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ESTRATÉGIA OAB

Direito Penal - Prof. Cristiano Rodrigues

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Sumário

1 - Considerações Iniciais ................................................................................................................................... 3

2 - Concurso de Pessoas ..................................................................................................................................... 3

2.1 - Definição ................................................................................................................................................ 3

2.2 - Autoria.................................................................................................................................................... 4

2.2.1 - Espécies de autoria.......................................................................................................................... 5

2.3 - Coautoria ................................................................................................................................................ 6

2.4 - Autoria Colateral .................................................................................................................................... 6

2.5 - Participação ............................................................................................................................................ 7

2.5.1 - Formas de participação ................................................................................................................... 8

3 - Concurso de Crimes .................................................................................................................................... 15

3.1 - Definição .............................................................................................................................................. 15

3.2 - Espécies de Concurso de Crimes .......................................................................................................... 16

3.3 - Conflito aparente de normas ............................................................................................................... 20

3.3.1 - Regras para solução do conflito aparente de normas .................................................................. 20

3.3.1.1 - Regra da Especialidade............................................................................................................... 21

3.3.1.2 - Regra da Subsidiariedade ........................................................................................................... 21

3.3.1.3 - Regra da Consunção ................................................................................................................... 21

3.3.1.4 - Regra da Alternatividade ............................................................................................................ 22

3.4 - Concepção das infrações penais .......................................................................................................... 22

3.4.1 - Concepção Bipartida ..................................................................................................................... 22

3.4.2 - Concepção Tripartida .................................................................................................................... 23

4 - Considerações Finais ................................................................................................................................... 31

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1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Galera, vamos agora entrar num dos temas mais importantes, e abrangentes, do Direito Penal, o concurso
de pessoas e seus institutos correlatos!!!

Este tema é muito importante e muito cobrado no exame da OAB, bem como em todos os tipos de concurso
público, já que estabelece as formas de realização dos crimes, através das espécies de autoria, bem como
determina as hipóteses de realização conjunta das infrações penais, definindo os conhecidos conceitos de
coautoria e participação, e suas consequências práticas.

Por isso, precisamos analisar com muito cuidado todas as hipóteses de autoria, coautoria e participação,
adotadas em nosso ordenamento, bem como suas consequências práticas, muito abordadas nas questões
de prova!

2 - CONCURSO DE PESSOAS
Amigos, este assunto pode ser considerado como um tema “independente”, já que não faz parte nem da
teoria do crime nem da teoria da pena e, além disso, seu estudo teórico é de grande importância pra nossa
prova, já que temos muito pouca informação, e previsão, a respeito do concurso de pessoas no Código Penal,
que apenas trabalha especificamente com este complexo tema no artigo 29, e complementa o tema nos
artigos 30 e 31 da Lei penal.

Então, vamos dar início ao interessante estudo da autoria, coautoria e da participação, que sem dúvida será
muito útil para nós na hora de analisarmos questões concretas, e até mesmo teóricas, na nossa prova.

2.1 - Definição

Vamos começar nosso estudo com uma definição objetiva a respeito do tema Concurso de Pessoas,
entendendo que ele ocorre quando dois ou mais agentes, em acordo de vontades, ou seja, com liame
subjetivo, concorrem para a prática de determinado crime, sendo que, o concurso de pessoas pode se dar
na forma de coautoria ou participação.

De acordo com o art. 29 do CP, nosso ordenamento adotou a teoria monista temperada, pela qual autor,
coautor e partícipe respondem pelo mesmo crime, embora cada um tenha sua pena individualizada e
calculada separadamente, respondendo, portanto, na medida de sua culpabilidade.

Não podemos esquecer que há algumas exceções à teoria monista previstas na parte especial do nosso
Código Penal, em que se possibilita que coautores respondam por crimes diferentes, por exemplo, no crime
de aborto, em que a mãe realiza o aborto em si mesma ou autoriza que outrem realize o aborto nela:

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Nesta hipótese, enquanto a mãe responderá pelo crime de autoaborto (art. 124 do CP), seu coautor, aquele
que realizar a conduta de aborto, não responderá pelo mesmo crime, mas sim pelo crime de aborto com
consentimento da gestante (art. 126 do CP).

Amigos, é importante lembrar ainda que, de acordo com o art. 30 CP, tanto na coautoria quanto na
participação, é possível se imputar um crime próprio a um participante que não possua as características
específicas exigidas pelo tipo, já que estas características, embora sejam circunstâncias de caráter pessoal,
são consideradas como elementares do crime e, por isso, comunicam-se a todos, desde que sejam do
conhecimento do coautor ou partícipe do fato.

Vamos passar agora para o estudo da autoria e suas espécies, o que será fundamental para entendermos as
formas der concurso de pessoas, bem como para diferenciarmos a coautoria da participação.

2.2 - Autoria

Para começarmos a entender o tema autoria precisamos saber que há duas principais teorias para definir o
conceito de autor nos crimes dolosos:

a) Teoria restritiva: autor é aquele que realiza o verbo núcleo do tipo penal; logo, todo aquele que colaborar
com a prática do crime de qualquer outra forma será reconhecido como mero partícipe.

b) Teoria do domínio do fato: autor é aquele que possui o domínio final sobre os fatos, ou seja, que possui
as “rédeas da situação”, podendo modificar ou mesmo impedir a ocorrência do resultado,
independentemente da realização ou não do verbo núcleo do tipo penal (STF – posição majoritária).

Logo, para esta teoria, partícipe será todo aquele que colaborar com o fato principal do autor, porém de
forma acessória e não essencial, sem domínio sobre os fatos.

Obs.: Nos crimes culposos, para delimitação da autoria, adota-se, majoritariamente, a teoria extensiva, pela
qual, todo aquele que, de qualquer forma, colaborar para o resultado através de sua falta de cuidado será
considerado autor do fato.

Assim...

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partícipe será todo aquele que colaborar


TEORIA RESTRITIVA com a prática do crime de qualquer outra
forma

participe será todo aquele que colaborar


TEORIA DO DOMÍNIO com o fato principal do autor, porém de
DO FATO forma acessória e não essencial, sem domínio
sobre os fatos

2.2.1 - Espécies de autoria

Vamos passar para o estudo das diversas formas de autoria adotadas em nosso ordenamento, sendo que,
todas elas irão seguir a teoria do domínio do fato que, como dissemos, é adotada majoritariamente pela
nossa doutrina e jurisprudência.

a) Autoria direta: ocorre quando o agente está diretamente vinculado à realização do crime, agindo com
domínio do fato, podendo se dar na forma do autor-executor (que realiza o verbo), ou do autor intelectual
que planeja, elabora etc. (ex.: mandante) a prática do crime, que será realizado por um autor executor
(coautoria).

b) Autoria mediata ou indireta: é aquela em que determinado agente que possui o domínio do fato se utiliza
de um terceiro, que não possui domínio dos fatos, para realizar a conduta.

Nesse caso, responde pelo crime apenas o autor que está “por de trás’’, comandando a situação (autor
mediato).

Nesta hipótese, aquele que executa o verbo núcleo do tipo não responde pelo fato e não será sequer visto
como autor, já que não possui domínio final do fato.

Exemplos: coação moral irresistível; obediência hierárquica (art. 22 do CP); erro determinado por terceiro
(artigo 20, § 2º, do CP – responde pelo crime apenas o terceiro que determinou o erro); uso de inimputável
para cometimento do crime.

Para a prova vamos guardar o seguinte esquema...

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AUTORIA DIRETA AUTORIA MEDIATA OU INDIRETA

ocorre quando o agente está diretamente responde pelo crime apenas o autor que está
vinculado à realização do crime comandando a situação

Exemplos: coação moral irresistível;


obediência hierárquica; erro determinado
Exemplo: mandante
por terceiro; uso de inimputável para
cometimento do crime.

2.3 - Coautoria

Galera, para que possamos compreender corretamente a coautoria precisamos saber que se trata apenas
de uma autoria conjunta, comum, em que cada um dos agentes, tendo domínio do fato, concorre para a
prática do crime, desde que interligados por um acordo de vontades chamado liame subjetivo.

A coautoria pode se dar quando os coautores realizam pessoalmente e conjuntamente toda a conduta típica,
ou ainda quando ocorre a chamada divisão de tarefas, em que cada um dos agentes desempenha uma
função essencial para a empreitada criminosa, possuindo assim o domínio sobre o final dos fatos (domínio
funcional do fato).

Independentemente da tarefa realizada por cada coautor, havendo o liame subjetivo e sendo cada tarefa
essencial, todos irão responder pelo mesmo crime, de acordo com a teoria monista adotada pelo CP (art.
29). Porém, cada um terá sua pena calculada individualmente e na medida de sua culpabilidade.

Por fim, precisamos lembrar que, a maioria da doutrina admite falar em coautoria nos crimes culposos, já
que nesses crimes pode haver um acordo de vontades para realização conjunta de uma conduta descuidada,
imprudente, que venha a gerar um resultado típico culposo, bem como também se admite,
majoritariamente, a coautoria em crimes omissivos.

2.4 - Autoria Colateral

A famosa, e muito cobrada em nossas provas, autoria colateral ocorre quando dois ou mais agentes atuam
ao mesmo tempo, realizando o mesmo fato em relação à mesma vítima, porém um não sabe da existência
do outro, não havendo liame subjetivo, acordo de vontades entre as partes e, portanto, não há concurso
de pessoas, coautoria.

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Sendo assim, nas hipóteses de autoria colateral, não se aplica a teoria monista e cada um dos autores
responde apenas por aquilo que tiver feito e pelo resultado que tenha gerado (ex.: Dois agentes, um sem
saber do outro, disparam arma de fogo contra desafeto. Um responderá pelo homicídio consumado e o outro
pela tentativa de homicídio).

Mas muita atenção pois, quando, em uma autoria colateral, em que não há acordo de vontades, não for
possível identificar qual dos agentes gerou o resultado, imputa-se a tentativa para ambos, isto em face do
princípio da presunção de inocência e do in dubio pro reo.

Explico: isso ocorre pois, nesses casos, não há concurso de pessoas para se imputar o resultado para ambos,
havendo, então, o que se chama de autoria colateral incerta, devendo-se imputar isoladamente a cada
agente somente aquilo que causou.

Ex.: Dois agentes, um sem saber do outro, ministram veneno na bebida de um mesmo desafeto. Este morre,
mas não é possível se identificar qual dos venenos causou a morte.

2.5 - Participação

Galera, agora que já estudamos a autoria, a coautoria, e suas diversas características, ficará muito mais fácil
a gente compreender a participação, que nada mais é do que uma colaboração dolosa no fato principal do
autor, mediante acordo de vontades (liame subjetivo), porém, sem o domínio do fato e, por isso, de forma
acessória à conduta do autor, sendo que, de acordo com a Teoria Monista adotada pelo CP, o partícipe
responderá pelo mesmo crime que o autor do fato.

No que tange à participação, nosso ordenamento adotou a teoria da acessoriedade limitada, pela qual, para
se imputar um crime ao partícipe, a conduta principal do autor deverá ser típica e ilícita; logo, a consequência
prática para questões concretas de prova será que, havendo exclusão de ilicitude na conduta do autor, afasta-
se o crime também do partícipe.

Ex.: O partícipe que emprestou a arma para um agente cometer homicídio também será beneficiado pela
exclusão da ilicitude, se este autor acabar praticando a conduta em legítima defesa.

De acordo com a maioria da doutrina, não se admite participação em crime culposo, já que nesses crimes
não há domínio do fato e, todo aquele que, de qualquer forma, concorrer para a produção do resultado
culposo será considerado autor do crime.

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Porém, fiquem atentos pois, majoritariamente, a doutrina e jurisprudência tem admitido a possibilidade,
mesmo que excepcional, de participação em alguns crimes omissivos, desde que o partícipe não possa ser
imputado como autor de sua própria omissão (ex.: Alguém que não sabe nadar induz outrem a não prestar
socorro à vítima de um afogamento).

2.5.1 - Formas de participação

Há 3 formas de participação reconhecidas em nosso ordenamento, sendo que, a participação pode ser
considerada como moral através do induzimento (criar a ideia, a vontade na cabeça do autor) ou instigação
(ampliar a vontade preexistente do autor quanto ao cometimento do crime), ou ainda do chamado auxílio
moral (dicas, conselhos), e haverá participação material através do auxílio material (meios e modos de
execução, instrumentos, armas, local).

Muito bem, amigos, não podemos deixar de lembrar que temos ainda dois institutos, muito importantes,
diretamente relacionados com a participação, são eles:

a) Participação de menor importância (art. 29, § 1º, do CP): trata-se de causa de diminuição de pena
aplicável apenas a hipóteses de participação, fazendo que, quando esta for de menor importância, o juiz
possa reduzir a pena de 1/6 a 1/3, não sendo cabível para hipóteses de coautoria, já que o coautor, por
possuir o domínio dos fatos, não pode ser considerado de menor importância.

b) Cooperação dolosamente distinta (art. 29, § 2º): Atenção, pois este instituto ocorre quando o participante
(coautor ou o partícipe) quer colaborar para determinado crime, mas ocorre um desvio na conduta do autor
executor que acaba realizando um crime diferente, mais grave.

Neste caso, o crime diferente realizado pelo autor executor não poderá ser imputado ao participante, que
só responderá pelo crime para o qual quis colaborar, enquanto o autor responderá por tudo aquilo que
realizou (ex.: aquele que fornece um “pé de cabra” para alguém praticar um furto não responderá por um
estupro praticado pelo autor no interior da residência, mas tão somente pela participação no furto).

Se nessas hipóteses o crime mais grave praticado pelo autor fosse previsível para o participante, este
responderá, ainda assim, somente pelo crime para o qual quis colaborar; porém, sua pena poderá ser
aumentada de até metade em face da previsibilidade quanto ao crime mais grave (ex.: quem empresta arma
para um roubo não responderá pelo homicídio praticado durante o assalto, mas tão somente pelo roubo,
porém com a pena aumentada, já que esse resultado mais grave era previsível).

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(FGV/III Exame de Ordem Unificado) Tomás decide matar seu pai, Joaquim. Sabendo da intenção de Tomás
de executar o genitor, Pedro oferece, graciosamente, carona ao agente até o local em que ocorre o crime.
A esse respeito, é correto afirmar que Pedro é
a) coautor do delito, respondendo por homicídio agravado por haver sido praticado contra ascendente.
b) partícipe do delito, respondendo por homicídio agravado por haver sido praticado contra ascendente.
c) coautor do delito, respondendo por homicídio sem a incidência da agravante.
d) partícipe do delito, respondendo por homicídio sem a incidência da agravante.
Comentários
Resposta: D
Trata-se de questão relacionada às características do concurso de pessoas, fundamentalmente das
diferenças entre uma coautoria e uma participação, e, de acordo com o enunciado, Pedro, sabendo da
intenção criminosa de Tomás, oferece-lhe uma carona até o local do crime. Atualmente, o entendimento
dominante para caracterização da autoria e coautoria se fundamenta na chamada Teoria do Domínio do
Fato, para a qual, para ser autor, o agente deve possuir o controle, as “rédeas da situação”, podendo
modificar ou mesmo impedir a ocorrência dos fatos. Sendo assim, para que haja coautoria, além do liame
subjetivo, acordo de vontades entre os agentes, cada um deverá possuir uma função, tarefa, decisiva e
fundamental na empreitada criminosa, para que assim passe a possuir o controle da situação e o domínio
dos fatos. Para a mencionada Teoria do Domínio do Fato, todo aquele que colaborar dolosamente para um
crime, mas de forma acessória, não fundamental, será mero partícipe, já que não possuirá o domínio do fato.
Dessa forma, a conduta narrada na questão, qual seja, de dar carona para o autor do crime, caracteriza-se
com uma colaboração acessória no fato principal do autor, sendo, por isso, uma hipótese de participação. É
importante lembrar que, de acordo com a Teoria Monista, prevista no art. 29 do CP, todos que de qualquer
forma concorrem para a prática de um crime respondem pelo mesmo crime, seja como coautor ou partícipe
do fato, e que circunstâncias de caráter pessoal, como o fato de ser filho da vítima (agravante), não se
comunicam aos demais participantes do crime (art. 30 do CP).

(FGV/VII Exame de Ordem Unificado) Zenão e Górgias desejam matar Tales. Ambos sabem que Tales é
pessoa bastante metódica e tem a seguinte rotina ao chegar no trabalho: pega uma xícara de café na copa,
deixa-a em cima de sua bancada particular, vai a outra sala buscar o jornal e retorna à sua bancada para lê-
lo, enquanto degusta a bebida. Aproveitando-se de tais dados, Zenão e Górgias resolvem que executarão o
crime de homicídio através de envenenamento. Para tanto, Zenão, certificando-se que não havia ninguém
perto da bancada de Tales, coloca na bebida 0,1 ml de poderoso veneno. Logo em seguida chega Górgias,
que também verifica a ausência de qualquer pessoa e adiciona ao café mais 0,1 ml do mesmo veneno
poderoso. Posteriormente, Tales retorna à sua mesa e senta-se confortavelmente na cadeira para degustar
o café lendo o jornal, como fazia todos os dias. Cerca de duas horas após a ingestão da bebida, Tales vem a
falecer. Ocorre que toda a conduta de Zenão e Górgias foi filmada pelas câmeras internas presentes na sala
da vítima, as quais eram desconhecidas de ambos, razão pela qual a autoria restou comprovada. Também
restou comprovado que Tales somente morreu em decorrência da ação conjunta das duas doses de veneno,
ou seja, somente 0,1 ml da substância não seria capaz de provocar o resultado morte. Com base na situação
descrita, é correto afirmar que:

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a) caso Zenão e Górgias tivessem agido em concurso de pessoas, deveriam responder por homicídio
qualificado doloso consumado.
b) mesmo sem qualquer combinação prévia, Zenão e Górgias deveriam responder por homicídio qualificado
doloso consumado.
c) Zenão e Górgias, agindo em autoria colateral, deveriam responder por homicídio culposo.
d) Zenão e Górgias, agindo em concurso de pessoas, deveriam responder por homicídio culposo.
Comentários
Resposta: A
Esta questão visa a identificação, ou não, da existência de um concurso de pessoas, bem como das suas
consequências diante do caso narrado. Ao praticarem simultaneamente a conduta de envenenamento, que
acabou gerando a morte da vítima, é preciso que tenha havido um acordo de vontades, liame subjetivo entre
os agentes para se caracterizar o concurso de pessoas, e a coautoria nasce dessa situação, imputando, assim,
o crime consumado para ambos os agentes. Dessa forma, a alternativa “A” está correta, já que narra
exatamente o que foi mencionado acima, entretanto, sem o acordo de vontades haveria o que se chama de
autoria colateral, porém, nesse caso, o resultado morte jamais poderia ser imputado a ambos.
Na autoria colateral ambos os agentes devem responder apenas por aquilo que efetivamente realizaram, e
nesse caso deveriam responder os dois por tentativa de homicídio, logo, todas as demais afirmações estão
erradas.

(FGV/VIII Exame de Ordem Unificado) Analise detidamente as seguintes situações: Casuística 1: Amarildo,
ao chegar à sua casa, constata que sua filha foi estuprada por Terêncio. Imbuído de relevante valor moral,
contrata Ronaldo, pistoleiro profissional, para tirar a vida do estuprador. O serviço é regularmente
executado.
Casuística 2: Lucas concorre para um infanticídio auxiliando Julieta, parturiente, a matar o nascituro – o que
efetivamente acontece. Lucas sabia, desde o início, que Julieta estava sob a influência do estado puerperal.
Levando em consideração a legislação vigente e a doutrina sobre o concurso de pessoas (concursus
delinquentium), é correto afirmar que:
a) no exemplo 1, Amarildo responderá pelo homicídio privilegiado e Ronaldo pelo crime de homicídio
qualificado por motivo torpe. No exemplo 2, Lucas e Julieta responderão pelo crime de infanticídio.
b) no exemplo 1, Amarildo responderá pelo homicídio privilegiado e Ronaldo pelo crime de homicídio simples
(ou seja, sem privilégio pelo fato de não estar imbuído de relevante valor moral). No exemplo 2, Lucas, que
não está influenciado pelo estado puerperal, responderá por homicídio, e Julieta pelo crime de infanticídio.
c) no exemplo 1, Amarildo responderá pelo homicídio privilegiado e Ronaldo pelo crime de homicídio simples
(ou seja, sem privilégio pelo fato de não estar imbuído de relevante valor moral). No exemplo 2, tanto Lucas
quanto Julieta responderão pelo crime de homicídio (ele na modalidade simples, ela na modalidade
privilegiada em razão da influência do estado puerperal).

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d) no exemplo 1, Amarildo responderá pelo homicídio privilegiado e Ronaldo pelo crime de homicídio
qualificado pelo motivo fútil. No exemplo 2, Lucas, que não está influenciado pelo estado puerperal,
responderá por homicídio e Julieta pelo crime de infanticídio.
Comentários
Resposta: A
A questão aborda o concurso de pessoas, mais especificamente quanto à comunicabilidade de circunstâncias
relacionadas ao crime aos coautores e partícipes do fato. A respeito desse tema, versa o art. 30 do CP: “Não
se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime”. De
acordo com o texto legal, circunstâncias pessoais, de caráter subjetivo e inerentes ao próprio autor do crime
não se comunicam aos demais participantes (ex.: reincidência), salvo quando estas sejam “elementares”, ou
seja, elementos estruturais e presentes no caput do próprio Tipo. Sendo assim, em crimes próprios como o
Peculato (art. 312), a condição pessoal funcionário público, que é elementar, pode se comunicar aos
participantes fazendo com que um coautor ou partícipe que não seja funcionário público possa responder
por esse crime. O mesmo ocorre no Infanticídio (art. 123 do CP), em que a condição pessoal “ser mãe sob
influência do estado puerperal” é elementar do Tipo e pode se comunicar aos demais participantes,
possibilitando que qualquer pessoa que colabore para esse crime responda por ele, junto com a mãe
(autora). Importante lembrar que circunstâncias previstas como qualificadoras (ex.: motivo torpe, motivo
fútil) ou como causas de aumento ou diminuição de pena (ex.: motivo de relevante valor moral) não são
consideradas como “elementares” do crime e, por isso, sendo de caráter pessoal, subjetivo, não se
comunicam aos coautores e partícipes do crime. Dessa forma, percebe-se que, no exemplo 1 da questão, os
motivos de cada coautor serão individuais, fazendo com que Amarildo responda pelo homicídio privilegiado
e Ronaldo, pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe. Já no exemplo 2, a circunstância pessoal
“ser mãe sob influência de estado puerperal”, por ser elementar, comunica-se ao partícipe fazendo com que
Lucas e Julieta respondam pelo mesmo crime de infanticídio.

(FGV/XI Exame de Ordem Unificado) Sofia decide matar sua mãe. Para tanto, pede ajuda a Lara, amiga de
longa data, com quem debate a melhor maneira de executar o crime, o melhor horário, local etc. Após longas
discussões de como poderia executar seu intento da forma mais eficiente possível, a fim de não deixar
nenhuma pista, Sofia pede emprestado a Lara um facão. A amiga prontamente atende ao pedido. Sofia
despede-se agradecendo a ajuda e diz que, se tudo correr conforme o planejado, executará o homicídio
naquele mesmo dia e assim o faz. No entanto, apesar dos cuidados, tudo é descoberto pela polícia. A respeito
do caso narrado e de acordo com a teoria restritiva da autoria, assinale a afirmativa correta.
a) Sofia é a autora do delito e deve responder por homicídio com a agravante de o crime ter sido praticado
contra ascendente. Lara, por sua vez, é apenas partícipe do crime e deve responder por homicídio, sem a
presença da circunstância agravante.
b) Sofia e Lara devem ser consideradas coautoras do crime de homicídio, incidindo, para ambas, a
circunstância agravante de ter sido, o crime, praticado contra ascendente.
c) Sofia e Lara devem ser consideradas coautoras do crime de homicídio. Todavia, a agravante de ter sido, o
crime, praticado contra ascendente somente incide em relação à Sofia.

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d) Sofia é a autora do delito e deve responder por homicídio com a agravante de ter sido, o crime, praticado
contra ascendente. Lara, por sua vez, é apenas partícipe do crime, mas a agravante também lhe será aplicada.
Comentários
Resposta: A
Esta questão se refere à análise do concurso de pessoas e suas consequências, fundamentalmente sobre a
possibilidade (ou não) de se aplicar a agravante de crime cometido contra ascendente para quem colaborou
com o fato (Lara). Inicialmente é preciso definir que, de acordo com a teoria do domínio do fato, adotada
majoritariamente em nosso ordenamento, Sofia é a autora do crime, enquanto Lara, que colaborou de forma
acessória e sem o domínio dos fatos, será considerada partícipe. Quanto à comunicabilidade da circunstância
agravante de “cometer o crime contra ascendente”, deve-se seguir a regra prevista no art. 30 do CP, pelo
qual circunstâncias de caráter pessoal não se comunicam aos demais participantes (coautores ou partícipes)
do crime, salvo se forem elementares desse crime (elementos essenciais do crime, presentes no caput do
dispositivo). Nesse caso, a circunstância agravante é pessoal, pois se refere à relação familiar do autor com
a vítima (art. 61, II, “e”, do CP), mas não constitui elementar do crime de homicídio (art. 121 do CP), logo,
não se comunica à partícipe (Lara), que responderá pelo mesmo crime de homicídio que a autora (Sofia), de
acordo com o art. 29 do CP, porém sem a aplicação dessa agravante de pena.

(FGV/XVI Exame da OAB) Maria Joaquina, empregada doméstica de uma residência, profundamente
apaixonada pelo vizinho Fernando, sem que este soubesse, escuta sua conversa com uma terceira pessoa
acordando o furto da casa em que ela trabalha durante os dias de semana à tarde. Para facilitar o sucesso
da operação de seu amado, ela deixa a porta aberta ao sair do trabalho. Durante a empreitada criminosa,
sem saber que a porta da frente se encontrava destrancada, Fernando e seu comparsa arrombam a porta
dos fundos, ingressam na residência e subtraem diversos objetos. Diante desse quadro fático, assinale a
opção que apresenta a correta responsabilidade penal de Maria Joaquina.
A) Deverá responder pelo mesmo crime de Fernando, na qualidade de partícipe, eis que contribuiu de alguma
forma para o sucesso da empreitada criminosa ao não denunciar o plano.
B) Deverá responder pelo crime de furto qualificado pelo concurso de agentes, afastada a qualificadora do
rompimento de obstáculo, por esta não se encontrar na linha de seu conhecimento.
C) Não deverá responder por qualquer infração penal, sendo a sua participação irrelevante para o sucesso
da empreitada criminosa.
D) Deverá responder pelo crime de omissão de socorro.
Comentários
Resposta: C
A participação é uma colaboração dolosa no fato principal do autor, mediante acordo de vontades (liame
subjetivo), porém, sem o domínio do fato e, por isso, de forma acessória à conduta do autor, sendo que o
partícipe responderá pelo mesmo crime que o autor do fato. Assim, embora Maria Joaquina tivesse deixado
a porta aberta ao sair do trabalho, sua ação em nada ajudou a conduta de Fernando.

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(FGV/XXIII Exame da OAB) Rafael e Francisca combinam praticar um crime de furto em uma residência onde
ela exercia a função de passadeira. Decidem, então, subtrair bens do imóvel em data sobre a qual Francisca
tinha conhecimento de que os proprietários estariam viajando, pois assim ela tinha certeza de que os
patrões, de quem gostava, não sofreriam qualquer ameaça ou violência. No dia do crime, enquanto Francisca
aguarda do lado de fora, Rafael entra no imóvel para subtrair bens. Ela, porém, percebe que o carro dos
patrões está na garagem e tenta avisar o fato ao comparsa para que este saísse rápido da casa. Todavia,
Rafael, ao perceber que a casa estava ocupada, decide empregar violência contra os proprietários para
continuar subtraindo mais bens. Descobertos os fatos, Francisca e Rafael são denunciados pela prática do
crime de roubo majorado. Considerando as informações narradas, o(a) advogado(a) de Francisca deverá
buscar
A) sua absolvição, tendo em vista que não desejava participar do crime efetivamente praticado.
B) o reconhecimento da participação de menor importância, com aplicação de causa de redução de pena.
C) o reconhecimento de que o agente quis participar de crime menos grave, aplicando-se a pena do furto
qualificado.
D) o reconhecimento de que o agente quis participar de crime menos grave, aplicando-se causa de
diminuição de pena sobre a pena do crime de roubo majorado.
Comentários
Resposta: C
Trata-se da chamada cooperação dolosamente distinta, a qual ocorre quando o participante (coautor ou o
partícipe) quer colaborar para determinado crime, mas ocorre um desvio na conduta do autor executor que
acaba realizando um crime diferente, mais grave. Como a intenção de Francisca era apenas cometer o crime
de furto, responderá apenas por ele.
O crime diferente realizado pelo autor executor não poderá ser imputado ao participante, que só responderá
pelo crime para o qual quis colaborar, enquanto o autor responderá por tudo aquilo que realizou. Mas
lembre-se: se crime mais grave praticado pelo autor fosse previsível para o participante, este responderá,
ainda assim, somente pelo crime para o qual quis colaborar; porém, sua pena poderá ser aumentada de até
metade em face da previsibilidade quanto ao crime mais grave.

(FGV/XXVII Exame da OAB) Pedro e Paulo combinam de praticar um crime de furto em determinada creche,
com a intenção de subtrair computadores. Pedro, então, sugere que o ato seja praticado em um domingo,
quando o local estaria totalmente vazio e nenhuma criança seria diretamente prejudicada.
No momento da empreitada delitiva, Pedro auxilia Paulo a entrar por uma janela lateral e depois entra pela
porta dos fundos da unidade. Já no interior do local, eles verificam que a creche estava cheia em razão de
comemoração do “Dia das Mães”; então, Pedro pega um laptop e sai, de imediato, pela porta dos fundos,
mas Paulo, que estava armado sem que Pedro soubesse, anuncia o assalto e subtrai bens e joias de crianças,
pais e funcionários. Captadas as imagens pelas câmeras de segurança, Pedro e Paulo são identificados e
denunciados pelo crime de roubo duplamente majorado.
Com base apenas nas informações narradas, a defesa de Pedro deverá pleitear o reconhecimento da
A) participação de menor importância, gerando causa de diminuição de pena.

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B) cooperação dolosamente distinta, gerando causa de diminuição de pena.


C) cooperação dolosamente distinta, gerando aplicação da pena do crime menos grave.
D) participação de menor importância, gerando aplicação da pena do crime menos grave.
Comentários
Resposta: C
Trata-se da chamada cooperação dolosamente distinta, a qual ocorre quando o participante (coautor ou o
partícipe) quer colaborar para determinado crime, mas ocorre um desvio na conduta do autor executor que
acaba realizando um crime diferente, mais grave. O crime diferente realizado pelo autor executor não poderá
ser imputado ao participante, que só responderá pelo crime para o qual quis colaborar, enquanto o autor
responderá por tudo aquilo que realizou. Mas lembre-se: se crime mais grave praticado pelo autor fosse
previsível para o participante, este responderá, ainda assim, somente pelo crime para o qual quis colaborar;
porém, sua pena poderá ser aumentada de até metade em face da previsibilidade quanto ao crime mais
grave.

3 - CONCURSO DE CRIMES
Galera, vamos agora trabalhar com o tema concurso de crimes, que para nossa prova é de extrema
importância e com grande índice de cobrança!!

Trata-se de assunto diretamente relacionado à dosimetria da pena privativa de liberdade, sem relação com
o cálculo em si, mas sim com situações em que o caso concreto apresente vários crimes cometidos pelo
agente, para se definir a espécie de concurso, e a forma de se aplicar a pena, por isso, é assunto muito
cobrado nas nossas provas!

3.1 - Definição

Podemos, de forma bastante simples, dizer que o concurso de crimes ocorre quando o agente realiza vários
crimes, idênticos ou diferentes, por meio de várias condutas (concurso material ou crime continuado) ou
por meio de uma só conduta (concurso formal), sendo que, de acordo com a espécie de concurso de crime
ocorrida, será definida a forma de aplicação da pena para os crimes praticados.

CONCURSO DE CRIMES

ocorre quando o agente realiza vários crimes, idênticos ou diferentes, por meio de várias condutas ou
por meio de uma só conduta

Vejam que esta é a razão pela qual este tema é tão cobrado na nossa prova de 1ª fase, e também de 2ª Fase,
já que de acordo com a espécie de concurso de crimes, reconhecida no caso concreto apresentado, o juiz

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deverá definir a forma de aplicação da pena, e isto, muitas vezes será apresentado a você de forma ERRADA,
impondo assim uma pena maior do que a efetivamente devida no caso narrado.

Por isso, devemos ficar atentos as caraterísticas de cada espécie de concurso de crimes, para afastar a
aplicação de pena mais severa e pedir que seja aplicada a espécie correta, e com isso diminuir a pena.

3.2 - Espécies de Concurso de Crimes

Vamos agora partir para o estudo das famosas espécies de concurso de crimes que, como dissemos, serão
fundamentais para nossas questões envolvendo aplicação da pena, quando no caso concreto se perceber a
prática de dois ou mais crimes pelo agente.

a) Concurso material (art. 69 do CP)

Trata-se da modalidade mais simples de concurso de crimes e ocorre quando o agente realiza vários crimes
idênticos (concurso material homogêneo) ou diferentes (concurso material heterogêneo) por meio de várias
condutas independentes, não havendo necessidade de qualquer relação entre os crimes, as vítimas,
motivação etc.

Nesse caso, aplica-se a pena de cada um dos crimes separadamente, somando-as (sistema do cúmulo
material) e, portanto, na nossa prova, muitas vezes o caso concreto vai falar em concurso material,
somando-se as penas, para que a tese defensiva seja exatamente afastá-lo, evitando assim a soma das pena.

b) Concurso formal perfeito ou próprio (art. 70, 1ª parte, do CP)

Aqui a situação é bem diferente, e o concurso formal perfeito ocorre quando o agente, por meio de uma só
conduta, gera vários crimes idênticos (homogêneo), ou diferentes (heterogêneo), possuindo unidade de
desígnio, ou seja, um único objetivo, que pode ser um único dolo, gerando vários resultados, ou mesmo
gerar vários resultados através de uma única conduta descuidada (culpa).

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Atenção, pois trata-se de uma ótima tese defensiva, já que, nesse caso, aplica-se a pena de um só crime, qual
seja o mais grave, aumentada de 1/6 a 1/2 (sistema da exasperação).

Ex.: Alguém dispara para matar seu desafeto, atinge o alvo, mas acaba acertando também um
terceiro; um motorista avança o sinal de trânsito, bate no carro e acaba matando 2 pessoas.

c) Concurso formal imperfeito ou impróprio (art. 70, 2ª parte, do CP)

Esta outra modalidade de concurso formal ocorre quando, por meio de uma só ação, o agente gera vários
crimes, porém com dolos independentes em relação a cada crime, ou seja, atua com desígnios autônomos.

Como dissemos no concurso material, aqui também podemos ter como tese defensiva o afastamento dessa
modalidade de concurso de crimes, já que nesses casos aplica-se a pena de cada um dos crimes
separadamente, somando-as, da mesma forma que ocorre no concurso material (sistema do cúmulo
material).

Ex.: Explodir uma bomba em um automóvel para matar 3 pessoas.

d) Crime continuado (art. 71 do CP)

Vamos agora abordar o conhecido crime continuado, que ocorre quando, por meio de várias condutas, o
agente realiza inúmeros crimes, desde que todos sejam da mesma espécie (mesmo artigo – STF), e todos
sejam realizados em circunstâncias de tempo, lugar e modo de execução semelhantes.

Percebam que essa é mais uma tese defensiva a ser utilizada por nos, pois nesse caso, para evitar a aplicação
no concurso material, e afastar a soma das penas, por uma ficção jurídica, considera-se como se os vários
crimes fossem um só, realizado em continuidade, para se aplicar uma só pena aumentada de 1/6 a 2/3
(sistema da exasperação).

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Ex.: A caixa de supermercado que retira quantia de dinheiro do caixa por vários dias, nos mesmos
horários, onde trabalha. Responde por um único furto, com sua pena aumentada/ Um arrastão em
que vários furtos são praticados e o sujeito responde por um só crime com a pena aumentada, ao
invés de somadas.

Quando, em situação de crime continuado, preenchidos os seus requisitos básicos, houver ainda
pluralidade de vítimas e violência ou grave ameaça as pessoas em todas as condutas, ocorre o chamado
crime continuado específico, e neste caso a pena poderá ser aumentada de 1/6 até o triplo (Art. 71,
parágrafo único, do CP).

Ex.: serial killer, chacina, arrastão para roubos.

A Súmula 605 do STF perdeu aplicação e nada impede utilizar o crime continuado para
crimes contra a vida, porém na chamada modalidade específica, em que o crime
continuado irá gerar aumento de pena de até o triplo.

De acordo com o STF, o intervalo máximo de tempo entre cada uma das condutas no crime
continuado será de 30 dias. Acima disso afasta-se o crime continuado, aplicando-se o
concurso material e a soma das penas.

Em concurso formal perfeito (art. 70, 1ª parte) e no crime continuado, o valor da pena
aumentada no caso concreto jamais poderá exceder o equivalente à soma das penas
aplicadas de forma independente. Caso isso venha a ocorrer, com base nas penas
concretamente aplicadas em uma situação fática, afasta-se o aumento, realizando-se a
soma das penas definidas no caso prático (Concurso material benéfico – art. 70, parágrafo
único, do CP).

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2 ou mais condutas + vários crimes


Art. 69, 1) Concurso
do CP material
Deve-se somar as penas

1 conduta + unidade de desígnio (um só dolo


Art. 70, 2) Concurso ou culpa) = vários crimes
1ª parte, formal perfeito
do CP ou próprio Deve-se aplicar uma só pena aumentada de
1/6 a 1/2.

1 só conduta + desígnios autônomos (vários dolos) =


Art. 70, 2ª vários crimes.
3) Concurso formal
parte, do
imperfeito ou impróprio
CP
Deve-se somar as penas.

2 ou mais condutas + crimes de mesma espécie


(mesmo art.) + circunstâncias de tempo/ lugar/modo
Art. 71, do de execução semelhantes
4) Crime continuado
CP
Deve-se aplicar 1 só pena aumentada de 1/6 a 2/3.

Requisitos básicos do crime continuado + violência


ou grave ameaça + pluralidade de vítimas
Art. 71, 4.1) Crime continuado
PU, do CP específico
Deve-se aplicar uma só pena aumentada de 1/6 até
3x (triplo)

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3.3 - Conflito aparente de normas

Amigos, o conflito aparente de normas é tema que muitas pessoas confundem com o concurso de crimes,
que acabamos de estudar, porém esses assuntos não se misturam e são muito diferentes, já que o conflito
aparente se refere a regras que irão definir qual NORMA PENAL abstrata deve prevalecer, e ser aplicada em
um caso concreto, quando na verdade somente uma norma deve se aplicar a cada caso, mas por alguma
razão houver dúvidas a respeito disso.

Vocês já perceberam a diferença, não é?

Pois o concurso de crimes se refere a dois ou mais crimes, sendo que deve-se, portanto, aplicar duas ou mais
normas penais, e para isso é preciso definir como deverá ser aplicada a pena no caso concreto.

Então, agora, podemos definir tecnicamente o concurso aparente de normas como a situação em que várias
leis são aparentemente aplicáveis a um mesmo fato, mas na verdade apenas uma tem incidência, ou seja,
há um único fato e uma pluralidade de leis, que aparentemente se encaixam na situação.

Como não é possível se aplicar duas normas a um mesmo fato, surgiram algumas regras para se determinar
qual lei deverá prevalecer diante da situação concreta e por isso se diz que o conflito é aparente, já que na
verdade não há conflito, pois de acordo com estas regras, apenas uma é a que deve ser aplicada.

3.3.1 - Regras para solução do conflito aparente de normas

Muito bem, vamos agora estudar quais são as regras e como elas funcionam para definir as soluções para
esses aparentes concursos entre normas penais, para que apenas uma norma prevaleça e seja aplicada na
situação fática apresentada a vocês numa questão concreta de nossa prova!!!!

As regras são:

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REGRAS PARA Regra da Especialidade


SOLUÇÃO DO
CONFLITO Regra da Subsidiariedade
APARENTE DE
NORMAS Regra da Consunção

Regra da Alternatividade

3.3.1.1 - Regra da Especialidade

De acordo com a análise do caso concreto, a lei especial, ou norma específica, sempre “derroga” lei geral,
mais genérica, ou seja, a norma que tratar de forma mais específica o fato ocorrido prevalece e será aplicada.

São exemplos de aplicação da especialidade em nosso ordenamento: as formas qualificadoras e privilegiadas


que são mais específicas em relação ao tipo básico, ou ainda, situações previstas em leis penais extravagantes
como o homicídio culposo no trânsito (art. 302, CTB) em face do homicídio culposo comum, previsto no CP.

3.3.1.2 - Regra da Subsidiariedade

Trata-se de regra complementar à especialidade operando de forma auxiliar e, de acordo com ela, aplica-se
uma lei quando outra não puder ser aplicada por disposição explícita, ou mesmo por força de interpretação
lógica dos fatos.

Há duas espécies de subsidiariedade admitidas em nosso ordenamento:

1 - Subsidiariedade formal: vem expressa no texto através de expressões como: “se o fato não
constitui crime mais grave” (arts. 132, 238 e 249). Sendo assim, por exemplo, o crime de Subtração
de Incapazes (art. 249, CP) é subsidiário em relação ao sequestro (art. 148, CP)

2 - Subsidiariedade material: tipos penais de passagem necessária, obrigatória para a prática de


outros serão absorvidos, sendo que esta regra muitas vezes se confunde com a própria regra da
consunção, porém, na subsidiariedade material um determinado tipo é de passagem obrigatória para
se chegar ao outro e na consunção esta passagem ocorre eventualmente devido a situação fática
específica.

Podemos citar como exemplo de subsidiariedade material o crime consumado em relação ao crime tentado,
e a lesão corporal em relação ao homicídio.

3.3.1.3 - Regra da Consunção

Também é regra complementar a especialidade e ocorre quando determinado crime é fase de realização de
outro, porém não necessária, e nestes casos o tipo objetivado pelo agente (crime fim) absorve o crime usado
como passagem (crime meio) para isso.

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Podemos usar como exemplo da regra da consunção a hipótese em que a violação de domicílio (art. 150, CP)
fica absorvida pelo crime de furto qualificado (art. 155, § 4º, inc. I), ou mesmo a hipótese em que o crime de
falso (p. ex.: art. 297, CP) fica absorvido pelo crime de estelionato (art. 171, CP). (Súmula 17, STJ)

Importante lembrar que não se pode confundir o conceito de crime progressivo, que se aproxima da ideia
do princípio da consunção, com a chamada progressão criminosa.

O crime progressivo ocorre quando o agente possui um único dolo que é mantido até o final de sua conduta,
porém ao realizá-la acaba passando por crimes menos graves, delitos de passagem, que ocorrem para que
ele alcance deu objetivo final (Ex: lesão corporal para obter homicídio).

Já na progressão criminosa o agente atua com determinado dolo, e durante a realização da conduta modifica
sua intenção, passando a agir com um dolo de realizar outro crime mais grave do que aquele pretendido
inicialmente, o que em concurso de pessoas pode dar origem a um cooperação dolosamente distinta, artigo
29 par. 2º do CP. (Ex: inicia a realização de uma lesão corporal e durante sua prática resolve que vai matá-
la).

3.3.1.4 - Regra da Alternatividade

De acordo com esta regra pune-se o autor por um único fato quando várias condutas previstas em um
mesmo tipo penal forem realizadas sucessivamente, não havendo assim, concurso de crimes.

A alternatividade é regra geral para todos os tipos penais, dando origem a classificação “tipos mistos
alternativos”, como por exemplo, o crime de induzimento, instigação e auxílio ao suicídio (art. 122, CP) em
que a prática dessas três condutas sucessivamente em relação a mesma vítima configura um crime único.

Porém, há exceções a esta regra, o que da origem aos chamados tipos mistos cumulativos, em que a prática
sucessiva de atos em relação a mesma vítima pode gerar vários crimes que serão punidos em concurso. (p.
ex.: abandono material – art. 244, CP).

3.4 - Concepção das infrações penais

Galera, para finalizarmos o estudo do concurso de crimes e do conflito aparente de normas, precisamos
apenas lembrar como ficou definida a classificação e a separação das normas penais em razão da sua
estrutura legal, e das funções incriminadores (lato senso) que desempenham em nosso ordenamento!!!

3.4.1 - Concepção Bipartida

Vamos começar com a concepção bipartida, utilizada por nosso ordenamento, e que afirma que as infrações
penais se apresentam em duas espécies:

a) Crime e/ou delito: são conceitos sinônimos não havendo diferença de gravidade entre eles, sendo fatos
previstos no Código Penal com penas de reclusão ou detenção. Logo, de acordo com essa concepção, é
possível falar em crime de homicídio ou delito de homicídio, crime de furto ou delito de furto, não fazendo
qualquer diferença.

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b) Contravenções: representam infrações de menor gravidade, previstas em lei específica (Decreto-lei nº


3.688/41) e punidas com pena de prisão simples, que deverá ser cumprida em estabelecimento diferenciado
– daquele utilizado para criminosos – e sempre em regime semiaberto ou aberto, e/ou multa.

Essa é a única diferença entre crime e contravenção, pois estruturalmente são iguais, e o que muda é apenas
a gravidade das condutas e a sua forma de punição.

Importante lembrar que não se deve confundir o conceito de infração de menor potencial ofensivo com
Contravenção, pois essas são infrações que, de acordo com a Lei nº 9.099/95, possuam pena máxima
abstrata de até 2 anos, além disso, pode-se dizer que toda Contravenção é uma infração de pequeno
potencial ofensivo, porém, a recíproca não é verdadeira

3.4.2 - Concepção Tripartida

Amigos, fiquem atentos pois esta concepção, já abandonada por nossa doutrina e por nossa legislação,
determinava que as infrações se dividem em três grupos: crimes, delitos e contravenções. Logo, para esta
concepção o delito era modalidade menos grave que o crime, e a contravenção ainda menos grave que
ambos.

É possível perceber que ainda há um ranço desse entendimento presente na doutrina, pois é comum se falar
em crime de homicídio, mas não em delito de homicídio e, inversamente, delito de furto e não crime de
furto, apesar de modernamente, com base na concepção bipartida, não haver diferença na estruturação
básica das infrações (crimes e delitos), sendo que, apenas as contravenções é que correspondem a fatos
menos graves sendo previstas no Dec. Lei 3688/41.

(FGV/II Exame de Ordem Unificado) Com relação ao concurso de delitos, é correto afirmar que:
a) no concurso de crimes as penas de multa são aplicadas distintamente, mas de forma reduzida.
b) o concurso material ocorre quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, prática dois ou
mais crimes com dependência fática e jurídica entre estes.
c) o concurso formal perfeito, também conhecido como próprio, ocorre quando o agente, por meio de uma
só ação ou omissão, prática dois ou mais crimes idênticos, caso em que as penas serão somadas.
d) o Código Penal Brasileiro adotou o sistema de aplicação de pena do cúmulo material para os concursos
material e formal imperfeito, e da exasperação para o concurso formal perfeito e crime continuado.
Comentários

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Resposta: D
Trata-se de uma questão estritamente dogmática a respeito do tema concurso de crimes e suas
consequências no que tange à aplicação das penas. O Código Penal adotou dois sistemas de aplicação de
pena para as hipóteses de concurso de crimes, quais sejam, o sistema do cúmulo material, que determina a
soma das penas aplicadas separadamente para cada crime, utilizado no concurso material (art. 69 do CP) e
no concurso formal imperfeito ou impróprio (art. 70, 2.ª parte, do CP), e o sistema da exasperação, aplicado
para as hipóteses de concurso formal perfeito ou próprio (art. 70, 1.ª parte, do CP) e no crime continuado
(art. 71 do CP), determinando a aplicação de uma só pena, aumentada de acordo com a lei. No concurso de
crimes as penas deverão ser aplicadas de forma integral e independentes, não se aplicado as regras inerentes
ao concurso de crimes (art. 72 do CP), logo, a alternativa “A” está incorreta. No concurso material (art. 69 do
CP) não há necessidade de qualquer relação entre as condutas e os crimes praticados, logo, a alternativa “B”
está incorreta. No concurso formal perfeito (art. 70, 1.ª parte, do CP) aplica-se a pena de um dos crimes, qual
seja, o mais grave, aumentada de 1/6 a 1/2, sendo que pode ocorrer entre crimes iguais ou diferentes, logo,
a alternativa “C” está incorreta.

(FGV/V Exame de Ordem Unificado) As regras do concurso formal perfeito (em que se adota o sistema da
exasperação da pena) foram adotadas pelo Código Penal com o objetivo de beneficiar o agente que,
mediante uma só conduta, praticou dois ou mais crimes. No entanto, quando o sistema da exasperação for
prejudicial ao acusado, deverá prevalecer o sistema do cúmulo material (em que a soma das penas será mais
vantajosa do que o aumento de uma delas com determinado percentual, ainda que no patamar mínimo). A
essa hipótese, a doutrina deu o nome de
a) concurso material benéfico.
b) concurso formal imperfeito.
c) concurso formal heterogêneo.
d) exasperação sui generis.
Comentários
Resposta: A
O concurso formal perfeito ocorre quando o agente, por meio de uma só ação, realiza dois ou mais crimes,
atuando com um único objetivo (unidade de desígnios), e determina que se aplique a pena de um só crime,
qual seja, o mais grave, aumentada de 1/6 a 1/2, por meio do sistema da exasperação. Porém, de acordo
com o art. 70, parágrafo Único, do CP, o aumento de pena de um concurso formal perfeito jamais poderá
ultrapassar o valor equivalente à soma das penas dos crimes aplicadas de forma independente; se isso
ocorrer, deve-se afastar o aumento de pena e aplicar a soma como se fosse hipótese de concurso material.
Essa determinação ganha o nome de Concurso Material Benéfico, já que a soma das penas é mais benéfica
que o aumento inerente ao concurso formal perfeito e, por isso, deve prevalecer no caso concreto.

(FGV/VI Exame de Ordem Unificado) Otelo objetiva matar Desdêmona para ficar com o seguro de vida que
esta havia feito em seu favor. Para tanto, desfere projétil de arma de fogo contra a vítima, causando-lhe a

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morte. Todavia, a bala atravessa o corpo de Desdêmona e ainda atinge Iago, que passava pelo local,
causando-lhe lesões corporais. Considerando-se que Otelo praticou crime de homicídio doloso qualificado
em relação a Desdêmona e, por tal crime, recebeu pena de 12 anos de reclusão, bem como que praticou
crime de lesão corporal leve em relação a Iago, tendo recebido pena de 2 meses de reclusão, é correto
afirmar que
a) o juiz deverá aplicar a pena mais grave e aumentá-la de um sexto até a metade.
b) o juiz deverá somar as penas.
c) é caso de concurso formal homogêneo.
d) é caso de concurso formal impróprio
Comentários
Resposta: B
O caso narrado no enunciado se refere a uma situação de concurso formal perfeito ou próprio (art. 70, 1.ª
parte), já que o agente, por meio de uma só conduta, acaba produzindo dois resultados, sendo que, ao agir,
possuía um único objetivo (unidade de desígnio), que era matar Desdêmona. O concurso formal perfeito
determina que se aplique a pena de um só crime, qual seja, o mais grave, aumentada de 1/6 a 1/2, por meio
do sistema da exasperação. Porém, de acordo com o art. 70, parágrafo único, do CP, o aumento de pena de
um concurso formal perfeito jamais poderá ultrapassar o valor equivalente à soma das penas dos crimes
aplicadas de forma independente; se isso ocorrer, deve-se afastar o aumento de pena e aplicar a soma como
se fosse hipótese de concurso material (Concurso Material Benéfico). Dessa forma, de acordo com o narrado
na questão, percebe-se que, aplicando o aumento mínimo inerente ao concurso formal perfeito (1/6), a pena
chegaria a 14 anos, enquanto que, se as penas fossem somadas, o valor seria de 12 anos e 2 meses. Logo,
nesse caso deve-se afastar o aumento e somar as penas aplicadas a cada crime.

(FGV/XXII Exame da OAB) Mariano, 59 anos de idade, possuía em sua residência 302 vídeos e fotografias
com cenas de sexo explícito envolvendo adolescentes. Descobertos os fatos, foi denunciado pela prática de
302 crimes do Art. 241-B da Lei nº 8.069/90 (“Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia,
vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança
ou adolescente”), em concurso material, sendo descrito que possuía o material proibido. Os adolescentes
das imagens não foram localizados. Encerrada a instrução e confirmados os fatos, o Ministério Público
pugnou pela condenação nos termos da denúncia. Em sede de alegações finais, diante da confissão do
acusado e sendo a prova inquestionável, sob o ponto de vista técnico, o advogado de Mariano deverá pleitear
A) a absolvição de Mariano, tendo em vista que ele não participava de nenhuma das cenas de sexo explícito
envolvendo adolescente.
B) o reconhecimento de crime único do Art. 241-B da Lei nº 8.069/90.
C) o reconhecimento do concurso formal de crimes entre os 302 delitos praticados.
D) a extinção da punibilidade do acusado, em razão do desinteresse dos adolescentes em ver Mariano
processado.
Comentários

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Resposta: B
O concurso de crimes ocorre quando o agente realiza vários crimes, idênticos ou diferentes, por meio de
várias condutas (concurso material ou crime continuado) ou por meio de uma só conduta (concurso formal).
No caso apresentado, trata-se de apenas um único crime, pois a mera posse do material proibido já
consumou o crime.

(FGV/XXII Exame da OAB) Gilson, 35 anos, juntamente com seu filho Rafael, de 15 anos, em dificuldades
financeiras, iniciaram atos para a subtração de um veículo automotor. Gilson portava arma de fogo e, quando
a vítima tentou empreender fuga, ele efetua disparos contra ela, a fim de conseguir subtrair o carro. O
episódio levou o proprietário do automóvel a falecer. Apesar disso, os agentes não levaram o veículo, já que
outras pessoas que estavam no local chamaram a Polícia.
Descobertos os fatos, Gilson é denunciado pelo crime de latrocínio consumado e corrupção de menores em
concurso formal, sendo ao final da instrução, após confessar os fatos, condenado à pena mínima de 20 anos
pelo crime do Art. 157,
§ 3º, do Código Penal, e à pena mínima de 01 ano pelo delito de corrupção de menores, não havendo
reconhecimento de quaisquer agravantes ou atenuantes. Reconhecido, porém, o concurso formal de crimes,
ao invés de as penas serem somadas, a pena mais grave foi aumentada de 1/6, resultando em um total de
23 anos e 04 meses de reclusão.
Considerando a situação narrada, o advogado de Gilson poderia pleitear, observando a jurisprudência dos
Tribunais Superiores, em sede de recurso de apelação,
A) a aplicação da regra do cúmulo material em detrimento da exasperação, pelo concurso formal de crimes.
B) a aplicação da pena intermediária abaixo do mínimo legal, em razão do reconhecimento da atenuante da
confissão espontânea.
C) o reconhecimento da modalidade tentada do latrocínio, já que o veículo automotor não foi subtraído.
D) o afastamento da condenação por corrupção de menor, pela natureza material do delito.
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Resposta: A
Trata-se do chamado concurso material benéfico, pois com base nas penas concretamente aplicadas em uma
situação fática, afasta-se o aumento, realizando-se a soma das penas definidas no caso prático, já que mais
favorável ao agente.

(FGV/XXIII Exame da OAB) Pedro, quando limpava sua arma de fogo, devidamente registrada em seu nome,
que mantinha no interior da residência sem adotar os cuidados necessários, inclusive o de desmuniciá-la,
acaba, acidentalmente, por dispará-la, vindo a atingir seu vizinho Júlio e a esposa deste, Maria. Júlio faleceu
em razão da lesão causada pelo projétil e Maria sofreu lesão corporal e debilidade permanente de membro.
Preocupado com sua situação jurídica, Pedro o procura para, na condição de advogado, orientá-lo acerca das

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consequências do seu comportamento. Na oportunidade, considerando a situação narrada, você deverá


esclarecer, sob o ponto de vista técnico, que ele poderá vir a ser responsabilizado pelos crimes de
A) homicídio culposo, lesão corporal culposa e disparo de arma de fogo, em concurso formal.
B) homicídio culposo e lesão corporal grave, em concurso formal.
C) homicídio culposo e lesão corporal culposa, em concurso material.
D) homicídio culposo e lesão corporal culposa, em concurso formal.
Comentários
Resposta: D
Trata-se de concurso formal, tendo em vista que mediante uma ação ou omissão Pedro, ele cometeu um ou
mais crimes (art. 70, CP):
– 1 conduta + unidade de desígnio (um só dolo ou culpa) = vários crimes
– Deve-se aplicar uma só pena aumentada de 1/6 a 1/2.).

(FGV/XXIV Exame da OAB) Cláudio, na cidade de Campinas, transportava e portava, em um automóvel, três
armas de fogo, sendo que duas estavam embaixo do banco do carona e uma, em sua cintura. Abordado por
policiais, foram localizadas todas as armas. Diante disso, o Ministério Público ofereceu denúncia em face de
Cláudio pela prática de três crimes de porte de arma de fogo de uso permitido, em concurso material (Art.
14 da Lei nº 10.826/03, por três vezes, na forma do Art. 69 do Código Penal). Foi acostado nos autos laudo
pericial confirmando o potencial lesivo do material, bem como que as armas eram de calibre .38, ou seja, de
uso permitido, com numeração de série aparente. Considerando que todos os fatos narrados foram
confirmados em juízo, é correto afirmar que o(a) advogado(a) de Cláudio deverá defender o reconhecimento
A) de crime único de porte de arma de fogo.
B) da continuidade delitiva entre os três delitos imputados.
C) do concurso formal entre dois delitos, em continuidade delitiva com o terceiro.
D) do concurso formal de crimes entre os três delitos imputados.
Comentários
Resposta: A
No presente caso, haverá a incidência de apenas um único crime, tendo em vista que armas foram
encontradas em um mesmo contexto, razão pela qual a violação ao bem jurídico protegido foi única.

(FGV/XXV Exame da OAB) Juarez, com a intenção de causar a morte de um casal de vizinhos, aproveita a
situação em que o marido e a esposa estão juntos, conversando na rua, e joga um artefato explosivo nas
vítimas, sendo a explosão deste material bélico a causa eficiente da morte do casal. Apesar de todos os fatos
e a autoria restarem provados em inquérito encaminhado ao Ministério Público com relatório final de

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indiciamento de Juarez, o Promotor de Justiça se mantém inerte em razão de excesso de serviço, não
apresentando denúncia no prazo legal. Depois de vários meses com omissão do Promotor de Justiça, o filho
do casal falecido procura o advogado da família para adoção das medidas cabíveis.
No momento da apresentação de queixa em ação penal privada subsidiária da pública, o advogado do filho
do casal, sob o ponto de vista técnico, de acordo com o Código Penal, deverá imputar a Juarez a prática de
dois crimes de homicídio em
A) concurso material, requerendo a soma das penas impostas para cada um dos delitos.
B) concurso formal, requerendo a exasperação da pena mais grave em razão do concurso de crimes.
C) continuidade delitiva, requerendo a exasperação da pena mais grave em razão do concurso de crimes.
D) concurso formal, requerendo a soma das penas impostas para cada um dos delitos.
Comentários
Resposta: D
O concurso formal imperfeito ocorre quando, por meio de uma só ação, o agente gera vários crimes, porém
com dolos independentes em relação a cada crime, ou seja, atua com desígnios autônomos. Nesses casos
aplica-se a pena de cada um dos crimes separadamente, somando-as, da mesma forma que ocorre no
concurso material.

(FGV/XXVI Exame da OAB) Cadu, com o objetivo de matar toda uma família de inimigos, prática, durante
cinco dias consecutivos, crimes de homicídio doloso, cada dia causando a morte de cada um dos cinco
integrantes da família, sempre com o mesmo modus operandi e no mesmo local. Os fatos, porém, foram
descobertos, e o autor, denunciado pelos cinco crimes de homicídio, em concurso material. Com base nas
informações expostas e nas previsões do Código Penal, provada a autoria delitiva em relação a todos os
delitos, o advogado de Cadu:
A) não poderá buscar o reconhecimento da continuidade delitiva, tendo em vista que os crimes foram
praticados com violência à pessoa, somente cabendo reconhecimento do concurso material.
B) não poderá buscar o reconhecimento de continuidade delitiva, tendo em vista que os crimes foram
praticados com violência à pessoa, podendo, porém, o advogado pleitear o reconhecimento do concurso
formal de delitos.
C) poderá buscar o reconhecimento da continuidade delitiva, mesmo sendo o delito praticado com violência
contra a pessoa, cabendo, apenas, aplicação da regra de exasperação da pena de 1/6 a 2/3.
D) poderá buscar o reconhecimento da continuidade delitiva, mas, diante da violência contra a pessoa e da
diversidade de vítimas, a pena mais grave poderá ser aumentada em até o triplo.
Comentários
Resposta: D
O crime continuado ocorre quando, por meio de várias condutas, o agente realiza inúmeros crimes, desde
que todos sejam da mesma espécie (mesmo artigo – STF), e todos sejam realizados em circunstâncias de
tempo, lugar e modo de execução semelhantes. No caso, como Cadu, com o objetivo de matar toda uma

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família de inimigos, praticou, durante cinco dias consecutivos, crimes de homicídio doloso, cada dia causando
a morte de cada um dos cinco integrantes da família, sempre com o mesmo modus operandi e no mesmo
local, poderá ser pleiteado o reconhecimento do crime continuado específico, exasperando-se a pena de 1/6
até o triplo, pois alem das caraterísticas básicas do crime continuado, houve violência e pluralidade de
vítimas.

(FGV/XXIX Exame da OAB) Sandra, mãe de Enrico, de 4 anos de idade, fruto de relacionamento anterior,
namorava Fábio. Após conturbado término do relacionamento, cujas discussões tinham como principal
motivo a criança e a relação de Sandra com o ex-companheiro, Fábio comparece à residência de Sandra,
enquanto esta trabalhava, para buscar seus pertences. Na ocasião, ele encontrou Enrico e uma irmã de
Sandra, que cuidava da criança.
Com raiva pelo término da relação, Fábio, aproveitando-se da distração da tia, conversa com a criança sobre
como seria legal voar do 8o andar apenas com uma pequena toalha funcionando como paraquedas. Diante
do incentivo de Fábio, Enrico pula da varanda do apartamento com a toalha e vem a sofrer lesões corporais
de natureza grave, já que cai em cima de uma árvore.
Descobertos os fatos, a família de Fábio procura advogado para esclarecimentos sobre as consequências
jurídicas do ato.
Considerando as informações narradas, sob o ponto de vista técnico, deverá o advogado esclarecer que a
conduta de Fábio configura:
A) conduta atípica, já que não houve resultado de morte a partir da instigação ao suicídio.
B) crime de instigação ao suicídio consumado, com pena inferior àquela prevista para quando há efetiva
morte.
C) crime de instigação ao suicídio na modalidade tentada.
D) crime de homicídio na modalidade tentada.
Comentários
Resposta: D
- Nesta questão foi abordada uma situação muito específica, na qual o agente leva um menor (inimputável)
a tirar a própria vida. Caso a mesma conduta narrada no enunciado fosse realizada contra uma pessoa
imputável, haveria o crime de induzimento ao suicídio (Art. 122CP), porem, como o menor inimputável não
tem capacidade de discernimento para seus atos, o agente deve responder pelo crime de homicídio doloso,
como autor indireto (mediato) do crime, porem, na sua forma tentada, já que a vitima, por motivos alheios
a vontade do agente, não morreu.

(FGV-OAB XXX Exame Unificado) Mário trabalhava como jardineiro na casa de uma família rica, sendo
tratado por todos como um funcionário exemplar, com livre acesso a toda a residência, em razão da
confiança estabelecida. Certo dia, enfrentando dificuldades financeiras, Mário resolveu utilizar o cartão
bancário de seu patrão, Joaquim, e, tendo conhecimento da respectiva senha, promoveu o saque da quantia

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de R$ 1.000,00 (mil reais). Joaquim, ao ser comunicado pelo sistema eletrônico do banco sobre o saque feito
em sua conta, efetuou o bloqueio do cartão e encerrou sua conta. Sem saber que o cartão se encontrava
bloqueado e a conta encerrada, Mário tentou novo saque no dia seguinte, não obtendo êxito. De posse das
filmagens das câmeras de segurança do banco, Mário foi identificado como o autor dos fatos, tendo admitido
a prática delitiva. Preocupado com as consequências jurídicas de seus atos, Mário procurou você, como
advogado(a), para esclarecimentos em relação à tipificação de sua conduta.
Considerando as informações expostas, sob o ponto de vista técnico, você, como advogado(a) de Mário,
deverá esclarecer que sua conduta configura:
A) os crimes de furto simples consumado e de furto simples tentado, na forma continuada.
B) os crimes de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado e de furto qualificado pelo abuso de
confiança tentado, na forma continuada.
C) um crime de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado, apenas.
D) os crimes de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado e de furto qualificado pelo abuso de
confiança tentado, em concurso material.
Comentários
Resposta: C
Trata-se de questão inerente ao tema concurso de crimes previsto nos Art. 69/70/71 CP, e também
relacionada ao instituto do crime impossível. De acordo com o caso narrado o agente realizou o crime de
furto qualificado (Art. 155 par. 4º II CP) pelo abuso de confiança, ao subtrair R$ 1000,00 da conta de seu
patrão que, de acordo com o que foi narrado, depositava total confiança no referido funcionário. Entretanto,
ao tentar realizar o segundo saque a conta bancaria já estava encerrada, sendo assim impossível se consumar
esta segunda conduta de furto, o que caracteriza o instituto do crime impossível (art. 17 CP), causa de
atipicidade deste fato. Sendo assim, todas as alternativas que se referem a concurso de crimes então erradas,
havendo um crime único de furto qualificado realizado na situação apresentada.
Desta forma, a alternativa correta é a letra C.

(FGV-OAB XXXI Exame Unificado) Maria, em uma loja de departamento, apresentou roupas no valor de R$
1.200 (mil e duzentos reais) ao caixa, buscando efetuar o pagamento por meio de um cheque de terceira
pessoa, inclusive assinando como se fosse a titular da conta. Na ocasião, não foi exigido qualquer documento
de identidade. Todavia, o caixa da loja desconfiou do seu nervosismo no preenchimento do cheque, apesar
da assinatura perfeita, e consultou o banco sacado, constatando que aquele documento constava como
furtado. Assim, Maria foi presa em flagrante naquele momento e, posteriormente, denunciada pelos crimes
de estelionato e falsificação de documento público, em concurso material.
Confirmados os fatos, o advogado de Maria, no momento das alegações finais, sob o ponto de vista técnico,
deverá buscar o reconhecimento:
A) do concurso formal entre os crimes de estelionato consumado e falsificação de documento público.
B) do concurso formal entre os crimes de estelionato tentado e falsificação de documento particular.
C) de crime único de estelionato, na forma consumada, afastando-se o concurso de crimes.

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D) de crime único de estelionato, na forma tentada, afastando-se o concurso de crimes.


Comentários
Resposta D
Trata-se de questão relacionada ao tema concurso de crimes, previsto nos Art. 69/70/71 do CP, mais
especificamente sobre a ausência do concurso de crimes, em face da regra da consunção, para que se
considere um único crime ocorrido.
A situação apresentada se refere a conduta de falsificar uma assinatura na emissão de um cheque, visando
assim obter uma vantagem mediamente fraude.
Desta forma, com base na regra da consunção, e de acordo com a sumula 17 do STJ, o crime de falsidade
(Art. 297CP), crime-meio, ficará absorvido pelo crime de estelionato (Art. 171 CP), crime-fim, não havendo
concurso de crimes.
Observe-se que, de acordo com os fatos narrados, o estelionato não chegou a se consumar, pois não houve
a obtenção da vantagem pretendida, caracterizando-se apenas a tentativa deste crime.
Logo, a alternativa correta é a letra D.

4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muito bem pessoal, fechamos mais essa aula que como dissemos, é bem diferente de todas as outras que
tivemos até agora, pelo menos na sua primeira parte, já que o tema concurso de pessoas não faz parte nem
da teoria do crime, nem da teoria da pena, sendo um tema “independente”, mas que faz parte dos assuntos
mais importantes de Direito Penal Material que você poderá encontrar em sua prova!!!

Por fim, fizemos um detalhado estudo do tema Concurso de crimes e suas espécies, que abordamos na
segunda parte da nossa aula, assunto que na verdade se refere a aplicação da pena quando o agente realiza
mais de um crime, seja como uma só conduta, seja com duas ou mais condutas, e assim fechamos mais este
importante capítulo do nosso estudo, rumo a nossa aprovação!!!!

Bora continuar a mandar ver, que o negócio está ficando bom e agora nosso estudo vai esquentar ainda
mais!!

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