As micobactérias causam doenças épicas: a tuberculose (TB) e a hanseníase
aterrorizam a humanidade desde a antiguidade. A infecção por micobactérias continua a ser de difícil tratamento, devido principalmente a alguns dos motivos listados a seguir: Como crescem mais devagar do que outras bactérias, os antibióticos mais ativos contra as células de crescimento rápido se mostram relativamente ineficazes. As células de micobactérias também podem ficar latentes e, assim, totalmente resistentes a muitos fármacos ou morrer de modo muito lento. A parede celular das micobactérias rica em lipídeos é impermeável a muitos agentes. As espécies de micobactérias são patógenos intracelulares, e os organismos que residem dentro dos macrófagos são inacessíveis aos fármacos que penetram mal nessas células. As micobactérias são notórias por sua capacidade de desenvolver resistência. As combinações de dois ou mais fármacos são necessárias para que sejam superados esses obstáculos e para que se evite o surgimento de resistência durante o curso da terapia. A resposta das infecções por micobactérias à quimioterapia é lenta, e o tratamento deve ser administrado durante meses a anos, dependendo de quais fármacos sejam empregados.
1. Fármacos usados na tuberculose
Isoniazida, rifampicina, pirazinamida e etambutol são os quatro tradicionais agentes de
primeira linha para tratamento de tuberculose. A isoniazida é uma molécula pequena, totalmente solúvel em água, capaz de inibir a síntese de ácidos micólicos, que são componentes essenciais das paredes celulares das micobactérias. A molécula é absorvida de imediato a partir do trato gastrintestinal. O etambutol é um composto sintético que inibe as arabinosil-transferases das micobactérias, que estão envolvidas na reação de polimerização do arabinoglicano, um componente essencial da parede celular das micobactérias. O etambutol é bem absorvido no intestino. Assim como ocorre com todos os fármacos antituberculosos, a resistência ao etambutol surge rapidamente quando o medicamento é empregado de forma isolada. A pirazinamida é usada apenas para tratamento de tuberculose. É inativa em pH neutro, mas em pH de 5,5 inibe os bacilos da tuberculose em concentrações de aproximadamente 20 mcg/mL. Esse fármaco é captado por macrófagos e exerce sua atividade contra as micobactérias que residem no ambiente ácido dos lisossomos. O fármaco interrompe o metabolismo da membrana celular das micobactérias e abala sua função de transporte. A rifampicina, pertencente a classe das rifamicinas, liga-se à subunidade β da RNA- polimerase dependente de DNA (rpoB) para formar um complexo fármaco-enzima estável. A ligação ao fármaco impede a formação da cadeia na síntese de RNA. Além da ação contra M. tuberculosis, a rifampicina inibe o crescimento da maioria das bactérias Gram-positivas, bem como muitos microrganismos Gram-negativos, tais como Escherichia coli, Pseudomonas e Klebsiella. O fármaco também possui alta atividade contra Neisseria meningitidis e Haemophilus influenzae. Após administração oral, as rifamicinas são absorvidas em graus variáveis. A presença do alimento reduz a concentração plasmática máxima da rifampicina em um terço, portanto, a rifampicina deverá ser administrada com o estômago vazio. As fluoroquinolonas são inibidoras da DNA-girase. Os fármacos como o ciprofloxacino, o levofloxacino, o gatifloxacino e o moxifloxacino têm representado por vários anos os agentes anti-TB de segunda escolha, porém são limitados pelo rápido desenvolvimento de resistência.
2. Fármacos usados na hanseníase
Diversos fármacos intimamente relacionados com as sulfonamidas têm sido empregados
de forma efetiva no tratamento em longo prazo da hanseníase. O mais utilizado é a dapsona (diaminodifenilsulfona). A dapsona é um agente de amplo espectro com efeitos antibacterianos, antiprotozoários e antifúngicos. A dapsona é um análogo estrutural do ác. paraminobenzóico (PABA) e um inibidor competitivo da di-hidropteroato-sintase (folP1/P2) na via do folato, dessa forma, interfere na síntese de desoxinucleotídeos. A dapsona é bacteriostática contra o M. leprae nas concentrações de 1 a 10 mg/L, porém os CIM dos isolados de M. tuberculosis são elevados. A dapsona também é altamente eficiente contra o Plasmodium falciparum e contra o fungo Pneumocystis jiroveci. A rifampicina (ver seção anterior) na posologia de 600 mg por dia é altamente efetiva na hanseníase e é administrada com pelo menos mais um medicamento para prevenção do surgimento de resistência. Até mesmo uma dose de 600 mg por mês pode ser benéfica na terapia combinada. A clofazimina é uma substância usada no tratamento da hanseníase multibacilar, considerada como mais severa do que a hanseníase paucibacilar. Seu mecanismo de ação não está claramente definido.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRUNTON, L.; HILAL-DANDAN, R.; KNOLLMAN, B. As bases farmacológicas da terapêutica de
Goodman & Gilman. 13. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2019. (Capítulo 60 - Quimioterapia da tuberculose, doença do complexo Mycobacterium avium e hanseníase)
KATZUNG, B. G. (Ed.). Farmacologia: básica e clínica. 13. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2017. (Capítulo 47 - Fármacos antimicobacterianos)