Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
língua particular com a preocupação pela historicidade dos processos que levaram à
constelação determinada dessa língua.
... they are introduced by contact with other languages and dialects or
introduced for stylistic reasons, some being novel forms that achieve
stylistic effect purely through their novelty (Lightfoot, 1991:169).
Assim, certas mudanças podem ter como causa coadjuvante, fatores externos, por mudar
os dados a que a criança terá acesso.
A gramática gerativa estaria interessada nas causas internas da mudança, pois fatores
externos, fatores que atuam nas situações reais de uso da língua, deveriam ser
abstraídos. Porém, conforme aponta Ramos (1992), essa exigência de abstração do
social não é bem atendida quando se faz lingüística histórica, uma vez que dados são
provenientes de textos que expressam o uso da língua em determinadas épocas, e, por
razões óbvias, não podem ser submetidos a julgamentos de gramaticalidade. Além
disso, Ramos (1992, 7) afirma:
External factors set up the conditions for change yet do not follow from the
theory of grammar. But since the leaner knows only what he hears,
superficial characteristics may be misconstrued as grammatical properties.
[...] esses níveis com as suas configurações específicas de fatos têm uma
certa autonomia, isto é, eles não se podem reduzir um no outro. Na fala, eles
sempre estão vigentes simultaneamente. Entendem-se teoricamente como
uma determinação sucessiva da linguagem, que vai desde as determinações
mais gerais do falar, passando por determinantes do nível histórico, até o
discurso individual, atual e singular. (Oesterreicher 2001, 1558, nossa
tradução)
determina a frequência de estruturas sintáticas afins e assim leva aos primeiros passos
de uma mudança sintática.
Nesse quadro teórico integrado se explica o desenvolvimento do objeto nulo no
português brasileiro.
Como outros nulos, objetos nulos lingüísticos se definem negativamente, no caso, por
uma „carência“ na estrutura superficial da oração: objetos previstos na projeção
estrutural do verbo não são expressos no enunciado lingüístico.
Essa primeira definição abrange uma série de fenômenos bem diferentes, que se podem
situar numa escala que vai de mais universal até mais específico. Gostariamos de
começar nossa discussão além da fronteira da área fenomenal que o conceito abrange
para poder delimitá- lo melhor. Seguramente não podemos falar de objeto nulo em casos
como (1b), já que não poderiamos inserir nenhum objeto expresso:
Obviamente, verbos como comer obviamente têm empregos que recortam o paciente da
estrutura temática e, com isso, também o objeto interno da projeção estrutural.
Objetos nulos altamente universais ocorrem em empregos nos quais contextos de
conhecimento cultural identificam o referente da estrutura semântica que assim fica
prescindível no enunciado lin- güístico:
Para identificar o referente nesse caso, precisamos saber que o londrinense Giovane
Elber é um jogador de futebol e que nesse jogo o que se chuta é uma bola.
Essa identificação pragmática do referente também se pode efetuar apoiada em
contextos situ-acionais do enunciado:
As construções dos tipos (1) e (2) se podem considerar como universais. 14 (3a) e (3b)
também não constituem casos espectaculares para o lingüista, sendo absolutamente
10
Nesses casos, o Português Europeu (doravante PE) não difere muito do Português
Brasileiro (doravante PB), se bem que no PE, haja a possibilidade de retomar o objeto
deslocado por um pronome clítico:15
(6a) Minha namorada, que eu conheci Ø faz pouco não significa que não conheço Ø
o suficiente para casar com ela.
(6b) Minha namorada, que eu a conheci há pouco não significa que não a conheço o
suficiente para casar com ela.
11
(6c) Minha namorada, que eu conheci ela faz pouco não significa que não conheço
ela o suficiente para casar com ela.
(6a) é perfeitamente possível em PB, mas não se aceita em PE. Não se ouve (6b) no
Brasil, a não ser em contextos muito formais, mas é a forma vernácula do PE. Em PB
ainda há a possi-bilidade de (6c), agramatical em PE, mas preferida p.e. para
deslocamentos a partir de ilhas de estruturas coordenadas nas quais realizações de
objetos nulos não se aceitam:
(7a) Meu pai, eu dificilmente vejo ele e minha mãe sem que eles estejam olhando
um para o outro.
(7b) * Meu pai, eu dificilmente Ø vejo e minha mãe sem que eles estejam olhando
um para o outro.
objetos nulos ocorrem também com antecedentes anafóricos em outras sentenças, raízes
e complexas, independendo de troca ou manutenção do turno conversacional. Esses
antece-dentes podem estar numa distância referencial17 relativamente grande, como se
vê neste exemplo retirado de um corpus de vídeo:18
Ocorrencias como (8a) são possíveis unicamente no PB dentro das línguas românicas.
Essas evidências levam a postular a inexistência do pronome clítico o(s), a(s) no PB
vernáculo moderno. 19 Antes de discutir o estatuto sintático das construções com objeto
nulo em PB em uma perspectiva gerativa (seção 5), propomos na seção seguinte uma
teoria sobre a motivação prosódica da queda desses clíticos na história do PB.
(9) *
* * *
absolutamente
(10) * *
* * * * * *
cruel cruelmente huevón huevonada
* *
(11a) Generalisierung (11b) fotografieren
Para a percepção, a construção de pés fica mais fraca nesse tipo de língua do que no
outro. Em geral, em línguas de ritmo-?, o acento primário predomina claramente sobre
os acentos secundários, em línguas de ritmo-s, a construção de pés através de acentos
secundários leva à maior saliência deles.
3.1.2 Vocalismo
Trata-se de uma diferença nítida entre sandhis externos e sandhis internos. 26 Essa
diferença não existe em todas as línguas. Em espanhol moderno, p.e., só podemos
observar sandhis externos:27 não há nenhum processo de sandhi que seja exclusivo para
o interior da palavra fonológica.
14
Frase fonológica (f ) f
Pé (Σ) S
Sílaba (σ) s
Nos dois tipos rítmicos discutidos aqui, selecionam-se constituintes distintos como
entidade repetida que é a base do ritmo, no caso, ? ou s. Esses respectivos constituintes
são o alvo de processos fonológicos que melhoram a saliência deles enquanto gestalt
fonológica, a saber, processos de sandhi, de acentuação rítmica e redução ou não-
redução de vogais.
15
3.3.1 Acentuação
Para o Português, a diferença apresentada acima separa também a acentuação das
variedades européia e brasileira. Em um estudo recente, Sónia Frota e Marina Vigário
(s.d.) mostraram empiricamente que falantes brasileiros percebem nas mesmas
sentenças o dobro dos acentos que falantes portugueses percebem. As autoras escrevem:
Esses resultados mostram nitidamente as diferenças entre os dois tipos: enquanto para o
PE se podem identificar somente posições regulares para acentos de palavra, em PB a
atribuição de acentos secundários é um processo fonológico produtivo que orienta a
percepção dos falantes. A pertinência de conceitos da gestaltphonologie se evidencia
pelo fato de que os padrões se sobrepõem também ao material acústico real: os
brasileiros perceberam os acentos secundários também quando as sentenças de teste
foram lidas por portugueses, assim como os portugueses não perceberam os acentos
secundários nas sentenças lidas pelos brasileiros. Trata-se nos dois casos de relevância
abstrativa que constrói os gestalten fonológicos relevantes para cada língua sobre a
cadeia sonora.
3.3.2 Vocalismo
A diferença entre o vocalismo do PE e PB consiste, como é bem sabido, nas vogais
reduzidas do PE em posições não-acentuadas, sobretudo pré-tônicas. Além disso, pode
17
Esse último processo nos leva já à discussão do processo de cliticização nos dois tipos
rítmicos. Antes disso, gostaríamos de dar uma breve olhada a processos de Sandhi em
Português Antigo (PA).
3.3.3 Sandhi
Em português antigo aplicavam-se processos de sandhi no interior, mas não nos limites
de palavras fonológicas. Podemos exemplificar esses processos com a queda de -l- e -n-
intervocálicos:
(15) malam → má
malum → mau
lana → lã
coelum → céu
Tais processos não se aplicaram em fronteiras entre palavras, fato esse que evidencia a
saliência de ω em PA, assim como a integração dos clíticos nesse domínio sintático:
Nesses contextos, os clíticos seguem a sílabas abertas com cabeças consonânticas, isto
é, estruturas silábicas ótimas. No caso que o núcleo dessas sílabas for reduzido, a
combinação com um Clac3P dá o mesmo resultado como em PE moderno, conforme foi
exemplificado em (18). O ritmo-s do PB fortalece as vogais também em posições não-
acentuadas e, portanto, não pode haver mais uma oposição fonológica entre verbos com
e sem Clac3P, levando assim à reanálise de verbos terminados em vogais abertas como
verbos com uma categoria vazia. Se as vogais já foram pronunciadas abertas, a
combinação dos verbos com um Clac3P leva a duas vogais abertas não acentuáveis pela
alternância dos pés, das quais a segunda carece de cabeça silábica. Essa segunda vogal,
portanto, não mostra uma gestalt silábica saliente, faltando duas propriedades relevantes
para a percepção. Essa vogal é apocopada no processo de tornar as sílabas mais
salientes. O processo relevante, o mesmo que elide também a preposição a antes de
demonstrativos e artigos que começam com /a-/, 33 pode ser formalizado assim: 34
19
(25) V ? Ø / V_
(26) V ? Ø / _V
No que diz respeito a verbos que começam com consoantes, as seqüências também não
são apoiadas por uma língua de ritmo-s. Confiram-se esses exemplos:
(27) (a) eu o pego (b) ele a pega (c) João o pega (d) Ana a vende
Nenhum desses contextos podia dar a base para resilabificações que podiam atribuir
uma cabeça silábica aos Clac3P, que ficam por isso inadequados para a estruturação
rítmica desse tipo: sílabas precisam ter as cabeças preenchidas para sua saliência na
percepção. O processo seria esse:
(28) V ? Ø / $_$
isso, não dispõem da opção variacional entre objeto nulo e Clac3P, de dominio normal
de todos os falantes da “variedade culta”. 36
Por isso, a argumentação dupla aqui desenvolvida parece-nos evidente: processos
fonológicos elidem os Clac3P em discursos nos quais esses processos não são
bloqueados pela necessidade de tecer uma foricidade densa para a veiculação
transparente da estrutura informacional. Em todos os exemplos acima, os Clac3P nunca
representam sílabas salientes, dando passo à aférese e, assim, à reestruturação sintática
do sistema da ligação de categorias vazias, possibilitando a ligação delas pelo discurso e
à generalização de construções cujas estruturas são projetadas por estruturas adjacentes,
isto é, a reconstruções (cf. seção 4).
Por esse motivo, Cyrino (1997), utilizando a teoria para elipses de Fiengo & May
(1994), propõe que, devido a fatores históricos que descreveremos abaixo, o objeto nulo
21
c) há um aumento nas ocorrências dos objetos nulos com antecedentes que são NPs
[+específico, - animado] no século XIX, enquanto o aumento nos objetos nulo com
antececentes [-específico] acontece somente no século XX:
Século NP[+ spec, + ani] NP[+ spec, - ani] NP[- spec, + ani] NP[- spec, - ani]
XVI 1% (1/78) 5% (3/61) 3% (1/8) 8% (2/26)
XVII 7% (2/31) 3% (2/69) 4% (1/24) 23% (15/61)
XVIII 5% (1/21) 8% (8/99) 0 6% (2/32)
XIX 2% (1/46) 49% (37/75) 0 8% (1/12)
XX 0 87% (64/74) 57% (4/7) 93% (27/29)
Tabela 3. Objetos nulos de acordo com traços de especificidade e animacidade no
antecedente
d) Usar a elipse proposicional ou o clítico neutro o em seu lugar parece ter sido sempre
uma possibilidade, cf tabela 2. Assim, temos sentenças como (28) nos dados:38
(28a) Foi que D. Tibúrcio, com a pena de se ver cometido de três mulheres, como
vossa mercê __ sabe... (Antonio José, Guerras do Alecrim e da Manjerona, 1737)
(28b) Que é isto sobrinho? – Eu o não sei, em minha consciência. (Antonio José,
Guerras do Alecrim e da Manjerona, 1737)
Se essa era apenas uma opção, não esperaríamos mudança das ocorrências através do
tempo - é o que Cyrino (1992) encontra para o PE. Mas os dados do PB mostram que há
um aumento para a construção de elipse, cf. coluna proposicional na tabela 2. Isso
significa que no século XVI, tinha-se a opção de usar ou não o clítico neutro o, mas a
preferência era para o clítico (77% de clíticos nos dados). Mas no século XX, a situação
se inverteu, com a preferência para a elipse (9% of clíticos nos dados).
Podemos ver que a evidência positiva para a criança muda através do tempo: ela vai
ouvir mais e mais casos de elipse em uma estrutura na qual o clítico neutro também é
permitido pela gramática do adulto. Como vimos neste trabalho, uma mudança
fonológica pode ter conduzido a este passo na mudança (cf. Roberts, 1993).
A hipótese para a Reanálise Diacrônica é que a criança estendeu para a possibilidade de
elipse para a estrutura de outros pronomes cujo antecedentes também tinham os traços
[+ específico, - animado]. Em outras palavras, houve uma reanálise das estruturas com
outros clíticos de terceria pessoa - esses também passaram a permitir a elipse.
23
Todos os processos fonológicos descritos acima (cf. 3.3 e 3.4) que levaram à cara
sonora do PB atual são processos dissimilatórios. Na abordagem da fonologia natural,
processos dissimilatórios são identificados como processos otimizando a percepção:
(29) Minha namorada, que eu conheci ela faz pouco não significa que não conheço
ela o suficiente para casar com ela.
Bibliografia
Adams, Marianne (1987): Old French, Null Subjects and Verb Second Phenomena,
tese de doutorado, UCLA.
Andersen, Henning (1986): „Introduction: Sandhi“, in: Andersen (ed.), 1-8.
25
Jessen, Michael (1999): „German“ in: Hulst, Harry van der (Hrsg.)(1999) Word
Prosodic Systems in the Languages of Europe, Berlin, New York: de Gruyter,
515-545.
Jucker, Andreas H. (ed.) (1995): Historical pragmatics. Pragmatic developments in
the history of English, Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins.
Kato, Mary (1993): „The distribution of pronouns and null elements in object position
in brazilian portuguese“, Ashby, William J. & Mithun, Marianne & Perissinoto,
Georgio & Raposo, Eduardo (eds.) (1993): Linguistic perspectives on the
romance languages. Selected papers from the 21st linguistic symposium on
romance languages (LSRL XXI) Santa Barbara, California, 21 - 24 February
1991, Amsterdam: John Benjamins, 225-235.
Koch, Peter & Oesterreicher, Wulf (1990): Gesprochene Sprache in der Romania:
Französisch, Italienisch, Spanisch, Tübingen: Niemeyer.
Koch, Peter & Oesterreicher, Wulf (2001): „Gesprochene Sprache und geschriebene
Sprache/Langage écrit e langage parlé“, Lexikon Romanistischer Linguistik, Vol
1, 584-627.
Koch, Peter (1997): „Diskurstraditionen: zu ihrem sprachtheoretischen Status und
ihrer Dynamik”, in: Frank & Haye & Tophinke (eds.), 43-79.
Krefeld, Thomas (1999) Wortgestalt und Vokalsystem in der Italoromania: Plädoyer
für eine gestaltphonologische Rekonstruktion des romanischen Vokalismus,
Kiel: Westensee.
Krefeld, Thomas (2001) „Phonologische Prozesse“, in: Haspelmath et al. (eds.), 1336-
1347.
Lightfoot, David (1979): Prinnciples of Diachronic Syntax, Cambridge: CUP.
Lightfoot, David (1991): How to set Parameters: Arguments from Language Change,
Cambridge: MIT Press.
Nespor, Marina (1993): Fonologia, Bologna: Mulino.
Oesterreicher, Wulf (1997): „Zur Fundierung von Diskurstraditionen“, in: Frank &
Haye & Tophinke (eds.), 19-41.
Oesterreicher, Wulf (2001): „Historizität: Sprachvariation, Sprachverschiedenheit,
Sprachwandel“, in: Haspelmath, Martin et al. (eds.), 1554-1595.
Penny, Ralph (1986): „Sandhi phenomena in Castilian and related dialects“, in:
Andersen (ed.), 489-504.
28
Stempel, Wolf-Dieter (1981): „’L’amour, elle appelle ça, ‘l’amour tu ne connais pas’”,
in : Geckeler, Horst et alii (eds.) : Logos Semantikos. Studia Linguistica in
Honorem Eugenio Coseriu 1921-1981, Berlin, New York, Madrid: de Gruyter,
Gredos, 351-367.
Tarallo, Fernando & Kato, Mary (1989): „Harmonia trans-sistêmica: variação intra- e
inter- lingüística“, Preedição 5, 1-41.
Thomason, Sarah & Kaufman, Terrence (1988): Language contact, creolization and
genetic linguistics, Berkeley: University of California Press.
Van Coetsem, Frans (1988): Loan phonology and the two transfer types in language
contact, Dordrecht: Foris.
Vennemann, Theo (1986): Neuere Entwicklungen in der Phonologie, Berlin, New
York, Amsterdam: de Gruyter.
Vigário, Marina (1999): „On the Prosodic Status of Stressless Function Words in
European Pportuguese“, Kleinhenz, Ursula & Hall, T. Alan (eds.): Studies on the
Phonological Word, Amsterdam: John Benjamins, 255-295.
Wheeler, Dana (1981): „Object Deletion in Portuguese”, in: Cressey, William W.
(ed.): Linguistic Symposium on Romance Languages (LSRL) XXI, 207-220.
1
Agradecemos as leituras críticas e sugestões de Wolf-Dieter Stempel e Wulf
Oesterreicher. Como sempre, erros e equivocações ficam de nossa responsabilidade.
2
Lightfoot (1991, 169-170) concede:„These environmental changes, on the other hand,
typically do not result from genetically determined acquisition process, whereby
something triggers some structural property with systematic effects. Rather, they are
induced by contact with other languages and dialects, or introduced for stylistic reasons,
some being novel forms that achieve stylistic effect through their novelty... This, of
course, is not to say that such changes are unimportant, or that they are entirely random.
They have the effect of changing triggering experiences for future generations, and this
may entail a new setting for some parameter. (...) At a later stage the forms originally
introduced as novelties may become „gramaticalized“ and have a general, predictable
and rule- governed distribution. This would reflect a parameter's having been set in such
a way that these forms are generated by the grammar“
30
3
Aqui, devemos considerar a fonologia, certamente não exterior à língua, mas sim
como um „fator externo“ à sintaxe, tendo em vista a classificação em Lightfoot (1991),
e também o quadro teórico minimalista.
4
Clark & Roberts (1992) mencionam o papel da fonologia na mudança diacrônica: a
mudança nos padrões fonológicos de uma língua é uma inovação, que modifica a
evidência positiva e se torna um estímulo inicial para uma mudança sintática. Galves &
Galves (1994) vão mais além, e apresentam uma explicação formal para o papel da
fonologia (no caso, a prosódia) na mudança diacrônica, através de um modelo
matemático-estatístico, que justifica a „escolha“ da criança dentro de uma visão
probabilística. Segundo sua hipótese, uma mudança na prosódia do português clássico é
responsável pela mudança sintática ocorrida, que resultou no português europeu.
5
Ao lado de semanticidade, alteridade, criatividade, exterioridade e discursividade (cf.
Coseriu 1974, para o estabelecimento da discursividade, cf. Oesterreicher 2001)
6
„El lenguaje es una actividad humana universal que se realiza individualmente, pero
siempre según técnicas históricamente determinadas [...] En el lenguaje se pueden, por
tanto, distinguir tres niveles: uno universal, otro histórico y otro individual [...]”.
Coseriu 1981: 69s.
7
Para uma discussão mais explícita desse conceito, cf. Reich 2002.
8
Embora não tenha nunca um enunciado puramente lingüístico. A distinção entre o
lingüístico e o não- lingüístico começa a ficar difícil no caso de pressuposições e
máximas de conversação.
9
Cf. Koch & Oesterreicher 1990.
10
Basta uma olhada rápida a corpora de língua falada como os do projeto NURC para
comprovar essa afirmação. Já no começo do século passado estabeleceu o vienês Karl
Bühler o conceito de fala emprática para tais enunciados, exemplificando-o com a
situação de um cliente numa cafeteria que só diz „um cafezinho“, deixando que o
contexto da situação de fala carregue as informações que se podiam integrar numa
oração completa como p.e. „Eu gostaria de tomar uma xícara de café“. Cf. Bühler 1934,
154-159.
11
É evidente que esse uso corresponde aos conceitos de Oesterreicher 2001 e não à
distinção entre Língua-I (interna), ou core grammar, e língua-E (externa). Uma
possível confusão levaria aqui ao emprego oposto desses termos.
31
12
O tupinambá, p.e., se caraterizava no seu sistema pronominal por uma diferenciação
muito alta nas suas possibilidades dêiticas, se for comparada com as línguas européias,
enquanto as possibilidades fóricas eram quase inexistentes, (cf. Rodrigues 1990), fato
esse que corresponde à comunicação em grupos de tribos pequenos em que a
recorrência à proximidade é evidente. Na fase de língua geral amazônica, em que essa
língua era o veículo de comunicação em todo o espaço amazônico, servindo para
contatos intertribais e entre portugueses caboclos e índios, o sistema pronominal perdeu
a diferenciação dêitica e desenvolveu pronomes fóricos (cf. Schmidt-Riese no prelo,
Reich no prelo). Para a tentativa de estabelecer uma metodologia dessa perspectiva cf.
Jucker 1995.
13
Para os conceitos de variação interna e externa, cf. Oesterreicher 2001.
14
No caso de (2), essa universalidade é restrita a culturas que jogam futebol.
15
Assim como em francês, em determinados tipos de discursos, também é possível a
realização sem a retomada pronominal.
16
Cf. Ross (1967) que formulou as restrições para movimento sintático em inglês.
Pontes (1987) mostra algumas das particularidades de topicalizações/deslocamentos em
PB que aqui retomamos.
17
Para o conceito de distância referencial cf. Givón 1990, 907: „Referential Distance
(RD): The number of clauses (or elapsed time) from the last occurrence in the preceding
discourse“.
18
Cf. Reich 2002.
19
Em textos muito formais (discursos de distância conforme os conceitos de Koch &
Oesterreicher 1990), como p.e. artigos científicos ou pregações, esse clítico se emprega
também no Brasil, sendo tradições discursivas vinculadas a tais tipos de enunciados o
fator que se tem que considerar. Reich (2002) discute esses fenômenos dentro da
conceituação de tradição discursiva proposta por Koch 1997, Oesterreicher 1997 e
Schlieben-Lange 1983.
20
Cf. p.e. Nespor 1993, 159, entre outros. Ao nosso ver, os problemas da verificação
empírica se devem a um conceito errado de ‚tempo‘ que confunde o tempo real da
percepção humana com o tempo cronológico, exterior à percepção humana. O tempo
humano que Edmund Husserl (1928) chamou de tempo vivido é guiado por entidades
significantes e está correlacionado com, mas não determinado pelo tempo cronológico,
como bem mostra o fato de músicas repetidas normalmente não serem executadas em
32
tempo cronológico idêntico, cf. p.e. Scherer 1990. Para abundantes evidências empíricas
da percepção de diferenças rítmicas já por recém- nascidos, cf. Ramus 1999.
21
Além desses dois tipos de ritmo foram propostos também um tipo de ritmo moraico
p.e. para o Japonês e está sendo discutido um tipo de ritmo no nível da frase fonológica
p.e. para o Francês, cf. Dufter (em preparação).
22
Para a síntese dos 13 parâmetros apresentados em Auer 1993 a esses três, cf. Reich
2002.
23
A acentuação rítmica se distingue da semiótica por não carregar nenhum conteúdo:
conteúdos, sejam eles semânticos, pragmáticos ou sintáticos, são veiculados por
acentuações semióticas e curvas entoacionais, além de recursos morfemáticos e
topológicos. Cf. p.e. Vennemann 1986, 56: „Die linguistische Rhythmusforschung ist
ein Zweig der allgemeinen Rhythmusforschung, die sich u.a mit der rhythmischen
Strukturierung der sprachlichen Verhaltens und Wahrnehmens befaßt. Die
Satzakzentlehre beschreibt die Setzung des Satzakzents im Rahmen der Syntax und
ihrer Bedeutungslehre (...). Die Satzakzente werden nicht nach rhythmischen
Erfordernissen gesetzt“.
24
Os fonólogos não concordam se em alemão existe um acento secundário em palavras
não derivadas. Numa publicação recente, Michael Jessen (1999, 518) resume a
discussão assim: „Empirical information on the existence and patterning of secundary
stress in underived words is insufficient so far. The German pronouncing dictionaries
(...) do not transcribe secondary stress in morphologically simple words. For example,
the 5-syllable word Enzyklopädie ‚encyclopedia‘ is only transcribed for the final main
stress, but not for any non-primary degrees of stress (...). Moulton (1962 (= The sounds
of English and German,Chicago: UCP; C&R): 125) claims that contrary to English this
transcribed nonexistence of secondary degrees of stress is in fact a reality in German
(...). Inconsistent with Moulton’s claim, acoustic measurements by the author (Jessen
1993b (= „Stress-conditions on vowel quality and quantity in German“, Working Papers
of the Cornell Phonetics Laboratory 8, 1-27; C&R)) show that there is a significant
difference in duration between long and short vowels that occur two syllables before
main stress (...), but not between those one syllable before main stress“. Apoiados nos
exemplos citados e no fato da discussão sobre a mera existência do acento secundário
em alemão, podemos afirmar pelo menos a relativa fraqueza fonética do acento
33
34
Na língua-? PE, processos sincrônicos se aplicam nos mesmos encontros. Um
processo de assimilação muda a qualidade da vogal no fim do verbo: V[+schwa] oder
V[+alto] ? Ø / _V[+aberto]
35
Cf. Duarte 1989, 21-22.
36
Não queremos entrar aqui na discussão sobre variedades populares e cultas no PB,
mas parece-nos mais pertinente descrever a competência lingüística dos analfabetos e
semi-analfabetos brasileiros através da carência da aquisição de recursos do português
vinculados à escrita, posterior à aquisição da L1 no sentido da teoria gerativa, do que
através de uma catálogo de traços de uma „gramática própria“ que teria uma origem
histórica crioula.
37
Exemplos para os traços analisados (de Cyrino 1997):
NP [+específico]: Vou lá em cima buscar a “Vida Doméstica” para dona Maricota, que
ela me pediu Ø;
NP [-específico]: Está faltando um copo dos novos, Dona Lurdes. – Se está faltando, é
porque você quebrou Ø.
genérico: Esse remédio deixa Ø tonto.
38
Agradecemos o comentário de Wolf- Dieter Stempel indicando a correlação de tais
fenômenos com determinados grupos semânticos de verbos, cf. Quem foi o assasino? –
Eu não sei vs. Então o jardineiro foi o assasino? – Eu não disse *Ø / isso. Em francês
há uma diferença semântica entre enunciados como Corneille, je connais Ø vs.
Corneille, je le connais, sendo o referente do antecedente do objeto nulo a obra de
Corneille e o referente do antecedente do clítico a pessoa Corneille, cf. Stempel 1981.
39
Essa conceituação de contato lingüístico não corresponde às conceituações que
discutem transferências lexicais e estruturais (cf. Thomason & Kaufmann 1988; Van
Coetsem 1988), já que se trata da seleção de uma opção da variação interna
desencadeiada pelo contato língüístico.