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Contabilidade de

Transportes, Construção
Civil, Rural e Terceiro Setor

Unidade 4:
Obrigações na contabilidade
da construção civil

Objetivos
• Conhecer os conceito de custo, despesa e receita da atividade da
construção civil;

• Identificar as obrigações acessórias e tributárias da construção


civil;

• Estudar as demonstrações contábeis da construção civil.


Unidade 4

Na Unidade 3, você estudou as características e as peculiaridades da ati-


vidade da construção civil. Nesta unidade, vamos conhecer os conceitos de cus-
tos, despesas e receitas dessa atividade. Também veremos a estrutura das de-
monstrações contábeis e os aspectos gerais das obrigações tributárias principais
e acessórias da construção civil.

Custo, despesa e receita


Neste capítulo, vamos nos aprofundar nos conceitos de formação do custo,
custo orçado, custo incorrido e despesas e também na forma de mensurar a receita
na construção civil.

Formação do custo
A formação do custo na incorporação imobiliária está definida na IN n.º
84/1979 e detalhada na Orientação OCPC 01 (R1) - Entidades de Incorporação
Imobiliária (CFC, 2008).

Nesse sentido, compreendem os custos dos imóveis vendidos:

a) o custo de aquisição de terrenos ou prédios (inclusive tributos na aquisição


e regularização);
b) os custos de estudo, planejamento, legalização e execução dos planos ou
projetos de desmembramento, loteamento, incorporação, construção e
quaisquer obras ou melhoramentos;
c) custos diretamente relacionados à construção, inclusive aqueles de prepara-
ção do terreno, canteiro de obras e gastos de benfeitorias nas áreas comuns;
d) taxas, impostos e contribuições não recuperáveis que envolvem o empreen-
dimento imobiliário, gerados durante a construção;
e) encargos financeiros diretamente associados ao financiamento do empre-
endimento imobiliário.

Cabe destacar que, de acordo com o item 6.4, seção III, da IN n.º 84/1979,
em hipótese alguma “as despesas com as vendas, as despesas financeiras, as despe-
sas gerais e administrativas e quaisquer outras, operacionais e não operacionais”,
poderão ser consideradas como custo dos imóveis vendidos.

Custo orçado
O custo orçado pode ser compreendido como uma previsão dos custos que
a empresa incorrerá para executar determinada obra. Esse conceito é relevante
principalmente para os casos de venda antes do término da obra, pois, de acordo
com o art. 28 do Decreto-Lei n.º 1.598/1977, nessas situações:

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“Art. 28. [...] o contribuinte poderá computar no custo do imóvel


vendido, além dos custos pagos, incorridos ou contratados, os orça-
dos para a conclusão das obras ou melhoramentos que estiver con-
tratualmente obrigado a realizar.
§ 1º - O custo orçado será baseado nos custos usuais no tipo de em-
preendimento imobiliário.
§ 2º - Se a execução das obras ou melhoramentos a que se obrigou
o contribuinte se estender além do período-base da venda e o custo
efetivamente realizado for inferior, em mais de 15%, ao custo orça-
do computado na determinação do lucro bruto, o contribuinte ficará
obrigado a pagar correção monetária e juros de mora sobre o valor
do imposto postergado pela dedução de custo orçado excedente do
realizado.
§ 3º - A correção e os juros de mora de que trata o § 2º deverão ser
pagos juntamente com o imposto anual incidente no período-base
em que tiver terminado a execução das obras ou melhoramentos”.

Destaca-se que essa alternativa só é permitida para as empresas que opta-


rem pelo regime de tributação do Lucro Real (BRASIL, 1999).

Custo incorrido
Os custos incorridos, também conhecidos como custos pagos, correspon-
dem aos custos desembolsados relativos “a bens ou serviços adquiridos ou contra-
tados para específica aplicação no empreendimento de que a unidade negociada
faça parte” (BRASIL, 1979, item 7.1).

A IN n.º 84/1979 também estabelece que os ativos adquiridos para estoque


sem uma destinação definida devem ser contabilizados em uma conta de almoxa-
rifado e só podem ser apropriados ao custo do imóvel quando nele for aplicado.

Além disso, a norma define que os custos incorridos “serão primeiramente


debitados a uma conta representativa das obras em andamento, classificável no
ativo circulante, para depois serem considerados na formação do custo de cada
unidade vendida” (BRASIL, 1979, item 7.4).

Para conhecer como o fluxo dos custos incorridos podem ser classificados,
acesse o Ambiente Virtual e interaja com o objeto de aprendizagem “Fluxo de custos”.

Também podem ocorrer custos incorridos relativos a mais de uma unida-


de. Nesse caso, a norma determina que os custos “deverão ser apropriados, a cada
uma delas, mediante rateio baseado em critério usual no tipo de empreendimento
imobiliário” (BRASIL, 1979, item 7.5).

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Unidade 4

Despesas
De acordo com o item 98 do CPC 47, as empresas devem reconhecer como
despesas os seguintes custos:

“(a) custos gerais e administrativos (a menos que esses custos sejam


expressamente cobráveis do cliente de acordo com o contrato, hipótese
em que a entidade deve avaliar esses custos de acordo com o item 97);
(b) custos relativos a perdas de material, mão de obra ou outros re-
cursos para cumprir o contrato que não foram refletidos no preço do
contrato;
(c) custos que se referem a obrigações de performance satisfeitas (ou
obrigações de performance parcialmente satisfeitas) do contrato (ou
seja, custos que se referem ao desempenho passado); e
(d) custos em relação aos quais a entidade não pode distinguir se eles
se referem a obrigações de performance não satisfeitas ou a obriga-
ções de performance satisfeitas (ou obrigações de performance par-
cialmente satisfeitas)” (CFC, 2016, item 98).

Ou seja, serão consideradas como despesas na construção civil as despe-


sas financeiras, as despesas com as vendas, as despesas gerais e administrativas e
quaisquer outras, operacionais e não operacionais, como vimos no primeiro tópi-
co (BRASIL, 1979).

De forma resumida, pode-se dizer que, na contabilização dos custos incor-


ridos de uma empresa de incorporação imobiliária, os gastos administrativos e os
custos relacionados com a construção dos imóveis devem ser segregados. Os cus-
tos de construção dos imóveis destinados à comercialização deverão ser contabi-
lizados no Ativo Circulante, no grupo de Imóveis em Construção e separando-se
uma subconta para cada empreendimento. Enquanto isso, as despesas administra-
tivas devem ser registradas nas contas de resultado.

Você estudou até aqui os conceitos de custo e despesa da atividade da cons-


trução civil. Destaca-se, também, como peculiaridade dessa atividade que os con-
tratos, ou obras, geralmente abrangem mais do que um exercício social; por esse
motivo, precisamos dar atenção especial ao reconhecimento da receita. Vamos
acompanhar, na sequência, as peculiaridades para o reconhecimento da receita
nas atividades da construção civil.

Reconhecimento da receita na atividade da construção


civil
A atividade da construção civil tem como característica a geração de cus-
tos, despesas e receitas em períodos diferentes, pois muitas obras iniciam em um

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exercício social e são concluídas em outro(s). Assim, a alocação desses itens gera
reflexos importantes no Ativo, no Passivo e no Patrimônio Líquido da organização
(SOUSA, 2015).

O reconhecimento da receita na atividade de construção civil até 31/12/2017


era realizado de acordo com as fases de execução da obra, em conformidade com
o CPC 17 - Contratos de Construção. No entanto, com a publicação do CPC 47, o
CPC 17 foi revogado a partir de 01/01/2018, e o reconhecimento da receita passou
a ser idêntico para todos os tipos de empresas (exceto aqueles definidos na norma)
(CFC, 2016).

Nesse sentido, o reconhecimento da receita, desde 2018, deve ser realizado


por meio das cinco etapas seguintes:

Fonte: Adaptado pela Univates com base em Rios e Marion (2020, p. 172).

Vejamos, na sequência, os detalhes de cada etapa.

Etapa 1: Identificar o contrato


Na etapa de identificação do contrato, você deve se fazer a seguinte pergun-
ta: existe contrato com o cliente?

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Unidade 4

Primeiro, precisamos compreender o que a norma define como contrato:

“Contrato é um acordo entre duas ou mais partes que cria direitos e


obrigações exigíveis. A exigibilidade dos direitos e obrigações em con-
trato é matéria legal. Contratos podem ser escritos, verbais ou suge-
ridos pelas práticas usuais de negócios da entidade. As práticas e os
processos para estabelecer contratos com clientes variam entre juris-
dições, setores e entidade. Além disso, eles podem variar dentro da
entidade (por exemplo, eles podem depender da classe do cliente ou
da natureza dos bens ou serviços prometidos). A entidade deve consi-
derar essas práticas e processos ao determinar se e quando um acordo
com o cliente cria direitos e obrigações exigíveis” (CFC, 2016, item 10).

Reforça-se que o item 10 do CPC 47 define que os contratos “podem ser


escritos, verbais ou sugeridos pelas práticas usuais de negócios da entidade”.

Isso mesmo! Um contrato pode ser um acordo entre a empresa e o cliente. Tenha em
mente que, um acordo ou contrato é válido quando contém: a) agente capaz; b) obje-
to lícito, possível, determinado ou determinável; e c) forma prescrita ou não defesa em
lei, como definido pelo Código Civil (BRASIL, 2002, art. 104). Ou seja, independente do
acordo (ou contrato), ser por escrito ou não, contendo os requisitos citados pela nor-
ma, ocorre a identificação do contrato. Apesar disso, lembre-se de que a atividade de
construção civil geralmente é recorrente de um contrato assinado (formal) em razão
do tempo que pode levar para uma obra ser completada.

Nessa lógica, para que o CPC 47 surta efeitos, alguns critérios devem ser
atendidos, conforme Gelbcke, Santos, Iudícibus e Martins (2018, p. 540):

• “As partes devem ter aprovado o contrato, quer seja por escrito ou oralmen-
te, e devem estar comprometidas a cumprir com suas respectivas obriga-
ções;
• A entidade deve conseguir identificar os direitos de cada parte em relação
aos bens ou serviços a serem transferidos;
• A entidade deve conseguir identificar as condições de pagamento dos bens
ou serviços a serem transferidos; e
• O contrato deve ter substância comercial, isto é, espera-se que o risco, os
prazos ou os montantes dos fluxos de caixa futuros da entidade sofram mu-
danças como resultado da execução do contrato” (GELBCKE; SANTOS;
IUDÍCIBUS; MARTINS, 2018, p. 540).

Ainda em relação à identificação do contrato, não haverá o reconhecimento


da receita se no contrato, ou acordo, não constar cláusula com a obrigação (inde-
nização) nos casos de cancelamento por qualquer das partes.

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Etapa 2: Identificar as obrigações de performance


As obrigações contratuais podem ser resumidas à obrigação prometida ao
cliente relativo à entrega de um bem ou serviço (um ativo). É possível, inclusive,
que um único contrato tenha como obrigação a entrega de mais de um bem ou
serviço. Nesses casos, o CPC 47 destaca que os bens ou serviços distintos em um
mesmo contrato sejam contabilizados separadamente (RIOS; MARION, 2020).

No entanto, de acordo com o CPC 47, item 27, o bem ou o serviço é carac-
terizado como distinto quando alcançar dois critérios concomitantemente:

“(a) o cliente pode se beneficiar do bem ou serviço, seja isoladamente


ou em conjunto com outros recursos que estejam prontamente dispo-
níveis ao cliente (ou seja, o bem ou o serviço é capaz de ser distinto); e
(b) a promessa da entidade de transferir o bem ou o serviço ao clien-
te é separadamente identificável de outras promessas contidas no
contrato (ou seja, compromisso para transferir o bem ou o serviço é
distinto dentro do contexto do contrato)” (CFC, 2016, item 27).

Podemos dizer que o termo “obrigação de performance”, também conheci-


do como “obrigação de desempenho”, diz respeito à obrigação da entidade vende-
dora desempenhar a sua obrigação de repassar o controle do bem ou do serviço à
entidade compradora.

Lembre-se
A etapa de identificação de obrigações de performance consiste em identificar
cada promessa de entregar um bem ou prestar um serviço em um contrato com
um cliente. No ramo da construção civil, essa etapa consiste em, por exemplo, identifi-
car a unidade a ser entregue ao cliente.

Conforme afirmam Rios e Marion (2020, p. 175), o reconhecimento da re-


ceita só deverá ocorrer

“[...] quando forem satisfeitas as obrigações de performance estipula-


das em contrato, momento em que ocorre a transferência do bem ou
do serviço prometido ao cliente, considerado transferido quando, ou
à medida que, o cliente passa a ter o controle desse ativo”.

Para os autores, quando o contrato tiver mais de uma obrigação de perfor-


mance, deve ser realizada uma análise para o momento de cumprimento da obri-
gação de cada uma das obrigações. Nesse sentido, a satisfação de obrigação pode
ocorrer de duas formas:

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Unidade 4

• Ao longo do tempo
É quando ocorre a transferência do controle de bem ou serviço em etapas. O
item 35 do CPC 47 esclarece que é satisfeita a obrigação de performance e ocorre
o reconhecimento das receitas ao longo do tempo se um dos seguintes critérios for
atendido:
“(a) o cliente recebe e consome simultaneamente os benefícios gerados pelo
desempenho por parte da entidade à medida que a entidade efetiva o de-
sempenho (ver itens B3 e B4);
(b) o desempenho por parte da entidade cria ou melhora o ativo (por exem-
plo, produtos em elaboração) que o cliente controla à medida que o ativo é
criado ou melhorado (ver item B5); ou
(c) o desempenho por parte da entidade não cria um ativo com uso alterna-
tivo para a entidade (ver item 36) e a entidade possui direito executável (en-
forcement) ao pagamento pelo desempenho concluído até a data presente
(ver item 37)” (CFC, 2016, item 35).

• Em um momento específico do tempo


Ocorre quando há o cumprimento da obrigação de uma só vez, transferindo
ao cliente todo o controle sobre o ativo (vide itens 35 a 37 do CPC 47). De acordo
com a norma, se a obrigação não for satisfeita ao longo do tempo, é preciso deter-
minar o momento específico do tempo em que ocorre a satisfação da obrigação de
performance.

No caso da atividade de construção, as receitas geralmente ocorrem em etapas, ou


seja, ao longo do tempo.

Gelbcke, Santos, Iudícibus e Martins (2018) explicam que “a receita deve-


rá ser reconhecida através da mensuração do progresso em direção à liquidação
completa da obrigação, o que é também conhecido como método do percentual
de conclusão ou Percentage of Completion (POC)” nos casos em que as obrigações
de performance são satisfeitas ao longo do tempo.

Etapa 3: Determinar o preço da transação


De acordo com o item 47 do CPC 47, o preço da transação é o valor que a
empresa espera ter direito em troca dos bens ou serviços acordados com o cliente.
A norma também estabelece que, para a determinação do preço de transação, a
organização deve levar em consideração os “termos do contrato e suas práticas de
negócios usuais” (CFC, 2016, item 47).

Como abordado na Unidade 3, o preço definido em contrato pode ser fixo,


variável ou uma combinação de que parte do preço é fixo e parte é variável (GEL-
BCKE; SANTOS; IUDÍCIBUS; MARTINS, 2018).

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Etapa 4: Alocar o preço da transação


Como elucidado, um contrato pode conter mais de uma obrigação de per-
formance, situação em que é necessário alocar o preço de cada transação. Rios e
Marion (2020, p. 178) afirmam que “a base para essa alocação deverá ser o preço
de venda individual, e caso este não seja diretamente praticado, precisará ser esti-
mado”. Nesse caso, o item 79 do CPC 47 menciona que devem ser adotados méto-
dos adequados para estimar o preço de venda:

“(a) abordagem de avaliação de mercado ajustada – a entidade pode


avaliar o mercado no qual vende bens ou serviços e estimar o preço
que o cliente nesse mercado estaria disposto a pagar por esses bens
ou serviços. Essa abordagem pode incluir também consultar os pre-
ços dos concorrentes da entidade para bens ou serviços similares e
ajustar esses preços, conforme necessário, para refletir os custos e
margens da entidade;
(b) abordagem do custo esperado mais margem – a entidade pode pre-
ver seus custos esperados para satisfazer à obrigação de performance e
então adicionar a margem apropriada para esse bem ou serviço;
(c) abordagem residual – a entidade pode estimar o preço de venda
individual por referência ao preço de transação total menos a soma
dos preços de venda individuais observáveis de outros bens ou ser-
viços prometidos no contrato. Contudo, a entidade pode usar uma
abordagem residual para estimar, de acordo com o item 78, o preço
de venda individual de bem ou serviço somente se for atendido um
dos seguintes critérios:
(i) a entidade vender o mesmo bem ou serviço a diferentes clientes
(ao mesmo tempo ou aproximadamente ao mesmo tempo) por ampla
gama de valores (ou seja, o preço de venda é altamente variável por-
que o preço de venda individual representativo não pode ser discer-
nido de transações passadas ou de outras evidências observáveis); ou
(ii) a entidade ainda não estabeleceu o preço para esse bem ou ser-
viço e o bem ou serviço não foi vendido anteriormente de forma in-
dividual (ou seja, o preço de venda é incerto)” (CFC, 2016, item 79).

Etapa 5: Reconhecer a receita


A quinta e última etapa do reconhecimento da receita ocorre após as quatro
etapas anteriores. Ou seja, a entidade só pode reconhecer a receita no momento
em que atende a uma obrigação de desempenho ao transferir o controle de um
bem ou serviço para um cliente. Além disso, o controle pode ser transferido em
um determinado momento ou ao longo do tempo (RIOS; MARION, 2020).

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Unidade 4

Para saber mais


Para ampliar seus conhecimentos sobre o reconhecimento da receita, sugerimos
a leitura do capítulo 30 do livro Manual de contabilidade societária: aplicável a to-
das as sociedades: de acordo com as normas internacionais e do CPC, de Ernesto Rubens
Gelbcke e colaboradores, e do capítulo 6 do livro Contabilidade avançada, de Ricardo
Pereira Rios e José Carlos Marion. Você ainda pode complementar o estudo assistindo
ao vídeo Receita de Contrato com Cliente | Contabilidade Avançada | 2ª edição, disponi-
bilizado pela Editora Atlas.

Agora que você conhece as etapas para o reconhecimento da receita, vamos


estudar um exemplo aplicando as etapas.

A empresa CompraCerta Imóveis LTDA, com atividade de construção e incorporação


imobiliária realizou a venda de um sobrado pelo valor de R$ 250.000,00. O sobrado
será entregue 10 dias após a assinatura do contrato.

Etapa 1: Identificar o contrato


Compra e venda de imóvel.
Etapa 2: Identificar as obrigações de performance
Entrega de um sobrado.
Etapa 3: Determinar o preço da transação
O valor total da transação foi definido em R$ 250.000,00.
Etapa 4: Alocar o preço da transação
Para os casos em que ocorre apenas uma obrigação de performance, não é preciso
alocar o preço da transação.
Etapa 5: Reconhecer a receita
Pela entrega do bem ao cliente, ou seja, quando o cliente tiver controle pelo bem ad-
quirido, ocorre o reconhecimento da receita e, portanto, a companhia pode realizar o
lançamento contábil.

A partir desses dados, é possível constatar que a empresa CompraCerta Imóveis LTDA,
com atividade de construção e incorporação imobiliária, realizou a venda de um so-
brado pelo valor de R$ 250.000,00. O sobrado será entregue 10 dias após a assinatura
do contrato.

Esse foi um exemplo simples de como ocorrem as etapas de reconhecimen-


to da receita de acordo com o CPC 47. Agora que você já conhece a conceituação
de receita, custo e despesa, vamos ver como deve ser estruturado o Balanço Patri-
monial e a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE).

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Estrutura das demonstrações contábeis


As demonstrações contábeis de uma organização são a forma de apresen-
tação da situação patrimonial e financeira e do desempenho da entidade (CFC,
2011). De acordo com a Lei n.º 6.404/1976 e CPC 26 – Apresentação das demons-
trações contábeis, as demonstrações contábeis que devem ser apresentadas ao fi-
nal de cada exercício social são as seguintes:

a) Balanço Patrimonial (BP);


b) Demonstração do Resultado do Exercício (DRE);
c) Demonstração do Resultado Abrangente do período (DRA);
d) Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido do período (DMPL);
e) Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC).

Conforme afirma Sousa (2015), essas demonstrações devem ser acompanha-


das de notas explicativas que abordem as políticas adotadas pela empresa, entre ou-
tras informações. Outra questão que a norma determina é que a demonstração do
exercício social encerrado seja apresentada juntamente com os resultados do exercí-
cio social imediatamente anterior para que os valores possam ser comparados.

Você estudou, na Unidade 3, um modelo de plano de contas para a ativida-


de da construção civil. Na sequência, você verá a estrutura do Balanço Patrimonial
e da Demonstração do Resultado do Exercício.

Balanço Patrimonial
Balanço Patrimonial, de acordo com o art. 178 da Lei n.º 6.404/1976, deve
ser apresentado da seguinte forma:
Ativo Passivo
Ativo Circulante Passivo Circulante

Ativo Não Circulante Passivo Não Circulante


Realizável a longo prazo
Investimentos Patrimônio Líquido
Imobilizado Capital social
Intangível Reservas de capital
Ajuste de avaliação patrimonial
Reservas de lucros
(-) Ações em tesouraria
(-) Prejuízos acumulados
Total do Ativo Total do Passivo + Patrimônio Líquido

Fonte: Univates (2021).

As contas mais comuns que representam o Ativo Circulante, na sugestão


de Sousa (2015), são as seguintes:

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Unidade 4

• Disponível
Contempla as contas com saldos de caixa e bancos.

• Aplicações financeiras ou títulos de valores mobiliários


Valores aplicados em poupança e em títulos emitidos por entidades públicas
ou privadas. Exemplos: Certificado de Depósito Bancário (CDB) ou Letras Finan-
ceiras do Tesouro (LTF).

• Contas a receber de clientes


Esta conta contempla os saldos de vendas realizadas a prazo, por contrato de
construção ou por venda de imóveis.

• Imóveis para venda


Este grupo de contas também pode ser compreendido como Estoques, pois,
especificamente para a atividade da construção civil (inclusive incorporação), os
estoques compreendem terrenos, imóveis, entre outros. Além disso, esta conta
abrange os materiais que serão utilizados nas obras, bem como estoque de ma-
teriais e adiantamento a fornecedores. Este grupo de contas pode ser subdividi-
do nas seguintes contas: imóveis prontos; imóveis em construções; terrenos para
venda; terrenos com obras em andamento; estoque de materiais; e adiantamento a
fornecedores.

• Tributos a compensar
Nesta conta, registram-se os valores dos impostos retidos, como, por exem-
plo, o IRRF e o INSS sobre notas de serviço.

• Tributos diferidos ativos


Refere-se aos saldos de créditos de tributos que pela legislação fiscal só po-
derão ser utilizados em exercício futuro.

• Despesas antecipadas
Nesta conta, registram-se os valores de despesas pagas antecipadamente,
como prêmios de seguros ou assinatura de periódicos.

As contas do Ativo Não Circulante são aquelas que registram os saldos do


exercício social subsequente à data do Balanço Patrimonial, além das contas que
representam os bens da empresa. Como apresentado no modelo de Balanço Patri-
monial acima, as contas do Ativo Não Circulante compreendem:

• Realizável a longo prazo


As contas pertencentes a este subgrupo assemelham-se às do Ativo Circu-
lante, com exceção da conta Disponibilidades.

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• Investimento
Neste subgrupo, são registrados os valores correspondentes às participações
em outras empresas.

• Imobilizado
Veja as contas mais comuns de serem encontradas neste subgrupo, bem
como a que correspondem seus respectivos valores:

a) Edificações
Imóveis em que a entidade está localizada.

Fonte: Hutmacher (2020).

b) Móveis e utensílios
Móveis da entidade, usados diariamente.

Fonte: Deaner (2018).

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Unidade 4

c) Veículos
Veículos utilizados no desempenho das atividades.

Fonte: Maxim (2020).

d) Máquinas e equipamentos
Maquinários utilizados em obras.

Fonte: Besley (2017).

e) Equipamentos de informática
Aparelhos de informática usados pela entidade.

Fonte: Besley (2017).

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f ) Estandes e unidades-modelo
Investimentos em estandes de vendas. Esta é uma conta específica da ativi-
dade da incorporação imobiliária.

Fonte: Construtora Fontana (2016).

g) Obras em andamento
Unidades-modelo que ainda estão em fase de construção.

Fonte: Bitetto (2019).

Destaca-se, ainda, que no subgrupo do Imobilizado devem ser registrados


os valores correspondentes a depreciação acumulada (SOUSA, 2015).

• Intangível
Neste subgrupo, devem ser registrados os valores que compreendem os
bens que são abstratos, como marcas e patentes, além dos valores que correspon-
dem à amortização.

No Balanço Patrimonial das entidades da construção civil e de incorpora-


ção imobiliária, as contas mais comuns de pertencerem ao Passivo Circulante e
Passivo Não Circulante são as seguintes (SOUSA, 2015):

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Unidade 4

• Fornecedores
Nesta conta, registram-se os valores em aberto relativos às compras a prazo
dos materiais de construção ou de serviços prestados.

• Terrenos
Nesta conta, registram-se os valores correspondentes às aquisições dos ter-
renos, seja para revenda, seja para construção. Esta é uma conta característica da
atividade da incorporação imobiliária.

• Empréstimos e financiamentos a pagar


Nesta conta, registram-se os valores correspondentes aos empréstimos con-
traídos no curto prazo. Para os empréstimos e financiamentos superiores a 12 me-
ses, registra-se no Passivo Não Circulante.

• Obrigações sociais e trabalhistas


Esta conta recebe os registros referentes a salários a pagar, encargos sociais
a recolher, férias, 13º salário, entre outras contas.

• Tributos a recolher
Nesta conta, registram-se os tributos, tais como IRPJ, CSLL, COFINS, PIS,
IRRF e ISS.

• Adiantamento de cliente
Compreende os valores recebidos antecipadamente dos clientes. Esta conta
representa uma obrigação que a entidade tem para com o cliente, o que é uma ca-
racterística comum na atividade da construção civil.

As contas do Patrimônio Líquido correspondem ao:

• Capital social
Corresponde ao registro dos valores integralizados pelos sócios. Como ex-
plicado por Sousa (2015), o saldo desta conta só pode ser alterado caso ocorra
alteração no contrato social, ou estatuto social, conforme o caso.

• Reservas de capital
Nesta conta, são registrados os saldos de valores destinados a reforçar o ca-
pital social da empresa.

• Ajuste de avaliação patrimonial


Nesta conta, registram-se os saldos decorrentes da variação do valor justo.

• Reserva de lucros
Fazem parte deste subgrupo as contas de Reserva Legal, Reserva Estatutária,
Reserva para Contingência, Reserva de Incentivos Fiscais, Reserva de Lucros Reti-
dos e Reserva de Lucros a Realizar.

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Contabilidade de Transportes, Construção Civil, Rural e Terceiro Setor

Veja o exemplo de Balanço Patrimonial apresentado por Edmilson Patroci-


nio de Sousa na página 16 do livro Contabilidade de Contratos de Construção e
de Incorporação Imobiliária de acordo com as IFRS:

Fonte: Adaptado pela Univates com base em Sousa (2015, p. 16).

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Unidade 4

Agora que você já conhece o Balanço Patrimonial de uma empresa do ramo


da construção civil, vamos estudar a estrutura da DRE.

Demonstração do Resultado do Exercício


A DRE é a declaração que apresenta o desempenho alcançado pela entidade
por meio do resultado do período. De forma simples, pode-se afirmar que a DRE
representa a diferença entre as receitas e as despesas da entidade.

Como afirma Sousa (2015), se as receitas superarem as despesas, a entidade


obtém lucro; caso contrário, a entidade obtém prejuízo. Contudo, caso o resultado
seja nulo, o autor afirma que a empresa pode estar em seu ponto de equilíbrio.

Sousa (2015) apresenta a estrutura da DRE da seguinte forma:

Receita
- Custo dos imóveis vendidos e dos serviços prestados
= Resultado bruto
- Despesas com vendas
- Despesas gerais e administrativas
+ Outras receitas operacionais
- Outras despesas operacionais
+ Ganho (ou – perda) com a Equivalência Patrimonial
= Resultado Operacional antes do resultado financeiro
+ Receitas financeiras
- Despesas financeiras
= Lucro antes do IR e CSLL
- Provisão IR e CSLL
= Resultado líquido das operações continuadas
+ ou - Valor líquido de:
Resultado líquido das operações descontinuadas, após tributos
Resultado após os tributos decorrentes da mensuração do valor justo menos despesas de venda
ou na baixa dos ativos ou do grupo de ativos à disposição para venda que se constituem a unidade
operacional descontinuada
= Resultado antes das participações
- Participações de debenturistas, empregados, administradores e partes beneficiárias
= Lucro ou prejuízo líquido do exercício
Lucro líquido por ação de capital

Veja o exemplo de DRE que Sousa (2015) apresenta na página 21:

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Contabilidade de Transportes, Construção Civil, Rural e Terceiro Setor

Fonte: Adaptado pela Univates com base em Sousa (2015, p. 21).

Agora que você conhece a estrutura do Balanço Patrimonial e da Demons-


tração do Resultado do Exercício, chegou a hora de conhecer as obrigações tribu-
tárias da atividade da construção civil.

Obrigações tributárias: principais e acessórias


Na atividade da construção civil, diversas atividades podem ser executadas,
como abordado na Unidade 3, e cada atividade tem um CNAE específico. Além

19
Unidade 4

disso, nem todas as atividades da construção civil têm o mesmo tratamento tribu-
tário. Algumas empresas podem se enquadrar no Simples Nacional, outras estão
obrigadas ao Lucro Real. Enfim, cada atividade deve ser analisada individualmen-
te, pois, dependendo do regime tributário e da atividade, as empresas podem estar
sujeitas às obrigações distintas.

Lembre-se
As obrigações tributárias são distribuídas em “principais” e “acessórias”. O Código
Tributário Nacional (CTN), em seu artigo 113, estabelece que as obrigações prin-
cipais passam a existir com a ocorrência de um fato gerador e tem por objetivo o paga-
mento de tributo ou alguma penalidade (multa), sendo extinta após o seu pagamento.
Já as obrigações acessórias decorrem de legislação tributária, cujo objetivo é a presta-
ção de informações para arrecadação do tributo e para fiscalização. De forma resumida,
a obrigação principal compõe o imposto devido, e a obrigação acessória é relativa à
entrega da declaração referente ao imposto devido (BRASIL, 1966).

Em linhas gerais, as obrigações tributárias das empresas da construção civil


compreendem as seguintes: IRPJ, CSLL, ISS, PIS-COFINS e Contribuição Previ-
denciária.

Aspectos gerais de tributação: IRPJ, CSLL, PIS, COFINS e


contribuição previdenciária
A tributação dos impostos varia de acordo com o regime de tributação de-
signado a cada empresa. O Lucro Presumido é o regime de tributação que simpli-
fica a apuração do IRPJ e CSLL aplicando a alíquota desses impostos diretamente
sobre a receita bruta, sob a redução da base de cálculo. O regime do Lucro Real,
por sua vez, aplica a alíquota do IRPJ e CSLL sobre o lucro apurado pela contabi-
lidade, com ajustes da legislação fiscal (SOUSA, 2015).

a) IRPJ e CSLL
De acordo com a Lei n.º 9.249/1995, nas atividades de contratos de cons-
trução com regime de tributação no Lucro Presumido, a base de cálculo do IRPJ é
reduzida a 8% para as atividades imobiliárias e prestação de serviços com emprego
de materiais, enquanto nas atividades de prestação de serviços de construção sem
emprego de materiais, a base é reduzida a 32%.

No caso da base de cálculo para apuração da CSLL, em atividades de incor-


poração imobiliária, reduz-se a 12%; já em atividades de construção civil (com ou
sem emprego de materiais), a base de cálculo é reduzida a 32% (BRASIL, 1995).

A tabela abaixo apresenta de modo simplificado as bases de cálculo para


apuração do IRPJ e da CSLL:

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Contabilidade de Transportes, Construção Civil, Rural e Terceiro Setor

Atividade Base de cálculo: IRPJ Base de cálculo: CSLL


Incorporação imobiliária e prestação de
8% 12%
serviços com emprego de materiais

Prestação de serviços de construção sem


32% 32%
emprego de materiais

Fonte: Adaptado pela Univates com base em Brasil (1995).

De acordo com a Lei n.º 9.249/95, a alíquota do IRPJ corresponde a 15% in-
cidente sobre a base de cálculo presumida. Além disso, caso a empresa apure lucro
mensal superior a R$ 20.000,00, esta deve recolher, a título de Adicional de IRPJ,
o valor correspondente a 10% sobre o que exceder R$ 20.000,00. Para as empresas
que apuram o lucro presumido de forma trimestral, deve-se multiplicar o valor de
R$ 20.000,00 pelo número de meses apurados e aplicar a alíquota de 10% sobre o
excedente.

De acordo com o inciso III do artigo 3º da Lei n.º 7.689/88, a alíquota da


CSLL corresponde a 9% sobre a base de cálculo reduzida.

Pode-se compreender o cálculo da apuração do IRPJ e CSLL com base no


seguinte exemplo:

A empresa Trato Incorporadora Ltda. com atividade de incorporação


imobiliária faturou o valor de R$ 1.200.000,00 no primeiro trimestre
de X1. A empresa apurou o IRPJ e a CSLL da seguinte forma:

IRPJ
Receita operacional bruta 1.200.000,00
% de Lucro Presumido 8%
Base de cálculo reduzida
96.000,00 (1.200.000,00 x 8%)
(Lucro Presumido da entidade)
Alíquota de IRPJ 15%
Valor do IRPJ devido 14.400,00 (96.000,00 x 15%)
Adicional de IRPJ
36.000,00 (96.000,00 – [20.000,00 x
(Base de cálculo do adicional: Lucro Presumi-
3 = 60.000,00])
do da entidade x número de meses apurados)
Alíquota do adicional 10%
IRPJ adicional 3.600,00 (36.000,00 x 10%)
Total do IRPJ devido 18.000,00 (14.400,00 + 3.600,00)

21
Unidade 4

CSLL
Receita operacional bruta 1.200.000,00
% de Lucro Presumido 12%
Base de cálculo reduzida
144.000,00 (1.200.000,00 x 12%)
(Lucro Presumido da entidade)
Alíquota CSLL 9%
CSLL devida 12.960,00

Fonte: Univates (2021).

Conceito
96.000,00: No Lucro Presumido, presume-se que o lucro da organização corres-
ponda a 8% do seu faturamento bruto para o cálculo do IRPJ.

144.000,00: No Lucro Presumido, presume-se que o lucro da organização corresponda


a 12% do seu faturamento bruto para o cálculo da CSLL.

Desafio
Calcule o IRPJ e a CSLL de uma empresa com atividade imobiliária que auferiu
receita equivalente a 200.000,00. Apure o adicional de IRPJ conforme o caso.

Na sequência, veja um exemplo de apuração do IRPJ e da CSLL na atividade


de prestação de serviço de construção sem o emprego de materiais.

A empresa Construtora Fortes Ltda. realizou prestação de serviço


sem emprego de materiais e faturou, no primeiro trimestre de 2020,
o valor de 750.000,00. A apuração do IRPJ e da CSLL apresentou os
seguintes valores:

IRPJ
Receita operacional bruta 750.000,00
% de Lucro Presumido 32%
Base de cálculo reduzida
240.000,00 (750.000,00 x 32%)
(Lucro Presumido da entidade)
Alíquota de IRPJ 15%
Valor do IRPJ devido 36.000,00 (240.000,00 x 15%)
Adicional de IRPJ
180.000,00 (240.000,00 –
(Base de cálculo do adicional: Lucro Presumi-
[20.000,00 x 3 = 60.000,00])
do da entidade x número de meses apurados)
Alíquota do adicional 10%
IRPJ adicional 18.000,00 (180.000,00 x 10%)
Total do IRPJ devido 54.000,00 (36.000,00 + 18.000,00)

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Contabilidade de Transportes, Construção Civil, Rural e Terceiro Setor

CSLL
Receita operacional bruta 750.000,00
% de Lucro Presumido 32%
Base de cálculo reduzida
240.000,00 (750.000,00 x 32%)
(Lucro Presumido da entidade)
Alíquota CSLL 9%
CSLL devida 21.600,00

Fonte: Univates (2021).

Conceito
240.000,00: No Lucro Presumido, presume-se que o lucro da organização corres-
ponda a 8% do seu faturamento bruto para o cálculo do IRPJ.

As empresas do ramo da construção civil que optarem pela apuração dos


impostos com base no Lucro Real também estarão sujeitas às mesmas alíquotas
dos impostos, porém, em vez de “presumir” o lucro, elas apuram os impostos com
base no lucro mensal que realmente obtiveram.

Além do IRPJ e da CSLL, as empresas do ramo da construção civil e ativida-


de imobiliária também contribuem com PIS e COFINS.

b) PIS e COFINS
A tributação do PIS e da COFINS é baseada em uma alíquota que incide
sobre o faturamento bruto da entidade. A alíquota do PIS corresponde a 0,65%
(Lei n.º 9.715/1998), e a alíquota da COFINS corresponde a 3%, ambos incidentes
sobre a receita bruta (Lei n.º 9.718/1998).

Neste caso, pode-se estudar a apuração do PIS e da COFINS com base no


cálculo demonstrado no exemplo a seguir:

A Construtora Jardim Sol Ltda. obteve faturamento bruto equivalen-


te a 325.000,00 no mês de janeiro de X1. A apuração dos impostos
PIS e COFINS geraram os seguintes saldos a recolher:
Faturamento bruto 325.000,00
Alíquota PIS 0,65%
Alíquota COFINS 3%
Valor devido PIS 2.112,50
Valor devido COFINS 9.750,00

Fonte: Univates (2021).

Salienta-se que ambos os tributos devem ser recolhidos em guias de arreca-


dação fiscal separadas.

23
Unidade 4

Importante: Tanto na tributação com base no Lucro Presumido quanto na apuração


com base no Lucro Real, a apuração do PIS e da COFINS ocorre da mesma forma, dife-
rentemente do que ocorre com o IRPJ e CSLL.

Antes de iniciar a apuração do IRPJ e da CSLL para empresas optantes pelo


Lucro Real, vamos estudar a Contribuição Previdenciária.

c) Contribuição Previdenciária
As empresas do ramo da construção civil possuem como alternativa reco-
lher a Contribuição Previdenciária de duas formas.

A primeira forma de apuração é com base na folha de pagamento dos em-


pregados. Nessa opção, a empresa deve recolher, a título de Contribuição Previ-
denciária, a alíquota de 20% incidente sobre o valor da remuneração dos emprega-
dos, conforme art. 22 da Lei n.º 8.212/1991.

A segunda forma de apuração é com base na receita bruta. Nessa alternati-


va, as empresas recolhem, a título de Contribuição Previdenciária sobre a Recei-
ta Bruta, também conhecida pela expressão “desoneração da folha”, a alíquota de
4,5% incidente sobre o valor do faturamento bruto em substituição aos 20% da
folha de pagamento (Lei n.º 12.546/2011). Salienta-se que somente as empresas
que realizam a construção de obras podem optar por esta forma de apuração.

Veja um exemplo do cálculo da contribuição previdenciária de uma entida-


de com atividade de construção de obras:

Remuneração dos empregados 250.000,00


Receita auferida 1.100.000,00
Alíquota de Contribuição Previdenciária sobre a
20%
remuneração
Contribuição Previdenciária 50.000,00 (250.000,00 x 20%)
Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta 49.500,00 (1.100.000,00 x 4,5%)

Fonte: Univates (2021).

As empresas, antes de decidirem pela Contribuição Previdenciária sobre a


Receita Bruta, devem verificar, por meio de planejamento, qual é a forma mais
vantajosa de apuração dessa contribuição. Se o valor da folha de pagamento do
exemplo citado acima fosse superior, não seria vantagem para a empresa optar
pelo recolhimento da contribuição previdenciária sobre a remuneração; seria mais
vantajoso preferir a substituição. Portanto, a empresa deve analisar com cuidado a
forma de apuração dessa contribuição, pois a opção é irretratável após o primeiro
recolhimento até o prazo do vencimento (BRASIL, 2011).

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Contabilidade de Transportes, Construção Civil, Rural e Terceiro Setor

Importante! As empresas que estiverem sob o regime da Contribuição Previdenciária


sobre a Receita Bruta deverão apresentar as informações no Bloco P da EFD-Contribui-
ções, de acordo com o artigo 4º, inciso V, da IN RFB n.º 1.252/2012.

Outro assunto importante para a atividade da construção civil relativamen-


te à apuração da contribuição previdenciária é a compensação do INSS retido nas
notas fiscais de serviço.

As empresas que prestam serviços de obras de construção civil com cessão


de mão de obra sofrem a retenção equivalente a 11% (Lei n.º 8.212/1991). Nesse
caso, a empresa contratada para realizar o serviço deve destacar o valor correspon-
dente a 11% do valor total dos seus serviços em nota fiscal com o título “RETEN-
ÇÃO PARA A PREVIDÊNCIA SOCIAL”, conforme definido no artigo 126 da IN
n.º 971/2009.

Ainda segundo o art. 31 da Lei n.º 8.212/1991, a empresa contratante de


serviços executados mediante cessão de mão de obra, inclusive em regime de tra-
balho temporário, deverá reter 11% do valor bruto da nota fiscal ou da fatura de
prestação de serviços e recolher, em nome da empresa cedente da mão de obra, a
importância retida até o dia 20 do mês subsequente ao da emissão da respectiva
nota fiscal ou fatura ou até o dia útil imediatamente anterior se não houver expe-
diente bancário naquele dia, observado o disposto no § 5º do art. 33 dessa lei.

Destacado o valor, a empresa que contratou o serviço paga o valor líqui-


do da nota fiscal descontando o valor da retenção, no entanto deve recolher esse
tributo em nome da contratada. O exemplo abaixo esclarece esse processo. Em
contrapartida, a contratada que sofreu a retenção pode se compensar deste valor
quando apurar o valor devido para a Previdência Social.

A empresa Compacta Indústria e Comércio Ltda. contratou os ser-


viços de pavimentação da empresa Construinova Serviços Ltda., a
qual cedeu mão de obra para pavimentar o estacionamento da con-
tratante. No mês de Fevereiro de X1, a Construinova entregou cerca
de 30% da obra, sendo o valor da nota fiscal mensal correspondente
a 15.000,00. Respeitando a IN n.º 971/2009, a empresa Construinova
deve reter 11% desse valor e destacá-lo em nota fiscal com a denomi-
nação “RETENÇÃO PARA A PREVIDÊNCIA SOCIAL”. Nesse sen-
tido, obtém-se as seguintes informações:
Valor total do serviço 15.000,00
RETENÇÃO PARA A PREVIDÊNCIA SOCIAL (11%) 1.650,00
Valor líquido da nota fiscal 13.350,00

Fonte: Univates (2021).

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Unidade 4

Diante do exposto, a empresa contratante (Compacta Indústria e Co-


mércio Ltda.) pagará o valor de R$ 13.350,00 para a empresa contra-
tada (Construinova Serviços Ltda.). Além disso, a contratada tem o
dever de recolher (através da Guia de Recolhimento da Previdência
Social) o valor da retenção destacado na nota fiscal em nome da em-
presa contratada até o dia 20 do mês subsequente à emissão da nota
fiscal.

A empresa que prestou o serviço, Construinova Serviços Ltda., terá


o direito de compensar o valor correspondente à retenção da guia de
pagamento do INSS do respectivo mês (ou nos meses subsequentes,
caso restar saldo a compensar).

Acesse o Ambiente Virtual para realizar o exercício e conferir sua


resposta.

Nesta unidade, você estudou o conceito de custo, despesa e receita


e como encontrá-los na atividade da construção civil. Além disso, você
conheceu a estrutura das demonstrações contábeis e também estudou as
obrigações a que esta atividade está sujeita.

Resposta esperada do desafio


IRPJ CSLL
Receita 200.000,00 200.000,00

Presunção 8% 12%

Base de cálculo 16.000,00 24.000,00

Alíquota 15% 9%

Imposto devido 2.400,00 2.160,00


Fonte: Univates (2021).

Atividade
Agora que você já estudou os conceitos de custo, despesa e receita e as de-
monstrações contábeis da atividade da construção civil, realize a atividade proposta.

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Contabilidade de Transportes, Construção Civil, Rural e Terceiro Setor

Referências

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BRASIL. Instrução Normativa SRF n.º 25, de 25 de fevereiro de 1999. Dispõe


sobre o tratamento tributário das variações monetárias, nos casos que especifica.
Disponível em: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.
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Dispõe sobre normas gerais de tributação previdenciária e de arrecadação das
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Dispõe sobre a Escrituração Fiscal Digital da Contribuição para o PIS/
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Disponível em: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.
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Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Disponível
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27
Unidade 4

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Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra);
dispõe sobre a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) à
indústria automotiva; altera a incidência das contribuições previdenciárias devidas
pelas empresas que menciona; altera as Leis n.º 11.774, de 17 de setembro de 2008,
n.º 11.033, de 21 de dezembro de 2004, n.º 11.196, de 21 de novembro de 2005, n.º
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