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Asma

Fatores de risco, Diagnóstico, Tratamento farmacológico


e Prognóstico

M Aurora Mendes aurora.mendes@ua.pt


Pneumologia, Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV)
Laboratório de Investigação e Reabilitação Respiratória (Lab3R), Escola Superior de Saúde e
Instituto de Biomedicina (iBiMED), Universidade de Aveiro
Objetivos

• Definir asma
• Compreender os fatores de risco, o diagnóstico, o tratamento farmacológico e o prognóstico da
asma
Definição

• Doença heterogénea

• Caraterizada geralmente por:


1. inflamação crónica das vias aéreas
2. hiperreatividade brônquica

• Definida por:
1. sintomas respiratórios como pieira, dispneia, opressão torácica e tosse que variam ao
longo do tempo e de intensidade
2. obstrução variável ao fluxo aéreo expiratório que é geralmente reversível
Fatores de risco
Fatores de risco

• História familiar de asma


• Genética
• Infeções respiratórias víricas (rinovírus humano e vírus sincicial respiratório)
• Tabagismo
• Exposições ambientais indoor e outdoor (alergénios, poluentes, …)
• Obesidade
• Microbioma (colonização assintomática da hipofaringe no período neonatal por Streptococcus pneumoniae,
Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis)
• Prematuridade
• Exposições maternas (tabagismo, obesidade, stress, …)
• Fatores psicossociais (stress, ansiedade, depressão, violência, …)
Diagnóstico

• História clínica
• História familiar
• Exame físico
• Exames auxiliares de diagnóstico (EAD)
Diagnóstico – História Clínica

Pieira, dispneia, tosse e opressão torácica

• Início na infância
• Agravam à noite ou ao início da manhã
• Variam ao longo do tempo e de intensidade
• São desencadeados por infeções víricas, exercício, alergénios, alterações climáticas, riso ou
irritantes como fumo dos carros, tabaco ou cheiros intensos
Diagnóstico – EAD

NÃO existe um EAD gold standard para o diagnóstico de asma!

Espirometria

• recomendada: indivíduos com ≥5 anos


• permite detetar obstrução ao fluxo aéreo expiratório = FEV1/FVC < LLN
• uma espirometria normal NÃO exclui o diagnóstico de asma!
Diagnóstico – EAD
Diagnóstico – EAD

Função respiratória

pode variar entre normal e


obstrução muito grave ao
fluxo aéreo expiratório
Diagnóstico – EAD

Prova de broncodilatação

• administrar salbutamol 400ug inalado (ou brometo de ipratrópio 160ug inalado)


• repetir espirometria 15 minutos depois
• positiva: ↑ FEV1>12% e 200mL
↑ FEV1>12%
Diagnóstico – EAD

Avaliação do PEF com peak flow meter

• registar o melhor PEF de 3 expirações forçadas, após atingir a capacidade pulmonar total,
2 vezes por dia durante 2 semanas
• variabilidade excessiva: >10%
>13%
Diagnóstico – EAD
Diagnóstico – EAD

Reavaliação da função respiratória após tratamento de manutenção durante 4 semanas

• ↑ FEV1>12% e 200mL OU ↑ PEF>20%

Reavaliação da função respiratória entre consultas (menos fiável)

• ↑ FEV1>12% e 200mL
• ↑ FEV1>12% OU PEF>15%
Diagnóstico – EAD

Teste de provocação com metacolina

• realizar exclusivamente em
• administrar metacolina em dose ou concentração crescente
• positivo: ↓ FEV1≥20%
• determinar a dose ou concentração que origina uma ↓ FEV1 de 20% (PD20 ou PC20)
Diagnóstico – EAD

PD/PC[-20] FEV1 acumulada: = 0.218mg metacolina


Diagnóstico – EAD

Teste de provocação com corrida

• positivo: ↓ FEV1>10% e 200mL


↓ FEV1>12% OU ↓ PEF>15%
• elevado valor preditivo positivo para asma de exercício nas

Eosinófilos séricos
Testes cutâneos prick
IgE total e IgE específicas séricas
Fração exalada de óxido nítrico (FeNO)
Diagnóstico – EAD
Avaliação

A avaliação de um doente com asma deve incluir:

1. Avaliação do controlo da asma


2. Confirmação do tratamento farmacológico
não farmacológico
3. Identificação e gestão de comorbilidades

2 domínios:

A. Controlo dos sintomas


B. Risco futuro de eventos adversos
Avaliação do Controlo da Asma

A. Avaliação do controlo de sintomas


B. Avaliação do risco futuro de eventos adversos

- exacerbações
- obstrução persistente ao fluxo aéreo expiratório
- efeitos laterais do tratamento
Tratamento
Tratamento
Tratamento farmacológico

1. Medicação de controlo 2. Medicação de alívio

• reduz a inflamação das vias aéreas • deve ser prescrita em TODOS os doentes
• controla os sintomas para uso aquando do agravamento dos
• reduz o risco futuro de eventos adversos sintomas
• reduzir (idealmente eliminar) a
necessidade de medicação de alívio:
objetivo major do controlo da asma
Tratamento farmacológico

1. Medicação de controlo 2. Medicação de alívio

• corticóide inalado / agonista beta-2 de • corticóide inalado / formoterol


longa duração de ação (ICS/LABA) (ICS/formoterol)
• corticóide inalado (ICS) • agonista beta-2 de curta duração de ação
• brometo de tiotrópio (antimuscarínico de (SABA)
longa duração de ação)
• antagonista dos leucotrienos
• azitromicina
• corticóide oral
Tratamento farmacológico

Mometasona/Indacaterol/Glicopirrónio Budesonida/Formoterol Budesonida/Formoterol


(ICS/LABA/LAMA) (ICS/LABA) (ICS/LABA)
Tratamento farmacológico

Fluticasona/Formoterol Budesonida/Formoterol Budesonida Salbutamol


(ICS/LABA) (ICS/LABA) (ICS) (SABA)
Tratamento farmacológico

Adultos e adolescentes
Tratamento farmacológico
Tratamento farmacológico
Tratamento farmacológico
Tratamento farmacológico

Crianças dos 6-11 anos


Tratamento farmacológico
Tratamento farmacológico
Tratamento farmacológico
Tratamento farmacológico
Tratamento farmacológico
Tratamento farmacológico

Asma de difícil controlo

• Doentes no degrau 4 ou 5 de
tratamento do GINA com asma não - avaliar as hipóteses de diagnóstico (confirmar
o diagnóstico)
controlada
- otimizar os fatores que podem contribuir
OU
• Doentes no degrau 4 ou 5 de para os sintomas e/ou as exacerbações (má
técnica inalatória, não adesão ao tratamento, tabagismo,
tratamento do GINA que necessitam
exposição a alergénios, uso excessivo de SABA, …)
deste tratamento para manter a
asma controlada
Asma deixa de ser “de difícil controlo”!
Tratamento farmacológico

Asma grave

• Subgrupo da asma de difícil controlo


• Asma não controlada apesar de tratamento otimizado e abordagem dos fatores que podem
contribuir para os sintomas e/ou as exacerbações
OU
• Asma que agrava quando se tenta reduzir o tratamento
Tratamento farmacológico
Prognóstico

• A maioria dos indivíduos com asma têm um bom controlo da doença!


• 2010, Portugal

- apenas 57% dos indivíduos com asma tinha a doença controlada, ou seja cerca de
300.000 portugueses necessitavam de uma melhor abordagem para o tratamento da asma
- 88% dos indivíduos com asma não controlada consideravam erradamente a sua doença como
controlada
Prognóstico

• Portugal: um dos países da OCDE com menos internamentos por asma e por DPOC
decréscimo sustentado dos internamentos por asma e por DPOC
Prognóstico

• <1% das mortes no mundo


• 2019: 461.000 mortes no mundo (>1.200 mortes/dia)
• >80% das mortes ocorrem em países de rendimento
baixo e médio
• Portugal integra o grupo dos países com menor
mortalidade por asma
• A maioria das mortes por asma são preveníveis
Referências
• Ali D, Mohini P, Brian DM. Asthma biologics Comparing trial designs, patient cohorts and study results. Ann Allergy Asthma
Immunol. 2020;124(1):44-56
• Programa Nacional para as Doenças Respiratórias, Doenças Respiratórias Desafios e Estratégias, 2018
• Elinari O, Sinha S. The Global Impact of Asthma in Adult Populations. Annals of Global Health. 2019; 85(1): 2, 1–7
• Gibson GJ, Loddenkemper R, Sibille Y, Lundbäck B. The European Lung White Book: Respiratory Health and Disease in Europe:
European Respiratory Society, 2013
• Global Initiative for Asthma, Global Strategy for Asthma Management and Prevention, 2021 Update
• Jennifer LM, Sreenivas PV, Bill TA, William JC. Diagnosis and Management of Asthma in Adults, A Review. JAMA.
2017;318(3):279-290
• Norma clínica da Direção Geral de Saúde: 016/2011, Monitorização e Tratamento Para o Controlo da Asma na Criança, no
Adolescente e no Adulto, atualização 05/07/2017
• Programa Nacional para as Doenças Respiratórias 2012-2016, Boas Práticas e Orientações para o Controlo da Asma no Adulto e na
Criança, 2014
• Stephen TH, Sally W, Dirkje SP, Scott TW, Harald R, Peter DS. Asthma. Nat Rev Dis Primers. 2015;1(1):15025.
Asma
Fatores de risco, Diagnóstico, Tratamento farmacológico
e Prognóstico

M Aurora Mendes aurora.mendes@ua.pt


Pneumologia, Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV)
Laboratório de Investigação e Reabilitação Respiratória (Lab3R), Escola Superior de Saúde e
Instituto de Biomedicina (iBiMED), Universidade de Aveiro

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