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Sonia Cyrino (Londrina) & Uli Reich (München)

Uma visão integrada ao objeto nulo no Português Brasileiro 1

Introdução: O jeito brasileiro na teoria lingüística


Na lingüística das últimas décadas, muitas vezes presenciamos situações kafkanianas da
impermeabilidade comunicativa de teorias que viraram instituições: análises e teses
propostas dentro de uma determinada abordagem teórica X regularmente não encontram
nem sequer resistência pelos representantes da abordagem Y, mas sim um silêncio que
acaba com qualq uer esperança de que possa acontecer aquele salto para a síntese que a
dialética propõe.
Na lingüística brasileira, porém, vem se articulando já há algum tempo uma tentativa
séria de integrar conceitos, metodologias e resultados procedentes de diferentes escolas
teóricas para dar conta dos fatos lingüísticos que preocupam a comunidade dos
pesquisadores. Citamos o projeto da Gramática do Português Falado (Castilho et alii
1991-1996), sob coordenação geral de Ataliba Teixeira de Castilho, que reúne
pesquisadores de diferentes escolas lingüísticas, formais e funcionais, na tentativa de
descrever e explicar as variedades do português que se falam nos grandes centros
urbanos do Brasil. Na Unicamp, Fernando Tarallo e Mary Kato (1989) esboçaram a
conceituação de uma sociolingüística paramétrica que procura trabalhar sobre análises
quantitativas de dados empíricos de língua falada, aproveitando conceitos sintáticos da
teoria gerativa.
O presente estudo tem o afã de continuar esse jeito brasileiro de fazer lingüística. Uma
gera-tivista brasileira e um romanista alemão procuram elucidar, a partir de perspectivas
sintáticas, fonológicas e variacionistas, um único fenômeno concreto que carateriza o
Português Brasileiro dentro das línguas românicas: a ausência de pronome s clíticos
acusativos de terceira pessoa. Pensamos que focalizando um só fenômeno bem definido
podemos ultrapassar fronteiras que são projetadas por pressupostos teóricos divergentes,
mas que na discussão dos detalhes das formas lingüísticas se mostram viá veis.
Diferentes propostas teóricas para a descrição e a explicação do mesmo fenômeno ou
são complementares ou se excluem, sendo uma ou ambas delas errada. No que diz
respeito ao fenômeno do chamado objeto nulo no Português Brasileiro, achamos que
conceitos da teoria gerativa da sintaxe, da tipologia rítmica e da variação discursiva se
complementam felizmente para obtermos uma abordagem integrada, aproveitando as
vantagens da formalização explícita de correlações entre construções sintáticas em uma
2

língua particular com a preocupação pela historicidade dos processos que levaram à
constelação determinada dessa língua.

1. Mudança, nível histórico e parâmetros sintáticos

1.1 A teoria gerativista de mudança

A teoria gerativa considera a linguagem como uma capacidade geneticamente herdada


no ser humano e propõe um estado mental inicial, a Gramática Universal (GU), que
torna possível a aprendizagem das línguas. Chomsky (1986, 3) afirma:

UG may be regarded as a characterization of the genetically determined


language faculty. One may think of this faculty as a „language
acquisition device“, an innate component of the human mind that yields
a particular language through interaction with presented experience, a
device that converts experience into a system of knowledge attained:
knowledge of one or another language.

A partir da postulação de princípios inatos, invariáveis, e parâmetros sujeitos a


variações entre as línguas, o estudo da mudança diacrônica tomou novo impulso. Dentro
dessa abordagem, estuda-se a mudança na língua como relacionada à mudança na
fixação de parâmetros.
O pressuposto da teoria de mudança dentro do enfoque da gramática gerativa através do
trabalho pioneiro de Lightfoot (1979) é que as mudanças gramaticais ocorrem no
processo da aquisição da linguagem. Mais precisamente, segundo a Teoria de Princípios
e Parâmetros, a criança constrói sua gramática a partir do que ela ouve (dados
primários) e do que ela possui de inato (os princípios da Gramática Universal, GU). A
criança não tem acesso direto à gramática de seus pais (Lightfoot, 1979). Isso significa
que a gramática da criança não é necessariamente a mesma que a de seus pais.
Ora, muitas vezes, as estruturas superficiais, audíveis, são compatíveis com mais de
uma gramática. A criança, porém, não ‘sabe’ qual dessas análises representa a análise
‘correta’, ou seja, a gramática de seus pais. Se optar pela análise ‘errônea’, teremos uma
mudança gramatical – a gramática da criança será superficialmente semelhante à
gramática de seus pais, porém, será estruturalmente diferente.
A tarefa do lingüista será, então, encontrar nos dados propriedades que induziriam à
análise ‘errônea’ por parte da criança. Segundo Lightfoot (1979, 1991) e Roberts
(1993), a mudança se dá de maneira gradual através de manifestações superficiais de
alguma mudança em certa estrutura que, por sua vez, provocam uma reanálise
diacrônica. O conjunto das reanálises diacrônicas ocorridas desencadeiam a mudança de
um certo parâmetro da gramática, e essa mudança paramétrica é, então, catastrófica.
Roberts (1993), propõe, assim, três noções distintas dentro da teoria da mudança:
3

a) passos – são pequenas mudanças visíveis, construções que se tornam


mais raras, estruturas que se tornam menos freqüentemente usadas, mas
não totalmente eliminadas dos dados. O sistema gramatical ainda permite
aquelas estruturas.
b) reanálise diacrônica – é a análise „errônea“ de alguma estrutura: a
criança atribui uma estrutura diferente, mas não incompatível, para uma
dada estrutura.
c) mudança paramétrica – ocorrerá através de reanálises diacrônicas,
interagindo com elas, e provocando a refixação do valor de um
determinado parâmetro da língua.

Assim, uma mudança paramétrica envolve outras mudanças que ocorrem


simultaneamente, ou quase simultaneamente. Uma única reanálise não implicaria na
mudança de um parâmetro, mas poderia contribuir para tal, pois ocasiona a ocorrência
de novas construções, removendo evidências que levariam à fixação de um parâmetro
de um certo modo. A reanálise diacrônica, portanto, reduz a freqüência de certos tipos
de construções nos dados, o que muda a experiência detonadora para a criança
(„triggering experience“, Lightfoot 1991).
Lightfoot (1991) também destaca a importância na mudança de propriedades
morfológicas das línguas. Estas trariam conseqüências para a sintaxe. Um exemplo é o
caso da mudança do sistema morfológico de Casos do inglês medieval que resultou na
perda do Caso Dativo e na emergência de um sistema de Caso estrutural. Essa visão está
em consonância com a suposição da teoria gerativa atual em que se hipotetiza que a
fixação de parâmetros sintáticos seria sensível a propriedades morfológicas da língua.
Atualmente assume-se que as diferenças entre as línguas se reduzem às suas
propriedades morfológicas – as línguas, porém, são idênticas quanto a propriedades da
Forma Lógica. Se as diferenças na fixação de parâmetros se reduzem a diferenças
morfológicas, devemos buscar evidências para a mudança paramétrica dentro da
mudanças visíveis (i.e., ‘audíveis’) em Forma Fonética: somente neste nível
propriedades morfológicas são visíveis.
Os dados da experiência detonadora devem ser, portanto, do tipo que qualquer criança
ouve freqüentemente. Assim, devem ser ‘robustos’: salientes e freqüentes (Lightfoot,
1991).
Lightfoot (1991) ainda propõe que dois tipos de fatores podem contribuir para a
mudança sintática: fatores internos, da própria gramática, gerando mudanças
determinadas por propriedades do genótipo mental, e fatores externos, como fatores
sociais (por exemplo, empréstimos, etc.). O autor faz importantes considerações sobre o
papel das causas externas na mudança lingüística: muitas mudanças são devidas a
mudanças ambientais, e não resultam de um processo de aquisição geneticamente
determinado. Lightfoot afirma:
4

... they are introduced by contact with other languages and dialects or
introduced for stylistic reasons, some being novel forms that achieve
stylistic effect purely through their novelty (Lightfoot, 1991:169).

Assim, certas mudanças podem ter como causa coadjuvante, fatores externos, por mudar
os dados a que a criança terá acesso.
A gramática gerativa estaria interessada nas causas internas da mudança, pois fatores
externos, fatores que atuam nas situações reais de uso da língua, deveriam ser
abstraídos. Porém, conforme aponta Ramos (1992), essa exigência de abstração do
social não é bem atendida quando se faz lingüística histórica, uma vez que dados são
provenientes de textos que expressam o uso da língua em determinadas épocas, e, por
razões óbvias, não podem ser submetidos a julgamentos de gramaticalidade. Além
disso, Ramos (1992, 7) afirma:

seria necessário assumir que uma criança em fase de aquisição dispusesse de


algum recurso que a tornasse capaz de distinguir entre resíduos provenientes
de mudanças acidentais [devidas a fatores externos], e resíduos
provenientes de mudanças gramaticais, já que apenas os resíduos do
segundo tipo teriam, segundo Lightfoot, uma importância central em GG
[Gramática Gerativa].

Ramos ainda cita Adams (1987, 223):

External factors set up the conditions for change yet do not follow from the
theory of grammar. But since the leaner knows only what he hears,
superficial characteristics may be misconstrued as grammatical properties.

Assim, o falante incorpora o que interpreta como gramatical, independentemente da


natureza da fonte de uma inovação. 2
Existe um ponto de vista tradicional que postula que o início da mudança sintática se dá
através dos efeitos erosivos da mudança fonológica. Nessa perspectiva tradicional, essa
mudança seria regular e cega a distinções funcionais. Porém, conforme veremos neste
trabalho, o papel da fonologia na mudança sintática é diferente desse ponto de vista
tradicional: a fonologia será uma importante causa de mudança sintática na medida em
que alterar a experiência detonadora para a criança.
O papel da fonologia 3 como iniciadora de mudanças sintáticas já é mostrado no trabalho
de Adams (1987), dentro da teoria gerativa. Outros trabalhos, como Clark & Roberts
(1992) e Galves & Galves (1994) 4 , também mencionam esse aspecto, mostrando a
5

influência da fonologia como fonte de alteração da experiência detonadora („triggering


experience“).
Assim, podemos afirmar que, se uma forma é mais freqüente do que a outra devido a
fatores fonológicos, esses fatores terão importância por alterarem o tipo de evidência
que a criança encontra ao adquirir a língua. Não há mudança na gramática quando se
usa mais uma forma do que a outra; há, porém, mudança na experiência detonadora. E,
conforme vimos acima, quando a mudança diacrônica ocorre, é porque houve mudança
na experiência detonadora. Assim, indiretamente, a mudança fonológica poderá
ocasionar mudanças na gramática.

1.2 Lembrando Coseriu: o nível histórico das línguas


Não é à toa lembrar que mudança lingüística é um fenômeno histórico. A historicidade
é um dos universais genéricos da linguagem5 e designa a determinação do signo
lingüístico pela necessidade de sua enunciação em uma situação histórica, vinculando
assim a linguagem à constituição ontológica geral do ser humano. Os processos de
elaboração das línguas européias, processos de reestruturações em línguas indígenas em
função de mudanças socioculturais dramáticas, a pidginização e crioulização de línguas,
até a própria morte de línguas testemunham a historicidade das línguas de uma maneira
radical.
A conhecida conceituação da linguagem por Eugenio Coseriu6 dá conta da
determinação dos signos lingüísticos em três níveis simultâneos, o universal, o histórico
e o individual. Wulf Oesterreicher explica:

[...] esses níveis com as suas configurações específicas de fatos têm uma
certa autonomia, isto é, eles não se podem reduzir um no outro. Na fala, eles
sempre estão vigentes simultaneamente. Entendem-se teoricamente como
uma determinação sucessiva da linguagem, que vai desde as determinações
mais gerais do falar, passando por determinantes do nível histórico, até o
discurso individual, atual e singular. (Oesterreicher 2001, 1558, nossa
tradução)

A perspectiva da teoria gerativa e a da variação discursiva se pode situar nesses níveis


da linguagem e os conceitos se podem espelhar mutuamente. Os princípios sintáticos
pertencem ao nível universal, as possibilidades da realização deles levam aos
parâmetros que se fixam para formar a sintaxe das línguas históricas. A variação
discursiva acontece no nível individual pela contingência da constelação do conjunto
discursivo concreto, que é um aspecto central da historicidade: esse conceito abrange o
6

todo constituído por língua, situação dêitica e conhecimentos gerais, culturais e


7
individuais na fala. A constelação do conjunto discursivo varia segundo tipos de
comunicação, sendo a acessibilidade a contextos situacionais e a contextos de diferentes
tipos de conhecimento o fator que determina essa constelação. Por exemplo, ao
conversar com amigos íntimos numa mesa de boteco de esquina sobre objetos visíveis
nessa mesa, os conjuntos discursivos consistem em porções maiores de partes não-
lingüísticas, veiculando a comunicação também através de conhecimentos
compartilhados e situações dêiticas. Ao contrário, ao escrever um artigo sobre as
relações internacionais entre a China e EEUU na Folha de São Paulo, direcionado para
ouvintes anônimos e sem situações dêiticas compartilhadas, o conjunto discursivo é
constituído muito mais por porções lingüísticas. 8 Peter Koch & Wulf Oesterreicher
(1990, 2001) estabeleceram os conceitos de discursos de proximidade e discursos de
distância para os dois polos de um contínuo entre os quais oscilam os enunciados e,
num nível de abstração maior, tipos de discursos, com seus correlatos lingüísticos
típicos que se podem entender como cunhadas pelas constelações dos conjuntos
discursivos. Entre muitos outros, 9 os seguintes fenômenos são diretamente determinados
pela variação do conjunto discursivo:

• A completude ou não-completude da forma oracional. Enquanto em discursos


de proximidade podemos deixar enunciados numa forma que não corresponde à
de uma oração completa, 10 em discursos de distância somos obrigados a
completar a forma oracional.
• A indexicalização fórica dependendo da complexidade da estrutura
referencial. Discursos de distância tipicamente carregam informações mais
complexas que discursos de proximidade, isto é há mais tópicos a serem
identificados e especificados no texto. Esse processo de identificação e
especificação se realiza, sobretudo, através de afixos, clíticos e pronomes
anafóricos.
• A inserção de recursos dêiticos que depende da presença do ouvinte na
situação de fala.

A diferença sintática entre as formas dos enunciados correspondentes a diferentes


situações comunicativas pode ser dramática: em alemão, p.e., que é uma língua V2
prototípica nas variedades padrão, é muito frequente ouvirmos enunciados afirmativos
7

com o verbo na primeira posição em discursos de proximidade como p.e. Komme


gleich, Kannste mal sehen, Glaub ich nicht, etc.
Desde Ross (1982) e Huang (1984) vem-se discutindo dentro de abordagens gerativas a
diferenças sintáticas entre línguas particulares uma dicotomia conceitual para dar conta
de um conjunto de fenômenos que mostra uma semelhança nítida com uma parte dos
fenômenos que Koch & Oesterreicher discutem na perspectiva esboçada: trata-se da
dicotomia línguas orientadas para o discurso vs. línguas orientadas para a sentença.
Conforme essa conceituação, em línguas orientadas para o discurso, a predicação se
realiza mais através da relação da sentença e um constituinte que está fora dela e não
através da relação do sujeito com a frase verbal, como é o caso em línguas orientadas
para a sentença. Huang fala de três correlatos sintáticos típicos de línguas orientadas
para o discurso:

(...) discourse-oriented languages have a rule of Topic NP Deletion, which


operates across discourse to delete the topic of a sentence under identity
with a topic of a preceding sentence. The result of such a deleting process is
formally a topic chain. (...) Discourse-oriented languages are more „topic-
prominent,” and sentence-oriented languages are more „subject-Prominent,”
since topic is more of a discourse notion than subject, which is a syntactic
notion. In a subject-prominent language like English, all sentences must
have subjects (...). This accounts for the presence of pleonastic elements like
it and there in such languages. On the other hand, structural subjects are not
a basic requirement of the sentence, and these languages do not have such
pleonastic elements. A third fact supporting the parameter under consider-
ation is that in a discourse-oriented, but not sentence-oriented, language, an
anaphor may be discoursally bound. (Huang 1984, 551-552, nossa ênfase)

Entre os dois modelos, a correspondência no que diz respeito aos fenômenos


lingüísticos é nítida: focalizam-se ocorrências em que uma parte da estrutura sentencial
é veiculada por porções não- lingüísticas do discurso e se comparam com ocorrências
nas quais isso não é possível. A teoria gerativa formaliza as estruturas sintáticas
relevantes na teoria de ligação, supondo categorias vazias que devem ser ligadas por
determinadas estruturas adjacentes e põe o critério de diferenciação aí, identificando
diferentes possibilidades da ligação como apropriados para diferentes sistemas:
8

discursiva ou sintática. A teoria da variação discursiva identifica as condições


comunicativas necessárias para que tal ‘ligação discursiva’ se possa realizar.
Assim, trata-se de diferentes perspectivas à interface entre sintaxe e discurso, uma
olhando mais para o lado da forma sintática, a outra mais para o lado do discurso. A
diferença mais importante consiste na identificação das diferenças como sendo
pertinentes às gramáticas de línguas no caso dos gerativistas, enquanto a teoria de
variação discursiva as correlaciona com variedades de línguas, isto é, a teoria gerativa
focaliza a variação entre línguas particulares como o Inglês e o Chinês, enquanto a
teoria da variação discursiva ressalta a variação formal de uma língua segundo
constelações discursivas e a possível fixação dessa variação em variedades históricas,
como dialetos secundários, sociolectos ou ainda subsistemas maiores como o Portugues
Popular que domina as periferias dos grandes centros urbanos do Brasil. A teoria de
variação discursiva (Oesterreicher 2001) emprega aqui o termo variação interna em
oposição à variação externa que seria precisamente a diversidade das línguas
particulares. 11 Assim, nessa perspectiva, podemos falar de tipos de discursos orientados
para a sentença e de tipos de discursos orientados para as partes não- lingüísticas do
discurso.
Ora, é óbvio que, por um lado, nas normas padrão de línguas orientadas para a sentença,
não é possível omitir sujeitos exp ressos. Por outro lado, também é obvio que as três
construções que Huang discute como características para línguas de discursos, também
são características para discursos de proximidade.
A intersecção das duas perspectivas se situa precisamente na historicidade das línguas: a
variedade padrão de uma língua se ajeita às constelações mais recorrentes do conjunto
discursivo na história dessa língua. Se determinadas constelações dos conjuntos
discursivos recorrerem no comportamento cultural- histórico de um grupo de falantes,
ou, visto pela perspectiva contrária, se esse grupo de falantes recorrer durante um tempo
largo da historia a constelações discursivas semelhantes, 12 a variação discursiva no nível
individual desemboca no nível histórico primeiro na variação interna (isto é, em
variedades como subsistemas de uma língua) e, se essas variedades internas chegarem
no decorrer da historia a formar o padrão de uma língua histórica, também na variação
externa das línguas. 13
É fácil situar essa reflexão no modelo de Ian Roberts introduzido na seção 1.1.: uma
mudança na preferência cultural para determinadas constelações do conjunto discursivo
9

determina a frequência de estruturas sintáticas afins e assim leva aos primeiros passos
de uma mudança sintática.
Nesse quadro teórico integrado se explica o desenvolvimento do objeto nulo no
português brasileiro.

2. Objetos nulos: conceitos e distribuições

Como outros nulos, objetos nulos lingüísticos se definem negativamente, no caso, por
uma „carência“ na estrutura superficial da oração: objetos previstos na projeção
estrutural do verbo não são expressos no enunciado lingüístico.
Essa primeira definição abrange uma série de fenômenos bem diferentes, que se podem
situar numa escala que vai de mais universal até mais específico. Gostariamos de
começar nossa discussão além da fronteira da área fenomenal que o conceito abrange
para poder delimitá- lo melhor. Seguramente não podemos falar de objeto nulo em casos
como (1b), já que não poderiamos inserir nenhum objeto expresso:

(1a) Fritz comeu três salgadinhos.


(1b) Fritz comeu *(três salgadinhos) bem.

Obviamente, verbos como comer obviamente têm empregos que recortam o paciente da
estrutura temática e, com isso, também o objeto interno da projeção estrutural.
Objetos nulos altamente universais ocorrem em empregos nos quais contextos de
conhecimento cultural identificam o referente da estrutura semântica que assim fica
prescindível no enunciado lin- güístico:

(2) Giovane Elber chutou Ø para fora.

Para identificar o referente nesse caso, precisamos saber que o londrinense Giovane
Elber é um jogador de futebol e que nesse jogo o que se chuta é uma bola.
Essa identificação pragmática do referente também se pode efetuar apoiada em
contextos situ-acionais do enunciado:

(3a) ingl.: Send Ø by mail! (no envelope de uma carta)


(3b) al.: Soll ich mal Ø halten? (ajudando alguém mexendo num aparelho qualquer)
(3c) P(ortuguês)B(rasileiro): Cê tem que lavar Ø antes de pôr Ø! (falando para
alguém querendo pôr o arroz na panela)

As construções dos tipos (1) e (2) se podem considerar como universais. 14 (3a) e (3b)
também não constituem casos espectaculares para o lingüista, sendo absolutamente
10

normais em inglês, alemão e todas as línguas românicas. A particularidade do Português


Brasileiro começa em construções do tipo (3c) que em alemão, inglês e todas as outras
línguas românicas levam ao emprego de um pronome objetivo.

(4a) ingl.: You have to wash it before you put it!


(4b) al.: Du mußt( ih)n waschen bevor du( ih)n reinschüttest!
(4c) esp.: Tienes que lavarlo antes de ponerlo!
(4d) fr.: Tu dois le laver avant de le mettre!
(4e) it.: Debi lavarlo prima di metterlo dentro!
(4f) rum.: Trebuie sa-l speli înainte de a-l pune!
(4g) P(ortuguês)E(uropeu): Tu tens que lavá-lo antes de pô-lo.

Fica imediatamente evidente a correlação desse tipo de construções com deslocamentos


sintáticos dos objetos, nas quais o Português mostra uma particularidade entre as línguas
românicas: essa língua não emprega o que tradicionalemente se chamou de reprise
pronominel:

(5a) As cervejas, cê pode (PE tu podes) deixar Ø na sala.


(5b) Le birre le puoi lasciare in sala.
(5c) Berile le pot lasa în camera.
(5d) Les bières tu peux les laisser dans la salle.
(5e) Las cervezas, las puedes dejar en la sala.

Nesses casos, o Português Europeu (doravante PE) não difere muito do Português
Brasileiro (doravante PB), se bem que no PE, haja a possibilidade de retomar o objeto
deslocado por um pronome clítico:15

(5a’) As cervejas, tu podes deixá- las na sala.


ilhas
A diferença entre as variedades na superficie se torna ainda mais visível no fato de o PB
também aceitar objetos nulos em construções com deslocamentos a partir de
determinadas ilhas para movimento sintático,16 sendo essas construções impossíveis em
PE. Veja-se estes exemplos com sujeito sentencial:

(6a) Minha namorada, que eu conheci Ø faz pouco não significa que não conheço Ø
o suficiente para casar com ela.
(6b) Minha namorada, que eu a conheci há pouco não significa que não a conheço o
suficiente para casar com ela.
11

(6c) Minha namorada, que eu conheci ela faz pouco não significa que não conheço
ela o suficiente para casar com ela.

(6a) é perfeitamente possível em PB, mas não se aceita em PE. Não se ouve (6b) no
Brasil, a não ser em contextos muito formais, mas é a forma vernácula do PE. Em PB
ainda há a possi-bilidade de (6c), agramatical em PE, mas preferida p.e. para
deslocamentos a partir de ilhas de estruturas coordenadas nas quais realizações de
objetos nulos não se aceitam:

(7a) Meu pai, eu dificilmente vejo ele e minha mãe sem que eles estejam olhando
um para o outro.
(7b) * Meu pai, eu dificilmente Ø vejo e minha mãe sem que eles estejam olhando
um para o outro.

objetos nulos ocorrem também com antecedentes anafóricos em outras sentenças, raízes
e complexas, independendo de troca ou manutenção do turno conversacional. Esses
antece-dentes podem estar numa distância referencial17 relativamente grande, como se
vê neste exemplo retirado de um corpus de vídeo:18

(8a) A: a gaiolai é melhor colocar Øi aqui forané


B: aqui fora?
A: ahé melhortem cobertovocê pode pôr um prego aquipendura Øi põe
um prego lá fora tambémporque aí cê põe Øi para tomar sol

Ocorrencias como (8a) são possíveis unicamente no PB dentro das línguas românicas.
Essas evidências levam a postular a inexistência do pronome clítico o(s), a(s) no PB
vernáculo moderno. 19 Antes de discutir o estatuto sintático das construções com objeto
nulo em PB em uma perspectiva gerativa (seção 5), propomos na seção seguinte uma
teoria sobre a motivação prosódica da queda desses clíticos na história do PB.

3. Porque o clítico dançou - a motivação prosódica da queda dos pronomes


clíticos acusativos de 3a pessoa no PB vernáculo

3.1 Ritmo-? e ritmo-s: uma abordagem fonético-fonológica


Já a mera impressão pré-científica reconhece diferenças prosódicas nítidas entre línguas
e variedades de línguas, como entre alemão e espanhol e entre PE e PB. A tradição
discute essas diferenças sob os termos ‘ritmo silábico’ (ingl. syllable-timed) e ‘ritmo
12

acentual’ (ingl. stress-timed) definidos dentro de uma conceituação de isocronia dos


ritmos lingüísticos, segundo a qual o primeiro mostraria sílabas da mesma duração,
enquanto no segundo os intervalos seriam iguais entre dois acentos primários.
Problemas com a verificação empírica de tal conceito 20 levou vários pesquisadores
(Donegan & Stampe 1983, Dauer 1987, Auer 1993, entre muitos outros) a prescindir
dele e à reformulação dos conceitos baseada em traços fonológicos e fonéticos que
juntos corresponderiam a dois protótipos de línguas. 21 Tirando todas as redundâncias
podemos reduzir esses traços a três, correlacionados pelo tipo de ritmo:22

Ritmo silábico (ritmo-s ) ritmo de palavra (ritmo-? )


acentuação rítmica 23 construção de pés independente da construção de
pés
vocalismo poucas reduções (vogais fortes reduções, até elisão da
centrais) vogal
sandhi interno = externo interno ? externo

No que se segue apresentaremos esses três parâmetros de forma introdutória e


descritiva, para depois apresentar uma conceituação teórica que os atribui a uma opção
de construir figuras prosódicas relevantes para a percepção do ritmo e, numa seção
subseguinte, explicar a elisão dos pronomes clíticos no PB como conseqüência de uma
dessas opções.

3.1.1 Acentuação rítmica


Até o nível da palavra fonológica, é nítida uma diferença entre as línguas no que diz
respeito à percepção de pés e, em correlação, ao caráter do acento da palavra. Em
línguas como espanhol, os pés são muito bem perceptíveis, agrupando-se as sílabas em
troqueus silábicos, isto é, em pares de sílabas não acentuadas às que seguem acentuadas:

(9) *
* * *
absolutamente

A diferença entre a intensidade dos acentos secundários e a do acento primário é


pequena nessa língua. A alternância acentuado/não-acentuado, isto é, a construção dos
pés, se sobrepõe até à acentuação lexical:
13

(10) * *
* * * * * *
cruel cruelmente huevón huevonada

Em línguas como alemão estamos perante a situação contrária. A realização fonética do


acento secundário é fraca e assim fica difícil percebê- lo:24

* *
(11a) Generalisierung (11b) fotografieren

Para a percepção, a construção de pés fica mais fraca nesse tipo de língua do que no
outro. Em geral, em línguas de ritmo-?, o acento primário predomina claramente sobre
os acentos secundários, em línguas de ritmo-s, a construção de pés através de acentos
secundários leva à maior saliência deles.

3.1.2 Vocalismo

Línguas de ritmo-? apresentam prototipicamente fortes reduções vocálicas nas sílabas


não acentuadas, o que não é o caso nas línguas de ritmo-s. De novo, essa diferença
separa línguas como alemão, holandês e inglês de línguas como espanhol e italiano, e
também, como é bem sabido, o PE do PB.

(12) al.: sehen ? [seùn]

3.1.3 Processos de Sandhi


Há línguas nas quais ocorrem determinados processos de sandhi25 em contatos de
segmentos no interior de uma palavra fonológica que não ocorrem na fronteira entre
palavras, como p.e. a sonorização de plosivas em inglês americano:

(13) motivation ? [m•WdivEJSn]

Trata-se de uma diferença nítida entre sandhis externos e sandhis internos. 26 Essa
diferença não existe em todas as línguas. Em espanhol moderno, p.e., só podemos
observar sandhis externos:27 não há nenhum processo de sandhi que seja exclusivo para
o interior da palavra fonológica.
14

3.2 Ritmo lingüístico e gestaltphonologie


Os três parâmetros são atribuídos aqui a uma conceituação do ritmo prosódico que toma
como base a gestaltphonologie. A gestaltphonologie, desenvolvida por Karl Bühler e
retomada re-centemente por Thomas Krefeld (1999) para descrever o vocalismo
italiano, se apoia na teoria geral de gestalten psicológicos, como base da percepção
humana. Trata-se de construções mentais que atribuem a identidade de um objeto da
percepção à relevância abstrativa de só uma parte da substância desse objeto. O traço
mais importante para a argumentação aqui desenvolvida é a ‘saliência’:

- Uma gestalt é saliente; ela se destaca nitidamente dos outros dados da


percepção. (Krefeld 1999, 133, nossa tradução)

O conceito de ritmo é inseparável da noção da repetição de uma entidade que é


percebida como idêntica. Na língua, essa unidade é uma das constituintes prosódicas
universais que estruturam o enunciado numa ordem hierarquicamente organizada:

Enunciado fonológico (U) U

Frase entoacional (I) I

Frase fonológica (f ) f

Grupo clítico (C) C

Palavra fonológica (ω) ?

Pé (Σ) S

Sílaba (σ) s

Nos dois tipos rítmicos discutidos aqui, selecionam-se constituintes distintos como
entidade repetida que é a base do ritmo, no caso, ? ou s. Esses respectivos constituintes
são o alvo de processos fonológicos que melhoram a saliência deles enquanto gestalt
fonológica, a saber, processos de sandhi, de acentuação rítmica e redução ou não-
redução de vogais.
15

Repitamos o conceito de ritmo esboçado até aqui:

• Base da estruturação rítmica: repetição de unidades idênticas para facilitar a


percepção do signo lingüístico (diferencie-se de processos prosódicos que carregam
informação prag- mática e/ou sintática).
• As línguas particulares optam por diferentes constituintes como bases do ritmo.
• Em línguas de ritmo-s, o ritmo se baseia na construção de pés como formação de
grupos de alternância do acento de intensidade nas sílabas: troqueus e iambos.
• Em línguas de ritmo-?, o ritmo se baseia na palavra fonológica que é repetido no
nível da frase fonológica f . 28
• Processos fonológicos tendem a melhorar a saliência do constituinte selecionado.

Assim, em línguas de ritmo-?, lenizações reduzem as diferenças em força consonântica


nos contatos no interior da palavra fonológica, mas não se aplicam os mesmos
processos nos limites dela, o que resulta na diferença entre sandhis internos e externos.
Para línguas de ritmo-s, tais limites não existem: os processos típicos dessas línguas são
epênteses e lenizações na coda silábica, tanto dentro da palavra quanto nos limites dela,
melhorando assim estruturas do tipo CV$CV$CV. Em línguas de ritmo-s prototípicas,
não há nenhuma evidência empírica da existência de um constituinte prosódico ? que
oriente os processos fonológicos de línguas com ritmo-? : a acentuação dessas linguas
marca o contraste de ? contra outras palavras fonológicas e não tolera acentos
secundários, ao contrário de línguas de tipo-s que agrupam as sílabas em pés através de
acentos secundários, ressaltando assim a saliência dessas sílabas na percepção. A
carência de acentos secundários coincide com a redução e elisão de vogais que não
recebem o acento da palavra, processo esse que também leva a estruturas silábicas
complexas que por sua vez marcam as fronteiras das palavras, tornando-as assim mais
salientes para a percepção. Em geral, as vogais como núcleos da estrutura silábica
tendem à sonoridade máxima em línguas-s .29
Não há línguas ‘consistentes’ entre as línguas históricas com respeito à tipologia
rítmica, sendo a motivação rítmica de mudança lingüística só uma entre outras que
podem bloquear, frear ou acelerar processos rítmicos. Em conseqüência, as propostas
avançadas aqui têm que se entender como prototípicas. 30
Vale aqui também a hierarquia semiótica proposta pela fonologia natural segundo a qual
regras morfológicas e morfonológicas predominam sobre processos fonológicos.31
16

Assim, processos fonológicos orientados para melhorar a saliência de um dos


constituintes prosódicos podem, p.e., elidir fonemas ou traços distintivos, mas não
morfemas, salvo o conteúdo desse morfema estiver presente numa outra parte do
conjunto discursivo, a saber, nos contextos de conhecimento e da situação dêitica.

3.3 PE como língua de ritmo-s e PB como língua de ritmo-?

3.3.1 Acentuação
Para o Português, a diferença apresentada acima separa também a acentuação das
variedades européia e brasileira. Em um estudo recente, Sónia Frota e Marina Vigário
(s.d.) mostraram empiricamente que falantes brasileiros percebem nas mesmas
sentenças o dobro dos acentos que falantes portugueses percebem. As autoras escrevem:

Estes resultados são indicadores de que as duas variedades do Português


organizam as suas proeminências em fala encadeada segundo diferentes
princípios: para o PB, (3) é o fator relevante, enquanto para o PE, (4) é o
fator relevante.
(3) Alternância de sílabas fortes e fracas: acentuação das sílabas pares à
esquerda do acento de palavra.
(4) Posições acentuáveis: i. início de I
ii. início de ? (Frota & Vigário, s.d., 5) 32

Esses resultados mostram nitidamente as diferenças entre os dois tipos: enquanto para o
PE se podem identificar somente posições regulares para acentos de palavra, em PB a
atribuição de acentos secundários é um processo fonológico produtivo que orienta a
percepção dos falantes. A pertinência de conceitos da gestaltphonologie se evidencia
pelo fato de que os padrões se sobrepõem também ao material acústico real: os
brasileiros perceberam os acentos secundários também quando as sentenças de teste
foram lidas por portugueses, assim como os portugueses não perceberam os acentos
secundários nas sentenças lidas pelos brasileiros. Trata-se nos dois casos de relevância
abstrativa que constrói os gestalten fonológicos relevantes para cada língua sobre a
cadeia sonora.

3.3.2 Vocalismo
A diferença entre o vocalismo do PE e PB consiste, como é bem sabido, nas vogais
reduzidas do PE em posições não-acentuadas, sobretudo pré-tônicas. Além disso, pode
17

se observar em PB o enfraquecimento da sensibilidade para quantidade, cf. a oposição


tem:têm e vem:vêm, à qual não corresponde mais uma diferença fonética. Essa perda do
traço da quantidade tem a mesma teleologia do processo que desfez a diferença fonética
entre combinações de preposições clíticas com palavras seguintes e as mesmas palavras
precedidas por outras palavras: os núcleos de todas as sílabas tendem à maior
sonoridade possível, tornando-os mais salientes.

(14) a) a + aquele: àque le


PE: aquele [ «keli ] homem vs. vou àquele [ akeli ] pais

PB: aquele [ akEli ] homem = vou àquele [ akEli ] pais


b) a + as: às
PE: as [ŒS ] mulheres vs. deu flores às ([aS]) mulheres

PB: as [as ] mulheres = deu flores às ([as]) mulheres

Esse último processo nos leva já à discussão do processo de cliticização nos dois tipos
rítmicos. Antes disso, gostaríamos de dar uma breve olhada a processos de Sandhi em
Português Antigo (PA).

3.3.3 Sandhi

Em português antigo aplicavam-se processos de sandhi no interior, mas não nos limites
de palavras fonológicas. Podemos exemplificar esses processos com a queda de -l- e -n-
intervocálicos:

(15) malam → má
malum → mau
lana → lã
coelum → céu

O mesmo processo levou às formas dos artigos e pronomes clíticos em PE,


evidenciando a integração dos clíticos na palavra fonológica ? :

(16) acha=lo → acha=o


namora=la → namora=a
faço=lo → faço=o
canta=lo → canta=o etc.
18

Tais processos não se aplicaram em fronteiras entre palavras, fato esse que evidencia a
saliência de ω em PA, assim como a integração dos clíticos nesse domínio sintático:

(17) Pedro caça lobisomens ? *caça=obisomens


Pedro detesta logomania ? * detesta=ogomania

Também na língua de ritmo-? PE, os clíticos se integram na palavra fonológica através


de processos de sandhi interno, como se pode observar nos seguintes exemplos:

(18) a) a amada [ aÈmadŒ ] e não *[ ŒŒÈmadŒ ]

b) dava-a [ Èdava ] e não *[ ÈdavŒ ] ou *[ ÈdavŒŒ ]

c) dava-o [ Èdav• ] e não *[ Èdavu ] ou *[ ÈdavŒu ]

3.4 Aférese ou apócope dos clíticos pronominais de terceira pessoa: dois


processos em função da saliência silábica
Os processos fonológicos elidem clíticos pronominais acusativos de terceira pessoa
(doravante, Clac3P) independendo de sua posição. Em posições pós- verbais, os Clac3P
encontram regularmente contextos fonológicos vocálicos, como nestes exemplos, de
Presente Singular, que seguramente são as mais freqüentes na fala:

(24) (a) pego-o (b) pega-a (c) vendo-o (d) vende-a

Nesses contextos, os clíticos seguem a sílabas abertas com cabeças consonânticas, isto
é, estruturas silábicas ótimas. No caso que o núcleo dessas sílabas for reduzido, a
combinação com um Clac3P dá o mesmo resultado como em PE moderno, conforme foi
exemplificado em (18). O ritmo-s do PB fortalece as vogais também em posições não-
acentuadas e, portanto, não pode haver mais uma oposição fonológica entre verbos com
e sem Clac3P, levando assim à reanálise de verbos terminados em vogais abertas como
verbos com uma categoria vazia. Se as vogais já foram pronunciadas abertas, a
combinação dos verbos com um Clac3P leva a duas vogais abertas não acentuáveis pela
alternância dos pés, das quais a segunda carece de cabeça silábica. Essa segunda vogal,
portanto, não mostra uma gestalt silábica saliente, faltando duas propriedades relevantes
para a percepção. Essa vogal é apocopada no processo de tornar as sílabas mais
salientes. O processo relevante, o mesmo que elide também a preposição a antes de
demonstrativos e artigos que começam com /a-/, 33 pode ser formalizado assim: 34
19

(25) V ? Ø / V_

Em posições pré-verbais, os Clac3P podem encontrar ou consoantes ou vogais no seu


contexto. No segundo caso, como p.e. em (disse que) Alexandre a achou, os processos
de elisão no PB são muito semelhantes aos descritos acima, resultando numa aférese
para a possibilidade de vogais abertas:

(26) V ? Ø / _V

No que diz respeito a verbos que começam com consoantes, as seqüências também não
são apoiadas por uma língua de ritmo-s. Confiram-se esses exemplos:

(27) (a) eu o pego (b) ele a pega (c) João o pega (d) Ana a vende

Nenhum desses contextos podia dar a base para resilabificações que podiam atribuir
uma cabeça silábica aos Clac3P, que ficam por isso inadequados para a estruturação
rítmica desse tipo: sílabas precisam ter as cabeças preenchidas para sua saliência na
percepção. O processo seria esse:

(28) V ? Ø / $_$

O processo representado em (28) compreende (25) e (26). Podemos considerá- lo como


um dos processos naturais de linguas-s que levam à construção de sílabas salientes.
Essa tese encontra apoio nos dados empíricos que confirmam que os últimos Clac3P a
serem realizados no PB falado são os alomorfes -lo e -la, 35 clíticos esses com cabeça
silábica preenchida e, por-tanto, sílabas salientes.
Podemos responsibilizar uma motivação parecida para a situação que encontramos na
variação interna do PB moderno: os Clac3P somente são elididos de discursos de
proximidade que possibilitam uma recuperação discursiva. Em discursos de distância,
com sua afinidade à escrita, o desenvolvimento temático mais denso e mais complexo
requer que se teça um encadeiamento fórico que identifique nítidamente os tópicos
envolvidos na estrutura informacional de cada oração, função essa que corresponde aos
Clac3P, estabelecendo concordância transfrástica entre antecedentes e posições
estruturais na oração em que os Clac3P ocorrem. Assim, também a aquisição dos
Clac3P no PB moderno acontece através da experiência com textos escritos na escola e
nos cursos de redação, separando assim o chamado “Português Culto” do “Português
Popular”: os falantes da última variedade carecem da experiência com a escrita e, por
20

isso, não dispõem da opção variacional entre objeto nulo e Clac3P, de dominio normal
de todos os falantes da “variedade culta”. 36
Por isso, a argumentação dupla aqui desenvolvida parece-nos evidente: processos
fonológicos elidem os Clac3P em discursos nos quais esses processos não são
bloqueados pela necessidade de tecer uma foricidade densa para a veiculação
transparente da estrutura informacional. Em todos os exemplos acima, os Clac3P nunca
representam sílabas salientes, dando passo à aférese e, assim, à reestruturação sintática
do sistema da ligação de categorias vazias, possibilitando a ligação delas pelo discurso e
à generalização de construções cujas estruturas são projetadas por estruturas adjacentes,
isto é, a reconstruções (cf. seção 4).

4. Reconstrução: A sintaxe do objeto nulo em PB


A partir dos anos 80, os argumentos nulos começaram a chamar a atenção dos
pesquisadores gerativistas. Primeiro, o parâmetro do sujeito nulo foi proposto para dar
conta do fato de que algumas línguas podem expressar o argumento externo e outras
não, e, logo em seguida, a possibilidade de ausência do argumento interno em algumas
línguas tornou-se também o foco de muitas pesquisas, iniciadas com Huang (1984) para
o chinês e Raposo (1986) para o Português Europeu. Wheeler (1981), Farrell (1990),
Galves (1987, 1989), Kato (1993), foram as primeiras análises para o Português
Brasileiro, todas argumentando que a categoria vazia seria um pronome nulo (ou seja,
do mesmo tipo que o sujeito nulo).
Contudo todas as propostas para o objeto nulo como sendo um pronome nulo não
apresentam consenso para os requisitos de identificação desse pronome (cujo
antecedente pode estar na sentença anterior, no discurso ou no contexto pragmático,
conforme vimos acima na seção 2), e ainda não estão de acordo quanto aos requisitos de
licenciamento sintático para essa categoria vazia (cf. Cyrino 2000).
Além disso, o Português Brasileiro não aceita sentenças como (27) abaixo, cuja
agramaticalidade não pode ser explicada se o objeto nulo é um pronome nulo:

(27) *Elei disse que Maria não beijou ___i .


Hei said that Maria didn't kiss ___ (himi)

Por esse motivo, Cyrino (1997), utilizando a teoria para elipses de Fiengo & May
(1994), propõe que, devido a fatores históricos que descreveremos abaixo, o objeto nulo
21

é um fenômeno de elipse em Forma Fonética e reconstrução em Forma Lógica, nos


moldes das elipses de sintagma verbal.
Essa proposta tenta resgatar a idéia avançada em Kato (1993) de que o objeto nulo em
Português Brasileiro é a contraparte nula do pronome neutro o, o primeiro pronome
clítico de terceira pessoa a desaparecer nessa língua. Como veremos abaixo, o objeto
nulo parece ter surgido a partir da queda desse pronome, em construções em que a
elipse também era permitida pela gramática.
Os resultados do estudo diacrônico em Cyrino (1997) mostram vários fatos acerca do
Português Brasileiro:
a) um decréscimo de posições preenchidas para o objeto direto - veja a tabela 1.
Século posições nulas posições TOTAL
preenchidas
n. % n. % n. %
XVI 31 11 259 89 290 100
XVII 37 13 256 87 293 100
XVIII 53 19 234 81 287 100
XIX 122 45 149 55 271 100
XX 193 79 51 21 244 100
Tabela 1. Distribuição de posições nulas vs. preenchidas, em Cyrino (1997).

b) o primeiro objeto nulo a aparecer é aquele cujo antecedente é proposicional, isto é, o


objeto que poderia ser realizado pela clítico neutro o:37

Século NP[+específico] NP[-específico] proposicional genérico


XVI 3 % (4/139) 9% (3/34) 23% (23/99) 50% (1/2)
XVII 4% (4/100) 18% 16/90) 21% (14/68) 33% (3/12)
XVIII 8% (9/120) 6% (2/33) 45% (41/90) 25% (1/4)
XIX 31%(38/121) 4% (1/24) 83% (81/98) 33% (1/3)
XX 67% (64/95) 86% (31/36) 91% (97/107) 0
Tabela 2. Objetos nulos de acordo com o tipo de antecedente, adaptado de
(Cyrino1997) - excluídos: elipse de VP e objeto nulo dêitico
22

c) há um aumento nas ocorrências dos objetos nulos com antecedentes que são NPs
[+específico, - animado] no século XIX, enquanto o aumento nos objetos nulo com
antececentes [-específico] acontece somente no século XX:

Século NP[+ spec, + ani] NP[+ spec, - ani] NP[- spec, + ani] NP[- spec, - ani]
XVI 1% (1/78) 5% (3/61) 3% (1/8) 8% (2/26)
XVII 7% (2/31) 3% (2/69) 4% (1/24) 23% (15/61)
XVIII 5% (1/21) 8% (8/99) 0 6% (2/32)
XIX 2% (1/46) 49% (37/75) 0 8% (1/12)
XX 0 87% (64/74) 57% (4/7) 93% (27/29)
Tabela 3. Objetos nulos de acordo com traços de especificidade e animacidade no
antecedente

d) Usar a elipse proposicional ou o clítico neutro o em seu lugar parece ter sido sempre
uma possibilidade, cf tabela 2. Assim, temos sentenças como (28) nos dados:38

(28a) Foi que D. Tibúrcio, com a pena de se ver cometido de três mulheres, como
vossa mercê __ sabe... (Antonio José, Guerras do Alecrim e da Manjerona, 1737)
(28b) Que é isto sobrinho? – Eu o não sei, em minha consciência. (Antonio José,
Guerras do Alecrim e da Manjerona, 1737)

Se essa era apenas uma opção, não esperaríamos mudança das ocorrências através do
tempo - é o que Cyrino (1992) encontra para o PE. Mas os dados do PB mostram que há
um aumento para a construção de elipse, cf. coluna proposicional na tabela 2. Isso
significa que no século XVI, tinha-se a opção de usar ou não o clítico neutro o, mas a
preferência era para o clítico (77% de clíticos nos dados). Mas no século XX, a situação
se inverteu, com a preferência para a elipse (9% of clíticos nos dados).
Podemos ver que a evidência positiva para a criança muda através do tempo: ela vai
ouvir mais e mais casos de elipse em uma estrutura na qual o clítico neutro também é
permitido pela gramática do adulto. Como vimos neste trabalho, uma mudança
fonológica pode ter conduzido a este passo na mudança (cf. Roberts, 1993).
A hipótese para a Reanálise Diacrônica é que a criança estendeu para a possibilidade de
elipse para a estrutura de outros pronomes cujo antecedentes também tinham os traços
[+ específico, - animado]. Em outras palavras, houve uma reanálise das estruturas com
outros clíticos de terceria pessoa - esses também passaram a permitir a elipse.
23

5. Integrando os fenômenos de mudança


Na seção 4, observamos a mudança ocorrida no PB em relação à queda de clíticos e
surgimento do objeto nulo – fenômeno descrito na seção 2.
Dentro da teoria gerativa, a mudança ocorre quando há fenômenos da gramática que
licenciam a ocorrência de novas formas. No caso da queda dos clíticos, vimos, na seção
3 que houve também uma mudança fonológica no PB. Essa mudança seria um
fenômeno da gramática da língua que estaria ocasionando a possibilidade de ocorrência
de objetos nulos a partir da queda dos clíticos.
Por outro lado, vimos na seção 1, que mudança, dentro da teoria gerativa, ocorre no
processo de aquisição da língua. É preciso olhar a evidência positiva à que as crianças
têm acesso no momento de fixar os parâmetros e definir a gramática de sua língua.
Da mesma forma, dentro da visão integrada em que realizamos este trabalho,
observamos que podemos propor que a va riedade padrão de uma língua pode se
transformar de acordo com as constelações mais recorrentes do conjunto discursivo na
história da língua.
No Brasil, sabemos do contato plurilíngüe que caracterizou sua realidade ao longo dos
séculos. Aqui, o português entrou e continua entrando em contato:

1. com línguas ameríndias de várias famílias (sobretudo vários subgrupos de Tupi,


Macro-Jê e Carib),
2. com várias línguas africanas (sendo provavelmente línguas da família Bantu o grupo
mais importante),
3. na história mais recente com Japonês, Árabe, Alemão, Ucraniano e várias outras,
4. com línguas da própria família românica, sobretudo com o Italiano e o Espanhol.

Todos os processos fonológicos descritos acima (cf. 3.3 e 3.4) que levaram à cara
sonora do PB atual são processos dissimilatórios. Na abordagem da fonologia natural,
processos dissimilatórios são identificados como processos otimizando a percepção:

Processes optimizing perception are called fortition or dissimilatory (≈


strengthening processes; (Dressler 1985, 44)

Em situações de contato, podemos supor que os processos fonológicos que são


favorecidos na seleção de opções na variação interna são precisamente processos
orientados para o melhoramento da percepção, levando à saliência silábica e à
24

demarcação dos fonemas. 39 A necessidade de tornar a forma fonética da palavra mais


transparente para facilitar a percepção em situações historicamente recorrentes de
comunicação entre falantes alófonos leva ao aumento da sonoridade dos núcleos
silábicos também em posições não-acentuadas, processo esse que também dá a base
para a ritmização da língua através do agrupamento das sílabas em pés, isto é, para um
ritmo-s.
Assim, nossa hipótese para explicar a mudança no PB em relação à queda dos clíticos e
surgimento do objeto nulo integra as abordagens delineadas acima. Devido a uma
mudança fonológica ocasionada pelo contato plurilíngüe que ocasionou uma mudança
no ritmo do PB, essa variedade do Português chegou a um ritmo-s que levou por sua
vez à aférese e/ou apócope dos pronomes clíticos de terceira pessoa em (sub-)variedades
de proximidade comunicativa nas quais a coerência do discurso e a identificação do
tópico se estabelece também por contextos situacionais e culturais, variedades essas que
em termos da discussão gerativa se podem chamar orientadas para o discurso.
A partir dessa mudança, como vimos na seção 4, há a possibilidade na gramática para o
surgimento do objeto nulo através da queda do clítico. A criança ouve e adquire um
ritmo específico para o PB que permite a queda do clítico de 3a. pessoa e estende para a
possibilidade de elipse para a estrutura de outros pronomes clíticos. Essa seria a
Reanálise Diacrônica mencionada acima.
No PB, essa mudança ocasionou outras alterações na gramática. Uma delas foi o
aumento na ocorrência do pronome lexical de 3a. pessoa (ele/ela) na posição de objeto,
como em:

(29) Minha namorada, que eu conheci ela faz pouco não significa que não conheço
ela o suficiente para casar com ela.

A partir de fenômenos como esses e como os mencionados na seção 3, muitos estudos


estão em andamento sobre o PB, investigando uma possível mudança paramétrica
relacionada à alteração no paradigma pronominal para as posições de objeto.

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1
Agradecemos as leituras críticas e sugestões de Wolf-Dieter Stempel e Wulf
Oesterreicher. Como sempre, erros e equivocações ficam de nossa responsabilidade.
2
Lightfoot (1991, 169-170) concede:„These environmental changes, on the other hand,
typically do not result from genetically determined acquisition process, whereby
something triggers some structural property with systematic effects. Rather, they are
induced by contact with other languages and dialects, or introduced for stylistic reasons,
some being novel forms that achieve stylistic effect through their novelty... This, of
course, is not to say that such changes are unimportant, or that they are entirely random.
They have the effect of changing triggering experiences for future generations, and this
may entail a new setting for some parameter. (...) At a later stage the forms originally
introduced as novelties may become „gramaticalized“ and have a general, predictable
and rule- governed distribution. This would reflect a parameter's having been set in such
a way that these forms are generated by the grammar“
30

3
Aqui, devemos considerar a fonologia, certamente não exterior à língua, mas sim
como um „fator externo“ à sintaxe, tendo em vista a classificação em Lightfoot (1991),
e também o quadro teórico minimalista.
4
Clark & Roberts (1992) mencionam o papel da fonologia na mudança diacrônica: a
mudança nos padrões fonológicos de uma língua é uma inovação, que modifica a
evidência positiva e se torna um estímulo inicial para uma mudança sintática. Galves &
Galves (1994) vão mais além, e apresentam uma explicação formal para o papel da
fonologia (no caso, a prosódia) na mudança diacrônica, através de um modelo
matemático-estatístico, que justifica a „escolha“ da criança dentro de uma visão
probabilística. Segundo sua hipótese, uma mudança na prosódia do português clássico é
responsável pela mudança sintática ocorrida, que resultou no português europeu.
5
Ao lado de semanticidade, alteridade, criatividade, exterioridade e discursividade (cf.
Coseriu 1974, para o estabelecimento da discursividade, cf. Oesterreicher 2001)
6
„El lenguaje es una actividad humana universal que se realiza individualmente, pero
siempre según técnicas históricamente determinadas [...] En el lenguaje se pueden, por
tanto, distinguir tres niveles: uno universal, otro histórico y otro individual [...]”.
Coseriu 1981: 69s.
7
Para uma discussão mais explícita desse conceito, cf. Reich 2002.
8
Embora não tenha nunca um enunciado puramente lingüístico. A distinção entre o
lingüístico e o não- lingüístico começa a ficar difícil no caso de pressuposições e
máximas de conversação.
9
Cf. Koch & Oesterreicher 1990.
10
Basta uma olhada rápida a corpora de língua falada como os do projeto NURC para
comprovar essa afirmação. Já no começo do século passado estabeleceu o vienês Karl
Bühler o conceito de fala emprática para tais enunciados, exemplificando-o com a
situação de um cliente numa cafeteria que só diz „um cafezinho“, deixando que o
contexto da situação de fala carregue as informações que se podiam integrar numa
oração completa como p.e. „Eu gostaria de tomar uma xícara de café“. Cf. Bühler 1934,
154-159.
11
É evidente que esse uso corresponde aos conceitos de Oesterreicher 2001 e não à
distinção entre Língua-I (interna), ou core grammar, e língua-E (externa). Uma
possível confusão levaria aqui ao emprego oposto desses termos.
31

12
O tupinambá, p.e., se caraterizava no seu sistema pronominal por uma diferenciação
muito alta nas suas possibilidades dêiticas, se for comparada com as línguas européias,
enquanto as possibilidades fóricas eram quase inexistentes, (cf. Rodrigues 1990), fato
esse que corresponde à comunicação em grupos de tribos pequenos em que a
recorrência à proximidade é evidente. Na fase de língua geral amazônica, em que essa
língua era o veículo de comunicação em todo o espaço amazônico, servindo para
contatos intertribais e entre portugueses caboclos e índios, o sistema pronominal perdeu
a diferenciação dêitica e desenvolveu pronomes fóricos (cf. Schmidt-Riese no prelo,
Reich no prelo). Para a tentativa de estabelecer uma metodologia dessa perspectiva cf.
Jucker 1995.
13
Para os conceitos de variação interna e externa, cf. Oesterreicher 2001.
14
No caso de (2), essa universalidade é restrita a culturas que jogam futebol.
15
Assim como em francês, em determinados tipos de discursos, também é possível a
realização sem a retomada pronominal.
16
Cf. Ross (1967) que formulou as restrições para movimento sintático em inglês.
Pontes (1987) mostra algumas das particularidades de topicalizações/deslocamentos em
PB que aqui retomamos.
17
Para o conceito de distância referencial cf. Givón 1990, 907: „Referential Distance
(RD): The number of clauses (or elapsed time) from the last occurrence in the preceding
discourse“.
18
Cf. Reich 2002.
19
Em textos muito formais (discursos de distância conforme os conceitos de Koch &
Oesterreicher 1990), como p.e. artigos científicos ou pregações, esse clítico se emprega
também no Brasil, sendo tradições discursivas vinculadas a tais tipos de enunciados o
fator que se tem que considerar. Reich (2002) discute esses fenômenos dentro da
conceituação de tradição discursiva proposta por Koch 1997, Oesterreicher 1997 e
Schlieben-Lange 1983.
20
Cf. p.e. Nespor 1993, 159, entre outros. Ao nosso ver, os problemas da verificação
empírica se devem a um conceito errado de ‚tempo‘ que confunde o tempo real da
percepção humana com o tempo cronológico, exterior à percepção humana. O tempo
humano que Edmund Husserl (1928) chamou de tempo vivido é guiado por entidades
significantes e está correlacionado com, mas não determinado pelo tempo cronológico,
como bem mostra o fato de músicas repetidas normalmente não serem executadas em
32

tempo cronológico idêntico, cf. p.e. Scherer 1990. Para abundantes evidências empíricas
da percepção de diferenças rítmicas já por recém- nascidos, cf. Ramus 1999.
21
Além desses dois tipos de ritmo foram propostos também um tipo de ritmo moraico
p.e. para o Japonês e está sendo discutido um tipo de ritmo no nível da frase fonológica
p.e. para o Francês, cf. Dufter (em preparação).
22
Para a síntese dos 13 parâmetros apresentados em Auer 1993 a esses três, cf. Reich
2002.
23
A acentuação rítmica se distingue da semiótica por não carregar nenhum conteúdo:
conteúdos, sejam eles semânticos, pragmáticos ou sintáticos, são veiculados por
acentuações semióticas e curvas entoacionais, além de recursos morfemáticos e
topológicos. Cf. p.e. Vennemann 1986, 56: „Die linguistische Rhythmusforschung ist
ein Zweig der allgemeinen Rhythmusforschung, die sich u.a mit der rhythmischen
Strukturierung der sprachlichen Verhaltens und Wahrnehmens befaßt. Die
Satzakzentlehre beschreibt die Setzung des Satzakzents im Rahmen der Syntax und
ihrer Bedeutungslehre (...). Die Satzakzente werden nicht nach rhythmischen
Erfordernissen gesetzt“.
24
Os fonólogos não concordam se em alemão existe um acento secundário em palavras
não derivadas. Numa publicação recente, Michael Jessen (1999, 518) resume a
discussão assim: „Empirical information on the existence and patterning of secundary
stress in underived words is insufficient so far. The German pronouncing dictionaries
(...) do not transcribe secondary stress in morphologically simple words. For example,
the 5-syllable word Enzyklopädie ‚encyclopedia‘ is only transcribed for the final main
stress, but not for any non-primary degrees of stress (...). Moulton (1962 (= The sounds
of English and German,Chicago: UCP; C&R): 125) claims that contrary to English this
transcribed nonexistence of secondary degrees of stress is in fact a reality in German
(...). Inconsistent with Moulton’s claim, acoustic measurements by the author (Jessen
1993b (= „Stress-conditions on vowel quality and quantity in German“, Working Papers
of the Cornell Phonetics Laboratory 8, 1-27; C&R)) show that there is a significant
difference in duration between long and short vowels that occur two syllables before
main stress (...), but not between those one syllable before main stress“. Apoiados nos
exemplos citados e no fato da discussão sobre a mera existência do acento secundário
em alemão, podemos afirmar pelo menos a relativa fraqueza fonética do acento
33

secundário nessa língua se comparada com a intensidade da realização fonética do


acento secundário em espanhol.
25
„(...) this liminal status of the word (‚sandhi‘; U.R.) is oddly appropriate to its
denotation – it refers to liminal phenomena: the junctures between segments, variation
and alternations at the boundaries of constituents, or – from anotherpoint of view – the
interfaces between phonetics and phonemics, and between phonology and mor-phology,
including such truly liminal phenomena as allophones with apparently distinctive
function, neutrali- zations with grammatical functions and so on“. Andersen 1986, 1.
26
Cf. os capítulos relevantes de Andersen 1986 e Auer 1993, 63-64.
27
Cf. p.e. Penny 1986.
28
Gostaríamos de ressaltar aqui que não estamos descrevendo os ritmos das duas
variedades exaustivamente, tarefa essa que precisaria de uma explicação dos processos
rítmicos acima de ?. Para a argumentação aqui empreendida podemos prescindir dessas
explicações, já que não influem, a nosso ver, nos processos fonológicos que levaram à
queda dos Clacc3P em PB. Os processos discutidos aqui formam as bases para os
respectivos ritmos. Para uma abordagem mais abrangente do ritmo lingüístico, cf.
Dufter (em preparação).
29
Gostaríamos de deixar claro que o conceito de ritmo-s aqui desenvolvido não
corresponde ao conceito de isocronia silábica conforme teorias mais tradicionais de
ritmo lingüístico. Para uma crítica mais profunda desse conceito, cf. Dufter (em
preparação).
30
Cf. a esse respeito também Auer 1993, 46.
31
„Words are primary signs, morphemes and M(orphological)R(ule)s secondary signs
(i.e. signs on words, analysable within the word), while phonemes and phonological
processes are tertiary signs (i.e. signs analysable within the morpheme). In
communication and cognition words have precedence over morphemes (and MRs),
which in turn have precedence over phonemes and phonological processes.“ Dressler
1984, 36. Compare também nossa distinção entre acentuação semiótica e rítmica, cf.
nota 41.
32
O estudo foi realizado em agosto de 1999 no âmbito do projeto „Padrões rítmicos,
fixação de parâmetros e mudança lingüística“, no IEL da Unicamp sob coordenação
geral de Bernadete Abaurre e Charlotte Galves.
33
Cf. exemplo (14).
34

34
Na língua-? PE, processos sincrônicos se aplicam nos mesmos encontros. Um
processo de assimilação muda a qualidade da vogal no fim do verbo: V[+schwa] oder
V[+alto] ? Ø / _V[+aberto]
35
Cf. Duarte 1989, 21-22.
36
Não queremos entrar aqui na discussão sobre variedades populares e cultas no PB,
mas parece-nos mais pertinente descrever a competência lingüística dos analfabetos e
semi-analfabetos brasileiros através da carência da aquisição de recursos do português
vinculados à escrita, posterior à aquisição da L1 no sentido da teoria gerativa, do que
através de uma catálogo de traços de uma „gramática própria“ que teria uma origem
histórica crioula.
37
Exemplos para os traços analisados (de Cyrino 1997):
NP [+específico]: Vou lá em cima buscar a “Vida Doméstica” para dona Maricota, que
ela me pediu Ø;
NP [-específico]: Está faltando um copo dos novos, Dona Lurdes. – Se está faltando, é
porque você quebrou Ø.
genérico: Esse remédio deixa Ø tonto.
38
Agradecemos o comentário de Wolf- Dieter Stempel indicando a correlação de tais
fenômenos com determinados grupos semânticos de verbos, cf. Quem foi o assasino? –
Eu não sei vs. Então o jardineiro foi o assasino? – Eu não disse *Ø / isso. Em francês
há uma diferença semântica entre enunciados como Corneille, je connais Ø vs.
Corneille, je le connais, sendo o referente do antecedente do objeto nulo a obra de
Corneille e o referente do antecedente do clítico a pessoa Corneille, cf. Stempel 1981.
39
Essa conceituação de contato lingüístico não corresponde às conceituações que
discutem transferências lexicais e estruturais (cf. Thomason & Kaufmann 1988; Van
Coetsem 1988), já que se trata da seleção de uma opção da variação interna
desencadeiada pelo contato língüístico.

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