Você está na página 1de 2

CURSO DE FARMÁCIA

Disciplina: Farmacologia Clínica II


Professor: Francisco José Batista
Semestre 2023.1

Antimicobacterianos

As micobactérias causam doenças épicas: a tuberculose (TB) e a hanseníase


aterrorizam a humanidade desde a antiguidade.
A infecção por micobactérias continua a ser de difícil tratamento, devido principalmente
a alguns dos motivos listados a seguir:
 Como crescem mais devagar do que outras bactérias, os antibióticos mais ativos contra
as células de crescimento rápido se mostram relativamente ineficazes. As células de
micobactérias também podem ficar latentes e, assim, totalmente resistentes a muitos
fármacos ou morrer de modo muito lento.
 A parede celular das micobactérias rica em lipídeos é impermeável a muitos agentes.
 As espécies de micobactérias são patógenos intracelulares, e os organismos que residem
dentro dos macrófagos são inacessíveis aos fármacos que penetram mal nessas células.
 As micobactérias são notórias por sua capacidade de desenvolver resistência.
As combinações de dois ou mais fármacos são necessárias para que sejam superados
esses obstáculos e para que se evite o surgimento de resistência durante o curso da terapia. A
resposta das infecções por micobactérias à quimioterapia é lenta, e o tratamento deve ser
administrado durante meses a anos, dependendo de quais fármacos sejam empregados.

1. Fármacos usados na tuberculose

Isoniazida, rifampicina, pirazinamida e etambutol são os quatro tradicionais agentes de


primeira linha para tratamento de tuberculose.
A isoniazida é uma molécula pequena, totalmente solúvel em água, capaz de inibir a
síntese de ácidos micólicos, que são componentes essenciais das paredes celulares das
micobactérias. A molécula é absorvida de imediato a partir do trato gastrintestinal.
O etambutol é um composto sintético que inibe as arabinosil-transferases das
micobactérias, que estão envolvidas na reação de polimerização do arabinoglicano, um
componente essencial da parede celular das micobactérias. O etambutol é bem absorvido no
intestino. Assim como ocorre com todos os fármacos antituberculosos, a resistência ao
etambutol surge rapidamente quando o medicamento é empregado de forma isolada.
A pirazinamida é usada apenas para tratamento de tuberculose. É inativa em pH
neutro, mas em pH de 5,5 inibe os bacilos da tuberculose em concentrações de
aproximadamente 20 mcg/mL. Esse fármaco é captado por macrófagos e exerce sua atividade
contra as micobactérias que residem no ambiente ácido dos lisossomos. O fármaco interrompe o
metabolismo da membrana celular das micobactérias e abala sua função de transporte.
A rifampicina, pertencente a classe das rifamicinas, liga-se à subunidade β da RNA-
polimerase dependente de DNA (rpoB) para formar um complexo fármaco-enzima estável. A
ligação ao fármaco impede a formação da cadeia na síntese de RNA. Além da ação contra M.
tuberculosis, a rifampicina inibe o crescimento da maioria das bactérias Gram-positivas, bem
como muitos microrganismos Gram-negativos, tais como Escherichia coli, Pseudomonas e
Klebsiella. O fármaco também possui alta atividade contra Neisseria meningitidis e
Haemophilus influenzae. Após administração oral, as rifamicinas são absorvidas em graus
variáveis. A presença do alimento reduz a concentração plasmática máxima da rifampicina em
um terço, portanto, a rifampicina deverá ser administrada com o estômago vazio.
As fluoroquinolonas são inibidoras da DNA-girase. Os fármacos como o
ciprofloxacino, o levofloxacino, o gatifloxacino e o moxifloxacino têm representado por vários
anos os agentes anti-TB de segunda escolha, porém são limitados pelo rápido desenvolvimento
de resistência.

2. Fármacos usados na hanseníase

Diversos fármacos intimamente relacionados com as sulfonamidas têm sido empregados


de forma efetiva no tratamento em longo prazo da hanseníase. O mais utilizado é a dapsona
(diaminodifenilsulfona).
A dapsona é um agente de amplo espectro com efeitos antibacterianos, antiprotozoários
e antifúngicos. A dapsona é um análogo estrutural do ác. paraminobenzóico (PABA) e um
inibidor competitivo da di-hidropteroato-sintase (folP1/P2) na via do folato, dessa forma,
interfere na síntese de desoxinucleotídeos. A dapsona é bacteriostática contra o M. leprae nas
concentrações de 1 a 10 mg/L, porém os CIM dos isolados de M. tuberculosis são elevados.
A dapsona também é altamente eficiente contra o Plasmodium falciparum e contra o
fungo Pneumocystis jiroveci.
A rifampicina (ver seção anterior) na posologia de 600 mg por dia é altamente efetiva
na hanseníase e é administrada com pelo menos mais um medicamento para prevenção do
surgimento de resistência. Até mesmo uma dose de 600 mg por mês pode ser benéfica na terapia
combinada.
A clofazimina é uma substância usada no tratamento da hanseníase multibacilar,
considerada como mais severa do que a hanseníase paucibacilar. Seu mecanismo de ação não
está claramente definido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRUNTON, L.; HILAL-DANDAN, R.; KNOLLMAN, B. As bases farmacológicas da terapêutica de


Goodman & Gilman. 13. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2019.
(Capítulo 60 - Quimioterapia da tuberculose, doença do complexo Mycobacterium avium e hanseníase)

KATZUNG, B. G. (Ed.). Farmacologia: básica e clínica. 13. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2017.
(Capítulo 47 - Fármacos antimicobacterianos)

Você também pode gostar