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Direito Processual Civil I

16/09/2021

O direito processual civil é a referência, a matriz para todos os outros ramos de direito processual.

Bibliografia: Introdução ao Processo Civil de Lebre de Freitas; Processo Civil Declarativo de Paulo Pimenta;
Ação declarativa à luz do código revisto de Remedio Marques; Introdução ao processo Civil de Teixeira de
Sousa; Código de processo Civil (obrigatório para as aulas) e diplomas complementares ao código; Código
Civil; Constituição;

Frequências: 2 provas, 1º com a primeira parte da matéria e a 2º, a final, sai a matéria do semestre todo.
1º teste dia 25 de Novembro (exame de 2h); Não há prova oral

17/09/2021

Na base do direito processual civil está a existência de um conflito de interesses que reclama uma
resolução, portanto, o direito processual civil só é chamado a intervir, só há campo de aplicação quando
exista um conflito de interesses, uma rutura da ordem jurídica. É este conflito de interesses que serve de
pressuposto à intervenção judicial e por maioria de razão do direito processual civil. Se as pessoas estão
de acordo por exemplo num contrato não há necessidade de intervir o direito processual civil, como é o
caso de um contrato de compra e venda onde o comprador está de acordo a pagar o preço e o vendedor
está disposto a entregar a coisa vendida ou então um divorcio em que os conjugues estão de acordo em
divorciarem-se, na partilha do património conjugal e nas responsabilidades parentais então não é
necessário o direito processual intervir. Por conflito de interesses temos em vista sobretudo os conflitos
de interesses entre os privados, é esse o campo natural de aplicação do direito processual civil. Isto é
uma característica que lhe é intrínseca e que o distingue de outros ramos do direito.

Direito privado- Regula relações jurídicas em que os respetivos sujeitos estão colocados numa posição de
paridade formal, o que não quer dizer que às vezes não possa haver discrepâncias de poder real, efetivo.
Portanto, o conteúdo das relações jurídicas resulta normalmente da vontade dessas partes ou quando
resulta da lei a lei reconhece uma paridade formal entre essas partes.

Direito publico- Visa regular relações jurídicas em que as partes estão colocadas numa posição de supra-
infra-ordenação, ou seja, há uma parte que está supra-ordenada em relação às outras partes dessa
relação jurídica e há outra parte que está infra-ordenada em relação às outras partes dessa relação
jurídica.

Neste contexto o direito processual civil surge especificamente dirigido à resolução, a dirimir os conflitos
de interesses privados e tem uma função de garantia de efetividade dos direitos subjetivos e dos
interesses legalmente protegidos das partes, dos sujeitos jurídicos. Quando um titular de um direito
subjetivo vê a realização desse direito subjetivo frustrada garante esse direito subjetivo através do direito
processual civil. O direito processual civil é o mecanismo de garantia de efetividade de outros direitos
subjetivos ou interesses legalmente protegidos das pessoas. Se entender que os meus direitos subjetivos
ou interesses legalmente protegidos estão a ser lesados é por intermedio do direito processual civil que
eu vou procurar a tutela desses direitos subjetivos ou desses interesses legalmente protegidos. E isto
porque vigora entre nós um princípio fundamental da nossa ordem jurídica, que está consagrado no art.º
1 do código do processo civil que é o princípio da hétero tutela.
Art.º 1- proibição da autodefesa (autotutela) ou princípio da hétero tutela
1. “A ninguém é lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito salvo
nos casos e dentro dos limites declarados na lei.”

O princípio da hétero tutela quer no fundo dizer que eu não posso tutelar os meus próprios direitos
tenho de me socorrer de uma terceira entidade, os tribunais, para tutelar os meus direitos. Quando se
fala na proibição da autotutela ou autodefesa está a dizer a mesma coisa que é, eu não posso autotutelar
o meu direito. Exemplo: Entendo que A me deve 5000€ devido a um contrato de mútuo, tenho um direito
de crédito sobre ele. Eu não posso entrar em casa dele, ir ao cofre e tirar-lhe o dinheiro. Ou seja, pelos
meus próprios meios, pela minha própria força não posso tutelar o meu direito de crédito.
Este é um princípio fundamental da nossa ordem jurídica que é precisamente que a tutela dos direitos
das pessoas, de uma comunidade é feita por entidades especificas, apropriadas que têm uma função
própria para tutelar esses direitos.

O princípio da hétero tutela não é absoluto (“... salvo nos casos e dentro dos limites declarados na lei.”),
comporta exceções e o próprio art.º 1 refere-o. Há situações em que é lícito a uma pessoa autotutelar os
seus direitos, usar a sua própria força, os seus meios coercivos para tutelar os seus próprios direitos, sem
ter de recorrer aos terceiros que são os tribunais.

Estas exceções ao princípio da hétero tutela, portanto os mecanismos de autotutela encontram-se


previstos no código civil, mas também na constituição e no código do processo civil:

• Art.º 21 da Constituição- Direito de resistência


“Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de
repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.”
O direito de resistência está pensado sobretudo no plano dos direitos fundamentais e mais
especificamente no plano dos direitos, liberdades e garantias.

• Art.º 336 do Código Civil- Ação direta


1. “É lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito quando a ação
direta for indispensável, pela impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos
normais, para evitar a inutilização prática desse direito, contanto que o agente não exceda o que
for necessário para evitar o prejuízo.”
(...)
Portanto, eu posso socorrer-me dos meus próprios meios para realizar um direito que está na minha
esfera jurídica desde que se verifique dois requisitos:
o Um requisito de necessidade- se não tiver possibilidade de um tempo útil recorrer a um
tribunal, às forças de autoridade ou de segurança.
o Um requisito de proporcionalidade- utilização dos meus próprios meios sem exceder o
que for necessário para evitar o prejuízo.

• Art.º 337 do Código Civil- Legitima defesa


1. “Considera-se justificado o ato destinado a afastar qualquer agressão atual e contrária à lei
contra a pessoa ou património do agente ou de terceiro, desde que não seja possível fazê-lo
pelos meios normais e o prejuízo causado pelo ato não seja manifestamente superior ao que
pode resultar da agressão.”
2. “O ato considera-se igualmente justificado, ainda que haja excesso de legitima defesa, se o
excesso for devido a perturbação ou medo não culposo do agente.”
O mecanismo da legitima defesa é, portanto também subordinada ao requisito de necessidade e de
proporcionalidade. A legitima defesa é justificada desde que não seja possível a tutela do direito pelo
recurso aos meios normais e por outro lado o prejuízo causado da legitima defesa não pode ser
manifestamente superior àquele que pode resultar da agressão.
• Art.º 339 do Código Civil- Estado de necessidade
1. “É licita a ação daquele que destruir ou danificar coisa alheia com o fim de remover o perigo atual
de um dano manifestamente superior, quer do agente, quer do terceiro”.
(...)
Mais uma vez encontramos o requisito da necessidade e o requisito de proporcionalidade. O requisito de
necessidade é remover um perigo atual, que existe no momento em que estamos a invocar o estado de
necessidade e o requisito de proporcionalidade é que não pode causar um prejuízo superior ao perigo
que queremos evitar. Exemplo: Aquelas situações em que está um incendio num pinhal e para lá chegar
os bombeiros têm de arrombar o portão de uma quinta ou atravessar um campo plantado.

• Art.º 754 do Código Civil- Direito de retenção


“O devedor que disponha de um crédito contra o seu credor goza do direito de retenção se, estando
obrigado a entregar certa coisa, o seu crédito resultar de despesas feitas por causa dela ou de danos por
ele causados.”
Quando eu sou credor do meu credor (isto quer dizer que A me deve dinheiro e eu devo dinheiro a A), há
uma relação de crédito recíproca a lei permite em certas circunstâncias que eu retenha o cumprimento
da minha prestação enquanto o meu devedor, que é também meu credor, não cumprir a sua prestação.
O art.º 755 refere-se a um conjunto de outros casos de direito de retenção que são situações especiais
que dizem respeito a certas relações contratuais.
No entanto, por exemplo na alínea a, o taxista tem o direito de reter as coisas transportadas, mas nunca
reter o passageiro no táxi, assim como o hotel e outras situações. Podem reter os pertences, as
mercadorias, mas nunca as pessoas.
Exemplo: Aqui há uns tempos deu na imprensa um processo criminal em que uns indivíduos faziam
empréstimos muito altos e retinham como garantia os conjugues das pessoas a quem emprestavam
dinheiro até eles pagarem a divida. Isto deu lugar a um processo-crime porque eram empréstimos
usurários. Isto não é um direito de retenção.
A alínea f foi posta no código devido a uma situação muito especifica que é as pessoas que fazem um
contrato de promessa de compra e venda, o vendedor faz a transmissão da coisa antecipadamente, o
comprador dá um sinal e começa a usufruir da coisa e depois o vendedor não cumpre. Normalmente por
questão de insolvência, em que a massa insolvente apreende os objetos e pertences do vendedor. Então
o comprador tem direito a receber o sinal em dobro por incumprimento do contrato. Então o comprador
segundo esta norma pode reter a coisa que lhe foi transmitida enquanto o vendedor não o indemnizar
resultante do incumprimento do contrato de promessa.

• Art.º 397 do Código de processo Civil- Embargo extrajudicial de obra nova


1. “Aquele que se julgue ofendido no seu direito de propriedade, singular ou comum, em qualquer
outro direito real ou pessoal de gozo ou na sua posse, em consequência de obra, trabalho ou
serviço novo que lhe cause ou ameace causar prejuízo, pode requerer, dentro de 30 dias a contar
do conhecimento do facto, que a obra, trabalho ou serviço seja mandado suspender
imediatamente.”
(...)

Se eu não posso, de modo geral, autotutelar os meus direitos (apesar das exceções) alguém tem de o
fazer. Quem é que tutela o direito das pessoas? É através da tutela jurisdicional. Antes desta tutela
jurisdicional podemos ter uma auto composição dos litígios, as partes têm um conflito, mas elas podem a
seguir entenderem-se, ou seja, fazerem a auto composição do seu conflito. A auto composição é uma
forma de resolver um litígio sem recorrer à autotutela. A tutela jurisdicional só é acionada quando a via
amigável falha, quando as partes não são capazes ou não querem auto compor esse litígio, não querem
resolvê-lo amigavelmente. A tutela jurisdicional é a forma de hétero tutelar os direitos subjetivos,
legalmente protegidos das pessoas e isso torna-se possível devido a duas circunstâncias:
• Por um lado, o estado, numa sociedade moderna, contemporânea, é quem exerce, detém o
aparelho sancionatório. Ou seja, o aparelho sancionatória, coercitivo do estado permite obter a
reintegração da lesão de um direito, tem os meios para realizar o direito coercivamente, ou
mesmo para prevenir uma lesão iminente ou futura. Exemplo: Entendo que sou proprietário de
um quadro que está detido por outra pessoa e eu tenho medo que enquanto estamos a decidir
de quem é o quadro que ele fuja com o quadro. Posso através do mecanismo de procedimentos
cautelares pedir ao tribunal que faça uma apreensão (um arresto) daquele quadro, fica à guarda
do tribunal enquanto se decide quem é o proprietário.
• Por outro lado, o estado tem o monopólio do exercício da autoridade e, portanto, o estado está
investido de poderes de autoridade publica que é o chamado poder de ius imperium e entre nós
é o único que pode exercer o direito de autoridade através de certos agentes.

23/09/2021

Na última aula vimos que a ideia da hétero tutela está inteiramente associada à ideia da hétero tutela
jurisdicional no sentido em que a proibição da autotutela, a proibição de que cada um com os seus meios
possa tutelar os seus direitos, se reflete na ideia de que a tutela desses direitos cabe ao aparelho judiciário.
A tutela jurisdicional está associada à ideia ou conceito de função jurisdicional, a chamada teoria das
funções das fontes. A função jurisdicional tem o seu conteúdo constitucionalmente delimitado ou
contrário das outras funções do estado que se discute qual é o seu conteúdo, na função jurisdicional não
há grandes dúvidas, o seu conteúdo está constitucionalmente delimitado no art.º 202, nº2, da
Constituição.

• Art.º 202 da Constituição


2. “Na administração da justiça incumbe aos tribunais assegurar a defesa dos direitos e interesses
legalmente protegidos dos cidadãos, reprimir a violação da legalidade democrática e dirimir os
conflitos de interesses públicos e privados.”

Há aqui uma tríplice dimensão para a função jurisdicional. Temos o reprimir a violação da legalidade
democrática, dirimir os conflitos de interesses públicos e privados (é a função que nos interessa a nos no
processo civil) e assegurar a defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos e esta é
uma dimensão residual. Tudo o que diga respeito a dirimir conflitos está integrado na função jurisdicional.
É uma atividade materialmente jurisdicional. Isto é particularmente relevante porque entre nós vigora
uma clausula constitucional, um princípio constitucional que é o da reserva do exercício da função
jurisdicional pelos tribunais. Ou seja, a ideia de que a função jurisdicional apenas pode ser exercida pelos
órgãos de soberania tribunais. Só um tribunal pode dirimir conflitos de interesses.

• Art.º 202 da Constituição


1. “Os tribunais são os órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome
do povo.”

A doutrina tem entendido que deste nº1 está implícita uma reserva do exercício da função jurisdicional
pelos tribunais. Os tribunais são em si mesmo, o aparelho judiciário, a estrutura dos tribunais, complexos.
Existem diversas categorias de tribunais e dentro destas categorias podem ainda existir tribunais de
competências especializadas, ou de níveis hierárquicos diferentes. Isto está previsto no art.º 209 da
Constituição. Quando a Constituição reserva o exercício da função jurisdicional aos tribunais reserva a
todos os tribunais no seu conjunto, sem prejuízo depois do legislador e a própria Constituição criar um
sistema de tribunais, um sistema judiciário ou um aparelho judiciário que depois se subdivide em
diferentes competências e especializações. Aquela categoria de tribunais que mais diretamente diz
respeito ao direito processual civil é a dos tribunais judiciais que está prevista na alínea a do nº1 do art.º
209 e que compreende o supremo tribunal de justiça, os tribunais judiciais de 1º estância e os tribunais
judiciais de 2º estância.

É no âmbito do exercício da função jurisdicional, consiste em dirimir conflitos de interesses privados e


públicos, que está constitucionalmente reservada aos tribunais.

O acesso ao aparelho judiciário para obter a tutela do direito não é um privilégio, é um verdadeiro direito
fundamental. A constituição prevê no seu art.º 20, nº1, o chamado direito fundamental ou uma tutela
jurisdicional e acrescenta uma tutela jurisdicional efetiva.

• Art.º 20 da Constituição
1. “A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e
interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios
económicos.”

Este artigo consagra aquilo que na doutrina se denomina o direito fundamental a uma tutela jurisdicional
efetiva, portanto, o direito que todos têm de se dirigir ao estado através dos tribunais e de solicitar,
demandar a tutela jurisdicional. Dizer que tem um direito que está a ser lesado, que já foi lesado ou que
está na eminência de ser lesado e quero ver esse meu direito tutelado. Este é um direito fundamental,
todos têm o direito de se dirigir aos tribunais e de solicitar a tutela de um direito ou de uma posição
jurídica subjetiva. Esta norma resulta de outra norma de direito internacional público, de um tratado que
o estado português subscreveu e que tem entre nós uma grande influencia que é a convenção europeia
dos direitos humanos. Esta é anterior à nossa Constituição, embora o estado português só tenha aderido
à convenção europeia dos direitos humanos depois de ter entrado em vigor a Constituição, mas a
convenção também prevê no seu art.º 6, nº1 precisamente um direito fundamental com esta mesma
configuração que é a do direito a um tutela jurisdicional efetiva. Este art.º 20, nº1 inspirado no art.º 6,
nº1 da Convenção alem de prever o direito fundamental à tutela jurisdicional acrescenta a ideia de uma
tutela efetiva, portanto, não só o acesso ao tribunal, mas sim o acesso ao tribunal em condições que
permitam assegurar efetivamente, com eficácia, a tutela dos nossos direitos. Exemplo: Se eu me dirijo a
um tribunal a pedir que alguém me restitua uma coisa que eu alego que é minha propriedade há uma
diferença muito grande se é resolvido em 6 meses e a coisa é me restituída ou em 6 anos e, entretanto, a
coisa perdeu o seu valor, como um carro.
Portanto, a tutela jurisdicional não se basta com o mero acesso ao tribunal é preciso que o tribunal seja
pronto na sua resposta e seja eficaz na sua resposta. A efetividade da tutela prendesse com vários
conceitos que tem que ver não só apenas com a celeridade da decisão, portanto, o prazo razoável da
decisão (previsto no nº4 do art.º 20 da Constituição), mas também com a efetividade em sentido estrito,
portanto, que o tribunal possa tomar medidas provisorias para acautelar a decisão final e isso corresponde
à tutela cautelar ou aos procedimentos cautelares, isto é enquanto estou à espera da decisão para evitar
que a coisa desapareça o tribunal pode tomar medidas provisorias no âmbito do processo para preservar
a decisão final que vai tomar. De nada serve que o tribunal daqui a 1 ano diga que o carro tem de ser
entregue se, entretanto, a pessoa já fez desaparecer o carro. Uma terceira dimensão é a exequibilidade e
a execução da decisão porque eu posso dirigir-me a um tribunal, pedir que o tribunal condene alguém a
entregar-me uma coisa, o tribunal dá-me razão e profere uma sentença, mas depois o condenado na
sentença não me entrega a coisa. Se a intervenção do tribunal se reduzir a esta dimensão o minha tutela
jurisdicional efetiva transforma-se num saco roto porque no fundo tenho uma sentença a meu favor, mas
não me foi entregue a coisa. Portanto, há uma terceira dimensão que é a execução coerciva da decisão
judicial. Assim, a tutela efetiva não se esgota em dirimir o litígio, mas tem, portanto, três outras dimensões
adicionais:

• A celeridade
• A necessidade de preservar a decisão final durante o processo com medidas provisorias
• A necessidade de executar coercivamente e impor a decisão final àquele que foi condenado

O direito fundamental a uma tutela jurisdicional efetiva está previsto no art.º 20, nº1 da Constituição
encontra depois a sua concretização, no plano do direito ordinário, no art.º 2 do Código do processo civil.

• Art.º 2 do Código do processo civil


1. “A proteção jurídica através dos tribunais implica o direito de obter, em prazo razoável, uma
decisão judicial que aprecie, com força de caso julgado, a pretensão regularmente deduzida em
juízo, bem como a possibilidade de a fazer executar.”

Esta norma conjugada com o nº4 do art.º 20 da Constituição dá-nos uma definição do direito de ação ou
de direito do acesso aos tribunais que é o direito a reclamar uma providencia judiciaria (definitiva ou
provisoria) dirigida a reparar ou a prevenir a violação de um direito subjetivo, de um interesse legalmente
protegido ou outra posição jurídica subjetiva. Portanto, o direito de ação concretiza no plano ordinário o
direito fundamental ou a tutela jurisdicional efetiva e consiste então no direito de reclamar, solicitar,
demandar uma providencia judiciaria.
Há uma diferença fundamental entre o direito de ação e o direito subjetivo ou a posição jurídica subjetiva
que nós queremos ver tutelada.

O direito de ação garante-nos o acesso ao tribunal, a decisão do tribunal e eventualmente a execução, a


utilidade e a efetividade dessa decisão, mas o direito de ação, o direito fundamental da tutela jurisdicional
efetiva não nos garante a espectativa de obter do tribunal uma decisão que nos seja favorável. Uma coisa
é eu ter o direito de ir ao tribunal reivindicar que o tribunal aprecie um litígio em que eu sou parte e que
decida a minha pretensão, mas eu não tenho o direito de ganhar aquela ação. O tribunal está obrigado a
decidir o que eu lhe peço, mas não está obrigado a deferir o que eu lhe peço, pode indeferir. Isto é uma
distinção entre o direito adjetivo da decisão processual e o direito material, substantivo.
Portanto, há uma distinção estruturante do processo civil que é a distinção entre o direito de ação, o
direito de dirigir-me ao tribunal para obter uma decisão que dirime um conflito e o direito à procidência
que eu peticiono, a decisão que eu quero que o tribunal tome. Ou seja, são as diferenças entre os
requisitos de forma, formais e os requisitos de fundo, quanto à matéria, à substância. Para o tribunal
saber se pode ou não dirimir um litígio ele atende apenas a requisitos formais, de natureza puramente
processual. Para o tribunal decidir se vai ou não julgar procedente a minha pretensão o tribunal atende a
requisitos de fundo ou substâncias que resultam da lei substantiva.

As posições jurídicas subjetivas é um conceito amplo que abarca um conjunto de realidades que vai para
alem dos direitos subjetivos e dos interesses legalmente protegidos também denominados por vezes
legitimas expectativas. Dentro das posições jurídicas subjetivas podemos incluir outras figuras menos
comuns, mas que ainda assim podem ser tuteladas por via do processo civil, por via do direito a uma
tutela jurisdicional, incluído necessariamente os direitos subjetivos, os interesses legalmente protegidos,
mas também os direitos e interesses coletivos. Os direitos e interesses coletivos são direitos ou interesses
que não estão subjetivizados numa pessoa e que correspondem no fundo a um agregado de interesses
individuais que podem ser exercidos coletivamente. É o caso, por exemplo, dos direitos coletivos dos
trabalhadores como o direito à greve. É um direito que se exerce individualmente, mas que não pode ser
exercido só individualmente. Um único trabalhador não pode dizer que naquele dia faz greve, se a greve
não tiver sido coletivamente decretada nos termos do direito do trabalho. Um outro tipo de direito
coletivo, muito invocado no direito privado, que é o chamado direito de propriedade comunal, ou seja,
os baldios. Os baldios são prédios que são propriedade de uma determinada comunidade, não são
propriedade de A nem de B, nem copropriedade dos residentes numa determinada localidade, mas sim
propriedade de uma comunidade e se alguém pertencer àquela comunidade é também proprietário
daquele baldio e se um dia deixar de integrar aquela comunidade deixa de ser proprietário daquele baldio.
E, portanto, os direitos e interesses subjetivos também são posições jurídicas subjetivas suscetíveis de
tutela jurisdicional. Também podemos fazer referência aos chamados direitos e interesses difusos que
são bens e interesses que não podem ser individualmente divisíveis ou que não podem ser
individualmente afetados a cada um dos seus titulares, ou seja, fatiados e serem entregues numa parcela
a cada um dos titulares. Incluímos aqui o direito ao ambiente, o direito à cultura, educação, etc.
Os bens e interesses públicos são os bens que estão colocados no domínio do estado ou no domínio de
uma outra pessoa coletiva publica como um município ou uma freguesia. Correspondem àquilo que se
denomina como bens de domínio público, as ruas, os cemitérios, certos edifícios públicos, as pontes. São
bens que pertencem ao estado, mas não estão em regime de propriedade privada, estão em regime de
domínio publico. Os bens de domínio público são também tuteláveis jurisdicionalmente.

Uma definição de direito processual civil é que o direito processual civil é o ramo de direito público que
prevê e regula a formação e obtenção das providencias judiciais (decisões judiciais) destinadas à defesa
ou prevenção de posições jurídicas subjetivas dignas de tutela jurisdicional. Podemos encontrar no direito
processual civil duas grandes dimensões:

1. A dimensão estática que é a parcela do direito processual civil que regula que tipos de
providencia, de decisões ou medidas judiciais podem ser obtidas e os requisitos que devem ser
preenchidos para a obtenção de tais providencias. Portanto, é uma dimensão estática do direito
processual civil.
2. A dimensão dinâmica que é o processo propriamente dito, as etapas e as fases que têm de ser
seguidas, observadas para a obtenção dessas providencias judiciais. Portanto, a tramitação ou
ritualismo que tem de ser observado para se conseguir obter essas providencias.
Partindo desta definição conseguimos identificar um conjunto de características do processo processual
civil. A primeira é a de que o direito processual civil é um ramo de direito público e isto tem que ver com
a natureza da relação jurídica processual.
A característica de uma relação jurídica processual de direito privado é a paridade formal das partes. Na
relação de direito privado típica temos um credor e um devedor, por exemplo, numa compra e venda de
um imóvel. O devedor tem sobre o credor um direito subjetivo, neste caso de crédito, e o devedor tem
em relação ao credor uma obrigação, um dever jurídico. Portanto, as partes estão numa relação paritária.
A isto podemos chamar a relação substantiva ou uma vez que há um litígio a relação material
controvertida. Só há relação material controvertida se houver um litígio.
Uma relação de direito publico típica temos a administração tributaria e numa relação de supra ordenação
o sujeito passivo, o contribuinte.
Na nossa relação de direito privado o credor e o devedor desentendem-se e, portanto, o credor que é o
A vai propor uma ação em tribunal contra o B. Com a prepositura da ação em tribunal vai-se instituir uma
nova relação jurídica distinta da relação material controvertida e da relação jurídica substantiva que é a
relação jurídica processual.

Aqui na relação jurídica processual o credor vai assumir a posição de autor e o devedor, porque é
demandado, assume a posição de réu. Portanto, temos o autor a dirigir uma pretensão contra o réu. Só
que a relação jurídica processual também denominada instância. Na relação jurídica processual há um
terceiro sujeito, alem das partes que estão em situação de paridade formal, que é o tribunal. O tribunal é
sujeito da relação jurídica processual, mas não está numa relação de paridade formal, o tribunal está
numa posição de supra ordenação, está investido de poderes de autoridade pública, de ius imperium, de
dirimir o litígio entre as partes e de impor coercivamente, vinculativamente, a sua decisão às partes.
Aquilo que o tribunal decidir é obrigatório para as partes. O tribunal pode exercer poderes coercivos no
âmbito da relação jurídica processual seja no decurso do próprio processo, aplicando multas e
condenando as partes a entregarem documentos, quer depois da decisão estar tomada executando essa
decisão. Na relação jurídica processual temos a característica muito peculiar que é a de que a relação
jurídica particular ou instância é sempre uma relação triangular em que na base tem as partes colocadas
numa posição de paridade formal, mas há um terceiro sujeito numa relação de supra ordenação, está
investido do poder de autoridade, dirimir o litígio entre as partes de forma vinculativa, com a força de
caso em julgado.

Tribunal

Credor Devedor

A Relação jurídica processual é sempre uma relação de direito público, então o direito processual é um
ramo de direito público em que está envolvido o exercício de poderes de autoridade pública. Uma coisa
é a relação jurídica processual, só que é puramente formal, não tem qualquer dimensão material ou
substantiva, outra coisa é o litígio que está a ser discutido entre as partes. Esse sim é uma relação jurídica
de direito privado, portanto, a relação material controvertida.

Uma segunda característica do direito processual civil é a sua natureza instrumental. O direito processual
civil não é um fim em si mesmo enquanto ramo do direito. É um instrumento de realização e de efetivação
de outros ramos de direito, serve para tornar efetivas, realizar posições jurídicas que são tuteladas ou
reconhecidas por outros ramos de direitos, ao direito das obrigações, da família, comercial, etc. No existe
para si próprio. A distinção entre o direito adjetivo, que é no plano processual e o direito substantivo, que
tem haver com a matéria dos litígios. Quando nós temos uma ação pendente no tribunal temos sempre
essas duas dimensões. Um exemplo de ramo de direito adjetivo temos o direito processual civil e um
exemplo de direito substantivo temos o código civil.

Uma terceira característica do direito processual civil é a de que o direito processual civil é a disciplina
mãe do direito processual em geral, é a referência de todos os outros ramos de direito processual.

Uma quarta característica é que o direito processual civil é também o direito comum, supletivo dos demais
ramos de direito processuais. Serve como disciplina residual, supletiva, de todos os outros ramos de
direito processual. Quando há lacunas dos outros ramos de direito processual aplica-se subsidiariamente
o direito processual civil.

Fins do direito processual civil

O direito processual civil visa a realização de determinados fins. Tradicionalmente identificavam-se como
fins do processo civil a ideia de resolução de dirimir conflitos de interesses. Portanto, o direito civil era
um ramo de direito dirigido a dirimir conflitos, este fim ainda hoje está presente. Mas, mais
modernamente nas últimas quatro décadas a doutrina tem vindo a identificar alem desse fim tradicional
mais dois fins do processo civil. Com o passar dos tempos o direito civil tendeu a ser excessivamente
formalista e, portanto, o objetivo era dirimir um conflito independentemente do resultado final, do
percurso que se utilizasse para dirimir esse conflito. O que interessava era fazer uma aplicação rigorosa
quase matemática da lei processual ignorando o resultado final. Portanto acontecia muitas vezes que uma
pessoa perdia uma ação não por não ter razão, mas porque se tinha esquecido de apresentar um
requerimento num determinado momento, ou porque tinha-se esquecido de utilizar uma determinada
expressão, etc. Chegou-se à conclusão de que esta forma mecânica, perfeitamente alheada dos resultados
não era adequada a um estado de direito. Portanto, começou a surgir na segunda metade do séc. XX a
necessidade de também prosseguir dois outros fins. Um que é o da descoberta da verdade material, ou
seja, o direito processual civil deve estar orientado para ao dirimir um litígio descobrir a verdade material
aplicável a esse litígio e decidir de acordo com a verdade material. No passado isso não acontecia (“O que
não está no processo não existe.”), ou seja, se não ficou provado no processo é como se não existisse.
Hoje em dia o processo está orientado para a descoberta da verdade material, dos factos relativos ao
litígio que o tribunal é chamado a exercer. É certo que nem sempre se chega à verdade material porque
os meios que o tribunal dispõe não são perfeitos, são os meios de prova e, portanto, se não se conseguir
chegar à verdade material não se pode fazes milagres, mas o tribunal deve prosseguir essa verdade
material, deve ser proactivo. O terceiro fim do processo civil é a realização da justiça. Na visão clássica o
tribunal alheava-se do que era o resultado, o que interessava era compor o litígio, se o resultado era justo
ou não era irrelevante. Então, a doutrina identifica esta terceiro finalidade, o tribunal deve procurar
resolver o litígio realizando a justiça, em sentido mais amplo. Procurando que a sua decisão, a forma que
ele dirige o litígio seja uma forma justa, equitativa. O tribunal não pode fugir à lei para dirimir o litígio,
mas pode procurar sempre que ao aplicar a lei ou a interpretar a lei ou conduzir o processo o faça de
forma justa, equitativa, nos limites que a lei consente.

A disciplina do direito processual civil

O direito processual civil corresponde a uma disciplina jurídica propriamente dita e na sua regulação
podemos defini-la como a disciplina jurídica que procede ao estudo científico do processo civil. Portanto,
o direito processual civil é a disciplina jurídica que estuda cientificamente o processo civil. O direito
processual civil tem uma conjunto de disciplinas afins que vamos estudar.

1. Disciplina da organização judiciaria

É uma disciplina que estuda a estrutura, a organização e o funcionamento dos tribunais. Há até uma lei
estruturante da organização do sistema judiciário que nos indica quais são os tribunais que existem, quais
as suas competências, o seu modo de funcionamento, etc.
2. A tributação processual

Os processos não são gratuitos, os processos judiciais e sobretudo no processo civil não são gratuitos,
embora algumas normas protejam as pessoas com menos recursos da tributação processual, a verdade é
que a justiça não é gratuita, paga-se. Paga-se através de taxas que encontramos reguladas num diploma
que é o regulamento das custas processuais que regula a tributação dos processos, ou seja, o que é que
é preciso pagar, quem é que é preciso pagar por uma ação judicial. Isto é um ramo de direito tributário,
mas porque está intimamente ligado ao processo civil é habitual estudar-se a tributação processual no
processo civil.

3. Direito profissional da advocacia

A disciplina jurídica que regula o exercício do mandato forense, que regula o exercício do acesso à
profissão de advogados, toda essa matéria de direito profissional da advocacia é regulada essencialmente
por um diploma que é o estatuto da ordem dos advogados. No processo civil, para a maioria esmagadora
deles, é obrigatório constituir advogado, ou seja, não é possível uma pessoa ir sozinha para um tribunal.

4. O processo tutelar Cível

A Relação jurídica processual típica é a que temos duas partes em paridade formal e um processo tutelar
cível com uma relação triangular. Mas há uma determinada categoria de processos cíveis em que há um
outro elemento adicional que é preciso ter em consideração que são os processos que dizem respeito a
menores, como os processos de regulação parental. Estão em causa menores e alem da paridade formal
das partes é preciso atender a alguém que não é parte, mas cujo interesse deve prevalecer no processo
que é o menor. Temos de ter em conta sempre o superior interesse da criança. Algumas das regras
habituais do processo civil, as regras clássicas, não estão pensadas para litígios desta natureza em que as
partes são capazes de acautelar suficientemente os seus interesses. Se temos um pai e uma mãe que não
tomam conta daquela criança e é preciso revogar a ação parental daqueles pais, há um elemento adicional
que tem de ter em conta alem dos interesses das partes que é o interesse daquela criança que não é parte
do processo. Estes tipos de processos são processos civis com um diploma próprio que é o regime tutelar
cível que tem em consideração esta necessidade adicional, que é o processo ser conduzido entre partes,
mas tem de ter presente um interesse de um terceiro, que é o da criança.

Meios alternativos de resolução de litígios

O processo civil não é o único método de resolução de litígios. Desde logo a existência de um litígio é o
pressuposto de acionamento da via judiciaria. Se as partes estão de acordo, se as partes se entendem em
relação a uma determinada relação jurídica não tem de recorrer a um tribunal. Há exceções em que
mesmo na ausência de um litígio é necessário recorrer a tribunal chama-se a isso processos de jurisdição
voluntaria, mas a regra geral, como nós vimos, é que a existência de um litígio, de um conflito de
interesses é um prossuposto de acionamento da via judiciaria. Mas a via judiciário, do aparelho judicial
não é a única via para dirimir um litígio.
Desde logo podemos fazer referência à auto composição do litígio. Se há auto composição podemos fazer
logo a questão se o litígio existe. As partes chegam a um acordo, auto compõem-se e então o litígio deixa
de existir.
Entramos como meios alternativos da resolução de litígios a conciliação e a mediação, que tem por
característica as partes do litígio se socorrerem de um terceiro para dirimir o seu litígio. Este terceiro não
é parte do litígio, nem tem interesse na sua resolução, não tem nada a ganhar nem a perder, mas que é
convocado pelas partes para colaborar, para prestar o seu auxílio a dirimir aquele litígio. É o conciliador e
o mediador, conforme o caso.

No sentido tradicional português, a conciliação caracteriza-se por o tal terceiro, o conciliador, ter por
objetivo, missão, procurar colocar as partes de acordo, mas não ter iniciativa própria. No fundo tenta que
as partes cheguem a um acordo, procurando conciliá-las, sem o conciliador ter iniciativa própria, puder
propor soluções para o acordo.
Já o mediador disporia de poder de iniciativa. Alem de pôr as partes a conversar uma com a outra o
mediador teria iniciativa própria, ou seja, poderia ele mesmo propor soluções às partes para resolver
aquele litígio.
No terminologia anglo-saxónico é exatamente o oposto. O mediador não tem iniciativa e o conciliador
têm essa iniciativa. Como nós temos importado muito textos legislativos estrangeiros há uma ligeira
confusão sobre o que é a conciliação e a mediação.

Há ainda um segundo sentido em alguns diplomas de direito processual que é a mediação é aquela que é
desenvolvida fora do processo judicial e conciliação é aquela que é desenvolvida no processo judicial,
normalmente até pelo juiz. Encontramo-nos isso no código de processo civil que nos diz que na audiência
de julgamento o juiz deve procurar conciliar as partes, como tentativa de compor o litígio por iniciativa
do juiz.

Quer a conciliação quer a mediação caracterizam-se pelo papel deste terceiro não ser vinculativo. O
conciliador poe as partes a conversar uma com a outra, mas não dá ordens às partes, o mediador poe as
partes a conversar uma com a outra e pode fazer propostas, sugestões, pode tomar iniciativas, mas não
dá ordens. É sempre das partes do litígio a palavra final, se querem ou se não querem chegar a acordo na
sequência daquela conciliação ou daquela mediação.

Um outro meio de resolução de litígios que é alternativo à via judicial processual clássica é a arbitragem,
mas aqui não parece correto chamar um meio extrajudicial de resolução de litígios porque como vamos
ver a seguir na arbitragem há efetivamente o exercício de poderes jurisdicionais e, portanto, os árbitros
são um tribunal arbitral. Funciona como um meio alternativo, mas um meio judicial. A arbitragem consiste
em as partes submeterem a resolução do seu litígio também a uma entidade terceira, independente, ou
seja, não tem nada a ganhar ou a perder, que vai dirimir o litígio, vai decidir. Este arbitro vai tem poder
vinculativo na decisão do litigo. Ele vai ouvir as partes e decidir quem tem razão. Profere uma decisão que
é obrigatória e vinculativa para as partes e, portanto, aqui se distingue dos mediadores e dos conciliadores
que não têm poderes de decisão e que não são vinculativos. Os árbitros ouvem as partes, tomam uma
decisão e dirimam o litígio com a mesma força, com a mesma vinculariedade que um tribunal do estado.
Na base da arbitrariedade de litígios está o princípio do dispositivo que é a ideia da disponibilidade que
as partes têm sobre o objeto do litígio. As partes podem auto compor o litígio e se as partes podem fazer
isto também podem entende o legislador, a Constituição, atribuir a um arbitro o poder de resolver esse
litígio, é como estar a dar disponibilidade. A disponibilidade das partes sobre um objeto de um litígio
resulta de um preceito do código civil que é o art.º 1248 que diz respeito ao contrato de transação. O
contrato de transação é o contrato pelo qual as partes previnem ou determinam um litígio mediante
recíprocas conceções. O art.º 1249 vem-nos dizer que as partes não podem transigir sobre direitos de que
não lhes é permitido dispor, ou seja, não é possível fazer transação sobre direitos indisponíveis. Salvo
estas exceções as partes podem transigir sobre qualquer litígio que tenham e, por maioria de razão, se
podem transigir sobre um litígio podem também decidir que a resolução desses litígios vai ser confiada a
um terceiro por elas, com um poder vinculativo, obrigatório.

Os nossos tribunais não se esgotam nos tribunais estaduais, a Constituição também admite tribunais não
estaduais, ou se quisermos chamar os tribunais privados que são os tribunais arbitrais. Se formos ver o
art.º 209, nº2 da Constituição diz que podem existir também tribunais julgados de paz e também tribunais
arbitrais. Esses tribunais arbitrais são tribunais como os outros, com a diferença que não estaduais, não
fazem parte da estrutura do estado. A função jurisdicional tem um conteúdo muito amplo, está envolvida
na função jurisdicional o exercício de poderes de autoridade pública, o tribunal que faz uma penhora, etc.
O núcleo essencial da função jurisdicional está reservado aos tribunais estaduais, do estado, só estes o
podem fazer.
A arbitragem assenta numa vontade das partes, são as partes que por força da sua vontade decidem
submeter um litígio entre elas à resolução por árbitros. Isto acontece muitas vezes por desconfiança dos
tribunais do estado, outras vezes é por questões de celeridade, ou uma questão de secretismo porque os
tribunais arbitrais como são privadas não são abertos publicamente, como são os tribunais estaduais. Às
vezes as partes não querem que esses assuntos venham ao conhecimento público. Segundo o princípio
da publicidade, por regra, uma pessoa pode consultar um processo, no caso de um particular, tem de
justificar o interesse. Os advogados podem consultar qualquer processo, exceto os que estão sobre sigilo.
24/09/2021

A possibilidade de submeter os litígios da decisão por árbitros impedindo que esses mesmos litígios sejam
dirimidos pelos tribunais estaduais, pelos tribunais da estrutura estadual do estado. E isso vai exigir a
consulta da lei da arbitragem voluntaria que é uma lei recente, a lei 63º de 2011 que já teve uma revisão
e é conhecida pelo seu acrónimo LAV e que no seu art.º 1 regula a possibilidade de submissão de litígios
a decisão por árbitros.

• Art.º 1
1. “Desde que por lei especial não esteja submetido exclusivamente aos tribunais do Estado ou a
arbitragem necessária, qualquer litígio respeitante a interesses de natureza patrimonial pode ser
cometido pelas partes, mediante convenção de arbitragem, à decisão de árbitros.”

Esta norma permite que as partes, envolve necessariamente o consenso de todas as partes do litígio,
cometam um dado litígio à decisão por árbitros. Há, no entanto, uma serie de requisitos que têm de estar
respeitados nos termos desta norma. Em primeiro lugar só é possível desde que não exista lei especial
que atribua o poder de dirimir litígios dessa categoria em exclusivo aos tribunais do estado, estaduais.
Certo tipo de litígios a lei diz que só pode ser por um tribunal do estado. Exemplo: Ações sobre licitude de
despedimento, ou seja, quando alguém é despedido e quer impugnar o despedimento para apreciar se o
despedimento foi lícito ou ilícito a lei diz-nos que não pode ser submetido a um tribunal arbitral. Também
quando se trata de casos que a lei manda submeter a arbitragem necessária que é diferente da arbitragem
voluntaria que é a que estamos agora a tratar. A arbitragem voluntaria depende da vontade das partes,
são as partes através de uma manifestação de vontade que decidem submeter um litígio a arbitragem.
Essa manifestação de vontade das partes faz-se através do que se denomina a convenção de arbitragem.
Este art.º 1 aplica-se a todos os litígios de natureza patrimonial, qualquer litígio respeitante a interesses
de natureza patrimonial. Alguma doutrina tem lido nesta norma uma superação daquela visão tradicional
que é a de que a arbitragem assenta no princípio do dispositivo, na disponibilidade das partes sobre o
objeto do litígio. A prepósito deste nº1 diz-nos que os direitos patrimoniais mesmo que sejam
indisponíveis puderam ser submetidos a arbitragem. O fundamento teórico, dogmático, da arbitragem
voluntaria é a vontade das partes que só pode ser valida se ela disser respeito a direitos disponíveis.
Portanto, aceitar-se que este nº1 abrange também litígios relativos a direitos patrimoniais indisponíveis
parece ser já exagerado, mas há doutrina que já o admite.

2. “É também válida uma convenção de arbitragem relativa a litígios que não envolvam interesses
de natureza patrimonial, desde que as partes possam celebrar transação sobre o direito
controvertido.”

Aqui poderá haver lugar à arbitragem de litígios de natureza não patrimonial desde que se trate de direitos
disponíveis. Direitos de natureza não patrimonial também podem ser objeto de uma convenção de
arbitragem, também podem ser dirimidos por árbitros desde que se trate de direitos disponíveis.

O nº5 deste art.º 1 admite ainda a arbitragem voluntaria em litígios de direito público e esta é a abertura
legislativa para a arbitragem do contencioso administrativo e para a arbitragem do contencioso tributário.
O nº4 permite também arbitragem não contenciosa, ou seja, “as partes podem acordar em submeter a
arbitragem, para além das questões de natureza contenciosa em sentido estrito, quaisquer outras que
requeiram a intervenção de um decisor imparcial, designadamente as relacionadas com a necessidade de
precisar, completar e adaptar contratos de prestações duradouras a novas circunstâncias.”
As partes não têm nenhum litígio entre si, mas precisam por algum motivo que um terceiro independente
e imparcial venha disciplinar uma relação jurídica que elas estabeleceram. O caso da compra e venda em
que as partes estão de acordo em muitas coisas, mas não estão de acordo quanto ao preço em concreto
e entregam ao terceiro, ao árbitro, a fixação do preço com caracter vinculativo.

O elemento determinante, a fonte desta decisão das partes remeterem a decisão de um litígio para um
tribunal arbitral, para árbitros é a tal convenção de arbitragem.
A convenção de arbitragem, os seus requisitos, estão regulados no art.º 2 da mesma. A convenção de
arbitragem é a fonte jurídica que habilita os árbitros a dirimir um litígio e a sua natureza jurídica é de um
contrato. A lei não utilizada expressamente esta designação, mas a convenção de arbitragem é um
verdadeiro contrato, um acordo bilateral entre duas ou mais partes através da qual elas se vinculam a
dirimir um litígio que se estabeleceu entre elas através de um arbitro. A lei distingue na convenção de
arbitragem, enquanto género, duas espécies e isso está previsto no nº3 do art.º 1. Diz-nos que a
convenção de arbitragem pode ter por objeto um litígio atual, ainda que afeto ao tribunal do estado
(compromisso arbitral) ou pode ter por objeto litígios eventuais emergentes de determinada relação
jurídica contratual ou extracontratual e nesse caso designa-se clausula promissória. A convenção
arbitraria pode assumir duas espécies distintas. Assume a espécie de compromisso arbitral quando ela é
celebrada já perante um litígio atual e existente. Isto resulta não só do nº3, art.º 1 da convenção, mas
também do art.º 280 do código de processo civil. Essa celebração do compromisso arbitral na pendencia
de um processo que está a correr no tribunal do estado tem por consequência extinguir o processo no
tribunal do estado. Isto é característico de um processo de direito civil, não acontece num processo de
direito penal.
A clausula compromissória diz respeito a litígios eventuais, futuros. As partes podem vincular-se desde
logo a todos os litígios que possam eventualmente surgir no futuro entre elas que sejam dirimidos por
árbitros e não por tribunais do estado. No entanto a lei impõe alguns requisitos, não é todo e qualquer
litígio, tem de ser litígios emergentes de uma determinada relação jurídica contratual ou extracontratual.
O mais frequente é isto ser num contrato.

O art.º 2 regula os requisitos da convenção de arbitragem dados os efeitos que ela produz. O primeiro
requisito é a exigência de forma escrita. A convenção de arbitragem deve adotar a forma escrita, não pode
ser celebrada verbalmente. Sendo preciso forma escrita pode ser feita através de documento particular
para ser válido, não é obrigatório que seja por documento autenticado. A exigência de forma escrita tem-
se por satisfeita quando a convenção conste de documento escrito assinado pelas partes, troca de cartas,
telegramas, telefaxes ou outros meios de telecomunicação de que fique prova escrita, incluindo meios
eletrónicos de comunicação. O nº 4 deste artigo permite ainda que a convenção de arbitragem seja
celebrada como uma clausula contratual geral. Uma clausula contratual geral, também às vezes chamada
contrato de adesão, é uma proposta contratual que é apresentada por uma parte e que a outra ou aceita
ou não aceita, não tem possibilidade de negociar ou ajustar o seu conteúdo. Quando assim é aplica-se
também o regime jurídico das clausulas contratuais gerais, ou seja, a convenção de arbitragem tem de
obedecer às disposições desta lei e também tem de obedecer às disposições da lei sobre clausulas
contratuais gerais. O nº 5 prevê uma situação peculiar que podemos denominar de convenção de
arbitragem ficta, fictícia. Considera-se cumprido o requisito da forma escrita da convenção de arbitragem
quando exista troca de uma petição e uma contestação em processo arbitral, em que a existência de tal
convenção seja alegada por uma parte e não seja negada pela outra. Portanto, a lei manda tratar como
se houvesse convenção de arbitragem, ficciona que existiu uma convenção de arbitragem escrita, embora
não tenha existido convenção alguma, desde que alguém inicie um processo arbitral, apresentando uma
petição, invocando a existência de convenção de arbitragem e a outra parte conteste essa ação, mas não
negue expressamente a existência de convenção de arbitragem. Se isto suceder, mesmo que não tenha
existido convenção de arbitragem, a lei diz que se ficciona a sua existência e trata-a como uma convenção
de arbitragem ficta. Se as partes começarem o processo arbitral e não foi posta em causa a existência de
convenção arbitragem, mais vale deixa o processo arbitral continuar do que depois chegar à conclusão
que tem de parar e remeter as partes para um tribunal estadual. O nº 6 vêm-nos dizer que a convenção
de arbitragem, se for um compromisso arbitral, vem identificar o litígio a que se refere, não valem
convenções de arbitragem em branco. Se for na modalidade de clausula compromissória deve especificar
a relação jurídica a que os litígios eventuais e futuros se referem.

O art.º 6 permite ainda que o conteúdo da convenção de arbitragem possa ser remetido para documentos
externos à própria convenção, que as partes possam remeter o conteúdo da convenção de arbitragem
para documentos externos. Normalmente para regulamentos que já existem em institutos ou outras
entidades que em vez de estarem no sua própria convenção de arbitragem a detalharem todas as regras
de arbitragem podem dizer que concordam que aquilo seja dirimido por árbitros e os árbitros seguiram
as regras do instituto tal ou da associação tal.

O art.º 4 permite às partes revogar, modificar a convenção de arbitragem. Ou seja, a convenção de


arbitragem é um contrato e as partes de qualquer contrato têm liberdade sobre ele. No entanto, existem
alguns limites. A convenção de arbitragem pode ser modificada pelas partes até a aceitação do primeiro
arbitro, ou seja, enquanto não houver árbitros nomeados, ou não tiver aceite ser arbitro, as partes podem
modificar livremente a convenção de arbitragem. Depois de ter havido aceitação dos árbitros a convenção
de arbitragem só pode ser modificada com o acordo dos próprios árbitros. Eles não são partes da
convenção de arbitragem, mas a lei exige o acordo deles para a modificação da convenção de arbitragem.
Já a revogação da convenção pode ser feita pelas partes a todo o tempo, mesmo depois dos árbitros
estarem no exercício de funções até que seja proferida a sentença arbitral. Depois de ser proferida a
sentença arbitral o litígio já ficou dirimido e, portanto, as partes já não podem revogar a convenção de
arbitragem. No nº3 a lei exige a forma escrita quer para a modificação da convenção quer para a sua
revogação. O nº 4 vem acrescentar ainda que a convenção de arbitragem não caduca com a morte ou a
expulsão de uma das partes que a celebrou. Se a parte que outorgou a convenção morrer ou se extinguir
isso não faz caducar a convenção de arbitragem porque as obrigações e os vínculos dela decorrentes
transmitem-se aos sucessores da parte que morrer ou extinguiu, salvo que na própria convenção diga o
contrário, fique lá estipulado na própria convenção.

(Nota: Extinção diz respeito a pessoas coletivas e a morte diz respeito a pessoas singulares.)

O art.º 18, nº3 estabelece o princípio do aproveitamento da convenção de arbitragem. É muito frequente
que uma clausula compromissória seja arbitrada num contrato mais basto. Portanto, temos um contrato
de compra e venda de um imóvel, por exemplo, e no fim existe uma cláusula compromissória que nos diz
que todos os litígios emergentes do presente contrato serão dirimidos por um tribunal arbitral. Pode
acontecer que o contrato mais basto, subjacente, seja nulo ou anulável, ou seja, invalido. E este artigo
vêm-nos dizer que a nulidade ou a invalidade em geral de um contrato no qual foi aposta uma clausula
compromissória não se estende à própria cláusula compromissória. Portanto, o contrato pode ser nulo,
invalido, mas a clausula compromissória que consta desse contrato é independente e autónoma e não é
afetada por essa nulidade, pelo menos por arrastamento. A não ser quando a invalidade se verifique
também na clausula, por exemplo, se a parte que realizou aquele contrato seja menor.

7/10/2021

Efeitos da lei de arbitragem

A celebração pelas partes de uma convenção de arbitragem produz um conjunto de efeitos jurídicos que
estão previstos no art.º 5 da LAV. A convenção de arbitragem nem tem apenas um efeito negativo, na
verdade, nós podemos
dentificar na convenção de arbitragem três tipos de efeitos:

• Negativo
• Positivo
• Inibidor

O efeito negativo está previsto no nº1 desse preceito legal que nos diz que “o tribunal estadual no qual
seja proposta ação relativa a uma questão abrangida por uma convenção de arbitragem deve, a
requerimento do réu deduzido até ao momento em que este apresentar o seu primeiro articulado sobre
o fundo da causa, absolvê-lo da instância, a menos que verifique que, manifestamente, a convenção de
arbitragem é nula, é ou se tornou ineficaz ou é inexequível.” O efeito negativo consiste em que a
celebração da convenção de arbitragem nega ao tribunal estadual a competência para conhecer de um
litígio abrangido por essa convenção de arbitragem. Pelo facto de as partes terem celebrado uma
convenção de arbitragem, a mera celebração da convenção nega ao tribunal estadual competência para
conhecer de um litígio abrangido pela convenção de arbitragem. Se alguma das partes que outorgou a
convenção for propor uma ação no tribunal estadual, ou seja, no tribunal do estado, da comarca, o
tribunal estadual tem obrigação de se recusar a conhecer daquele processo, nem sequer vai apreciar o
litígio. De grosso modo chama-se a absolvição da instância.
Este dever do tribunal estadual se abster de conhecer a ação não é um dever oficioso, ou seja, o tribunal
não tem obrigação de andar a averiguar se nós fizemos convenção de arbitragem, etc., só o fará se a parte
demandada nessa ação invocar a existência de uma convenção de arbitragem. Se ninguém invocar a
existência da convenção de arbitragem o tribunal estadual pode prosseguir o julgamento da causa como
se não existisse convenção de arbitragem. Isto consiste numa limitação deste efeito negativo.
Uma outra limitação a este efeito negativo é quando se diz que o tribunal absolverá o réu da instância
salvo se a convenção for nula, inválida ou exequível. Portanto, o tribunal pode apreciar a validade da
convenção de arbitragem, mas só em relação a situações que sejam manifestas ou evidentes. Se é uma
nulidade ostensiva o tribunal pode conhecer do processo.

O efeito positivo está previsto no nº2 deste preceito legal que nos diz que “no caso previsto no número
anterior, o processo arbitral pode ser iniciado ou prosseguir, e pode ser nele proferida uma sentença,
enquanto a questão estiver pendente no tribunal estadual.” Portanto, a convenção de arbitragem habilita
o tribunal arbitral a conhecer e julgar o processo arbitral, mesmo que o mesmo litígio esteja pendente
numa ação num tribunal estadual. A lei proíbe que o mesmo litígio esteja a ser apreciado em dois
processos distintos, ou seja, não pode estar o mesmo litígio a ser dirimido em dois processos. Isto é a litis
pendencia quando isso acontece. Se isso acontecer há consequências a extrair num desses processos. O
nº2 vem-nos dizer que não há um problema de litis pendencia se o mesmo litígio for proposto no tribunal
estadual e no tribunal arbitral. Habilita o tribunal arbitral a dizer que mesmo que esteja pendente um
processo exatamente quanto às mesmas questões num tribunal estadual, o tribunal arbitral pode
continuar a julgar esta ação e proferir sentença num processo arbitral. Portanto, o tribunal arbitral não
fica impedido de julgar a causa pelo facto de o mesmo assunto estar pendente num processo de tribunal
estadual.

O efeito inibidor está previsto no nº4 deste preceito legal que nos diz que “as questões da nulidade,
ineficácia e inexequibilidade de uma convenção de arbitragem não podem ser discutidas autonomamente
em ação de simples apreciação proposta em tribunal estadual nem em procedimento cautelar instaurado
perante o mesmo tribunal, que tenha como finalidade impedir a constituição ou o funcionamento de um
tribunal arbitral.” O facto de ter sido celebrada uma convenção de arbitragem inibe qualquer uma das
partes nessa convenção de propor num tribunal estadual uma ação ou um processo que tenha apenas
por objetivo declarar nula, inválida, ineficaz ou inexequível aquela convenção de arbitragem. Não se pode
discutir a validade, a eficácia ou exequibilidade da convenção de arbitragem no tribunal estadual. Tem de
ser no âmbito do próprio processo arbitral que o tribunal arbitral vai apreciar a validade da convenção de
arbitragem. O tribunal está inibido de num processo que tenha apenas por objeto apreciar a convenção
de arbitragem de o fazer. Neste nº4 o mesmo vale para um processo cautelar. Às vezes ao abrigo da LAV
anterior acontecia que as partes chegavam a um litígio, desentendiam-se por um contrato qualquer e
havia uma parte que anunciava que ia propor uma ação arbitral. A outra parte, antes sequer da ação ser
proposta ia ao tribunal estadual e pedia uma providencia cautelar para que o tribunal estadual impedisse
a parte contraria de iniciar um processo arbitral. Então o legislador quis impedir que isso possa suceder
com este efeito inibidor. A validade, a eficácia ou a exequibilidade da convenção de arbitragem não pode
constituir objeto em si mesmo, isoladamente de uma ação ou de um processo cautelar num tribunal
estadual.

Dinâmica do processo arbitral

O tribunal arbitral resulta da vontade das partes, são as partes que querem que aquele litígio seja dirimido
por árbitros e a escolha, o critério para a escolha dos árbitros é colocada também na disponibilidade das
partes. O art.º 8 da LAV vem-nos dizer que o tribunal arbitral, diz o seu nº1, pode ser constituído por um
único arbitro ou por vários árbitros, mas sempre em número ímpar. Por um árbitro denomina-se de
tribunal arbitral singular e por vários árbitros denomina-se de tribunal arbitral colegial (ou coletivo), mas
quando composto por vários árbitros a lei exige que seja composto por um número ímpar de árbitros. A
lei tem esta exigência para não haver empates, sendo esse o objetivo do legislador. Às vezes não é possível
porque pode ser constituído por três membros e os três membros votarem três decisões distintas.
Os árbitros, segundo o art.º 9, têm de obedecer a determinados requisitos. O nº1 diz-nos que os árbitros
têm de ser pessoas singulares e plenamente capazes, no seu pleno gozo de exercício. Portanto, só pode
ser nomeado arbitro indivíduos, não podendo ser sociedades, uma associação ou uma entidade. Existe a
capacidade de exercício e a capacidade de gozo ou jurídica, sendo que aqui se refere à capacidade de
exercício, ou seja, têm de ser maiores de idade e não podem estar inibidos da sua capacidade de exercício
(maiores sujeitos a acompanhamento). Não é exigido que o individuo tenha de ser português ou sequer
tenha de falar português. Um segundo requisito encontramos no nº3 que nos diz que os árbitros devem
ser independentes e imparciais, ou seja, os árbitros em relação ao litígio e em relação às partes têm de
estar numa posição de independência e de imparcialidade, independência no sentido que não estão
sujeitos a ordens, instruções ou diretivas pelas partes. Esta ideia de independência e imparcialidade por
parte dos árbitros está também consagrada no art.º 13, nº1, que nos vem dizer que quem for convidado
para exercer as funções de arbitro deve revelar as circunstância que podem suscitar fundadas duvidas
sobre a sua imparcialidade e a sua independência, por exemplo, a pessoa ter trabalhado para uma das
partes anteriormente.

O art.º 8, nº2 e o art.º 10 da LAV responde-nos a como é que os árbitros são designados. O art.º 8 diz-nos
que se as partes não tiverem acordado, na convenção arbitral, no número de membros que compõe o
tribunal arbitral por defeito a lei manda que sejam três. Portanto, há uma liberdade de conformação das
partes quer quanto à concreta constituição do tribunal, art.º 8, nº1, quer quanto à forma de designação
dos árbitros, art.º 10, nº1. No art.º 10 diz-nos que as partes podem na convenção de arbitragem ou em
escrito posterior por elas assinado designar o arbitro ou árbitros que constituem o tribunal arbitral ou
fixam o órgão pelo qual estes são escolhidos, nomeadamente como tendo a designação de todos ou de
alguns dos árbitros. A liberdade das partes é total para colocarem o que entenderem na convenção de
arbitragem. No entanto a lei prevê um regime supletivo, se as partes nada convencionarem o tribunal é
composto por três árbitros (art.º 8, nº2) e no caso de o tribunal ser colegial cada parte deve designar o
mesmo número de árbitros (art.º 10, nº3), sendo que os árbitros designados devem escolher outro arbitro
que atua como presidente do tribunal. No caso dos tribunais colegiais o regime supletivo da lei quanto à
designação dos árbitros é cada parte designa o mesmo número de árbitros, portanto o demandante
designa um arbitro, o demandado designa outro arbitro e os árbitros assim designados juntam-se e
escolham um terceiro que será o presidente do tribunal arbitral. Se o tribunal for composto por 5 o
demandante designa dois árbitros, o demandado designa dois árbitros e estes quatro reúnem-se e
escolham um quinto arbitro para ser o presidente. Este regime é supletivo, ou seja, só se aplica se as
partes não tenham regulado esta matéria na sua convenção de arbitragem. Um problema que pode surgir
é que a parte que prepõe a ação pode estar com pressa de a resolver e escolhe logo o seu arbitro, mas se
a outra parte não tiver esse interesse pode arrastar essa escolha, como forma de empatar a andamento
de arbitragem. Então aqui a lei estabelece um mecanismo para superar uma decisão dessas. O art.º 10,
nº4 vem dizer que se no prazo de 30 dias a contar do pedido que a outra parte lhe faça nesse sentido, a
parte não designar o arbitro ou árbitros que lhe cabe designar ou então os árbitros não chegarem a acordo
à cerca do presidente, então a designação do árbitro ou árbitros em falta é feita a pedido de qualquer das
partes pelo tribunal estadual competente. Quem é este tribunal estadual competente? Art.º 59, nº3 da
LAV. O art.º 59, nº1, alínea a diz-nos que os tribunais estaduais são competentes para a nomeação de
árbitros que não tenham sido nomeados pelas partes ou por terceiros a que aquelas hajam cometido esse
encargo, de acordo com o previsto nos números 3, 4 e 5 do artigo 10.º e no n.º 1 do artigo 11.º. E o art.º
59, nº3 completa dizendo que a nomeação de árbitros referida na alínea a do n.º 1 do presente artigo
cabe, consoante a natureza do litígio, ao presidente do Tribunal da Relação ou ao presidente do tribunal
central administrativo que for territorialmente competente. Não basta nomear um arbitro, é preciso que
o arbitro aceite o encargo da nomeação. O art.º 12, nº1 da LAV diz que ninguém pode ser obrigado a atuar
como árbitro; mas se o encargo tiver sido aceite, só é legítima a escusa fundada em causa superveniente
que impossibilite o designado de exercer tal função ou na não conclusão do acordo a que se refere o n.º
1 do art.º 17.
Pode suceder, segundo o art.º 15, a incapacidade de um arbitro que pode leva à sua suspensão. O art.º
15, nº1 diz-nos que cessam as funções do árbitro que fique incapacitado, de direito ou de facto, para
exercê-las, se o mesmo a elas renunciar ou as partes de comum acordo lhes puserem termo com esse
fundamento. Exemplo: Está em coma por um acidente de automóvel ou então está no hospital vítima de
um ataque cardíaco.
Quando o arbitro que recusar ou o arbitro que fica incapacitado tem de ser substituído diz o art.º 16 da
LAV que segue as mesmas regras que estavam previstas para a nomeação do arbitro substituído.

Uma segunda característica da tramitação dos processos arbitrais tem a ver com um princípio do
competence competence. Isto é uma expressão muito utilizada no direito europeu, mas com motivos
completamente diferente. No contexto do direito à arbitragem isto quer dizer que o tribunal arbitral tem
a competência das competências, ou seja, tem a competência para decidir se ele é competente para
conhecer o litígio. A 1º etapa de uma arbitragem é o tribunal decidir se este litígio está abrangido pela
convenção de arbitragem porque o tribunal só pode dirimir, só pode julgar aquele processo se o litígio
estiver abrangido pela convenção de arbitragem. Este princípio encontra-se consagrado entre nós no art.º
18, nº1 da LAV quando diz que o tribunal arbitral pode decidir sobre a sua própria competência mesmo
que para esse fim seja necessário apreciar a existência, a ineficácia e a validade da convenção arbitraria.
Quanto à tramitação do processo arbitral vigora também entre nós a regra da liberdade da conformação
das partes, as partes têm a liberdade para conformar as regras relativas à conformação do processo
arbitral. No art.º 30, nº2 diz-nos que as partes podem, até à aceitação do primeiro árbitro, acordar sobre
as regras do processo a observar na arbitragem, com respeito pelos princípios fundamentais consignados
no número anterior do presente artigo e pelas demais normas imperativas constantes desta lei. Se as
partes nada tiverem convencionado, diz o nº3 que o tribunal arbitral pode conduzir a arbitragem do modo
que considerar apropriado, definindo as regras processuais que entender adequadas, devendo, se for esse
o caso, explicitar que considera subsidiariamente aplicável o disposto na lei que rege o processo perante
o tribunal estadual competente. Há uma ressalva importante, quer ao poder das partes para regularem
ou fixarem as regras da arbitragem quer para o próprio poder das partes que é a observância dos
princípios fundamentais que estão previstos no nº1 desse artigo 30.º. Esses princípios são três:

• Princípio da proibição da indefesa


• Princípio da igualdade
• Princípio do contraditório

O princípio da proibição da indefesa está consagrado na alínea a quando diz que o demandado é sempre
citado para se defender. Não pode um processo arbitral prosseguir sem ter sido dada a oportunidade da
pessoa contra quem o processo foi proposto se vir defender, dar a sua própria posição. O processo não
tem de estar parado a aguardar que ela se venha defender.

O princípio da igualdade está consagrado na alínea b quando diz que as partes são tratadas com igualdade.
As partes devem ter todas os mesmos direitos, os mesmos deveres, as mesmas obrigações processuais e
os mesmos órgãos processuais na arbitragem. Tem de haver um tratamento igualitário, não pode uma
parte ser tratada diferente da outra.

O princípio do contraditório está previsto na segunda metade da alínea b e na alínea c quando diz que em
todas as fases do processo é garantida a observância do princípio do contraditório, salvas as exceções
previstas na presente lei. O tribunal não pode decidir o que lhe apetecer sem ouvir as partes, é sempre
assegurada a oportunidade de se prenunciar, do contraditório, embora se admita que pode haver
exceções. Na segunda metade da alínea b reconhece-se uma reserva mínima para o princípio do
contraditório que tem sempre que existir que é deve ser dada às partes uma oportunidade razoável de
fazerem valer os seus direitos escrito ou oralmente antes de ser proferida a decisão final.
O art.º 31 da LAV vem dizer que tem de existir um lugar da arbitragem, sendo que as partes o podem fixar
livremente. Na falta de acordo das partes este lugar é fixado pelo tribunal arbitral. Uma das razoes pelas
quais a arbitragem tem de ter um lugar é para saber qual tribunal estadual competente para intervir nas
questões que possam suscitar na arbitragem.

Uma outra característica que torna a arbitragem muito apetecível aos litígios internacionais é a do idioma
utilizado na arbitragem, ou seja, a língua do processo. O art.º 32 da LAV diz-nos que as partes podem por
acordo escolher livremente a língua ou línguas a utilizar no processo arbitral. Na falta desse acordo, o
tribunal arbitral determina a língua ou línguas a utilizar no processo. As partes escolhem, têm essa
liberdade. O art.º 34 da LAV diz-nos que salvo convenção das partes em contrário, o tribunal decide se
serão realizadas audiências para a produção de prova ou se o processo é apenas conduzido com base em
documentos e outros elementos de prova. O tribunal deve, porém, realizar uma ou mais audiências para
a produção de prova sempre que uma das partes o requeira, a menos que as partes hajam previamente
prescindido delas. Pode ser necessário ouvir uma testemunha, cujo depoimento não é fundamental e a
testemunha não apareça voluntariamente. O tribunal fica manietado de dirimir o litígio. Para colmatar
estas situações o art.º 38 prevê um mecanismo de colaboração entre o tribunal estadual e o tribunal
arbitral no que diz respeito à produção da prova. O art.º 38 diz-nos que quando a prova a produzir
dependa da vontade de uma das partes ou de terceiros e estes recusem a sua colaboração, uma parte,
com a prévia autorização do tribunal arbitral, pode solicitar ao tribunal estadual competente que a prova
seja produzida perante ele, sendo os seus resultados remetidos ao tribunal arbitral. Portanto, uma das
partes no processo arbitral pode pedir ao tribunal arbitral para autorizar ir ao tribunal estadual solicitar a
sua colaboração para obter os meios de prova usando-se do ius imperium que o tribunal estadual está
autorizado a usar sendo o resultado transmitido ao tribunal estadual. O art.º 38 vem regular a necessidade
da colaboração da parte de tribunais estaduais para a produção de prova. Pode-se colmatar a deficiência
que resulta da falta de poderes de autoridade pública que afeta o tribunal arbitral solicitando a
colaboração de um tribunal estadual investido de poderes de autoridade pública.

Decorrida a tramitação pelas regras que nós já vimos o processo arbitral concluiu pela sentença arbitral e
a esse respeito temos de ter presente o disposto no art.º 43 que nos diz que salvo se as partes até à
aceitação do primeiro arbitro, tiverem acordado prazo diferente, os árbitros devem notificar às partes a
sentença final proferida sobre o litígio que por elas lhes foi submetido dentro do prazo de 12 meses a
contar da data de aceitação do último árbitro. Ou seja, as partes têm a liberdade para estipular o prazo
de duração de arbitragem, o prazo dentro do qual os árbitros devem decidir o litígio. Uma das vantagens
tradicionalmente à arbitragem é a sua celeridade, é mais célere na decisão dos litígios do que um tribunal
estadual. A lei, no entanto, diz-nos que se não o fizerem supletivamente o prazo é de 12 meses a contar
da aceitação do último arbitro. O nº2 acrescenta que é livremente prorrogado, ou seja, o tribunal arbitral
pode prorrogar este prazo, as partes também o podem fazer uma ou mais vezes se for devidamente
fundamentado, porem, as partes podem por acordo opor-se à prorrogação.

O art.º 39, nº1 vem-nos dizer qual é o critério que os árbitros do tribunal arbitral podem seguir para dirimir
um litígio. Os árbitros julgam segundo o direito constituído, a menos que as partes determinem, por
acordo, que julguem segundo a equidade. A particularidade da arbitragem é a última parte deste artigo.
Isto não é possível no tribunal estadual, o tribunal estadual não pode decidir por critérios de equidade.

Se o tribunal for colegial, coletivo, coloca-se a questão de saber como é que o tribunal delibera. A logica
será a regra da maioria, que está consagrada no art.º 40, nº1, que nos diz que num processo arbitral com
mais de um árbitro, qualquer decisão do tribunal arbitral é tomada pela maioria dos seus membros. Se
não puder formar-se maioria, a sentença é proferida pelo presidente do tribunal. A maioria absoluta é
mais de metade, ou seja, se o tribunal arbitral for constituído por três membros é necessário que dois
votem a favor da decisão. Se não se formar maior a decisão é tomada singularmente pelo presidente do
tribunal arbitral, tem a plenitude dos poderes jurisdicionais do tribunal. Num tribunal arbitral de
composição ímpar continua a ser possível não se formar maioria porque pode haver a situação rara de
um arbitro não comparecer e o que era ímpar transforma-se em par ou então quando há sentidos de
votos distintos, como por exemplo, uns dar total razão ao demandado, outros total razão ao demandante
e outros estar numa posição intermedia dando um pouco de razão aos dois. Nestes casos é o presidente
sozinho, individualmente, a decidir, ainda que a posição dele tenha sido a menos votada. No entanto, a
sentença arbitral seja o modo desejável de se por termo ao processo, onde o tribunal dirime o litígio
dando razão a uma ou a outra parte, nem sempre os processos arbitrais terminam com uma sentença
arbitral, às vezes os processos arbitrais terminam sem que o tribunal arbitral tenha dirimido o litígio. Isso
está previsto no art.º 44, nº2 que nos diz que o tribunal arbitral ordena o encerramento do processo
arbitral quando:
a) O demandante desista do seu pedido, a menos que o demandado a tal se oponha e o tribunal arbitral
reconheça que este tem um interesse legítimo em que o litígio seja definitivamente resolvido
b) As partes concordem em encerrar o processo
c) O tribunal arbitral verifique que a prossecução do processo se tornou, por qualquer outra razão, inútil
ou impossível- chama-se a isto a inutilidade superveniente ou a impossibilidade superveniente.

Proferida a decisão arbitral coloca-se a questão de saber se há meios de reação a essa decisão. Isto é outra
vantagem da arbitragem porque os meios de reação às decisões arbitrais são muito limitados. Isto são
chamados os meios de impugnação de uma decisão. O ordenamento jurídico reconhece dois meios de
impugnação de decisões arbitrais:

• Os recursos
• Os pedidos de anulação

O recurso tem um âmbito mais basto, através do recurso eu coloco em causa a decisão e pretendo que o
tribunal do recurso, o tribunal a quem dirijo a impugnação, reaprecie a questão que foi decidida pelo
tribunal recorrido. Isto permite ao tribunal de recurso reapreciar a decisão do tribunal recorrido. O
recurso de sentenças arbitrais é só em determinadas circunstâncias. A recorribilidade está consagrada no
art.º 39, nº4 que nos diz que a sentença que se pronuncie sobre o fundo da causa ou que, sem conhecer
deste, ponha termo ao processo arbitral, só é suscetível de recurso para o tribunal estadual competente
no caso de as partes terem expressamente previsto tal possibilidade na convenção de arbitragem e desde
que a causa não haja sido decidida segundo a equidade ou mediante composição amigável.
Regra geral, as sentenças dos tribunais arbitrais são irrecorríveis, ou seja, não se pode interpor recurso de
uma sentença arbitral, mas esta regra comporta uma exceção. A recorribilidade pode existir se as partes
tiverem expressamente convencionado na convenção de arbitragem. Porém, mesmo que as partes
tenham convencionado a recorribilidade da sentença arbitral, a lei proíbe um recurso se a decisão tiver
sido proferida por critérios de equidade ou se tiver resultado de composição amigável, ou seja, ser
resultado de um acordo celebrado entre as partes.
Nos casos em que haja recurso o recurso interpõem-se para o tribunal estadual competente, ou seja,
aquele que cujo distrito se situe o lugar de arbitragem.

O pedido de anulação tem um alcance muito mais estrito. Consiste em dirigir a um tribunal superior um
pedido de anulação da decisão arbitral. O tribunal limita-se a anular a decisão, mas não se substituiu ao
tribunal arbitral, a questão volta ao tribunal arbitral para este reapreciar o que tem de ser reapreciado.
Pedir a anulação de uma decisão é sempre possível. O pedido de anulação de uma decisão está previsto
no art.º 46. O art.º 46, nº1 diz-nos que salvo se as partes tiverem acordado em sentido diferente, ao abrigo
do n.º 4 do artigo 39.º, a impugnação de uma sentença arbitral perante um tribunal estadual só pode
revestir a forma de pedido de anulação, nos termos do disposto no presente artigo, ou seja, a impugnação
da decisão, a menos que seja a título de recurso, por convenção das partes, a sentença arbitral tem de ser
por anulação. O pedido de a anulação consiste então numa pretensão de que a sentença arbitral seja
anulada com fundamento de vícios dessa sentença ou da própria tramitação do processo arbitral, vícios
formais que não tem nada a ver com o conteúdo da decisão, nem com o modo como o tribunal dirimiu o
litígio. Tem a ver com irregularidades formais que acorreram no decurso da tramitação do processo
arbitral ou da própria sentença arbitral. Se a decisão admitir recurso essas questões que poderiam levar
ao pedido de anulação são tratadas no recurso, ou seja, não pode haver ao mesmo tempo um pedido de
anulação e um recurso. Havendo a admissibilidade do recuso todas as questões relativas à decisão arbitral
são apreciadas no âmbito do recurso. Se não tiver sido convencionada a possibilidade de recurso então
as questões de irregularidade, os vícios da sentença arbitral são decididos no âmbito do pedido de
anulação. O pedido de anulação pode ter fundamentos que estão previstos no art.º 46, nº3.

O art.º 46, nº 10 é a repristinação da convenção de arbitragem. Se o pedido de anulação for precedente


o tribunal da relação julga anulando a sentença arbitral, mas não se substituiu ao tribunal arbitral na
decisão do litígio. Acontece então que salvo se as partes tiverem acordado de forma diferente uma
anulação da sentença, a convenção de arbitragem volta a produzir efeitos relativamente ao objeto do
litígio. A sentença arbitral é anulada e tem de ser proposta uma nova arbitragem relativamente ao objeto
desse litígio.

Proferida a sentença arbitral coloca-se o problema do que nela se tiver determinado ser cumprido. O
tribunal arbitral não tem poderes de autoridade pública, não pode executar as suas próprias decisões. É
um tribunal ad hoc que se extingue quando a decisão foi proferida, o tribunal acaba, foi constituído para
dirimir aquele litígio apenas. No domínio da arbitragem, o art.º 47, nº 1 diz que existe uma reserva
absoluta de competência dos tribunais estaduais para executarem as sentenças arbitrais. As sentenças
arbitrais apenas podem ser executadas coercivamente contra a parte que a incumpre através de um
tribunal estadual, uma ação executiva proposta num tribunal estadual. Para sabermos qual é o tribunal
estadual competente temos de ir ver o art.º 59, nº 9 que nos diz que a execução da sentença arbitral
proferida em Portugal corre no tribunal estadual de 1.ª instância competente, nos termos da lei de
processo aplicável. Portanto, a sentença arbitral é executada mediante ação executiva proposta num
tribunal estadual de 1º instância, da comarca. O código do processo civil diz-nos no art.º 705, nº2 que as
decisões proferidas pelo tribunal arbitral são exequíveis nos mesmos termos em que o são as decisões
dos tribunais comuns, que são os tribunais estaduais. A decisão de um tribunal arbitral tem a mesma força
jurídica, executiva, que uma decisão de um tribunal estadual.

A arbitragem internacional

A LAV está essencialmente pensada para arbitragens no contexto nacional, portanto, litígios que tem a
ver com o ordenamento jurídico português e, portanto, que estão sediadas em Portugal. Mas a arbitragem
resolve litígios de natureza transfronteiriça e a LAV reconhece também valor jurídico a arbitragens que se
realizem fora do território nacional, chamadas arbitragens internacionais. O nosso ordenamento jurídico
é muito recetivo à arbitragem internacional. As sentenças arbitrais estrangeiras são reconhecidas entre
nós nos termos do art.º 55 que nos diz que sem prejuízo do que é imperativamente preceituado pela
Convenção de Nova Iorque de 1958, sobre o reconhecimento e a execução de sentenças arbitrais
estrangeiras, bem como por outros tratados ou convenções que vinculem o Estado português, as
sentenças proferidas em arbitragens localizadas no estrangeiro só têm eficácia em Portugal, seja qual for
a nacionalidade das partes, se forem reconhecidas pelo tribunal estadual português competente, nos
termos do disposto no presente capítulo desta lei. Portanto, uma sentença arbitral proferida no
estrangeiro é valida e exequível em Portugal desde que seja reconhecida por um tribunal estadual
português. Chama-se a isso exequátur, o processo através do qual nós vamos obter a revisão e a
confirmação de uma sentença arbitral estrangeira para que ela possa valer cá em Portugal como uma
sentença arbitral proferida por um tribunal arbitral localizado em Portugal. O tribunal estadual não vai
reapreciar o litígio, vai apreciar apenas requisitos formais, se respeitou os nossos princípios fundamentais,
as regras do ordenamento jurídico português, etc. A sentença arbitral proferida num país estrangeiro tem
o mesmo valor em Portugal que uma sentença proferida por um tribunal arbitral sediado em Portugal. O
tribunal competente para fazer este reconhecimento diz-nos no art.º 59, nº1, alínea h, ou seja, o tribunal
da relação. Mas qual dos tribunais da relação? O tribunal da relação correspondente ao domicílio da
pessoa contra quem se pretende fazer valer a sentença arbitral.
Porém há uma exceção no art.º 55 que nos diz que sem prejuízo do que é imperativamente preceituado
pela Convenção de Nova Iorque de 1958. Ou seja, há aqui uma convenção celebrada pelo estado
português e outros estados que impõe o reconhecimento automático de sentenças arbitrais entre os
estados que aderiram a essa convenção. Aderiram a essa convenção Portugal, a maior parte dos países
pertencentes à União Europeia e estados como por exemplo os Estados Unidos da América. Estes estados
não precisam de exequátur, de revisão nem confirmação.

A arbitragem institucionalizada

A lei permite no art.º 62 da LAV a existência dos chamados centros de arbitragem institucionalizada que
no fundo correspondem a tribunais arbitrais de existência permanente. O art.º 62 diz-nos que a criação
em Portugal de centros de arbitragem institucionalizada está sujeita a autorização do Ministro da Justiça,
nos termos do disposto em legislação especial. Estes tribunais existem em permanência para dirimir os
litígios das pessoas que aderiram a esses tribunais arbitrais. Ou seja, tem a vantagem de já ter tudo
nomeado, tudo a funcionar e, portanto, propor lá o litígio e ser muito mais rápido esse processo. É preciso
que as partes ambas adiram e concordem com este tribunal. Isto hoje é muito frequente em pequenos
litígios de consumo porque não se justifica estar a nomear os árbitros, têm de ser pagos, etc.

A arbitragem voluntaria e a arbitragem necessária

Até agora estivemos a falar na arbitragem voluntaria (LAV- lei da arbitragem voluntaria), ou seja, é a
vontade das partes que determina que aquele litígio vai ser dirimido por árbitros. A lei, no entanto, prevê
uma outra modalidade de arbitragem que é a arbitragem necessária. A arbitragem necessária não decorre
da vontade das partes, é imposta pelo legislador. As partes não manifestaram vontade e muitas vezes
nem querem que o seu litígio seja dirimido por árbitros, mas o legislador impõe que aquele tipo de litígios
seja dirimido por árbitros. É necessariamente imposta pelo legislador. Têm-se discutido muito na doutrina
se em termos constitucionais é admissível a arbitragem necessária. Se o legislador pode impedir contra a
própria vontade das partes de se dirigir a um tribunal estadual para dirimirem os seus litígios e obrigá-las
a socorrerem-se do tribunal arbitral. O professor Pedro Pinto diz que isto é inconstitucional, mas a
jurisprudência do tribunal constitucional admite a arbitragem necessária, no entanto, com uma ressalva
que é que dessa decisão há sempre recurso para um tribunal estadual e que esse recurso permite ao
tribunal do estado reapreciar o litígio. É hoje aceite que exista a arbitragem necessária, mas não pode
proibir as partes de depois irem ao tribunal estadual, só que não podem ir lá diretamente. A arbitragem
necessária não está regulada na LAV, está regulado no art.º 1136 e seguintes do código do processo civil.
O art.º 1136 diz-nos que se o julgamento arbitral for prescrito por lei especial, atende-se ao que nesta
estiver determinado, na falta de determinação, observa-se o disposto nos artigos seguintes. O art.º 1139
acaba por ser mais importante que nos diz que em tudo o que não vai especialmente regulado observa-
se, na parte aplicável, o disposto na Lei da Arbitragem Voluntária. Ou seja, a arbitragem necessária acaba
também por ser regulada pela LAV não diretamente, mas por via indireta, por remissão deste artigo, que
manda aplicar às arbitragens necessárias as disposições da lei da arbitragem voluntaria.

8/10/2021

Evolução histórica do direito processual civil

Podemos dividir a história do direito processual civil português em três grandes períodos:

1. O período das ordenações- afonsinas, manuelinas e filipinas


2. O período das reformas do liberalismo
3. O período da codificação

Þ Período das ordenações

Este é o 1º período da evolução histórica do direito processual civil, não há verdadeiramente uma data
inicial, mas podemos dizer que é o período que se inicia com a independência nacional, quando o país
começa a ter as suas próprias instituições políticas e judiciarias. Portanto, este período das ordenações
refere-se àqueles compêndios legislativos que estudamos em história do direito e que corresponde
àqueles três grandes textos que são as ordenações afonsinas de 1436, as ordenações manuelinas de 1514
e as ordenações filipinas. Estas ordenações eram compêndios de artigos que tratavam todas as matérias,
mas que não eram códigos no sentido moderno, atual. Lá no meio também tratam o que chamamos hoje
de processo civil, mas sem grande rigor científico. Este período das ordenações caracteriza-se desde logo
e em primeiro lugar uma forte influência do direito canónico. O direito canónico é o direito da igreja,
católico e antes mesmo de haver estado português já a igreja católica tinha os seus próprios tribunais
eclesiásticos. Essa bagagem histórica que a igreja trazia, que o direito canónico já tinha influenciou muito
a formação do direito processual civil português, ou seja, o direito processual português inspirou-se
bastante no direito canónico.
Uma característica deste período histórico é a grande influencia do direito canónico.
Uma outra característica desde período é a extrema rigidez processual, as normas processuais eram
rígidas, eram pouco flexíveis. Era o que estava na norma e não havia espaço de manobra para o mudar. E
isto traduzia-se num excesso de formalismo no processo civil. Era preciso cumprir todos os formalismos
previstos na lei sob pena de se não se fizesse a ação puder fracassar só por questões formais.
Isto refletia noutra característica que é a chamada regra da prova tarifada, ou seja, para provar
determinados factos era necessário que fossem produzidos meios de prova previstos, exigidos pela lei. O
nosso ordenamento atual tem a regra da prova livre, ou seja, o tribunal aprecia livremente a prova. Neste
período histórico era o oposto, a força probatória era a que estava prevista na lei. Se nos queríamos de
provar um facto em tribunal tínhamos de produzir os meios de prova que a lei exigia.
Uma outra característica deste período é a dispersão da legislação, que não é especifica deste ramo do
direito. As modificações aos compêndios, que não podiam vigorar 100 anos, faziam-se por diplomas
avulso e o que acontecia é que havia uma acumulação de diplomas avulsos que tratavam de matéria de
direito processual que obrigava as pessoas a estar inteirados de um conjunto muito diversificado de
legislação e muitas vezes que eram contraditórios entre si, criando muita incerteza, duvidas sobre a
aplicação da lei processual civil portuguesa.
Alem da dispersão da legislação havia também um excesso de ações especiais. Hoje em dia entre nós
vigora a regra do processo comum, ou seja, há uma única forma processual para tratar de todas ou quase
todas as pretensões que alguém deduza em juízo. Neste período histórico não existia uma forma de
processo comum e, portanto, para cada tipo de pretensão existia uma forma processual especial. Cada
ação tinha as suas próprias regras, a sua própria tramitação. Se não existisse na lei uma forma processual
especifica para a tutela desse direito eu não podia dirigir-me ao tribunal. Não havia uma rede de tribunais
iguais para todos, havia aquilo que se chama os fóruns especiais, ou seja, para certas categorias de pessoas
havia tribunais específicos dependendo da sua classe social e estatuto. Alem disso a própria estrutura
hierárquica dos tribunais não era muito clara, não havia uma hierarquia facilmente identificável, não havia
um tribunal superior único para todo o país. Na região norte o último tribunal de recurso era a casa da
relação no Porto (na cordoaria), mas se fosse no Sul era a casa da suplicação em Lisboa.
Havia uma outra característica que era que neste período histórico era muito frequente a privatização da
justiça. Portanto, o estado conceder poderes jurisdicionais a privados numa espécie de feudalismo
híbrido. Muito frequentemente, a coroa, o rei concedia a determinados indivíduos o direito de numa
localidade exercerem eles a justiça ou então nomearem alguém para o fazer. Esta privatização da justiça
durou até ao final do séc. XVIII
Finalmente uma última característica deste período histórico é o papel preponderante da coroa como
vértice do sistema judicial. Havia sempre uma via de acesso ao rei por mais não seja por petição da
sentença judiciaria e o rei muitas vezes decidia os recursos não por critérios jurídicos, mas por critérios
de equidade. O rei tinha sempre a última palavra. Não havia a separação dos poderes, portanto, o rei
tanto era governante como era legislador, como exercia o poder jurisdicionario. O rei ainda era quem
escolhia os magistrados do país.

Þ Período das reformas do liberalismo

Este período surge com um elemento, uma circunstância da nossa história jurídica, que marca uma rutura
no início do séc. XIX, que é a introdução do constitucionalismo e tudo o que ele trouxe, desde logo a ideia
da separação dos poderes. Com a introdução do constitucionalismo houve a necessidade de adaptar o
direito processual civil e a organização judiciaria às regras constitucionais. Isso foi feito através de um
conjunto de diplomas chamados reformas judiciarias de 1838, depois 4 anos mais tarde reviu a reforma e
chamou-lhe a nova reforma judiciaria e 5 anos a seguir voltou a rever e chamou a novíssima reforma
judiciaria. Portanto, estes diplomas vieram tentar reformar o direito processual e isso não foram bem-
sucedidos, mas reformaram também a organização judiciaria, onde já foram bem-sucedidos porque a
organização judiciaria que foi estabelecida em 1832 é sensivelmente a mesma que vigora atualmente.
Isso fez-se através de três grandes medidas:

• A regra do fórum único, ou seja, acabar com os fóruns especiais


• A criação de uma estrutura judicial vertical que é exatamente aquela que ainda hoje vigora. No
vértice tem o supremo tribunal de justiça, que ainda hoje é o tribunal superior dos tribunais
comuns. A meio, a nível intermedio tem os tribunais de segunda estância que na altura eram e
ainda hoje são as relações e que na base tinha os tribunais de primeira estância que na altura
eram e ainda hoje são os tribunais de comarca. Com esta legislação forma criadas novas
comarcas pelo país que se mantiveram em vigor até há seis anos atras.
• A eliminação da coroa, do rei, como um ator judicial. O rei deixou de ter poderes jurisdicionais.
Ainda era ele que escolhia os magistrados, mas era uma medida apenas formal.

14/10/2021

(Nota: aula de dia 22 de Outubro não vai ser lecionada).

Þ Período da codificação

Surge quando é adotado pela primeira vez entre nós um código de processo civil. Uma das inovações que
o liberalismo trouxe foi a importação francesa de códigos do modelo francês, mas isso não ocorreu logo
no processo civil. O liberalismo introduziu logo um código civil, um código administrativo, um código
penal, mas não um código de processo civil, aí o processo civil continuou a reger-se por legislação avulsa
e sem ter um diploma próprio – esta situação veio a inverter-se com a aprovação do primeiro código de
processo civil, o primeiro diploma pensado de forma sistemática e coerente com linha dogmática própria
para o processo civil – código que se caracteriza pelo exagero do domínio do processo pela partes – o
tribunal tinha uma postura praticamente passiva neste código. Havia também um excessivo formalismo
na tramitação processual, uma tramitação pouco adaptada as situações do caso concreto. Houve a
consagração de um processo iminentemente escrito, por contrate com o atual processo oral e a mediação
– o processo era conduzido por escrito. A própria produção de prova testemunhal podia-se fazer dispersa
no tempo, isto é, não havia um só momento em que se concentrava a produção da prova – a produção
da prova podia ser e era muitas das vezes produzida em escrito. Fazia-se a distinção na lei entre o processo
civil e o processo comercial, porque havia um código de processo civil e um código de processo comercial
– no plano substantivo há, ainda hoje em dia uma diferença muito grande entre aquilo que eram as
relações civis e as relações comerciais: quando se tratava de litígios de natureza comercial aplicava-se o
código de processo comercial e os litígios puramente civis aplicava-se o código de processos civil.
Este código de 1916 veio a ser substituído por um novo código em 1939 por causa do Estado Novo – o
estado novo começa em 1926, mas adota a sua constituição em 1933, com um modelo de sociedade
diferente daquele que vigora antes. O estado novo inverte a tendência liberal criando um estado que é
mais autoritário e que é antiliberal, isto reflete-se em vários diplomas e vária legislação, nomeadamente,
na criação de um novo código de processo civil.
Na adoção do novo código tem um papel determinante o professor José Alberto dos Reis, que ainda hoje
é considerado o pai do processo civil em Portugal. O Novo Código introduz uma rotura radical com o
anterior modelo:

• abole o domínio do processo com as partes e introduz poderes de direção e condução do


processo ao tribunal
• introduz o princípio do inquisitório (o tribunal não está dependente das partes na realização de
meios probatórios), que permite ao tribunal desencadear os meios de prova que considere
necessário mesmo que as partes não tenham pedido ou não as queiram realizar – no código de
processo civil anterior os meios probatórios eram os que as partes requeressem
• introduziu oralidade a imediação, ou seja, a ideia de que o processo deve ser sobretudo oral e
deve ser imediato/perante o próprio tribunal – toda a prova e toda a discussão da causa deve
esta concentrada num mesmo momento penal. Para compensar esta ideia da oralidade e da
imediação (não havia atas (escritos) do que as testemunhas diziam) introduziu-se o tribunal
coletivo (tribunal composto por 3 pessoas), mas a pratica depois veio dizer que não serviu de
muito porque o único juiz que estava atento era o juiz presidente, ou seja, aquele que tinha de
proferir a sentença
• introduziu 2 figuras que ainda hoje existem: saneamento e condensação que servem um
propósito de organizar o processo. O saneamento permitia ao tribunal expulsar do processo
aquilo que não interessava ou encerrar logo o processo se houvesse uma irregularidade
processual que não pudesse ser sanada. A condensação permitia ao tribunal definir aquilo que
interessa para o processo. O Código de 1939 introduziu ainda o princípio da livre apreciação da
prova como princípio regra do direito civil – substituiu a prova tarifada por uma prova livre, ou
seja, o tribunal não está vinculado a normas, aprecia livremente as provas.

O Código de processo civil de 1939 foi substituído pelo Código de processo civil de 1961, que é uma mera
reprodução do código de 1939 com algumas adaptações, mas sem grandes roturas. Este código foi revisto
várias vezes, sendo que a primeira grande revisão foi em 1967 pela entrada em vigor do atual código civil.
Foi novamente objeto de uma grande reforma em 1977 e em 1978, motivado pela necessidade de adaptar
o processo civil a uma nova realidade – a Constituição de 1976. Houve uma nova reforma em 1985 e
seguiu-se a esta a grande reforma do CPC em 1995 e em 1996. Depois houve um grande conjunto de
reformas mais parcelares. Depois temos em 2013 a revogação do CPC anterior e a aprovação de um novo
Código, que aconteceu devido ao facto de as pessoas que estavam a fazer uma nova grande reforma
acabaram por ser levadas pela vaidade e fizeram um código novo, havendo até reproduções
desatualizadas – por isso muitas vezes se discute se na substância estamos verdadeiramente perante um
novo código. Algumas alterações foram:

• abolição definitiva do tribunal coletivo no processo civil


• abolição das formas de processo sumária e sumaríssima.

Além disso, há alguns outros diplomas que temos de ter presentes nesta evolução mais recente como o
Regime de Ação Declarativa Especial e Procedimento de injunção, Lei dos julgados de paz (lei 78/2001).
A evolução mais recente do processo civil tem sido orientada por uma tendência cada vez maior de
flexibilização.

Interpretação e aplicação da lei processual civil

As regras de interpretação normativa estão no artigo 8º e 9º do CC. há algumas especificidades:

• Princípio do non liqued (artigo 8º, nº1 CC): o tribunal não pode dizer que a norma é muito difícil
de aplicar por isso não decide – o tribunal não pode abster-se de julgar uma causa devido á difícil
aplicação das normas ou devido á difícil interpretação do caso.

No processo civil há duas grandes dimensões de julgamento: matéria de direito e matéria de facto – dos
da matéria de facto o tribunal vai aplicar os factos. Se o tribunal está em dúvida em relação à matéria de
direito, o tribunal tem de aplicar as normas de interpretação normativa dos artigos 8º e 9º CC.
Se a dúvida que assiste ao tribunal é quanto á matéria de facto aplica-se o artigo 414º CPC – na dúvida
resolve-se contra a parte a quem o facto aproveitaria.
Uma outra norma importante nesta questão está no artigo 8º, nº3 CC – o tribunal, ao interpretar normas
jurídicas deve guiar-se pelo objetivo de aplicar normas jurídicas ao direito. Este princípio está consagrado
como uma orientação, pois não há entre nós uma obrigação de os tribunais seguirem uma interpretação
dade por outros tribunais mesmo quando seja de um tribunal superior, a única vinculação do tribunal é
no âmbito de um recurso, mas só e apenas no processo que foi alvo de recurso – precedente judiciário do
regime stare decisis, que não existe entre nós.
O instituto dos assentos desapareceu porque foram julgados inconstitucionais e foram substituídos pelos
acórdãos de uniformização de jurisprudência tirados pelo supremo tribunal de justiça. Mesmo os
acórdãos de uniformização de jurisprudência não são obrigatórios, pois os juízes dos tribunais inferiores
podem fazer outra interpretação diferente daquela que foi fixada.
Na interpretação do processo civil coloca-se em causa a aplicação do princípio pro actione (artigo 7º do
CPTA) – em caso de dúvida na interpretação de uma norma processual, deve-se interpretar essa norma
processual com o sentido que favoreça uma decisão de mérito, por isso deve-se evitar interpretar as
normas processuais com um sentido formalista que impeça o tribunal de dirimir o litígio. Na dúvida,
perante uma interpretação que tempo resultado não se dirimir a causa, deve prevalecer sempre a
interpretação que conduza a uma decisão de mérito. A doutrina tem vindo a considerar que esta se trata
de uma norma que tem valor de princípio de direito processual.

Integração de lacunas na lei processual civil


• (artigo 10º, nº 3 CC) se não houver caso análogo que possa ser aplicado para regular aquela
lacuna, dá-se ao intérprete o poder de adotar uma norma para regular a lacuna dentro do espírito
do sistema – é uma norma ad-hoc. Há apenas uma particularidade, o artigo 547º CPC- o juiz deve
adaptar a tramitação da causa às suas realidades. Adapta-se a tramitação processual que está na
lei às realidades do caso concreto.

Aplicação da lei processual civil no tempo

Primeiro aplicam-se as normas de sucessão de leis que estão no artigo 12º CC:

1. Aplicação de normas de direito transitório (ex.: artigo 5º, 6º e 7º da lei que aprovou o CPC)
2. Regras do artigo 12º CC (a lei nova aplica-se aos processos pendentes na data da sua entrada em
vigor) e a regra do artigo 297ºCC (prevê a situação em que a lei nova estende um prazo -nº2, e a
situação em que a lei nova encurta um prazo - nº1).
3. Princípio do tempus actum regit (artigo 136º, nº1 CPC) – a forma que o ato deve obedecer é sempre
regulada pela lei em vigor na prática do ato, sendo irrelevante a lei futura.
4. Princípio da estabilidade da forma do processo (artigo 136º, nº2 CPC) – a forma do processo é a forma
da ação. A forma de processo que se aplica a uma determinada causa regula-se pela lei processual
em vigor na data em que esse processo foi instaurado.
5. Princípio prepetuatio jurisdictiones (artigo 38º da Lei de Organização do sistema judiciário - LOSJ). É
a lei que está vigente no momento da propositura da ação que determina o tribunal competente para
o julgar, sendo irrelevantes as modificações de direito. Há, porém, 2 exceções, que estão previstos
na parte final do nº2 do artigo 38º da LOSJ. Se a lei nova vier a suprimir um tribunal, então a
competência tem de ser regulada pela lei nova e quando o tribunal que não era competente no
momento em que a causa lhe foi proposta passar a ser competente para o conhecimento da causa –
é possível que uma ação seja desencadeada num tribunal que não tem competência para conhecer
da causa.

O primeiro requisito da admissibilidade de recurso é o valor das Alçadas - Artigo 44º, nº3 LOSJ – as alçadas
são um valor que está fixado na lei que tem que ver com um dos critérios para a admissibilidade dos
recursos. Estabelece uma bitola abaixo da qual a ação não é admitida recurso (artigo 44º, nº1 LOSJ). Ainda
que o valor das alçadas seja alterado no decorrer do processo, a admissibilidade do recurso das ações
rege-se pela lei que estava em vigor no momento da entrada em vigor do processo. (ex.: artigo 629º, nº1
CPC – só se pode interpor recurso de uma decisão se o valor do processo exceder o valor da alçada do
tribunal em que se quer pôr o processo – todas ações tem um valor certo em euros independentemente
daquilo que se está a discutir no processo).

Aplicação da lei processual civil no espaço

Distinção entre a Lex fori (lei do tribunal) e a lei da causa (normas que temos de aplicar para dirimir o
litígio). A lei da causa pode aplicar ao litígio uma lei estrangeira, já a lex fori é a lei que regula o processo
da causa e, essa é sempre a lei do Estado do tribunal. A lei processual aplicada é a lei do estado do tribunal
do processo da causa. Esta é a regra, mas há exceções:

• Procedimento europeu de injunção para pagamento (regulamento CE, nº1896/2006)


• Processo europeu para ações de pequenos montantes (regulamento CE 861/2007)
• Também é possível praticar atos processuais portugueses ao abrigo de direito estrangeiro
através da cooperação judiciária – carta rogatórias (instrumentos de cooperação entre tribunais
de estados diferentes – artigo 172º, nº1 CPC) – o legislador permite que nas cartas rogatórias
dirigidas ao tribunal português seja aplicada leis processuais estrageiras (artigo 182º, nº2 CPC),
mas tem de ser formalidades que não ofendam os princípios fundamentais do direito português.
A possibilidade que o nosso ordenamento jurídico reconhece de poderem ser cá executadas
decisões de tribunais estrangeiros, no entanto a lei exige que a decisão tenha de ser revista e
confirmada por um tribunal português em que se avalia se está conforme os princípios
portugueses através da ação de processo de revisão de ações estrangeiras. Pede-se o exequátur
ao tribunal português. No entanto, certas decisões e sentenças estrangeiras podem ser aplicadas
em tribunal sem que haja necessidade de exequátur: as decisões arbitradas no estrangeiro
proferidas em arbitragens localizadas em estados aderentes á convenção de New York de 1958
– artigo 55º da LAV.
• Regulamento europeu 215/2012 -as ações de litígios civis ou comerciais proferidas por tribunais
europeus aplicam-se diretamente em Portugal.
• O regulamento 2201/2003 sobre ações parentais não exige revisão e confirmação das decisões,
obrigações alimentares do regulamento 204/2009)
• Tipo do executivo europeu para créditos não contestados, regulamento 805/2004
• Processos de insolvência
• Regulamentos 650/2012 relativo a processos sucessórios.

Direitos fundamentais e o processo civil

Há muito tempo os direitos fundamentais tinham a ver com a relevância das relações jurídicas e não com
questões processuais, mas hoje já não é assim, porque isso é reconhecido, desde logo pela nossa
Constituição (artigo 20º, nº 1 e 4, artigo 6º Convenção Europeia dos Direitos Humanos, e o artigo 47º da
CDFUE).

• Artigo 20º CRP, nº1 e 4- temos consagrados o direito a uma tutela jurisdicional efetiva, direito
fundamental a um processo equitativo/justo, direito fundamental a um processo publico (resulta
do artigo 6º CDH), direito fundamental a um tribunal independente e imparcial (implícito no
direito fundamental a um processo equitativo, esta expresso no artigo 6º CDH e parcialmente
refletido no artigo 203º CRP), direito fundamental a uma decisão judicial em prazo razoável,
direito fundamental ao patrocínio forense, ou seja, a ser assistido por advogado (implícito no
direito fundamental a processo equitativo e está reconhecido pelo artigo 208º CRP) e o direito
fundamental á assistência judiciária.

Podemos agrupar os direitos fundamentais em 2 grandes grupos:

1. Direito fundamental a tutela jurisdicional efetiva em sentido amplo


2. Direito fundamental a um processo equitativo em sentido amplo

Os dois grandes grupos são concretizados no direito ordinários pelos princípios gerais do processo civil:

• Direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva: princípio da acessão á justiça, não denegação
da justiça por motivos económicos e princípio do dispositivo
• Direito fundamental a um processo equitativo: princípio da independência e da imparcialidade
dos tribunais, princípio contraditório, princípio igualdade, princípio publicidade, princípio
cooperação e o princípio do patrocínio forense

Podemos ainda invocar princípios de direito processual civil que não concretizam normas constitucionais,
são princípios de direito originário que, porque não são direito constitucionais o legislador pode revogar
(ex.: princípio da livre apreciação da prova, artigo 9º- alínea a).

21/10/2021

Os princípios concretizadores do direito fundamental a uma tutela jurisdicional efetiva

Þ Princípio do acesso à justiça


De acordo com o art.º 20, nº1 da Constituição, “a todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais
para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por
insuficiência de meios económicos”.

Este princípio concretiza diretamente, no plano do direito ordinário, a ideia do direito a uma tutela
jurisdicional efetiva (art.º 20, n.º 1 da Constituição). Todos podem tutelar jurisdicionalmente as suas
posições jurídicas subjetivas – princípio do acesso à justiça + direito de ação (art.º 1 do Código de
processo penal + art.º 20 da Constituição).
O direito de ação é o direito de aceder aos tribunais e compreende também a pretensão da obtenção de
uma decisão de mérito, ou seja, o direito de aceder aos tribunais para obter a tutela dos seus direitos
subjetivos e obter, em relação a esse litígio, uma decisão que dirime o litígio. Este direito de ação não
protege, nem compreende a expectativa de se obter um ganho na ação que se propõe. Por outras
palavras, sendo a todos garantido o acesso aos tribunais, qualquer cidadão pode utilizar o meio que, no
campo do processo civil, para tanto é disponibilizado: o de, em tribunal, propor ações para fazer valer os
seus direitos, ou os seus interesses que, embora não organizados em direito subjetivo, sejam tutelados
pelo direito material.
No plano do direito ordinário, o direito de ação concretiza o direito fundamental a uma tutela jurisdicional
efetiva (art.º 2, n.º 1 do Código de processo civil). É possível exercer o direito de ação para a tutela dos
interesses difusos ou interesses coletivos, que resulta do art.º 52, nº3 da Constituição – direito de ação
popular (exemplo: defesa do direito ao ambiente; direito coletivo à saúde, etc.). Este direito encontra-se
plasmado na Lei nº 83/95, que regula o exercício do direito de ação popular (dirigir-se aos tribunais para
tutela de interesses e posições jurídicas coletivas ou difusas). Ao abrigo do art.º 1, n.º 1 e n.º 2 da Lei n.º
83/95, para efeitos do direito de ação popular, não é necessário que a pessoa esteja a tutelar um interesse
que exista na sua esfera jurídica, isto é, que tenha algo a ganhar na sua esfera jurídica – dimensão
especifica do direito de ação popular (art.º 52, n.º 3 da Constituição).
Quer o art.º 20, n.º 1 da Constituição, quer o art.º 2 da Código processo penal, referem-se ao direito de
ação sempre na perspetiva da titularidade ativa deste mesmo direito. No entanto, o direito de ação
também tem o reverso da medalha, que é o direito de defesa. Por um lado, compreende-se que está
expresso no Código que a todos é assegurado o direito de ação, mas também não se pode esquecer ou
ignorar que as ações se propõem contra determinadas pessoas. Como reverso da medalha, o direito de
ação compreende o direito de defesa, que é o direito daquele contra quem a ação é proposta das
pretensões que são dirigidas contra si. Por outras palavras, o direito de defesa do demandado é o
contraposto do direito de ação do demandante. O direito de defesa, ao contrário do direito de ação, não
está expressamente consagrado na Constituição, mas é fundamental para a praeter constitutionem.
Apesar de não estar expressamente enquanto tal, este direito de defesa também tem natureza jus
fundamental. A tutela jurisdicional efetiva não pode ser só entendida na sua dimensão ativa (direito de
ação), mas também na perspetiva passiva (direito de defesa – contra quem a ação foi proposta).
O direito de defesa é assegurado através da necessidade da pessoa contra quem se contrapõe a ação ser
chamado ao processo (a tribunal) para exercer no processo o seu direito de defesa. Esta necessidade de
chamamento está, desde logo, expressa no art.º 3 do Código de processo penal, especialmente no art.º 3
n.º 1 da Código de processo penal – necessidade de chamar o demandado (aquele contra quem a ação foi
proposta) para vir ao processo oferecer os seus fundamentos. Este chamamento do demandado faz-se
através de um ato processual típico e nominado, designado “citação” (art.º 219, n.º 1 do Código de
processo civil). Através da citação, cumpre-se uma dupla função:

• dá conhecimento ao réu que foi proposta contra ele uma ação


• convoca-o para vir ao processo defender-se dessa ação.

A citação assegura esta dimensão do exercício do direito à defesa. A lei prefere que este chamamento
seja feito pessoalmente, ou seja, realizado na própria pessoa do demandado (réu), rejeitando soluções
que não assegurem o conhecimento efetivo pelo demandado da citação, isto é, da tal informação que foi
contraposta contra ele uma ação, sendo que há um determinado prazo para proceder a essa mesma
defesa.
O direito à defesa não se confunde com o princípio do contraditório. O direito à defesa corresponde à
existência de uma possibilidade processual de o demandado poder apresentar a sua versão dos factos e
os seus argumentos jurídicos ao tribunal. O princípio do contraditório corresponde à possibilidade de
apresentar esses argumentos, antes do tribunal tomar uma decisão. Embora a regra seja que a defesa
deve ser exercida no momento anterior à decisão do tribunal, o legislador aceita, excecionalmente, que
a defesa possa ocorrer sem contraditório, ou seja, depois de a decisão ter sido tomada – exemplo: quando
a efetividade da decisão não se compadeça com a decisão do contraditório (o tribunal pode tomar a
decisão sem ouvir anteriormente o demandado). Excecionalmente, o legislador consente que o direito de
defesa seja exercido depois de a decisão ser tomada, tomando as decisões sem ouvir a parte demandada.
Depois de tomada a decisão, permite o direito de defesa e, depois, revê a decisão tomada – exemplo:
arresto (art.º 391 do Código de processo civil). No fundo, em casos excecionais, o direito à defesa pode
ser posterior à decisão.
No entanto, o direito à defesa não é um direito imprescindível, na medida em que não coloca o processo
na posição de ficar à espera de que o demandado se venha defender. Se assim fosse, o demandado
conseguia parar um processo que não lhe interessasse ver decidido. O direito à defesa corresponde a
assegurar uma oportunidade processual efetiva para o demandado vir apresentar a sua defesa no
processo. Esta oportunidade processual corresponde à fixação de um prazo razoável, dentro do qual o
demandado pode apresentar a sua defesa. Caso o demandado decida não apresentar a sua defesa, o
processo prossegue, porque não é obrigatória a apresentação da defesa, sendo que se trata apenas de
uma oportunidade processual. Ou seja, se o demandado não exercer a sua defesa no processo, este não
para. No entanto, daí podem resultar consequências processuais para o próprio demandado. Os
diferentes ordenamentos jurídicos conferem várias consequências para estas situações:

• Sistema da ficta confessio: Se o demandado não se defender, considera-se que ele aceitou a
pretensão que lhe atribuíram. Ou seja, a ausência do exercício do direito de defesa do
demandado corresponde à aceitação deste da pretensão por parte do demandante.

• Sistema da ficta contestatio: Do silêncio do demandado ficciona-se que ele contestou. Mantem-
se na esfera do demandante provar os factos que alegou e demonstrar que a interpretação
jurídica que apresentou é a que deve proceder. No fundo, trata-se o processo como se tivesse
sido apresentada uma contestação, ou seja, como se tivesse sido exercido o direito de defesa,
mesmo que não tenha sido.

• Entre nós, adotamos o modelo previsto no art.º 567, nº 1 do CPC, que corresponde ao “efeito
cominatório semipleno”. Neste sistema, a regra é a seguinte: o réu citado não contestou, logo
consideram-se confessados os factos que o autor invocou, quando propôs a ação. Trata-se
apenas dos factos, já não da aplicação do direito a esses factos, na medida em que isso continua
a ser livremente apreciado pelo tribunal. Ou seja, os factos que o autor alegou consideram-se
provados. A aplicação do direito aos factos não é considerada precedente. Perante os factos
considerados provados, o tribunal pode extrair uma consequência diferente daquela que o autor
pretende. Na aplicação da matéria de direito, essa não é afetada pelo não exercício do direito de
defesa. Depois de citado e informado, quando o réu não exerce o seu direito de defesa, isso
significa que o réu está em revelia, ou seja, o réu é revel, na medida em que não apresentou a
sua defesa no momento em que tinha oportunidade processual para o fazer. Regra geral, quando
há revelia do réu, o nosso sistema manda responder através do efeito cominatório semipleno.
A consequência da revelia é o efeito cominatório semipleno. Regra geral, consideram-se
provados os factos que o autor alegou na petição inicial, mas já não os argumentos jurídicos, que
serão livremente apreciados pelo tribunal.

Art.º 2 da RADEPI – efeito cominatório pleno – “Se o réu, citado pessoalmente, não contestar, o juiz, com
valor de decisão condenatória, limitar-se-á a conferir força executiva à petição, a não ser que ocorram, de
forma evidente, exceções dilatórias ou que o pedido seja manifestamente improcedente”. Prevê-se, aqui,
um sistema de efeito cominatório pleno, que corresponde à ideia da ficta contestio. O réu é revel, não
se defendeu, logo o tribunal limita-se a condenar naquilo que o autor pediu. Mesmo nestas situações, o
tribunal tem, ainda, um controlo sobre a pretensão do autor, ou seja, o tribunal pode recusar condenar o
réu na pretensão que o autor requereu.
Há um conjunto de situações em que adotamos um regime da ficto contestatio e não existe um efeito
cominatório. Exceções aos efeitos da revelia (art.º 568 do Código do processo civil):

a. “Quando, havendo vários réus, algum deles contestar, relativamente aos factos que o
contestante impugnar;
b. Quando o réu ou algum dos réus for incapaz, situando-se a causa no âmbito da incapacidade, ou
houver sido citado editalmente e permaneça na situação de revelia absoluta;
c. Quando a vontade das partes for ineficaz para produzir o efeito jurídico que pela ação se
pretende obter;
d. Quando se trate de factos para cuja prova se exija documento escrito.”
Por exemplo, se o réu foi citado através de um edital fixado num site da Internet, é pouco provável que o
réu vá todos os dias consultá-lo. Muitas vezes, o réu passa despercebido. → O autor não fica dispensado
de provar os factos que alegou, apesar de o réu não ter contestado.

Þ Princípio da não denegação da justiça por motivos económicos


Quer para o autor, quer para o réu, o direito de acesso aos tribunais engloba a inexistência de entraves
económicos ao seu exercício, como expressamente refere o art.º 20 da Constituição. Tal implica a
concessão de apoio judiciário a quem dele careça e a proibição de disposições da lei ordinária que limitem
o direito à jurisdição por não satisfação de obrigações alheias ao objeto do processo.
O princípio da não denegação da justiça por motivos económicos concretiza, no plano do direito ordinário,
um direito fundamental previsto no art.º 20, n.º 1 da Constituição, que é o direito fundamental à
assistência judiciária. A justiça é custosa, na medida em que abarca custos e encargos. O próprio sistema
judiciário público não é gratuito, possui custos que têm de ser suportados pelas partes, o que poderia ser
considerado um entrave ao acesso a uma tutela jurisdicional efetiva a quem não tiver condições
económicas. Para acautelar essas situações, o legislador constitucional acrescentou que a justiça não pode
ser denegada por razões económicas – Lei nº 30/2004.
Este sistema de apoio ao direito prevê duas modalidades estruturantes:

1. Apoio judiciário: Corresponde à dispensa do pagamento das taxas de justiça e das demais custas
processuais por parte das pessoas que tem carências económicas. Mesmo que as pessoas
carenciadas percam a ação, não pagam nada. Pode, ainda, permitir o pagamento faseado para o
mesmo efeito.

2. Assistência judiciária: Designação de um patrono forense para as partes que não podem
suportar os custos da contratação de um advogado. Na maior parte dos processos, é obrigatório
constituir um advogado. Nessa circunstância, este instrumento legislativo, através da assistência
judiciária, permite que seja nomeado um advogado à parte que carece de meios económicos e
que os honorários do mesmo sejam pagos pela Segurança Social. A escolha do advogado para
proceder à satisfação da assistência judiciária cabe à Ordem.

Regime tributário da justiça

Þ Regime das custas processuais.

O nosso sistema judiciário público não é gratuito, depende do pagamento de encargos tributários, ou seja,
está sujeito a custas – art.º 529, n.º 1 do Código processo civil.

As custas processuais compreendem três categorias:

1. Taxa de justiça (art.º 530 do Código do processo civil). A taxa de justiça é um tributo devido pelo
impulso processual. Tem de ser paga pelo demandante (lado ativo) quando propõe a ação e, por
outro lado, paga pelo demandado (lado passivo) quando intervém, normalmente apresentado a
sua defesa.

Pode, ainda, haver lugar a um pagamento de uma taxa de justiça adicional, no final do processo, ou seja,
depois de a decisão final ter sido proferida e transitada em julgado.

2. Encargos. Correspondem ao custo efetivo de determinadas diligências que se desenvolvem no


processo – ex. realização de uma perícia.

3. Custas de parte. Têm a ver com o direito que as partes têm a se reembolsadas das despesas que
tiverem com o processo, incluindo a taxa de justiça e até os honorários que pagaram aos seus
próprios advogados. No fundo, são contas que as partes acertam diretamente entre si.

A responsabilidade pelas custas processuais (art.º 527 do Código do processo civil) cabe à parte que tiver
dado causa às custas, ou seja, a parte vencida na ação é responsável pelo pagamento das custas
processuais. O vencimento pode não ser total, na medida em que, se ambas as partes tiverem tido
vencimento na ação (vencimento parcial), as custas serão distribuídas de forma proporcional.
O atual regime das custas processuais prevê que exista uma taxa de justiça, ou seja, o autor e o réu pagam
uma taxa de justiça. O regulamento das custas processuais prevê em anexo uma tabela das taxas de justiça
(tabela 1 do art.º 40 do Regulamento das custas processuais) que fixa o montante da taxa de justiça
variável de acordo com o valor da ação. “UC” – unidade de conta processual. Atualmente, uma UC
corresponde a 102 euros. Por exemplo, se formos propor uma ação cujo valor da causa é 30.000,01 euros,
o autor tem de pagar 612 euros para propor a ação (ver tabela). A taxa de justiça tem de ser paga pelas
partes, a menos que haja apoio judiciário, sob pena (art.º 145 do Código processual civil) da petição inicial
no autor ou a contestação do réu não serem admitidas pelo tribunal.

Art.º 531 do Código de processo civil – taxa sancionatória excecional. É uma figura que tem natureza
sancionatória. A lei permite que se possa aplicar uma taxa sancionatória, além das custas processuais
devidas, com uma natureza penalizadora de uma conduta negligente da parte. Qual é o montante da taxa
sancionatória excecional? Art.º 10 do Regulamento das Custas Processuais. Fixa a taxa no mínimo de 2 UC
e máximo de 15 UC.
Qual é a natureza jurídico-tributária destas custas judiciais, em especial da taxa de justiça? Na doutrina,
discutiu-se bastante se a taxa de justiça era um imposto ou uma taxa. O montante que as partes são
chamadas a pagar a título de taxa de justiça não tem nenhuma relação com a contraprestação que
recebem. A taxa de justiça foi considerada uma verdadeira taxa em sentido rigoroso. O critério atendido,
para efeito de custas, é um conceito processual já referido anteriormente: valor da ação ou valor da causa.

Art.º 11 do Regulamento de custas processuais– o valor da causa serve de base tributável para determinar
a taxa de justiça. O valor da taxa de justiça tem como base tributável o valor da causa, mas este conceito
“valor da causa” não funciona só para fins tributários, pode ser usado para outras finalidades: o valor da
causa serve para saber se são admissíveis certos processos especiais. Art.º 629, n.º 1 do Código de
processo civil – valor da causa também é tido em conta para aferir a admissibilidade do recurso ordinário.
Toda a causa tem de ter um valor atribuído certo expresso em moeda legal - art.º 296 do Código de
processo civil. Este valor exprime a utilidade económica dessa causa. O valor de ação tem de ser indicado
pelas partes art.º 252, n.º 1, alínea f do Código de processo civil – o autor, na petição inicial, indica o valor
que atribui à causa e o réu tem a oportunidade, quando contesta, de se pronunciar sobre o valor atribuído
pelo autor, pode colocá-lo em causa – art.º 305, n.º 1 do Código de processo civil. O autor tem de indicar
o valor da causa, o réu tem a oportunidade de contestar sobre o mesmo valor, mas quem fixa o valor da
causa num momento intermédio do processo (despacho saneador) é o juiz – art.º 306, n.º 1 do Código de
processo civil.
O critério geral para fixar o valor da causa está no art.º 296, n.º 1 do Código de processo civil – o valor da
causa exprime o valor económico do pedido. Tem de revelar a utilidade económica que o que é pedido
tem para as partes. O art.º 297, n.º 1 do Código de processo civil acrescenta que: o autor quer condenar
o réu a pagar 50.000 euros, esse é o valor da causa – o correspondente ao pedido. Quando não se pede
dinheiro, mas sim outro tipo de prestações, o valor da causa é a quantia em dinheiro equivalente esse
benefício.
O legislador resolveu particularizar este critério geral em determinadas situações especiais.

Critérios especiais para a fixação do valor da causa

• Ações de despejo (art.º 298, n.º 1 do Código de processo civil). São ações em que se pretende a
cessação do contrato de arrendamento, seja por caducidade, anulação, declaração de nulidade,
etc., e, por outro lado, a condenação do locatário a restituir o objeto locado ao senhorio. A ação
de despejo tem esta dupla dimensão. Pode, ainda, pedir-se o pagamento de indeminização por
danos causados ao senhorio. Para este tipo de pretensões, o legislador estabelece uma regra
própria para a determinação do valor da causa: art.º 298, n.º 1 do Código de processo civil.

Nas ações de causa, o valor da causa apura-se pela renda de dois anos e meio acrescida: do valor das
indemnizações pedidas ou, se superior, o valor das rendas em divida. Escolhemos o que for mais elevado.

• Contratos de locação financeira (art.º 298, n.º 2 do Código de processo civil). O legislador
prossegue com uma previsão relativa aos contratos de locação financeira (contratos de lising),
que são contratos em que o adquirente de um bem para um intermediário financeiro que adquira
o bem e esse bem fica locado ao utilizador do bem que paga uma renda mensal à instituição
financeira e, no final, tem a possibilidade de adquirir a propriedade desse bem. O valor da causa
é determinado pelo equivalente da soma das prestações ainda em divida até ao fim e acrescido
os valores do juro moratórios vencidos

• Ações de alimentos (art.º 298, n.º 3 do Código de processo civil) – pretensões que sejam
deduzidas de obrigações alimentares (mais conhecida por “pensão de alimentos”). O valor da
causa é o quíntuplo da anuidade correspondente ao pedido.

• Ações especiais de prestação de contas (art.º 298, n.º 4 do Código de processo civil)

• Ações relativas a prestações periódicas (art.º 300, n.º 2 do código de processo civil) – o valor das
prestações relativas a 1 ano multiplicado por 20 ou pelo números de anos que a decisão abranger
se for inferior. No entanto, o legislador acrescenta uma parte final – art.º 44, n.º 1 da LOSJ.
• Apreciação da validade ou o cumprimento de negócios jurídicos (art.º 391, n.º 1 do código de
processo civil): o valor da causa é determinado pelo preço desse negócio jurídico ou pelo valor
que as partes tiverem estipulado. As regras são o art.º 297, n.º 1 do Código de processo civil – o
tribunal tem de encontrar um valor qualquer para aquela pretensão.

• Simulação – quando a ação tiver por objeto a anulação de um contrato fundado na simulação do
preço (existem dois valores em discussão), a lei diz que se atende ao mais elevado dos dois
valores em discussão.

• Ações reais (art.º 302 do Código de processo civil). Pretende-se obter o reconhecido da
propriedade ou de um direito real sobre uma coisa. O valor da causa é determinado pelo valor
da coisa. O valor da coisa é o valor patrimonial tributário (pelo qual ele está inscrito na matriz
das finanças) ou, então, se for uma coisa móvel não sujeita a registo, o juiz irá apreciar qual é o
valor daquela coisa nos termos de critérios razoáveis.

• Processos de inventário (partilhas litigiosas – art.º 302, n.º 3 do Código de processo civil) – “(…)
atende-se à soma do valor dos bens a partilhar; quando não seja determinado o valor dos bens,
atende-se ao valor constante da relação apresentada no serviço de finanças.”

• Ações de estado e ações relativas a interesses materiais ou a interesses difusos (art.º 303 do
Código de processo civil). O legislador manda aplicar uma regra: “As ações sobre o estado das
pessoas ou sobre interesses imateriais consideram-se sempre de valor equivalente à alçada da
Relação e mais 0,01 euros.”

• Ações populares (art.º 303, n.º 3) – o valor da ação corresponde ao do dano invocado com o
limite máximo do dobro da alçada da relação, de forma a garantir que as taxas de justiça sejam
acessíveis; no fundo, é por uma questão de segurança e até um incentivo para pôr este tipo de
ações.

Determinação do valor da causa nos casos de cumulação de pedidos

• O valor da ação em caso de cumulação de pedidos (art.º 297, n.º 2 do Código de processo civil).
É possível cumular pedidos numa mesma ação. Nesse caso, ao abrigo do art.º 297, n.º 2 do
Código de processo civil, se eu cumular vários pedidos na mesma cessão, o valor é a quantia
corresponde à soma dos valores de todos eles.

• O caso particular do pedido de juros e interesses vincendos (art.º 297, n.º 2, parte final do
Código de processo civil). “(…) mas quando, como acessório do pedido principal, se pedirem
juros, rendas e rendimentos já vencidos e os que se venceram durante a pendência da causa, na
fixação do valor atende-se somente aos interesses já vencidos.”

• O valor da causa no caso de pedidos alternativos e de pedidos subsidiários (art.º 297, n.º 3 do
Código de processo civil): “No caso de pedidos alternativos, atende-se unicamente ao pedido de
maior valor e, no caso de pedidos subsidiários, ao pedido formulando em primeiro lugar.”

Referência temporal para a fixação do valor da causa

Regra geral, nos termos do art.º 299, n.º 1 do Código de processo civil, “na determinação do valor da
causa, deve atender-se ao momento em que a ação é proposta, exceto quando haja reconvenção ou
intervenção principal”.
• Momento da fixação do valor da causa (art.º 306, n.º 2 do Código de processo civil): “O valor da
causa é fixado no despacho saneador, salvo nos processos a que se refere o n.º 4 do art.º 299 do
Código de processo civil e naqueles em que não haja lugar a despacho saneador, sendo então
fixado na sentença”.

• Consequências da fixação do valor em causa – quando se fixa o valor da causa, pode fixar-se um
valor que seja diferente daquele que foi estipulado pelas partes, especialmente pelo autor.

• Em relação à competência do tribunal (art.º 310, n.º 1 + art.º 93, n.º 2 do Código de processo
civil) – exceção (art.º 310, n.º 3 do Código de processo civil).

• Em relação à forma de processo (art.º 310, n.º 2 do Código de processo civil)

28/10/2021

A irrelevância do incumprimento das normas tributarias

Normalmente quando as partes se dirigem a tribunal dirigem-se a invocar factos que estão sujeitos a
tributação (vendas e prestações de serviços, vendas de imoveis, etc.) e muitas vezes se procede que as
partes não cumpriram essas obrigações tributarias. Durante muito tempo o nosso código de processo civil
dizia que não se podia invocar em tribunal factos que tivessem sujeitos a tributação sem que fosse
demostrada o cumprimento das normas fiscais. Na reforma do código de 95/96 foi alterado o paradigma
e foi entendido então pelo legislador que os direitos das partes não podiam ser saciados por causa do
incumprimento de normas fiscais. Foi então introduzido uma norma a este respeito. No regime anterior
era obrigatória a demostração de terem sido cumpridas as obrigações fiscais e, portanto, se não tivessem
cumpridas suspendia-se a instância até que as obrigações em falta fossem cumpridas, o processo não
andava. Na reforma mudou-se o paradigma e até agora foi mantido um regime da irrelevância do
incumprimento das obrigações tributarias que se encontra no art.º 274 do código de processo civil. Este
prevê então dois tipos de situações:

• o incumprimento de obrigações tributarias relativas a factos que são trazidas ao processo


• documentos que estejam sujeitos ao cumprimento de obrigações fiscais (caso de documentos
que tinham de pagar impostos de selo)

Se essa obrigação não tiver cumprida, não impede o tribunal de tomar uma decisão, ou seja, de prosseguir
o processo cível. Apresenta-se uma exceção: às vezes, no próprio processo, as partes podem transmitir
um bens e certas transmissões de bens estão sujeitas a imposto (imóveis que devem pagar o IMT), isto é,
como a transmissão é feita no próprio processo, esta não pode prosseguir sem ser pago a obrigação fiscal.

Art.º 274 do código do processo civil- incumprimento de obrigações tributarias


1 – “Não obsta ao recebimento ou prosseguimento das ações, incidentes ou procedimentos cautelares
que pendam perante os tribunais judiciais a falta de demonstração pelo interessado do cumprimento de
quaisquer obrigações de natureza tributária que lhe incumbam, salvo nos casos em que se trate de
transmissão de direitos operada no próprio processo e dependente do pagamento do imposto de
transmissão.
2 - A falta de cumprimento de quaisquer obrigações tributárias não obsta a que os documentos a elas
sujeitos sejam valorados como meio de prova nas ações que pendam nos tribunais judiciais, sem prejuízo
da participação das infrações que o tribunal constate.
3 - Quando se trate de ações fundadas em atos provenientes do exercício de atividades sujeitas a
tributação e o interessado não hajam demonstrado o cumprimento de qualquer dever fiscal que lhe
incumba, a secretaria ou o agente de execução deve comunicar a pendência da causa e o seu objeto à
administração fiscal, preferencialmente por via eletrónica, sem que o andamento regular do processo seja
suspenso”.

Quando se junta como meio de prova um documento que esteja sujeito a imposto e esse imposto não
tenha disso pago na versão do código anterior a 95/96 esse documento não podia ser utilizado como
prova. Por exemplo: Na altura os recibos de arrendamento estavam sujeitos a estampilha fiscal, mas se
não tinha o imposto de selo pago (estampilha fiscal) nesse período o tribunal não tinha em conta aquele
documento, era como se ele não existisse enquanto este não fosse pago. Neste código o documento é
admitido como meio de prova, apesar de não ter sido cumprido a obrigação fiscal e o tribunal participa à
autoridade tributaria essa infração para que esta retire as consequências que o caso justifique
nomeadamente em matéria de coimas.
Se o Tribunal verificar que determinada parte não cumpriu com determinada obrigação, segundo o Artigo
274º/3 do CPC, o processo prossegue, não há relevância das obrigações, mas a administração participa
os incumprimentos que esta detetou. A mesma lógica prevalece para os documentos utilizados como
meio de prova, este que esteja sujeito a imposto e este não tenha sido pago, esse documento não poderia
ser utilizado como prova, com base no código anterior à reforma de 1995; contudo, após a reforma,
segundo o Artigo 274º/2 do CPC, o documento é admitido como meio de prova, apesar de não ter sido
cumprido o dever fiscal e o tribunal participa à autoridade tributária, para que depois esta retire as
consequências do caso concreto.

Þ Princípio do dispositivo

O princípio do dispositivo está intimamente ligado à ideia da disponibilidade e esses litígios que são
discutidos em processo cível de se tratar de direitos disponíveis e essa ideia de disponibilidade projeta-se
também na própria ideia de disponibilidade sobre o processo civil como um todo porque o processo civil
tem por objeto na esmagadora maioria dos casos tem por objeto direitos disponíveis, acerca dos quais as
partes possam dispor, ou seja, as partes podem elas mesmo chegar a entender-se sobre o litígio em que
se encontram. Esta ideia de disponibilidade dos direitos que é inerente ao Direito Privado, mas que não é
absoluta, projeta-se na ideia da disponibilidade do processo. Este princípio revela esta projeção de que
as partes têm disponibilidade do processo civil. Este divide-se em:

• Disponibilidade sobre a Instância (sinónimo de relação jurídico-processual, que se caracteriza


pela existência de uma relação tripartida, sendo constituída por três sujeitos): a disponibilidade
que as partes têm sobre a relação jurídico-processual.

A Instância tem por sujeitos: as partes (autor e réu) ou partes acessórias e o Tribunal, não sendo este
último parte do litígio pois não tem interesse no desfecho da causa. A relação jurídico-processual não se
esgota neste elemento subjetivo, visto que esta caracteriza-se também pelo seu Objeto ou Elemento
Objetivo, que se divide em Pedido (concretas pretensões que são deduzidas perante o Tribunal, podendo
existir uma acumulação dos pedidos) e Causa de Pedido (é a fundamentação fáctico jurídica do(s)
pedido(s), ou seja, temos de avançar com um conjunto de factos que se provados estabelecem o nosso
direito a obter a pretensão que deduzimos – por exemplo, o caso de uma ação decorrente de
responsabilidade civil extracontratual, sendo necessária a ilicitude, culpa, dano e nexo de causalidade dos
factos em relação ao autor). As partes, numa relação de igualdade e paridade, têm interesse na causa e
um terceiro imparcial sem interesse na causa, que se encontra revestido de um poder de autoridade
pública, tendo um poder de supraordenação sobre as partes. Se em Tribunal não se apresentar ambos os
elementos, a relação jurídico-processual termina no momento do pedido. Ou seja, resulta-se que a
relação jurídico-processual está na disponibilidade das partes, ou seja, estas têm domínio sobre a
instância, apesar de não absoluto, visto que as partes tomam iniciativa de proceder a um tribunal, na sua
subsistência e na cessação ou extinção da instância. As partes têm iniciativa quanto à constituição da
instância, visto que o demandante propõe no tribunal uma ação contra o demandado ou réu, ou seja, a
configuração da instância não é uma obra do acaso, mas sim o resultado de uma opção [Artigo 259º/1 do
CPC]. Ou seja, esta inicia-se com a propositura da ação é recebida pelo tribunal. Porém, de seguida, o réu
não tem nenhuma intervenção e nem sequer consegue saber que foi proposta contra si uma ação,
devendo assim ocorrer a Citação do Réu [Artigo 219º/1 e 259º/2 do CPC]. Ou seja, só temos a perfeição
da instância quando o réu é citado ou notificado pela ação que foi proposta contra si. Em relação à
subsistência da instância, pois as partes podem, pelo mero efeito da sua vontade, cessar e suspender
(temporariamente, visto que não podem exceder os três meses) a instância [Artigo 272º/4 do CPC] por
acordo, como é certo. A instância também se pode suspender por causas alheias à vontade das partes, o
que estudaremos mais à frente, como por exemplo resultando de uma decisão do tribunal. Quanto á
extinção da instância, pode resultar da vontade das partes, colocando termo a relação jurídica-
processual, podendo ocorrer através de: os negócios processuais, podem dizer respeito ao próprio objeto
do litígio ou podem ser alheios ao mesmo, que é a desistência da instância [Artigo 285º/2 do CPC], só
apresentando consequências em relação ao litígio que as partes discutiam, sendo o próprio autor a
desistir. Esta desistência é totalmente livre, sem prestar justificação, até ao momento em que o réu
apresente a contestação ou da vontade do autor e do réu, caso seja após o oferecimento da contestação,
necessitando-se do consentimento do réu. Ou seja, ou provém unilateralmente ou bilateralmente [Artigo
286º/1 do CPC], sendo que esta só ocorre perante o processo; os Negócios de Auto composição do
Litígio, sendo que as partes podem auto compor o litígio, estes que podem ser bilaterais(tendo natureza
contratual, que é o Contrato de Transação – é o contrato regulado no Artigo 1248º do CC, a partir do qual
as partes põem termo a um litígio, mediante recíprocas concessões, sendo admissível por expresso
reconhecimento do CPC, presente no Artigo 283º/2) ou unilaterais(como é o caso da desistência do
pedido – provém do Autor, estando previsto no Artigo 285º/1 e 283º/1 do CPC, ou seja, o autor pode, a
qualquer momento, desistir da pretensão, mas esta não é um mero negócio processual, mas sim quanto
à própria relação, ou seja, é desistir do próprio direito, não se podendo, mais tarde, interpor uma ação ao
mesmo réu pelos mesmos factos - ou a confissão do pedido – provém do Réu, que é o negócio jurídico
proveniente do réu, sendo este a reconhecer a pretensão que foi interposta contra si - , resultando da
vontade de uma das partes). Estes negócios têm limites, pois só podem dispor se estivermos, segundo o
Artigo 289º/1 do CPC, perante direitos disponíveis. Existe uma exceção no Artigo 289º/2 do CPC, sem
consentimento do outro cônjuge, se se verificar o princípio de Favorecer o Casamento, ou seja, o cônjuge
decidiu restabelecer a sua vida matrimonial, isto é, se estes se reconciliarem, concede-se a desistência do
pedido. Esta disponibilidade quanto à extinção manifesta-se ainda sobre uma figura chamada a
Submissão de Litígio ao Tribunal Arbitral, as partes podem celebrar um compromisso arbitral,
extinguindo um processo no Tribunal Estadual [Artigo 280º/1 do CPC], levando as partes a discutir o
processo em tribunal arbitral. Esta revela-se quanto à conformação dos elementos da instância (objetivo
e subjetivo) e é o autor, ao propor a instância, que seleciona o sujeito e o objeto da instância e quando
ocorre a citação do réu, permite-se a estabilização da instância [Artigo 260º/1 do CPC], não podendo
mais ser modificada, não sendo esta absoluta. Estas modificações podem ser subjetivas (quando se
modificam os sujeitos da instância, podendo ocorrer perante o Tribunal – este pode ser incompetente
para receber e apreciar uma ação – ou às partes – esta ocorre pelo aditamento de novas partes, ou seja,
intervenção de terceiros, sendo que um terceiro soma-se ao processo, ou substituindo a parte num
determinado processo, quando esta falece em pendência do processo - Habilitação) e objetivas (quando
se modifica o objeto da instância, podendo resultar do acordo das partes – bilateral –, ou de uma só
vontade – unilateral –, ou ainda pode resultar da Reconvenção, isto é, é o instrumento processual que
permite ao réu deduzir um pedido contra o autor, ou seja, o Pedido Reconvencional, que assenta numa
causa de pedir reconvencional, que apresenta determinadas exceções. Ou seja, transforma o processo
numa via de dois sentidos, ou seja, aquele objeto que consistia numa causa de pedir, passando a incluir
também o pedido reconvencional. O Réu é o Réu Reconvinte e o Autor é o Reconvindo).

• Disponibilidade sobre os Factos: os factos que são trazidos ao processo para o tribunal conhecer,
ou seja, cabe apenas às partes os factos essenciais que fazem a parte da causa de pedir ou da
causa de pedir reconvencional e aqueles que integram as exceções. São as partes que devem
alegar os factos essenciais e se estes não tiverem sido alegados, o tribunal não pode conhecer
sobre esses factos [Artigo 5º/1 do CPC].

Por exemplo, para se obter uma indemnização por responsabilidade civil extracontratual deve-se alegar
factos que preencham os requisitos de direito substantivo, pois se não se fizer, o tribunal não pode
conhecer de factos essenciais que não tenham sido alegados pelas partes. Há exceções a esta regra,
previstas no Artigo 5º/2 do CPC: desde logo, os factos não essenciais, não carecem de ser alegados pelas
partes, podendo o tribunal conhecer os mesmos(como é o caso dos Factos Notórios[Artigo 412º/1 do
CPC] – são aqueles que são conhecidos pela generalidade de pessoas; o caso dos Factos de Conhecimento
Funcional[Artigo 412º/2 do CPC] – são aqueles factos que o tribunal conheceu no exercício das suas
funções, como é o caso do conhecimento da insolvência de uma determinada sociedade, visto que tratou
desse assunto em processo anterior; o caso dos Factos de Simulação ou Fraude Processual[Artigo 612º
do CPC] – em que o autor e o réu simularam o litígio para obter um objetivo ilegal, ou seja, as partes não
vão divulgar que estão conluiadas para obter um determinado fim, como também esta norma impõe ao
tribunal que não permita que o objetivo das partes seja concretizado; o caso dos Factos
Instrumentais[Artigo 5º/2 alínea a do CPC] – são factos que conduzem e revelam outros factos, ou seja,
servem de instrumento, desde que resulta da produção de prova, por exemplo alega-se que um homem
esteve totalmente depressivo antes do acidente da bicicleta, sendo que uma testemunha diz que o
homem não aparecia no escritório da empresa; o caso dos Factos Complementares dos Factos
Essenciais[Artigo 5º/2 alínea b do CPC] – são factos que complementam os factos essenciais, devendo
resultar da produção da prova, por exemplo alega-se que se gastou imenso dinheiro em medicamentos e
antibióticos, sendo este um elemento complementar). As partes podem estabelecer um acordo sobre os
factos da causa [Artigo 574º/2 do CPC], sendo que nos fala do Ónus de Impugnação, ou seja, se o réu não
colocar em causa os factos que o autor alegou, esses factos ficam provados por acordo, devendo o
tribunal tê-los em consideração [Artigo 607º/4 do CPC]. Existe uma diferença entre factos (são parcelas
da realidade que se demonstradas produzem efeitos jurídicas) e os meios de prova (são os meios que, se
alegados, comprovam esses mesmos factos, demonstrando a realidade de um facto). Se em relação aos
factos vigora o Princípio do Dispositivo, devem ser as partes a alegar os factos e em relação aos meios de
prova vigora o Princípio do Inquisitório [Artigo 411º do CPC], podendo o tribunal ordenar todas as
diligências necessárias quanto aos factos que lhe é lícito conhecer, desde que este entenda necessários,
sendo estes os factos essenciais alegados pelas partes e as exceções referidas acima, não estando o juíz
vinculado aos meios de prova indicados pelas partes(ver exemplos nos sumários do moodle). O Princípio
da Direção do Processo Pelo Juiz que, segundo o Artigo 6º/1 do CPC, o tribunal deve ser proativo na
condução da matéria.
Esta disposição não se aplica à matéria de direito, como prevê o Princípio Jura Novit Curia, os tribunais,
depois de conhecer dos factos essenciais alegados pelas partes, este não está vinculado ao
enquadramento jurídico estabelecido ou invocado pelas partes. Assim sendo, o tribunal é livre, isto
segundo o Artigo 5º/3 do CPC, de aplicar, interpretar e indagar as regras de direito, ou seja, o juíz aprecia
livremente, segundo as regras de interpretação jurídica, as normas jurídicas à situação factual que as
partes invocaram.

Princípios que Concretizam um Processo Equitativo:

Þ Princípio da Independência e Imparcialidade dos Tribunais

A Independência e Imparcialidade são conceitos distintos, apesar de virem a ser aplicados conjuntamente
e serem conceitos afins.
Quanto ao Princípio da Independência dos Tribunais, esta tem uma previsão no Artigo 203º da CRP,
sendo que os tribunais são independentes e apenas estão sujeitos à lei. Aqui aplicasse o Artigo 4º da LOJ,
que evidencia que os tribunais não estão sujeitos a quaisquer ordens, existindo uma independência
perante quaisquer outras autoridades ou elementos da sociedade. Por isso, divide-se entre: a
Independência Externa (não estão sujeitos a quaisquer ordens de qualquer autoridade externa) e a
Independência Interna (sendo estes independentes uns dos outros, não recebendo instruções de outros
tribunais). A Interna apresenta um limite: o dever de obediência às decisões proferidas, em via de recurso
tirados no mesmo processo, por tribunais superiores [Artigo 4º/1 da LOJ].
Para garantia da independência dos Tribunais, a Constituição prevê certos mecanismos e privilégios que
asseguram a mesma: a existência de conselho superior de magistratura [Artigo 218º da CRP], sendo este
é uma entidade administrativa independente, que tem por missão assegurar a gestão das nomeações e
cadeiras dos juízes e magistrados judicias (na sua composição, ele inclui membros eleitos pela AR,
nomeados pelo PR e alguns eleitos pelos restantes juízes, estes últimos que são seis ou sete); as
imunidades dos juízes que são instrumentais, dando alguma estabilidade às pessoas que exerçam cargos
de magistratura (como é o caso da Inamobilidade dos Juízes [Artigo 216º da CRP], quando o juíz é
nomeado pelo Tribunal, esta nomeação é permanente; a Irresponsabilidade dos Juízes [Artigo 216º/2 da
CRP], não sendo estes responsabilizados pelas decisões que tomam, não podendo ser pedidas
indemnizações contra o juíz que proferiu a sentença, tendo como exceção as condutas dolosas; a
Exclusividade dos Juízes [Artigo 216º/3 da CRP], não podendo estes exercer qualquer outro tipo de cargo
ou profissão, mesmo que não remunerado, menos os casos de docente do ensino superior; as Limitações
de Exercer Profissões Estranhas ao seu Cargo [Artigo 216º/4 da CRP], sendo que estas só podem ocorrer
se o Conselho Superior da Magistratura assim o autorizar). Quanto ao Princípio da Imparcialidade dos
Tribunais, esta tem que ver com o indivíduo que compõe o órgão, sendo aferida em concreto em relação
às partes e ao objeto que compõe o processo. A Imparcialidade corresponde a uma ideia de equidistância
do juíz em relação às partes do processo e de desinteresse no resultado da lide ou desfecho do processo.
O legislador criou três instrumentos para garantia da imparcialidade: os Impedimentos (são
instrumentos mais solenes e inflexíveis, que se dirigem a acautelar decisões mais evidentes), as Escusas e
as Suspeições (são instrumentos menos solenes e dirigem-se a acautelar situações menos evidentes). Não
são cumulativos, não se podendo aplicar os três. Ou é situação de Impedimento ou é situação de escusas
e suspeições.
Os Impedimentos ocorrem quando existem causas objetivas tipificadas na lei como motivos de
impedimento [Artigo 115º, 117º e 84º - propõe-se uma ação contra o juíz no tribunal onde ele exerce
as suas funções do CPC]. É só nestes casos em que verificam os impedimentos. Todavia, é necessário
tomarmos algumas anotações sobre os vínculos jurídico familiares: os Tribunais não pode ser composto
por juízes que apresentem uma relação entre eles.
As relações de familía estão previstas no Artigo 1576º do CC: o casamento, o parentesco, a afinidade e
adoção. O Parentesco, previsto no Artigo 1578º do CC, é o vínculo que une duas pessoas, em
consequências de uma deles descender da outra ou de ambas procederam de um progenitor comum.

Exemplos do Quadro: G é parente de A, pois G descende de A. O H é parente de A, pois o H descende de


A (H é o neto e o A é o avô). H é parente de E, pois, descendem de um progenitor comum (A e B).
Este pode determinar-se por linhas e por graus. Este é de Linha Reta [Artigo 1580º/1, 1ª parte do CC],
quando um dos parentes descende do outro.
Exemplo: A e H são parentes, pois o H descende do A, ou seja, podemos dizer que são parentes em linha
reta.
Todavia, segundo o Artigo 1580º/1, 2ª parte do CC, podemos evidenciar que o parentesco pode ocorrer
em Linha Colateral, ou seja, nenhum dos parentes descende do outro, mas ambos procedem de um
progenitor comum.
Exemplo: H e E são parentes em linha colateral, pois não descendem um do outro. Neste caso, são
sobrinho e tio.
Finalmente apresentam-se os Graus de Parentesco [Artigo 1581º/1 do CC], na linha reta há tantos graus
quantas as pessoas que formam a linha de parentesco, excluindo o progenitor. Se estamos na linha reta,
vamos contar as gerações que existem entre as duas pessoas que estamos a analisar, mas contando com
a própria pessoa.
Exemplos: A e D são parentes na linha reta, porque D descende de A. E são parentes em 1º grau, visto
que os progenitores não se contam (filho e mãe). H é parente de A na linha reta, porque descende de A,
sendo então parentes 2º grau (neto e avô). J é bisneto, portanto é parente em linha reta no 3º grau.
Na linha colateral [Artigo 1581º/2 do CC], os graus contam-se da mesma forma, subindo por um dos
ramos e descendo pelo outro, excluindo o progenitor comum.
Exemplos: C e D(irmãos) são parentes na linha colateral, porque não descendem um do outro, no 2º grau.
C e M (tio e sobrinho, são parentes em linha colateral, porque não descendem um do outro, no 3º grau.
H e M (primos direitos) são parentes em linha colateral, porque não descendem um do outro, mas
apresentam um progenitor comum, do 4º grau. J e M (primos segundos) são parentes em linha colateral,
pois não descendem um do outro, no 5º grau. Uma outra relação de vínculo jurídico-familiar é a Afinidade
[Artigo 1584º do CC], que liga cada um dos cônjuges aos parentes do outro. Sendo que os graus contam-
se da mesma forma que o Parentesco, apresentando as mesmas linhas.
Exemplos: Os parentes de C são afins de F. C é parente de D pela linha colateral no 2º grau. F é cônjuge
de C, sendo este a fim de D pelo 2º grau da linha colateral(cunhados). F e B são afins pela linha reta, no
1º grau (sogro e genro ou sogra e nora). B e I são afins, visto que H descende de B, pela linha reta no 2º
grau, visto que H descende de B em 2 grau pela linha reta. F e K (co-cunhados) não descendem um do
outro nem têm progenitor um do outro, sendo que K não é a fim de F, pois os afins são os parentes do
cônjuge e não podem ser considerados dessa forma os afins dos afins (C é afim de K. E é a fim de K, mas
F e K não têm um vínculo familiar entre eles). Todavia, apresentam-se determinadas Causas Objetivas de
Impedimento [Artigo 115º/1 do CPC]:
Alínea a): se o juíz for parte ele não pode ser juíz desse mesmo processo, ou seja, se este for autor ou réu;
ou se o juíz for representante de outra pessoa, como é o caso de acompanhar um maior ou por
representar um filho; ou ainda quando ele tenha um interesse que lhe permitisse ser parte principal, ou
seja, como é caso das Obrigações Solidárias, em que determinado credor pode exigir a um de vários
devedores a totalidade da prestação ou pode exigir aos vários devedores a sua parte. Pode acontecer em
que o juíz é devedor solidário, mas a ação foi só proposta contra o outro devedor solidário, mas ele tinha
uma qualidade que lhe permitira ter um interesse que lhe permitisse ser parte principal.
Alínea b): quando seja parte da causa, por si ou por representante de outra pessoa(abrange a
representação judiciária de pessoas coletivas, por exemplo), o seu cônjuge(pessoas casadas e não de
pessoas em união de facto – não há afinidade entre os familiares do unido de facto e esse mesmo – por
exemplo, A propôs uma ação em tribunal distribuída ao juíz B, contudo este B não pode julgar ou conhecer
a ação visto que tem um vínculo matrimonial com A) ou algum seu parente ou afim em linha reta(em
qualquer grau – por exemplo, é parte na ação o I e B é juíz, sendo que B se encontra impedido devido ao
vínculo matrimonial entre H e I, sendo I e B afins no 2º grau na linha reta) ou até ao 2º grau da linha
colateral(Quanto ao F – réu - e juíz M são afins no 3º grau da linha colateral, portanto não se encontra
abrangida nesta alínea, não existindo impedimento). Abrange-se também a situação em que qualquer
destas pessoas, não é parte no processo, mas poderia figurar uma qualidade ou interesse, que o poderia
colocar como parte principal.
Alínea d): deve ser lida em conjugação com o nº2, ou seja, só há este impedimento quando mandatário
já é mandatário no processo e o juíz veio a entrar posteriormente.
Alínea e): quando um juíz é chamado a decidir um recurso sobre uma decisão que este proferiu. Por
exemplo, o juíz proferiu sentença, mas nas ferias judiciais este foi promovido à comarca do porto para
apreciar uma decisão de recurso, que este proferiu no tribunal de primeira instância.
Alínea f): é uma decisão proferida por alguns dos familiares mencionados.
Alínea g): abrange-se a situação em que um juíz julga um processo em que é parte alguém em que noutro
processo está a demandar o juíz, então existe uma espécie de cruzamento de processos, estando a
imparcialidade em causa.
Alínea h): o juíz não pode ser testemunha e juíz no mesmo processo. Podemos analisar o regime do Artigo
499º do CPC, se o juíz for indicado pela testemunha, este deve enunciar os factos essenciais que conhece;
se não apresentar factos essenciais, este deve recusar ser considerado como testemunha.
Alínea i): o juíz está impedido quando este se encontre em união de facto com essa pessoa, portanto em
casos práticos deve-se colmatar a situação mencionada abaixo com esta alínea. Deve-se aplicar a alínea
b), contestando-a pela alínea i).

Os Impedimentos são mais inflexíveis e dirigem-se a situações mais rigorosas do dever da imparcialidade.
Nos termos do Artigo 116º/1 do CPC, o juíz tem o dever de se declarar impedido, por alguma das razões
mencionadas pelas alíneas do artigo anterior. Além disso, as partes podem requerer ao juíz que se declare
impedido, ou seja, em qualquer momento do processo, até que seja proferida sentença, as partes podem
recorrer ao juíz para que este se declare impedido.
Da decisão de indeferimento do juíz, existe sempre recurso Tribunal Superior, esta regra prevista no
Artigo 116º/5 do CPC. Caso contrário, declarado o impedimento, segundo o nº3, a causa será confiada ao
juíz que o deve substituir. Se esta decisão não for proferida e vier a ser proferida a sentença, o vício fica
sanado, pois o legislador prefere que o processo termine com uma sentença proferida por alguém com
impedimento, do que existir uma retroação de uma sentença. Se o juíz não e declarar e devendo fazê-
lo, este é um vício processual – Nulidade Processual Secundária.
Além dos Impedimentos como medidas da tutela da imparcialidade, temos ainda as Escusas (juíz pede o
afastamento de um determinado processo) e Suspeições (as partes pedem o afastamento do juíz), estas
que abrangem o mesmo tipo de causas, distinguindo-se apenas consoante quem toma a iniciativa, mas o
âmbito material é igual. Não é impossível uma situação ser simultaneamente causa de impedimento e
causa de suspeição e escusa.
A Escusa é da iniciativa do juíz, sendo que este se quer afastar do processo. Segundo o Artigo 119º do
CPC, evidencia que há dois tipos de causas que podem determinar o pedido de escusa: típicas (que estão
expressamente previstas na lei, por remissão para o Artigo 120º) e a residual (quando existem
circunstâncias ponderosas, não tipificadas na lei, que levem o juíz a entender que se pode suspeitar da
sua imparcialidade). Ou seja, o juíz não se pode declarar suspeito, não se podendo autoafastar do
processo, mas pode pedir para ser dispensado de intervir na causa. O Pedido de Afastamento [Artigo
119º/2 do CPC] apresenta um prazo para pedir escusa, sendo que se este for ultrapassado, nunca mais
pode pedir escusa, sendo este dirigido ao Presidente da Relação respetiva ou ao Presidente do Supremo
Tribunal de Justiça, se o juíz pertencer a qualquer um desses tribunais [Artigo 119º/3 do CPC]. O juíz deve
fundamentar todos os factos que o levam a pedir escusa, devendo o presidente ouvir as partes, sendo
que concluídas as diligências anteriormente referidas, o presidente pode decidir sem recurso [Artigo
119º/4 e 5 do CPC].
As Suspeições é o de iniciativa das partes que suscitam o afastamento do juíz. Segundo o Artigo 120º/1
do CPC], apresenta uma cláusula aberta, em que qualquer motivo que leve a gerar desconfiança sobre a
sua imparcialidade, as partes podem opor suspeição ao juíz, apresentando certas cláusulas típicas, mas
não são taxativas.

4/11/2021

Ao abrigo do art.º 119 e 120 CPC, as suspeições e as escusas abrangem as mesmas causas, isto é, as
mesmas situações. As circunstâncias que sejam motivo de suspeição também podem ser motivo de
escusa, e vice-versa. O que as distingue é o facto de:

• As escusas são da iniciativa do juiz (art.º 119 CPC).

• As suspeições são da iniciativa das partes (art.º 120 CPC).

Art.º 115 CPC – impedimentos.


Poder de arguir a suspeição – art.º 120, n.º 1 do CPC:
“As partes podem opor suspeição ao juiz quando ocorrer motivo, sério e grave, adequado a gerar
desconfiança sobre a sua imparcialidade, nomeadamente:”
Alínea a ® “Se existir parentesco ou afinidade, não compreendidos no art.º 115, em linha reta ou até ao
4.º grau da linha colateral, entre o juiz ou o seu cônjuge e alguma das partes ou pessoa que tenha, em
relação ao objeto da causa, interesse que lhe permitisse ser nela parte principal”;
Alínea b ® “Se houver causa em que seja parte o juiz ou o seu cônjuge ou unido de facto ou algum parente
ou a fim de qualquer deles em linha reta e alguma das partes for juiz nessa causa”. O juiz é juiz no processo,
mas uma das partes desse mesmo processo é juiz noutro processo em que o primeiro juiz é parte. Não se
trata apenas do juiz, mas também do seu cônjuge, familiar, etc.
Alínea c ® É causa de suspeição, e não de impedimento. “Se houver, ou tiver havido nos três anos
antecedentes, qualquer causa, não compreendida na alínea g do n.º 1 do art.º 115, entre alguma das
partes ou o seu cônjuge e o juiz ou seu cônjuge ou algum parente ou a fim de qualquer deles em linha
reta”.
Alínea d ® “Se o juiz ou o seu cônjuge, ou algum parente ou a fim de qualquer deles em linha reta, for
credor ou devedor de alguma das partes, ou tiver interesse jurídico em que a decisão do pleito seja
favorável a uma das partes”. Neste artigo, estão elencadas duas causas distintas: em primeiro lugar, o juiz
ou o seu cônjuge ou algum parente ou afim em linha reta for credor ou devedor de alguma das partes,
há, aqui, um interesse do mesmo, que se reflete numa suspeita de imparcialidade do juiz; em segundo,
se houver um interesse jurídico em que a decisão seja favorável a uma dessas partes, isto é, o juiz pode
ter um interesse jurídico em que a ação seja favorável a uma das partes, como, por exemplo, o juiz ser
sócio de um clube de futebol, que é parte na causa.
Alínea e ® “Se o juiz for produtor, herdeiro presumido, donatário ou patrão de alguma das partes, ou
membro da direção ou administração de qualquer pessoa coletiva parte na causa”. No fundo, é parte no
processo um trabalhador do juiz, como, por exemplo, um jardineiro. Da mesma forma, se o juiz tiver
recebido uma doação também não pode julgar o caso. O produtor é uma espécie de um assessor do tutor.
(NOTA: O tutor não está presente nesta alínea, porque está previsto nos impedimentos).

Alínea f ® “Se o juiz tiver recebido dádivas antes ou depois de instaurado o processo e por causa dele, ou
se tiver fornecido meios para as despesas do processo”. Esta alínea abarca os subornos ou, então, o facto
de o juiz fornecer donativos para ajudar uma das partes, que é parte no processo.
Alínea g ® “Se houver inimizada grave ou grande intimidade entre o juiz e alguma das partes ou seus
mandatários”. Ou seja, se houver uma inimizade grave ou uma intimidade entre o juiz e uma das partes
ou com o advogado da mesma, o juiz não pode julgar o caso.

Limite: art. º 121, n. º 4 do CPC


“Se o juiz tiver pedido dispensa de intervir na causa, mas o seu pedido não houver sido atendido, a
suspeição só pode ser oposta por fundamento diferente do que ele tiver invocado e o prazo para a
dedução corre desde a primeira notificação ou intervenção da parte no processo, posterior ao
indeferimento do pedido de escusa do juiz”.
Se o juiz tiver pedido escusa ao Presidente da Relação respetiva e o seu pedido não for atendido, a
suspeição só poderá ser imposta por motivo diferente daquele que o próprio juiz invocou.

Oportunidade para arguir a suspeição (art.º 121 do CPC)


“O prazo para a dedução da suspeição corre desde o dia em que, depois de o juiz ter despachado ou
intervindo no processo, nos termos do n.º 2 do art.º 119, a parte for citada ou notificada para qualquer
termo ou intervier em algum ato do processo; o réu citado para a causa pode deduzir a suspeição no
mesmo prazo que lhe é concedido para a defesa.”
A partir do momento em que a parte toma conhecimento de que é aquele o juiz do processo e, em relação
a ele, se verifica uma causa de suspeição, o prazo começa a correr (nesse momento). Este artigo não diz
expressamente qual é o prazo, mas essa resposta é-nos dada pelo art.º 149 do CPC e são 10 dias. Posto
isto, a parte tem dez dias para deduzir a suspeição. Caso não o faça, fica sanada a suspeição e não pode
voltar a invocar aquela causa no processo e tem de o julgar. Se o fundamento da suspeição só é conhecido
na pendência do processo (art.º 121, n.º 3), “a parte denuncia o facto ao juiz logo que tenha conhecimento
dele, sob pena de não poder mais tarde arguir a suspeição”.

Regime processual

• Tramitação (art.º 122, n.º 1 do CPC)

“O recusante indica com precisão os fundamentos da suspeição e, autuado o requerimento por apenso,
é este concluso ao juiz recusado para responder; a falta de resposta ou de impugnação dos factos alegados
importa confissão destes.”

• Competência (art.º 123, n.º 1 do CPC)

“Recebido o processo, o presidente da Relação pode requisitar das partes ou do juiz recusado os
esclarecimentos que julgue necessários; a requisição é feita por ofício dirigido ao juiz recusado, ou ao
substituto quando os esclarecimentos devam ser fornecidos pelas partes.” O Presidente da Relação julga
a suspeição procedente ou improcedente.
• Julgamento (art.º 123, n.º 3 do CPC)

“Concluídas as diligências que se mostrem necessárias, o presidente decide sem recurso; quando julgar
improcedente a suspeição, apreciará se o recusante procedeu de má-fé.”

• Efeito da pendência do incidente de suspeição (art.º 125 do CPC)

“1 - A causa principal segue os seus termos, intervindo nela o juiz substituto; mas nem o despacho
saneador nem a decisão final são proferidos enquanto não estiver julgada a suspeição.
2 - Nas Relações e no Supremo Tribunal de Justiça, quando a suspeição for oposta ao relator, serve de
relator o primeiro adjunto e o processo vai com vista ao juiz imediato ao último adjunto; mas não se
conhece do objeto do feito nem se profere decisão que possa prejudicar o conhecimento da causa
enquanto não for julgada a suspeição.”
A causa não pode parar, mas o juiz contra quem foi deduzida a suspeição não pode intervir.

• Efeito da decisão positiva do incidente de suspeição (art.º 126 do CPC)

“1 - Julgada procedente a escusa ou a suspeição, continua a intervir no processo o juiz que fora chamado
em substituição, nos termos do artigo anterior.
2 - Se a escusa ou a suspeição for desatendida, intervém na decisão da causa o juiz que se escusou ou que
foi averbado de suspeito, ainda que o processo tenha já os vistos necessários para o julgamento.”

Garantias de imparcialidade dos agentes do Ministério Público e dos funcionários de justiça

® Impedimentos (art.º 118, n.º 1 do CPC)

“Aos representantes do Ministério Público é aplicável o disposto nas alíneas a, b, g e i do n.º 1 do art.º
115; estão também impedidos de intervir quando tenham intervindo na causa como mandatários ou
peritos, constituídos ou designados pela parte contrária àquela que teriam de representar ou a quem
teriam de prestar assistência.”

® Suspeições (art.º 128, n.º 1 do CPC)

“O prazo para o autor deduzir a suspeição conta-se do recebimento da petição inicial na secretaria ou da
distribuição, se desta depender a intervenção do funcionário.”

Þ Princípio do contraditório

No plano do direito ordinário, o princípio do contraditório concretiza o direito fundamental a um processo


equitativo, ao abrigo do art.º 20, n.º 4 do CRP e do art.º 3, n.º 3 do CPC.
O princípio do contraditório abarca duas noções: uma noção ampla (moderna) e uma noção restrita
(tradicional):

• A noção restrita deste princípio corresponde a um direito que as partes têm de se pronunciarem
sobre as provas e sobre todas as questões suscitadas em tribunal, antes deste último tomar uma
decisão. Corresponde a um direito de audiência prévia. Antes de o tribunal tomar uma decisão,
isto é, antes de decidir a questão, é necessário ouvirem-se as partes, dando-lhes a oportunidade
de se pronunciarem.

Esta conceção garante a participação efetiva das partes no desenvolvimento de todo o litígio, mediante a
possibilidade de, em plena igualdade, influírem em todos os elementos (factos, provas, questões de
direito) que se encontrem em ligação com o objeto da causa e que em qualquer fase do processo
apareçam como potencialmente relevantes para a decisão. Este princípio é visto, face a esta conceção
restrita, como uma influência, no sentido positivo de direito de incidir ativamente no desenvolvimento e
no êxito do processo.
• Pelo contrário, a noção ampla é mais abrangente e corresponde a um verdadeiro direito que as
partes têm de influenciar (no sentido de terem uma participação pró-ativa no processo, fazendo
chegar a sua visão sobre o objeto do litígio) a decisão do tribunal (incidirem ativamente no
desenvolvimento da causa e no desfecho do processo). No fundo, trata-se do direito de incidir
ativamente no desenvolvimento e no êxito do processo.

Garante-se o desenvolvimento do processo em discussão dialética, com as vantagens decorrentes da


fiscalização recíproca das afirmações e provas feitas pelas partes.

O princípio do contraditório quanto aos factos da ação:


o Os articulados (art.º 151 do CPC): são as peças nas quais as partes alegam, em regra, a matéria
de facto. O princípio do contraditório implica que haja tantos articulados quantos os necessários
para que o direito de resposta seja assegurado.

o O contraditório na ausência final (art.º 3, n.º 4 do CPC): na contestação, o réu pode pronunciar-
se quanto aos factos que o autor alegou na petição inicial. No fundo, o contraditório diz: “já
chega, não vamos continuar a trocar articulados”. Às partes deve ser sempre facultada, antes da
decisão, uma tomada de posição sobre o facto que o juiz oficiosamente se propõe introduzir.

o O dever oficioso de suscitar a pronúncia das partes (art.º 3, n.º 3 do CPC): impõe-se ao tribunal
o dever de suscitar a pronúncia das partes, mesmo em relação a questões que elas próprias não
invocaram. Por vezes, o tribunal decide aplicar uma regra jurídica ou uma interpretação
normativa que as partes nem sequer afloraram. Em matéria de direito, o juiz dá um
enquadramento jurídico distinto daquele que as partes estavam a discutir entre elas. No fundo,
está em causa o princípio da proibição das decisões surpresa, na medida em que as partes não
podem ser surpreendidas com decisões do juiz.

O princípio do contraditório quanto aos meios de prova:

Art.º 415 do CPC ® “1 - Salvo disposição em contrário, não são admitidas nem produzidas provas sem
audiência contraditória da parte a quem hajam de ser opostas.
2 - Quanto às provas constituendas, a parte é notificada, quando não for revel, para todos os atos de
preparação e produção da prova, e é admitida a intervir nesses atos nos termos da lei; relativamente
às provas pré-constituídas, deve facultar-se à parte a impugnação, tanto da respetiva admissão como
da sua força probatória.”
¯
NOTA: “Provas constituendas” – a parte é notificada para todos os atos. São provas constituídas no
processo. “Provas pré-constituídas” – validade probatória desse meio.
No plano da prova, o princípio do contraditório exige:
a. Que às partes seja, em igualdade, facultada a proposição de todos os meios probatórios
potencialmente relevantes para o apuramento da realidade dos factos da causa

b. Que lhes seja consentido fazê-lo até ao momento em que melhor possam decidir da sua
conveniência, tidas em conta, porém, as necessidades de andamento do processo

c. Que a produção ou admissão da prova tenham lugar com audiência contraditória de ambas as
partes

d. Que estas possam pronunciar-se sobre a apreciação das provas produzidas por si, pelo adversário
ou pelo tribunal

O princípio do contraditório no julgamento (de facto e de direito) da causa:


i. As alegações orais das partes (art.º 604, n.º 3, alínea e do CPC). O caso especial das alegações
escritas sobre questões de direito (art.º 567, n.º 2 do CPC).

Art.º 604, n.º 3 do CPC ® “Em seguida, realizam-se os seguintes atos, se a eles houver lugar:
a) Prestação dos depoimentos de parte
b) Exibição de reproduções cinematográficas ou de registos fonográficos, podendo o juiz determinar que
ela se faça apenas com assistência das partes, dos seus advogados e das pessoas cuja presença se mostre
conveniente
c) Esclarecimentos verbais dos peritos cuja comparência tenha sido determinada oficiosamente ou a
requerimento das partes
d) Inquirição das testemunhas
e) Alegações orais, nas quais os advogados exponham as conclusões, de facto e de direito, que hajam
extraído da prova produzida, podendo cada advogado replicar uma vez.”
Art.º 567, n.º 2 do CPC ® “É concedido o prazo de 10 dias, primeiro ao mandatário do autor e depois ao
mandatário do réu, para alegarem por escrito, com exame do suporte físico do processo, se necessário, e
em seguida é proferida sentença, julgando-se a causa conforme for de direito.”

ii. Proibição das “decisões-surpresa”. Obrigatoriedade de o tribunal facultar às partes o exercício


do contraditório sobre qualquer questão ou fundamento decisório que seja do conhecimento
oficioso (art.º 5, n.º 3 e art.º 3, n.º 3 do CPC).

Art.º 5, n.º 3 do CPC ® “O juiz não está sujeito às alegações das partes no tocante à indagação,
interpretação e aplicação das regras de direito.”
Art.º 3, n.º 3 do CPC ® “O juiz deve observar e fazer cumprir, ao longo de todo o processo, o princípio do
contraditório, não lhe sendo lícito, salvo caso de manifesta desnecessidade, decidir questões de direito
ou de facto, mesmo que de conhecimento oficioso, sem que as partes tenham tido a possibilidade de
sobre elas se pronunciarem.”
Exceção ao princípio do contraditório: a “manifesta desnecessidade” (art.º 3, n.º 3 + art.º 201 do CPC).
Este princípio não é absoluto, na medida em que o seu exercício pode ser dispensado, se for
manifestamente desnecessário.
Art.º 201 do CPC ® “A arguição de qualquer nulidade pode ser indeferida, mas não pode ser deferida
sem prévia audiência da parte contrária, salvo caso de manifesta desnecessidade.”
Consequências da falta do contraditório: Na doutrina, discute-se qual é a consequência de o tribunal
preterir o exercício do contraditório nos casos em que não o poderia fazer. Isso constitui uma nulidade
processual ou uma nulidade da sentença ou despacho que tiver proferido essa decisão? Ao juiz compete,
quando repute a indicação insuficiente, introduzir no processo, antes ou depois da discussão jurídica da
causa, as questões novas que poderão constituir fundamentação da sentença.

Þ Princípio da igualdade

Nos termos do art.º 13 do CRP, o princípio constitucional da igualdade atribui a atuação, no plano do
direito ordinário, a um direito fundamental a um processo equitativo.
A igualdade substancial das partes está vertida no art.º 4 do CPC, e diz-nos que não se deve resumir a um
tratamento formal da igualdade. Não podemos tratar desigualmente ambas as partes. No fundo, ao abrigo
deste princípio na sua dimensão programática, o tribunal tem de tratar de forma substancialmente igual
todas as partes no processo.
O princípio da igualdade traduz-se, ainda, na doutrina da “igualdade de armas”. Impõe o equilíbrio entre
as partes ao longo de todo o processo, na perspetiva dos meios processuais de que dispõem para
apresentar e fazer vingar as respetivas teses: exige a identidade das faculdades e meios de defesa
processuais das partes e a sua sujeição a ónus e cominações idênticos, sempre que a sua posição perante
o processo é equiparável, e um jogo de compensações, gerador do equilíbrio global do processo, quando
a desigualdade objetiva intrínseca de certas posições processuais leva a atribuir a uma parte meios
processuais não atribuíveis à outra. Próximo do princípio constitucional da igualdade e não discriminação
(art.º 13 do CRP), o princípio da igualdade de armas impõe um estatuto de igualdade substancial das
partes (art.º 4 do CPC) e deve jogar igualmente, no caso de pluralidade de autores ou de réus.
O problema da posição processual do Ministério Público. O MP intervém no processo civil e, ainda hoje,
existem algumas normas no Código que lhe atribuem um tratamento privilegiado (art.º 569, n.º 4 + art.º
632, n.º 4 do CPC), mas chocam com o princípio da igualdade.
Art.º 569, n.º 4 do CPC ® “Ao Ministério Público é concedida prorrogação do prazo quando careça de
informações que não possa obter dentro dele ou quando tenha de aguardar resposta a consulta feita a
instância superior; o pedido deve ser fundamentado e a prorrogação não pode, em caso algum, ir além
de 30 dias.”

Þ Princípio da publicidade
No plano do direito ordinário, o princípio da publicidade concretiza o direito fundamental a um processo
equitativo. Este princípio desdobra-se em duas partes:

• Publicidade do processo (enquanto um todo). Não tem base constitucional direta, embora decorra do
art.º 163 do CPC. Ao abrigo do n.º 1 deste artigo, todo o processo civil é público, à exceção das situações
previstas em lei. Nos termos do n.º 2, “a publicidade do processo implica o direito de exame e consulta
do processo por via eletrónica, nos termos definidos na portaria prevista no n.º 2 do art.º 132, e na
secretaria, bem como o de obtenção de cópias ou certidões de quaisquer peças nele incorporadas, pelas
partes, por qualquer pessoa capaz de exercer o mandato judicial ou por quem nisso revele interesse
atendível.” Ou seja, o princípio da publicidade do processo implica o direito, exame e consulta do
processo; a obtenção de certidões ou cópias de qualquer peça incorporada no processo, etc.
A passagem de certidões (art.º 170 e art.º 171 do CPC). Em processo civil, não há segredo de justiça, na
medida em que qualquer parte pode obter cópias e certidões do seu processo. Qualquer advogado pode
dirigir-se ao tribunal e obter cópias do processo. Um cidadão também pode obter cópias do processo,
desde que exista um motivo atendível que justifique o respetivo acesso ao processo.

Contudo, existem exceções à publicidade.

• Art.º 164 do CPC:


“1 - O acesso aos autos é limitado nos casos em que a divulgação do seu conteúdo possa causar dano à
dignidade das pessoas, à intimidade da vida privada ou familiar ou à moral pública, ou pôr em causa a
eficácia da decisão a proferir.
2 - Preenchem, designadamente, as restrições à publicidade previstas no número anterior:
a) Os processos de anulação de casamento, divórcio, separação de pessoas e bens e os que respeitem
ao estabelecimento ou impugnação de paternidade, a que apenas podem ter acesso as partes e os seus
mandatários;
b) Os procedimentos cautelares pendentes, que só podem ser facultados aos requerentes e seus
mandatários e aos requeridos e respetivos mandatários, quando devam ser ouvidos antes de ordenada
a providência;
c) Os processos de execução só podem ser facultados aos executados e respetivos mandatários após a
citação ou, nos casos previstos no artigo 626.º, após a notificação; independentemente da citação ou
da notificação, é vedado aos executados e respetivos mandatários o acesso à informação relativa aos
bens indicados pelo exequente para penhora e aos atos instrutórios da mesma.
d) Os processos de acompanhamento de maior.”

• Publicidade das audiências judiciais. Este princípio encontra fundamento constitucional no artigoº206
da Constituição. Qualquer pessoa pode ter acesso às audiências, tanto às audiências finais, como às
prévias, na medida em que são públicas.
Publicidade da audiência final (art.º 606, n.º 1 do CPC): “A audiência é pública, salvo quando o juiz
decidir o contrário, em despacho fundamentado, para salvaguarda da dignidade das pessoas e da moral
pública, ou para garantir o seu normal funcionamento.”

Þ Princípio da cooperação

Ao abrigo do art.º 7, n.º 1 do CPC (“Na condução e intervenção no processo, devem os magistrados, os
mandatários judiciais e as próprias partes cooperar entre si, concorrendo para se obter, com brevidade
e eficácia, a justa composição do litígio”), este princípio assenta na ideia de cooperação para que o
processo corra bem e possa ser decidida a causa.

Cooperação formal: atende mais diretamente ao respeito e observância dos deveres de urbanidade e de
recíproca correção (art.º 9 do CPC). Em especial, os atrasos no início das diligências (art.º 151 do CPC).

Cooperação material:
® A cooperação do tribunal com as partes.

a. Iniciativa oficiosa no suprimento da falta de pressupostos processuais suscetíveis de sanação


(art.º 6, n.º 2 do CPC – “O juiz providencia oficiosamente pelo suprimento da falta de
pressupostos processuais suscetíveis de sanação, determinando a realização dos atos
necessários à regularização da instância ou, quando a sanação dependa de ato que deva ser
praticado pelas partes, convidando estas a praticá-lo.”).

b. Convite à prestação de esclarecimentos (art.º 7, n.º 2 do CPC – “O juiz pode, em qualquer altura
do processo, ouvir as partes, seus representantes ou mandatários judiciais, convidando-os a
fornecer os esclarecimentos sobre a matéria de facto ou de direito que se afigurem pertinentes
e dando-se conhecimento à outra parte dos resultados da diligência”).

c. Dever de realização de todas as diligências necessárias ao apuramento da verdade e à justa


composição do litígio (art.º 411 do CPC – “Incumbe ao juiz realizar ou ordenar, mesmo
oficiosamente, todas as diligências necessárias ao apuramento da verdade e à justa composição
do litígio, quanto aos factos de que lhe é lícito conhecer.”).

d. Dever de cooperação com as partes na obtenção de meios de prova (art.º 7, n.º 4 do CPC –
“Sempre que alguma das partes alegue justificadamente dificuldade séria em obter documento
ou informação que condicione o eficaz exercício de faculdade ou o cumprimento de ónus ou
dever processual, deve o juiz, sempre que possível, providenciar pela remoção do obstáculo.”).

® A cooperação das partes com o tribunal.

a. O dever de cooperação para a descoberta da verdade (art.º 417, n.º 1 do CPC – “Todas as
pessoas, sejam ou não partes na causa, têm o dever de prestar a sua colaboração para a
descoberta da verdade, respondendo ao que lhes for perguntado, submetendo-se às inspeções
necessárias, facultando o que for requisitado e praticando os atos que forem determinados.”).

b. O dever de boa-fé processual (art.º 8 do CPC – “As partes devem agir de boa-fé e observar os
deveres de cooperação resultantes do preceituado no artigo anterior.”):

• A litigância de má-fé.

Art.º 542, n.º 2 do CPC: “Diz-se litigante de má-fé quem, com dolo ou negligência grave:
a) Tiver deduzido pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não devia ignorar
b) Tiver alterado a verdade dos factos ou omitido factos relevantes para a decisão da causa
c) Tiver praticado omissão grave do dever de cooperação
d) Tiver feito do processo ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável, com o fim de
conseguir um objetivo ilegal, impedir a descoberta da verdade, entorpecer a ação da justiça ou protelar,
sem fundamento sério, o trânsito em julgado da decisão.
3 - Independentemente do valor da causa e da sucumbência, é sempre admitido recurso, em um grau, da
decisão que condene por litigância de má-fé.”

• Responsabilidade por litigância de má-fé (art.º 543, n.º 1 do CPC).

“A indemnização pode consistir:


a) No reembolso das despesas a que a má-fé do litigante tenha obrigado a parte contrária, incluindo os
honorários dos mandatários ou técnicos;
b) No reembolso dessas despesas e na satisfação dos restantes prejuízos sofridos pela parte contrária
como consequência direta ou indireta da má-fé.”

As consequências da litigância de má-fé são:

• A multa processual (sanção civil – art.º 27, n.º 3 do RCP): “Nos casos de condenação por
litigância de má-fé a multa é fixada entre 2 UC e 100 UC.”;
• Indemnização à parte contrária, se esta pedir (art.º 543 do CPC).
“1 - A indemnização pode consistir:
a) No reembolso das despesas a que a má-fé do litigante tenha obrigado a parte contrária, incluindo os
honorários dos mandatários ou técnicos;
b) No reembolso dessas despesas e na satisfação dos restantes prejuízos sofridos pela parte contrária
como consequência direta ou indireta da má-fé.
2 - O juiz opta pela indemnização que julgue mais adequada à conduta do litigante de má-fé, fixando-a
sempre em quantia certa.
3 - Se não houver elementos para se fixar logo na sentença a importância da indemnização, são ouvidas
as partes e fixa-se depois, com prudente arbítrio, o que parecer razoável, podendo reduzir-se aos justos
limites as verbas de despesas e de honorários apresentadas pela parte.
4 - Os honorários são pagos diretamente ao mandatário, salvo se a parte mostrar que o seu patrono já
está embolsado.”

Responsabilidade do mandatário pela má-fé da parte. Ao abrigo do art.º 545 do CPC, o tribunal não pode
condenar em multa os advogados, na medida em que não tem poder sancionatório sobre eles. Se verificar
que a parte não foi a principal (ou não foi de todo) responsável pela atuação de má-fé (ou seja, que quem
tem responsabilidade é o advogado), o tribunal pode participar à associação pública.

• A taxa sancionatória excecional

Ao abrigo do regime do art.º 531 do CPC, “Por decisão fundamentada do juiz, pode ser excecionalmente
aplicada uma taxa sancionatória quando a ação, oposição, requerimento, recurso, reclamação ou
incidente seja manifestamente improcedente e a parte não tenha agido com a prudência ou diligência
devida.” Visa-se abranger as situações que são meramente negligentes, isto é, quando a parte com
simples negligência deduz uma ação, um requerimento, uma reclamação, etc., que seja manifestamente
improcedente.
Ao abrigo do art.º 10 do RCP, “a taxa sancionatória é fixada pelo juiz entre 2 UC e 15 UC.” A natureza
jurídica atribuída a esta taxa sancionatória excecional é uma multa.

• Articulação entre as duas figuras

Distinção e âmbitos de aplicação. A litigância de má-fé aplica-se a situações tipificadas na lei, nas quais a
atuação seja dolosa ou altamente negligente.
Insusceptibilidade de condenação simultânea em taxa sancionatória excecional e como litigante de má-
fé (art.º 27, n.º 5 do RCP). Uma mesma ação não pode ser, simultaneamente, tratada como litigância de
má-fé e taxa sancionatória excecional. Ou seja, “a parte não pode ser simultaneamente condenada, pelo
mesmo ato processual, em multa e em taxa sancionatória excecional”.
A cooperação dos intervenientes acidentais. Os intervenientes acidentais são as pessoas que
pontualmente têm intervenção no processo, como é o caso das testemunhas, dos peritos, etc.

• O dever de cooperação para a descoberta da verdade (art.º 417, n.º 1 do CPC).

Ao abrigo do art.º 417, n.º 1 do CPC, “Todas as pessoas, sejam ou não partes na causa, têm o dever de
prestar a sua colaboração para a descoberta da verdade, respondendo ao que lhes for perguntado,
submetendo-se às inspeções necessárias, facultando o que for requisitado e praticando os atos que forem
determinados”.
Escusa do dever de cooperação (art.º 417, n.º 3 do CPC): todos estão obrigados a cooperar para a
descoberta da verdade, contudo, este não é um dever absoluto, na medida em que se podem escusar do
seu dever de cooperação.
Art.º 417, n.º 3 do CPC – “A recusa é, porém, legítima se a obediência importar:
a) Violação da integridade física ou moral das pessoas;
b) Intromissão na vida privada ou familiar, no domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações;
c) Violação do sigilo profissional ou de funcionários públicos, ou do segredo de Estado, sem prejuízo do
disposto no n.º 4.”).

Responsabilidade pela violação do dever de cooperação (art.º 417, n.º 2 do CPC – “Aqueles que recusem
a colaboração devida são condenados em multa, sem prejuízo dos meios coercitivos que forem possíveis;
se o recusante for parte, o tribunal aprecia livremente o valor da recusa para efeitos probatórios, sem
prejuízo da inversão do ónus da prova decorrente do preceituado no n.º 2 do art.º 344 do Código Civil.”)

• Os deveres funcionais das testemunhas (art.º 508, n.º 4 do CPC) e dos peritos (art.º 469 do CPC).

Art.º 508, n.º 4 do CPC ® “O juiz ordena que a testemunha que sem justificação tenha faltado compareça
sob custódia, sem prejuízo da multa aplicável, que é logo fixada em ata”.
Art.º 469 do CPC ® “1 - O perito é obrigado a desempenhar com diligência a função para que tiver sido
nomeado, podendo o juiz condená-lo em multa quando infrinja os deveres de colaboração com o tribunal.
2 - O perito pode ser destituído pelo juiz se desempenhar de forma negligente o encargo que lhe foi
cometido, designadamente quando não apresente ou impossibilite, pela sua inércia, a apresentação do
relatório pericial no prazo fixado.”

Þ Princípio da duração razoável do processo

O princípio da duração razoável do processo concretiza-se no plano do direito ordinário no art.º 2, n.º 1
CPC, “a proteção jurídica através dos tribunais implica o direito de obter, em prazo razoável, uma decisão
judicial que aprecie, com força de caso julgado, a pretensão regularmente deduzida em juízo, bem como
a possibilidade de a fazer executar”, o que significa que os processos não se devem eternizar nos tribunais.
Este princípio encontra-se plasmado no art.º 20, n.º 4 da CRP (“todos têm direito a que uma causa em
que intervenham seja objeto de decisão em prazo razoável e mediante processo equitativo”) e no art.º 6
n.º 1 da CEDH (“Qualquer pessoa tem direito a que a sua causa seja examinada, equitativa e
publicamente, num prazo razoável por um tribunal independente e imparcial, estabelecido pela lei, o qual
decidirá, quer sobre a determinação dos seus direitos e obrigações de carácter civil, quer sobre o
fundamento de qualquer acusação em matéria penal dirigida contra ela. O julgamento deve ser público,
mas o acesso à sala de audiências pode ser proibido à imprensa ou ao público durante a totalidade ou
parte do processo, quando a bem da moralidade, da ordem pública ou da segurança nacional numa
sociedade democrática, quando os interesses de menores ou a proteção da vida privada das partes no
processo o exigirem, ou, na medida julgada estritamente necessária pelo tribunal, quando, em
circunstâncias especiais, a publicidade pudesse ser prejudicial para os interesses da justiça.”).

Manifestações do princípio da duração razoável do processo:

• Princípio da economia processual

O resultado processual deve ser atingido com a maior economia de meios. Esta economia de meios exige
que cada processo, por um lado, resolva o maior número possível de litígios (economia de processos) e,
por outro, comporte só os atos e formalidades indispensáveis ou úteis (economia de atos e formalidades).

1. Economia de processos

A justiça deve procurar decidir o maior número possível de litígios no menor número possível de
processos. No fundo, trata-se de poupar recursos humanos, diligências, tempo, etc.
A reconvenção permite ao réu deduzir uma contra pretensão (contração), deduzindo um pedido
convencional assente numa causa de pedido reconvencional e, então, o réu passa a chamar-se “réu
reconvinte” e o autor passa a chamar-se “autor reconvindo”. No mesmo processo, temos a discussão de
duas facetas do litígio – é uma forma de economia de processos.
A apensação de ações significa que, desde que haja uma conexão entre eles, os processos são unificados
e decididos em conjunto. No fundo, mantem a sua autonomia enquanto relações jurídicas processuais.

2. Economia de atos processuais

A ideia é a seguinte: economizar os atos processuais que vão sendo praticados ao longo do processo. A
lei prevê uma série de normas que asseguram esta ideia, nomeadamente no art.º 547 e no art.º 131, n.º
1 do CPC.

O princípio da adequação formal está previsto no art.º 547 do CPC: “O juiz deve adotar a tramitação
processual adequada às especificidades da causa e adaptar o conteúdo e a forma dos atos processuais ao
fim que visam atingir, assegurando um processo equitativo.” Relativamente às especificidades nas ações
de reduzido valor, temos o art.º 597 do CPC: “Nas ações de valor não superior a metade da alçada da
Relação, findos os articulados, sem prejuízo do disposto no n.º 2 do art.º 590, o juiz, consoante a
necessidade e a adequação do ato ao fim do processo:
a) Assegura o exercício do contraditório quanto a exceções não debatidas nos articulados
b) Convoca audiência prévia
c) Profere despacho saneador, nos termos do no n.º 1 do art.º 595
d) Determina, após audição das partes, a adequação formal, a simplificação ou a agilização processual,
nos termos previstos no n.º 1 do art.º 6 e no art.º 547
e) Profere o despacho previsto no n.º 1 do art.º 596
f) Profere despacho destinado a programar os atos a realizar na audiência final, a estabelecer o número
de sessões e a sua provável duração e a designar as respetivas datas
g) Designa logo dia para a audiência final, observando o disposto no art.º 151.”

Simplificação formal dos atos processuais (art.º 131, n.º 1 do CPC): “Os atos processuais têm a forma
que, nos termos mais simples, melhor corresponda ao fim que visam atingir.”
Proibição da prática de atos inúteis (art.º 130 do CPC – princípio da limitação dos atos): “Não é lícito
realizar no processo atos inúteis.”

• Tramitação eletrónica do processo (art.º 132 da Portaria n.º 280/2013).


Hoje em dia, todo o processo é conduzido numa plataforma eletrónica.

• O princípio da prossecução de uma decisão de mérito


Nos termos do art.º 6, n.º 2 do CPC, “o juiz providencia oficiosamente pelo suprimento da falta de
pressupostos processuais suscetíveis de sanação, determinando a realização dos atos necessários à
regularização da instância ou, quando a sanação dependa de ato que deva ser praticado pelas partes,
convidando estas a praticá-lo.”
O princípio pro actione (direito de ação – art.º 7 do CPTA), “para efetivação do direito de acesso à justiça,
as normas processuais devem ser interpretadas no sentido de promover a emissão de pronúncias sobre
o mérito das pretensões formuladas.”
Ao abrigo do art.º 6, n.º 2 do CPC, o juiz deve oficiosamente procurar sanar os vícios processuais que
possam ser sanados.

• Princípio do patrocínio forense

Este princípio possui fundamento constitucional no art.º 208 da CRP: “A lei assegura aos advogados as
imunidades necessárias ao exercício do mandato e regula o patrocínio forense como elemento essencial
à administração da justiça.”
O patrocínio forense é um elemento essencial à administração da justiça. Isso reflete-se, desde logo, na
liberdade de constituição de mandatário forense – art.º 40, n.º 3 da CPC: “Nas causas em que, não sendo
obrigatória a constituição de advogado, as partes não tenham constituído mandatário judicial, a inquirição
das testemunhas é efetuada pelo juiz, cabendo ainda a este adequar a tramitação processual às
especificidades da situação.”
Ao abrigo do art.º 42 do CPC, “nas causas em que não seja obrigatória as constituições de advogado
podem as próprias partes pleitear por si ou ser representadas por advogados estagiários ou por
solicitadores.”
De forma a assegurar este princípio, a lei estabelece um conjunto de garantias do exercício da atividade
forense, entre elas a que de os mandatários não estão sujeitos ao poder disciplinar do tribunal.

• Princípio da preclusão

As partes têm autorresponsabilidade, ou seja, têm de praticar os atos processuais em momentos que
sejam próprios e adequados.
Os prazos processuais: esgotado um prazo processual, extingue-se o direito à prática do ato a que o prazo
tendia – art.º 139, n.º 3 do CPC: “O decurso do prazo perentório extingue o direito de praticar o ato.”
Decorrido este prazo, extingue-se o direito à prática do ato.
A prática de ato fora do prazo. Consequência: art.º 162, n.º 2 do CPC. “No próprio dia, sendo possível,
deve a secretaria submeter a despacho, avulsamente, os requerimentos que não respeitem ao
andamento de processos pendentes, juntar a estes os requerimentos, respostas, articulados e alegações
que lhes digam respeito ou, se forem apresentados fora do prazo ou houver dúvidas sobre a legalidade
da junção, submetê-los a despacho do juiz, para este a ordenar ou recusar.”

Obrigatoriedade de alegação nos articulados dos factos essenciais que fundamentam a ação e a defesa:

® Na petição inicial (art.º 552, n.º 1, alínea d do CPC): “Na petição, com que propõe a ação, deve o autor
expor os factos essenciais que constituem a causa de pedir e as razões de direito que servem de
fundamento à ação.”

® Na contestação (art.º 573, n.º 1 e art.º 574, n.º 1 do CPC):


“Toda a defesa deve ser deduzida na contestação, excetuados os incidentes que a lei mande deduzir em
separado.”
“Ao contestar, deve o réu tomar posição definida perante os factos que constituem a causa de pedir
invocada pelo autor.”

A falta de contestação: Revelia (art.º 566 do CPC)


O réu não apresenta a contestação dentro do prazo – revelia.

I. Revelia absoluta e revelia relativa (art.º 566 do CPC)

“Se o réu, além de não deduzir qualquer oposição, não constituir mandatário nem intervier de qualquer
forma no processo, o tribunal verifica se a citação foi feita com as formalidades legais e ordena a sua
repetição quando encontre irregularidades.”

No que toca à revelia relativa, o réu, não tendo apresentado contestação, teve algum tipo de intervenção
no processo, ou seja, apresentou um advogado, etc.
Quanto à revelia absoluta, não nos dá garantia nenhuma de que o réu tomou conhecimento de que
pendia uma ação contra ele.

II. Revelia operante e revelia inoperante (art.º 567, n.º 1 do CPC)

“Se o réu não contestar, tendo sido ou devendo considerar-se citado regularmente na sua própria pessoa
ou tendo juntado procuração a mandatário judicial no prazo da contestação, consideram-se confessados
os factos articulados pelo autor.”

Temos a revelia operante, se se aplicar o efeito culminatório semipleno. Na revelia inoperante, não há
consequência.

III. Efeitos da revelia operante

A revelia operante tem por efeito a confissão dos factos articulados pelo autor, tal como estabelece o
art.º 567, n.º 1 do CPC. Tratando-se de um facto, a primeira caraterística ontológica que lhe assiste é
evidente: o facto é. Ou se verifica, ou não. O “dever existir” está afastado do campo dos factos, por ser
pertinente à valoração que se faz do facto.
A falta de impugnação especificada: admissão por acordo (art.º 574, n.º 2 do CPC). “Consideram-se
admitidos por acordo os factos que não forem impugnados, salvo se estiverem em oposição com a defesa
considerada no seu conjunto, se não for admissível confissão sobre eles ou se só puderem ser provados
por documento escrito; a admissão de factos instrumentais pode ser afastada por prova posterior.”

• Princípio da acessibilidade da linguagem judiciária

Ao abrigo do art.º 9-A do CPC, o princípio da utilização de linguagem simples e clara impõe ao tribunal e
à secretaria também o cuidado de nas comunicações dirigidas diretamente às partes ou outras pessoas
chamadas a intervir acidentalmente usar linguagem simples e clara. “O tribunal deve, em todos os seus
atos, e em particular nas citações, notificações e outras comunicações dirigidas diretamente às partes e a
outras pessoas singulares e coletivas, utilizar preferencialmente linguagem simples e clara.” É necessário
que haja um equilíbrio. É preciso haver rigor relativamente ao aspeto jurídico, de maneira que não fique
algo importante por dizer, mas de forma simples e clara. Estamos perante uma preocupação entre as
partes e terceiros chamados a intervir no processo.

11/11/2021

Þ Caso prático
Em 15 de Janeiro de 2020, António, senhorio, celebrou com Carlos um contrato de arrendamento, pela
renda mensal de 250 euros, referente uma fração habitacional de um edifício de sítio no Porto, com o
valor patrimonial de 70.000 euros e que António tinha comprado pelo preço de 180.000 euros. Carlos
pretendia destinar a fração para sua futura residência conjugal uma vez que se iria casar no final de
março com Eduarda. Sucede que, logo em fevereiro de 2020, se deu conta de que a sala da fração era
pouco espaçosa e, sem autorização do senhorio, iniciou a demolição de várias paredes interiores de
maneira a aumentar a respetiva área, tendo deixado de efetuar o pagamento de duas rendas em virtude
das elevadas despesas que teve com a realização das obras.
Assim que tomou conhecimento das obras, em maio de 2020, António confrontou Carlos na escadaria
do edifício. Carlos, surpreendido, ripostou que António era um “senhorio da bosta” e que “se
aproveitava de pessoas indefesas para as aldrabar alugando-lhes casas sem condições mínimas de
habitabilidade”.

Na sequência destes factos, em junho de 2020, António propôs contra Carlos uma ação judicial
peticionando a resolução do contrato de arrendamento com fundamento na realização de obras ilícitas
pelo arrendatário, a condenação deste no pagamento das rendas já vencidas e não pagas no valor de
750 euros, no pagamento das rendas que se venceram durante a pendência da ação, no pagamento de
uma indemnização no valor de 1200 euros correspondente aos danos que as obras ilícitas de Carlos
causaram na fração e no pagamento de uma indemnização no valor de 15.000 euros a titulo de
responsabilidade civil extracontratual decorrente afirmações injuriosas e difamatórias proferidas por
Carlos em maio de 2020.

a) Qual o valor da ação que António deverá propor?

Ao abrigo do art.º 296 do CPC, a qualquer causa deve ser atribuída um valor certo, expresso em moeda
legal, o qual representa a utilidade económica do pedido. Ao abrigo do n.º 3 deste artigo, “para efeito
de custas judiciais, o valor da causa é fixado segundo as regras previstas no presente diploma e no
Regulamento das Custas Processuais.” Nos termos do art.º 297 do CPC:

1- “Se pela ação se pretende obter qualquer quantia certa em dinheiro, é esse o valor da causa,
não sendo atendível impugnação nem acordo em contrário; se pela ação se pretende obter um
benefício diverso, o valor da causa é a quantia em dinheiro equivalente a esse benefício.

2- - Cumulando-se na mesma ação vários pedidos, o valor é a quantia correspondente à soma dos
valores de todos eles, mas quando, como acessório do pedido principal, se pedirem juros,
rendas e rendimentos já vencidos e os que se vencerem durante a pendência da causa, na
fixação do valor atende-se somente aos interesses já vencidos.

3- - No caso de pedidos alternativos, atende-se unicamente ao pedido de maior valor e, no caso


de pedidos subsidiários, ao pedido formulado em primeiro lugar.”

Relativamente à pretensão da ação de despejo, o legislador estabelece uma regra própria para a
determinação do valor da causa. Nos termos do art.º 298, n.º 1 do CPC, “nas ações de despejo, o valor é
o da renda de dois anos e meio, acrescido do valor das rendas em dívida ou do valor da indemnização
requerida, consoante o que for superior.” Nas ações de causa, o valor da causa apura-se pela renda de 2
anos e meio acrescida do valor das indemnizações pedidas ou, se for superior, o valor das rendas em
dívida. No fundo, optamos pelo valor mais elevado.

Temos a pretensão de responsabilidade civil extracontratual acumulada com a pretensão da ação de


despejo. Temos dois casos diferentes. Nos termos do art.º 297, n.º 2 do CPC, “cumulando-se na mesma
ação vários pedidos, o valor é a quantia correspondente à soma dos valores de todos eles; mas quando,
como acessório do pedido principal, se pedirem juros, rendas e rendimentos já vencidos e os que se
vencerem durante a pendência da causa, na fixação do valor atende-se somente aos interesses já
vencidos.” Por sua vez, o art.º 298, n.º 1 do CPC, “nas ações de despejo, o valor é o da renda de dois anos
e meio, acrescido do valor das rendas em dívida ou do valor da indemnização requerida, consoante o que
for superior.”
Neste caso concreto, ao abrigo do art.º 297, n.º 1 do CPC, o pedido de indemnização é no valor de 15.000
euros. A ação de despejo é a seguinte: 7.500 euros (valor da renda de 2 anos e meio) + 1.200 euros (art.º
297, n.º 2 – 2º parte do CPC) = 8.700 euros.
Posto isto, o valor final da causa é 23.700 euros.

b) Admita que a ação proposta por António foi distribuída a Bernardo, juiz no tribunal, o qual habita
em condições análogas às dos cônjuges com Francisca, sobrinha de António. Que instrumentos
processuais, se é que há algum, podem ser invocados neste caso para garantir a imparcialidade
do juiz da causa?

Está em causa a observância do princípio da imparcialidade, que consiste num desinteresse do juiz no
desfecho da causa e, também, numa ideia de equidistância em relação às partes e é avaliado em concreto.
Este princípio não está expressamente previsto na Constituição, mas decorre do direito fundamental a
um processo equitativo (art.º 20, n.º 4 da CRP). O processo equitativo exige, também, um tribunal
imparcial e resulta, ainda, de um outro preceito de direitos fundamentais: art.º 6, n.º 1 da CEDH.

Em abstrato, a lei processual civil prevê três instrumentos de garantia da imparcialidade do tribunal: os
impedimentos, as escusas e as suspeições. A relação de António com Francisca é de parentesco por linha
colateral em 3º grau. Neste caso, Bernardo não é afim, uma vez que se encontra em união de facto, logo
não há casamento, não há afinidade.

Por força do art.º 115, n.º 1, alínea i do CPC, esta relação não estaria coberta pela alínea b, portanto não
há impedimento. Não há parentesco entre Bernardo e António, logo, não havendo nenhuma afinidade
entre estes, nem Francisco e Bernardo são casados, não há nenhuma norma que nos permita equiparar a
união de facto ao casamento. Ao abrigo do art.º 120, n.º 1, alínea d do CPC, perante este caso concreto,
pode existir uma suspeita de imparcialidade do juiz, na medida em que a Francisca é simultaneamente
casada com o juiz e sobrinha do António, que é parte no processo. temos, ainda, o art.º 120, n.º 1 da CPC,
nos termos do qual o juiz vive com a sobrinha do autor e o próprio juiz pode pedir para ser dispensado de
intervir na causa (art.º 119 do CPC). Neste caso, podemos usar o mecanismo das suspeições e das escusas
com fundamento da clausula aberta para suspeições (art.º 120, n.º 1 do CPC) e para as escusas, nos termos
do art.º 119, n.º 1, (parte final) do CPC.

É necessário explicar como se procede o pedido de escusa e de suspeição. Ao abrigo do art.º 123, n.º 3 do
CPC, enquanto não tiver decidido, o processo pode prosseguir, intervindo o juiz substituto (art.º 125, n.º
1 do CPC).

O prazo para invocar a suspeição ou escusa são de 10 dias, ao abrigo do art.º 149 do CPC.
NOTA: (art.º 115, alínea b relaciona-se com a alínea i do CPC)» se for impedimento, não pode ser escusa
ou suspeição.

c) Suponha que depois de proposta a ação no Tribunal Judicial da Comarca do Porto, em 1 de


setembro de 2020, entra em vigor a lei nº 999/2020, nos termos da qual todos os litígios relativos
a arrendamento de prédios urbanos passam a ser da competência de um único tribunal,
denominado Tribunal Central do Arrendamento Urbano, com sede em Viseu. Quid Iuris?

Ao abrigo do art.º 38, n.º 2 (1º parte) da LOSJ, a competência de um tribunal afere-se pela lei em vigor no
momento em que a ação foi proposta.

Pressupostos processuais

Noção: Os pressupostos processuais são requisitos cujo preenchimento se revela necessário e


indispensável para que o poder-dever de decisão (sobre a questão de fundo ou o mérito da causa) que
impende sobre o tribunal possa ser desencadeado, sob pena de extinção da instância (por absolvição do
réu da instância). Desde logo, são requisitos formais que têm de se verificar naquele concreto processo
para que o poder-dever de dirimir o litígio se desencadeie. Ou seja, este poder-dever só existe, se
estiverem preenchidos os tais pressupostos processuais (requisitos formais).
O poder-dever de decisão do tribunal, quanto à questão de fundo. Se não estiverem preenchidos estes
requisitos, o tribunal não pode proferir a decisão sobre o mérito da causa, isto é, não pode dirimir o litígio,
logo extinguir-se-á aquela instância por falta de um determinado pressuposto processual. Esta extinção
faz-se sob forma de absolvição do réu da instância. No fundo, a falta de um pressuposto processual conduz
a absolvição do réu da instância e a instância extingue-se, sem qualquer decisão quanto à questão de
fundo.

Os pressupostos processuais enquanto condições de prosseguimento da ação. Os pressupostos


processuais são condições de prosseguimento da ação, logo têm de estar reunidos para que a ação possa
prosseguir o seu curso normal e desembocar numa decisão que conheça do objeto do litígio e o dirima.

Os pressupostos processuais distinguem-se de várias figuras afins

A. Condições de existência da ação

Correspondem a condições que têm de estar preenchidas para que uma instância possa existir
juridicamente. Uma ação só terá existência jurídica, se houver iniciativa de um autor que a propõe contra
um determinado réu perante um determinado tribunal, ou seja, depende da iniciativa das partes –
princípio da instância. A propositura das partes não basta. A ação só existe com a plena eficácia a partir
da citação do réu, e não apenas do mero ato da propositura, ao abrigo do art.º 259, n.º 1 e n.º 2 CPC (“1
- A instância inicia-se pela proposição da ação e esta considera-se proposta, intentada ou pendente logo
que a respetiva petição se considere apresentada nos termos dos nº 1 e 6 do art.º 144; 2 - Porém, o ato
da proposição não produz efeitos em relação ao réu senão a partir do momento da citação, salvo
disposição legal em contrário.”)

B. Condições da validade da ação

São as condições que têm de estar preenchidas para que a instância seja juridicamente válida. A única
causa de invalidade da relação jurídica processual é a nulidade de todo o processo, nos termos da qual
todo o processo é nulo, ao abrigo do art.º 186, n.º 1 do CPC (“É nulo todo o processo quando for inepta
a petição inicial”). A inaptidão da petição inicial determinada a nulidade de todo o processo. Ao abrigo
do art.º 186, n.º 2 do CPC, “Diz-se inepta a petição:
a) Quando falte ou seja ininteligível a indicação do pedido ou da causa de pedir;
b) Quando o pedido esteja em contradição com a causa de pedir;
c) Quando se cumulem causas de pedir ou pedidos substancialmente incompatíveis.”

C. Condições (de procedência) da ação

Dizem respeito aos requisitos materiais ou substanciais que têm de estar preenchidos para que uma ação
possa ser julgada procedente, ou seja, para que seja reconhecida a razão do autor e decretadas as
providências judiciárias que ele peticiona. Tem que ver com o litígio propriamente dito.

D. Pressupostos de atos processuais

Concernem a certos atos processuais que podem ser praticados ao longo do processo e exigem a
verificação de certas condições, sem as quais o ato não pode ser praticado.

Por exemplo, o art.º 584 do CPC: “Só é admissível réplica para o autor deduzir toda a defesa quanto à
matéria da reconvenção, não podendo a esta opor nova reconvenção.
2 - Nas ações de simples apreciação negativa, a réplica serve para o autor impugnar os factos constitutivos
que o réu tenha alegado e para alegar os factos impeditivos ou extintivos do direito invocado pelo réu”.
A existência de reconvenção é um pressuposto para a prática do ato processual “réplica”.

E. Questões prejudiciais
Trata-se de questões que devem ser conhecidas antes de o tribunal apreciar a questão de fundo ou o
mérito de uma determinada relação jurídica processual. O seu conhecimento prejudica a solução que terá
de ser dada à questão de fundo do litígio.

Por exemplo: art.º 272, n.º 1 do CPC → “O tribunal pode ordenar a suspensão quando a decisão da causa
estiver dependente do julgamento de outra já proposta ou quando ocorrer outro motivo justificado”. Se
a decisão a dar ao processo tiver dependente da decisão de um outro processo, isso designa-se “questão
prejudicial”. Outro exemplo, em especial, é o reenvio prejudicial para o Tribunal de Justiça da União
Europeia.

F. Questões incidentais (incidentes processuais)

As questões incidentais estão definidas no Regulamento das Custas Processuais no art.º 7 e 8. Todas as
ocorrências que sejam estranhas ao ritualismo processual são questões incidentais. O responsável por
esse incidente é condenado em custas. Tudo o que fuja ao ritualismo processual que o legislador traçou
para cada forma de processo é considerada uma questão incidental. Não é central (nuclear) ao objeto da
causa.

Classificações dos pressupostos processuais

A. Pressupostos processuais relativos aos sujeitos processuais e pressupostos processuais


relativos ao objeto

Pressupostos processuais relativos ao tribunal: exemplo, pressuposto da competência.

Pressupostos processuais relativos às partes (autor e réu)

Pressupostos processuais relativos ao objeto: São os requisitos formais que têm de existir em relação ao
objeto da instância.

B. Pressupostos processuais positivos e pressupostos processuais negativos


Atende-se ao critério do modo como o requisito se preenche.

Pressupostos processuais positivos: O requisito atende-se pela positiva, quando é necessário que a
realidade que está subjacente àquele pressuposto processual tem de existir no processo.

Pressupostos processuais negativos: O requisito atende-se pela negativa, quando o requisito que está
preenchido, mas a realidade que lhe está subjacente está ausente daquela relação jurídica processual.

C. Pressupostos processuais nominados e pressupostos processuais inominados


Pressupostos processuais típicos: Estão expressamente previstos na lei. O seu regime jurídico está
estipulado pelo legislador.

Pressupostos processuais atípicos: A lei não os prevê expressamente, mas eles decorrem de uma
construção jurisprudencial ou doutrinária. O seu regime jurídico não está ditado pelo legislador.

D. Pressupostos processuais do conhecimento oficioso e pressupostos processuais


dependentes de invocação

Atende ao critério da cognição do pressuposto processual.

Pressupostos processuais do conhecimento oficioso: O tribunal pode e deve apreciar a sua verificação,
mesmo que nenhuma das partes tenha invocado essa questão.

Pressupostos processuais dependentes da invocação: O tribunal só pode verificar se estão preenchidos


estes pressupostos, se isso for invocado por alguma das partes. Ou seja, se nenhuma das partes pedir, o
tribunal está impedido de verificar esse pressuposto processual.
Personalidade judiciária
A personalidade judiciária é um pressuposto processual relativo às partes do conhecimento oficioso do
tribunal, típico e nominado.

Ao abrigo do art.º 11 do CPC, “a personalidade judiciária consiste na suscetibilidade de ser parte; 2 - Quem
tiver personalidade jurídica tem igualmente personalidade judiciária.” No fundo, a personalidade
judiciária é a aptidão para ser parte num processo – quer parte principal, quer parte acessória. As partes
são sujeitos da relação jurídica processual que têm um interesse direito imediato no desfecho da causa.
A personalidade judiciária é uma figura específica de direito processual. É um conceito puramente
objetivo, porque não é uma figura de direito material ou de direito substantivo.

Critérios de atribuição da personalidade judiciária


Ao abrigo do art.º 11, n.º 2 do CPC, “quem tiver personalidade jurídica tem igualmente personalidade
judiciária”, ou seja, a personalidade judiciária é inerente à personalidade jurídica. Logo, quem possui
personalidade jurídica tem também personalidade judiciária.

Ao abrigo do art.º 67 do CC, relativamente à capacidade jurídica (personalidade jurídica), “as pessoas
podem ser sujeitas de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição legal em contrário: nisto consiste a
sua capacidade jurídica”.

Personalidade jurídica das pessoas singulares → art.º 66, nº 1 do CC: “A personalidade adquire-se no
momento do nascimento completo e com vida”.

Personalidade jurídica das pessoas coletivas: As pessoas coletivas também possuem personalidade
jurídica.

• Associações e fundações (art.º 158 do CC): “As associações constituídas por escritura pública ou
por outro meio legalmente admitido, que contenham as especificações referidas no n.º 1 do art.º
167, gozam de personalidade jurídica; 2 - As fundações referidas no artigo anterior adquirem
personalidade jurídica pelo reconhecimento, o qual é individual e da competência da autoridade
administrativa”.
• Sociedades comerciais (art.º 5 do CSC): “As sociedades gozam de personalidade jurídica e
existem como tais a partir da data do registo definitivo do contrato pelo qual se constituem, sem
prejuízo do disposto quanto à constituição de sociedades por fusão, cisão ou transformação de
outras”.
• Cooperativas (art.º 16 do CCoop): “A cooperativa adquire personalidade jurídica com o registo
da sua constituição”. As cooperativas ganham personalidade jurídica com o registo definitivo do
pacto constitutivo.
• Pessoas coletivas eclesiásticas (art.º 1, n.º 2 + 8 + 9 n.º 2 da Concordata de 2004). As
pessoas jurídicas canonicamente cretas ou reconhecidas (art.º 10 da Concordata de 2004). “A
República Portuguesa reconhece a personalidade jurídica da Igreja Católica” – art.º 1, n.º 2.
“A República Portuguesa reconhece a personalidade jurídica da Conferência Episcopal
Portuguesa, nos termos definidos pelos estatutos aprovados pela Santa Sé” – art.º 8. “A
República Portuguesa reconhece a personalidade jurídica das dioceses, paróquias e outras
jurisdições eclesiásticas, desde que o ato constitutivo da sua personalidade jurídica canónica
seja notificado ao órgão competente do Estado” – art.º 9, n.º 2. “1. A Igreja Católica em Portugal
pode organizar-se livremente de harmonia com as normas do direito canónico e constituir,
modificar e extinguir pessoas jurídicas canónicas a que o Estado reconhece personalidade
jurídica civil. 2. O Estado reconhece a personalidade das pessoas jurídicas referidas nos artigos
1, 8 e 9 nos respetivos termos, bem como a das restantes pessoas jurídicas canónicas, incluindo
os institutos de vida consagrada e as sociedades de vida apostólica canonicamente eretos, que
hajam sido constituídas e participadas à autoridade competente pelo bispo da diocese onde
tenham a sua sede, ou pelo seu legítimo representante, até à data da entrada em vigor da
presente Concordata. 3. A personalidade jurídica civil das pessoas jurídicas canónicas, com
exceção das referidas nos artigos 1, 8 e 9, quando se constituírem ou forem comunicadas após
a entrada em vigor da presente Concordata, é reconhecida através da inscrição em registo
próprio do Estado em virtude de documento autêntico emitido pela autoridade eclesiástica
competente de onde conste a sua ereção, fins, identificação, órgãos representativos e
respetivas competências” – art.º 10.
• Igrejas, comunidades religiosas e outras pessoas coletivas religiosas (art.º 33 da Lei, n.º
16/2001): “Podem adquirir personalidade jurídica pela inscrição no registo das pessoas coletivas
religiosas, que é criado no departamento governamental competente: a) As igrejas e demais
comunidades religiosas de âmbito nacional ou, em sua vez, as organizações representativas dos
crentes residentes em território nacional; b) As igrejas e demais comunidades religiosas de
âmbito regional ou local; c) Os institutos de vida consagrada e outros institutos, com a natureza
de associações ou de fundações, fundados ou reconhecidos pelas pessoas coletivas referidas nas
alíneas a) e b) para a prossecução dos seus fins religiosos; d) As federações ou as associações de
pessoas coletivas referidas nas alíneas anteriores.”
• Outras pessoas coletivas de direito privado.

Pessoas coletivas de direito público:

i. A personalidade jurídica das pessoas coletivas territoriais (art.º 227, n.º 1 (Regiões Autónomas)
+ art.º 253 da CRP).
ii. A personalidade jurídica dos institutos públicos (art.º 4, n.º 1 da Lei n.º 3/2004): “Os institutos
públicos são pessoas coletivas de direito público, dotadas de órgãos e património próprio”.
iii. A personalidade jurídica das entidades públicas empresais (art.º 56 do Decreto-Lei, n.º
133/2013). O caso das empresas públicas (art.º 5, n.º 1 do mesmo DL).
Art.º5 n.º 1: “São empresas públicas as organizações empresariais constituídas sob a forma de
sociedade de responsabilidade limitada nos termos da lei comercial, nas quais o Estado ou outras
entidades públicas possam exercer, isolada ou conjuntamente, de forma direta ou indireta,
influência dominante, nos termos do presente decreto-lei.” Art.º 56: “São entidades públicas
empresariais as pessoas coletivas de direito público, com natureza empresarial, criadas pelo
Estado para prossecução dos seus fins, as quais se regem pelas disposições do presente capítulo
e, subsidiariamente, pelas restantes normas do presente decreto-lei.”
iv. A personalidade jurídica das entidades reguladoras (art.º 3, n.º 1 da Lei n.º 67/2013): “As
entidades reguladoras são pessoas coletivas de direito público, com a natureza de entidades
administrativas independentes, com atribuições em matéria de regulação da atividade
económica, de defesa dos serviços de interesse geral, de proteção dos direitos e interesses dos
consumidores e de promoção e defesa da concorrência dos setores privado, público,
cooperativo e social.”
v. A personalidade jurídica das demais entidades e organismos públicos personalizados.
vi. O caso do Estado (personalidade jurídica por natureza)

A atribuição de personalidade judiciária a entes desprovidos de personalidade jurídica

1. Reconhecimento pelo legislador de personalidade judiciária por parte de entes desprovidos de


personalidade jurídica (art.º 12 do CPC): são entes e organismos que não dispõe de
personalidade jurídica, aos quais o ordenamento processual lhes reconhece personalidade
judiciária:

“Têm ainda personalidade judiciária:


a) A herança jacente e os patrimónios autónomos semelhantes cujo titular não estiver determinado;
b) As associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais;
c) As sociedades civis;
d) As sociedades comerciais, até à data do registo definitivo do contrato pelo qual se constituem, nos
termos do art.º 5 do Código das Sociedades Comerciais;
e) O condomínio resultante da propriedade horizontal, relativamente às ações que se inserem no âmbito
dos poderes do administrador;
f) Os navios, nos casos previstos em legislação especial.”

a) A herança jacente e outros patrimónios autónomos sem titular determinado.

Ao abrigo do art.º 2046 do CC, a herança jacente é uma herança que ainda não foi aceite pelos herdeiros
e, por isso, ainda não possui titular. A herança jacente não tem personalidade jurídica, mas possui
personalidade judiciária, ou seja, pode propor ações e podem ser propostas ações contra ela (herança
jacente). “Diz-se jacente a herança aberta, mas ainda não aceita nem declarada vaga para o Estado; 2 -
Existindo consentimento para a possibilidade de inseminação post mortem, nos termos da lei, a herança
do progenitor falecido mantém-se jacente durante o prazo de três anos após a sua morte, o qual é
prorrogado até ao nascimento completo e com vida do nascituro caso esteja pendente a realização dos
procedimentos de inseminação permitidos nos termos da lei.”

Existem, ainda, outros patrimónios autónomos semelhantes:

• Os fundos de investimento (art.º 2, n.º 1, alínea u do RGOIC – Lei n.º 16/2015). “«Fundo
de investimento», os patrimónios autónomos, sem personalidade jurídica, pertencentes
aos participantes no regime geral de comunhão regulado no presente Regime Geral.”

• Os fundos de capital de risco (art.º 15, n.º 1 do RJCR – Lei n.º 18/2015). “Os fundos de
capital de risco são patrimónios autónomos, sem personalidade jurídica, mas dotados de
personalidade judiciária, pertencentes ao conjunto dos titulares das respetivas unidades
de participação.”

b) As associações sem personalidade jurídica (art.º 12, alínea b do CPC)

Têm, ainda, personalidade judiciária as associações sem personalidade jurídica.

c) As comissões especiais (art.º 159 e art.º 199 do CC + art.º 12, alínea b, parte final)

Exemplo: comissões criadas para organizar um congresso científico; comissões de festas nas aldeias, etc.

Art.º 159 do CC → “A sede da pessoa coletiva é a que os respetivos estatutos fixarem ou, na falta de
designação estatutária, o lugar em que funciona normalmente a administração principal”. Art.º 199 do CC
→ “As comissões constituídas para realizar qualquer plano de socorro ou beneficência, ou promover a
execução de obras públicas, monumentos, festivais, exposições, festejos e atos semelhantes, se não
pedirem o reconhecimento da personalidade da associação ou não a obtiverem, ficam sujeitas, na falta
de lei em contrário, às disposições subsequentes.” Art.º 12, alínea b do CC → “Têm ainda personalidade
judiciária as associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais.”

d) As sociedades civis sob forma civil (art.º 980 do CC). Possibilidade de atribuição de personalidade
jurídica às sociedades civis? (art.º 157 do CC).

São sociedades criadas nos termos do art.º 980 do CC (“Contrato de sociedade é aquele em que duas ou
mais pessoas se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa atividade
económica, que não seja de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa atividade”) e
não possuem personalidade jurídica. Apesar disto, têm personalidade judiciária.

Ao abrigo do art.º 157 do CC, “as disposições do presente capítulo são aplicáveis às associações que não
tenham por fim o lucro económico dos associados, às fundações de interesse social, e ainda às sociedades,
quando a analogia das situações o justifique”.
2. Sociedades comerciais anteriormente ao registo definitivo do contrato de sociedade (art.º 37
e art.º 40 do CSC).

Nos termos do art.º 12 do CC, temos presente a personalidade judiciária das sociedades comerciais
anteriormente ao registo definitivo do contrato sociedade.

Art.º 37 do CSC → “No período compreendido entre a celebração do contrato de sociedade e o seu registo
definitivo são aplicáveis às relações entre os sócios, com as necessárias adaptações, as regras
estabelecidas no contrato e na presente lei, salvo aquelas que pressuponham o contrato definitivamente
registado; 2 - Seja qual for o tipo de sociedade visado pelos contraentes, a transmissão por ato entre vivos
das participações sociais e as modificações do contrato social requerem sempre o consentimento
unânime dos sócios”.

Art.º 40 do CSC → “Pelos negócios realizados em nome de uma sociedade por quotas, anónima ou em
comandita por ações, no período compreendido entre a celebração do contrato de sociedade e o seu
registo definitivo, respondem ilimitada e solidariamente todos os que no negócio agirem em
representação dela, bem como os sócios que tais negócios autorizarem, sendo que os restantes sócios
respondem até às importâncias das entradas a que se obrigaram, acrescidas das importâncias que tenham
recebido a título de lucros ou de distribuição de reservas. 2 - Cessa o disposto no número precedente se
os negócios forem expressamente condicionados ao registo da sociedade e à assunção por esta dos
respetivos efeitos.”

3. O condomínio

Ao abrigo do art.º 1436 do CC, “são funções do administrador, além de outras que lhe sejam atribuídas
pela assembleia:
a) Convocar a assembleia dos condóminos
b) Elaborar o orçamento das receitas e despesas relativas a cada ano
c) Verificar a existência do seguro contra o risco de incêndio, propondo à assembleia o montante do
capital seguro
d) Cobrar as receitas e efetuar as despesas comuns
e) Exigir dos condóminos a sua quota-parte nas despesas aprovadas
f) Realizar os atos conservatórios dos direitos relativos aos bens comuns
g) Regular o uso das coisas comuns e a prestação dos serviços de interesse comum
h) Executar as deliberações da assembleia
i) Representar o conjunto dos condóminos perante as autoridades administrativas
j) Prestar contas à assembleia
l) Assegurar a execução do regulamento e das disposições legais e administrativas relativas ao
condomínio
m) Guardar e manter todos os documentos que digam respeito ao condomínio.”

4. Navios

Ao abrigo do art.º 28 do DL n.º 352/86, “1 - Se ocorrer a nulidade prevista no n.º 1 do artigo 10.º ou se o
transportador marítimo não for identificável com base nas menções constantes do conhecimento de
carga, o navio que efetua o transporte responde perante os interessados na carga nos mesmos termos
em que responderia o transportador. 2- Para efeito do disposto no número anterior, é atribuída ao navio
personalidade judiciária, cabendo a sua representação em juízo ao proprietário, ao capitão ou seu
substituto, ou ao agente de navegação que requereu o despacho do navio. 3- A responsabilidade prevista
no n.º 1 não prejudica a efetivação da estabelecida no n.º 2 do art.º 10, nos termos gerais de direito.”
5. A personalidade judiciária das sucursais, agências, delegações ou representações de pessoas
coletivas.

O critério da imputação do facto fundamento da ação à própria sucursal (art.º 13, n.º 1 do CPC): “As
sucursais, agências, filiais, delegações ou representações podem demandar ou ser demandadas
quando a ação proceda de facto por elas praticado”.

A personalidade judiciária das sucursais relativa a factos praticados por pessoa coletiva estrangeira.
Requisitos (art.º 13, n.º 2 do CPC). “Se a administração principal tiver a sede ou o domicílio em país
estrangeiro, as sucursais, agências, filiais, delegações ou representações estabelecidas em Portugal
podem demandar e ser demandadas, ainda que a ação derive de facto praticado por aquela, quando a
obrigação tenha sido contraída com um português ou com um estrangeiro domiciliado em Portugal.”

Consequências da falta de personalidade jurídica

A falta de personalidade judiciária é insanável. Regra geral, não há forma de sanar/suprir) a forma de
personalidade judiciária.

Contudo, existem duas exceções:

• Sanação da falta de personalidade judiciária das sucursais (art.º 14 do CPC): Neste caso,
se eu demandei uma sucursal ou ela me demandou, não estando em causa uma ação que
procede de facto praticado por essa sucursal, a mesma não possui personalidade judiciária. “A
falta de personalidade judiciária das sucursais, agências, filiais, delegações ou representações
pode ser sanada mediante a intervenção da administração principal e a ratificação ou repetição
do processado.”

• A outorga superveniente do contrato de sociedade (art.º 36 do CSC): A sociedade de


facto não tem personalidade jurídica, nem personalidade judiciária, o que significa que não pode
demandar, nem ser demandada. A doutrina vem entendendo que, perante uma sociedade de
facto, se o contrato vier a ser posteriormente outorgado pelos sócios, a mesma adquire
personalidade judiciária, sendo que a falta da mesma fica sanada. “1 - Se dois ou mais indivíduos,
quer pelo uso de uma firma comum quer por qualquer outro meio, criarem a falsa aparência de
que existe entre eles um contrato de sociedade responderão solidária e ilimitadamente pelas
obrigações contraídas nesses termos por qualquer deles. 2 - Se for acordada a constituição de
uma sociedade comercial, mas, antes da celebração do contrato de sociedade, os sócios
iniciarem a sua atividade, são aplicáveis às relações estabelecidas entre eles e com terceiros as
disposições sobre sociedades civis.”

12/11/2021

Uma criança de 5 anos pode ser parte num processo? Qualquer pessoa que tenha possibilidade judiciária
pode ser parte de um processo, pode demandar e ser demandado e esta possibilidade judiciária é inerente
à jurídica. No caso das pessoas singulares verifica-se que partindo do nascimento completo e com vida e
até à norma tem-se possibilidade jurídica e por isso tem-se possibilidade judiciária. Tendo possibilidade
judiciaria pode-se ser parte de um processo. Diferente disso é se pode ser parte por si só e isso tem haver
com o pressuposto seguinte que é o prossuposto da capacidade judiciaria. A criança de 5 anos pode
demandar e ser demandada, pode ser parte num processo, mas não vai puder uma vez que não tem
capacidade judiciaria é estar por si só no processo.

Capacidade judiciaria
A capacidade judiciária está prevista no código no art.º 15, nº 1 que nos diz que a capacidade judiciaria é
a aptidão para alguém estar no processo por si só, ou seja, auto conduzir a sua participação enquanto
parte do processo. Pode-se ser parte por efeito de personalidade judiciaria, mas a capacidade judiciaria é
que dá a aptidão para se ser parte de um processo, mas a capacidade judiciaria é que dá a aptidão para
se estar por si só no processo. A capacidade judiciaria está também para a capacidade de exercício de
direitos de acordo com o art.º 15, nº 2. Este artigo diz-nos que a capacidade judiciaria tem por base e por
medida a capacidade de exercício de direitos, ou seja, quem tiver capacidade de exercício de direitos tem
capacidade judiciaria e, portanto, pode estar por si só em juízo, não precisa de estar acompanhado por
ninguém. Os incapazes não gozam de capacidade judiciaria. As incapacidades de direito civil que
conhecemos são:

• A menor idade que está prevista no art.º 123 do código civil


• O regime de acompanhamento de maiores. Este regime prevê o acompanhamento de maiores
sujeitos a representação em que o maior tem de ter um representante designado que o vai
representar (antigo regime de tutores no código antigo). Está previsto no art.º 145, nº 2, alínea
b do código civil.
• O regime de acompanhamento de maiores em que o maior acompanhamento mantém a gestão
da sua pessoa, da sua vida pessoal, mas não do seu património, ou seja, os seus bens estão
sujeitos a administração por parte do acompanhante. Está previsto no art.º 145, alínea c do
código civil.

Há ainda uma situação tradicional de incapacidade acidental que está prevista no art.º 20 do código de
processo penal que nos diz que as pessoas que por anomalia psíquica ou outro motivo grave estejam
impossibilitadas de receber a citação para a causa são representadas por um curador especial, mesmo
que não seja reconhecido como um maior acompanhado.

Incapacidade de menores

O art.º 123 do código civil diz-nos que os menores carecem de capacidade de exercício de direitos. O art.º
122 diz-nos que é menor quem ainda não tiver completado 18 anos e o art.º 130 prevê o termo da menor
idade. Este último diz-nos que aquele que fizer 18 anos de idade adquire plena capacidade de exercício
de direitos ficando habilitado a reger a sua pessoa e a dispor dos seus bens. Portanto, é aqui que se cessa
a menor idade. Há ainda uma outra situação em que é possível cessar a menor idade que é o caso da
emancipação que está previsto no art.º 132 e no art.º 133 do código civil. Um menor de 16 anos que
contrair casamento com autorização dos pais ou com o suprimento da falta de autorização dos pais fica
emancipado pelas circunstâncias de ter contraído casamento e passa a conseguir reger a sua pessoa e os
seus bens. Isto não se verifica no caso de casamento de menores que contraia o casamento sem
autorização dos pais e sem o suprimento da falta dessa autorização. A falta de autorização pode ser
suprida pelo conservador do registo civil, mas se por acaso ele celebrar o casamento sem se dar conta
dessa irregularidade, desse impedimento, não obstante de contrair casamento mantém-se incapaz da
capacidade de exercício dos seus direitos. No caso dos menores a sua incapacidade é suprida pelos
poderes de representação parental nos termos do art.º 1881 do código civil. Quando não são os menores
representados pelos seus progenitores então há lugar à tutela. Os menores que por decisão judicial tenha
sido suprimida a representação parental são representados por um tutor e que resulta do art.º 1921, nº1
e do art.º 1935 do código civil. Em certos casos alem do tutor pode ainda haver lugar a um administrador
de bens, portanto, nessas circunstâncias o tutor é responsável pela representação e gestão da vida pessoal
do menor e o administrador pela representação e gestão do património do menor. Alem disso a
incapacidade dos menores não é total porque ela compreende algumas exceções que são também
importantes, relevam para a lei processual civil que são as exceções do art.º 127 do código civil que
reconhece capacidade de exercício aos menores verificadas certas circunstâncias:
• Alínea a- para a prática do menor de atos de administração ou disposição dos bens que o menor
de 16 anos tenha adquirido pelo seu trabalho. Por exemplo: jogador de futebol, empregado num
bar, modelo, etc.
• Alínea b- os negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor que estando ao alcance da
sua capacidade natural só impliquem despesas ou disposições de bens de pequena importância.
Por exemplo: o menor que recebe dos pais 10€ para comprar o almoço na escola.
• Alínea c- os negócios jurídicos relativos à profissão, ato ou ofício que o menor tenha sido
autorizado a exercer ou os praticados no exercício dessa profissão, ato ou ofício. Aqui abrange-
se aquele tipo de situações em que o menor exerce uma profissão por conta própria. Por
exemplo: Um menor a mando dos pais ir sozinho para a feira com um bancas vender coisas. Ou
um menor que pinta quadros e vende os seus quadros.

Incapacidade maiores (acompanhamento de maiores)

Está previsto no art.º 138 e prevê, então, que em certas circunstâncias os maiores de idade possam ser
sujeitos a um acompanhamento, que tenham designado um acompanhante. Alguém que é escolhido pelo
tribunal para acompanhar aquele maior por algum tipo de deficiência cognitiva ou dificuldade de gestão
de matrimonio por razões que a própria lei indica, para acompanhar, supervisionar aquele maior de idade.
Mas esse acompanhamento pode ir tão longe ao ponto de estar investido de poderes de representação
legal. Nestes casos, do art.º 143, o acompanhante de menores é também o legal representante do seu
acompanhado.

18/11/2021

Incapacidade judiciária dos maiores sujeitos a acompanhamento

• O regime do acompanhamento de maiores (art.º 138 CC).


Regime dos maiores com incapacidade de exercício. Ao abrigo do art.º 138 do CC (“o maior
impossibilitado, por razões de saúde, deficiência, ou pelo seu comportamento, de exercer, plena, pessoal
e conscientemente, os seus direitos ou de, nos mesmos termos, cumprir os seus deveres, beneficia das
medidas de acompanhamento previstas neste Código”), em certas circunstâncias o maior sujeito a
acompanhamento pode estar sujeito a representação legal para efeitos da gestão da sua pessoa e do seu
património.

• O acompanhante de maiores (art.º 143 do CC)


“1 - O acompanhante, maior e no pleno exercício dos seus direitos, é escolhido pelo acompanhado ou
pelo seu representante legal, sendo designado judicialmente.
2 - Na falta de escolha, o acompanhamento é deferido, no respetivo processo, à pessoa cuja
designação melhor salvaguarde o interesse imperioso do beneficiário, designadamente:
a) Ao cônjuge não separado, judicialmente ou de facto;
b) Ao unido de facto;
c) A qualquer dos pais;
d) À pessoa designada pelos pais ou pela pessoa que exerça as responsabilidades parentais, em
testamento ou em documento autêntico ou autenticado;
e) Aos filhos maiores;
f) A qualquer dos avós;
g) À pessoa indicada pela instituição em que o acompanhado esteja integrado;
h) Ao mandatário a quem o acompanhado tenha conferido poderes de representação;
i) A outra pessoa idónea.

3 - Podem ser designados vários acompanhantes com diferentes funções, especificando-se as atribuições
de cada um, com observância dos números anteriores.”
• O acompanhamento sujeito a representação (art.º 145, n.º 2, alínea b do CC.

“Em função de cada caso e independentemente do que haja sido pedido, o tribunal pode cometer ao
acompanhante algum ou alguns dos regimes seguintes:
b) Representação geral ou representação especial com indicação expressa, neste caso, das categorias de
atos para que seja necessária.”
Esta representação pode ser geral ou especial. A representação geral dá-se quando o acompanhante
assume a legal representação do seu acompanhado em relação a todas as matérias da sua esfera jurídica.
Por sua vez, a representação especial está prevista quando o tribunal indica o conjunto de atos ou
matérias para os quais o acompanhado precisa do legal representante e, para os demais casos, não terá
legal representante.
Relativamente à aplicabilidade do regime de tutela, ao abrigo do art.º 145, n.º 4 do CC, “a representação
legal segue o regime da tutela, com as adaptações necessárias, podendo o tribunal dispensar a
constituição do conselho de família.” Este n.º 4 diz-nos que, quando um maior acompanhado está sujeito
a legal representação por parte do seu acompanhante, aplica-se o regime da tutela.

• O regime da administração de bens do maior sujeito a acompanhamento (art.º 145, n.º 2, alínea
c do CC).

Aplicabilidade do regime de administração de bens de menores (art.º 145, n.º 5 do CC).

Ao abrigo do art.º 145, n.º 2, alínea c do CC, “em função de cada caso e independentemente do que haja
sido pedido, o tribunal pode cometer ao acompanhante algum ou alguns dos regimes seguintes: c)
Administração total ou parcial de bens.”.
Nos termos do art.º 145, n.º 5 do CC, “à administração total ou parcial de bens aplica-se, com as
adaptações necessárias, o disposto nos artigos 1967.º e seguintes.”

• O acompanhamento de maiores com sujeição a autorização (art.º 145, alínea d do CC).


“Em função de cada caso e independentemente do que haja sido pedido, o tribunal pode cometer ao
acompanhante algum ou alguns dos regimes seguintes:
d) Autorização prévia para a prática de determinados atos ou categorias de atos.”
O maior acompanhado não tem um legal representante. Contudo, certos atos fixados pelo tribunal têm
de ser praticados com autorização do seu acompanhante. O acompanhante goza de liberdade de
exercício, mas carece de autorização do seu acompanhado, logo a sua liberdade de exercício está
diminuída.

Suprimento da incapacidade judiciária

a. Os incapazes só podem estar em juízo por intermédio dos seus representantes (menores ou
maiores acompanhados sujeitos a representação), exceto quanto aos atos que possam exercer
pessoal e livremente (art.º 16, n.º 1 do CPC).

Art.º 16, n.º 1 CPC → “Os menores e os maiores acompanhados sujeitos a representação só pode estar
em juízo por intermédio dos seus representantes, exceto quanto aos atos que possam exercer pessoal e
livremente.” – ex. os menores têm capacidade de exercício relativamente a alguns atos e negócios
jurídicos e, também, capacidade judiciária e podem estar por si só, mas apenas nessa esfera (art.º 16 do
CPC).
A incapacidade judiciária consiste em não se poder estar por si só em juízo. Quando estamos perante uma
incapacidade judiciária, a mesma tem de ser suprida. Posto isto, a falta deste pressuposto processual tem
de ser suprida daquela incapacidade judiciária.
b. O suprimento da incapacidade judiciária dos menores.

Ao abrigo do art.º 16, n.º 2 e n.º 3 do CPC, quanto aos menores cuja responsabilidade parental esteja
assegurada por ambos os pais, a sua representação cabe sempre a ambos os progenitores, desde que
ambos exerçam as responsabilidades parentais. Isto vale quer na propositura da ação, quer na capacidade
judiciária passiva. É necessário o acordo de ambos os pais para a propositura da ação (se os progenitores
quiserem propor uma ação em nome do filho, têm de estar ambos de acordo) e, quando é proposta uma
ação contra o menor, têm de ser citados ambos os progenitores (o menor é citado na pessoa dos dois
progenitores).
Se houver desacordo dos pais na representação do menor, nos termos do art.º 18 do CPC, qualquer um
deles pode requerer ao competente tribunal para a causa que resolva o conflito. O tribunal terá de dirimir
se a ação prossegue ou não.
Se o desacordo surgir no decurso do processo, quanto à forma como conduta do menor, deve ser
conduzida no processo, independentemente de ser um processo iniciado pelo menor ou contra o menor.
Qualquer um dos progenitores pode requerer ao juiz da causa que providencie sobre a forma de o incapaz
ser representado, suspendendo-se, entretanto, a instância. Em primeiro lugar, o tribunal ouve o
progenitor que não requereu, depois, ouve também o Ministério Público. Depois, decide em prol do
interesse do menor, avaliando o que é mais conveniente para ele. Ou seja, o tribunal decide qual é a
solução melhor para a divergência entre os pais na condução do litígio, podendo optar por uma das três
alternativas:

→ O tribunal pode atribuir a representação judiciária naquele processo a apenas um dos


progenitores;
→ O tribunal pode designar um curador especial (representante especial naquele processo para
aquele menor) – curador ad litem (art.º 17 do CPC).
→ O tribunal pode atribuir a representação daquele menor naquele processo específico ao Ministério
Público.

A capacidade judiciária dos maiores acompanhados não sujeitos a representação (art.º 19 do CPC).

Art.º 19 do CPC → “Os maiores acompanhados que não estejam sujeitos a representação podem intervir
em todas as ações em que sejam partes e devem ser citados quando tiverem a posição de réus, sob pena
de se verificar a nulidade correspondente à falta de citação, ainda que tenha sido citado o acompanhante.
2 - A intervenção do maior acompanhado quanto a atos sujeitos a autorização fica subordinada à
orientação do acompanhante, que prevalece em caso de divergência.”
No caso dos maiores acompanhados que não estão sujeitos a representação, estes possuem um
acompanhante que não os representa ou, então, é necessária a autorização do mesmo para determinados
atos. O art.º 19 do CPC diz-nos que o acompanhante não se substitui ao maior acompanhado, desde que
não esteja sujeito a representação. O maior acompanhado tem de estar no processo sob orientação do
acompanhante e, caso haja divergências entre a posição de ambos, prevalece a posição do
acompanhante.

A tutela dos incapazes pelo Ministério Público

Representação passiva dos incapazes pelo MP: Art.º 21 do CPC → “Se o ausente ou o incapaz, ou os seus
representantes, não deduzirem oposição, ou se o ausente não comparecer a tempo de a deduzir, incumbe
ao Ministério Público a defesa deles, para o que é citado, através do sistema de informação de suporte à
atividade dos tribunais, nos termos definidos na portaria prevista no n.º 2 do artigo 132.º, presumindo-se
a citação efetuada no terceiro dia posterior ao do seu envio, correndo novamente o prazo para a
contestação.

2 - Quando o Ministério Público represente o autor, é nomeado defensor oficioso.


3 - Cessa a representação do Ministério Público ou do defensor oficioso logo que o ausente ou o seu
procurador compareça ou logo que seja constituído mandatário judicial do ausente ou do incapaz.”
A lei prevê, ainda, um papel especial para o Ministério Público no processo cível, nos termos do art.º 21
CPC: tutela dos incapazes. Suponhamos que, por intermédio de quem o representa (do seu representante
legal), foi proposta uma ação contra o menor; os pais foram citados; e o menor não contestou (réu revel).
Como existe, aqui, um interesse público, a consequência da revelia será o efeito culminatório semipleno,
considerando-se provados os factos que o autor alegou na petição inicial. É desta forma que o legislador
trata a inércia do réu. Se o réu não contestar no prazo estipulado, “problema dele”. Isto apenas vale
quando o réu é uma pessoa capaz de zelar pelos seus próprios interesses. Se o réu for um menor de idade,
não pode estar por si só no processo, estando representado legalmente. Por outro lado, se o réu for um
adulto portador de uma deficiência cognitiva profunda e tiver um representante e não contestar, isso
significa que quem estava encarregue de zelar pelos seus interesses não o cumpriu. Nos termos do art.º
21 n.º1 CPC, nesse caso, cita-se o menor novamente na pessoa do Ministério Público, de forma a que este
assuma a defesa desse menor. Pode, ainda, acontecer que o Ministério Público já represente o autor
daquela ação e, nesse caso, estaríamos perante um conflito de interesses: no mesmo processo, o MP era
representante do seu réu incapaz e autor. Neste caso, há a nomeação de um defensor oficioso, que se irá
manter no processo a representar o incapaz até que seja constituído o mandatário judicial do incapaz, ou
seja, até que os legais representantes constituam um mandatário e, nessa altura, cessa a intervenção do
Ministério Público ou do defensor oficioso.
Representação ativa dos incapazes pelo MP: Art.º 23 do CPC → “Incumbe ao Ministério Público, em
representação de incapazes e ausentes, intentar em juízo quaisquer ações que se mostrem necessárias à
tutela dos seus direitos e interesses.
2 - A representação cessa logo que seja constituído mandatário judicial do incapaz ou ausente, ou quando,
deduzindo o respetivo representante legal oposição à intervenção principal do Ministério Público, o juiz,
ponderado o interesse do representado, a considere procedente.”
Ao abrigo do art.º 23 do CPC, o MP pode propor ações em representação de incapazes,
independentemente da vontade dos representantes legais dos mesmos, se entender que essas ações são
necessárias à tutela dos direitos e interesses dos incapazes. O n.º 2 deste artigo refere que, logo que os
seus representantes judiciários intervenham na ação, mediante a constituição de mandatário, essa
representação do MP termina.
Extensão do regime da tutela dos incapazes aos ausentes (art.º 21 e 23 CPC)

Os ausentes são pessoas cujo paradeiro é desconhecido (não se sabe onde se encontram). O que é
aplicado em relação aos incapazes, ao abrigo do art.º 21 e 23 CPC, aplica-se igualmente aos ausentes.

➢ Representação ativa e passiva dos ausentes (art.º 21 e 23 CPC).


➢ Representação dos incertos (art.º 22 CPC). Este artigo regula a representação pelo Ministério
Público dos incertos (das ações que são propostas contra desconhecidos). Não sabe identificar
quem são as pessoas que têm interesse direito em contradizer o seu pedido. Neste caso, os
incertos (desconhecidos) são representados pelo MP. A representação judiciária das pessoas
jurídicas
A capacidade judiciária das pessoas coletivas (art.º 160 do CC + art.º 6 do CSC). O princípio da
especialidade. O problema da capacidade judiciária coloca-se também em relação às pessoas jurídicas.
Aliás, coloca-se sobretudo ao nível da necessidade que elas têm de intervir por intermédio de indivíduos
(pessoas singulares) para poderem agir.
O princípio da especialidade (art.º 160 do CC) consiste no facto de a capacidade jurídica das pessoas
coletivas (pessoas jurídicas) estar limitada ao seu objeto, isto é, às atribuições necessárias à prossecução
do seu objeto. Há certos direitos e obrigações de que as pessoas jurídicas nunca podem ser tutelares.
No que diz respeito às pessoas jurídicas em geral, estas precisam de estar representadas por indivíduos
que agem em seu nome. Coloca-se a questão em termos de representação judiciária como meio de
expressão da vontade judiciária daquela pessoa coletiva.
A representação jurídica das pessoas coletivas é também regulada pelo art.º 25, n.º 1 do CPC, que faz uma
equivalência entre a representação orgânica das pessoas coletivas (pessoas jurídicas são representadas
através dos seus órgãos que são designados na lei ou nos seus estatutos – ex. cooperativas; sociedade
comercial; etc) e a sua representação judiciária. A pessoa jurídica é representada no processo pelos seus
representantes de direito substantivo, que são aqueles que a lei ou os estatutos indicarem, dependendo
do tipo de pessoa jurídica que esteja em causa. O n.º 2 do art.º 25 do CPC acautela uma situação que pode
existir quando há um conflito de interesses entre a pessoa jurídica e o seu representante judiciário: o juiz
a quo atribui um curador ad litem que vai representar essa pessoa, de modo que essa não seja
representada por alguém que está em conflito de interesses com ela. Este n.º 2 aplica-se também nos
casos em que a pessoa coletiva ou a sociedade que é demandada não tem quem as represente. Nessas
situações, o tribunal nomeia um curador ad litem.
A representação judiciária dos patrimónios autónomos e demais entidades desprovidas de personalidade
jurídica (art.º 26 do CPC) – ex. comissões de festas. Art.º 26 do CPC → Representação das entidades que
careçam de personalidade jurídica: “Salvo disposição especial em contrário, os patrimónios autónomos
são representados pelos seus administradores e as sociedades e associações que careçam de
personalidade judicia, bem como as sucursais, agências, filiais ou delegações, são representadas pelas
pessoas que ajam como diretores, gerentes ou administradores.”
A representação judiciária do Estado pelo Ministério Público (art.º 24 do CPC). Art.º 24 do CPC → “O
Estado é representado pelo Ministério Público, sem prejuízo dos casos em que a lei especialmente permita
o patrocínio por mandatário judicial próprio, cessando a intervenção principal do Ministério Público logo
que este esteja constituído.
2 - Se a causa tiver por objeto bens ou direitos do Estado, mas que estejam na administração ou fruição
de entidades autónomas, podem estas constituir advogado que intervenha no processo juntamente com
o Ministério Público, para o que são citadas quando o Estado seja réu; havendo divergência entre o
Ministério Público e o advogado, prevalece a orientação daquele.” O Estado tem personalidade jurídica,
pela própria natureza, sem necessidade que lhe seja reconhecida pelo ordenamento jurídico. Perante as
ações propostas pelo Estado ou contra o Estado, este é representado pelo Ministério Público ou, em casos
especiais, por mandatário judicial.

Regularização da incapacidade judiciária (não suprida) e da representação judiciária irregular

Se estivermos perante uma situação de incapacidade judiciária que não foi suprida, a lei prevê
mecanismos para regularizar esta situação. No caso de incapazes, o art.º 27 CPC regula esta matéria,
dizendo: “A incapacidade judiciária e a irregularidade de representação são sanadas mediante a
intervenção ou a citação do representante legítimo do incapaz.
2- Se estes ratificarem os atos anteriormente praticados, o processo segue como se o vício não existisse;
no caso contrário, fica sem efeito todo o processado posterior ao momento em que a falta se deu ou a
irregularidade foi cometida, correndo novamente os prazos para a prática dos atos não ratificados, que
podem ser renovados.
3- Se a irregularidade verificada consistir na preterição de algum dos pais, tem-se como ratificado o
processado anterior, quando o preterido, devidamente notificado, nada disser dentro do prazo fixado;
havendo desacordo dos pais acerca da repetição da ação ou da renovação dos atos, é aplicável o disposto
no artigo 18.º.
4- Sendo o incapaz autor e tendo o processo sido anulado desde o início, se o prazo de prescrição ou
caducidade tiver, entretanto terminado ou terminar nos dois meses imediatos à anulação, não se
considera completada a prescrição ou caducidade antes de findarem estes dois meses.” A incapacidade
judiciária e a irregularidade de representação são sanadas mediante a intervenção ou citação do
representante legitimo do incapaz. Se se tratar de um menor, chamam-se a intervir os pais. Caso se trate
de um maior acompanhado, cita-se o seu acompanhante. Neste tipo de situações, o menor ou o incapaz
já desenvolveu atividade processual sem estar devidamente representado por quem fosse o seu legal
representante, ou seja, o incapaz ou o menor desenvolveram atividade no processo, quando não estava
devidamente representado, logo é irregular. Por razões de economia processual, a lei dá oportunidade ao
representante de se notificado ou citado para intervir, para ratificar os atos que forem anteriormente
praticados pelo incapaz ou menor. Se o representante ratificar, o processo prossegue como se o vício não
existisse. Se o representante chamado ao processo não ratificar o que o seu representado fez (n.º 2), “fica
sem efeito todo o processado posterior ao momento em que a falta se deu ou a irregularidade foi
cometida, correndo novamente os prazos para a prática dos atos não ratificados, que podem ser
renovados”, isto é, o processo volta atrás e tudo o que o menor ou o incapaz fez é renovado, depois, na
presença do representante.

No caso de os menores e o vício da representação resultar de apenas ter tido representação de um dos
progenitores e não de ambos, aplica-se uma regra do valor positivo do silêncio, nos termos do art.º 29 n.º
3 do CPC. O menor teve representado no processo por apenas um dos seus progenitores e o tribunal
notifica o outro progenitor para ratificar ou dizer que não ratifica aquilo que o filho fez representado
apenas pelo pai. Se nada disser no prazo que lhe foi atribuído, considera-se uma ratificação tácita por
parte do progenitor. Na ratificação dos atos praticados no processo pelo menor, se os pais tiverem em
desacordo, nesse caso, aplicam-se as regras do art.º 18 do CPC.
A falta de autorização ou deliberação exigida por lei (art.º 29 do CPC). “Se a parte estiver devidamente
representada, mas faltar alguma autorização ou deliberação exigida por lei, é designado o prazo dentro
do qual o representante deve obter a respetiva autorização ou deliberação, suspendendo-se, entretanto,
os termos da causa.
2 - Não sendo a falta sanada dentro do prazo, o réu é absolvido da instância, quando a autorização ou
deliberação devesse ser obtida pelo representante do autor; se era ao representante do réu que incumbia
prover, o processo segue como se o réu não deduzisse oposição.” O art.º 29 do CPC trata o caso de pessoas
jurídicas em que a representação judiciária está dependente de alguma autorização especial.
Oficiosidade do juiz na regularização da incapacidade judiciária não suprida e da regularização da
representação judiciária (art.º 28, n.º 1 do CPC: “Logo que se aperceba de algum dos vícios a que se refere
o artigo anterior, deve o juiz, oficiosamente e a todo o tempo, providenciar pela regularização da
instância.” Ou seja, a incapacidade judiciária e a irregularidade da representação judiciária são de
conhecimento oficioso do tribunal. O juiz deve oficiosamente averiguar pelo preenchimento deste
pressuposto processual. Sempre que se dê conta de que há um incapaz que está indevidamente
representado, isto é, que há uma irregularidade, o tribunal toma conhecimento disso e acarreta as
iniciativas que estejam ao seu alcance para suprir a falta deste pressuposto processual.

Competência Rationae Personae


A competência em razão das pessoas
É pressuposto processual positivo, atípico e inominado que as partes estejam sujeitas à jurisdição dos
tribunais portugueses. É, ainda, um pressuposto processual de conhecimento oficioso.

As imunidades jurisdicionais
Esta competência prende-se com a circunstância de algumas categorias de pessoas gozarem de
imunidades de jurisdição, isto é, não podem ser julgadas por tribunais portugueses. Ainda que tenham
imunidade jurisdicional, os tribunais portugueses não as podem julgar, logo o processo não prossegue.
Estas imunidades provêm do Direito Internacional Público, na medida em que têm a sua fonte no plano
das relações jurídicas internacionais.

Distinção das figuras afins de direito interno:

• As imunidades de procedimento (de natureza penal). Trata-se de pessoas que exercem


determinados cargos políticos e, portanto, não podem ser julgados enquanto exerçam cargos.
Normalmente, dizem respeito a um procedimento penal. Quando deixarem de o ser, os
processos podem prosseguir.
• As imunidades substantivas (art.º 157 da CRP). É uma imunidade parlamentar, no sentido em
que os deputados não podem ser responsabilizados pelas opiniões e votos que exprimem no
exercício das suas funções. No fundo, é uma garantia de que os deputados podem exercer
livremente o seu mandato sem receio de represálias ou de serem responsabilizados.

Estas imunidades são de direito interno e não subtraem as pessoas à jurisdição dos tribunais. Aqui,
tratamos de imunidades de jurisdição, no sentido em que certas pessoas não podem ser julgadas nos
tribunais de determinados estados. Estas imunidades jurisdicionais podem dizer respeito a: Estados ou
pessoas jurídicas internacionais e pessoas singulares (individuais).

Imunidades jurisdicionais dos Estados estrangeiros e das organizações internacionais

Durante muito tempo, as imunidades dos estados estrangeiros foram uma regra de ius cogens. A
Convenção das Nações Unidas sobre as imunidades jurisdicionais dos estados foi aprovada e ratificada
em Portugal. A Convenção das Nações Unidas sobre as imunidades jurisdicionais dos estados foi aprovada
e negociada sob a égide das Nações Unidas e ratificada pelo Estado português, já estando em vigor entre
nós e na comunidade internacional. Desta Convenção, resulta uma regra geral que está prevista no seu
art.º 5: imunidade dos estados perante os tribunais de outros estados. Esta regra é uma regra recíproca,
no sentido em que o Estado português goza de imunidade nos tribunais brasileiros, americanos, etc., e,
por isso, não pode ser julgado nos tribunais de outro estado, e vice-versa, que decorre do princípio da
igualdade dos estados. No fundo, nenhum estado pode arvorar-se no poder de julgar do outro estado.
Regra geral, um estado não pode ser julgado nos tribunais de outro estado. Os tribunais portugueses não
podem julgar estados estrangeiros. Contudo, esta regra geral comporta várias exceções, nomeadamente:

• Renúncia expressa: Um estado pode renunciar à sua imunidade (art.º 7 da CNUIEB). Se o estado
renunciar à sua imunidade, depois não a pode invocar. Esta renúncia pode resultar num acordo
internacional, num contrato que esse estado celebrou ou, então, numa declaração unilateral que
o tribunal apresenta já depois de proposta a ação. Esta é uma das exceções à regra geral de
imunidade dos estados.

• Renuncia implícita ou tácita (art.º 8 e 9 da CNUIEB): Se o estado estrangeiro não renunciar


expressamente, nem por acordo internacional, nem por contrato escrito, nem por declaração,
mas tiver praticado condutas processuais das quais decorre uma vontade de renunciar à
imunidade, essas condutas estão previstas no art.º 8, n.º 1 da Convenção. O próprio Estado
instaura o dito processo, teve uma intervenção no processo ou fez alguma diligência em relação
ao mérito da causa. A alínea b) do n.º 2 do art.º 8 também comporta uma exceção: não se
considera que há renúncia tácita, se o Estado vier a um processo com o objetivo de apenas
invocar a sua imunidade ou de fazer valer um direito relativo a um bem em causa no processo,
sendo que isso não vale como renúncia à imunidade de jurisdição. O artigoº9 também trata
renúncias tácitas no caso de pedidos reconvencionais. Numa reconvenção, o réu passa a chamar-
se “réu reconvinte” e o autor designa-se “autor reconvinte”. O n.º 1 do art.º 9 diz-nos que: se um
Estado propõe uma ação num tribunal português contra uma empresa portuguesa e a última
deduz um pedido reconvencional, ao propor a ação renunciou à imunidade de jurisdição, nos
termos do art.º 8, alínea a, e essa renúncia vale também para eventuais pedidos reconvencionais.
Se propuser uma ação, a renúncia à imunidade de jurisdição abrange também eventuais
reconvenções que sejam deduzidas nessa mesma ação.

Quanto aos litígios excluídos do âmbito da imunidade dos Estados, estes estão previstos nos art.º 10 e 17
da CNUIEB. O art.º 10 trata as transações comerciais. Ao abrigo do n.º 1 deste artigo, se o Estado celebrar
uma transação comercial (por exemplo, o Estado espanhol vende mercadorias a uma empresa
portuguesa), não pode invocar imunidade. Porém, esta exceção não se aplica, se se tratar de uma
transação comercial entre Estados ou se ficar expressamente acordado no contrato que está na base
dessa transação comercial que o estado gozará de imunidade de jurisdição. Por sua vez, o artigoº11 abarca
os contratos de trabalho, nos termos do qual um estado que contrata no estrangeiro um funcionário local
não pode invocar imunidade de jurisdição em relação a esses contratos de trabalho. O artigoº12 prevê a
responsabilidade civil extracontratual por dano (à morte ou integridade à vida) e cometidas por um Estado
no território de outro Estado. O art.º 13 consiste em ações reais, na medida em que, se se estiver a discutir
a propriedade de um imóvel situado em Portugal que o Estado espanhol diz ser propriedade sua, e esse
imóvel está situado em Portugal, os tribunais portugueses podem julgar o Estado espanhol, no âmbito
desta questão. Nos termos do art.º 15, se algum acionista pedir a dissolução da sociedade, por exemplo,
o Estado espanhol não pode invocar imunidade de jurisdição.
Ao abrigo do art.º 17, um Estado não pode invocar imunidade de jurisdição, quando os tribunais de outro
Estado vão apreciar a validade de uma convenção de arbitragem que esse estado celebrou.
As exceções à imunidade previstas nos art.º 7, 8, 9, 10 e 17 não se aplicam automaticamente aos
procedimentos cautelares no âmbito de uma ação (art.º 18). O facto de não existir imunidade de
jurisdição, quanto a uma determinada ação judicial, não implica que também não haja imunidade jurídica
contra as medidas cautelares, no âmbito dessa ação judicial. Um estado pode não ter imunidade de
jurisdição face a um processo, mas pode ter face a procedimentos cautelares pertencentes a esse mesmo
processo.
O art.º 19 prevê a execução das decisões judicias. Um estado pode não gozar de imunidade de jurisdição
relativamente a um processo, e isso não implica que a sentença proferida possa ser coercivamente
executada contra esse estado.
Quanto à imunidade das organizações internacionais, não há nenhuma norma geral que preveja a sua
imunidade. Como são criadas por tratados internacionais, é natural que estes prevejam especificamente
uma norma de imunidade de jurisdição.

Imunidades individuais

Relativamente às imunidades do pessoal diplomático e consular, estes são chamados a representar no


estrangeiro um determinado estado. A representação pode ser ao nível diplomático (no plano das
relações internacionais) ou ao nível consular (destina representar um estado junto dos seus nacionais que
residem no estrangeiro). Quer no caso do pessoal diplomático, quer consular, a ordem jurídica
internacional reconhece-lhes algumas imunidades, que não são privilégios individuais, mas sim
instrumentos para assegurar o bom funcionamento das representações diplomáticas e consulares, de
forma a assegurar que uma embaixada possa representar adequadamente o seu estado de origem, uma
vez que os seus funcionários não estão sujeitos a pressões ou a serem detidos ou a serem processados
em tribunal e fiquem comprometidos no exercício das suas funções de representação. As imunidades são
aplicadas aos indivíduos para garantir as relações internacionais entre os estados e as relações consulares.
Relativamente às imunidades do pessoal diplomático e os seus familiares, são regulados pela Convenção
de Viena sobre relações diplomáticas e pela Convenção de Viena sobre relações consulares. O artigoº1
da Convenção de Viena sobre relações diplomáticas prevê o seguinte:
“Para os feitos da presente Convenção:
a) «Chefe de missão» é a pessoa encarregada pelo Estado acreditante de agir nessa qualidade;
b) «Membros da missão» são o Chefe da missão e os membros do pessoal da missão;
c) «Membros do pessoal da missão» são os membros do pessoal diplomático, do pessoal administrativo
e técnico e do pessoal de serviço da missão;

d) «Membros do pessoal diplomático» são os membros do pessoal da missão que tiverem a qualidade de
diplomata;

e) «Agente diplomático» é tanto o chefe da missão como qualquer membro do pessoal diplomático da
missão;

f) «Membros do pessoal administrativo e técnico» são os membros do pessoal da missão empregados no


serviço administrativo e técnico da missão;

g) «Membros do pessoal de serviço» são os membros do pessoal da missão empregados no serviço


doméstico da missão;

h) «Criado particular» é a pessoa do serviço doméstico de um membro da missão que não seja empregado
do Estado acreditante;

i) «Locais da missão» são os edifícios, ou parte dos edifícios e terrenos anexos, seja quem for o seu
proprietário, utilizados para as finalidades da missão, inclusive a residência do chefe da missão.”
Regra geral, o agente diplomático goza de imunidade jurisdicional penal do estado acreditador.

(Estado acreditante – envia o pessoal diplomático; Estado acreditador – recebe o pessoal diplomático).

O diplomata acreditado, em Portugal, goza de imunidade jurisdicional nos tribunais portugueses. Porém,
existem exceções que estão previstas nas três alíneas do art.º 30:

a) “Uma ação real sobre imóvel privado situado no território do Estado acreditador, salvo se o
agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditante para os fins da missão”;

b) “Uma ação sucessória na qual o agente diplomático figura, a título privado e não em nome do
Estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário” - ex. processo de
partilhas, em que intervém como herdeiro;
c) “Uma ação referente a qualquer atividade profissional ou comercial exercida pelo agente
diplomático no Estado acreditador fora das suas funções oficiais” – o agente diplomático, além
de trabalhar na embaixada, também faz traduções jurídicas para, por exemplo, ganhar mais
dinheiro.

O n.º 2 do art.º 30 diz-nos que o agente diplomático não é obrigado a prestar depoimento como
testemunha. Existe, ainda, uma outra exceção que está prevista no art.º 32, n.º 3: se o agente diplomático
tomar a iniciativa de desencadear uma ação num tribunal português, não pode, depois, invocar a
imunidade jurisdicional, se nessa ação lhe for pedido um pedido reconvencional contra si – “Se um agente
diplomático ou uma pessoa que goza de imunidade de jurisdição nos termos do art.º 37 inicia uma ação
judicial, não lhe será permitido invocar a imunidade de jurisdição no tocante a uma reconvenção
diretamente ligada à ação principal.”
Ao abrigo do art.º 32, n.º 1, “o Estado acreditante pode renunciar à imunidade de jurisdição dos seus
agentes diplomáticos e das pessoas que gozam de imunidade nos termos do art.º 37”.
O art.º 37 estende estas imunidades aos familiares dos agentes diplomáticos, desde que estas preencham
duas condições: vivam com o agente diplomático e não sejam nacionais do Estado acreditador (no nosso
caso, não podem ter a nacionalidade portuguesa). O art.º 37, n.º 2 trata aqueles funcionários menores
(ex. assessores, contabilistas, economistas, etc.) – esses e os familiares que os acompanhem gozarão da
imunidade prevista no art.º 31 com a ressalva de que a imunidade de jurisdição civil não se estenderá aos
atos por eles praticados fora do exercício das suas funções. No fundo, não possuem imunidade de
jurisdição civil face a atos que digam respeito à sua vida privada.
O n.º 3 do art.º 37 refere que: “os membros do pessoal de serviço da missão que não sejam nacionais do
Estado acreditador nem nele tenham residência permanente gozarão de imunidades quanto aos atos
praticados no exercício de suas funções, de isenção de impostos e taxas pobre os salários que perceberem
pelos seus serviços e da isenção prevista no artigo 33.º.”

O n.º 4 do art.º 37 refere que: “os criados particulares dos membros da missão que não sejam nacionais
do Estado acreditador nem nele tenham residência permanente estarão isentos de impostos e taxas sobre
os salários que perceberem pelos seus serviços. Nos demais casos, só gozarão de privilégios e imunidades
na medida reconhecida pelo referido Estado. Todavia, o Estado acreditado deverá exercer a sua jurisdição
sobre tais pessoas de modo a não interferir demasiadamente com o desempenho das funções da missão.”
A única imunidade que os criados particulares dos membros da missão possuem é fiscal, sendo que não
possuem imunidade civil.

Quanto à imunidade do pessoal consular, a Convenção de Viena sobre as relações consulares regula as
relações entre o estado e os seus cidadãos residentes no território de outro estado.
O objeto do consulado é assegurar a representação de um estado com os seus cidadãos. A Convenção de
Viena sobre as relações consulares regula, ainda, as imunidades dos funcionários consulares. O art.º 43
desta Convenção refere que a imunidade está restringida apenas aos atos praticados no exercício das
funções consulares, excluindo as circunstâncias relativas à vida privada dos funcionários consulares. Art.º
43, n.º 1 → “Os funcionários consulares e os empregados consulares não estão sujeitos à jurisdição das
autoridades judiciárias e administrativas do Estado recetor pelos atos realizados no exercício das funções
consulares.”

Ao abrigo do art.º 57, n.º 2, “os privilégios e imunidades previstos no presente capítulo não serão
concedidos:

a) Aos empregados consulares ou membros do pessoal de serviço que exerçam no Estado recetor
atividade privada de carácter lucrativo;

b) Aos membros da família das pessoas mencionadas na alínea a) do presente parágrafo e aos
membros do seu pessoal privativo;

c) Aos membros da família de um membro do posto consular que exerçam no Estado recetor
atividade privada de carácter lucrativo.”

No fundo, este n.º 2 diz-nos que: quem exercer uma atividade profissional remunerada ou lucrativa no
estado recetor, não pode beneficiar da imunidade de jurisdição.

Nos termos do art.º 45, “1. O Estado que envia poderá renunciar, com relação a um membro do posto
consular, aos privilégios e imunidades previstos nos art.º 41, 43 e 44.

2. A renúncia será sempre expressa, exceto no caso do disposto no parágrafo 3 do presente artigo, e deve
ser comunicada por escrito ao Estado recetor.

3. Se um funcionário consular ou um empregado consular propuser uma ação judicial sobre matéria de
que goze de imunidade de jurisdição de acordo com o disposto no art.º 43, não poderá alegar esta
imunidade quanto a qualquer pedido de reconvenção diretamente ligado à demanda principal.

4. A renúncia à imunidade de jurisdição quanto a ações civis ou administrativas não implicará a renúncia
à imunidade quanto a medidas de execução de sentença, para as quais uma renúncia distinta se torna
necessária.” O Estado que envia o pessoal consular pode renunciar. O n.º 3 prevê a renúncia tácita, nos
termos da qual se o funcionário consular iniciar uma ação cível, não pode invocar, depois, a imunidade de
jurisdição, se nessa mesma ação vier a ser deduzida contra si uma reconvenção.

No entanto, não estão previstas neste tratado quaisquer imunidades de jurisdição cível para os familiares
dos funcionários consulares. Ou seja, não está prevista uma imunidade equivalente aos familiares, sendo
que estes não gozam de qualquer tipo de imunidade no estado onde residam, ainda que na companhia
do funcionário consular.

No plano do direito internacional, também é reconhecida uma imunidade jurisdicional aos Chefes de
Estado estrangeiros. Isto resulta do princípio de ius cogens, nos termos do qual os Chefes de Estado
gozam de imunidade jurisdição nos demais estados (por ex., um tribunal português não pode julgar o
Chefe de Estado espanhol). Isto abrange quer litígios penais, quer litígios cíveis.
No âmbito das imunidades individuais, há, ainda, lugar a imunidades individuais relativamente ao
funcionários e agentes das organizações internacionais. Estes habitualmente gozam também de
imunidade de jurisdição penal e cível, mas essa não resulta de uma norma geral, de nenhum tratado
internacional, sendo que, normalmente, é o próprio tratado que prevê numa norma avulsa essas
imunidades de jurisdição.

19/11/2021

Þ Caso prático

Em 15 de Janeiro de 2018, Álvaro, de 18 anos, e Bernardo, de 16 anos, ambos estudantes de vitivinicultura


em Valpaços celebram com Carlos um contrato de arrendamento, por uma renda mensal de 100 euros,
tendo por objeto uma fração habitacional sita na Ribeira, no Porto, para um período transitório de seis
meses correspondente à duração de uma formação escolar que vieram realizar na Instituto Português do
Vinho em Gaia. Em fevereiro desse ano Carlos contraiu casamento, no regime da comunhão de
adquiridos, com Helena. Em 20 de março, Bernardo resolveu instalar um laboratório de microbiologia no
seu quarto na fração arrendada a Carlos e sem autorização deste, para o efeito demolindo várias paredes
internas e removendo reboco de revestimento da parede e as alcatifas. Tendo tomado conhecimento
dessa circunstância, Carlos propôs contra Bernardo uma ação peticionado a resolução do contrato de
arrendamento e a condenação de Bernardo a pagar uma indeminização no valor de 1.990 euros.
Diogo e Eduarda, pais de Bernardo e seus representantes legais, não se entendem quanto à posição que
o filho deve adotar no processo: para o pai, a conduta do filho é irrepreensível porque foi um ato adotado
em benefício da sua formação e nada tem de pagar ao senhorio, enquanto a mãe é do entendimento que
o filho deve confessar o pedido e pagar a indeminização pedida.
Entretanto, estando Álvaro a tomar um shot no bar “Vai prós copos” na Rua das Galerias de Paris, no
Porto, conheceu Ugo, de 19 anos, filho do Cônsul da república italiana nesta cidade e com ele residente.
Ao fim de alguns shots, desentendem-se e iniciam uma zaragata e Ugo desfere um murro em Álvaro,
provocando-lhe a cegueira num olho e causando-lhe a necessidade de se socorrer de tratamentos medico
cirúrgicos no valor de 30.000 euros.
Inconformado com essas despesas Álvaro intenta no tribunal da Comarca do Porto uma ação contra Ugo
peticionando a condenação deste a pagar-lhe uma indeminização de 30.000 euros. Devidamente citado,
Ugo vem invocar a sua imunidade por ser filho de um agente consular acreditado em Portugal e com este
residir.

a) Qual é o valor da ação a propor por ambos, de ambas as ações?

Temos sempre de ver a pretensão que ele pede. Ele pede 30 mil euros, então o valor da causa é 30 mil
euros. Temos de fazer uma introdução, explicar o que é o valor da causa, para que é que serve, quais são
as regras. Quando se pede um valor em dinheiro é esse o valor da causa. Já na ação por Carlos é de 1.990
euros mais os três mil euros que pagou em dois anos e meio de renda, ou seja, 4.990 euros. O valor da
causa é determinado não pela realidade da situação, mas pelo pedido que é deduzido em tribunal e o
pedido é uma ação de resolução de contrato e a indeminização no valor de 1.990 euros.

b) Qual a solução para a divergência entre Diogo e Eduarda acerca da conduta processual do seu
filho Bernardo?

Antes de respondermos temos de fazer uma introdução. O Bernardo tem personalidade judiciaria, desde
o momento que adquire personalidade jurídica tem personalidade judiciaria que é desde o nascimento
concreto e com vida, ou seja, pode ser parte numa ação. Outra coisa distinta é saber se ele está por si só
em juízo, se pode auto conduzir ou determinar a sua conduta enquanto parte. A isto corresponde há
capacidade judiciaria. O Bernardo tem capacidade judiciaria na medida que tem capacidade de exercício
de direitos, sendo que ele é menor de idade não tem capacidade de exercício e se não tem capacidade de
exercício não tem capacidade judiciaria. No entanto existe três exceções a esta regra e aqui neste caso
prático essas exceções não estão presentes. Portanto, não tem capacidade de exercício o que significa
que não tem capacidade judiciaria. Como é que é suprida a incapacidade judiciaria dos menores? Pela
intervenção jurídica em nome dele, em sua representação, ele é a parte, mas não pode estar sozinho, está
em tribunal por intermedio dos seus legais representantes. No art.º 16, nº 2 diz que no caso dos menores
representados por ambos os pais, que é o caso, estes têm de estar de acordo. Eles não estão de acordo,
então esta divergência entre o pai e a mãe é resolvido através do art.º 18. Este art.º 18 prevê a situação
da divergência dos pais quanto à propositura da ação e prevê a situação da divergência dos pais na
condução do processo. O nº 1 é para a primeira situação e o nº 2 é para a segunda. Aqui vamos aplicar o
nº 2. (temos de aplicar vem a alínea deste artigo). Então neste caso os pais têm de pedir ao juiz daquele
processo que resolva, que decida, esta divergência. Esta é resolvida através do art.º 18, nº 3, ou seja, o
juiz da causa vai resolver a divergência ou atribuindo naquele processo a representação do Bernardo ou
ao pai ou à mãe conforme o interesse do menor ou nomear um curador ad litem para representar o menor
só naquele processo ou então entregar a representação do menor naquele processo ao ministério público.
c) Aprecie a invocação da imunidade feita por Ugo?

Estamos no âmbito da submissão à jurisdição dos tribunais portugueses, sabendo nós que há
determinadas categorias de pessoas que não estão submetidas, que estão isentas da jurisdição dos
tribunais portugueses. Essas categorias podem ser pessoas jurídicas no caso dos estados ou organizações
internacionais ou pessoas singulares. No caso das pessoas singulares temos o pessoal diplomático e o
consular e das organizações internacionais, mas aqui o que nos interessa é as imunidades de jurisdição
favorecidas ao pessoal consular e aos seus familiares. No caso destas pessoas as suas imunidades de
jurisdição estão reguladas na convenção de Viena sobre as convenções consulares que no seu art.º 47
prevê imunidade de jurisdição civil apenas para os funcionários consulares e mesmo assim com várias
exceções, não prevendo imunidades civis para os familiares.

26/11/2021

(Nota: O início da aula foi a corrigir o teste e numa aula de 1h demos pouca matéria depois).

Capacidade postulatória
Também conhecida por “patrocínio judiciário/forense” (não é precisamente a mesma). A capacidade
postulatória define-se como a suscetibilidade de por si só pleitear (intervir no processo praticando atos
processuais) o juízo praticando atos processuais.

Como já vimos anteriormente, existem três graus de capacidade:

- Personalidade judiciária;
- Capacidade judiciária;
- Capacidade postulatória.
Relativamente à capacidade postulatória, por exemplo, uma criança menor de idade com 5 anos não tem
capacidade judiciária, mas ambos os pais gozam de capacidade postulatória, enquanto representantes do
menor, e têm de constituir um mandatário. Uma criança de 5 anos goza da suscetibilidade de não estar
por si só em juízo, ou seja, não pode autodeterminar a sua conduta, mas também não pode por si só
praticar no processo os atos processuais que o processo implica.

O regime regra é o que está previsto no art.º 42 do CPC. As partes dispõem de capacidade postulatória
nas causas em que não seja obrigatória a constituição de advogado. Quando a lei não exige a constituição
obrigatória de advogado, as partes gozam de capacidade postulatória, logo podem pleitear por si próprias,
isto é, podem estar por si só no processo e praticarem os atos processuais que entenderem pertinentes.
Contudo, neste caso, temos, ainda, a limitação do art.º 40, n.º 3 do CPC, segundo a qual as partes, quando
pleiteiem por si próprias sem constituírem advogado, não podem inquirir as testemunhas (a inquirição é
feita pelo juiz).

Do art.º 42 do CPC decorre o inverso. Sempre que a lei processual imponha como obrigatória a
constituição de advogado, as partes não gozam de capacidade postulatória. Neste caso, estamos perante
incapacidade postulatória que terá de ser suprida através da intervenção de um mandatário. Sendo este
o regime-regra, existem algumas situações particulares:

• Nos casos em que é obrigatória a constituição de advogado, a lei atribuiu às partes capacidade
postulatória residual. Esta capacidade consiste na capacidade de as partes pleitearem por si
próprias, mas limitadas a certos tipos de atos processuais (art.º 40, n.º 2 do CPC), relativamente
à matéria de facto. Neste caso, as partes não podem fazer requerimentos, nem ter qualquer tipo
de intervenção processual em que se suscite matéria jurídica.
• Ao abrigo do art.º 19 da EMJ + art.º 93 da EMP, atribui-se capacidade postulatória, quando eles
próprios são partes no processo ou os seus conjugues ou descendentes, podendo praticar atos
processuais. Ex. O filho de um procurador tem um processo de natureza cível da vida particular
dele. O procurador pode ser mandatário do filho, assegurando esse patrocínio.

2/12/2021

O patrocínio judiciário é uma forma de representação técnica da parte do no processo. A lei quer alguém
que habilite o representado a agir no processo de forma tecnicamente sólida e bem preparada (e não
alguém que firma a vontade do mesmo).

A fonte do patrocínio judiciário é uma procuração forense, através da qual a parte (ou, se a parte não
tiver capacidade judiciária, o representante da mesma) constitui um patrono ou mandatário, que irá
pleitear em seu nome (que a vai representar tecnicamente no processo). Ao abrigo do art.º 43 do CPC, a
procuração forense pode ser conferida por escritura pública ou documento particular. O mandato é
conferido fora do processo, ou seja, extra processualmente. O tribunal não consegue adivinhar que as
partes outorgaram extra processualmente uma procuração e, portanto, quando assim se sucede, a
procuração tem de ser levada ao reconhecimento do processo. Por outras palavras, a procuração tem de
ser junta ao processo, sendo que, normalmente, é o advogado que faz isso. A procuração também pode
ser outorgada por declaração verbal, no próprio processo. Neste caso, em que a procuração é verbal, o
arguido diz que constitui como advogado o senhor X, e fica estipulado no processo.

Nos termos do art.º 44, n.º 4 do CPC, a procuração carece de conhecimento e de aceitação do
mandatário. Não basta que o cliente escolha quem quer como mandatário. Esta aceitação pode ser
expressa (quando é manifestada no próprio instrumento ou no documento particular) ou tácita (quando
resulta de um comportamento concludente do mandatário).

O patrocínio judiciário pode, ainda, resultar de nomeação pela Ordem dos Advogados, que irá nomear X
advogado como patrono daquela parte. Isto acontece em duas circunstâncias:

• Art.º 51 do CPC → Nesta situação, já a parte procurou vários advogados e nenhum aceitou ser
seu patrono. Então, a parte dirige-se à Ordem dos Advogados, dizendo que é parte num processo
cível e precisa de um advogado, porque não foi aceite por nenhum advogado daquela comarca.
Posto isto, a Ordem concede-lhe um patrono. Neste caso, a fonte do patrocínio judiciário é a
nomeação pela própria Ordem (em processo cível é bastante raro acontecer).
• Casos de apoio judiciário (art.º 30 da Lei 34/2004 – Lei de acesso ao direito). Nesta situação, a
parte não tem condições para suportar os custos de contratação de um advogado e, então,
dirige-se à Segurança Social, justificando as suas necessidades económicas. A Segurança Social,
se aprovar, transmite à Ordem dos Advogados, que, por sua vez, irá nomear um advogado para
aquela pessoa, que será o seu patrono no processo. Os honorários daquele mandatário serão
pagos pelo Estado, de acordo com uma tabela fixada. A parte não pode escolher o seu advogado,
cabendo à própria Ordem a nomeação do mesmo. Esta situação já é mais comum no processo
cível, sendo que, também aqui, o mandatário (patrono) é nomeado pela Ordem dos Advogados.

O art.º 49 do CPC permite, ainda, que o patrocínio forense (patrocínio judiciário) possa ser exercido a
título de gestão de negócios (art.º 464 do CC). Aqui, “negócio” é no sentido de qualquer negócio jurídico.
Quando alguém assume a direção de um negócio jurídico alheio no interesse e por conta dessa pessoa
sem estar autorizado por essa mesma pessoa. A figura do patrocínio forense também pode existir no
domínio do patrocínio judiciário previsto no art.º 49 do CPC. O advogado pode assumir o patrocínio de
outra pessoa sem estar autorizado pela mesma, desde que se trate de uma situação de urgência. Este
patrocínio a título de gestão de negócios tem de ser ratificado pela própria parte. O juiz fixará um prazo
para a parte ratificar a gestão e, se dentro desse prazo, a parte não ratificar o que o advogado fez em sua
representação não estando autorizado, esses atos são anulados e o advogado é condenado nas custas do
processo.

O mandato forense (ou patrocínio forense) tem a natureza jurídica de um contrato de mandato com
representação (também designado “contrato de mandato representativo”). O Código Civil prevê o
contrato de mandato nos seu art.º 1157 e seguintes. O mandato é um contrato entre duas partes (o
mandante e o mandatário), através do qual o mandatário se obriga perante o mandante a praticar atos
jurídicos por conta do mandante. O mandato assume duas espécies:

• Mandato com representação. Junta à figura do mandato a noção da representação voluntária.


Os atos que o mandatário pratica são praticados na esfera jurídica do mandante (ele é
mandatário e procurador).
O mandatário não só manda no interesse e por conta do mandante, como também em nome
deste. No fundo, o mandatário acumula a qualidade de mandatário com a qualidade de
procurador. Os atos que pratica refletem-se na esfera judicia da outra parte.
• Mandato sem representação – Os atos praticados pelo mandatário refletem-se apenas na sua
esfera jurídica. Neste sentido, o mandatário não está a agir em nome do mandante, mas apenas
por conta do mandante.

O patrocínio forense é um contrato entre a parte e o seu mandatário (contrato de mandato


representativo). O mandatário forense (advogado) pratica os atos processuais, alegações, requerimentos,
etc., não só por conta ou no interesse do seu constituinte, como também em nome da própria parte.
O conteúdo dos poderes que o advogado adquire por via do patrocínio forense está previsto no art.º 44,
n.º 1 por remissão do art.º 45, n.º 1 do CPC. O mandato forense, por via de regra, inclui apenas os poderes
forenses gerais, que são os poderes para representar a parte em todos os atos e termos do processo
principal, seus incidentes e perante os tribunais superiores. A lei, na parte final do artigo, exclui destes
poderes forenses gerais os poderes que a lei qualifica como poderes forenses especais. Os poderes
forenses especiais (art.º 45, n.º 2 do CPC) só podem ser praticados pessoalmente pela parte ou, então,
esta tem de os atribuir especificamente ao mandatário (art.º 45, n.º 2 do CPC). Por exemplo, para o
advogado poder receber dinheiro por conta e em nome do seu cliente, tem de ter poderes forenses
especiais.
Uma outra consequência da natureza representativa do mandato forense está prevista no art.º 46 do
CPC. O advogado faz os requerimentos, a contestação, alegações, etc., ou seja, fala em nome da parte (do
seu constituinte). O art.º 46 do CPC reforça a natureza representativa do mandato. Se o advogado fizer
afirmações em nome do constituinte, o constituinte fica vinculado por aquilo que o advogado disse.
Contudo, a lei admite que estas declarações possam ser retificadas ou retiradas pelo advogado que as fez,
desde que o faça até quando a parte contrária as não tenha aceitado especificadamente.

Nos poderes forenses gerais está incluído, também, o poder de subestabelecer o mandato. O advogado
pode transmitir os poderes que recebeu do seu constituinte a outro mandatário, sendo que pode fazê-lo
sem necessidade de autorização do constituinte. O substabelecimento pode ser feito:

• Substabelecimento com reserva. O substabelecimento com reserva ocorre quando o advogado


que subestabelece reserva para si os poderes forenses que recebeu do seu constituinte
(substabelecimento pontual).
• Substabelecimento sem reserva. O substabelecimento sem reserva é uma verdadeira
substituição permanente (definitiva) do advogado no processo. A lei não exige o conhecimento
do constituinte. Pode também ser feito pelo próprio constituinte, que pede para que o seu
processo passe definitivamente para outro mandatário.

O art.º 50 do CPC permite que os advogados possam dispor de assistência técnica, isto é, possam fazer-
se acompanhar de técnicos que não são juristas, nomeadamente face a questões de medicina,
arquitetura, etc. A nomeação de assistente técnico não necessita de aprovação pelo tribunal. O advogado
apenas comunica ao tribunal o assistente técnico que escolheu. Depois, o tribunal pode recusar, se
considerar desnecessária a constituição de assistente técnico, naquele processo em questão. Os
advogados poderem dispor de assistência técnica não é um direito potestativo. O técnico (art.º 50, n.º 4
do CPC) tem os mesmos direitos e deveres processuais que o advogado, para o efeito a que foi designado.

A capacidade postulatória das partes ocorre quando a lei não exija a constituição de advogado. O art.º
40, n.º 1 do CPP prevê as três situações em que é obrigatória a constituição de advogado:

• Alínea c) do art.º 40, n.º 1 do CPC → Sempre que se interponha recurso é obrigatório estar
constituído advogado em todas as ações que se propõe em primeiro grau de decisão no Tribunal
Superior (exemplo: revisão e conformação da sentença arbitral estrangeira). Ou seja, se a ação
vai ser proposta em 1ª grau de decisão num Tribunal Superior é obrigatório constituir advogado.
• Alínea a) do art.º 40, n.º 1 do CPC → A constituição de mandatário é obrigatória nas causas em
que é admissível recurso ordinário.

Exemplo: Art.º 269, n.º 1 do CPC – admite-se o recurso ordinário, quando o valor da causa excede o valor
da alçada do tribunal onde se propõe a ação (art.º 44 da LOSJ). Se o valor da ação proposta ao Tribunal
de Primeira Instância exceder o valor da alçada dos Tribunais de Primeira Instância, a sentença que vier a
ser proferida nessa ação admite recurso ordinário. Se a sentença não admitir recurso, nos termos do art.º
40, n.º 1, alínea b do CPC, é obrigatória a constituição de advogado, na medida em que as partes não
possuem capacidade postulatória nessa mesma ação.

• Alínea b) do art.º 40, n.º 1 do CPC → Ações em que seja sempre admissível recurso,
independentemente do valor da causa. Hoje em dia, é apenas a matéria do art.º 629, n.º 3,
alínea a do CPC. Qualquer ação em que esteja em causa apreciar a validade do contrato de
arrendamento, a subsistência ou a cessão do mesmo, é sempre admissível recurso ordinário,
independentemente do valor da causa. Se é sempre admissível recurso, nos termos do art.º 40,
n.º 1, alínea b do CPC, é sempre obrigatória a constituição de mandatário. Esta alínea a do n.º 3
tem uma exceção: não há lugar à aplicação desta alínea, se tiverem em causa contratos de
arrendamento para habitação não permanente e, também, nos contratos de arrendamento para
fins especiais transitórios (independentemente se é para comércio, habitação, etc.).

Quando não é obrigatória a constituição de advogado, as partes gozam de capacidade postulatória. O


art.º 42 do CPC não as impede de constituir mandatário, mesmo que não seja obrigatório fazê-lo –
princípio da assistência por advogado. Os advogados estagiários e os solicitadores também podem
exercer o mandato forense, nos termos do art.º 42 do CPC, e podem ainda, nos termos do art.º 40, n.º 2
do CPC, fazer requerimentos que não envolvam apreciações jurídicas (exemplo: requerer um adiamento).
A constituição obrigatória de mandatário regula-se no art.º 40 do CPC e a lei vem dizer quem pode exercer
o mandato forense. A preocupação do legislador é de ordem técnica. O exercício do mandato forense
está reservado aos advogados, salvo as exceções (nomeadamente, solicitadores, advogados estagiários,
etc.). É advogado quem tiver inscrito nessa qualidade na Ordem dos Advogados, que é uma associação
pública profissional. O estatuto da Ordem dos Advogados está regulado pela Lei 145/2015, bem como os
requisitos de acesso à profissão, mas, também, as próprias regras do exercício da advocacia (ver no
Estatuto da Ordem dos Advogados – art.º 76 e seguintes) e a deontologia profissional (conjunto de
deveres que vinculam o advogado no exercício da sua profissão). Este Estatuto regula também as
consequências dos incumprimentos destes deveres – consequências disciplinares (art.º 130).

Quando a lei exige a constituição obrigatória de mandatário, está a prosseguir três grandes funções:

• Função de auxílio técnico às partes. Ao exigir o patrocínio obrigatório, a lei está preocupada com
os aspetos técnicos na condução do processo. Geralmente, as partes não dominam as
tecnicalidades do processo, isto é, não compreendem o ritualismo processual, as exigências
formais, o que causa um transtorno não só às próprias partes, mas também ao próprio tribunal.
O legislador assegura-se que as partes, na defesa das suas posições e interesses, estão
tecnicamente bem habilitadas, através da assistência do profissional. No fundo, é uma tutela das
próprias partes, mas também para o interesse do próprio funcionamento da justiça.
• Função de realização do direito e de prossecução da justiça. Ao exigir a constituição obrigatória
de mandatário, o legislador preocupa-se com a condução leal e verdadeira do processo. O
legislador quer que os processos sejam conduzidos pelas partes, de forma correta a evitar que
estas sucumbam à tentação de utilizarem expedientes menos leais na defesa e na sustentação
das suas posições. A intermediação de um advogado entre a parte e um advogado e na relação
entre as partes permite tentar evitar uma conduta processual menor correta, porque os
advogados estão vinculados a deveres deontológicos que os proíbem de utilizar expedientes
menos sérios na condução do processo. Além disso, o advogado tem, ainda, um interesse em
manter a sua dignidade profissional e o seu bom nome. A exigência de um advogado acautela
que a condição das partes no processo seja pautada de acordo com critérios de lealdade e
verdade processual. Nos deveres que vinculam os advogados está o dever de cooperar e auxiliar
na realização da justiça de forma pró-ativa.
• Função psicológica. As partes vivem de uma forma intensa os seus processos, na medida em que
é algo que lhes diz bastante respeito e, muitas vezes, perdem a noção, não sendo capazes de
racionalizar os seus argumentos. Ao exigir a constituição obrigatória de mandatário, o legislador
pretende refrear os ímpetos emocionais e apaixonados das partes face aos seus processos. O
papel do advogado é introduzir um elemento racional na condução de um processo, isto é, servir
de intermediário entre a parte, que vive intensamente aquele litígio e tem opiniões muito fortes,
não conseguindo aceitar argumentos racionais, e o tribunal. Muitas vezes, antes do litígio chegar
a um processo judicial, o advogado já filtra informação para evitar que assuntos que não
deveriam ir para tribunal não sejam levados a um.

O patrocínio forense é um contrato bilateral e, como tal, poderia estar sujeito ao princípio de que os
contratos são para se cumprir – regra geral. Contudo, certos contratos são celebrados dependendo de
uma certa de relação de confiança entre as partes e a legislador aceita que, se essa relação de confiança
deixar de existir, essa relação se extinga por uma das partes sem a autorização da outra. Isto acontece no
contrato de mandato, em geral, onde se permite ao mandatário e ao mandante unilateralmente pôr
termo ao contrato.

O art.º 47 do CPC regula estes mecanismos de cessação unilateral do contrato: a renúncia e a revogação,
que estão sujeitas a forma. Na renúncia, provém do mandatário a cessação unilateral da relação
contratual. Já quanto à revogação, parte do mandante (constituinte) mandar cessar unilateralmente a
relação contratual. Ambos devem ter lugar no próprio processo, ou seja, é preciso fazer-se o comunicado
no processo, normalmente através de um requerimento. O mandatário (advogado) que renuncia o
mandato tem de ir ao processo, comunicar e notificar o constituinte (mandante) e a parte contrária. Já
quanto à revogação, que provém do constituinte, esta tem de ser comunicada ao mandatário (advogado)
e à parte contrária.
Só a partir da notificação é que se produzem os efeitos destes mecanismos. As consequências da renúncia
estão previstas no art.º 47, n.º 2 do CPC. No caso da renúncia (provém do mandatário), a notificação tem
de ser feita pessoalmente ao mandante – notificação pessoal. O tribunal tem de se certificar que o
mandante fica ciente das consequências graves a que está sujeito. Nos termos do art.º 47, n.º 3 do CPC,
se for obrigatória a constituição de advogado, e se a parte, depois de notificada da renúncia, não constituir
novo mandatário no prazo de 20 dias, a lei distingue a consequência consoante a falta de constituição de
mandatário provenha do autor ou do réu. Se, sendo obrigatório, o autor não constituir mandatário no
prazo estipulado, suspende-se a instância (art.º 47, n.º 3, alínea a do CPC). Por outro lado, ao abrigo do
art.º 47, n.º 3, alínea c do CPC, se o réu não constituir advogado, sendo obrigatório, no prazo determinado
legalmente, o processo segue os seus termos (sem haver advogado constituído por parte do réu),
aproveitando-se os atos anteriormente praticados.
Pode acontecer, ainda, uma renúncia ao mandato, em que o mandatário tentou notificar pessoalmente
o réu e não conseguiu. O legislador acautela esta situação no n.º 4 do art.º 47 do CPC. Chegando à
conclusão de que o mandatário tentou notificar o réu da sua renúncia sem efeito, o tribunal nomeia um
mandatário oficioso para assegurar o patrocínio daquele réu, nos termos do art.º 51, n.º 3 do CPC.

A capacidade postulatória (ou suprimento da incapacidade postulatória) é um pressuposto processual


do conhecimento oficioso do tribunal. Ou seja, o tribunal pode conhecer oficiosamente da falta deste
pressuposto processual.

Falta de constituição de advogado – art.º 41 do CPC. No início do processo, “se a parte não constituir
advogado, sendo obrigatória a constituição, o juiz, oficiosamente ou a requerimento da parte contrária,
determina a sua notificação para o constituir dentro de prazo certo, sob pena de o réu ser absolvido da
instância, de não ter seguimento o recurso ou de ficar sem efeito a defesa”. No fundo, o juiz notifica a
parte, dizendo que é obrigatória a constituição de advogado e atribui-lhe um prazo. Se o réu não
apresentar contestação, estamos perante o regime da revelia (efeito cominatório semipleno).
Além da falta de constituição de mandatário, pode, também, não ter sido junta a procuração ou, então,
a procuração que foi junta está irregular. Trata-se de não estar demonstrado no processo que o
mandatário tem poderes para agir em nome do seu constituinte. Aplica-se o regime do art.º 48, n.º 1 e
n.º 2 do CPC. Se, findo o prazo, não for regularizada a situação, fica sem efeito tudo o que tiver sido
praticado pelo mandatário, ou seja, os atos do mandatário são anuláveis. Além disto, o mandatário é,
ainda, condenado nas custas do processo.

Art.º 48

“1 - A falta de procuração e a sua insuficiência ou irregularidade podem, em qualquer altura, ser arguidas
pela parte contrária e suscitadas oficiosamente pelo tribunal.

2 - O juiz fixa o prazo dentro do qual deve ser suprida a falta ou corrigido o vício e ratificado o processado,
findo o qual, sem que esteja regularizada a situação, fica sem efeito tudo o que tiver sido praticado pelo
mandatário, devendo este ser condenado nas custas respetivas e, se tiver agido culposamente, na
indemnização dos prejuízos a que tenha dado causa.”

03/12/2021

A legitimidade processual está prevista no art.º 30 do código do processo civil.

Art.º 30- conceito de legitimidade

1- O autor é parte legítima quando tem interesse direto em demandar; o réu é parte legítima quando tem
interesse direto em contradizer.
2 - O interesse em demandar exprime-se pela utilidade derivada da procedência da ação e o interesse em
contradizer pelo prejuízo que dessa procedência advenha.
3- Na falta de indicação da lei em contrário, são considerados titulares do interesse relevante para o efeito
da legitimidade os sujeitos da relação controvertida, tal como é configurada pelo autor.

A legitimidade processual enquanto pressuposto processual prima de uma relação concreta, especifica
entre cada uma das partes e uma determinada causa mais especificamente o objeto dessa causa. Exprime
uma relação direta e especifica de cada uma das partes com uma determinada causa, ação, ou seja, com
o objeto dessa ação. As partes não podem intervir em processos, designadamente, o autor não pode
propor uma ação ou não pode demandar um réu que não tenha um interesse direto com o objeto dessa
ação, dessa causa. Só tem legitimidade o autor se ele tiver um interesse direto na demanda. Só tem
legitimidade o réu se, como diz o nº 1 do art.º 30, ele tiver um interesse direto em contradizer aquela
demanda. Que interesse é esse? A resposta é-nos dada no nº 2. O autor terá interesse direto em
demandar se ele retirar da procedência da ação uma utilidade, uma vantagem direta e pessoal na sua
esfera jurídica. Eu só tenho legitimidade processual para propor uma ação, e quando estamos a falar da
legitimidade processual na perspetiva do autor chamamos legitimidade ativa, se metade dessa ação ser
vinda a julgar procedente e eu retirar uma vantagem direta e pessoal na minha esfera jurídica.

Exemplo: O vizinho de cima tem um problema de infiltrações, o meu teto está todo estragado por causa
disso. Proponho uma ação contra o meu vizinho de cima a pedir uma indeminização para reparar os
estragos que as infiltrações de água causadas por ele provocaram no meu apartamento. Desta ação eu
retiro uma vantagem, uma utilidade direta, pessoal da minha esfera jurídica. O meu património vai ser
enriquecido com aquela indeminização ou, pelo menos, o meu prejuízo vai ser reparado. Agora noutro
exemplo, o vizinho de cima tem as infiltrações, mas eu não moro lá e proponho uma ação para que ele
indemnize o vizinho de baixo que não sou eu. Daqui eu não retiro nenhuma vantagem, nenhuma utilidade,
direta e pessoal na minha esfera jurídica. Não tenho nada a ganhar com esta ação e, portanto, eu não
tenho legitimidade processual para propor esta ação, de acordo com a lei. Se eu prepor uma ação nestes
termos vai faltar este pressuposto processual, sendo a consequência a absolvição da estância.

Réu é toda a pessoa a quem eu proponho a ação, a pessoa é réu porque foi demandado, foi citado, pode
é depois não ter a legitimidade processual e essa falta desse pressuposto processual será resolvida através
do carimbo da absolvição da instância, no entanto, não deixa de ser réu- aquele contra quem foi proposta
a ação mesmo que não devesse ter sido posta contra ele.

A legitimidade de que estamos aqui a falar, legitimidade processual que também podemos denominar de
legitimidade adjetiva, que não tem nada que ver com a relação material controvertida, com a relação
jurídica substantiva que se discute no processo. Não tem nada a ver com a legitimidade substantiva. A
legitimidade adjetiva é uma figura puramente processual, exclusivamente de direito processual civil e,
portanto, exprime apenas uma relação entre as partes e o objeto de uma causa.

Direito adjetivo vs. direito substantivo

O adjetivo é o direito processual em geral, pode ser penal, administrativo, etc. e o direito substantivo é o
direito que regula as relações jurídicas propriamente ditas. O direito adjetivo só regula a própria
tramitação das ações.

Ocasionalmente o legislador dá-nos indicações precisas sobre a legitimidade, diz-nos quem é que tem
legitimidade ativa e legitimidade passiva para propor uma ação. Pontualmente através de normas que
não estão no código de processo civil, mas estão em legislação substantiva avulsa- art.º 286 do código
civil- legitimidade ativa, quem tem interesse na nulidade, art.º 1785- legitimidade ativa, só o conjugue é
que pode pedir para propor uma ação de divórcio, art.º 2078- legitimidade ativa, qualquer um dos
herdeiros de uma herança pode propor uma ação para revindicar bens da herança, diploma do seguro
automóvel- legitimidade passiva.

09/12/2021

Legitimidade processual

Os critérios do nº 1 e nº 2 não são suficientes e por isso o legislador como diz o nº 3 na falta de indicação
da lei em contrário, existem situações em normas avulsas que nos dão logo a indicação da legitimidade
quer ativa quer passiva, vimos exemplos na aula passada.

Art.º 469, nº 2 do CC- Indemnização pelo dano morte


Responsabilidade civil extracontratual pelo dano morte. Estamos a falar dos Danos não patrimoniais, não
dos patrimoniais decorrentes da morte. Discutiu-se na doutrina como seria indemnizado pelo dano morte.

Esta questão foi esclarecida no código civil que vai reconhecer que a uma indemnização por danos não
patrimoniais emergentes pela morte. A morte em si é um dano não patrimonial suscetível de
indemnização. Cabe em conjunto ao cônjuge não separado de pessoas e bens aos filhos e outros
descendentes na falta destes aos pais e outros ascendentes ou por irmãos ou sobrinhos que os
representem. É uma norma atributiva de legitimidade ativa. Também prevê uma forma especial de
legitimidade que vamos falar mais à frente.

Exemplo de norma atributiva de legitimidade passiva que encontrámos no regime jurídico é do seguro
automóvel.

Art.º 64 do Diploma 291/2007

Nos acidentes de viação quem é demandado é a seguradora, não é demandado condutor.

As ações destinadas à efetivação da responsabilidade civil decorrente de acidente de viação quer sejam
exercidas em processo civil ou processo penal em caso de existência de seguro devem ser deduzidas
obrigatoriamente só contra empresa de seguros quando o pedido do formulado estiver dentro do capital
mínimo de seguro obrigatório.

Até esse montante de danos só se pode demandar as empresas seguradoras. Depois se ultrapassar esse
limiar do capital mínimo obrigatório do seguro obrigatório, como vos disse anda na casa dos 6 milhões de
euros, então deve-se demandar a empresa de seguros e o possivelmente responsável pode ser um
condutor ou proprietário do veículo ou tomador do seguro.

Portanto há aqui uma norma atributiva de legitimidade de passiva para a generalidade das situações,
aplicar-se a alínea a. Quando não chega aos 6 milhões de euros a legitimidade passiva é apenas dá um
empresa de seguros. Se mandarmos o proprietário do veículo ele é parte ilegítima da causa.

O critério subsidiário de legitimidade (art.º 30, nº 3)

Terá que ser absolvido da instância. Isto não é suficiente porque nem sempre a lei nos indica uma norma
atributiva de legitimidade.

E, portanto, o código vai então acrescentar um critério subsidiário para aferir a legitimidade concretizando
no nº 1, nº 2 e agora no nº 3 é um critério subsidiário na falta de norma expressa atributiva de
legitimidade. O nº 3 dá-nos essa resposta.

Mas antes de vermos a solução do nº 3 é explicar um pouco como é que ela surge.

A querela doutrinária anterior à reforma de 1995/96: a posição objetivista e a posição subjetivista.

Durante muito tempo entre nós a doutrina e a jurisprudência tiveram muito divididas entre 2 grandes
posições aos grandes teorias.

Uma teoria dizia que a legitimidade se tinha que aferir na relação material controvertida. Se aferia tal
como ele está na realidade. Não interessa aquilo que o autor diz, a forma como o autor escreve a sua
causa de pedido, releva é a realidade dos factos relativos àquela litígio.
Exemplo: autor proponha ação contra réu A e B por causa de um dano e pede uma indemnização, mas
afinal foi só um não foi os 2. Para a legitimidade não releva nesta teoria a versão que que o autor
apresentou quando propôs a ação, mas releva a realidade das coisas. O reu B que afinal não tinha nada a
ver com aquela relação material controvertida não seria parte legítima porque na realidade não tinha
nenhum prejuízo a retirar da procedência da ação.

Uma segunda doutrina defendia que era um requisito puramente formal e que tem que ser avaliado numa
fase inicial do processo já é não nos interessa estar a ver qual a realidade das coisas relativas àquela
relação do material controvertida. O que interessa é de acordo com a versão do autor saber se as partes
são ou não legítimas. depois se a versão do autor corresponde à realidade das coisas ou não isso já não é
um problema da legitimidade processual, isso é um problema depois para saber se a ação é procedente
ou não. Para a avaliação puramente processual o que releva é verificar a versão de acordo conversão do
autor.

Na reforma de 95 e 96 o legislador veio pôr fim ao debate tomando partido de uma das posições. Pela
segunda das posições e esta opção legislativa foi mantida no novo código.

A legitimidade processual como um requisito formal

Nº 3, art.º 30. Ou seja, o que interessa para saber se o autor, para aferir este pressuposto processual, é
parte legítima por que retira da procedência da causa uma vantagem, para saber se o réu é parte legítima
porque retiram prejuízo da procedência da causa, nós vamos ter em conta não a realidade das coisas
como se ela vier a apurar no processo, mas sim a versão fáctico jurídica que o autor apresenta na petição
inicial.

Vamos aferir que se de acordo com a versão do autor apresentou na petição inicial, resultar que da
procedência da causa gera uma vantagem direita imediata na esfera do autor então ele é parte legítima.
Se resultar que o réu de acordo com a versão do autor com a procedência da ação gera um prejuízo direto
imediato na esfera jurídica do réu então ele também é parte legítima. O que interessa é a versão do autor
ainda que não corresponda à realidade. Se depois no julgamento da causa chegámos à conclusão de que
aquela versão não representa a realidade e a relação material controvertida tem uma outra configuração,
a solução vai ser julgada a ação improcedente.

Nesta conceção é difícil este pressuposto processual não estar preenchido. Se vamos atender apenas a
configuração da relação material controvertida que o autor dá na petição inicial dificilmente o autor vai
cometer o erro de configurar uma relação material controvertida de uma forma e depois não demandar
as pessoas corretas. Mas pode acontecer.

De acordo com esta configuração da relação material controvertida que ele dá na petição inicial ele é
parte legítima porque ele está a alegar que está a sofrer e indemnizações no seu apartamento, portanto
de acordo com a sua versão ele tem legitimidade. Se se chegar à conclusão e vai lá um perito o
apartamento não sofre nenhuma é infiltração aí já não é um problema formal processual de legitimidade
é um problema de procedência ou improcedência da ação.

Portanto a é o critério que o legislador adotou atualmente e portanto este critério mais formalístico de
que para aferir a legitimidade das partes para aferir os interesses relevantes para efeitos de saber se o
autor retira da procedência da causa uma vantagem direta imediata na sua esfera jurídica ou se o réu
retira da preferência da causa um prejuízo direto imediato da sua esfera jurídica para aferir isso, não
interessa a realidade das coisas, não interessa a verdadeira configuração da relação de material
controvertida. Interessa isso sim é a versão fático jurídica com que o autor configura a relação material
controvertida na sua petição inicia.
Independentemente dessa versão não ter qualquer correspondência ou qualquer aderência com a
realidade se não tiver qualquer correspondência com a realidade esse já não é um problema processual
ou formal é um problema de fundo ou de mérito da causa e será resolvido no julgamento e não nesta
fase formal.

A legitimidade plural

A legitimidade singular enquanto paradigma da relação jurídica processual

Até aqui temos estado a falar sobre a perspetiva da legitimidade singular. O problema da legitimidade
não se esgota nessa perspetiva, tem um problema adicional vamos já falar dele é que a legitimidade plural.
O paradigma de uma ação clássico é um autor e um réu. Nestas situações a legitimidade afere-se
naturalmente sabendo o autor tem interesse em demandar e se o reu tem interesse em contradizer.

Só que uma ação pode ter uma pluralidade de partes. Podemos ter vários autores e/ou vários réus. Isto
coloca então um problema adicional.

A pluralidade de partes: o litisconsórcio e a coligação.

Quando temos várias partes temos uma pluralidade de partes e colocamos um problema adicional porque
não só temos de aferir a legitimidade singular de cada uma das partes, de cada um dos autores como de
cada um dos réus de acordo com os critérios que já estudamos art.º 30, como temos de aferir a
legitimidade plural. Ou seja, a possibilidade de aquelas partes estarem na ação em litisconsórcio,
litisconsorciadas e, portanto, litisconsórcio e exprime esta ideia dos sujeitos processuais estarem em
litosconsorciadas na ação.

Litisconsórcio é uma figura de direito empresarial e podemos utilizar aqui emprestado o termo relativo
ao processo civil.

Temos também a coligação que é uma figura diferente.

No litisconsórcio termos, portanto, as partes surgem consorciadas na ação. em matéria de litisconsórcio


surge logo o problema de saber, portanto se aquela pluralidade de partes pode estar consorciada
naquela ação; portanto além do problema da legitimidade singular aquele autor tem interesse em
demandar, o reu tem interesse em contradizer, temos que fazer ainda uma operação seguinte que é
aqueles autores que estão consorciados na ação podem estar consorciados naquela ação? aqueles réus
que estão consorciados na ação podem estar com associados na ação

A pluralidade partes pode ser:

• Originária- resulta logo na propositura da ação, quando a ação é proposta já se verifica uma
situação de pluralidade de partes.
• Superveniente- Ocorre na pendência do processo. Começou o processo com um autor e um réu,
mas depois passou a ter vários autores e/ou vários réus. O incidente de terceiros e o incidente
de habilitação é Instrumento através do qual se chamam terceiros a ação. O mais incidente é a
habilitação por morte.

O litisconsórcio pode assumir 2 modalidades:

® Litisconsórcio voluntário
Ocorre quando a pluralidade de partes não é imposta nem exigida pelo legislador, pela lei, mas resulta da
vontade do autor quando propõe a ação, configura logo a ação como uma situação de probabilidade de
partes, ou da vontade do réu quando o réu deduz um desses incidentes normalmente produzirá um
incidente de intervenção de terceiros para chamar outros assumirem a posição de parte na causa.

E, portanto, a lei não impõe litisconsórcio, a lei não exige que a ação tenha aquelas pessoas como partes,
mas o facto dessas pessoas serem partes na ação resulta da vontade ou do autor ou do réu. Como o
próprio nome indica é voluntario não é obrigatório não é imposto, é uma faculdade que as partes têm, é
admitido pelo legislador precisamente porque há conveniência em que um litígio seja tratado num menor
número de processos, de uma forma mais é concentrada possível. Esta ideia corresponde a um princípio
da economia processual na vertente de economia de processos.

Obrigações solidárias e eu que sou credor posso exigir a totalidade da dívida a qualquer um deles não
precisamos de demandar os 3 e, portanto, imaginem este cenário em que eu demando o devedor A e
ganho a ação, mas não tem património para pagar, portanto eu vou ter de propor uma nova ação agora
contra C, mas mais uma vez não tem património. Portanto ando nisto a perder anos e 3 processos a ocupar
espaço no tribunal; portanto o legislador diz que é muito mais prático demandar logo os 3 na mesma
ação. não é obrigatório, mas tenho essa faculdade.

Regulado no art.º 32. Abrange, por exemplo, as situações das obrigações divisíveis, uma obrigação que é
divisível, em que há vários obrigado, mas cada um está obrigada a prestar uma parcela da obrigação.

Uma obrigação pecuniária divisível é por exemplo 3 pessoas devem 1500€ e cada pessoa tem que pagar
500€ cada um paga a sua quota.

O art.º 32, nº 2 diz se a relação material controvertida respeitar a várias pessoas pode ser proposta por
um só ou contra só um dos interessados. Ou então pode ser proposta por todos os interessados ou contra
todos os interessados abrangendo a totalidade da relação material controvertida.

Eu posso propor uma ação contra cada um dos devedores, 3 ações a correr ou posso propor uma só ação,
cada uma contra cada um dos devedores restrita à respetiva quota-parte dessa obrigação ou posso propor
uma única ação contra a totalidades dos devedores, mantendo a responsabilidade de cada um a sua
quota-parte. Esta é a possibilidade do art.º 32, nº 1. O art.º 32, nº 2 é das obrigações solidárias.

Uma obrigação plural obrigação com vários obrigados, mas aqui eu posso exigir e a obrigação apenas de
um deles e eu não preciso propor a ação contra todos eles, tenho a opção de propor a ação contra todos,
mas às vezes pode ser mais difícil imagina não há uns que vivem no estrangeiro isso vai demorar com as
traduções etc.

Sou credor venho exigir a totalidade da obrigação a um só dos devedores, e há outros 2 ou 3 ou devedores,
o réu pode dizer que há mais devedores que também quer que sejam partes nesta ação para assim
respondemos todos juntos para não ser só eu a responder, tem esta opção através do incidente de
intervenção de terceiros.

® Litisconsórcio necessário

Aqui é o legislador a impor a pluralidade de partes. Esta ação tem que ter todos os sujeitos da relação
material controvertida como partes no processo.

Distinção do plano substantivo da relação material controvertida ou relação jurídica substantiva, relação
litigioso, onde surgiu o litigo, o contrato, por exemplo.
Outra coisa é a relação jurídica processual, a instância que assenta neste litígio, mas não tem
necessariamente os mesmos sujeitos. Exemplo clássico: Credor de obrigação solidário, há 3 devedores
solidários. Na relação jurídica processual podemos ter apenas um credor a demandar um devedor.

Não há necessariamente correspondência entre as os sujeitos da relação material controvertida e as


partes no processo.

Porém quando há situação de litisconsórcios necessário, a lei impõe que os sujeitos da relação material
controvertida têm que ser as partes na relação processual, no processo sob pena de haver ilegitimidade.
Previsto no art.º 33.

Aqui prevê se 2 sub modalidades do litisconsórcio necessário:

• litisconsórcio necessário legal


• litisconsórcio necessário convencional
• litisconsórcio necessário natural

® Litisconsórcio necessário legal e convencional

O nº 1 prevê-se o litisconsórcio necessário legal e o convencional.

Quando se diz se a lei exigir a intervenção de todos os interessados na relação controvertida ela é a própria
lei que diz que todos os interessados relação de material contrapartida têm de ser parte na ação, a falta
de qualquer um desses interessados gera ilegitimidade. Ou se o negócio, por que as partes podem
convencionar elas próprios nos seus negócios jurídicos, normalmente está nos seus contratos, que os
litígios emergentes dessas relações jurídicas têm de ter a intervenção de todos os sujeitos daquelas
relações, chamamos o litisconsórcio necessário convencional ou por vezes também a quem chame
negocial.

Exemplos de litisconsórcio necessário legal, de normas que impõe a pluralidade de partes: art.º 496, nº
2.

Impor um litisconsórcios necessário ativo. A ação para indemnização para reparação do dano não
patrimonial morte o direito à indemnização cabe em conjunto ao cônjuge e aos filhos. A seguradora do
carro que o atropelou tem que pagar indemnização, deixou o uma mulher e 4 filhos e há um filho que
propõe uma ação indemnização de 500000€. O tribunal vai dizer que não pode porque a lei exige que a
ação indemnização para reparação do dando patrimonial morte tem de ser proposta em conjunto pelo
cônjuge sobrevivo que não esteja separado de pessoas e bens, e, portanto, tem que ser proposta em
conjunto pelo cônjuge e os filhos todos. Há litisconsórcio necessário legal neste caso dos litisconsórcio
necessário ativo. Do lado da demanda dos demandantes têm que surgir lá todos estes sujeitos da relação
material controvertida.

A norma prevê uma situação de legitimidade necessária ativa. Art.º 535, nº 1 do CC.

Legitimidade necessária passiva

Se a prestação for indivisível e se forem vários os devedores, 3 ou 4 estão obrigadas a entregar um carro;
não podem cada um prestar uma parte. A obrigação é indivisível, ela não pode ser cumprida
parcelarmente.
Eu só posso exigir o cumprimento da prestação a todos os obrigados, a todos os devedores; não posso
exigir o cumprimento apenas um deles, se exigir apenas a um deles e se for uma obrigação indivisível
verificar-se-á uma situação de ilegitimidade.

Se eu comprei um quadro que pertencia a 3 pessoas em regime de compropriedade eu não posso exigir
apenas a um deles a entrega do quadro. A ação não vai poder prosseguir porque A não tem legitimidade
passiva por preterição do litisconsórcio necessário legal. Exige se que se demande todos os codevedores
quando a prestação for indivisível.

O nº 2 também faz aplicar uma norma equivalente que é no caso de uma prestação indivisível que era
devida por um só devedor e depois foi sucedido por vários herdeiros, tenho de demandar todos os
herdeiros.

® Litisconsórcio necessário natural

Art.º 33, nº 2

É igualmente necessário no processo a intervenção de todos os interessados na relação material


controvertida quando pela própria natureza da relação jurídica ela a intervenção de todos seja necessária
para que a decisão a obter produza o seu efeito útil normal

Portanto será necessária a intervenção de todos os interessados, ou seja, todos os sujeitos da relação
material controvertida sejam também partes na correspondente ação na relação jurídico processual se
essa intervenção pela própria natureza da relação jurídica que está em causa for necessária para que a
decisão do tribunal vier a produzir, vier a proferir possa produzir o seu efeito útil normal.

Vamos ver isto em exemplo concreto. O contrato de arrendamento pode ser celebrado por vários
inquilinos não é obrigatório por um só, portanto podem 3 amigos juntar celebram contrato de
arrendamento.

Se nós tivermos um contrato de arrendamento em que há vários inquilinos de nada serve a um senhorio
propor a ação de despejo só contra um dos inquilinos. O que ele vai fazer se ganhar aquela ação, despejar
só um? Ou outros 2 não são partes na causa eles não estão vinculados pela sentença e, portanto, ele não
vai conseguir o efeito que quer que é resolver rescindir o contrato de arrendamento e obter a restituição
do locado, ele não vai conseguir produzir esses efeitos só de mandar uns inquilinos.

Portanto a ação de despejo é um exemplo paradigmático de uma ação em que existe litisconsórcio
necessário natural porque ela só a decisão a proferir na ação de despejo só vai poder produzir o seu como
diz a lei só vai poder produzir o seu efeito útil normal se todos os inquilinos, no caso de serem vários,
todos os inquilinos forem também partes na ação.

Um outro exemplo paradigmático de litisconsórcios necessário é natural e por exemplo um pedido de


nulidade do negócio jurídico de um contrato.

Se eu quero declarar nulo todo um contrato e não apenas um segmento ou uma parte dele, mas todo o
contrato eu tenho que propor a ação contra todos os contraentes porque o contrato não pode ser nulo
na sua totalidade em relação ao uns e não em relação a outros.

Se 5 pessoas celebraram contrato de prestação de serviços e eu que venho pedir contra um dos
contraentes que o contrato que o contrato seja declarado nulo. Ora esta sentença de declaração de
nulidade não pode produzir o efeito útil normal porque o contrato não pode ser nulo na sua globalidade
em relação a um contraente e não ser no relação aos outros, e, portanto, tem que ser proposta a ação
contra todos os contraentes sob pena de a sentença que vier a ser proferida não poder produzir o seu
efeito útil normal.

Portanto o litisconsórcio necessário natural não resulta de norma expressa da lei não é uma norma
expressa na lei que preveja, exija a pluralidade de partes não resulta de convenção negocial, não há
nenhuma convenção negocial, mas resulta da própria natureza das coisas, da própria natureza daquele
litígio.

O legislador acrescenta no nº 3 quando uma decisão produz o seu efeito útil normal. Produz o eu efeito
útil normal quando se possa regular definitivamente a situação concreta das partes relativamente ao
pedido formulado, portanto seja possível regular a situação concreta daquele litígio.

Ainda no âmbito do litisconsórcio necessário há que fazer referência ao litisconsórcio necessário conjugal
que não é mais do que uma forma de litisconsórcio necessário legal. Há quem não o autonomize. Mas
pela sua importância e pelo destaque que o legislador dá nós podemos dar um tratamento autónomo.

Art.º 34. Litisconsórcios conjugal ativo, ações que têm de ser propostas por ambos os cônjuges. E
litisconsórcio conjugal passivo, ações que tem que ser propostas contra o casal, não se pode demandar
só o marido ou só a mulher.

O nº 1, art.º 34 regula o litisconsórcio conjugal ativo prevendo 3 tipos de situações em que é exigível a
intervenção ativa de ambos os cônjuges.

Ações relativas a bens e direitos cuja disponibilidade implica a intervenção de ambos os cônjuges. Isto
remete-nos ao regime de bens do casamento, temos que fazer algumas referências.

O Código civil, prevê 3 regimes de bens. o casamento pode ser contraído através do regime de comunhão
de adquiridos art.º 1721 a art.º 1724. Mantenho a propriedade dos bens que trazem para o casamento e
daqueles que adquirem gratuitamente na pendência do casamento, mas os bens que na constância do
património sejam adquiridos a título oneroso são propriedade comum.

Art.º 1722- Mantem os bens próprios. Diz que são bens próprios de cada um mantém os bens que levaram
para o casamento, bens que vierem por sessão a doação e são comuns pertencem a uma universalidade
de bens que são comuns do casal que pertencem a ambos conjugues não em regime de copropriedade,
mas em regime de património e universalidade autónomo.

a) Salário por exemplo

O regime da comunhão geral está previsto no art.º 1732. No regime da comunhão geral todos os bens
com algumas exceções todos os bens são comuns. Há algumas exceções.

O regime da comunhão de bens art.º 1735. O casal não tem património comum. Cada conjugue tem os
seus bens próprios. Se os conjugues comprarem uma casa é como se 2 amigos comprarem uma casa,
aquilo não é um bem comum do casal. Não há bens comuns, só há bens próprios. Podem ter bens em
compropriedade como qualquer pessoa pode ter com outra pessoa sem ser casada. Se os noventes não
estipularem nada o regime regra é o da comunhão de adquiridos.

Art.º 1678

Art.º 1682- A “salvo se entre eles vigorar o regime da separação de bens”, portanto se estiverem casados
em comunhão geral ou em comunhão de adquiridos
Se o bem é comum para ser vendido tem que intervir os dois. Mas se o bem for próprio se eles estiverem
casados na comunhão geral ou na comunhão de adquiridos é necessária a intervenção de ambos os
cônjuges para alienar um bem imóvel próprio, o outro cônjuge não é proprietário não é um bem comum
do casal, mas para o alienar para constituir uma hipoteca para usar em arrendamento ou para constituir
outros direitos pessoais de gozo por exemplo constituir direito superfície usufruto é necessário o
consentimento de ambos os cônjuges. O mesmo para um estabelecimento comercial centro comercial
aqui entenda-se quando algum dos cônjuges exerce uma atividade é empresarial. São comerciantes
individuais ou agricultores e para alienar estabelecimento comercial exige-se a intervenção de ambos os
cônjuges salvo se vigorar o regime da separação de bens.

Art.º 1682, nº 2 exige o consentimento de ambos os conjugues independentemente do regime de bens


para a alienação oneração arrendamento ou Constituição de outros direitos reais de gozo sobre a casa de
morada de família.

Portanto, se a casa de morada de família for alienada for hipotecada for dada de arrendamento portanto
vai deixar de ser casa de morada de família mas naquele momento ainda é ou se constituir sobre ela um
qualquer outro direito pessoal de gozo e isso exige a intervenção de ambos os cônjuges mesmo que se
trata de um bem próprio e mesmo que estejam casados no regime da separação de bens, por que a lei
por força de uma imposição constitucional protege a casa de morada de família como elemento onde o
agregado familiar se tem sediada os seus interesses, o seu centro de interesses jurídicos.

Tem uma proteção especial e é exigida consentimentos de ambos os cônjuges mesmo que estejam
casados no regime de separação de bens mesmo que a casa de morada de família seja bem própria apenas
de um deles para disponibilidade ou para a disposição sobre a casa de morada de família.

O art.º 1682 regula os poderes de posição sobre móveis, portanto art.º 1682-A sobre imóveis e sobre o
estabelecimento comercial não é bem imóvel, mas tem um regime equiparado.

O art.º 1682 regula a disposição sobre bens móveis e, portanto, a alienação de bens móveis comuns carece
do consentimento de ambos os cônjuges o casal tem que ser feito por ambos os cônjuges.

O nº 3 vai nos dizer que carece do consentimento de ambos os cônjuges a alienação oneração
independentemente de serem casados no regime da separação de bens ou noutro regime de bens ou de
os bens serem próprios ou comuns os móveis utilizados conjuntamente por ambos os cônjuges na vida
do lar ou por instrumento comum de trabalho. Portanto a alienação do sofá lá de casa ou do frigorífico
ou da mesa da sala de jantar carece do consentimento de ambos os cônjuges porque é o móvel utilizado
na vida do lar. Ainda que sejam bem próprio de ambos os cônjuges e ainda que eles estejam casados no
regime da separação de bens tem que ser feito por ambos.

Nº 3, alínea b- Ou os instrumentos comuns de trabalho, são agricultores por exemplo, os instrumentos


comuns de trabalho independentemente de ser bens próprios ou comuns, independentemente de serem
casados no regime da separação de bens ou noutro regime exigem o consentimento de ambos a sua
alienação ou oneração.

Alínea c

Articular Art.º 34, CPC, 1º parte com o art.º 1682-A do código civil porque se tratar de bens que a lei
substantiva exige para cuja alienação ou para cuja oneração a lei substantiva civil exige o consentimento
de ambos os cônjuges as ações que tenham por objeto, que digam respeito a esses bens, têm também
que ser propostas por ambos os cônjuges ou por um dos cônjuges com o consentimento expresso do
outro.
Por exemplo se está em causa uma ação da qual possa resultar a perda de um imóvel que por força do
art.º 1682-A apenas pode ser alienado por ambos os cônjuges ou apenas pode ser onerado por ambos a
ação que diga respeito a esse imóvel tem de ser proposta por ambos os cônjuges.

Litisconsórcio necessário ativo, é para ações que os cônjuges que é proposta por um cônjuge, mas que a
lei exige que tem que ser proposta por ambos.

E também as ações que têm por objeto direto ou indiretamente a casa morada de família. Tudo tem que
ver a casa de família todas as ações que os cônjuges propõem o que algum dos cônjuges proponho quanto
à casa à família tem que ser propostas por ambos os conjugues.

O exemplo das infiltrações no apartamento, se aquele apartamento for casa de morada de família
independentemente de ser propriedade de um conjugue, a propriedade do outro a propriedade comum
de ambos ou ser arrendada só por um conjugue, arrendada por ambos os cônjuges a ação que visa a obter
indemnização para reparar os danos causados pelas infiltrações porque diz respeito direta ou
indiretamente à casa de morada tem que ser propostas por ambos os cônjuges.

E se os cônjuges não se entendem quanto a propor uma ação? Se só um propuser a ação há ilegitimidade
ativa por preterição de litisconsórcio necessário conjugal.

Mas há um mecanismo para resolver o litígio. O conjugue que quer propor a ação dirige-se ao tribunal,
eu quero propor a ação a minha mulher não quer, o tribunal decide se vai suprir o consentimento, se vai
dispensar o consentimento que falta e vai fazê-lo tendo em conta o interesse da família, portanto, não é
um interesse de um conjugue, é o interesse da família enquanto unidade. Aplica se aqui supletivamente
o regime art.º 29.

Isto é um litisconsórcio necessário conjugal ativo, mas o art.º 34 prevê ainda o litisconsórcio necessário
conjugal passivo. Ações que tem de ser propostas contra ambos os conjugues.

Não pode demandar só aquela pessoa, tem que ser a pessoa e o seu conjugue sob pena de haver
preterição do litisconsórcio necessário e redundar em ilegitimidade. Art.º 34, nº 3, prevê 3 situações.

Vamos começar pelo fim da norma. Estão sujeitas a litisconsórcio necessário conjugal passivo as ações
compreendidas no número, portanto as ações que estão abrangidas pelo litisconsórcio necessário
conjugal ativo estão também abrangidas um pelos litisconsórcios necessário conjugal passivo.

Portanto, há ações que digam respeito a direitos ou em bens só possam ser alienados dispostos por ambos
e as ações que tenham por objeto direto ou indiretamente a casa de morada de família, tem que ter
propostas contra ambos os conjugues.

Por exemplo, a casa de morada de família é arrendada e o inquilino é o cônjuge marido e o senhorio
propõe uma ação de despejo contra o conjugue marido e não demandou a mulher. Há aqui preterição do
litisconsórcio conjugal passivo. Como é uma ação que tem que ver com a casa de morada de família, por
força da parte final do nº3 que remete para o nº1 as ações que têm tem que ser propostas contra ambos
os cônjuges independentemente do regime de bens independentemente de se tratar de bens próprios ou
comuns ou do inquilino mesmo que o inclino seja só um dos cônjuges.

Há mais 2 categorias de situações que estão compreendidas no litisconsórcio conjugal passivo.

® Devem ser propostas contra ambos os conjugues as ações emergentes de facto praticado por
ambos, portanto aqui que os factos foram praticados por ambos os cônjuges, coisas da vida própria do
casal ou vida profissional, factos praticados por ambos os casos têm de ser propostos as ações contra
ambos os conjugues.

Parece aqui que o legislador quis, embora não seja muito claro nem consensual na doutrina, afastar as
regras do litisconsórcio voluntário quando se trata de um casal.

Exemplo: Se os cônjuges são devedores solidários parece resultar que tenho de demandar ambos os
conjugues mesmo que haja solidariedade. Mesmo que se trate de facto que foi praticado por ambos os
cônjuges, a ação relativa a esse facto tem de ser proposta contra ambos os conjugues.

As ações emergem de facto praticado apenas por um dos cônjuges, mas em que se pretende obter decisão
suscetível de ser executada sobre bens próprios do outro conjugue. Ou seja, em certas situações um
conjugue pode ser chamado a satisfazer com os seus bens próprios a satisfazer responsabilidades do
outro cônjuge. Não é com os bens comuns do casal, é com os seus bens próprios, isso está previsto no
regime das dividas do casal que são responsabilidades de ambos os conjugues art.º 1691 do código civil.

• Art.º 1691, alínea a- vão a uma loja e compram uma arca frigorífico foram 2 a intervir, a divida é
de ambos, quer seja anterior ou posterior à celebração do casamento. Ou foi um comprar com o
consentimento do outro, ambos respondem pela dívida, ambos são responsáveis por aquela
divida, ambos respondem pelo seu património não só com o património comum como o
património próprio de cada um deles.
• Alínea b- a divida no talho por ex. comprou carne para a habitação da família ficou na conta
nunca mais pagou, aquela dívida responde ambos os cônjuges ainda que só tenha ido a um
conjugue assumir o negócio celebrado, porque foi para um encargo normal da vida familiar é a
responsabilidade de ambos os cônjuges. O património de ambos quere património comum, quer
património próprio de cada um responde por esta divida. O talhante se vai propor a ação em
tribunal vai pôr contra o cônjuge que lá foi, mas se quiser depois de executar o património do
outro conjugue tem que propor ação também contra ele.
• Alínea c- Em termos gerais o cônjuge que contraiu dividas em proveito comum do casal dentro
de certos limites essas dívidas são da responsabilidade de ambos os cônjuges.
• Alínea d- “no exercício do comércio” aqui entenda se no exercício de uma atividade empresarial.
Portanto o cônjuge que é empresário que tem negócios, compra carros para vender, tem a sua
empresa e presta a abalos se não for casado na separação de bens estas dívidas são responsáveis
de outro conjugue. Muitas vezes o outro conjugue nem sabe. Esta sempre a pedir créditos e de
repente a mulher recebe penhora no salário, salvo se forem casados na separação de bens. O
ónus da prova é do devedor, o devedor é que tem que provar que aquelas dividas não forma
para proveito comum do casal.

E, portanto, quando assim é quando o autor quer responsabilizar ambos os cônjuges quer uma decisão
que possa ser executada no património de ambos os cônjuges tem que propor a ação contra ambos.

Litisconsórcio necessário conjugal passivo.

Litisconsórcio voluntário e necessário

A distinção entre litisconsórcio voluntario e necessário está no Art.º 35.

Litisconsórcio é necessário há única a ação com pluralidade de sujeitos, portanto temos uma relação
material controvertida e com base nela há uma única relação jurídica processual com vários sujeitos, com
vários autores e vários réus ou vários autores e o réu. Temos uma relação material controvertida temos
uma relação jurídica processual em que os sujeitos devem corresponder, portanto os sujeitos da relação
material controvertida devem ser as partes da relação jurídica processual. Temos uma única relação
jurídica processual.
No litisconsórcio voluntário temos uma única relação material controvertida, mas várias relações
jurídicas processuais, há várias relações jurídicas processuais, há uma acumulação de ações conservando
cada litigante numa posição de Independência em relação aos eus compactos.

Portanto temos uma única relação de material controvertida, mas temos várias relações jurídicas
processuais que estão reunidas num só processo. Temos um processo que na realidade corresponde a
várias instâncias, a várias relações jurídicas processuais.

Por exemplo: C1, C2 concederam empréstimo a b1, b2 e b3. A relação é solidária quer do lado ativo e
passivo.

Num cenário destes eu posso ter C1 a demandar o b1, C2 a demandar o b3, ou C1 a demandar
simultaneamente o b1 e b2 e assim sucessivamente.

Eu posso ter uma multiplicidade de configurações possíveis porque estamos sempre no quadro do
litisconsórcio voluntário, portanto eu tenho neste cenário eu tenho uma só relação material controvertida
que é aquele contrato de mútuo, e tenho uma pluralidade de relações jurídicas processuais porque eu
posso ter todas estes sujeitos na mesma ação como partes de uma só ação, como posso ter várias ações.

No litisconsórcios voluntário apesar de estarem todas num só processo estas ações conservam uma
autonomia estrutural entre si, portanto são várias relações jurídicas processuais tramitadas num só
processo numa só ação que correspondem a uma única relação material controvertida.

Já no litisconsórcio necessário eu tenho uma relação material controvertida e tenho uma relação jurídica
processual com uma pluralidade de partes.

Exemplo: o senhorio celebrou contrato de arrendamento com 3 inquilinos e ele vai ter que mandar nesta
ação os 3 inquilinos. Portanto, temos uma só relação jurídica processual com 4 partes e uma relação
material controvertida com 4 sujeitos.

No litisconsórcio voluntário há uma única relação material controvertida do ponto de vista do direito
substantivo, há uma só relação jurídica com aqueles sujeitos, mas há uma pluralidade de relações jurídicas
processuais.

Litisconsórcio Subsidiário (art.º 39)

O código prevê ainda o litisconsórcio subsidiário chamando lhe pluralidade subjetiva subsidiaria, ou seja,
é uma inovação foi introduzido na reforma de 95, 96 do código anterior e permite que o mesmo pedido
possa ser deduzido contra vários réus segundo uma ordem de subsidiariedade, uma ordem de
preferência.

Portanto quando não se sabe bem qual é a configuração da relação material controvertida, eu posso
demandar o mesmo pedido contra para vários réus por ordem de prioridade, digamos assim eu mando
contra o réu A, mas se por acaso entendesse que não é reu a que tem que pagar a indeminização, deduzo
a ação subsidiariamente contra o reu B o mesmo pedido.

Um sujeito que veio de bicicleta e veio parar contra montra da minha loja e eu não sei se foi António
Bernardo ou o Carlos, então eu deduzo pedido contra o António porque acho que é aí ele a guiar, mas
subsidiariamente contra Bernardo e subsidiariamente contra o Carlos acautelam do que depois da ação
se dê como provado, evitando que tenha que propor uma ação e depois perdendo propor outra ação.
Isto é dedução subsidiaria do mesmo pedido contra vários réus ou a dedução de pedidos subsidiários e
aqui até pode haver uma situação mais complexa. Que é vários autores subsidiariamente a deduzirem o
mesmo pedido ou pedidos distintos contra vários réus subsidariamente.

A lei permite a pluralidade subjetiva subsidiaria. O único requisito é que a dúvida do fundamentada sobre
quem sejam os sujeitos da relação material controvertida. Não é fácil descortinar quem é sujeito da
relação material controvertida.

Litisconsórcio inicial e litisconsórcio sucessivo

O litisconsórcio inicial- quando surge logo na propositura da causa, quando é proposta já é proposta numa
situação de litisconsórcio numa pluralidade de partes.

Litisconsórcio sucessivo- pode ser superveniente, surgir na pendência da ação como resultado duma
intervenção superveniente de um terceiro. alguém que não era parte na causa é chamado e assumir a
posição de parte nessa ação e, portanto, criando assim uma situação de pluralidade de partes.

Isso faz se através dos incidentes de intervenção de terceiros mecanismo processual o instrumento
processual através do qual se chama a assumir a posição de parte da ação quem não era originariamente
parte da ação, juntando-se aos já eram parte na ação.

Efeitos da ilegitimidade processual

Efeito negativo da legitimidade, a falta de legitimidade. Quando alguma das partes não e legitima dizemos
que há uma situação de ilegitimidade. Como se afere a falta de legitimidade. Há vários momentos.

Os momentos da sindicância da legitimidade processual:

1. O controlo da legitimidade singular

Controlo sobre cada parte cada um dos autores ou de cada um dos réus, controlar a sua legitimidade
singular nos termos do art.º 30.

Se é parte legítima na ação, se tenho interesse direto em demandar se tem interesse direto em
contradizer aplicando as regras do art.º 30, nº 3 ou as normas especiais avulsas que existem no código.

A legitimidade singular de cada uma das partes, de quem é que parte do processo é das partes. 1º
momento

1. O controlo da admissibilidade do litisconsórcio nos casos de pluralidade de partes

No caso de haver uma pluralidade de partes vamos controlar se aquelas partes podem estar
litisconsorciadas de acordo com as regras litisconsórcio voluntário ou litisconsórcio necessário, porque as
partes não podem surgir litisconsorciadas só porque apetece é preciso que se preencham os requisitos do
art.º 32 e art.º 33 seja voluntario seja necessário. Esta 2º etapa, só a vamos desenvolver se houver uma
pluralidade de partes.

2. O controlo da preterição do litisconsórcio necessário

A terceira etapa que é necessário fazer é se foi preterido o litisconsórcio necessário. Ou seja, se existem
terceiros que deveriam figurar como partes e não figuram ao abrigo das regras do litisconsórcio necessário
que nós estudamos no art.º 33 e no at.º 34 do litisconsórcio legal, necessário, natural e conjugal.
Se foi demandado alguém mas deveria também ter sido mandado outra pessoa além daquele reu. Se esta
um autor ou se deveria estar ainda 2 ou 3, mas devia ainda figurar como autor ou outra pessoa que não
figura.

Vamos ver quem é parte na causa e quem não é parte, mas deveria ser. Quem são as partes e deveria
figurar como partes deveriam figurar como partes na ação outras pessoas que não figuram? Vamos
controlar se foi preterido o litisconsórcio necessário, se a lei impunha que figurassem como parte de
determinadas pessoas e elas não figuram como partes.

Depois de efetuadas estas operações nós vamos chegar à conclusão se há ou não ilegitimidade:

• Se houver ilegitimidade, ao controlar a ilegitimidade singular, chegamos à conclusão por


aplicação das regras do artigo 30 há ali partes que não tem legitimidade ativa ou passiva nós
então concluímos que há uma ilegitimidade singular.
• Se chegarmos à conclusão de que estão consorciadas partes que não poderiam consorciar-se
temos ilegitimidade ativa ou passiva consoante se trate do lado do autor ou do lado do réu.
• Se chegámos à conclusão que foi preterido litisconsórcio necessário então chegamos à
conclusão de que há ilegitimidade ativa que foi preterido litisconsórcio necessário ativo ou
passiva se foi preterido litisconsórcio necessário passivo.

Efeitos da ilegitimidade singular

Consequência- absolvição da instância

E, portanto, se ilegitimidade for é singular a consequência é a absolvição do réu da instância. Se o autor


for parte ilegítima, absolve se o réu da instância. Se o réu for parte ilegítima absolve se réu da instância.

Num caso em que temos uma pluralidade de partes e há uma delas que é parte e que têm legitimidade
singular, portanto não tem interesse direto em demandar ou não tenho interesse direto em contradizer
a absolvição da instância pode ser parcial.

Exemplo 1- Uma ação de 2 autores e 3 réus. Se cheguei à conclusão de que este não tem interesse direto
em contradizer é não retiram prejuízo direto imediato nas suas esfera jurídica, de acordo com a versão
de fáctico jurídicos da relação material controvertida que o autor dá petição inicial, vamos absolver este
réu da instância só e, portanto, a instância prossegue com esses 2 autores 2 réus.

Exemplo 2- quem é parte Ilegítima é este autor que não tem interesse direto em demandar, ou seja, de
acordo com a versão fáctico jurídica da relação material controvertida, este autor não retira na sua esfera
jurídica uma vantagem direta imediata. Portanto, é parte ilegítima na causa, os restantes não. vamos
absolver os réus da instância em relação a este autor. portanto fazemos uma absolvição parcial da
instância, a instância vai prosseguir com estes autores e estes réus.

Admissibilidade da possibilidade (remota) de sanação (art.º 6, nº 2).

A esmagadora maioria da doutrina diz que a ilegitimidade singular é insanável. Não pode ser sanada.
Alguns autores encontram a possibilidade remota de ser sanada pelo art.º 6, nº 2 do código.

O artigo não diz nada que diga diretamente respeito a esta matéria, mas alguns autores dizem
eventualmente poderá ser possível em situações muito extremas. A posição maioritária na doutrina diz
que a ilegitimidade singular não há forma de sanar.

Efeitos da preterição do litisconsórcio necessário


Consequência: ilegitimidade processual.

Dá também origem a ilegitimidade processual ativa ou passiva.

A era casado com o Z, era uma ação sobre casa de morada de família ou sobre um bem imóvel eles são
casados em regime de comunhão de adquiridos e só o A1 é que propôs a ação, Z não propôs, o Z não é
parte.

Consequência, foi preterido o litisconsórcio necessário conjugal ativo, o autor é parte ilegítima da ação
porque ele deveria estar na ação consorciado com o seu conjugue.

O réu é casado e a ação diz respeito a um bem para o qual necessita do consentimento do seu conjugue
e ação só foi proposta contra o réu 3 teríamos aqui ilegitimidade passiva porque houve preterição do
litisconsórcio necessário conjugal passivo.

® Oficiosidade do juiz no impulso da intervenção das partes em falta (art.º 6, nº 2 in fine).

Esta ilegitimidade é sanável. O juiz tem o dever de impulsionar a sanação desta ilegitimidade.

Como se sana a ilegitimidade processual decorrente da preterição do litisconsórcio necessário?

® Sanação mediante a intervenção das partes em falta. A intervenção principal provocada (CFR
art.º 261, nº 1).

É chamando a intervir, aqui diz as partes em falta, mas devemos dizer dos sujeitos, pessoas em falta, eles
não são partes, as pessoas que deveriam figurar e não figuram neles como partes.

Faz se através da intervenção dessas partes, através de um incidente regulado do art.º 261 que é o
incidente de intervenção de terceiros. Deduzindo um incidente de intervenção de terceiros permite
chamar ao processo para assumir a posição os terceiros que deveriam figurar como partes e não figuram,
e assim sanar se aquela situação de ilegitimidade, decorrente de preterição do litisconsórcio necessário.
o litisconsorte necessário deixa de ser preterido e as partes passam a ser legítimas.

® Falta de sanação: absolvição da instância.

Se não for utilizado esta oportunidade para sanar a preterição do litisconsórcio necessário o juiz deve
oficiosamente convidar as partes para sanarem fixando lhes um prazo, se isso não for sanado a
consequência é a absolvição da instância.

® Possibilidade de renovação da instância (art.º 261, nº 2).

Porem, o legislador quis cabear no 261, o legislador não quer que uma ação determine por preterição do
litisconsórcio necessário, é pouco produtivo digamos assim não é bom para a justiça e, portanto, o
legislador criou 2 mecanismos adicionais para sanar uma situação de absolvição da instância por
ilegitimidade decorrentes da preterição do litisconsórcio necessário.

• Permitindo no art.º 261 que mesmo depois de proferida a decisão de absolvição da instância
portanto o juiz: convido a sanarem esta situação diante do chamamento de um terceiro a sua
posição de partes as partes não dizem em nada e o juiz absolve da instância e depois proferido
esta decisão ela tem um prazo para transitar em julgado da ação 15 dias enquanto esta decisão
não transitada em julgado, normalmente 15 dias, enquanto não transitar em julgado apesar de
já ter sido determinada a absolvição da instância o autor pode deduzir um incidente de
intervenção interesseiros de terceiros chamar o terceiro que está em falta é chamado a intervir
no processo e portanto sanar a posteriori a preterição do litisconsórcio necessário. O juiz já
absorveu da instância, mas o autor pode entrar assim requerer um incidente intervenção de
terceiros chamar o terceiro em falta e evitar que aquela decisão já proferida decisão da instância
transite em julgado e se torna definitiva.
• Outra oportunidade, nº 2. Possibilidade de renovação da instância (art.º 261, nº 2). A decisão
de absolvição a instância foi proferida transitou em julgado tornou-se definitiva, mas o
legislador dá um prazo adicional de 30 dias para depois de a instância ter terminado por
absolvição da distância, por uma decisão que já é definitiva o autor pode ainda nos 30 dias
subsequentes chamar, portanto solicitar o incidente de intervenção de terceiros chamar o
terceiro falta e a instância extinta considera-se renovável.

Dá-se uma renovação da instância, ela renasce tinha morrido digamos assim extinguiu-se e renasce, ganha
uma segunda vida e, portanto, é permitido ainda chamar um terceiro em falta já depois de transitada em
julgado a decisão da absolvição da instância e deve fazer nos 30 dias seguintes e ao fazê-lo o a instância
que já estava extinta vai renascer e vai recomeçar o seu andamento.

16/12/2021

Coligação

A coligação é a pluralidade das partes, mas distingue-se do litisconsórcio. Havendo litisconsórcio, o


litisconsorte que figurar como parte primeira na petição inicial, reconvenção ou requerimento deve
proceder ao pagamento da totalidade da taxa de justiça devida pelo impulso processual, ficando com o
direito de regresso sobre os litisconsortes. Havendo coligação, cada autor, reconvinte, exequente ou
requerente é responsável pelo pagamento da respetiva taxa de justiça.

A coligação está regulada no art.º 36, n.º 1 do CPC, que evidencia a possibilidade de coligação de autores
para demandar um réu ou vários réus ou um autor demandar vários réus por pedidos diferentes a cada
um deles. → “É permitida a coligação de autores contra um ou vários réus e é permitido a um autor
demandar conjuntamente vários réus, por pedidos diferentes, quando a causa de pedir seja a mesma e
única ou quando os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou de dependência.”

Admite-se a coligação em quatro tipos de circunstâncias:

→ Cada autor deduz o seu pedido;


→ Vários autores coligam-se para demandar vários réus;
→ Um autor pode demandar vários réus com pedidos diferentes.

Requisitos Positivos:

a) A causa de pedir seja única e mesma [art.º 36, n.º 1 do CPC]: Os autores que se coligam têm a
mesma causa de pedir em relação àquele réu, então, o legislador incentiva a que os autores se
coliguem e proponham uma só ação, ao invés de demandarem cada um deles, apesar de cada
um poder demandar a seguradora. Para cada uma das vítimas temos uma responsabilidade civil
para cada um dos réus, mesmo que se trate de relações distintas.

b) Os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou dependência [art.º 36, n.º 1
do CPC]: Quero deduzir pedidos distintos contra réus distintos, mas um destes pedidos está
numa relação de dependência ou prejudicialidade quanto ao outro, existindo maior vantagem,
deduzindo logo os dois pedidos numa só ação. Por exemplo, quer-se pedir a declaração de
nulidade de um contrato, através do qual vendi um objeto a alguém e, entretanto, essa coisa foi
emprestada a terceiro, pediu-se a nulidade do negócio ao A e pedir-se a entrega de entrega do
bem ao B, só podendo ser julgado procedente se o primeiro negócio for julgado procedente,
sendo apreciados conjuntamente, pois estão numa relação de dependência.

c) Esteja em causa a apreciação dos mesmos factos ou das mesmas regras de direito [art.º 36, n.º
2 do CPC]: A causa de pedir não é a mesma, mas a procedência dos pedidos principais depende
essencialmente da apreciação dos mesmos factos. Ou seja, em vez de cada um dos clientes
lesados propor a sua ação em tribunal, podem coligar-se, porque está em causa a apreciação dos
mesmos factos ou regras do direito ou até cláusulas contratuais análogas.

d) Relações cartulares [art.º 36, n.º 3 do CPC]: Os títulos de crédito estabelecem as relações
jurídicas cambiárias e abstratas, que se abstraem da realidade que lhe deram causa, pois estes
são suficientes para obter uma decisão de condenação (apresentando-se logo a uma execução),
pois elas valem em si mesmo como títulos de crédito, sendo estes negociados depois. Pode
acontecer que alguém preste uma garantia, a dar um aval, respondendo por esta dívida em vez
do devedor originário. Ou seja, nestas relações cartulares, existem duas relações jurídicas: a
relação jurídica cambiária (aquele papel sozinho é fonte de obrigação de pagamento) e uma
relação jurídica subjacente (que esteve na origem daquele cheque), portanto, pode-se propor
uma ação fundada apenas na letra ou fundada na dívida enquanto operação económica real.

Requisitos Negativos: obstam à coligação.

a. Pedidos correspondem a formas de processo diferentes [art.º 37, n.º 1 do CPC]: Se os


pedidos que quero coligar tiverem correspondência a uma forma de processo distintas,
a lei não permite a coligação. Todavia, existe uma exceção no seu nº 2: existe uma
apreciação casuística feita pelo tribunal para acionar.

b. Cumulação de pedidos para ofender as regras de competência internacional ou em


razão da matéria e hierarquia [art.º 37, n.º 3 do CPC]: Se os pedidos corresponderem à
competência de diferentes tribunais, não é possível proceder à coligação, não existindo
obstáculo se forem violadas regras, quanto à matéria da competência territorial, só em
razão da matéria e seguintes.

c. Grave inconveniente [art.º 37, n.º 4 do CPC]: Se estiverem preenchidos todos os


requisitos, mas os pedidos forem apreciados em conjunto geram um inconveniente
grave em tramitá-los em conjunto, podendo não admitir a coligação, notificando o autor
para escolher um dos pedidos. Se o autor não vier escolher num determinado prazo, o
réu é absolvido da instância quanto a todos os pedidos.

Consequências da coligação legal

Nos termos do art.º 38 do CPC, se houve uma cumulação de pedidos, onde não se evidencia os requisitos,
o tribunal notificará o autor de que não consegue proceder com a coligação, devendo o autor escolher
um dos pedidos, e, se este nada disser, o réu é absolvido da instância sobre todos os pedidos.

Se existirem vários autores, todos são notificados para, por acordo, escolherem qual o pedido será
necessário obter uma decisão definitiva. Se não procederem em acordo, o réu é absolvido da instância
relativamente aos outros pedidos [art.º 38, n.º 2 do CPC].

Interesse Processual
Noção de Interesse Processual

O interesse processual consiste num pressuposto atípico (o seu regime jurídico não está delineado pelo
legislador) e inominado (não está expressamente previsto na lei). A jurisprudência e a doutrina vêm
reconhecendo este pressuposto, apesar de o legislador não ter suprido esta lacuna.

O interesse processual exprime a necessidade da tutela judiciária no processo, ou seja, a necessidade de


utilizar a via processual pela parte para tutelar o seu direito que está encabeçado de tutela. Um exemplo
de falta de interesse processual são os casos em que a obrigação ainda não se encontra vencida, não se
necessitando deste processo judicial.
No art.º 610 do CPC está prevista uma exceção ao regime do interesse processual, pois se se propuser
uma ação a dizer que o réu seja condenado a pagar-me a obrigação numa data, o legislador, em princípio,
diria que a obrigação ainda não estaria vencida, mas o tribunal contestar não impede que o tribunal
conheça a existência da obrigação. A consequência é a absolvição da instância, visto que o autor intenta
uma ação quando a obrigação ainda não se encontra vencida, estando a tirar tempo à justiça.

Competência [Lei 107/2019]

Noção de Competência

A competência é um pressuposto processual que se verifica no tribunal. Este é um pressuposto positivo,


típico e nominado. É ainda um pressuposto híbrido (em relação a situações de conhecimento oficioso e
noutras não, mas de depoimento das partes).

Função Jurisdicional

A função jurisdicional tem o seu conteúdo na constituição [art.º 202 e art.º 2 da LOSJ], consistindo
naquela que é confiada a todos os tribunais enquanto um todo. O legislador, como existem muitos
tribunais, estabelece a repartição dos tribunais, fazendo-se por escalas: a constituição de diferentes
ordens jurisdicionais [art.º 209 da CRP]:

• A primeira é a dos Tribunais Comuns ou Judiciais (composta pelo STJ e Tribunais de Primeira e
Segunda Instância).
• A segunda ordem é a chamada Jurisdição Administrativa e Fiscal [STA e demais Tribunais
Administrativos e Fiscais).
• A Jurisdição económica e financeira (Tribunal de Contas) e Constitucional (Tribunal
Constitucional), sendo que a cada uma desta jurisdição cabe exercer uma parcela jurisdicional,
tendo uma espécie de especialização da mesma.

Nos termos do art.º 211, n.º 1 da CRP, os Tribunais Judiciais são os tribunais comuns em matéria cível e
penal. Aqui está prevista um Âmbito Natural (a constituição indica-lhe, sendo todas as matérias cíveis e
criminais que devem ser julgadas naturalmente por estes tribunais judiciais) e um Âmbito Residual (cabe
à jurisdição comum exercer jurisdição em todas as áreas não atribuídas às outras jurisdições do art.º 209
da CRP).

Pode existir determinadas dúvidas sobre qual jurisdição aplicar, que são os conflitos de jurisdição,
podendo ser positivos (quando dois tribunais de diferentes jurisdições que se lhe arrogam ter o mesmo
poder sobre o mesmo litígio) e negativo (quando tribunais de diferentes ordens jurisdicionais negam ter
jurisdição para exercer o seu poder/conhecer sobre o mesmo litígio). Existe o Tribunal dos Conflitos, que
é composto por um número igual de juízos do STJ e STA, sendo este um tribunal ad hoc.
A Jurisdição Comum definida constitucionalmente não pode ser exercida por qualquer tribunal judicial.

Competência

A competência designa-se pela repartição da jurisdição pelos tribunais que integram a correspondente
ordem judicial. Esta necessidade resulta, desde logo, pela imposição constitucional de existência de
vários tribunais e de tribunais diferentes instâncias (hierarquias de tribunais), devendo alguma
especialização destes tribunais. Sendo esta competência o corolário da existência de uma pluralidade de
tribunais dentro da mesma ordem jurisdicional.

Para ocorrer essa repartição usamos quatro critérios de aferição da competência:

a. Competência em razão da matéria: sobre o assunto sobre qual o litígio diz respeito.
b. Competência em razão da hierarquia.
c. Competência em razão da forma de processo e valor da ação.
d. Competência em razão do território.

A competência pode ser em abstrato (parte em perspetiva do tribunal, ou seja, a competência do tribunal)
e concreta (parte em perspetiva do processo, averigua-se qual é o tribunal que é competente para julgar
este processo).

Nos termos do art.º 39 da LOSJ, o princípio de desaforamento consiste naquele que evidencia que
nenhuma causa pode ser removida de um tribunal para outro, devendo ser julgadas pelo tribunal que
cabe a ele conhecer, isto que resulta da própria lei. Este tem como base constitucional o princípio do juiz
natural [art.º 32, n.º 9 da CRP] que evidencia que nenhuma causa pode ser subtraída ao tribunal cuja
competência esteja fixada em lei anterior, para não se criar tribunais de conveniência. Quando o princípio
do desaforamento é aplicado ao processo civil não tem base constitucional, pois está consagrado na LOSJ.

Distribuição

A distribuição é uma repartição equitativa dos processos pelos juízes que compõem o mesmo tribunal.
Se tiver dois ou cinco processos, deve-se identificar qual o juiz que vai averiguar e julgar cada causa
apresentada a um determinado tribunal, fazendo-se esta repartição por via de sorteio. Esta é uma
operação final, que não tem a ver com a repartição jurisdicional, mas sim a repartição de serviço.

17/12/2021

Þ Caso prático

Em 15 janeiro de 2014, António, casado no regime da comunhão de adquiridos com Benedita, celebrou
com Carlos um contrato de compra e venda referente a um prédio rústico sito em Campanhã, no Porto,
ficando ajustado que o preço da venda, no valor de 4.000,00€, seria pago em duas prestações semestrais
de igual valor cada uma Carlos, adquiriu o prédio com intenção de o oferecer aos seus futuros sogros uma
vez que se iria casar no final de janeiro com Diana no regime da separação de bens.

Pagou a primeira prestação aquando da outorga do contrato. Sucede que, logo em fevereiro de 2014, já
depois de celebrado o seu casamento, se deu conta que estava prevista a construção junto ao prédio de
uma linha férrea que lhe iria retirar qualquer utilidade construtiva ou agrícola, circunstância que era do
conhecimento de António e que a ocultou de Carlos. Inconformado com tal situação, Carlos propôs contra
António uma ação peticionando a resolução do contrato de compra e venda e a devolução da primeira
prestação do preço paga por Carlos.

Responda fundamentadamente, com invocação de todas as normas legais pertinentes, às seguintes


questões:

a) Tendo apenas em consideração o critério do valor da ação, a sentença que vier a ser proferida nesta
ação será passível de recurso ordinário? (3 valores)

b) Aprecie a legitimidade processual de ambas as partes na ação. (3 valores)

C)Suponha agora que o processo foi distribuído no tribunal ao juiz Eduardo, sobrinho de Carlos. Poderia
Eduardo proceder ao julgamento da ação? (3 valores)

Resolução:

Conceito legitimidade. As partes são o Carlos e António. Poderíamos ver se alguém deveria figurar como
parte e não figura, mas já é outra questão.

Legitimidade ativa- Art.º 30

Carlos propôs ação contra António.

® Apreciar legitimidade singular, se houvesse vários autores teríamos que analisar um a um. É o
interesse direito em demandar ao qual se afere pela obtenção de vantagem direta e imediata na
esfera jurídica de acordo com a relação material controvertida tal e qual configurada pelo autor.
Na ausência de norma legal a legitimidade ativa singular afere se pela utilidade derivada da
procedência da causa. De acordo com este enquadramento tem legitimidade singular. Se a ação
for procedente receberia algum dinheiro e veria o contrato em que foi parte anulado ou
declarado nulo.

® Se houvesse pluralidade teríamos de ver se estavam litisconsórcios ou em caso de coligação. Não


fazemos porque há só 1 autor.

® Saber se o Litisconsórcio necessário se foi preterido. Há ou não preterição do litisconsórcio


necessário?

• Litisconsórcio convencional- não há indicação no caso pratico.


• litisconsórcio legal- não há
• litisconsórcio Natural- também não
• litisconsórcio Conjugal- importa o momento da propositura da ação e o regime de
casamento.

Art.º 34, nº 1- não há casa de morada de família, regime de separação de bens.

Saber se a disposição deste bem carecia da intervenção de ambos os conjugues ou não art.º 1682-A,
alínea a. Diz que é necessário consentimento de ambos os conjugues quando estejam uma ação em que
possa resultar uma alineação de bens próprios ou comuns, salvo se vigorar regime de separação de bens.
Ora entre eles vigora este regime de separação de bens e o imóvel foi comprado antes do casamento, é
um bem próprio do conjugue marido. Na separação de bens não há bens comuns, o que se poderia colocar
era o regime da compropriedade. Não carecia de estar acompanhado da sua mulher nesta ação.

Legitimidade passiva

António
® Legitimidade singular do réu: ele retira na sua esfera jurídica um prejuízo direto e imediato na
procedência da causa tal e qual a relação material controvertida configurada pelo autor na
configuração inicial na medida em que terá que restituir prestações que recebeu.
® Não há pluralidade de partes, não temos de averiguar se é admissível a pluralidade subjetiva
passiva
® 3º etapa: saber se houve preterição litisconsórcio necessário. O António é casado em comunhão
de adquiridos. Temos que ir ao art.º 34, nº 3, remete para nº 1. Independentemente de ser bem
próprio ou comum a disposição daquele bem exige sempre a internação de ambos os conjugues.
A ação devia ter sido proposta contra ambos os conjugues. Ele devia ter sido demandado com o
seu conjugue. Temos preterição do litisconsórcio necessário passivo conjugal. António não tem
legitimidade passiva, deveria estar acompanhado na ação.

Consequência: absolvição do réu da instância.

Este vicio é sanável e o legislador incentiva a sua sanação.

Em 3 momentos:

® art.º 6, nº 2 o juiz tem o poder dever de convidar as partes a sanar a falta deste pressuposto
processual requerendo, qualquer uma das partes pode requerer, o reu não deve ter interesse
claramente, mas pode fazer, deduzindo o incidente de intervenção de 3º chamando benedita a
ocupar a posição de parte, tonar se supervenientemente ré nesta ação. A benedita não é ré
porque não foi demandada. Mas pode vir a assumir a posição de ré. Tem que ser as partes a
requerer. O tribunal não pode ao abrigo do princípio do dispositivo na dimensão de
disponibilidade sobre a instância.

® 2º momento, art.º 261, nº 1. Se proferida a decisão de absolvição da instância, mas enquanto


não transitada em julgado, o autor, só o autor, e não o reu pode deduzir um incidente de
intervenção de terceiros chamando a parte que esta em falta e se for bem deduzido é admitido
e a decisão de absolvição de instância caduca, não chega a transitar em julgado. Salvação in
extremis

® 3º válvula de escape. Que é mesmo depois de transitada em julgado antes da absolvição da


instância e extinta a instância do processo extinguiu terminou, o autor e apenas o autor tem 30
dias para requerer. Aqui temos uma ressuscitação da instância, um incidente de intervenção de
3º para chamar a Benedita e assim se ele for admitido o incidente e é assim renovar a instância
que já estava extinta.

O valor da causa:

1. 4.000€
2. 2.000€

Valor da ação- 6.000€

Obrigatoriedade de constituição de advogado.

Art.º 629, nº 3, alínea a

6/01/2022

Competência internacional

A competência internacional coloca-se quando estamos perante litígios transfronteiriços, que têm
conexão com mais do que uma ordem jurídica – a ordem jurídica portuguesa e outra ordem jurídica a
nível internacional. Os litígios transfronteiriços têm contornos internacionais.
A questão que se coloca é: os tribunais portugueses, como um todo, têm competência internacional para
julgar uma determinada causa?

Os litígios transfronteiriços desdobram-se em dois tipos:

• Litígios transfronteiriços puros: Quando há uma conexão com, pelo menos, um ordenamento
jurídico fora da União Europeia.
• Litígios transfronteiriços intracomunitários: Quando há conexão apenas com ordenamentos
jurídicos (com estados) da União Europeia.

A competência internacional é aferida aos tribunais portugueses como um todo, não existindo diferença
de competência internacional entre os diferentes tribunais portugueses, que são capazes de conhecer um
determinado litígio.
A competência internacional está regulada nos artigosº59, 62, 63 e 94 do CPC.
As regras da competência internacional dependem da verificação de um dos quatro possíveis requisitos:

• Princípio da coincidência (art.º 62 n.º1 a) CPC): Competência interna em razão do território. São
competentes quando, por aplicação exclusiva das regras de competência em razão do território
(existir uma coincidência), resultar como competente um tribunal português, então, os tribunais
(como um todo) usarão como competência para conhecer aquele litígio.
• Princípio da causalidade (art.º 62 n.º 1 b) CPC): Se o facto tiver ocorrido no território português
ou, tratando-se de uma causa de pedido complexo que envolve vários factos, algum dos factos
que serve de causa de pedir a ação, os tribunais portugueses serão internacionalmente
competentes. Um dos factos que integra a causa de pedido ocorreu no território português. Por
outras palavras, se o facto que serve de fundamento à propositura da ação tiver ocorrido no
território português (ou vários factos), os tribunais portugueses são internacionalmente
competentes.
• Princípio da necessidade (art.º 62 n.º 1 c) CPC): O direito invocado na ação e que se quer ver
tutelado, apenas através de uma ação proposta num tribunal português é que poderá tornar-se
efetivo. Caso a ação seja proposta num tribunal português ou se verifique para o autor uma
dificuldade na propositura da ação no estrangeiro, o nosso ordenamento jurídico reconhece a
competência dos tribunais portugueses para conhecimento do litígio.
• Princípio da consensualidade (art.º 94 CPC): As partes podem convencionar qual a jurisdição
competente para dirimir um determinado litígio (n.º 1). No entanto, este pacto impõe-se aos
próprios tribunais portugueses para rejeitarem ou não essa mesma competência, por força de
um pacto atributivo da jurisdição
(n.º 2). Para que esta eleição do foro ou jurisdição internacionalmente competente seja válida é
necessário os seguintes requisitos (n.º 3): a) não podem estar em causa direitos indisponíveis;
b) para que a escolha seja válida à luz da lei portuguesa, o estado cujos tribunais foram escolhidos
tem de aceitar essa escolha; c) os tribunais escolhidos no pacto de jurisdição têm que
corresponder a tribunais cujo motivo seja sério de ambas as partes ou apenas de uma das partes,
desde que não envolva um grave inconveniente para a outra; d) o pacto não pode recair sobre
matéria da exclusiva competência dos tribunais portugueses (art.º63 CPC); e) o pacto de
jurisdição tem de ser escrito entre as partes ou confirmado por escrito com menção expressa
das jurisdições escolhidas (considera-se a forma escrita o previsto no n.º4 do mesmo artigo).

Competência internacional exclusiva dos tribunais portugueses Competência internacional exclusiva no


âmbito dos litígios transfronteiriços em geral

Trata-se de matérias que só podem ser julgadas por tribunais portugueses, inclusive se forem julgadas por
tribunais estrangeiros, essas sentenças não podem ser reconhecidas e julgadas pelos tribunais
portugueses.
Quando as partes celebram validamente um pacto tributivo de jurisdição, o mesmo é reconhecido pelo
ordenamento jurídico português. Isto vale pela positiva, uma vez que, se as partes tiverem escolhido o
foro dos tribunais portugueses, o ordenamento jurídico português aceita essa escolha, desde que
verificados os requisitos do art.º 94 CPC. Pela negativa, caso as partes tenham convencionado escolher os
tribunais de outro estado e essa convenção seja válida, então, à luz do art.º 94 CPC, essa escolha das
partes vincula os tribunais portugueses pela negativa.
No entanto, há um conjunto de situações em que a lei reconhece a competência internacional exclusiva
dos tribunais portugueses – art.º 63 CPC. Em relação a estes litígios, o ordenamento jurídico português
entende que eles só podem ser julgados em tribunais portugueses, sob pena de se forem julgados no
estrangeiro, essas sentenças não sejam conhecidas em Portugal.

• Ações reais (art.º 63 a) CPC): Todas as ações que digam respeito a propriedade de imóveis ou
outros direitos situados em território português só podem ser julgadas em tribunais portugueses
(o mesmo se considera em contratos de arrendamento). Quando se trata de arrendamento de
imoveis, em Portugal, caso diga respeito a um imóvel situado no país, apenas podem ser julgados
em tribunais portugueses.
Contudo, há uma exceção – o arrendamento é para uso temporário (máx. de 6 meses) e o
senhorio e o arrendatário residem ambos no mesmo estado-membro da União Europeia, que
não seja aquele estado-membro em que o imóvel esteja localizado.

• Ações pessoais relativas a pessoas coletivas e Ações de anulação de deliberações sociais (art.º
63 b) CPC): Quanto às primeiras, evidencia-se que qualquer litigio que envolva apreciar-se uma
sociedade sediada em Portugal foi validamente constituído, os tribunais portugueses são
internacionalmente competentes e, ainda, uma ação de dissolução de uma sociedade comercial

sediada em Portugal, a competência é dos tribunais portugueses. Relativamente às segundas,


evidencia-se a anulação de distribuição de dividendos.

• Ações registais (art.º 63 c) CPC): Dizem respeito a impugnação de registo público que esteja
sediado em Portugal, a competência é dos tribunais portugueses.

• Ações falimentares (art.º 63 e) CPC): As ações de insolvência de pessoas singulares ou coletiva


sediadas em Portugal.

Ações executivas sobre bens situados em Portugal (art.º 63 d) CPC)


Quer seja a sua venda forçada, é de competência exclusiva dos tribunais portugueses.

Competência internacional exclusiva no âmbito intracomunitário

→ Competência judiciária em matéria civil e comercial


Aplica-se, genericamente, aos litígios civis e comerciais intracomunitários.
Segundo o art.º 4 n.º 1 do Regulamento, vigora o princípio regra que é o princípio do domicílio do réu.
Ou seja, pertence aos tribunais do estado-membro de residência do demandado, independentemente da
nacionalidade do mesmo. Por exemplo, se existir um litígio entre um espanhol e um polaco que reside em
Itália (demandado), a competência internacional pertence aos tribunais italianos – regra geral.
Todavia, existem exceções:

• Matéria contratual (art. º 7 n.º 1 a) Reg.): A competência internacional pertence, também, aos
tribunais do cumprimento das obrigações. Ex. Um português celebra um contrato com uma empresa
italiana, sendo que os serviços tinham de ser prestados em França. Ora, neste caso, a competência
internacional pertence aos tribunais italianos e acrescenta-se, ainda, a possibilidade de ser julgado
também nos tribunais do estado do cumprimento da obrigação – os tribunais franceses – art.º 4 n.º 1 +
art.º7 Reg. As pessoas domiciliadas num estado-membro podem ser demandadas nos tribunais do estado
onde deveria ter sido cumprida a obrigação contratual em causa. A alínea b) acrescenta que se considera
lugar onde os bens foram ou deveriam ser entregues.

• Matéria da responsabilidade extracontratual (art.º 7 n.º 2 Reg.): A competência internacional


pertencerá, também, ao tribunal do estado-membro onde o facto ilícito e danoso ocorreu.

• Matéria delitual (art.º 7 n.º 3 Reg.): Relaciona-se com o princípio da adesão do processo penal,
sendo uma ação de indemnização formada em ações penais. A competência internacional pertencerá ao
tribunal onde foi demandada a ação penal, sendo demandada uma ação cível.

• Matéria de contratos de consumo (art.º 18 Reg.): Diz respeito a contratos de consumo. O


consumidor, acautelando a sua posição, pode intentar uma ação contra a contraparte nos tribunais do
estado onde este está domiciliado ou nos tribunais do estado onde a parte demandada se encontra
domiciliada. A parte não consumidora só pode intentar uma ação contra o consumidor nos tribunais onde
o consumidor esteja domiciliado.

• Matéria de competências exclusivas (art.º 24 Reg.): Corresponde ao artigoº63 do CPC e regula a


competência exclusiva dos tribunais num estado-membro.

Além disto, existe um conjunto de diplomas que regulam a competência internacional dos tribunais
portugueses, desde logo a Convenção de Bruxelas de 1868, que foi celebrada sobre a égide do Conselho
da Europa e Antigas Comunidades Europeias, aplicando-se porque alguns estados-membros têm uma
exceção ao regulamento anterior, isto é, não o assinaram.

Competência interna

De um modo geral, para cada ação, há um único tribunal para a julgar. As normas da competência interna
delimitam um único tribunal para julgar aquela ação. Ou seja, um único tribunal será competente para
julgar determinado litígio, devendo-se articular as normas de direito processual e de organização
judiciária. Existe uma divisão judicial do território nacional:
o Comarcas (art. º33 n.º2 CPC): É a circunscrição judicial base composta por 23 comarcas. Cada um
dos distritos corresponde a uma das comarcas, exceto as Regiões Autónomas. o Distritos judiciais:
Consistem em circunscrições do Tribunal da Relação (anexo 1 LOSJ – 5 Tribunais da Relação).

Organização judiciária

Ao nível superior com jurisdição face a todo o território nacional, temos um Supremo Tribunal de Justiça
(art. º45 LOSJ), que tem sede em Lisboa.
As Relações são os tribunais intermédios ou de segunda instância (art.º67 n.º1 LOSJ).
Por fim, temos uma organização judiciária dos tribunais de primeira instância: os Tribunais da Comarca
(art. º79 LOSJ), apresentando uma competência genérica, ou seja, sendo esta residual, corresponde a
todas as matérias que não estejam expressamente atribuídas a outros tribunais (art.º80 LOSJ). Os
tribunais de comarca desdobram-se em: juízos de competência e especialização (art.º81 LOSJ), sendo
este desdobramento feito para cada tribunal de comarca e encontra-se previsto no DL 49/2014 de 26 de
Junho, nos termos do art.º93 LOSJ.
Existem outros tribunais judiciais de primeira instância que não são de Comarca e estão previstos no art.
º83 LOSJ – os Tribunais de Competência Territorial Alargada. São tribunais que estão situados numa
localidade, mas atuam sobre todo o país: Tribunal central da propriedade intelectual; Tribunal marítimo;
Tribunal da concorrência, regulação e supervisão.

Competência funcional

Certos litígios de primeira instância tinham de ser decididos por tribunais coletivos
(exceção muito residual). O art.º599 CPC aboliu o Tribunal Coletivo. Hoje, no processo cível, na primeira
instância, não há lugar a tribunais coletivos. Existem determinadas exceções noutros ramos de direito
processual, como é o caso do Direito da Família ou do Trabalho. Hoje, decorrem perante juiz singular.
Mantém-se, ainda, a colegialidade nos tribunais superiores (art.º56 n.º1 LOSJ + art.º74 n.º1 LOSJ). Por
regra, na primeira instância, é o juiz singular.

Competência em razão da matéria

A competência em razão da matéria consiste no assunto sobre o qual o litígio incide. Temos de atender
ao pedido e, eventualmente, à causa de pedido. Em função da concreta pretensão que o autor deduz,
determina-se as regras da competência em razão da matéria, ainda que a pretensão deduzida não seja
procedente. O que importa, ao aferir a competência material, é apreciar, em razão do pedido deduzido,
aplicar as regras da competência em razão da matéria.
Na mesma ação, o autor pode cumular vários pedidos. O tribunal pode ser competente para conhecer
alguns dos pedidos deduzidos e não ser competente para os outros pedidos – art.º555 n.º1 CPC + art.º38
n.º1 CPC – ou seja, uma incompetência em razão da matéria, sendo isto regulado no artigo 555º n.º1 CPC
(que impede a coligação, remetendo-se para o artigo 37º n.º1 e 38º n.º1 do CPC).

Competência dos tribunais de competência territorial alargada

• Tribunal Central da Propriedade Intelectual (art.º111 LOSJ). Abarca tudo o que tenha a ver com
a aplicação do regime dos direitos do autor; casos de propriedade industrial, que é matéria
regulada para marcas, patentes e logotipos; cumprimento e validade de contratos e atos jurídicos
com objeto de direitos de autor (ou seja, quaisquer contratos, em geral, ligados com direitos de
autor e direitos conexos e propriedade industrial).
• Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão (art.º112 n.º3 e n.º4 LOSJ). Estão ligados a
causas de natureza administrativa, como é o caso de recursos ou impugnação de coimas. No
entanto, têm determinadas matérias cíveis, sendo esta residual.
• Tribunal Marítimo (art.º113 n.º1 LOSJ). Compete-lhe conhecer questões de indemnizações
resultantes de danos resultantes por navios ou embarcações; contratos de transporte por via
marítima, incluindo transportes de passageiros; contratos de seguro de navios e embarcações,
entre outros.
• Outros tribunais de competência territorial alargada.

Competência dos juízos de competência especializada dos Tribunais de Comarca

• Juízos de comércio (art.º128 n.º1 LOSJ). Compete a estes juízos ações em que se pensa a
declaração de nulidade de um contrato de sociedade; ações relativas a direitos sociais, que indica
direitos dos sócios das sociedades perante essas mesmas sociedades (direito à informação),
entre outras matérias.

• Juízos de família e menores (art.º122 LOSJ). Compete a estes juízes as ações de separação de
pessoas e divórcio e outras ações relativas ao estado civil da família.
• Juízos de trabalho (art.º126 n.º1 LOSJ). Compete a estes juízes conhecer às questões relativos à
anulação dos instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho, emergentes de contratos
de aprendizagem e de tirocínio ou de trabalho subordinado.

Competência residual dos juízes centrais e locais cíveis

Juízos centrais e locais cíveis. Do ponto de vista material, a competência de ambos é a mesma. Eles são
competentes para conhecer todos os litígios cíveis que não estejam expressamente atribuídos a outros
tribunais. O que distingue ambos é o valor da ação. Art.º117 e 130 LOSJ. Se a ação tiver um valor superior
a 50.000 euros, a competência pertencerá aos juízos centrais cíveis (artigo 117º n.º1 LOSJ). Se for uma
ação igual ou inferior a 50 000€, a competência pertencerá aos juízos locais cíveis (artigos 130º n.º1 LOSJ),
cabendo-lhes os litígios que não caibam na competência dos juízos de competência alargada. A
competência em razão da hierarquia
Não há hierarquia em sentido próprio nos tribunais. A competência regra é a que cabe aos tribunais de
primeira instância em primeiro grau de decisão, ou seja, em primeira mão, as ações são propostas nos
tribunais de primeira instância, mas existem determinadas exceções: em tribunais de relação, como é o
caso da sentença de estrangeiros e os incidentes em torno da arbitragem voluntária, como é o caso da
nomeação dos árbitros, entre outros.
Os Tribunais de Segunda Instância ou Relações conhecem os recursos de apelação e o Supremo Tribunal
de Justiça tem competência para conhecer recursos de revista que se interpõem em segunda instância ou
em segundo grau de decisão.

A competência em razão do território

As regras de determinação da competência territorial estão previstas no Código de Processo Civil.


Nos termos do artigo 70º do CPC, apresenta-se o foro real. Todas as ações reais aí definidas são propostas
no tribunal onde se situe o bem a que a ação diga respeito ou acerca de direitos de usufruto, assim como
as ações de despejo. No nº 3 levanta-se a questão da universalidade de facto, ou seja, pode ser um
rebanho ou uma biblioteca, sendo um conjunto de bens que estão sujeitos a um regime jurídico comum.
Pode existir casos de competência alternativa, como é o caso da ação de despejo de uma herdade de
grandes hectares que faz fronteira entre a comarca de braga e viana do castelo, isto previsto na parte final
do nº 3.
Nos termos do artigo 71º n.º1 CPC, apresenta-se o foro obrigacional. Ou seja, quando esteja em causa o
cumprimento de uma obrigação, a indemnização do não cumprimento ou resolução do contrato por não
cumprimento, sendo a competência do tribunal do domicílio do réu. A lei admite uma competência
alternativa: a ação pode ainda ser proposta no lugar onde a ação deveria ser cumprida por opção do
credor, só ocorrendo em duas situações (se o réu for pessoa coletiva ou se o réu e o autor tenham o
domicílio na mesma área metropolitana, lisboa ou porto).
Nos termos do artigo 71º n.º2 do CPC, apresenta-se o Foro Delitual. Ou seja, se o fundamento da ação é
uma ação de efetivação de responsabilidade civil extracontratual, a competência é do tribunal do lugar
onde ocorreu o facto ilícito. Nos termos do Artigo 72º do CPC, apresenta-se o Foro do Autor.
Nos termos do Artigo 73º do CPC, apresenta-se o Foro Sucessório. Ou seja, considerase aberta no lugar
onde o de cujus faleceu.
Nos termos do Artigo 80º do CPC, apresenta-se a Regra Geral do Foro do Réu. Nestes casos, a
competência é do tribunal presente no domicílio do réu. Caso em que exista uma pluralidade de réus,
deve-se propor a ação no tribunal do domicílio do maior número de réus, mas se for igual o número dos
réus nos diversos domicílios, pode-se escolher o tribunal competente [Artigo 82º/1 do CPC]. Caso o réu
seja incerto ou ausente, é demandado no tribunal presente no domicílio do autor [Artigo 80º/2 do CPC].
Caso o réu seja residente no estrangeiro [Artigo 80º/3 do CPC], é demandado no domicílio do autor caso
o réu esteja no estrangeiro, mas caso ambos sejam estrangeiros, é competente para a causa o Tribunal da
Comarca de Lisboa. Caso o réu seja o Estado [Artigo 81º/1 do CPC], então substitui-se ao domicílio do réu
o domicílio do autor, ou seja, o tribunal competente é aquele que se encontra no domicílio do autor. Se
estiver em causa uma Pessoa Coletiva e Sociedades [Artigo 81º/2 do CPC], o réu é demandado no tribunal
da sede dessa pessoa coletiva ou se se estiver a demandar as filiais será no tribunal do domicílio dessa
filial.

7/01/2022

Þ Caso prático

Em 15 de janeiro de 2012 Ssang Yoo, empresário de nacionalidade chinesa domiciliado em Singapura,


deslocou-se a uma feira de produtos agrícolas em Francoforte, na Alemanha, onde conheceu Armindo,
empresário domiciliado em França mas originário de Mirandela, onde ainda possuía relações familiares,
com quem acertou a compra de 2 toneladas de alheiras típicas desta cidade que deveriam ser entregues
no dia 15 de março no porto de Kuala Lumpur, na Malásia, sendo o preço, de 50 mil de euros, logo
colocado a pagamento numa conta de Armindo no banco Coutt's em Londres, no Reino Unido.
Na data aprazada, as alheiras foram entregues em Hong Kong em condições impróprias para consumo
humano, em virtude de avaria na refrigeração do contentor frigorífico ocorrida durante a viagem.
Inconformado, Ssang Yoo pretende intentar em Portugal uma ação contra Armindo pedindo a sua
condenação a reembolsar o preço já recebido acrescido de uma indenização por incumprimento
contratual.
Aprecie fundamentadamente, com invocação de todas as normas legais pertinentes, se Ssang Yoo
poderá propor em Portugal a ação que pretende intentar.

A questão é de competência Internacional, portanto é o problema que este caso pratico coloca e apenas,
portanto quando tiverem um caso deste género em que pergunta simplesmente se aquela ação pode ser
proposta em tribunal não é para depois irem dizer qual o tribunal em Portugal onde a ação deve ser
proposta, portanto é para apreciar a competência Internacional dos tribunais portugueses como um todo.
Se ação poder ser proposta em Portugal a mesma coisa que dizer se os tribunais portugueses como um
todo dispõe de competência Internacional para conhecer desta ação.
Qual é a ação que está aqui em casa?

Temos que nos centrar exatamente no que o caso pratico nos diz. Ação que o Ssang Yoo pretende propor
contra o Armindo pedindo a condenação no pagamento do reembolso do preço já receber já recebido
uma indeminização por incumprimento contratual é essa ação não é a qualquer outra que pudessem
imaginar que seria mais indicado, pretensão pudesse ser mais correta é aquela que esta indicada no caso
como sendo aquela que se pretende propor (ainda não é uma competência Internacional)

É um problema de competência Internacional porque estamos perante aqui um litígio transfronteiriço.


Um litígio que tem conexão com diferentes ordenamentos jurídicos além daquele que nos interessa a nós
que é o enquadramento jurídico português porque é no NOS tribunais portugueses que se quer propor a
ação. Portanto este litígio tem um conjunto de conexões com outros ordenamentos jurídicos de outros
Estados e desde logo as partes uma reside na China e natural de Singapura ou nacionalidade de Singapura
aliás ao contrário reside em Singapura natural da China outro é natural de Portugal e reside em França, o
contrato foi celebrado na Alemanha o contrato deveria ter sido cumprido em Londres e na Malásia.
Portanto temos aqui conexões com diferentes ordenamentos e portanto temos um litigio transfronteiriço
e dentro daquela classificação nós tínhamos referido na aula de ontem temos aquilo que nós podemos
denominar um litígio transfronteiriço puro porque envolve também Estados extra Estado, ou seja, que
não integram a União Europeia ou ordenamento jurídico que não fazem parte da União Europeia caso
contrário estaríamos temos um litigio transfronteiriço intracomunitário ou simplesmente um litígio
intracomunitário o que NOS permitiria aplicar, se fosse o caso, que não é nos levaria à aplicação do
regulamento europeu 1215 de 2012. Portanto como estamos perante um litígio transfronteiriço puro aqui
o caso resolvesse a pôr aplicação do art.º 59 do código de processo civil que depois remete para o art.º
62 e o art.º 63 e o art.º 94.

Portanto o art.º 59 diz-nos então que sem prejuízo do que se encontra estabelecido em lei os europeus e
outros instrumentos internacionais que aqui não é o caso que não se aplicam a fim há muitos tratados
internacionais acerca desta matéria que nós não estudamos porque são muito específicos tem haver um
Tratado de Portugal feito com outro países ou Tratado de feito com os países de língua portuguesa nós
não estudamos naturalmente não têm que saber aquilo que nós fizemos referência por ser o mais
importante é o regulamento de 1215, esse não se aplica portanto os tribunais portugueses são
internacionalmente competentes se se verificar alguns elementos de conexão do art.º 62 ou do art.º 94
ou ainda se for uma daquelas situações que está elencada no aqui de 63 como sendo casos de
competência Internacional exclusiva dos tribunais portugueses.

A competência Internacional dos tribunais portugueses depende da verificação de um entre 4 possíveis


pressupostos ou requisitos ou se quisermos publicação de um de 4 princípios possíveis é o princípio
coincidência que está alínea a) do art.º 62 é o princípio da causalidade, alínea b) do art.62 e é o princípio
da necessidade que está previsto na alínea c) do art.º 62 e finalmente o princípio da consensualidade
que está previsto no art.º 94.

Quanto ao principio da consensualidade podemos já adiantar porque o caso prático não faz referência à
existência de um qualquer pacto atributivo de jurisdição portanto não há nenhum elemento que nos diga
que no texto caso pratico que nos dê as partes nesta relação contratual elegeram um foro portanto sejam
os tribunais portugueses sejam tribunais de qualquer outro Estado e portanto se isso não é indicado no
caso não ocorreu e portanto podemos já excluir o princípio da consensualidade e portanto centramo-nos
nestes 3 princípios que estão regulados no artigo 62 podemos ir também já o 63 não é nenhuma das
situações do 63, não se trata de ações sobre direitos reais relativos a imóveis situados no território
português não se trata de ações relativas a pessoas coletivas ou a impugnação deliberações sociais de
pessoas coletivas sediadas no território português, não se trata de ações registais relativas a registros
públicos conservados em Portugal e nem de insolvência ou revitalização de pessoas domiciliadas em
Portugal e muito menos de uma execução portanto 63 também podemos excluir.
Portanto estamos aqui situados nestes 3 princípios do artigo art.62 nas 3 alíneas do artigo 62 sendo certo
que há uma alínea que nos deixamos semiaberta mas que eu na altura disse tem que ser complementada
com as regras da competência territorial de direito interno e nós já estudamos as regras de
comportamento interno ontem portanto esta alínea a) já pode ser articulada com essas regras da
competência de direito interno e portanto temos aqui 3 princípios e temos que ver se algum deles ou até
mais do que um é aplicado no caso presente para justificar a competência Internacional dos tribunais
portugueses se nenhum deles for aplicável então vamos ter de concluir que os tribunais portugueses não
são internacionalmente competentes para conhecer desta ação e portanto depois veremos melhor no
segundo semestre qual é a consequência se ação vier a ser proposta num tribunal português qual é a
consequência de não haver competência Internacional para dela conhecer para já não temos ainda esse
momento final que é o da consequência porque não chegamos lá.

Então é algum destes princípio será aplicável no caso haverá competência Internacional? Acho que não
embora aqui o caso permitisse enfim com alguma justificação com alguma fundamentação
eventualmente também uma resposta no sentido positivo.
Vamos por partes. Quanto ao princípio da necessidade nós sabemos que o princípio da necessidade tem
2 dimensões. Por um lado, é o direito invocado neste caso o direito invocado é um direito de crédito,
portanto um direito de crédito do adquirente das mercadorias que entende que tem direito a receber o
reembolso do preço e um indeminização pelos danos que sofreu, portanto, o direito invocado não poder
tornar-se efetivo senão por via de uma ação proposta em território português para nada no caso sugere
isso, nada no caso pratico tem lugar em Portugal.
Caro que se o caso, por exemplo disse-se que o Armindo só tinha património em Portugal, portanto apesar
de residir em França só tinha umas contas bancárias e terrenos eventualmente poder se ia dizer que seria
mais fácil depois para execução da decisão ter já uma decisão em tribunal português.
Mas mesmo esse argumento, a meu ver, seria um argumento fraco. Portanto quanto esta dimensão não
me parece se verificar uma segunda dimensão que é existir para o autor uma dificuldade apreciável da
propositura da ação no estrangeiro o autor tem uma grande dificuldade em propor aquela ação no
tribunal estrangeiro, mas ainda assim tem que existir entre o objeto do litígio e a ordem jurídica
portuguesa um elemento ponderoso de conexão. Ora aqui parece que nenhum destes 2 requisitos se
verifica. Por um lado nada aqui sugere que o autor Ssang Yoo tem uma dificuldade como a lei diz
apreciável da propositura de uma ação em tribunais fora de Portugal, ele não reside em Portugal a
contraparte não residem em Portugal os factos que estão na origem do negócio não tiveram lugar em
Portugal e portanto logo isso parece não está preenchido e por outro lado o objeto do litígio e entre o
objeto litígio e a ordem jurídica portuguesa não há nenhum não parece existir nenhum elemento
ponderoso de conexão pessoal desde logo pessoal porque apesar de o demandado ser cidadão português
residente em França e esta domiciliado em França nenhum elemento real não está em causa nenhum
bem coisa que esteja situada em Portugal e portanto não há este elemento de conexão ponderoso de
conexão entre o objeto do litigio e a ordem jurídica. Portanto pelo princípio da necessidade não parece
aplicar-se aqui ao caso. Pelo princípio da coincidência temos que articular esta alinha com as normas da
competência territorial.

(Nota: a competência interna não sai para o teste, mas vai sair nos já falamos da competência territorial
e nos vamos ter que saber articulá-la com esta alínea a).

Ora por aplicação das regras da competência territorial qual é que seria o fator de conexão territorial para
conhecer deste litígio ao abrigo das regras de competência territorial? Por aplicação do artigo 71 nº1 é o
réu for obrigacional e da ação destinada a exigir o cumprimento de obrigações a indemnização do não
cumprimento, pelo cumprimento defeituoso, ele resolve o contrato por falta de cumprimento é proposta
no tribunal do domicílio do réu. Admitindo-se que o credor possa optar pelo tribunal em que a obrigação
deveria ser cumprida quando o réu for uma pessoa coletiva que não parece ser o caso. Portanto é o
Armindo empresário individual, portanto, mas ainda que fosse o caso o facto de conexão territorial por
aplicação das regras de competência territorial seria ou o domicílio do reu, nós sabemos que é assim que
é a França, ou o lugar do cumprimento da obrigação que nós sabemos que é obrigação que aqui esta em
causa é a entrega das alheiras, portanto é a Malásia. Portanto num caso ou noutro as aplicações das regras
de competência territorial ditariam sempre um tribunal estrangeiro, portanto não se aplica aqui o
princípio da coincidência porque não há coincidência entre as regras de competência territorial e a
competência Internacional. Por aplicação do art.º 62, alínea a) não há então não é aplicável no caso o
princípio da coincidência.

Falta-nos então o princípio da causalidade e, portanto, é ter sido praticado em território português o facto
que serve de causa de pedir na ação ou algum dos factos que integram a causa de pedir da ação. Aqui eu
admito enfim embora eu acho que a resposta é negativa admito que bem fundamentada seria admissível
também uma resposta positiva.

Qual é o facto que está na causa do direito de pedir? É que as alheiras foram entregues em Hong Kong
em condições impróprias para consumo humano. Portanto o facto digamos assim está invocado como a
causa de pedir é naquele momento em Hong Kong as mercadorias não estavam em condições. Portanto
o facto ocorreu fora de Portugal. Claro que os senhores podiam dizer e este já saiu esta pergunta já saiu
num teste e houve alguns senhores disseram bom mas elas são produzidas em Portugal foram produzidos
em Mirandela e portanto se calhar foi la que se estragaram, não sabemos onde é que se estragarem e
portanto podemos ter em conta que pelo menos parcialmente como a lei exige aqui no final da alinha
algum dos factos que integram a causa de pedir ocorreu em Portugal quanto mais não seja a própria
produção das mercadorias foram produzidas em Portugal foram embaladas em Portugal e depois
remetidas digamos assim para Hong Kong.

(Por acaso aqui à umas gralhas foram entregues na Malásia, não muda o caso).
Com esta fundamentação eu aceitaria porque de facto o caso prático permite esta interpretação. Eu
aceitaria uma resposta que dissesse que os tribunais portugueses são competentes em razão, são
internacionalmente competentes para conhecer deste litígio ao abrigo do princípio da causalidade nos
termos da alínea b) do artigo 62 embora me pareça que a resposta correta é de facto que os tribunais
portugueses não disporiam de competência Internacional para conhecer deste litígio porque nenhum dos
4 princípios referidos tem aplicação ao caso presente.

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