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CULTURA LUSÓFONA COMPARADA I

TRABALHO PRÁTICO:

“O DESCOBRIMENTO DAS INDIAS”


O DIÁRIO DA VIAGEM DE VASCO DA GAMA

ALUNAS:
Érica Arnay, Legajo Nº A-2244/6
Carolina Martínez, Legajo Nº M-3504/1

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“Apesar de ser verdade que nao há descoberta sem descobridores e descobertos, o
que há de mais intrigante na descoberta é que em abstracto nao é possível saber quem é
quem, ou seja, o acto da descoberta é necessariamente recíproco, quem descobre é
também descoberto, e vice-versa. Porque sendo a descoberta uma relaçao de poder e de
saber, é o descobridor o que tem mais poder, e mais saber, com isso a capacidade para
declarar o outro como descoberto”. (www.antroposmoderno.com.br).

Acabada a “Reconquista” (recuperaçao dos territórios ocupados pelos mouros)


Portugal se voltou à exploraçao oceânica, aproveitando uma situaçao geográfica
favorável, seus experientados navegantes, além duma crescente burguesia.

Vasco da Gama foi o primeiro navegante português em dobrar o Cabo da Boa


Esperança, navegar pelo ocêano Índico e chegar até Calecut.

A viagem de Vasco da Gama foi uma empresa comercial, onde objetivo foi
encontrar novas estradas comerciais para chegar aos centros produtores de especiarias,
para a conservaçao das carnes, já que a falta de pastura no inverno obrigava a sacrificar
o gado e conservar as carnes com temperos.

Para a próspera burguesia comercial, isto, se transformou numa questao fundamental,


porque significou a possibilidade de continuar com ofluxo mercantil, base da sua
própria susbsistência.

Com o título de alargar e consolidar o Império Português, difundir a língua e a


cultura portuguesa e transmitit os valores e ideais da religao crista, partiram o dia 8 de
julho de 1497, quatro embarcacoes, as naus Sao Gabriel, Sao Rafael, Bérrio e uma nau
que devia servir de apoio. A empresa foi confiada por D. Manuel a Vasco da Gama, que
comandava a primeira nave. Paulo da Gama, Nicolás Coelho e Gonçalo Nunes
coandavam as outras naus.

Depois de chegarem a terra e terem contato com “os homens da terra”, descobriram
que estes tinham uma cultura bem diferente à sua, uma cultura que os portugueses
achavam como “inferior” ou “pior” do que eles, este era o principal preconceito que os
portugueses tinham sobre os índios.

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Isto se pode observar em todo o seu jeito de agir. Por exemplo: “...Tudo isto ocorreu
porque confiamos neles. Como nos pareceram homens de pouca coragem, incapazes de
cometer o que depois fizeram...”(VELHO, 1998,pag 45).

“... Eles entao começaram a tocar quatro ou cinco flautas, e uns tocavam alto, outros
baixo,num concerto muito bom para negros, de quem nao se espera música. Além disso
bailavam como negros...”(VELHO, 1998, p 48).

Aqui está bem marcada o preconceito racial dos portugueses, onde a “superioridade”
está marcada pela cor de pele, pela origem étnica, além de que os portugueses
menosprezavam cultura dos índios achando que apenas a sua cultura era válida, porque
eram civilizados, erudítos, instruidos, etc, e os índios eram como animais dos quais nao
podia-se esperar nada bom. Pode-se observar aqui um conceito muito pequeno e
limitado de cultura, além duma intolerância com respeito à cultura do outro. Por isso,
eles sentiam que podiam abusar e aproveitar-se dos negros. Mesmo assim, tratavam de
demonstrar aos nativos a superioridade europeia provocando medo; por exemplo
quando diz:”...tudo isto para lhes mostrarmos que éramos poderosos e que lhes
poderíamos fazer mal se quiséssemos...” (VELHO, 1998, P. 49).

Pode-se ver claramente o grande desejo de someter que os portugueses tinham, ao


ponto de pensar que podem fazer com os índios o que eles quiserem com total
impunidade, já que nao viam aos índios como pessoas. A idéia de considerar aos povos
indígenas como “inferiores” foi o que levó aos descobridores europeus a nao
reconhecer a igualdade dos direitos das pessoas que integravam esses povos e até
justificar esse sometimento.

Os europeus justificaram sua apropriaçao sobre os povos aborigens africanos como


uma obrigaçao dos homens que praticavam o cristianismo e viviam numa sociedade
civilizada com respeito aos índios, negros, mouros,etc, que (segundo eles) viviam num
estado de “barbarie”.

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“No sábado 28 de julho, partimos do Porto de Restelo, para seguir nosso caminho,
rogando que Deus Nosso Senhor nos deixasse acabar a missao em seu serviço” .
(VELHO, 1998. p. 41).

Neste caso Deus foi usado pelos europeus para justificar seus sentimentos de
superioridades, a apropriaçao dos bens dos outros, os desejos de poder, a avareza, etc.
Este sentimento de superioridade se vê bem reflexado em todas as suas atitudes, nao
apenas com respeito aos índios, mas também com a relaçao que tinham com a natureza.
Os portugueses destruiram, sem motivo, a paisagem, os animais que encontravam a seu
passo: “Nesta baía, a cerca de 500 metros da costa, há uma ilhota. Existem aí nuitos
lobos-marinhos, grandes como ursos, assustadores com seus dentes enormes. Eles se
aproximam dos homens e nenhuma lança, por força que leve, os pode ferir. Há outros
menores e alguns bem pequeninos. Os grandes dao urros como leoes, e os pequenos,
como cabritos. Fomos um dia até a ilha para descansar e vimos, entre grandes e
pequenos,cerca de três mil. Do mar, atiramos com as bombardas.”
Os portugueses mostravam assombro quando viam nessas terras descobertas os
mesmos animais, as mesmas árvores que conheciam. Sempre comparavam todo com o
que tinham em Portugal ou terras conhecidas. Por exemplo: “...e têm muitos caes, iguais
aos de Portugal, e ladram como eles...”(VELHO, 1998, p.43); “...foi este boi nosso
jantar de Domingo. Era muito gordo , e sua carne saborosa como a que comiamos em
Portugal..” (VELHO, 1998, p.48); “...os bois desta terra sao grandes como os de
Alentejo, muitos gordos e mansos...” (VELHO, 1998, p. 49).
Depois desta sensaçao de estranheza dos portugueses a relaçao mudou e se tornou
muito parecida à relaçao que tinham com os índios, ou seja de sometimento total. “...Na
ilhota, há ainda umas aves de tamanho de patos, que nao voam, porque nao tem penas
nas assas, sao chamadas “fotilicaios” e matamos quantas quissemos...”(VELHO, 1998,
p.50).
Os portugueses nao valorizavam a cultura dos índios, nem mesmo do espaço onde
habitavam eles, da natureza, dos seus animais. Estragavam todo quanto havia ao seu
redor, somente “valorizavam” os produtos que foram procurar. Tratava-se de uma
valorizaçao entre aspas porque o que realmente queriam e desejavam , nao eram alguns
poucos produtos que le garantirem a sua subsistência, mas sim poder e riqueza. Para
conseguir este poder, tratavam aos nativos como seres inferiores. Por exemplo: “Ao que
nos parecia, segundo eles diziam, todas estas coisas, com excesao do ouro, eram

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transportadas até aqui pelos mouros. Mais à frente, para onde íamos, havia muito delas,
e eram tantas pedras, aljôfar e especiarias que nao era necessário resgatá-las, mas
apanhá-las aos cestos”. ( VELHO, 1998, pag 57).
Neste diário da viagem pode-se apreciar que os portugueses nao só buscavam
especiarias e ouro,queriam mais do que isso. Queriam impor a sua cultura, de um jeito
déspota. Queriam apropriarse das suas terras e das suas riquezas destruindo a cultura
nativa e impondo seu poder pela força. Mas também encontraram resistência por parte
dos índios: “ Na quarta-feira, 6 de dezembro, estávamos na baía Sao Brás arazenando
água, e pusemos ali uma cruz e um padrao...Antes que partíssemos, eles derrumbaram a
cruz e o padrao”. (VELHO, 1998, pag. 50).
Sempre o encontro com o outro que é diferente, com uma cultura diferente, logra gerar
alguma reaçao, isto é porque nos resulta muito difícil reconhecer e aceitar essa
diferença. Em todos os tempos e todas as sociedades existiram e existem ainda, muitas
situacoes e episódios lamentáveis, nos quais as diferenças físicas, culturais, políticas,
religiosas, sexuais, de gênero sao utilizadas como justificadores para a discriminacao e o
abuso de poder, negando a igualdade de direitos e o respeito pelo outro.

BIBLIOGRAFIA

- VELHO, Álvaro, “Odescobrimento das Índias: O diário da viagem de Vasco da


Gama”, Rio de Janeiro, Ed. Objetiva, 1998.
- VANNUCCHI, Aldo; “Cultura Brasileia. O que é, como se faz.” Primeira parte; Sao
Paulo, Ed. Loyola, 1999.
-ROCHA, Emerardo P. Guimaraes; “O que é etnocentrismo”; Sao Paulo; Ed.
Brasiliense; 2003.
- OLIVEIRA, S. Pérsio; “Introduçao à sociologia” Cap. 7; Sao Paulo; Ed. Ática; 2001.
- Postilha: “A viagem de Vasco da Gama. 8 de Julho 1497”
- BENTO, Maria Aparecida; “ Cidadania em preto e branco” Cap. 8, 9, 11, 12 e 13; Sao
Paulo; Ed. Ática; 2006.
- Internet: “www.antroposmoderno.br”.

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