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CLAIRE SELLTIZ / PLANEJAMENTO DE PESQUISA

1. ESTUDOS EXPLORATÓRIOS E DESCRITIVOS


ESTUDOS FORMULADORES OU EXPLANATÓRIOS
ESTUDOS DESCRITIVOS
RESUMO
- Um planejamento de pesquisa é a organização das condições para a coleta e análise dos
dados, de maneira que procure combinar a significação para o objeto da pesquisa com a
economia de processo.
- Podemos pensar que os objetivos de pesquisa se incluem em certo número de amplos
argumentos: a) familiarizar-se com o fenômeno ou conseguir nova compreensão deste,
frequentemente para poder formular um problema mais preciso de pesquisa ou criar novas
hipóteses; b) apresentar precisamente as características de uma situação, um grupo ou um
indivíduo específico (com ou sem hipóteses específicas iniciais a respeito a natureza de tais
características); c) verificar a frequência com que algo ocorre ou com que está ligado a uma
outra coisa (geralmente, mas não sempre, com uma hipótese inicial específica); d) verificar
uma hipótese de relação causal entre variantes.
- Nos estudos que têm o primeiro objetivo – geralmente denominados estudos formuladores
ou exploratórios – a principal acentuação refere-se à descoberta de ideias e intuições; Por
isso, o planejamento de pesquisa precisa ser suficientemente flexível, de modo a permitir a
consideração de muitos aspectos diferentes de um fenômeno.
- Nos estudos que têm o segundo e o terceiro objetivo, uma consideração fundamental é a
exatidão; Por isso é necessário um planejamento que reduza o viés e amplie a precisão da
prova obtida (o viés resulta da coleta de provas de uma forma que favorece uma resposta
alternativa a uma questão de pesquisa; a prova é precisa na medida em que podemos afirmar,
com confiança, que se obteriam resultados semelhantes se se repetisse a coleta de provas);
Como esses estudos apresentam exigências semelhantes para o planejamento de pesquisa,
podemos trata-los em conjunto, denominando-os de estudos descritivos.
- Os estudos que verificam hipóteses causais exigem processos que não apenas reduzam o
viés e aumentem a precisão, mas que também permitam inferências a respeito da causalidade;
Os experimentos são especialmente adequados para satisfazer a essa última exigência, no
entanto, muitos estudos interessados pela verificação de hipóteses causais não se apresentam
sob a forma de experimentos.
- Embora não sejam bem definidas as distinções entre esses diferentes tipos de estudo, de
modo geral, é possível fazer tais distinções; é útil fazê-las, para discutir os planejamentos
adequados de pesquisa.
ESTUDOS FORMULADORES OU EXPLORATÓRIOS
- A maior parte dos estudos exploratórios tem como objetivo a formulação de um problema
para investigação mais exata ou para a criação de hipóteses, mas, além disso, pode ter outras
funções: a) aumentar o conhecimento acerca do fenômeno que deseja investigar em estudo
posterior, mais estruturado, ou da situação em que pretende realizar tal estudo; b) o
esclarecimento de conceitos; c) o estabelecimento de prioridades para futuras pesquisas; d) a
obtenção de informação sobre possibilidades práticas de realização de pesquisas em situação
de vida real; e) apresentação de um recenseamento e problemas considerados urgentes por
pessoas que trabalham em determinado campo de relações sociais.
- Métodos que tendem a ser úteis na pesquisa de variáveis importantes e hipóteses
significativas: a) uma resenha da ciência social afim e de outras partes pertinentes de
literatura; b) um levantamento de pessoas que tiveram experiência prática com o problema a
ser estudado; c) uma análise de exemplos que estimulem a compreensão.
O EXAME DA LITERATURA
- Uma das maneiras mais simples que economizar esforço numa pesquisa é resenhar o
trabalho já feito por outro e basear-se nele, focando em hipóteses que podem servir para
orientar futuras pesquisas; Em muitas áreas, um estudo bibliográfico será mais demorado que
compensador, no caso de nenhum pesquisa significativa ter sido realizada com tal proposito.
- O pesquisador não deve se restringir a buscar referências apenas em sua área, mas mergulhar
em outras disciplinas e formular hipóteses inovadoras.
O ESTUDO DA EXPERIÊNCIA
- Provavelmente apenas pequena proporção da experiência e do conhecimento é colocada em
forma escrita; O objetivo do estudo da experiência é obter e sintetizar a experiência de agentes
diretamente envolvidos com o problema em questão.
- Seleção das pessoas estudadas: o pesquisador procura ideias provocantes e intuições úteis,
não a estatística da profissão, por isso as pessoas devem ser escolhidas por causa da
probabilidade de que ofereçam as contribuições procuradas; Há necessidade de uma amostra
selecionada das pessoas que trabalham nesse campo.
- Talvez o método mais direto para escolher informantes seja solicitar, a administradores
estrategicamente colocados, que trabalham na área que se deseja estudar, uma indicação das
pessoas com mais informação, mais experiência e mais capacidade de análise; A
probabilidade de que sejam bons informantes aumenta se são indicadas por mais de uma
fonte.
- É importante selecionar informantes de forma a assegurar uma representação de diferentes
tipos de experiência.
- Não existe regra simples para determinar o número de informantes que devem ser
entrevistados em um estudo de experiência; Em certo ponto, o pesquisador verificará que
outras entrevistas não apresentarão novas intuições, que as respostas caem num padrão que já
conhece.
- As perguntas aos informantes: antes de criar um roteiro de entrevista para as perguntas
sistemáticas aos informantes, a informação do estudo bibliográfico deve ser completada por
certo número de entrevistas não-estruturadas com pessoas que tenham tido grande experiência
no campo a ser estudado.
- As entrevistas devem buscar responder aquilo que o pesquisador quer saber, mas deve haver
certa flexibilidade para que o informante possa se expressar livremente e propor novas
questões, se necessário.
- De modo geral, as entrevistas para conseguir experiências tendem a ser muito longas;
Considerando a natureza da informação desejada, é conveniente preparar o informante com
uma semana de antecedência, enviando-lhe uma cópia das questões a serem discutidas; assim
ele poderá pensar bem sobre o assunto e consultar mais pessoas de modo a acrescentar seu
próprio conhecimento.
ANÁLISE DE EXEMPLOS QUE ESTIMULAM A COMPREENSÃO
- Um dos aspectos de uma abordagem adequada é a atitude do pesquisador, que deve ser de
busca, não de verificação; Um segundo aspecto importante é a intensidade, que exige um
tempo considerável de dedicação na pesquisa; Um terceiro aspecto é o fato de depender das
capacidades integradoras do pesquisador, reunido diversos aspectos de informação numa
interpretação unificada.
- As reações de estranhos ou recém-chegados podem indicar características da comunidade
que poderiam não ser percebidas por um pesquisador criado nessa cultura; Sua curiosidade ou
surpresa podem chamar a atenção para aspectos da vida da comunidade com os quais os
membros dessa comunidade estão tão habituados que já não os observam.
- Os indivíduos ou grupos marginais que passam de um agrupamento cultural para outro e
estão na periferia de ambos os grupos, são, sob certos aspectos, semelhantes a estrangeiros ou
estranhos; Como estão no meio, expostos a pressões conflitivas das grupos de que estão
saindo e daqueles para os quais se dirigem, frequentemente revelam, de maneira dramática, as
principais influências que atuam em cada grupo.
- O estudo de indivíduos ou grupos que estão em transição de um estágio de desenvolvimento
para outro tem sido produtivo, sobretudo em pesquisas antropológicas da influência da cultura
na personalidade.
- Os divergentes, os isolados e os casos patológicos podem, por contraste, esclarecer alguns
casos comuns; Pode indicar os tipos de pressão para o conformismo e as consequências sócio-
psicológicas do não-conformismo; O estudo dos indivíduos isolados pode acentuar os fatores
que facilitam a coesão em determinado grupo ou comunidade.
- Frequentemente os casos ‘puros’ são produtivos; Nesse caso deve-se fazer uma seleção
apurada dos casos que apresentam as características mais puras do fenômeno em questão, e
trabalhar a partir deles.
- As características de indivíduos bem ajustados e dos mal ajustados a determinada situação
apresentam indicações valiosas sobre a natureza dessa situação.
- A escolha de indivíduos que representem diferentes posições na estrutura social auxilia na
obtenção de uma opinião mais completa da situação que refletem.
- Um exame da experiência pessoal do pesquisador e uma análise cuidadosa de suas reações,
ao tentar projetar-se na situação das pessoas que estuda, pode ser uma valiosa fonte de
compreensão.
- Estudos exploratórios conduzem apenas a intuições ou hipóteses, não verificam, nem
demonstram.
ESTUDOS DESCRITIVOS
- É possível tentar a descrição da estrutura da organização social da comunidade ou dos
principais padrões de comportamento; Ao coligir provas para um estudo desse tipo, não há
tanta necessidade de flexibilidade, mas de uma clara formulação de que ou quem deve ser
medido, bem como de técnicas para medidas válidas e precisas.
- Como o objetivo é conseguir informação completa e exata, o plano de pesquisa precisa
prever muito maior cuidado com o viés do que os estudos exploratórios; Dada a quantidade de
trabalho exigida nesse tipo de estudo, é preciso cuidar com a economia de esforço na
pesquisa; Tais considerações de economia de esforço e cuidado com o viés entram em todas
as etapas: na formulação dos objetivos do estudo, no planejamento dos métodos para a coleta
de dados, na escolha da amostra, na coleta, no processamento e na análise dos dados, na
apresentação dos resultados.
FORMULAÇÃO DOS OBJETIVOS DO ESTUDO
- O primeiro passo num estudo descritivo, como em qualquer outro, é definir a pergunta a ser
respondida.
PLANEJAMENTO DOS MÉTODOS DE COLETA DE DADOS
- Depois de formular o problema, o pesquisador deve se preocupar em selecionar os métodos
para obtenção de dados; Cada um dos métodos tem suas vantagens e limitações; Se ainda não
existe método adequado para sua pesquisa, você deve cria-lo.
- Deve-se tomar certas precauções: As perguntas precisam ser cuidadosamente examinadas
quanto à possibilidade de sua apresentação sugerir mais uma resposta do que outra; os
entrevistadores precisam ser instruídos para não fazerem perguntas que orientem as respostas,
nem exprimirem sua opinião; os observadores precisam ser treinados para que todos
registrem, da mesma maneira, um determinado item do comportamento.
- Depois de construídos, os instrumentos de coleta de dados devem passar por um pré-teste,
antes de serem usados no estudo propriamente dito.
COLETA E VERIFICAÇÃO DOS DADOS
- É necessário supervisionar, estritamente, a equipe dos que trabalham no campo, quando
coligem e registram informação, para ter certeza da honestidade dos entrevistadores e sobre a
confianças de dados não-enviesados; À medida que os dados são coligidos, devem ser
examinados para verificar se são completos, compreensíveis, coerentes e precisos.
ANÁLISE DOS RESULTADOS
- O processo de análise inclui: codificação das respostas de entrevistas, observações, etc.
(colocar cada item na categoria adequada); tabulação dos dados (contagem do número de itens
em cada categoria); cálculos estatísticos.
- As garantias contra o erro na codificação geralmente se referem à verificação da precisão
dos codificadores; Se o código exige julgamentos complexos, o processo usual é fazer com
que dois ou mais codificadores codifiquem, independentemente, uma amostra do material, até
que – com novo treinamento ou com modificações no código – consigam um grau satisfatório
de precisão.

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