que está a ser observado;
• Controlada – introduzir um estímulo para provocar uma reação e observar a
reação

A observação pode ser participante ou não participante:

• Observação participante – quando o observador participa nas atividades que


estão a ser observadas.
• Observação não-participante – observador passivo que observa e escuta, não
participando no que está a ser observado.

A observação pode ser estruturada (definição rigorosa das unidades a ser


observadas, da forma de registar a observação, das condições de observação, etc.)
ou não estruturada (Observação livre, sem muitas definições prévias).

Tipo de registo
• Recolha narrativa e descritiva – o investigador faz a descrição da interação
pelas suas próprias palavras. O observador toma notas enquanto observa e
depois escreve um relato sob a forma de narrativa. É possível ir escrevendo
também interpretações e retirar conclusões.
• Recolha em escala (e.g. Rating Scale com escala de Likert) – mais focado em
classificar; perde-se informação detalhada - mais limitativa em termos de
detalhes.
• Recolha em categorias – observação é classificada em categorias (e.g.
introvertido-extrovertido; afetuoso-hostil; ativo-passivo); perde-se informação

85
detalhada - pode ser menos limitativo que em escala, mas é mais que a
narrativa.

Observação – O que observar


1. O ambiente físico (e.g., o contexto; a localização; os objetos; recursos e
tecnologia; as divisões)
a. Em termos de itens podemos ter um item: o ambiente era confortável.
Mas não podíamos ter um item: as crianças e os idosos acharam o
ambiente confortável.
2. Os participantes (e.g., quem está em cena; quantas pessoas; os seus papéis,
quem não pode entrar; quem deveria estar e não está; como se organizam;
padrões de frequência das interações; como se organizam; padrões de
direção da comunicação; mudanças nos padrões)
3. Atividades e interações (e.g., o que acontece; a sequência de atividades; a
ligação entre pessoas e atividades; que regras estrutura, as atividades e
interações; quando começam as atividades e a sua duração; atividade típica
ou não habitual).
4. Comunicação quer verbal quer não verbal (e.g., conteúdos das conversas;
quem fala com/para quem – de forma espontânea ou não; quem escuta;
comportamento não-verbal, ex: educadoras sentadas no chão, sem bata vs.
educadoras em pé, com bata; silêncio)
5. Fatores subtis (e.g., atividades informais e não planeadas; conotações das
palavras utilizadas; coerência entre verbal e não-verbal; indicadores não-
verbais como tipo de roupa ou maquilhagem; o que não acontece e devria
acontecer)
6. Comportamento do próprio investigador (e.g., o papel como o observador ou
como participante, afeta a cena observada?; os pensamentos do observador,
ou seja as suas anotações à medida que observa)

Focus group
Método qualitativo de recolha de dados a partir de interação grupal, numa temática
determinada pelo investigador.

• Foco na interação no grupo de discussão como forma de acesso aos dados


• Papel ativo do investigador no desenvolvimento da discussão do grupo.

Objetivos
• Compreender perceções, opiniões, crenças, atitudes, sentimentos e
experiências dos indivíduos, através dos seus múltiplos pontos de vista.
• Descrever e explicar processos e resultados numa situação particular.

Utilidade
Em estudos exploratórios de investigação:

• Identificar explicações para relações entre variáveis;

86
• Aceder a interpretações sobre determinados fenómenos ou situações;
• Explicar resultados ou efeitos inesperados encontrados anteriormente

Identificar interpretações alternativas para resultados já encontrados e que não são


acessíveis através de metodologias quantitativas.

Desenvolver hipóteses de trabalho a serem testadas com outros estudos quantitativos


ou questões a serem exploradas noutros qualitativos.

Identificar aspetos-chave para programas de intervenção e prevenção.

Identificar categorias e construtos importantes que devem ser considerados na


construção de instrumentos de medida.

Identificar dificuldades, cuidados a ter em conta, críticas e respostas alternativas


necessárias quando se constrói um projeto de investigação/intervenção

Organização do Focus Group


• Número de Focus Group: até se atingir a saturação teórica (3 a 5 é
considerado o necessário se a amostra não for excessivamente heterogénea
e/ou o tema excessivamente lado
• Duração: 1.30 a 2 horas (com populações jovens, duração mais curta)
• Número de participantes por grupo: 6 a 10, para não prejudicar a discussão;
grupos um pouco maiores previnem as situações de absentismo de
participantes.
• Setting: confortável, aconchegante, que responda às necessidades básicas
dos participantes.
• Equipamento: todo o equipamento necessário deve ser providenciado e
testado antecipadamente
• Gravações devem contar com a autorização prévia dos participantes.

Tipos de grupos
• Grupos naturais – existem previamente no dia-a-dia
• Grupos artificiais – participantes reunidos para fins da investigação

• Grupos Homogéneos – os seus elementos são semelhantes nas dimensões


essenciais para a problemática da investigação
• Grupos Heterogéneos – diferenças nas dimensões essenciais para a
problemática

Visões demasiado díspares Diferentes perspetivas


podem prejudicar o favorecem a dinâmica do
debate debate

87
Seleção dos participantes
Amostragem teórica – estratégia mais ajustada à metodologia

Critério de relevância dos casos

• Grau em que são esperadas novas ideias sobre o tema


• Importância das experiências idiossincráticas que permitem recolher
informação com grande riqueza e especificidade

Critério dos “bons informantes”

• Conhecimentos e experiência necessários sobre o assunto


• Capacidade de reflexão
• Disposição e tempo para participar no estudo

As questões
• Devem ser diretas, simples, breves e claras
• Inicialmente mais gerais e, gradualmente, mais específicas
• Focadas apenas num assunto
• Abertas ou semi-abertas
• Evitar “porquê” – risco de respostas racionalizadas e socialmente desejáveis

Exemplo de Focus Group - 1


Professores e Alunos Universitários: Mágicos sem magia ou Mágicos com Magia?
Como desenvolver a Magia?

As etapas
Abertura: Perguntas de apresentação; imagens; excerto de filme; frases
provocatórias. Imagens/Frases que pretendem gerar interrogações sobre a temática
em estudo

Poderíamos pensar que os alunos são mágicos.

Poderíamos pensar que os professores são mágicos.

E, contudo, assistimos muitas vezes a aulas esvaziadas de magia!

Mesmo quando os alunos se esforçam por ser mágicos.

Mesmo quando os professores se esforçam por ser mágicos.

Porquê?

Magia implica, talvez, acreditar no mágico. Haverá magia se a audiência não


aceitar que o mágico é mágico?

O que acontece às aulas, quando os professores já não acreditam em alunos-


mágicos?

Quando os alunos já não acreditam em professores-mágicos?

88
Introdução: Questão que Introduz o tema

Gostaríamos de ouvir os vossos comentários às imagens que viram e/ou ao texto ali
exposto

Transição: Direcionam a discussão para os temas relevantes

Como se explica que os professores se tornem mágicos sem magia?

Como se explica que os alunos se tornem mágicos sem magia?

Como se sentem uns e outros em aulas sem magia?

(…)

Perguntas chave: Centrais para os objetivos

O que seria necessário, concretamente, para reforçar a magia de alunos e


professores?

(…)

Follow-up: Procuram informação adicional

Há algum aspeto do que tem sido falado que queiram comentar, realçar,
acrescentar, ilustrar com memórias que tenham (sem identificar as pessoas
envolvidas)?

(…)

Conclusão: Suscitam reflexão final

Pedíamos, agora, a cada um, antes de terminarmos, que dissesse umas palavras de
reflexão final sobre o que foi aqui discutido.

Muito obrigada pela vossa colaboração…

Exemplo de Focus Group - 2


Ansiedade nos estudantes universitários

As etapas
Abertura: Perguntas de apresentação; imagens; excerto de filme; frases
provocatórias. Imagens/Frases que pretendem gerar interrogações sobre a temática
em estudo

Introdução: Introduzem o tema

Gostaríamos de ouvir os vossos comentários às imagens que viram.

Transição: Direcionam a discussão para os temas relevantes

Se fizessem um filme de animação para explicar a ansiedade, como seria a


personagem “Ansiedade”? (…)

Perguntas chave: Centrais para os objetivos


89
Como explicam os elevados índices de ansiedade nos jovens universitários?

A ansiedade “transforma” a pessoa? Como se vê a ansiedade num jovem


universitário?

Como se domina a ansiedade?

(…)

Follow-up: Procuram informação adicional

Há algum aspeto do que tem sido falado que queiram comentar, realçar,
acrescentar, ilustrar com memórias que tenham (sem identificar as pessoas
envolvidas)?

(…)

Conclusão: Suscitam reflexão final sobre o que foi discutido

Pedíamos, agora, a cada um, antes de terminarmos, que dissesse umas palavras de
reflexão final sobre o que foi aqui discutido.

Muito obrigada pela vossa colaboração…

Exemplo de Focus Group - 3


Desigualdade de Género

Eles contra Elas????

Eles sem Elas????

Eles e Elas????

Eles com Elas????

Introdução: Introduzem o tema

Queria começar por vos pedir alguns comentários sobre as imagens e as


interrogações que acabámos de ver - por exemplo, o que foram pensando, o que
vos chamou mais à atenção nas imagens, o que responderiam àquelas
interrogações…

Transição: Direcionam a discussão para os temas relevantes

Como se vê a desigualdade de género? Se fizessem uma lista de sinais (e.g.,


comportamentos, atitudes, rituais, crenças) de desigualdade de género, o que
colocariam nessa lista?

Perguntas chave: Centrais para os objetivos

Que fatores contribuem para a manutenção da desigualdade de género?

Quais as principais consequências da desigualdade de género?

90
Como “alimentar” a igualdade de género? A Universidade pode ter um papel
específico relevante?

Follow-up: Procuram informação adicional

Há algum aspeto do que tem sido falado que queiram comentar, realçar,
acrescentar, ilustrar com situações que conheçam (sem identificar as pessoas
envolvidas)?

Conclusão: Suscitam reflexão final sobre o que foi discutido

Pedíamos, agora, a cada um, antes de terminarmos, que dissesse umas palavras de
reflexão final sobre o que foi aqui discutido.

Muito obrigada pela vossa colaboração…

Vantagens
• Muita informação, proveniente de vários participantes, num espaço curto de
tempo.
• Sinergia – interação grupal desencadeia diversidade de dados
• Efeito “bola de neve” – afirmações de um participante estimulam comentários
dos outros
• Segurança – grupo como suporte, o que encoraja as respostas dos seus
elementos
• Espontaneidade – não havendo obrigatoriedade na resposta a todas as
questões, quando os participantes o fazem, estas tendem a ser espontâneas
e genuínas.
• Sentimento de anonimato – inserção num grupo transmite um sentimento de
anonimato
o Facilita a partilha de opiniões
o Diminui o efeito de desiderabilidade social
• Reflexividade – permite reflexão mais profunda sobre determinados temas,
sobre as suas opiniões e sobre pontos de vista diferentes

Limites
• Nº limitado de questões
• Limitações inerentes ao impacto do próprio grupo na emergência de dados
• Dificuldades na análise dos dados devido a diferenças na dinâmica dos
grupos
• Limites relativos ao desempenho do moderador

Características do Moderador
• Flexível, objetivo, empático, persuasivo e bom ouvinte
• Uso de estratégias de comunicação (perguntas, reformulações, exemplos
síntese)
• Ativo na construção de um clima de partilha e discussão de ideias
91
• Permite a expressão individual, mas orienta a discussão, centrada nos objetivos
(alterna entre diretividade e não-diretividade)
• Controla as suas ideias pré-concebidas
• Controla as dinâmicas de grupo, de forma a não ter participantes que
dominam a discussão ou, pelo contrário, demasiado passivos
• Incentiva participantes mais passivos a envolverem-se e a exprimir pontos de
vista
• Mantém uma postura de igualdade para com os participantes sem atitude de
“especialista”
• Uso do “nós” em vez de “eu e vocês”.

Entrevista
Conversa com um propósito; conversa com agenda.

Objetivo: obter um tipo especial de informação; “des-cobrir” o que não pode ser
observado (e.g. sentimentos, perceções, intenções, comportamentos passados); ver
a perspetiva do outro.

“Uma entrevista não é um interrogatório”

“Utilizar a linguagem do outro”

Questões éticas
1. Informação prévia aos participantes: contextualização, objetivos e
procedimento; autorização de gravação; confidencialidade; natureza
voluntária; recusa ou desistência; pagamento ou natureza gratuita; logística
(e.g., duração, local, nº de entrevistas); acesso à própria entrevista e a
resultados globais; encaminhamento de suporte.
2. Consentimento informado
3. Sensitividade ao “grau de incómodo” das questões.
4. Respeitar o “ritmo” dos participantes
5. Manter neutralidade

Entrevista estruturada Entrevista semi-estruturada Entrevista não-estruturada

• Questões pré- • O guião inclui questões • Flexível e exploratória


determinadas. mais ou menos flexíveis, (semelhante a uma
• Ordem das i.e., questões de partida conversa).
questões pré- que permitem explorar, • Utilizado quando se
determinada com todos os sabe muito pouco
• Equivalente oral do participantes, a sobre o fenómeno em
inquérito escrito. informação desejada, estudo.
mas seguir também os
inputs de cada
entrevistado.

92
Boas questões – aquelas que permitem aceder a descrições, histórias, incidentes,
explicações, interpretações…

“Conte-me um pouco sobre…”

“Dê-me um exemplo de…”

“Diga-me mais sobre…”

“Explique-me como…”

“Como foi isso para si quando…”

Questões a evitar

• Questões múltiplas: “Gostaria que me falasse sobre a proximidade emocional


que sente em relação à sua mãe, ao seu pai, aos seus irmãos e aos seus
amigos?”
• Questões indutoras: “Que dificuldades sente desde que mudou de emprego?”
o Assume que sentiu dificuldades
• Questões Sim-Não: “Gosta do que está atualmente a fazer?”

Tipologia de Questões
1. Questões sobre a experiência e o comportamento (“Conte-me um dia típico
seu no trabalho”; “O que costuma fazer quando chega à escola?”)
2. Questões sobre opiniões e valores (“Que valores deveriam ser prioritários na
educação de uma criança?”; “Na sua opinião, o que deveria ser feito para
solucionar esse problema?”)
3. Questões sobre sentimentos (“Como se sente quando reconhecem o seu
valor?”)
4. Questões sobre conhecimentos (“O que sabe sobre as vantagens e
desvantagens desse método educativo?”)
5. Questões sensoriais (“O que ouviu exatamente que tanto a impressionou?”;
“Que cheiros lhe despertaram essas memórias?”)
6. Questões demográficas (“Tinha que idade, nessa altura?”; Mora em que
zona?”)
7. Questões hipotéticas (“Imagine que esta noite acontecia um milagre no seu
local de trabalho e amanhã, quando chegasse à escola, percebia que tinha
havido um milagre. O que estaria diferente para saber que tinha havido um
milagre?)
8. Questões de “advogado do diabo” (“Já me disse que não aprecia a forma de
liderar do seu chefe de equipa. No entanto, suponha que entrava na equipa
um novo estagiário e que, por alguma razão, tinha de lhe falar sobre as
qualidades positivas da liderança do seu chefe de equipa. O que lhe diria?”)
9. Questões sobre o “ideal” (“Como acham que deveria ser um casal ideal?”)
10. Questões interpretativas (“Como explica o que lhe aconteceu?”; “O que o
leva a dizer que a experiência que está a ter é diferente do que esperava?”)

93
O guião
Blocos temáticos Objetivos Questões guia

Exemplos
Blocos temáticos Objetivos Questões guia
I – Mudanças Identificar e Todas as pessoas gostariam que a sua relação
desejadas compreender conjugal fosse diferente nalgumas coisas.* Se
mudanças tivesse uma varinha mágica, o que é que
desejadas na mudava no seu casamento?
relação
conjugal
II – Perceção de Compreender Imagine que o apoio que o(a) seu (sua)
apoio conjugal a perceção e companheiro(a) lhe dá é uma régua de 20
experiência de cm como esta que está em cima da mesa.
apoio conjugal Qual o tamanho (em centímetros) do apoio
que recebe dele(dela) quando se sente
preocupado(a) ou em stress com alguma
coisa? Dê exemplos do modo como o seu
o(a) seu(sua) companheiro(a) a(o) apoia.

Coloco-lhe, agora, a mesma questão, mas


em relação ao apoio que dá ao(à) seu(sua)
companheiro(a)
* esta frase está aqui para normalizar. Caso não estivesse, estamos só a assumir que
a pessoa quer mudar algo, podendo levar a um pico de defensividade do
participante

Blocos temáticos Objetivos Questões guia


Contextualização • Explicitar o “A boa mãe”
da entrevista enquadramento e
a finalidade da
investigação
• Garantir o
anonimato e a
confidencialidade
dos dados
• Explicar os
procedimentos na
entrevista
II – Significações • Aceder a “O que significa para si «ser uma boa
de parentalidade significações de mãe/um bom pai»?”
“boa mãe/pai” “Quem é e como é a melhor mãe
• Explorar diferenças que conhece?”
nas significações “Ser uma boa mãe é diferente de ser
de “pai e de “mãe” um bom pai?”
• Compreender “O que mudou na sua vida depois de
impactos da ser mãe/pai?”

94
parentalidade na
vida
pessoal/familiar
II - Perceções Compreender, através “Gostaria que me falasse um pouco
sobre os Filhos de narrativas dos pais sobre os seus filhos, como são, as suas
sobre características, características…”
competências e
dificuldades dos filhos “O que mais aprecia em cada um
em diferentes níveis dos seus filhos? Porquê? O que é que
(individual – físico e as outras pessoas mais gostam nos
psicológico; relacional- seus filhos? Como explica que eles
familiar, relacional- tenham essas características?
social): Sempre foram «assim»? Acha que vão
• Representações continuar a ser «assim»? Como
positivas vs. imagina os seus filhos na
negativas sobre os adolescência? (daqui a 10 anos, se os
filhos; filhos já forem adolescentes)”
• Expectativas
relativamente ao “Se tivesse uma varinha mágica, o
comportamento e que mudaria nos seus filhos? Porquê?
desenvolvimento Como explica que eles tenham essas
dos filhos; características? Sempre foram assim?
• Processos Acha que vão continuar a ser
atribucionais face «assim»?”
às características,
comportamentos, “À medida que os seus filhos (cada
competências e um) vão crescendo, o que tem
dificuldades dos mudado neles? Como explica as
filhos mudanças? Ou “O que aconteceu
para mudarem? ”

“Gostaria que me contasse uma


situação durante este último mês em
que tivesse ficado muito contente
com os seus filhos (cada um)”
(explorar situação, contexto,
justificação do contentamento…).
Como explica esse comportamento
do seu filho?”

“Gostaria que me contasse uma


situação durante este último mês em
que não tivesse ficado nada
contente com os seus filhos (cada
um)” (explorar situação, contexto,
justificação do descontentamento…)
Como explica esse comportamento
do seu filho?”

95
III - Perceções Compreender, através “Gostaria que me falasse um pouco
sobre a Vivência de narrativas sobre a sobre si como mãe/pai”
da Parentalidade parentalidade: (características principais enquanto
• Forças e pai/mãe; principais gratificações e
fragilidades da sua frustrações enquanto pai/mãe; como
parentalidade; ultrapassa as frustrações; o que e
• Perceções quem o(a) ajuda a ultrapassar as
positivas vs. frustrações; perceção de eficácia vs.
negativas sobre a ineficácia parental, como explica a
sua sua eficácia/ineficácia?…)”
parentalidade;
• Autoperceção de “Se existisse um Bilhete de Identidade
eficácia parental de si como mãe/pai, quais as três
características que colocaria para se
Identificar fontes de definir?”
suporte parental
“Se desse um prémio a quem mais a
Analisar expectativas ajuda a ser mãe, a quem daria o
sobre parentalidade prémio? Porquê?”

“Se eu pedisse a cada um dos seus


filhos para escreverem/falarem sobre
si, o que acha que diriam?”

“Imagine que, um dia, os seus filhos


diriam: «Aprendi com a minha mãe/o
meu pai que….». Complete a frase
dos seus filhos”

“Se um pai ou mãe lhe pudesse pedir


emprestadas algumas das suas
melhores qualidades como mãe/pai,
que qualidades emprestava?
Porquê? (Como explica que tenha
essas qualidades?)”

“E o contrário… se pudesse pedir


emprestadas a algum(a) pai/mãe
algumas qualidades que acha que
lhe fazem falta para ser um(a) melhor
pai/mãe, que qualidades pediria?
Porquê?” (Como explica que não
tenha essas qualidades?)

“E o seu marido? Quais seriam as


características que poderia
emprestar e as que teria de pedir
emprestadas?”
IV - Avaliação de Compreender a “Gostaria que completasse as frases
Satisfação e satisfação parental que lhe vou dizer, escolhendo, para

96
Expectativas (a relativamente: ao cada frase, apenas uma das cinco
partir das comportamento do possibilidades nesta régua”
respostas dadas filho; à relação com o (apresentar as imagens e
ao Questionário filho; ao desempenho designações em régua)
de Satisfação e de papéis parentais. 1 – Muito Insatisfeito(a)*
Expectativas 2 – Insatisfeito(a)
Parentais 3 – Nem Insatisfeito(a) nem
(Narciso & Santos, Satisfeito(a)
validação em 4 – Satisfeito(a)
curso) 5 – Muito Satisfeito(a)

*régua com escala de Relativamente à relação com cada


Likert com imagens um dos(das) seus (suas) filhos(as),
para ser mais fácil de sente-se…
entender pela PORQUÊ?
população. A seguir
perguntava-se porquê. Relativamente ao desempenho do
Exemplo de como usar seu papel de pai(mãe), sente-se…
um instrumento PORQUÊ?
quantitativo para um Relativamente ao comportamento
objetivo qualitativo. de cada um dos(das) seus(suas)
filhos(as), sente-se…
PORQUÊ? (o que fez com que os seus
filhos tenham um comportamento
tão satisfatório/insatisfatório?)

(Pedir respostas diferenciadas para


cada um dos filhos)

“Gostaria que completasse as frases


que lhe vou dizer, escolhendo, para
cada frase, apenas uma das cinco
possibilidades.” (apresentar as
imagens e designações em régua)
1 – Muito Pior do que Esperava
2 – Pior do que Esperava
3 – Nem Pior nem Melhor do que
Esperava
4 – Melhor do que Esperava
Analisar o confronto de 5 – Muito Melhor do que Esperava
expectativas sobre
parentalidade com a
parentalidade real no A relação que tem com cada um
que se refere: ao dos(das) seus(suas) filhos(as) é…
comportamento do PORQUÊ? Acha que vai ser sempre
filho; à relação com o assim ou prevê mudanças? Porquê?
filho; ao desempenho
de papéis parentais

97
O desempenho do seu papel como
pai(mãe) é…
PORQUÊ? Acha que vai ser sempre
assim ou prevê mudanças? Porquê?

O comportamento de cada um
dos(das) seus (suas) filhos(as) é…
PORQUÊ? Acha que vai ser sempre
assim ou prevê mudanças? Porquê?

(Pedir respostas diferenciadas para


cada um dos filhos)

Teórica 10

Metodologias Qualitativas – Análise de dados e codificação


Análise de dados qualitativos

Teórica 1 Prática 1
• Análise temática e Grounded theory • Exercício de análise de
• Codificação dados (codificação)

Teórica 2 Prática 2
• Como fazer análise qualitativa no Nvivo • Exercício de avaliação
• Codificar no NVvivo • Codificar no Nvivo

O processo da investigação qualitativa


Aquilo que garante a qualidade dos estudos é a ordem do procedimento

1. Definir o paradigma
a. O paradigma positivista não é adequado à investigação qualitativa
b. Estamos num paradigma pós-positivista que vê a realidade como
múltipla que tem dentro de si outros sub-paradigmas como o
interpretativista, etc.

Quando temos estudos qualitativos não podemos usar métodos quantitativos para os
avaliar

Depois de decidirmos o paradigma podemos decidir o:

2. Design e amostragem Análise temática é compatível com os


3. Estratégia de recolha de dados paradigmas existencialista e construcionista
4. Estratégia de análise de dados
a. Análise temática: muitas vezes é algo superficial, por ser mais curta
b. Análise narrativa

98
c. Grounded theory: forma de analisar um fenómeno de que não
sabemos nada e que nos vai permitir criar uma teoria
d. Análise etnográfia
5. Técnicas de análise
a. Com recurso a software
b. Tipologias de codificação
6. Output e disseminação
a. São distintos do processo quantitativo, tanto no processo de escrita
como na integração dos resultados

Paradigmas e
epistemologia

Escrita de outputs e
Questões de partida e
qualidade/deontologi
investigação
a

Como é vivenciado o processo


de adaptação à pandemia por
jovens adultos portugueses?

Análise de dados Guião de entrevista

Recolha de dados

A forma como as pessoas contam a sua história e a sua perspetiva torna-se na sua
narrativa quotidiana, na sua realidade, que o investigador, através de metodologias
rigorosas, interpreta (construtivismo social).
99
A análise temática pode ser um método realista, reportando experiências,
significados e a realidade dos participantes, ou construcionista, em que examina as
formas em que eventos, realidades, significados, experiências e outros, são o efeito
de uma gama de discursos que operam dentro da sociedade.

Pode ser então um método que reflete a realidade e que tenta desvendar a
realidade.

A análise qualitativa é um dos processos de estudo dos dados

Sintetizaçaõ de
Separação entre Comparação
Agrupamento em ideias e
unidade de contínua entre
categorias significados novos
significado categorias
e relevantes

Tipos de Análise de Dados


Análise Temática: através da identificação, análise e Tema: captura algo
descrição de padrões ou temas dentro dos dados, importante sobre os dados
permite apresentar e organizar os dados de uma em relação com a pergunta
forma sintética, embora rica (por vezes vai ainda mais de investigação e representa
longe e interpreta vários aspetos do tópico de algum nível de resposta ou
investigação). significado padronizado
dentro do conjunto de dados.
A centralidade de um tema não está
necessariamente dependente de medidas quantitativas – mas em termos de se
captura algo importante para a questão de investigação.

Não existe um modo certo ou errado para determinar a prevalência de um


tema. Parte da flexibilidade da análise temática é o facto de permitir determinados
temas (e a sua prevalência) de várias maneiras. O que é importante é ser consistente
durante a análise.

Uma alternativa à análise temática é fornecer uma descrição mais detalhada


e com mais nuances de um tema, ou grupo de temas, particular dentro do conjunto
de dados. Isto pode relacionar-se com uma questão específica pu com uma área
de interesse dentro dos dados (abordagem semântica), ou a i, tema latente
particular transversal a todos ou à maioria dos dados.

Grounded Theory: Processo que permite criar uma teoria ou hipótese explicativa a
partir da análise se dados acerca de um fenómeno. A definição mais conservadora
(anos 60) diz que uma boa grounded theory resulta num conceito cerne que explica
tudo o resto

100
Análise narrativa: a análise é focada na forma, sequência, conteúdo e processo.
Objetivo é perceber como é que as narrativas vividas espelham e esculpem a
realidade vivida.

Análise de discurso: semelhante à análise narrativa, mas com maior foco na forma
do discurso do que no conteúdo da história.
Vamos ser avaliados sobre este slide ↓

Análise temática
6 fases:

1. Familiarizar (com os dados): Ler, reler, tornar-se íntimo com os dados


2. Codificar: gerar e agregar categorias sucintas que identificam características
dos dados que respondam à questão de investigação
3. Procurar temas: examinar as categorias o identificar padrões de significado
transversais e significativos (temas potenciais)
4. Rever temas: agregar e comparar as categorias - “candidatos a temas”. Dividir,
Fundir, Depurar. Verificar se os temas respondem à questão de investigação
5. Definir e nomear temas: Definir o nome da categoria (acusar todo o texto de
pertencer àquele nome). Análise detalhada de cada tema. Definir o foco e
âmbito/extensão de cada um. Definir a “narrativa interna” de cada tema.
Redefinir títulos
6. Escrever: Entrelaçar a narrativa de análise e os excertos dos dados.
Contextualizar a análise em relação à literatura.

Dizer que os temas “emergiram” ou que foram “descobertos” é um relato passivo


do processo de análise, negando o papel ativo do investigador na identificação dos
padrões/temas, selecionando os de interesse e reportando-os aos leitores. Os temas
não existem nos dados, mas na nossa cabeça, resultando do nosso pensamento
sobre os dados e a criação de ligações à medida que os vamos compreendendo.

Da análise temática à grounded theory


Não há uma linha estrita das diferenças entre a análise temática e a grounded
theory, é mais um espetro.

Os temas podem ser identificados em 2 níveis: um semântico, mas explícito, ou


um latente e interpretativo.

A análise temática geralmente foca-se principalmente num só nível. Com uma


abordagem semântica, os temas são identificados dentro dos significados explícitos
ou de superfície dos dados e o analista não está à procura de nada para lá do que
o participante diz ou o que foi escrito. Idealmente, o processo analítico envolve uma
progressão desde a descrição, onde os dados são simplesmente organizados de
modo a mostrar padrões de conteúdo semântico e sumariados, à interpretação,
onde há uma tentativa de teorizar o significado dos padrões e os seus significados
mais abrangentes e implicações, frequentemente em relação a literatura prévia.

101
A análise temática no nível latente vai para lá do conteúdo semântico dod dados e
começa a identificar ou examinar ideias, assunções, conceptualizações e ideologias
subjacentes que e são teorizadas como moldando ou informando o conteúdo
semântico dos dados.

Se imaginássemos os nossos dados como um pedaço de gelatina, a abordagem


semântica procuraria descrever a superfície, forma e significado da gelatina,
enquanto a abordagem latente procuraria identificar os aspetos que dariam aquela
forma e significado particular.

Análise
Grounded
Temática
theory

Análise intra- Explicações


temas hipotéticas Teoria

Análise inter- Hipóteses


temas explicativas

Descrição Explicação

+ concreto + concetual

Grounded Theory
Há categorias centrais que emergem da codificação e que se relacionam com
outros conceitos para criar hipóteses que ilustram relações entre conceitos e que
explicam os padrões latentes que forma a base da nova teoria emergente.

• A partir dos dados, gerar novas ideias teóricas ou hipóteses, de forma indutiva,
em vez de testar teorias prévias aos dados.
• Ps: indução não é intuição, magia ou instinto, é trabalho!

Análise temática vs. Grounded Theory


• A grounded theory (GT) é uma metodologia específica, um Quadro de
referência teórico sobre como conduzir a recolha e análise de dados de forma
a produzir teoria, com um protocolo definido.
• A análise temática é “apenas” um método de análise
• A análise temática é mais acessível do que a grounded theory
• Ao contrário da grounded theory, a análise temática não tem como objetivo
último o desenvolvimento de uma teoria a partir de conceitos core, mas sim
102
uma descrição interpretativa dos dados, através de temas que os representem
adequadamente.

Na grounded theory:
• A competência é a de abstrair conceitos, deixando para trás os detalhes,
levitando os conceitos acima dos dados e integrá-los numa teoria que explica
os padrões sociais subjacentes ao comportamento (Locke, 2001).

• “O resultado não é o relatório sobre factos, mas a geração de afirmações


prováveis sobre as relações entre conceitos; um conjunto de hipóteses
conceptuais desenvolvidos a partir de dados empíricos” (Glaser, 1998: 3, 22)

• “Através da codificação e comparação, verifica-se que as hipóteses e


conceitos encaixam, funcionam e são relevantes. Não são prova, são teoria”
(Glaser, 1992: 87).

Categorização e Codificação
Categoria
1. Classificação das ideias em géneros, espécies; classe; espécie; Natureza,
carácter; Grupo; Hierarquia, posição social.
2. Pessoas ou coisas que partilham características ou propriedades comuns, o
que lhes possibilita serem agrupadas sob um mesmo conceito ou conceção
genérica

Do grego kategoría, -as, acusação, afirmação

Temas ou padrões podem ser identificados numa de 2 maneiras principais na análise


temática:

1. Abordagem indutiva ou “bottom-up”, que significa que os temas identificados


estão fortemente ligados com os dados.
a. Se os dados foram coletados especialmente para a investigação (e.g.,
via internet ou focus group), os temas identificados podem ter pouca
relação com a questão específica que foi colocada aos participantes.
b. Também não seriam derivados pelo interesse teórico do investigador na
área ou tópico.
c. A análise indutiva é, portanto, um processo de codificação dos dados
sem a tentativa de os fazer encaixar numa moldura de codificação pré-
existente ou as pré-conceções analíticas do investigador. É derivada
dos dados.

Carácter exploratório e explicativo → Categorias criadas a partir do Bottom


que “dizem” os dados -up

103
(no entanto, os investigadores não podem libertar-se dos seus compromissos teóricos
e epistemológicos, nem os dados são codificados num vácuo epistemológico)

2. Uma abordagem teórica, dedutiva ou “top-down” tende a ser orientada


segundo o interesse teórico e analítico do investigador na área, sendo mais
explicitamente derivadas do analista.
a. Esta forma de análise temática tende a fornecer menos uma descrição
rica dos dados num geral e mais uma análise detalhada de alguns
aspetos dos dados.

Carácter confirmatório → Análise realizada a partir de categorias pré- Top-


down
definidas

A escolha entre abordagens indutivas e teóricas está relacionada com o como e


porquê de estar a codificar os dados. Podemos codificar par uma questão de
investigação mais específica (que está mais relacionada com a abordagem teórica)
ou a pergunta de investigação específica pode evoluir ao longo do processo de
codificação (que está mais relacionado com a abordagem indutiva)

Unidade de significado, não categoria


Codificação
“Fui tentando ser mais disciplinada nas tarefas da faculdade e aulas que fui
acumulando pelos meus primeiros dias de descanso e agora tento manter as
cadeiras em dia, dedicando algumas horas do meu dia à faculdade, conciliando as
aulas, trabalhos e leituras pendentes com as aulas por zoom que tenho
semanalmente. Além disso, tenho tentado fazer exercício físico todos os dias para
não estar parada e ter também algum tempo para mim e para descontrair.”

Categoria: Estratégia de adaptação Tema: Novas rotinas


Subcategoria: Disciplina

Este excerto foi dito por uma rapariga de 22 anos que vem de Leiria.

Se a prof pedisse a codificação descritiva: género feminino, 22 anos, Leiria

Se a prof pedisse as categorias da codificação descritiva: género, idade e


localização

104
Que categorias identificam neste excerto?
E: Okay, e há mais alguma razão que pode contribuir para o Empatia
bullying?
Bullying
P: (…) Há um rapaz na minha turma que goza muito com uma
Experiência pessoal
rapariga e acho que é um bocado por esta razão (…) uma
família com mais problemas e isso claro que acaba sempre Problemas familiares
por afetar a forma como ele se comporta com as outras Escola
pessoas e isso (…) Ele fala bué mal com ela quando estamos
no intervalo. Chama-lhe nomes feios a toda a hora… Até nas Adaptação
aulas ele já fez isso com o professor ao lado, acaba por ser …
desagradável porque muita gente começa-se a rir e isso...

E: Essa experiência afetou-te? De que maneira? • Bullying


P: Epah.. Afetou e não afetou… Eu como já sofri algum • Fatores de risco
bullying de quando mudei de escola claro que entendo o o Influência da
lado dela e por isso em alguma parte claro que afetou, família
mas ao mesmo tempo é aquela coisa… Não me afetou o Fata de proteção
diretamente porque hoje em dia já não sofro qualquer tipo da rede
de bullying e então acaba por me passar um bocado ao ▪ Pares
lado entendes? Acho que simplesmente simpatizo com a ▪ Professores
pobre rapariga porque já passei um bocado por isso e são • Tipos de bullying
situações chatas que acabam marcando uma pessoa. o Verbal
• Empatia
• Bystander effect?
Anúncio Axe (2010)

• Contraste despidas/vestido
• O feminino como menorizante
• Assimetria de poder
• Prescritivo de relações hétero
• Heteronormativo
• Prescritivo de masculinidade
• Objetificação: mulheres como produto como
consumo
• Masculinidade frágil
• …

Axe 2017 – mudança de narrativa

• Find your magic – Pessoa com tudo o


https://www.youtube.com/watch?v=dM5Bd2AhFGQ
que precisa, axe
• Is it ok for guys…? –
apenas para potenciar
https://www.youtube.com/watch?v=0WySfa7x5q0
as suas características

“Normalmente, quando chegamos a casa, damos um beijo e conversamos sobre o


nosso dia. Faz parte da nossa rotina. É o que nos permite sentir ligados”.

105
Partilha como parte da Sentir ligados (categoria derivada
intimidade (categoria diretamente dos dados)
conceptual – teórica)
Categoria in vivo (a partir do que a
pessoa disse) – bottom-up

O exemplo da Grounded Theory


“uma relação intima e autêntica aumenta a confiança, desenvolve-nos como
pessoas e facilita a entrega e a confiança no outro, tudo através deste quotidiano”

Codificação analítica 2:
Categorias cada vez mais elaboradas

“empowerment”

Codificação analítica 1:
“aumento autoconfiança”; “desenvolvimento pessoa”; “capacidade de
entrega”

Codificação tópica: (1ºs conceitos que saltam à mente)


Significado de intimidade, Função da intimidade, “Autenticidade”

Codificação descritiva: (categorias demográficas)


Participante 32, Casal 16, masculino, zona centro, 31-40 anos

Richards (2014)
Para comparar grupos e ver se há diferenças

Primeiras árvores resultantes das “primeiras” codificações analíticas

O que é a intimidade no casal?

Dimensões Fator essencial Significados Funções

• Autenticidade • Confiança • Autenticidade • Ser autêntico


• Confiança • Autenticidade • Privacidade • Comunicar
• Partilha • Partilha • Partilha • Construção de
• Privacidade • Espaço físico um projeto de
• Afeto-amor • Estar juntos vida
Propriedades
• Autonomia • Mais do que
• Compreensão • Privada sexo
• Sexualidade • Necessita de • Construção
• Respeito um espaço
• Construção de físico
um projeto de • Permeável 106
vida • Mutável
• Singular-única
Semanas depois… encontro as 3 categorias “cerne” Autenticidade

E ainda semanas depois, desenvolveram um


modelo sistémico da intimidade (uma proto-teoria)
ancorada em 3 categorias cerne e 3 categorias de Partilha Confiança
ligação

Autenticidade

Partilha Confiança

Compreensão

Um modelo sistémico da intimidade?

• Autenticidade como “a diferença que faz a diferença”


• Categorias de elevada saturação: referido mais que qualquer outro como
dimensão (23/62), função (16/24) ou significado (16/23) da intimidade

Citações exemplo:

“essa plenitude que se pode viver sem termos de… fazer esforços para, mesmo não
conscientes, para produzir certo tipo de desempenhos” (C1)

“é estar à vontade para dizer o que penso, o que sinto…é não ter que me esconder
atrás de máscaras [S: é poder ser eu própria] (…) sem estar com defesas” (C11)

“sem autenticidade não há intimidade. Finge-se qualquer coisa e isso não é


intimidade, estou ali a fazer um teatro.” (C48)

Prática 10

107
Primeira atividade codificação (grupo)
Objetivo: codificação de um excerto da transcrição realizada em grupo

Como?
• Familiarizarem-se com o excerto
• Refletir em conjunto sobre a informação que pode ser extraída
• Codificar alguns segmentos do excerto (unidades de significado) em
categorias geradas na discussão
• Organizar as categorias num esquema

• Divisão por grupos


• 30 minutos finalizar o ponto 4
• Escolha de 2 “porta-vozes” para comunicação em grande grupo
• Apresentar o esquema que ilustre a organização das categorias,
começando por enunciar a questão de partida

O esquema resultante responde à questão de partida ou a algumas das


questões de investigação?

Sintetização codificação
Quantas camadas tem uma análise de dados?

108
Codificação tópica
É sobre quê? Fala de quê? – como é que o casal discute

"Acaba por haver um sinal, uma corda que é lançada, quando às vezes nos sentimos
à deriva, quando não vemos a esperança, não vemos a tal luz. Mas, às tantas o outro
lança-nos a tal corda, a boia, acende a tal luz… “

“gestão de conflitos", “intimidade”; “pontos de viragem”

• Trata-se de identificar um pedaço de texto com as categorias ou temas (ou


nodes) mais práticos e mais salientes no texto
• Fases da entrevista, a perguntas específicas ou a temas centrais do projeto de
investigação

Codificação axial: ex. categoria do desenvolvimento da identidade e vou ligá-la à


diferenciação do self

Codificação seletiva: processo através do qual se descobre as categorias cerne e


volta-se atrás à procura de dados nos excertos que saturem nessa categoria

Quanto é que tivemos de interpretar: quase 0 – tópica; alguma interpretação:


analítica.

Codificação analítica
Que temas e ideias emergem daqui? Porque é que isto é interessante? Porque é que
eles disseram isto?

" Acaba por haver um sinal, uma corda que é lançada, quando às vezes nos sentimos
à deriva, quando não vemos a esperança, não vemos a tal luz. Mas, às tantas o outro
lança-nos a tal corda, a boia, acende a tal luz… “

“Altos e baixos da relação”; “heteroconhecimento profundo (por pior que se esteja a


sentir na relação, ela conhece o parceiro tao bem que sabe que ele vai atirar a
corda)”; “Esperança inabalável”

• É neste que podemos ver emergir (ou fazer emergir) temas mais complexos e
processos.

109
• Requer interpretação e reflexão sobre significados.
• Exploração da relação entre várias codificações tópicas e descritivas ou
relacionando com modelos teóricos

Codificação descritiva e tópica, surgindo um primeiro diagrama:

Tranformou isto em mais diagrams que respondiam a coisas diferentes, p.e.,


intimidade conjugal

110
Fatores amigos = fatores protetores da identidade

Fatores sobretudo tópicos

Categorias, filhos e netos:

Estas netas todas depois foram sendo fundidas umas nas outras – estas categorias são
tanto tópicas p.e., a confiança, e analíticas, p.e. autenticidade (mais com
interpretação da prof)

111
Final de uma codificação do que é que é a intimidade:

112
113
Teórica 11

Validade

É a qualidade que nos permite considerar mais válida uma representação da


realidade dos factos através da verificação da correção dos procedimentos

Quantitativo Qualitativo Misto


Validade Interna: O design Credibilidade: A equipa “truth value”
garante que a VI é a única garante que o processo (de
explicação viável para os desenho, análise de
resultados verificados VD, resultados) foi delineado e
não há explicações operacionalizado cumprindo
alternativas os marcadores de qualidade
nas qualitativas.

Validade externa: Transferabilidade: O Aplicabilidade


Resultados generalizáveis? conhecimento produzido
(teoria/hipótese explicativa)
é aplicável a outros
contextos? Thick description
(descrição rica, que não só
sintetiza como tem camadas
e nuances, acendendo aos
resultados de forma
aprofundada o suficiente
para ver se são aplicáveis a
outros contextos),
Amostragem teórica,
homogeneidade amostra

Consistência (reliability): Confiabilidade/Dependência Consistência


teste/reteste), consistência (dos dados e não do acaso):
interna (escalas), acordo triangulação de fontes,
interjuiz dados, investigadores
Dá-nos uma visão do
fenómeno mais complexa
Objetividade: É replicável? Confirmabilidade: Neutralidade
reflexividade (refletir sobre os
nossos estereótipos, que
maneira estamos a interpretar
os dados e deixar tudo
documentado) (memos,
rasto – migalhas), consultoria
externa, triangulação

114
Science is often hard to read.

Most people assume that its difficulties are born out of necessity, out of the extreme
complexity of scientific concepts, data and analysis.

[but]…complexity of thought need not lead to impenetrability of expression; we (…)


can produce clarity in communication without oversimplifying scientific issues.

Improving the quality of writing actually improves the quality of thought.

Complicação vs. complexidade


Isto é mau, exemplo do que não fazer

Frases curtas e simples: queremos isto, consiste nisso, tudo dividido por pontos.

115
Alguns Crimes da Escrita Científica (ou como detectar fake news*)

• O Caso do Comparativo Corrupto: X é maior que Y, nunca “o maior” →


absoluto, básico, completo, inteiro, final, facto, essencial, etc.
• O Caso do Facto Fabuloso: “os factos apresentados pelo estudo de Vaidoso e
colegas (2017)”; “o presente estudo comprova o facto de que…”; “O estudo
de Delirante et al. (1973) provou que”
o Existem indicações, sugestões, aproximamo-nos de mas não há factos.
• O Caso do Autor Preguiçoso – Se o artigo é todo escrito com aspas, para quê
escrevê-lo? Mais valia ler o original (citações diretas vs paráfrases*).

Parafrasear
• Não é uma citação (mas cita-se) nem um resumo
• Dizer algo por palavras próprias, com um ordem e estrutura
frásica diferente do original.
• Mantém o significado original mas em geral acrescenta algo
(análise, reflexão)

• O Caso dos Tempos Trocados: “Os resultados serão analisados...”; “O guião é


desenhado tendo em conta…”
o Usar sempre o passado “foram” e “foi”
• O Caso da Redundância Repetitiva – “Na primeira ocorrência do tratamento,
aparentemente houve um efeito negativo decorrente da combinação das
substâncias” vs “O primeiro tratamento resultou num efeito negativo”,
• O Caso da Frase Pendurada: A ideia vive no parágrafo, não na frase. As frases
devem estar relacionadas para a construção do argumento.
o Muda de paragrafo, muda a ideia/tema
• O Caso da Vírgula da Discórdia– Não se separam sujeitos do predicado,
N.U.N.CA.
o “O participante, foi encontrado morto por uma vírgula”

Definição de mau de uma


pessoa pode ser diferente de
outras pessoas

O leitor não tem de


saber todos os termos 116
científicos
Método RATS
• Relevância
• Adequação
• Transparência dos procedimentos
• Soundness do processo de S interpretação

Relevância
• A questão de partida está definida?
• É relevante para a prática, para a intervenção, para as políticas?
• Está justificada e ligada à literatura relevante existente na área?

Adequadação

• A metodologia qualitativa é a mais adequada para os objetivos do estudo e


está justificada a sua escolha?
o Entrevistas para perceções, processos, crenças, significações.
o Observação para comportamentos
o Focus groups para processos de grupo, geração de novas ideias em
temas não sensíveis,
o Etnografia para questões culturais, comportamento organizacional ou
interação

Transparência

• Amostragem
o Os participantes seleccionados são os mais adequados para dar
acesso ao tipo de conhecimento que o estudo procura? (se quero
estudar relações sexuais em casais mais velhos porque é que os
participantes são homens brancos dos 24-35 anos)
o A estratégia de amostragem é adequadamente justificada?
o Recolha de participantes foi adequada? Há detalhes sobre como foi
feita?
o Há enviesamento na amostra? Qual e porquê?
• Recolha de dados
o Os métodos de recolha estão suficientemente descritos e com
exemplos específicos (ex: questões da entrevista)
o As características do grupo em estudos e dos setting estão claras?
o Quando e porque é que foi interrompida a recolha de dados? (porquê
27 pessoas e não 32?)
• O investigador
o Investigador é adequado (em termos de treino, competência)? Qual o
seu potencial papel no enviesamento?
o O investigador tem um papel duplo (clínico e investigador, professor e
investigador? O investigador trabalha para aquela empresa?) estes
papeis são discutidos criticamente?
• Consentimento informado?
Duplo papel explicitado no
• Aprovação por comité de ética?
procedimento

Lentes pessoais na análise de dados 117

Às vezes revisita-se isto na discussão


Soundness (robustez) do processo de interpretação

• O tipo de análise é o adequado para o estudo?


• A estratégia analítica é descrita em profundidade?
• Indicadores de qualidade?
• Há evidências de explicações alternativas? Ou casos negativos? (deteto um
padrão mas existem duas pessoas que não encaixam bem, indicar isto
aumenta a qualidade porque mostra que não estamos a tentar forçar os
dados)
• As citações são usadas e eficazes?
o Como é que foram escolhidas as citações?
o Há uma semi- quantificação, se apropriado?
o O contexto e o significado são abordados de forma rica e detalhada?
• A fiabilidade dos dados foi verificada? Através de que métodos?
• Como foram identificados e resolvidos os problemas?
o Não há investigação sem problemas (importante também para a
transparência)
• Os resultados estão ancorados num quadro de referência conceptual ou
teórico?
• Os resultados são apresentados e enquadrados em referências a literatura
teórica e empírica? A sua contribuição específica é referida?
• As limitações de todas as fases da investigação são consideradas?
• As forças metodológicas são sublinhadas?
• O manuscrito está bem escrito e é adequado para a audiência a quem se
dirige?
• Está de acordo com as linhas de orientação específicas (APA, MLA)
• Sinais de alarme:
o Uso de jargão em excesso
o Sobre-interpretação
o Auto-evidente, análise superficial
o Falta de aprovação do comité de ética
o Duplos papéis

Ver também Coreq-32

Checklist
• Título descreve o estudo (palavras-chave)
• Questão de investigação e objetivos são claros (Abstract e na Introdução)
• Segue as regras formais da área (APA)
• É gramaticalmente correto
• Toda a informação é relevante para a Questão de Investigação – não há
palha
• A terminologia é precisa e consistente
• Conta uma história dentro do contexto da área
• Tem uma estrutura clara e lógica:
o Introdução, enquadramento teórico, Método (participantes,
instrumentos, procedimento, análise), Resultados, Discussão,
Conclusão.
118
• Método é “replicável”
• Tabelas e figuras são autoexplicativas (sendo sempre referenciadas no texto)
• Os dados são apresentados claramente
• Conclusões baseadas nos resultados, sem julgamentos de valor

Básicos APA
• Frase pensada e escrita por ti? –Não precisa de citação
• Frase inspirada no trabalho de outros? – Precisa citação!

Citações no texto
• É ipsis verbis?
o Citação direta
▪ O fenómeno do plágio pode ser entendido como “uma
usurpação do trabalho e da criatividade de outrém, um crime
lesa-pares, um delito contra a dignidade própria do
investigador” (Zaki et al., 1981, p. 87)
• É uma paráfrase
o Citação normal
▪ O fenómeno do plágio pode ser entendido, segundo Zaki e
colegas (1981), como semelhante a um roubo, no qual se tira
partido do esforço e investimento de outros, num claro atentado
à propriedade intelectual

Autores

Citações na lista final


• Quem
• Quando
• O quê
• Onde
119
Romano, A. Negreiros, J. & Martins, T. (2007). Contributos para a Validação da Escala
de Auto-estima de Rosenberg numa Amostra de Adolescentes da Região Interior
Norte do País. Psicologia, saúde e doenças, 8(1), 107-114.

Virgula, maiúsculas no titulo estão mal, mas falta maiúsculas na revista, doi

Esteves, A. J. (2001). Estudantes do Ensino Superior no Porto: Representações e


práticas culturais . Edições Afrontamento.

Itálico, espaço entre o ponto, falta onde

Google Scholar, Bibme, EndNote, Mendeley, RefME …

APA #hacks
• Usar tudo a que temos direito (web)
• Ter sempre um artigo à mão (de uma boa revista*)
• No final

→ Utilizar a função “localizar” no documento word para descobrir as falhas

→ Picar referências *Não de uma revista falsa, predatória, etc

Diversidade de critérios: forma e estrutura

Abordagens Psicológicas vs. Sociológicas

Método separado ou integrado?

Resultados ‘brutos’ ou entrelaçados com a teoria (findings)?

Revista de Sociologia da Família

120
3 categorias: autenticidade, confiança e partilha + categoria macro: intimidade (um
pouco difíceis de perceber porque não estão a negrito)

Género: segmento muito típico de uma análise de dados

Revista Psicoterapia/ Psicologia Clínica

Categorias a negrito, com maiúscula, com o nº de pessoas que o mencionaram. Logo


a seguir à categoria tem a sua definição.

Já não se usa F – female, agora é women

Identificar claramente a categoria


Relativamente aos componentes da felicidade, os participantes referiram a
importância do bem-estar emocional, (devia estar : em vez da ,) “...sentimos livres de
preocupações e de tristezas e bem-estar geral...” (P21), referindo-se em particular a
sentimentos de prazer, “...ocupado com tarefas prazerosas e simultaneamente
construtivas e possuir momentos de muita satisfação...” (P18), tranquilidade, “... sentir
paz...” (P6) e afeto positivo, “...contentamento...” (P28).

Categorias sublinhadas, citações que suportam, definições embora pequenas e


participantes identificados

Ligação entre duas categorias e explicações hipotéticas


A subjetividade do tema e a multiplicidade de dimensões que esse termo carrega
leva para muitas pessoas hesitação quando confrontados diretamente sobre o que
é felicidade. Um participante ao iniciar sua resposta, comentou que “Ser feliz é um
estado emocional difícil de descrever” (P12 ). Outro afirmou que “Ser feliz é um
conceito muito abstrato” (P40).

A dificuldade em discorrer sobre o tema pode estar diretamente relacionado a outro


fator bastante citado pelos entrevistados; a transitoriedade do estado de felicidade
. P22 sinalizou que se trata de um “estado efémero condicionado pela paridade entre

121
o que se ambiciona e o que se tem.” Outros participantes seguiram a mesma linha
lógica arrazoando que “Para mim o conceito de felicidade não existe pelo menos
enquanto algo estável” (P28) e “Ser feliz é em primeiro lugar termos a consciência de
que a felicidade não é um estado permanente de alegria.” (P31)

Se calhar isto está relacionado com outro tema e ela vai explicar.

Citações penduradas
Ainda nesse contexto, a resiliência também foi trazida por alguns participantes como
característica do estado de felicidade: “Sentir que temos a capacidade de enfrentar
as adversidades e que somos capazes de gerir a nossa vida mesmo nos dias menos
bons” (P21) e “Significa continuares a vida mesmo quando se está triste e quando
aconteceram coisas menos boas significa ser capaz de fazer as coisas a que me
propus mesmo que tenha de as mudar.” (P9).

Qual é que é a interpretação das citações, o que é que têm a ver com a categoria?

Encerra 2 dimensões não aceites – não se percebe, não está claro

Verificou-se a influencia dos estereótipos – estereótipos de quê?

Frases muito longas

As pessoas fazem perceções?

Verificou-se a influência – isto é um estudo experimental ou qualitativo?

Porquê um estudo de 1935?

Tudo é análise de conteúdo

Altamente – linguagem informal

Sexualidade satisfatório?

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O que é associação de ideias??

Não há género dos participantes

Substituição da voz dos autores pelas citações dos participantes

Tudo tem de estar ancorado, não é dizer tudo e depois deixar lá umas citações

Check list Resultados


Na secção de resultados de um manuscrito para publicação em revista científica
deve incluir sempre:

• Nomes de categorias
• Definições operacionais das principais categorias
• Quantificação categorias (quantos participantes)
• Citações
• Reflexão ou análise crítica. Comparação ou contraste (++) – sugere-se que
esta categoria está relacionada com outra, pela seguinte razão que vou
justificar com uma citação

Avaliação desta semana


• Irá incidir sobre os materiais desta aula
• Será um exercício de escrita científica (NÃO é focado na APA)
• Para se prepararem, precisam de estudar estes slides, e passar os olhos por
alguns dos artigos qualitativos que estão no moodle, particularmente na
secção de resultados.
• Terão 30 min, individual e sem consulta

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