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23/10/2023

Cancro do colo
Oncologia ginecológica
Professora Sónia Ramalho do útero

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Cancro do colo do útero


Epidemiologia

O cancro do colo do útero (CCU) é o quarto cancro mais comum em todo o O tipo histológico dominante é o Os subtipos HPV 16 e 18 são
responsáveis a nível mundial por
mundo, representando um grave problema de saúde pública. carcinoma espinocelular sendo o
carcinoma invasivo responsável por
Virtualmente, todos os casos de CCU
são atribuídos à infeção persistente cerca de 70% dos casos de CCU o
cerca de 20% dos casos. pelo HPV de alto risco oncogénico. espinocelular e por 82,3 % dos
adenocarcinomas invasivos, estando
Outros mais raros incluem os Existem, pelo menos 12 subtipos
Anualmente, afeta mais de 500.000 mulheres, morrendo cerca de 265.700 tumores neuroendócrinos e os considerados oncogénicos.
os subtipos HPV 31, 33, 35,45,52 e
58 associado ao acréscimo de mais
mulheres vítimas da doença, 85-90% das quais em países desenvolvidos. indiferenciados . de que 20% dos casos de CCU.

Constitui a segunda causa de morte de cancro em mulheres jovens (entre os


15-44 anos).
(Neves, 2019)
(Neves, 2019)
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Sobrevivência
Fatores de risco
Como se trata de um tumor acessível ao exame clínico, é passível de
rastreio e deteção precoce e de tratamento de lesões pré-cancerosas e
invasivas iniciais, o que possibilita tratamentos menos agressivos,
subtipo de HPV infetante e incluindo cirurgia de preservação da fertilidade.
a persistência de infeção
idade de início da atividade número de parceiros
(maiores fatores de risco de multiparidade
sexual sexuais
progressão e
desenvolvimento de CCU). A sobrevivência aos 5 anos depende do estádio e de fatores de
prognóstico, tais como volume do tumor e a profundidade de invasão,
condições que o envolvimento ganglionar, a invasão do espaço linfovascular e o
comprometam a
contraceção hormonal
prolongada
hábitos tabágicos outras IST’s imunidade subtipo histológico.
(imunossupressão e infeção
por HIV)

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Estadiamento Fisiologia e fisiopatogenia


O estadiamento do CCU faz-se segundo as normas da Federação Internacional de
Ginecologia e Obstetrícia (FIGO). FIGO Cancer Report 2018
https://www.msdmanuals.com/pt

O CCU tem origem na zona de transformação do colo, ao longo da junção escamocolunar (JEC), que é uma
Os estádios iniciais têm uma sobrevivência aos 5 anos > 95% e os estádios mais zona com elevada taxa de proliferação celular, sendo mais vulnerável ao estímulo carcinogénico.
avançados apresentam uma sobrevivência aos 5 anos de 66,5 %, 45%, 36 % e 14%
para os estádios IIB,IIIA, IIB e IV, respetivamente.
Os estádios de carcinogénese cervical incluem infeção persistente, com o desenvolvimento de lesões pré
cancerosas, sendo a progressão para carcinoma um processo muito lento, pode durar mais de 10 a 12
anos.

A maioria das infeções por HPV de alto risco oncogénico, especialmente em mulheres jovens, é
clinicamente oculta, regredindo espontaneamente. A duração média da infeção por HPV é de 8 meses,
sendo a taxa de eliminação das novas infeções de 70% ao fim de 1 ano e 90% ao fim de 2 anos .

(Neves, 2019)
(Neves, 2019)
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Clínica
Sintomas e anamnese Exame clínico
Exame vaginal com espéculo
O CCU é frequentemente assintomático, em especial nos
estádios iniciais sendo detetado pelo teste de rastreio
alterado (citologia e o teste de HPV).
https://hmsportugal.wordpress.com/tag/especulo/feed/
Toque vaginal https://www.vitaesaude.com.br/

Sintomas
• Hemorragia vaginal é o sintoma mais frequente,
manifestando-se por coitorragias ou metrorragias/spoting Toque retal
intermitente.
• Pode haver corrimento vaginal, dor pélvica ou dispareunia.
Os tumores de maiores dimensões podem ocorrer com Palpação Abdominal
corrimento fétido por necrose e sobreinfeção.
https://www.invitra.com/
Nos casos mais avançados podem apresentar sintomas
relacionados com a compressão dos ureteres, bexiga ou
intestino, envolvimento do nervo ciático, hemorragia vaginal Palpação das cadeias ganglionares inguinais, supra e infraclavicular
profusa e perda de urina ou fezes pela vagina.
(Neves, 2019)

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9 10

Investigação complementar

https://www.ginecoimagem.com.br/ Conização
O diagnóstico do CCU é histológico, devendo ser efetuado por biópsia ou em peça de conização.
• Exames laboratoriais de rotina, incluindo serologia de HIV e radiografia do tórax.
Consiste na excisão de um cone do colo que inclui exocolo e endocolo e engloba a lesão.

Para avaliação da extensão da doença:


- RM pélvica
- TC computadorizada
- Tomografia por emissão de positrões por tomografia computorizada (PET-TC) nos carcinomas Ansa ou agulha Laser de carbono
localmente avançados. Bisturi (“frio”)
diatérmica (CO2)
- Citoscopia, se suspeita de invasão da bexiga na RM
- Retossigmoidoscopia, se suspeita de invasão do reto na RM
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Intervenção terapêutica
https://drmarceloloureiro.com.br/

O tratamento do CCU depende


do estádio da doença e de A cirurgia pode ser efetuada
outros fatores, como o tipo de por um laparotomia ou
teste histológico e invasão laparoscopia ou robótica
linfovascular

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(SPG,

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Intervenção terapêutica Complicações


Podem ocorrer complicações associadas ao tratamento ou à doença.

A vigilância após tratamento deve ser efetuada com periodicidade quadrimensal no 1º ano, semestral
no 2º ano e posteriormente anual. O tratamento cirúrgico radical condiciona as complicações intra e pós-operatórias
imediatas e/ou pode apresentar complicações tardias, sendo as mais frequentes a
Recomenda-se citologia anual, sendo os restantes exames complementares de diagnóstico realizada em disfunção vesical o linfedema e a disfunção sexual. Estas complicações são mais
função do exame clínico e da sintomatologia da doente. frequentes quando é realizada RT adjuvante.

O tratamento das recidivas deve ser individualizado e depende do tratamento primário, da localização e
da extensão da recidiva. Pode incluir cirurgia (exenteração pélvica), QTRT, QT ou orientação para As complicações a longo prazo da RT incluem disfunção sexual, linfedema, cistites e
cuidados paliativos. colite/proctite rádicas e fístulas (entéricas, do cólon, retovaginais ou vesicovaginais).

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Prevenção
Complicações
https://www.atlasdasaude.pt/

A prevenção da CCU baseia-se em 2 estratégias: a prevenção primária


através da vacinação contra o HPV e a prevenção secundária com o
A QT pode apresentar rastreio, deteção e tratamento de lesões pré cancerosas.
toxicidade aguda ou tardia, As complicações da doença
sendo frequente a toxicidade avançada podem ser obstrução As vacinas contra o HPV são produzidas por tecnologia recombinante a
neurológica (neuropatia uretérica bilateral, oclusão partir dos genes L1 da capside viral de diferentes tipos de HPV.
periférica ou ototoxicidade) intestinal, hemorragia, fístulas e Licenciadas 3 vacinas:
associada a QT com derivados complicações tromboembólicas. • vacina quadrivalente: inclui os tipos 6, 11, 16 e 18
da platina ou paclitaxel. • vacina bivalente: engloba os tipos 16 e 18
• vacina nonavalente: integra, além dos tipos da quadrivalente, os tipos 31,33, 45,
52 e 58.
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Prevenção Prevenção
As vacinas têm uma eficácia de 90% na prevenção de infeções O rastreio da CCU tem sido o melhor sucedido na
história da Medicina, com redução da mortalidade da
persistentes e lesões pré-cancerosas relacionadas com os tipos mulher associada ao mesmo.
vacinais, sendo estimada uma proteção de 90% dos casos de CCU e de Os testes de rastreio consistem na citologia
(convencional ou em meio líquido) e no teste de HPV
mais de 95% de adenocarcinomas invasivos com a vacina monovalente. podem ser utilizados em associação (coteste).
A citologia é o teste rastreio tradicional:
Citologia em meio líquido
• Tem uma sensibilidade variável (30 a 80%) na deteção de lesões
São ainda eficazes contra outras doenças relacionadas com o HPV na intraepiteliais de alto grau cervicais, mas com elevada especificidade. https://newslab.com.br/

• Quando aplicada em programa de rastreio organizado permite a


vulva, vagina e ânus, tendo um perfil de segurança e tolerância redução da incidência e mortalidade por CCU entre 60 a 90%.
aceitável. • No entanto, apresenta baixa reprodutibilidade e acuidade na deteção
de lesões glandulares e tem baixa sensibilidade na população
vacinada.

(Neves, 2019) (Neves, 2019)


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Prevenção Conclusão
• O teste HPV apresenta elevada sensibilidade na deteção de percursoras do CCU, com elevado O CCU representa um grave problema de saúde pública a nível mundial e especial, em países em
valor preditivo negativo próximo dos 100%, proporcionando uma proteção entre 60 a 70 % desenvolvimento.
superior à citologia, e pode permitir alongar os períodos de rastreio. O HPV de alto risco oncogénico é o agente etiológico, sendo os tipos 16 e 18 responsáveis por 70% dos
casos a nível mundial, seguidos dos tipos 31, 33, 45, 52 e 58.
• É um teste reprodutível, sendo preferencial na população vacinada.
A carcinogénese cervical é um processo muito lento, que se desenvolve durante mais de 10 anos,
• O teste de HPV revela menor especificidade do que a citologia (92% vs 97%), devendo ser permitindo o rastreio diagnóstico e tratamento das lesões pré-cancerosas.
efetuada triagem dos testes positivos por citologia reflexa ou mediante o recurso a A identificação precoce do CCU em estádios iniciais proporciona tratamentos menos agressivos e
biomarcadores. eventual preservação da fertilidade, além de apresentar um prognóstico mais favorável com
• A periodicidade do rastreio depende do método utilizado, estando recomendada uma sobrevivência aos 5 anos > a 95%.
periodicidade trienal para o rastreio com base na citologia (após 2 citologias normais A prevenção primária do cancro é possível, estando, atualmente disponíveis vacinas muito eficazes,
consecutivas com intervalo de 1 ano) e de 5 em 5 anos para o rastreio efetuado com base no permitindo uma potencial prevenção até 90% dos casos de CCU.
teste de HPV. O rastreio, sobretudo na era pós-vacinação deve ser efetuado com base no teste de HPV, que apresenta
um elevado valor preditivo negativo e maior sensibilidade na deteção de lesão escamosa intraepitelial de
alto grau, permite alargar os intervalos de rastreio.
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Cancro do endométrio

Cancro do O cancro do endométrio é a neoplasia maligna ginecológica mais frequente nos


países desenvolvidos, sendo a maior parte de tipo endometrioide, dependentes do
estímulo estrogénico (tipo I).

endométrio
A forma típica da apresentação é a hemorragia uterina anómala numa mulher pós-
menopáusica e a ecografia transvaginal constitui o método de avaliação inicial.
O diagnóstico é histológico (biópsia endometrial).
O estadiamento é cirúrgico.

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Cancro do
endométrio Classificação histoapatológica

Definição: grupo de tumores derivados das


Classificação adaptada da OMS:
células epiteliais glandulares, em muitos • Carcinoma endometrióide (e variantes)
casos associados a diferenciação mucinosa • Carcinoma seroso
ou escamosa. Um grupo menos comum é • Carcinoma de células claras
representado pelos carcinomas de células • Carcinoma indiferenciado
claras ou carcinomas serosos.
• Carcinoma desdiferenciado
• Carcinossarcoma
Mais 90% dos casos ocorrem em mulheres • Tumores neuroendócrinos.
com idades > 50 anos (idade média de • Carcinomas mistos.
diagnóstico de 62 anos). No entanto, 4% dos
casos surgem antes dos 40 anos de idade.

(Neves, 2019) (SPG, 2021)


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Classificação
do ponto de vista biológico Fatores de risco

O carcinoma do endométrio divide-se em 2 tipos: Exposição prolongada ao Aporte estrogénico exógeno


ambiente hormonal de sem a adequada oposição Tumores hereditários
- Tipo 1 - carcinomas endometrioides G1 e G2, estrogénio-dependentes, com bom excessivo estrogénio endógeno progestagénica (terapêutica de (Síndrome de Lynch II, Síndrome de
prognóstico e que representam 80-90% dos casos. (obesidade, menarca precoce, menopausa
tardia, nuliparidade, anovulação crónica e
reposição estrogénica isolada, não Cowden)
combinada com progestativo).
tumor produtor).
- Tipo 2 - carcinomas de alto grau, incluindo os serosos, com pior prognóstico e que
representam 10% dos caso.

(SPG, 2021) (Neves, 2019)

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Clínica Diagnóstico
Biópsia endometrial:
- Hemorragia uterina anómala (90%). - biópsia não dirigida realizado de forma aleatória no com
dispositivo próprio (Pipelle) ou por dilatação cervical e
- Algias pélvicas curetagem.

- biópsia dirigida por histeroscopia


Numa mulher assintomática, a identificação de células a adenocarcinoma ou de O exame histeroscópico permite a visualização direta de https://www.reproduccionasistida.org/

toda a cavidade endometrial, a identificação de lesões


células glandulares atípicas na citologia cervical de rastreio implica a realização do suspeitas e a colheita de uma biópsia dirigida à formação
estudo do endocolo e do endométrio. tumoral.

Em cerca de 25 a 30% dos casos o diagnóstico histológico


da peça cirúrgica tem um grau de diferenciação menos
favorável do que a biópsia endometrial.

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https://endomulher.com.br/

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Fatores que aumentam o risco de doença extrauterina e recidivas:


Disseminação
• Idade > a 60 anos
• Subtipos teológico seroso, de células claras, carcinosarcoma e carcinofibroma
• Grau de diferenciação G3
• Invasão da metade externa do miométrio e extensão tumoral além do corpo
uterino (estroma cervical e anexos)
No cancro do endométrio apresenta 3 vias de disseminação: • Invasão do espaço linfovascular
• Extensão local da neoplasia para os órgãos adjacentes (vagina e anexos)
• Disseminação linfática para os gânglios pélvicos, lombo aórticos e inguinofemurais • Metastização ganglionar
• Disseminação hematogénea é tardia e atinge preferencialmente os pulmões, o fígado e o osso. • Tumor > a 2 cm

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Avaliação da extensão tumoral Tratamento


A avaliação prévia ao tratamento deve incluir: O estadiamento do cancro do endométrio deve ser cirúrgico, pois o estadiamento
clínico é incorreto em mais de 20% dos casos.
- exame físico geral e exame ginecológico
- ecografia transvaginal (avaliação inicial) Contraindicações à realização do estadiamento cirúrgico:
- exames laboratoriais de rotina (hemograma e bioquímica com função renal e hepática) -Doentes com alto risco de mortalidade ou mobilidade cirúrgica por comorbidades associadas
-Infiltração dos paramétrios
- radiografia do tórax -Metástases vaginais extensas

- ressonância magnética abdominal e pélvica (avaliação da extensão do carcinoma do -Invasão da bexiga e ou do reto confirmação histológica ou por RM
endométrio e está indicada na avaliação da exequibilidade cirúrgica)
O estadiamento cirúrgico adequado, de acordo com o sistema da FIGO, fornece informações
importantes para a seleção do tratamento adjuvante.
(Neves, 2019)

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Vigilância Vigilância
Objetivo: diagnosticar doença recidivante ou um novo tumor primário.
Aproximadamente 80% das recorrências surgem nos 2 primeiros anos
após o tratamento.
Periodicidade de consultas após o tratamento inicial:
A Vigilância baseia-se: • 1º e 2º anos: avaliação a cada 4 meses
-exame clínico e os exames complementares diagnósticos • 3º e 5º anos: avaliação de 6 em 6 meses
-doseamento do marcador tumoral CA-125 (controversa) • Após o 5º ano: avaliação anual
- citologia da cúpula vaginal (não deve ser realizada por rotina) (Neves, 2019)

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Tratamento da recidiva Mortalidade e prognóstico


A terapêutica é individualizada, de acordo com a localização e a extensão da Prognóstico do carcinoma do endométrio é determinado principalmente pelo
recidiva, o estádio inicial e os tratamentos realizados e considerando também o estádio da doença e características histológicas (grau de diferenciação e subtipo
estado geral e as comorbidades da doente. histológico).
A maioria dos casos de carcinoma do endométrio e é diagnosticada precocemente
Pode envolver radioterapia, quimioterapia, hormonoterapia e/ou cirurgia. (80% no estadio I), com taxas de sobrevivência aos 5 anos > a 95%.
Contudo as taxas de sobrevivência aos 5 anos são bastante inferiores, se existirem
envolvimento regional ou doença à distância (68% e 17%, respetivamente)
A recidiva vaginal é a mais frequente. O tratamento deve ser equacionado entre
braquiterapia vaginal e radioterapia externa e a ressecção cirúrgica seguida ou não
de radioterapia.

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Rastreio e prevenção
Atualmente, não existem evidências para o rastreio do carcinoma do
endométrio na população em geral. Cancro dos
O rastreio está recomendado apenas nas mulheres assintomáticas
portadoras de mutações associadas à síndrome de Lynch, a partir dos 35
anos e com periodicidade anual, até serem submetidos a cirurgia de redução
de risco (histerectomia com anexo anexotomia bilateral).
ovários
A vigilância de rotina com ecografia ginecológica nas mulheres sintomáticas
com risco aumentado de carcinoma do endométrio não está recomendada.
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Epidemiologia Fatores de risco


A mortalidade associada ao cancro
dos ovários reduziu em 10% entre - Gravidez (fator protetor)
2002 e 2012 na União Europeia,
sendo, aparentemente, a diminuição - Antecedentes de cirurgia dos órgãos pélvicos (efeito protetor sobretudo quando envolvem as
trompas)
mais representativa das mulheres
mais novas, comparativamente às - Menarca idade mais baixa e a menopausa em idade mais avançada (nível de evidência
reduzido)
mulheres em idade média de vida e as
mulheres mais idosas. - Contracetivos hormonais (reduzem o risco quanto maior é o tempo de utilização maior é o efeito)
A razão da redução referida é, - Tratamento hormonal na pós-menopausa (associação de risco na utilização prolongada)
essencialmente, associada à utilização - Hormonas endógenas (androgénios, estrogénios, gonadotrofina e proteínas relacionadas): efeito variável
de contracetivos hormonais orais. - Condições clínicas ou iatrogenia (diabetes mellitus, HTA, patologia da tiroide, endometriose, DIP…)
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(Neves, 2019)

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Cancro invasivo/invasor Tumores com baixa malignidade (borderline)


Frequência do cancro dos ovários
Estes tumores estão limitados aos ovários, são
Tipo histológico Frequência (%) persistentes, surgem essencialmente na menor pré-
menopausa, com incidência entre os 30-50 anos, e
Seroso 75-80 apresenta um prognóstico favorável.
Mucinoso 10
A metastização é rara e pode ocorrer de forma invasiva ou
Endometrioide 10 não invasiva.
Tumor das células claras <1
Tumor de Brenner https://docs.bvsalud.org/

Indiferenciado
A variante invasiva causa doença peritoneal com
complicações e, inclusivamente, mortalidade.
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Tumores peritoneais Rastreio


Quando a transformação maligna Não existem estratégias de rastreio para o cancro dos ovários.
ocorre primariamente no
peritoneu, designa-se de tumor O rastreio não se justifica, sobretudo se a incidência da doença é reduzida, como se
peritoneal (carcinoma seroso papilar verifica nos casos mais recentes em Portugal (0,98%).
primário do peritoneu)
- Marcador CA-125 e a ecografia ginecológica (combinada), para melhorar a eficácia
da deteção precoce.
Provoca sintomas idênticos ao
cancro dos ovários e atinge os - Potenciais marcadores da patologia ovárica
ovários, a parte superior do
abdómen, sobretudo o epíploon.

Esta variante tumoral está


associada ao tumor dos ovários https://www.cancer.gov/
(Neves, 2019)
nas mulheres com ooforectomia.
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Sintomas Diagnóstico
Os sintomas não são específicos:
- Ecografia endocavitária
- queixas dispersas ou com hemorragias uterinas anómalas. (suspeita/presença de massa anexial)

- dor/desconforto pélvico e ou abdominal - Análise do CA-125 (presença de


massa anexial)
- sintomas urinários - RM/TC, exames analíticos,
colonoscopia, endoscopia
- aumento do volume do abdómen digestiva alta, mamografia,
- dificuldades na alimentação e sensação de enfartamento. biópsia do endométrio e
colo (despiste de metastização e/ou
diagnóstico diferencial)
No exame tecnológico pode ser detetada uma massa pélvica.
A ascite ou derrame pleural podem surgir nos estádios avançados da https://www.saudebemestar.pt/

doença (Neves, 2019)

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Tratamento

- Tratamento cirúrgico: Disseminação:


• O procedimento cirúrgico é essencial no estadiamento da doença. • Transcelómica
• Classificação da FIGO • Linfática
- Quimioterapia • Hemática (não é frequente)
• Tratamento padronizado para as metástases dos ovários.
• Na doença em estádios precoces (IA) e baixo risco tumoral, não está indicada.
• No cancro avançado é indicada e de preferência combinada. Sobrevivência:
• Via de administração mais estudada é a endovenosa. • É variável e depende de diferentes fatores (etnia, estádio no diagnóstico e tipo
- Radioterapia histológico do tumor)
• Tumores em estádio precoce e mais avançado
• Pode ser abdominal e intraperitoneal
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Cancro da vulva

Cancro da É uma neoplasia rara, representando 5% de todos os cancros ginecológicos.


É mais frequente nas mulheres pós-menopáusicas.

vulva Sinais e sintomas:


• prurido vulvar é o sintoma mais frequente.
• presença de uma placa, massa ou úlcera no grande lábio é a forma de
apresentação mais usual.
Na doença mais avançada (hemorragia ou corrimento vulvar, disúria de contacto ou
adenomegalias inguinais).

(Neves, 2019) 52

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Diagnóstico: é histológico, obtido por biópsia vulvar. Disseminação:


- Extensão local da neoplasia para órgãos adjacentes (vagina, uretra e ânus)
Classificação: - Disseminação linfática
• 90% são carcinomas pavimentocelulares (queratinizante, não queratinizante, - Disseminação hematogénica (é tardia e interessa preferencialmente os
basaloide, condilomatoso, verrucoso) pulmões, fígado e osso)
• Outros (melanoma, doença de Paget, adenocarcinoma, carcinoma basocelular, sarcomas)
Fatores de prognóstico:
Fatores de risco: • A dimensão do tumor e a profundidade da invasão do estroma são os
principais fatores de risco para a metastização ganglionar.
- Nas mulheres pré-menopáusicas, estão frequentemente associados a infeção
pelo HPV oncogénico (tipo 16, 18 e 33). • O estado ganglionar é o fator prognóstico mais significativo.
- Relacionado com processo inflamatório crónico de distrofia vulvar.
Estadiamento:
• É cirúrgico, conforme critérios da FIGO

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Avaliação da extensão tumoral Tratamento


• Colheita da história clínica completa Deve ser individualizado
• Exame objetivo geral (com inspeção das regiões inguinais) É preferencialmente cirúrgico:
• Exame ginecológico • excisão radical do tumor
• abordagem das regiões inguinais (pesquisa de gânglio sentinela ou linfadenectomia
• Ecografia inguinal, complementada por citopunção de qualquer gânglio inguinofemural) por incisões separadas.
suspeito
• Exames laboratoriais
• Radiografia ao tórax
Tumores mais avançados: RM, TC abdominal, TC torácica, citoscopia e/ou retossigmoidoscopia
(Neves, 2019)
(Neves, 2019)
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Vigilância Tratamento da recidiva


Objetivo: diagnosticar doença recidivante ou novo tumor primário. A terapêutica é individualizada, de acordo com a localização e extensão
da recidiva, o estado geral e as comorbilidades da doente.
Aproximadamente 80% das recorrências surgem nos 2 primeiros anos após o tratamento,
particularmente em doentes com gânglios invadidos. • As recidivas locais (vulvoperineais) são, habitualmente curáveis com excisão
cirúrgica.
Baseia-se no exame físico e exames complementares de diagnóstico (TC, RM ou PET-TC). • As recidivas nas regiões inguinais são quase sempre fatais, mesmo após
cirurgia e/ou radioterapia.
• Nas doentes com metástases à distância, pode complementar-se com
Periocidade da consulta após o tratamento inicial: quimioterapia (mas a eficácia é muito limitada).
- 1º e 2º anos: avaliação a cada meses
- 3º - 5º anos: avaliação de 6/6 meses (Neves, 2019)
- Após o 5º ano: avaliação anual
(Neves, 2019)
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Mortalidade e prognóstico
Pode ser curável quando diagnosticada num estádio precoce. Cuidados de
• Taxas de sobrevivência corrigidas aos 5 anos superiores a 90%.
• Decrescem para 40% na doença localmente avançada. enfermagem à
doente submetida
a cirurgia
ginecológica
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Intervenções de enfermagem Intervenções de enfermagem


• Estar presente sempre que possível quando a equipa médica estiver a discutir o plano de tratamento
inicial e subsequente.
• Envolver e apoiar a doente nas tomadas de decisão.
• Fornecer à doente informação escrita como complemento das sessões orais.
• Dar informação complementar sobre o plano de tratamento.
• Clarificar a informação sempre que entender e quando solicitado.
• Fornecer suporte informativo, de acordo com os seus receios tais como planos para
• Estabelecer e manter a ligação entre o doente e a equipa de saúde.
continuar tratamento, apreciações positivas acerca das potencialidades e serviços de
reabilitação. • Antecipar a informação ao doente /família envolvendo no processo de cuidado todas as pessoas
significativas para o doente e que possam desempenhar um papel importante na situação específica.
• Explicar a razão dos tratamentos e orientar para o controlo de efeitos colaterais.
• Identificar apoios sociais que a doente poderá recorrer na fase de tratamentos.
• Encorajar a doente e seus familiares a discutirem abertamente as suas preocupações.
• Permitir que a doente e a família expressem os sentimentos de uma forma aberta e reforçar respostas
positivas.
• Esclarecer as informações erradas que as mulheres tenham ou podem obter de outras fontes de
informação acerca do cancro.
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Intervenções de enfermagem Intervenções de enfermagem


• Discutir as alterações na eliminação vesical e intestinal que podem ocorrer após a
cirurgia.
• Encorajar a expressão de respostas psicológicas relativas à doença e tratamentos.
• Discutir que as lesões resultantes da cirurgia podem ser de difícil cicatrização,
particularmente se foi utilizada radioterapia pré-operatória. • Orientar a doente e família para o controlo de sintomas ou complicações da doença e
• Instruir sobre as estratégias para manter a integridade óssea: dieta rica em alimentos o tratamento tais como a dor.
com cálcio, suplementos de cálcio, programa de exercício regular, alteração do • Avaliar as necessidades de coping e de suporte da doente e família.
ambiente do ar para diminuir o risco de queda.
• Encorajar e encaminhar a mulher a participar em atividades de grupos de suporte.
• Ensinar estratégias para minimizar o risco cardiovascular: dieta pobre em gorduras,
programa exercício regular, avaliação periódica do colesterol e dos triglicerídeos. • Encorajar a reintegração nas atividades em que estava envolvida no período anterior
• Aconselhar a cessação tabágica. ao diagnóstico da sua doença.

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Bibliografia

• Decherney, A., Nathan, L., Goodwin, T. & Laufer, N. (2007). Current diagnosis & treatment Obstetrics &
Ginecology. Tenth Editions. USA. McGraw Hill.
• Gibbs,R., Karlan, B., Haney, A. & Nygaard,I. (2008). Danfort’s Obstetrics and Ginecology. Tenth Edition.
USA. Lippincott Williams & Wilkins.
• Neves, J. (2019). Ginecologia fundamental. Lisboa. Lidel
• Norwitz, E. & Scorge, J. (2003). Compêndio de obstetrícia e ginecologia. Lisboa. Instituto Piaget.
• Otto, S. (1997). Enfermagem em Oncologia. 3ª edição. Loures. Lusociência.
• Smith, R. (2004). Ginecologia e obstetrícia de Netter. Porto Alegre. Artmed.
• Sociedade Portuguesa de Ginecologia (2020).Cancro ginecológico: consensos nacionais. SPG.
Disponível em https://spginecologia.pt/academia/consensos/

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