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Enviar jovens para o mundo sem uma cosmovisão bíblica é

como enviar um atleta para o campo sem uma estratégia,


diz Voddie Baucham. No entanto, poucos pais cristãos
sequer mantêm uma cosmovisão bíblica para transmitir a
seus filhos. Família guiada pela fé dá aos pais princípios
vencedores para discipular filhos que irão se desenvolver
em adultos espiritualmente maduros e capazes de
influenciar todas as esferas da sociedade.
— Nancy Pearcey

Voddie Baucham tem um profundo apreço pela


importância que Deus coloca na família. Este livro é cheio
de sabedoria bíblica sobre esse assunto vital. Altamente
recomendado!
— Thomas K. Ascol

Todo pai cristão deveria ler Família guiada pela fé. Nunca
encontrei um livro sobre vida familiar que reunisse tanto
ensino bíblico, reflexão estimulante, teologia sólida e ajuda
prática num só volume.
— Donald S. Whitney

Voddie Baucham escreveu um livro perspicaz e


convincente desafiando os pais a priorizarem o
desenvolvimento espiritual dos seus filhos. Só leia este
livro se a salvação e santificação dos seus filhos for da
maior importância para você.
— Tony Evans

Família guiada pela Fé


Faça o necessário para criar filhos e filhas que andem com Deus

Voddie T. Baucham Jr.


Copyright © 2007, de Voddie Baucham Jr
Publicado originalmente em inglês sob o título
Family Driven Faith
pela Crossway Books – um ministério de publicações Good News Publishers,
Wheaton, Illinois, 60187, EUA.

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por


Editora Monergismo
SCRN 712/713, Bloco B, Loja 28 — Ed. Francisco Morato Brasília, DF, Brasil — CEP
70.760-620 www.editoramonergismo.com.br
1ª edição, 2012

Tradução: Josaías Cardoso Ribeiro Jr.


Revisão: Maria Isabel Corcete Dutra
Capa: Crossway

Proibida a reprodução por quaisquer meios,


salvo em breves citações, com indicação da fonte.

Todas as citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Atualizada (ARA),,
salvo indicação em contrário.
1. EXPLORANDO O TERRENO
2. UM DEUS SEM RIVAIS
3. APRENDA A AMAR
4. DÊ-LHE SEU CORAÇÃO
5. ENSINE A PALAVRA NO LAR
6. VIVA A PALAVRA NO LAR
7. MARQUE O LAR COMO TERRITÓRIO DE DEUS
8. Desfrute os Dons sem se Esquecer do Doador
9. O REAvivamento Iminente: A Igreja Está Pronta para a Família Orientada pela Fé?
10. Um Rompimento Radical com a Norma
LEITURA RECOMENDADA
Para Jasmine, Trey, Elijah, Asher e outras “flechas” ainda por vir.
Soli Deo Gloria!
1. EXPLORANDO O TERRENO
“São dez horas da noite. Você sabe onde seus filhos estão?” Se você é da
mesma geração de minha mãe, você reconhece essa frase. É provável que a
tenha ouvido toda noite antes de assistir ao noticiário. A ideia era bastante
simples: os pais precisavam saber que seus filhos estavam em casa a uma
hora decente. Quem discordaria disso (além de um adolescente querendo
ficar até tarde na rua)?[1]
Hoje, a questão deveria ser colocada desta forma: “Você sabe onde seus
filhos estão, do ponto de vista espiritual?” O Dudu conhece bem a Bíblia? A
Bruninha sabe a diferença entre virgindade e pureza? Seus filhos caminham
para a maturidade cristã responsável, ou são parte de uma alarmante nova
tendência que tem assistido à esmagadora maioria de filhos pretensamente
cristãos apartando-se da fé?
Enquanto escrevia este livro, tive o privilégio de pregar uma série de sermões
na Universidade de West Palm Beach, Flórida. No culto da capela, na manhã
de quinta-feira, preguei uma mensagem sobre integridade cristã, ou firmeza
de um caráter cristão. Basicamente, caminhei por Efésios 5.25ss e fiz um
desafio aos moços e moças para que vivam e esperem nada menos que o
padrão bíblico, quando pensarem em casamento. Foi uma experiência
poderosa. Eu sabia que tinha tocado em um ponto sensível.
Depois da mensagem, tive oportunidade de conversar com alguns estudantes
que nunca tinham ouvido um desafio assim. Mesmo funcionários e membros
do corpo docente aproximaram-se de mim e disseram: “Como eu queria que
meu pai tivesse compartilhado isso comigo, vinte anos atrás”. Muitas jovens
me perguntaram se poderiam conversar comigo em particular. Vários rapazes
comentaram: “Você de fato estabeleceu um novo patamar”. O campus estava
em polvorosa.
Uma jovem em visível luta com o que ouviu sentou-se perto de mim, durante
o almoço. Respirou fundo e começou a compartilhar sua desoladora história.
Era uma estudante de 21 anos, no terceiro ano da faculdade, lutando com um
relacionamento sério. Disse que amava muito um rapaz, porém ele não era
nada do que a Bíblia ensina com clareza sobre o que um futuro marido deve
ser. Ela começou, procurando conter as lágrimas, enquanto perguntava: “O
que vou fazer?”
Depois de investigar um pouco, descobri que ela e aquele jovem namoravam
há mais de dois anos. Os dois tinham “um namoro sério” e, embora ela não
tenha dito, eu me surpreenderia se me dissesse que não tiveram um
relacionamento sexual. Ficou claro que ela vinha sofrendo com o futuro do
namoro bem antes do meu sermão, mas o que ouviu naquela manhã a levou
até o limite. Entretanto, o relacionamento era tão sério e de tanto tempo, que
ela se perguntava se não precisaria de um grupo de apoio para ajudá-la a
superar. Perguntei-lhe se conhecia alguma mulher cristã madura que pudesse
ajudá-la nesse tempo difícil; ela disse que não. Perguntei-lhe se participava de
alguma reunião de estudo bíblico ou de um pequeno grupo; ela não
participava. Perguntei-lhe, afinal, se estava frequentando alguma igreja; não
estava.
Passei trinta minutos com aquela moça. No fim dessa meia hora, tentei pensar
sobre a situação, a partir da minha perspectiva — a perspectiva de um pai
cuja filha é apenas alguns anos mais nova que aquela jovem mulher. De
imediato senti partir-se meu coração. Essa jovem com quem eu falava tinha
crescido na igreja. Vinha de uma boa família. Na verdade, sua família estava
tão comprometida com a filha e com seu futuro, que a enviaram para uma
universidade cara, particular, e cristã. Entretanto, apenas alguns anos depois
de sair de casa, ela não frequentava uma igreja, tinha investido dois anos em
um namoro com um rapaz que também tinha abandonado a igreja, e
desenvolvera uma visão de mundo que era tudo, menos bíblica.
O pior: esse não é um incidente isolado. De acordo com pesquisadores, de
70% a 88% dos adolescentes cristãos deixam a igreja no segundo ano de
faculdade.[2] Isso mesmo. O cristianismo norte-americano moderno tem uma
taxa de falha de oito (quase nove) em dez, quando se trata de criar filhos que
continuem na fé. Imagine a comoção entre os pais, se 90% de nossos filhos
ainda não tivessem aprendido a ler ao saírem do ensino médio. Não haveria
salas suficientes para conter todos os pais irados, em reuniões com a direção
de cada escola.
Embora sejam assustadores, esses números não deveriam nos surpreender.
Nos últimos anos, muitos pesquisadores têm descoberto que, em sua
esmagadora maioria, nossos adolescentes que ainda frequentam a igreja e se
identificam como cristãos têm um conjunto de crenças que contradizem ou
desmentem suas declarações. O pesquisador George Barna, por exemplo,
descobriu que 85% dos “adolescentes nascidos de novo” não acreditam na
existência de uma verdade absoluta.[3] Mais de 60% concordaram com a
afirmativa de que “não se pode saber nada com certeza, exceto as coisas que
você experimenta em sua própria vida”.[4] Mais da metade dos pesquisados
acreditava que Jesus pecou durante sua vida terrena!
Christian Smith e seu grupo de pesquisa na Universidade da Carolina do
Norte, em Chapel Hill, conduziram o maior estudo sobre religião entre
adolescentes, até hoje. Sua pesquisa foi publicada no livro Soul Searching
(Alma em Busca). O Estudo Nacional de Juventude e Religião descobriu que,
embora os adolescentes norte-americanos sejam muito religiosos, sua religião
é altamente ambígua. Essa ambiguidade se deve em grande parte à falta de
tempo e de atenção dedicados a assuntos espirituais quando comparados a
outras atividades. Smith nota:
Nossa pesquisa sugere que as igrejas estão perdendo para a escola e para a mídia,
em relação ao tempo e à atenção da juventude. Quando se trata da formação de vida
dos jovens, sob o ponto de vista sociológico, uma característica se destaca: as
comunidades de fé conseguem um pequeno lugar ao fundo, por um período muito
limitado de tempo. Em sua estrutura, o quadro de formação da juventude é
dominado por atores mais poderosos e chamativos. Dessa forma… a maioria dos
adolescentes conhece detalhes sobre personagens de televisão e pop stars, porém,
muitos são bem vagos quanto a Moisés e Jesus. A maioria dos jovens é bem
versada nos perigos de dirigir alcoolizado, AIDS, e drogas, porém, muitos não têm
uma noção das ideias centrais de sua própria tradição. A maioria dos pais com toda
clareza prioriza o dever de casa e os esportes sobre a presença na igreja ou em uma
reunião de mocidade.[5]
Como resultado, Smith e seu grupo de pesquisa descobriram que “a maioria
dos adolescentes americanos, pelo contrário, parece sustentar visões
abrangentes, pluralistas e individualistas sobre verdade religiosa, símbolos de
identidade e necessidade de ir à igreja”.[6] Em outras palavras, a cultura do
humanismo secular parece ter cooptado os adolescentes cristãos americanos.
Portanto, não devemos nos surpreender com jovens deixando a igreja aos
montes. Por que alguém permaneceria fiel a uma organização da qual
discorda amplamente? Como alguém permaneceria fiel a um sistema de
crenças que é relegado à periferia de sua vida? O problema não é que esses
filhos estejam abandonando o cristianismo. O problema é que a maioria
deles, na verdade, não é cristã! A partir disso, seu abandono faz total sentido.
O apóstolo João expressou isso melhor:
Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque,
se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia,
eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos
nossos. (1 João 2.19)
Percebo ter acabado de abrir uma caixa de Pandora, mas essa caixa precisava
ser aberta. E se os pais cristãos estiverem levando a vida, convencidos de
que seus filhos são regenerados, quando, na verdade, não o são? E se nossos
filhos e filhas estiverem apenas seguindo a corrente, enquanto passam a vida
como bodes entre ovelhas ou joio em meio ao trigo? E se aquela criança de
quatro ou cinco anos que batizamos porque foi capaz de encarar a
congregação e repetir as palavras “Jesus mora no meu coração” estava apenas
dizendo o que foi condicionada a dizer?
Infelizmente, isso está longe de ser uma raridade entre os cristãos, em nossa
cultura. A pesquisa de Thom Rainer entre os Batistas do Sul
(comprovadamente a denominação mais “evangélica” nos EUA) indica que
“quase metade de todos os membros de igreja podem não ser cristãos”.[7] Isso
não é preocupante apenas para igrejas da Convenção Batista do Sul — é
indicativo de um problema ainda maior. Milhares, se não milhões, de pessoas
têm sido manipuladas para fazer orações “repita comigo” e por apelos do tipo
“se você quiser ver novamente seus queridos que já faleceram…” — sem
revelar em suas vidas qualquer traço do poder regenerador do Espírito.
Meu objetivo aqui não é fazer os pais duvidarem da salvação de seus filhos.
Estou simplesmente tentando fazer soar um alarme desesperadamente
necessário. É como se nós, os pais cristãos nos EUA, tivéssemos sido levados
a dormir enquanto o ladrão vem para roubar, matar e destruir nossos filhos
bem debaixo de nossos narizes (veja João 10.10). Não escrevi este livro como
um especialista com todas as respostas. Sou apenas um ministro que viu essa
tendência alarmante por toda a década passada e um pai desejoso de ver sua
família tendo como característica uma fidelidade que atravesse gerações.
Duas faces da vida
Há duas faces em minha vida. Uma é pessoal, outra profissional. Por um lado
sou um pregador, um escritor, um presbítero em uma igreja local, e um
professor. Esse aspecto da minha vida é rico, pleno e recompensador. É o
espaço em que as pessoas me chamam de doutor e reverendo. É esse lado da
minha vida que me tem levado por todo o país, pregando, ensinando e
palestrando. É esse lado da minha vida que põe comida na mesa e me coloca
diante de multidões. Seria fácil para mim ser envolvido por esse lado
profissional. Entretanto, há outra face em mim, uma face mais importante.
Nessa face mais importante da minha vida é que carrego meus títulos mais
queridos — marido e pai. Não há nada neste mundo que signifique mais para
mim do que ser o marido de Bridget e o pai de Asher, Jasmine, Trey e Elijah.
Toda vez que digo isso, posso quase ouvir as pessoas pensando: “Sua relação
com Cristo não deveria significar mais para você que sua vida familiar?”
Creio que, em última análise, isso é verdade. Porém, é sobretudo na
convivência com minha família que minha caminhada com Jesus toma forma.
Uma coisa é eu ter um relacionamento pessoal com Jesus. Entretanto, se
gasto horas lendo a Bíblia, orando e investindo a maior parte do meu tempo
ministrando aos outros, enquanto negligencio meu papel como marido e pai,
meu relacionamento com Cristo é desequilibrado ou, pior, não é autêntico.
Meu relacionamento com minha esposa e meus filhos é que dá legitimidade à
minha caminhada com Cristo. Jesus deixou isso claro no Evangelho de
Mateus:
Entretanto, os fariseus, sabendo que ele fizera calar os saduceus,
reuniram-se em conselho. E um deles, intérprete da Lei,
experimentando-o, lhe perguntou: Mestre, qual é o grande
mandamento na Lei? Respondeu-lhe Jesus: AMARÁS O SENHOR,
TEU DEUS, DE TODO O TEU CORAÇÃO, DE TODA A TUA ALMA
E DE TODO O TEU ENTENDIMENTO. Este é o grande e primeiro
mandamento. O segundo, semelhante a este, é: AMARÁS O TEU
PRÓXIMO COMO A TI MESMO. Destes dois mandamentos dependem
toda a Lei e os Profetas. (Mateus 22.34-40)
Se minha esposa não se qualifica como meu próximo, então quem é o meu
próximo? Como eu poderia fazer uma defesa da integridade de minha
caminhada com Cristo, se não consigo amar meus próximos mais chegados?
João tem um argumento ainda melhor sobre isso:
Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora, está nas
trevas. Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não há
nenhum tropeço. Aquele, porém, que odeia a seu irmão está nas
trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as trevas
lhe cegaram os olhos. (1 João 2.9-11)
Aqui, outra vez a Bíblia deixa claro que meus relacionamentos terrenos são o
campo de prova para meu relacionamento celestial. Se amo a Deus, isso
ficará evidente em meu amor por meus irmãos e irmãs (sobretudo por aqueles
que vivem sob meu teto).
De fato, minha própria posição como ministro do Evangelho depende de
quão bem eu me conduzo como marido e pai. Embora existam muitas
qualidades que um ministro deva ter, há apenas duas habilidades requeridas
dos que ocupam uma posição de liderança pastoral. Primeiro, o pastor deve
ser apto a ensinar. Segundo, deve administrar bem sua casa (veja 1 Timóteo
3, Tito 1 e 1 Pedro 5). Em outras palavras: se não sou um bom marido, não
estou qualificado para liderar o povo de Deus. Mais que isso, se não tenho
um desempenho exemplar no esforço por criar meus filhos na disciplina e no
conselho do Senhor, nada tenho a ver com o pastoreio do rebanho de Deus.
“… pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja
de Deus?” (1 Timóteo 3.5).
É de se lamentar; porém, esse é um conceito estranho para a maioria dos
cristãos em nossa cultura. Muitas comissões encarregadas da procura de um
pastor para as igrejas em nenhum momento se importam em conhecer a
esposa e os filhos do candidato, quanto mais observá-lo em casa ou
questionar aqueles que lhe são próximos sobre como ele ensina a Palavra
para sua família; como os lidera no culto familiar; como disciplina, instrui, e
encoraja seus filhos; ou ama sua esposa.
Podem parecer assuntos independentes, mas garanto-lhes que estão
relacionados de modo absoluto. O fato de não mais exigirmos uma vida
familiar exemplar daqueles que nos lideram é um indicativo de que,
começando pela liderança, abandonamos a responsabilidade por essa questão.
De fato, o termo filho de pastor tornou-se um eufemismo para os filhos e
filhas mal-educados, rebeldes e negligenciados, de nossos líderes. Se nossos
líderes estão falhando como maridos e pais, que esperança há para o restante
de nossas famílias?
A jornada de um homem
Bridget e eu nos casamos no meu segundo ano de faculdade. Eu tinha
acabado de completar vinte anos. Na verdade, nem mesmo tinha carteira de
motorista. Lembro-me disso porque tive de obter uma, a fim de conseguir
uma autorização para o casamento. Éramos dois jovens iniciando uma
incrível jornada. Não tínhamos ideia de quão difíceis as coisas seriam, nem
percebíamos quão rápido nossas dificuldades começariam.
Quando iniciamos essa jornada, nós dois sabíamos que não teríamos muita
ajuda. Nem Bridget nem eu viemos de um contexto familiar ideal. Na
verdade, nas últimas duas gerações dos dois lados de nossa família houve
vinte e cinco casamentos e vinde e dois divórcios, fato que é ainda mais
assustador quando se vê que nosso casamento é um dos três que não
terminaram em divórcio. Não demorou muito para percebermos que
precisávamos procurar bons exemplos em outro lugar.
Em última análise, este livro é sobre nossa jornada. Eu fui de inexperiente
garoto de vinte anos, tentando descobrir como permanecer casado, a semi-
inexperiente veterano de 38 anos, endurecido na batalha, e pai de dois
adolescentes, de uma criança, e de outra chegando em breve. E nossa família
foi ricamente abençoada no processo. Tenho visto a diferença que observar
modelos bíblicos pode fazer. Presenciei Deus trazer outros jovens casais à
nossa porta em busca de conselho, devido às evidências em nossas vidas.
E o mais importante é que tenho visto Deus nos usar em nossa própria família
quando as pessoas ao nosso redor o veem trabalhar. Um dos maiores elogios
que já recebi (duas vezes) veio de duas das minhas primas mais novas. Em
duas discussões diferentes sobre casamento e família, as duas me disseram:
“Não quero simplesmente me casar — eu quero o que você e a Bridget têm”.
Fiquei surpreso! Quando olho para nossa família, minha tendência é olhar
para os defeitos, as áreas em que falhamos e precisamos melhorar. Entretanto,
algumas vezes Deus usa as pessoas próximas de mim para lembrar quão
longe ele nos tem levado.
Bridget e eu passamos alguns anos tentando descobrir como guardar três
compromissos. Primeiro, nos comprometemos a permanecer juntos e crescer
como casal. Segundo, nos comprometemos a investir em nossos filhos
visando a uma fidelidade que dure por gerações. Por último, nos
comprometemos a fazer o que for necessário para reproduzir esses dois
primeiros compromissos nas vidas de outros. Este livro é apenas um humilde
esforço por guardar o terceiro compromisso.
Uma família LCD em um mundo de telas tradicionais
Eu e minha família amamos filmes. Marcamos em nossas agendas a data da
estreia de um novo filme e fazemos o possível para estar no cinema no dia em
que o filme entra em cartaz. Também adoramos assistir a filmes em casa.
Nossa coleção de DVDs é bem grande. De fato, algumas vezes amigos
aparecem para pegar filmes nossos emprestados, em vez de ir até uma
locadora. Também temos muitos amigos e parentes que vêm de vez em
quando para uma Noite de Filmes.
Algumas vezes, entretanto, temos alguns problemas com nossos visitantes
menos versados em mídia. Há situações em que a Noite de Filmes
transforma-se em Noite de Brigas, quando discussões irrompem. Não estou
falando de debates sobre se devemos assistir a uma comédia ou a um drama;
nossas discussões são bem mais fundamentais que isso. Estou falando de um
temido debate sobre telas tradicionais ou telas de alta definição. Veja, somos
uma família de todo adepta das telas de alta definição — plasma ou LCD. Na
verdade, já devolvemos filmes à loja, depois de descobrir que sem perceber
havíamos adquirido uma versão de filme para telas tradicionais. Entretanto,
alguns de nossos amigos e parentes estão convencidos de que as faixas negras
em cima e embaixo da tela de plasma são indicadores de que se está perdendo
algum detalhe.[8]
O debate “tradicional contra LCD” mais intenso e mais demorado foi entre
mim e meu cunhado. Essa discussão levou anos! Além disso, o debate
persistiu mesmo depois de eu ter mais que provado meu argumento.
Um dia, eu e meu cunhado saímos com todos os nossos filhos, e decidimos
parar em nossa loja de eletrônicos. Como de costume, chegamos lá para
comprar um artigo; e voltamos com doze. Entretanto, enquanto eu e meus
filhos caminhávamos pela loja, nos perdemos do Tio Kevin. Por fim o
encontramos em frente às TVs de plasma, de tela grande, assistindo ao final
de um de seus filmes favoritos. Todos paramos lá, assistindo à cena da banda
no filme Ritmo Total, e Kevin disse duas coisas que deveriam ter encerrado
nosso debate, para sempre.
Primeiro, ele disse: “Eu nunca soube como era a formação do grupo”.
Enquanto assistia à apresentação da banda ao ar livre, no campo, ele
finalmente pôde ver que a formação do grupo resultava no número 2001.
Depois, acrescentou: “Agora entendo o que você quer dizer, quando fala que
estou perdendo um terço do filme”. Até que enfim! Depois de todos esses
anos, eu afinal convencera meu cunhado de que filmes em LCD apenas
parecem cortar parte do filme, mas, na realidade, é a versão tradicional que
engana os espectadores. Foi então que ele disse as palavras que continuam a
ressoar em minha mente. Em um momento de completa honestidade, ele
olhou para mim e falou: “Eu ainda não consigo suportar essas faixas pretas”.
Em outras palavras, mesmo que agora estivesse completamente ciente dos
benefícios dos filmes em alta definição, ele não queria deixar o mundo
tradicional. A essa altura, tudo que pude fazer foi balançar a cabeça e deixar
pra lá. Finalmente ele desistiu, e tenho orgulho em dizer que agora ele gosta
de filmes em LCD. Embora essa fosse uma discussão fútil, entre dois homens
bem obstinados, ela ilustra o poder da percepção e o perigo de não questionar
o status quo.
Em junho de 2004, Bill O’Reilly entrevistou a autora de um novo livro,
Home Invasion (Invasão do Lar). A autora, Rebecca Hagelin, era uma mãe de
três filhos que tinha uma visão bem restrita sobre o consumo de mídia e o
entretenimento de seus filhos. O’Reilly perguntou à escritora se seu filho de
dezessete anos assistia à MTV. Para sua surpresa, a resposta foi não. Em
seguida, ela explicou que, como resultado dos fundamentos morais que ela e
seu marido plantaram na vida das crianças, seu filho não tinha vontade de
consumir coisas desse tipo. Nesse momento, O’Reilly estava de todo
desconcertado. Ele fez vários comentários jocosos, mas sua mensagem básica
era: “Você tem sorte de ter filhos que querem ficar longe dessas bobagens”.
Em certo ponto, ele disse: “Eu deveria ter fugido disso”.
Não estou argumentando que Bill O’Reilly seja um padrão para a criação de
filhos. Entretanto, essa visão coincide muito com a visão que tenho escutado
de muitos pais cristãos. Não consigo contar quantas vezes eu e minha esposa
ouvimos que estamos oprimindo nossos filhos porque eles só podem assistir a
quatro horas de televisão por semana ( a média nacional tem sido entre quatro
horas e meia e cinco horas por dia) ou porque minha filha de quinze anos não
pode namorar. É inevitável ouvirmos o argumento evasivo: “Quando forem
para a faculdade, eles irão à loucura!” É curioso, porém nenhum daqueles
“malucos” de que me lembro nos meus anos universitários era iniciante.
Nenhum deles foi fundo na imoralidade depois de ter levado uma vida casta
em casa. Muitos deles apenas foram além da devassidão que anteriormente já
lhes havia sido permitido experimentar.
Há uma questão maior aqui. A questão não é se nossos filhos pecarão ou não,
mais tarde. A questão é Temos uma obrigação bíblica de treiná-los antes de
eles deixarem o lar? Há alguma validação bíblica para a ideia de que pais
cristãos deveriam permitir que seus filhos experimentem a impiedade?
Muitas famílias têm sido ludibriadas pelo que chamo de uma visão limitada
da criação de filhos (como na tela que esconde parte da imagem).
Observamos o mandato bíblico e o comparamos com as normas da sociedade,
e parece que algo está faltando. Em geral temos acreditado que, de alguma
forma, estamos privando nossos filhos de experiências que os farão mais
queridos, mais respeitados, mais normais. Com isso, temos trocado o padrão
bíblico por uma norma cultural que oscila um pouco abaixo da mediocridade.
De uma hora para outra, nossos desejos para nossos filhos mudaram. Agora,
tudo o que desejamos para eles é o que “todo pai” deseja para seus filhos.
O resultado é uma geração sobre quem Christian Smith escreveu: “A religião
parece ter se tornado uma pequena parte e tem sido desvalorizada nas vidas e
experiências da maioria dos adolescentes americanos”.[9] Essa redução do
espaço dado à religião é de todo compreensível à luz da importância mínima
dada aos assuntos espirituais. Smith explica:
Isso não surpreende. Simplesmente reflete o fato de que há muito pouco conteúdo
ou compromisso religioso incorporado à estrutura de tarefas e rotinas diárias da
maioria dos adolescentes norte-americanos. A vida desses jovens é dominada por
escola… e… lição de casa.[10]
Ele continua:
Muitos estão envolvidos com esportes e outras atividades. A maioria dos
adolescentes também gasta muito tempo com amigos, apenas para se encontrar ou
fazer coisas como passear pelo shopping ou jogar boliche. Além disso, a maioria
dos adolescentes gasta grande parte da vida assistindo a televisão e a filmes;
enviando e-mails ou conversando em chats com amigos; ouvindo música; e
consumindo outras mídias eletrônicas. Também, namorados e namoradas às vezes
consomem muito da atenção e do tempo dos adolescentes.[11]
Parece haver alguns interesses que consideramos mais importantes para
nossos filhos do que crescer na graça. Vamos analisar três deles.
Vencer na vida
Pergunte aos pais o que eles mais querem para seus filhos e é provável que
você consiga uma única resposta, sejam esses pais cristãos ou incrédulos
comuns. Eles por certo dirão: “Quero que meus filhos tenham uma boa
educação”. Na verdade, foi exatamente o que George Barna descobriu,
quando entrevistou pais cristãos e não cristãos. O objetivo de número um que
eles tinham para seus filhos é que conseguissem uma boa educação.[12]
Não estou sugerindo que haja algo de errado em se dar ênfase à educação de
nossos filhos. Pelo contrário, eu e minha esposa somos fanáticos quando se
trata da educação de nossos filhos. Entretanto, a educação deles não é nosso
alvo principal. Nosso objetivo principal para nossos filhos é que eles andem
com o Senhor. Porém, o estudo mencionado acima concluiu que apenas
metade dos pais (cristãos ou não) considerava um relacionamento de seus
filhos com Cristo tão importante quanto a educação deles.[13]
Esse é um exemplo típico de uma visão tradicional e limitada da criação de
filhos. A visão limitada do mundo diz que a coisa mais importante que se
pode fazer é tirar boas notas, entrar em uma boa faculdade (leia-se:
prestigiosa, de alto nível), concluir os estudos, e conseguir um bom emprego,
a fim de se ganhar mais dinheiro do que mamãe e papai conseguiram. Que
visão limitada do que é realmente importante! Há mais na vida do que
alcançar sucesso.
Ser escalado
Outro assunto relacionado a uma visão limitada encontra-se na sempre
popular área dos esportes. Há não muito tempo, tive o privilégio de
compartilhar meu ponto de vista sobre criação bíblica de filhos, em diversas
aulas, em um dos maiores seminários do mundo. Uma das questões que os
alunos acharam mais intrigante foi o fato de eu e minha esposa ministrarmos
aulas a nossos filhos, em nossa própria casa (mais sobre homeschooling
adiante). Muitos alunos me fizeram a mesma pergunta: “E quanto aos
esportes?” A curiosidade deles aumentou quando respondi: “Quem se
importa?” Eles não sabiam se eu estava provocando ou se apenas tinha
perdido a razão. Era inevitável que continuassem: “Como seus filhos
aprendem sobre trabalho em equipe e espírito esportivo?” ou “Como seus
filhos aprenderão a ser competitivos?” A essa altura, respondi a questão,
devolvendo outra pergunta. “Como Thomas Jefferson, Benjamim Franklin ou
George Washington aprenderam essas coisas?” Ou melhor, uma vez que
Jesus é nosso modelo principal de vigor ou força cristã, como ele aprendeu
essas coisas? Jesus jogou em equipes mirins?
Não estou tentando dizer que é sempre errado que crianças pratiquem
esportes organizados. Meu argumento é só este: fazer parte de um time
organizado e itinerante, de beisebol, aos dez anos, não acrescenta um dia
sequer à vida de ninguém. De fato, muitas dessas atividades impedem outras
atividades mais elevadas. Por toda a história conhecida, em sua maioria, as
pessoas transformaram garotos em homens, e meninas em mulheres, sem
carregá-los por toda a cidade com suas línguas pra fora, num esforço de
acompanhar seus colegas sempre em busca de superação — porém, sem
instrução e teologicamente analfabetos — enquanto tentam ganhar troféus
que no final juntarão poeira em algum porão.
Se ensino meu filho a manter os olhos na bola, mas falho em ensiná-lo a
manter os olhos em Cristo, falhei como pai. Devemos nos recusar a permitir
que atividades triviais e temporais interfiram no mais importante. Ser
escolhido para o time principal e escalado para o jogo é uma conquista
tremenda; entretanto, deve ser colocado numa perspectiva adequada. Nenhum
esforço esportivo será jamais tão importante quanto tornar-se um homem ou
uma mulher de Deus.
Fazendo hora
Certa tarde de segunda-feira, há alguns anos, eu tinha marcado de encontrar-
me com um grande grupo de uma proeminente igreja de Houston. Já havia
pregado naquela igreja muitas vezes antes, portanto, não era desconhecido
dos membros da congregação. Quando entrei no prédio, um cavalheiro
aproximou-se de mim e perguntou se eu precisava de ajuda para carregar
alguns livros e fitas que havia trazido comigo. Agradeci a gentileza e
alegremente aceitei sua oferta.
Assim que o homem pegou uma caixa sob os braços, ele a entregou a um
jovem musculoso, a quem me apresentou como seu futuro “genro”. De
imediato, me surpreendi pela aparência infantil do rapaz. Nessa época, o
jovem tinha quinze anos. Momentos depois, uma garota de treze anos
apareceu, e ele a apresentou como sua filha e a “namorada” do rapaz. Foi
necessário todo o controle que eu tinha para não gritar: “O que você está
pensando?” Queria perguntar àquele homem se ele tinha alguma ideia do que
significava para um pai proteger a pureza de sua filha. Queria perguntar-lhe
se ele tinha alguma ideia de quanta pressão colocava sobre aqueles dois
adolescentes, ao andar por aí falando sobre um casamento iminente entre
eles. Muito mais que isso, queria dar-lhe uma chave de braço e… bem,
voltando ao assunto.
O namoro moderno nos EUA nada mais é que um bem aceito treinamento
para o divórcio. Jovens estão aprendendo como entregar-se em um
relacionamento (às vezes sexual) exclusivo, romântico e de alto
compromisso, somente para terminar e começar tudo de novo. Deus nunca
teve a intenção de que seus filhos vivessem assim. E em vez de intervir e
tomar uma atitude, muitos pais cristãos simplesmente veem esse tipo de
relacionamento como fase normal e necessária do crescimento. A não ser que
seu filho seja mais sábio que Salomão, mais forte que Sansão e mais piedoso
que Davi (todos cometeram pecado sexual), eles são suscetíveis ao pecado
sexual, e esses relacionamentos prematuros servem como um convite aberto.
Quero que meus filhos cresçam e encontrem companheiros. Mal posso
esperar para levar minha filha ao altar. Mal posso esperar para ver cada um
dos meus filhos saindo para comprar alianças para uma pessoa especial.
Entretanto, neste momento, há coisas mais importantes na vida. Além disso,
envolver-se dessa maneira em relacionamentos exclusivos antes que se esteja
pronto para casar é como ir ao shopping sem dinheiro; ou você sai frustrado,
ou você pega alguma coisa que não lhe pertence.
Ser escalado, vencer na vida, fazer hora — todas essas coisas são boas em
seu contexto apropriado. O problema é que elas têm substituído interesses
mais importantes. Em vez de batalhar por piedade e fidelidade geração após
geração, muitos cristãos têm decidido apenas “se virar”. Infelizmente, nossos
filhos estão pagando o preço. Há, entretanto, um caminho superior. A Palavra
de Deus nos deu um mapa a seguir.
A cultura anticasamento
Outra área da qual tendemos a ter uma visão limitada é a do casamento. A
edição de janeiro de 2005 da revista Time trouxe um artigo sobre o fato
constatado, em nossa cultura, de se estender a adolescência pela idade jovem,
anos a fora. Jovens adultos nos Estados Unidos vêm agindo mais e mais
como crianças, a cada dia. Deixam suas casas para cursar a faculdade, para
voltar após a formatura, geralmente sem emprego. Eles também estão se
casando mais tarde.
R. Albert Mohler, presidente do Seminário Teológico Batista do Sul, em
Louisville, desencadeou uma tempestade, em agosto de 2005, quando disse a
sua audiência pelo rádio: “Acho que o pecado que ameaça esta geração… é o
pecado de postergar o casamento como opção de estilo de vida. Tem sido a
opção dos que pretendem um dia casar-se, mas simplesmente ainda não o
fizeram”.[14] Numerosos órgãos de comunicação divulgaram os comentários
de Mohler, o que, parece, enfureceu muitos cristãos. Entretanto, acredito que
Mohler percebeu algo importante.
Quando viajo pelo país, fico admirado com o número de rapazes inclinados
ao ministério pastoral, inteligentes, que amam a Cristo, carregam a Bíblia,
mas que, ao mesmo tempo, se recusam em absoluto a crescer e arrumar uma
esposa! É como se tivessem descoberto um novo livro da Bíblia (suponho
eu, chamado 2Hesitações) que ensina: “Não te casarás antes da formatura, a
não ser que tenhas um salário de classe média e uma boa aposentadoria”. A
única coisa pior que isso é olhar nos olhos das várias moças que me
perguntam como elas têm de agir para fazer esses caras crescerem e casarem-
se com elas.
Talvez o aumento exponencial da taxa de divórcios é que tenha feito rapazes
e moças afastarem-se do casamento. Ou talvez tenham sido os casamentos
ruins que eles testemunharam enquanto cresciam. Ou poderia também ser que
o custo de vida é que tenha aumentado tanto, que alguém precise de um
salário bem mais alto, para sustentar uma esposa. Entretanto, se você me
perguntar, creio que a resposta não é nenhuma das anteriores. Os jovens que
encontrei na verdade acreditavam que houvesse por aí experiências que eles
precisavam ter antes de navegar pelo profundo, sombrio e opressivo mundo
do casamento. Para alguns, seria viajar para a Europa ou para a África.
Outros querem primeiro passar um tempo no campo missionário. Há também
outros que pensam que há alguma idade mágica em que alguém
automaticamente se torna “pronto” para o casamento. Qualquer que seja o
caso, está bem distante da recomendação bíblica. “O que acha uma esposa
acha o bem e alcançou a benevolência do SENHOR” (Provérbios 18.22).
A cultura antifilhos
Com frequência, tenho o privilégio de pregar para estudantes universitários.
Digo privilégio porque definitivamente amo o desafio e o potencial inerentes
a cada um desses encontros. Fico empolgado com a possibilidade de Deus me
usar para falar a um jovem ou uma jovem cuja situação na vida lhe dá a
liberdade de dizer: “Claro, Senhor, por que não?” Onde mais um pregador
pode trazer uma mensagem sobre missões e ver alguém se aproximando no
fim para dizer: “Eu precisava ouvir isso” ou “Tenho pensado se devo ou não
ir para a Europa Oriental no próximo ano e acho que encontrei a resposta”?
Entretanto, tenho descoberto um desafio que os universitários cristãos de
hoje de modo geral não estão dispostos a encarar — é o desafio de criar
filhos.
Uma passagem que gosto de compartilhar com universitários é Atos 1.6-8. O
resumo da minha mensagem é simples: Deus tem um propósito que é maior
que você. Deus tem um plano que inclui você. Deus tem um lugar adequado
a você. De modo geral, a reação é bem positiva. Isto é… até que começo a
aplicar o último ponto.
Direciono a atenção dos estudantes para o versículo 8, em que Jesus diz “…
mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos
confins da terra”. Mostro que nem todos os que ouviram Jesus chegaram aos
confins da terra. Na verdade, muitos deles nem chegaram a Samaria. O
argumento, claro, é que nem toda pessoa é chamada para um mesmo tipo ou
local de ministério. Continuo a aplicar essa verdade à vida dos estudantes,
sugerindo que cada um deles tem um local de ministério em que se encaixaria
em cada detalhe, à perfeição, e que descobrir esse lugar deveria ser a busca
mais apaixonada de suas vidas. Soa inofensivo o bastante, certo?
Há muitos meses, eu estava ensinando isso em um retiro de uma igreja bem
acomodada e a salvo no Cinturão Bíblico.[15] Durante esse retiro, sugeri que,
para alguns dos universitários ali presentes, a aplicação desse princípio
bíblico talvez significasse formar-se em linguística e traduzir a Bíblia para os
idiomas de povos não alcançados. Olhei para os grandes olhos de aprovação e
as cabeças balançando positivamente pelo salão, e acrescentei: “Outros de
vocês, no entanto, poderão ser chamados para ter grandes famílias e treinar
seus cinco ou seis filhos na justiça, a fim de que eles, por sua vez, impactem
o mundo para Cristo”. Você poderia cortar a tensão com uma faca. Aquele
salão cheio de moços e moças animados, cordatos e aprobativos,
transformou-se numa convenção de marcianos ouvindo alguém falar inglês
pela primeira vez. Eles olharam para mim como se dissessem: “Ok, essa foi
boa. Quando é que você vai dizer ‘Era só uma brincadeirinha’?”
Aproveitei a oportunidade para fazer uma observação importante. Destaquei
o desconforto óbvio na sala e perguntei: “Quando foi que começamos a odiar
filhos?” De súbito, a atitude no salão mudou. Aqueles jovens foram forçados
a considerar um pressuposto secular ao qual, por muito tempo, temos
permitido que abafe, em nossa cultura, uma verdade bíblica. De novo é
Mohler quem analisa essa nossa cultura: “Os cristãos devem reconhecer que a
rebelião contra a criação de filhos representa nada mais que uma absoluta
revolta contra o padrão de Deus”.[16]
A ideia de que maternidade, paternidade, e família, não são tão respeitáveis
quanto uma carreira de sucesso ou posições ministeriais chamativas é
biblicamente ignorante, na melhor das hipóteses; e gravemente herética, na
pior. Essa atitude tem se manifestado de várias formas nos anos recentes,
tanto dentro quanto fora da igreja. Na verdade, foi essa atitude que me levou
e a minha esposa à decisão mais dolorosa de nossas vidas.
Bridget e eu tivemos nosso primeiro bebê dez meses depois de nos casarmos.
Nosso segundo filho veio três anos depois. Durante esses três anos, ouvimos
todas as pessoas em nossas vidas naquela época dizerem que ter nosso
primeiro filho tão cedo era um erro (daí o espaço de três anos). Também
fomos informados de que se nosso segundo filho fosse um garoto (a primeira
foi uma menina), teríamos uma “pequena família perfeita”.
Depois que Bridget engravidou de nosso filho, começou a pressão.
Incontáveis pessoas com boas intenções estavam sussurrando no ouvido dela.
Alguns avisaram: “Garota, é melhor você não se complicar com um monte de
filhos”. Outros tentaram ser mais diplomáticos e simplesmente destacaram o
quanto o custo da faculdade subiu, ou o preço dos mantimentos. Infelizmente,
as vozes em nossos ouvidos silenciaram a voz de Deus. Quando Trey nasceu,
contratamos um médico para ser nosso porta-voz diante de Deus. Ele pegou
seu bisturi e suturas, e disse a Deus: “Os Bauchams por meio disto declaram
que não mais confiam, nem o recebem nessa área de suas vidas”.
Muitos anos depois, minha esposa ajoelhou-se diante de mim com lágrimas
nos olhos e me perguntou duas coisas. Primeiro, ela me perguntou se eu
poderia perdoá-la por fechar seu ventre. Segundo, ela me perguntou se
estaria tudo bem se ela tivesse o procedimento revertido. Eu estava chocado.
Não pude conter as lágrimas, enquanto dizia a ela como errara, acomodando-
me e permitindo que aquilo tivesse acontecido, e como ficaria feliz se
pudesse corrigir.
Consultamos um especialista na semana seguinte. Infelizmente, descobrimos
que o que os médicos fizeram não poderia ser revertido. Eu queria sumir.
Queria voltar no tempo, segurar minha versão de 23 anos pelo pescoço e
dizer: “Nem mesmo ouse permitir que isso aconteça!” Foi nesse momento
que decidimos aumentar nossa família, pela adoção. Enquanto escrevo, já
temos um filho adotado e estamos de prontidão para a chegada, a qualquer
momento, do bebê de número quatro. Não podemos voltar atrás e desfazer o
que fizemos. Entretanto, podemos gritar em alto e bom som, até que todos
que nos ouçam saibam que filhos são uma bênção e que só Deus abre e fecha
o ventre. Devemos receber filhos com alegria em vez de lamentar seu
nascimento.
Quantos filhos vocês têm?
Os Johnsons são um casal cristão, amável e comprometido, nos seus trinta
anos. São ativos em sua igreja e na comunidade. Também levam bem a sério
sua responsabilidade como pais. Seus filhos estão entre os mais inteligentes e
bem comportados que já conheci. Entretanto, um dia os Johnsons se
encontraram envolvidos em uma controvérsia eclesiástica. O que esse
piedoso casal cristão tinha feito? Eles estavam grávidos… de novo!
Os Johnsons tinham cinco crianças pequenas, quando entraram para a classe
de jovens casais, na Escola Dominical. No começo, eles davam pouca
atenção às observações jocosas de seus colegas de classe. Como todo casal
com cinco filhos, estavam acostumados ao típico “Você dois não têm uma
TV?” e “Ainda não descobriram como parar isso?” Na verdade, eles apenas
consideravam uma diversão inocente. Entretanto, quando anunciaram que
estavam grávidos novamente — e, desta vez, de gêmeos — os comentários
pioraram.
De repente, os colegas da classe da Escola Bíblica começaram a questionar a
sabedoria, a responsabilidade, e a sanidade deles. O problema foi tão longe
que um dos pastores teve de ser chamado para tratar a situação. Quando
pressionados a apresentar uma base bíblica para sua fúria em relação ao
tamanho da família Johnson, os membros ofendidos apenas disseram: “Se
Deus quisesse que tivéssemos tantos filhos, não teria nos dado o controle de
natalidade”. Um senhor que frequentava a classe perguntou: “Como eles vão
conseguir enviar essa quantidade de filhos para a faculdade?” Uma jovem,
observando a situação como uma ocupada mãe de dois, acrescentou: “Eu sei
quanto trabalho dá o ser mãe , e simplesmente acho que é falta de
consideração dele sobrecarregar tanto a mulher”.
O tamanho de nossas famílias tornou-se uma questão de salário e
conveniência. Nossa atitude em relação a filhos é: “Um garoto para mim e
uma garota para você, então, glória a Deus, nós encerramos!” Estou perplexo
com a quantidade de pessoas que conheço, que vivem em casas de duzentos
metros quadrados, com dois carros na garagem, as quais argumentam que só
“têm condições” para um ou dois filhos. Assustador! Nossos antepassados
criaram, com sucesso, lares cheios de crianças, em casas que hoje
consideraríamos, na melhor das hipóteses, simples. Porém, nós não temos
condições.
Antes que você jogue o livro fora (ou tenha um ataque cardíaco), não estou
sugerindo que todo mundo deva ter sete filhos. Creio que podem existir
razões legítimas para limitar o tamanho da família. Entretanto, só conheci um
punhado de gente cuja família teve seu tamanho limitado por uma dessas
razões legítimas. Normalmente, o que encontro são pessoas que pararam de
ter filhos porque conseguiram um menino e uma menina, logo, eles são “a
pequena família perfeita”. Ou então conheço pessoas que calcularam (e
superestimaram) o custo da faculdade dos filhos, das férias anuais e da
aposentadoria precoce, e perceberam que 1,9 filhos é seu limite. Também
conheci pessoas cujos filhos são indisciplinados, mal-educados, e fora de
controle, portanto, esses pais acham muito estressante ter mais filhos. Raro é
o casal que sai do consultório médico com uma legítima advertência contra
uma nova gravidez.
Uma nova lição de uma antiga fonte
Deus não nos deixou vagando sem rumo por um deserto, enquanto criamos
nossos filhos. Ele nos deu um plano para alcançar a fidelidade em família,
geração após geração. Esse plano está expresso por toda a Bíblia, porém, há
um lugar em que ele se parece com um manual de instruções. Esse lugar é
Deuteronômio 6.
Devo admitir que nem sempre gostei do livro de Deuteronômio. Na verdade,
quando o li pela primeira vez, não gostei muito. Parecia que o Deus a quem
aprendi a conhecer e amar nos Evangelhos e nas epístolas do Novo
Testamento estava ausente no livro de Deuteronômio. Lembro-me do meu
assombro quando percebi pela primeira vez que a Lei Mosaica defendia o
apedrejamento em caso de desobediência e quebra da Lei. Também me senti
desconcertado pelo que considerei leis e regulamentos arcaicos.
Tudo isso mudou quando aprendi quão importante é o livro de Deuteronômio
na estrutura geral da Bíblia. Além disso, fiquei maravilhado com a frequência
com que Jesus citava Deuteronômio e outro livro a ele relacionado, Levítico.
No final, comecei a amar esse livro da Lei. Minha apreciação por sua
relevância em minha vida cotidiana tem crescido também. Isso mesmo! Eu
disse que Deuteronômio é relevante hoje! Muito de sua relevância, entretanto,
está perdida para aqueles de nós que não estão dispostos a progredir em
nossas tentativas de ler, entender e apreciar o Antigo Testamento.
Pense sobre isto — Moisés senta-se e examina a situação. Israel está no
limiar de uma ocasião monumental. Estão prestes a possuir a “Terra
Prometida”. Tinham tido uma oportunidade quarenta anos antes, mas não
quiseram crer que Deus venceria os habitantes de Canaã. Apenas duas vozes
solitárias, Josué e Calebe, distinguiram-se da multidão assim que Calebe
dissera: “Eia! Subamos e possuamos a terra, porque, certamente,
prevaleceremos contra ela” (Números 13.30). Entretanto, o povo ficara do
lado dos pessimistas e não seguira adiante.
Agora, quarenta anos depois, Israel novamente está próximo de possuir a
Terra Prometida, e Moisés, como grande líder que é, decide dar-lhes algumas
instruções finais. Assim, coloca-se diante do povo para, de novo, entregar a
Lei. Portanto, o livro leva o nome de Deuteronômio (deutero = repetir; nomos
= lei), uma reafirmação da Lei.
O que você diria para um grupo de crentes prestes a entrar em uma terra
ocupada por pagãos? O que você diria ao fiel, se soubesse que a fé desse
homem ou mulher seria desafiada a cada momento? O que você diria a um
grupo de pessoas sobre quem pesa o fardo de levar e representar a mensagem
pactual de Deus? Moisés sabia exatamente o que dizer. Ele lhes deu a Palavra
de Deus. Essa palavra ecoa pelos salões da história e ainda ressoa hoje.
É muito sério: você e eu precisamos das palavras de desafio de Moisés. Você
e eu vivemos em uma época e em uma cultura que vem dilacerando a
comunidade cristã. Quantos de nós olhamos para nossos filhos e filhas
adolescentes e sabemos que eles não estão conosco? Quantos de nós nos
deitamos à noite e sabemos que, assim que nossos filhos deixarem o lar,
provavelmente também deixarão a fé? Todas as estatísticas apontam para
filhos abandonando a fé, quando forem para a faculdade; porém, minha
experiência e minhas conversas com pais cristãos me levam a acreditar que o
problema manifesta-se bem mais cedo.
Com frequência, após um sermão, sou abordado por uma mãe tentando conter
as lágrimas, enquanto me pergunta: “O que posso fazer?” Essas mulheres
querem saber como intervir na vida de seus adolescentes que estão deixando
a fé. Com frequência também, sou abordado por pais que meneiam suas
cabeças, enquanto dizem: “Eu queria ter ouvido isso vinte anos atrás”. De
minha parte, procuro confortá-los, enquanto os encorajo a tentar um
investimento em seus netos.
Não muito tempo atrás, um pai me parou depois que compartilhei uma
mensagem sobre fidelidade através de gerações e me disse: “Espere um
pouco”. Ele juntou toda a sua família, admitiu ter falhado em viver segundo o
mandato bíblico, e me pediu para orar por ele ali mesmo. Outro senhor se
aproximou de mim após a mensagem, segurou meus ombros, e chorou
enquanto implorava: “Diga-me que não é tarde”. Em outra ocasião, a mãe de
uma adolescente rebelde, que tinha crescido na igreja, segurou as minhas
mãos e disse: “Por favor, ore por minha filha; ela saiu de casa e não sei onde
está”. Sempre e sempre sou lembrado de quão alto é o preço nessa batalha.
Não estamos falando sobre filhos tirando notas ruins ou tendo problemas com
a lei. Estamos falando de rapazes e moças virando suas costas para a fé de
seus pais, e pior, para o próprio Deus.
Não sei se este livro responderá a todas as suas perguntas ou tratará de todas
as suas questões, mas prometo-lhe isto: vou mostrar-lhe como entrar na
batalha. Alguma coisa deve ser feita. Não podemos ficar parados, enquanto,
aos montes, nossos filhos deixam a fé. Não podemos simplesmente menear
nossas cabeças e aceitar a derrota. Devemos lutar por nossos filhos e filhas.
Noutro dia, eu observava minha filha adolescente enquanto caminhávamos
pelo shopping. De súbito, percebi-me chocado, pensando em quanto tempo
havíamos nós dois passado juntos, comparando-se com o tempo que ainda
nos restava. Eu simplesmente clamei ao Senhor e orei: Senhor, ajuda-me a
usar no máximo o tempo.
Há muitos objetivos honrados para este mundo, mas poucos deles chegam ao
nível da honra de treinar nossos filhos para seguirem o Senhor e guardarem
seus mandamentos. É sério e muito forte o meu desejo de que meus filhos e
filhas caminhem com Deus. E estou disposto a fazer o que for necessário, o
que a Bíblia disser que devo fazer, a fim de ser usado por Deus como veículo
para alcançar esse objetivo. Minha oração é que Deus desperte em você essa
mesma paixão. Algo me diz que ele já fez isso.
2. UM DEUS SEM RIVAIS

Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR.


Deuteronômio 6.4

Quando me casei, eu sabia que meus dias de “O Cara do Campus” estavam


encerrados. Não me iludi quanto a manter relacionamentos com outras
mulheres e ainda esperar que a ligação entre mim e minha esposa se
fortalecesse. Aliás, se você é um daqueles homens que acredita que Deus fez
homens e mulheres com a capacidade de serem “apenas amigos” e que sua
esposa deveria ser mais compreensiva quanto a seus relacionamentos
platônicos com outras mulheres, tenho uma notícia urgente: Platão está
prestes a arruinar seu casamento!
Eu pensava que tivesse tudo sob controle. Minha agendinha preta levara um
fim; meu número de telefone tinha sido mudado; eu tinha cuidado de quase
tudo. E, então, aconteceu! Minha esposa decidiu mexer em um baú fechado
onde eu guardava alguns papéis antigos. Bridget e eu olhamos o baú juntos
enquanto eu contava a ela a história por trás de cada item. Havia cartas de
convocação, recortes de jornais, e medalhas dos meus dias de atleta no ensino
médio. Havia alguns guias mais recentes sobre jogos de futebol americano na
faculdade. E então, debaixo de todas as memórias, enfiado no fundo do baú,
estavam várias cartas de antigas namoradas. Quem é Tracy? O que você tem
para me dizer sobre Jill? E minha vida passou diante dos meus olhos. Tudo o
que eu podia dizer era: “Você sabe que essa arca não é aberta desde muito
antes de nos casarmos!”
Com frequência voltamos a essa noite e rimos. Porém, naquele momento, não
foi muito engraçado. Era como se estranhos indesejáveis e inconvenientes
tivessem invadido nossa casa. De certa forma, o território da minha esposa
tinha sido invadido. Não consigo imaginar o que poderia ter acontecido se eu
tivesse mais que cartas antigas. E se fosse uma ex-namorada aparecendo em
casa? E se eu tivesse um caso?
Um caso da alma
Embora possamos todos compreender a natureza grave de um caso
extraconjugal, normalmente falhamos em perceber que um compromisso com
os rivais espirituais de Deus não é diferente. Uma chef em um recente
programa de culinária ilustrou a falta de cuidado da qual muitos de nós somos
culpados. Ela tinha assado alguns bolinhos e já estava quase retirando-os da
forma. Ela soltou os bolos das paredes da forma, virou-a, bateu-lhe no fundo,
a fim de soltar de vez os bolos, e então fez uma pequena oração. “Senhor, por
favor, não deixe que eles grudem”, disse, enquanto olhava para o céu. Então,
removeu a forma com sucesso, revelando bolinhos perfeitos (e desgrudados).
Ela passou as costas da mão na testa e disse: “Ótimo, um pouco de karma
bom”.
Essa mulher não estava tentando declarar aliança tanto com o Senhor da
Bíblia quanto com as deidades hinduístas/budistas do movimento Nova Era.
Entretanto, foi exatamente o que ela fez. Imagine se ela tivesse feito a mesma
coisa com seu marido. Você pode imaginar. “Felipe, por favor, solte esses
bolinhos”. O Felipe cumpre a tarefa sem um único bolo grudado, e então ela
olha para a foto de seu ex-namorado, Daniel, e diz: “Obrigado, Daniel, eles
saíram sem problemas!” Se você acha que isso é um exagero, você precisa
reconsiderar o que a Bíblia diz sobre o cuidado zeloso de Deus por seu nome
e sua glória:
… (porque não adorarás outro deus; pois o nome do SENHOR é
Zeloso; sim, Deus zeloso é ele); para que não faças aliança com os
moradores da terra; não suceda que, em se prostituindo eles com os
deuses e lhes sacrificando, alguém te convide, e comas dos seus
sacrifícios e tomes mulheres das suas filhas para os teus filhos, e suas
filhas, prostituindo-se com seus deuses, façam que também os teus
filhos se prostituam com seus deuses. (Êxodo 34.14-16, ênfase
acrescentada)
Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de
escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem
embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás,
nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus
zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e
quarta geração daqueles que me aborrecem. (Êxodo 20.3-5, ênfase
acrescentada)
Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a
darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura. (Isaías
42.8)
Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; porque como
seria profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outrem.
(Isaías 48.11)
Você não pode ler esses versículos e ter uma atitude leviana sobre a glória de
Deus. Deus é zeloso quanto a seu nome e sua glória. Ele não está satisfeito
em ser E Pluribus Unum.[17] Deus é Deus. Ele não está concorrendo para o
cargo de Deus e não precisa do seu voto (ou do meu). Ele era o único quando
os votos foram contados e jamais haverá recontagem. Deus é Deus.
Uma família sem compromisso com o Deus da Bíblia não tem esperança de
escapar das ondas do massacre cultural. Se misturarmos um pouco de
verdade bíblica, um pouco de psicologia secular, um pouco de ideologia dos
livros românticos e um pouco de misticismo oriental, teremos uma mistura
mortal de mentiras. Infelizmente, isso é exatamente o que muitas famílias
cristãs fazem. Vivemos o casamento de acordo com o Dr. Phil, criamos
nossos filhos de acordo com o Dr. Spock, governamos nossas vidas sexuais
de acordo com a Dra. Ruth, e só vamos atrás do Dr. Jesus, quando as coisas
ficaram tão ruins que não conseguimos encontrar outro médico para nos
ajudar.[18]
A história de Thomas[19]
Não muito tempo atrás, estive com um pai pesaroso. Ele não estava assim
porque seu filho tivesse morrido, mas por um fato potencialmente bem pior.
Thomas, seu filho, tinha crescido na igreja. Era um bom garoto. Estava
sempre presente nas reuniões de mocidade, namorou uma garota da igreja,
participava dos fins de semana promovidos pela Disciple Now[20] [Discípulo
Agora], de acampamentos da juventude, e da YEC (uma missão batista para a
juventude), e chegou a participar de uma viagem missionária no segundo ano
do ensino médio.
Entretanto, quando Thomas foi para a faculdade, as coisas mudaram. Seus
pais tinham ouvido sobre os perigos de instituições “seculares”, então o
enviaram para uma universidade cristã. Ele era um excelente atleta e tinha
conseguido uma bolsa jogando beisebol. A história de Thomas não era
apenas típica — era excepcional. Ele tinha realizado tudo o que pais cristãos
desejam para seus filhos — notas boas, bons amigos, atividade na igreja,
popularidade, e foi para a faculdade com uma bolsa de esportes. Então, por
que seu pai estava lamentando?
Ao que parece, havia um lado sombrio na vida de Thomas. Coisas que
pairavam abaixo da superfície e que sua mãe, pai, pastor da juventude, e o
professor da Escola Bíblica, nunca viram. Assim que ele saiu de casa para
estudar na “Universidade Cristã Totalmente Norte-Americana”, seu lado
sombrio começou a aparecer.
Primeiro, Thomas parou de frequentar a igreja. Ocasionalmente, ele
participava de um grande grupo de estudo bíblico semanal no campus ou do
culto para universitários, de uma grande igreja da cidade, mas não estava
ligado a um corpo local de crentes. Além disso, não havia nele um senso de
santidade pessoal, nenhuma busca por disciplinas cristãs.
A seguir, Thomas começou a ter alguns problemas nas aulas. Ele sempre foi
um estudante com notas acima de nove, mas agora estava com dificuldades
para passar nos exames de qualificação em algumas matérias. Observando
seus problemas acadêmicos mais de perto, descobriu-se que Thomas estava
saindo até tarde, bebendo muito e com frequência perdia aulas.
Finalmente, Thomas foi suspenso de seu time de beisebol, quando um exame
aleatório, de consumo de drogas, revelou que ele tinha tomado esteroides
anabolizantes. Seu pai ficou tão abalado que não permitiu que Thomas
retornasse para o segundo ano. Em vez disso, optou por matricular o filho em
uma faculdade comunitária local até que o rapaz pudesse “colocar sua cabeça
no lugar”.
Depois de ouvir a história de Thomas, tentei consolar seu pai entristecido, da
melhor forma que pude. Ele chorou por um tempo e então me fez uma
pergunta, cuja resposta não sei se ele gostaria de ouvir. “Onde foi que eu
errei?” — perguntou enquanto balançava a cabeça em desgosto. Nos muitos
dias a seguir, eu e ele investigamos a situação e lidamos com algumas
questões bem difíceis. Não estou sugerindo que esse caso seja fácil de se
entender, mas encontramos alguns padrões bem familiares.
Primeiro, a falta de compromisso de Thomas quanto a assuntos espirituais
não era tão estranha quanto parecia. Quando conversei com esse pai, descobri
que Thomas era mais que apenas um jogador naturalmente talentoso. O
garoto estava jogando beisebol desde os seis anos e começou a ter aulas
particulares aos nove! Ele fez parte de um time itinerante aos doze e era
conhecido em todos os níveis. Aquele homem e sua esposa tinham viajado
muito para ver seu filho tornar-se o melhor jogador de beisebol que ele
poderia ser.
Isso significa que durante o verão e o outono, sua frequência à igreja era
esporádica, na melhor das hipóteses. Como muitos pais, eles se encontravam
viajando de torneio em torneio, orando pela oportunidade de estar fora no
domingo, uma vez que isso significava que Thomas estaria jogando por um
título em algum lugar. O que não perceberam é que eles próprios estavam
ensinando Thomas a priorizar o beisebol acima do Quarto Mandamento.
Estavam ensinando ao filho que ele deveria honrar o Shabbath, o Dia do
Descanso, e santificá-lo, se não fosse temporada de beisebol.
Assim, quando Thomas foi para a faculdade e teve de escolher entre ir para a
igreja ou sair com seus colegas de time, o fundamento para sua decisão já
havia sido lançado. Quando tinha de escolher entre um tempo a mais no
laboratório de química ou um tempo extra de treino, ele sabia, por intuição,
que escolha fazer. E quando teve de escolher entre ficar no banco pela
primeira vez na sua vida ou pegar um atalho para um corpo mais forte e uma
tacada mais rápida, ele resistiu por um tempo, mas finalmente tomou sua
decisão, baseado no único objetivo que tinha norteado seu caminho desde
que tinha seis anos.
Em outras palavras, a falta de compromisso de Thomas quanto às questões
espirituais lançou as bases de seu comprometimento moral. O cristianismo
jamais fora o centro do universo de Thomas. Sempre estivera na periferia. A
igreja e, mais importante, Jesus Cristo, sempre orbitaram em torno do
beisebol, a estrela brilhante e luminosa no centro de seu universo. Isso
significa que todo jovem jogador de beisebol há de experimentar corrupção
moral? É claro que não; nem estou argumentando que deveríamos abolir
todos os esportes. Estou apenas afirmando que alguma coisa que nos leva a
comprometer nossas crenças pode (e provavelmente vai) tornar-se um ídolo.
Algumas pessoas adorarão esse ídolo apenas timidamente, mas outras
sacrificarão tudo em seu altar.
O pai de Thomas nunca perdeu um dos jogos de seu filho. Ademais, foi seu
pai quem lhe ensinou como arremessar uma bola curva, como se posicionar
na frente de uma bola rasteira, e como fazer uma dupla eliminação.[21] Na
verdade, o pai de Thomas foi o técnico da primeira equipe de T-ball do
garoto.[22] Entretanto, quando perguntei se ele promovia um culto em família
e conduzia o filho (e a família) nesse culto, sua única resposta foi: “Eu nem
mesmo pensei sobre isso”.
Em outras palavras, esse homem gastou horas incontáveis e uma quantidade
imensurável de energia ensinando a seu filho como ser um jogador, mas não
fez nada para ensinar-lhe sobre como ser um cristão. Quando o pressionei
quanto a esse assunto, ele disse: “Achei que o pastor de jovens estava
fazendo um bom trabalho quanto a isso”. A questão aqui é tão óbvia que até
hesito em discuti-la. Quando se tratava de beisebol, havia técnicos e ligas,
mas era ele quem dava a instrução particular em casa. Porém, quando se
tratava de assuntos espirituais, ele passava o bastão.
Quando era hora de jogo, ele não queria faltar (e vestia isso como uma
medalha de honra), mas quando se tratava da igreja, a família não via nada de
errado em estarem ausentes por semanas e, em certo ponto, por meses. Essa
família estava adorando um rival, e a vida de seu filho foi o fruto de sua
idolatria. Havia certas coisas pelas quais eles estavam dispostos a sacrificar
tudo. Infelizmente, a caminhada de seu filho com o Senhor não era uma
dessas coisas. Há alguma surpresa em um jovem na situação de Thomas
querer faltar à igreja? Há alguma dúvida de que um jovem na situação de
Thomas teria problemas em encontrar coragem para resistir a tomar algumas
bebidas com os caras do time?
Infelizmente, essa história é muito familiar entre aqueles de nós que estão na
igreja há algum tempo. Na verdade, muitos de nós vemos a nós mesmos
quando lemos nas entrelinhas. Vivemos em uma época em que muitos deuses
competem por nossa atenção. E o pior, esses deuses tentam nos convencer de
que se nos prostrarmos e os adorarmos, eles darão aos nossos filhos o que o
Deus da Bíblia não pode dar — sucesso segundo os padrões do mundo.
O ídolo que tivemos de esmagar em nossa família foi o deus da erudição. Eu
e minha esposa viemos de famílias com um histórico relativamente curto em
presença e graduação na faculdade. Nós dois gastamos nossas vidas em busca
de sucesso acadêmico. Para mim, tendo crescido em um lar de mãe solteira
na região centro-sul de Los Angeles, a academia servia como uma “rota de
fuga”. Minha mãe se esforçou muito para criar em mim um senso de urgência
em relação à educação. E sou grato a ela por isso. No entanto, como qualquer
outro objetivo, a busca pelo sucesso acadêmico pode ter ido longe demais.
Não muito tempo atrás, Bridget e eu ficamos juntos até bem depois da meia-
noite, conversando, orando e chorando sobre o estado de nossa família.
Nossos filhos vinham trabalhando como escravos todos os dias, a fim de
tentar alcançar o ritmo que impusemos. Alguns dias, eles tinham aula de nove
da manhã até seis ou sete da noite. Muito de nosso esforço estava focado em
prepará-los para, no futuro, irem bem no exame vestibular e entrarem em uma
boa faculdade. Eles estavam se esforçando muito mais que qualquer criança
de sua idade poderia imaginar. Entretanto, nossa casa estava tensa o tempo
todo, e tínhamos bem pouco tempo para alguma coisa além da escola.
Na manhã seguinte, trouxemos nossos filhos para nosso quarto e falamos
para eles que não haveria escola naquele dia. Passamos o dia conversando,
rindo, orando e brincando. Contamos a eles como estávamos tristes com o
modo como as coisas aconteceram e quão desajustados nossos objetivos se
tornaram. Ainda estávamos comprometidos com o cuidado de suas mentes, e
ainda teríamos trabalho pesado. Porém, começaríamos a escola às 9h30 e
terminaríamos às 14h30. Nos levantaríamos toda manhã, teríamos o tempo do
café da manhã, caminharíamos, teríamos o culto familiar, e então
começariam os trabalhos do dia.
Bridget e eu apenas tivemos de admitir que muito do que estávamos fazendo
foi direcionado para a conquista do Sonho Americano, à custa de questões
mais importantes. Afinal de contas, que bem haveria para nossos filhos em ir
para as melhores faculdades do mundo, se fôssemos negligentes em relação
ao tempo que temos com eles? De quanto de latim, lógica, filosofia, teologia,
história, álgebra, biologia, etc. meu filho de doze anos realmente precisa a
essa altura de sua vida?
Ironicamente, o novo horário nos permitiu dar mais atenção a menos assuntos
e alcançar muito mais do que tínhamos conseguido antes, e, nesse processo, o
espírito de nosso lar foi completamente transformado. O ídolo que estávamos
adorando na verdade estava roubando de nós justamente aquilo que
prometera.
Como podemos evitar a adoração de ídolos em uma cultura cheia deles?
Como nos colocarmos acima da cultura e caminharmos com Deus? Pode ser
algo desafiador, mas creio que se pode realizar. Simplesmente precisamos
seguir a admoestação de Paulo em Efésios 5:
Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim
como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Por esta
razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a
vontade do Senhor. E não vos embriagueis com vinho, no qual há
dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos,
entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos
espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em
nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no
temor de Cristo. (vv. 15-21)
Essas palavras nos dão um padrão que posicionará nossas vidas em uma
trajetória em direção a Deus. Curiosamente, essa passagem está conectada à
declaração apaixonada de Paulo em Efésios 6.1-4 sobre a responsabilidade
dos pais de ensinarem seus filhos. Como veremos, esse texto tem paralelos
próximos à instrução de Moisés em Deuteronômio. De fato, Paulo cita
Deuteronômio 6 em sua instrução.
Paulo oferece um guia para aqueles que buscam viver vidas que honrem a
Deus em meio a uma cultura dominantemente pagã. A partir desse texto,
aprendemos que devemos vigiar nossa caminhada, ser bons administradores
de nosso tempo, entender a vontade de Deus, constantemente submeter-nos
ao Espírito de Deus, e orientar nossos relacionamentos pelo Livro.
Vigie sua caminhada (vv. 15-16)
Diz-se que, quando se trata de nossos filhos, muito mais é imitado que
aprendido. Acredito nisso; e caso os seus não sejam bebês de proveta
marcianos, você acredita nisso também. Todos nós já vimos coisas em nossos
filhos pelas quais gostaríamos de castigá-los, mas não pudemos porque eles
estavam simplesmente fazendo aquilo em que nós próprios lhes servíamos de
exemplo. Um dia, meu filho tinha roupas espalhadas por todo o chão, e
minha esposa o levou ao nosso quarto para que ele conversasse comigo.
Quando ele foi até lá, me disse: “Mamãe queria que eu conversasse com você
sobre não recolher minhas roupas sujas”. Imediatamente, seus olhos
percorreram o ambiente até avistar minhas roupas da noite anterior, todas
espalhadas pelo chão do meu quarto. Tudo o que pude fazer foi olhar para ele
e dizer: “Acho que temos de melhorar, filho”.
Não podemos esperar que nossos filhos vão além do nosso exemplo. Se as
crianças não me veem passando tempo com a Palavra de Deus, elas
provavelmente farão o mesmo. Se me virem usando linguajar inapropriado ou
envolvido em “chocarrices” (Efésios 5.4), elas provavelmente vão imitar. Se
me virem gritando com sua mãe e tratando-a com desrespeito, provavelmente
a desrespeitarão também. Podemos tentar ensiná-los a fazer o que dizemos,
não o que fazemos, mas nossas palavras irão apenas até onde não forem
negadas por nossas ações.
Sejam bons administradores do tempo (v. 17)
Quando Joe Gibbs, técnico de futebol americano, aposentou-se (mais tarde
ele retornou à profissão), um repórter lhe perguntou por que ele estava
parando quando parecia estar no auge. A resposta de Gibbs é lendária. Ele
disse que, certa noite, retornou para casa após um de seus famosos dias de
doze a quatorze horas de trabalho e decidiu dar um beijo de boa noite nos
garotos. Ele entrou no quarto apenas para descobrir que eles já tinham se
tornado homens, e ele tinha perdido isso!
Joe Gibbs aprendeu uma lição que pais demais aprendem muito tarde. Tempo
é precioso, e você só tem uma chance de criar seus filhos. Eles somente serão
jovens uma vez, e estarão em sua casa somente por um curto período. Assim
que os filhos nascem, o relógio começa a andar, e não há nada que você possa
fazer para pará-lo ou atrasá-lo. Tenho certeza de que Joe Gibbs diria a você
que nada dos troféus, dinheiro, ou honras, que ele ganhou como técnico da
NFL[23] foi digno do preço que ele, e especialmente seus filhos, pagaram.
Às vezes olho para minha filha e quero só chorar. Enquanto escrevo isto, ela
tem quinze anos de idade. Passou de uma pequena e preciosa fonte de
alegrias a uma bela jovem diante dos meus olhos. Em alguns poucos e
rápidos anos, ela irá embora. Meu filho mais velho é apenas alguns poucos
anos mais jovem. Eu oro constantemente para que Deus me dê meios de
enganar o relógio e multiplicar nosso tempo juntos. Quero saborear cada
momento. Isso significa que tenho de me esforçar.
Esteja presente quando puder
Tenho muitos bons amigos que são golfistas comprometidos. Esses caras
amam sair para dar algumas tacadas. Na verdade, eles são golfistas tão ávidos
que não conseguem compreender por que alguém gostaria de outra coisa. Eu,
por outro lado, não jogo. Não é que eu ache que não iria gostar. Tenho
certeza de que eu apreciaria. Nem é a quantidade de dinheiro envolvida. Em
nossa vizinhança temos um curso de golfe que é bem acessível. Não jogo
golfe porque toma muito tempo. Passo dez dias por mês viajando pelo país,
em conferências. A última coisa de que preciso, quando volto para casa, é de
um hobby que necessita de metade do dia para ser desfrutado!
Não estou dizendo que todo homem que joga golfe esteja pecando. Estou
apenas dizendo que, com minha agenda, já tenho suficiente dificuldade para
aproveitar ao máximo minha vida em família, mesmo sem ter um hobby que
consumiria tempo e me manteria mais tempo ainda afastado de casa. Talvez
se minha família inteira jogasse, eu pensaria diferente. Ou talvez se eu não
tivesse de estar fora tão frequentemente quanto preciso, não sentiria tanta
pressão para guardar meu tempo. Entretanto, como as coisas estão, preciso
estar presente quando puder.
Cada um de nós deve avaliar a maneira como gasta seu tempo. Você está
envolvido em atividades que o afastam de suas obrigações como marido ou
esposa? Essas atividades são necessárias ou são apenas convenientes e
agradáveis? O que você pode fazer para compensar esse tempo? Nada?
Então, essa é uma área que precisa ser mantida em submissão às suas
obrigações e papéis bíblicos? Essas são perguntas que simplesmente não
podemos evitar, se estamos comprometidos com a fé da família.
Organize seu tempo ou perca-o
Se você falha em planejar, você está planejando falhar. Talvez já tenhamos
ouvido isso milhares de vezes. Por quê? Porque é de fato verdadeiro,
sobretudo quando se trata de família. Se não planejarmos aquelas férias em
família, o verão chegará, passará, e nos perguntaremos o que aconteceu. Se
não colocarmos o recital de piano na agenda, algum outro interesse ocupará
esse espaço. E se você não consegue tempo para discipular seus filhos, isso
simplesmente não vai acontecer.
Comece com algumas datas não negociáveis e coloque-as na agenda. Para
mim, essas datas incluem o aniversário de todos, nossas férias familiares
anuais, pelo menos uma viagem curta com Bridget (de preferência duas), e
alguns eventos especiais de que tenho conhecimento antecipado, o que me
permite agendá-los. Uma vez que esses compromissos estão na agenda, não
posso marcar qualquer evento que interfira com eles. A única exceção é a
oportunidade ocasional de ministério no Havaí, que me permite levar Bridget
e/ou as crianças para “sofrer” comigo enquanto ministro na terra do Aloha.
Você ficará admirado com quanta animação isso trará a seus filhos. Permitirá
que eles saibam o quanto são importantes, o quanto seu casamento é
importante, e o quanto você considera precioso seu tempo com eles. Passará
uma mensagem clara da qual eles se lembrarão quando a cultura tentar
distanciá-los. É muito mais fácil dizer ao Júnior que ele tem de perder um
ensaio da banda de vez em quando, se ele sabe que existem certos eventos da
família que relegam, a um segundo plano, até mesmo o trabalho do papai.
Entendam a vontade de Deus (v. 17)
Nós servimos a um Deus soberano. Diga isso ao cristão normal, e você ouvirá
um apaixonado amém. Entretanto, cave um pouco mais, e você descobrirá
que, nesse ponto, há um grande abismo entre ortodoxia e ortopraxia.
Simplesmente, o que dizemos não bate com o como vivemos.
Veja, por exemplo, um jovem chamado Rick, que conheci na faculdade. Em
meu último ano, eu e o Rick cursamos, juntos, uma das matérias. Naquela
época, ele cursava o segundo ano. Rick estava passando por uma crise
bastante comum: sentia que Deus o tinha chamado para pregar, mas não
conseguia convencer seus pais de que precisava usar seus anos de
universidade, para se preparar.
O pai de Rick lhe informou que cortaria seus recursos financeiros se ele
mudasse sua graduação de Administração e Contabilidade de Negócios, para
Cristianismo e Filosofia. Aquele jovem estava infeliz: queria honrar seu pai e
sua mãe, mas também queria obedecer a Deus. O que fazer?
De modo similar, Elizabeth (não é o nome verdadeiro dela) era uma
universitária de vinte anos, bonita e inteligente, cujos pais estavam irados
com a ideia de sua garotinha casar-se antes de se formar. Eles, como muitos
cristãos que conheço, acreditavam que o casamento deve ser postergado para
depois da faculdade. E vieram até mim pensando que eu os apoiaria, mas
quase tive de segurá-los para não caírem quando eu disse que discordava.
Creio que o casamento é muito mais importante que a faculdade. Além disso,
acho que levamos nossos filhos a correr riscos se pedirmos que suportem
noivados de dois anos e ao mesmo tempo permaneçam leais a suas
convicções cristãs. Se eles não estavam prontos para se casar, não deveríamos
ter permitido que o relacionamento florescesse.
Tanto Rick quanto Elizabeth representam o que tenho visto como padrão
entre os atuais pais cristãos dos Estados Unidos. Parece haver uma ênfase
crescente em nossos filhos alcançarem o “Sonho Americano” à custa de
qualquer tipo de compromisso cristão valioso. É como se tivéssemos
esquecido que este não é nosso lar, que o melhor que o mundo tem a oferecer
empalidece quando comparado ao que Deus tem guardado para nós.
O pai de Rick queria que seu filho fosse um homem de negócios bem
sucedido. Os pais de Elizabeth apenas queriam proteger sua filha de
dificuldades e vê-la casar-se depois de ganhar a “estabilidade” que vem com
um curso superior. Alguma dessas coisas é errada? É errado querer coisas
boas para nossos filhos? Não necessariamente. A não ser que, em nossos
esforços para conseguir “o melhor para nossos filhos”, ignoremos seus dons,
talentos, habilidades, e paixões, dados por Deus.
A questão é entender que nossos filhos não nos pertencem — eles pertencem
a Deus. Nosso objetivo, como pais, não deve ser limitado à nossa própria
visão. Sou um homem finito, pecador e egoísta. Por que eu gostaria de
planejar o futuro dos meus filhos, quando posso confiá-lo ao infinito,
onipotente, imutável e soberano Senhor do universo? Não quero dizer a Deus
o que fazer com meus filhos — quero que ele me diga! Quando permito que
minha vontade tome precedência sobre a vontade de Deus, não estou apenas
me entregando a um rival — eu me tornei um.
Submetam-se constantemente ao Espírito de Deus (v. 18)
Nesta manhã, quando eu e minha família nos sentamos à mesa para o café,
minha esposa e meus filhos me observaram, confusos, enquanto eu me
concentrava em uma caixa de uvas-passas. O problema não era que eu
estivesse gastando um tempo excessivo com as uvas-passas. O problema era
que eu não tinha orado antes da refeição. Minha esposa olhou para mim,
limpou sua garganta, e me deu aquele olhar “se não for muito problema, eu e
as crianças gostaríamos que você orasse para que possamos comer”. Observei
toda a mesa, e todos os olhos estavam voltados para mim. Rapidamente,
abaixei minha cabeça, pedi desculpas aos meus filhos famintos, e agradeci a
Deus por nossa refeição e por um novo dia. Depois da minha oração, todos
demos boas risadas assim que começamos a comer.
Não acho que Deus teria nos fulminado (ou nos dado uma indigestão), se eu
tivesse deixado de orar antes da refeição. Nem acredito que minha família e
eu ganhamos algum mérito especial de Deus por fazer isso. Creio, no entanto,
que é importante para nós, como família, demonstrarmos nossa gratidão a
Deus, sempre que possível. É importante que minha esposa e eu lembremos
nossos filhos de que toda refeição que comemos é um dom das mãos do
Todo-poderoso. É também importante que instilemos hábitos de santidade
que terão influência duradoura sobre nossos filhos. Creio que existem muitas
situações em que todos nós podemos lembrar-nos e a nossos filhos do lugar e
da provisão de Deus em nossas vidas.
Hora da refeição
Não acredito que alguma coisa ruim acontecerá com minha comida ou
comigo, se eu não orar antes das refeições. E mais: não creio que o fato de
orar antes de comer necessariamente me torne mais espiritual que qualquer
outra pessoa. Conheço muitas pessoas que incorporaram uma oração
ritualística antes de suas refeições, e elas teriam de se esforçar para serem
menos espirituais do que são agora. Dito isso, creio que a oração antes das
refeições pode ser uma poderosa ferramenta de criação de filhos, se
empregada corretamente.
Viajo por volta de dez dias a cada mês. Isso significa que passo de vinte a
vinte e um dias por mês em casa. Embora muito do meu tempo em casa seja
gasto trabalhando em meu escritório, muito dele também é usado para
desfrutar dos benefícios de trabalhar em casa. Um desses benefícios é comer
com minha família. Isso mesmo. Eu tenho o privilégio de estar com minha
esposa e meus filhos no café da manhã e no jantar, em cerca de vinte dias por
mês.
Talvez o benefício mais precioso disso seja o tempo que passamos à mesa,
apenas conversando. E Deus está normalmente no centro de nossas
discussões. Nós nos lembramos de Deus no início de cada refeição, quando
oramos e damos graças, e nos lembramos dele enquanto conversamos sobre
as lições do dia e sobre como elas se aplicam à nossa caminhada, assim como
sobre situações, em nossas vidas e em nossa família, em que vemos a mão de
Deus.
Tempos de crise
Já foi dito que “Provações permitem que as pessoas elevem-se da religião até
Deus”. Jamais foram ditas palavras tão verdadeiras. Uma crise é uma
oportunidade tremenda para demonstrar a verdadeira fé bíblica. De fato,
poderíamos argumentar que os momentos de crise dizem mais sobre nossa
caminhada com Deus que qualquer outra ocasião ou circunstância. É a crise
que traz o melhor e o pior de quem e do que nós somos. Momentos de crise
dizem muito sobre a natureza e o conteúdo de nossa fé.
Fico assustado com a quantidade de cristãos que confessam a mim que não
oram juntos em família nos momentos de crise. Na verdade, fico assustado
com a quantidade de vezes em que isso aconteceu em minha própria vida.
Uma crise vem, nós estamos todos tensos, e embora cada um de nós ore,
algumas vezes falhamos quanto a nos reunirmos em oração. Creio que toda
crise verdadeira, não importa quão pequena, deveria servir como um
chamado para a oração familiar.
Deus tornou esse princípio muito claro para nós durante o Furacão Rita.
Estávamos diretamente na linha de fogo de um furacão Categoria 5, com dois
dias para tomar uma decisão. Eu tinha o compromisso de pregar em Atlanta
naquele fim de semana, mas meu voo não sairia até sexta-feira. Na quarta,
todos os lugares fora da cidade estavam reservados, e as rodovias começavam
a ficar congestionadas. Esse foi um tempo de crise.
Enquanto ouvíamos as notícias naquela manhã de quinta, eu já havia ligado
para o pessoal de Atlanta e avisado que não estaria lá. Eu não deixaria minha
família, meu voo certamente seria cancelado na sexta de manhã, e nós
tínhamos de ir embora imediatamente. Quando olhei para os rostos
aterrorizados de minha esposa e dos meus filhos, me dei conta de que eram
onze da manhã, e ainda não tínhamos realizado o culto familiar daquele dia
(ou do dia anterior). Reuni a família, e tivemos um dos mais doces momentos
de cânticos, oração e estudo que já experimentamos.
Assim que terminamos, fui até meu celular e vi uma mensagem do meu
agente de viagens. Ele tinha encontrado três passagens saindo na quinta, e
pôs minha esposa e as crianças no voo. Entretanto, não havia assento para
mim. Imediatamente, liguei para o escritório do Programa de Passageiros
Frequentes e perguntei se havia algo que poderia ser feito. “Posso ficar na
lista de espera?” — perguntei. “Não”, a mulher respondeu. “Não há assentos
disponíveis, e não é permitido deixar que você entre sem um assento
confirmado”. Logo depois a mulher engasgou e disse: “Você deve estar
orando”. “Por quê?” — perguntei. “Porque acaba de surgir um assento nesse
voo!”
Juntamos nossas coisas, saímos de casa e fomos por todo o caminho em uma
rodovia vazia, pois todos estavam indo para norte e oeste, a fim de sair da
cidade, e nós tínhamos de ir para o sul e o leste para chegar ao aeroporto.
Chegamos ao aeroporto, fomos por uma entrada por trás, que apenas usuários
frequentes conheciam, e passamos pela segurança em vinte minutos, em um
dia em que a média de espera era de muitas horas. Além disso, acabamos
todos na primeira classe de nosso voo para Atlanta.
Não estou dizendo que isso aconteceu porque fizemos o culto familiar. No
entanto, posso dizer, com segurança, que Deus usou os eventos daquele dia
para mostrar-se real e poderoso em nossas vidas. Também posso dizer que
nunca veremos o culto familiar da mesma maneira que víamos antes da
tempestade. Nos dias seguintes, contamos nossa história para incontáveis
pessoas que foram abençoadas pela fidelidade de nosso Deus. Jamais de novo
eu quero permitir que uma crise me impeça de reconhecer a Deus por meio da
oração.
Ocasiões especiais
Em 1996, Bridget e eu tivemos o privilégio de receber muitos dos nossos
familiares para o jantar de Natal. Naquela época, estávamos casados há sete
anos; e foi nossa primeira oportunidade de passar o Natal com a família em
nosso próprio “território”. Nos anos anteriores, tínhamos viajado para para
passar o Natal com meus parentes ou com os parentes de Bridget. Entretanto,
nesse ano foi diferente: finalmente tínhamos uma casa grande o bastante para
hospedar todo mundo e uma cozinha grande o suficiente para todos os
cozinheiros!
Não me lembro muito daquele Natal, mas o de que me lembro é do momento
em que a refeição estava pronta e era hora de comer. Nós nos ajuntamos ao
redor da mesa e, por impulso, nos demos as mãos, enquanto todos os olhos
voltavam-se para mim. Ninguém disse nada, mas todos sabíamos exatamente
o que deveria acontecer em seguida. Sorri para os rostos ao redor da mesa,
abaixei minha cabeça e fiz uma oração ao nosso Senhor. Foi incrível. Aquele
momento durou pouco, mas o impacto está presente até hoje. Nunca me
esquecerei da primeira vez que tive o privilégio de oferecer aquela oração.
Meus filhos tinham apenas seis e três anos naquela época, lembro-me, porém,
de pensar: Que bênção! Talvez aquela oportunidade tenha significado tanto
para mim, porque eu nunca vira meu pai fazer o mesmo. Talvez fosse a
alegria de nosso primeiro Natal como anfitriões, em vez de hóspedes. Ou
talvez fosse pelo fato de que eu percebera o papel fundamental que agradecer
a Deus tinha em nossa família. A despeito dos motivos, a sensação foi boa.
Pode soar simplista dizer que, como família, devemos agradecer a Deus, em
ocasiões especiais, mas todos precisamos ser lembrados disso. Quantas vezes
permitimos que um aniversário, formatura ou algum outro marco passasse
sem que juntássemos a família para um momento especial de oração?
Devemos tirar vantagem de toda oportunidade que tivermos, para marcar,
com orações de agradecimento a Deus, ocasiões especiais ou momentos
importantes.
Viagens especiais
Antes de eu e Bridget começarmos a dar aulas a nossos filhos, em casa, meu
filho frequentou a pré-escola de nossa igreja. Ele levantava-se cedo, muito
animado para ir. Lembro-me dos dias em que tive o privilégio de levá-lo.
Entrávamos no carro, arrumávamos a cadeirinha de crianças, e saíamos.
Quando chegávamos a um certo cruzamento, a mais ou menos uma quadra da
escola, abaixávamos nossas cabeças e orávamos. Eu orava por meu filho e
então ele orava.
Em um sábado de manhã, Íamos para um passeio de família, e aconteceu de
passarmos por nosso cruzamento de oração. Meu filho, que ainda não tinha
idade para saber que dia da semana era, abaixou sua cabeça e começou a orar:
“Querido Jesus, por favor, ajude-me a ser um bom garoto na escola hoje…”
Então, assim que alguém cutucou seu ombro e o lembrou de que estávamos
indo para outro lugar que não a escola, ele olhou para cima e disse: “Bem,
Jesus, apenas me ajude a ser bom onde quer que estejamos indo”.
Eu adoraria poder lhe dizer que eu e minha família oramos todas as vezes em
que entramos no carro e vamos para algum lugar juntos, mas não o fazemos.
Há, no entanto, ocasiões em que estamos começando uma longa viagem ou
apenas uma viagem em especial, em que paramos para orar pedindo
misericórdia. No entanto, enquanto escrevo este capítulo, sou lembrado de
que não fazemos isso com tanta frequência quanto deveríamos.
Oriente seus relacionamentos pelo livro (v. 21)
“Vamos ter uma hora só da mamãe e do papai; será rapidinho.” Essa é a frase
famosa de Bridget. As crianças sabem que, quando a cabeça da mamãe
aparece pela porta e ela anuncia “hora da mamãe e do papai”, se alguém
chegar perto, é melhor estar sangrando copiosamente! Não estamos falando
de “machuquei meu dedinho” — é melhor esse garotinho dar meia volta!
Algumas vezes, “hora da mamãe e do papai” significa que precisamos tirar
uma soneca; às vezes, significa que precisamos discutir sobre as crianças sem
que elas saibam; outras vezes, significa coisas que eu não ousaria escrever
neste livro. Qualquer que seja a razão, nossos filhos sabem que não devemos
ser incomodados.
Uma das coisas mais importantes que a hora da mamãe e do papai faz é
estabelecer uma mensagem muito clara: “Quando nós dois estamos juntos,
nosso tempo é mais importante para nós do que até mesmo vocês”. Isso pode
soar duro para alguém que tenha comprado a cultura de “crianças acima de
tudo”. Porém, essa é uma lição que tanto vocês quanto seus filhos devem
aprender. O casamento da mamãe e do papai tem precedência sobre qualquer
outra coisa.
Existem pelo menos três razões para que essa prioridade seja estabelecida.
Primeiro, nosso trabalho como pais é fazer nossos filhos crescerem e saírem
de casa. Haverá um dia em que as crianças irão embora. Quando esse dia
chegar, casamentos que fazem dos filhos sua prioridade serão duramente
forçados a mudar de foco e perseverar. De fato, essa é pelo menos parte da
razão da nova tendência de casamentos de 25 a 30 anos terminarem do nada.
Tive inúmeras conversas com pessoas que disseram: “Assim que as crianças
foram embora, não tínhamos qualquer motivo para continuarmos juntos”.
Em segundo lugar, nosso casamento é o fundamento sobre o qual todos os
outros aspectos da família devem ser construídos. Nossos filhos precisam ser
liderados por uma frente unida. Bridget e eu funcionamos como um time,
como uma máquina bem lubrificada. Isso não acontecerá a não ser que
invistamos tempo significativo em nosso relacionamento. Nosso casamento
serve como um comando estratégico onde planejamos e vistoriamos o
discipulado de cada um dos nossos filhos; ele funciona como um centro de
aconselhamento em que nossos filhos sentem-se seguros em meio a um
mundo assustador; e funciona como um laboratório onde nossas crianças
assistem e aprendem sobre o que é um casamento.
Nosso casamento também dá o tom da disciplina no lar. O versículo 21 diz
que devemos estar sujeitos uns aos outros no temor de Cristo. O versículo 21
é um guarda-chuva sob o qual os próximos 21 versículos se abrigam. A
submissão no versículo 21 é demonstrada em três relacionamentos:
esposa/marido, filho/pai, servo/senhor. Em outras palavras, obediência ao
versículo 21 (que está conectado ao 18 e à ordem de ser cheio do Espírito)
exige não somente que os filhos se submetam aos pais, mas que as esposas se
submetam aos maridos. Mostre-me uma esposa não submissa a seu marido, e
eu lhe mostrarei uma casa em desordem. Você consegue imaginar um
exército em que os sargentos desrespeitam abertamente os generais e ainda
esperam que os recrutas os respeitem?
Finalmente, sendo provável que nossos filhos se casem algum dia, eles
precisam perceber que vão estabelecer um relacionamento que tem
precedência sobre todos os outros relacionamentos (incluindo seu
relacionamento com Mamãe e Papai). Muitos casamentos têm sofrido devido
à falha ou indisposição de um cônjuge em cortar laços. Muitas vezes, isso é
resultado de filhos que não ouviram, de seus pais, uma clara mensagem sobre
a prioridade do relacionamento matrimonial. Com tanta coisa em jogo, não
podemos deixar de priorizar nossos casamentos. Isso é especialmente
verdadeiro se desejamos experimentar fidelidade que perdure por gerações.
Entrando em ação
1. Faça uma lista de potenciais ídolos em sua vida. Existe algo em sua vida
que exija de você coisas que são devidas apenas a Deus? Se a resposta é sim,
identifique-as. Peça a seus filhos que participem do processo.
2. Reúna sua família e decida como vocês destruirão os ídolos em suas vidas.
Podem existir coisas que você precisa tirar de sua casa. É mais provável que
haverá coisas que você também vai precisar retirar de sua agenda.
3. Tenha um tempo especial para oração e arrependimento em família.
Confesse o pecado da idolatria diante de Deus, receba o perdão de Deus, e
celebre a liberdade renovada de que você agora desfruta.
3. APRENDA A AMAR

Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua
alma e de toda a tua força.
Deuteronômio 6.5

Se quiseres ser o cabeça piedoso de uma família, deves certificar-te de que


há harmonia cristã entre os que estão sob tua liderança, o que convém a uma
casa cujo líder teme a Deus.
John Bunyan

A princípio, eu daria o título de “Aprenda a amar a Deus” a este capítulo.


Entretanto, depois de uma observação bem atenta, percebi que o assunto era
mais abrangente. A exortação de Moisés para “amar o Senhor” engloba muito
mais que um relacionamento vertical e de adoração. Essa exortação envolve
mais que nosso relacionamento com Deus.
Amor é amor
Uma verdade evidente nesse texto de Deuteronômio 6.5 é que o amor que
Deus espera de seus seguidores não é estranho a outros relacionamentos.
Pense sobre isso. Existe um tipo de amor que seja religioso e outro que seja
irreligioso? Há uma definição de amor que oriente minha vida de oração e
outra que oriente minha vida familiar? É claro que não. Amor é amor. Claro,
existe uma variedade de palavras para amor, no Antigo e no Novo
Testamento, mas elas em geral distinguem os aspectos relacionais ou
direcionais do nosso amor, não sua essência.
Por exemplo, muitos veem os termos neotestamentários ágape e phileo como
dois tipos diferentes de amor. Talvez você já tenha ouvido isso — “Ágape é o
tipo do amor de Deus”. Embora seja verdade que phileo significa literalmente
“amor fraternal”, enquanto ágape refere-se a um amor altruísta e sacrificial,
não é verdade que ágape seja o amor de Deus e phileo, o amor do homem.
Na verdade, há muitos exemplos em que phileo é atribuído a Deus.
Porque o Pai ama [phileo] ao Filho, e lhe mostra tudo o que faz, e
maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis.
(João 5.20)
Porque o próprio Pai vos ama [phileo], visto que me tendes amado e
tendes crido que eu vim da parte de Deus. (João 16.27)
Então, correu e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, a
quem Jesus amava [phileo], e disse-lhes: Tiraram do sepulcro o
Senhor, e não sabemos onde o puseram. (João 20.2)
Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a
porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.
(Apocalipse 3.20)
A Bíblia também deixa claro que tanto phileo quanto ágape são aceitáveis em
termos do amor do homem por Deus. Paulo adverte aqueles que não phileo
Deus quando diz: “Se alguém não ama [phileo] o Senhor, seja anátema” (1
Coríntios 16.22). Se ágape é o padrão de amor do homem por Deus, então
Paulo não teria usado phileo para fazer uma declaração tão forte. Note
também que ele não diz “Se alguém pelo menos não phileo Deus…”. Ele
claramente afirma que phileo é o bastante.
Mesmo Jesus mostrou sua aceitação de phileo como uma expressão suficiente
do amor do homem a Deus, quando restaurou Pedro, baseado na
proclamação: “Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo
[phileo]” (João 21.15-17). Jesus não repreendeu Pedro por sua forma ou nível
inferior de amor. Pelo contrário, Jesus deu a Pedro uma comissão —
alimentar o rebanho de Jesus.
Tanto a língua grega quanto a hebraica são, às vezes, mais precisas que o
inglês (ou o português) comum. Enquanto você ou eu dizemos a um amigo,
um cônjuge, ou um filho, “Eu te amo”, o grego e o hebraico nos dariam a
opção de usar diferentes palavras que comunicam a mesma ideia em
diferentes contextos. Em outras palavras, phileo não é uma forma inferior ou
piorada de ágape; é apenas uma alternativa que carrega diferentes nuances.
Em outras palavras, amor é amor.
Ame a Deus; ame seu irmão
A segunda questão que mudou meu rumo ao escolher um título para este
capítulo atingiu-me durante um estudo pessoal da epístola de 1João.
Enquanto estudava essa pequena carta, cheguei a um versículo familiar que
ganhou um novo significado à luz da minha pesquisa. No capítulo 4, João
levanta uma questão que não pode ser ignorada: “Se alguém disser: Amo a
Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão,
a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (v. 20).
Lá estava! Eu pude ver a admoestação de Moisés sob uma luz inteiramente
nova. O texto de João 4.20 falava sobre mais que apenas nosso
relacionamento vertical. Se aprendermos a amar Deus, é certo que
aprenderemos a amar, ponto final. Antes que você pense que estou forçando,
escute as palavras de Jesus quando respondia a esta questão importantíssima:
“Qual é o grande [o maior] mandamento na Lei?” Jesus respondeu:
“‘AMARÁS O SENHOR, TEU DEUS, DE TODO O TEU CORAÇÃO, DE
TODA A TUA ALMA E DE TODO O TEU ENTENDIMENTO’” (Mateus
22.37). Porém, Jesus prosseguiu, dizendo: “Este é o grande e primeiro
mandamento. O segundo, semelhante a este, é: ‘AMARÁS O TEU
PRÓXIMO COMO A TI MESMO’” (Mateus 22.38-39).
Portanto, Jesus, citando Moisés, comenta sobre a natureza essencial de amar
as pessoas assim como amar a Deus. Logo, limitar este capítulo a aprender a
amar Deus teria sido insuficiente. Se nossos lares devem refletir nossa
posição como povo de Deus em meio à oposição de uma cultura pagã, nós,
como os israelitas, devemos aprender a amar.
Nossas casas devem estar cheias do aroma de amor. Aqueles que nos visitam
devem notar imediatamente que deixaram o mundo do narcisismo
egocêntrico e egoísta, e que entraram em um porto seguro onde as pessoas
valorizam e estimam os outros acima de si mesmas. Forasteiros deveriam
entrar em nossos lares e desejar nunca sair. Nossos vizinhos deveriam
arrumar desculpas para nos visitar apenas para conseguir outro sopro do
fragrante aroma de amor. As pessoas de coração partido deveriam ansiar por
estar próximas de nós. O oprimido e o que sofreu abuso deveriam procurar-
nos. Famílias à beira de um desastre deveriam observar-nos e dizer: “Por que
nosso lar não pode ser assim?”
Infelizmente, poucas vezes é isso que acontece. É muito comum observarmos
que, em nosso meio, cristãos professos costumam não amar melhor, com
mais profundidade, ou com maior intensidade, que os pagãos ao nosso redor.
Às vezes, carregamos mais do fedor deste mundo que do fragrante aroma do
povo de Deus. Essas são as más notícias. A boa notícia é que a situação não
precisa ficar como está. Podemos aprender a amar. O primeiro passo é nos
livrarmos dos métodos e ideologias ineficazes que nos rebaixaram à situação
atual.
O dilema
“Eu o amo de todo o meu coração”. Essas são palavras familiares. Mães e
pais as dizem a seus filhos. Maridos e esposas, um ao outro. Amantes
clandestinos frequentemente são pegos sussurrando essa frase familiar,
enquanto contemplam profundamente os olhos um do outro. Infelizmente,
essas palavras parecem ter perdido o brilho. Hoje em dia, “Eu te amo de todo
o meu coração” no final costuma dar lugar a “Nunca mais quero ver você”.
Já estive no altar diante de muitos casais no momento em que, ansiosos,
olham um para o outro, enquanto, solícitos e nervosos, repetem seus votos e,
em público, prometem amor imortal e perpétuo. Também estive muitas vezes
em uma sala, enquanto um homem olha para sua esposa (ou a esposa, para
seu marido) sem mais aquele olhar ansioso e apaixonado, repudiando cada
voto com uma frase simples — “É que, de fato, não o amo mais”.
O que acontece entre o “Até que a morte nos separe” e o “Eu quero a minha
parte”? Como dois jovens de olhos brilhantes transformam-se em um casal de
adversários furiosos e amargos competindo deslealmente? Creio que uma das
maiores causas da epidemia atual de “estar amando” é ignorância. Isso
mesmo, as pessoas simplesmente não conhecem algo melhor. Pensamos que
o amor é uma força aleatória, irresistível, incontrolável, e sensual, que vai e
vem de modo imprevisível. Em resumo, fomos de todo fisgados pelo mito
greco-romano do amor romântico.
Cupido e o mito greco-romano de amor
Você já o viu em cartões para o Dia dos Namorados. Ele é a estrela de
desenhos animados e quadrinhos. Ele é o pequeno querubim com arco e
flecha, conhecido como Cupido. Embora esse mito tenha suas raízes na
história de Cupido e Psique, a história evoluiu. Agora, diz-se que o Cupido
vaga pela terra atirando suas flechas de amor em tolos desavisados que,
então, “se apaixonam” por quem estiver por perto. Se você pensa que esse
mito é inofensivo, pense novamente. A ideia do amor como uma força
aleatória, irresistível e incontrolável tem consequências capazes de abalar
vidas.
Mito nº 1: O amor é uma força aleatória
“Não escolhemos por quem nos apaixonamos.” Muitos de nós já ouvimos
esse axioma. Normalmente, é um código para “Eu não me importo se a
Bíblia, minha família, meus amigos, e mesmo desconhecidos quaisquer,
concordem todos que somente um idiota desperdiçaria seu tempo com esse
perdedor — ainda assim, não vou desistir dele”. Todos já vimos isso antes.
Alguma jovem bonita, aparentemente inteligente, começa um relacionamento
com um cara que a trata como lixo. Todo mundo vê; menos ela.
O pior caso que já vi é o de uma mulher chamada Mary (não é seu nome
verdadeiro). Mary está em um relacionamento com um homem por quase
quinze anos. Nesses quinze anos, esse homem nunca se casou com ela, traiu-a
com muitas de suas amigas, fez insinuações sexuais para a filha dela, nunca
se manteve em um emprego estável e, em um de seus momentos mais hostis,
quase a espancou até a morte. E essa é a versão resumida! Para completar, ele
não é nenhum Don Juan charmoso, sofisticado, e irresistível. Pelo contrário, é
uma das pessoas mais desagradáveis que já conheci. Ainda assim, Mary está
tão atraída por ele quanto a mariposa pelo fogo (ou melhor, como uma mosca
por uma daquelas lâmpadas de matar insetos).
Tenho certeza de que todos nós conhecemos nossas Marys. Todos nos
assustamos quando as assistimos suportar o abuso; e, em cada oportunidade,
imaginamos Será que desta vez é a gota d’água? A questão, entretanto, é:
Por que qualquer mulher se sujeitaria a isso? Se você perguntar a Mary, ela
provavelmente citará o axioma acima mencionado: “Não escolhemos por
quem nos apaixonamos”. A decisão de Mary de permanecer em um
relacionamento abusivo e insatisfatório nada tem a ver com a razão ou o
senso comum. É tudo sobre aquela (suposta) força aleatória chamada amor
que a uniu a seu ofensor.
Mito nº 2: O amor é uma força irresistível
O elegante protagonista toma a arrebatadora protagonista em seus braços.
Apaixonadamente ele olha nos olhos dela, naquele instante em que ambos
seguram a chave de sua própria existência. Seus peitos ofegam enquanto
tentam recuperar o fôlego. Ela tenta resistir (pensando em seu marido, que
está cego para as verdadeiras intenções dela), mas de novo a agarra e,
trazendo-a para perto, diz: “Isto é o melhor para nós dois”. Soa familiar?
Reconheço não ser um escritor romântico, mas já vimos e ouvimos a cena
tantas vezes, que se tornou um clichê. Amor, de acordo com o mito greco-
romano, é uma força irresistível contra a qual meros mortais não podem
esperar prevalecer. E mesmo que o fizessem, isso os levaria à miséria,
enquanto exaurem o resto de seus dias lamentando a perda do “único e
verdadeiro amor”. Não importa o fato de já terem dito “Sim” para outra
pessoa.
Uma coisa é ver esse mito representado nas telas de cinema; porém, vê-lo na
vida real é uma história completamente diferente. Nos filmes, ficamos com a
impressão de que essa força irresistível tem apenas um lado bom. Tudo o que
vemos é o esperado beijo enquanto os créditos sobem. Nunca podemos ver a
agonia do amante rejeitado ou a disfunção que assombra os filhos enquanto
se perguntam quando mamãe ou papai deixarão de amá-los. Nem somos
informados de que, um ano depois, terminadas a aventura e a magia, o
apaixonado casal tem outra briga, pois a maneira pela qual seu
relacionamento teve início os deixa incapazes de confiar.
Mito nº 3: O amor é uma força incontrolável
“Nós simplesmente nos apaixonamos”. Essa foi a resposta que recebi ao
perguntar a um cavalheiro por que seu casamento terminou depois de vinte
anos. Eu esperava que ele me dissesse alguma coisa, qualquer coisa, menos
isso. Estava esperando uma desculpa ou uma explicação. Imaginei que me
diria que os dois se seguraram até que os filhos tivessem saído de casa
(embora isso fosse completamente inaceitável). Mas ele não disse nenhuma
dessas coisas. Apenas ergueu os ombros e soltou: “Nós simplesmente nos
apaixonamos”.
Era como se estivesse me contando uma verdade óbvia. Não havia sequer
vergonha ou remorso em sua face. Ele não evitou o olhar ou abaixou a
cabeça; não prosseguiu com explicações ou tentou fazer aquilo parecer
melhor. Apenas disse isso.
Eu gostaria de poder dizer que esse homem é um tipo incomum, mas não é.
Ele é o tipo de muitos homens e mulheres que têm se conformado à ideia de
que o amor é uma força incontrolável que algumas vezes vai embora tão
rápida e misteriosamente quanto aparece. Ele é uma das muitas vítimas que
beberam em profundidade da cisterna do mito greco-romano a qual jamais
sacia sua sede.
Mito nº 4: O amor é uma força sensual
De livros românticos a longas-metragens, passando por seriados de comédia,
amor é equiparado a sexo. Sexo é o novo casamento na mídia moderna. Os
filmes costumavam começar com dois estranhos encontrando-se e avançando
até a cerimônia de casamento e a troca de votos. Agora, o casal se conhece,
faz sexo e, depois de perceber que têm algo de “especial”, trocam números de
telefone. Nos filmes, a pergunta mais repetida, em relação a um possível
interesse romântico feminino, não é mais “Ele fez o pedido?” — porém:
“Você dormiu com ele?”
Esse é simplesmente o próximo passo lógico do mito greco-romano do amor.
A flecha do Cupido sempre leva ao amor sensual; apenas, antes não víamos
isso representado tão explicitamente. Nem jamais foi caracterizado com tanta
naturalidade. O que estamos vendo é o mito greco-romano com seus limites
removidos. Se o amor sensual é o alvo definitivo do amor romântico, por que
se importar com formalidades como fazer a corte; os protocolos; e um
casamento?
Na verdade, quem ainda precisa do Cupido? Isso mesmo, nós nos livramos
do pequeno querubim com flechas de coração em favor de um conceito
modernizado, da Nova Era. Agora o Cupido é o ar que respiramos. Não
precisamos esperar por uma flecha atravessando o coração, apenas um
parceiro disposto e com tempo disponível.
O resultado final: amor não se traduz
Talvez o maior problema com esse tipo de amor é que ele não se aplica a
outros relacionamentos. Se o amor é uma força aleatória, incontrolável,
irresistível e sensual, com que tipo de amor eu amo meus filhos? Tenho visto
esse problema em minha própria vida, em relação a minha filha. Como a
maioria dos homens, passei por uma fase difícil, quando ela começou a
tornar-se uma mulher adulta. Como expresso amor a essa jovem se creio que
o amor é uma força sensual? Seria melhor para mim se parasse de abraçar
minha filha? Certamente, ela terá de parar de se sentar no meu colo.
Infelizmente, minha luta com essas questões gerou um sentimento de
incerteza e desconforto em minha filha. Claro, ela estava mudando, mas eu
ainda era o papai e, em sua mente, ela ainda era a garotinha do papai. Ela viu
meu cuidado como rejeição. Eu tinha de aprender como ser conveniente com
minha filha sem deixar de ser afetivo. O primeiro passo foi superar o mito
greco-romano do amor romântico. Eu tinha de ver o amor no sentido bíblico,
se quisesse ser capaz de traduzi-lo de um relacionamento para outro.
Outro problema com esse mito do amor é sua natureza tênue. Podemos culpar
os filhos de divorciados por se perguntarem se papai ou mamãe vão parar de
amá-los do mesmo jeito que pararam de amar um ao outro? Sob que forma eu
amo meu trabalho, minha mãe, ou a meu Deus? Ou melhor, como meu Deus
me ama? De fato, é esse mito greco-romano do amor romântico que leva
muitos a duvidaram do amor de Deus. E se o amor de Deus é caprichoso
como o amor de Hollywood? Deus vai se divorciar de mim?
Deve haver um caminho melhor. O amor deve ser mais que o mito. O mito
não suportará dificuldades, não vai superar adversidades, nem triunfará sobre
desastres. O mito não traz conforto para a mulher cuja beleza tem se
desvanecido, enquanto ela deve viver com o medo constante de que seu
marido, ao contemplar a beleza de uma mulher mais jovem, seja atingido por
essa força aleatória, incontrolável, irresistível, e sensual. O mito também não
pode aliviar os temores do homem que perde seu emprego, sua confiança e a
admiração de sua esposa. Esse amor também não oferece nada ao jovem casal
tentando navegar pelos altos e baixos dos primeiros anos de casamento.
Felizmente, há um caminho melhor. Deus nos deu uma definição de amor
que transcende o mito. Esse amor é traduzível, visto que é o mesmo, seja
amor em relação a um cônjuge, a um filho, a um irmão, ou a Deus. É também
confortador, pois não é volátil ou frágil como o mito. Esse amor suporta,
supera e triunfa. Melhor ainda: esse amor satisfaz completamente.
Moisés e o retrato bíblico do amor
Um dos versículos mais conhecidos da Bíblia é Deuteronômio 6.4. O Shemá
(“ouve”) é uma oração diária proferida por judeus devotos. O nome dado à
oração, Shemá, deriva da primeira palavra hebraica nesta passagem de
Deuteronômio 6.4: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único
SENHOR!” Entretanto, a parte mais popular da passagem vem a seguir:
“Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua
alma e de toda a tua força” (v.5). As três palavras hebraicas usadas aqui
(traduzidas como coração, alma, e força) nos dão uma clara definição bíblica
de amor: o amor é um ato de vontade, acompanhado de emoção, que leva à
ação em favor de seu objeto.
Um exame de cada uma dessas palavras sob o contexto da mensagem de
Moisés no livro de Deuteronômio e no testemunho da Escritura como um
todo confirmará essa definição.
O amor é um ato de vontade
Amor é uma escolha. Algumas pessoas acham essa declaração ofensiva
porque não soa muito “romântica”. Pode não soar romântica, mas nosso alvo
aqui não é romance — é amor. Mais especificamente, nosso alvo é a ideia
divina de amor, e isso começa com a Bíblia. Moisés diz: “Amarás o
SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração”. Essa é uma daquelas palavras
que usamos sem pensar. O que significa amar alguém de “todo o teu
coração”? O coração é um músculo que bombeia sangue e, contrário à nossa
terminologia, o coração não conhece nada, não sente nada e não vê nada.
Quando usamos frases como “pensar com a razão contra pensar com o
coração” ou “Eu sinto no meu coração”, estamos sempre usando linguagem
figurada. Não queremos dizer literalmente que o músculo no meio do nosso
peito tem mente própria.
A palavra hebraica para coração é lebab. Talvez você nunca use ou ouça essa
palavra novamente, mas lhe asseguro que ela é muito importante. A palavra
significa “homem interior, mente ou vontade”. Lembre-se: o coração é um
músculo que bombeia sangue, logo essa deve ser uma referência figurada.
Aqui, vemos que a palavra aponta para nossa vontade. Portanto, o amor
bíblico é um ato de vontade; é uma escolha.
Quantas vezes já assistimos a uma atleta encontrar uma força especial dentro
de si mesma e realizar um feito extraordinário? Quando isso acontece,
dizemos: “Ela competiu com o coração”. Por outro lado, quando vemos um
time de basquete se desestruturando no último quarto e desperdiçando uma
vantagem no placar, podemos reclamar: “Esse time não jogou com o
coração”. Isso não implica que a mulher mencionada tem um músculo que
bombeia sangue no centro de seu peito, enquanto o time perdedor não tem.
Isso seria ridículo. O que queremos dizer é que ela demonstrou uma vontade
incrível e o time, não. Em muitos sentidos, devemos agradecer ao conceito
hebreu já mencionado por essa figura de linguagem.
O problema é que, com o tempo, temos nos esquecido de que se trata de uma
figura de linguagem. Quando tratamos do conceito de amor, muitos de nós o
temos divorciado, por completo, da mente e da vontade. Falamos do coração
como se fosse o oposto de mente e vontade, quando, na verdade, a mente e a
vontade são precisamente onde o verdadeiro amor reside. Sou tão capaz de
amar sem minha mente quanto seria de falar sem minha língua.
O amor é acompanhado de emoção
O fato de o amor ser uma escolha não nega seus aspectos emocionais. O amor
não é vazio de emoções. Na verdade, mostre-me um homem ou uma mulher
que não tenha emoções em relação a seu futuro companheiro e eu lhe
mostrarei alguém que encontrou a “pessoa errada”! Se um homem viesse
encontrar-se comigo para aconselhamento pré-matrimonial e me dissesse que
estava comprometido com sua noiva, mas que não sentia necessariamente
algo emocional, eu lhe diria que continuasse procurando uma noiva.
Isso não é verdadeiro apenas para futuros cônjuges e recém-casados. Quando
nosso aniversário de quinze anos de casamento chegou, eu não esperei à porta
e irritadamente dei flores a Bridget, enquanto pedia por sua companhia para
“sair e devorar carne animal carbonizada em celebração ao laço pactual que
nos uniu nos últimos cento e oitenta meses”. Não! Eu olhei nos olhos dela e
esqueci tudo que havia planejado dizer! Tudo o que pude fazer foi balançar
minha cabeça e dizer: “Obrigado, Jesus!”
Meu coração ainda acelera quando me aproximo de casa após uma viagem
pastoral. Ainda tenho dificuldade em segurar meu fôlego quando minha
esposa toca em mim. Ainda fico hipnotizado quando a vejo cruzar uma sala
lotada. Na verdade, estou tendo dificuldade em segurar as lágrimas enquanto
escrevo este parágrafo. Ainda sou extremamente emocional em relação a
minha esposa.
Embora a emoção seja uma grande parte da equação do amor, ela não deve
ser a soma total. Embora o amor seja acompanhado por emoções, o amor
bíblico não é controlado pela emoção. Emoções mudam. Há dias em que
minha esposa quer apertar meu pescoço! Há dias em que nós queremos
simplesmente jogar tudo para o alto. Notícia de última hora: Casamento é
difícil! Somos dois indivíduos únicos fazendo guerra contra a carne, o
mundo, e o diabo. E algumas vezes, isso nos leva a declarar guerra um contra
o outro.
Um dos tristes subprodutos do mito greco-romano do amor romântico é a
quantidade de casamentos guiados pelas emoções que são descartados no
depósito de lixo do divórcio. Como pastor, já tive muitas conversas com
pessoas que escolheram abandonar seus casamentos porque seus sentimentos
mudaram. Alguns chegam a culpar a Deus. Quantas vezes ouvimos a
desculpa agora comum: “Deus não gostaria que eu continuasse em um
casamento em que sou infeliz”. Uma versão mais honesta para isso seria:
“Quando eu disse ‘até a morte’, estava falando da morte da minha satisfação
pessoal”.
Amor leva a ação em favor de seu objeto
Nas palavras da famosa “teóloga” Janet Jackson, “O que você fez por mim
ultimamente?”.[24] É claro, Janet não estava cantando sobre a definição
bíblica de amor, mas ela chegou a alguma coisa. Moisés diz que devemos
amar o Senhor, nosso Deus, de todo o nosso coração (vontade), toda a nossa
alma (emoções) e toda a nossa força. Esse último termo, meod, traduzido
literalmente, significa magnitude ou vigor. A palavra implica esforço ou
ação.
Por todo o livro de Deuteronômio, Moisés relaciona amar Deus a guardar
seus mandamentos (6.5-6; 7.9; 10.12; 11.1, 13, 22; 13.3-4; 19.9; 30.6, 16,
20). O tema é ame e obedeça. Esse tema é repetido não apenas por todo o
Antigo Testamento, mas também no Novo.
Jesus disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (João 14.15).
Em João 14.21, ele disse: “Aquele que tem os meus mandamentos e os
guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e
eu também o amarei e me manifestarei a ele”. Novamente, ele disse: “Se
guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como
também eu tenho guardado os mandamentos de meu pai e no seu amor
permaneço” (João 15.10). João, o autor que registrou essas declarações,
repete-as em sua epístola (1 João 2.3-4; 3.22; 5.3). De fato, a temática de
demonstrar amor pelo Senhor por guardar seus mandamentos permeia a
epístola de 1 João.
Em outras palavras, se você quer saber se uma pessoa ama verdadeiramente
ou não o Senhor, veja o que ela ou ele pratica. Se uma pessoa não pratica as
coisas que Deus diz que são agradáveis e aceitáveis, mas, na verdade, pratica
as coisas que Deus aborrece e proíbe e, ainda assim, alega que ama a Deus,
será difícil aceitar essa alegação. Com efeito, João argumenta: “Aquele que
diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não
está a verdade. Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele,
verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus” (1 João 2.4-5a).
O amor é comprovado por nossos esforços. Se digo que amo a Deus, deve
haver evidência nas minhas atitudes (ou na maneira como emprego minha
energia e esforço). Da mesma forma, se digo que amo minha esposa, isso
deveria ser evidenciado por meus atos. Se meus atos são egocêntricos, estou
demonstrando amor voltado para mim mesmo. Entretanto, se meus atos são
direcionados a satisfazer as necessidades dela, então ela é verdadeiramente o
objeto de minhas afeições.
Demorou um tempo para que eu aprendesse isso, mas, uma vez que o fiz, os
dividendos foram pagos de imediato. Eu me lembro vividamente da segunda
vez em que construímos uma casa (isso mesmo, passamos por isso mais de
uma vez). O construtor não podia acreditar que, de novo, nos estivéssemos
colocando nessa tortura. Contamos a ele que estávamos tranquilos e ansiosos
pela experiência. Eu me lembro muito bem de sua resposta. Ele olhou
diretamente para mim e disse: “Certo, você diz isso agora, mas espere até
você ter de ir para 'A Sala'”.
Ele estava se referindo, claro, à sala em que todas as decisões sobre o projeto
são tomadas. Esse é o lugar em que casais com frequência vão às lágrimas ou
aos tapas, enquanto tentam decidir sobre tintas, tijolos, molduras, pisos,
acessórios, e as temidas melhorias. “A Sala” é lendária. Se você já esteve lá,
não é necessária uma explicação. Se você nunca esteve lá, nenhuma
explicação é suficiente. Você precisa ver para crer.
Ainda assim, eu não estava preocupado. Olhei nos olhos dele e disse:
“Ficaremos bem”. Ele olhou de volta para mim com um sorriso do tamanho
do Alaska e, com todo o sarcasmo que conseguiu reunir, disse: “Estarei por
aqui se você precisar de mim”. Bridget e eu fomos para “A Sala”, e o jogo
começou.
Trinta minutos depois, saímos. O vendedor, certo de que tínhamos chegado a
um impasse e pronto para dar uma ajudazinha, perguntou: “Em que posso
ajudar?” Você precisava ver a cara dele quando o fitei e disse: “Não precisa;
já acabamos”. Tentei não tripudiar (por ser um cristão e tal), mas devo
admitir, senti-me como Deion "Neon" Sanders, após interceptar um passe e
retorná-lo para um touchdown de 99 jardas no Super Bowl![25]
Qual era o nosso segredo? Por que fomos capazes de entrar e sair tão
rapidamente, e com escolhas que impressionaram até os vendedores e
decoradores mais experientes? A resposta é amor. Levou tempo para
descobrir exatamente no que Bridget estava pensando. Fiz perguntas, ouvi as
respostas, observei suas reações quando estávamos visitando unidades
decoradas. Prestei atenção. Quando chegamos à sala de decoração, sabia o
que ela queria. Assim, tudo o que tive de fazer foi aproximar-me das coisas
que eu sabia que chamariam a atenção de Bridget, compará-las de acordo
com as habilidades que adquirira e observar tudo se encaixando.
Eu poderia ter entrado n’A Sala e dito: “Amor, você pode escolher o que
quiser”. Se eu tivesse feito isso, ela teria ficado frustrada e furiosa. Ficaria
frustrada porque a tarefa teria sido fatigante. E ficaria furiosa porque eu teria
me desligado do processo.
Eu poderia também ter apenas assumido o controle. Poderia ter dito: “Apenas
relaxe e deixe comigo”. Se eu tivesse escolhido esse caminho, Bridget teria
ficado assustada. Seus pensamentos teriam ido longe… e ela ficaria
imaginando o horror do gosto masculino naquilo que ela queria chamar de
casa.
Em vez disso, escolhi entender o que ela queria e ajudá-la a descobrir. Ao
fazer isso, demonstrei meu compromisso com minha esposa, com nossa casa,
e com o processo de construção. Foi fantástico! Agora… se mais vezes
seguidas eu conseguisse algumas poucas vitórias como essa… Infelizmente,
ainda há dias em que estrago tudo. Posso com toda clareza me lembrar do ano
em que comprei uma câmera de vídeo, como presente de Natal para Bridget.
Vi aquilo e pensei de imediato: Rapaz, nós precisamos de uma dessas. Em
um esforço de matar dois coelhos com uma cajadada só, eu o embrulhei e pus
sob a árvore. Gostaria de ser um escritor bom o bastante para descrever a cara
da minha esposa quando abriu a caixa. Mas chega desse assunto. Retornemos
à minha vitória na sala de guerra.
O que fui capaz de demonstrar naquele dia é que o amor leva à ação em favor
de seu objeto. Sei que minha esposa precisa me ouvir dizer: “Eu te amo”.
Entretanto, eu tinha começado a aprender que é igualmente importante para
ela ver-me fazendo coisas que demonstram meu amor. O mesmo pode ser
dito sobre meus filhos. Eles, também, precisam ouvir e ver o amor do Papai.
Aprendi o valor desse princípio no verão de 2003. Eu tinha um compromisso
para pregar na Conferência de Pastores da Convenção Batista do Sul dos
EUA. Era de longe o convite mais significativo que já havia recebido. Eu
estaria à frente da assembleia anual da maior denominação protestante do
mundo. Ademais, estaria dividindo o espaço com alguns dos maiores nomes
do mundo evangélico. Era uma honra incrível. Entretanto, dois meses antes
da Convenção, descobri que meus filhos tinham passado na prova teórica
estadual e conquistado o direito de tocar piano no Conjunto Estadual de
Pianos. Descobri também que não poderia assistir ao conjunto de pianos e, ao
mesmo tempo, pregar na Convenção.
Eu sabia o que tinha de fazer. Imediatamente, peguei o telefone e liguei para
o Dr. Mac Brunson, o presidente da conferência naquele ano. Expliquei
minha situação e perguntei se ele gostaria de retirar-me da programação. Mac
concordou com simpatia. Quando desliguei o telefone, minha esposa olhou
para mim com um olhar que, tenho certeza, todos precisam experimentar pelo
menos uma vez na vida. Não era um olhar de choque ou surpresa; era um
olhar de alegria e admiração totais. Eu tinha simplesmente dito não para a
maior oportunidade da minha carreira, mas não foi isso que ela ouviu. Ela
ouviu um retumbante SIM à pergunta: “Eu e as crianças estamos, de fato, em
primeiro lugar na sua vida?” Ela ouviu um amém caloroso à pergunta: “Tu
nos amas mais que a estes?”
Mais tarde, minha esposa contou a história a meus filhos, e a resposta deles
talvez tenha sido mais recompensadora que a dela. Eles simplesmente
olharam para a mãe segurando as lágrimas e disseram: “Legal”. Não foi
grande coisa para eles, em parte porque não tinham ideia do que era a
Convenção Batista do Sul e, em parte, porque não tinham dúvida de que seu
pai moveria céus e terra por eles, de que nada era prioridade acima deles
(exceto o Senhor e a mamãe).
Vantagens do modelo bíblico de amor
O modelo bíblico de amor é volitivo
Que valor há em um amor que seja irresistível e incontrolável? Que valor há
em saber que alguém está com você, porque não conseguiu evitá-lo? Não sei
quanto a você, porém, a mim, me traria pouco conforto saber que os últimos
quinze anos da minha vida teriam sido baseados em pouco mais que reações
químicas. Acho bem mais confortador saber que minha esposa acorda pela
manhã escolhendo amar-me, do que saber que ela acorda com o dedo no ar
tentando discernir para que lado o vento romântico está soprando e se
perguntando se já teria se “desapaixonado”.
O modelo bíblico de amor é transferível
Um dos maiores problemas com o mito greco-romano é que não me traz
absolutamente nada de bom para os relacionamentos não românticos. O
modelo bíblico se encaixa com meu relacionamento com minha esposa, meu
filho, minha filha, minha mãe, meu próximo, e meu Deus. Em cada uma
dessas situações, posso amar como um ato de vontade acompanhado de
emoção, que leva à ação em favor de seu objeto. Pelo contrário, a natureza
irresistível, incontrolável, imprevisível e sensual do amor romântico greco-
romano é quase exclusivamente reservada para um amante ou um cônjuge.
Devo admitir que não entendia isso quando me tornei pai. Eu estava
empolgado quanto a ter uma filha, mas estava morrendo de medo de não
conseguir amá-la. Eu amava tanto minha esposa que achava que não teria
espaço para amar outra pessoa. E o que dizer de outros filhos? Eu me
perguntava como iria distribuir meu amor para todo mundo. Conversando
com outros casais, percebi que meu dilema não era único.
Entretanto, a beleza do amor bíblico é que ele é completamente transferível.
Eu amo minha esposa como um ato de vontade, não como uma resposta a
uma força mística. Se o amor fosse uma força, eu teria de distribuí-lo.
Entretanto, se o amor é uma escolha, posso escolher amar minha esposa sem
comprometer minha capacidade de escolher amar meu filho ou minha filha.
Além disso, uma vez que o amor é acompanhado de emoção, minha escolha
em cada relacionamento traz sua própria recompensa emocional. Ademais, já
que o amor leva à ação em favor de seu objeto, posso demonstrar meu amor
por minha esposa em ações que de forma alguma comprometem minha
capacidade de agir em favor dos meus filhos.
O modelo bíblico de amor é seguro
O que acontece com um amor baseado na sensualidade, quando seu cônjuge é
inválido, ou apenas pouco atraente? O que acontece quando seu cônjuge está
em uma viagem de negócios e o Cupido o atinge com uma flecha perdida? O
que acontece se sua esposa torna-se “incontrolavelmente atraída” pela
presença de outro homem? A resposta no mito greco-romano é simples: “Não
escolhemos por quem nos apaixonamos”; logo, algumas vezes você precisa
apenas reconhecer que deixou de amar uma pessoa e passou a amar outra.
Afinal de contas, “Não foi por isso que eles inventaram o divórcio por mútuo
consentimento?” Foi o mito do amor romântico que nos trouxe invenções
maravilhosas como o acordo pré-nupcial.
Não é assim com o amor bíblico. O amor bíblico diz: “Eu escolho amá-lo
(ou, amá-la), e não vou a nenhum outro lugar”. O amor bíblico nada sabe
sobre voltar atrás, quando as coisas ficam difíceis. O amor bíblico dá sem
esperar, caminha a segunda milha, sacrifica-se pelos outros, e vê o divórcio
como a visitação de uma praga trágica e desnecessária sobre uma cultura que
se tem firmado em uma mentira. O amor bíblico não está, a todo tempo,
buscando por auges emocionais, os quais, com muita frequência,
caracterizam relacionamentos imaturos. Mas, pelo contrário, o amor bíblico
se alegra e satisfaz com a profundidade e a liberalidade que apenas o amor de
um relacionamento piedoso e maduro pode oferecer. O amor bíblico não está
em busca constante por algo melhor; ele está muito ocupado agradecendo a
Deus por algo real.
Vi um extraordinário exemplo disso, quando preguei há pouco tempo, na
igreja de um amigo meu, Dan Yeary, pastor da Igreja Batista de North
Phoenix. Dan e sua esposa estão casados por trinta anos. São um dos casais
mais piedosos que já vi por aí. Ela tem esclerose múltipla. Pelos últimos
muitos anos, tem estado confinada a uma cadeira de rodas. Não pode mais
andar ou cuidar de si mesma. Ela é totalmente dependente de Dan.
Passei dois dias observando Dan Yeary, um homem em seus sessenta anos,
pôr e retirar sua esposa da cadeira de rodas, colocá-la em seu assento na
igreja e no restaurante onde comemos. Ele tem de colocá-la e retirá-la do
carro toda vez que vão a algum lugar. No jantar, ele teve de ajudá-la a comer,
a mover a boca, e teve de ajeitá-la na cadeira mais de uma vez.
Enquanto observava o casal, fiquei impressionado com quão estúpido seria
culpar alguma reação química pelo nível de compromisso que aquele homem
demonstra diariamente. Em 365 dias por ano, ele precisa cuidar de sua
amada. E ele não fugiu. Você não encontrará isso na flecha do cupido.
O modelo bíblico de amor satisfaz
Eu preferiria comer um sanduíche com Bridget a fazer sexo com outra
mulher. Estou completamente satisfeito com minha esposa. Não estou
procurando por “aquele sentimento especial que tínhamos”. Percebo que
aquilo que compartilhamos tem amadurecido e crescido com os anos. Não
estou esperando por aquela carga de adrenalina pura de uma nova paixão.
Nem anseio por isso. Tenho encontrado um bem mais substancial, mais
satisfatório, e mais recompensador. Descobri uma riqueza que não vem e vai
como as marés. Descobri o amor verdadeiro.
Não estou sugerindo que eu seja imune às armadilhas femininas. Pensar isso
seria tolice. Lembro-me constantemente da advertência em 1 Coríntios 10.12:
“Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia”. Não, não sou um
super-homem. Protejo-me em cada aspecto. Não fico sozinho com mulheres,
se puder evitar. Não aconselho mulheres, a não ser que esteja em uma sala
com janela aberta por onde alguém do lado de fora possa observar. Não tenho
amizades íntimas com mulheres, fora da minha família. Sou muito cuidadoso;
alguns diriam que sou cuidadoso demais!
Não tomo essas precauções porque duvide do meu compromisso com minha
esposa. Pelo contrário, tomo essas precauções como sinal de compromisso.
Quero evitar até mesmo a aparência do mal. Não quero sequer abrir espaço
para acusações. Além disso, não quero perder para o inimigo nem um
centímetro, quanto mais uma base inteira. Para não mencionar o fato de que
essas barreiras permanecem como um lembrete constante à minha esposa de
que estou comprometido em proteger a santidade, a pureza, e a exclusividade
de nossa aliança. Em outras palavras, ela entende que essa proteção é um ato
de vontade acompanhado de emoção, que leva à ação em favor de seu objeto.
As pessoas estão observando
Certa noite, minha esposa e eu estávamos jantando em um restaurante de Las
Vegas. Desfrutávamos de uma viagem de dois dias, com duas de nossas
melhores diversões (boa comida e espetáculos incríveis). Tínhamos acabado
de sair de um teatro onde vimos uma apresentação fantástica do Cirque Du
Soleil. Depois disso, tínhamos reservas no restaurante Emeril’s; era a saída
dos sonhos para nós dois. Entramos no restaurante rindo, conversando e de
mãos dadas. Éramos apenas sorrisos. Quando nos aproximamos de nossa
mesa, puxei a cadeira de Bridget (como sempre faço), ajudei-a a sentar-se,
então me acomodei perto dela, enquanto continuávamos a conversar sobre
nosso dia maravilhoso.
Quando nos sentamos lá, uma mulher, na mesa mais próxima, perguntou a
minha esposa: “Você dois estão em lua de mel?” Bridget e eu nos olhamos e
sorrimos. “Não, na verdade, somos casados há doze anos”, Bridget
respondeu. A mulher assentiu com ironia e, então, perguntou: “Aniversário
de casamento?” Bridget negou com um movimento da cabeça, o que deu à
mulher um sorriso vazio. Ela finalmente desabafou: “Vocês devem ter ganho
muito dinheiro nas mesas”. Ao que Bridget respondeu: “Não, nós não temos
o hábito de jogar”. Finalmente, pronta para satisfazer a curiosidade da
mulher, Bridget sorriu para ela e disse: “Nós viemos aqui apenas para estar
fora por alguns dias”. “Deve ser ótimo!” — a mulher respondeu, enquanto
olhava para seu marido, que dificilmente terá ouvido alguma coisa.
Aquela mulher pensava que tinha visto o brilho do amor romântico greco-
romano em seu auge. Ela pensava que o Cupido tinha acabado de nos acertar
com sua flecha e que estávamos sob o efeito de uma nova paixão. Ela tinha
certeza de que éramos recém-casados ou que, pelo menos, estávamos
celebrando um aniversário importante. Ela simplesmente não podia
compreender por que um casal casado há doze anos (seguidos) se
comportaria da maneira como nos comportávamos um com o outro. E passou
o resto da noite olhando para nós com descrença.
O que aquela mulher não percebeu é que abrir a porta para minha esposa,
puxar a cadeira dela, olhar atentamente em seus olhos enquanto ela fala, e,
numa calçada, caminhar do lado da rua, são todos comportamentos
aprendidos por mim. Ela não estava ciente de que segurar minha mão, rir das
minhas piadas, colocar a cabeça em meu ombro, jantar no restaurante de um
dos meus chefes de cozinha favoritos da Food Network[26] eram todos
esforços de Bridget para tornar essa viagem memorável para mim. Ela
também ignorava o fato de que Bridget e eu nos sentamos e planejamos
várias dessas viagens todo ano, não porque estejamos dominados pela paixão,
mas porque estamos comprometidos em fazer coisas que cultivem nosso
casamento, e sabemos que se não as planejarmos, elas não acontecerão.
Aquela mulher pensava que estivesse olhando para uma força aleatória,
irresistível, incontrolável, e sensual, quando, na verdade, olhava para um ato
de vontade acompanhado de emoção que leva à ação, em favor de seu objeto.
Essa mulher estava tão acostumada com a falsificação que nem mesmo sabia
o que fazer com a versão autêntica diante de seus olhos.
Infelizmente, essa mulher não é ninguém incomum. Mesmo alguns cristãos
passam seus dias de vida vagando sem rumo em busca do mito greco-
romano. Pulam de relacionamento em relacionamento, pensando que “esta
será a pessoa certa”. No final, “seguem seu coração” até o altar, esperando,
para o final, a felicidade. Então, quando a novidade acaba e seus votos de
casamento são uma memória distante, eles tomam fôlego, jogam a toalha e
recomeçam do princípio, convencidos de que tudo de que precisam é fazer
uma escolha melhor da próxima vez. Para outros, seu compromisso com o
casamento não os deixará desistir, assim, eles arrastam-se adiante, através de
anos de agonia, ocasionalmente interrompidos por vislumbres momentâneos
de esperança. Em cada caso, o contentamento de fato nunca vem.
O tempo todo Deus nos tem dado uma resposta. Deus tem nos providenciado
um amor que satisfará nossos desejos mais profundos. Não temos de esperar
que surja uma trilha romântica ao fundo. Na verdade, posso garantir que
esses momento serão raros. Tudo o que devemos fazer é aceitar a definição
bíblica de amor e começar a caminhar nela. Primeiro, precisamos aprender a
amar a Deus. A seguir, começaremos a expressar esse mesmo amor aos
outros. Finalmente, esse amor passa a refletir-se, direcionado a nós. E a
próxima coisa que você percebe são as pessoas começando a perguntar:
“Vocês dois estão em lua de mel?”
Entrando em ação
1. Relembre as últimas discussões violentas que você e seu cônjuge tiveram.
Você pensou em jogar a toalha? Se a resposta é sim, considere as verdades
discutidas neste capítulo, e pergunte a si mesmo o que lhe custaria “jogar a
toalha”.
2. Considere seu relacionamento a partir da perspectiva de seus filhos. Eles
sabem que você e seu cônjuge amam um ao outro? Quando observam e
escutam vocês, eles veem um retrato do amor bíblico, ou veem a figura de
um relacionamento volátil, instável, e inseguro, que pode se acabar a
qualquer momento? Se for o segundo caso, talvez vocês devam procurar seus
filhos, pedir a eles perdão pelo retrato que pintaram, e começar a apresentar-
lhes outra imagem.
3. Se você está planejando casar-se, seu relacionamento foi construído sobre
as expectativas do mito greco-romano ou sobre o mandato bíblico? O que
você fará para promover, em seu casamento, este mandato bíblico e não
aquele mito?
4. DÊ-LHE SEU CORAÇÃO

Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração.


Deuteronômio 6.6

Um entendimento adequado do amor bíblico é o fundamento sobre o qual a


vida espiritual de uma criança é construída. Entretanto, esse fundamento é
apenas o primeiro passo. Se o amor bíblico é o fundamento, uma cosmovisão
bíblica é a estrutura. É imperativo que preparemos nossos filhos para pensar
biblicamente. Um filho sem uma cosmovisão bíblica é como um jogador sem
tática. Ele pode ter habilidades espetaculares que lhe permitirão fazer
ocasionais jogadas de cair o queixo, porém, muito mais vezes, estará no lugar
errado e na hora errada e, pior, sem saber como chegou lá ou como voltar.
Uma lição do futebol americano
Eu jogava futebol americano na faculdade. Em meu segundo ano, passei por
uma mudança de técnico. Estive um ano sob a liderança do técnico Jerry
Burnt e sua equipe. Então, do nada, o técnico Burnt se foi, e eu e meus
colegas fomos apresentados ao regime de Fred Goldsmith. É bem provável
que você não reconheça nenhum desses homens pelo nome. E é
desnecessário dizer que minha universidade era bem mais conhecida pela
área acadêmica que por seu time de futebol, porém, para nós, aquela mudança
foi um fato importante.
Para quem está de fora, mudanças de técnico parecem bastante simples. Um
homem está à beira do gramado gritando: “Vamos lá, pessoal!” — e não está
funcionando. Então você arruma outro cara para ficar à beira e gritar: “Força,
pessoal!” — e espera que ele consiga resultados melhores. É claro, qualquer
pessoa que já tenha jogado futebol sabe que não é assim. Mudar de técnico é
uma tarefa enorme.
Uma das maiores dificuldades de uma mudança de técnico é adaptar-se à
nova filosofia e à nova terminologia. Futebol americano é um jogo simples,
mas existem diversas formas de abordar a arte e a ciência de levar a bola até o
outro lado do campo (e de impedir que o cara do outro time faça o mesmo).
Alguns técnicos enfatizam velocidade; outros preferem tamanho. Alguns
técnicos querem lançar a bola para todos os lados, enquanto outros dão
preferência ao jogo rasteiro. Além disso, alguns usam palavras para descrever
jogadas, enquanto outros usam números. De muitas maneiras, aprender a
filosofia e a terminologia de um novo técnico é como aprender uma nova
língua (e algumas são mais complicadas que as outras). Por isso é que alguns
jogadores podem crescer sob certos treinadores, mas fracassam com outros.
Em muitos sentidos, a salvação é como uma mudança de técnico. Passamos
de um regime (o mundo, a carne e o diabo) para outro (Cristo). Como um
jogador diante de um novo técnico, se quisermos vencer, devemos aprender,
o mais rápido possível, nossas novas táticas e a filosofia e a terminologia do
novo técnico. Infelizmente, muitos cristãos ou ignoram as grandes
implicações dessas verdades ou nunca se esforçam para incorporá-las a sua
caminhada cotidiana.
Devemos mudar não apenas nossa lealdade, mas também nossos pensamento
e linguajar. Creio que é isso que Moisés quer dizer quando fala que “Estas
palavras… estarão no teu coração”. Não é apenas um chamado para fazer o
que Deus manda; é um chamado para submeter nossa própria vontade à
vontade de Deus. Como vimos no capítulo 3, o uso da palavra hebraica
coração nessa passagem quer indicar volição e vontade. Esse é um chamado
para uma renovação completa de cosmovisão. Peter Craigie nota:
Os mandamentos, que providenciavam um contexto em que os Israelitas poderiam
expressar seu amor por Deus, deveriam estar sobre seu coração — isto é, o povo
deveria pensar neles e meditar sobre eles. Assim, sua obediência não seria uma
questão de legalismo formal, mas uma resposta baseada no entendimento.[27]
João Calvino, comentando a mesma passagem, traz um argumento ainda
melhor sobre o assunto:
Ele (Deus) implantaria isso em seus corações, evitando que o esquecimento o
roubasse deles; e, com a palavra “coração”, Deus designa a memória e outras
faculdades da mente; é como se Deus tivesse dito que aquilo era um tesouro tão
grande que havia bom motivo para que eles o escondessem em seus corações, ou
que fixassem essa doutrina profundamente em suas mentes, de forma que ela nunca
escapasse.[28]
Assim, o objetivo da instrução de Moisés não era levar Israel a uma
memorização cega ou a uma adesão vazia à Lei. O objetivo era uma mudança
na própria maneira de pensar do povo de Deus.
Quando se trata de Deus, tudo muda. Passamos a usar palavras como fé,
salvação e eternidade. Além disso, nossos comportamentos e atitudes
começam a ser transformados. Em resumo, vir à fé significa trocar
cosmovisões. Creio que essa verdade tem pelo menos duas implicações
significativas em relação a criar filhos piedosos.
Primeiro, se seguir o Senhor significa mudar nossa cosmovisão, devemos
adquirir um entendimento básico sobre em que uma visão de mundo implica.
Segundo, se nossa cosmovisão deve mudar, a cosmovisão bíblica não é nossa
posição natural. Em outras palavras, se pensar conforme a cosmovisão bíblica
fosse atitude normal para nós, não haveria necessidade de adaptarmos nossa
cosmovisão, quando chegássemos à fé. Portanto, é essencial que aprendamos,
sob um ponto de vista geral, o que é uma cosmovisão e, em particular, qual é
a cosmovisão bíblica.
O pesquisador George Barna sugere que não se cultiva uma cosmovisão
bíblica apenas frequentando regularmente uma igreja. Ele argumenta que
“uma cosmovisão bíblica deve ser tanto ensinada quanto imitada — isto é, ela
deve ser explicada e exemplificada. É claro que há grandes seguimentos do
cristianismo que carecem do benefício de tal expressão compreensiva e
consistente da verdade bíblica”.[29]
O que é uma cosmovisão?
Ultimamente, o termo cosmovisão tem surgido nos círculos cristãos com uma
frequência cada vez maior. Vários livros sobre cosmovisão foram lançados na
última década — E Agora, Como Viveremos? — por Charles Colson e Nancy
Pearcey; Verdade Absoluta, por Nancy Pearcey; Pense como Jesus, por
George Barna; Cosmovisões em Conflito, por Ronald Nash; Dando Nome ao
Elefante por James W. Sire; Clash of Worlds [Choque de Mundos] por David
Burnett; e muito mais. É difícil passar por uma livraria cristã sem tropeçar em
um livro com Cosmovisão no título. Ainda assim, muitos cristãos têm
dificuldade em definir o termo. Talvez, a melhor forma de trabalhar uma
definição de cosmovisão seja observar o que ela faz.
Nossas lentes
Uma cosmovisão, de acordo com Francis Schaeffer, é o “filtro através do
qual uma pessoa enxerga o mundo”.[30] Em outras palavras, uma cosmovisão
é como um par de óculos. Pense na primeira vez em que você colocou óculos
de sol ou usou lentes prescritas para outra pessoa. Imediatamente, o mundo
ganhou um novo tom, ou talvez tudo tenha ficado maior ou menor. Isso é
exatamente o que uma cosmovisão faz.
No onze de setembro, pessoas de todo o mundo ocidental observaram com
horror as notícias dos ataques terroristas se espalharem. Entretanto, quem
pode esquecer as imagens dos muçulmanos palestinos dançando nas ruas e
dando doces para as crianças como se fosse um feriado? Esse é um exemplo
primário do impacto da cosmovisão. Minhas lentes viram tragédia, enquanto
outras viram triunfo.
Testemunhei o mesmo fenômeno quando era um jovem seminarista. Eu
estudava no Southwestern Baptist Theological Seminary [Seminário
Teológico Batista do Sudoeste dos EUA] quando o julgamento de O. J.
Simpson ocupou a atenção de toda a nação. Poucas coisas eram ditas pelos
corredores, mas quando o veredito foi lido, as ações falaram mais alto.
Lembro-me especificamente de estudantes negros comemorando, enquanto
estudantes e professores brancos balançavam a cabeça em desgosto e
descrença.
Enquanto saía do espaço onde muitos de nós nos reunimos para ouvir o
veredito, um dos meus amigos, um pastor branco na casa dos trinta,
perguntou-me: “O que acabou de acontecer ali?” Ele não conseguia acreditar
no contraste gritante entre os dois grupos de pessoas naquela sala. Todos eles
eram estudantes do mesmo seminário, seguidores do mesmo Jesus, leitores da
mesma Bíblia, mas suas cosmovisões eram mundos à parte. Era como se dois
grupos de pessoas estivessem olhando para a mesma imagem, usando lentes
completamente diferentes.
Nossas pressuposições
James Sire expande essa ideia: “nossas pressuposições fundamentais —
aquelas tão básicas que nada mais básico pode ser concebido — compõem
nossa cosmovisão”.[31] A cosmovisão da maioria das pessoas não se baseia
em análise crítica, mas em pressuposições. Não gastamos nossos anos de
formação avaliando os méritos das premissas da cultura. Simplesmente
vemos como as coisas são e nos alinhamos.
Lembro-me de caminhar pelo aeroporto de Londres e assistir a uma mulher
caminhando bem atrás de seu marido e levando a bagagem, como se fosse
uma mula de carga. Era uma mulher muito pequena, coberta da cabeça aos
pés. Levava dois filhos pequenos e diversas malas. Lembro-me de pensar:
Que idiota! Meu senso ocidental de cavalheirismo ofendeu-se. Sou alguém
que aprendeu a sempre andar do lado da rua em uma calçada, a sempre abrir
portas, a esperar que a dama se sente antes de assentar-me, e um conjunto
completo de outras coisas relacionadas a tratamento adequado a se dar a
mulheres.
Entretanto, quando aquele homem me observou através de suas lentes
culturais, provavelmente achou que a atitude de minha esposa (e das esposas
de outros ocidentais no aeroporto) era extremamente desrespeitosa, por
caminhar ao meu lado como se fosse minha igual. É provável que tenha
pensado que eu estava dando um mau exemplo para meus filhos e que minha
filha cresceria para tornar-se a esposa horrível de algum homem. Todos
temos pressuposições. Existem coisas que consideramos certas, mas que
outros considerariam bem peculiares.
Nossa visão geral
Chuck Colson e Nancy Pearcey nos dão uma informação ainda melhor sobre
o assunto, em seu livro E Agora, Como Viveremos? Eles definem cosmovisão
como “a soma total de nossas crenças sobre o mundo; a visão geral que dirige
nossas decisões e ações diárias”.[32] A chave para a definição de Colson e
Pearcey é a última frase: nossa cosmovisão “dirige nossas decisões e ações
diárias”. Você e eu agimos com base nos princípios em que cremos.
Em última análise, nossos filhos também vão agir baseados nos princípios em
que acreditam. Se não dermos a nossos filhos uma cosmovisão bíblica, eles
simplesmente seguirão nossas regras enquanto estiverem sob nossa
vigilância, mas assim que ganharem independência, começarão a tomar
decisões baseadas em sua própria cosmovisão. Quantas vezes temos visto
este cenário? Um rapaz ou uma moça criada em um “bom lar cristão” vai
para a faculdade e perde completamente a cabeça! O que aconteceu? Na
verdade, é muito simples; os limites foram removidos, e sua cosmovisão
tomou o controle.
Como muitos pais, eu me vi na árdua tarefa de construir, no quintal, um
parquinho para meus filhos. Não vou entediá-lo com os detalhes, mas basta
dizer que aprendi uma lição valiosa sobre por que se incluem instruções na
embalagem de brinquedos como aqueles.
Nossa cosmovisão funciona de maneira muito parecida com o manual de
instruções para a montagem de um parquinho. Cada decisão de nossas vidas é
como uma parte desse brinquedo. Em si mesmas, elas podem parecer
insignificantes ou mesmo sem sentido. Entretanto, quando olhamos para as
instruções (a visão geral), vemos onde essas peças aparentemente
insignificantes se encaixam. Sua cosmovisão é o manual de instruções em
que você determina o local adequado para cada pensamento, ação,
comportamento, opinião, e decisão, em sua vida.
Por que nossos filhos precisam de uma cosmovisão bíblica
Em 2005, comecei a fazer conferências pelos Estados Unidos. As
conferências eram baseadas em meu primeiro livro, The Ever-Loving Truth
[A Verdade Sempre Amável]. Não eram conferências especificamente sobre
cosmovisão, mas tratei do assunto. Depois de uma das conferências em
Pensacola, Flórida, recebi o seguinte e-mail de uma jovem que chamarei de
Katy. Ela escreveu:
O que fez a situação tão interessante para mim não foi apenas que eu estivesse
tentando prestar atenção no que fazia, mas estava realmente lendo Ever-loving
Truth pouco antes de tropeçar exatamente no “humanismo pluralista e secular”,
como acho que foi chamado. Em minha aula de inglês, estávamos discutindo um
livro chamado “Ratos e Homens”. (Se você não está familiarizado com o livro, o
enredo geral é sobre dois homens viajando juntos. Um deles é deficiente mental e
sempre se mete em confusão, fazendo coisas muito ruins, sem perceber. Quando
está claro que o homem será pego e morto, provavelmente depois de ser torturado e
abusado, seu amigo atira na nuca dele). Discutimos na aula se aquilo foi certo e se,
nessas circunstâncias, poderia ser considerado assassinato. Então, imediatamente,
no piloto automático, escrevi minha resposta padrão — não foi realmente certo,
mas provavelmente foi aceitável… e então, percebi! Era isso! Era exatamente disso
que você estava falando. Durante toda a discussão, ninguém podia admitir que
assassinato é assassinato. Não matarás. Ponto! “Mas foi misericordioso, e foi para
seu próprio bem, e as circunstâncias…” Persisti por toda a discussão mencionando
o inegável — assassinato. Porém, assim que eu disse as palavras “verdade
absoluta”, fui completamente ignorada. Afastaram-me da discussão inteligente
porque eu estava sendo irracional. E eu quase tinha cooperado com aquilo! É claro,
ainda me resta um longo caminho para ter uma verdadeira cosmovisão cristã, mas
estou tentando; e estou aprendendo.
Como seus filhos teriam se saído na aula de Katy? Ou melhor, como você
teria se saído? Você ou seus filhos teriam sido capazes de ter uma conversa
inteligente com alguém que quisesse saber o fundamento bíblico, teológico, e
filosófico, em que você baseia suas decisões éticas? Você seria capaz de
“responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1
Pedro 3.15)? Não me refiro a tirar um tempo, reunir suas ferramentas de
estudo bíblico, fazer uma pesquisa na internet, organizar seus pensamentos e
apresentar seu argumento. Quero saber se você tem as ferramentas prontas.
Elas estão “em seu coração”?
Se sua resposta é não, você não está sozinho. Além disso, se seus filhos não
estão nesse ponto, também não estão sozinhos. Ensino cosmovisão bíblica em
uma faculdade local, e sou continuamente surpreendido pela constatação de
quão raro é encontrar um aluno que possua uma cosmovisão bíblica. Não
estou falando sobre garotos desavisados de dezoito anos. A faculdade em que
ensino atende a alunos mais velhos, de ministérios não tradicionais.
Regularmente, encontro pastores, diretores de Escola Bíblica Dominical,
ministros de juventude e líderes de igreja (muitos deles estão na casa dos
trinta anos) que simplesmente não pensam de acordo com a Bíblia. E o que é
pior: a princípio, muitos deles são céticos e resistentes à cosmovisão bíblica.
Em sua pesquisa para o National Study of Youth and Religion [Estudo
Nacional em Juventude e Religião], Christian Smith descobriu que “era
impressionante como adolescentes articulados eram raros”. Ele prossegue:
“Em sua grande maioria eles simplesmente não conseguiam expressar-se
sozinhos sobre assuntos como Deus, fé, religião, ou vida espiritual”.[33]
Antecipando perguntas sobre a capacidade geral desses adolescentes de
articular com clareza outros assuntos, Smith escreve:
Não cremos que a falta de articulação do adolescente quanto a assuntos religiosos
reflita alguma generalizada incapacidade adolescente para pensar e falar bem.
Muitos dos jovens entrevistados eram bastante versados quando se tratava de várias
outras perspectivas sobre assuntos importantes nos quais tinham sido instruídos ou
que aprenderam a discutir, como os perigos do abuso de drogas e DSTs. Pelo
contrário, nossa impressão, como entrevistadores, foi de que muitos adolescentes
não conseguiam articular-se sobre assuntos de fé, porque não foram efetivamente
treinados e não tiveram oportunidades de praticar a discussão sobre sua fé.[34]
Infelizmente, isso não deveria ser uma surpresa. O pesquisador George Barna
descobriu que menos de 10% dos professos “cristãos nascidos de novo” dos
Estados Unidos têm uma cosmovisão bíblica. E o pior, descobriu que apenas
metade (51%) dos pastores norte-americanos tem uma cosmovisão bíblica.
Lamentando seus resultados, Barna escreve:
A questão mais importante é que você não pode dar às pessoas aquilo que não tem.
A baixa porcentagem de cristãos que têm uma cosmovisão bíblica é um reflexo
direto do fato de que metade de nossos principais mestres e líderes religiosos
também não tem essa cosmovisão bíblica. Em algumas denominações, a grande
maioria do clero não tem uma cosmovisão bíblica, e isso se mostra claramente nos
dados relacionados às visões teológicas e escolhas morais das pessoas que
frequentam essas igrejas.[35]
A não ser que esses números mudem, as futuras gerações terão problemas.
Uma igreja cheia de pessoas carentes de uma cosmovisão bíblica, no fim das
contas não é uma igreja.
Elementos básicos de uma cosmovisão
As opiniões variam sobre o que compõe uma cosmovisão. Entretanto, para
nossos objetivos, limitaremos a discussão aos cinco elementos mais básicos:
nossa visão de Deus, homem, verdade, conhecimento e ética. Ensinar nossos
filhos a pensar biblicamente sobre essas cinco áreas básicas constituirá um
grande passo na jornada para estabelecer em suas vidas um fundamento para
o pensamento bíblico.
A fim de contextualizar essas ideias, vamos examiná-las à luz do conflito em
curso em nossa cultura — o conflito entre o Humanismo Secular e o Teísmo
Cristão. Humanismo Secular é a cosmovisão mais popular em nossa cultura
hoje (como você perceberá). Na verdade, muitos cristãos em nossa sociedade
identificam-se mais facilmente com elementos do Humanismo Secular do que
com o Teísmo Cristão.
Outra coisa que você perceberá, enquanto caminhamos em nossa análise, é
que os elementos estruturais e componentes centrais do Humanismo Secular
explicam boa parte do atual conflito cultural. Talvez você já tenha feito
perguntas como: “Por que há esse debate sobre ensinar design inteligente
junto com a teoria da evolução?” ou “Como alguém pode ser contrário à
proibição do aborto com nascimento parcial?”.[36] Ou uma questão ainda
melhor é “Em uma votação em que se viram as Emendas sobre Casamento
(definindo casamento como um relacionamento entre um homem e uma
mulher, banindo, portanto, o suposto casamento gay) sendo
esmagadoramente aprovadas, por que a maioria dos jovens entre 18 e 24 anos
votou contra essas medidas?” Todos esses assuntos ganham um enfoque
claro, ao entendermos os elementos de uma cosmovisão humanista secular.
HUMANISMO TEÍSMO CRISTÃO
SECULAR
VISÃO DE DEUS ATEÍSMO TEÍSMO
VISÃO DO EVOLUÇÃO CRIAÇÃO ESPECIAL
HOMEM
VISÃO DA RELATIVA ABSOLUTA
VERDADE
VISÃO DO CIENTÍFICA/ CIENTÍFICA/
CONHECIMENTO MATERIALISMO REVELAÇÃO GERAL/
/NATURALISMO NATURAL
VISÃO DE ÉTICA CULTURAL ABSOLUTA

No que você acredita em relação a Deus?


A primeira questão a que devemos responder é: qual é a natureza de Deus? O
Humanismo Secular toma uma posição ateísta sobre Deus, enquanto o
Teísmo Cristão, como o nome implica, vem de uma perspectiva focada em
Deus ( teísta, do grego 'theos' Deus). Em outras palavras, o Humanismo
Secular (a cosmovisão dominante em nossa cultura) defende que não há
Deus, enquanto o Teísmo Cristão crê em um Deus pessoal, que criou, reina, e
interage com o mundo.
Com frequência, menciona-se que a maioria dos norte-americanos (alguns
colocam isso na casa dos 90%) declara crer em Deus. Portanto, parece
inconsistente afirmar que o Humanismo Secular, com suas tendências, por
natureza ateístas, é a cosmovisão dominante nos Estados Unidos. É
importante notar que muitos humanistas seculares afirmarão crer em Deus, de
algum modo; mas, em geral, sua crença é uma imitação. Alguns dirão que
deve haver algum “poder maior” ou “força orientadora” no universo, porém,
erram o alvo por não declararem fé no Deus da Bíblia. Em seu livro A New
Christianity for a New World [Um Novo Cristianismo para um Novo
Mundo], John Shelby Spong argumenta que nosso entendimento do mundo
científico moderno faz necessário que os cristãos desenvolvam uma visão
nova, “não teísta”, de Deus. Em outras palavras, Spong, um humanista
secular confesso, reconhece o fato de que a visão teísta de Deus não se
encaixa em sua cosmovisão. Porém, como sacerdote episcopal, ele reconhece
que um ateísmo explícito não se encaixa muito bem em seu contexto. O
problema, claro, é que essa chamada visão “não teísta” de Deus não traz
qualquer semelhança com o Deus da Bíblia.
O Deus da Bíblia é pessoal. O Deus da Bíblia não é uma força ou uma ideia;
ele é uma pessoa. O Deus da Bíblia é racional, relacional, comunicativo e
emocional. O Deus da Bíblia fala a seus profetas e por meio deles. Ele chama
seu povo para si. Ele redime pecadores perdidos e julga o impenitente.
O Deus da Bíblia é soberano. Ele conhece todos os cabelos de sua cabeça,
cada folha de grama, todo pardal que voa, e toda pétala que cai no outono. O
Deus da Bíblia nunca tem sono ou dorme. Ele nunca é pego desprevenido ou
de surpresa. O Deus da Bíblia conhece o início e o fim. Ele conhecia todos os
nossos dias antes que nascêssemos.
O Deus da Bíblia é santo. Ele não pode pecar. Ele é a própria fonte de
verdade e justiça. Não há sombra nele. A essência da natureza de Deus é o
bem. Com certeza Deus não comete equívocos ou erros, e não pratica o mal.
O Deus da Bíblia é o criador do mundo. No princípio, criou Deus os céus e a
terra. Com essas palavras, a Bíblia anuncia um de seus temas centrais, na
primeira frase do primeiro capítulo do primeiro livro. Tais palavras podem
parecer simples e insignificantes, porém, na realidade, elas são o centro da
cosmovisão bíblica. Se Deus criou o mundo, o Humanismo Secular não é
sequer uma possibilidade remota. Se Deus criou o mundo, então Deus criou o
homem. Se Deus criou o mundo, então nossa visão de verdade,
conhecimento, e ética, deve ser moldada por esse simples fato. A cosmovisão
bíblica sustenta-se ou cai com esse simples conceito.
No que você acredita em relação ao homem?
A segunda grande questão a que uma cosmovisão deve responder é: qual é a
natureza do homem? O Humanismo Secular vê o homem como resultado
final do processo evolutivo aleatório, enquanto o Teísmo Cristão entende o
homem como uma criação especial de Deus. Isso é observado com clareza no
debate atual sobre evolução.
O que está em jogo, no entanto, é bem mais significativo que a opção entre
ensinarmos, ou não, design inteligente. Esse elemento da cosmovisão
também passa no centro do debate sobre aborto. Se o homem é um mero
organismo unicelular melhorado, que fugiu a um controle, ele não tem
importância, valor ou dignidade inerentes; em última instância, o homem é
apenas um acidente cósmico, e a comunidade humana é que lhe atribui
qualquer valor que ele venha a ter.
Não é difícil ver como isso levaria a um ponto de vista radical sobre o aborto.
Peter Singer, renomado bioeticista da Universidade de Princenton, defende
que o aborto deveria ser legal antes da “pessoalidade”. O que choca é que a
definição de pessoalidade de Singer levaria a questão do aborto não para o
segundo ou terceiro trimestre de uma gestação, mas para o segundo ano após
o nascimento. Isso mesmo, pela definição de Singer, meu filho de treze meses
(pelo fato de não conseguir se comunicar ou sustentar sua própria vida sem
ajuda) ainda não chegou à pessoalidade, e tirar sua vida agora não seria mais
problemático que fazê-lo em um aborto antes do nascimento.
Embora isso seja chocante, devo fazer uma pergunta: Qual é a diferença entre
meu filho de treze meses e um feto de seis meses? A resposta é: localização.
Se é aceitável matar uma criança no ventre, também é aceitável fazê-lo fora
do ventre. Peter Singer não está sendo mórbido; ele está sendo consistente. A
única diferença entre ele e muitos cristãos que tomam a posição pró-aborto é
a coerência de sua visão do homem. Uma olhada rápida no padrão bíblico
para a natureza do homem deixará isso claro.
A Bíblia ensina que o homem é criado à imagem de Deus. Em Gênesis 1.26,
a Bíblia registra as palavras do Deus triúno: “Façamos o homem à nossa
imagem, conforme a nossa semelhança”. E continua: “tenha ele domínio
sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos,
sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra”. Portanto, o
homem foi criado como a majestosa glória da criação. Essa verdade tem
muitas implicações importantes, nada menos que a dignidade e o valor de
cada homem.
Como portador da imagem de Deus, o homem tem dignidade e valor
inerentes. Quando você e eu olhamos nos olhos de outro ser humano,
estamos olhando para um portador da imagem de Deus. Independente de
raça, cor, crença, posição socioeconômica, ou até más ações, todo homem,
mulher, menino e menina tem valor inerente devido a sua criação à imagem
de Deus. O Humanismo Secular não pode fazer essa afirmação. Se o homem
é apenas o resultado de um acidente cósmico, não há dignidade ou valor
inerente na vida humana. Com efeito, foi esse tipo de pensamento
evolucionista que levou a atrocidades como o regime nazista na Alemanha de
Hitler. Se existem raças que representam um nível evolutivo mais alto que
outras, então é necessário que a raça mais evoluída domine e/ou extermine a
menos evoluída. Embora muitos humanistas seculares abominem essa linha
de raciocínio, minha pergunta a eles seria: com que fundamento?
Em Adão, o homem caiu em pecado. Alguns defendem que o homem é
basicamente bom. Sempre acreditei que essas pessoas não têm filhos. Se
tivessem, não fariam, com seriedade, uma afirmação dessas. Não me entenda
mal — eu amo meus filhos. Entretanto, também não sou ingênuo. Sei que
meus filhos (como todas as crianças) são pecadores desde cedo. A Bíblia não
abre espaço para debate nesse assunto.
Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe. (Salmo
51.5)
“Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem
busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há
quem faça o bem, não há nem um sequer.” (Romanos 3.10-12)
…pois todos pecaram e carecem da glória de Deus. (Romanos 3.23)
Fora da obra redentora de Cristo, o homem permanece em seu pecado.
Talvez nada mais torne a cosmovisão bíblica tão única como essa verdade
simples. Em nenhum outro lugar encontraremos uma resposta para o pecado
do homem. Outras religiões e cosmovisões parecem todas sugerir que tudo
que uma pessoa deve fazer para ser justa é ter uma experiência religiosa,
então tentar realizar mais o bem que o mal, e esperar pelo melhor no fim.
Novamente, a Bíblia oferece uma resposta clara.
… porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus
é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Romanos 6.23)
Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo
pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas
vivificado no espírito. (1 Pedro 3.18)
Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino
do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos
pecados. Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a
criação… (Colossenses 1.13-15)
Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens,
Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos:
testemunho que se deve prestar em tempos oportunos. (1 Timóteo
2.5,6)
No que você acredita em relação à verdade?
A terceira grande questão a que devemos responder é: qual é a natureza da
verdade? O Humanismo Secular crê que a verdade é relativa. Em outras
palavras, o que é verdadeiro para mim não é necessariamente verdadeiro para
você. O Teísmo Cristão vê a verdade como objetiva e absoluta. Meu colega,
Paul Shockley, tem uma das melhores definições de verdade que já vi. Ele
define verdade como
… aquilo que corresponde à realidade, identifica as coisas como elas de fato são,
nunca pode falhar, diminuir, mudar, ou ser extinta, é passível de se expressar em
premissas, e tem origem no Deus da Bíblia, que é o Autor de toda a verdade.
Cada elemento dessa definição poderia ser desenvolvido em um capítulo
inteiro. No entanto, para nossos objetivos, ela traz bastante informação
funcional para vermos a diferença entre a visão humanista secular da verdade
e a visão teísta cristã.
Infelizmente, essa é uma área em que estamos com toda a clareza perdendo a
batalha. O Nehemiah Institute [Instituto Neemias] (assim como o Barna
Group) descobriu que 85% dos adolescentes cristãos não creem na existência
de uma verdade absoluta. Esses jovens, que se identificam como seguidores
de Cristo, acreditam que a verdade é situacional e relativa. Por isso é que um
treinamento em cosmovisão torna-se tão crucial para nossos filhos. Já tive
inúmeras conversas com estudantes cristãos, de ensino médio e
universitários, que enfrentam problemas nessa área. Creio que a maioria dos
pais não tem a menor ideia de como é difícil crescer no clima filosófico atual
e ainda assim manter qualquer conceito de verdade absoluta.
No que você acredita em relação a conhecimento?
A quarta grande questão a que nossa cosmovisão deve responder é: como
sabemos o que sabemos? Humanismo Secular (e seu componente, o
Materialismo Naturalista) baseia-se na pressuposição de que a natureza é um
sistema fechado e, portanto, todo conhecimento deriva do estudo desse
sistema fechado, por meio da razão e do método científico. O Teísmo Cristão,
por outro lado, sustenta que Deus criou o mundo e tudo o que nele há;
portanto, nossa busca por conhecimento deve equilibrar razão e revelação.
Isso não é o mesmo que dizer que o Teísmo Cristão é anticiência. Pelo
contrário, foi o Teísmo Cristão que deu nascimento à ciência. Cientistas
como Galileu e Copérnico acreditavam em um Criador inteligente e
metódico, cuja criação poderia e deveria ser estudada de maneira sistemática.
É o Naturalismo (com sua insistência em um mundo materializando-se do
nada) que vai contra a verdadeira ciência. Se o mundo não tem propósito ou
não foi projetado, o que há de bom na ciência? Se não existem absolutos,
como podemos confiar em nossas descobertas científicas?
Chegamos ao conhecimento da verdade por meio da revelação de Deus na
criação. Isso é chamado de revelação geral. Deus falou ao homem por meio
da ordem criada. A Bíblia está repleta de belas expressões dessa verdade.
Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras
das suas mãos. (Salmo 19.1)
Os céus anunciam a sua justiça, porque é o próprio Deus que julga.
(Salmo 50.6)
A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos
homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus
se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.
Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como
também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o
princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram
criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis. (Romanos 1.18-20)
O Teísmo Cristão não divorcia conhecimento de revelação. É importante
percebermos que Deus projetou o mundo de tal maneira que possamos
entender alguma coisa sobre ele, por meio de verdadeira pesquisa científica.
Um dos eventos mais trágicos em nossos dias é o abandono das ciências
naturais pela comunidade cristã. Ensinar nossos filhos o que a Bíblia diz
sobre criação e dar a eles uma cosmovisão bíblica deveria acender um
interesse renovado em biologia, geologia, astronomia, química e física. Os
humanistas seculares estão em clara desvantagem devido à inconsistência de
sua cosmovisão. Os teístas cristãos devem tomar novamente seu lugar na
linha de frente da investigação científica em busca de um melhor
entendimento do mundo e do Deus que o criou.
Chegamos ao conhecimento da verdade por meio da revelação de Deus em
sua palavra. Essa é a revelação especial. Deus nos deu o universo e toda a
sua glória, mas isso se empalidece diante de sua autorrevelação na Bíblia.
Deus tem se comunicado diretamente com o homem por meio de sua Palavra.
“… sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém
de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por
vontade humana; entretanto, homens falaram da parte de Deus, movidos pelo
Espírito Santo” (2 Pedro 1.20,21).
No que você acredita em relação à ética?
A questão final a que nossa cosmovisão deve responder é: como
determinamos o certo e o errado? O Humanismo Secular vê a ética como
cultural e negociável. Em outras palavras, o que é ético nos Estados Unidos
do século XXI não era necessariamente ético na Alemanha do século XX ou
na Roma antiga do primeiro século. Portanto, muitos professores de história
relutam em chamar o que Hitler, Mussolini, Pol Pot ou Nero fizeram de
antiético. Esses governantes estavam apenas agindo de acordo com a ética de
sua época e circunstâncias. O Teísmo Cristão, no entanto, vê a ética como
atemporal e absoluta.
Deus determina o que é certo e o que é errado. O humanismo começa tendo
o homem como seu ponto de partida e se desenvolve a partir daí. Portanto, a
visão humanista de ética começa com o que funciona para mim. Isso tem
levado ao Pragmatismo (a visão de que resultados, em vez de teoria e
princípios, determinam a ação adequada) e ao Utilitarismo (a visão de que
maior felicidade para o maior número de pessoas deveria ser o critério para
medir a virtude de certa ação).[37] Infelizmente, essas filosofias são tão
dominantes em boa parte do movimento de crescimento da igreja quanto o
são na política, na lei, na propaganda e na educação modernas.
Deus dá instruções claras sobre ética. “Toda a Escritura é inspirada por Deus
e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na
justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente
habilitado para toda boa obra” (2 Timóteo 3.16,17). A Palavra de Deus é um
equipamento suficiente para fazermos as boas obras (ética) às quais ele nos
chama. Pedro faz eco a esse pensamento e o desenvolve:
Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas
que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo
daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas
quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas,
para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina,
livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo… (2 Pedro
1.3,4)
Note as referências de Pedro a “conhecimento completo” e a “suas preciosas
e mui grandes promessas”. Trata-se de referências à revelação de Deus.
Conhecemos a Deus por meio de sua Palavra. Temos acesso às promessas de
Deus, por meio de sua Palavra. Isso também significa que Deus nos concedeu
toda a informação de que precisamos para viver com ética e isso começa com
o verdadeiro conhecimento de Deus e de suas promessas, que são
encontrados em sua Palavra.
Ética transcende tempo e cultura. A verdade não conhece limites ou
fronteiras. Os princípios éticos da Bíblia podem ser aplicados universalmente.
Se é errado cometer adultério no Paquistão, também é errado fazer isso na
Austrália. Se era errado cometer adultério no antigo Israel, também é errado
nos atuais Estados Unidos. Leis, costumes e penalidades locais podem ser
diferentes, mas o princípio esboçado por Deus no sétimo mandamento não
tem limites.
Uma família não pode funcionar adequadamente se todos os seus membros
não estiverem comprometidos com a mesma tática. O método de escolha
parece ser a negociação do grupo com o objetivo de chegar “ao que funciona
melhor conosco”. Isso, entretanto, não substitui a submissão piedosa ao plano
de Deus para a instituição que ele criou.
Cuidado com o legalismo
Algumas vezes, caímos na armadilha de substituir a cosmovisão bíblica pelo
legalismo. Por exemplo, criamos regras rígidas sobre o que nossos filhos
devem vestir, assistir, ver e ouvir, mas nunca gastamos tempo desenvolvendo
o tipo de pensamento que os guiaria em tais decisões. Não me entenda errado.
Creio de todo o coração que os pais devem diligentemente proteger seus
filhos de influências profanas. Também creio que limites devem ser definidos
e regras estabelecidas. Estou simplesmente sugerindo que limites e regras são
insuficientes em e por si mesmos.
Se tudo o que dou aos meus filhos são limites e regras, eles farão o que
mando enquanto eu estiver por perto. Porém, assim que saírem da minha
casa, viverão de acordo com sua cosmovisão, não de acordo com minhas
regras. Portanto, devo gastar tanto tempo formando e moldando o
pensamento deles quanto gasto estabelecendo regras. O legalismo
simplesmente cria padrões externos e extrabíblicos que tomam o lugar do
pensamento bíblico.
Quando A Paixão de Cristo foi lançado, fiz vários telefonemas encorajando
amigos e familiares a verem o filme. Bridget e eu tínhamos visto antes e
ficamos completamente impressionados. Fiz também uma ligação que, devo
admitir, foi um telefonema bem jocoso para um pastor amigo. Ele fazia parte
da equipe de uma igreja em que eu já pregara inúmeras vezes. Liguei para seu
escritório e perguntei se ele tinha assistido ao filme. Ele respondeu com um
retumbante sim!
Depois de trocarmos alguns comentários sobre o filme, fiz a pergunta que
era, de fato, o motivo do telefonema: “O pastor titular de sua igreja está
recomendando a suas ovelhas que assistam a um filme classificado como R
(isto é, restrito)?”.[38] De imediato, ele começou a gargalhar, lembrando-se de
um incidente após um dos meus sermões em sua igreja. Quando finalmente
recuperou o fôlego, disse: “Eu quase me esqueci disso”.
O que era tão engraçado? Naquela época, durante um dos meus sermões, eu
tratara do legalismo. Em certo ponto, trouxera a questão dos filmes
classificados como R (restritos) como um exemplo de legalismo nos dias
atuais. Eu disse: “Algumas pessoas assistirão a Titanic sete vezes e nem
mesmo hão de corar ao ver os seios nus de Kate Winslet, mas recusam-se a
assistir a A Lista de Schindler porque foi classificado com um R!”
Meu argumento era que Titanic é inapropriado, apesar da classificação “não
recomendável para menores de 13 anos” dada por Hollywood, e que A Lista
de Schindler merecia nossa atenção mesmo que representasse acuradamente
terríveis eventos históricos. A questão para mim era que os sistemas de
classificação etária permitem que desliguemos nossas mentes e paremos de
nos responsabilizar pelo que assistimos. Sugeri que examinássemos o
conteúdo dos filmes e tomássemos decisões bem fundamentadas e
responsáveis sobre a que assistir, em vez de cair na armadilha legalista, a qual
se exime de algumas programações ímpias ao mesmo tempo em que, algumas
vezes, nos impede de assistir a filmes que poderiam enriquecer nossas vidas,
a despeito de esses filmes não colocarem panos quentes quando se trata de
fatos históricos.
Isso não caíra bem para o pastor. Ele me chamara em seu escritório alguns
dias depois e pedira para eu me desculpar. Quando quis uma explicação para
ter de me desculpar pelo que havia feito, ele simplesmente dissera que muitos
membros tinham escrito e-mails ou telefonado para dizer que estavam
ofendidos pelo que eu dissera. Perguntei se tinha violado algo no texto em
que preguei. Ele disse que não. Na verdade, disse que tinha escutado a
mensagem duas vezes e não encontrou nada antibíblico. Ainda assim,
pensava que eu deveria pedir desculpas por amor àqueles que se sentiram
ofendidos. Evidentemente, recusei.
Dois anos se passaram, e esse mesmo pastor — que me pedira para me
desculpar por sugerir que um filme com a classificação R não
necessariamente se torna inapropriado para cristãos — estava recomendando,
`sua congregação, um filme restrito! É claro, ele argumentaria que esse filme
é apenas uma descrição acurada da morte violenta de Cristo e tem valor
redentivo devido a seu conteúdo. Entretanto, isso não muda o fato de ele ter
violado sua própria regra. Se acreditasse nela, teria condenado A Paixão de
Cristo.
Esse é um exemplo emblemático do que há de errado com o legalismo.
Quando começamos a estabelecer regras rígidas baseadas nas normas
culturais em vez de baseadas na Bíblia, sempre acabamos em problemas.
Você já esteve em uma igreja onde não se permite que mulheres vistam
calças compridas? E aquelas que não permitem que seus membros dancem?
Eu já. E quando apresentei as próprias passagens que essas igrejas usavam
para justificar suas posições, demonstrando que os textos, na verdade,
contradiziam a posição delas, tudo que consegui foi: “Bem, é desse jeito que
nós cremos…” Senhor, ajuda-nos!
É muito importante que vivamos pelos padrões bíblicos. Entretanto, é de
igual modo importante que voltemos sempre a examinar esses padrões para
termos certeza de que não seremos presas do legalismo. E, se temos
convicção de que nossos padrões não são necessariamente escriturísticos,
devemos admitir. Devemos ser capazes de dizer: “Essa é uma convicção
pessoal que mantenho para mim, não o padrão que Deus mantém para todos
nós”.
Da próxima vez que você estiver em uma refeição em família, abra este livro,
neste capítulo (na página com a tabela), pegue um pedaço de papel e uma
caneta, e faça a seus filhos algumas perguntas simples sobre a visão que têm
a respeito de Deus, verdade, conhecimento, homem, e ética. Pergunte-lhes de
onde eles tiram suas respostas. Insista para que digam qual a fonte de
autoridade que lhes dá suporte. Pergunte quais são o livro, o capítulo e o
versículo.
Se seus filhos puderem responder a essas perguntas com certo grau de
confiança a partir de uma perspectiva bíblica, então você (e cada um deles) é
realmente abençoado. Na verdade, você precisa escrever livros sobre esse
assunto em vez de apenas lê-los. Por outro lado, se sua família é parecida
com a maioria das famílias cristãs dos EUA, esse exercício lhe abrirá os
olhos. Mas não se sinta desencorajado. Você está apenas tornando-se ciente
da dura realidade que muitos na comunidade cristã vêm ignorando por um
bom tempo. Nossos filhos não estão sendo equipados para resistir ao
massacre humanista secular em nossa cultura pós-cristã.
Depois de ter avaliado a cosmovisão de seus filhos, você estará no caminho
certo para torná-los capazes de pensar biblicamente. Da mesma forma que
para o conserto de um carro, descobrir o problema é metade da batalha.
Assim que se cientifique de que seus filhos têm problemas porque o que
assumem é um ponto de vista humano, você pode pegar sua Bíblia, procurar
versículos que tratam do assunto e ensinar a Palavra. Se você acha que
precisa de orientação, use a internet. Dezenas de páginas o ajudarão a abordar
questões de cosmovisão bíblica (aqui vão alguns para começar:
nehemiahinstitute.com, reformed.org, americanvision.org).[39]
Como uma sugestão mais global, você pode, se desejar, tratar juntas todas as
cinco áreas e fazer um esboço de suas aulas para as próximas cinco semanas
(ou cinco meses). Faça isso de maneira a dar a seus filhos uma compreensão
firme de todas as categorias de cosmovisão, não importa em que nível eles
estejam agora. Você ficará fascinado com quantas áreas da vida cotidiana
abordará durante esse período.
Entrando em ação
1. Faça uma cópia da tabela deste capítulo e acrescente uma coluna em
branco. Reúna seus filhos e pergunte-lhes sobre o ponto de vista de cada um
deles a respeito das cinco categorias básicas de uma cosmovisão. Preencha a
coluna vazia, e compare-a com as outras duas colunas.
2. Discuta as diferenças entre o Teísmo Cristão e o Humanismo Secular e
como as respostas de sua família se alinham com cada uma delas.
3. Discuta as conclusões lógicas de cada cosmovisão em relação às questões
contemporâneas.
5. ENSINE A PALAVRA NO LAR

“Tu inculcarás [a Palavra de Deus] a teus filhos.”


Deuteronômio 6.7

Moisés viu a vida do lar como o principal sistema de transmissão da verdade


de Deus, de geração em geração. No texto acima — ou em qualquer outro
lugar da Bíblia — não existe nenhuma menção de pais abdicando, em favor
de “profissionais treinados”, da responsabilidade de ensinar as verdades de
Deus, de geração a geração. Isso não é o mesmo que dizer que os pais
deveriam rejeitar ajuda. Se acreditasse nisso, eu não teria escrito este livro.
Entretanto, devemos ser cuidadosos, não passando para outros a
responsabilidade da instrução bíblica de nossos filhos.
As coisas como estão
Como já vimos, o trabalho de Christian Smith em seu Estudo Nacional de
Juventude e Religião (National Study of Youth and Religion) é tão revelador
quanto incriminante. Suas pesquisas mostram, com clareza, que infelizmente
estamos fazendo um péssimo trabalho em relação a criar nossos filhos na
“disciplina e instrução do Senhor” (Efésios 6.4). Parte do problema é a
maneira como empregamos nosso tempo.
A fé e a prática religiosa nas vidas dos adolescentes norte-americanos operam em
um ambiente social e institucional que é altamente competitivo por tempo, atenção
e energia. Interesses e valores religiosos na vida dos adolescentes tipicamente
competem com escola, lição de casa, televisão, outras mídias, esportes,
relacionamentos românticos, emprego e outros.[40]
Famílias demais têm empurrado o estudo das Escrituras para segundo plano.
Na verdade, na maioria dos casos, não há qualquer espaço para o estudo da
Bíblia.
Como Smith enfatiza, “a maioria dos adolescentes nos EUA parece se
envolver com poucas práticas religiosas”.[41] Isso é especialmente verdadeiro
quando se trata de oração e estudo da Palavra. A resposta dele?
Mesmo práticas básicas, como leitura regular da Bíblia e oração particular, entre os
jovens parecem claramente associadas a um compromisso de fé mais profundo e
mais forte. Em outras palavras, suspeitamos que professores e ministros de jovens
não irão muito longe com a juventude, a não ser que práticas religiosas regulares e
intencionais tornem-se uma parte importante da formação religiosa geral dos
jovens.[42]
Por favor, não ignore o último ponto destacado por Smith. “Professores e
ministros de jovens não irão muito longe…” Smith está de fato certo.
Simplesmente não podemos falhar, não entregando aos nossos filhos as
ferramentas básicas de que eles necessitam e esperando que os
“profissionais” façam o trabalho por nós.
Entretanto, não perca um outro ponto importante. “Mesmo práticas básicas
como leitura bíblica” têm impacto no compromisso de fé dos nossos filhos.
Isso mesmo, não exige muito. Você pode impactar a vida espiritual de seu
filho ao ler e ensinar a Bíblia em casa. Mais importante, Deus o chamou e
comissionou-o (não ao pastor de jovens ou ao professor da Escola Bíblia)
com essa tarefa fantástica.
Eu queria poder dizer que eu e minha esposa entendemos isso desde o
primeiro dia, mas não foi o caso. Passaram-se anos antes de compreendermos
a importância do tempo diário com a Palavra em família. Ah! se pudéssemos
ter esses dias de volta. Como eu gostaria de outra oportunidade para lançar o
fundamento. Entretanto, sou muito abençoado em saber que Deus pode nos
encontrar bem onde estamos e compensar o tempo perdido.
Deus os trouxe para o lar, com você
Nunca me esquecerei do dia em que trouxe minha filha Jasmine para casa.
Era meu primeiro ano de faculdade. Eu vinha lutando para equilibrar
casamento, faculdade e futebol — quando Deus colocou um bebê no meio.
Fazia dez meses que nos havíamos casado, quando Jasmine nasceu. Eu estava
assustado!
Lembro-me com clareza de como me senti enquanto enxugava a testa de
Bridget e a encorajava durante o trabalho de parto. Éramos muito jovens
naquela época. Eu tinha apenas 21 anos. Enquanto a noite avançava, a hora
da verdade chegou. O doutor olhou e disse: “Já posso ver a cabeça; força
mais uma vez”. Imediatamente me afastei de Bridget e caminhei para
conseguir uma visão melhor desse momento incrível. Deus estava prestes a
trazer outra vida ao mundo, e eu estava lá para ver!
Quando Jasmine surgiu, lembro-me de dois pensamentos distintos. O
primeiro foi: “Por favor, lavem esse bebezinho!” E então me lembro de
pensar: “Não acredito que sou o pai desta criança”. Aquela era minha filha.
De repente, meus joelhos começaram a fraquejar.
Quando chegou a hora de a levarmos para casa, eu não conseguia acreditar.
Fiquei apenas ali parado, olhando para a enfermeira, enquanto ela colocava,
em meus braços, aquela criatura linda e indefesa. A enfermeira levou Bridget
para fora do hospital na convencional cadeira de rodas, eu a ajudei a entrar no
carro e disse algumas palavras de encorajamento, enquanto nervosamente
apertava o cinto da minha filha em sua cadeirinha. Quando me sentei ao
volante de nosso carro zero, 1989, lembro-me de pensar: “Não acredito que
eles estão deixando esse bebê conosco!”
Liguei o carro e nervosamente olhei em volta, esperando que alguém
aparecesse correndo do hospital, gritando: “Parem os dois! Estão levando
aquele bebê!” Mas não aconteceu. Ligado o carro, engatei a marcha e dirigi
para nosso apartamento, onde nós três embarcaríamos juntos em uma
aventura para a vida toda. Eu era pai de alguém! Esse pensamento me
devastou e me empolgou ao mesmo tempo. Lembro-me de pensar em todas
as coisas que tinha de fazer para aquela garotinha. Ela precisaria ser
alimentada, trocada, vestida, ensinada e protegida. Deveria ser criada na
“disciplina e admoestação do Senhor” (Efésios 6.4). E as únicas pessoas
sobre quem essa obrigação recaía eram minha esposa e eu. Aquela pequena
garotinha era nossa responsabilidade.
Isso não significa que seríamos os únicos a ensinar, proteger e criá-la. Pelo
contrário, tivemos numerosos parceiros nesse processo, no decorrer dos anos.
Sou grato pelos avós, tias, tios e amigos da família que caminharam conosco
nos altos e baixos. Entretanto, no fim das contas, minha esposa e eu somos,
em última análise, os responsáveis por aquela criança que o Senhor nos
confiou.
Assumindo responsabilidade
Imagine que seu chefe viesse a seu escritório e lhe dissesse: “Parabéns, você
acaba de ser promovido”. E se essa promoção significasse assumir um
trabalho para o qual você se sentisse inadequado e/ou para o qual se visse
despreparado? Como você reagiria? Você diria: “Obrigado, senhor, mas não
estou pronto para a tarefa”? Ou você diria: “Obrigado, senhor, farei o meu
melhor”? Creio que muitos de nós aceitaríamos o desafio e estariam à altura.
Como pais, isso é exatamente o que Deus nos diz quando nos dá filhos. Ele
diz: “Parabéns, você acaba de ser promovido ao cargo de pai”. Significa que
o que Deus exige dos pais é em parte o mesmo daquele novo emprego. Nesse
momento, você tem duas escolhas. Pode dizer: “Obrigado, Deus, mas tu
deves ter perdido momentaneamente tua razão. Não há qualquer chance de eu
instruir meus filhos na Palavra”. Ou você pode dizer: “Obrigado, Deus. Sei
que tu não cometes erros, e se me entregaste esta criança, tu também me
darás tudo de que preciso para criá-la na disciplina e instrução do Senhor”.
Eu queria poder dizer que minha resposta foi a última. Entretanto, devo
admitir que estava apavorado. Como disse, eu tinha 21 anos, cursava o
primeiro ano da faculdade, e me casara há dez meses. Lembro-me de olhar
para um dos meus professores e perguntar: “O que vou fazer?” Ele me olhou
de volta e disse: “Você fará a mesma coisa que os pais têm feito por centenas
de anos”. De repente, ocorreu-me claramente — eu não seria o primeiro
homem a tornar-se pai enquanto estava na faculdade. Eu poderia lidar com a
situação. Não tinha certeza de como, mas sabia que, com a ajuda de Deus, eu
poderia lidar com aquilo.
As palavras de encorajamento do meu professor têm ecoado em minha mente
pelos últimos quinze anos. Ainda estou tentando navegar em meu papel como
marido e pai, mas estou certo de que Deus tem me dado as condições de que
preciso para cumprir a tarefa para a qual me chamou.
Ensinar é a melhor forma de aprender
Como pais adeptos da Escola em Casa[43], frequentemente perguntam-nos
como ministramos aulas a dois filhos já no ensino médio. Muitas pessoas
acreditam que não conseguiriam ensinar seus filhos em casa, depois que eles
passassem da terceira série! Não poderia dizer quantas vezes já ouvi a frase
batida: “Quando eles chegarem ao ensino médio, me ultrapassarão em tudo
que eu puder ensinar”.
Quando minha esposa e eu nos defrontamos com comentários assim,
simplesmente respondemos: “Você só precisa estar uma semana à frente”.
Adoro ver a cara dessas pessoas quando percebem a profunda verdade dessa
declaração. Tudo de que precisamos para ensinar nossos filhos é estar um
passo à frente deles. É claro, isso significa que devemos estar em um estado
constante de aprendizado; porém, é possível. O mesmo acontece quando se
trata de ensinar a Bíblia.
Muitos pais acham que não têm bastante conhecimento bíblico para ensinar
seus filhos. Nada poderia ser menos verdadeiro. Se você consegue ler, você
consegue ensinar a Palavra de Deus a seus filhos. Tudo de que precisa é estar
um passo à frente deles. Não se preocupe. Deus tem lhe dado tudo de que
você precisa para ensiná-los. Você não precisa ser um teólogo treinado em
seminários para ler a Bíblia e falar sobre o que ela significa. Além disso,
Deus não lhe teria dado a responsabilidade a não ser que soubesse que você
consegue. Uma das doutrinas da Reforma mais esquecidas é a doutrina da
perspicuidade (ou inteligibilidade) da Bíblia. Deus nos deu a Bíblia de uma
maneira compreensível. Não precisamos decodificar senhas ou desvendar
charadas a fim de entender o ensino básico da Palavra de Deus.
O papel do lar no ensino da Bíblia
Contrariando a crença popular, o lar, e não a igreja, foi comissionado com a
responsabilidade primária de ensinar a Bíblia às crianças. Em nossa era do
profissionalismo, tendemos a contratar virtualmente toda responsabilidade
paterna e materna. Queremos que Pedrinho vá bem nos esportes, então
contratamos um profissional para dar aulas particulares. Queremos que Carol
entre em uma boa faculdade, então contratamos um tutor especial para
melhorar o desempenho no vestibular. Queremos que nossos filhos sejam
cidadãos ou cristãos exemplares, então contratamos um pastor de crianças ou
um ministro de jovens.
Nada há de errado em querer que nossos filhos alcancem o sucesso (desde
que tenhamos uma visão bíblica de sucesso). Nem há nada em princípio
errado, no fato de buscarmos ajuda, quando precisamos dela. Entretanto,
estamos indo além de pedir ajuda, quando abdicamos de nossa
responsabilidade. Infelizmente, essa abdicação tornou-se tão comum em
assuntos espirituais que palavras como as de John Bunyan soam estranhas:
A respeito do estado espiritual de sua família: [o pai] deve ser mui diligente e
cuidadoso, fazendo seu melhor tanto para desenvolver a fé que iniciou, quanto para
iniciar a que não há. Portanto, ele deve diligência e regularidade trazer diante de sua
família as coisas de Deus, a partir de sua Santa Palavra, de acordo com o que é
adequado a cada pessoa. Não permita que alguém questione sua autoridade
proveniente da Palavra de Deus para tal prática.[44]
Meus dois filhos mais velhos tocam piano clássico. Têm uma professora que
leva muito a sério seu trabalho. Ela insiste em que seus alunos pratiquem
todos os dias, tenham aulas semanalmente, sejam avaliados pela Piano Guild
[Associação Nacional de Professores de Piano nos EUA], participem de pelo
menos um concerto e uma competição a cada ano e sejam aprovados no
exame teórico anual do estado.
Embora cada uma dessas exigências seja desafiadora, o que requer mais alto
nível de encorajamento da parte dos pais é o exame teórico do estado.
Entretanto, há pouco tempo, minha filha mais velha fez uma grande
descoberta. Percebeu que seu compromisso e subsequente compreensão de
teoria musical foi um catalisador para seu recente crescimento como pianista.
Minha filha percebeu que as notas na pauta representavam o que ela deveria
tocar, mas a teoria era o por quê. Agora, ela era capaz não apenas de
executar, mas também de compor.
Se dar uma cosmovisão bíblica aos nossos filhos é o “por quê” de uma fé
direcionada à família, providenciar instrução bíblica é “o quê”. Nossa
cosmovisão molda a maneira como pensamos, mas aprender e memorizar as
Escrituras determina o que pensamos. Por exemplo, um filho com
cosmovisão bíblica pode entender a dignidade inerente de seus pais como
seres humanos criados à imagem de Deus, mas uma criança com instrução
bíblica também sabe que o Deus que criou seus pais disse: “Honra tua mãe e
teu pai”. Não é uma questão de escolha, mas um mandato duplo. Devemos
dar a nossos filhos uma cosmovisão bíblica, e devemos instruí-los na Palavra
de Deus. Na verdade, sem a Palavra de Deus, não há cosmovisão bíblica.
Alguém poderia dizer que os capítulos 4 e 5 deveriam ter a ordem trocada. E,
se estamos falando estritamente sobre o desenvolvimento do entendimento de
assuntos espirituais, eu concordaria. Entretanto, quando observamos as coisas
de uma perspectiva dos pais, essa é uma proposta bem diferente. Como pais,
devemos iniciar com um esquema geral em mente antes que possamos
preencher os detalhes. Se prosseguirmos com o fundamento e a estrutura dos
capítulos anteriores (o amor bíblico é o fundamento, e uma cosmovisão
bíblica é a estrutura), então o ensino bíblico seria os detalhes da casa.
Há muitos anos, Hillary Clinton virou manchete com sua campanha It Takes
a Village.[45] Isso, claro foi tirado do conhecido provérbio africano, “É
preciso uma vila para criar uma criança”. Entretanto, a versão de Hillary
Clinton soa mais como “É preciso burocratas e programas governamentais
imensos e intrusivos para criar uma criança”. Recentemente, outro senador
norte-americano, Rick Santorum, fez um alerta quando escreveu It Takes a
Family [É preciso uma família]. Entretanto, o modelo de Hillary Clinton já se
enraizou. Começamos a acreditar que a criação de filhos é uma tarefa que
deve ser entregue a profissionais. Infelizmente, essa mentalidade não está
restrita à cultura em geral; a igreja também foi afetada.
Há apenas algumas gerações, um homem era considerado espiritualmente
responsável se trouxesse sua família ante o trono de Deus em oração, leitura e
ensino da Escritura no lar, e se liderasse as devocionais familiares (entre
outras coisas). Hoje, os pais são considerados responsáveis se descobrirem a
igreja com o berçário melhor equipado e o ministério de jovens mais
atualizado. Na verdade, há uma regra entre os adeptos do movimento de
crescimento de igrejas: se você quer que sua igreja cresça, concentre-se no
estacionamento, na pregação e na pré-escola. Não estou sugerindo que as
gerações anteriores cumpriram suas tarefas perfeitamente. Pelo contrário,
tivessem eles feito seu trabalho, não estaríamos na bagunça em que estamos
agora. Entretanto, o paradigma parece ter deixado de ser a responsabilidade
dos pais, e o nível caiu consideravelmente.
Treinamento em casa
Quando eu era menino, minha mãe tinha um ditado para crianças (inclusive
para mim) que se comportavam mal em público. Ela olhava para a criança e
dizia: “Esse menino precisa treinar um pouco mais em casa”. Na verdade,
quando visitávamos outras pessoas, ela frequentemente me lembrava de ser o
mais bem comportado possível ao me encarar com um daqueles olhares de
mãe e dizer: “Aja como se tivesse treinado em casa”.
Minha mãe nunca explicou com detalhes o que significava treinar em casa,
mas sempre tive uma boa ideia. Eu sabia que treino em casa tinha algo a ver
com a maneira como me comportava. Mais tarde, aprendi que aquilo estava,
de modo direto, relacionado a se eu havia ou não internalizado os valores que
ela tentara inculcar. Em outras palavras, minha mãe estava tentando moldar-
me como um ser humano civilizado, sério e bem educado. Isso é o que o
treinamento significava.
Introdução ao treinamento em casa
Desde então, descobri que existe um manual para treinamento em casa. Ele se
chama Bíblia Sagrada. Deus nos tem dado tudo de que precisamos para vida
e piedade (2 Timóteo 3.16,17; 2 Pedro 1.3), e isso inclui treinar e ensinar
nossos filhos. Todo mundo que lê o livro de Provérbios sabe que a Bíblia está
repleta de informações valiosas para instrução de filhos. Deus não nos deixou
às cegas nesse assunto. Ele quer que saibamos como criar nossos filhos. Mas,
como conseguir ensinar a nossos filhos esse livro imenso e frequentemente
intimidador, que muitos de nós já temos dificuldade de entender por nós
mesmos?
Leia a Bíblia
Com frequência, encontro pessoas que reclamam da complexidade e/ou da
falta de relevância da Bíblia. Entretanto, quando lhes pergunto o quanto da
Bíblia elas já leram de fato, é comum essas pessoas recuarem. Para mim, é
assustador que pessoas leiam alguns poucos versículos da Bíblia (fora de
contexto) e simplesmente reduzam toda ela a “complexa e/ou irrelevante”.
Imagine alguém lendo isoladamente a frase de Shakespeare, em Romeu e
Julieta “se outro nome tivesse a rosa, em vez de rosa” e decidindo que Romeu
e Julieta é um exemplo fraco de drama trágico e que o próprio Shakespeare
não era lá um bom escritor. Escute o que a Bíblia tem a dizer sobre o lugar
que ela deve ter em nossas vidas.
A Bíblia é nossa fonte de sabedoria: “A boca do justo profere a sabedoria, e a
sua língua fala o que é justo. No coração, tem ele a lei do seu Deus; os seus
passos não vacilarão” (Salmo 37.30,31). A Bíblia é nossa fonte de retidão:
“Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti” (Salmo
119.11). A Bíblia é nossa fonte de orientação: “Lâmpada para os meus pés é
a tua palavra e, luz para os meus caminhos” (Salmo 119.105). A Bíblia é
nossa fonte de esperança: “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso
ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das
Escrituras, tenhamos esperança” (Romanos 15.4).
Nossa principal oração por nossos filhos deveria ser que eles expressem as
palavras do Salmo 40.8: “Agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro
do meu coração, está a tua lei”. Entretanto, isso não acontecerá a não ser que
leiamos a Bíblia em casa. Devemos levar nossos filhos à Palavra de Deus se
desejamos que a Palavra esteja neles. Isso não acontecerá por osmose.
Em nossa casa, lemos a Bíblia em um ano, do princípio ao fim, lendo-a toda
noite. Pela manhã, temos nosso tempo de culto familiar e catecismo, mas as
noites são mais simples. Usamos um plano de leitura e seguimos do Gênesis
até o fim. Existem várias ferramentas para ajudar na tarefa. Na verdade, há
uma Bíblia anual projetada para lhe fornecer a Bíblia em doses diárias e guiá-
lo em seu caminho para completar essa leitura, do Gênesis ao Apocalipse, em
um ano. Também há inúmeras páginas na internet que lhe enviarão um
lembrete diário das seções que você deve ler. Não importa que método você
usará, conquanto você esteja lendo. Não é necessário nem mesmo fazer isso
em um ano. Você pode desacelerar e seguir o ritmo de dois anos se quiser. O
que importa é que você leia a Bíblia.
Por que ler a Bíblia é tão importante? Essa é uma questão legítima. Deixe-me
oferecer algumas respostas. Primeiro, a Bíblia é a própria Palavra de Deus.
Em 2 Timóteo 3.16, Paulo escreve: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e
útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na
justiça”. A Bíblia não é apenas um bom livro — é o Livro de Deus. Com
efeito, a Bíblia é o fio de prumo com o qual avaliamos todos os outros livros.
Segundo, a Bíblia é a principal ferramenta em nosso preparo para uma vida
de piedade e serviço. Paulo continua em 2 Timóteo 3.17, “… a fim de que o
homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”.
Pedro faz eco a essa ideia, em 2 Pedro 1.3: “Visto como, pelo seu divino
poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade,
pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria
glória e virtude”.
Terceiro, a Bíblia é um agente pelo qual Deus nos conforma à imagem de
Cristo. 2Pedro 1.4 nos diz “…pelas quais nos têm sido doadas as suas
preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis
coparticipantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões
que há no mundo”. Pedro faz referência ao “conhecimento completo” (v.3) e
às “preciosas e mui grandes promessas” (v.4). Não há dúvida de que a
revelação de que Pedro fala é acessada por meio da Bíblia. Não sei quanto a
você, mas eu quero ser como Jesus. E, mais importante, quero criar filhos e
filhas que sejam como Jesus. Deus usará a Bíblia para fazer isso acontecer.
Ler a Bíblia nos levará ao verdadeiro conhecimento do Senhor. Ler a Bíblia
nos colocará diante das “preciosas e mui grandes promessas” do Senhor.
Deus usará a Bíblia para transformar nossas vidas.
Quarto, a Bíblia é um agente de transformação. Hebreus 4.12 diz: “Porque a
palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de
dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e
medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração”.
Você pode não conseguir transformar o coração dos seus filhos, mas a
Palavra de Deus consegue. Tente tudo o que puder, mas você não alcançará
sua filha adolescente antissocial do modo como a Bíblia consegue alcançá-la.
Ler e memorizar as Escrituras e os catecismos da igreja resulta em um
desenvolvimento incrível dos filhos, tanto espiritual quanto intelectual. O que as
famílias consideram importante evidencia-se pela maneira como gastam seu tempo.
Portanto, o culto familiar regular mostra aos filhos que seus pais creem que Jesus
Cristo é o centro de tudo na vida. Essa prática deixa um legado que beneficiará
centenas de gerações futuras.[46]
A Palavra de Deus muda vidas! Mas não fique com a minha palavra. Comece
a ler a Bíblia em família e veja por si mesmo.
Perguntas e respostas
Há pouco tempo, eu e minha família estudamos a obra de R. C. Sproul,
Verdades Essenciais da Fé Cristã, durante nossas devocionais no café da
manhã. Ela se divide em 102 pequenos capítulos, cada um lidando com uma
grande doutrina da fé. Ler o capítulo diário não toma mais que cinco ou dez
minutos. No entanto, com frequência passávamos meia-hora ou mais
discutindo as verdades que lemos.
Não trocaria essas manhãs de discussão por nada. Eu absolutamente amo
sentar-me à mesa do café com minha família, discutindo as grandes doutrinas
da fé cristã e suas implicações para o modo como vivemos nossas vidas. Na
verdade, descobri que nossos filhos amam fazê-lo, tanto quanto eu e minha
esposa. Agora estamos estudando o livro de Starr Meade, Training Hearts
and Teaching Minds [Treinando Corações e Instruindo Mentes]. É um
devocional diário baseado no Breve Catecismo de Westminster. O nível e o
tipo de perguntas com que nos deparamos recentemente têm sido fantásticos.
Algum tempo atrás, Bridget trouxe à tona um assunto que precisávamos
discutir em família. Nossos filhos assentaram-se e escutaram; mesmo elas
opinaram. No fim da discussão, Bridget e eu nos levantamos da mesa (para ir
ao nosso quarto, nos aprontarmos para o restante do dia), quando nosso filho
de onze anos interrompeu: “Não vamos trabalhar o livro hoje?” “Pois é,
esquecemos nossa devocional”, Jasmine acrescentou, enquanto Trey se
esticava e pegava o material habitual na janela próxima à mesa. Bridget olhou
para mim com um sorriso e disse: “Sim, papai, não posso acreditar que você
ia sair da mesa sem nossa devocional da manhã”.
A verdade é que meus filhos não eram pequenos teólogos famintos que não
pudessem esperar para domar outra verdade teológica complicada. Eles eram
apenas duas crianças que tinham perguntas. Como pais, descobrimos um
meio de providenciar respostas. Todas as crianças perguntam sobre teologia.
Que criança já não perguntou “Quem fez Deus?” ou “Se Jesus é Deus, como
ele pode ser o Filho de Deus?” Essas são questões teológicas, e uma das
melhores atitudes nossas como pais é dar oportunidades para que essas
perguntas sejam feitas e respondidas. Mas como criamos um espaço assim?
Primeiro, dê a seus filhos permissão para fazer perguntas bíblicas. Bridget e
eu fomos abençoados com crianças muito inquisitivas. Digo abençoados
porque a natureza inquisitiva as torna muito ensináveis. Entretanto, devo
admitir, nem sempre vimos isso como uma bênção. Sejamos honestos —
pode-se ouvir “Papai, por que isso é assim?” demais. Finalmente, todos
aprendemos a dizer: “É assim que as coisas são”.
Entretanto, se você deseja que seus filhos aprendam verdades bíblicas, você
tem de dar a eles permissão para fazer perguntas bíblicas. Isso significa que
não podemos falar “Tudo bem” com nossos lábios e, então, dizer algo
diferente com nossa atitude. Devemos demonstrar desejo e disposição
genuínos de ouvir nossos filhos. Pais que resmungam quando seus filhos
fazem perguntas bíblicas estão dizendo: “Não me incomode, garoto, estou
ocupado”.
Segundo, legitime as perguntas bíblicas honestas de seus filhos. Uma das
melhores coisas que você pode dizer para uma criança inquisitiva que lhe
apresenta uma questão teológica é: “Essa é uma ótima pergunta”. Ou melhor
ainda, você pode dizer: “Eu sempre me pergunto isso”. Sua reação não
apenas permite que a criança saiba que é correto fazer perguntas legítimas,
mas também afirma a natureza concreta da fé cristã. Pense sobre isso. O que
aconteceria se você ficasse perguntando a uma pessoa sobre a fé que ela
professa e ela nunca se importasse ou tentasse responder a suas perguntas?
Finalmente, você assumiria que essa pessoa ou não sabe muito sobre a
própria fé ou não havia mesmo muito a ser conhecido. O mesmo vale para
seus filhos.
Na verdade, é possível que neste exato momento você esteja lendo este livro
em busca de respostas, porque ninguém se importou ou sabia o bastante sobre
a fé cristã para legitimar as questões autênticas que você fez no passado.
Talvez você tenha crescido acreditando que devemos aceitar o cristianismo
com “fé cega”, porém, mais tarde, percebeu que havia mais que isso. Ou
talvez você tenha tido parentes bem intencionados que lhe ensinaram
princípios que se mostraram falsos. Embora isso possa ser comum, não é
bíblico.
No prólogo de Lucas, a Bíblia dá um belo exemplo do tipo de atitude que
devemos ter em relação àqueles a quem ensinamos a fé:
Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada
dos fatos que entre nós se realizaram, conforme nos transmitiram os
que desde o princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da
palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada
investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito,
excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem, para que tenhas
plena certeza das verdades em que foste instruído. (Lucas 1.1-4, ênfase
acrescentada)
Note a escolha de palavras e frases de Lucas: narração coordenada,
testemunhas oculares, acurada investigação, exposição em ordem, plena
certeza. Isso não é material de contos de fadas ou lendas. É verdade sólida,
verificável, historicamente confiável! Deixe seus filhos saberem que nossa fé
pode resistir às questões que eles apresentam.
Terceiro, responda às perguntas bíblicas de seu filho. Uma coisa é legitimar
uma pergunta; respondê-la é algo bem diferente. Uma criança que é
encorajada a fazer perguntas bíblicas e tem essas questões legitimadas mas
nunca respondidas pode pensar que a Bíblia ou seus pais não têm respostas.
Em qualquer um dos casos, uma autoridade muito importante na vida do filho
será minada.
Já contei a história da minha jornada à fé tantas vezes que os mais próximos a
mim a conhecem de cor. Essa história é importante para mim por muitas
razões — sobretudo pelo fato de que antes eu estava perdido, mas agora fui
achado. Entretanto, um dos elementos mais importantes da minha história é o
fato de que o jovem que compartilhou a mensagem de Cristo comigo gastou
tempo para responder a todas as minhas questões (por um período de três
semanas).
Algumas vezes, essas respostas estavam na ponta da língua. Entretanto,
lembro distintamente que, em mais de uma ocasião, ele teve de admitir que
não tinha uma resposta. Porém, ele não parava aí. Sempre seguia com um
“mas eu descobrirei”. Finalmente, ele encontrava a resposta para minhas
perguntas. Esse processo me ensinou duas coisas que têm impactado
grandemente minha caminhada cristã.
Primeiro, aprendi que ser um cristão não significa que você tenha todas as
respostas. Na verdade, quanto mais caminho com Cristo, mais percebo que
tenho mais perguntas que respostas; bem mais. Paulo alude a essa realidade:
“Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face
a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou
conhecido” (1 Coríntios 13.12).
Segundo, aprendi que o cristianismo resiste a um escrutínio. Steve não tentou
me convencer a parar de perguntar. Nem foi evasivo, dizendo que eu tinha de
fechar minha mente a fim de exercitar minha fé. Ele foi e encontrou
respostas. Claro, existem algumas perguntas que não podem ser respondidas
(como, Por que Deus faz as coisas do jeito que faz?). Entretanto, essas coisas
são irrespondíveis devido à natureza infinita de Deus e à finitude do homem.
Quarto, ensine seus filhos a responderem a suas próprias questões, quando
puderem. Quando minha filha tinha catorze anos, começou a estudar com um
tutor de redação. Ela sempre foi uma escritora talentosa, e terminou a 10ª e a
11ª séries de inglês quando tinha catorze anos.[47] Seu tutor desenvolveu um
curso de composição que era parte cosmovisão bíblica, parte pensamento
crítico e parte metodologia de pesquisa. Era uma combinação perfeita.
Jasmine encontrava-se com o tutor uma vez por semana, e Bridget e eu
trabalhávamos com ela os pequenos detalhes diários.
Uma das maiores bênçãos desse curso foi o dia em que percebi que eu e
minha filha começamos a compartilhar uma biblioteca. Certo dia, ela entrou
em meu escritório com um olhar determinado e disse: “Pai, eu simplesmente
amo seu escritório” enquanto com diligência procurava um livro sobre
religiões comparadas. Foi um dos momentos mais importantes que
compartilhamos. Minha garotinha foi de “Papai, o que esse versículo
significa?” a “Papai, onde consigo informações sobre a teologia mórmon?”
Ela havia começado a procurar suas próprias respostas.
Devo admitir que o ato de independência da minha filha foi um momento
ambíguo. Parte de mim estava empolgada pela conquista de um dos meus
alvos como pai. Entretanto, outra parte estava triste de ver a garotinha que
trouxemos do hospital para casa ficando cada vez menor no retrovisor.
Porém, se meu objetivo é enviar meus filhos adiante como flechas (ou
mísseis nucleares) destinadas a fazer um impacto significativo no mundo,
pela causa de Cristo, eles finalmente teriam de conhecer a Deus por si
mesmos e pensar os pensamentos do Senhor, seguindo-o, sem mim por
perto.
Livros, Livros, Livros
Colecione livros que o ajudarão a ensinar a Bíblia. Todos nós lemos para
nossos filhos antes mesmo que eles possam entender o que estamos lendo.
Muitas vezes, sentamos com um livro colorido na frente de uma criança de
olhos bem abertos, que não pode fazer muito além de murmurar e olhar para
todas as cores bonitas. Finalmente, no entanto, essa criança aprenderá a falar,
e depois a ler, e mal poderá esperar por seu livro favorito antes de dormir. Por
que não fazer de alguns desses livros ferramentas para ensinar a verdade
bíblica?
Eu amo o livro Green Eggs and Ham [Ovos Verdes e Presunto][48] como todo
mundo (ou talvez mais), mas há muitas outras coisas que precisamos
comunicar às mentes jovens e impressionáveis que o Senhor nos confiou.
Existem centenas de livros feitos para ajudar pais a ensinar a Bíblia a seus
filhos.
Colecione livros que ajudarão seus filhos a entender a Bíblia. Se nos
comprometermos a ler a Bíblia em família, perguntas virão, é certo. Prepare-
se para ter livros à mão que poderão ajudá-lo a responder às questões dos
filhos. Por exemplo, consiga um bom dicionário bíblico para procurar
palavras-chave. Você também precisará de uma enciclopédia bíblica. Ela lhe
dará um entendimento mais amplo dos principais termos, nomes, e conceitos
bíblicos. Também é bom ter uma concordância por perto. Uma concordância
é uma ferramenta útil: ela o ajudará a identificar versículos bíblicos usando
palavras-chave. Por exemplo, se você quiser saber onde a Bíblia fala sobre
santidade, apenas procure a palavra em uma concordância, e isso lhe mostrará
todos os versículos que contêm essa palavra-chave. Um atlas bíblico é outra
ferramenta proveitosa. Quando você lê sobre um local específico da Bíblia,
um atlas bíblico lhe mostra, com exatidão, aquele local. E, por fim, você
precisará de um bom comentário. Existem muitos outros livros e ferramentas
por aí, mas esses lhe darão um bom começo.
Colecione livros que ajudarão suas crianças a pensar biblicamente. Quando
minha filha mais velha era pequena, minha esposa descobriu uma coleção de
livros chamada Help Me Be Good [Ajude-me a Ser Bom]. Cada livro era
dedicado a um comportamento específico como: falar a verdade,
compartilhar, ou obedecer aos pais. Os livros acompanhavam personagens
familiares através de episódios desafiadores em que elas aprendiam lições da
maneira mais difícil. No fim do livro, a mensagem era clara, e
conversávamos com nossos filhos sobre o benefício de apresentar o
comportamento sobre o qual eles tinham acabado de ler.
Livros como esses têm se tornado cada vez mais importantes em um
momento em que outras influências continuam a minar a fé e a moralidade
bíblica. Se não ensinarmos nossos filhos como se comportar, Bart Simpson o
fará. Desligue a TV, dê um livro para as crianças. Essa foi uma lição que
aprendi do jeito mais difícil. Nossos filhos costumavam assistir a mais
televisão do que me importaria em admitir. Então, nos mudamos para a
Inglaterra. A televisão na Inglaterra era tão ruim que contratamos uma TV a
cabo só para não ter de assistir à programação comum da noite. Por fim,
apenas deixamos de ver. Uma vez ou outra, alugávamos filmes, mas na maior
parte do tempo, nos tornamos uma família de leitores. Nem consigo expressar
a diferença que isso fez na vida das crianças. Agora, nossos filhos limitam-se
a quatro horas por semana — somente nos fins de semana — e, para ser
honesto, a não ser que esteja passando algo especial, eles tendem a não usar
todo esse tempo.
Colecione livros que conectarão seus filhos à igreja e sua história. Um dos
maiores presentes que minha esposa deu a cada um de nossos filhos foi
apresentar e ensinar a amar biografias cristãs. Nossos filhos amam ler sobre
homens e mulheres reais que viverem há muito tempo e deixaram sua marca
no mundo, por seguir fielmente a Cristo. Jasmine pôs suas mãos em O Livro
dos Mártires de John Foxe há um ano, e foi fisgada. Ela não conseguia parar
de falar sobre os homens e mulheres que entregaram suas vidas pela causa de
Cristo e o incrível encorajamento que suas histórias lhe trouxeram.
Descubra livros sobre homens de fé que inspirarão seus filhos e sobre
mulheres de fé com quem suas filhas possam identificar-se. É importante que
nossos filhos e filhas tenham modelos a seguir. Não há nada tão inspirador
como pessoas cujas vidas eram comuns, mas que foram usadas por Deus para
fazer algo extraordinário.
Treinamento em casa exige compromisso, tempo e esforço
Meus bons amigos Matt e Lisa Bullen têm cinco filhos incríveis. Seus filhos
não são de forma alguma perfeitos, mas estão entre as crianças mais
respeitosas, sensatas, talentosas e bem comportadas que já conheci. Na
verdade, os Bullen são meio que lendas em nossa igreja. Novos membros
sempre comentam sobre o comportamento e a disposição dos garotos Bullen.
Os Bullen frequentavam um grupo de estudo bíblico que eu e Bridget
recebíamos em nossa casa. Foi um estudo de oito semanas sobre casamento,
frequentado por oito famílias que iam de recém-casados a casados há mais de
trinta anos. Durante um de nossos momentos de discussão, o assunto passou
para educação de filhos piedosos. Matt Bullen inclinou-se e disse: “Sabe do
que estou cansado? Estou cansado das pessoas olharem para nossos cinco
filhos e dizerem: ‘Vocês são tão sortudos de terem cinco bons meninos’”. A
questão para Matt era simples. Criar filhos piedosos não é uma questão de
sorte; é uma questão de esforço.
Todas as crianças são formadas em iniquidade e concebidas em pecado
(Salmo 51.5). Provérbios 22.15 diz que “a estultícia está ligada ao coração da
criança, mas a vara da disciplina a afastará dela”. Isso não é verdadeiro
apenas para aquelas crianças com pais que não foram “sortudos” o bastante
para conseguir bons filhos. Isso é verdadeiro para todas as crianças. Portanto,
não são os pais sortudos mas os diligentes que terminarão com um filho que
lhes traz louvor em vez de vergonha.
O que existe na família Bullen que a diferencia das outras? A resposta a essa
pergunta é simples. Eles investiram tempo. As crianças aprenderam a
obedecer desde que engatinhavam. Os pais ensinaram o que a Bíblia diz
sobre sabedoria e tolice assim que seus filhos puderam compreender isso
plenamente. Eles já realizavam culto familiar antes de nascerem os filhos. As
crianças viveram sob o olhar vigilante de duas pessoas que se dedicaram
completamente à ideia de aliar-se a Deus para produzir piedade em seus
filhos.
Não existe uma fórmula mágica quando se trata de criar filhos piedosos. Há,
entretanto, um mapa detalhado. A Bíblia nos dá tudo de que precisamos para
ter a tarefa cumprida. Faça um compromisso agora de ensinar a Bíblia em sua
casa. Ore para que o Senhor lhe dê coragem, convicção e persistência para
ver além. Comece com um dia por semana se foi tudo que você pôde
conseguir. Se for preciso, todos os dias leia a Bíblia durante o jantar. Talvez
você possa planejar um tempo de leitura bíblica quando coloca as crianças
para dormir. Seja o que for, leia a Bíblia em sua casa.
Entrando em ação
1. Faça um compromisso de ler um livro da Bíblia com sua família durante a
próxima semana. Tente conseguir um horário específico todos os dias para ler
o texto em voz alta.
2. Compre uma Bíblia para cada membro de sua família.
3. Assim que estabelecer o hábito de ler a Bíblia, tente achar um devocional
familiar ou um pequeno estudo bíblico que vocês possam seguir em família.
6. VIVA A PALAVRA NO LAR

“… e delas [as palavras de Deus] falarás assentado em tua casa, e andando


pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.”
Deuteronômio 6.7

Moisés deixa claro que fidelidade que passa de geração a geração é um


processo para todo o dia e para todos os dias. Devemos ensinar nossos filhos
em todo o tempo. Além disso, devemos sempre ensinar de acordo com os
mandamentos de Deus. Pode parecer simples, mas garanto-lhe que é
profundo. Se é verdade, então a Bíblia deve determinar o método e a maneira
que usarei para treinar e discipular meus filhos. Não posso simplesmente usar
os métodos culturais e humanistas seculares, e esperar colher resultados
bíblicos.
Quando puxo esse assunto, pais cristãos com frequência me perguntam: “A
Bíblia de fato tem instruções específicas sobre criação de filhos?” Tenho duas
respostas para essa pergunta. Primeiro, a própria natureza da Bíblia sugere
que essa questão deve ser respondida afirmativamente. Como já vimos, a
Bíblia deixa claro que “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o
ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim
de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda
boa obra” (2 Timóteo 3.16,17). O discipulado, a disciplina e a instrução de
nossos filhos estão definitivamente entre as boas obras para as quais a Bíblia
equipa os crentes.
A segunda resposta a essa questão baseia-se no grande número de passagens
bíblicas que tratam direta ou indiretamente da criação de filhos. O livro de
Provérbios, por exemplo, é um tesouro de informações para pais que se
perguntam o que fazer. Há inúmeros exemplos na Bíblia de pais piedosos que
o compreenderam corretamente e de outros que estragaram tudo. Os dois
casos nos dão vislumbres do que é necessário para criar filhos de maneira
eficaz. Para não mencionar o fundamento sobre o qual todo este livro
repousa, o livro de Deuteronômio.
Em Deuteronômio 6.7, Moisés ordena ao povo de Deus que pratique a
instrução bíblica com seus filhos “assentado em tua casa, e andando pelo
caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te”. Em outras palavras, não deve haver
nenhum aspecto da vida em que se coloque a verdade bíblica de um lado e a
criação de filhos do outro. Somos chamados a empregar a verdade bíblica em
todos os aspectos de nossas vidas, especialmente nos que dizem respeito à
fidelidade que perdure geração após geração e ao discipulado de nossos
filhos.
Paulo: uma nova abordagem para uma antiga verdade
Fico admirado com o papel proeminente que o livro de Deuteronômio assume
no Novo Testamento. Uma olhada rápida nas Escrituras citadas por Jesus e
pelos apóstolos nos leva à inevitável conclusão de que Deuteronômio foi e é
um livro muito importante. Um bom exemplo é Efésios 6. Aqui, Paulo remete
a Deuteronômio 5, enquanto instrui os pais cristãos sobre criação de filhos.
Seu ensino é um exemplo emblemático do que quero dizer, quando afirmo
que a Bíblia dá instruções específicas aos pais.
Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra a teu
pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para
que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra. E vós, pais, não
provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na
admoestação do Senhor (vv. 1-4).
Dessa passagem da Escritura podemos inferir pelo menos três fases de
preparação para nossos filhos. A fase 1 é a fase de disciplina e instrução. A
fase 2 é o que gosto de chamar de fase do catecismo. Finalmente, na fase 3,
começamos o discipulado.
Disciplina e instrução
Paulo faz esses comentários em meio a sua discussão sobre autoridade e
submissão. Ele já nos deu três contrastes em 5.15-18, culminando no
contraste entre encher-se de vinho e encher-se do Espírito. Nos versos 19-21,
ele traz três condições que exemplificam uma vida cheia do Espírito. A
terceira condição é “sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo” (v.
21). Depois disso, Paulo traz três contextos em que essa submissão é vivida.
Primeiro, trata da submissão da esposa a seu marido (5.22-33). A seguir,
volta-se para a obediência dos filhos aos pais (6.1-4). E finalmente, Paulo
volta sua atenção para servos e mestres (6.5-9).
O que isso significa é que o grau em que os filhos reagem à autoridade de
seus pais é indicativo do grau em que eles são cheios do Espírito. Em outras
palavras, obediência é assunto espiritual. Portanto, ensinar meus filhos a
obedecer não é opcional; é um mandato bíblico. Isso nos dá bastante munição
prática que pode e deve ser empregada em nosso esforço para viver
diariamente pela Palavra. Na prática, isso significa que devemos nos dedicar
a ensinar e esperar que nossos filhos façam o que lhes foi mandado, no
momento em que foi mandado, com uma atitude respeitosa.
Fazer o que lhes foi mandado
Todos já passamos por isto: na frente da esposa do pastor, você diz a sua
filha de dois anos para fazer alguma coisa; ela põe a língua para fora e diz:
“Não”. E sai correndo para o outro lado. Normalmente, quem vê a cena
tentará aliviar nossa vergonha dizendo algo como: “Nessa idade, eles sempre
são travessos”. Ou talvez, falem algo como: “O meu fazia a mesma coisa”.
Todo mundo sorri, você corre atrás da criança e o assunto nunca mais é
mencionado. Afinal você aprende que todo mundo está disposto a aceitar esse
comportamento ou, pelo menos, a fazer comentários que sugerem a aceitação
dele.
O único problema desse cenário é que viola claramente os princípios
apresentados na Palavra de Deus. Não é bom que nossas criancinhas se
caracterizem por desobediência aberta. Ademais, se não lidarmos com nossos
filhos, enquanto são pequenos, eles crescerão para se tornarem adolescentes
desobedientes, desrespeitosos e insuportáveis, que ninguém quer por perto. E,
mais importante ainda, terão firmado um padrão de comportamento que
milita contra a vida cheia do Espírito. Lembre-se: um rapaz ou uma moça
cheios do espírito serão reconhecidos pela obediência a seus pais.
Embora esteja além do objetivo deste livro dar instruções passo a passo sobre
educação bíblica de crianças, digo que devemos aprender a corrigir tal
comportamento em nossos filhos, assim que o observarmos. Se continuarmos
a deixar que a pequena Maria fuja em rebelião aberta, ela crescerá para ser
abertamente rebelde. Bridget e eu aprendemos isso da maneira mais difícil,
com nossa primogênita. Fomos inconsistentes com ela quando mais nova, e
acabamos com um problema nas mãos. Quando Jasmine estava com dez
anos, tivemos de voltar atrás e reeducá-la completamente. Simplesmente não
sabíamos que havia um caminho melhor. Ninguém nos ensinara a
importância desse mandato bíblico.
No momento em que foi mandado
Uma lição mais dura de aprender é o princípio de obedecer na primeira vez.
Lembro-me de ficar parado em um mercado contando até três enquanto
esperava que um dos meus filhos colocasse de volta uma caixa de cereal que
ele sabia que não deveria ter pego. Depois que a criança colocou a caixa de
volta, a mulher da loja, que observava tudo, me parabenizou. Ela disse:
“Estou impressionada. Não achava que você venceria essa”. Eu era um pai
orgulhoso. Isto é, até descobrir que o que estava fazendo era me contentar
com menos que a obediência.
Certo dia, um amigo nosso me fez uma pergunta bem simples. “Quando seu
filho deveria fazer o que lhe foi mandado?” — perguntou depois de me ver
passar pela rotina de contar até três. “Quando eu mandar”, respondi. Ele
olhou para a criança, que tinha acabado de obedecer antes da contagem
acabar, e me fez uma pergunta que mexeu comigo. “Então, por que você
conta até três?” Aquilo me atingiu como um raio. Eu estava ensinando
obediência tardia a meu filho. Era o mesmo que dizer: “Filhinho, você só tem
de obedecer ao papai, quando a questão for séria o bastante para eu contar até
três”. Não era isso que eu queria. Mais importante, não é isso o que Deus
quer. Nosso Pai celestial não conta até três quando nos dá um mandamento.
Não é pecado desobedecer a Deus quando ele conta até três; é simplesmente
pecado não obedecer a Deus. E obediência tardia é desobediência.
Esse é um princípio difícil de entender porque é frequente fazermos vista
grossa à punição que nossos pecados merecem e que, em última análise, foi
recebida na cruz de Cristo (ou será recebida, no inferno, durante uma
eternidade separada de Deus). Entretanto, quer Deus nos aflija
imediatamente, como fez com Ananias e Safira (Atos 5), ou pareça relevar,
podemos ter certeza de que todo pecado receberá uma justa recompensa
(Romanos 3.21-26). Assim, na economia de Deus, todo ato de desobediência
é, em última análise, punido, quer experimentemos essa punição
imediatamente ou não. Por isso, é importante ensinar a nossos filhos que toda
instrução deve ser obedecida de pronto. Quando estiverem mais velhos, eles
podem dar-se o direito de participar de uma discussão sobre nossas
instruções. Mas não podem obedecer apenas após questionar, nem o
questionamento determina se estão ou não convencidos de nossa posição.
Também aprendi que gritar promovia a mesma reação. Quando gritava com
meus filhos, eu estava ensinando a eles que não tinham de fazer o que
mandei, só quando fosse importante o bastante (ou eu estivesse irritado o
bastante), para levantar minha voz. E o pior, eu estava sabotando a autoridade
de minha esposa no lar, porque ela não era tão grande e assustadora, e não
tinha uma voz tão grave quanto a minha. Assim, minha voz (trovejando pela
casa) tornou-se o padrão para promover obediência.
Não queremos que nossos filhos façam o que mandamos sob certas
condições. Queremos que eles obedeçam. Ponto. Aprender a não nos repetir,
não gritar, não chamar a criança rebelde por todos os nomes dela, mas falar
com entonação calma e clara, trazendo consequências para cada ato de
desobediência, transformou completamente nossa casa. Não, nossos filhos
não são perfeitos, mas entendem o que é obediência e esperam uma
consequência se falharem em fazer o que lhes foi mandado, quando foi
mandado.
Com uma atitude respeitosa
O último princípio de educação de filhos que Paulo transmite nessa passagem
vem do versículo 2: “Honra a teu pai e a tua mãe”. Daqui inferimos que os
filhos devem ser treinados a fazer o que lhes foi mandado, quando foi
mandado, com uma atitude respeitosa. Isso é importantíssimo. Significa que
se você manda sua adolescente fazer alguma coisa e ela murmura, estala a
língua, faz cara feia e bate a porta com força no caminho, ela ainda carece do
melhor de Deus e precisa ser corrigida.
Quando me tornei cristão, pensava que todos os cristãos fossem seguidores
apaixonados, sinceros, ousados, e superespirituais, do Senhor Jesus Cristo.
Eu também acreditava que poderia confiar em tudo que fosse escrito por um
autor cristão e publicado por uma editora cristã. Logo descobri que estava
errado.
A maioria dos cristãos em nossa cultura vive como todo mundo. Existe pouca
diferença entre nossas vidas e a vida do pagão comum. Vestimos as mesmas
roupas, assistimos aos mesmos filmes, lemos os mesmos livros, mandamos
nossos filhos para as mesmas escolas e assinamos os mesmos termos de
divórcio como todo mundo. Ademais, cada livraria cristã deveria ter um
aviso: “As opiniões expressas nestes livros não expressam necessariamente as
opiniões de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. Não estou dizendo que
não leio livros cristãos. Estou apenas dizendo: leia com discernimento.
Vamos encarar — viver de acordo com a Palavra de Deus não é a posição
padrão de muitos cristãos. É mais fácil ser levado por esse ambiente de
mediocridade, que nadar contra a corrente. Na verdade, depois de um tempo,
as coisas mudam e nos tornamos, de novo, menos apaixonados (alguns diriam
menos fanáticos).
Entretanto, se vamos experimentar fidelidade multigeracional, devemos
chegar ao ponto de nos desvencilharmos dos grilhões de nossa cultura, para
vivermos na plenitude que há somente em Cristo. Devemos ser pessoas que
vivem a Palavra em seus lares. Infelizmente, isso não é tão fácil quanto
parece. De fato, mesmo os líderes desse movimento chamado Cristianismo
com frequência acham difícil desfazer os laços que os prendem.
Psicologia “cristã” e o dilema da disciplina
Uma das áreas em que os cristãos adotam uma perspectiva cultural, em lugar
de uma perspectiva bíblica, é a área de disciplina e educação de filhos.
Quando se trata de aplicar princípios bíblicos para ensinar nossos filhos a se
comportarem corretamente, a impressão que se tem é de que alguém logrou
confiscar essa parte do cérebro de muitos dos cristãos norte-americanos.
Infelizmente, essa falha não se limita às massas. Mesmo “especialistas”
cristãos bem educados, que creem na Palavra, são pegos por esse ponto cego.
Recentemente, ouvi o psicólogo cristão John Rosemond conceder uma
entrevista no rádio e fiquei absolutamente impressionado. Tão impressionado
que de imediato pedi o CD da entrevista e uma cópia de seu livro. Quando li
a Introdução, fui fisgado:
Sou um herege em minha profissão. Minhas visões sobre criação de filhos e vida
em família são “psicologicamente incorretas”. Elas abalam estruturas, bagunçam as
coisas e com frequência provocam reações virulentas. Uma explicação simples é
que procuro afirmar, em público, meu desdém pela ideologia de criação de filhos
proposta desde os anos 1950 pela psicologia convencional.[49]
Rosemond continua a explicar em seu livro, e também em sua entrevista, que
ele considera a Bíblia o melhor livro do mundo sobre criação de filhos. Que
palavras revigorantes vindas de um psicólogo! Ele continua a aplicar o
machado à raiz do problema, enquanto trata de tudo, desde educação
democrática de filhos, divórcio por mútuo consentimento, feminismo e o
politicamente correto até “direitos homossexuais”, educação sexual nas
escolas e profissionais de saúde mental. E tudo isso apenas na Introdução! Eu
poderia dizer com confiança que aquele era meu tipo de autor.
Infelizmente, minha euforia não durou. Mais ou menos na metade do livro,
tomei um banho de água fria. No capítulo sobre “O filho respeitoso”,
Rosemond passa de uma seção chamada “Dê-lhes argumentos, mas não
argumente” ( falando sobre a popular ideia de discutir com os filhos) a uma
seção intitulada “Dê-lhes a última palavra”. Nessa seção, Rosemond explica
como responde aos pais que frequentemente lhe perguntam o que fazer com
filhos que parecem sempre querer dar a última palavra:
Eu digo: “De alguma forma, dê-lhes a última palavra”. A isso, esses pais, chocados,
normalmente respondem: “Você está brincando, certo?” Au contraire. Para variar,
estou falando sério. Você tem um filho que quer dar a última palavra? Qual a
novidade? Todos os filhos de Deus querem dar a última palavra. Você quer, eu
quero, seus filhos querem. Essa é a natureza do ser humano.[50]
A seguir, Rosemond traz uma evidência episódica para sua posição, na forma
de uma história sobre um conflito que teve com sua filha, na época com
dezesseis anos. Rosemond pediu que a filha limpasse a casa para um jantar;
ela se recusou. A resposta dele? “Passei o aspirador de pó. Limpei o
banheiro. Não disse nada para Amy. Por seis dias”.[51] Rosemond não lidou
com o assunto até a sexta-feira seguinte, quando “cheguei em casa no fim de
tarde, e encontrei Amy com sua melhor amiga, Angie, prontas para sair”.[52]
Foi então que decidiu que era hora de castigar sua filha pela rebelião. Ele
disse que ela não poderia sair. E prosseguiu, explicando que sua decisão foi
baseada nas ações dela na semana anterior. Rosemond registra a reação de
Amy:
Ela explodiu. Não posso publicar o que ela disse, não porque não seja apropriado
para um livro sobre valores familiares, mas porque foi incompreensível.
Incompreensível e muito alto. No meio da gritaria, eu disse: “Sinto muito”, e saí da
sala. Ela gritou para mim: “Eu vou sair de um jeito ou de outro, e você não pode me
impedir!”[53]
Ele continua:
Ela se irritou. Ela esbravejou. Saiu para a rua, para ver se eu a seguiria. Eu não
segui. Ela e Angie conversaram um pouco, então Angie entrou no carro e foi
embora. Amy sentou-se à porta por alguns instantes, então entrou, foi para seu
quarto e ficou por lá o restante da noite.[54]
Quando li essa passagem, a única coisa que pude pensar foram as palavras do
Apóstolo Paulo em Efésios 6: “Pais, não provoqueis vossos filhos à ira”.
Assim, em um livro sobre o que fazer como pai, encontramos um exemplo
básico do que a Bíblia diz para não fazermos. Novamente, não posso
subestimar o fato de que ele é um dos mocinhos. Rosemond realmente faz um
bom trabalho em esboçar uma abordagem bíblica para criação de filhos.
Apenas acho que ele errou nessa.
Em outro relato, Rosemond registra a experiência de uma mãe solteira de
Dayton, Ohio, que foi, em suas palavras, “tocada pelo deus do senso
comum”. Ela tinha aprendido a dar à sua filha a última palavra.
Shelly gritaria algo desrespeitoso e, sem conseguir resposta, algo também insolente.
Então, faria cara feia. Porém, minha mãe me ensinou que se eu “a deixasse em
banho-maria”, Shelly afinal faria o que lhe fora mandado. Desnecessário dizer
que… Shelly ainda não gostava do fato de não ser livre para fazer o que quisesse,
mas não tínhamos uma discussão desde que comecei a deixar que ela desse a última
palavra, e isso já tem três anos![55]
Mas, qual é o problema? Evidentemente, essa filosofia funciona, certo? A
filha de Rosemond entendeu a mensagem e essa mãe solteira não teve uma
discussão com a filha, em três anos. Qual seria o problema? Eu lhe digo qual
é o problema. Ou melhor; deixarei que a Bíblia lhe diga:
Honra a teu pai e a tua mãe, como o SENHOR, teu Deus, te ordenou,
para que se prolonguem os teus dias e para que te vá bem na terra que
o SENHOR, teu Deus, te dá. (Deuteronômio 5.16)
Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra a teu
pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para
que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra. (Efésios 6.1-3)
Filhos, em tudo obedecei a vossos pais; pois fazê-lo é grato diante do
Senhor. (Colossenses 3.20)
O problema com a abordagem acima é que aparentemente ignora (portanto,
viola) o Quinto Mandamento. Não basta que nossos filhos afinal façam o que
lhes mandamos; eles devem honrar-nos. Não é certo que nossos filhos e filhas
gritem conosco, batam o pé e as portas, e saiam da casa. Deus nos falou sobre
isso, e devemos lutar por obediência total.
Ao dar o tratamento do silêncio à sua filha por muitos dias antes de reagir,
Rosemond também ignora princípios como “Pais, não provoqueis vossos
filhos à ira” (Efésios 6.4; Colossenses 3.21), e “Irai-vos e não pequeis; não se
ponha o sol sobre a vossa ira” (Efésios 4.26). Ele também ensinou sua filha a
fazer o mesmo, como se evidencia pelo silêncio dela contra ele. O fato é que
essa não é a abordagem bíblica sobre disciplina. Não estamos falando de
questões periféricas aqui, mas sobre o cerne do ensino bíblico quanto ao
papel dos filhos no lar.
Rosemond nos dá vislumbres dos fundamentos filosóficos de sua abordagem:
Toda vez que me envolvi tolamente com o jogo do “Quem dá a última palavra?” —
perdi o controle, abri mão da minha autoridade, e não consegui nada. Você quer o
respeito de seus filhos? Então retenha sua autoridade. É simples assim. Dê-lhes a
última palavra e consiga mais do que você pediu em troca.[56]
Concordo que é errado que os pais percam o controle enquanto disciplinam
seus filhos. Também concordo que fazer isso compromete nossa autoridade.
Entretanto, creio que Rosemond tem tratado a questão de modo errado e as
consequências são aterrorizantes. Em vez de trabalhar seu temperamento e
restaurar adequadamente sua autoridade paterna, ele escolheu permitir que
seus filhos violem o Quinto Mandamento e, assim, arriscou minar a
autoridade de Deus a fim de salvar a sua.
Repetindo: gostei do livro de Rosemond. Na verdade, antes de chegar à seção
mencionada, recomendei-o a muitos dos meus amigos mais próximos.
Depois, continuei a recomendar, mas com cautela, pois não creio que o
problema que expus inutilize o restante da obra. Ele não é um pai pacifista,
esquerdista, que abrace árvores. É um porta-voz respeitado na comunidade
cristã; um psicólogo que coloca sua própria profissão no fogo cruzado e não
mostra misericórdia. Entretanto, nesse assunto, não poderia discordar mais do
que discordo. Se vamos viver pela Palavra em nossos lares, não podemos
usar a Bíblia como um trampolim; ela deve ser nossa lei, nosso guia, nosso
modelo e nossa fonte. Devemos nos submeter à sua instrução do começo ao
fim. E isso inclui a maneira como disciplinamos nossos filhos.
O quinto mandamento e a educação de filhos
Uma das chaves para entender o ensino de Paulo sobre instrução e
discipulado de filhos é entender o mandamento a que ele se refere em Efésios
6.
A posição do Quinto Mandamento
Os Dez Mandamentos foram entregues em Deuteronômio 5. No entanto, os
mandamentos são divididos em duas seções. Os primeiros quatro
mandamentos são o que os teólogos tratam como mandamentos verticais.
“Não terás outros deuses diante de mim”. “Não farás para ti imagem de
escultura”. “Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão”. “Guarda
o dia de sábado, para o santificar”. Esses quatro mandamentos tratam do
nosso relacionamento com Deus.
Os seis mandamentos seguintes concentram-se em nossos relacionamentos
horizontais. Eles lidam com questões como assassinato, adultério, roubo,
falso testemunho e cobiça. Entretanto, o primeiro desses mandamentos
horizontais é o Quinto Mandamento: “Honra a teu pai e a tua mãe”. Antes da
proibição contra assassinato, adultério e roubo, Deus dá uma palavra sobre o
respeito devido aos pais. A própria posição desse mandamento mostra a
importância que o Senhor dá à família no grande esquema das questões da
vida.
A promessa do Quinto Mandamento
Além de sua posição, o Quinto Mandamento é significante por sua promessa.
Os primeiros quatro mandamentos não têm promessas a eles agregadas.
Entretanto, quando escreveu o Quinto Mandamento, Deus juntou uma medida
que ainda não tinha acompanhado nenhum dos mandamentos verticais. Pela
primeira vez, Deus estabelece “para que se prolonguem os teus dias e para
que te vá bem na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá”(v. 16).
É claro, existem promessas inerentes a cada um de todos os mandamentos.
Deus certamente nos abençoa quando nos abstemos da idolatria ou do
adultério. Além disso, existe a bênção inerente a toda piedade. Entretanto,
quando se trata de honrar os pais, a promessa não é presumida, mas
declarada. Destaque essa verdade para seus filhos. Maravilhem-se com a
beleza da promessa que Deus guarda para aqueles que mostram o devido
respeito a seus pais. Corrija-os quando eles não são respeitosos, e pergunte-
lhes se o comportamento que eles assumem é, ou não, digno da promessa.
O propósito do Quinto Mandamento
Talvez o aspecto mais significativo do Quinto Mandamento seja seu
propósito. Por muitas vezes, eu olhava para Efésios 6.2-3 e entendia que a
promessa era para meus filhos individualmente. “Jasmine”, eu diria, “se você
me honrar, viverá uma vida longa e próspera”. Ou eu o usaria negativamente:
“Trey, a Bíblia diz que se você me honrar, terá vida longa. Isso significa que
se não fizer o que eu mando, é o seu fim”. Quantas vezes consideramos essas
palavras sob essa perspectiva?
A chave para entender o papel da família em disciplinar os filhos é entender o
propósito do Quinto Mandamento. Esse mandamento não foi dado para o
bem de um filho em particular tanto quanto foi dado para o bem da
comunidade. O Quinto Mandamento é o fundamento sobre o qual o conceito
de fidelidade perpetuada de uma geração a outra é construído. Deus projetou
a família para disciplinar filhos e assegurar a fidelidade e a perpetuação da
comunidade de fé pelas eras. Em outras palavras, Deus diz a nós (por meio
do Quinto Mandamento): “Se vocês desejam continuar a existir como povo
de Deus no meio da terra pagã que estou prestes a lhes dar, vocês terão de
consegui-lo, instruindo e disciplinando seus filhos”.
Essa é a base de todos os argumentos que já fiz ou farei neste livro. Deus
projetou sua família — não a mocidade, não o ministério infantil, não a
escola cristã, mas a sua família — como principal agente de disciplina na
vida dos seus filhos. A tarefa mais importante que você tem como pai é
instruir e disciplinar seus filhos. Essa verdade transformou completamente a
maneira como Bridget e eu víamos nosso papel como pais. De repente,
percebemos que se criássemos nossos filhos para serem ótimos médicos,
advogados, atletas ou músicos, mas não os tivéssemos treinado para honrar-
nos e obedecer a Deus, teríamos falhado. Logo, deveríamos repensar nosso
plano, nossas prioridades, tudo. Na verdade, essa foi uma das verdades
principais que nos levaram à “escola em casa”. Para nós, era inconcebível que
cumpríssemos uma tarefa tão monumental sem dar aos nossos filhos uma
educação que abrangesse e desse base a essa filosofia.
A fase do catecismo
Em Efésios 6.4, Paulo esclarece as coisas. Ele afirma em termos claros qual o
papel e a responsabilidade esperados de um pai cristão. Depois de
contextualizar sua instrução sobre filhos no versículo 1, ele a relaciona com
os mandamentos nos versículos 2 e 3. Então, no versículo 4, ele nos dá o
ponto central. Pais, sua tarefa é ensinar seus filhos a comportarem-se como
cristãos e crerem como cristãos.
A fase 1 do viver pela Palavra, na criação de filhos, é a fase da instrução e da
disciplina. A partir do momento em que alcançamos isso, podemos caminhar
para a fase 2 — o catecismo. Hesito em usar a palavra catecismo uma vez
que, francamente, cristãos demais hoje ou não sabem o que significa ou
acham que tem a ver com determinado ramo do cristianismo. De fato, até
recentemente Bridget e eu não entendíamos verdadeiramente os catecismos.
Somos bons batistas do sul que jamais tinham ouvido falar de catecismo. Mas
catecismo é simplesmente uma instrução básica sobre a doutrina cristã,
usando o método de perguntas e respostas.
O alvo do catecismo é transmitir teologia bíblica. Por meio de uma série de
perguntas e respostas, a criança lentamente aprende no que crer e, mais
importante, por que crer. Catecismo não é um feijão mágico ou uma bala de
prata. Ainda temos trabalho para ensinar nossos filhos. Entretanto, o
catecismo é uma ferramenta inestimável que facilita o processo. Mais
importante, o catecismo constrói o fundamento para o discipulado que vem a
seguir. Sem o catecismo, nosso discipulado é reduzido a uma lista de
moralismos.
Por exemplo, o que aconteceria se eu dissesse aos meus filhos para não terem
sexo pré-marital, mas não desse a eles o fundamento bíblico e teológico sobre
o qual construir tal decisão? Infelizmente, foi precisamente dessa forma que
fui ensinado. Disseram-me que eu não deveria fazer sexo com garotas porque
era muito novo e poderia engravidar alguém. É claro, isso também significou
que, quando estava mais velho, eu pude justificar a prática, tomando as
precauções necessárias. Afinal, eu já não era muito jovem e ninguém ficaria
grávida.
Compare isso a esta instrução baseada em um entendimento da santidade do
casamento, da dignidade do sexo oposto, do meu papel como um protetor de
quem Pedro chama de parte “mais fraca” do matrimônio (1 Pedro 3.7), dos
propósitos bíblicos pelos quais o sexo foi dado e de um exército de outros
princípios teológicos; a diferença é assustadora. Por exemplo, o Breve
Catecismo de Westminster aborda a questão da pureza sexual a partir da
perspectiva do Sétimo Mandamento:
P: Qual é o sétimo mandamento?
R: O sétimo mandamento é: "Não adulterarás".
P: O que exige o sétimo mandamento?
R: O sétimo mandamento exige a conservação da nossa própria castidade, e da
castidade do nosso próximo, no coração, nas palavras e nos costumes.
P: O que proíbe o sétimo mandamento?
R: O sétimo mandamento proíbe todos os pensamentos, palavras e ações impuras.
Isso vai muito além de “Não engravide ninguém”. Não quer dizer que filhos
munidos dessa informação nunca violarão os princípios em que foram
ensinados, mas será necessária uma rebelião planejada, ao contrário da
premissa lógica de que a atividade é justificável.
O catecismo é simplesmente um rumo a seguir. Muitos de nossos filhos têm
pouca noção das verdades em que creem ou por que creem. Junte a isso o fato
de eles serem seres humanos caídos, cuja inclinação natural é pecar, e de
viverem em uma cultura que glorifica, justifica e promove esses pecados, e
não é difícil enxergar o dilema. Deixar de catequizar nossos filhos é
equivalente a render-se à cultura. Caminhar em santidade já é difícil quando
sabemos o que é certo; não vamos deixar as coisas mais difíceis do que já
são.
Há pouco tempo, conversei com um pastor que estava no limite com seu filho
mais velho. O jovem era distinto, agradável e muito bem educado. Entretanto,
havia uma tensão óbvia entre o garoto e seu pai. Quando me sentei com os
dois, percebi que esse pastor não tinha discipulado seu filho. O jovem era
bem versado no linguajar da igreja, mas não tinha qualquer compreensão do
cristianismo.
Algumas ferramentas úteis
Um bom número de catecismos está disponível — Westminster, Heidelberg,
de Spurgeon, etc. — e uma simples busca na internet lhe dará mais
informações do que você jamais julgou possível. O que achei muito útil foi o
Truth and Grace Memory Book [Livro de Memorização Verdade e Graça] da
Founders Press (disponível em www.founders.org).[57] Aqui não é o lugar
adequado para discutir prós e contras de cada catecismo. Apenas quero
implorar que você encontre uma boa ferramenta para ensinar teologia bíblica
a seus filhos. Estou convicto de que o catecismo é a melhor forma de fazê-lo.
Entretanto, mesmo que escolha não utilizar um catecismo formal, você deve
catequizar seus filhos. Em outras palavras, se você não encontrar um
catecismo que se encaixe em sua teologia, faça um próprio. Nossos filhos
desenvolverão uma teologia quer os ensinemos ou não. Como você viu no
capítulo sobre cosmovisão, todo mundo tem pressuposições básicas e
subjacentes sobre a natureza de Deus, do homem, da verdade, do
conhecimento e da ética. Falhar em catequizar nossos filhos apenas deixa
muito mais fácil para o Humanismo Secular (com que eles são
constantemente bombardeados na escola, na televisão e pelos amigos e
professores) enraizar-se e tornar-se o princípio orientador pelo qual eles
viverão.
A fase de discipulado
A fase 3 do viver pela Palavra, na criação dos nossos filhos, é o discipulado.
Nós pedimos e recebemos seus corações na fase da disciplina e da instrução.
Então, capturamos suas mentes na fase do catecismo. Agora, é hora de
segurar suas mãos na fase do discipulado. É nessa fase que ensinamos nossos
filhos sobre o que fazer com o que aprenderam.
A fase de discipulado é dependente das outras duas fases. Por exemplo, se
você não teve firmeza na disciplina e instrução, você terá uma moça ou um
rapaz desrespeitoso e/ou desobediente, e não conseguirá discipular alguém
nessa condição. O discipulado é construído com confiança e respeito. Além
disso, se você não teve cuidado na fase do catecismo, você não tem um rumo
a seguir. O discipulado é a aplicação dos princípios em que cremos. Se não
sabem no que creem ou por que creem em determinados princípios, nossos
filhos terão dificuldade para entender por que uma opção de estilo de vida é
superior a outra.
Imagine-se tentando ensinar alguém a cozinhar Frango ao Marsala (um dos
meus pratos favoritos), e essa pessoa não sabe a diferença entre uma caçarola
e uma frigideira. Ou como você poderia ensinar alguém a tocar a Suíte n.01
para Cello, de Bach, sem primeiro ensinar teoria musical? É precisamente
esse tipo de degrau que pulamos com nossos adolescentes quando tentamos
ensiná-los a agir como cristãos antes de ensiná-los a crer como cristãos.
Tentamos acompanhá-los no processo de escolher uma faculdade antes de
termos lhes dado uma compreensão básica do que a Bíblia diz sobre
educação e a busca por conhecimento. Falamos para eles sobre a importância
de compartilhar a fé com incrédulos sem lhes ter dado uma noção firme de
soteriologia (a salvação do homem).
A importância do discipulado
Uma das maiores bênçãos em minha vida cristã é o fato de ter sido
discipulado quando era um jovem cristão. Dois companheiros de time, Brent
Kanpton e Max Moss, levaram aproximadamente um semestre ensinando-me
o básico da vida cristã. Outro amigo e companheiro de equipe, Otis Latin, me
amava a ponto de compartilhar comigo seus pais na época em que eu estava
longe de casa devido à faculdade. A primeira família cristã de quem ouvi
falar sobre culto familiar foram os Latins. Essas experiências iniciais puseram
um fundamento em minha vida cristã que tem gerado muitos frutos. Isso
também me deu uma valorização da importância do discipulado bíblico.
Infelizmente, essa experiência representa a exceção à regra. A maioria dos
cristãos nunca foi discipulada. Os únicos que dizem que já o foram referem-
se quase sempre a uma série de aulas que tiveram em suas igrejas, em uma
sala com outras vinte pessoas. Raramente, encontro um homem ou uma
mulher que teve cristãos maduros gastando um tempo significativo com ele
ou com ela, com o propósito expresso de mostrar como viver a vida cristã.
Logo, muitos de nós achamos difícil pensar em termos de discipular nossos
próprios filhos.
Educação: a chave perdida do discipulado
Em uma passagem aparentemente obscura do Novo Testamento, Jesus diz
algumas das palavras mais profundas em toda a Bíblia sobre educação e
discipulado. O Evangelho de Lucas registra as palavras de Jesus: “O
discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem
instruído será como o seu mestre” (6.40). Essa é a versão neotestamentária de
Provérbios 22.6 (“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda
quando for velho, não se desviará dele”). Isso levanta uma das questões mais
importantes com que pais cristãos se deparam tratando-se do discipulado de
seus filhos. Quem seus filhos refletirão ao completarem sua educação
“formal”?
Educação e o conhecimento de Deus
Antes que você corra gritando: “Outro pai adepto da “escola em casa”
tentando convencer todos nós a fazer o que ele faz”, deixe-me assegurar
algumas coisas. Primeiro, eu nunca sugeriria que todo mundo eduque seus
filhos do mesmo jeito que educamos os nossos. Segundo, não quero dar
respostas fáceis. Quero que você pense no que a Bíblia tem a dizer a respeito
e reflita sobre a decisão que tem de tomar. Dito isso, vamos olhar algumas
passagens bíblicas de importância vital e suas implicações.
Provérbios 1.7 é a base para nossa discussão. Salomão nos diz: “O temor do
SENHOR é o princípio do saber” (cf. Jó 28.28; Salmo 111.10; Provérbios
9.10; 15.33; Eclesiastes 12.13). Em outras palavras, nossa escolha
educacional deve basear-se no fato de que Deus não pode nem deve ser
ignorado no processo. Qualquer sistema educacional que negue a existência,
preeminência e primazia de Deus estará violando esse princípio bíblico e, em
vez de contribuir , estará erodindo o processo de discipulado.
Educação e a Grande Comissão
Muitos contestam a “escola em casa” ou escolas cristãs, baseados no fato de
que Deus nos chamou para ser “sal” e “luz” e evangelizar o mundo. Por
irônico que pareça, é precisamente por isso que escolhemos educar em casa.
A Grande Comissão diz: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a
guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mateus 28.19-20, ênfase
acrescentada). Como fazer isso sem a educação cristã? Como posso de fato
“fazer ,de meus filhos, discípulos”, se os envio para uma escola pública por
45 a 50 horas semanais? O Nehemiah Institute, o The National Study of Youth
and Religion e o Barna Group já nos mostraram claramente que nossos filhos
não conseguem entender — quanto mais obedecer — a tudo o que o Senhor
ordenou.
Ademais, como nossas crianças podem evangelizar em nossas escolas
públicas se elas não sabem no que acreditam, nem por que acreditam? Sem
mencionar que toda a evidência atual aponta para o fato de que nossos filhos
são os evangelizados, não os evangelistas, nas escolas de nosso país. Eles são
os tais levados por todo vento de doutrina.
Educação e o desenvolvimento da cosmovisão
Um dos assuntos mais evidentes no debate sobre educação é a questão do
desenvolvimento de uma cosmovisão. O Neemiah Institute continua a
demonstrar ano após ano que filhos cristãos em escolas públicas que
realmente retêm algo próximo a uma cosmovisão bíblica são a exceção rara, e
não a regra.[58] Isso faz mais sentido quando comparado à Escritura.
E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela
renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus. (Romanos 12.2)
Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs
sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do
mundo e não segundo Cristo. (Colossenses 2.8)
E tu, ó Timóteo, guarda o que te foi confiado, evitando os falatórios
inúteis e profanos e as contradições do saber, como falsamente lhe
chamam, pois alguns, professando-o, se desviaram da fé. (1 Timóteo
6.20-21)
É claro: os crentes devem evitar exposição desnecessária a influências de
cosmovisões que contradizem e/ou debilitam a verdade bíblica. Mais uma
vez, qualquer escolha educacional que fizermos deve levar esse princípio
bíblico em consideração.
Educação e moralidade
Contrariando a opinião popular: não existe uma educação amoral. Toda
educação ensina e molda moralidade. É impossível separar a visão pessoal de
Deus, homem, verdade, conhecimento, e ética, do processo educacional.
Todos os dias em que nossas crianças sentam-se em suas carteiras, elas estão
sendo ensinadas a conhecer, amar e obedecer a Deus ou a amar e obedecer a
alguém ou a algum princípio que usurpou a justa posição de Deus.
Se você pensa que seu filho está acima dessa influência, pense novamente. A
Bíblia é clara ao advertir os crentes sobre os perigos de associar-se a
influências imorais/amorais.
Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes.
(1 Coríntios 15.33)
Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que
sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que
comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o
Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? (2 Coríntios 6.14-
15)
Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios,
não se detém no caminho dos pecadores,
nem se assenta na roda dos escarnecedores.
Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR,
e na sua lei medita de dia e de noite.
Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas,
que, no devido tempo, dá o seu fruto,
e cuja folhagem não murcha;
e tudo quanto ele faz será bem sucedido. (Salmo 1.1-3)
O Salmo 1 é uma das passagens mais pungentes em toda a Bíblia, quando se
trata de avaliar a influência educacional imoral. Não devemos permitir que
nossos filhos detenham-se, sentem-se ou caminhem com aqueles que negam a
verdade e a moralidade bíblica. Pelo contrário, devemos colocá-los em
situações que os auxiliarão a meditar na Lei do Senhor “de dia e de noite”.
Educação e responsabilidade
Embora eu deseje que todo crente possa experimentar a rica recompensa de
dar instrução escolar a seus filhos em casa, sei que não será sempre a opção
mais adequada. Entretanto, quero deixar, muito clara, este fio condutor: não
podemos mais descansar e ignorar a verdade bíblica ao decidir onde e como
educar nossos filhos. A Bíblia não está calada sobre esse assunto. Faça tudo a
seu alcance para colocar seu filho em um ambiente educacional que
suplemente e facilite seu discipulado. Faça tudo a seu alcance para evitar a
influência de escolas públicas, incapazes de criar nossos filhos “na disciplina
e na admoestação do Senhor” (Efésios 6.4).
Deixe-me esclarecer — eu aplaudo os homens e as mulheres a quem Deus
chamou para ensinar em escolas públicas. São guerreiros na linha de frente e
precisam estar bem onde estão. Entretanto, há uma grande diferença entre
enviar discípulos totalmente treinados para o território adversário e enviar
recrutas ao campo de treinamento do inimigo. Se fizermos o último, não
deveremos nos surpreender quando eles vierem para casa vestindo o
uniforme adversário e atacando nosso lar enquanto balançam a bandeira
inimiga.
Recentemente, um dos colunistas mais publicados nos Estados Unidos, Cal
Thomas, abordou a questão do sexo e do uso de drogas em escolas públicas.
Thomas esboçou uma estratégia em três passos para resgatar nossos filhos:
O passo um é tirá-los das escolas públicas que servem como estufa para esse tipo
de pensamento e comportamento. O passo dois é reduzir estilos de vida perdulários,
para que os pais trabalhem menos e invistam mais tempo em seus filhos, com um
dos pais realmente ficando em casa para fazer do lar um abrigo seguro. O passo três
é não ter televisão em casa. A televisão tornou-se hostil às coisas em que muitos
pais desejam que seus filhos creiam e aceitem. Ela é mortal para o desenvolvimento
moral; encoraja o desrespeito aos pais e sabota aqueles princípios que costumavam
fazer das famílias uma força cultural forte e positiva (ênfase minha).[59]
Thomas continua:
As escolas públicas e as indústrias de entretenimento e sexo não vão resolver o
problema. A responsabilidade de criar os filhos de modo adequado pertence aos
pais. O Estado e os vários grupos de interesse não têm a prerrogativa de
desenvolver a fibra moral de uma criança e, na verdade, eles estão prontamente
minando esse desenvolvimento (ênfase minha).[60]
Se essa é a primeira vez que você ouve alguém falar com tanta clareza sobre
essa questão, acostume-se. O assunto está em pauta, e o silêncio não é mais
uma opção. Como presidente do Southern Baptist Theological Seminary
[Seminário Teológico Batista do Sul dos EUA], Al Mohler proclamou com
ousadia: “É hora de os [batistas] responsáveis desenvolverem uma estratégia
de saída das escolas públicas”. Presidentes de seminário e colunistas da
imprensa estão fazendo declarações corajosas sobre a necessidade de os pais
cristãos (e essencialmente todos os pais responsáveis) tirarem seus filhos das
escolas públicas. Fantástico!
À mãe solteira com quatro filhos e dois empregos, cujo marido saiu de casa
sem providenciar nenhum meio de sustento a longo prazo, deixe-me dizer
duas coisas. Primeiro, meu coração está condoído. Eu queria pagar o preço de
ficar na brecha por cada uma de vocês e de proteger seus filhos, mas não
posso. Devo confiar essa responsabilidade a um Deus soberano que não é
surpreendido pelas circunstâncias.
Segundo, peço-lhe desculpas em nome de muitos da comunidade cristã que
não conseguiram ter a visão e proporcionar alternativas educacionais
acessíveis às pessoas em sua situação. Eu queria mudar isso da noite para o
dia, mas não posso. Posso, entretanto, continuar a soar o alarme, e despertar
esse gigante sonolento, para que reconheça o que estamos fazendo com os
seus e os nossos filhos, ao permitir que permaneçam em campos de
treinamento humanista secular, mais tempo do que o necessário.
Na verdade, eu e um querido amigo, Bruce Shortt, apresentamos uma
resolução em um recente encontro anual da Convenção Batista do Sul dos
Estados Unidos, convocando os pais a investigarem as escolas públicas e
removerem estudantes cristãos de instituições que estiverem promovendo
uma agenda homossexual radical. Uma das coisas que pedimos na resolução
foi o estabelecimento de alternativas educacionais acessíveis àqueles que
estão presos a escolas reprovadas. Pela reação do plenário, vocês pensariam
que estávamos chamando batistas para comerem criancinhas!
Os poderosos da convenção acabaram conosco! Fomos acusados de não ter
paixão pelo evangelismo, compaixão pelos pobres e amor pelos professores
(a despeito de nossa resolução abordar cada uma dessas questões). Sei que
esse é um assunto polêmico, que faz o sangue das pessoas ferver. Entretanto,
não posso ignorar os dados e não vou ignorar as Escrituras. Minha alma
anseia pelo dia em que os cristãos reconhecerão o papel central da educação
no discipulado de nossos filhos e a oportunidade incrível que temos de
realmente evangelizar as pessoas que procuram por algo melhor que as
escolas americanas, um sistema que ficou em 16º lugar em matemática e
ciência num ranking de dezessete nações industrializadas e que coloca nossos
filhos em risco de violência escolar, abuso de drogas, abuso sexual entre
professor e aluno (que é bem pior que qualquer coisa que a Igreja Católica já
experimentou)[61], propaganda homossexual, promiscuidade sexual, gravidez
na adolescência e analfabetismo funcional. Oh! como espero ver o dia em que
as escolas cristãs serão vistas como cidades edificadas sobre um monte,
atraindo pais que buscam algo melhor e dizendo: “A minha fé e o meu amor
estão firmados no Senhor, pois Rocha firme é o Senhor”.
Entrando em Ação
1. Leia e releia os textos bíblicos sobre criação de filhos mencionados neste
capítulo. Observe o contexto, o pano de fundo, etc. Em seguida, pergunte a si
mesmo se a filosofia de criação de filhos que você apoia está de acordo com
o ensinamento bíblico. Se não, em que aspectos você precisa mudar?
2. Memorize os Dez Mandamentos com seus filhos. Pergunte-lhes como cada
mandamento se aplica a suas vidas. Então, retorne ao Quinto Mandamento e
pergunte-lhes como eles podem obedecer, diariamente, a esse Quinto
Mandamento.
3. Sente-se com sua esposa, e escrevam suas expectativas a respeito de
disciplina e do discipulado de seus filhos. Depois de os dois terem escrito
suas listas, comparem, contrastem e sintetizem as duas listas.
4. Compare essa lista com o que você fez para colocar em ação o passo 1.
7. MARQUE O LAR COMO
TERRITÓRIO DE DEUS

“E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.”


Deuteronômio 6.9

Sempre me pergunto por que me lembro tão vividamente das práticas


budistas de minha mãe. Eu sei que convivia com cristãos — ou, pelo menos,
pessoas que iam à igreja e se diziam cristãs — mas nenhuma de suas práticas
teve sobre mim um impacto tão duradouro quanto o Budismo de minha mãe.
E sei que isso se deve em parte à frequência e proximidade daquela devoção.
Entretanto, também passei a perceber que havia algo mais. Outra coisa
enraizou profundamente as práticas de minha mãe nos recessos da minha
mente.
Então, comecei a estudar Deuteronômio 6. Não conseguia entender a
aplicação daqueles princípios do versículo 9. Trata-se de uma expressão
específica do princípio geral de toda a passagem. Nas casas do povo de Deus,
e a respeito delas, deveria haver coisas tangíveis que as distinguissem das
casas dos outros.
Memórias da minha mãe
Não me lembro de quando minha mãe tornou-se budista. Já discutimos
muitas vezes as experiências multifacetadas que a levaram nessa direção, mas
não tenho qualquer lembrança pessoal do dia em que as coisas
repentinamente mudaram. Lembro-me, entretanto, distintamente dos
elementos de sua religião.
Tínhamos um apartamento muito pequeno em Los Angeles. Duas coisas que
permanecem em minha mente são a grande coleção de discos de minha mãe,
que pareciam cobrir toda uma parede da nossa sala de estar, e a caixa preta de
laca no lado oposto ao quarto, próximo à copa.
Dentro dessa caixa havia uma estátua dourada de Buda e um rolo com um
estranho escrito asiático. Havia também um lugar para o incenso, que minha
mãe queimava sempre que recitava um mantra. Havia um lugar para frutas (o
que eu nunca entendi), um terço budista, e um pequeno gongo ou sino. Faz
cerca de trinta anos, mas ainda posso ver aquela caixa em minha mente, como
se fosse ontem.
Também me lembro de ver minha mãe abrir aquela caixa, ajoelhar-se em
frente a ela, e começar seu ritual diário. Ela se prostrava, acendia o incenso,
tocava o sino e começava a cantar um mantra. Enquanto cantava, pressionava
o terço em suas mãos. Quase posso ouvir o som do sino, o clique das
sementes do terço e a voz monótona de minha mãe, enquanto recitava o
mesmo mantra, repetidamente, pelo que pareciam horas naquela época.
Minha mãe tornou-se uma cristã seis meses após minha conversão, mas ainda
me lembro vividamente de suas antigas expressões religiosas. Por quê? O
budismo de minha mãe provocou, estimulou e causou uma impressão
duradoura em cada um dos meus cinco sentidos. A caixa preta, o Buda
dourado, o rolo, e a visão de minha mãe ajoelhando-se envolviam minha
visão. O som do sino, das sementes do terço, e o mantra envolviam minha
audição. O incenso envolvia meu olfato, o terço envolvia meu tato, e a fruta
na caixa próxima ao Buda envolvia meu paladar.
Imagine o impacto que a instrução de Moisés teve sobre os filhos de Israel na
Terra Prometida. Eles entraram em uma terra estranha, com paisagens,
cheiros, gostos, texturas e sons estranhos, e deveriam, de alguma forma,
conservar o que os distinguia daquela nova cultura. Como eles fariam isso?
Toda vez que entrassem pelas portas, eles veriam símbolos de sua fé. Seus
umbrais proclamavam essa distinção. As festas anuais com ervas amargas,
cordeiro e pão asmo continuamente os traziam de volta a suas raízes no
Êxodo. Além disso, as nações que os rodeavam viam, ouviam, provavam,
tocavam e cheiravam a diferença. Isso é o que significa marcar nossos lares
como território de Deus.
O mundo sabe que é verdade
Entre no consultório de um médico e o que você vê? Olhe para as paredes e
você verá diplomas e prêmios. Você também verá cartazes representando a
especialidade do médico. No consultório de um pediatra, você verá bebês em
diferentes fases da vida. No escritório de um obstetra, verá a enigmática
figura de um bebê saindo pelo canal de nascimento. A partir do momento em
que entra no consultório, você será bombardeado com imagens projetadas
para confortar e tranquilizar. No momento em que o médico entra, você já
descobriu que ele estudou e tem um diploma, qual é sua especialidade e há
quanto tempo ele a pratica. Tudo isso em um espaço bem demarcado.
O mesmo acontece em praticamente todas as áreas. Entre em alguma empresa
e você será bombardeado com os últimos prêmios que receberam, um quadro
com o funcionário do mês, o lema da companhia, a música preparada para
colocá-lo em um clima adequado, e empregados treinados para comunicar a
filosofia da empresa pelo modo como se vestem, falam, e cuidam da área de
trabalho. Existe até mesmo uma novidade asiática chamada Feng Shui, que
está varrendo a nação. Veja como um site a descreve:
O Feng Shui trata de entender os segredos de como a energia se move em nosso
ambiente e como o estilo de nossos prédios e interiores nos afetam de forma sutil.
Envolve explorar o chi benéfico para melhorar o sucesso e a boa fortuna do
indivíduo.[62]
Mesmo místicos orientais ímpios entendem o significado espiritual do
ambiente (embora estejam em completa discordância da verdade da Palavra
de Deus). Quanto mais os filhos de Deus, armados com um mandato bíblico,
devem marcar seus lares como território de Deus!
Envolvendo os olhos
Tive o privilégio de levar minha família a muitos lugares maravilhosos. No
entanto, se eu tivesse de fazer um top 10, incluiria o Museu do Louvre em
Paris. Estávamos vivendo na Inglaterra naquela época, e demos um pulo em
Paris para ver as paisagens. Embora toda a viagem tenha sido muito
emocionante, faltam palavras para descrever o momento em que estivemos
cara a cara com a Mona Lisa. Eu não conseguia acreditar que estivéssemos
ali. Mesmo o meu filho Trey (na época, com oito anos) achou fantástico. Foi
um dos momentos mais memoráveis que já passamos juntos como família.
Uma das coisas que mais me chamou a atenção naquele dia foi a quantidade
inumerável de pinturas religiosas. Fui repentinamente lembrado de que houve
um período na história em que todo mundo que queria ser considerado um
pintor sério, um grande mestre, pintava temas bíblicos. Vimos a Bíblia
exposta de forma artística e vívida, como nunca tínhamos visto antes. Em
todo lugar para onde olhávamos, víamos outra pintura de Maria, de Jesus, das
bodas de Caná, da crucificação, de anjos ou da Última Ceia. Foi ali que senti
todo o potencial da arte cristã para elevar e até cativar o espírito humano. Fui
atingido emocional e espiritualmente pelo que vi. Ainda me lembro de muitas
dessas imagens. Creio que os cristãos deveriam se esforçar para encher suas
casas com obras tão comoventes.
Sei que não podemos todos ter obras dos grandes mestres, mas todos
podemos ter uma pintura, um cartaz ou um símbolo cristão decente aqui e ali.
Minha mãe e eu éramos pobres, mas, de alguma forma, conseguimos comprar
um Buda. Consiga um lugar para colocar belas obras de arte em sua casa, que
envolverão os olhos dos seus filhos em adoração ao Deus Todo-Poderoso e
os lembrará de quem são e a quem pertencem.
Você também pode fazer isso usando molduras com símbolos ou mensagens
cristãs, ou placas com versos da Escritura. Uma amiga nossa tem versículos
bíblicos escritos por todas as bordas de sua cozinha como um lembrete
constante da presença de Deus em sua casa. Outros puseram quadros da
consagração ou do batismo de seus bebês como uma lembrança constante de
seu compromisso de criar os filhos no sustento e na admoestação do Senhor.
As possibilidades são ilimitadas. Use sua imaginação e marque seu lar.
Envolvendo a audição
Não muito tempo atrás, fizemos uma viagem familiar até Dallas a fim de
visitar a família de Bridget. As crianças estavam no banco de trás
conversando, comendo e fazendo o que crianças fazem em viagens mais
longas. Bridget e eu íamos na frente desfrutando as paisagens conhecidas (há
pouco para ver entre Houston e Dallas) e conversando esporadicamente,
como se faz em viagens de quatro horas. De repente, uma música conhecida
tocou no rádio. Foi uma daquelas antigas que não se ouve todo dia. Não
lembro que música era, mas sei que sempre tocava no rádio em nossos
primeiros anos juntos. Sem dizer nada, nós dois sorrimos, demos as mãos e
voltamos no tempo por alguns momentos.
A música é uma mídia incrível. Com algumas poucas notas, podemos ser
transportados para outro tempo e outro lugar. Existem músicas que lembram
minha infância, músicas que lembram meu namoro e músicas que me
lembram de ter virado a noite em preparação para as provas de qualificação.
Há também canções que me lembram dos marcos espirituais da minha vida.
O mesmo vale para nossos filhos.
Música é um bem muito importante para nossa família. É frequente, ligarmos
o som enquanto comemos ou jogamos. Algumas vezes, tocamos música o dia
todo, enquanto as crianças fazem a lição de casa, e Bridget e eu realizamos
nossos trabalhos. Também tocamos músicas cristãs enquanto estamos no
carro. É como se estivéssemos criando uma trilha sonora para nossas vidas.
Quero que meus filhos e filhas ouçam essas músicas cristãs daqui a vinte
anos e sorriam enquanto se lembram da casa em que cresceram e da formação
espiritual que lá aconteceu.
Envolvendo o paladar e o olfato
Não existe uma comida cristã. Sei que meus amigos batistas do sul
discordariam (chamamos o frango de “a ave evangélica”), mas frango frito
não é um prato “cristão”. No entanto, isso não significa que a comida fique
de fora quando se trata de envolver os sentidos na adoração ao Deus Todo-
Poderoso em nossos lares.
Alistair Begg é um dos meus pregadores favoritos. Não sei se é por seu forte
sotaque escocês ou pelo fato de ele tratar o texto bíblico com um nível de
cuidado, precisão, paixão, poder, e atenção aos detalhes, que poucos
conseguem igualar, mas eu amo ouvi-lo pregar. Lembro-me especialmente de
uma das suas mensagens em uma conferência de pastores, em que ele
ilustrava a importância de uma atitude reverente em relação ao culto. Ele
ilustrou o argumento contando a história das noites de sábado em sua
infância. Quase pude sentir o cheiro do jantar de domingo enquanto ele
descrevia em grandes detalhes suas vívidas lembranças de cada aspecto da
refeição, quando parte dela era preparada na noite anterior a fim de evitar
interrupções extras no Dia do Senhor.
Sendo um homem de cinquenta anos, ele ainda se lembra dos aromas de
domingo, da sua infância. Que dádiva abençoada seus pais lhe deram. Mesmo
uma coisa tão pequena quanto preparar regularmente uma refeição especial
pode impactar as lembranças da caminhada cristã de seu filho quando jovem.
Envolvendo o tato
Você já foi a uma casa que tem uma daquelas enormes Bíblias de família?
Quero dizer aquelas que você tem de abrir com as duas mãos. Elas são
fantásticas. Algumas pessoas as têm em sua família por gerações. Eu amo
folhear as páginas e ver os registros de nascimento, casamentos, batismos e
mortes. Que lembrança incrível da providência de Deus na vida de uma
família! Além disso, é uma maneira tremenda de provocar o tato. Não há
sensação como as páginas de uma Bíblia antiga.
Muitas famílias exigem que seus filhos toquem um instrumento musical.
Infelizmente, muitos de nós vemos tal exigência apenas como um modo de
“expandir os horizontes dos nossos filhos” ou de aumentar suas notas em
assuntos como matemática. Há bem mais que isso. Que melhor maneira de
envolver Deus com o sentido do tato que ensinar músicas cristãs para o
instrumento preferido das crianças? Podemos ver a educação musical de
nossos filhos como uma vantagem que damos a eles, como deixá-los mais
cultos, ou como uma ferramenta para ajudá-los a envolver-se com Deus.
Devo admitir que não compreendia isso no começo. Apenas queria que
nossos filhos fossem capazes de tocar piano. Eu queria que eles lessem
música e entendessem teoria musical de maneira que, mais tarde em suas
vidas, pudessem decidir se era um caminho que gostariam de seguir. Eu não
tinha ideia de usar o piano como ferramenta para aproximar meus filhos de
Deus. Isto é, até que comecei a aprender.
Se você está pensando em pagar aulas de música para seus filhos, eu o
encorajo a fazê-lo. E, mais importante, encorajo-o a encontrar um professor
que conheça e siga a Cristo, e que seja tão comprometido com o cântico de
Sião quanto com os aspectos técnicos do próprio instrumento. Essa pode ser
uma experiência incrível para você e seu filho, e Deus pode usá-la de formas
tremendas para fazer-se conhecido quando as crianças puserem as mãos nos
instrumentos e fizerem “sons de alegria ao Senhor” (Salmo 95:1-2, ESV).
Embora arte, música e comida envolvam os sentidos de maneiras magníficas
e significativas, há uma atividade que se sobressai a todas elas e envolve
todos os sentidos de uma vez.
O culto familiar: uma expressão multissensorial da fé
Na saída do último recital de piano dos meus filhos, um fato engraçado
aconteceu. Um dos pais olhou para mim e disse: “Pensei que todos os alunos
de D. Heidi tinham de tocar no recital”. Muitos outros pais olharam,
concordando com a cabeça, enquanto a professora de piano dos meus filhos
aproximou-se sorrindo como o Gato Risonho e me puxou pelo braço. O que
me lembro a seguir é de estar andando em direção ao piano com vários casais
atrás de mim. Eu tinha sido descoberto. Alguém tinha espalhado. Não era
mais segredo que eu estava aprendendo a tocar piano.
Depois que estraguei algumas poucas músicas, todo mundo me aplaudiu e me
deu tapinhas nas costas. Eles foram muito gentis e positivos. Uma mulher
sorriu e perguntou: “O que o fez começar a aprender piano?” A que respondi:
“Eu só queria conduzirr minha família em adoração”. O sorriso dela se abriu
mais ainda e ela quase foi às lágrimas. Minha esposa já tinha ido além —
estava saindo do santuário para pegar um lenço.
Eu sabia que Bridget estava orgulhosa de mim, mas não tinha ideia de quanto
aquilo significou para ela. Mais tarde, ela me disse que suas lágrimas eram o
mais próximo de como podia descrever o que nosso tempo diário ao redor do
piano vinha realizando em nossa família. Ela estava certa. Acho que não sou
um escritor talentoso o bastante para expressar nossa experiência com
palavras. Tudo o que posso dizer é que nossos dias não têm sido os mesmos.
Apesar de só há pouco tempo termos acrescentado o piano ao nosso culto em
família, há anos já nos reunimos para estudo da Bíblia, oração e cânticos.
Entretanto, não começou assim. Posso me lembrar de um tempo em que não
adorávamos juntos como família. Eu pensava que meus filhos conseguiriam
tudo de que precisavam na igreja. Afinal de contas, é por isso que
contratamos professores infantis, não é? Então, fui confrontado com a
realidade de que o culto familiar é parte essencial da vida em família. Arthur
Pink (1886-1952) expressou isso melhor do que eu poderia fazer:
Não é suficiente que oremos como indivíduos, isolados em nosso lugar secreto;
somos obrigados a honrar a Deus em nossas famílias também. Pelo menos duas
vezes ao dia, pela manhã e à noite, toda a família deve reunir-se para se curvar
diante do Senhor, pais e filhos, senhor e servo, para confessar seus pecados, para
dar graças pelas misericórdias de Deus, para buscar sua ajuda e bênção. Não se
deve permitir que nada interfira nessa tarefa: todas as outras obrigações domésticas
devem dobrar-se a isso. O chefe da casa é o único a conduzir as devoções, mas se
ele está ausente, ou seriamente doente, ou é um incrédulo, então a esposa deve
tomar seu lugar. Sob nenhuma circunstância, o culto familiar deve ser omitido. Se
quisermos desfrutar a bênção de Deus sobre nossa família, então permitamos que
seus membros reúnam-se diariamente em louvor e oração. “Aos que me honram,
honrarei” é sua promessa.[63]
À primeira vista, a admoestação de Pink parece um pouco extremista.
Entretanto, após um exame mais sério de passagens como Deuteronômio 6.7,
vemos que Pink não está equivocado, afinal. Moisés ordena que o povo de
Deus ensine seus mandamentos aos filhos enquanto “assentado em tua casa, e
andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te”. Em outras palavras, o
culto familiar é, em último sentido, uma ocupação para o dia todo e para
todos os dias.
Tara Lipinski é uma lenda de Houston, que ganhou uma medalha olímpica de
ouro em patinação artística. O comprometimento de Tara é lendário. Como
muitos patinadores artísticos, ela acordava antes da alvorada todas as manhãs
para treinar na pista de gelo, antes da escola. Ela também praticava por
muitas horas à noite. Tara tinha quinze anos quando ganhou sua medalha.
Milhões de famílias de jovens atletas levam seus filhos por toda a cidade para
praticar softbol, futebol, beisebol, futebol americano, tae-kwon-do, e por aí
vai. Na verdade, esse nível de comprometimento e atitude é tão comum que,
nos Estados Unidos, temos um nome para mulheres que correm por aí
certificando-se de que seus filhos se deem bem em seus treinos, recitais e
jogos. Nós as chamamos de soccer moms.[64]
Por que famílias cristãs não veem problema em um estilo de vida que exige
sangue, suor e lágrimas de nossos filhos, horas vagando pela cidade
semanalmente, além de centenas de dólares de nossas contas bancárias, a
cada ano, enquanto a ideia de um compromisso diário de vinte minutos para o
culto familiar de pronto nos atinge como se fosse pedir demais? Temo que
estejamos perdidos. O cristianismo tornou-se tão marginalizado em nossa
cultura que mesmo aqueles que declaram lealdade a Cristo têm pouco a
mostrar em termos de tempo e compromisso.
Devo admitir que chegar a um compromisso consistente de culto doméstico
diário não foi fácil para nossa família. Como qualquer outra família, temos
tantas coisas para fazer que normalmente o tempo foge de nós. Ainda assim,
logo que decidimos que nosso tempo com a Palavra era mais importante e
teria um impacto mais duradouro que qualquer outra coisa que possivelmente
fizéssemos, decidimos fazer de nossos cultos familiares o objeto irremovível
de nossa vida familiar. Se as aulas, refeições, tempo livre ou qualquer outra
coisa precisa ser remarcada, ela será. Entretanto, ao nos levantarmos (ou, pelo
menos, logo após o café da manhã) e antes de nos deitarmos à noite,
passaremos um tempo juntos ao redor da Palavra de Deus.
Isso não quer dizer que culto familiar duas vezes por dia seja uma ordem
definitiva. Não é. Algumas famílias podem adorar juntas três vezes ao dia,
outras, três vezes ao mês. Entretanto, a questão crucial é que consigamos
tempo para nos reunir diante do trono de Deus. Os benefícios são
inumeráveis.
Nada há de inspirar tanto um pai em direção à disciplina piedosa e espiritual em sua
caminhada com Cristo quanto liderar sua família em adoração. A fim de ensinar sua
esposa e filhos, ele próprio terá de estudar as Escrituras, antes. Uma mulher piedosa
será encorajada e inspirada, ao ver seu marido aceitar a responsabilidade e a
liderança do culto familiar. Essa prática traz um tom de harmonia e amor ao lar, e é
fonte de força quando, unida, a família passa por aflição. Enquanto oram uns pelos
outros seu amor mútuo é fortalecido.[65]
Tudo leva a uma pergunta simples: Por que estamos aqui? Nossa família
existe para preparar os filhos para os grandes campeonatos? Se a resposta é
sim, então o futebol (ou o tênis, a natação, etc.) será o centro do universo de
nossa família, e tudo se curvará aos caprichos e desejos do deus futebol.
Nossa família existe para produzir socialites (ou modelos, etc.)? Se a resposta
é sim, então nossa família deve orbitar em torno dos calendários sociais de
nossos ocupados adolescentes e suas agendas lotadas. No entanto, se nossa
família existe para glorificar e honrar a Deus, e lançar um fundamento bíblico
nas vidas de nossos filhos, então não devemos permitir que nada interfira em
nosso comprometimento com o culto, a oração e o estudo bíblico em família.
Citando Pink mais uma vez:
Um antigo escritor bem disse: “Uma família sem oração é como uma casa sem
telhado, aberta e exposta a todas as tempestades do céu”. Todos os nossos confortos
domésticos e bênçãos temporais fluem da amável bondade do Senhor, e o melhor
que podemos fazer em retribuição é reconhecer em gratidão, juntos, sua bondade
para conosco, como família. Desculpas pelo não cumprimento desse dever sagrado
são inúteis e sem valor. Que sentido fará, ao prestarmos contas a Deus, como
mordomos de nossas famílias, dizermos que não tivemos tempo disponível, quando
trabalhamos demais, da manhã até a noite? Quanto mais exigentes nossas
obrigações temporais, maior nossa necessidade de buscar socorro espiritual.
Nenhum cristão pode alegar que não está qualificado para tal obra: dons e talentos
são desenvolvidos pelo uso, não por negligência.
Devo admitir que essas palavras me atingiram em cheio. Por muitas vezes, eu
permitira que os cuidados deste mundo substituíssem as coisas de Deus em
minha família. Por muitas vezes, eu havia permitido que a agenda da família
ditasse a quantidade de tempo que dedicaríamos a Deus. Tudo que posso
fazer é recorrer à misericórdia de Deus e ser grato por um novo dia para
buscar sua face.
Sei que essas palavras soam estranhas para muitos de nós. Há alguns poucos
anos, pelo menos para mim, elas soariam também estranhas. Eu era formado
em seminário, um ministro ordenado, membro da equipe de uma igreja local,
pregando para centenas de pessoas pelo país, e não entendia esse princípio!
Minha família e eu corríamos tentando fazer todas as coisas que as famílias
modernas pensam que devem fazer para ter filhos saudáveis, felizes e
equilibrados (leia-se: mimados). Nós tínhamos mais treinos de futebol,
ensaios de piano, jogos, atividades na igreja, festas de aniversário, churrascos
e encontros do que você seria capaz de listar. Tínhamos sorte quando havia
culto familiar uma vez por mês, quanto mais um por dia.
O triste dessa condição é que ainda estávamos entre os melhores pais cristãos.
Pelo menos, estávamos educando nossos filhos em casa e tínhamos a Bíblia
no currículo. Pelo menos, estávamos na igreja regularmente. Pelo menos,
nossa filha não se vestia como uma prostituta, e meu filho não era um
criminoso ou um bêbado de festa. Porém, a questão é que não estávamos
construindo um fundamento duradouro nas vidas de nossos filhos. Não
estávamos ensinando a viver o cristianismo — estávamos apenas ensinando a
encená-lo. Estávamos ensinando que a igreja era uma boa programação,
porém, nada mais. Estávamos mostrando que Jesus era o dono dos nossos
domingos e quartas-feiras, mas não de nossa casa. Somente quando passamos
a realizar regularmente o culto familiar, as coisas começaram a mudar.
Não consigo dizer com exatidão quando começamos a fazer um culto
doméstico, todos os dias, mas posso dizer-lhe que essa prática nos mudou
para sempre. Lembro-me com toda clareza de, certo dia, ver meu filho
correndo e juntando Bíblias enquanto ansioso esperava por nosso culto
familiar. Eu disse a mim mesmo: Como perdemos essas coisas? Agora,
quando não nos reunimos para adorar o Senhor, sinto que algo está faltando
(e está).
Por onde começamos? (Sete passos)
O culto familiar deve nascer de convicção
Você deve estar convencido de que esse culto é um culto de que você precisa;
e você deve estar convicto de que esse culto é exigido de você como pai
responsável por criar seus filhos “na disciplina e na admoestação do Senhor”
(Efésios 6.4). Se não está convencido dessa verdade, você não vai levá-la
adiante. Se ler as palavras deste capítulo e as desprezar como fanáticas ou
exageradamente zelosas, você não implementará o culto familiar. Entretanto,
se as coisas que você leu até agora lhe parecem verdadeiras e se alinham com
o que leu nas Escrituras, então você está no caminho.
Tentei iniciar o culto doméstico anteriormente, mas nunca durou muito.
Conseguíamos nos reunir para cantar, orar, ler a Bíblia, etc. Porém, isso
nunca se tornou consistente. Íamos bem por alguns dias, então falhávamos
um dia, então outro, e mais outro. Finalmente, voltávamos à estaca zero.
Apenas quando começamos a ler sobre a importância do culto doméstico e
conviver com famílias comprometidas com devocionais regulares, é que
afinal saímos do lugar.
O culto familiar começa com o cabeça do lar
Mãe, se seu marido não leu este livro, não — eu repito, não — o utilize para
bater na cabeça dele. A última coisa que você deve querer é se apressar e
exigir que ele comece a dirigir um culto diário, em família. Antes de tudo,
isso claramente estaria violando os princípios de 1 Pedro 3.1-2:
Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido,
para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra
alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso
honesto comportamento cheio de temor.
Se você quer a bênção de Deus, deve fazer as coisas do jeito de Deus. Além
disso, forçar seu marido a liderar contradiria o primeiro princípio (deve
nascer da convicção, não de coerção ou culpa). Tente fazer seu marido ler
este capítulo e deixe que o Senhor o utilize na vida dele, enquanto você
piedosa e respeitosamente aguarda no Senhor. No entanto, se você é mãe
solteira ou de alguma outra forma a única responsável por sua casa, você é a
cabeça da casa; então, prepare-se!
Não é o mesmo que dizer: a mãe nunca pode liderar um culto doméstico. Pelo
contrário, há momentos em que ela deve fazê-lo. Na verdade, durante os oito
a dez dias por mês em que estou viajando, minha esposa lidera o culto
familiar. Entretanto, como cabeça do lar, o culto doméstico será,
habitualmente, uma responsabilidade minha. E, se estou comprometido com
o culto em família, minha esposa e meus filhos seguirão o exemplo.
O culto familiar deve ter hora marcada
Se não planejarmos o culto, vamos acabar deixando-o de lado. Em nossa
casa, os cultos familiares começam, todos os dias, logo após o café da manhã
e antes de irmos dormir. Dessa forma, se tivermos de começar o dia mais
cedo ou mais tarde, o culto familiar não é cancelado por causa de tempo. Isso
também transformará o culto em um hábito. É claro, não significa que você
queira que o culto seja uma tarefa rotineira, mas você quer que ele se torne
uma prática regular.
Isso é especialmente importante quando se começa a implementar o culto em
família. Já foi dito que trinta dias é o prazo para se criar um hábito. Tente
estabelecer horários rígidos pelos próximos trinta dias a fim de criar o hábito
de cultuar em família. É muito importante que você tome a iniciativa e
perceba o que acontece. Agendar seus horários começará uma longa jornada
em direção ao estabelecimento de um padrão.
O culto familiar deve ser simples
O culto em família não precisa ser uma superprodução. Você não tem de
fazer apresentações em PowerPoint ou estabelecer uma ordem de culto. Tudo
de que você precisa é da Palavra de Deus e de firmar um compromisso. De
manhã, cantamos algumas músicas ao redor do piano, e então lemos um livro
devocional (em geral um catecismo). Nos cultos da noite, lemos a Bíblia.
Apenas retomamos a leitura de onde paramos e lemos um número de
capítulos que nos permita completar a leitura de toda a Bíblia em um ano.
Simplifique. Don Whitney nota que “há três elementos em um culto
doméstico: ler a Bíblia, orar e cantar”.[66]
Um dos benefícios de deixar as coisas simples é que não custará muito dar
um toque diferente, de vez em quando, a fim de renovar. Uma vez ou outra
acrescento um novo elemento para tornar as coisas mais interessantes. E,
algumas vezes, retiro um elemento para simplificar ainda mais. Não gaste
muito tempo pensando nisso.
O culto familiar deve ser natural
Culto doméstico não é a hora para você fazer sua melhor imitação do João
Alexandre ou de outros cantores. Seja você. Lembre-se: Deus trouxe seus
filhos para sua casa, portanto, ele quer que seja você quem os lidere. Se Deus
quisesse que um pregador muito conhecido liderasse seus filhos no culto
familiar, eles teriam nascido na família desse pregador e não na sua. Escolha
músicas que você e sua família amam cantar. Estude materiais que se
encaixem à situação de vocês.
Isso também é importante porque as crianças podem detectar uma falta de
autenticidade. Elas sabem quando estamos fingindo. Vivem conosco todos os
dias, o dia todo; assim, quando fazemos alguma coisa diferente de quem
somos, elas estranharão. Além disso, se não tomarmos cuidado, estaremos
ensinando nossos filhos a não serem eles mesmos na presença de Deus.
Apenas seja natural.
O culto familiar deve ser obrigatório
Nenhum membro mais espertinho da família pode perder o culto doméstico.
Se aquele adolescente antissocial acha que o culto é algo que não foi
aprovado por seu medidor de coisas legais, apenas informe que não é
necessário. Reconheço que isso será difícil para algumas famílias no começo,
mas posso lhe assegurar que será um benefício para você e seus filhos se
você o fizer obrigatório para todo mundo na casa. Se seu filho adolescente
não quer participar, então você tem uma rebelião em suas mãos e isso deve
ser tratado separadamente, mas o culto doméstico não será uma opção.
Isso não significa que encaro levianamente a situação. Sei que adolescentes
podem ser difíceis. Nem estou dizendo que tudo que você precisa fazer é criar
uma regra e a rebelião dos filhos se dissolverá. Você sabe bem disso. A
verdade é que essa rebelião deve ser tratada de maneira bíblica e enfática.
Meu argumento é que a rebelião é um assunto separado. Veja, por exemplo,
uma criança que cria problemas com a álgebra. Em nenhum momento
achamos que a solução seja simplesmente evitar a álgebra. Continuamos a
ensinar a criança enquanto lidamos com a rebelião. O mesmo vale para o
culto familiar. O culto familiar não é menos importante que a álgebra; na
verdade, é mais importante. Torne-o obrigatório e mantenha-se firme.
O culto familiar deve ser participativo
Certifique-se de que o culto em sua família não seja uma performance de
algum dos membros da família que, sendo muito talentoso, poderia
simplesmente ser assistido pelos outros. Convide seus filhos para cantar,
escolher músicas, ler as Escrituras, discutir questões e orar. Você ficará
maravilhado com a disposição que seus filhos têm de participar do culto
doméstico e o quanto (e quão rápido) eles crescerão ao longo do tempo. Um
culto familiar participativo pode tocar até mesmo o coração de um jovem
resistente. Consiga que todos se envolvam e participem do processo.
Que diferença fará? (Sete bênçãos)
O culto familiar honra a Deus
Deus sempre é honrado quando seu povo bendiz seu nome. O culto familiar
nos dá oportunidade de fazer isso a cada dia em vez de apenas aos domingos ,
e tanto com os parentes quanto com a família da igreja. Também nos dá
oportunidade de envolver toda a nossa casa no processo. Bridget e eu
amamos quando temos visitas à noite. Há algo especial em ter amigos e
parentes conosco enquanto prestamos nosso culto ao Senhor. Creio que Deus
é honrado nisso.
Curioso é que nossos filhos parecem levar o culto doméstico mais a sério
quando temos visitas. Acho que os lembra de quão especial é nosso tempo
diário juntos, e quão raro, infelizmente, ele é também. Num instante, eles
percebem que temos uma oportunidade de dar a outra família a visão de um
culto familiar e de louvor a Deus em nossos lares.
O culto familiar aproximará sua família de Deus
Esse é um ponto crucial, uma vez que a promessa divina de salvação tem
conotações para toda a família (João 4.53; Atos 11.14; 16.31). É claro, o
culto não garante a salvação de todo mundo em nosso lar, mas certamente
não fará mal. Deus ordena tanto os fins quanto os meios de salvação, e
devemos fazer tudo ao nosso alcance para levar nossos filhos à fé em Deus.
Creio de todo o coração que a salvação é uma obra soberana e monergística
da graça de Deus do começo ao fim. Também creio que devo fazer tudo que
me for possível para empregar os meios bíblicos pelos quais a salvação se
efetua. Portanto, devemos nos comprometer com proclamar o Evangelho aos
nossos filhos tendo em vista sua conversão.
Nem precisaria dizer que uma família que, unida, ora, lê a Bíblia e canta
louvores a Deus estará mais próxima dele que uma família que não faz nada
disso. Citando Pink mais uma vez:
As vantagens e as bênçãos do culto em família são incalculáveis. Em primeiro
lugar, o culto familiar prevenirá muitos pecados. Ele torna a alma reverente,
comunica a majestade e a autoridade de Deus, apresenta verdades solenes à mente,
atrai benefícios de Deus sobre o lar.
Deus honrará a família que o honra. E fortalecerá os laços que unem os
corações uns aos outros e a ele.
O culto familiar aproximará sua família
Nada une mais uma família que a oração. A oração é um dos elementos
cruciais do culto familiar, e é extraordinário como algo tão simples possa ter
um efeito tão profundo na dinâmica da família. É difícil nutrir má vontade
por minha esposa quando estou orando por ela todos os dias. É difícil para os
filhos brigarem quando são regularmente convocados a fazer orações uns
pelo outros.
E mais: cantar juntos é um agente de união fora do comum. Há algo poderoso
na combinação de nossas vozes quando cantamos louvores a Deus. Minha
filha e eu descobrimos que fazemos um som de muito boa qualidade quando
juntamos nossas vozes. Na verdade, ficamos conhecidos por, de vez em
quando, fazermos um dueto para os visitantes. Algumas vezes, quando estou
estudando piano, ela vem por trás de mim, coloca as mãos nos meus ombros
e canta comigo. Eu não trocaria esses momentos por nada.
O culto familiar lançará fundamento para a fidelidade
através das gerações
Tradições familiares são poderosas. Muitos de nós hasteamos a bandeira no
Dia da Memória, fazemos churrasco no Dia do Trabalho e derrubamos nossa
própria árvore de Natal, simplesmente porque era o que nossa família fazia
quando estávamos crescendo. Nossas tradições de família não garantem que
nossos filhos e netos seguirão nossos passos, mas eles de fato se inclinam
nessa direção. Não há garantias de que nossos filhos conduzirão o culto
familiar em suas casas com suas famílias, mas sabemos de uma coisa:
crianças que crescem em lares que tinham o culto doméstico diário verão isso
como natural.
Diversas vezes conhecemos famílias de diferentes partes do país, que têm
perspectivas completamente diferentes do tempo em família. Uma família
gosta de pescar junta, outra gosta de caçar, e há ainda outra que gosta de
jogar golfe. Isso é simplesmente quem eles são. O mais comum é que essas
coisas se infiltrem nelas por meio do envolvimento regular em seu lar de
origem. O pai era um pescador que regularmente os levava para pescar. Ou o
pai era um caçador que mal podia esperar pela temporada de cervos. Em cada
casa, foi necessário um dos pais (ou dos avós) com uma paixão sincera e
compromisso regular. Você conquistará o mesmo na área do culto familiar.
Pesca, caça e golfe são ótimos passatempos, mas eu preferiria inculcar o
hábito do culto doméstico em meus filhos e nos filhos dos meus filhos.
O culto familiar revelará a fraqueza espiritual em sua casa
Creio que uma das maiores muletas na igreja é a classe de crianças. Pais que
negligenciaram a educação de seus filhos têm muito menos incentivo para
educar, quando existe um lugar para escondê-los. O pai — que deveria voltar
da igreja irritado pelo constrangimento a que seu filho o submeteu — termina
indo para casa com a consciência tranquila, enquanto o professor da classe
infantil engole um punhado de aspirinas.
Diferente da igreja, onde crianças desobedientes podem ser entregues aos
professores, o culto em família não oferece tal alívio. Se você praticar o culto
familiar diário, será obrigado a reconhecer o mau comportamento de seus
filhos e corrigi-los. Além disso, as atitudes rebeldes e desrespeitosas dos
filhos mais velhos virão à tona. Pode não ser bonito, mas é necessário.
Talvez você pense que essa é uma razão para não se ter o culto familiar, mas
nada menos verdadeiro que isso. Se não lidarmos com essas atitudes e
comportamentos, eles ficarão arraigados no caráter de nossos filhos. Pode ser
conveniente, hoje, evitar essas confrontações, mas o preço de fazer vista
grossa é bem mais alto que o preço de encarar o problema agora. São de John
Bunyan as seguintes palavras duras e encorajadoras para aqueles que se
encontram cara a cara com um filho desobediente:
Deves governá-los, e não permitas que eles te governem! Deus te colocou acima, e
deves usar a autoridade, que Deus te deu, para repreender a impiedade deles, e
mostrar-lhes o mal da rebelião contra o Senhor. Isso foi o que Eli fez, embora não o
suficiente; e da mesma forma fez Davi [1 Samuel 2.24,25; 1 Crônicas 28.9].
Ademais, deves contar-lhes quão triste era tua condição quando estavas na condição
deles e, assim, labutar para resgatá-los do laço do diabo [Marcos 5.19].[67]

O culto familiar servirá como campo de treino para as


crianças menores
Pessoalmente, o culto familiar nos força a ensinar as criancinhas a sentar-se
em silêncio por períodos demorados de tempo e a receber correção em um
ambiente de culto. Para nós, ele também dará frutos quando observarmos
mesmo nossos filhos mais novos participando, com toda a comunidade, do
culto de adoração na igreja, uma vez que essa prática já não é algo estranho
para eles. Nunca me esquecerei da primeira vez que nosso filho mais novo,
Elijah, reconheceu na igreja uma música que tínhamos cantado diversas vezes
em casa. Ele tinha quase treze meses na época. A congregação começou a
cantar e ele se iluminou como uma árvore de Natal! Começou a mexer os
braços, e sorriu tanto que pensei que iria distender um músculo da face. Foi
um momento incrível.
Nosso pequenino está longe da perfeição. Ainda temos de corrigi-lo na igreja,
e ele ainda se distrai às vezes. No entanto, Elijah é capaz de assistir a todo o
culto sem grandes incidentes. Em seu mundo, o culto na igreja é apenas uma
versão maior do que ele faz todos os dias em casa. Temos o privilégio de
pertencer a uma igreja integrada à família[68], e é fantástico o quão rápido as
crianças adaptam-se ao ambiente de adoração quando o culto torna-se parte
de suas vidas.
Recentemente, Bridget e as crianças puderam me acompanhar quando
preguei em uma igreja na área de Houston. Amo levar minha família comigo
sempre que posso, logo, foi um prazer para todos nós. Eu tinha de pregar em
três cultos naquela manhã; assim, sabia que seria um teste para o pequeno
Elijah. Quando Bridget chegou, eu já estava na igreja e em meu lugar.
Enquanto ela aproximava-se do santuário, uma jovem a viu carregando o
bebê e mostrou um caminho para ela. A mulher era polida e cortês. Ela sorriu
para Bridget e as crianças e, então, disse: “Temos um berçário para o
menorzinho”. Bridget sorriu de volta e disse: “Obrigado, mas ficaremos
bem”.
A mulher foi um pouco mais insistente e informou: “O berçário é composto
por profissionais que cuidam de crianças, e eles têm atividades específicas
para o bebê. Tenho certeza de que ele ficará bem”. Bridget ficou um pouco
agitada, e disse que Elijah ficava no culto toda semana e não seria um
problema. Sem dúvida, sentindo que falhou em sua função (que, é claro, era
não deixar que bebês ou criancinhas entrassem no santuário), a mulher
afastou-se e, com um gesto de despedida, disse: “Caso você mude de ideia, o
berçário é logo naquela sala”.
Naquele dia, eu usei uma ilustração que contava a fantástica história da
adoção de Elijah. Quando terminei, apontei para ele, sentado no colo de sua
mãe, completamente despercebido até aquele instante. Elijah assistiu a todos
os três cultos naquele dia e, no fim de cada um deles, jovens mães abordaram
minha esposa para parabenizá-la e perguntar o que ela tinha feito para
conseguir que ele ficasse tão quieto. Todas as vezes Bridget sorriu e disse:
“Ele assiste a um culto familiar completo todos os dias”. É claro, agora que
escrevi isso em um livro, provavelmente ele ficará agitado no meio da minha
próxima conferência sobre família.
O culto familiar fará o culto público mais significativo
A maioria dos cultos atuais tornou-se passivo e voltado para o
entretenimento. Sentamos em nossas cadeiras acolchoadas para assistir ao
show, esperando que a versão desta semana seja, no mínimo, igual (se não
melhor) que a apresentação a que assistimos na semana anterior. Os músicos
conhecem cada detalhe do repertório. O pessoal da mídia tem o tempo
cronometrado para a iluminação, o som e as “deixas”. A equipe de teatro sabe
depois de que música vai entrar, e o pregador — desculpe-me, o palestrante
— tem sua palestra com hora perfeitamente marcada para que o videoclipe
surja no momento exato. Tudo isso para assegurar que o culto comece às sete
e meia em ponto e termine monotonamente às nove horas (como um dos
meus professores de seminário costumava dizer).
Se há uma época em que as famílias precisam envolver-se em um culto
simples, sincero, participativo, comunitário e neotestamentário, essa época é
agora. Se você está em uma igreja que resistiu à tentação de profissionalizar o
culto, você é abençoado. Se não, meu coração se identifica com o seu. Em
qualquer circunstância, o culto familiar aprofundará sua estima pelo culto
bíblico e fará a experiência comunitária muito mais rica. Entretanto, devo
advertir — o culto familiar também tem uma tendência de abrir seus olhos
para os aspectos mundanos, superficiais e seculares dos “cultos” modernos.
Distinguindo intencionalmente nosso lar com coisas que provocarão os
sentidos de nossos filhos e envolvendo-nos com o culto doméstico regular,
poderemos transformar nossas casas em santuários de louvor ao Deus Todo-
Poderoso. Nunca mais nossas vidas serão subdivididas e compartimentadas
entre o sagrado no domingo (e nas noites de quarta-feira) e o secular
dominando todos os outros momentos. Nossas vidas serão completamente
cobertas pela presença e primazia de Deus. Este será um grande passo em
direção ao estabelecimento de uma fé voltada à família.
Entrando em ação
1. Faça um inventário das coisas que distinguem sua família. Se existem
coisas que devem ir embora, entre em ação. Se há coisas que precisam
aparecer mais, faça isso. Se você precisa acrescentar alguns elementos
estratégicos, faça-o também.
2. Planeje uma refeição semanal que marcará o domingo como o Dia do
Senhor.
3. Encha sua casa com os cânticos de Sião. Tente tocar música cristã em sua
casa pelo menos uma vez por semana.
4. Comece a ter o culto familiar semanal. Marque um dia na semana para
cantar, orar, ler a Escritura e encorajar um ao outro no Senhor. Garanta que
sua família saiba que isso ocorrerá regularmente.
8. DESFRUTE OS DONS SEM SE
ESQUECER DO DOADOR
“Muitos cristãos vivem e trabalham neste mundo, como se o Cristianismo
fosse uma prioridade pequena na vida, e este mundo e seus prazeres fossem
todos importantes; quando, de fato, as coisas deste mundo são passageiras e
o Cristianismo é do que mais necessitamos.”
John Bunyan

“Guarda-te, para que não esqueças o SENHOR, que te tirou da terra do


Egito, da casa da servidão” (Deuteronômio 6.12). Sempre achei interessante
que Moisés, quando se coloca diante do povo preparando-os para entrar na
Terra Prometida, não os adverte sobre os perigos das crenças de seus vizinhos
pagãos, mas sobre a atitude do povo em relação à provisão de Deus. Ele sabia
que a atração da prosperidade seria tão grande quanto a atração do
paganismo.
O mesmo conceito impeliu Jesus a fazer uma de suas advertências mais
famosas: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que
entrar um rico no reino de Deus” (Mateus 19.24; Marcos 10.25; Lucas
18.25). A magnitude da declaração de Jesus é ainda maior quando vista no
contexto. O jovem rico que desejava saber como “alcançar a vida eterna”
acabara de confrontar Jesus. A história inteira é um estudo de caso sobre o
poder da prosperidade. O jovem deixou o céu escapar porque “era
riquíssimo” (Lucas 18.23).
Podemos ouvir de novo esse sentimento na admoestação de Jesus: “Ninguém
pode servir a dois senhores” (Mateus 6.24; Lucas 16.13). O contexto é uma
discussão sobre servir tanto ao Senhor quanto ao dinheiro. Jesus deixa claro
que a prosperidade é, com frequência, um obstáculo ao compromisso
espiritual.
Paulo faz eco a esse conceito, quando afirma que “o amor do dinheiro é raiz
de todos os males” (1 Timóteo 6.10). Claro, é importante notar que ele não
diz que o dinheiro é a raiz de todos os males; o amor ao dinheiro é que é o
culpado. Esse é um ponto chave. Deus não é contrário a você possuir bens. É,
no entanto, contrário a que os bens o possuam . Moisés não estava chamando
Israel para abandonar a prosperidade; ele estava apenas exortando-os a não
elevar o dom acima do Doador.
Essa é uma palavra que nós, americanos, precisamos muito ouvir. Estamos
entre os mais ricos do planeta, e temos uma tendência de igualar prosperidade
financeira com aprovação de Deus. Dizemos a respeito dos ricos: “Deus
realmente abençoou os negócios dele” ou “O Senhor realmente a fez
prosperar”, sem perceber que, em alguns casos, a prosperidade tornou-se uma
maldição que gera uma barreira entre Deus e o indivíduo. Em muitos casos,
nos assemelhamos à igreja em Laodiceia, de Apocalipse 3, sobre quem Jesus
disse:
Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses
frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio,
estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes: Estou rico e
abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz,
sim, miserável, pobre, cego e nu. (Apocalipse 3.15-17)
A riqueza tem uma capacidade fora do comum de criar separação entre um
homem e seu Deus (ou entre um homem e sua família). Sei por mim mesmo
que era bem mais fácil orar quando eu era pobre, do que agora, quando minha
família e eu estamos bem. Quando nos casamos, orávamos pela comida do
dia seguinte. Agora, nossa geladeira nunca fica vazia. Costumávamos orar
pelo dinheiro do aluguel; agora, nos preocupamos quando não há economias
para pagar a hipoteca no caso de uma emergência. Costumávamos orar para
que nenhum de nós ficasse doente, pois não tínhamos plano de saúde; agora,
apenas nos empolgamos com o quanto nossos salários aumentaram.
Se não formos cuidadosos, começaremos a confiar em nossos próprios
recursos em vez de confiar em Deus. Isaías faz uma advertência dura aos que
são pegos por esse tipo de falsa confiança:
Ai dos que descem ao Egito em busca de socorro
e se estribam em cavalos;
que confiam em carros, porque são muitos,
e em cavaleiros, porque são mui fortes,
mas não atentam para o Santo de Israel,
nem buscam ao SENHOR! (Isaías 31.1)
Este é um retrato doloroso da igreja dos Estados Unidos. Vivemos no país
mais rico e poderoso da história do mundo, e esquecemos o que significa
confiar em Deus. Temos prédios de igreja que rivalizam com ginásios de
esporte profissional (alguns realmente são ginásios), orçamentos eclesiásticos
rivalizando com o produto interno bruto de alguns países pequenos, equipes
ministeriais que competem com a direção das empresas mais ricas, produções
teatrais que remetem a cenários de Hollywood, e programações que recebem
mais da nossa confiança que Deus. “Descemos ao Egito em busca de
socorro” e chegamos ao ponto em que “confiamos em carros, porque são
muitos, e em cavaleiros, porque são mui fortes”. Adotamos a mentalidade do
“quanto mais, melhor”.
A consequência disso é que muitos cristãos creem que a melhor coisa que
podem fazer por sua família é comprar mais coisas para ela. Assim,
continuamos a acumular como se a acumulação fosse a resposta. Tudo isso
enquanto nossos filhos gritam em nossa direção, sufocados sob a pilha de
brinquedos e roupas intocados, implorando por alguns minutos do nosso
tempo. Tempo que simplesmente não temos, porque estamos ocupados
demais tentando descobrir que objetos acrescentaremos à pilha, para fazer os
gritos pararem.
Famílias no altar da prosperidade
Eu costumava ser um fanático pela ESPN. Na verdade, entendo que ESPN
significa Estou Salvo, Portanto Necessito! Adoro assistir aos grandes jogos,
às últimas notícias, aos melhores destaques. Também gosto de ouvir a
história por trás da história. Amo as entrevistas pessoais com jogadores,
técnicos e dirigentes. Recentemente, assisti a uma entrevista desse tipo com
John Fox (técnico do Carolina Panthers), Dennis Green (então técnico do
Arizona Cardinals), Steve Mariucci (então técnico do Detroit Lions) e Brian
Billick (técnico do Baltimore Ravens). Os técnicos estavam ao redor da mesa
discutindo as alegrias e dificuldades de ser treinador da NFL. As conversas
foram ao ar por vários dias, e todas elas eram muito inteligentes. Entretanto,
um episódio em particular chamou minha atenção. Os técnicos discutiam a
dificuldade de equilibrar suas responsabilidades como treinador com as
exigências da vida em família.
Stuart Scott, o apresentador, iniciou o bloco contando a história de um
técnico da NFL que certa vez, ao assistir à gravação de um jogo, pediu que
seu assistente parasse o filme e voltasse uma jogada. Depois de pausar a fita,
o técnico exclamou: “Eu não sabia que John tinha crescido tanto”. Scott então
destacou: “John era o filho do técnico”. A moral da história era que o técnico,
como muitos em sua profissão, não tinha visto o filho crescer. Infelizmente,
isso não é incomum. Alguns anos atrás, o técnico Joe Gibbs retornou a
Washington para treinar os Redskins. Entretanto, muitos esquecem que a
razão de ele ter deixado o cargo, como descreveu, foi que, certa noite, entrou
no quarto do filho para cobri-lo e o garoto tinha crescido! Ele, também, de
muitas maneiras, perdeu a vida de seus filhos.
Esse fenômeno não se limita à profissão de técnico. Homens de negócio,
advogados, médicos, pastores — não é incomum que homens em nossa
sociedade sacrifiquem suas famílias no altar do sucesso. Mesmo o grande
Billy Graham admitiu em sua autobiografia que seu sucesso como
evangelista era, com frequência, obtido com seu fracasso como pai. Na
verdade, tive minha própria batalha pessoal nessa área. Tive de lutar com a
ideia de equilibrar meu tempo na estrada, fazendo “o trabalho do Senhor”, e
meu tempo em casa, como um homem de Deus. Esses técnicos apenas
servem de exemplos práticos de onde, quando e por que com frequência
fazemos e, depois, justificamos nossas escolhas ruins nessa área.
Creio que quatro questões específicas levantadas na discussão capturam a
essência do que está errado na maneira como de modo ineficaz sobrepomos
família e carreira. Primeiro, o técnico referiu-se a outras carreiras
(especificamente, a militar) em que mudanças são um estilo de vida. Em
segundo lugar, um dos técnicos disse que seu filho estava prestes a ir para a
faculdade e queria ser técnico. Terceiro, outro técnico falou da “barganha” de
que as crianças se beneficiam. Finalmente, quando perguntado a eles “Como
você equilibra vida familiar com as duras exigências da carreira de técnico?”
— os técnicos passaram o bastão para suas esposas. Na verdade, Brian
Billick declarou: “Não cuidamos disso; nossas esposas é que cuidam”.
Essas declarações me atingiram porque elas me pareceram perigosamente
familiares. Na realidade, já ouvi, de pastores, essas mesmas declarações. Já
ouvi ministros justificarem sua ausência de casa, salientando a decisão de seu
filho de seguir o ministério, ou uma barganha de que as crianças de algum
modo se beneficiam ou salientando o fato de suas esposas cobrirem a
ausência de seus maridos pastores. Em todos os casos, as desculpas soam
vazias.
Outras famílias sofrem mais que a nossa
Primeiro, vamos lidar com a declaração do técnico de que existem outras
profissões em que as famílias devem mudar-se com frequência. Isso é
verdade. Entretanto, é uma desculpa muito ruim. Inúmeras vezes já dissemos
aos nossos filhos: “Você não pode justificar um comportamento ruim,
apontando o comportamento pior do outro”. Seria como dizer: “Claro, eu
roubei o banco, mas tem um monte de caras lá fora que são assaltantes”. A
questão não é se existem muitas carreiras que custam às famílias tanto ou
mais que a nossa. A questão é se fizemos um compromisso insensato. Mudar-
se não é pecado. Entretanto, andar de cidade em cidade em busca do todo-
poderoso dinheiro, sem levar em conta o preço que sua família paga, é
indesculpável.
Tive uma infância agitada. Cresci sem pai, em um projeto residencial na área
centro-sul de Los Angeles. Minha mãe era apenas uma adolescente quando
nasci, e raramente ela podia contar com a ajuda de alguém. Entretanto, ainda
que minha infância tenha sido muito difícil, ela empalidece se comparada à
infância da minha esposa. Quando nos casamos, descobri que Bridget tinha
sofrido abusos indescritíveis quando criança. Aconteceram em sua casa fatos
que não ouso descrever neste livro. Não preciso dizer que as cicatrizes
emocionais que ela e suas irmãs carregaram para a vida adulta foram
significativas.
Quando descobri o que tinha acontecido com minha esposa, comecei a ver
minha infância de uma perspectiva inteiramente diferente. Percebi que, não
importa quão ruins as coisas tenham sido, elas poderiam ter sido piores. Mas
isso não mudou o fato de que meu pai me abandonou e a minha mãe. Nem
apagou todas as vezes que andei com remendos nos joelhos das minhas
calças porque minha mãe não tinha como comprar outra para mim. O fato de
que há alguém lá fora que sofreu mais que eu não elimina a culpa do meu pai.
Além disso, não muda o fato de que tive de superar obstáculos significativos
em minha jornada à maturidade. As cicatrizes em minha vida são tão reais
quanto eram antes de eu aprender que “outras famílias sofrem mais que a
nossa”.
Meus filhos querem ser como eu
A segunda resposta se parece com a afirmação do técnico de que uma decisão
final dos filhos de seguir nossa carreira justifica o preço que pagaram por
nossas escolhas. Pense nessa lógica quando aplicada a outra carreira: “Meu
filho quer ser um gângster como eu, logo isso não deve ser tão ruim”. Nossos
filhos nos amam e admiram, mesmo quando os negligenciamos e
maltratamos. A ausência do meu pai não mudou o fato de eu querer ser um
jogador de futebol americano como meu papai. Ainda assim, meu desejo de
seguir seus passos não neutraliza a negligência dele.
Há um problema mais profundo aqui. Essa afirmação expressa uma
mentalidade do tipo “os fins justificam os meios” sobre a vida em família.
Algumas vezes, agimos como se a única coisa que importa é que nossos
filhos terminem como membros produtivos da sociedade. Embora esse
propósito seja importante, ele revela uma visão míope. Não quero apenas que
meus filhos sejam produtivos — quero que sejam santos. Quero que meu
filho tenha uma visão clara do que significa um homem amar sua esposa
“como Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Efésios 5:25).
Quero que minha filha saiba com o que um marido e pai se parece. Ademais,
quero compartilhar com minha esposa algo que transcenda uma casa própria
e alguns descendentes.
Os benefícios prevalecem sobre os custos
Terceiro, os técnicos, como muitos de nós, salientaram o fator barganha.
Como um técnico expôs, “Eles não podem ter o papai em casa para cobri-los
ou ler histórias… [mas] existem outros benefícios como estar no banco de
reservas e nos vestiários”. Excelente! “Eu não estava por perto, mas você
pôde conhecer algumas estrelas por aí”. Chamo isso de a desculpa de “o bom
pesa mais que o ruim”. Repito: creio que esses homens — como todos nós
que, uma vez ou outra, criamos desculpas do mesmo tipo — têm boas
intenções. Eles não entraram nessa profissão para irritar suas famílias. São
apenas caras esforçados que foram longe em suas carreiras e foram
recompensados com grandes contratos, fama, notoriedade e uma agenda que
mataria uma mula.
Não há diferença entre essa resposta do técnico e aquela do executivo
ocupado que diz: “Sim, eu viajo muito, mas quantas crianças podem voar em
jatinhos particulares e ter férias em Mauí?” O problema, claro, é que Deus
projetou a família para operar sob a iniciativa do pai, e nenhuma quantidade
de dinheiro, brinquedos ou benefícios indiretos podem substituir um pai
piedoso.
A mamãe vai dar um jeito
Finalmente, um técnico defendeu que a chave do equilíbrio entre família e
carreira era sua esposa. Em outras palavras, nós tomamos conta do negócio e
deixamos nossas esposas tomando conta dos nossos filhos. Talvez essa seja a
desculpa mais comum de todas. Não consigo contar quantas vezes conversei
com pais e maridos que desculpam sua ausência, enfatizando a capacidade
sobre-humana da esposa de funcionar como mãe e pai no lar, enquanto ele
persegue o Sonho Americano.
Essa também é uma das desculpas mais comuns que ouço de ministros. Como
pregador itinerante, viajo muito. Houve um tempo em que viajava demais.
Não era incomum que ficasse fora por quinze a vinte dias ao mês, com todas
as minhas responsabilidades na igreja ou na faculdade. Na verdade, durante
meu último semestre de seminário, fiz vinte e um créditos por semana
(lembre-se: era graduação e o período integral era de nove horas), trabalhei
em tempo integral como Ministro de Missões em uma igreja de cinco mil
membros e viajei pelo país pregando em avivamentos e conferências bíblicas.
Tudo isso enquanto construíamos nossa primeira casa. Eu era um idiota! No
entanto, se alguém perguntasse sobre minha família, eu simplesmente
elogiaria o esforço hercúleo que minha esposa realizava em casa.
Por fim, chegamos a uma crise, e algo tinha de ser feito. Eu deveria descobrir
um caminho melhor. E foi isso o que fiz. Minha esposa e eu nos sentamos
com um calendário e uma calculadora, e tomamos algumas decisões difíceis
que mudaram o futuro do nosso casamento e da nossa família. Ao final,
criamos uma série de critérios que cortaram minhas viagens para de dez a
doze dias por mês (hoje baixou para de oito a dez), e meu cargo em tempo
integral na igreja tornou-se de meio período. Por último, encontrei, em uma
igreja diferente, outra posição mais adequada e montei um escritório em casa
para compensar meu tempo fora. O resultado final foi: conseguimos um
horário que me permitia pagar as contas, participar da vida familiar, e
desfrutar totalmente dos meus dons e do chamado de Deus.
Um caminho melhor
O primeiro passo em direção a um caminho melhor é decidir o que, de fato, é
importante a partir de uma perspectiva bíblica. Poderíamos ter nos sentado,
escrito o que cada um de nós queria um do outro e tentado negociar. No
entanto, há muito tempo, decidimos que, como seres humanos caídos, o que
queremos normalmente é egoísta e não atinge o melhor de Deus para nossas
vidas. Por isso, mergulhamos nas Escrituras e chegamos a algumas diretrizes.
Deus não se opõe à prosperidade
Há muitas verdades a serem descobertas em Deuteronômio 6. Porém, a ideia
de que Deus se opõe à prosperidade não é uma delas. Na verdade, baseado
nos versículos 10 e 11, é possível defender o contrário:
Havendo-te, pois, o SENHOR, teu Deus, introduzido na terra que, sob
juramento, prometeu a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó, te daria,
grandes e boas cidades, que tu não edificaste; e casas cheias de tudo o
que é bom, casas que não encheste; e poços abertos, que não abriste;
vinhais e olivais, que não plantaste; e, quando comeres e te fartares…
Aqui, vemos a intenção de Deus de cumprir sua promessa aos patriarcas,
introduzindo os filhos de Israel na próspera terra de Canaã. Ele usa frases
como “grandes e boas”. Faz referência a “vinhas”, “olivais”, “casas” e
“terra”. É óbvio que Deus estava convidando Israel para viver em
prosperidade, não em pobreza.
Como pai, não é pecado prover coisas boas para minha família. Nem é
pecado trabalhar duro para conseguir isso. Na verdade, não fazer isso tornaria
um homem “pior do que o descrente” (1 Timóteo 5.8). A questão aqui é
equilíbrio.
Prosperidade versus idolatria
A advertência sobre prosperidade nos versículos 12-15 é tão assustadora
quanto os versículos anteriores são encorajadores. Moisés declara:
… guarda-te, para que não esqueças o SENHOR, que te tirou da terra
do Egito, da casa da servidão. O SENHOR, teu Deus, temerás, a ele
servirás, e, pelo seu nome, jurarás. Não seguirás outros deuses,
nenhum dos deuses dos povos que houver à roda de ti, porque o
SENHOR, teu Deus, é Deus zeloso no meio de ti, para que a ira do
SENHOR, teu Deus, se não acenda contra ti e te destrua de sobre a
face da terra.
Nossa busca por prosperidade pode tornar-se idolatria se não formos
cuidadosos. É fácil ter os nossos olhos focados demais no prêmio.
Esse princípio colocou nossa família em uma encruzilhada. Tínhamos de
decidir o que era essencial e o que era suficiente. Se não tivéssemos chegado
a esse ponto, teríamos acabado onde começamos. Se buscássemos a
prosperidade sem medo de idolatria, terminaríamos zombando do Deus que
nos deu a capacidade de gerar riqueza (Deuteronômio 8.18; Provérbios
10.22). Por outro lado, se evitássemos a prosperidade por medo da idolatria,
corríamos o risco de ser ingratos. Israel estaria tão errado em rejeitar a dádiva
divina da Terra Prometida quanto estaria se adorasse os dons acima do
Doador. Como, então, superarmos a tensão entre prosperidade e idolatria?
Seja um bom mordomo dos seus dons
Deus concedeu dons a todos os crentes. Além disso, cada pessoa tem
habilidades, competências e aptidões únicas. Cada um de nós deve descobrir
e utilizar esses dons para a glória de Deus, o benefício da humanidade e o
sustento de nossas famílias. Imagine um mundo onde Albert Einsten tivesse
escolhido ser sapateiro, os irmãos Wright tivessem se tornado advogados,
George Washington tivesse trocado a política pela agricultura, Martin Luther
King tivesse optado por ser um banqueiro, e Michael Jordan e Tiger Woods,
pescadores. Que tragédia! É de igual modo trágico quando um de nós falha
em descobrir seus dons, talentos, habilidades e aptidões dados por Deus.
Pode parecer simples, mas há uma verdade mais profunda aqui. Se faço o que
faço porque se ajusta ao que Deus me deu, estou sendo um mordomo. Se faço
porque há dinheiro envolvido, estou no caminho da idolatria. Há uma
diferença entre um homem que escolhe e se dedica à medicina porque
ciência, serviço e humanidade correm em suas veias e um homem que a
enxerga apenas como uma carreira lucrativa. Um está buscando o melhor que
tem a oferecer ao mundo; o outro está buscando o melhor que o mundo tem a
lhe oferecer.
Prospere como Deus aprova
Há dois aspectos em prosperar segundo o que Deus aprova. O primeiro é
positivo e o segundo, negativo. No aspecto positivo, Deus deseja que
prosperemos. Devemos fazer o melhor que pudermos com o que temos. Se
você é um médico, seja o melhor médico que puder. Se você é um encanador,
seja o melhor encanador que puder. Não seja preguiçoso; não engane seu
chefe, ou a si mesmo, ou ao Senhor. O aspecto negativo dessa admoestação é
mais complicado. Assim como há prosperidade piedosa, existe a prosperidade
ímpia. Nossa prosperidade deve estar de acordo com a vontade, a natureza e a
autoridade de Deus.
Durante meu segundo ano de faculdade, vi a mão de Deus mover-se pelo
campus da pequena universidade de artes liberais que eu frequentava. A
instituição não tinha uma afiliação religiosa; na verdade, havia uma atmosfera
antagônica em relação ao cristianismo. Apesar disso, um grande número de
rapazes e moças estava chegando à fé em Cristo. Vi inúmeras vidas
radicalmente transformadas, incluindo a minha. Uma das minhas memórias
mais profundas é de uma conversa que tive com um colega do time de futebol
americano, chamado Paul (não é seu nome verdadeiro).
Paul estava no quinto ano. Era um bom jogador, mas não tinha as ferramentas
para ir adiante no futebol americano. Entretanto, ele era um aluno incrível de
uma universidade conceituada. Paul estava prestes a formar-se em Finanças e
Administração de Negócios. Era inteligente, articulado e agradável; tinha
tudo. Paul também tinha diversas ofertas de trabalho. A razão para eu me
lembrar de Paul no contexto do avivamento que experimentamos em nosso
campus deve-se ao profundo impacto que sua recém-descoberta fé em Cristo
teve em sua decisão sobre a carreira. Veja, a melhor oferta que Paul recebeu,
financeiramente, era de uma distribuidora de cerveja. O pacote de benefícios
era superior a qualquer outra oferta que ele estava analisando na época. Esse
era um emprego excelente para um jovem saindo da faculdade. Era o
caminho mais rápido para grandes chances.
Havia, no entanto, uma questão mais pertinente para Paul. Aceitar esse
trabalho honraria a Deus? Em outras palavras, aceitar esse emprego
constituiria prosperar de um modo que Deus aprova? Teria sido fácil para
Paul justificar o emprego. Ele poderia ter usado a justificativa padrão: “Bem,
eu orei para que Deus abrisse portas, e essa era uma porta aberta”. Mas ele
não o fez. Paul aceitou um emprego que pagava menos e tinha menos
benefícios, mas que lhe permitia dormir bem à noite.
Nem toda prosperidade é prosperidade piedosa. Devemos constantemente
fazer perguntas difíceis a nós mesmos. Devemos procurar conselho sábio e
santo. Resumindo, devemos fazer tudo em nosso poder para assegurar que
prosperamos como Deus aprova.
Priorize sua família
Minha família e eu acabamos de voltar para casa após uma viagem familiar.
Estávamos assentados na van do aeroporto, indo em direção ao nosso carro,
para o tão esperado retorno para casa. Enquanto estávamos lá, imersos na
umidade de Houston que nos recebia de volta, não pude deixar de ouvir a
conversa que acontecia atrás de nós. Normalmente, não fico espionando,
porém dessa vez não pude resistir. A conversa envolvia dois homens de
negócios que acabavam de retornar de suas respectivas viagens de negócios.
Um deles estava viajando com a esposa, pois, ultimamente, sua agenda tinha
exigido que ele ficasse fora por muito tempo. Os dois homens fizeram
algumas piadas e, então, começaram a discutir suas respectivas agendas. O
cavalheiro que viajou desacompanhado disse que viajava 180 dias por ano. O
cavalheiro com a esposa olhou para ela, então se voltou para o outro e
comentou: “É a minha situação”. Os dois balançaram a cabeça. Em seguida, o
homem que viajava com a esposa disse: “É por isso que ela veio comigo
desta vez; ultimamente, não tivemos muito tempo juntos”. O outro cavalheiro
respondeu: “Eu sei do que você está falando”. A esposa interrompeu: “Vocês
têm filhos?” O homem acenou confirmando. “Nós também”, ela respondeu.
Então, silenciosamente, eles trocaram olhares e acenos. O silêncio era
devastador.
Eu não sabia se minha esposa estava ouvindo até que nossos olhos se
cruzaram. Ela olhou para mim, sorriu, apertou minha mão e pôs sua cabeça
em meu ombro. Foi uma das coisas mais significativas que Bridget já falou
para mim, e ela não usou uma palavra. Com aquele olhar, ela disse: “Lembra
quando você ficava tanto tempo assim na estrada?” Com o aperto na mão, ela
disse: “Lembra quando você mudou sua agenda porque se recusava a
sacrificar sua família no altar do seu ministério?” E com a cabeça em meu
ombro, ela disse: “Nenhuma quantidade de dinheiro, sucesso, notoriedade ou
fama seria digna do que temos agora”.
Como pregador itinerante, ganho a vida na estrada. Logo, viajar não é uma
opção para mim. Existem, no entanto, coisas que posso fazer para equilibrar
minha vida. Nos últimos cinco anos, tenho viajado entre dez e doze dias por
mês. Tenho um escritório em casa. Participo plenamente da vida dos meus
filhos. Ganho menos dinheiro do que poderia. E não trocaria isso por nada. Já
servi em diversas equipes ministeriais em meus anos no ministério. Porém,
nos últimos anos, somente aceito posições que me permitam manter minha
vida familiar em equilíbrio. Recentemente, servi como pastor docente em
uma igreja na área de Houston. Pude usar meus dons e capacidades para
apoiar a vida da igreja, porém meu escritório ainda era em casa. Em alguns
poucos anos, meus filhos terão ido embora, e serei livre para viajar o quanto
quiser. Por enquanto, preciso entender que muitas pessoas poderão pregar
pelo país, nos eventos que escolhi não acrescentar à minha agenda, mas
ninguém poderia me substituir como marido de Bridget e pai de Elijah, Trey
e Jasmine. Que desastre eu gastar minha vida equipando outras famílias à
custa da minha!
Não posso lhe dizer o que fazer com sua agenda. Isso é entre você e Deus.
Posso, no entanto, dizer que qualquer atividade que o leve a sacrificar sua
família no altar da prosperidade não é de Deus. Faça as perguntas difíceis; dê
respostas honestas; faça escolhas custosas. Esse é o único caminho para andar
em obediência nessa área.
Isso me leva ao que talvez tenha se tornado a questão mais controversa que a
próspera família cristã norte-americana deve encarar: a mãe deve trabalhar
fora? Quero responder a essa pergunta de duas formas. Primeiro, devemos
procurar entender o que a Bíblia ensina sobre o assunto. A seguir, devemos
descobrir os motivos por trás de nossas práticas atuais. Somente então
podemos chegar a uma resposta apropriada a essa questão urgente.
Ser mãe e esposa é um chamado honrado
Minha esposa ensinou em uma escola por seis anos. Ela amava seus alunos e
considerava o ensino bem mais que um emprego. Entretanto, com o tempo
ela se convenceu de que precisava estar integralmente em casa com nossos
filhos e, por fim, pediu demissão. Tornou-se mãe de tempo integral; sem um
segundo emprego.
Durante a transição, a parte mais difícil com que se acostumar foi responder à
pergunta: “O que você faz?” Primeiro, Bridget dava a resposta padrão: “Não
trabalho”. Então, ela passou para “Não trabalho fora”. Finalmente, porém,
quando começou a entender o impacto que sua presença teve em nossos
filhos, sua atitude mudou. Ela não se enxergava mais como uma professora
que tinha abandonado a carreira. Agora via a si mesma como uma mãe que
tinha abraçado um chamado maior. Pergunte à minha esposa o que ela faz
hoje, e você provavelmente verá os olhos dela brilhando enquanto responde
com orgulho: “Estou criando e ensinando meus três filhos”.
Ser esposa e mãe não é uma ocupação de que se envergonhar. Acho difícil
afirmá-lo — não porque não creia nisso, mas porque é difícil imaginar como
a maternidade tornou-se tão desfavorecida em nossa cultura. Não entendo por
que uma afirmação dessas é necessária. Por que uma mulher deveria se
envergonhar do fato de estar investindo sua vida em moldar o futuro? Por que
uma mulher deveria se envergonhar do seu papel como diretora de operações
do lar? Quando foi que começamos a dizer às mulheres que elas não se
valorizam, quando se recusam a entregar a maior parte da vida de seus filhos
para os “profissionais” da creche?
Você só tem uma chance de educá-los
Nos últimos anos, tornei-me cada vez mais consciente das deficiências da
minha vida, resultantes da ausência do meu pai. Muitas lições tive de
aprender sozinho. Eu não tinha ideia de como tratar minha esposa e, depois,
meus filhos. Não tinha ideia de como uma família deveria ser. Tive de
aprender sozinho. Não pude ser reeducado. Meus pais não poderiam reunir-se
e tentar novamente. Uma vez que me tornei adulto, acabou.
Criar filhos é uma tarefa difícil, e temos uma quantidade limitada de tempo
para alcançar esse trabalho de uma vida. Enquanto escrevo este capítulo,
minha filha está terminando seu último ano de ensino médio, e restam três
anos para meu filho mais velho (os bebês não começaram ainda). Quando
essa época chegar, será quase impossível desfazer as coisas que foram mal
feitas ou fazer as coisas que faltaram. Claro, eu ainda tenho um
relacionamento com meus filhos, porém, em geral, a sorte já foi lançada. Não
sei quanto a você, mas isso me deixa de joelhos! Quero aproveitar cada
oportunidade, cada momento de aprendizado. Bridget e eu queremos
provocar o maior impacto possível enquanto pudermos. Novamente, isso não
significa que Bridget não possa trabalhar fora. Significa, entretanto, que as
escolhas que fazemos devem levar em consideração nossa espantosa
responsabilidade.
Você não pode ter tudo… e você não precisa ter tudo
O filme O Sorriso de Mona Lisa deveria ter um subtítulo: Um manifesto
feminista. O tema do filme é “Você pode ter tudo!” Você pode ser uma
advogada no tribunal, uma rainha no quarto, uma gourmet na cozinha, e uma
mãe excelente; tudo de uma vez. Isso é simplesmente falso. Ser esposa e mãe
é um emprego de tempo integral, e um emprego de tempo integral + um
emprego de tempo integral = bens sendo negligenciados; e o principal deles
quase sempre é a família.
Sei que isso não é politicamente correto. Na verdade, você nem precisa ser
uma feminista liberal incendiária para achar ofensivo o que estou sugerindo.
Por décadas, nos foi ensinado que as mulheres podem ter tudo. Além disso,
nos ensinaram que elas devem ter tudo. O que não nos contaram é o alto
preço que elas e seus filhos pagam por “tudo”. No Dia das Mães de 2004, a
seguinte história foi exibida em nosso noticiário local noturno:
No Dia das Mães, mães que trabalham fora falam sobre as pressões que enfrentam.
Uma pesquisa feita pela empresa de recrutamento online CareerBuilder.com
descobriu que um terço das mães entrevistadas estavam insatisfeitas com o
equilíbrio entre trabalho e vida familiar. 53% disseram que, no ano passado,
perderam pelo menos um evento importante na vida do filho por causa do emprego.
Quase metade delas disse estar preocupada com o trabalho quando está em casa,
enquanto muitas dizem que é frequente trabalharem nos finais de semana. Mary
Delaney, diretora de vendas do Career Builder [Construtor de Carreiras] e mãe de
três, diz que um modo de equilibrar o tempo é demarcar limites e prioridades tanto
em casa quanto no trabalho. Ela disse que algumas empresas ajudam, ao permitir
horários flexíveis, teleconferências e políticas de horário pessoal mais generosas
[ênfase minha][69]
Ironicamente, uma das declarações mais contundentes que ouvi sobre o
assunto veio de Oprah Winfrey.[70] Sempre considerei Oprah uma feminista
típica. E mais: sua espiritualidade Nova Era me dá medo. Ainda assim, devo
dar crédito quando é devido. No programa de 4 de maio de 2004, sobre pais
que empurram os filhos para o teatro e a televisão, Oprah confessou que
escolheu não ter filhos porque sabia ser possível que ela não conseguisse
equilibrar criação de filhos com uma carreira muito exigente. Embora algo
me diga que ela acabará arrependendo-se de sua escolha, ainda aplaudo sua
avaliação sincera. Oprah Winfrey entendeu o que eu gostaria que muitas
mulheres admitissem: você não pode ter tudo! E isso é bom, porque você não
precisa de tudo.
De novo: não estou dizendo que uma mulher que trabalha fora está pecando.
Cabe a cada família decidir como lidará com as Escrituras e suas próprias
circunstâncias. Conheço muitas mães que precisam trabalhar. Minha mãe,
como muitas mulheres, foi deixada sozinha para criar um filho. Ela não tinha
o luxo de ser uma mãe que não trabalha fora. Minha mãe tinha de pôr
comida na mesa.
Os maridos de outras mulheres morreram ou são inválidos. Algumas
mulheres escolheram carreiras que lhes permitem trabalhar quando os filhos
estão na escola, e outras trabalham em meio período ou como voluntárias.
Tudo isso está de acordo com a mulher de Provérbios 31:
É como o navio mercante:
de longe traz o seu pão.
É ainda noite, e já se levanta,
e dá mantimento à sua casa
e a tarefa às suas servas.
Examina uma propriedade e adquire-a;
planta uma vinha com as rendas do seu trabalho.
Cinge os lombos de força
e fortalece os braços.
Ela percebe que o seu ganho é bom;
a sua lâmpada não se apaga de noite. (vv. 14-18)
A questão final, porém, é: “Nós dois trabalhamos porque precisamos ou
porque achamos que nossa casa não é grande o bastante ou nosso carro não é
novo o bastante ou nossas contas bancárias não são gordas o bastante?” Se
for o último caso, vocês passaram dos limites. É aqui que nossos filhos são
sacrificados no altar da prosperidade. É aqui que as advertências de Moisés
ecoam pelos salões da história: “Guarda-te, para que não esqueças o
SENHOR, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão”.
Uma vida investida nunca é desperdiçada
Minha mãe formou-se na faculdade com 49 anos. Ela se formou tão tarde
porque se tornou mãe solteira com dezoito e, mais tarde, achou-se sozinha
criando um filho. Enquanto a assistia subir ao palanque, não pude conter as
lágrimas. Pela primeira vez em minha vida, entendi seu sacrifício. Minha mãe
deixou sua vida de lado a fim de investir em mim. Ela fez o que foi
necessário para se assegurar de que eu me tornaria um homem responsável e
produtivo. Em certo ponto, percebendo que a moradia na região centro-sul de
Los Angeles não era o melhor ambiente para mim, ela juntou tudo o que
tinha, e atravessamos o país até Buford, Carolina do Sul, para viver com o
irmão mais velho de mamãe, um instrutor aposentado dos fuzileiros navais.
Minha mãe ainda era uma jovem com quase trinta anos. Quando relembro
essas coisas, uma pequena cidade na Carolina do Sul não seria o lugar onde
ela gostaria de estar. Era, porém, o lugar onde o filho dela precisava estar, e
isso era tudo que importava.
Minha mãe poderia ter sido tudo o que quisesse. E era. Era minha mãe.
Quando viu que me tornei um homem, ela seguiu sua vida. Não apenas
terminou a faculdade: ela se superou, graduando-se com honras! Depois da
formatura, estudantes, professores e administradores vieram todos
parabenizá-la. Muitos deles tinham lágrimas nos olhos. Pessoas que eu nunca
conhecera vieram até mim dizer-me quanta inspiração ela tinha sido para
eles. É uma mulher brilhante e corajosa, e tenho orgulho de chamá-la minha
mãe.
Mães, não permitam que o mundo roube de vocês a incrível alegria de uma
vida investida em seus filhos. Eles são sua marca no mundo. São seu legado,
seu testemunho e sua contribuição à humanidade. Não permita que alguma
outra mulher roube sua influência. Lembre-se: “A mão que balança o berço é
a mão que governa o mundo”. Esse ditado não apareceu do nada. Esse
provérbio é o resultado de séculos de observação. A influência de uma mãe é
incomparável. Oro para que cada mãe que leia estas palavras tenha o
privilégio de, algum dia, olhar nos olhos de um homem que tenha tanta
admiração e gratidão por ela quanto guardo por Frances Baucham em minha
alma. Se isso acontecer, a maternidade jamais será novamente relegada à
posição que recebeu em nosso tempo.
Uma lição de um antigo técnico
Recentemente, telefonei para um dos meus antigos técnicos do ensino médio.
O Treinador foi uma das pessoas mais influentes em minha vida. Era um
daqueles homens que levavam a profissão de técnico a sério. Ele sempre
estava na escola antes do amanhecer e era o último a sair. Ele viajava uma
hora para o trabalho todos os dias. Era um daqueles técnicos que lideravam
pelo exemplo e faziam seus jogadores quererem vencer por ele.
Com os anos, Treinador e eu mantivemos o contato. De vez em quando, pego
o telefone e coloco a conversa em dia com ele. Recentemente, descobri que o
Treinador tinha passado por tempos difíceis. Ele finalmente se aposentou e
não sabia o que fazer. E o pior, seu casamento de mais de vinte e cinco anos
recentemente tinha acabado. Primeiro, perguntei-me o que poderia ter dado
errado. Então, percebi. Nós víamos um técnico comprometido, que chegava
cedo todas as manhãs; sua esposa via um homem que nunca estava em casa
quando ela acordava de manhã. Nós o víamos como comprometido; ela o via
sobrecarregado. Nós o víamos como um homem confiante, sempre presente;
seus filhos viam um homem que era mais pai de estranhos que deles.
Agora, ele passa suas noites sozinho, sentindo falta da mulher que passou
uma quarto de século sentindo falta dele. Ele fica em casa relembrando a casa
com a qual estava tão envolvido que isso o fazia dirigir uma hora para
trabalhar todos os dias, em vez de se mudar. Ele anseia por tempo com seus
filhos, mas o tempo é escasso porque os filhos estão ocupados fazendo o que
ele não fez — passando tempo com suas famílias. Seus dias são gastos com
seu pai idoso e, de vez em quando, ele tem a chance de ver seus netos
jogarem, algo que, tenho certeza, o Treinador gostaria de ter feito mais com
seus filhos.
De vez em quando, alguém do passado liga e pergunta: “Como vai,
Treinador?” Poucos minutos depois, as lembranças acabam, a voz do passado
se vai, e o Treinador fica sozinho com suas memórias. E tudo o que ele tem
para mostrar são alguns poucos troféus, um punhado de fotos, e alguns
brasões em uma jaqueta velha e desbotada.
Chorei ao desligar o telefone naquela noite. Senti-me como se tivesse
acabado de assistir ao clímax de um filme de M. Night Shyamalan. Todas as
cenas se encaixaram e, finalmente, enxerguei a verdade que estava lá o tempo
todo. Aquele homem, que tinha significado tudo para mim, havia sacrificado
sua família no altar de sua carreira, e eu estava cego para isso. Eu achava
normal, até admirável. De repente, todos esses anos depois, eu passei da
admiração pelo Treinador ao sentimento de compaixão dele. Vi a barganha, e
ela não valeu a pena. Os agradecimentos ocasionais de estranhos nunca
anestesiarão a dor dos anos perdidos sem a família. Desnecessário dizer que,
após desligar o telefone, passei algum tempo com meus filhos. No fim, o
Treinador ainda tinha lições a ensinar.
Entrando em ação
1. Sente-se com seus filhos e pergunte-lhes se acham que você gasta tampo
suficiente com eles. Se disserem que não, pergunte a si mesmo por que não.
2. Dê uma olhada em sua agenda. Você tem tempo reservado para sua
família? Eles aparecem lá tantas vezes quanto deveriam?
3. Faça um compromisso de planejar pelo menos uma viagem em família e
uma viagem rápida com sua esposa a cada ano. Não precisa ser viagem cara
ou chique. Você pode fazer uma viagem de carro ou levar a família para um
camping no verão. Apenas marque no calendário e não permita que nada
interfira.
4. Faça um compromisso de participar de pelo menos uma refeição por dia
em família. Parece simples, mas tirar um tempo para compartilhar uma
refeição juntos, a cada dia, é um modo muito bom de estabelecer uma união
familiar.
9. O REAVIVAMENTO
IMINENTE: A IGREJA ESTÁ
PRONTA PARA A FAMÍLIA
ORIENTADA PELA FÉ?

Família orientada pela fé é mais que apenas uma família com um pai
melhor. É uma renovação completa de estilo de vida e cosmovisão. Se
cremos que Deus nos chama para adorá-lo sem rivais, construir nossos lares
sobre a fundação do amor bíblico, adotar uma cosmovisão bíblica, ensinar a
Palavra em nossos lares, marcar nossas casas como território de Deus e
manter a prosperidade sob controle, então também devemos crer que Deus
deseja que a igreja ajude e não atrapalhe as famílias nesse processo.
Infelizmente, há vezes em que esse não é o caso. Digo infelizmente porque
podemos estar perdendo um tremendo reavivamento.
Minha definição favorita de reavivamento vem da pena de Alvin L. Reid e
Malcolm McDow (professores de evangelismo dos Seminários Batistas do
Sudoeste e do Sudeste, respectivamente) em seu livro, Firefall [Fogo do
Céu]. De acordo com Reid e McDow, “Reavivamento é a invasão de Deus na
vida de um ou de muitos de seu povo, a fim de despertá-los espiritualmente
para o ministério do reino”.[71] É baseado nessa definição que acredito que o
recente crescimento da conscientização dos pais, da preocupação quanto ao
futuro de nossas famílias, igrejas e comunidades, dos movimentos de
educação no lar e igreja integrada à família, constitui um reavivamento
moderno no panorama norte-americano. Por todo o país, homens e mulheres
têm sido “despertados espiritualmente” para o “ministério do reino” do
compromisso total com a educação e discipulado dos seus filhos e dos filhos
dos seus filhos.
Falando como alguém que experimentou esse reavivamento em primeira
mão, posso dizer sem reservas que nossa decisão de educar nossos filhos em
casa foi um reavivamento espiritual em nossa família. Um dia, abrimos
nossos olhos e nossa filha já não era um bebê. Já estava com dez anos e era
uma aluna de quarta série em uma escola particular cristã onde se começavam
a desenvolver algumas atitudes e ideias que desagradavam a sua mãe e a
mim. E, embora aguardássemos o dia em que ela chegaria à idade do grupo
de jovens, já ficávamos mortificados ao pensar sobre nossa garotinha
entrando naquele segmento da vida da igreja. Imediatamente, colocamos o
rosto em terra e buscamos sabedoria de Deus sobre como ser bons
administradores do tempo que nos restava com todos os nossos filhos. Aquela
situação tinha de ter um fim.
Estávamos bastante cientes das vantagens acadêmicas da educação em casa,
mas foram os aspectos espirituais, emocionais e interpessoais que nos
levaram à decisão. Desde então, optamos por deixar a cultura da escola e,
finalmente, a típica cultura da juventude nas igrejas. Em outras palavras, esse
reavivamento em nossa família nos levou a uma crise de fé tanto quanto
nosso recém-descoberto compromisso gerou um choque de culturas entre
nossa família e nossa igreja. Infelizmente, não estávamos sozinhos em nossa
experiência.
Algumas vezes, famílias que adotam as filosofias esboçadas neste livro (que
acredito sejam as esboçadas por Deuteronômio 6) acabam sentindo-se como
estranhos. Mulheres que quebram a “regra” tradicional dos dois filhos por
família com frequência são assediadas com questões como “Cara, vocês não
sabem como os bebês nascem?” Algumas vezes, pais que escolhem enfatizar
o crescimento espiritual dos filhos à custa de participar da devoradora busca
por esporte terminam alienados por outros pais. Crianças que não frequentam
a escola pública local normalmente são desprezadas porque não sabem as
últimas gírias ou não vestem a última moda. A busca por uma família
orientada pela fé pode ser custosa.
Uma família me lembrou o alto custo dessa busca durante uma conferência
que organizei há pouco tempo. O primeiro membro da família que conheci
foi Jean, a mãe, que pratica a escola em casa. Ela e seu marido eram muito
ativos em sua igreja local e incansáveis no trabalho em sua comunidade. Os
filhos deles, surpreendentes. Todos muito educados, altamente inteligentes,
agradáveis e, para completar, músicos talentosos. Eles eram a versão
moderna da família de A Noviça Rebelde. E, mais importante, eram seis! Não
tinha como alguém não se impressionar.
Conheci Jean e seu marido quando dirigia aquela conferência em sua igreja.
Ele e muitos de seus filhos eram voluntários. Quando vi os filhos mais velhos
(três adolescentes) trabalhando no balcão de vendas, tinha certeza de que
eram diferentes. Aproximeme e perguntei: “Vocês cursam a escola em casa?”
Eles sorriram e a filha mais velha se manifestou perguntando: “Como você
sabe?” “-Dou aulas aos meus filhos em casa e cheguei ao ponto de
reconhecer alunos de uma escola em casa a quilômetros de distância”,
respondi. Não estou dizendo que crianças educadas em casa sejam melhores
ou piores que outras crianças. Elas são apenas diferentes. Especialmente
aquelas cujas famílias fizeram sua opção educacional baseada em escolhas de
estilo de vida e cosmovisão, em vez de apenas questões acadêmicas.
Enquanto a conferência acontecia, compartilhei muito das mesmas
informações que compartilho em todas as minhas conferências. Falei sobre
cosmovisão bíblica, a validade da Bíblia, a historicidade da ressurreição, etc.
E, como sempre, compartilhei muitas histórias pessoais sobre nossa família.
Durante os dois dias de conferência, elogiei minha esposa e meus filhos e
mencionei o fato de sermos comprometidos com a instrução escolar feita em
casa como um componente de discipulado e fidelidade multigeracional. Não
fiz um apelo especial ou chamei à frente pessoas que gostariam de instruir
seus filhos em casa até o restante de sua educação formal. Apenas falei sobre
minha vida, o que inclui experiências como culto familiar, discipulado em
família, e missões e evangelismo baseados na família. Apenas compartilhei
minha história. Entretanto, para Jean, eu tinha feito bem mais que isso.
Ela veio até mim no fim da conferência, com lágrimas descendo pelo rosto.
Havia uma multidão de gente ao redor, mas Jean não parecia se importar.
“Posso abraçá-lo?” — ela perguntou de braços abertos, como se estivesse se
alongando antes de um exercício. “Claro”, eu disse, me perguntando o que
estava por trás daquele gesto. Depois de me abraçar, ela sorriu e falou:
“Estamos nesta igreja por anos, e esta foi a primeira vez que nosso estilo de
vida foi legitimado neste púlpito”. Naquele instante, seus filhos se uniram a
ela e concordaram, balançando as cabeças, enquanto também começavam a
conter as lágrimas. “Não achamos que somos melhores que ninguém nesta
igreja. Apenas amamos nossos filhos e acreditamos que são uma bênção de
Deus. Apenas acreditamos que prestaremos contas a Deus pelo bem-estar
físico, espiritual, emocional e intelectual deles”. A partir daí, os filhos já não
conseguiam mais segurar as lágrimas. Ela tomou fôlego e disse: “Significou
tudo para mim e meus filhos podermos ouvir você pôr em palavras as
verdades pelas quais vivemos”.
Eu sabia exatamente do que Jean falava. Já estive do outro lado dos
comentários maldosos. Já jantei com membros de equipe ministerial que se
referiam a famílias como aquela (e à minha, aliás) com desdém total. Já ouvi
mulheres dizerem (com a cara limpa): “Eu jamais faria isso com meus filhos;
a gente não se dá tão bem”. Ou “Não acho que eu tenha o temperamento
certo para passar tanto tempo com meus filhos”. Mais uma vez, isso não é
uma questão de educação doméstica em oposição a educação escolar. A
questão é se estamos dispostos ou não a ajustar todo o nosso estilo de vida em
torno da responsabilidade incrível que Deus nos deu de preparar nossos filhos
para serem lançados de nossos lares como flechas (ou mísseis balísticos)
mirando o reino das trevas. E, se estamos, haverá uma igreja por aí para nos
abraçar, encorajar, equipar e animar?
No caso de você pensar que essa discussão é apenas sobre escola em casa,
leia o e-mail que um cavalheiro me enviou depois que visitei sua igreja no
meio-oeste americano.
Vou começar com o básico: estou na Força Aérea (ou seja, não sou um homem
rico) e fui engenheiro aeroespacial por dezenove anos. Agora, sou tenente-coronel e
tenho uma vida decente, mas quando começamos a ter filhos, eu era capitão,
ganhando muito menos. Tomamos muito cedo (antes de as crianças nascerem) a
decisão de que a mãe (Mestre em Ensino Fundamental) deixaria de ensinar e ficaria
em casa para criar os filhos — como educadora, ela viu em primeira mão o impacto
nada bom que a creche tinha sobre crianças. No começo, não sabíamos que iríamos
ter sete, mas sabíamos onde queríamos chegar ao permitirmos que Deus fosse o
guia nessa área. E para onde quer que ele direcionasse nosso caminho, aceitaríamos
alegremente.
Então, como fazer isso? É mais fácil agora do que foi no começo, quando tínhamos
menos dinheiro; mas ainda hoje precisamos continuar sem algumas coisas. Não há
férias elaboradas, nenhum carro zero, poucos móveis novos, nada de viagem para
Disney, nada de TV de plasma, nem TV a cabo, nem internet rápida, X-Box,
sistema de home theather ou reservas em pousadas de luxo. Minha televisão, já na
terceira idade (com aquela antena antiga), quebrou-se na última semana — talvez
levemos meses para conseguir substituí-la — porém, muito do que se transmite
pelas ondas de TV são coisas que eu gostaria de perder. Eu me sinto privado? Na
verdade, não. Vivemos em uma casa muito boa, com uma vizinhança muito segura,
temos acesso a uma ótima escola cristã, um forte envolvimento com a igreja, e uma
rede maravilhosa de amigos — logo, tenho coisas muito boas, acho.
Devo admitir que inicialmente fiquei surpreso com esse e-mail. Em um
tempo em que as famílias estão ficando menores, as casas maiores, as vidas
mais ocupadas e as crianças ficam em segundo plano na busca por coisas
“mais importantes”, esse militar e sua esposa têm desafiado completamente a
corrente. Sinto-me humilhado por seu comprometimento.
Deus está, de verdade, voltando os corações dos pais para seus filhos.
Qualquer pessoa que esteve em uma igreja cristã dos EUA sabe que essas
pessoas são totalmente fora do comum. As opções de estilo de vida feitas por
eles não são do tipo sobre as quais ouvimos na Escola Bíblica. Alguma coisa
aconteceu com esse pessoal. Algo que Deus ordenou.
Procurando uma Igreja
Naquela época, eu não sabia disso, mas em 2003, minha família e eu
embarcamos em uma das jornadas espirituais mais difíceis de nossas vidas.
Começamos a procurar uma igreja! Já participei da equipe de inúmeras
igrejas, mas desde nossos primeiros anos de casados, não tínhamos precisado
procurar uma igreja para frequentar, como membros. Sempre participávamos
da igreja em que eu trabalhava. Desta vez, no entanto, tínhamos de encontrar
uma igreja onde plantar nossas vidas e servir à parte de qualquer
compromisso oficial. Desta vez, tínhamos de fazer muitas perguntas difíceis.
Levou mais que um ano de oração, procura, questionamento e luta. Às vezes,
ficávamos desencorajados, frustrados e mesmo desiludidos. Passamos por
altos e baixos (a maioria, baixos) enquanto procurávamos uma igreja na
quarta maior cidade dos Estados Unidos. E não apenas qualquer igreja —
estávamos buscando uma batista do sul, liderada por presbíteros, integrada à
família, que praticasse disciplina eclesiástica e exposição sistemática, verso a
verso (pregação expositiva através dos livros ou grandes porções da Bíblia), e
que acreditasse em plantação de igrejas. Eu já disse que demorou um pouco?
Em todo lugar a que fomos, as pessoas nos bombardeavam com panfletos
esboçando os incríveis benefícios que sua igreja tinha a oferecer. E, como
tínhamos nossa filha adolescente a tiracolo, o reclame sempre incluía: “E nós
temos uma ótima juventude”. É claro, sabíamos exatamente o que isso
significava. Nos tornaríamos aberrações de novo. Veja, assim que adotamos
uma filosofia familiar multigeracional, isso mudou completamente a maneira
como víamos a igreja. Se a Bíblia claramente dá aos pais a responsabilidade
de discipular seus filhos, que papel a igreja cumpre no processo? E se a igreja
não está cumprindo seu papel, que opções aqueles que almejam uma família
orientada pela fé têm?
A jornada que se seguiu nos levou a uma longa, irregular e solitária estrada
cheia de autoexame, reflexão teológica, isolamento e, finalmente, vindicação.
O que se segue é uma tentativa de explicar essa jornada, para advertir aqueles
que ousam viajar por essa estrada e, talvez, despertar o gigante que dorme.
Não estou procurando mudar a igreja da noite para o dia, mas creio que a
igreja deve mudar. Eu apenas oro para que o Senhor permita-me viver o
bastante para ver.
Falhas no modelo Contemporâneo

A igreja norte-americana está com problemas. Adolescentes estão


abandonando a fé em números assustadores. As taxas de natalidade vão
despencando enquanto nossa atitude em relação a filhos continua a azedar. A
esmagadora maioria daqueles que se chamam cristãos não pensa
biblicamente, e a resposta mais frequente é melhorar o ministério de jovens.
Caso você não ache que essa seja uma questão importante, considere as
seguintes estatísticas. Com uma taxa de natalidade rondando dois filhos por
família, uma taxa de cosmovisão bíblica abaixo de 10% e aproximadamente
75% de nossos adolescentes deixando a igreja ao fim de seu primeiro ano na
faculdade (usando as estatísticas mais otimistas do Capítulo 1), atualmente
são necessárias duas famílias cristãs em uma geração para conseguir um
único cristão na próxima. “Houston, nós temos um problema!”

1ª 2ª Geração 3ª Geração 4ª Geração


Geração
2 filhos/família 4.000.000 1.000.0000 250.000 62.500
com 75% de
abandono

Nessa medida, nossas estratégias evangelísticas conseguem pouco mais que


colocar água em um balde com um buraco gigante no fundo. A única maneira
de a igreja pelo menos subsistir no mesmo nível é alcançando três perdidos
para cada cristão. Há somente um problema — o melhor que conseguimos até
agora é alcançar um perdido para cada quarenta ou mais cristãos.[72]
Resumindo, se as coisas não mudarem, a igreja nos EUA continuará a
declinar vertiginosamente nas próximas poucas gerações.
O pesquisador Roger Dudley tem estudado frequência à igreja e padrões de
afiliação entre os jovens. Seu trabalho é tão pungente quanto alarmante.
Dudley captura a magnitude do problema contemporâneo:
De acordo com Wieting (1975), “Um foco recorrente na filosofia social desde A
República de Platão tem sido o perigo apresentado pela possibilidade de os jovens
não adotarem a sabedoria e os valores essenciais daquela sociedade… Se uma
sociedade deve continuar a existir além de uma geração, os membros devem
transmitir o que consideram ser os valores e o conhecimento necessários. A
continuidade de um sistema social requer, por definição, transmissão entre
gerações”. Aplicando isso à religião institucional, as igrejas e outras comunidades
religiosas devem estar vitalmente preocupadas com a preservação dos filhos das
famílias membros — em outras palavras, prevenir o abandono juvenil é um assunto
essencial para qualquer grupo religioso que deseja um futuro.[73]
Às vezes, parece que nossa única resposta tem sido mais e melhores eventos
evangelísticos e estruturas eclesiásticas, a fim de administrar a evasão de
nossos filhos. Aliás, as notícias são bem piores do que parecem. Rainer e sua
equipe descobriram que “Se nossa pesquisa se aproximasse das realidades
eternas, quase metade de todos os membros de igreja pode não ser cristã”.[74]
Como alguém que já tem exercido o ministério pastoral por mais de quinze
anos, eu diria que a verdade é provavelmente muito pior do que os números
de Rainer indicam.
Então, qual é o problema? Onde e como pisamos na bola? Fale com um
pastor de universitários sobre as taxas de queda entre calouros, e ele lhe dirá:
“Fazemos o melhor que podemos, mas na época em que os recebemos nos
ministérios de jovens, já é muito tarde”. Fale com um pastor de adolescentes
e ele lhe dirá: “Temos de fazer um trabalho melhor em nosso ministério com
juniores”. É claro, o pastor de juniores vai culpar o ministro da infância, que
passará a bola para o ministro da pré-escola. Creio que há uma questão mais
fundamental que deveríamos enfrentar. É possível que o próprio paradigma
esteja com problemas? É possível que tenhamos sistemas já estabelecidos
projetados para satisfazer as necessidades erradas e atacar os problemas
errados?
A fim de responder a essas perguntas, vamos examinar a declaração de
missão de um típico ministério de jovens.
Nosso propósito: Ver estudantes incrédulos tornarem-se seguidores
comprometidos de Jesus Cristo.
Nosso plano: Alcançar nosso propósito Evangelizando, Equipando e
Envolvendo os estudantes desta Igreja e da comunidade ao redor.
Evangelizar: Estamos comprometidos com expor os alunos de ensino
fundamental e ensino médio à mensagem de Jesus Cristo. É também
papel de todo seguidor comprometido alcançar os colegas que Deus
pôs à sua volta. Desafiamos os estudantes a levar o Evangelho com
eles a qualquer lugar a que forem (Colossenses 4.2-6).
Treinar: Queremos ensinar, amadurecer e treinar os que procuram
tornar-se seguidores comprometidos. Treiná-los para alcançar seus
pares (Efésios 4.11-13).
Envolver: Queremos prover oportunidades para que nossos estudantes
estejam ativamente envolvidos em ministrar um ao outro. Nosso
objetivo é glorificar a Deus e multiplicar seguidores comprometidos
(Efésios 2.10).
Nossa visão: Evangelizar, treinar e envolver o máximo possível de
estudantes de ensino fundamental e ensino médio para Jesus Cristo.

Essa declaração de missão é típica de ministérios de jovens. tomei-a


diretamente da página de uma igreja evangélica proeminente, cuja juventude
serve de modelo para igrejas por todo o país. Na verdade, essa declaração é
reproduzida em inúmeras páginas de ministérios de jovens (algumas vezes
palavra por palavra).
À primeira vista, essa declaração de missão parece incrível. Esse ministério
parece ter cuidado de todas as áreas. Eles têm um plano, um propósito e uma
visão. Vão de evangelizar a treinar e, então, envolver. Usam a Escritura para
apoiar sua abordagem. Têm uma visão clara e concisa e, obviamente,
pensaram cuidadosamente. Esse é um ministério encabeçado por
profissionais treinados e dedicados, que amam adolescentes e são
apaixonados por ver jovens crescerem em sua jornada com Cristo. Eu sei,
porque já os conheço. Já estive nessa igreja e conversei com os homens que
implementaram essa estratégia.
Há apenas um problema com essa declaração de missão. Ela não faz qualquer
menção aos pais! Esse ministério foi criado para fazer pelos adolescentes o
que Deus ordena que os pais façam. Pense nisto. Não é trabalho do pastor de
jovens evangelizar meu filho — é meu trabalho. Não é trabalho do pastor de
jovens treinar (discipular) meu filho — é meu. E não é trabalho do pastor de
jovens enviar meu filho para envolver-se com o mundo; você adivinhou — é
meu trabalho também. É irônico, mas os caras que lideram esse ministério
concordam completamente! Almocei com um deles e ele me disse, com
clareza, que vê o evangelismo, o discipulado e a mobilização de adolescentes
como uma responsabilidade dos pais.
Não estou dizendo que não receberia de bom grado ajuda, guia, ensino,
conselho e suporte de um mentor — alguém que já tenha criado adolescentes,
provado a si mesmo como pai e que seja bem treinado e competente para
manejar as Escrituras. Eu ficaria mais que feliz em contar com uma ajuda
assim, para preparar-me para essa tarefa e me auxiliar nela. Também me
agradaria ter outros adultos importantes na vida dos meus filhos adolescentes.
Não a ponto, porém, de entregar o discipulado de meus filhos adolescentes
aos cuidados de um pastor de jovens. Mais uma vez, esse trabalho é meu
(Efésios 6.1-4).
Não posso simplesmente ignorar o mandato bíblico, em favor da norma
cultural. Esse é um caso em especial onde nossas atitudes refletem as atitudes
descritas por Mike Yaconelli, guru do ministério com jovens:
Toda semana, igrejas locais em busca de alguém — qualquer um, para trabalhar
com seus jovens, colocam anúncios assim nos seminários próximos. Não importa se
a maioria dos estudantes de seminário não pertença a igrejas locais, estejam cheios
de trabalhos escolares, e dedicando-se e lutando por sua própria fé; essas igrejas
estão desesperadas para encontrar alguém que “fará alguma coisa” com seus jovens.
Entre na seção de oportunidades de emprego da página de internet Youth
Specialties[75] e você descobrirá o mesmo fenômeno: centenas de igrejas ansiosas
por encontrar alguém que desenvolverá seus filhos na fé cristã. O que aconteceu?
Por que estamos tão ansiosos por entregar o crescimento espiritual de nossos jovens
ao primeiro que encontrarmos, capaz de localizar, na Bíblia, o Novo Testamento e
precisando de um trabalhinho de meio período?[76]
Infelizmente, muitos pais estimulam essa atitude. Parece que muitos anseiam
por alguém que dê a seus filhos aquilo que eles, por alguma razão, são
incapazes, mal equipados ou indispostos para providenciar. Isso também é
estimulado pelo consenso crescente de que a rebelião adolescente e o conflito
de gerações são a norma. Ministros de juventude sentem-se pressionados
pelas expectativas colocadas sobre eles tanto por pais quanto por pastores.
Eles conhecem a situação.
Um dia, você visita uma igreja. Seu filho adolescente vai para o culto de
jovens, o pequeno vai para a classe infantil, o bebê para o berçário, e você e
sua esposa conseguem uma ótima cadeira em um auditório extravagante, com
música de primeira classe, teatro profissional e uma conversa relevante,
encorajadora, prática e inofensiva — e tudo isso em menos de uma hora.
Além do mais, você olha o informativo e está lá claramente: “Nosso
ministério de jovens existe para fazer o trabalho que você negligenciou todos
esses anos”. Que oferta! Não temos de manter nosso filho pequeno quieto,
nossas necessidades são satisfeitas e, para completar, o cara da juventude vai
discipular meu filho adolescente (de quem eu nem mesmo gosto). Quem se
importa se o cara da juventude só está casado há alguns poucos meses e
jamais se aventurou em discipular um filho? “Estou dentro!”
Sei que isso é um exagero, mas a verdade é que não importaria se o pastor de
jovens fosse um Ph.D. de quarenta anos, com cinco filhos a quem ele tivesse
criado com sucesso. Isso ainda não justificaria a abdicação da
responsabilidade pelos pais. Permita-me esclarecer as coisas. Embora eu creia
que a grande maioria daqueles que pastoreiam porções segregadas de
congregações tenham boas intenções e nunca se atreveriam a substituir os
pais em seu papel bíblico, creio que a prática moderna de segregar
sistematicamente as idades vai além do mandato bíblico. Acredito que isso é
produto do sistema educacional norte-americano e, em alguns casos, na
verdade até milita contra as famílias, em vez de ajudá-las a alcançar
fidelidade por várias gerações. Creio que a ênfase da igreja deve ser preparar
os pais para discipular seus filhos, em vez de fazê-lo no lugar dos pais. Vejo
pelo menos três problemas significativos na prática atual.
Primeiro, não há mandato bíblico claro para a prática atual. Preciso
escolher com muito cuidado as palavras aqui, uma vez que não desejo
insinuar que igrejas com ministérios de jovens sejam heréticas ou
antibíblicas. Reconheço por completo que muitas das coisas que fazemos
hoje na igreja não se encontram na Bíblia. Teríamos dificuldades em achar
um prédio de igreja (como conhecemos hoje), um púlpito ou um microfone
no livro de Atos. Assim, não estou argumentando que o fato de uma prática
não ser especificamente mencionada na Escritura signifique que seja em
absoluto proibida na igreja atual.
Além disso, alguns dos meus melhores amigos ao longo desse anos foram
pastores de jovens. A maioria deles fez o melhor que pôde para alinhar às
Escrituras tudo o que faziam. E eu só conheço esses homens em virtude da
minha participação em muitos de seus eventos. Assim, não estou dizendo que
eles estejam negando a Bíblia. Na verdade, pegue um livro sobre ministério
jovem em sua livraria local, e você encontrará dezenas de referências
bíblicas. No entanto, você também descobrirá que uma parte daquelas
referências está fora de contexto.
Veja, por exemplo, o popular livro de Doug Fields, Um Ministério com
Propósitos — Para Líderes de Jovens. Fields usa princípios bíblicos para
ensinar ministros de juventude sobre como ser bem-sucedido em sua área,
mas ele faz isso pegando princípios gerais (neste caso, os cinco propósitos de
Uma Vida com Propósitos, de Rick Warren) e aplicando-os ao modelo de
ministério jovem. Fields afirma:
Qualquer ministério de jovens é capaz de crescer quando é construído sobre os
propósitos de Deus para a igreja. O material deste capítulo o ajudará a identificar
os cinco propósitos de Deus para um ministério saudável. Esses propósitos são o
componente vital — a pedra angular — para a construção de um ministério de
jovens que desfruta de crescimento e saúde a longo prazo [ênfase acrescentada].[77]
Note como Fields começa com um princípio geral (os cinco propósitos de
Deus para a igreja) e simplesmente o aplica ao ministério para jovens. Essa é
uma prática comum. Deve ser. Desenvolver uma linha de ação diferente
exigiria uma instrução bíblica específica sobre o assunto, e isso simplesmente
não existe. Isso não é dizer que Doug Fields (ou qualquer outro proponente
do ministério de jovens) seja mau ou herético. Ele está apenas operando com
base em uma pressuposição cultural, prontamente aceita por todos — bem,
quase todos — e, assim, não vê problema nessa forma de aplicação.
Segundo, a abordagem atual pode, na verdade, trabalhar contra o modelo
bíblico. Mesmo os defensores mais ávidos do modelo segregado admitem
que, com frequência, ele produz efeitos danosos na dinâmica familiar.
Mesmo Mike Yaconelli, que foi um ávido defensor e expoente do modelo
segregado, lamenta:
A cortina deve se abrir. Se queremos manter os jovens envolvidos na igreja e se
desejamos renovar nossas congregações, devemos primeiro reconhecer que muitas
de nossas formas atuais de ministério jovem são destrutivas [ênfase acrescentada].
[78]

Isso mesmo; ele disse: “destrutivo”. A crítica de Yaconelli foi bem


abrangente ao condenar os três modelos de ministério de jovens considerados
por ele como os principais (o modelo de entretenimento, o modelo do líder de
juventude carismático, e o que ele chama de modelo baseado em
informação). Embora sua crítica surpreenda no geral, sua crítica ao modelo
do líder carismático foi particularmente contundente:
A abordagem do líder-jovem-salvador, extrapolada de ministérios paraeclesiásticos
como Youth Life e Mocidade Para Cristo, geralmente tem sido destrutiva para
todos os envolvidos. Solitários e separados da comunidade da igreja, os ministros de
jovens logo estarão exaustos. Sob a expectativa de serem ícones ambulantes do
Cristo ressurreto, eles não podem ser falíveis, e sua necessidade de alimento cristão
não é satisfeita. Deixados como os únicos mediadores entre as congregações de
jovens e as de adultos, os ministros de jovens logo são isolados, e se tornam
solitários e espiritualmente alienados. E, mesmo com os ministros que tenham as
melhores intenções, é raro funcionar a estratégia do “gato por lebre” — os
adolescentes com frequência aceitam o ministro da juventude como salvador
pessoal, porém, é raro conseguirem transferir sua devoção para Jesus Cristo [ênfase
acrescentada].[79]
Embora eu não concorde com a solução de Yaconelli, ainda assim a crítica
dele é importante. Como esse isolacionismo extrabíblico pode produzir frutos
bíblicos? Por exemplo, é comum tanto em ministérios com adolescentes
quanto com universitários haver uma abordagem de Tito 2. Em outras
palavras, esses grupos encorajam os adolescentes mais velhos (ou os
universitários) a serem tutores dos adolescentes mais novos.
Superficialmente, isso parece ótimo, mas ouça, à luz do modelo segregado
contemporâneo, o que Paulo diz sobre a mulher, em Tito 2:
Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu
proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam
mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a
amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas
donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de
Deus não seja difamada. (vv.3-5)
Como pode uma mulher mais velha instruir as mais jovens, se na classe de
Escola Dominical todo mundo tem no máximo nove meses de diferença? Ou
melhor, como pode esse tipo de guia e aconselhamento acontecer, se a
maioria das moças mais jovens está na sala ao lado, no prédio dos jovens? E
uma questão ainda melhor é: em nossos ministérios de juventude e/ou com
universitários, quanto de nosso tempo gastamos ensinando moças sobre
maternidade, vida doméstica, criação de filhos e submissão bíblica? Não há
menção desse tipo de ministério na declaração de missão mencionada
anteriormente.
A despeito de sua posição sobre Tito 2, não perca o foco. É difícil estabelecer
um formato bíblico para um ministério que não está descrito na Bíblia.
Assim, ministros de jovens são algumas das pessoas mais frustradas no
serviço da igreja. Sou constantemente bombardeado com e-mails e ligações
de rapazes que jogaram a toalha quando perceberam a magnitude de seu
dilema. Como um ministro de jovens na Carolina do Norte expôs: “Se eu me
tornar muito pastoral, os jovens não se divertirão e irão atrás de alguém com
mais recursos e apetrechos. Se me torno muito evangelístico, ouvirei
reclamações sobre a superficialidade do grupo e cresce a taxa de abandono
pós-ministério jovem. Não tenho como vencer essa”.
Isso explica porque os pais que levam a sério o mandamento bíblico de fazer
discípulos começam a ficar céticos quanto a entregar seus filhos para o
ministério de jovens. Como poderia uma mãe que edificou a verdade bíblica
em sua filha, e a alimentou, guardou e encorajou, em direção à aplicação
dessa verdade, enviá-la a um ambiente que, muitas vezes, por sua própria
natureza, será hostil ou pelo menos ambivalente em relação a essa verdade?
Como um pai pode criar seu filho para respeitar as garotas e proteger sua
pureza, e depois simplesmente enviá-lo a um espaço de juventude com
barrigas de fora, blusas decotadas e jeans apertados? Repito, isso não é algo
universal. Entretanto, é o predominante. E, antes de culpar o pastor de jovens,
lembre-se de que existem jovens por aí que perderam seus empregos por
estabelecer limites em questões como trajes imodestos.
Se você é pai, eu sinto sua dor! Entendo o desejo de criar filhos ajustados e
como é difícil equilibrar esse ajuste com o desejo de nutrir um senso de
pureza e santidade. Se você é ministro em algum desses contextos, eu
conheço sua história. Estive presente em algumas reuniões em que pais
disseram ao líder de jovens: “Pagamos você para diverti-los, não para ser o
esquadrão da moda”. Infelizmente, parece haver bem poucos vencedores no
cenário atual.
Terceiro, a abordagem atual não está funcionando. Lembre-se: já
observamos que, nas condições atuais, estamos perdendo a esmagadora
maioria de nossa juventude no fim do primeiro ano na faculdade (veja o
Capítulo 1), menos de 10% dos adolescentes nas igrejas têm uma cosmovisão
bíblica (veja o Capítulo 6), e quase metade de todos os membros de igreja
provavelmente não são regenerados (mais do que isso, se a cosmovisão for
um indicador). A taxa de permanência na fé não é mais alta entre os que
participam de grupos de juventude; ela é mais alta entre aqueles cujos pais
(particularmente, o pai) realmente os discipulou. Pergunte a qualquer pastor
de jovens e ele confirmará. As crianças que permanecem são aquelas em
quem os pais investem, aquelas que não contam com as duas horas por
semana na mocidade para compensar as 45 a 50 horas por semana na sala de
aula e nos esportes.
É claro, existem histórias emblemáticas de jovens que tiveram a vida
transformada em uma comunidade segregada. Sempre teremos histórias
assim. A questão é que Deus pode escrever certo com linhas tortas. Ele pode
usar nossos fracos esforços e ainda ter sua tarefa cumprida. Entretanto, o fim
não justifica os meios. Muitos meses atrás, um pastor de jovens que ouviu
falar da minha filosofia me telefonou para compartilhar uma dessas histórias.
A história da garota parecia um seriado dramático. Havia sexo, drogas, abuso,
abandono — você escolhe; essa garota tinha passado por tudo. Mas, Deus
tocou a vida dessa jovem, usando esse pastor de jovens. Agora, ela estava na
faculdade, caminhando com Deus e enfrentando os professores de filosofia,
em defesa da fé. O que eu poderia dizer sobre isso?
Perguntei-lhe de que tipo de igreja ele fazia parte. Ele me disse que era de
uma congregação evangélica conservadora. Perguntei sobre a música. Ele
disse que era tradicional. Perguntei sobre a pregação em sua igreja. Ele disse
que o pastor era um pregador bíblico à moda antiga, sem invenções.
Perguntei-lhe o que ele achava do atual movimento seeker-sensitive[80] de
Crescimento de Igrejas. Ele me deu um rol de razões por que discordava do
que chamava de “práticas antropocêntricas, manipuladores e marqueteiras” e
disse que não era um fã. Perguntei por quê. Ele disse que as metodologias
não eram bíblicas. Eu disse: “Mas eles estão alcançando muita gente”.
Nesse ponto, tudo se iluminou. Ele percebeu exatamente o que eu estava
fazendo. Foi como um xeque-mate intelectual. Ele teria de admitir que era
culpado das mesmas coisas de que acusava o movimento seeker-sensitive ou
demonstrar que seu ministério baseava-se em doutrina bíblica clara, e não em
metodologias antropocêntricas e marqueteiras. Ele também foi forçado a
admitir que histórias emblemáticas sobre pessoas que tiveram as vidas
mudadas, embora comoventes, não justificam metodologia.
Objeções a esta posição
Provavelmente, não preciso dizer que muita gente discorda de mim nessa
questão. Quando tornei conhecidos meus sentimentos sobre ministério de
jovens (e segregação sistemática em geral), fui desafiado e criticado por todo
o país. Durante os últimos anos, também já tive algumas discussões muito
interessantes quando fui convidado para palestrar em cursos de ministério
jovem nas faculdades e seminários. Entretanto, o que nunca tive foi uma
conversa com alguém que apresentasse, com a Bíblia aberta, os argumentos
para um ministério segregado de jovens/crianças. Também nunca vi um
professor, aluno, pastor de jovens ou qualquer pessoa que me mostrasse um
livro, capítulo e versículo em defesa do modelo atual. No entanto, já ouvi
inúmeras objeções. Permita-me compartilhar algumas.
Precisamos do ministério de jovens para os pais que não discipulam seus
filhos. Essa é a mais comum das objeções a minha posição. Como argumentei
por todo o livro, os dados mostram, com clareza, que os pais cristãos não
estão discipulando seus filhos. Esse é um fato que não pode ser negado. Mike
Yaconelli lamentou esse ponto:
O escritor e líder de jovens Mike Yaconelli explica sua relutância em adotar a
abordagem voltada para a família, porque não há pais disponíveis o bastante para
colocar sua fé como prioridade para seus filhos. Eles são a favor do cristianismo,
ele justifica, porquanto acham que o cristianismo transformará seus filhos numa boa
pessoa. Porém, assim que se trata de fé cristã genuína, começam a se preocupar.
Essa geração de pais é ambiciosa em relação a seus filhos, e não permitirá que nada
fique no caminho do futuro “sucesso” dos filhos.[81]
Entretanto, argumentar que a falha dos pais em realizar a tarefa a que Deus os
chamou nos dá o direito e/ou a responsabilidade de realizá-la no lugar deles é
um non sequitur ( isto é, um “não se segue”). Esse tipo de raciocínio levaria
a igreja a montar ministérios para escolher nomes de bebês, no lugar dos pais
que não fossem bons nisso. Que tal esta ideia radical: ensine as famílias a
fazer o que a Bíblia ordena e então peça contas disso.
Paulo deixa claro o papel dos líderes: “E ele mesmo concedeu uns para
apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para
pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Efésios
4.11,12, ênfase minha). O trabalho da igreja é instruir os santos, preparando-
os para realizarem suas tarefas, não fazê-las no lugar deles. (Mais sobre isso
no próximo capítulo — como as igrejas podem estruturar ministérios
familiares a fim de tratar as necessidades desses filhos).
Precisamos do ministério de juventude para aqueles que não têm pais
cristãos. Considero esse o argumento mais convincente. Milhões de
adolescentes estão sendo criados em lares não cristãos, e precisam seriamente
ouvir o Evangelho. Mais importante, eles precisam ser discipulados e
instruídos na Bíblia. Precisam ser criados “na disciplina e na admoestação do
Senhor” (Efésios 6.4).
Dito isso, não creio que nossa estrutura atual seja o modo mais eficiente ou
efetivo de cumprir essa tarefa. As crianças que não têm pais cristãos estariam
muito melhor se participassem dos cultos públicos com famílias cristãs
íntegras (talvez famílias com filhos na idade delas) que lhes pudessem dar
exemplo de adoração e família. Muito melhor do que participando de um
grupo de adolescentes, em que 90% deles, de acordo com os estudos
mencionados anteriormente, não possuem uma cosmovisão bíblica. Eu
preferiria ter o Pedrinho sentando comigo, minha esposa e meus filhos a vê-lo
no prédio dos jovens ou na setor dos jovens no santuário.
Por que não permitir que seus filhos sejam líderes no grupo de jovens e
discipulem outros garotos? Aqui, eles voltam para Tito 2. Entretanto, não é
tarefa do meu filho discipular os filhos dos outros, não mais que é trabalho do
pastor de jovens discipular os meus. Meus filhos são os “jovens” e as
“moças” da equação de Tito 2. Neste momento eles precisam é de orientação
e discipulado. Claro, eles têm relacionamentos com filhos de outros pais na
igreja, e exercem influência.
De novo, fico impressionado com o quanto o modelo atual tornou-se tão
perito em tirar a Escritura de seu contexto. Visitei uma igreja que tinha um
programa baseado em Tito 2 em seu ministério de jovens. Eles tinham
juniores e adolescentes do ensino médio designados mentores estilo Tito 2
dos adolescentes mais novos (no ensino fundamental). Quando perguntei ao
pastor de jovens se os adolescentes mais velhos estavam ensinando os
princípios esboçados em Tito 2, ele olhou para mim como se eu fosse da lua.
Quando li a passagem e refresquei-lhe a memória, ele riu. Achou ridículo eu
esperar que aqueles adolescentes ensinassem os mais jovens sobre assuntos
como tarefas domésticas, submissão e criação de filhos. Concordei com ele
de todo o meu coração. Tragicamente, ele não entendeu muito bem por que
eu achava que ele estava aplicando a Escritura de modo errado nesse caso em
particular.
E o evangelismo de jovens? É surpreendente, porém,essa é a mais fraca
objeção ao argumento contra um ministério para jovens. Alvin Reid, chefe do
Departamento de Evangelismo do Southeastern Baptist Theological Seminary
[Seminário Teológico Batista do Sudeste dos EUA] e meu orientador na tese
de doutorado, tratou desse assunto em seu livro, Raising the Bar [Elevando o
Padrão]. Reid, que é um proponente do ministério jovem, nota que “A maior
ascensão de ministérios de jovens, de tempo integral, na história, tem sido
acompanhada pelo maior declínio na eficácia da evangelização de jovens”.[82]
O argumento de Reid vai além da falta de conversões ou batismos para a
questão, mais significante, de fazer discípulos. Ele nota:
Pelas últimas três décadas, então, o ministério de jovens explodiu por todos os
Estados Unidos, acompanhado de um crescimento do número de cursos acadêmicos
de ministérios jovens mantidos por faculdades e seminários, uma abundância de
livros e outros recursos, e uma pequena rede comercial dedicada só ao ministério de
jovens. Ainda assim, essas mesmas três décadas falharam em produzir uma geração
de jovens que se tenham formado no ensino médio ou que tenham deixado suas
Uniões de Mocidade prontos para mudar o mundo para Cristo.[83]
Logo, é difícil argumentar que opor-se ao ministério de jovens representaria
opor-se à evangelização de jovens. Na verdade, alguém poderia defender o
contrário. É o movimento de ministérios jovens que tem falhado na
evangelização. Evangelizar não é fazer os jovens irem até à frente e
assinarem um cartão, somente para apostatar quando chegarem à faculdade.
Evangelizar significa fazer discípulos (Mateus 28.19-20). O modo mais
eficaz de fazer adolescentes discípulos é fazer seus pais discípulos e ensiná-
los a fazer o que Deus ordenou, o que inclui evangelizar e discipular seus
filhos.
É claro: esse modelo vai contra tudo em que muitas igrejas creem a respeito
de ministério jovem. Mark DeVries, autor de Family-Based Youth Ministry
[Ministério de Jovens com Base na Família], oferece uma avaliação sincera
dos frutos desejados de um ministério de jovens:
Muitos ministérios de jovens que tenho visto são altamente descapitalizados em
termos de finanças e de equipe e voluntários. Ademais, muitos pastores de jovens
trabalham com expectativas de trabalho pouco claras — com exceção da avaliação
do seu estacionamento, que deve ser positiva. Costumamos sentir-nos culpados em
falar de números, mas as pessoas sempre estão do lado de fora, no estacionamento
da igreja, avaliando os pastores de jovens com base em quantos adolescentes
apareceram. Um pastor sênior me disse certa vez: “Não me importo com números,
apenas me dê uma programação de qualidade”. Ele estava mentindo. Se eu tivesse
somente dois jovens por lá, com um salário de tempo integral, ele se importaria
com os números. Finalmente, aprendi que precisava ter cem jovens para que ele
sentisse que eu estava fazendo meu trabalho.[84]
Podemos negar o quanto quisermos, mas no ministério de jovens o
fundamental ainda é o fundamental. A esmagadora maioria das pessoas que
professam a fé e são batizadas o fazem antes dos dezoito anos. Assim, o
ministério de jovens é a força que enche os batistérios. Não importa se a
grande maioria dos batizados não conhece o Evangelho, nem o Cristo das
Escrituras, e tem uma cosmovisão mais próxima do Socialismo Marxista que
do Teísmo Cristão. Nossos números parecem bons no relatório anual e,
aparentemente, isso é o que mais importa.
Uma nova abordagem
Um bom número de igrejas e organizações cristãs está despertando para a
necessidade de um ministério com base na família. Pamela Smith McCall
esboçou algumas abordagens baseadas na família em um artigo de 2001 para
a Christian Century [Século Cristão]. Ela destacou o ministério de Tim
Tahtinen, um pastor de jovens de Wisconsin que diz: “As igrejas deveriam
concentrar suas energias em reunir pais e jovens em um ministério de jovens
baseado na família”. Ou o ministério do Instituto de Juventude e Família do
Augsburg College [Faculdade de Augsburg], em Minneapolis, que “endossou
a noção de que as famílias, particularmente os pais, são a fonte primária de
desenvolvimento da fé”.[85]
Tahtinen é parte de um número crescente de pastores de jovens que
enxergaram o alerta. Eles reconhecem a falha do modelo de ministério jovem
segregado e a importância dos pais na formação da fé. Assim, estão
caminhando para uma abordagem modificada, centrada na família. E essas
não são ocorrências isoladas. Esses ministérios representam a tentativa
contemporânea de abordar a dura realidade que todos aqueles que amam e
desejam o melhor para a próxima geração devem enfrentar. Todos os dados
apontam para a mesma conclusão. Se o objetivo é que os filhos cresçam para
caminhar com Deus, não se pode simplesmente ignorar a importância de seus
pais. Falhar nisso resultou em uma geração não alcançada, como se evidencia
pela existência de movimentos como a Igreja Emergente.
A Igreja Emergente e uma geração perdida
A não ser que você esteja se escondendo sob uma pedra, é provável que já
tenha ouvido falar do movimento Igreja Emergente. Entretanto, se você é
como a maioria das pessoas, tem uma ideia bem pequena do que se trata esse
movimento. Claro, você já viu os cultos moderninhos surgindo em todos os
lugares. Provavelmente, notou o ressurgimento de uma abordagem mais
mística da adoração como esforço de capturar a cultura pós-moderna.
Entretanto, talvez não esteja ciente da base filosófica e teológica
fundamentando esse esforço de recapturar uma geração.
D.A. Carson escreveu um livro muito útil e perspicaz sobre o assunto. Em
Igreja Emergente, Carson explica que esse é, em princípio, um movimento de
protesto. Esse protesto, ele explica, ocorre em três frentes:
A igreja emergente é um movimento que se caracteriza por um protesto bastante
considerável contra o evangelicalismo tradicional e, de modo mais geral, contra
tudo o que entende como modernismo. Porém, alguns de seus adeptos acrescentam
outra frente de protesto — a saber, a igreja “seeker-sensitive”, a megaigreja.[86]
A crítica que Carson faz ao movimento desenvolve-se ao longo de quatro
linhas: “a tendência do movimento emergente ao reducionismo; sua
condenação do cristianismo confessional; certa superficialidade teológica e
incoerência intelectual; e a particularização das três questões”.[87]
Uma olhada por trás do linguajar acadêmico e polido revela o que, às vezes, é
uma repreensão mordaz. Carson pinta o retrato de um movimento que está
longe de ser inofensivo. Embora no movimento Igreja Emergente haja
elementos revigorantes e mesmo encorajadores, com frequência isso é
ofuscado pelo “reducionismo” e, especialmente, pela “condenação ao
cristianismo confessional”. Quando alguém protesta contra a ortodoxia, o
resultado final pode ser antinomianismo e/ou heresia.
Tenho certeza de que, nesse momento, você deve estar se perguntando o que
o movimento Igreja Emergente tem a ver com família orientada pela fé.
Tudo! Especialmente quando entendemos que o movimento Igreja Emergente
é, em grande parte, um movimento voltado para os jovens de vinte e poucos
anos. Esse movimento nasceu da necessidade criada pelo fracasso da igreja
em reter os membros do que se considera a geração “emergente” (leia-se:
jovens adultos). A experiência de Dan Kimball é típica dessa situação. Ele foi
para o movimento emergente quando descobriu que “muitos de nossos
formandos também estavam tendo dificuldade em conectar-se com o
ministério de universitários existente na igreja e integrar-se com os principais
cultos adultos da igreja”.[88]
Em outras palavras, as reformas de Kimball nasceram das falhas da igreja
contemporânea mencionadas acima. Na verdade, ele deixa claro que crianças
que experimentaram o tipo de discipulado descrito neste livro não são seu
alvo, nem precisariam ser. “Os adolescentes de igreja que foram criados em
lares cristãos que lhes ensinavam os valores judaico-cristãos e que tiveram
uma história com os atuais valores, cultura e linguagem cristãos pareceram
mais capazes de fazer a transição”.[89] Fantástico! Quando os jovens são
discipulados e integrados na comunidade cristã, eles tendem a permanecer.
Assim, o movimento Igreja Emergente é uma tentativa de tratar as mesmas
questões levantadas neste livro. Entretanto, seus esforços são diferentes em
pelo menos um aspecto muito importante. O movimento emergente é
imediatista, enquanto a família orientada pela fé é um processo de longo
prazo. Imagine um homem morrendo em uma mesa de emergência. O homem
está sangrando internamente e corre o risco de sangrar até a morte. No
entanto, o homem também tem um tumor proeminente em um lado da
cabeça. Embora o tumor precise de atenção, será inútil tentar resolver o
problema do tumor, se a hemorragia não for estancada.
Creio que a ausência dos jovens de vinte anos na igreja é um tumor visível e
muito preocupante. É um problema? Absolutamente. Precisa ser trato? Com
toda a certeza. Entretanto, se enchermos nossas igrejas de jovens adultos, mas
ignorarmos a questão mais crucial de filhos que continuam a abandonar a fé
devido à nossa falha em os discipular adequadamente, apenas teremos
limpado nossa imagem enquanto ignoramos uma tragédia aguda e fatal.
Devemos ir além de consertos rápidos rumo a uma completa mudança de
paradigma.
Em outras palavras, esse não é um problema a ser resolvido por modismos,
programas ou personalidades. Essa é uma questão em que deve ser tratado
um lar de cada vez. A resposta para nossa crise atual é um compromisso
renovado com o evangelismo e o discipulado bíblico por meio de e em nossos
lares. Você e eu, como pais, devemos aceitar a responsabilidade pelo bem-
estar e desenvolvimento espirituais de nossos filhos. Devemos nos
comprometer a ser uma família direcionada pela fé. E, mais importante,
nossas igrejas devem facilitar esse compromisso. No próximo capítulo,
introduzirei um modelo ministerial que está fazendo precisamente isso.
Entrando em ação
1. Você já entregou o discipulado do seu filho para outra pessoa? Se a
resposta é sim, procure fazer parceria com outras pessoas que o treinarão e
encorajarão em vez de fazer o trabalho por você.
2. Você está totalmente ciente da teologia, filosofia e eclesiologia das outras
influências espirituais na vida do seu filho? Se não, atualize-se já.
3. Escreva uma declaração de missão familiar a respeito do desenvolvimento
espiritual dos seus filhos.
10. UM ROMPIMENTO RADICAL
COM A NORMA
O surgimento do ministério de jovens com base na família é um sinal
promissor. Parece que a comunidade cristã está finalmente encarando a dura
realidade das falhas do modelo atual. E, mais importante, parece haver um
consenso sobre a centralidade do relacionamento com os pais no processo de
discipulado. Entretanto, há outro movimento voando abaixo do radar, que os
interessados em uma fé direcionada à família precisam conhecer.
O propósito deste capítulo é dar-lhe esperança. Há alguma coisa no horizonte
que revolucionará a maneira como pensamos sobre igreja e família. Tenho o
privilégio de servir como presbítero em uma igreja diferente de todas as
outras que já conheci. Na verdade, é uma igreja diferente de qualquer outra
que muitas pessoas em nossa cultura já conheceram. Nossa igreja não tem
ministros de juventude, ministros de crianças ou berçário. Não dividimos as
famílias por suas partes integrantes. Não separamos as mulheres mais velhas
das jovens adolescentes que precisam de orientação. Não separamos a criança
de seus pais, durante o culto. Na verdade, não fazemos isso nem mesmo no
estudo bíblico. Vemos a igreja como uma família de famílias.
A igreja integrada à família
Durante meu último ano no Seminário do Sudeste, eu e meu orientador,
Alvin Reid começamos a discutir e debater o estado do ministério de jovens.
Reid escreveu sua dissertação sobre o Movimento Jesus[90] do final dos anos
1960 e começo da década de 1970. Esse movimento foi um reavivamento
demográfico que tocou as vidas de muitos moços e moças. Também foi,
como Reid destacou em Raising the Bar, o maior período de crescimento do
número de ministérios de jovens, de graduações em ministérios de jovens e
de organizações paraeclesiásticas voltadas à evangelização e discipulado de
adolescentes.[91]
Foram essas conversas — e a pesquisa que se seguiu — que me levaram a
questionar o status quo. Inicialmente, tudo que eu podia fazer era teorizar
sobre com o que a igreja se pareceria sem a sistemática segregação. Quer
dizer, até conhecer David Allen Black. Dr. Reid sugeriu que eu lesse o livro
de Black, The Myth of Adolescence [O Mito da Adolescência]. Quando o li,
soube que tinha encontrado um aliado e um mentor na batalha. Dr. Black era
professor no Departamento de Novo Testamento do seminário, e nós dois nos
tornamos amigos próximos.
Foi o Dr. Black quem me apresentou à expressão igreja integrada à família.
Ele me mostrou a página na internet da Hope Chapel [Capela Esperança] em
Sacramento, Califórnia. Naquela época, a Hope Chapel era uma igreja de
vinte anos, integrada à família. Seu sítio na web era um depósito de
informações. A partir dos artigos em sua página, era óbvio que eles, ao
contrário de muitos movimentos reacionários de integração da família,
examinaram exaustivamente sua teologia, eclesiologia e metodologia.[92]
Muito do que incluímos no sítio de nossa igreja (gracefamilybaptist.net) foi
inspirado no trabalho da Hope Chapel.
Pela primeira vez em minha busca, a igreja integrada à família era mais que
teoria. Eu tinha finalmente encontrado um exemplo vivo e verdadeiro de uma
igreja operando sob esse paradigma. No fim, descobri o Vision Forum
Ministries [Ministério Fórum Visão] e o National Center For Family-
Integrated Churches [Centro Nacional de Igrejas Integradas à Família]. Na
realidade, existem, pelo país, centenas de igrejas integradas à família. Elas
vêm em todos os modelos e tamanhos (embora a grande maioria seja de
congregações brancas e nos subúrbios). Têm também diferentes formas
teológicas e denominacionais. No entanto, todas essas igrejas compartilham
certas características básicas.
Características da Igreja Integrada à Família
As famílias cultuam juntas
Entre em uma igreja integrada à família, e a primeira coisa que você notará é
a presença de bebês. Não percebemos, mas já nos habituamos à ausência
deles. Estamos acostumados com o culto público em que o assunto é
sobretudo adulto. Na verdade, não muito tempo atrás, preguei em uma igreja
onde havia uma placa: “Por favor, silencie todos os celulares, pagers e
crianças abaixo de quatro anos”. Em outras palavras, “Sem bebês, por favor!”
Assim que você superar a grande quantidade de bebês, é provável que sua
atenção se volte para o fato de não haver, no santuário, uma área reservada a
adolescentes. E mais: você notará que os adolescentes, na verdade, estão
sentados com suas famílias, e famílias bem grandes. Logo depois, você
perceberá que já não está em um território que lhe seja familiar. Essa não é
uma reunião comum de igreja.
Sem segregação sistemática
Outro distintivo da igreja integrada à família é sua insistência na integração
de todas as idades em virtualmente todas as suas atividades. Isso a coloca em
claro contraste com outros ministérios “com base na família”. Por exemplo,
Mark DeVries, campeão do movimento ministério de jovens com base na
família, admite que sua abordagem não é de integração, mas de participação
ocasional dos pais no ministério dirigido a seus filhos. Na página do Family
Based Youth Ministry [Ministério de Jovens com Base na Família], ele
explica:
Muitas pessoas confundem iniciar um ministério de jovens baseado na família com
uma mudança radical na programação. Mas na verdade quem implementa esses
princípios sem mudar radicalmente seu programa descobre que encontrará muito
menos resistência. Portanto, recomenda-se que as igrejas em busca de um
ministério jovem com base na família comecem experimentando apenas um
programa baseado na família por vez, até que algo floresça. Por exemplo, você
pode tentar uma classe de Escola Dominical de pais e jovens por algumas semanas,
ou poderia organizar um evento de treinamento de pais [ênfase acrescentada].[93]
Note a ênfase de DeVries em implantar princípios baseados na família sem
qualquer mudança na programação. Em outras palavras, seu sistema é um
ministério de jovens sistematicamente segregado que apenas reconhece a
importância dos pais.
Em outro momento, DeVries esclarece essa questão, quando admite que seu
ministério se parece com qualquer outro ministério de jovens:
Se você observar nossa programação regular, provavelmente dirá: “Ei, isso parece
apenas uma variação do ministério jovem comum. O que há de tão ‘baseado na
família’ aqui?” A verdade é que esse modelo não diz respeito a como será a
programação. Trata-se de como você usa a programação. E tentamos guiar o
máximo possível de nossa programação na direção de oferecer a crianças e adultos
oportunidades para interagirem uns com os outros.[94]
Assim, há uma diferença considerável entre o ministério de jovens com base
na família e a igreja integrada à família. Aplaudo DeVries por seus esforços.
Ele está absolutamente certo em sua avaliação do modelo contemporâneo, e
desejo-lhe o melhor em sua busca por uma abordagem mais baseada na
família. Precisamos de mais ministros que trabalhem pela integração dos
jovens e seus pais. Entretanto, isso não é integração da família.
Faço essa observação não para tirar o crédito de DeVries, mas para destacar
um mal-entendido comum. Já tive inúmeras conversas com pessoas que
ouviram falar do movimento integrado à família, mas que não têm ideia do
que seja. Infelizmente, a ideia de segregação está tão arraigada nas mentes
dos cristãos de nossa cultura que eles não conseguem conceber uma igreja
sem a EBD dividida por faixas etárias, o culto infantil e o culto jovem nas
noites de sábado (e, agora, nas manhãs de domingo em alguns lugares).
Assim, ouvem sobre o movimento com base na família e sua ênfase em
incluir os pais, e pensam que o modelo integrado à família é apenas isso.
O movimento igreja integrada à família é facilmente distinguível por sua
insistência na integração como um princípio eclesiológico. Há pouco tempo,
tive de esclarecer esse ponto com o pastor de uma megaigreja do sul dos
EUA. Ele tinha discutido sobre igrejas integradas à família com um possível
membro. Quando o homem com quem ele falava usou o termo igreja
integrada à família, o pastor não tinha um ponto de referência para avaliar os
comentários do homem. Este pastor, cuja igreja é o que eu chamaria de
bastante favorável ou baseada na família, disse ao homem que eles eram uma
igreja integrada. Ele não entendeu por que o homem discordou.
Mais tarde, quando preguei nessa igreja, o pastor notou que usei o termo
integrada à família para descrever nossa igreja. “Explique o termo para mim,
por favor”, ele me pediu com certo olhar perplexo. Falei sobre as
características de uma igreja integrada à família, e ele logo entendeu a lacuna
naquela conversa que tivera com o possível membro. Sua igreja tinha um
culto para crianças, um ministério com adolescentes, um ministério com
estudantes de ensino médio, um culto jovem semanal, classes de EBD
segregadas, viagens missionárias segregadas, acampamentos de jovens e
dezenas de outros ministérios segregados. Entretanto, devido a sua ênfase em
aumentar o envolvimento dos pais, a igreja tinha dado um passo monumental
além de qualquer outra megaigreja de que eu tenha conhecimento. Assim, o
pastor achava que eles eram tão integrados à família quanto podiam.
Mais uma vez, esse não é um ataque àquele pastor. Apenas ilustra a
necessidade de delinear a diferença entre o movimento em busca de
abordagens favoráveis ou baseadas em família para o modelo contemporâneo
e o paradigma igreja integrada à família. Isso é uma reforma, uma mudança
de paradigma. É um rompimento completo com as normas atuais do modo
como fazemos a igreja. Não existe segregação etária sistemática na igreja
integrada à família!
Evangelismo e discipulado em e por meio dos lares
A família é o braço de evangelismo e discipulado da igreja integrada à
família. Esse é o aspecto do paradigma integrado à família que os críticos
acham mais perturbador. Quando falo com pastores, professores, ministros de
jovens e pais, por todo o país, esse é o ponto em que eles olham para mim
com incredulidade. “Você realmente confia nos pais para evangelizar e
discipular os filhos?” — um ministro de jovens me perguntou. “Sim”,
respondi com confiança. “Por que eu não deveria confiar quando a Bíblia
claramente confia?” Nesse ponto, ele balançou a cabeça e admitiu: “Sei que é
isso que a Bíblia ensina, mas também conheço os pais, e não tenho
encontrado muitos deles capazes de fazer o que você propõe”.
O único fato mais triste que esse comentário é o fato de que já o ouvi nada
menos que dezenas de vezes, de muitas maneiras diferentes, de diversos
homens do mundo acadêmico, pastoral e paraeclesiástico. Parece consenso
geral ser inadmissível esperar que as famílias funcionem do modo exato
como a Bíblia claramente diz que elas deveriam funcionar. Talvez, seja por
termos passado os últimos trinta anos dizendo aos pais: “Somos profissionais
treinados. Por favor, você não tente isso em casa”. Agora, três décadas
depois, ficamos chocados com o fato de as famílias (muitas das quais foram
criadas no ambiente de igreja segregada e foram discipuladas fora de seus
lares) serem ineptas quando se trata de evangelizar e discipular seus próprios
filhos. Adoro contar a esses céticos o que tenho visto nas vidas de nossos
homens.
Em todo lugar a que vou, as igrejas estão tentando desvendar o mistério do
ministério com homens. Algumas igrejas tentam eventos grandes, em que
trazem palestrantes e músicos famosos. Outras optam por estudos bíblicos
semanais voltados para questões práticas da vida real. Algumas igrejas
promovem caças e grandes jantares. Outras ainda optam por
encontros/pequenos grupos semanais para prestação de contas. Todas essas
ênfases são projetadas para responder a uma pergunta: Como fazer nossos
homens se envolverem? Ironicamente, todas essas abordagens deixam de fora
o principal mandato bíblico que Deus deu aos homens — a ordem de amar
suas esposas como Cristo amou a igreja e de criar seus filhos na disciplina e
na admoestação do Senhor (veja Efésios 5.25-6.4). Falhamos em dar
responsabilidades aos homens e em treinar, esperar e encorajá-los a
permanecer no comando de suas famílias e a traçar o rumo. Não é uma
surpresa que os homens de hoje sintam terem menos importância e desafio
em suas vidas!
Dave Black salienta a ironia dessa situação em seu livro The Myth of
Adolescence. Ele nota: “Não surpreende que os homens se entreguem ao
trabalho, procurando por algo que desafie seu anseio masculino por
importância e propósito!”[95] Como Nancy Pearcey nota, a passividade e
ausência dos homens (em um sentido religioso) é exclusiva do cristianismo
ocidental: “Na ortodoxia oriental, a sociedade é mais ou menos equilibrada,
sendo que no judaísmo e no islamismo os homens predominam. O padrão não
pode ser explicado dizendo que os homens são naturalmente menos religiosos
que as mulheres”.[96]
Estou convencido de que considerar os homens responsáveis pelo
evangelismo e discipulado de suas famílias faz mais para motivá-los e
envolvê-los que qualquer estudo bíblico semanal conseguiria. Mandar um
homem aparecer em um encontro semanal não é um desafio digno de se
enfrentar. Pedir que ele cozinhe alguns ovos no café da manhã mensal dos
homens não lhe dará o senso de realização que ele procura. Mas, libere-o para
evangelizar e discipular, e ele terá uma montanha para escalar. Tom Eldredge
expressou-o bem: “A igreja pode ministrar melhor aos filhos treinando o pai,
e apoiando sua ajudadora, a esposa. Uma inundação de amor no lar alcançará
a comunidade”.[97] Isso é verdade. Na realidade, vi isso em primeira mão.
Tim era novo em nossa igreja. Ele estava conosco há uns poucos meses,
quando chegou para seu primeiro encontro do Concílio do Pai. Os homens se
encontram uma vez por mês para comunhão, oração, moldar a visão, tratar de
assuntos da igreja, etc. Algumas vezes, temos períodos de testemunhos.
Naquela noite de quarta-feira em particular, Tim não conseguia controlar-se.
Ele simplesmente tinha de compartilhar o que estava em seu coração. Tomou
fôlego, levantou a mão e, com um suspiro profundo, começou a falar.
“Não sou muito de falar em público, mas se não colocar isso para fora, acho
que vou explodir”, ele disse, enquanto nervosamente esfregava as mãos nos
lados da calça. Prosseguiu, contando-nos como tinha sido superintendente da
Escola Bíblica em sua antiga igreja (uma megaigreja proeminente na área de
Houston) e era considerado um dos líderes daquela comunidade. Entretanto,
ao chegar à nossa igreja, ele começou a perceber que seu padrão não era
muito alto. Seus olhos encheram-se de lágrimas, enquanto confessava que
nunca tinha liderado sua família em culto, estudo bíblico, catecismo ou
qualquer outra área antes de entrar para nossa igreja.
Na verdade, ele nunca percebera que essas eram tarefas que cabiam a ele. Sua
família participava da vida da igreja toda semana (Escola Bíblica, culto
matutino, culto noturno, noites de quarta); eles até davam instrução escolar a
suas filhas em casa. No entanto, ninguém lhe tinha dito que discipular sua
família era uma responsabilidade sua. Um dia, depois de frequentar nossa
igreja por algumas semanas, suas filhas lhe perguntaram: “Papai, por que
somos a única família em nossa igreja que não tem culto familiar ou
catecismo?” Ele admitiu que sua reação instintiva foi protestar: “Tenho
certeza de que vocês não são as ‘únicas’”. Porém, pensou melhor.
Simplesmente disse: “Não sei, garotas, mas isso vai mudar”.
Na semana seguinte, Tim procurou um dos presbíteros durante a refeição de
comunhão e perguntou: “Como devo começar o culto familiar e o
catecismo?” Sendo essa uma pergunta frequente em nossa igreja, a resposta
veio rápido. Armado com uma determinação renovada e instrução completa,
Tim começou a liderar sua família em culto e catecismo já no dia seguinte.
Quando recontou a história aos homens, não conseguia mais segurar as
lágrimas. “Amigos, tenho um negócio de sucesso, um ótimo casamento e
quatro filhas lindas. Também já estive no que muitos leigos considerariam o
ponto mais alto do serviço cristão. Entretanto, eu não trocaria o jeito como
agora, por nada, minha esposa e minhas filhas olham para mim”. Tim
prosseguiu, dizendo que, pela primeira vez em sua vida, ele se sentia o herói
do lar.
O restante dos homens olhou um para o outro com grandes sorrisos no rosto.
Então, um dos diáconos quebrou o silêncio: “Irmão, há poucos homens nesta
sala que não estavam exatamente na mesma situação que você quando
começamos aqui”, ele disse, enquanto recontava sua própria história. Temos
ouvido esse tipo de testemunho diversas vezes no Encontro de Homens, e
nunca é cansativo. Alguma coisa maravilhosa acontece, quando você vê uma
família transformar-se diante de seus olhos, porque o Papai foi desafiado a
fazer aquilo para o que Deus o criou, chamou, e para que o preparou. Essas
bênçãos também trazem frutos por meio dos homens que evangelizam suas
esposas, filhos e até vizinhos. É comum sabermos de histórias de amigos,
parentes e vizinhos que com alegria ouviram o Evangelho desses homens
cujas vidas claramente foram transformadas. Nada forçado, nada obrigado —
apenas homens que têm uma paixão renovada e mal podem esperar para falar
sobre isso.
Ênfase na educação como componente chave do
discipulado
Talvez um dos aspectos mais proeminentes do movimento igreja integrada à
família é o quanto ela atrai um número desproporcional de famílias adeptas
do sistema de ensino escolar em casa. Na verdade, quando me encontro com
pessoas que ouviram falar do modelo de igreja integrada à família, uma das
primeiras perguntas que fazem é: “A maioria de vocês não dá instrução
escolar em casa?” Isso se deve ao fato de que o paradigma de igreja integrada
à família é baseado em muitos dos mesmos princípios que dirigem o
movimento de educação em casa. Famílias que decidiram assumir a
responsabilidade pela instrução escolar de seus filhos acham revigorante que
uma igreja espere que eles façam o mesmo na área de discipulado.
Mais de 85% dos cristãos dos EUA matriculam seus filhos em escolas
públicas.[98] Esse número é surpreendente. Entretanto, por muito tempo, tem
sido normal falharmos em ver a importância disso. Imagine se 85% dos
cristãos votassem. Ou melhor, imagine se 85% dos cristãos testemunhassem,
dizimassem ou comparecessem regularmente às igrejas em que seus nomes
estão arrolados. Eu lhe garanto que seria manchete em todas as publicações
cristãs, se uma dessas coisas acontecesse em breve. É quase impossível
conseguir que 85% dos cristãos participem de qualquer atividade. No entanto,
colossais 85% fazem a mesma escolha educacional.
Assim, um movimento que atrai primariamente famílias que dão instrução
escolar em casa é realmente uma anomalia.[99] Talvez alguém pense que as
igrejas integradas à família coloquem placas do lado de fora dizendo:
“Somente adeptos da escola em casa (homeschool) podem ser membros”.
Mas esse não é o caso. Esse modelo de igreja apenas é construído sobre
algumas das mesmas pressuposições e princípios que fundamentam o
movimento cristão de ensino em casa (e a visão clássica de escola).
Como são baseados na educação como um componente do discipulado, esses
movimentos enxergam além de alvos acadêmicos, procurando preparação e
treinamento teológico. Infelizmente, muitas formas de educação cristã têm
esquecido ou abandonado esse princípio, encontrando-se, então, em meio a
um dilema. David Baker e Cornelius Riordan encaram essa dura realidade em
sua pesquisa sobre o impacto do declínio de conteúdo e objetivos teológicos
na educação católica:
As escolas católicas estão no limite de tornar-se um sistema de escolas particulares
que educam números cada vez maiores de não católicos, filhos da classe mais rica
da sociedade, e números crescentes de crianças que não se consideram religiosas.
Resumindo, a antiga escola católica comunitária está rapidamente se tornando uma
escola particular de elite, em que a doutrinação na fé parece ficar em segundo
plano em relação à preparação acadêmica (ênfase acrescentada).[100]
Baker e Riordan têm visto aonde tudo isso vai parar. Se deixarmos de ensinar
nossos filhos na fé, deixaremos de existir como comunidade de fé. É simples
assim. Não podemos continuar enviando nossos filhos para serem educados
por César e nos surpreender porque eles voltaram romanos. Mais importante,
não podemos continuar usando os métodos de César em nossas escolas cristãs
e esperar um resultado diferente. Educação é inseparável de discipulado
(Lucas 6.40).
Em nossa igreja, somos enfáticos quanto a ensinar às famílias as
consequências de suas escolhas educacionais. O Nehemiah Institute
demonstra desde 1998 que a educação é a maior formadora de cosmovisões.
Assim, suas descobertas consistentes mostram grande diferença entre a
cosmovisão das crianças cristãs educadas em escolas públicas e as educadas
pelos pais ou por escolas verdadeiramente cristãs. Como podemos ter tal
conhecimento e ainda permanecer silenciosos? Especialmente quando Jesus
disse: “E quem fizer tropeçar a um destes pequeninos crentes, melhor lhe fora
que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse
lançado no mar” (Marcos 9.42).
Muitos na comunidade judaica estão começando a encarar a responsabilidade
pelas perdas catastróficas entre as gerações mais jovens. Antony Gordon e
Richard Horowitz fazem uma grave avaliação do futuro da comunidade
judaica caso as coisas não mudem:
Baseado nos dados e nos vários estudos populacionais atualmente disponíveis,
parece que está em progresso uma extraordinária desintegração da comunidade
judaica norte-americana. Houve um tempo em que todo judeu poderia presumir que
teria netos judeus, com quem passar o Sêder, o Shabbath e outras datas judaicas.
Entretanto, os dados claramente indicam que essa expectativa não tem mais uma
base. De fato, nossos estudos mostram que, dentro de um curto período de tempo,
toda a comunidade judaico-americana será inexoravelmente alterada.[101]
Gordon e Horowitz viram o futuro e, se as coisas continuarem como estão, é um futuro em
que a comunidade judaica terá conseguido um lugar na Lista de Espécies Ameaçadas. Com
gráficos, tabelas e estatísticas impressionantes, eles pintam um desolador retrato, que não
pode ser ignorado:
Média Taxa de Primeira Segunda Terceira Quarta
de intercasamento geração geração geração geração
filhos
por
Família
Ortodoxo 6,4 3% 100 295 874 2588
Ortodoxo 3,23 3% 100 151 228 346
Moderno
Conservador 1,82 37% 100 62 38 24
Reformista 1,72 53% 100 51 26 13
Sem filiação 1,62 72% 100 36 13 5

A pesquisa buscou três decisivos elementos quantificáveis de remanescência


judaica: taxas de intercasamento, taxa de natalidade, e níveis de educação judaica.
Quando todos esses fatores são tabulados e correlacionados, surge uma figura
perturbadora do futuro do judaísmo norte-americano. Taxas de intercasamento
altíssimas, taxas de natalidade em declínio e educação judaica inadequada
continuam a dizimar a população judaico-americana (ênfase acrescentada).[102]
Certamente, esses não são termos em que estejamos acostumados a pensar.
Quando foi a última vez que você ouviu um sermão sobre taxa de natalidade?
Muitos cristãos não pensam sobre a comunidade de seguidores de Cristo
como uma herança a ser preservada. Nem mesmo pensamos em termos de
taxas de intercasamento como um componente de continuidade. Entretanto, o
trabalho desses dois pesquisadores judeus não é apenas perspicaz — é
profético.
Nada menos que o periódico The Wall Street Journal publicou uma primeira
página sobre a questão das taxas de natalidade, intercasamento e a
sobrevivência da fé em um artigo intitulado “Zoroastrianos Voltam-se para o
Namoro Virtual a fim de Resgatar a Religião: Números em Declínio
Ameaçam o Futuro da Antiga Fé”.[103] Essa é uma questão que está na linha
de frente da guerra cultural. Ela também se alinha com os princípios
orientadores do movimento igreja integrada à família. Esse movimento
procura abordar questões de intercasamento, taxas de natalidade e educação
religiosa ao promover uma visão bíblica de casamento e família,
evangelismo, discipulado, educação cristã e liderança biblicamente
qualificada.
Princípios orientadores da igreja integrada à família
Não sou ingênuo. Não espero que as grandes igrejas desistam de tudo e
transformem-se em igrejas integradas à família. Na verdade, quando converso
com pessoas interessadas em fazer isso, digo-lhes que é uma das maneiras
mais fáceis de ser demitido. Quando tenho a oportunidade de compartilhar
esse paradigma em classes cheias de ministros de jovens nas faculdades e
seminários de nosso país, há sempre alguns que perguntam: “O que posso
fazer para levar nossa igreja nessa direção?” Nesse momento, olho para eles
com minha melhor cara de Dirty Harry e digo: “Se você voltar para lá e tentar
levar sua igreja nessa direção, os pais o matarão e o pastor incendiará seu
cadáver”.
Já conheci homens que perderam seus empregos porque tentaram levar seu
ministério de jovens em direção à integração com a família. Já conheci
também pastores que perderam seus empregos tentando acabar com a
segregação etária em suas igrejas. Permita-me repetir: essa é uma mudança de
paradigma. Não estamos falando sobre uma programação nova; estamos
falando sobre uma substituição completa da filosofia que é aceita, em nossas
igrejas, faculdades, seminários e lares, como o único método. Esse não é um
plano de crescimento que os pastores poderão com facilidade assimilar em
uma conferência de megaigreja e, voltando para casa, trazer a ideia de
acrescentar um novo membro à equipe ministerial. Na verdade, o modelo de
igreja integrada à família exige uma equipe menor, não maior.
Há, no entanto, muitos princípios que transcendem a metodologia. Creio que
qualquer igreja pode tornar-se integrada à família, se os líderes estiverem
dispostos a apoiar alguns simples conceitos bíblicos. Se você é líder de igreja,
ofereço sugestões que podem ser imediatamente implementadas para mudar a
cultura da sua igreja. Se você não está na liderança da igreja, ofereço-as como
uma lista de oração. Comece a clamar a Deus para que essas verdades
venham à tona em sua igreja. Fale sobre essas questões com seus amigos.
Comece a implementá-las em sua casa. Talvez Deus o use como um
catalisador para acordar o gigante que dorme e mover sua igreja em direção à
integração da família.
Promova uma visão bíblica de casamento e família
Como uma mãe que entra com seus seis ou sete filhos em uma igreja norte-
americana comum lhe dirá, em geral a cultura pagã e humanista secular não
está sozinha em sua atitude negativa em relação a filhos. Além disso, veja as
taxas de divórcio entre cristãos se comparadas com as de não cristãos, e você
verá que nossas atitudes e comprometimento quanto ao casamento são tudo,
menos exemplares. Dizer que precisamos promover uma visão bíblica de
casamento e família é quase um eufemismo. Devemos deter a maré.
Em uma cultura que parece ir na direção oposta, devemos afirmar em ação e
palavra que o dom dos filhos é uma “herança do Senhor” (Salmo 127.3). Pais
piedosos serão discipuladores, começando em casa. Eles entenderão que não há
investimento maior a ser feito que criar uma descendência de filhos piedosos que
vivam por Jesus como observaram na vida da Mamãe e, especialmente, na vida do
Papai. Nossas igrejas devem treinar os pais para evangelizarem e discipularem seus
filhos.[104]
Se vamos mudar o mundo, devemos primeiro mudar a igreja. Atualmente,
não há diferença distinguível entre o modo como nossa cultura vê casamento
e família e o modo como os vemos na igreja. Não temos de transformar todas
as congregações em igrejas integradas à família, mas devemos promover uma
visão bíblica de casamento e família. Devemos fazer isso tendo o casamento
em alta conta, acolhendo e celebrando os filhos, e valorizando a família.
Nossas igrejas devem ter o casamento em alta conta. Quando Bridget e eu
nos casamos, muitos de nossos amigos cristãos lamentaram. Para eles,
tínhamos quebrado uma regra velada ao nos casarmos antes de nos
formarmos na faculdade. É irônico, mas nossos amigos não cristãos —
embora não necessariamente concordassem com nossa decisão —
respeitaram o fato de estarmos tomando uma atitude que, para eles, era uma
característica cristã. Muitos deles foram encorajados a ver pessoas cristãs
fazendo algo diferente da cultura dominante.
Não tenho problema com os jovens serem ensinados a esperar pelo tempo
adequado para casar-se. O problema é que a formatura é um padrão
completamente arbitrário, secular e antibíblico. Nossa mensagem deve ser
bíblica. Quando você está biblicamente qualificado e pronto para o
casamento, e Deus lhe envia um companheiro que se amolda ao mesmo
padrão, case-se. Não devemos lamentar quando os jovens casam-se jovens.
“O que acha uma esposa acha o bem e alcançou a benevolência do
SENHOR” (Provérbios 18.22). Se ele a encontrar antes do marco cultural
arbitrário da formatura, que seja. O casamento não é uma corda no pescoço
do jovem; é a joia da coroa. Vamos celebrá-lo como tal.
Nossas igrejas devem acolher e celebrar os filhos. Oh! Que nossas igrejas
celebrem os filhos como o salmista fez:
Herança do SENHOR são os filhos;
o fruto do ventre, seu galardão.
Como flechas na mão do guerreiro,
assim os filhos da mocidade.
Feliz o homem que enche deles a sua aljava;
não será envergonhado,
quando pleitear com os inimigos à porta. (Salmo 127.3-5)
Se acreditássemos nisso, talvez celebrássemos as crianças como bênçãos que
são. Recentemente, tratei desse assunto em um sermão que preguei para mais
de cem pastores. No fim da minha mensagem, uma jovem de vinte e poucos
anos me parou no salão. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, e ela mal
podia falar. Ela simplesmente murmurou a palavra “Obrigado”, enquanto
tentava manter a compostura. Ela tomou fôlego e disse: “Meu marido é um
jovem pastor em uma igreja rural. Recentemente, descobrimos que estamos
grávidos e, quando ele contou à igreja, muitos membros da congregação
disseram: ‘Mas vocês são tão novos’”.
A experiência dessa jovem se repete por toda a nossa terra. De algum modo,
passamos a acreditar que crianças são um fardo em vez de uma bênção. Se
nossas igrejas vão deter a onda da decadência cultural e moral, devemos
mudar nossa disposição em relação a filhos. Condenamos o trabalho dos
partidários do aborto, mas dificilmente dizemos alguma coisa sobre casais
intencionalmente sem filhos, que destroem até a possibilidade de vida no
ventre. Sem mencionar aqueles que, como Bridget e eu, compramos a
mentira materialista e cortamos a possibilidade de descendência futura devido
ao “custo crescente da educação acadêmica”, à perspectiva de realmente
precisarmos de todos os assentos dos nossos monumentais utilitários
esportivos ou de todos os quartos das nossas gigantescas casas. Senhor, faze-
nos um povo que avidamente aceita teu mandato: “Sede fecundos,
multiplicai-vos” (Gênesis 1.28).
Nossas igrejas devem valorizar a família. Alguns meses atrás, almocei com
um colega de ministério que estava no meio de uma crise familiar. Aconteceu
que sua filha vinha cabulando a igreja por mais de um mês. “Como?” —
perguntei, não acreditando. “Na verdade, não foi difícil”, ele respondeu. Não
me lembro da conversa palavra por palavra, mas jamais esquecerei o
conteúdo geral:
“Ela ia para a EBD às 9h15, enquanto estávamos no culto, e então
participava do culto (contemporâneo) das 10h50. Eu e a mãe dela
íamos ao culto (tradicional) das 9h15, então íamos para a EBD às
10h50. Assim que ela fez dezesseis anos, começamos a ir para a igreja
em carros separados, já que algumas vezes ela poderia ficar para sair
com seus amigos ou pegá-los no caminho. Nas noites de quarta, ela ia
para o culto jovem e, finalmente, para o culto dos universitários. Sua
mãe estava no coro, eu trabalhava na AWANA[105], assim também
dirigíamos em carros separados na quarta. Somente quando seu
professor da Escola Dominical perguntou se havia algo errado com ela,
percebemos que ela não estava indo à igreja.”
Essa igreja acreditava que estivesse valorizando a família porque tinha
atividades para pessoas de todas as idades. Entretanto, o que estava
acontecendo era o efeito oposto. Membros das famílias estavam,
individualmente, tão ocupados com suas atividades por faixa etária/fase da
vida que se tornaram membros de congregações completamente diferentes.
Aquele homem estava tão desconectado de sua filha que não sabia que ela
faltava à igreja, até que o professor da Escola Dominical o dissesse a ele. E
aquele não era um pai desapegado e alheio. Era um membro ativo da igreja!
Na verdade, foi sua atividade (e a atividade de cada um dos membros de sua
família) que os manteve no escuro quanto às circunstâncias da filha.
Também sei que é impossível que toda a igreja caminhe em direção a uma
integração completa da família, porém, minha oração é que possamos, pelo
menos, criar um ambiente em que as famílias ainda possam ir à igreja no
mesmo carro. Eu o convido para orar por isso. Se você é líder de igreja,
convido-o a colocar em prática essas orações.
Promova o culto/discipulado familiar
Como membro da Convenção Batista do Sul dos EUA, envergonho-me por
ter de admitir que há uma pesquisa sugerindo que 9% dos batistas do sul não
dedicam uma hora por ano ao culto familiar. Fico ainda mais envergonhado
em admitir que, até alguns anos atrás, minha família e eu éramos parte dessa
estatística. Tínhamos, de vez em quando, um domingo em que não nos era
possível ir à igreja; então, fazíamos o culto em casa. Porém, fazer o culto
doméstico não era parte do nosso estilo de vida. Não éramos uma família que
cultuasse.
Além disso, Christian Smith e George Barna confirmaram o fato de que as
famílias cristãs não se envolvem em nenhum tipo de discipulado
significativo. De acordo com Barna:
Os pais estão tão dispostos a oferecer um treinamento mais substancial a seus filhos
quanto preparados para tal tarefa. De acordo com a pesquisa, os pais tipicamente
não têm um plano para o desenvolvimento espiritual de seus filhos, não o
consideram uma prioridade, têm pouco ou nenhum treinamento sobre como
alimentar a fé de uma criança, não possuem padrões objetivos que estejam tentando
satisfazer e não prestam contas por seus esforços.[106]
Repito: de várias maneiras, esse era eu alguns anos atrás. Embora fosse bem
preparado para a tarefa, quando se tratava do discipulado dos meus filhos, eu
não tinha plano, padrão, objetivos, nem prestava contas. E o que era pior, não
esperava ter. Assim, eu me silenciava sobre a questão.
As pessoas se cansam de me ouvir falar sobre culto e discipulado familiar.
Algumas vezes, nem mesmo percebo o que estou fazendo. É uma parte tão
normal, tão natural da minha vida cotidiana que falo sem pensar. E o mais
importante: vejo a transformação em meu próprio lar e nas vidas de minha
esposa e das crianças. Também vi o impacto incrível que teve em famílias de
nossa igreja que, pela primeira vez em suas vidas, eram parte de uma
comunidade de crentes em que o culto e o discipulado familiar são a norma.
Junte-se à reforma! Comece a prestar culto regularmente com sua família.
Assim que o fizer, e tiver visto os benefícios para si mesmo e sua família,
comece a exportá-lo. Conte aos outros sobre o tremendo impacto que o culto
familiar teve sobre você e mostre-lhes o caminho. Recomende sempre que
puder. Se você está em uma posição de liderança em sua igreja, apresente
essa prática bíblica para que outros a vejam, e encoraje-os ao longo do
caminho.
Promova a educação cristã
Educação cristã é uma ferramenta crucial na guerra cultural. E mais: é uma
ferramenta crucial no evangelismo e discipulado da próxima geração. Isso se
evidencia pelas palavras de Jesus em Lucas 6.40: “O discípulo não está acima
do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem instruído será como o seu
mestre”. Mesmos os muçulmanos entendem o poder da educação cristã. O
Xeique Ahmad Al Katani, em uma entrevista para a infame rede de televisão
Al Jazeera, respondeu ao fato de que, por ano, seis milhões de muçulmanos
africanos vinham convertendo-se ao cristianismo. De acordo com Katani, o
culpado não são as grandes cruzadas evangelísticas, mas a educação cristã.
Após fazer uma declaração sobre o sucesso do evangelismo educacional na
África, Katani destacou:
Meu honrado senhor, você precisa edificar o adorador antes de edificar a mesquita.
O que acontece é que as escolas devem ser construídas em primeiro lugar, pois são
a fonte primária do avanço do Islã e protegem os muçulmanos usando a educação,
não um prédio de mesquita. A mesquita virá em segundo plano. Esse é um dos
erros que cometemos; ficamos orgulhosos ao construir uma mesquita, por exemplo,
em Dar Al Salam, mas creia-me, meu caro, se tivéssemos usado aquele dinheiro
para construir uma escola, teria sido bem mais benéfico. Edifique o adorador antes
de edificar a mesquita. E o profeta — as bênçãos e a paz de Alá estejam sobre ele
— passou dez anos de seu ministério sem construir uma mesquita; em vez disso,
estava preparando homens. Após entrar no segundo estágio de seu ministério, o
profeta construiu uma mesquita… Digo isso e aceito a responsabilidade total por
dizê-lo; construir uma escola vem antes de construir uma mesquita. Edifique o
adorador antes de edificar a mesquita. Veja você mesmo como exemplo; você vai à
mesquita cinco vezes por dia e se somar todo esse tempo, seria igual a uma hora ou,
talvez, duas horas, se incluir a oração de Sexta-Feira. Entretanto, se eu perguntar
quanto tempo esteve na escola, você dirá que passou anos no ensino fundamental e
anos no ensino médio. Da mesma forma, os africanos vão à mesquita, mas se
construirmos uma escola onde ele possa passar a maior parte do seu tempo, e
oferecermos educadores especializados, poderíamos ao menos deter esse perigoso
polvo missionário cristão [ênfase acrescentada].[107]
O Xeique estava reconhecendo o que muitos cristãos americanos escolheram
ignorar. O maior impacto que podemos ter na vida vem por meio da
educação. Por muito tempo, estivemos comprometidos com formas de
evangelismo que ignoram o elemento crucial de discipulado da Grande
Comissão. Fomos chamados para fazer discípulos, não convertidos. E a
maneira mais eficaz de discipular a nova geração é a educação.
Que tipo de resultado, senão benefícios, de as crianças cristãs aprenderem em
um ambiente que reconhece o Deus Todo Poderoso e vê cada assunto a partir
da perspectiva do Teísmo Cristão? Richard Baxter o disse bem: “Esta é a
santificação dos nossos estudos, quando eles são dedicados a Deus, e quando
Deus é o fim, o objeto e a vida de todos eles”.[108] Podemos promover a
educação cristã em nossas igrejas por meio de um estudo cuidadoso da
questão, descobrindo o impacto que a educação tem sobre as crianças de
nossa congregação, provendo alternativas educacionais acessíveis e
alcançando a comunidade da escola em casa.
Primeiro, faça um esforço honesto para estudar o que a Bíblia diz sobre
educação. A Bíblia não se cala sobre a questão da educação. Assim, discordo
daqueles que dizem que deveríamos apenas ficar à margem, enquanto as
famílias cristãs fazem as escolhas educacionais (escola pública, escola
particular ou ensino doméstico) que melhor se ajustem a elas. Se a Bíblia
trata da questão, não ficarei em silêncio. Imploro que você abra sua Bíblia e
permita que o texto fale sobre o assunto (veja o Capítulo 6). Nunca haverá
consenso sobre isso, mas precisa haver discussão baseada em um exame claro
dos textos relevantes.
Segundo, teste a cosmovisão das crianças e jovens de sua igreja. E se você
descobrisse (como toda igreja que usou os testes do The Nehemiah Institute
para avaliar a cosmovisão de seus adolescentes) que menos de 10% dos
estudantes de sua igreja têm uma cosmovisão bíblica? E se você descobrisse
que a causa número um é onde e como eles foram educados? Muitas igrejas
nem mesmo querem tomar conhecimento das respostas a essas perguntas,
porque a questão da educação é uma “batata quente” política na igreja.
Porém, não podemos continuar a esconder nossas cabeças na areia. Se os
jovens da sua igreja estão sendo arrastados para o humanismo secular e o
socialismo marxista, espero que você se importe em saber. Além disso,
espero que você entre em ação.
Terceiro, encontre e apoie alternativas educacionais acessíveis. De
cooperativas de ensino doméstico a escolas em casa, há uma quantidade de
alternativas accessíveis lá fora esperando para serem descobertas. As crianças
que se atrofiam nas escolas reprovadas de nossos centros urbanos estão
esperando que alguém mostre um caminho melhor. Talvez sua igreja possa
abrir essa porta. Inegavelmente, essa não é uma tarefa fácil. Entretanto, tenho
certeza de que uma comunidade de crentes que rotineiramente levanta
milhões de dólares para construir santuários usados uma vez por semana pode
conseguir algumas moedas para ajudar os pais a oferecerem educação cristã
aos filhos.
Finalmente, devemos alcançar e abraçar a comunidade de adeptos do ensino
doméstico. De acordo com a Associação de Defesa Legal da Escola em Casa,
mais da metade dos pais norte-americanos que oferecem a seus filhos a
instrução escolar em casa não são cristãos. Somente 15% são evangélicos. A
comunidade da escola em casa (homeschool) é um campo missionário
tremendo. Talvez sua igreja possa começar um grupo de apoio à escola em
casa ou uma classe de Escola Bíblica Dominical para os adeptos desse tipo de
instrução escolar (homeschool). Ou você poderia fazer algo simples como
lembrar-se dos filhos educados em casa nos eventos especiais relacionados a
escola e ensino. Como já disse, muitas famílias sentem-se isoladas e
abandonadas por suas igrejas locais. Não se precisaria de muito para remediar
esse problema.
Promova uma liderança biblicamente qualificada
Como Tom Eldredge nota, “Os compromissos feitos por líderes de igreja nas
áreas de família e educação dos filhos são alguns dos primeiros frutos que o
mundo examina quando procura verificar a sinceridade do testemunho cristão
professo”.[109] Entretanto, o mesmo não pode ser dito das comissões de
sucessão pastoral. A busca por um pastor começou a se assemelhar mais à
busca por um diretor executivo para uma empresa do que ao modelo
neotestamentário.
Fico envergonhado em dizer quantas vezes as pessoas me pedem para
explicar o que quero dizer quando falo sobre líderes “biblicamente
qualificados”. Talvez o pior caso tenha sido o de uma jovem que trabalhava
em uma comissão de sucessão pastoral. A ela e a onze membros de sua igreja
foi dada a responsabilidade de indicar um substituto para o pastor
recentemente aposentado. Digo ter sido o pior caso, porque essa mulher
estava em posição de influenciar o futuro da igreja, recomendando o próximo
pastor. Porém, ela nem mesmo sabia onde procurá-lo, e quais qualificações
ela e seus colegas deveriam buscar! E não, ela não era a única da comissão
nessa situação.
Na verdade, estou persuadido de que a maioria das comissões de sucessão é
ignorante ou ambivalente em relação às qualificações bíblicas para
pastores/presbíteros. Isso se evidencia pelo excedente de pastores
desqualificados e a enigmática fama do “filho de pastor”. Os pastores são tão
notoriamente ineptos em criar filhos que, nos Estados Unidos, usamos essa
expressão para seus filhos desobedientes. Isso é particularmente problemático
à luz do fato de que, embora existam muitas qualidades de caráter que a
Bíblia nos chama a ter, há somente duas habilidades exigidas de um pastor:
Ele deve ser apto a ensinar e deve governar bem sua casa.[110]
Definitivamente, Deus não está calado sobre a questão das qualificações
pastorais:
Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra
almeja. É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo
de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto
para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato,
inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a própria
casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se
alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de
Deus?); não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e
incorra na condenação do diabo. Pelo contrário, é necessário que ele
tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no
laço do diabo. (1 Timóteo 3.1-7, ênfase minha)
A carta de Paulo a Tito traz um esclarecimento ainda maior sobre o assunto.
Concernente à capacidade de ensinar, ele encoraja Tito a encontrar um
homem “apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha
poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o
contradizem” (1.9). Assim, aqueles que servem no ofício de pastor/presbítero
devem ter sã doutrina e teologia, capacidade de comunicar a verdade
eficazmente e uma boa dose de apologética para refutar aqueles que
contradiriam as verdades básicas da fé.
Isso está bem distante dos requisitos que recentemente li de uma igreja em
busca de um pastor no churchstaffing.com.[111] De acordo com essa igreja
“contemporânea”, o candidato ideal “deve estar disposto a incorporar
elementos criativos como teatro, testemunho e vídeos, em suas mensagens
práticas e relevantes”. Isso não tem absolutamente nada a ver com as
exigências bíblicas para pastores/presbíteros. E o pior: não garante a
integridade teológica e doutrinária da pregação e o ministério de ensino da
igreja.
Embora até agora tenhamos discutido a questão de ser “apto a ensinar”, nós
nos saímos bem pior na ordem clara de escolher homens que governem bem a
própria casa. Na verdade, a prática atual na escolha de um pastor contorna
completamente essa exigência. O cenário é mais ou menos este: criamos uma
comissão e começamos a pedir currículos. Avaliamos os currículos por seu
apelo cosmético e corporativo (tamanho da igreja anterior, reputação
acadêmica, etc.) e então diminuímos a lista. Assim que a lista se restringiu, a
comissão começa a ouvir os sermões em CD e/ou viajar para ouvir os
candidatos em pessoa.
Se estiverem impressionados o bastante, eles chamarão o candidato para uma
entrevista. Essa entrevista, afinal, consistirá de algumas poucas questões
superficiais sobre a teologia do candidato (em geral, não mais que o
necessário para descobrir que são da mesma denominação e do mesmo
partido teológico). Mas o grosso do tempo de entrevista é dedicado a
conhecer a estratégia do candidato para o crescimento da igreja e a satisfação
das necessidades da maioria dos membros daquela igreja, em relação a
prédios, culto e programação.
Se o candidato se sair bem, a comissão fará uma recomendação para a equipe
de líderes, e então para o restante da igreja. Depois disso, o candidato será
trazido para “sondagem”. Isso significa que colocará o melhor terno, trará seu
melhor sermão, pregará, e a igreja votará se eles o convidam ou não para ser
seu pastor.
Os problemas com esse processo são incontáveis. Entretanto, um problema
está acima dos outros. Esse processo ignora completamente a segunda
exigência para um pastor/presbítero. Como John MacArthur observa com
perspicácia, “para descobrir se um homem é qualificado para a liderança da
igreja, observe primeiro sua influência sobre seus próprios filhos”.[112]
Quando examinamos a família dele? Quando a comissão vai a sua casa e
observa como ele conduz o culto familiar? Quando a comissão passa tempo
com a esposa e as crianças, a fim de avaliar o impacto que o pastor tem no
desenvolvimento espiritual deles por meio de discipulado e orientação
consistentes e deliberados? Quando descobrimos se esse homem “governa
bem sua própria casa” ou se tem “filhos crentes que não sejam acusados de
libertinagem ou de insubmissão” (Tito 1.6, NVI)?
Se essas perguntas lhe parecem estranhas, você não está sozinho. Há pouco
interesse nas qualificações bíblicas do pastor nestes dias. Apenas examine as
páginas de emprego da internet, e você rapidamente descobrirá que muitas
igrejas procuram a mesma coisa que a Enron procurava, quando contratou a
equipe que a levou à ruína.
O problema com a abordagem atual é duplo. Primeiro, ignora ou contradiz o
mandato bíblico. Segundo, contratar pastores que não se qualificam quanto às
exigências bíblicas levará a um declínio do povo como um todo. Richard
Baxter expressa melhor:
Se vocês são ímpios e não ensinam o temor de Deus a suas famílias, nem
contradizem os pecados do grupo de que fazem parte, nem modificam o rumo das
vãs conversações no meio deles, nem tratam claramente com eles sobre a salvação,
eles entenderão todas essas atitudes como se vocês pregassem que tais coisas são
desnecessárias, e que eles podem, sem medo, fazer o mesmo que vocês.[113]
“Uma névoa no púlpito torna-se nevoeiro na congregação”, como diz o
antigo ditado. Se esperamos que nossas famílias pavimentem o caminho de
restauração da família, devemos elevar o padrão daqueles que lideram. Não
um padrão impossível, irracional ou legalista, mas um padrão bíblico. É pedir
demais que um homem demonstre o compromisso evangelístico de levar seus
filhos à fé? É pedir demais que ele demonstre seu compromisso e propensão
ao discipulado, criando filhos que sejam obedientes, respeitosos e que saibam
no que creem e por quê? É pedir demais que um homem demonstre influência
suficiente em sua família, para guiar seus filhos em direção à maturidade
como seguidores fiéis de Cristo?[114] Em outras palavras, é pedir demais que o
homem que vai pastorear o povo de Deus dê exemplo do tipo de criação de
filhos a que todo crente deveria aspirar? Ou, em outras palavras, realmente
cremos que os presbíteros devem ser “modelos do rebanho” (1 Pedro 5.3)?
O longo caminho de volta
Novamente, é provável que nem todos saiam por aí e transformem nossas
congregações em igrejas integradas à família. Nem acho que precisamos. Em
nossa igreja, descobrimos um paradigma que responde à maioria das questões
e preocupações em relação à fidelidade multigeracional e, o mais importante,
esse paradigma está bem próximo do modelo bíblico. Entretanto, nossa igreja
não é perfeita. Descobrimos novas fraquezas todos os dias. E estou certo de
que, amanhã, descobriremos ainda mais.
Assim, não escrevi este capítulo como um esquema a ser seguido ao pé da
letra. Apenas quis levantar as questões relevantes e oferecer algumas
respostas às perguntas que recebi pelos últimos anos, enquanto pregava e
palestrava sobre esse tópico. Portanto, embora muitas pessoas não
compartilhem das características de uma igreja integrada à família, podemos
concordar quanto aos princípios orientadores. Podemos e devemos promover
uma visão bíblica de casamento e família, discipulado e culto familiar,
educação cristã e liderança biblicamente qualificada.
A dura realidade é que, a não ser que mudemos radicalmente o modo como
vemos a família e a igreja, não enxergaremos um basta para a dizimação
dessas duas instituições em nossa cultura. No entanto, creio que a maré está
baixando. Compartilhei essa mensagem por todo o nosso país, e a resposta
tem sido poderosa. Pastores me param nos salões de conferência para me
perguntar o que fazer para levar suas igrejas em direção à integração da
família. Mães e pais trazem fotos de filhos que se desviaram. Avós olham nos
meus olhos e dizem: “Eu queria que alguém me tivesse dito isso trinta anos
atrás”. A questão recorrente é: “Por que ninguém nos ensinou esses
princípios?”
Ironicamente, nada do que compartilhei neste livro é novo. Richard Baxter
cantava a mesma canção no século XVII:
Você provavelmente não verá qualquer reforma generalizada até que busque uma
reforma familiar. Pode haver alguma religião aqui e ali; porém, enquanto estiver
restrita a indivíduos, e não for promovida em família, ela não vai prosperar, nem
promete crescimento futuro.[115]
Só tentei lembrar o povo de Deus do que ele disse sobre a fidelidade através
das gerações. O mais empolgante é que o povo de Deus parece estar em uma
situação perfeita para ouvir sua verdade e agir. As evidências não deixam
dúvidas. A resposta é simples. O tempo é agora. Vamos ou vencer a cultura,
uma família de cada vez, ou continuar a perder para a cultura uma família de
cada vez. De uma maneira ou de outra, a família é a chave.
Entrando em ação
1. Faça um inventário do modo como você e sua família prestam culto a
Deus. Você e seus filhos verdadeiramente cultuam juntos? Vocês são
membros de congregações diferentes em um mesmo prédio? Vocês operam
sob a mesma doutrina e teologia?
2. Fale sobre as diferenças entre sua experiência de culto e a experiência de
seus filhos (caso eles frequentem um culto diferente).
3. Se seus filhos não participam do mesmo culto que você, peça-lhes que
comecem a fazê-lo.
4. Pense sobre começar um pequeno grupo para famílias.
Líder de igreja
1. Observe a estrutura geral de sua igreja e avalie com honestidade por
quanto tempo você pede às famílias que se mantenham separadas.
2. Aproveite cada oportunidade que conseguir para celebrar a dádiva dos
filhos.
3. Considere a possibilidade de começar uma célula ou classe de Escola
Bíblica integrada à família.
4. Reavalie suas práticas de contratação de pastores à luz do mandato bíblico.
LEITURA RECOMENDADA
Akin, Daniel. “The Future of Southern Baptists: Mandates for What We Should Be in the Twenty-First
Century.” The Southern Baptist Journal of Theology 9, No. 1 (2005): 70-85.

Barna, George. A Biblical Worldview Has a Radical Effect on a Person’s Life. Ventura, CA: The Barna
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________. Parents Accept Responsibility for Their Child’s Spiritual Development but Struggle with
Effectiveness. Ventura, CA: The Barna Group, 2003; accessed December 10, 2004; available from
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________. Parents Describe How They Raise Their Children. Ventura, CA: The Barna Group, 2005;
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Baxter, Richard. The Reformed Pastor. Edinburgh, Scotland: Banner of Truth, 1979.

Black, David Allen. The Myth of Adolescence: Raising Responsible Children in an Irresponsible
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Carson, D. A. Becoming Conversant with the Emerging Church. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2005.

Eldredge, Tom. Safely Home. San Antonio, TX: The Vision Forum, Inc., 2003.

Fields, Doug. Purpose-Driven Youth Ministry. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1998.

Gordon, Antony, and Richard Horowitz. Will Your Grandchildren Be Jewish?Intermarriage Rates &
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http://www.simpletoremember.com/vitals/WillYourGrandchildrenBeJews.htm.

Kimball, Dan. The Emerging Church: Vintage Christianity for New Generations. Grand Rapids, MI:
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McDow, Malcolm, and Alvin Reid. Firefall: How God Has Shaped History Through Revivals.
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Pearcey, Nancy. Total Truth: Liberating Christianity from Its Cultural Captivity. Wheaton, IL:
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Rainer, Tom. “A Resurgence Not Yet Realized: Evangelistic Effectiveness in the Southern Baptist
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Reid, Alvin. Raising the Bar: Ministry to Youth in the New Millennium. Grand Rapids, MI: Kregel,
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Wonacott, Peter. “Zoroastrians Turn to Internet Dating to Rescue Religion: Declining Numbers
Threaten the Future of Ancient Faith; Fertility Drugs in Mumbai.” The Wall Street Journal, 6 de
fevereiro de 2006.
[1]
As televisões norte-americanas costumavam transmitir essa propaganda pública,
especialmente entre as décadas de 1960 e 1980. [N. do T.]
[2]
T.C. Pinkney, Relatório ao Comitê Executivo da Convenção Batista do Sul, Nashville,
Tennessee, 18 de setembro de 2001. Pinkney relatou que 70% dos adolescentes envolvidos
em grupos jovens das igrejas param de frequentar a igreja, dentro de dois anos na
universidade. Veja também o Relatório do Concílio Batista do Sul sobre Vida Familiar, de
2002, que registrou que 88% dos filhos de lares evangélicos deixam a igreja aos dezoito
anos.
[3]
George Barna, A Biblical Worldview Has a Radical Effect on a Person’s Life (Uma
Cosmovisão Bíblica Tem um Efeito Radical na Vida de uma Pessoa) — The Barna
Group, 2003, acessado em 29 de março de 2005; disponível em
http://www.barna.org/FlexPage.aspx?Page=BarnaUpdate&BarnaUpdateID=154.
[4]
Ibid.
[5]
Christian Smith e Melinda Lundquist Denton, Soul Searching (Nova York: Oxford
University Press, 2005), p. 270.
[6]
Ibid., p. 115.
[7]
Thom Rainer, “A Resurgence Not Yet Realized: Evangelistic Effectiveness in the
Southern Baptist Convention Since 1979” (Um ressurgimento ainda não Alcançado:
Eficácia Evangelística na Convenção Batista do Sul desde 1979), The Southern Baptist
Journal of Theology (Jornal de Teologia Batista do Sul), Vol. 9, No. 1, Primavera de 2005,
p. 63.
[8]
Fullscreen e widescreen são os dois modelos básicos para telas de televisão. O primeiro
é o formato quadrangular, mais tradicional, usado em televisões de tubo e monitores de
computador antigos. Em geral, filmes reproduzidos nesse modelo perdem os cantos
esquerdos e direitos da tela. Já o widescreen é mais utilizado atualmente, segue um padrão
retangular, é comum em aparelhos de plasma e LCD, de alta definição (HD). Neste caso,
existem faixas pretas em cima e embaixo da exibição, a fim de que o espectador possa ver
totalmente o que se passa na tela. [N. do T.]
[9]
Smith, Soul Searching, p. 131.
[10]
Ibid., p. 130.
[11]
Ibid.
[12]
George Barna, Parents Describe How They Raise Their Children (Pais Descrevem
como Eles Criam Seus Filhos) (The Barna Group, 2005, accessado em 1º de março de
2005); disponível em http://www.barna.org/FlexPage.aspx?
Page=BarnaUpdate&BarnaUpdateID=183.
[13]
Ibid.
[14]
R. Albert Mohler, citado na Imprensa Batista Online,
http://www.bpnews.net/bpnews.asp?ID=18611. Acessado em 15 de agosto de 2005. Os
comentários de Mohler foram feitos na transmissão de 22 de junho do programa de rádio
Family Life Today (Vida Familiar Hoje).
[15]
Cinturão Bíblico, ou Bible Belt, é uma região no sudeste dos EUA em que
denominações evangélicas e grupos conservadores têm uma presença mais forte, tornando-
se parte da própria cultura local. [N. do T.]
[16]
Al Mohler, “First Person: Deliberate Childlessness & Moral Rebellion” (Primeira
Pessoa: Infância Deliberada & Rebelião Moral". Imprensa Batista Online,
http://www.bpnews.net/bpnews.asp?ID=21298. Acessado em 15 de agosto de 2005.
[17]
Antigo lema dos Estados Unidos, expressão latina que significa “De muitos, um”, ou
“A partir de muitos, um”. [N. do T.]
[18]
O autor menciona apresentadores e psicólogos populares nos EUA. Dr. Phil é Phil
McGraw, que faz um programa de auditório ao estilo “Casos de Família”, mostrando
histórias tocantes e debatendo temas polêmicos, em cada episódio. Dr. Spock é Benjamin
Spock, ativista político, pediatra e psicanalista, autor de vários livros de sucesso sobre
criação de filhos. Dra. Ruth refere-se a Ruth Westheimer, terapeuta sexual, famosa por suas
visões liberais e por programas de televisão dedicados à sexualidade. [N. do T.]
[19] O que se segue é, na verdade, uma combinação de três histórias bem semelhantes, com
alguns nomes mudados para proteger a identidade das pessoas envolvidas, e com um
esporte aleatoriamente escolhido pelo mesmo motivo. Entretanto, o encontro é real e de
fato tem acontecido muitas vezes com muitas famílias diferentes.
[20]
Encontro de jovens, comum na igreja americana, em que um pequeno grupo de jovens
passa um fim de semana na casa de membros mais velhos da igreja. [N. do T.]
[21]
No original, Double-play: Jogada em que a defesa consegue eliminar dois adversários a
partir de uma só rebatida. [N. do T.]
[22]
Beisebol infantil. [N. do T.]
[23]
L iga nacional de futebol americano dos Estados Unidos.
[24]
Trecho e título da música “What have you done for me lately?” [N. do T.]
[25]
O autor refere-se a uma das jogadas mais difíceis de ser no Futebol Americano e ao
evento mais importante desse esporte, o Super Bowl. [N. do T.]
[26]
Rede Comida. Canal de televisão especializado em programas sobre comida e
alimentação. [N. do T.]
[27]
Peter C. Craigie, “The Book of Deuteronomy” [O Livro de Deuteronômio], The New
International Commentary on the Old Testament [O Novo Comentário Internacional do
Antigo Testamento], R. K. Harrison e Robert L. Hubbard, Jr., editores. (Grand Rapids, MI:
Wm. B. Eerdmans, 1976), p. 170.
[28]
João Calvino, Harmony of the Law [Harmonia da Lei], Vol. I; Disponível em
http://www.ccel.org/c/calvin/comment3/comm_vol03/htm/v.xv.htm. Acessado em 30 de
agosto de 2005.
[29]
The Barna Group; http://www.barna.org/FlexPage.aspx?
Page=BarnaUpdate&BarnaUpdateID=156.
[30]
Francis Schaeffer, Como Viveremos? (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003).
[31]
James Sire. Dando Nome ao Elefante (Brasília: Editora Monergismo, 2012).
[32]
Charles Colson e Nancy Pearcey, E Agora, Como Viveremos? (Rio de Janeiro: CPAD,
2000).
[33]
Christian Smith e Melinda Lundquist Denton, Soul Searching (Nova York: Oxford
University Press, 2005), p. 133.
[34]
Ibid.
[35]
Adaptado de the Barna Group; Disponível em http://www.barna.org/FlexPage.aspx?
Page=BarnaUpdate&BarnaUpdateID=156. Acessado em 7 de outubro de 2004.
[36]
Em inglês, partial-birth abortion, técnica de aborto tardio, utilizada nos últimos meses
de gravidez, em que se realiza um parto intravaginal parcial do feto vivo. [N. do T.]
[37]
Encarta® World English Dictionary [Dicionário de Inglês Encarta], Microsoft
Corporation, 1999.
[38]
Nos EUA, a classificação etária leva em consideração a orientação dos pais. Assim,
existem filmes que só podem ser assistidos por menores acompanhados de responsáveis.
Estes recebem a classficação R, de restrito. [N. do T.]
[39]
Em português, monergismo.com e monergismo.net.br. [N. do E.]
[40]
Christian Smith e Melinda Lundquist Denton, Soul Searching [Alma em Busca] (Nova
York: Oxford University Press, 2005), p. 28.
[41]
Ibid., p.269.
[42]
Ibid., p.269-270.
[43]
Escola em Casa, isto é, modalidade de ensino em casa, com instrução em todas as
disciplinas escolares, dada normalmente pelos pais; em substituição ao ensino em
instituições como escolas pública e particular. [N. do T.]
[44]
John Bunyan, “Christian Family” [Família Cristã]; http://www.biblebb.com/files/JB-
001.htm.
[45]
Hillary Rodham Clinton, It Takes A Village and Other Lessons Children Teach Us [É
preciso uma Vila e Outras Lições que as Crianças nos Ensinam] (Nova York: Touchstone
Books, 1996).
[46]
David Wegener, “A Father’s Role in Family Worship” [O Papel do Pai no Culto
Familiar], Journal of Biblical Manhood and Womanhood [Periódico de Masculinidade e
Feminilidade Bíblicos], Vol. 3, Número 4, 1998.
[47]
Nos EUA, o aluno vai até a 12ª série, que normalmente se completa aos 17 ou 18 anos.
[N. do T.]
[48]
Famoso livro de Dr. Seuss. [N. do T.]
[49]
John Rosemond, A Family of Value [Uma Família de Valor] (Kansas City: Andrew &
McMeel, 1995), p.2.
[50]
Ibid., p.144.
[51]
Ibid., p.148.
[52]
Ibid..
[53]
Ibid.
[54]
Ibid., p.149
[55]
Ibid., p.150.
[56]
Ibid., p.149.
[57]
Em português, existe o livro Catecúmenos, publicado pela Editora Monergismo. [N. do
T.]
[58]
O Nehemiah Institute vem conduzindo testes sobre cosmovisão desde 1988. Seu
modelo de testes classifica os participantes em uma de quatro categorias (Cosmovisão
Cristã, Moderadamente Cristã, Humanismo Secular, Socialismo). De acordo com os
resultados, os alunos cristãos matriculados em escolas públicas consistentemente ficam
entre Humanismo Secular e Socialismo. Veja uma apresentação em PowerPoint sobre os
resultados em www.nehemiahinstitute.com.
[59]
Cal Thomas, “Steamy Teen Love in Tampa” [Romance Adolescente em Tampa],
Jewish World Review, 15 de dezembro de 2005;
www.jewishworldreview.com/cols/thomas121505.asp. Acessado em 19 de dezembro de
2005.
[60]
Ibid.
[61]
Bruce Shortt, The Harsh Truth About Public Schools [A Dura Verdade Sobre as
Escolas Públicas] (Vallecito, CA: Chalcedon,2004), p.192-194.
[62]
Veja http://www.naturallyconnected.com.au/fengshui.htm. Relacionado a isso está a
crença sobre o chi, que, de acordo com o pensamento místico oriental, é a energia ou força
que envolve a terra e conecta as pessoas umas às outras e ao seu ambiente. Isso está bem
ligado aos conceitos do Monismo (tudo é um) e do Panteísmo (tudo é deus).
[63]
A.W. Pink, Family Worship [Culto Familiar] (acessado em 9 de abril de 2005);
disponível em http://www.mountzion.org/fgb/Fall99/FgbF1-99.html.
[64]
Literalmente, “mães do futebol” ou algo como “mãe chuteira”. No Brasil, seria
semelhante ao que chamamos de uma mãe coruja. [N. do T.]
[65]
David Wegener, “The Father’s Role in Family Worship” [O Papel do Pai no Culto
Familiar], Journal of Biblical Manhood and Womanhood, Vol. 3, nº 4, 1998.
[66]
Donald S. Whitney, Family Worship: In the Bible, in History, and in Your Home [Culto
Familiar: Na Bíblia, na História e em Sua Casa] (Shepherdsville, KY: Center for Biblical
Spirituality, 2006), p.37.
[67]
John Bunyan, “Christian Family” [Família Cristã]; http://www.biblebb.com/files/JB-
001.htm.
[68]
Esse termo é usado para descrever igrejas que não segregam seus membros por idade.
Não há classes só para jovens casados ou adolescentes ou adultos. Não há grupos jovens ou
áreas para crianças. Vemos a igreja como uma família de famílias e esperamos que as
famílias adorem juntas e ensinem as Escrituras em suas casas (por isso, não há Escola
Bíblica Dominical). Os filhos a quem me refiro normalmente vêm de famílias que nunca
tiveram suas crianças no culto até que vieram para nossa igreja. Para mais informações
sobre o movimento igreja integrada à família, veja www.visionforumministries.com ou
visite a página da nossa igreja em www.gracecommunityinfo.org.
[69]
. A história foi ao ar em 9 de maio de 2004, em Houston, na KPRC, canal 2 e, mais
tarde, transcrita em http://www.click2houston.com/family/3287972/detail.html. Acessado
em 10 de maio de 2004. Associated Press, todos os direitos reservados, © 2004.
[70]
A mais famosa apresentadora de televisão nos EUA. [N. do T.]
[71]
Malcolm McDow e Alvin L. Reid, Firefall: How God Has Shaped History Through
Revivals [Fogo do Céu: Como Deus Moldou a História por Meio de Reavivamentos]
(Nashville: Broadman & Holman, 1997).
[72]
Thom Rainer, "“A Resurgence Not Yet Realized: Evangelistic Effectiveness in the
Southern Baptist Convention Since 1979” [Um Ressurgimento Ainda Não Alcançado:
Eficácia Evangelística na Convenção Batista do Sul desde 1979], The Southern Baptist
Journal of Theology [Periódico de Teologia Batista do Sul], Vol. 9, No. 1, 2005.
[73]
Roger L. Dudley, “Indicators of Commitment to the Church: A Longitudinal Study of
Church-Affiliated Youth” [Indicadores de Compromisso com a Igreja: Um Estudo
Longitudinal das Juventude Afiliada à Igreja], Adolescence [Adolescência], 28, Nº 109,
1993; http://www.questia.com/PM.qst?a=o&d=5000179401. Acessado em 20 de dezembro
de 2005.
[74]
Rainer, “A Resurgence Not Yet Realized”, p.63. Rainer está trabalhando com os
Batistas do Sul, mas os números podem ser assumidos como pelo menos tão ruins para as
outras denominações.
[75]
Site especializado em ministério de jovens. [N. do T.]
[76]
Mike Yaconelli, “Youth Ministry: A Contemplative Approach” [Ministério Jovem: Uma
Abordagem Contemplativa], The Christian Century, 21 de abril de 1999, p.450;
http://www.questia.com/PM.qst?a=o&d=5001255487.Yaconelli foi cofundador do Youth
Specialties e um expoente ávido do ministério de jovens. No entanto, no fim de sua vida,
ele viu e admitiu as falhas do modelo, e buscou reformas por meio do misticismo e da
"nova espiritualidade". Ele se tornou uma voz basilar do que se tornaria o movimento
Igreja Emergente.
[77]
Doug Fields, Um Ministério com Propósitos – Para Líderes de Jovens (São Paulo:
Vida, 2001).
[78]
Mike Yaconelli, “Youth Ministry: A Contemplative Approach”, p. 450.
[79]
Ibid.
[80]
Movimento que propõe que os cultos sejam voltados para os visitantes incrédulos,
pregando apenas o que é considerado “necessidade” para essas pessoas, de maneira que
elas não se ofendam com a mensagem. Além disso, toda a estrutura da igreja, como
músicas, decoração, e até assentos, estão voltados basicamente a agradar o visitante. No
Brasil, os maiores representantes relacionam-se ao movimento Igreja com Propósitos. [N.
do T.]
[81]
Pamela Smith McCall, "All in the Family" [Tudo em Família], The Christian Century,
18 de abril de 2001, p.22; http://www.questia.com/PM.qst?a=o&d=5000988811. Acessado
em 4 de fevereiro de 2006.
[82]
Alvin Reid, Raising the Bar: Ministry to Youth in the New Millennium [Elevando o
Padrão: Ministério para a Juventude no Novo Milênio], (Grand Rapids, MI: Kregel, 2004).
[83]
Ibid.
[84]
Mark DeVries, citado em “Passing It On: Reflections on Youth Ministry” [Passando a
Responsabilidade: Reflexões sobre Ministério Jovem], The Christian Century, 4 de outubro
de 2003; http://www.questia.com/PM.qst?a=o&d=5002019458. Acessado em 3 de
fevereiro de 2006.
[85]
Pamela Smith McCall, “All in the Family” [Tudo na Família], The Christian Century,
18 de abril de 2001, p.22; http://www.questia.com/PM.qst?a=o&d=5000988811. Acessado
em 4 de fevereiro de 2006.
[86]
D.A. Carson, Igreja Emergente – o Movimento e suas Implicações. (São Paulo: Vida
Nova, 2010).
[87]
Ibid.
[88]
Dan Kimball, Igreja Emergente – Cristianismo de Nova Safra para as Novas Gerações
(São Paulo: Vida, 2008).
[89]
Ibid.
[90] Movimento cristão surgido em meio à cultura hippie. [N. do T.]

[91]
Alvin Reid, Raising the Bar: Ministry to Youth in the New Millennium [Elevando o
Padrão: Ministério com Jovense no Novo Milênio], (Grand Rapids, MI: Kregel, 2004).
[92]
Muitas supostas igrejas integradas à família são simples claustros de famílias adeptas
da escola em casa (homeschool) que se cansaram das metodologias segregadas de muitas
igrejas. Vários desses grupos classificam a si mesmos como igrejas em casa, embora lhes
faltem muitos dos elementos fundamentais do movimento de igrejas em casa. Esses grupos
são, muitas vezes, introvertidos e têm pouco interesse em missões e/ou evangelismo. Não
estou me referindo a eles aqui.
[93]
Veja http://www.familybasedym.com/about_faq.php.
[94]
Ibid.
[95]
David Allen Black, The Myth of Adolescence: Raising Responsible Children in an
Irresponsible Society [O Mito da Adolescência: Criando Filhos Responsáveis em um
Sociedade Irresponsável], (Yorba Linda, CA: Davidson Press, 1999).
[96]
Nancy Pearcey, Verdade Absoluta: Libertando o Cristianismo de seu Cativeiro
Cultural (Rio de Janeiro: CPAD, 2006).
[97]
Tom Eldredge, Safely Home [Em Segurança] (San Antonio, TX: The Vision Forum,
Inc., 2003).
[98]
Bruce Shortt, The Harsh Truth About Public Schools [A Dura Verdade sobre as
Escolas Públicas] (Vallecito, CA: Chalcedon,2004), p. 192-194.
[99]
Aproximadamente 90% das famílias da Grace Community Church [Igreja Comunidade
da Graça] em Magnólia, Texas (a igreja onde sirvo) dão instrução escolar a seus filhos, em
casa.
[100]
David P. Baker e Cornelius Riordan, “The ‘Eliting’ of the Common American
Catholic School and the National Education Crisis” [A Elitização da Escola Católica
Americana Comunitária e a Crise Nacional de Educação]. Phi Delta Kappan, p.80, Nº 1;
http://www.questia.com/PM.qst?a=o&d=5001373454. Acessado em 20 de dezembro de
2005.
[101]
Antony Gordon e Richard Horowitz, Will Your Grandchildren Be Jewish?
Intermarriage Rates & Statistics for Orthodox, Modern Orthodox, Conservative, Reform &
Unaffiliated Jews [Seus Netos Serão Judeus? Taxas e Estatísticas de Intercasamento para
Judeus Ortodoxos, Ortodoxos Modernos, Conservadores, Reformistas e Não Filiados;
http://www.simpletoremember.com/vitals/WillYourGrandchildrenBeJews.htm. Acessado
em 23 de novembro de 2005.
[102]
Ibid.
[103]
Peter Wonacott, “Zoroastrians Turn to Internet Dating to Rescue Religion: Declining
Numbers Threaten the Future of Ancient Faith”, The Wall Street Journal, 6 de Fevereiro de
2006.
[104]
Daniel Akin, “The Future of Southern Baptists: Mandates for What We Should Be in
the Twenty-First Century” [O Futuro dos Batistas do Sul: Mandatos Que Deveríamos
Seguir no Século XXI], The Southern Baptist Journal of Theology [Periódico de Teologia
Batista do Sul], 9, Nº 1 (2005).
[105]
AWANA, que significa Approved Workmen Are Not Ashamed (Obreiro aprovado que
não tem de que se envergonhar — 2 Timóteo 2.15), é uma organização não denominacional
que oferece cursos para pais e igrejas sobre criação de filhos na vida cristã. [N. do T.]
[106]
George Barna, Parents Accept Responsibility for Their Child’s Spiritual Development
but Struggle with Effectiveness [Pais Aceitam a Responsabilidade pelo Desenvolvimento
Espiritual dos Filhos, mas Lutam por Eficácia] (The Barna Group, 2003;
http://www.barna.org/FlexPage.aspx?Page=BarnaUpdate&BarnaUpdateID=138).
Acessado em 10 de dezembro de 2004.
[107]
A tradução para o inglês dessa entrevista está disponível em
http://www.formermuslims.com/forum/viewtopic.php?t=972.
[108]
Richard Baxter, The Reformed Pastor (Edinburgh, Scotland: Banner of Truth,1979).
Há uma versão resumida, publicada pela editora PES, sob o título O Pastor Aprovado.
[109]
Eldredge, Safely Home.
[110]
Veja Tito 1.5-9; 1 Timóteo 3.1-7; 1 Pedro 5.1-4. Existem várias qualidades de caráter
exigidas daqueles que servem como pastor/presbítero, mas apenas duas habilidades.
[111]
Basicamente, uma página de classificados especializada em cargos de igreja. [N. do
T.]
[112]
John MacArthur, Titus, The MacArthur New Testament Commentary [Tito,
Comentário MacArthur do Novo Testamento] (Chicago:Moody Press, 1996).
[113]
Baxter, The Reformed Pastor.
[114]
MacArthur, Titus.
[115]
Baxter, The Reformed Pastor.

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