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28/08/2023

DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA


Prof. Moisés C. Castro, 2023

https://www.pressenza.com/pt-pt/2019/12/direitos-humanos-
uma-conquista-do-passado-ou-batalha-do-futuro/

CARGA HORÁRIA – DIREITOS HUMANOS


•40 Horas – 2 aulas semanais:
•Turma A – Manhã – segunda-feira: 8h50 – 10h30
•Turma B – Noite – quinta-feira: 19h00 às 20h40

•Início semestre letivo: 14/08/2023


•Fim semestre letivo: 16/08/2023

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DIREITOS HUMANOS – TURMA A – SEG.: 8h50


AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO
SEGUNDA SEGUNDA SEGUNDA SEGUNDA SEGUNDA
3 4 2 6 4

10 11 9 13 11

14 – Semana Online 18 16 20 18 Complementação


Carga horária

21 – Aula 1 – Introdução 25 23 27 27
e Apresentação

28 30

DIREITOS HUMANOS – TURMA B - QUINTA: 19h00


AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO
QUINTA QUINTA QUINTA QUINTA QUINTA
3 7 - Feriado 5 2 – Feriado - Finados 7

10 14 12 - Feriado 9 14

17 – Semana Online 21 19 16 21 Complementação


Carga horária

24 – Aula 1 – Introdução 28 26 23 27
e Apresentação

31 30

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CONTATOS COM O PROFESSOR


•Chat no Microsoft Teams: Moisés Coelho Castro

•E-mail institucional: moises.castro@uemg.br

•E-mail alternativo: moshecastro@gmail.com

EMENTA – DIREITOS HUMANOS


•Direitos humanos: evolução histórica. Do Estado Liberal ao
Estado Social. A Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A internacionalização dos Direitos Humanos. A indivisibilidade
dos Direitos Humanos. A proteção nacional e internacional
aos direitos humanos. Garantias processuais na Constituição
Brasileira de 1988. Análise crítica do direito como instrumento
de controle social e de libertação do homem.

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OBJETIVOS DA DISCIPLINA
• Objetivo Geral: Introduzir os alunos no estudo dos direitos humanos a partir
de uma visão histórico-crítica, considerando a realidade contemporânea e os
sistemas normativos: internacional e nacional.
• Objetivos Específicos: Estudar a evolução histórica dos direitos humanos.
Apresentar os conceitos fundamentais referentes aos direitos humanos.
Estudar os principais instrumentos normativos de direitos humanos no âmbito
internacional e nacional. Identificar e examinar violações de direitos humanos
na contemporaneidade. Oferecer aos alunos instrumentos práticos para
atuação no mundo jurídico.

CONTEÚDO – DIREITOS HUMANOS


• 1. Introdução ao estudo dos direitos humanos: direitos humanos, direitos
fundamentais e cidadania; evolução histórica dos direitos humanos;
princípios e teoria dos direitos fundamentais.
• 2. Sistemas de proteção dos direitos humanos: sistema internacional de
proteção aos direitos humanos, movimento de internacionalização dos
direitos humanos, organismos e tratados internacionais; sistema nacional de
proteção aos direitos humanos: Constituição Federal de 1988, legislação
infraconstitucional, políticas públicas, ações afirmativas e jurisprudência.
• 3. Teoria crítica dos direitos humanos: crítica à abordagem tradicional;
direitos humanos como produtos culturais; problemas e desafios.
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METODOLOGIA
• Aulas expositivas e interativas com apresentação de slides e
outros recursos didáticos.
• Análises de casos de violações de direitos humanos.
• Resolução de questões.
• Leituras.
• Debates.
• Trabalhos e pesquisas.
• Obs.: Ponto central da disciplina – leituras obrigatórias.
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AVALIAÇÕES
• AV1 – PROVA: Avaliação objetiva aplicada em sala de aula
abrangendo o conteúdo ministrado nas aulas da disciplina: 40 pts.

• AV2 – PROVA: Avaliação objetiva aplicada em sala de aula


abrangendo o conteúdo ministrado nas aulas da disciplina: 40 pts.

• TRABALHO: Trabalho de pesquisa, leituras obrigatórias ou estudo


de casos específicos: 20 pts.

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AVALIAÇÕES
• PROVAS: Duas avaliações objetiva/subjetiva aplicadas em sala de
aula abrangendo o conteúdo ministrado nas aulas da disciplina e,
também, das leituras obrigatórias.

• TRABALHOS:
• Leituras Obrigatórias e Resenhas Críticas
• Entrega de um relatório final contendo todas as resenhas, atividade e
relatórios de todas as leituras realizadas no decorrer do semestre.

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BIBLIOGRAFIA BÁSICA
• MALHEIRO, Emerson. Direitos humanos. 2. ed., rev. atual. e
reform. Rio de Janeiro: Método, 2022. Recurso Online.
• MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria
geral: comentários aos arts. 1º ao 5º da Constituição da República
Federativa do Brasil: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Atlas,
2021. Recurso Online.
• PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional
internacional. 21. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2023.

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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
• FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos humanos fundamentais. 15. ed. São
Paulo: Saraiva, 2016.
• MELLO, Cleyson de Moraes. Direitos humanos: da construção histórica aos dias atuais.:
Cátedra Daisaku Ikeda. Rio de Janeiro: Processo, 2021. Recurso Online.
• PAULA, Renato Francisco dos Santos (Org.). Direitos humanos em tempos de barbárie:
questionar o presente para garantir o futuro. São Paulo: Cortez, 2022. Recurso Online.
• PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e justiça internacional: um estudo comparativo
dos sistemas regionais europeu, interamericando e africano. 9. ed. São Paulo: Saraiva,
2018. Recurso Online.
• RIOS, Mariza; CARVALHO, Newton Teixeira. Direitos humanos e democracia em
construção: desafios atuais. Belo Horizonte: Conhecimento, 2020. Recurso Online.
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LEITURAS OBRIGATÓRIAS
•1. Serão apresentadas durante as aulas.
•2. Apresentação de relatórios de leitura ou resenhas crítica
sobre cada texto proposto. A forma para apresentação de cada
leitura será apresentada no decorrer das aulas.
•3. Um trabalho integrado contendo cada uma das resenhas ou
relatórios de leitura até 27/11 (Turma A) e 23/11 (Turma B).
•4. Valor – 20 pontos.

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Introdução ao Estudo dos


Direitos Humanos

Aula 1:
O “humano” dos direitos humanos
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LEITURA OBRIGATÓRIA 1
• DOUZINAS, Costas. Sete teses sobre os direitos humanos. In: Hendu. Vol. 7, p. 206-218.
Disponível em: https://periodicos.ufpa.br/index.php/hendu/article/view/6016/4840. Acesso
em: 21 ago. 2023.

•1. Ler o texto – Tese 1, sobre a ideia de “humanidade”.


•2. Apresentar um relatório de leitura contendo: bibliografia,
pontos principais do texto, especialmente: a) a distinção
proposta; b) a reflexão de Annah Arendt; c) as ideias cristãs; d)
a compreensão do termo proposto por Douzinas para substituir
“humanidade”.
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LEITURA OBRIGATÓRIA 2
• CARTA CAPITAL. “Direitos humanos para humanos direitos”. Carta
Capital. Política, 8 nov. 2012. Disponível em:
https://www.cartacapital.com.br/politica/direitos-humanos-para-
humanos-direitos/. Acesso em: 18 ago. 2023.

•1. Ler o texto sobre “O Almeidinha e os direitos humanos”.


•2. Escrever uma redação sobre a frase “Direitos humanos para
humanos direitos”, tendo como base o texto.

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PAIVA, M. Disponível em: www.redes.unb.br. Acesso em: 25 maio 2014

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https://bancarios.com.br/s/declaracao-dos-direitos-humanos-completa-70-anos/

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“Se todos os seres humanos têm direitos


iguais, e todos os povos têm direitos iguais,
então não podemos manter o tipo de
sistema desigual.”

Immanuel Wallerstein
1930 – 2019, EUA

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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Immanuel Wallerstein foi um sociólogo americano criador da
“Teoria do Sistema Mundial” ou “Sistema-Mundo”, uma crítica
contundente ao “capitalismo global” e aos sistemas de
organização desse capitalismo, que espalha desigualdades
entre os indivíduos, populações e países.

•Seu pensamento rechaça a ideia de “imprescindibilidade” do


capitalismo, sendo a teoria “Sistema-Mundo” fundamental
para os movimentos “antiglobalização” e “antissistêmicos”.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Historicamente, a palavra “humanidade”, que deu origem ao
termo “humanos”, foi cunhada para evidenciar um contexto de
discriminação ou inferiorização de pessoas ou de um grupo.

•Na origem, “humanos” representava um grupo específico de


pessoas dotadas de direitos exclusivos a esse grupo, o que
lembra a ridícula máxima: “Direitos humanos, apenas, para
humanos direitos”, que se tornou muito comum em programas
de TV – “Datena”, “Cidade Alerta”, “Ratinho” etc.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•A Revista Carta Capital utilizou essa máxima como lema de
um personagem brasileiro, o “Almeidinha”.

•Almeidinha é um personagem criado para representar o


“tiozão conservador e intolerante”, um típico brasileiro médio,
um “humano direito”, que não se conforma quando os
“direitos humanos” são destinados a “humanos fora-da-lei” ou
utilizados em defesa da dignidade dessas pessoas. (Veja o
texto “Almeidinha e os Direitos Humanos”).
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•“Humano” veio do Latim “humanus”, que funciona como um
adjetivo da palavra “homo” (homem), que deriva,
provavelmente, da palavra “humus” (terra) – uma referência a
“seres terrestres” em oposição aos “seres divinos”. Em latim
“homo” abrange seres machos e fêmeas.

•No hebraico a palavra para “homem” vem do primeiro ser


humano criado: “Adão”, termo que deriva, também, da palavra
“adamá” (terra) – “homem” formado do pó da terra”.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Costas Douzinas, em seu texto: “Sete teses sobre os direitos
humanos” nos ajuda a entender essa relação da palavra
“humano”, no contexto romano, como discriminação.

•Nas sociedades antigas não se desenvolveu um conceito


abrangente de espécie humana ou de humanidade. Havia
uma mentalidade de “discriminação” entre os membros da
sociedade que eram “os humanos” (membros da
humanidade) e “os não humanos” (fora da humanidade).
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•A palavra “Humanitas” surgiu na República Romana como
tradução da palavra grega “Paideia” – “formação integral” do
“homem” ou do “cidadão grego” – “completo, perfeito, pleno e
capaz de exercer seu papel livre na sociedade”.
•Pedagogia: “arte de quem conduz a paideia ou a formação do
homem grego; paidós = criança; agogos = condutor;
paidagogos = condutor das crianças até a fase adulta.

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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Assim como a paideia grega era destinada apenas aos
homens livres, aos verdadeiros “cidadãos gregos”, a
expressão humanitas, para os romanos, aplicava-se
exclusivamente àqueles indivíduos que compunham o grupo
de “humanos”.

•A expressão humanitas representava em Roma o grupo de


pessoas perfeitas, plenas, ou seja, cidadãos livres.

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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Com o passar dos tempos, os romanos usaram o conceito de
humanitas para distinguir entre o homo humanus (homem
humano) e o homines barbari (homem bárbaro).

•O primeiro representa o homem romano educado,


familiarizado com a cultura e a filosofia gregas, submetido ao
jus civile, tutelado e protegido pelas leis romanas.

•O segundo representava um grupo conhecido como bárbaros,


não-romanos e não educados.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•O conceito de “humano” tem origem como um fator de
discriminação, representando os “seres humanos” dotados de
liberdade, direitos e privilégios, enquanto os “seres não-
humanos”, representados pelos bárbaros, seres “fora-da-lei”,
que não eram alcançados pelos direitos e privilégios.

•A compreensão de “humano” como expressão da


universalidade e da dignidade humana destinada a todos é
bem mais recente, fruto do “humanismo”, a partir do séc. XIV.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•É interessante associar a cultura romana à cultura grega,
especialmente, porque a origem da chamada “democracia
ateniense”, que representava a participação do homem livre
no destino da “polis” (cidade-estado grega) foi uma
democracia exclusivista e de discriminação.

•Somente os “cidadãos”, seres livres, dotados de direitos,


liberdade e autonomia, participava dos destinos da Polis, o
que excluía a maioria da sociedade.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•A influência greco-romana no conceito de cidadania, por
exemplo, é perceptível, uma vez que a palavra “cidadania”
vem do latim “civitas”, que significa cidade. Assim, “cidadão” é
aquele que pertence à cidade.
•A expressão decorre do conceito de “polis”, a cidade-estado
grega. Participar da ordem social, inclusive, na direção do
destino da cidade e da criação das leis, era papel do cidadão
grego, mas, apenas dos livres. Os escravos e os libertos não
estavam incluídos nesse papel.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Os romanos usaram a palavra “cidadania” para indicar a
situação política do cidadão romano sujeito de direitos.
•Cidadão é o indivíduo que possui direitos e pode exercê-los
no contexto da vida social e em relação com o Estado.
•Atualmente, a cidadania, conforme diz Dalmo Dalari: “(…)
expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa uma
possibilidade de participar ativamente da vida e do governo
de seu povo”.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Por incrível que pareça, a palavra “humanos” ou
“humanidade” surgiu para discriminar, distinguir grupos de
pessoas melhores que as outras.

•Eram “humanos” aqueles que se enquadravam em certos


padrões, sendo perfeitos, completos e merecedores do
atributo da “humanidade” e sujeitos de direitos, pois, eram
protegidos pelo estatuto jurídico dos romanos.

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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•É interessante observar, mas essa concepção, ainda, está
presente na construção da subjetividade, especialmente,
quando encontramos defensores radicais de expressões
como: “Direitos humanos apenas para humanos direitos”.
•Para muitos, os direitos humanos, a dignidade, a saúde, o
lazer, o bem-estar social, a educação, a cultura etc. são
direitos apenas de um determinado grupo de pessoas.

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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Apenas como exemplo:
•Para o Instituto Água Sustentável (IAS), organização não-
governamental criada em 2016 para promover o uso
sustentável da água e pesquisas científicas sérias sobre o
tema, quase metade da população brasileira (104 milhões de
pessoas) não tem acesso a esgoto tratado e,
aproximadamente, 35 milhões de pessoas não desfrutam de
água potável.

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•Outro exemplo seria a chamada “aporofobia” encrustada na
sociedade brasileira, inclusive, presente no imaginário popular
a partir de personagens marcantes como o “Primo Rico &
Primo Pobre”, um quadro do humor da televisão brasileira, do
programa “Balança Mas Não Cai”, da Rede Globo.

•Interpretados pelos atores Paulo Gracinto e Brandão Filho, a


alegria do Primo Rico era desprezar o Primo Pobre. A graça
era humilhação, desprezo pelo pobre que “nasceu pra sofrer”.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Chico Anysio, também, capturou muito bem o fenômeno da
aporofobia enraizado na cultura popular ao construir um
quadro de humor, cujo personagem, que se tornou um
sucesso, sabia, como ninguém, humilhar o pobre.
•O personagem do político Justo Veríssimo foi criado para o
programa Chico City, da Rede Globo, mas esteve presente no
recente Zorra Total, da mesma emissora.

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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Justo Veríssimo de Santo Cristo representava um político
corrupto e populista, que destilava seu ódio cruel contra os
pobres, proferindo um dos bordões mais conhecidos de Chico
Anysio e que poderia ser tomado, até mesmo, como um
slogan da aporofobia no Brasil:

•“Tenho horror a pobre. Quero que o pobre se exploda”, uma


manifestação inequívoca de sua terrível aversão e ojeriza
pelo pobre.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Não nos esqueçamos que a vida imita a arte.

•Recentemente, um Ministro de Estado, no Brasil fez críticas à


possibilidade do pobre viajar de avião, empregada doméstica
passear na Disneylândia e porteiro de prédio estudar em
universidade.

•Esse fenômeno é comum em muitos ambientes –


universidades, aeroportos, escolas, clubes, condomínios etc.
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Sugestão de Leitura

A palavra aporofobia apareceu pela


primeira vez em um artigo da autora
em 1995, ganhou força, recentemente,
quando foi incorporada ao dicionário
espanhol, especialmente, à sua versão
digital, organizado pela Real
Academia Espanhola (RAE), além de
ter sido eleita a palavra do ano de
2018, na Espanha, pela Fundação
Espanhol Urgente – Fundéu.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Na esteira de um silogismo antigo na lógica de Aristóteles em
referência a Sócrates podemos dizer que “todos os homens
são humanos, mais alguns são mais humanos do que outros”.
•Com essa mesma referência temos, também, outra máxima
conhecida: “Todos os homens são iguais, mas alguns são
mais iguais do que outros”.

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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Uma distinção das sociedades antigas que ajuda a entender
esse contexto da palavra “humano” é a discriminação entre
“homem livre” e “escravo”.
•Nas sociedades antigas ocidentais (entre gregos e romanos)
sempre houve essa distinção e essa discriminação.
•Ainda hoje podemos ver reflexos disso como muita clareza
em nossa sociedade.

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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•O Cristianismo, no primeiro século, no contexto do Império
Romano, ainda, apresentou uma espécie de antítese à ideia
romana de humanitas, passando a considerar a todas as
pessoas como “humanos” ou iguais.

•Alguns grupos de cristãos originários fizeram a distinção e a


palavra “humanitas” passou a receber um sentido diferente,
próximo da ideia de universalidade, para abranger todas as
pessoas – livres ou escravos.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Em textos cristãos do primeiro século, por exemplo, o
Apóstolo Paulo, que era cidadão romano, estabeleceu a ideia
do universalismo e igualdade:

•“Pois todos vós sois filhos de Deus... Portanto, não pode


haver judeu nem grego; nem escravo nem livre; nem homem
nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo.” (Gálatas
3.26 e 28).

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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


• Além disso, os movimentos cristãos do primeiro século procuraram
desenvolver não só a universalidade, como, também, a solidariedade
para a manutenção da vida e bem estar de todos, igualmente.

• “Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum.


Vendiam suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre
todos, à medida que alguém tinha necessidade. Da multidão dos que
creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava
exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém,
lhes eram comum.” (Atos dos Apóstolos 2.44-45; 4.32).
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•Por essa razão, indubitavelmente, as bases do “Humanismo”
e das ideias de universalidade, dignidade humana e
igualdade desenvolvidas a partir do séc. XIV, sedimentadas e
sistematizadas a partir do séc. XVIII, com o “Iluminismo”,
decorrem desse primeiro universalismo desenvolvimento do
primeiro século da Era Cristã, no contexto do Cristianismo.

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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Para a fé cristã incipiente no primeiro século, todos são filhos
de Deus e iguais.
•No entanto, esse ideal cristão não durou muito tempo, pois o
próprio Cristianismo, séculos mais tarde, desenvolveu
aspectos de discriminação, quando distinguiu entre “filhos de
Deus” e “pagãos”.
•Essa distinção, inclusive, serviu para que a escravidão se
desenvolvesse e fosse justificada no Ocidente cristão.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Os pagãos se assemelharam aos bárbaros romanos, e
precisavam de conversão e civilização, assim como os povos
indígenas, os africanos etc. Uma classe superior sempre se
afirmando como “mais humana” que as outras.
•O “outro racial” ou o “membro de outra raça” sempre foi tido
como “desumano” ou “subumano”, o que pode estar na base
de uma série de distorções e atrocidades sociais, como a
escravidão, o racismo, o nazismo, a aniquilação, o genocídio,
o extermínio, a xenofobia, a aporofobia etc..
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•SUGESTÃO DE LEITURA:

•HABERMAS, Jürgens. A inclusão do outro: estudos de


teoria política. São Paulo: Loyola, 2002.

•Trata-se de um trabalho analítico sobre o universalismo,


compreendido a partir das estruturas relacionais da alteridade
e da afirmação das diferenças – o diverso no universo, a partir
da compreensão das responsabilidades para a inclusão do
outro.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Parece que essa é a grande questão por trás dos direitos
humanos – a alteridade, as diferenças, a convivência pacífica
e equilibrada com as diferenças no seio das sociedades.

•Por isso, uma das questões cruciais apontadas por Flávia


Piovesan (Direitos humanos e o direito constitucional
internacional, Saraiva, 2013, p. 57) e que se apresenta no
estudo dos direitos humanos é que este não rege as relações
entre iguais, mas entre diferentes.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Expressões que já se tornaram prevérbios, máximas
universais, mesmo que, ao sabor das ironias, ajudam a
compreender essa questão:

•“O sol nasce para todos; a sombra, apenas, para alguns”.

•“Todos os homens são iguais; alguns são mais iguais que os


outros...”

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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Essa última expressão é uma inversão de George Orwell, em
seu intrigante livro: “A revolução dos bichos”, de 1945, que
propôs: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais
iguais que outros”.

•O livro é uma metáfora. Em uma fazenda, a revolução dos


animais contra a opressão dos humanos começa quando os
bichos expulsam os homens e criam sete mandamentos,
sendo o mais importante: todos os bichos são iguais.
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O “HUMANO” DOS DIREITOS HUMANOS


•Não demorou muito para que os porcos, animais mais
letrados do que os outros, começassem a adulterar as regras
para construir vantagens e acrescentassem ao sétimo
mandamento a expressão: “...mas alguns são mais iguais que
os outros”.

•O livro, que recebeu outro título: “O triunfo dos porcos”,


termina com a celebre expressão: “...já não é mais possível
distinguir a cara dos porcos da dos homens”.
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DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Assembleia Geral das Nações Unidas


10 de dezembro de 1948

Artigo I

Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e


direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em
relação umas às outras com espírito de fraternidade.
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DIREITOS HUMANOS NO COTIDIANO


Adélia Prado “Toda e qualquer lei só contribui efetivamente
para a melhora da humanidade quando está
escrita no coração. Apenas saber que todos
nascemos livres e iguais, como ensina o primeiro
artigo da bela Declaração dos Direitos Humanos,
ainda é pouco. É preciso viver esta igualdade dia
por dia, começando de nossos relacionamentos
familiares e domésticos. E é muito difícil
conceder igualdade ao diferente de nós em raça,
classe social, inteligência, temperamento, gostos
e crenças.”
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“É muito difícil conceder a alguém um julgamento


justo quando já o julgamos em nosso íntimo,
acreditar que o meu empregado e o meu filho têm os
mesmos sonhos, desejos, a mesma sensibilidade,
medos e aspirações. Que analfabeto e letrado, pobre
e rico necessitam de amor, teto, comida, saúde e
atenção. Reconhecer direitos iguais entre pessoas e
nações é fazer a minha parte para que a paz e a
alegria aconteçam no mundo. Nascemos iguais,
vivamos como iguais, para a única vitória que
interessa, a vitória do amor entre os homens.”

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