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Tudo para Dar Errado - Serie Os - Brenda Paiva
Tudo para Dar Errado - Serie Os - Brenda Paiva
REVISÃO
Stephany Cardozo Gomes
CAPA
Giulia Design
DIAGRAMAÇÃO
Camila Cocenza
Colin Scott
— Se você quiser botar gelo no meu pau, eu aceito. — Pisquei
para a baixinha ruiva à minha frente.
Ela tinha se levantado, talvez na tentativa de parecer mais
ameaçadora, só que ela era uma coisinha fofa de um metro e
cinquenta e cinco, no máximo.
A ruiva vestia um macacão jeans que valorizava os seus seios
cheios e grandes, os culpados por eu ter caído no meio da festinha
das minhas vizinhas. Vou anotar essa regra para vida: Não se
incline demais na janela para ver os peitos deliciosos da sua vizinha
se está a espiando.
Estreitei os olhos até conseguir ver a garota direito. A luz do sol
refletia no seu rosto e... foda-se, senti um aperto no peito porque
não me lembrava de ter visto algo tão lindo antes. Os cachos ruivos
estavam meio presos em um coque bagunçado, deixando alguns
fios soltos emoldurando o seu rosto angelical. A boca dela parecia
um botão rosa, o nariz era pequenininho e salpicado com algumas
sardas, espalhadas estrategicamente na ponta.
Ela era tão perfeita que parecia uma obra de arte em que o
artista decidiu dar uma última pincelada, colocando apenas poucas
sardas ali. E os seus olhos... porra! Senti meu coração errar uma
batida, eram de um tom esmeralda lindo.
A garota parecia tão enfezada por eu ter amassado sua maldita
vela que não resisti a olhá-la com divertimento, mostrando que
estava pouco me importando para aquilo. E foi naquele momento
que a baixinha perdeu toda a paciência comigo, ela avançou na
minha direção, mas Sienna a alcançou antes.
— Não se estresse com isso — sua amiga a consolou —,
vamos achar outra.
A pequena ia dizer mais alguma coisa quando apareceram os
quatro cretinos que também estavam espiando, junto comigo, da
janela.
— O que vocês estavam fazendo? — perguntou Drake, olhando
curioso para as pétalas espalhadas no gramado.
Ele nem se dignou a verificar se eu não tinha quebrado algum
osso, e eu nem me dignei a ficar surpreso. Ele era o maior
fofoqueiro do bairro, jamais perderia um furo desses.
Benjamin e Peter ficaram mais distantes da confusão, e Johnny
foi o único que veio me ajudar a levantar.
— O que vocês estavam fazendo? — A ruiva se virou para
Drake exigindo explicações. — Nos espionando?
Eu negaria até a morte, mas os idiotas do Peter e Benjamin
ficaram envergonhados e nos entregaram.
— Não estávamos “espionando”. O que pensa que somos?
Pervertidos? — Tentei me fazer de ofendido enquanto me apoiava
no ombro de Johnny para ficar de pé, e senti uma dor bem na porra
das minhas bolas.
Vela dura do cacete.
— O que estavam fazendo então? — Ela olhou para mim
convencida, querendo ouvir a minha desculpa e Johnny me lançou
aquele olhar que dizia: “Pelo amor de Deus, não arrume confusão,
Colin”.
— Não é você que deveria estar fazendo as perguntas aqui,
baixinha — afrontei, tentando, com tudo de mim, não sorrir ao ver a
expressão de horror que atravessou o seu rosto.
— Baixinha? — repetiu ofendida. — Quem você está chamando
de baixinha? — Ela ajeitou a coluna para parecer mais alta e senti
uma necessidade incontrolável de provocá-la.
— Tem outra aqui? — Olhei em volta, procurando outro gnomo
escondido no nosso gramado.
— Só tem uma coisa baixa aqui e não é a minha altura — ela
atirou, lançando um olhar para a minha virilha e os caras riram da
alfinetada.
Ora, ora...
— Mas que pequena atrevida... — Sorri, achando graça. — Meu
bem, entre no meu quarto por 10 minutos que lhe mostro como não
tem nada baixo aqui.
O que me custava dar em cima dela, não é mesmo?
— Nem fodendo. — Ergueu a sobrancelha para mim, recusando
se mostrar afetada.
— Pena! Era fodendo mesmo. — Lhe dei o meu melhor sorriso
e ela corou. Foi involuntário, a cor tomou conta das suas bochechas,
porém foi uma das coisas mais lindas que já vi.
E sexy.
— Por que vocês não fodem depois? — sugeriu Drake. —
Quero saber o que estavam fazendo.
— Estávamos fazendo um ritual — explicou Amber, finalmente
se recuperando dos risos que minha queda lhe proporcionou.
— E um ritual muito sério, por sinal — enfatizou a ruiva.
Rá! Eu sabia!
— Eu disse! — Apontei para o meu próprio peito e olhei
convencido para todos eles. — Ela estava fazendo bruxaria!
— Bruxaria? — A baixinha começou a rir. — E você? O que
estava fazendo lá em cima? Isso ainda não ficou claro aqui.
— Estávamos investigando. — Dei de ombros sem querer lhe
dar explicações, era ela que estava se metendo nas nossas terras.
— O que eu estava fazendo não tem relevância aqui. É você que
estava fazendo bruxaria no nosso gramado.
— Seu gramado? Essa parte do gramado é nossa — a atrevida
mentiu com toda convicção que a sua altura podia proporcionar.
Não era, a parte do gramado era nossa.
— Essa parte do gramado é nossa — Drake saiu em defesa do
nosso território.
— Não é — a bruxinha continuou a mentir e Amber foi para o
lado da amiga, pronta para defendê-la.
— Claro que é nossa — afirmou Amber da maneira mais cínica
possível.
— Não é — Johnny se intrometeu também, já achando demais
esse assalto à nossa propriedade. — Vocês estão literalmente
embaixo da janela do Drake.
As duas olharam para cima como se estivessem vendo a janela
pela primeira vez. Ah, mas já era demais!
— Não há uma delimitação aqui que separe o gramado —
Sienna também veio ajudar suas amigas.
— Não tem como concluir qual parte é de vocês e qual não é —
Scar informou se sentando de novo no gramado, sem dar muita
importância para nossa discussão.
Amber e Johnny continuaram a trocar farpas, porém não prestei
muita atenção, estava intrigado. O que diabo elas estavam fazendo?
Para que era a vela? Estavam tentando nos enfeitiçar? Tomar nossa
casa? Nossa sanidade?
— Olha só que atrevimento... — Balancei a cabeça
negativamente para elas. — Estão querendo tomar nossas terras.
Johnny se virou para mim sem entender.
— Nossas terras? — perguntou Drake, confuso.
— Sim! — Estalei os dedos na cara dos idiotas. — Essa garota
aqui é nitidamente perigosa. — Apontei para a baixinha cínica. —
Tudo isso é muito suspeito. Ela vem aqui, faz esses rituais na nossa
janela, se nega a dizer do que se trata, diz que o gramado é dela.
Está armando alguma coisa, vocês não veem?
Olhei para eles em busca de apoio, só que todos olharam para
a ruiva e ela lhes deu um sorriso cheio de covinhas. Ah, eu não ia
cair naquilo. Aquela garota não tinha nada de inocente e doce, era
fachada. Ela estava armando alguma coisa, podia sentir, e meu
radar não falhava.
Tudo bem, na maioria das vezes falhava. Contudo, não iria
confiar naquele gnomo fofo.
— Oh, cara! — Drake suspirou encantado. — Ela é tão fofa.
— Não me parece perigosa. — Johnny Jackson sorriu para ela
como se quisesse apertá-la e revirei os olhos.
— Gostei da aura de vocês, meu nome é Madison, mas podem
me chamar de Maddie — se apresentou dando um sorriso
simpático.
— Eu não gostei da sua — interferi antes que ela resolvesse
manipular todo mundo ali com as suas covinhas. — Você pode ter
enganado eles, só que vou descobrir exatamente o que você anda
fazendo aqui. — Apontei para todas aquelas coisas espalhadas no
gramado.
— Boa sorte. — Ela me deu um olhar convencido, bem diferente
do inocente de uns segundo atrás.
— Estão vendo? Ela é cínica. — Me virei para conferir se todos
viram o mesmo que eu.
— Colin... — Johnny me chamou cansado, daquele jeito que
implorava para que eu calasse a boca.
— Não — interrompi-o. — O que essa vela que amassou meu
pau significa, hein? Vocês não podem estar querendo achar isso
tudo normal. Tem alguma coisa de muito errado com essa garota.
E tinha, como ninguém via?
— Colin... — Drake alertou, pedindo com o olhar para não criar
confusão com a vizinhança.
Vizinhança muito perigosa, por sinal. Coitados! Não sei o que
seria deles sem mim.
— Escutem — continuei tentando colocar juízo nas suas
cabeças, como era terrível ser o único sensato do grupo. — Ela
estava fazendo algum ritual no nosso gramado. Daqui a pouco
estará entrando na nossa casa e roubando nossas cuecas.
Se já não tivesse feito isso, estou me lembrando agora que
senti falta de duas cuecas na minha gaveta nessa manhã.
— Como é? — Benjamin olhou para mim parecendo achar que
eu tinha enlouquecido enquanto Peter prendia o riso.
— Sim, isso é perigoso — enfatizei apontando para a ruiva. —
Não devemos confiar nessa garota.
Tudo nela me cheirava a perigo, até a sua altura. Nunca
conheci alguém tão baixo e isso deveria significar alguma coisa
também. Todos olharam novamente para ela e o gnomo sorriu
docemente.
— Oh! Você parece uma princesinha — elogiou Peter,
suspirando. Bufei, desistindo deles e fui caminhando até minha
casa, mas decidi virar uma última vez e olhá-la.
Ela tirou um cacho ruivo da frente do rosto e o colocou atrás da
orelha, o movimento chamou minha atenção para as sardas na
ponta do seu nariz e eu quis voltar para contar quantas tinham,
passar os dedos na sua pele, saber se era macia... Ela era daquele
tipo de mulher que poderia facilmente te seduzir.
Meu Deus, se não tomasse cuidado a ruiva ia mesmo enfeitiçar
todo mundo ali. Era bom lembrar que morava ao lado de uma garota
manipuladora, cheia de segredos e perigosa.
Altamente perigosa.
— Isso não acabou. Você não me engana, não importa o quão
gostosa seja — afirmei sem desviar o olhar dela e a cretina teve a
audácia de sorrir em desafio, como se me convidasse a entrar em
um campo de batalha com ela.
Ah, eu iria de muito bom grado.
Que comecem os jogos.
Colin Scott
Dias atuais
Madison Jensen
1. Meditar.
2. Beber um chá quentinho.
3. Enviar mais currículos.
4. Enviar solicitações de estágios.
5. Dizer um elogio a alguém.
6. Sorrir para pessoas desconhecidas.
7. Não pensar coisas negativas sobre as pessoas. Por
mais que elas sejam negativas.
8. Não perder a paciência com Colin.
9. Fingir que não percebi que ele estava me espionando
hoje de manhã.
10. Não brigar com Colin hoje.
11. Não pensar em Colin.
12. Não deixar Colin dominar minha lista.
— Ele até hoje não respondeu minhas mensagens — uma
garota da mesa ao lado falou para a amiga e percebi que elas
estavam olhando para alguém por cima do meu ombro.
Algumas pessoas no refeitório começaram a se virar na mesma
direção e eu já sabia quem tinha acabado de entrar ali. Meu corpo
sentia.
Me considerava uma pessoa sensitiva. Sabia quando a energia
de um lugar estava boa, leve, pesada, ou... densa. Vibrante.
Irritante. E era assim que ficava logo que Colin Scott chegava em
um ambiente. Eu conseguia sentir a energia dele de longe.
Ou o atrito.
— Eu mandei duas mensagens e ele não respondeu —
continuou a garota da mesa, um pouco ansiosa.
— Ele tá olhando pra cá — a outra avisou.
— Eu acho que é pra mim. — A garota se inclinou na mesa e eu
comi o meu sanduíche, tentando não prestar atenção, mesmo que
fosse inevitável. — A gente se pegou no banheiro uma vez, foi no
segundo ano. Será que ele se lembra?
— Ele tá vindo — a outra informou em um tom que pedia para a
amiga parar de falar.
Fechei o meu bloquinho, porque se fosse Colin mesmo ele não
perderia a oportunidade de me espionar. E encher o meu saco.
Olhei discretamente por cima do ombro e encontrei Colin
caminhando ao lado de Drake até a minha mesa.
Odiava o fato de ele ser tão atraente... alto, musculoso e
atlético. Estava vestindo uma camiseta preta que desenhava bem o
seu corpo e a sua correntinha prata, que não tirava do pescoço, só o
deixava mais charmoso. Eu não podia descrevê-lo de outro jeito, ele
era muito gato, em um nível que seria até covardia compará-lo com
qualquer outro homem.
Seus braços musculosos de fora e aquelas veias à mostra me
deixavam um pouco ofegante.
Assim que meus olhos encontraram com os dele o idiota piscou
para mim, como se soubesse que eu estava o secando. Ergui a
sobrancelha em desgosto e virei para frente de novo, mas podia
sentir o sorriso dele atrás de mim.
Ele sempre se divertia quando conseguia me irritar. E eu tinha
que lhe dar o devido crédito. Se tinha uma coisa que Colin Scott
sabia fazer divinamente bem era tirar a minha paciência.
Colin Scott
Madison Jensen
Eu: Oi.
Eu: Cheguei já.
Me encostei em uma parede e alisei o meu vestido azul, que
estava um pouco amassado. Ele já estava um pouco velho, contudo
continuava lindo.
Era relativamente curto, chegava até o meio das minhas coxas,
soltinho em um estilo bem romântico, mas preso pelo pescoço, de
um jeito que valorizava os meus seios. Coloquei também um salto,
só para não parecer muito baixa e esperava mesmo que não
estivesse arrumada demais.
Estava nervosa? Sim. Se fosse um encontro com as pessoas do
meu curso, eu não falava muito com quase ninguém e ficaria
deslocada.
Se fosse um encontro só com Derek... bem, eu tinha dado um
tempo nos encontros desde o dia em que fiz o ritual fracassado com
a minha vela. Não queria mais criar expectativa para outra
frustração e que a verdade seja dita: estava ficando caro sair toda
sexta-feira.
Hoje mesmo ia gastar o resto do dinheiro que tinha guardado
para o mês. Minha situação financeira nunca foi fácil, o momento
mais “confortável” da minha vida estava sendo aquele. Eu vivia de
um dinheiro reservado para mim, ele era bem pouco, porém eu era
bolsista e sempre aprendi a viver com o mínimo, então dava conta.
Até ser expulsa da fraternidade com as meninas no início do
semestre. Meu novo aluguel não era nada barato e isso me obrigou
a enviar meu currículo para vários lugares semana passada.
— Ei, você está linda.
Levantei o olhar depressa e encontrei Derek parado na minha
frente, vestindo uma camisa xadrez e calça jeans.
— Você também. — Sorri para ele e olhei em volta, procurando
as outras pessoas.
É, era um encontro.
— Demorei muito? Eu deveria ter pego você, mas fiquei preso
na aula até agora.
— Ah, sem problema. — Coloquei minha bolsa no ombro, um
pouco nervosa. — Você tem aula de noite também?
— Tenho algumas, esse semestre está puxado. — Derek seguiu
para a fila em que comprava os ingressos e o acompanhei logo
atrás.
— Eu imagino, o último deve ser o mais difícil.
— O último é o que você menos se esforça. — Derek entrou na
fila e virou de frente para mim.
Ele desceu o olhar pelo meu vestido de um jeito discreto e
acabou focando no meu decote por mais tempo do que deveria.
Joguei suavemente o meu cabelo para a frente, querendo tampar a
visão e olhei para o cartaz de filmes ao nosso lado, um pouco
desconcertada.
— Você gosta dos filmes da Marvel? — ele perguntou.
— Gosto sim — respondi sorrindo.
A fila andou e seguimos mais para frente.
— Não achei que fizesse o seu estilo — comentou, se
aproximando um pouco mais de mim.
Eu poderia reagir, incentivar ou recuar a investida dele, no
entanto paralisei no lugar logo que vi, por cima do seu ombro, Colin
Scott caminhando em nossa direção como se fosse o dono do lugar.
Ele tinha a postura descontraída, as mãos dentro dos bolsos da
sua calça preta, vestindo uma camiseta branca e deixando os
braços fortes à mostra. O seu maldito colar prata deixava tudo pior,
parecia que tudo nele era sexy.
O jeito de andar, como arqueava a sobrancelha em ironia, a
curva que seus lábios faziam quando sorria, os dentes brancos, os
olhos azuis... até mesmo a sua barba por fazer era atraente, com
alguns fios castanhos e outros loiros. Se ele não fosse altamente
insuportável, eu até poderia me sentir atraída por ele.
A maioria das pessoas ali eram universitárias e o
reconheceram, as garotas na nossa frente na fila o avaliaram de
cima a baixo e eu odiava o fato de ele ser tão aclamado assim.
— Isso só pode ser brincadeira — murmurei frustrada e Derek
virou para trás, procurando o que tinha chamado a minha atenção.
— Colin Scott — foi tudo o que Derek disse.
— Sim — concordei de má vontade. — É ele.
Colin estava olhando em volta, como se procurasse alguma
coisa. E assim que seus olhos pousaram em mim, ele abriu um
sorriso felino.
Ele desceu o olhar pelas minhas pernas e subiu lentamente sua
avalição pelas minhas coxas, saboreando cada parte do meu corpo,
sem deixar nada de fora. Ele me encarava como se eu estivesse...
nua, eu quase me senti acariciada por onde os seus olhos
passaram. Prendi a respiração e soltei o ar quente devagar pela
boca quando minha pele se arrepiou.
Era terrível ficar assim só com o jeito sujo que o cretino me
olhava.
Quando finalmente ele chegou ao meu rosto Colin fez um “O”
com a boca, como se estivesse em choque por me ver ali.
— Madison! Você aqui! — Colin comentou surpreso e veio até
nós. — Quanta coincidência!
— Eu diria azar — corrigi seca.
Sinceramente, eu tinha que verificar o meu horóscopo. Sempre
que ia a algum encontro esse infeliz tinha que sair justo para o
mesmo lugar?
— Que coisa, hein? — Colin balançou a cabeça abismado. —
Parece que toda vez que tenho um encontro você aparece.
— Olha só, eu ia dizer a mesma coisa — debochei, forçando um
sorriso.
— Eu poderia até pensar que você anda me seguindo... —
jogou a indireta no ar.
Mas era muita cara de pau.
— Eu tenho mais o que fazer da minha vida — disse afiada. —
Pra falar a verdade, eu acho que é você que anda me seguindo —
atirei de volta, lembrando das vezes em que ele me espionou pela
janela da sua casa.
— Eu? — Colocou a mão no peito, horrorizado com a ideia. —
Por que faria uma coisa dessas? Em um dia de semana, que
poderia estar em casa estudando... O que ganharia com isso?
— Infernizar a minha vida, que é só isso que você sabe fazer.
Colin revirou os olhos.
— Nem tudo é sobre você, Madison. Eu vim assistir um filme
com Scarlett.
— Scar? — Franzi a testa sem acreditar naquela coincidência,
até ver minha amiga caminhando em nossa direção, fazendo
algumas cabeças a secarem por trás.
Ela pareceu quase aliviada por nos encontrar ali.
Minha amiga era gata. Do tipo que realmente chamava atenção.
Ela tinha o cabelo castanho escuro, longo e liso. Um corpo
espetacular, a pele levemente bronzeada e cheia de tatuagens.
Entretanto, o que a fazia exótica eram os seus olhos de tom lilás
raro.
— Eu sou Derek — meu encontro se apresentou e eu fiquei
mortificada ao perceber que tinha esquecido completamente dele.
— Prazer — Colin disse em um tom seco e apertou a mão dele.
— Graças a Deus — Scar disse ao nos alcançar. —, já estava
cansada de rodar em cinemas.
— Oi, querida. — Me inclinei para beijar o seu rosto. — Como
assim rodar pelos cinemas? — perguntei sem entender e Colin
estreitou os olhos para ela.
— Eu vou comprar a pipoca — Scar avisou do nada com um
olhar provocativo, me dando outro beijo antes de sair.
— Vocês estão em um encontro também? — questionou Derek
e senti uma pontada no meio do peito.
Baixei o olhar depressa, encarando os meus saltos gastos. Eles
eram amigos, nunca tinha percebido qualquer coisa nesse sentido
entre os dois. Será que...
— Não — esclareceu Colin e ergui o olhar para ele. — A gente
é amigo, só viemos assistir um filme.
Estranhamente, me senti bem com aquilo.
— Então, que filme vamos assistir? — Colin perguntou
animado.
Vamos?
— Algum da Marvel — respondeu Derek.
— E você vai assistir com a gente? — Ergui uma sobrancelha
em desafio.
Eu não iria ficar trancada em uma sala por horas com ele, já era
obrigada a morar ao seu lado. E ainda não tinha certeza se ele
estava aqui como stalker ou se era só coincidência.
Colin adotou um olhar magoado nitidamente fingido.
— Bem... — Suspirou Colin. — Se estamos atrapalhando vocês
assim, é melhor vermos outra sessão.
Como era cínico.
— Eu concordo — afirmei satisfeita, sem cair no seu joguinho.
— Nunca foi minha intenção forçar a minha presença aqui —
continuou o seu drama.
— Pois não force. — Sorri tranquila para ele.
— Nunca fui tão insultado em toda a minha vida — declarou e
Derek o olhou um pouco desconcertado.
— Você pode assistir com a gente, cara. Sem problemas —
decidiu o meu encontro e quis matá-lo ali.
— Oh! Obrigado, Derek! — Colin agradeceu e deu dois tapas
nas costas de Derek, acho que era para ser de um jeito amigável,
mas acabou saindo um pouco forte demais. — Entretanto, eu não
ficaria mais aqui nem se me implorassem, tenho orgulho.
Maravilha!
— Só vou aceitar o convite — continuou ele, acabando com
toda a minha alegria —, em respeito à Scarlett. — Ele apontou para
Scar que tinha chegado com as pipocas.
Ela revirou os olhos e chegou nossa vez de comprar os
ingressos. Para meu total desgosto, Colin escolheu as poltronas ao
lado das nossas para assistir “Capitão América”.
Seguimos pela sala do cinema em silêncio. Entrei na nossa
fileira e sentei na poltrona que escolhi, quando olhei para o lado vi
que Colin tinha passado na frente de Derek. Ele sentou na maior
cara de pau no lugar do meu encontro, ao meu lado. Meu colega de
curso não viu outra opção, sentou na poltrona que era do Colin,
ficando ao lado da Scarlett.
— Você sentou no lugar dele — avisei a Colin.
— Ah, não! — Colin arregalou os olhos em susto. — Perdão,
cara!
Esperamos ele se levantar para trocar de lugar, mas não
aconteceu.
— Não acha melhor a gente trocar de lugar? — Derek ofereceu,
apontando para a cadeira dele.
— Não precisa — Colin o dispensou com um aceno. — Vai
atrapalhar as pessoas de trás.
— O filme não começou — lembrei-o.
— Pois é, só que eu não posso ficar me levantando assim —
inventou Colin, esticando as pernas de um jeito relaxado no
assento. — Eu tive uma lesão no joelho hoje no treino. — Ele
massageou o local fazendo uma expressão de dor que não acreditei
nem por um segundo.
— Eu não sei se você notou, mas vim ao cinema com ele —
sussurrei perto do ouvido do idiota para Derek não escutar. —
Vamos querer conversar.
— Podem conversar. — Colin se sentou de uma forma em que
eu podia enxergar Derek perfeitamente.
Olhei para meu encontro, pedindo desculpas silenciosamente
pelo meu vizinho inconveniente. Derek deu de ombros, dizendo que
estava tudo bem.
Scarlett apenas balançou a cabeça em negação sem tirar os
olhos da tela.
— Então, de onde vocês se conhecem mesmo? — Derek puxou
assunto.
— Somos vizinhos — respondeu Colin.
— Infelizmente — resmunguei baixinho, porém acabou saindo
alto demais.
— Não entendo porque tanto desprezo. — Colin olhou para
Derek arrasado. — Nunca fiz nada a ela.
Faça-me o favor.
— Eu posso listar uma série de coisas que você já me fez. —
Se era para lavar a roupa suja, eu podia fazer isso com gosto. — A
começar por me bisbilhotar com o binóculo.
O louco até já desconfiou que eu estava escondendo um corpo
e um dia a polícia apareceu na minha casa achando estranho a
elevação no meu gramado. Sabe o pior de tudo? Ele disse para os
policiais que eu tinha um metro e quarenta. Fiquei tão revoltada que
joguei um saco de farinha de trigo nele.
— Com um binóculo? — Derek arregalou os olhos surpreso.
— Sim! — confirmei, feliz por ter alguém do meu lado ali.
— Pelo amor de Deus, Madison, conte a história direito pra ele.
Podem pensar que sou um stalker louco — reclamou Colin,
decepcionado comigo.
— E não é? — atirei de volta.
— Não, eu estava apenas cumprindo um dever que me foi dado
— afirmou.
— Que dever? — Ergui a sobrancelha.
— Eu não sei se vocês sabem, mas eu sou o líder da
associação de moradores da nossa rua — comentou Colin com
orgulho.
Que história era essa?
— Que associação? — questionei.
— Da nossa rua — Colin respondeu como se fosse óbvio.
— E por que eu nunca soube dela?
— Porque só aceitam membros acima de um metro e sessenta.
— O babaca deu de ombros.
— Que absurdo! — declarou Derek, revoltado pela minha
exclusão e Scarlett apenas bufou em seu assento.
— A questão é que eu sou o líder — continuou Colin. — Ganhei
por votação democrática.
— O descaso do século — fiz questão de debochar, porém
Colin me ignorou.
— Cabe a mim a defesa e bem-estar de todos os moradores,
por isso comprei o binóculo, é por mera precaução. Vocês não têm
ideia do que eu já tive que enfrentar naquela rua, é um lugar
bastante perigoso.
— Nisso eu tenho que concordar — ironizei balançando a
cabeça para ele.
— Tiveram muitos assaltos por lá? — Derek se inclinou na
nossa direção, interessado.
— Não muito — falou Colin. —, mas soube de uma vez em que
a polícia estava desconfiada que alguém da vizinhança escondia um
corpo.
Olha, é cada uma que eu tenho que aguentar.
— Que isso não saia daqui — avisou Colin cauteloso e revirei
os olhos.
— E era verdade? — Derek perguntou.
— Parece que não — Colin informou e todos suspiraram
aliviados, até mesmo o pessoal da fileira de trás, que parecia estar
escutando atentamente aquele absurdo. — No entanto, ainda tenho
um pé atrás com a elevação de um certo gramado. Algo parece ter
sido enterrado ali.
— Não foi — afirmei, estreitando os olhos para Colin. — Mas
pode ser.
— Que horror! — exclamou alguém da fileira da frente,
prestando atenção na nossa conversa.
— E onde fica essa elevação? — Derek indagou curioso.
Colin ficou um momento em silêncio, deixando o suspense no ar
e podia sentir que algumas pessoas estavam comendo as suas
pipocas mais devagar para ouvir a mentira que ele iria soltar a
seguir.
— No gramado da casa da Madison — soltou de uma vez,
fazendo graça e várias cabeças giraram na minha direção.
Scarlett riu e fiquei feliz que ao menos alguém estava se
divertindo.
— É bom você se mudar — Derek aconselhou.
— Acredite, se eu pudesse já estava bem longe — garanti a ele,
entediada. — Aquele lugar tem de tudo, até pervertidos — joguei a
indireta.
— Pervertidos? — Colin ergueu a sobrancelha.
— Sim, você não se lembra? — Sorri, animada para também
fazê-lo passar vergonha. — Daquele vizinho que estava olhando os
meus peitos pela janela.
— Não me lembro disso. — Colin deu de ombros, só que eu
podia ver que ele queria rir.
— Eu me lembro, suspeito que todos os dias ele ainda me
espiona.
Colin revirou os olhos.
— De onde você tira essas coisas? — Colin disse abismado.
— E a história da elevação no seu gramado? — questionou
Derek, preocupado. — A polícia foi investigar?
— Foi sim — Colin contou. — Passaram o dia procurando um
fugitivo de um metro e quarenta.
Meu deus, que ódio!
— Um metro e quarenta? — repetiu Derek, incrédulo.
Ouvi um ruído estranho e vi que era Scar prendendo o riso.
— Sim, era tão pequeno que ninguém conseguia pegar. Eu
soube que ele entrava nas casas pra pegar farinha de trigo.
O quê?
— Farinha de trigo? — Franzi a testa sem acreditar no rumo
daquela conversa.
— Sim — concordou Colin, triste. — Era viciado.
— Oh, Deus! — Alguém da fileira da frente murchou triste.
— Essa situação é terrível mesmo — concordou Derek,
apiedado.
— Viciado em farinha de trigo? — ironizei e Colin me
repreendeu com o olhar.
— Não é bonito debochar do vício das pessoas, Madison —
disse o babaca.
— Também não é bonito inventar histórias sem pé nem cabeça
— pontuei.
O filme começou e todas as luzes se apagaram. Me encostei
melhor na poltrona, não querendo mais estender a conversa, mas
não pude deixar de alfinetar.
— Eu jamais vi tamanha mentira contada em uma só história —
murmurei baixinho e Colin sorriu.
— Eu sou bem informado dos babados da rua pois eu sou líder
da associação. — Piscou para mim e estalou a língua.
— Só se for a associação dos loucos.
— Maddie — chamou Derek e tentei vê-lo por cima de Colin. —
Se você quiser, a gente pode passar na sua casa depois, pra falar
daquele quadro.
Senti meu rosto esquentar, pois sabia o que aquilo significava, e
ele falou bem na frente do Colin e da Scar. Eu não queria estender,
ele poderia pensar que eu estava disposta a algo mais se fôssemos
para o meu quarto.
— Pode ser. — Sorri e sentei direito no assento, fugindo do
olhar dele.
— A gente combina depois — Derek garantiu e Colin esticou
mais as pernas grandes, parecendo incomodado com a sua
posição, estralou o pescoço e cruzou os braços na frente do peito.
Permaneci em silêncio e tentei me concentrar no filme por um
tempo, porém senti o meu verdadeiro problema com cinemas: frio.
Abracei o meu corpo e me encolhi no assento, coloquei o meu
cabelo espalhado para frente, querendo produzir calor de qualquer
jeito. Senti o braço musculoso de Colin roçando no meu e foi um
alívio.
Me inclinei mais para ele, só um pouquinho, no entanto o
suficiente para sentir o calor do seu corpo. Não deveria ter feito isso,
pois fiquei praticamente colada ao seu corpo. Quis muito que
nossas poltronas tivessem aquele braço no meio, mas não tinham, e
eu estava próxima demais.
Colin tinha um cheiro gostoso. Era até difícil resistir encostar o
nariz na sua camiseta, além disso ele era quentinho. A sala estava
gelada demais... não tinha problema em me aproximar um pouco
mais.
Sabíamos que nos odiávamos e não queríamos ficar perto um
do outro. Então, se eu me aproximasse dele, com toda certeza, não
era com segunda intenção. Tudo o que eu queria era calor...
Ah, tudo bem.
Encostei a cabeça no ombro dele bem devagar e Colin ficou
imediatamente tenso quando sentiu que estava deitando no seu
ombro. Meu coração acelerou em nervosismo e fiquei morrendo de
medo de ele entender aquilo errado.
Eu não estava dando em cima dele. Imediatamente me afastei e
fiquei ereta no lugar.
— Eu só estava com frio, não entenda errado... — sussurrei
baixinho, constrangida.
Ele não me respondeu. Tomei um susto no momento em que o
braço forte dele me envolveu e me puxou para o seu corpo.
— Pode me agarrar vai — provocou de brincadeira —, eu sei
que é um sonho seu.
— Até parece — murmurei e mirei Derek do outro lado olhando
para nós de um jeito estranho. — Eu estou morrendo de frio —
expliquei, não querendo que ele pensasse que Colin e eu tínhamos
alguma coisa. — A gente se odeia — completei, só para deixar bem
claro.
Derek estreitou os olhos desconfiado, mas depois acenou com
a cabeça.
— Se não quiser ir pra sua casa — jogou meu encontro. —, a
gente pode fazer outra coisa.
— Claro. — Sorri para ele.
Era o mínimo, nem tivemos a oportunidade de conversar direito.
E me dava a saída para não ter que voltar para casa com ele.
Colin ficou calado, nos dando espaço, porém o seu braço
começou a me apertar com um pouco mais de força. Senti a sua
mão na minha cintura, ela era quente, como todo o corpo dele. O
seu polegar foi acariciando meu quadril e eu tive que respirar fundo.
De repente senti uma vontade de apertar as pernas uma na
outra, e foi exatamente o que fiz. Ele suspirou do meu lado, quase
satisfeito e passou a acariciar minha cintura, causando arrepios no
meu corpo.
Fechei os olhos tentando controlar meu próprio corpo, respirei
fundo, e quando os abri de novo, peguei Colin me olhando
atentamente. Ficamos nos encarando até ele entreabrir os lábios e
colocar a ponta da língua para fora.
Respirei fundo, sentindo minha própria boca ficar seca ao vê-lo
lambendo os lábios, molhando-os sem tirar os olhos de mim.
Não consegui desviar daquele gesto, fiquei quase hipnotizada
pela sua língua. Ela parecia travessa, assim como ele. Sem
perceber, acabei me pegando entreabrindo os meus lábios, sentindo
um calor que vinha de dentro.
A pegada dele ficou mais firme, sua mão desceu pelo meu
quadril em uma carícia que estava me deixando levemente trêmula.
Sabe aquele frio? Passou. Estava tão quente que eu poderia
me abanar ali.
A mão dele chegou na minha coxa nua, descansando ali. Não
me atrevi a me mexer, fiquei ali sentindo o peso da sua mão na
minha perna. O contato das peles.
E ele era tão cheiroso... desci o olhar pelo seu pescoço. Tudo
nele era masculino, ele tinha músculos até nas laterais do pescoço e
as veias pulsantes eram excitantes.
E eu não deveria estar prestando atenção nisso ali.
Ou em qualquer outro momento.
Subi o olhar depressa e o encontrei com a sobrancelha
arqueada, daquele jeito cafajeste dele e o odiei com todas as
minhas forças para compensar essa atração que eu sentia subir
pelo meu corpo.
Ele me deu um sorriso sexy e o seu polegar girou em círculos
em volta da minha coxa. Me arrepiei toda e torci, com tudo de mim,
para que ele não percebesse.
— Com frio, pequena? — perguntou, passando o polegar de
leve pelos pelinhos arrepiados da minha coxa.
Estávamos próximos, de um jeito que o hálito quente e gostoso
dele atingiu minha boca.
— Uhum — confirmei, sem conseguir dizer uma palavra
coerente.
O sorriso diabólico do cretino cresceu, como se soubesse que
meu arrepio não tinha nada a ver com o frio, e ele subiu o carinho
até chegar no limite do meu vestido. Seu dedo passeou bem onde o
tecido terminava, como se quisesse subi-lo um pouco mais.
Ok, estava excitada. Podia sentir a minha calcinha úmida. Isso
era muito, mas muito ruim.
Ele estava mesmo tentando subir mais o meu vestido no meio
do cinema? Do lado do meu encontro?
Colin com certeza achava que eu era boba e tudo bem, estava
sentindo meu rosto esquentar. Ele deveria estar se vangloriando
disso, só que eu não o deixaria saber que eu tinha uma leve atração
por ele.
Leve. Que fique claro.
Sem tirar os olhos dele, toquei com a ponta do dedo a sua mão
e Colin ficou um pouco tenso quando nossos dedos se tocaram.
Você também sente esse atrito? Pode ser química. Ou ódio.
— Cuidado com a mão — sussurrei baixinho e fiquei orgulhosa
de mim mesma por ter conseguido soar de um jeito firme.
Colin não podia brincar comigo.
Seria uma jogada perigosa, e eu garantiria que não sairia
perdendo.
Colin Scott
Madison Jensen
Colin Scott
Madison Jensen
Assim que vi mais cedo, pela janela do meu quarto, os carros
estacionando na nossa rua, pensei que realmente poderia ser
apenas uma breve reunião dos amigos do Colin. Mas não demorou
para que o som ficasse tão alto a ponto de a casa começar a tremer.
A cara de pau era tanta que eles tinham usado a desculpa de
ser uma despedida para Johnny. Tinha até uma faixa na entrada da
casa que dizia: “Johnny Jackson, vá em paz. Sentiremos a sua
falta”.
Pelo jeito a pessoa que escreveu aquilo não mediu muito bem
as palavras, pois todo mundo que passava ali perguntava se tinha
acontecido alguma coisa e oferecia as suas condolências.
— Eu sinto muito. — Uma garota apareceu do meu lado e
apertou o meu ombro em conforto. — O talento dele era inestimável.
— Ele não morreu — esclareci depressa. — Talvez mate a
pessoa que escreveu aquilo, mas continua vivo.
A garota olhou confusa para a faixa e depois para mim. Ela
abriu e fechou a boca várias vezes, porém resolveu entrar sem dizer
mais nada.
Não sei como ela conseguiu, pois a entrada da casa estava tão
lotada que eu não via como alguém poderia passar ali. Por isso
tínhamos decidido ficar do lado de fora, onde o show estava
acontecendo.
Sim, eles tinham colocado um palco enorme no gramado e uma
banda universitária estava tocando. Tudo parecia profissional, tinha
até led de iluminação por todo lugar, simulando um show.
— Por que ninguém encontra o meu clitóris? — resmungou
Sienna perto do meu ouvido, revoltada.
A abracei pela cintura, temendo que ela fosse cair.
— O que eu tenho que fazer?! — perguntou ela para mim como
se eu tivesse mesmo a resposta.
— Querida, eu não sei...
— Devo colocar um GPS na minha vagina? — interrompeu-me
apontando para a própria vagina.
Sienna não esperou por uma resposta, ela apenas virou o seu
drink de uma vez. Estava bêbada, o que era engraçado, pois ela
continuava parecendo uma modelo sem um único fio de cabelo fora
do lugar.
— Será que está faltando luz? — continuou a reclamar e a olhei
confusa.
— Luz? — Franzi a testa. — Na sua vagina?
— Isso! — Estalou os dedos animada por ter sido
compreendida.
Sorri para a bêbada.
— Eu tenho certeza que a sua vagina é iluminada — gritei no
seu ouvido, tentando ser escutada em meio à música alta.
— Obrigada. — Ela sorriu. — E ela é mesmo! Abençoada!
— Quem? — perguntou Scar, chegando ao nosso lado com
mais bebidas.
— Minha vagina — respondeu Sienna, tirando um drink da mão
dela. — É sério, ela tem uma pintinha marrom bem em cima de
onde fica o clitóris — confidenciou Sienna e Scar engasgou.
Olhei em volta assustada, com medo das pessoas terem
escutado aquele detalhe sobre a vagina da minha amiga. Só que
tinha tanta gente ali que era impossível alguém estar prestando
atenção à nossa conversa.
— Como é? — Scar tentou recuperar o fôlego.
— Tem um sinal em cima do meu clitóris. Eu nasci com um
semáforo e ainda assim ninguém encontra! — Sienna fungou e
talvez ela tivesse chegado naquela fase dos bêbados que só
querem chorar.
Era fofo. A abracei apertado.
— Vai dar tudo certo, querida. — Dei tapinhas nas suas costas.
— “Ninguém encontra” ou só o seu namorado? — Scar jogou a
indireta com cara de deboche.
— Michael é míope — Sienna justificou enquanto me abraçava
de volta.
— E onde ele está mesmo? — Olhei em volta, procurando o
namorado dela, contudo era complicado encontrar qualquer pessoa
ali.
Se alguém se perdesse, talvez eu nunca mais visse a pessoa
na vida. A festa se estendia pela rua de um jeito que não era
possível ver o fim no mar de universitários.
— Não sei. — A bailarina fungou no meu cabelo e deu de
ombros de um jeito delicado. — Provavelmente comprando uns
óculos.
Eu ri e Sienna fez uma cara de reprimenda para mim, mas
estava tão engraçada que não consegui levar a sério. Fiquei na
ponta do pé e beijei o seu rosto.
— Como Colin vai se livrar desse pessoal antes do Johnny
chegar? — gritei para Scar.
Sabia que ela estava por dentro de tudo.
— Não faço a menor ideia. — Ela riu.
— Estou me sentindo culpada — revelei —, Johnny deve estar
preocupado uma hora dessas.
— Não está — Sienna determinou, bebendo mais um pouco da
sua bebida. — Nesse momento ele deve tá encontrando o clitóris da
namorada dele.
Era provável.
— MENINAS!
Olhamos as três para trás e vimos Drake caminhando em nossa
direção, abrindo caminho entre as pessoas. Ele estava sem camisa,
segurando um corpo sem vida em cima do ombro como se não
pesasse nada. E para ele deveria ser nada mesmo.
— O que é isso? — perguntou Scar, olhando para o corpo
jogado em cima do ombro dele.
Drake virou de costas e vimos que era Tyler, quase apagado.
— Meu Deus, Tyler. — Dei dois tapinhas no seu rosto até ele
acordar. — Você está bem? O que ele usou?
— Nada — respondeu Drake, rindo. — Ele é ótimo pra maconha
e péssimo pra bebida. Tomou três cervejas e apagou.
— Tyler, você está sentindo alguma coisa? — perguntei
preocupada, tentando abrir o olho dele.
— Não... — disse Tyler em um suspiro. — Eu morri.
— COLIN, TYLER MORREU! — gritou Drake por cima do
ombro e me ergui na ponta do pé, tentando ver Colin entre a
multidão.
— JÁ ESTAVA NA HORA! — gritou Colin de volta e consegui
vê-lo vindo até nós.
Também estava sem camiseta, exibindo seus músculos. Colin
vestia apenas uma calça jeans, e seu cabelo castanho estava
levemente bagunçado, de um jeito charmoso.
Era incrível como as pessoas abriam espaço para ele passar,
como se fosse um rei carismático e amado.
À medida que ele foi chegando mais perto, consegui ver que o
louco estava segurando um aspirador de pó. Quando os nossos
olhos se encontraram, ele abriu um sorriso.
— Não lembro de tê-la convidado — Colin provocou, segurando
o seu aspirador.
— Não lembro de ter pedido sua permissão — devolvi.
— Mas a festa é minha. — Deu de ombros de um jeito relaxado,
doido para me ver perder a paciência.
— Se está incomodado, pode se retirar. — Pisquei em
provocação.
Colin sorriu com o atrevimento e resolveu finalmente analisar
Tyler, jogado no ombro do amigo.
— Ele melhorou? — perguntou Colin a Drake.
— Não — negou Drake. — Ele morreu.
— Triste. — Suspirou Sienna bêbada, olhando apenada para
Tyler.
— Pra quê o aspirador de pó? — perguntou Scar curiosa.
— Eu não faço a menor ideia. Um cara colocou isso no meu
ombro e depois sumiu. — Colin deu de ombros.
Quem levava um aspirador de pó a uma festa?
— Interessante — ironizou Scar, rindo.
— Espero que esteja planejando limpar tudo depois que eles
forem embora — avisei, apontando para a bagunça.
— Pode ficar tranquila, meu aspirador é muito potente —
garantiu, erguendo o cano do aspirador, porém o gesto me pareceu
obsceno, como tudo o que saía da boca dele.
— Certo. — Engoli em seco e temi que estivesse vermelha, por
isso mudei logo de assunto. — Você falou com alguma autoridade?
Pra colocar esse palco aqui?
— Claro — Colin afirmou e fiquei mais tranquila.
— Qual? — quis saber.
— Eu. — Colin abriu os braços e sorriu.
— Você sabe que isso pode dar problema, não é? — lembrei. —
Ninguém vai conseguir dormir com esse show.
— Não sei se você lembra, mas moramos em uma rua de
universitários — comentou despreocupado. — Está todo mundo
aqui.
— E se alguém quiser dormir? — questionou Sienna curiosa,
chupando o canudo do seu drink.
— Será acordada — Drake respondeu rindo e ajeitando melhor
Tyler sobre seu ombro.
Sienna ergueu o ombro tranquila, só que logo em seguida ela
pulou animada, quando começou a tocar um rap pesado.
— Ah! Vamos dançar! — Ela puxou Scar e eu na direção do
palco.
Drake e Colin nos seguiram, indo para o nosso lado, nos
protegendo de sermos esmagadas pela multidão. Várias pessoas os
cumprimentavam com tapinhas no ombro, algumas olhavam com
estranheza para Tyler, porém não questionavam nada. Eles eram
tão estimados que poderiam até estar carregando um corpo morto
por aí e ninguém questionaria.
A minha altura não me permitia enxergar para onde Sienna
estava nos levando. Só sabia que era possível sentir o chão tremer
de tanta gente pulando ao som da música.
Senti uma mão quente tocando as minhas costas e vi, por cima
do ombro, que era Colin bem atrás de mim. Ele colocou o corpo ao
lado do meu, me poupando de ser empurrada sem querer.
O meu coração acelerou à medida que aquela mão me apertava
mais. Cada vez mais quente e pesada. Ele me puxou para mais
perto, quase em um abraço. E eu fui. Me esquecendo que ele
estava sem camiseta.
Coloquei as mãos no abdômen nu de Colin. Era tão definido.
Quando ergui os olhos, o encontrei me olhando de volta com seu
típico sorriso sacana. Tirei as mãos imediatamente e tentei me
distanciar, mas o cretino não deixou.
Me manteve colada ao seu corpo até chegarmos onde Sienna
queria, perto do palco. Estava cheio, entretanto mesmo com as
pessoas se esbarrando, Sienna achou um jeito de soltar o seu lado
dançarina. Ela levantou o drink, rebolando e derramando a metade
nas pessoas ao redor.
As luzes de led iluminavam praticamente toda a nossa rua e as
pessoas espalhadas por todo canto, fazia um efeito bonito. Olhei
para cima, encantada com as luzes e encontrei Colin ainda atrás de
mim. Ele não tinha tirado a mão das minhas costas.
Travei no lugar assim que nossos olhos se encontraram, e ele
passou o braço pela minha cintura, chegando até a minha barriga,
sem tirar os olhos de mim. Me puxou para o seu corpo e senti seu
peito firme e quente nas minhas costas.
— Você... — murmurei, engolindo em seco, nervosa.
Em um movimento involuntário toquei com a ponta dos dedos o
seu braço que me prendia. Tomei cuidado para que a palma da
minha mão não encostasse na sua pele, não queria que ele sentisse
as minhas cicatrizes.
— Você... você está me segurando — avisei debilmente, como
se ele estivesse fazendo aquilo sem perceber.
O canto da sua boca se ergueu em um sorriso.
— Eu sei — respondeu, acariciando a minha cintura por cima da
blusa.
Respirei fundo sem saber o que dizer. Senti meu rosto
esquentar e desviei o olhar, virando de frente para as meninas.
Senti os olhares de algumas pessoas em nós, umas curiosas,
outras estranhando. Parecíamos um casal, visto de longe.
— Vão pensar que temos alguma coisa — murmurei para ele.
— Hum? — Colin inclinou a cabeça na minha direção e sua
respiração soprou no meu rosto.
Você é muito cheiroso.
— Vão pensar que temos alguma coisa — repeti próxima do
seu ouvido.
— Por quê? — ele ironizou, podia sentir o seu sorriso.
— Por causa disso. — Apontei para o seu braço, e ele me
apertou mais ainda, quase como se temendo que eu saísse dali do
nada.
— O que tem? Isso é algo que vizinhos fazem — provocou e
ergui a sobrancelha para ele. — Veja Drake carregando Tyler, é algo
normal.
— Você não está me carregando — lembrei-o.
— Se é isso que você quer. — Ele deu de ombros me virando
de frente, pronto para me levantar, contudo desviei dele de última
hora, dando um passo para trás.
— Não se atreva. — Apontei o dedo para o louco, fazendo uma
cara séria, mesmo que estivesse com vontade de sorrir.
— Foi você que pediu. — Colin ergueu as mãos, segurando o
seu aspirador de pó no ombro.
As luzes de led ficaram brancas e começaram a piscar
rapidamente, fazendo os movimentos de todo mundo ali ficarem
mais lentos, como se estivessem em câmera lenta. Colin se
aproveitou daquilo para se aproximar em um passo.
Estávamos próximos demais. Uma pessoa dançando me
empurrou sem querer e Colin me pegou pelo braço de novo, me
equilibrando no lugar.
— Acho interessante... — disse em um sorriso charmoso. —
Como você sempre arranja um jeito de se jogar em mim.
Revirei os olhos.
— Eu já fui bastante assediado na vida, mas você ultrapassa
todos os limites às vezes — ele provocou e ergui a sobrancelha
cinicamente.
— Como você é iludido. — Balancei a cabeça em negação.
Ele ia falar mais alguma coisa, no entanto consegui enxergar,
por cima do seu ombro, uma chama, como se algo estivesse
pegando fogo do outro lado da rua.
— O que é aquilo? — Apontei para o local.
Colin ergueu a cabeça para ver melhor.
— Uma fogueira. Isso faz parte de algum ritual seu? —
perguntou ele para mim.
— Ritual meu? — Apontei para o meu próprio peito, confusa.
— Sim, depois daquela vela, eu espero de tudo — justificou e
nem me dignei a responder aquilo.
— Vou ver o que é isso — informou, me soltando. — Fica aqui
— mandou antes de se distanciar.
Era incrível como os homens nunca aprendiam. Quando eles
mandavam uma mulher fazer alguma coisa, era lógico que ela faria
justamente o contrário.
Me virei para as meninas, só que elas estavam distraídas
dançando com Drake e Tyler, que milagrosamente tinha recuperado
o movimento das pernas.
Segui Colin, passando pela multidão até chegar na fogueira. Se
tratava de um grupo que parecia ter um estilo meio hippie. Eles
eram novos, podia chutar que eram calouros.
— Ei, pessoal — Colin os cumprimentou. — O que vocês estão
fazendo aí?
— Uma revolução, cara... — respondeu um deles, de um jeito
relaxado. — Vamos implantar a luz na nossa geração, prezamos
pela paz.
— Que ótimo! — Colin sorriu para ele. — Mas podem fazer isso
sem a fogueira?
— Ela é essencial para simbolizar a nossa libertação.
— Certo, certo — Colin disse, sem se importar com a liberdade
deles. — Só não queimem ninguém, ok?
— Pode deixar. — O outro acenou para Colin, feliz por ele ter
entendido a sua revolução.
— Pra quê é o aspirador de pó? — perguntou um deles,
curioso.
— Pra aspirar toda a sujeira do mundo. — Colin ergueu o cano
do aspirador e todos que estavam ao redor da fogueira, fizeram um
“O” com a boca, em admiração.
Observei abismada Colin dar meia-volta, como se o problema
estivesse resolvido.
— Você vai deixar essa fogueira aí? — perguntei e ele parou no
lugar em susto.
— Não pedi pra você ficar lá? — Colocou as mãos no quadril.
— E quem te disse que eu iria obedecer? — debochei e
consegui ver o brilho de divertimento nos seus olhos.
— Você não consegue, não é? Ficar um segundo longe de mim.
Dai-me paciência.
— Você vai pedir pra eles apagarem a fogueira?
— Você viu o que ele disse. — Colin sorriu despreocupado. — É
uma revolução pela paz...
— Colin — interrompi entredentes, porém quando o seu sorriso
aumentou, vi que não conseguiria nada com aquilo.
Ele queria me estressar, da maneira mais lenta e maníaca
possível. Por isso respirei fundo e adotei outra tática.
— Colin... — chamei de um jeito manhoso e o jogador de
hóquei estreitou os olhos desconfiado, já alerta para a minha
manipulação. — Você pode, por favor, pedir para eles apagarem
isso? É perigoso.
Ele olhou para a fogueira atrás de nós.
— Não seja exagerada.
— Colin — implorei, mostrando minhas covinhas —, por favor.
Ele olhou para mim e respirou fundo, passando a mão no
cabelo, zangado.
— Tá — resmungou e me deu as costas, indo conversar com o
pessoal da fogueira de novo.
Adorava quando ele ficava com raiva. Talvez fosse coisa de
inimigo, gostar de ver o outro bravo. Entretanto, Colin ficava... sexy,
até mesmo com um aspirador de pó pendurado no ombro.
Colin Scott
Malditas covinhas.
Eu deveria ter mais força de vontade. Era só ela falar com
jeitinho que me derretia? Deveria ser o líder da associação dos
idiotas.
Segurei meu aspirador de pó sobre o ombro e me aproximei
novamente dos calouros revolucionários. Sorri para eles e apontei o
cano do meu aspirador na direção deles.
— Pessoal, infelizmente vão ter que apagar a fogueira.
— Por quê? — perguntou um deles, decepcionado por não ter o
símbolo do seu protesto aceso.
— Parece que o líder da associação dos moradores não gostou
muito disso — menti.
— Ora, quem é esse idiota? — questionou o calouro.
Um pobre coitado manipulado por uma ruiva de um metro e
meio.
— Eu poderia dizer que isso é perigoso — apontei para a
fogueira —, mas a verdade é que tem um gnomo que está
enchendo o meu saco.
— Como é? — perguntou o calouro com a testa franzida.
— Só apaguem isso — mandei firme e já iria fazer mais
considerações, quando um par de pernas torneadas desviou minha
atenção dos revolucionários.
— Colin! — A dona das pernas acenou para mim.
Era a mesma garota do refeitório, a que Madison me pediu para
responder.
— Olá. — Sorri para ela.
— Saudades! Você não me respondeu — falou decepcionada
enquanto o calouro tirou a própria camiseta e começou a abanar o
fogo, fazendo-o subir mais ainda.
— Mas o que é isso? — perguntei para o idiota que estava
atiçando o fogo.
— Estou apagando o fogo — esclareceu confuso.
— Você não vai apagar o fogo, abanando-o — informei com
toda a paciência do mundo. — É bom buscar água, uma torneira, sei
lá, qualquer coisa.
— Tá bom — ele saiu zangado.
Me virei para a garota novamente, só que ela sumiu para trás
da fogueira e tirou uns fogos de artifício de dentro de uma sacola.
Que porra era essa?
— O que é isso? — perguntei para ela, e a garota gesticulou
com a mão para eu repetir.
— O QUE É ISSO NA SACOLA? — gritei.
— FOGOS DE ARTIFÍCIO — respondeu um dos revolucionários
que estava a ajudando.
— Cuidado — avisei. — Não joguem isso na fogueira!
Várias cabeças se viraram na minha direção, sem ouvir direito
pelo som alto da música.
— OS FOGOS DE ARTIFÍCIO — gritei para eles e apontei para
o fogo. — NA FOGUEIRA.
Todos eles deram um passo para trás ao mesmo tempo.
— TEM CERTEZA? — perguntou a garota, temerosa.
— ÓBVIO — gritei de volta para os idiotas e eles arregalaram
os olhos, perplexos.
Que gente maluca.
O que eles queriam fazer? Jogar os fogos de artifício na
fogueira?
Acenei para eles e já ia me virando quando vi os loucos jogando
todos os fogos na fogueira de uma vez. Corri na direção deles
tentando impedir, contudo já era tarde.
P.O.R.R.A.
MAS QUE PORRA.
— MAS QUE PORRA — xinguei para os jumentos e ouvi
algumas pessoas gritarem.
Todo mundo correu ao mesmo tempo, logo que começou o
show de luzes dos fogos saindo da fogueira. Larguei meu aspirador
de pó e gritei que era tiroteio para todos abaixarem a cabeça.
Tudo bem que os fogos pareciam fracos e a maioria estava
saltando para cima, no entanto algum deles poderia muito bem
pegar em alguém.
Uma multidão começou a correr para todos os lados e tinha um
milhão de coisas com que me preocupar ali, mas só pensei em uma:
meu gnomo.
Passei pelas pessoas procurando um vestígio de cabelo ruivo, e
a cada segundo que não encontrava ficava mais preocupado.
Alguém podia ter esbarrado nela. Podia tê-la machucado.
Os fogos não paravam, os gritos estavam por todo lado. Todo
mundo correndo, luzes de todas as cores, e nada da minha
pequena.
— Maddie! — gritei, começando a sentir meu coração palpitar
na garganta e minhas mãos suarem.
Olhei para cada canto até finalmente achá-la.
Assim que nossos olhos se encontraram, nós dois paramos no
lugar. Ela estava assustada e puta ao mesmo tempo, porém correu
na minha direção mesmo assim. E eu corri na dela.
Não sei se ela ia me bater ou me abraçar, talvez os dois. Não
esperei para saber. Passei meu braço pelas suas pernas e a
coloquei em cima do meu ombro com cuidado.
— Colin! O que você tá fazendo? — perguntou ela, tentando se
erguer no meu ombro.
Não respondi, apenas caminhei o mais rápido possível até a
minha casa. Quando cheguei na varanda vi que o último fogo de
artifício atingiu o telhado da casa das meninas. Que merda do
caralho!
O fogo não chegou a se espalhar, logo apagou, só que o
telhado já era.
— Meu Deus! E os cachorros? — Madison tentou se virar para
enxergar melhor e esfregou a sua bunda na minha cara no
processo.
— Estão na minha casa — tranquilizei, tentando desviar do seu
traseiro. — Dá pra parar de se mexer?
— Se você me colocar no chão — condicionou e não obedeci.
Pelo que podia ver da minha varanda, os fogos tinham acabado
e ninguém se machucou. Suspirei aliviado.
— Bem... — disse, tentando ser otimista. — Até que não teve
um estrago tão grande assim.
Ela ficou um segundo em silêncio.
— Não — comentou Madison, abismada. — Você não acabou
de dizer isso, Colin.
— Ninguém se machucou — assegurei, tentando ver se alguém
tinha se ferido, mas pelo jeito todo mundo só parecia querer voltar
para a festa de novo.
— E a casa? — O gnomo fez questão de apontar.
— Vamos dar um jeito — afirmei tranquilo e podia sentir os seus
olhos se revirando atrás de mim.
Desci da varanda e caminhei um pouco pela calçada, tentando
encontrar o pessoal.
— E quando você pretende me soltar? — resmungou Madison.
— Quando eu achar que você não vai me atacar assim que
colocar os pés no chão.
— Pois pode me manter aqui pelo resto da vida — se
acomodou melhor em mim, quase me abraçando para se segurar.
Era tão pequena que eu só precisava segurar com um braço
para mantê-la no lugar.
— Que merda! — xinguei do nada ao lembrar de uma coisa.
— O que foi? — perguntou ela, preocupada.
— Deixei meu aspirador de pó pra trás.
— Veja pelo lado positivo — falou irônica. — Você tem uma
desculpa pra não limpar a rua.
— Uma ótima desculpa — debochei e parei no lugar quando
finalmente enxerguei Drake.
Ele estava andando ao lado de Scarlett, Sienna, Tyler e Taylor.
Assim que eles nos viram, nossos olhares disseram tudo: “É,
estamos fodidos”.
— Colin — chamou Madison.
— Oi, pequena.
— E agora? O que a gente vai fazer? — Suspirou preocupada.
— Não precisa se preocupar — avisei relaxado. — Somos todos
adultos prudentes aqui, vamos assumir a responsabilidade pelo que
fizemos.
Madison Jensen
Madison Jensen
Madison Jensen
O sol não tinha nascido ainda, contudo estava quase lá. Desci
as escadas ainda de pijama e fui fazer o meu chá. Assim que peguei
a xícara quente caminhei até a sala da casa, procurando por Colin.
Parei em choque em frente ao sofá ao ver que ele realmente
dormiu só de cueca. Meu deus, Colin era tão grande que ocupava
quase todo o sofá. Seu corpo era todo musculoso, desde as pernas
torneadas até o pescoço, de um jeito que fiquei tentada a imaginar
coisas indecentes.
Era tão bonito... seu cabelo macio e castanho estava um pouco
bagunçado, a barba por fazer com alguns fios loiros só dava um
charme a mais. Tentei não olhar para a corrente no seu peitoral, que
subia e descia em movimentos tranquilos pela sua respiração, como
se estivesse em um sonho bom.
Tinha vontade de saber com o que ele sonhava. Sonhos eram
importantes demais para serem esquecidos logo que se acordava.
O céu já estava começando a ficar mais claro, o azul estava
mudando para um tom suave, então não perdi tempo.
— Colin — chamei, o cutucando.
Nada.
Não deveria, mas ele estava tão lindo dormindo que não resisti
a tocá-lo no rosto. Me agachei na altura do seu rosto, passei os
dedos por seu maxilar e o senti relaxar ao receber o meu carinho.
Ele se inclinou na direção da minha mão e seus olhos mexiam de
um lado para o outro, fechados.
Ele estava em outro mundo, em um sonho bom. Eu podia sentir
aquilo, a vibração chegava em mim, como a magia em que ele não
acreditava.
— Colin. — Usei um tom mais manso e ele suspirou. — Acorda.
Ele abriu os olhos, quase como se eu comandasse o seu corpo.
Esfregou os olhos e observou ao redor, para ter certeza que eu
estava mesmo ali.
— Levanta, a gente vai perder o sol nascendo — avisei ficando
de pé na frente dele.
— E não estávamos brigados? — perguntou com uma voz
rouca e se sentou no sofá, me olhando de cima a baixo de um jeito
engraçado.
— Sempre estamos brigados, não é por isso que eu vou te
deixar escapar das obrigações — alertei, bebendo o meu chá.
Ele continuou a observar o meu pijama com um sorriso
tranquilo.
— Estou tentando entender o que é isso que você está usando.
— Ele riu, passando a mão no cabelo bagunçado.
— Um pijama. — Dei de ombros e segui para a área da piscina,
esperando-o vir logo atrás.
Ainda não tinha usado os meus pijamas na frente dele, porém
estava perdendo a vergonha. Gostava de pijamas com capuz, tinha
uns com coelhos, outros com pandas, o que eu estava usando
naquele momento era um de elefante. Me deixava com as orelhas
de elefante, eles eram quentinhos e macios, e eu me sentia
abraçada por um urso de pelúcia.
Colin demorou um pouco a vir, tinha ido ao banheiro,
provavelmente para escovar os dentes. Quando chegou na área
externa já estava vestido com uma calça moletom.
— Isso não é pra ser usado em crianças? — provocou,
sentando justamente na espreguiçadeira em que eu estava, próximo
demais.
— Como serve em mim, não vejo problema — disse, tentando
não prestar atenção no jeito em que ele se aproximava, aos poucos,
de mim.
— Como quiser, Julieta — brincou e virei para ele com um olhar
vingativo.
— O lado bom é que se tiver um balcão, eu vou te empurrar de
lá.
— Eu não duvido disso. — Ele se aproximou mais, de um jeito
que sua coxa musculosa encostava na minha. — Me conta uma
coisa, você além de dormir com as minhas cuecas também curte me
observar dormir? Estou começando a me sentir intimidado.
Revirei os olhos e bebi o meu chá.
— Você tem sonhos bons, é uma pena que não lembre deles —
lamentei, olhando para cima.
O sol ainda não tinha aparecido, mas as cores em borrões já
eram visíveis. Nuvens perfeitas já banhavam o céu, a imagem me
fazia lembrar de um conto de fadas.
— Como pode ter certeza, pequena? — perguntou suavemente
e senti seu olhar em mim.
— Já disse, o som da sua respiração. — Dei de ombros. — E
também consigo sentir a tranquilidade. É triste que eles sejam
perdidos.
— O lado bom é que não tenho pesadelos. — Ele estralou o
pescoço, se espreguiçando. — Nunca senti aquela sensação que as
pessoas tem “de cair” no sonho.
Virei para ele curiosa.
— Então não sabe como é cair?
Ele sorriu de lado.
— Eu caí em cima de você, não foi? — Piscou. — E também já
pulei de paraquedas.
— Já? — Arregalei os olhos. — E como foi?
Ele pensou um pouco.
— Não pensei muito na hora, só me joguei — falou e acreditei
completamente. Conseguia imaginá-lo fazendo esse tipo de loucura
sem pensar duas vezes. — Aproveitei a sensação, senti uma
adrenalina da porra, depois calmaria. Quando cheguei no chão
fiquei energizado, quis ir de novo.
— E foi?
— Não, a moeda não deixou — disse, pegando na corrente em
seu peito e fiquei satisfeita que ele ouviu a moeda.
— Sem desvios?
— Sem desvios. — Sorriu de um jeito que seus olhos se
inclinaram para baixo, o deixando mais charmoso.
Assim que percebi que estava olhando-o demais, virei para
frente, vendo o sol chegar. Joguei o meu capuz de elefante para
trás, deixando meu cabelo pegar um pouco da luz do sol.
— Obrigado por ter me acordado — agradeceu e eu assenti
para ele, sem encará-lo.
Estava muito hipnotizada pela obra de arte acima de nós.
Fechei um olho e coloquei minha mão na frente do rosto, imaginei
que estava segurando um pincel e o céu era a tela. Tentei capturar
as cores.
— Você conhece William Turner? — perguntei a ele enquanto
fingia pintar.
— Do Piratas do Caribe?
Eu ri, sabia que ele diria aquilo.
— Não, o artista. Ele era um artista impressionista, o meu
favorito. Não é tão conhecido, mas ele tentava capturar a luz do sol
nas suas pinturas. — Virei para ele. — Os quadros dele podem
parecer um borrão de cores pra maioria das pessoas, porém era a
luz do sol que ele tentava eternizar.
Colin inclinou a cabeça de lado.
— A luz do sol já não está eternizada?
— Não, a luz do sol é um momento — expliquei. — Um
momento que não se repete, como esse. — Apontei para o espaço
entre nós. — É único, nunca mais veremos outro nascer do sol
como esse, amanhã ele será outro. Turner tentava pegar essa luz,
quando olho pros quadros dele consigo perceber a sua vontade de
transformar um acontecimento em arte, ele fazia pinceladas rápidas,
tentava pintar o quadro antes que o sol desaparecesse. Era único.
Ele me olhou de um jeito diferente. Talvez admirado, como se
seus olhos estivessem sorrindo.
— Seus quadros são um pouco assim — contou e fiquei
surpresa que ele tivesse prestado atenção nisso. — Você tenta
pegar o nascer do sol também?
— Não — neguei, assoprando o meu chá. — Eu não tento
capturar a luz, tento capturar a sensação e colocar isso no quadro.
Acho que é nisso que somos diferentes.
Sorri para ele e coloquei um cacho rebelde atrás da orelha.
— Se alguém te pintasse agora... seria melhor do que qualquer
nascer do sol — revelou sem tirar os olhos de mim e um sorriso
involuntário cresceu no meu rosto. — Acho que se você fosse
pintada em todas as fases, inclusive quando está brava, ainda seria
perfeita.
Meu coração acelerou, estava sentindo minhas bochechas
esquentarem, entretanto não desviei o olhar.
— Eu não sou perfeita — lembrei-o um pouco acanhada.
— Pra mim, você é.
Colin pegou minha mão entre as suas com carinho, tocou
levemente nas minhas marcas e as beijou. Acho que ele tinha
gostado de fazer aquilo, e eu também gostei.
— Quem fez isso com você? — perguntou sem tirar os olhos de
mim.
Ele me tocava com ternura, cuidado, proteção, contudo o seu
olhar entregava que estava um pouco zangado. Percebi esse
mesmo olhar logo que ele as notou pela primeira vez.
Colin tentava não demonstrar que estava bravo com aquilo, no
entanto era possível perceber.
— Quem fez isso com você, meu amor? — repetiu quando não
respondi.
Fechei os olhos, sentindo o peso daquelas palavras.
— A vida. — Sorri tristemente, olhando para ele. Colin respirou
fundo, talvez um pouco angustiado. — Eu estou bem — garanti,
sentindo uma pontada de alegria no peito por ouvir o “meu amor”.
Só as meninas usam termos carinhosos comigo. De alguma
forma aquilo vindo dele, era especial.
— Não vai mais acontecer — garantiu seguro. — Nunca mais.
Era uma promessa estranha de se fazer. O olhei com carinho e
apertei minha mão na dele.
— Como pode ter certeza? — questionei com um sorriso suave.
— Eu nunca deixaria qualquer coisa te machucar. — Deu outro
beijo na minha mão. — Sou seu inimigo, só eu posso te irritar,
pequena.
Sorri para aquela lógica dele.
— E só você pode me machucar?
Ele negou com a cabeça, sério.
— Eu posso te provocar, fazer você perder a paciência e ficar
brevemente irritada. Mas machucar? Nunca espere isso de mim. —
Apertou mais minha mão entre as suas.
Assenti tranquilamente para ele. Sabia disso.
— Você não me deixa brevemente irritada — avisei de
brincadeira, tentando falar seriamente. — Você me deixa muito
irritada.
— Eu só sei fazer as coisas bem feitas. — Piscou e olhou em
volta. — Acho que nosso momento passou.
Olhei para o céu e vi que o sol já estava ali, tinha nascido.
Acabou.
— Passou — concordei um pouco triste.
— Foi único — concluiu, ainda segurando minha mão.
Me virei para ele e sorri em despedida. Levantei e minha mão
deslizou com pesar na dele, Colin fez uma careta, quase como se
sentisse uma dor física pela separação.
— Tenho uma entrevista daqui a pouco — revelei, bebendo o
que restou do meu chá.
— De emprego? — questionou surpreso.
— Sim — confirmei e segui para a sala.
— Não sabia que estava procurando emprego — disse atrás de
mim.
— Eu enviei uns currículos e me responderam esses dias —
avisei, indo deixar a xícara na cozinha. Colin veio me seguindo,
parecendo querer saber do meu dia. — É em um café perto do
campus.
— Perto do seu prédio?
Pensei um pouco.
— Não, fica meio distante.
— E como vai ir todos os dias? — Ele se encostou na bancada
da cozinha em uma posição tranquila, porém tinha um tom de
preocupação na sua voz que não conseguiu disfarçar.
— Eu vou me preocupar com isso se eles me contratarem —
brinquei, dando de ombros.
— Eu te deixo lá agora — ofereceu. — Tenho prova hoje e vou
passar a manhã na biblioteca.
Me virei para ele surpresa.
— Obrigada. — Sorri em agradecimento, ajeitando meu capuz
na cabeça. Ia subindo as escadas quando me virei e apontei o dedo
para ele. — Não pense que não estou zangada, ainda vai ter volta.
Ele colocou as mãos nos bolsos da calça moletom preta e me
olhou com um sorriso travesso no rosto. Estava tão gato, com o
peito de fora, a corrente brilhante, os olhos azuis. Ele tinha que ser
tão lindo?
— Ansioso por isso — avisou, mordendo o lábio inferior. —
Adoro quando você fica vingativa.
Revirei os olhos e dei as costas para ele.
Estava com pressa, tinha um emprego para conquistar. Questão
de necessidade, todo o dinheiro que vovó conseguiu me deixar, tudo
o que eu já juntei com os trabalhos que fiz no passado, estava no
fim. Precisava voltar a ser adulta.
A questão era que eu sempre fui adulta, até mesmo quando era
uma criança.
Colin Scott
Madison Jensen
Madison Jensen
1. Elogiar a Amber.
2. Abraçar a Scar quando ela não estiver esperando.
3. Dizer que amo a Sienna.
4. Agradecer pelas coisas boas da minha vida.
5. Olhar o céu.
6. Rir por qualquer besteira.
7. Encontrar o amor da minha vida.
8. Fazer carinho nos cachorros.
9. Não ser grosseira com ninguém (Abre uma exceção
para Colin).
10. Não odiar tanto assim o Colin Scott.
11. Não pensar em Colin Scott.
12. Não deixar que Colin Scott domine minha lista.
Colin Scott
Colin Scott
Colin Scott
A boate era bem escura e tinha aquelas luzes neons que faziam
quem estava de branco brilhar no meio da multidão. Pena que meu
vestido era preto. Mas para o meu consolo, eles entregaram para
todo mundo, na entrada, uma pulseira que brilhava no escuro.
Ficamos no andar de baixo e achamos uma mesa no canto,
onde dava para todos se sentarem no sofá em formato de L que
tinha em volta. Contudo, talvez Colin não tivesse entendido aquilo,
já que não me deixou sair do seu colo.
— Hum... tem poste de pole dance ali — murmurou Sienna
interessada, apontando para o poste no centro da boate.
Michael passou o braço pelos ombros dela e sussurrou algo no
seu ouvido. Para a nossa infelicidade, o namorado da minha amiga
tinha resolvido vir junto, ele quase não interagia com ninguém e
ficava grudado em Sienna de um jeito sufocante. Por mais que fosse
sutil, conseguia perceber o incômodo dela.
Amber até tentou conversar com ele para não o excluir, porém
desistiu de lhe dar atenção depois que viu o seu desinteresse.
— Você sabe dançar pole dance? — perguntou Scar curiosa.
— Sei... faz um tempo que não treino, mas sei. — Sienna deu
de ombros e ficou olhando para o poste.
— Eu queria aprender — murmurou Amber, virando a sua
décima garrafa de bebida. — Vamos pegar mais um pouco? —
chamou e era a minha vez de ir com ela.
Levantei do colo do Colin e ele ficou secando descaradamente
a minha bunda. A minha sorte era a escuridão do local ou todo
mundo perceberia.
— Você não fica com dor no corpo? — ele perguntou para mim
e o encarei confusa. — Por carregar toda a beleza do mundo nas
costas.
Ri e balancei a cabeça em negação para ele.
— Essa até que não foi tão horrível assim — elogiei antes de
lhe dar um beijo.
— Estou sempre melhorando — argumentou e Amber me puxou
para segui-la.
Senti os olhos dele em mim, nas minhas costas, na bunda, nas
pernas... era quase palpável. Entramos no meio da pista de dança,
passando pelas pessoas até chegarmos no bar.
— Você está tão gata! — elogiou Amber se inclinando no
balcão, querendo chamar a atenção do barman.
— Você também — devolvi, vendo o quanto a loira estava linda.
Ela se virou para mim empolgada, como se tivesse acabado de
ter uma ideia fantástica.
— Vamos tomar tequila hoje?
Opa! Tequila era a única bebida que conseguia deixá-la bêbada
mesmo. E aquela bolinha de energia alcoolizada era engraçada
demais para dispensar.
— Tem certeza? — perguntei com calma e ela balançou a
cabeça positivamente. — Eu sou fraca pra essas coisas, mas a Scar
consegue te acompanhar...
— Perfeito! — Sorriu sem me deixar terminar, se virou para o
barman e fez o pedido.
— Ei, cachaceira! — uma voz familiar chamou atrás de nós.
Era Nelly, colega de curso da Amber. Ela estava com um
vestido branco e acabava se destacando pela luz neon.
— Ah, você veio! — cumprimentei a abraçando.
— Parabéns pelo estágio. — Ela sorriu para mim.
Meu Deus, tinham contado para todo mundo?
— Ainda não é oficial — expliquei depressa. — Entretanto, acho
que vou conseguir.
— Ansiosa pra assistir à peça.
— O pessoal está arrasando — contei com orgulho. — E Colin...
você sabe como é, não leva nada a sério.
Nelly arregalou os olhos, parecendo se lembrar de algo e seu
rosto perdeu todo o sangue. Olhei em volta sem saber o que tinha
causado essa reação nela.
— Eu fiquei em choque quando soube de vocês! — exclamou,
entrando no seu modo agitado. — Menina, você está bem servida!
Eu ri e confirmei apenas com um aceno, ficando um pouco
vermelha. Estava mesmo. Olhei por cima do ombro, sentindo falta
de Amber, e vi que a trapaceira já estava prestes a virar a segunda
dose de tequila. Meu Deus, que tragédia.
— Querida! — Corri para tirar o copo da sua mão. — Por que
não ficamos só com uma, hein?
— Essa outra é pra Scar — explicou cinicamente, piscando para
mim como se não estivesse prestes a beber a dose.
— Vamos. — Nelly pegou a mão de Amber e a minha, nos
puxando para dentro da multidão de novo. — Benny já chegou
também, está com os meninos.
Nelly nos arrastou de volta à nossa mesa e não sei o que
aconteceu em um período tão curto de tempo. Quando saímos
estava um clima harmônico, agora Drake apontava furiosamente o
dedo para Tyler, que tentava se esconder atrás do Taylor. Johnny
apenas abanava as mãos entre os dois, tentando controlá-los,
Benny assistia a confusão assustado do seu lado e Colin...
Bem, estava encostado no sofá querendo rir.
— O que aconteceu? — perguntei ao meu namorado e ele me
puxou de volta para o seu colo assim que me viu.
— Senti sua falta. — Enterrou o rosto no meu pescoço, beijando
a região.
Passei o braço pelos seus ombros e apontei para a confusão à
nossa frente. Colin abraçou a minha cintura e ficou olhando para os
meninos.
— Algum sem noção inventou de brincar de verdade e desafio,
perguntaram pro Tyler como foi pegar a irmã do Drake — contou a
fofoca.
É, não foi uma boa ideia.
— Quem perguntou isso? — perguntou Nelly, passando por nós
para se sentar no outro canto do sofá, ao lado de Benny.
— Colin — respondeu Scar como se fosse óbvio e nem fiquei
surpresa.
— No dia em que ela foi nos visitar! — Drake apontou o dedo
para Tyler, revoltado. — De baixo do meu nariz. — Drake balançou
a cabeça em negação.
— Podemos esquecer essa história? — implorou Johnny e
Amber se jogou no colo dele, virando o segundo copo de tequila que
ela estava “guardando para a Scar”.
— Com você dormindo logo ao lado... — contribuiu Colin,
incentivando o caos.
— Foi muita sacanagem mesmo — apoiou Amber, apontando o
seu copo para Colin.
Ai quando esses dois se juntavam...
— O que você queria que eu fizesse? — se defendeu Tyler, se
escondendo atrás de Taylor, o usando como escudo.
— Resistisse — respondeu Drake e Tyler bufou.
— Ora, eu duvido que se uma garota entrasse no seu quarto e
tirasse a roupa...
Ah, Tyler! Você não se ajuda também. Drake se levantou, mas
Johnny e Taylor se colocaram na frente dele para empurrá-lo de
volta para o sofá. Amber se levantou junto, já que estava no colo de
Johnny, e bem na hora um garçom chegou na nossa mesa.
— Os camarões chegaram — anunciou o garçom, trazendo
uma bandeja e Sienna foi pegar o prato.
— Olha só! Eu pedi camarão — falou Sienna animada demais,
tentando distrair a atenção do pessoal.
— Ah, eu adoro camarão! — Amber empurrou Johnny para o
sofá de novo e sentou nas pernas dele.
Drake continuou a direcionar olhares cortantes na direção de
Tyler, até ele suspirar e decidir se defender.
— Olha, depois desse dia eu prometi a mim mesmo que nunca
mais faria isso — Tyler jurou e Drake relaxou um pouco.
— Hum... — murmurou Amber, comendo um camarão. — Mas
logo depois você já estava se agarrando com a Maddie.
Fechei os olhos em derrota. Colin ficou imediatamente tenso e
suspirei, sabendo que a confusão estava feita.
— Isso é verdade — concordou Colin, apontando o dedo para o
coitado.
— Eu fui a vítima. — Tyler apontou para o próprio peito e eu ri
só de lembrar do momento.
— A vítima — repetiu Colin em deboche, apertando os braços
na minha cintura.
— É verdade — concordei. — Eu que ataquei ele — falei em
tom de desculpas para Tyler.
E ele deu de ombros.
— Não tem problema — me dispensou com um aceno. — Foi
ótimo.
Bati a mão na minha própria testa, massageando-a só em
imaginar a reação do louco que me segurava no colo. Colin abriu a
boca, em choque com a cara de pau, e se levantou para ir para cima
dele.
Tyler se levantou em susto e começou a dar a volta na mesa,
Johnny e Taylor tentaram ficar entre eles e Drake apenas estendeu
a perna na direção do Tyler, fazendo-o cair em cima do namorado
da Sienna.
— Que porra! — Michael se levantou todo sujo de cerveja,
derramando o próprio copo em si.
Sienna apenas pegou a bandeja de camarão e foi sentar longe
deles, do lado da Scar. Me levantei junto e puxei Colin para se
sentar de volta no sofá.
— Por que não esquecemos isso? — sugeri para todo mundo e
me sentei em cima do meu namorado, o impedindo de ir atrás de
Tyler outra vez.
Ele me abraçou, se acalmando.
— Ainda teve a cara de pau de dizer que foi “ótimo” — Colin
resmungou e beijei a sua testa.
— Isso é porque eu beijo muito bem — brinquei e ele suspirou,
olhando para mim.
— Foi horrível — corrigiu Tyler, indo se sentar bem distante de
nós.
Colin se sentiu melhor com aquilo e revirei os olhos.
— Quem quer pegar mais tequila? — perguntou Amber,
animada.
— Princesa, você não quer parar já? — Johnny se virou para
ela, carinhoso.
— Verdade, amor — concordou sensata, o abraçando. — Por
que não continuamos com a brincadeira?
— Eu acho melhor parar — aconselhou Scar.
— Ah, eu tenho um babado fortíssimo pra contar — Amber falou
e Drake imediatamente se inclinou na sua direção para ouvir. —
Soube que o Colin colocou um piercing no pau.
O quê?
— O quê? — Nelly fez a pergunta por mim, horrorizada.
Todo mundo olhou na nossa direção, assustados e só balancei
a cabeça negativamente, em choque.
— Isso é mentira — foi tudo o que consegui dizer. — Eu vejo
todo dia.
Assim que fechei a boca me dei conta do que disse. Senti meu
rosto esquentar de vergonha e Colin riu.
— Eu não tenho — ele informou para Amber. — Mas já quis
botar.
Amber se virou para Johnny, batendo no seu ombro.
— Você me disse que ele tinha.
— Eu disse que achava que tinha — se defendeu.
— Como o meu pau virou o assunto? — perguntou Colin,
curioso.
Me virei para ele abismada.
— Você já quis botar? — perguntei e ele deu de ombros.
— Sim.
Apenas o encarei firme.
— Não — determinei e ele estreitou os olhos em divertimento
para mim.
— Ia ser a cereja do bolo, gnomo — justificou. — Vamos pegar
o que já é perfeito e deixar ainda mais bonito.
— Não tem cereja do bolo — neguei. — Você não vai fazer isso,
Colin!
— Eu pensei que o pau fosse meu — brincou em provocação.
— Mas quem senta nele sou eu. — Apontei para o meu próprio
peito.
— Boa! — elogiou Sienna e só então percebi que todos ali
estavam prestando atenção na nossa conversa.
— Eu já conheci uma cara com um piercing nos ovos — disse
Scar, assustando todo mundo.
— Nos ovos?! — Drake cobriu a própria região como se
estivesse sentindo dor.
— Meu Deus — disse Benny chocado, ajeitando os óculos no
rosto.
— Que coisa... — Taylor tentou buscar uma palavra para aquilo.
— Inovadora.
— Sim — concordou Scar e eles continuaram a falar sobre o
homem com o piercing nos ovos enquanto eu me virava para Colin,
agora que tinha privacidade.
— Você ia mesmo colocar um piercing? — questionei uma
última vez, só para confirmar tamanha loucura.
Ele não iria colocar piercing algum. Não tinha negociação. Nem
hoje, nem amanhã, nem nunca.
Madison Jensen
Colin se aproximou de mim, me segurando mais perto do seu
corpo.
— Sim — sussurrou, me puxando mais para perto. — Pense no
quanto seria gostoso sentir lá dentro.
Senti um arrepio passar pelo meu corpo e toquei o rosto do
maluco, alisando o canto dos seus olhos.
— Você não vai furar o seu pênis — determinei e ele sorriu.
— Fica tão sexy mandona assim — disse, beijando a curva do
meu decote exposto pelo vestido.
Quase no limite do tomara que caia, ofeguei e olhei em volta,
com medo de alguém ter visto. Porém, para o meu alívio, estávamos
na penumbra, o lugar era muito escuro e o pessoal estava entretido
na conversa sobre piercing.
As mãos pesadas de Colin subiram e desceram pela minha
cintura, em uma carícia que me deixou tensa. Suspirei devagar, o ar
de repente ficou mais pesado. Quente. Virei para ele com calma e
peguei Colin secando o meu pescoço, quase como se fosse algo
que ele quisesse lamber.
Quando o seu olhar encontrou com o meu percebi o quanto ele
estava excitado.
— Você quase beijou o meu peito — avisei e Colin não
demonstrou qualquer arrependimento, apenas continuou me
olhando e se aproximou mais.
Fiquei parada com os braços em volta do seu pescoço, o
esperando vir. Ele encostou o nariz perto do meu ouvido, respirando
fundo ali, para depois soprar na minha pele.
— Oh, foi mesmo? — perguntou cinicamente e entreabri os
lábios, sentindo-os secos.
Passei a língua devagar pelo lábio inferior, molhando-o, com
medo de apenas encarar ele e perder a cabeça. Colin desceu a
mão, que alisava minha cintura, para acariciar minha coxa. Assim
que os seus dedos tocaram a minha pele eu espremi as pernas,
nervosa. Trêmula.
Senti a umidade da minha boceta molhando a calcinha. Ele
apertou a minha coxa ao mesmo tempo que encostou levemente os
lábios no meu pescoço, em um beijo suave e... me arrepiei inteira.
Joguei o pescoço mais para o lado, querendo que ele beijasse
tudo mesmo. Colin lambeu a região, sua língua gelada da bebida
que estava tomando fez todo o meu corpo estremecer. Ela passou
tão devagar no meu pescoço, de um jeito tão sugestivo, a saliva
gostosa dele me melando de uma forma que me fez cravar as unhas
nos seus ombros para conter meu gemido.
Juntei as pernas uma na outra e ele percebeu. Colin me
abraçou mais, colocando meu corpo em um casulo protetor. Ele
continuou a deixar beijos demorados no meu pescoço e ombro nu.
Mordiscando de leve e inspirando o meu aroma.
Eu apenas fechei os olhos, querendo muito sentir tudo, ficando
sedenta. Adorei a sensação de me sentir toda lambida, o ar da
boate deixando minha pele mais arrepiada. Ele arranhou a região
com a sua barba por fazer e ali foi o meu limite.
Precisava dele. Olhei em volta e todos continuavam
conversando sem prestar atenção em nós.
— Não podemos fazer essas coisas em público. — Tentei
acordar meu lado racional e bem nesse momento senti o seu pau
duro na minha bunda.
Ah, que coisa gostosa... Fiquei com vontade de afastar a minha
calcinha e senti-lo.
— Quem disse? — provocou, roçando de leve o pau em mim e
me fazendo contorcer todo o corpo no seu colo.
— Colin — gemi, enterrando o rosto na curva do seu pescoço,
querendo sumir e pedir para ele continuar ao mesmo tempo.
Senti o seu cheiro bom, os seus músculos tensos, o jeito que
ele era gostoso... Colin me apertou mais com carinho, alisou o meu
braço nu, sentindo a pele toda arrepiada, e beijou a minha cabeça
com calma.
— Eu cuido de você, meu amor — prometeu, passando o dedo
sugestivamente pelo meu braço, me fazendo querer arrancar toda a
roupa que estava entre nós.
Ergui os olhos para o pessoal novamente, mas para mim, tudo
estava escuro demais, não sabia se era da excitação ou do próprio
ambiente. Colin mexeu um pouco a perna para colocar a mão no
bolso da calça e seu pau duro roçou em mim no processo. Eu
precisava...
Algo vibrou na minha boceta, fazendo-a ficar ainda mais
melada! Todo o meu corpo se contraiu, me fazendo soltar um
gemido agudo bem alto. Apoiei as mãos na mesa, assustando todo
mundo, e fazendo vários pares de olhos se virarem na minha
direção.
A DROGA DA CALCINHA.
Eu esqueci que estava usando, podia sentir que ela estava
vibrando bem em cima do meu clitóris como uma tortura.
— Querida? — perguntou Sienna, preocupada.
— Você está bem? — Nelly estreitou os olhos para mim,
tentando enxergar o que acontecia.
Não. Tem algo vibrando na minha calcinha.
— Estou. — Forcei um sorriso e senti outra vibração apertando
mais o clitóris. QUE INFERNO. — Meu Deus!
Os braços de Colin me apertaram, me trazendo de volta para o
conforto do seu corpo e percebi que o cretino estava querendo rir.
Mordi o lábio inferior, contendo um gemido e respirei fundo,
acalmando o meu coração acelerado.
O pior de tudo era que eu queria que o vibrador apertasse mais.
Queria o pau duro, que cutucava a minha bunda, entrando em mim.
Queria a boca dele na minha, mas não podia ser ali.
O vibrador começou a girar e meu Deus... cravei as unhas com
força nos braços do Colin, quase arrancando um pedaço da sua
pele. Fechei os olhos e tentei controlar o meu corpo.
— É o camarão — explicou Colin para o pessoal. — Ela é
alérgica — mentiu.
— Meu Deus, eu esqueci! — Sienna murmurou, mortificada.
— Tirem o camarão de perto dela! — Drake começou a tirar o
camarão da mesa e todo mundo se levantou para tirar a bandeja de
perto.
— Eu vou leva-la pra tomar um ar. — Colin se levantou comigo,
me mantendo junto ao seu corpo e suspirei de alívio quando minhas
pernas esticaram.
Ainda estavam bambas e ao levantar rocei ainda mais no
vibrador. No entanto, pelo menos, Colin me tiraria dali. Se ele não
me desse um orgasmo nesse minuto seria caso de morte. Dele, no
caso.
— Não! — mandou Taylor e quase chorei. — Temos que levá-la
pro hospital.
Todos assentiram em concordância e as meninas começaram a
pegar as bolsas em cima do sofá para irem embora.
— Não é necessário, eu cuido disso...
— Ela está vermelha — Amber cortou Colin, apontando para o
meu rosto.
Deveria estar mesmo, me sentia sufocada, precisava da pessoa
que estava me abraçando, dentro de mim. Senti o vibrador
aumentar a velocidade e mordi o lábio com força para reprimir o
gemido. Cravei as unhas no abraço de Colin, avisando
silenciosamente para ele pegar a oportunidade e fugir.
— É o camarão — falei, espremendo as pernas e apontando
para a bandeja, meu dedo tremendo de tanto tesão acumulado. —
Tem... tem... — PELO AMOR DE DEUS. — Tem alguma coisa nele,
não comam!
Eles olharam para a bandeja que Drake segurava e deram um
passo para trás, assustados. Colin me segurou mais firme e acenou
em despedida para eles.
— Estamos indo. — Apontou para a bandeja e pegou minha
bolsa em cima do sofá. — Não comam o camarão!
Ele saiu comigo pela boate, passando pelas pessoas enquanto
eu me contorcia no caminho, abraçando o seu corpo como se fosse
o meu bote salva-vidas. Colin entrou em um banheiro e trancou a
porta atrás de si.
Me soltei dele e assim que meu namorado se virou, com um
olhar sedento e ao mesmo tempo divertido, na minha direção, eu
perdi a paciência. Empurrei-o contra a porta com toda a minha força
e o puxei pela camiseta para um beijo, quase rasgando o tecido no
processo.
— Porra... — Ele gemeu ao sentir minha língua deslizando para
dentro da sua boca gostosa.
O maldito vibrador continuava a girar no meu clitóris, fazendo eu
me molhar toda ao ponto de sentir que estava toda melada até na
coxa. Gemi sufocada no beijo, chupando a língua dele.
Colin me puxou para o seu corpo, sabendo que eu precisava de
tudo naquele momento. Ele me ergueu nos braços e enrolei as
pernas na sua cintura depressa, ficando louca ao sentir o seu pau
duro roçando na minha virilha toda lambuzada. Colin nos mudou de
posição, me colocando contra a porta e dando uma esfregada na
minha boceta, bem onde a calcinha já estava fazendo um ótimo
trabalho.
Gemi enlouquecida, jogando minha cabeça para trás e
rebolando descontroladamente nele, girando meu quadril para ter
mais contato. Colin abaixou o meu vestido tomara que caia até a
cintura e meus seios saltaram para fora, livres, balançando no ar à
medida que eu me esfregava mais na sua calça jeans.
Ele os abocanhou, chupando com força o mamilo, babando bem
a região e os deixando duros de excitação. Senti a sua barba por
fazer me arranhar e segurei o seu cabelo, cravando os dedos para
não tirá-lo dali. Porém, Colin se afastou para chupar o outro, deixou
o seio inchado e babado. Assim que senti a sua boca sugando o
outro bico arrepiado, o quis em cada parte do meu corpo.
— Preciso de você — pedi manhosa, rebolando no seu jeans e
sentindo o seu pau pular de tão duro.
Estocou em mim, pressionando o quadril bem em cima da
minha boceta. Gemi tão alto que o som preencheu todo o banheiro
pequeno.
— Ocupado? — Escutei alguém bater à porta atrás de mim,
mas por nada nesse mundo sairia dali.
Colin subiu as lambidas até chegar na minha boca, já aberta
para receber a sua língua.
— Sim! — Colin gritou e abriu mais as minhas pernas para girar
o seu pau bem na minha virilha.
Gemi sem consegui me conter, segurando os seus ombros para
me manter no lugar. Ouvi a pessoa se desculpar e talvez tenha ido
embora. Ou talvez não, pouco me importei.
— Colin, já chega — sussurrei implorando, meu coração
batendo tanto que o sentia na garganta.
Ele mordiscou o meu lábio inferior inchado e me empurrou com
mais força contra a porta, fazendo o seu pau me cutucar e que
inferno... queria rasgar a sua roupa e colocá-lo dentro de mim.
— Olha pra mim — mandou e obedeci imediatamente, faria
qualquer coisa que ele me pedisse.
Ficamos nos encarando enquanto eu enterrei os dedos no seu
cabelo, precisando do contato. Meu clitóris pulsou tanto que senti
minha boceta escorrer de tão melada.
— Agora, Colin — pedi e ele levou uma mão entre nós, até o
zíper da sua calça. Sem desviar de mim.
Quando o senti colocar o pau para fora quase chorei de alívio.
Abri as pernas ansiosa e ele afastou a minha calcinha ensopada
com o polegar, só a parte que ficava na entrada, deixando o vibrador
brincando com o meu clitóris. Colin passou a cabeça do pau na
minha boceta e gemeu ao sentir o quanto estava lambuzada.
— Puta merda, pequena. — Ele trincou os dentes como se
estivesse sentindo dor e o abracei, empurrando o quadril na sua
direção para senti-lo entrar.
Ele gemeu na minha boca e o beijei, segurando o seu pescoço.
Minha língua duelava com a dele enquanto seu pau deslizava para
dentro, me alargando completamente, abrindo caminho.
— Melada pra caralho — murmurou na minha boca, descendo
para mordiscar o meu pescoço. Senti os seus dentes mordendo a
minha pele e minhas pernas tremeram por senti-lo começar a roçar.
— Eu amo sentir entrar gostoso assim — falei, sentindo-o meter
até entrar todo.
Colin empurrou com força, bombeando de uma vez e fazendo o
seu pau ficar enterrado até o talo na minha boceta. Estocou com
tanta vontade que meu corpo bateu contra a porta.
Estremeci dos pés à cabeça de tanto tesão. Comecei a rebolar
desesperada, sentindo o pau sair todo melado e entrar de novo em
mim. Colin continuou metendo com força e senti meu corpo inteiro
vibrar. As suas mãos fortes desceram para minha bunda até
chegarem perto da boceta e ele abriu minhas pernas até o limite,
sentindo o tanto que lambuzei tudo ao redor.
Separou bem minhas coxas e passou a meter o pau até eu
senti-lo lá dentro. Abracei os seus ombros e beijei aquela boca
gostosa, que estava tão próxima da minha. O vibrador girou no meu
clitóris, tremendo e aumentando a pressão. Foi o meu fim.
Gozei, nunca me senti tão melada como naquele momento.
Colin não parou e eu gemi alto. Minha boceta contraiu, esfregando e
esmagando o seu pau. A senti escorrer de tanto gozo.
Colin segurou o meu rosto com uma mão e passou a alisar a
minha bochecha, sem deixar de estocar em mim. Olhei nos seus
olhos azuis e vi tudo ali. Tesão. Vontade. Carinho. Amor.
O puxei para mais um beijo, só porque não conseguia deixar de
beijá-lo. Minhas pernas estavam para cederem, fracas depois do
orgasmo. E ele percebeu, pois me soltou e tirou o pau duro de
dentro de mim.
O senti sair erguido e totalmente lambuzado, tanto que o vi
brilhar sob a luz do banheiro. Inchado, grosso e cheio de veias.
Colin deixou que eu me equilibrasse no chão antes de me
colocar de frente para a pia pequena que havia no local, onde tinha
um espelho bem em cima. Apoiei minhas mãos na louça e empinei
minha bunda para trás, pronta para senti-lo entrar em mim de novo.
Seu corpo surgiu atrás do meu, grande e forte. O seu braço
passou pela minha barriga, me segurando no lugar quando meteu
novamente o pau na entrada da minha boceta. Joguei a cabeça
para trás, gemendo e descansando ela no seu peitoral.
Olhei para frente e ficamos nos encarando enquanto ele
empurrava dando uma rebolada no caminho, tocando o meu ponto
G. Precisei me segurar na pia e inclinar o tronco para frente, meu
corpo inteiro tremeu e joguei a bunda para trás, querendo mais. Seu
pau deslizou pela minha boceta gozada, me fazendo contrair e
sentir outro orgasmo chegar. Achei que estivesse esgotada, mas
não.
Nos olhamos e vi ele descer a mão que me segurava para
dentro da minha calcinha minúscula, a afastando de lado e ele
mesmo passou a massagear o meu clitóris com o polegar. Já estava
tão pulsante... inchado. Torci as pernas e fechei os olhos com força,
rebolando enlouquecidamente de novo.
Quando voltei a abrir os olhos ele puxou mais a minha bunda
para trás e olhou fixamente para mim, para os meus seios
balançando, para os meus olhos e minha boca. E só pela sua
expressão de puro prazer e tesão eu senti minha respiração falhar.
Apertei tanto as mãos na pia que os meus dedos ficaram
brancos. Meu coração acelerou e ele meteu fundo, me fazendo
gemer alto, o som saindo cortante pelas estocadas violentas.
Contraí e mais uma vez gozei. Meu Deus, ia infartar.
Colin enfiou uma última vez em mim, gozando dentro.
Os seus braços me apertaram e suspirei em derrota. Estava me
sentindo saciada, senti o seu pau contraindo dentro de mim,
derramando mais gozo, até a última gota e quis absorver tudo. Ele
travou o maxilar em alívio, tirou o meu cabelo da nuca e passou a
beijar a pele com carinho.
O sêmen quente escorreu pelas minhas coxas assim que o
pênis deslizou para fora, mas daquela vez acho que era tanto meu
quanto dele. Colin me virou de frente e o abracei, morta.
Estava sem equilíbrio, manhosa e ofegante. Ele me encostou na
porta novamente e descansou a testa na minha. Estávamos
ofegantes e ficamos ali, respirando o mesmo ar, esperando nossos
corações se acalmarem.
— Sente meu coração. — Peguei a sua mão e a coloquei entre
os meus seios, bem onde estava a minha corrente de ouro.
Colin passou a mão delicadamente pelos meus seios, alisando
os bicos e dando um beijo carinhoso em cada um antes de cobri-los,
erguendo o meu vestido.
Me deixei ser cuidada. Era bom.
Ele ajeitou a própria calça, depois se abaixou para me limpar e
tirar a calcinha de mim, passando-a pelas minhas pernas. Toda
molhada e pesada. Quando passei os meus saltos por ela Colin a
levou até o nariz, cheirando e guardando no bolso da calça.
— Eu fico com isso — informou e me mostrou o controle da
calcinha, que estava guardado no bolso da sua calça.
Balancei a cabeça em negação para ele, ainda encostada na
porta. Morta. Minha cara com certeza assustaria qualquer pessoa
naquele momento. Estendi a mão para Colin e ele se levantou, me
abraçando.
Beijou a minha testa e eu só deitei a cabeça no seu ombro,
alisando as suas costas perfeitas. Me sentia acolhida, amada, só
queria ficar assim com ele a vida toda.
— Eu te amo — declarei beijando o seu queixo, que era onde
alcançava com os saltos, e sentindo o seu cheiro bom.
Colin me apertou mais, tão forte que conseguiu até acalmar o
meu coração.
— Amor da minha vida — sussurrou pertinho do meu ouvido,
beijando a minha bochecha. — Amor da minha vida — repetiu ao
segurar o meu rosto com proteção.
Me aproximei dele e ficamos roçando os narizes, suspirando um
para o outro e dando beijos despreocupados.
Alguém tentou abrir a porta de novo, nos assustando. Abracei
Colin e ele só gritou para a pessoa que estava ocupado.
Peguei a minha bolsa jogada no banheiro, sem nem me lembrar
de quando a larguei no chão, e saímos de lá com a maior cara
limpa. Tinha uma garota esperando para entrar. Ela nos olhou de
cima a baixo, deixando claro que sabia o que estávamos fazendo.
Fiquei um pouco envergonhada, mas o bom humor venceu.
Enterrei o rosto no peito do Colin e ri.
E fui para a casa com o amor da minha vida.
E fiz amor com ele a noite toda.
Madison Jensen
Arte não é uma forma de expressar só sentimentos, mas
também magia. Ela se comunica, fala por você, ela se pinta,
desenha, constrói, expressa e cria vida.
O poder que se concentra nas mãos de um artista é gigante. Ele
cria algo novo, coloca no mundo uma coisa que não existia antes.
Ela nasce, cresce e nunca morre. Pode até ser que se deteriore com
o tempo, no entanto se chegou a tocar alguém algum dia, tem o seu
lugar no mundo.
Talvez os sonhos de Colin sejam assim. Eles se perdem no
mundo no instante em que o seu corpo acorda. Eles morrem quando
a realidade chega. Somem do seu alcance, não o permitindo
capturá-los. E tudo o que eu queria era poder dá-los a ele. Seria um
presente, a minha maior prova de amor.
Lhe devolver o que foi perdido, lhe dar o que ele nem sabe que
é seu. E deixar que se eternize, como William Turner tentava fazer
com a luz do sol.
Sempre senti que ele a amava de alguma forma, que acordava
e pensava que a luz seria o seu guia. Sempre achei que ele a queria
para si, capturá-la e conseguir fazer com que ela fizesse parte do
mundo.
Observei Colin respirar tranquilamente, seu peito subindo e
descendo enquanto o ar entrava e saía do seu corpo. Tão bonito...
Ajustei o caderno de desenho nas minhas pernas e continuei a
rabiscar na folha.
Alguns artistas tinham o sol como inspiração, o amanhecer, as
flores, o mar, as estrelas e a própria vida. Eu tinha Colin. Passei a
tornar o meu ritual favorito observá-lo despertar de manhã.
Quando o canto da sua boca se ergueu em um sorriso eu
percebi que ele tinha voltado. Acordou. E era como o momento em
que o sol nascia de manhã, iluminando o quarto.
— Eu sinto os seus olhos em mim — ele murmurou, abrindo os
olhos para me encarar.
Sorri para ele de volta e coloquei um cacho, que estava
atrapalhando minha visão, atrás da orelha.
— Você virou o meu sol — justifiquei e ficamos nos olhando em
silêncio.
Não precisei explicar mais, ele entendeu. Sempre compreendia.
Eu não precisava me esconder dele, ou ter vergonha de
compartilhar meus interesses e crenças. Ele nunca tentava me
ridicularizar, apenas me aceitava como eu era, me amava por
completo.
— Você sempre foi o meu — sussurrou e fiquei com vontade de
pintá-lo exatamente como estava. Cansado depois de ter passado
quase a noite toda dentro de mim, não paramos depois do episódio
do banheiro. — Desde o dia em que caí em cima de você.
Meu sorriso se tornou mais pleno, tranquilo.
— A vela — brinquei e ele me entregou um olhar divertido.
— A maldita vela.
Fechei o meu caderno de desenho e o deixei em um canto para
ir até a cama ficar com ele. Colin abriu os braços, pronto para me
colocar no seu casulo, como fazia todas as noites. Porém, dessa
vez eu apenas me sentei na sua frente. Ele se ergueu, encostando
as costas na cabeceira para me olhar mais de perto.
— Vou te contar uma história. — Ergui a sobrancelha e Colin
me olhou atento, me puxando mais para perto.
— Qual história?
— De uma menina que descumpriu uma regra — contei e seus
olhos suavizarem. Ele tocou o meu queixo com carinho, alisando a
minha pele.
— Que regra ela quebrou?
Peguei a sua mão na minha e a beijei, como ele costumava
fazer comigo. Abri a sua palma entre nós e fiquei traçando as
marcas da sua mão, bem em cima da linha da vida.
— Ela pediu respostas — continuei passando o dedo pela sua
palma, onde alguns acreditavam que se escondia todo o destino de
uma pessoa. — Ela pediu a outra parte.
Ele franziu a testa, buscando entender. Coloquei a minha mão
do lado da sua, bem onde começava a minha linha do coração,
exatamente onde a sua terminava. E elas juntas, uma do lado da
outra, seguiram um mesmo caminho. Ele compreendeu, tocou o
meu dedo mindinho com o seu e os entrelaçou, como no dia em que
fizemos nossa promessa de estarmos sempre um com o outro.
— Exatamente. — Sorri, erguendo o olhar para ele. — A outra
parte.
Colin levou os nossos dedos unidos até ele e beijou o meu, com
carinho e reverência.
— Que resposta ela teve? — perguntou, me olhando de um jeito
tão amoroso que senti meu coração apertar.
— Não precisa procurar pelas estrelas, elas simplesmente vêm
até você toda noite — recitei e ele beijou mais uma vez a minha
mão. — Elas estão te procurando também e por isso brilham. O que
respira o mesmo ar — Apontei para o espaço entre nós. —, está
fadado a se encontrar.
Colin ficou me olhando e se aproximou aos poucos. Suspirei em
expectativa quando ele segurou o meu rosto nas suas mãos e ficou
olhando meus olhos como se fossem a coisa mais fascinante do
mundo.
— A vela era pra isso, luz da minha vida? — perguntou e gostei
tanto daquele nome carinhoso, que me peguei sorrindo.
Confirmei assentindo e Colin beijou demoradamente a ponta do
meu nariz.
— Você ilumina o meu mundo — declarou tão sincero que meu
corpo inteiro se acalmou ao ouvir aquilo. — É a pessoa mais
preciosa do mundo pra mim, não há nada que eu não faria por você.
Nunca pensei que seria possível amar alguém tanto assim. — Tocou
o canto da minha bochecha, onde formava a minha covinha. —
Obrigado por trazer essa paz pro meu coração.
Olhei para cada canto dele. O formato charmoso da sua boca, o
jeito que ela se curvava quando ele sorria, os seus olhos perfeitos,
seu nariz e cada detalhe. Quis gravar tudo.
— Passei tanto tempo pensando em cada característica sua...
— revelei, beijando o seu queixo e o sentindo suspirar de satisfação
por me ter perto. — Eu ficava na janela do meu quarto olhando as
estrelas e pensando se você estaria vendo a mesma que eu.
Ele me abraçou. Passou os braços pela minha cintura e me
puxou para o seu colo. Encostamos a testa um no outro e Colin
roçou o nariz no meu.
— Onde você morava, pequena? — Ele já tinha me feito essa
pergunta antes.
E eu tinha me esquivado. Não por vergonha, apenas por sentir
que não era o momento.
— Eu não tenho pais — falei de novo, mesmo sabendo que ele
já sabia. Colin engoliu em seco e me deu espaço para continuar. —
Fui abandonada ainda bebê em um abrigo... não era ruim — me
apressei a dizer quando enxerguei a dor no seu olhar. — Gostava
de lá.
E era verdade, fui bem cuidada por um tempo. Colin olhou para
as minhas mãos, tocando cada cicatriz e pedindo, silenciosamente,
uma explicação.
— Eu mataria a pessoa que fez isso com você — murmurou
com uma raiva que eu desconhecia. — Nunca teria a deixado se
sentir sozinha, nem por um segundo. Eu sei que você não sente
ódio por ninguém, nem pelas piores pessoas do mundo, mas eu
sinto por você.
Sorri tristemente para ele e balancei a cabeça negativamente.
— Não precisa sentir ódio por mim — disse e ele beijou com
calma cada cicatriz das minhas mãos. — Um dia chegou uma
funcionária nova — continuei e ele me deu toda a sua atenção. —
Ela era rígida demais, batia nas mãos das crianças com uma
palmatória, por qualquer coisa. Se não arrumássemos a cama na
hora certa, se não chegássemos no café no momento em que ela
chamava...
Colin fechou os olhos e parecia sentir a dor que eu já não sentia
mais. Quis apagar aquilo dele, eu estava bem.
— Ela ficou lá por pouco tempo — expliquei. — Alguns meses,
logo descobriram que estava machucando as crianças.
— Ficou tempo o bastante pra te ferir — murmurou com ódio,
tocando em mim com cuidado, como se estivesse com medo de me
machucar.
— Ficou — concordei, olhando as minhas mãos. — No começo
formaram bolhas, depois pensei que fossem sumir, só que aí
cicatrizou...
— Elas são perfeitas — me interrompeu, entrelaçando os dedos
com os meus. — Perfeitas — repetiu me encarando firme.
Obrigada por isso. Suspirei para ele e Colin me encarou,
esperando-me continuar. Parecia ansioso para saber como era cada
passo da minha infância, infelizmente eu não tinha nada de muito
emocionante para contar.
— Quando eu tinha seis anos uma senhora pediu a minha
guarda. — Não consegui terminar de falar sem sentir um sorriso se
abrir no meu rosto.
Era bom falar dela com alguém, poder compartilhar lembranças
gostosas que tivemos.
— A sua vó? — perguntou curioso e assenti.
— Era como eu a via — expliquei com cuidado. — Ela não era a
minha vó mesmo. Todos a chamavam de Ney, mas para mim ela era
vovó.
Ele me entregou um olhar gentil e seu rosto relaxou em quase
um sorriso, por saber que eu tive alguém por mim.
— Eu consigo te imaginar criança... — comentou
relaxadamente. — Pequena, sonhadora, esperançosa e cheia de
ideias românticas sobre o mundo. — Sorri, tirando um cacho do meu
rosto.
— Exatamente. — Tinha boas lembranças e aquela pontada de
saudade, que sempre vinha logo que pensava nela. — Vovó veio de
uma família de cultura cigana, ela era um espírito livre, como
gostava de dizer. Vivia viajando, nunca conseguia ficar muito tempo
no mesmo lugar.
Colin estreitou os olhos surpreso, mas intrigado, vi uma
preocupação passar pelo seu rosto.
— Com quem ela te deixava? — perguntou e dei de ombros.
— Sozinha.
O julgamento estava ali, aquele que sempre vinha quando eu
explicava a nossa dinâmica. Ela viajava por algum tempo e eu me
virava com as coisas de casa. Ney me ensinou a cozinhar, a ir à
escola só, a me virar, e a esperar na nossa casa pelo seu retorno.
Éramos felizes com essa rotina, por mais que no fundo eu me
sentisse só.
Colin franziu a testa não gostando daquilo e dei um beijo bem
entre as suas sobrancelhas, para acalmá-lo.
— Não a veja assim — implorei baixinho. — Era o seu jeito de
viver, ela me amou profundamente, nunca duvidei disso nem por um
dia. Ela me ensinou sobre magia, destino, as estrelas e o universo.
Tudo o que sou hoje teve início nela.
Colin se encostou melhor na cabeceira e me encarou pensativo.
— Qualquer pessoa que tenha conseguido conviver com você,
não importa o tempo que tenha sido, é alguém de muita sorte —
disse e me emocionei.
Eu que tive sorte por tê-la na minha vida.
— O que aconteceu com ela? — questionou, porém pelo seu
olhar, já sabia.
Olhei para a janela do quarto, onde a luz do sol já adentrava,
iluminando o ambiente. O dia estava lindo e o ar puro. O ar. Sempre
ele.
— Ela foi respirar um ar diferente — sussurrei, contando aquele
segredo. — Um dia ela viajou e não voltou mais.
Já estava tão velhinha que não chegou a ser uma surpresa, no
entanto eu senti a dor na época. Como já era maior de idade não
precisei ir para um lar e para a minha surpresa, ela tinha deixado
uma quantia de dinheiro para mim. Era pouco, entretanto foi o
suficiente para me sustentar na faculdade até agora.
— Foi respirar um ar diferente — repetiu Colin e quando o olhei
percebi que estava pensativo, como se testasse as palavras. —
Gostei desse ponto de vista — disse e sorri para ele.
— Tudo no mundo é sobre pontos de vistas — expliquei,
alisando o seu pescoço. — Até o jeito que encaramos a morte.
Você já conseguiu se livrar da dor do seu luto?
— Eu não sou tão positivo como você — explicou, quase como
se tivesse ouvido os meus pensamentos. — Não consigo perdoar
tão fácil assim.
Entendi ali que o seu luto não era sobre o seu pai. Era sobre a
sua mãe. Eram quase duas mortes, uma por uma pessoa que
realmente faleceu e outra por alguém que ele decidiu se afastar.
— Ainda sente raiva? — perguntei com cuidado e ele me
encarou.
Ficou me olhando com uma pontada de tristeza. Colin engoliu
em seco e balançou a cabeça negativamente. Tinha uma culpa
dentro de si, era possível vê-la.
— Eu nunca consegui odiá-la — confessou como se estivesse
tirando um peso das costas ao colocar para fora. — Nem por um
dia. — Ao dizer aquilo, ele baixou o canto da boca em derrota.
— Sua mãe... — comecei insegura, sem saber se ele queria
falar dela comigo. — Você não fala mais com ela? Nem por ligação?
Colin suspirou devagar e senti a dor que carregava no corpo.
Ele queria odiá-la, entretanto não conseguia.
— Ela me liga, eu não atendo. Ela me dá parabéns no meu
aniversário e eu sou breve... ela tenta me ver no natal, e eu invento
uma desculpa — disse apreensivo e senti um aperto no peito. — Dói
saber que eu a machuco. Nunca a tratei mal ou fui grosseiro com
ela, respondo rapidamente as suas mensagens, mas nunca dou
abertura.
— Não consigo te imaginar tratando mal qualquer mulher, Colin
— falei e ele esboçou um sorriso.
— Me acho cruel por afastá-la, só que se não o fizer, acabo
sendo desleal com o meu pai... alguém precisa odiá-la.
— Por quê? — perguntei com carinho. — Se nem ele a odiou.
Ele ficou me encarando, perdido.
— Talvez tenha odiado — murmurou. — Eu não sei, de
verdade.
Assenti, concordando e peguei o meu pingente no peito, o abri e
peguei a nossa moeda. Coloquei-a na mão dele, fechando em
punho e beijando os seus dedos.
— Você pode decidir se atende ou não na próxima vez que ela
ligar — aconselhei, deixando nas mãos do destino.
Ele concordou e ficou olhando para a moeda como se ainda
tivesse mais uma pergunta a fazer.
— Você não me disse onde morava — pontuou. — Com a sua
vó.
— Em um conjunto de trailer bem precário. — Enruguei a ponta
do nariz, sabendo que cara ele faria.
E lá estava. Revolta. Ele parecia querer me pegar e voltar no
tempo para mudar a minha vida. Só que não podíamos mais
lamentar por essas coisas.
— Não passei necessidade — esclareci, sentindo-o se acalmar
um pouco. — Só era muito apertado — brinquei. — Eu gostava de
ficar na janela do meu quarto e a vista do céu de lá era privilegiada.
Ele me deu um sorriso suave, satisfeito por me ver feliz.
— Era lá que cantava os seus parabéns? — perguntou e
confirmei.
— Todos os anos.
Colin pegou o meu rosto entre as mãos e beijou com carinho a
minha testa, demoradamente. Inspirou de um jeito profundo e
quando se afastou quis por a moeda de volta no pingente, mas
neguei com um movimento.
— Você vai carregar o nosso destino. — Empurrei a moeda na
sua direção. — Precisa mais dele do que eu.
Ele ficou me olhando por um momento, porém aquiesceu com
uma nítida satisfação no olhar que não entendi.
— Nosso destino — concordou, pegando com cuidado a moeda
e só então notei o que tinha falado. — Eu quero compartilhar tudo
com você... um dia vai ser a nossa casa, a nossa cama, os nossos
cachorros, até os nossos passarinhos — disse com um olhar
divertido e me peguei sorrindo, por mais que o meu coração
estivesse a mil. — Um dia vão ser os nossos filhos e a nossa vida.
Eu quero tudo isso. Suspirei e sorri para ele.
— No nosso futuro eu vou encontrar tudo isso. — Aproximei o
meu rosto do dele.
— Ansioso por todos os nossos momentos. — Roçou o nariz no
meu.
Eu também, Colin. Eu também.
Madison Jensen
Sienna estava atrasada para a sua aula, então só nos deixou no
campus e seguiu para o seu prédio. Scar e eu passamos um tempo
na biblioteca estudando, e fofocando também. Quando começou a
ficar tarde seguimos para os nossos prédios, que eram um pouco
longe dali.
A parte ruim de ser universitária era a de caminhar demais, para
quem não tinha carro e estudava nos prédios mais distantes, como
eu. Brown parecia uma cidade, milhares de estudantes e setores,
sempre tinha que ficar rodando de um lado para o outro.
— Vai ficar até tarde hoje? — perguntou Scar, quase chegando
perto de onde seria a sua próxima aula.
— Combinei de encontrar Colin no teatro à noite — contei,
passando o meu braço pelo dela. — E você?
— Também. — Suspirou, encostando a cabeça na minha. —
Tudo o que eu quero são férias...
— Está pertinho — incentivei.
Scar ergueu a cabeça e endireitou a postura do nada, como se
tivesse visto algo.
— Chernobyl — murmurou baixinho e inclinou a cabeça na
direção de dois garotos conversando.
Estavam meio longe, mas os reconheci. Michael e Charles
Moore. Era incrível como o namorado da minha amiga continuava
falando com Charles mesmo depois de tudo o que ele fez. E isso
contando que Charles ainda andou falando da Sienna!
— O namorado do ano. — Scar estalou a língua em escárnio.
— Um dia ela vai terminar. — Tentei ser otimista.
— E nesse dia eu vou soltar foguete — Scar respondeu. — E
esses, só vão destruir o teto da casa dele.
Ri e balancei a cabeça em negação para ela. Passamos perto
deles e assim que nos viram, se afastaram um do outro. Michael
baixou a cabeça e continuou andando como se não quisesse ser
pego na presença do outro. Charles, no entanto, ficou parado no
lugar.
Ele se encostou na parede e ficou nos observando de um jeito
sinistro, tanto que senti um arrepio passar pelo meu corpo.
— Scar...
— Continua andando — ela mandou sem se abalar. — Ele só
quer intimidar.
Assenti e tentei não olhar na sua direção. Só que sentia que ele
estava nos encarando, acompanhando cada passo e foi involuntário
olhar de canto para ele.
Charles tinha se afastado da parede e estava caminhando na
nossa direção. Entretanto, ele andava com dificuldade, como se
estivesse manco. Lembrei do jogo e como quase quebrou a perna.
Subi a minha avaliação e nossos olhares se encontraram.
Ele estava com ódio. E aquilo me deu medo.
Virei para frente depressa e continuei a caminhar como se não
ligasse para a sua presença.
— Ele está manco — avisei para Scar. — Por pouco não
quebrou a perna no último jogo.
— Uma pena, de fato — ela comentou com um sorriso suave.
Fiz uma careta ao lembrar do lance, foi horrível de assistir, foi
quase um milagre o osso não ter se partido no meio.
— O corpo dele foi jogado no gelo como se fosse um saco de
lixo.
— Que bosta — resmungou em frustração. — Agora estou
arrependida de não ter assistido.
Revirei os olhos e soltei uma risada, esquecendo por um
segundo, que havia um louco atrás de nós. Esperava que ele
arranjasse algo melhor para fazer do que ficar nos seguindo.
Eu: Já estou aqui.
Ódio (amor) da minha vida: Preso na aula ainda, meu amor.
Ódio (amor) da minha vida: Daqui a uns 30 minutos eu saio.
Eu: Fica tranquilo!
Entrei mais para os bastidores do teatro, procurando algum
canto para desenhar. Acabei entrando em uma sala ampla e cheia
de livros que tinha ali, sentei no chão, me encostando em uma
estante, e apoiei o caderno em cima das minhas pernas.
Continuei a deslizar o lápis em volta do esboço dos olhos de
Colin, levemente caídos de um jeito charmoso, debochados e
sempre com alguma piada na ponta da língua. Os seus olhos
contavam uma história, eles entregavam a sua essência e talvez eu
gostasse de desenhá-los apenas para tê-los em mim quando o
próprio não estivesse por perto.
Quando estava finalizando os cílios escutei a porta fechar atrás
de mim, alguém entrou na sala e girou a chave, se trancando
comigo ali dentro. A pessoa apagou a luz, deixando tudo no escuro.
Olhei em volta em susto e encontrei o contorno de uma sombra
na minha frente. Alguém parado, apenas olhando para mim, e minha
pele inteira se arrepiou.
Levantei depressa, derrubando o caderno no chão e a pessoa
deu um passo para frente. Mancando. Charles.
— Charles — falei e meu coração acelerou em nervosismo.
Ele deu mais um passo na minha direção e tentei ir para trás,
porém a estante de livros atrás de mim me impediu. Charles colocou
cada braço de um lado do meu corpo, me prendendo ali.
Seu rosto ficou próximo demais e não sabia o que ele queria
comigo. Ainda era pelo dia em que fomos na sua casa?
— O que você quer? — perguntei assustada.
— Eu sei — foi tudo o que ele disse com o maxilar travado de
ódio.
Franzi a testa sem entender ao que estava se referindo e aquilo
o irritou mais ainda. Ele pegou o meu queixo de um jeito forte que
me machucou. Tentei sair de perto, bati no seu peito e cheguei a
chutar o meio de suas pernas, mas ele me pressionou contra a
estante com força, fazendo minha cabeça bater nos livros.
Olhei em volta, procurando um jeito de sair. No entanto, Charles
não permitiu, puxou meu rosto de volta para ele, fazendo-me
encará-lo.
— Eu sei — repetiu, só me deixando mais confusa. — Meu pai
conhece a família deles.
Apertou mais o meu queixo e eu quase chorei de dor. Fechei os
olhos, os sentindo lacrimejarem.
— Olha pra mim! — mandou com raiva e abri os olhos,
assustada. — Ele fodeu minha perna. Vai voltar ao normal, só que a
lesão irá me impedir de entrar nos profissionais.
Olhei para baixo, na direção da sua perna. Foi ele que
provocou. Assisti ao jogo e tinha sido outro jogador que o
machucou, não Colin. Eu não tinha nada a ver com aquilo.
— Eu... — Engoli em seco com medo de irritá-lo ainda mais. —
Eu não sabia disso.
Ele estreitou os olhos para mim.
— Foi o seu namorado que mandou ele ir pra cima de mim —
disse, cuspindo as palavras para fora e balancei a cabeça em
negação.
Colin não tinha feito isso.
— Colin não teve nada a ver...
Ele apertou mais o meu queixo, com ódio. E soltei um gemido
agudo pela dor. Meu Deus, ia quebrar a minha mandíbula.
— Eu sei que eles são irmãos! — gritou puto e continuei a
negar. Colin não tinha irmãos. — Cameron Payne ia querer quebrar
a minha perna justamente no dia que eu entro em jogo? Um dia
depois do irmão dele invadir o meu quarto com vocês? Muita
coincidência, não?
Ele estava louco. Entramos no seu quarto por causa do Taylor,
não tinha nada a ver com a lesão no gelo, foi ele que provocou
aquilo. E por que não se resolvia com o próprio Cameron?
— Você entendeu tudo errado...
Charles bateu a minha cabeça de novo contra a estante, com
mais força, e a dor foi insuportável. Gritei com o susto, aquilo foi
perigoso. Senti minha cabeça latejar e ouvi tentarem destrancar a
porta, como se alguém estivesse mexendo no trinco sem conseguir
abri-lo.
Paralisamos os dois no lugar e a porta foi aberta. Cheguei a
pensar que fosse Colin, porém me enganei. Era Scar.
Ela parou no lugar ao nos ver ali e Charles desceu o aperto até
chegar no meu pescoço, em uma ameaça silenciosa para ela se
manter distante ou tentaria me sufocar.
— Ou você sai daqui agora ou vai sobrar pra você — ameaçou
ele sem paciência.
Scar estreitou os olhos para ele e entrou na sala. Charles me
largou, jogando o meu corpo no chão com brutalidade, para ir na
direção dela. Levantei depressa para ajudar a minha amiga, mesmo
que a minha cabeça estivesse latejando.
Charles a empurrou pelos ombros contra a parede ao lado de
uma escrivaninha, fiquei com medo de ela se machucar na mesa.
Fui na direção deles, mas Scar resolveu o problema antes que eu
chegasse perto. Ela pegou um troféu, que estava em cima da
escrivaninha, e o movimento foi tão rápido que meu coração quase
parou.
Scar arremessou o objeto pesado com tudo na cabeça de
Charles, no momento em que ele ia para cima dela novamente. A
pancada o fez gritar e dar um passo para trás, de tão forte que foi o
impacto.
— Sua puta desgraçada! — xingou Charles, colocando a mão
na cabeça que sangrava.
— Scar — chamei-a para sairmos dali e ela me olhou de canto.
— Saia daqui, querida — pediu com tranquilidade antes de dar
um chute muito forte na perna machucada dele, com a ponta do seu
salto para frente.
Meu Deus. Escutei o osso estalar.
Cobri o rosto com as mãos, sentindo uma agonia por ver aquilo.
Ele gritou alto, caindo no chão e começou a xingá-la. Fui na sua
direção e puxei Scar para longe dele, querendo manter distância.
— Está bem? — ela perguntou preocupada e assenti, a levando
para fora da sala.
Não estava, sentia minha cabeça latejar, meu queixo doía e
tinha acabado de presenciar um osso se deslocando, mas só queria
sair logo daquele lugar. Estava com uma energia ruim e eu só queria
me ver livre daquela sensação. Precisava de um incenso.
— Ele te machucou? — Me virei para ela e Scar balançou a
cabeça negativamente.
— Eu vim assistir o ensaio de vocês e acabei escutando seu
grito... — contou se distanciando da porta.
Paramos no lugar ao sentirmos alguém atrás de nós. Olhei por
cima do ombro, temendo que fosse Charles de novo, só que era
Colin. Ele estava parado, nos olhando de cima a baixo, parecendo
tentar entender o que tinha acontecido.
Charles soltou mais um grito na sala e meu namorado estreitou
os olhos na direção da porta, confuso, porém assim que reconheceu
a outra voz, a sua expressão se tornou ameaçadora. Fechei os
olhos, já sabendo a confusão que isso ia dar.
— Colin... — chamei baixinho e seu rosto suavizou um pouco.
Ele veio na minha direção e Scar nos deu espaço.
Colin tocou o meu queixo com carinho, quase com medo de me
machucar.
— Você está bem, meu amor? — questionou aflito e confirmei
para acalmá-lo.
Nesse momento Charles saiu da sala, mancando, dando de
cara com Colin. Meu namorado tensionou os músculos e o encarou
como se fosse parti-lo ao meio, sua postura ficou tão dura que
comecei a tentar puxá-lo para longe, não querendo que ele se
envolvesse em problemas.
— Foi ele? — Colin perguntou de um jeito que nunca o vi falar
antes, quase assassino, sem tirar os olhos de Charles.
— Sua vagabunda! — o babaca xingou, olhando Scar. Ele
ergueu o queixo afrontosamente para Colin, como se quisesse uma
briga.
— Foi ele — Scar respondeu tranquilamente, ela estava
encostada em um canto apenas nos esperando.
Fiquei tensa e Colin pareceu sentir, ele se inclinou rapidamente
para beijar a minha testa com ternura, um beijo que me fez suspirar.
— Nunca mais alguém vai tocar em você — foi tudo o que ele
disse antes de se afastar de mim e empurrar Charles Moore para
dentro da sala, colocando a mão no seu peito.
Colin fechou a porta trás de si com um chute forte, se trancando
com ele lá dentro.
— Meu Deus. — Tentei ir até eles, mas Scar veio segurar o meu
braço com delicadeza.
— Deixe-o resolver, querida — pediu ela, despreocupada.
Enlaçou o braço no meu e me levou para longe, talvez tentando me
distrair. — Então, o que você estava fazendo lá dentro?
Meu caderno de desenho! Olhei por cima do ombro, recordando
que o deixei jogado no chão.
— Eu estava desenhando antes de ele se trancar comigo lá
dentro... — Ao terminar a frase lembrei de uma coisa.
Como ela tinha aberto a porta? Scar entendeu a pergunta
implícita, piscou para mim em divertimento e tirou um grampo do
bolso da sua calça jeans, me mostrando ele antes de guardá-lo
novamente.
Fiquei olhando para ela, porém a garota tatuada ergueu a
sobrancelha sutilmente, avisando que não me contaria.
Ah, Scar, onde você aprendeu isso?
Colin Scott
Ele tocou nela.
— Charles vai ficar internado por alguns dias — informou
Johnny, se sentando do meu lado.
— Eu sei — disse sem me importar, batendo o pé de um jeito
impaciente enquanto encarava a porta à minha frente, esperando
notícias.
Ela é tão pequena... e ele ainda teve coragem de por a porra
das mãos em cima dela.
— A perna dele quebrou mesmo — continuou Johnny.
— Que bom.
Ele bateu a cabeça dela contra a estante. Esse cara estava tão
fodido.
— Mas isso eu acho que não foi você, suspeito que tenha sido a
Scar — contou em dúvida e encolhi o ombro, indiferente.
Por mim, podia ter quebrado as duas. E todos os ossos do
corpo.
— O lado bom é que ele continua vivo e não vai ter nenhum
dano permanente. Talvez em três ou quatro meses os hematomas
comecem a sair. — Johnny tentou ser otimista e olhei de lado para
ele.
— Não vejo o lado bom nisso.
Os dedos das minhas mãos estavam enfaixados. No entanto,
não sentia dor. Eu o tinha feito prometer, jurar, que jamais iria olhar
ou ao menos pensar nela de novo. Se eu soubesse que chegou
perto dela mais uma vez... não teria saída para ele.
E Charles compreendeu o recado.
— Você foi proibido de jogar nas finais — avisou Johnny e
acenei em confirmação.
Sabia disso. E estava pouco me fodendo. Ela era mais
importante. Era o amor da minha vida e ninguém iria machucá-la.
Nunca. Não enquanto eu respirasse.
— Isso não vai te prejudicar — Johnny informou. — Você vai
perder só um jogo, já que esse é o último, no próximo semestre já
vai estar de volta... isso se não tiver problemas com a justiça.
Ele me lançou um olhar significativo, me dizendo quem eu tinha
que procurar e assenti.
— Eu já liguei pra ele — falei e Johnny respirou mais tranquilo.
— Ele vai dar um jeito.
Cameron sempre dava um jeito.
— Nessas horas é bom o ter como amigo.
Neguei com um movimento, batendo o pé no chão enquanto
esperava a porta à nossa frente abrir.
— Ele não é só um amigo... É minha família — me peguei
dizendo e Johnny bateu nas minhas costas, talvez achando que eu
apenas o considerava demais.
Só que era mais do que isso. Ele era o meu melhor amigo. Foi
quem sempre esteve comigo. Meu irmão. E eu fui a única pessoa
que ele já deixou se aproximar. Éramos do mesmo sangue.
— Colin? — Johnny chamou e o olhei de canto. — Estou
orgulhoso de você.
Parei de bater o pé no chão com aquilo. Fiquei encarando o
meu amigo que mais pegava no meu pé e por quem eu tinha muita
admiração. Johnny Jackson tinha acabado de dizer que estava
orgulhoso de Colin Scott.
E foi justamente quando mandei alguém para o hospital.
— Devo mandar mais pessoas pro hospital? — perguntei,
erguendo o canto da boca em um sorriso e ele revirou os olhos.
— Você cuida dela — explicou e fiquei sério novamente.
Cuidava. Sempre cuidaria.
— Você nunca foi responsável com nada, mas é com ela. — Ele
indicou a porta que estávamos esperando abrir.
— Ela é a pessoa mais importante pra mim — disse. — Eu
sempre vou cuidar dela e a amar, mesmo se um dia ela não me
quiser mais.
Johnny me deu um olhar satisfeito.
— Colin Scott? — chamou a enfermeira, abrindo a porta.
Me levantei depressa. O pessoal que estava em um canto
distante, esperando notícias, se levantou junto. As meninas
juntaram as mãos, preocupadas.
Tínhamos levado Madison para fazer uma tomografia e outros
exames, para ter certeza que não houve nada com ela.
— Algum familiar? — perguntou a enfermeira, nos olhando
confusa.
— Todos nós — respondeu Amber imediatamente.
— Certo. — A mulher sorriu em nossa direção. — Tudo ok com
a mocinha, ela não teve nada sério. Apenas vai ficar com um
inchaço na cabeça e talvez algumas manchas roxas na mandíbula.
Todos suspiraram aliviados e quis, nesse momento, procurar a
sala em que Charles estava internado para terminar o serviço,
porém minha pequena era mais importante. Ela estava bem e logo
estaria sem nenhum machucado. Eu cuidaria dela, não deixaria que
erguesse um garfo, nem para comer.
— Ela está lá dentro, já podem entrar — a mulher se despediu e
olhei para eles, pedindo silenciosamente para ir na frente.
— Pode ir. — Taylor piscou para mim. — Esperamos aqui.
Respirei fundo e entrei na sala, a encontrando sentada em uma
cadeira, tomando uns remédios que lhe foram passados.
— Tem o gosto horrível. — Ela enrugou a ponta do nariz lindo e
me agachei na sua frente, quase pedindo desculpa. — Oi, meu bem.
— Sorriu para mim, mostrando aquelas covinhas que queria ver até
o fim da vida.
— Me desculpa — pedi, sentindo minha garganta fechar e ela
me olhou sem entender.
Tocou o meu rosto com aquelas cicatrizes e beijei a sua
mãozinha.
— Pelo quê? — perguntou confusa.
— Por não ter estado lá pra proteger você. — Senti meu peito
doer por ver o canto do seu rosto tão perfeito machucado.
Eu já tinha quebrado o braço quando era criança, já tinha me
ralado e sofrido empurrões violentos no hóquei, só que nada, nunca,
me doeu tanto quanto vê-la ferida. Nada. Se pudesse sugaria aquilo
e colocaria tudo em mim.
— Você não pode estar em todos os lugares. — Ela sorriu para
mim e se inclinou para beijar a minha testa, voltando a trazer paz
para o meu mundo e luz para a minha vida.
E soube ali, que nunca surgiria um momento perfeito. Talvez
fosse maluco fazer aquilo sendo jovem, porém sabia o que queria.
Eu sempre soube, desde que a vi pela primeira vez.
Me apoiei em um só joelho e peguei a sua mão na minha.
Madison estreitou os olhos, sem entender o que eu estava fazendo.
— Eu fiquei com a aliança do meu pai — contei e ela assentiu,
me dando um olhar triste de consolo. — Ela contava uma história.
Uma história que não deu certo e aquilo me perseguiu, me fez ter
medo. Eu planejei jamais viver isso, mas eu não tinha planejado que
você chegaria — continuei e ela esboçou um sorriso, emocionada.
— Obrigado por ter me esperado. Obrigado por me fazer digno de
você. Obrigado por aguentar as minhas piadas ruins. Obrigado por
rir das minhas cantadas. Obrigado por aceitar carregar o meu
destino. Obrigado por me ensinar sobre arte e magia. Obrigado por
ter me feito pensar em você em cada minuto do meu dia.
Uma lágrima escorreu pelo seu rosto e seu nariz ficou vermelho
na ponta.
— Eu já entreguei o meu coração, só que quero entregar todos
os meus anos também. — Peguei o anel que sempre carregava no
bolso, apenas esperando o momento certo. Abri a caixa e ela se
permitiu chorar. — Casa comigo? Eu sei que somos jovens, não
precisa ser agora. Pode ser quando você quiser, quando
terminarmos a faculdade. Não importa. Mas usa o meu anel?
Ela assentiu, engolindo em seco como se não conseguisse falar
e me estendeu a sua mão. Coloquei o anel no seu dedo e beijei a
mão. Ele era prata e tinha vários diamantes espalhados, como se
fosse o céu à noite, as estrelas que ela gostava de observar.
— Eu uso — ela respondeu, sorrindo para mim sem deixar de
chorar. — Eu caso. E te entrego todos os anos da minha vida.
— Eu quero mais uma coisa — brinquei, indo beijar a sua boca.
Colei os meus lábios nos dela e Madison abraçou o meu
pescoço, me puxando para perto.
— O quê? — perguntou baixinho, roçando os nossos narizes.
— Quero uma casa cheia de crianças ruivas — disse, tirando os
seus cachos da frente do rosto e ela suspirou apaixonada.
— Eu também quero... Entretanto, você precisa me prometer
que não vai ensinar coisas erradas pra elas — provocou com um
sorriso e eu ri.
— É por isso que você será a voz da razão. — Beijei o canto da
sua boca. — E daremos uma moeda pra cada uma delas, deixando
na mão do destino.
Ela concordou e tocou o meu rosto, pensativa.
— E você já se decidiu? — perguntou, tocando a corrente que
descansava no seu peito. — Sobre o seu destino.
Assenti em silêncio. Devolvi a moeda para ela, colocando-a no
seu pingente e me levantando decidido. Sentindo leveza.
— Acho que vou fazer uma ligação. — Pisquei e ela me
encarou com orgulho, estava linda com o seu novo anel.
— Diga a ela que quero conhecê-la — falou e sorri de volta.
— Ela vai te amar. — Beijei a sua cabeça e saí do quarto,
dando espaço para o pessoal falar com a minha noiva.
Minha mulher.
Fui para fora do hospital e peguei o celular. Por um instante,
senti medo, contudo respirei fundo e liguei. Esperei um pouco, até
que fui atendido.
— Colin?
Fechei os olhos ao ouvir aquela voz, sentindo uma vontade
insuportável de chorar. Meu coração acelerou e minha mão
começou a suar frio. Aquela voz... eu senti tanta saudade.
— Meu amor? — Ela estava chorando, sua voz saiu
embargada, provavelmente com medo que eu desligasse. — Você
está bem?
Engoli em seco e coloquei a mão no bolso. Nervoso e inseguro.
— Mãe — foi tudo o que consegui dizer e ela desabou em
choro.
Meu peito apertou, só queria abraçá-la. Toda a raiva, ódio,
rancor, eu deixei para sentir nesses anos. Eu consumi tanto isso,
que se dissipou, não sobrou mais nada. Agora só havia a saudade.
— Oi, querido — respondeu com a voz trêmula.
Eu ainda te amo.
— Senti a sua falta. — Suspirei, sentindo o peso do mundo sair
das minhas costas. Minha mãe ficou em silêncio e a ouvi fungar. —
Senti demais.
Eu não falava ao telefone com ela há anos. Ouvir a sua voz me
trouxe de volta à infância. Me trouxe de volta para aquele amor
materno que nunca me faltou.
— Eu também, querido. — Ela fungou. — Eu também.
— Tem uma pessoa que eu quero te apresentar.
Ela é a minha noiva e creio que você irá amá-la assim que vê-
la.
Madison Jensen
Lista de coisas que eu preciso te contar, vovó:
Caí no chão, aliviada por tudo ter ido divinamente bem até
agora. Julieta tinha acabado de adormecer, fingindo a sua morte.
Essa era a parte mais tranquila da peça para mim, tinha apenas que
ficar imóvel, ter respirações leves e controladas. Como fazia
meditação, conseguia me desligar completamente do mundo
exterior assim.
A peça seguiu normalmente e só consegui me atentar ao que
acontecia ao redor quando senti aquele cheiro bom de canela se
aproximando de mim.
Meu Romeu se ajoelhou ao meu lado, tocando o meu rosto com
carinho.
— Ah, meu amor... — recitou, próximo demais do meu rosto. —
Por que continuas tão linda? — perguntou, parecendo sincero.
Ele se inclinou um pouco mais para me beijar. Seus lábios
encostaram nos meus e quis muito corresponder, suspirei na sua
boca e ele se afastou, continuando a seguir o roteiro. Não podia
abrir os olhos para vê-lo, mas senti que me observava.
Colin se aproximou novamente de mim, dando um último beijo
na minha testa. Um beijo demorado. Meio que não gostava de
encenar essas cenas de despedidas com ele. Odiava vê-lo se
despedir, mesmo que não passasse de teatro.
— Ficarei para sempre contigo — prometeu, vindo alisar a
minha bochecha e o público estava tão silencioso, que até a
sensação era a mesma de quando ensaiávamos apenas nós dois.
Ele se distanciou de mim e pareceu estar “bebendo o veneno”.
Fiquei apreensiva, porque sabia que era ali que Colin começava a
rir. Percebi que sua respiração se alterou assim que ele fingiu a
morte e eu pressionei os lábios para me impedir de soltar uma
risada.
Colin caiu depressa do meu lado, quase querendo acabar logo
com aquilo. Abri um único olho para vê-lo ao meu lado e vi que o
meu Romeu estava respirando fundo para controlar a risada.
Os outros personagens entraram em cena e tiveram um breve
diálogo. Então foi a minha vez de acordar novamente.
De fato, essa coisa de morrer, dormir, levantar, morrer de novo,
acabava me deixando zonza.
— Onde está o meu Romeu? — perguntei, olhando em volta
com o cenho franzido.
E não sei para quê, fui olhar na direção da plateia. Foram
apenas uns segundos. Olhei na direção do pessoal, eles estavam
na primeira fileira. E Amber... seu rosto estava todo vermelho e logo
que nossos olhares se encontraram, ela começou a rir.
Johnny a puxou para o seu peito depressa, querendo abafar a
sua risada e algumas pessoas lhe repreenderam. Continuei
procurando o meu Romeu como se não soubesse que ele estava do
meu lado, se fingindo de morto e fazendo de tudo para permanecer
sério.
Virei para ele e coloquei a mão no meu peito, simulando um
susto.
— O que é isso que segura em sua mão, meu verdadeiro amor?
— questionei, tocando o seu rosto.
Percebi que ele ia soltar uma risada e coloquei a mão em cima
da sua boca, impedindo que o som saísse. Para quem estava
assistindo até parecia que a Julieta tentava matar o Romeu pela
segunda vez, sufocado.
— Um cálice! — falei alto demais, querendo me sobressair a
qualquer som que Colin fosse soltar. Belisquei o seu pescoço, o
mandando parar com aquilo. — Um veneno...
O corpo do idiota tremeu de leve ao ouvir a gargalhada abafada
de Amber e o beijei logo. Colando a minha boca na dele de uma
vez, do jeito que estava no roteiro. Julieta acabou ingerindo o
resquício do veneno no beijo com o Romeu e morreu outra vez.
Caí em cima do corpo de Colin, me jogando ao lado do seu
pescoço. Os outros atores começaram a chegar, para dar passagem
à próxima cena, que era com os familiares deles.
— Você não podia ficar parado por um minuto? — reclamei
baixinho, perto do seu ouvido, ainda jogada em cima dele. — Qual a
dificuldade de se fingir de morto?
— Eu não consegui — sussurrou abrindo um único olho, o seu
rosto estava coberto pelo meu corpo e não tinha como o público ver.
— É engraçado... admita.
— Não é — menti.
— Prestou atenção em uma coisa? — perguntou enquanto
ouvíamos os outros atores continuarem a peça. — Tem uma
verdade muito crua nessa cena.
— Qual é? — perguntei curiosa.
— Meus beijos são de matar.
Meu Deus, a cada dia piorava. Ri baixinho e torci para ninguém
pensar que a Julieta estava voltando à vida mais uma vez.
— Você é ridículo.
— Eu tenho uma coisa importante pra falar... — disse, o ato já
quase no final.
— Não pode esperar?
— É sobre o nosso casamento. — Pelo amor de Deus, ele
queria falar disso agora? — Se você for mesmo até o fim, eu juro
que te faço esquecer o Mário.
Franzi a testa. Mário?
— Quem é Mário? — sussurrei confusa.
— Está vendo? Já esqueceu. — Ele riu e graças aos céus a
cortina fechou bem nesse momento.
Belisquei o ombro dele e o idiota me virou, para ficar por cima
de mim.
— Eu te amo — declarou, me beijando.
Nem tive tempo de responder, pois Colin me pegou como se
estivesse com fome. Passei os braços pelo seu pescoço e ele
acariciou todo o meu rosto, metendo a língua na minha boca. Gemi,
já sentindo vontade de aproximar mais o seu corpo do meu.
— Pessoal... — Escutei alguém nos chamar e me afastei um
pouco, apenas para poder ver quem era.
Rebecca nos olhava com divertimento, ela apontou para o
elenco se reunindo no palco para receber os aplausos. Empurrei
Colin para o lado, me recompondo para juntar a dignidade que ainda
me restava.
Levantei, forçando um sorriso sem graça na direção de todo
mundo. Colin passou o braço pela minha cintura e me puxou para
frente do palco quando as cortinas se abriram de novo. Óbvio que
ele amou receber toda a aclamação, eu apenas acenei timidamente
para as pessoas.
Assim que as cortinas se fecharam, dando fim ao espetáculo,
uma mão tocou o meu ombro. Olhei para o lado e vi o meu
professor nos encarando com orgulho.
— Sr. Stone — cumprimentei com um sorriso. — Como o
senhor está?
— Ótimo. — Ele piscou para mim e Colin deu um último beijo no
meu rosto antes de se afastar, nos dando privacidade. — Podemos
conversar um pouco?
Assenti nervosa e caminhamos para os fundos. O Sr. Stone me
levou para o canto dos bastidores e se virou para mim com um
sorriso no rosto.
— Você fez um trabalho excelente aqui. — Piscou para mim e
pegou algum documento na pasta que carregava consigo.
Me senti em paz ao saber que pude ajudá-lo. Porém, algo
pesava na minha consciência, quando o vi tirar um papel para me
entregar, abaixei a cabeça.
— Eu preciso contar uma coisa — falei, sentindo minha
garganta secar. — Menti pro senhor — soltei de uma vez.
Ergui o olhar temendo o que encontraria, contudo o meu
professor apenas me encarava confuso.
— Colin... — Apontei para o palco. — Aquele dia em que ele
falou que eu era uma “ótima atriz” foi só uma brincadeira. Era pra
me provocar. Na verdade, eu não tinha experiência. — Torci o nariz
e o seu olhar suavizou. — Quando me ofereceu a proposta não
consegui recusar, precisava do dinheiro. — Encolhi os ombros em
sinal de impotência.
— Você nunca tinha participado de um evento assim? —
questionou e confirmei. — Tenho uma pergunta pra lhe fazer e
espero que seja sincera, ok?
Assenti, engolindo em seco.
— Quem pinta aqueles quadros? — perguntou e arregalei os
olhos. — Os que você me entrega na aula.
— Eu — respondi imediatamente, receando que ele pensasse
que não eram meus.
— Então, é apenas isso que preciso saber. — Piscou para mim,
estendendo o documento. — A vaga é sua.
Fiquei parada, olhando para ele durante um minuto inteiro.
Estava na minha frente. Eu me esforcei e a recompensa veio.
Peguei o papel da mão dele e olhei para a proposta de estágio. Era
minha.
— Mais uma pergunta — ele disse, curioso.
— Respondo qualquer pergunta — me apressei a dizer e o
homem riu.
— É só uma curiosidade. — Deu de ombros. — É ele, não é?
Na última pintura.
Meu corpo relaxou. Todos os músculos do meu corpo
descansaram, porque quando lembrava daquele quadro, isso
acontecia comigo. Era uma das coisas mais lindas que eu já tinha
pintado.
— É — contei. — Ele dormindo.
Se tornou o meu sol.
— Nada inspira mais um artista do que um amor genuíno. — Sr.
Stone piscou para mim e apertou o meu ombro antes de ir embora.
É, ele tinha razão.
Colin Scott
— Comprei um anel pra ela — contei, caminhando ao lado de
Cameron pela parte de trás do teatro.
— Eu vi. — Ele colocou as mãos nos bolsos. — Ela parecia um
pouco machucada no queixo.
Fechei os olhos por um momento, sentia uma dor sempre que
via aquelas manchas. Iriam sair, mas ainda me causava náusea
saber que alguém a tocou.
— Estou metido em muitos problemas? — questionei, me
virando na sua direção e ele sorriu ironicamente.
— Você vai voltar pro time no próximo semestre. — Piscou para
mim. — Sem danos, só um jogo perdido.
— E ele? — perguntei, porque sabia que Cameron tinha vindo
para Providence apenas para conversar com o reitor.
— Vai ser expulso, tanto do time quanto da universidade —
declarou, me fazendo relaxar mais.
— Pensei que eles não fossem o expulsar...
— Teve um preço — ponderou, estralando o pescoço e o olhei
com desconfiança.
— Você pagou pra eles?
Cameron negou.
— Eles concordaram em manter o cara longe, só que em troca
eu tenho que me transferir para cá e cursar o último semestre aqui
— contou e parei no lugar. — Ah, e entrar pro time de vocês
também — completou.
Que merda. Não queria que aquilo o afetasse. O reitor não foi
idiota, com Cameron se formando aqui, daria um reconhecimento a
mais para a universidade e também com ele no time, era quase uma
certeza que ganharíamos o campeonato de hóquei.
— Você não precisa...
— Eu já concordei — me cortou, dando de ombros. — Já ia me
mudar de todo jeito.
Fiquei o encarando por um tempo, sem acreditar.
— Obrigado, irmão — agradeci, sabendo que aquilo era só mais
uma coisa que ele fazia por mim.
Cameron piscou e sorriu para mim antes de caminhar na minha
frente.
— Quem disse que fiz por você? — debochou e revirei os olhos,
rindo daquela mentira. — Gosto de conhecer novos lugares. Estava
pensando em uma universidade nova mesmo.
O acompanhei até chegarmos no estacionamento, indo na
direção de um carro. Provavelmente o mais caro dali. Ele parou um
momento, quando ia abrindo a porta, para olhar o céu, ficou fitando
uma estrela e a pergunta estava presa no fundo da minha garganta.
— É por ela, não é? — perguntei, no entanto Cameron não se
virou para me olhar, continuou admirando a noite.
Vi a sua mão apertar mais a porta do carro, deixando claro que
tinha me ouvido.
— Tudo isso — continuei. — Os apartamentos espalhados, as
mudanças... — Deixei a frase morrer, esperando por algum sinal seu
de que estava prestando atenção.
Ele se virou para mim e me deu um sorriso sem humor.
— Não se meta mais em problemas, Colin. — Entrou no carro e
baixou o vidro para me olhar uma última vez. — A sua garota sabe...
peça pra ela não comentar com ninguém.
Dei um passo para trás e fiquei o encarando, sem entender.
Não tinha falado para ela.
— Os olhos — esclareceu antes de sair com o carro pelo
estacionamento.
Respirei fundo, apertando a nuca. Nunca tinham nos
reconhecido pelos olhos, nem mesmo quando éramos crianças, por
mais que fôssemos bem próximos. Andei um pouco pelo local até
achá-la, estava em um canto escuro e distante com Scar.
As duas estavam tão na sombra que só consegui reconhecê-las
quando me aproximei mais. Assim que o meu amor me viu, se
afastou de Scar e veio na minha direção com uma pergunta
silenciosa no rosto.
Segurei o seu rosto entre as mãos assim que ela ficou na minha
frente e beijei a ponta do seu nariz, sentindo aquele cheiro tão bom
que me acalmava.
— Ele já foi embora? — perguntou e assenti, me afastando só o
suficiente para olha-la. Ela tocou o canto dos meus olhos, alisando a
região. — Por que ninguém sabe disso?
Beijei o seu nariz de novo e suspirei baixinho.
— Os pais de Cameron eram casados — contei do começo,
para ela entender. — E amigos dos meus pais, os quatro tinham
uma relação boa, ou era o que me contavam.
Ela escutou atenta.
— Vocês são irmãos por parte de mãe? — perguntou e neguei,
minha mãe era bem amorosa. Totalmente diferente do que a dele
foi.
— Por parte de pai — comentei, sentindo um gosto agridoce por
saber que meu pai de sangue era alguém que eu não cheguei a
conhecer bem e nem fazia a mínima questão. — O pai do Cameron
teve um caso com a minha mãe enquanto ainda era casado, e então
ela me teve.
Madison me deu um olhar triste e me abraçou bem apertado.
— Ela traiu o meu pai na época — o verdadeiro. — E ele a
perdoou.
Ela suspirou no meu peito.
— Eu entendo.
— Ela errou demais com ele. — Apertei o meu amor precioso
nos meus braços.
— Por que ninguém sabe do parentesco de vocês? —
perguntou e beijei a sua cabeça.
— Isso não é sobre mim — sussurrei. —, essa parte da história
é dele. Tudo o que precisa saber é que cresci com meu irmão,
estudamos nas mesmas escolas. Nos víamos quase sempre e ele
sempre esteve ali pra mim assim como eu sempre estive pra ele.
— Mas ninguém pode saber disso — ela concluiu.
— Foi a única coisa que ele já me pediu na vida. — Abracei o
seu corpo pequeno. — Então vamos manter esse segredo.
— Tudo bem — concordou, beijando o meu peito. — É mais
uma coisa que virou nossa.
Sorri para a garota perfeita.
— Exatamente.
— É bom você saber que Charles me falou sobre isso naquele
dia — contou e ergui a sobrancelha. — Parece que ele também
sabe.
Ok... não sabia como o filho da puta tinha ouvido sobre. Porém,
avisaria a Cameron. Nem mesmo eu entendia o porquê era preciso
esconder isso, só que era importante para ele. Então sempre cumpri
a minha parte.
— Ele foi expulso. Do time e da faculdade — contei, sentindo
aquele peso a menos. — Não vai mais chegar perto de você.
Sorriu para mim.
— Não estou preocupada com isso. — Deu de ombros. —
Depois que Scar quebrou a perna dele, era bom que Charles
tomasse cuidado.
Balancei a cabeça em negação para ela, de brincadeira e
peguei a sua mão, que estava com o anel, na minha, entrelaçando
os nossos dedos.
— Julieta — provoquei e ela estreitou os olhos para mim. —
Tarde demais a conheci, por fim. Cedo demais, sem conhecê-la,
amei-a profundamente — recitei um trecho da peça e Madison
levantou a sobrancelha em divertimento.
— Só Shakespeare pra salvar as suas cantadas.
A cada dia elas melhoravam.
Colin Scott
Entrei no vestiário com uma tranquilidade que me espantou. Ser
cortado do jogo dói, ainda mais do jogo da final do campeonato,
mas ser cortado sabendo que vou voltar no outro semestre com
tudo e por um motivo que não me arrependia... não tinha aquela
frustração.
Apenas o sentimento de torcer para que ganhássemos essa,
por mais que fosse bem difícil.
Iríamos jogar contra a Universidade da Dakota do Norte, no
espaço deles. Então nossos torcedores estavam bem escassos,
podia-se ouvir a gritaria dos adversários do lado de fora. A galera ali
levava hóquei à sério, assim como era na Brown, um jogo das finais
no território deles era um evento.
Assim que chegamos só vimos uma multidão de pessoas com
camisetas do time e bandeiras balançando no ar. Lógico que
considerava as comemorações da nossa universidade bem mais
animadas, barulho era com a gente. No entanto, eles também não
ficavam para trás.
Passei pelos armários vendo os caras indo para o rinque de
patinação. O treinador optou por deixar mais jogadores defensivos
dessa vez, os atacantes do outro time eram tão bons quantos os
nossos e precisavam de reforço. Então ficariam Drake, Taylor e
Benjamin atrás enquanto Johnny e outro jogador atacante ficariam
prontos para fazerem os gols.
Encontrei o treinador analisando uma pasta, quando me
aproximei dele vi que era a ficha com os nossos nomes, lances,
jogos, faltas e expulsões.
— Como vai ser coordenar um jogo sem mim? — provoquei,
ouvindo Oscar Green suspirar antes de baixar a pasta e se virar
para mim.
— Pelo menos um jogo que não vou infartar — resmungou, indo
para a entrada do rinque e se encostando na parede do corredor,
observando os jogadores ajeitarem o uniforme.
O acompanhei, me encostando na parede paralela a dele,
vendo Johnny falar a estratégia de jogo para Drake.
— Eu disse pra você não se meter mais em confusão —
alfinetou o treinador depois de um tempo em silêncio, mas notei que
não tinha uma real repreensão no seu tom de voz.
— Foi necessário. — Dei de ombros.
Ele suspirou, coçando a sobrancelha grossa.
— Não estou confiante que vamos ganhar hoje — ele soltou e
eu também não estava.
Seria um jogo acirrado e Johnny não me teria para lhe passar o
disco. Contudo, o que me intrigou foi que o Sr. Green não parecia
decepcionado com isso.
— Eles vão dar um jeito — incentivei e o treinador cruzou os
braços em frente ao peito, parecendo tranquilo.
— Cameron Payne vem pro nosso time no próximo semestre —
comentou erguendo a pasta que segurava.
Ah, agora eu entendi esse seu bom humor. Com Cameron no
time era quase uma certeza que ganharíamos o próximo Frozen
Four. Nossa equipe era uma das melhores da liga universitária do
país atualmente, com esse bônus poderíamos ser draftados com
honra.
— Esse jogo ainda não está perdido — ponderei e o treinador
deu de ombros.
— Não estou colocando pressão neles, se perdermos ficamos
em segundo — disse tão despreocupado que fiquei com vontade de
rir.
— O senhor anda fazendo terapia? — perguntei intrigado. —
Está tão calmo que estou assustado.
Ele apenas negou com um movimento relaxado.
— Estou calmo por causa daquela garota ruiva bem ali. — Ele
apontou para a minha ruiva, sentada toda linda e fofa nas
arquibancadas. — Você está apaixonado e isso significa que não vai
mais se envolver em orgias com atores pornôs.
Definitivamente. Eu era só dela e ela só minha.
— Agora sou um homem de responsabilidade. — Estalei a
língua em provocação e ele bufou cinicamente.
— Nem quando você estiver casado e com filhos — ele
debochou e eu ri.
— Pretendo ter tudo isso — revelei, o surpreendendo. — Com
ela.
Sr. Green se virou novamente para Madison, como se estivesse
vendo-a pela primeira vez.
— Garoto, ela te pegou de jeito, não foi?
Suspirei a observando sorrir para Amber, mostrando aquela
covinha perfeita.
— Pegou — concordei.
Os jogadores começaram a entrar no gelo e pisquei para
Johnny quando ele me olhou, desejando boa sorte. Ele se
posicionou junto com os outros, a tensão e ansiedade estavam no
ar. Assim que o juiz apitou, o pessoal da Dakota do Norte se
levantou dos assentos para aplaudir os seus jogadores.
Era bonito de se ver, amava essa energia quando jogávamos
em casa. O capitão do time deles conseguiu tomar posse do disco
primeiro e correu para o nosso gol. O cara era rápido, não no
mesmo nível que Johnny, porém era muito difícil alcançá-lo.
Tentou fazer uma jogada arriscada, arremessando o disco por
cima do nosso goleiro e por sorte, não deu certo. Só que essa sorte
talvez não durasse, eles tinham atacantes fortes e rápidos, logo
iriam furar a nossa barreira. E não tinha ninguém para passar o
disco para o nosso capitão relâmpago.
— Odeio admitir — falou Sr. Green do meu lado. — Mas você
faz falta.
— Eu faço falta pra todo mundo. — Suspirei cansado e ele
revirou os olhos.
Ri e dei um tapinha no seu ombro antes de sair novamente para
sentar ao lado do meu gnomo. Estava lotado demais e normalmente
ficava com medo de alguém machucá-la, se desse alguma briga na
torcida.
O que era engraçado de analisar. Ela sempre foi a minha
prioridade, mesmo quando ainda negava isso para mim mesmo.
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