Você está na página 1de 140

Educação Física

na Educação
Infantil e nos
Anos Iniciais
PROFESSORES
Dra. Vânia de Fátima Matias de Souza
Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira
Me. Élen Carla da Costa Baraldi

Acesse o seu livro também disponível na versão digital.

Quando identificar o ícone QR-CODE, utilize o aplicativo


Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online.
O download do aplicativo está disponível nas plataformas:
Google Play App Store


NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação
Cep 87050-900 - Maringá - Paraná - Brasil
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.


Núcleo de Educação a Distância. SOUZA, Vânia de Fátima Matias de;
OLIVEIRA, Amauri Aparecido Bássoli de; BARALDI, Élen Carla da Costa.
Educação Física na Educação Infantil e nos Anos Iniciais. Vânia de
Fátima Matias de Souza, Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira, Élen Carla da
Costa Baraldi. Maringá - PR: Unicesumar, 2022.

140 p.
ISBN 978-85-459-2157-8
“Graduação em Educação Física - EaD”.
1. Educação 2. Física 3. Infantil. 4. EaD. I. Título.
 CDD - 22ª Ed. 796
Impresso por:

Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB-9-1679

DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor
Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio
Ferdinandi.

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia
Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de
Design Educacional Paula R. dos Santos Ferreira Head de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas
Thuinie M.Vilela Daros Head de Recursos Digitais e Multimídia Fernanda S. de Oliveira Mello Gerência de
Planejamento Jislaine C. da Silva Gerência de Design Educacional Guilherme G. Leal Clauman Gerência de Tecnologia
Educacional Marcio A. Wecker Gerência de Produção Digital e Recursos Educacionais Digitais Diogo R. Garcia
Supervisora de Produção Digital Daniele Correia Supervisora de Design Educacional e Curadoria Indiara Beltrame
Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecília Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Lavígnia da
Silva Santos Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Aguinaldo José Lorca Ventura Júnior Revisão Textual Ariane
Andrade Fabreti Ilustração Wellington Vainer. Fotos Shutterstock.

2
Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos
princípios éticos e profissionalismo, não somente para entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil.
oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para
conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, continuar relevante, a instituição de educação precisa ter
profissional, emocional e espiritual. pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compro-
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de misso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é pro-
Londrina) e em mais de 500 polos de educação a dis- mover a educação de qualidade nas diferentes áreas
tância espalhados por todos os estados do Brasil e, do conhecimento, formando profissionais cidadãos que
também, no exterior, com dezenas de cursos de gradua- contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade
ção e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros justa e solidária.
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano.
Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de Vamos juntos!
minha história meu currículo

Profª Drª Vânia de Fátima Matias de Souza

Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Maringá


(UEM/2014). Mestre em Educação Física pela UEM (2009). Gradua-
da em Pedagogia pela Faculdade Estadual de Educação, Ciências e
Letras de Paranavaí (Fafipa/2000) e graduada em Educação Física pela
Universidade Estadual de Londrina (UEL/2000). Professora Adjunta
do Departamento de Educação Física da UEM. Líder do Grupo de
Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar (GEEFE/CNPq). Tem
experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Física
Escolar, atuando, principalmente, nos seguintes temas: infância,
estágio supervisionado, formação profissional e políticas públicas.

Link: http://lattes.cnpq.br/7642081335847897
minha história meu currículo

Prof Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira

Pós-Doutor em Educação Física pela Universidade Federal do Rio


Grande do Sul (UFRGS/2015). Doutor em Educação Física pela Uni-
versidade Estadual de Campinas (Unicamp/1999). Mestre em Ciência
do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM/1988). Especialista em Educação Física Infantil pela Universi-
dade Estadual de Maringá (UEM/1984). Graduado em Educação Física
pela Universidade do Norte do Paraná (Unopar/1979). Atualmente,
é Professor Associado nível C da UEM. Integrante do Programa de
Pós-Graduação Associado UEM-UEL em Educação Física, com orienta-
ções de mestrado e doutorado. Tem experiência na área de Educação
Física, com ênfase em Métodos e Técnicas de Ensino e Metodologia
da Pesquisa, atuando, principalmente, nos seguintes temas: formação
profissional, currículo, atividade física e saúde, educação física esco-
lar, atividade física e obesidade. Consultor ad hoc do Ministério da
Educação/SESu/Inep para comissões de avaliação institucional e de
autorização e reconhecimento de cursos em Educação Física. Atuou
como Consultor do Ministério do Esporte na Secretaria Nacional de
Esporte, Lazer e Inclusão Social (Snelis) como Coordenador Pedagó-
gico Nacional dos Programas de Esporte Educacional.

Link: http://lattes.cnpq.br/5845836567219056
provocações iniciais

Educação Física na Educação Infantil e nos Anos Iniciais

Seja bem-vindo(a)! Para tanto, o livro foi organizado e escrito com o


Caro(a) aluno(a), este material é fruto de reflexões intuito de levar você a entender a importância do plane-
e análises que buscam contribuir para que as aulas jamento para as aulas de Educação Física escolar. Assim,
de Educação Física escolar, abordadas na Educação organizamos as discussões trazendo tanto reflexões
Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental quanto análises acerca do conceito e construção da
possam avançar cada vez mais! Afinal, reconhece- infância bem como traremos os apontamentos legais da
mos que o caminho trilhado por esta disciplina, no Educação Física escolar, que te ajudarão a compreender
universo escolar, tem sido uma trajetória marcada como se dá o processo de legalização da disciplina.
pela busca de uma ação pedagógica que valorize o Outro ponto central às ações didático-pedagógicas
desenvolvimento da criança, por meio do respeito apresentadas neste livro é a questão do planejamento,
às individualidades dela, da potencialização de ca- o qual está estruturado e organizado por um passo a
pacidades e da valorização de experiências, cultura passo voltado para a construção de um bom progra-
e conhecimentos deste ser. ma escolar. Com o objetivo de te auxiliar nesta tarefa,
Neste livro, trazemos uma proposta de inter- você terá, na sequência, os mapas conceituais, que te
venção por meio da qual você poderá construir um ajudarão, aluno(a), a compor esse planejamento para
planejamento para as aulas aplicadas no contexto os contextos da Educação Infantil e das séries iniciais.
de atuação da Educação Física escolar, a partir da Traremos, ainda, apontamentos sobre a nova
valorização das potencialidades da criança. Aliás, Base Nacional Comum Curricular (BNCC) demons-
é ela — a criança — o centro de nossas ações e in- trando como o conhecimento está organizado por
terações, então, é por este motivo que trazemos meio de competências e como os conteúdos são
argumentos e apontamentos os quais contribuirão entendidos na Educação Infantil (com os campos de
na organização dos conteúdos. experiências) e na Educação Fundamental (área de
As discussões, aqui, apresentadas ocorrem a par- linguagens), a fim de que seja possível planejar as
tir das relações estabelecidas entre as temáticas do aulas de modo que a aprendizagem se torne signi-
movimento e da corporeidade; do movimento e dos ficativa ao(à) aluno(a), levando-a para a vida.
jogos; do movimento e do esporte; do movimento Esperamos que você aproveite a leitura, reflita
em expressão e ritmo; por fim, do movimento e da e analise todos os caminhos e ações tratadas, para
saúde. O nosso intuito é que você tenha um rol de que as aulas de Educação Física possam romper com
conhecimentos que te possibilitem estruturar um os discursos fragmentados de uma prática pouco
planejamento adequado à realidade das crianças estruturada. Ótimos estudos!
no contexto escolar. Abraços.
sum ário

UNIDADE I
8 O CONCEITO DE INFÂNCIA: NA
SOCIEDADE E NA ESCOLA

UNIDADE II
28 A EDUCAÇÃO INFANTIL
E A LEGISLAÇÃO

UNIDADE III
48 PLANEJANDO A EDUCAÇÃO
FÍSICA ESCOLAR

UNIDADE IV
86 SISTEMATIZAÇÃO E AÇÕES
PEDAGÓGICAS NA
EDUCAÇÃO INFANTIL

UNIDADE V
108 PLANEJANDO AS AULAS
PARA AS SÉRIES INICIAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL
O CONCEITO DE INFÂNCIA: NA
SOCIEDADE E NA ESCOLA

Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira


Dra. Vânia de Fátima Matias de Souza

Oportunidades de aprendizagem

• Analisar a construção histórica da infância e as suas relações com o campo


escolar.
• Compreender o conceito de infância abordado na sociedade contemporânea,
a partir das finalidades do atendimento às crianças da Educação Infantil e das
séries iniciais nas instituições educativas.
• Entender as implicações da formação do conceito de infância nas relações
escolares.

Plano de Estudo

• O Conceito de Infância: Uma Construção Histórica


• A Infância no Espaço Escolar: da Assistência ao Caráter Educativo das Instituições
de Educação Infantil
• A Escola e a Infância: A Institucionalização da Criança e da Infância
unidade

I


As ações educativas vão se constituindo ao longo da histó- Buscando respostas a estes questionamentos e a ou-
ria, enquanto possibilidades de transformações sociais que tros que podem surgir ao longo da caminhada, vamos
partem das práticas individuais e se expandem às coletivas. aos estudos!
Nesse sentido, estamos iniciando um momento para refle-
tirmos sobre a compreensão da infância ao longo da histó- O CONCEITO DE INFÂNCIA: UMA
ria da sociedade bem como a sua estruturação no campo da CONSTRUÇÃO HISTÓRICA
Educação Infantil e das séries iniciais da Educação Básica,
como uma possibilidade de repensarmos e reorganizarmos
a nossa prática cotidiana escolar.
Partimos deste pressuposto por entendermos que,
para iniciarmos os estudos acerca da infância, é preci-
so, em um primeiro momento, conhecer e reconhecer o
papel que a criança tem ocupado na família e na socie-
dade, ao longo dos séculos, para que possamos chegar à
compreensão dos caminhos que a infância, na educação
brasileira, tem ocupado.
Revisitar alguns fatos marcantes da história e dos
caminhos que a infância tem trilhado na sociedade nos
possibilita revisitar a história social à qual estamos sub-
metidos. Assim, temos condições tanto para refletirmos
quanto para analisarmos os acontecimentos como pos-
sibilidade de compreender as práticas que se estabele- Caro(a) aluno(a), navegar pela história da infância
cem. Para Coelho (2001, p. 31), “estudar a história é ain- implica estar disposto(a) a buscar, junto aos aconteci-
da escolher a melhor forma ou o recurso mais adequado mentos que se deram na sociedade contemporânea, as
de apresentá-la”. Por esta razão, optamos por apresentar, dimensões e compreensões que foram desencadeadas a
como caminho histórico desta unidade, os apontamen- partir das relações sociais, políticas e econômicas exis-
tos e as considerações acerca da infância, no seu enten- tentes, e relacioná-las ao papel que a criança foi consti-
dimento a partir da realidade social para, então, tratar tuindo e ocupando junto à família, ao Estado e ao campo
dos espaços educativos. educacional.
Para tanto, é imprescindível situarmos a compreen- Para os estudos relacionados à Educação Física in-
são da infância no contexto social e histórico, a fim de fantil e das séries iniciais, consideraremos a criança e
chegarmos à representação e ao papel da infância nas ins- a infância como objetos centrais das discussões bem
tituições de ensino na sociedade contemporânea. Assim, como dos encaminhamentos propostos. Afinal, para tra-
precisamos refletir sobre as seguintes questões: quem é a tarmos das questões da corporalidade e do movimento
criança a que nos referimos, no espaço escolar, na atuali- das ações infantis, neste momento da escolarização, é
dade? Como podemos entender e tratar a infância, a par- necessário, primeiramente, entendermos de quem es-
tir dos paradigmas e das propostas educacionais? tamos falando, a fim de, na sequência compreendermos

10
EDUCAÇÃO FÍSICA

como trabalhar os conhecimentos, princípios, normas e A ideia de infância tem se constituído de formas dis-
valores escolares, respeitando tanto os limites quanto as tintas, pois, em cada tempo e espaço social, a criança é
fragilidades das crianças, destacando as suas potenciali- vista, principalmente, a partir das relações e necessida-
dades nas aulas de Educação Física. des sociais. Veja o que dizia Platão (2010, p. 302) acerca
Com este objetivo, caro(a) aluno(a), iniciamos pelo da criança da realidade ateniense de sua época:
entendimento básico acerca do que se trata a infância.
Segundo as palavras de Steinberg e Kincheloe (2001, p. [...] entre todas as criaturas selvagens, a criança é
a mais intratável; pelo próprio fato dessa fonte de
11), “a infância nada mais é que um artefato social e his-
razão que nela existe ainda ser indisciplinada, a
tórico, e não uma simples entidade biológica”. A partir criança é uma criatura traiçoeira, astuciosa e suma-
desta definição, você deve estar se questionando por que mente insolente, diante do que tem que ser atada,
o estudo deste período da vida faz-se necessário, neste por assim dizer, por múltiplas rédeas [...].
momento. A resposta a este questionamento está no fato
de que é preciso estudar e revisar o significado de in- Esta afirmação retrata a visão, na Antiguidade, do que
fância, na história da sociedade, a partir de perspectivas era ser criança: significava ser um sujeito que deveria
pedagógicas e sociais, para que possamos realizar as de- ser disciplinado, com regras rígidas e poucas oportuni-
vidas análises conjunturais e estruturais que envolvem dades para explorar o seu potencial, pois ele poderia ser
a criança na sociedade contemporânea no contexto es- prejudicial ao convívio social. Afinal, a infância era en-
colar; então, será possível planejar, assim como orientar tendida como uma fase da vida construída, socialmente,
ações que levem a uma ação pedagógica. Esta ação deve portanto, a criança deveria ser educada de tal forma que
possibilitar à criança desenvolver as suas potencialida- não se tornasse um adulto indisciplinado em relação às
des motoras, sociais e comportamentais, considerando regras de convívio social.
as diversas infâncias e realidades que se apresentam nes- A história da infância sempre esteve associada às
tes espaços de intervenção pedagógica. ações e aos contextos sociais que envolvem todas as re-
O conceito de infância não é algo linear na histó- lações existentes entre a política, a influência da cultura,
ria. Ela tem se alterado e, para chegarmos ao conceito de da economia e dos espaços a que estamos submetidos
infância brasileira, deve-se, em um primeiro momento, em cada tempo social. Para Ariès (2006), o sentimento
entender a conjuntura social global a qual tem se consti- de infância traduz a evolução histórica de suas várias
tuído em torno do assunto. concepções, desde o não reconhecimento até o reconhe-
Com esta compreensão, o nosso primeiro passo, cimento de que as crianças são diferentes dos adultos,
nesta unidade, será compreender o conceito de infân- culminando com as novas invenções e sentimentos de
cia na sociedade contemporânea a partir dos estudos infância na Modernidade.
de Ariès (2006), Durkheim (1996), Guiraldelli (1996), É importante destacar que o trato com a infância, no
Bujes (2001), Steinberg e Kincheloe (2001) e Heywood que se refere a pesquisa, valorização e/ou preocupação
(2004): como tem se constituído tal conceito, como ele enquanto formação humana, pertencente às artes e ao
está sendo apresentado, considerado junto ao universo convívio social, foi, durante um longo período da his-
familiar, escolar e social, no decorrer da história da so- tória da sociedade, muito ignorada e, por vezes, estere-
ciedade contemporânea. otipada. Este fato evidencia-se a partir da afirmativa de

11


[...] pode-se apresentar um argumento contunden-


Ariès (2006, p. 50), ao dizer, em seus estudos, que “até por te para demonstrar que a suposta indiferença com
volta do século XII, a arte medieval desconhecia a in- relação à infância nos períodos medieval e moder-
fância ou não tentava representá-la. É provável que não no resultou em uma postura insensível com rela-
houvesse lugar para a infância nesse mundo”. ção à criação de filhos. Os bebês abaixo de 2 anos,
em particular, sofriam de descaso assustador, com
Cabe lembrar que, até por volta do século XVIII, as os pais considerando pouco aconselhável investir
imagens, gravuras e retratos das crianças foram escas- muito tempo ou esforço em um ‘pobre animal sus-
sos ou quase inexistentes e, quando retratadas, não eram pirante’, que tinha tantas probabilidades de morrer
caracterizadas como crianças, mas como adultos em com pouca idade (HEYWOOD, 2004, p. 87).
miniatura, ou seja, desde a roupa, a vestimenta e a pos-
tura até o comportamento, ali, representado eram de um Como consequência, o trato com a infância e o desen-
adulto em tamanho reduzido. Heywood (2004, p. 23) volvimento da criança, naquele momento, refletia-se no
vai além, e afirma que “a ‘descoberta’ da infância teria de contexto da educação da criança pequena, o que signifi-
esperar pelos séculos XV, XVI e XVII, quando então se cava que dos adultos responsáveis por essa criança não
reconheceria que as crianças precisavam de tratamento era exigida nenhuma preparação.
especial, ‘uma espécie de quarentena’, antes que pudes-
sem integrar o mundo dos adultos”. A criança não traz mais do que a sua natureza de
indivíduo. A sociedade se encontra, a cada nova
Esta forma de olhar a criança começou a se modificar,
geração, como que em face de uma nova tabula
lentamente, a partir do século XIX, com os estudos rea- rasa, sobre a qual é preciso construir quase tudo de
lizados e publicados por Ariès (2006). De acordo com o novo. É preciso que, pelos meios mais rápidos, ela
autor, a preocupação com a infância ocorrerá a partir do agregue ao ser egoísta e social, que acaba de nascer,
instante em que o campo historiográfico passa a romper uma natureza capaz de vida moral e social, eis aí a
obra educação (DURKHEIM, 1996, p. 42).
com as rígidas regras da investigação tradicional, institu-
cional e política, para abordar temas e problemas vincu-
lados à história social. Nesse sentido, o autor contrapõe as Em sua análise histórica, Ariès (2006) assume e enfatiza
afirmativas de que a infância foi esquecida ou ignorada: que a infância do século XIX e início do século XX pas-
segundo ele, o que aconteceu, na verdade, foi decorrente sou por fenômenos de clausura, pois as crianças eram se-
das dificuldades empíricas e científicas de estruturar e re- paradas dos adultos por faixa etária e tinham assegurada
conhecer a infância a partir da perspectiva histórica. uma educação voltada aos bons hábitos, o que garantiria
Essas relações ocorridas entre o pensar, agir, concei- uma infância inocente e civilizada. Desse modo, a vida
tuar, valorizar, pesquisar e/ou preocupar-se com a forma- social em um espaço público era substituída por um es-
ção do ser humano na sua infância tem se transformado paço privado. Nesse sentido, a criança — tida como ir-
de acordo com cada tempo histórico. Por meio de cada racional — não teria meios psicológicos para o pensar e
realidade social e econômica, o olhar para a infância foi o agir socialmente, deixando de aproveitar tal momento
modificado, visando a atender às demandas que surgiram para aprender atitudes, socialmente, valorizadas, como
no decorrer de cada momento da sociedade. Em séculos nos aponta De Mause (1991).
distintos, este interesses e preocupação foram alterados. Elias (1994), em seu texto A Sociedade dos Indiví-
Até o século XIII e início do século XIX, por exemplo: duos, traz à tona outras reflexões acerca da infância ao

12
EDUCAÇÃO FÍSICA

enfatizar que, ao nascer, o indivíduo tem uma depen- isso, a responsabilidade com a criança bem como o inte-
dência natural do outro para se tornar social, o que res- resse por ela. Assim, “os governos começaram a se preo-
salta os processos sociais presentes na infância. O autor cupar com o bem-estar e com a educação das crianças”
afirma, ainda, o seguinte: os valores ou as crenças, as re- (LEVIN, 1997, p. 254).
presentações, os sistemas simbólicos constituídos pelas As mudanças e transformações em relação ao con-
crianças e o significado das suas experiências, ao longo ceito de infância se alteraram, em especial, a partir do
de seu processo civilizador, têm se modificado ao lon- século XVIII, isto porque, de acordo com Guiraldelli
go da história da sociedade, em função das mudanças (1996, p. 15):
sociais, assim, passou-se a entender que à medida que
a criança se relaciona com os indivíduos à sua volta, a [...] o século XVIII, em que um novo sentimento
dos adultos em relação às crianças, já caracteriza
subjetividade dela depara-se com novos mundos os
a presença social da noção de infância, o que pro-
quais transformam tanto o comportamento social dessa porciona o advento de uma pedagogia que advoga
criança quanto as suas funções psicológicas. uma disciplina autônoma, e não mais heterônoma.
Elias (1994, p. 27) afirma, também, que “o indivíduo Se Locke trabalha com o objetivo de estabelecer as
só se humaniza através do outro, a criança, isolada des- condições da liberdade dos homens, Montaigne,
antes dele, quer que os adultos façam da criança
sas relações, evolui, na melhor das hipóteses, para a con-
um homem – o que já significa considerar que ela
dição de um animal humano semi-selvagem”, afinal, não é um ‘adulto em miniatura’ – e Rousseau, de-
pois dele, quer que os adultos deixem a criança ser
[...] a criança não é apenas maleável ou adaptável criança, de modo que a infância aconteça, pois ela é
em grau muito maior que os adultos. Ela precisa o que há de melhor nos homens.
ser adaptada pelo outro, precisada da sociedade.
[...] Na criança, não são apenas as ideias ou apenas
o comportamento consciente que se veem cons- Evidentemente que essa mudança na perspectiva de co-
tantemente formados e transformados nas relações locar a infância como um período que compreendia o
com o outro e por meio delas (ELIAS, 1994, p. 30). desenvolvimento global da criança “só foi possível por-
que também se modificaram na sociedade as maneiras
De acordo com os estudos realizados tanto por Ariès de se pensar o que é ser criança e a importância que foi
(2006) quanto por Elias (1994), as crianças, inicialmen- dada ao momento específico da infância” (BUJES, 2001,
te, eram vistas, apenas, como seres biológicos, no entan- p. 13).
to elas passaram a ser vistas e compreendidas na sua Chegamos à atualidade entendendo não ser possível
totalidade, então, chegam à sociedade moderna como classificar a infância como, simplesmente, uma fase do
seres que necessitavam de muitos cuidados e, também, desenvolvimento humano ou que o crescimento natural
de rígida disciplina, a fim de serem transformadas em da criança se dá, exclusivamente, por razões biológicas,
adultos, socialmente, aceitos. Logo, não era só a família a pois essa visão seria muito reducionista. Tal entendimen-
responsável pela criança, o Estado começa a ocupar um to constituiu-se durante as transformações da ciência
papel importante junto a esta categoria da sociedade. produzida na sociedade moderna; esta, ao longo dos tem-
Segundo Levin (1997), a partir da Revolução Fran- pos, passou a caracterizar e a buscar a compreensão da
cesa, em 1789, modificou-se a função do Estado e, com criança e da infância a partir dos fenômenos psicológicos,

13


das influências sociais, culturais e históricas — realidade preocupações pedagógicas, sanitárias e sociais, atentas ao
a qual é, sempre, modificada, culturalmente —. Na reali- desenvolvimento das chamadas crianças pequenas.
dade brasileira, o conceito de infância tem sido o mesmo Com estas compreensões, chegamos à atualidade
adotado no Ocidente. De acordo com Steinberg e Kin- entendendo a infância como um momento de desenvol-
cheloe (2001, p. 11), “na realidade, o que nos últimos anos vimento do ser humano que deve ser considerado na sua
do século XX foi rotulado como uma infância tradicio- integralidade: entendemos que a criança possui caracte-
nalmente ocidental tem apenas cerca de 150 anos”. Isso rísticas e necessidades próprias, influencia e, também,
significa que, ainda, temos uma história da infância muito é influenciada pelo contexto onde encontra inserida,
recente, com escassos estudos que se ocupam do desen- porque pertence a um meio social cuja imersão cultural
volvimento integral da criança para além do biológico. a permite entender o mundo que a cerca, e o contexto
Essas mudanças podem ser justificadas de acordo escolar surgirá, neste compasso, como um importante
com Sarmento (2005a), pelo fato de que, historicamen- meio dessa transformação.
te, associamos a infância à imagem da criança, ou, mais
especificamente, a determinada etapa cronológica do A INFÂNCIA NO ESPAÇO
desenvolvimento humano, fruto de perspectivas biolo- ESCOLAR: DA ASSISTÊNCIA AO CARÁTER
gistas e psicologizantes. Para Agamben (2005, p. 59), essa EDUCATIVO DAS INSTITUIÇÕES DE
perspectiva modificou-se ao longo dos tempos, afinal, EDUCAÇÃO INFANTIL

[...] a infância que aqui está em questão não pode


ser simplesmente algo que precede cronologica-
mente a linguagem e que, a uma certa altura, cessa
de existir para versar-se na palavra, não é um pa-
raíso que, em um determinado momento, aban-
donamos para sempre a fim de falar, mas coexiste
originalmente com a linguagem, constitui-se aliás
ela mesma na expropriação que dela efetua, produ-
zindo a cada vez o homem como sujeito.

Observamos que a palavra “infância” foi se modificando


ao longo dos tempos: passa de um ser infante — “não fa-
lante” (ARIÈS, 2006) — para ser valorizada enquanto um
ser em formação essencial e como parte da sociedade à
qual pertence. Contribuíram para essa mudança de pen-
samento os estudos de Comenius (1592-1670), Locke
(1632-1704), Rousseau (1712-1778), dentre outros que Reconhecemos que a história da infância tem sido mar-
possibilitaram tornar o século XX o que Becchi (1994) cada por inúmeras transformações e, ao refletirmos
chama de “século das crianças”, no qual os estudos sobre a acerca do desenvolvimento da criança e da infância no
infância se colocaram como centro das teorias, pesquisas, espaço escolar, temos que os compreender a partir das

14
EDUCAÇÃO FÍSICA

diversas possibilidades e perspectivas históricas de cada tura e são nela produzidas. A infância, segundo Castro
contexto e espaço social. (2007, p. 4, grifos da autora), “deriva da palavra infante
Segundo Kuhlmann Junior (1991, p. 5), “a compa- e evoca um período da vida humana. É um período que
ração com o passado precisa superar a linearidade para poderíamos chamar de construção/apropriação de um
não obscurecer o presente que se quer pôr em questão”. sistema de comunicação, de signos e sinais destinados a
Tendo este entendimento, compreender o conceito de fazerem-se ouvir”. Em síntese, tratamos, aqui, de infân-
infância bem como o seu desenvolvimento às ações do cia, pois consideramos, dentre outros, as transformações
cotidiano pedagógico escolar se torna essencial para culturais, sociais, políticas, econômicas e pedagógicas
que essas ações possam ser planejadas de acordo com que ocorrem na sociedade num dado tempo e espaço,
o momento o qual cada criança está passando e, como transformações que se configurarão, mas também se de-
consequência, elas poderão influenciar o processo de senvolverão de acordo com o contexto familiar, social e
aprendizagem escolar. cultural, tendo ou não um papel social significativo.
Os conceitos de criança e infância são diferenciados, Nesse contexto, consideraremos as ideias de Sar-
porém se encontram, intimamente, ligados. É necessá- mento (2005a), que entende a infância como uma cons-
rio entender que, ao tratarmos da criança, estamos nos trução social, com diferenças diacrônicas, ou seja, his-
referindo a uma fase com desenvolvimento e ações de- toricamente construídas e transformadas no decorrer
sejadas para determinado momento cronológico. Quan- dos anos. Há, também, diferenças sincrônicas, as quais
do nos referimos ao conceito de infância, referimo-nos revelam que, em um mesmo tempo, as formas de com-
a uma categoria ampla, na qual se considera a criança preender a infância podem ser distintas, conforme a lo-
um ser social e cultural. Para esclarecer estas definições, calização geográfica, as religiões, a etnia, a classe social, o
fazemos uso das palavras de Sarmento (2005a, p. 4): gênero, enfim, são muitas as variáveis que interferem na
maneira de representar a infância, porque é nesse perí-
a infância é independente das crianças; estas são odo que há a possibilidade de vivenciar diversas experi-
os atores sociais concretos que em cada momento
ências em contextos diferenciados.
integram a categoria geracional; ora por efeito da
variação etária desses atores, a ‘geração’ está conti- Evidentemente que, como vimos, essas noção e pre-
nuamente a ser ‘preenchida’ e ‘esvaziada’ dos seus ocupação relacionadas à infância ocorrerão, efetiva e
elementos constitutivos concretos. intensamente, ao longo do século XX, período o qual se
constituiu como um século de inúmeras transformações
A fim de entendermos melhor a definição do termo na sociedade e, em especial, para a infância, para as res-
criança, recorreremos ao Estatuto da Criança e do Ado- ponsabilidades tanto de cuidar quanto de educar a crian-
lescente (BRASIL, 1996). Nele, temos estabelecido que se ça pequena. Vale lembrar que, neste mesmo século, o Es-
considera criança a pessoa até os 12 anos de idade incom- tado passou a ter, efetivamente, o dever obrigatório com
pletos. Kramer (2006) vai além e afirma que as crianças a Educação Infantil, a qual começou a ser vista como um
são sujeitos sociais e históricos os quais produzem cul- momento essencial ao desenvolvimento da criança.

15


Muitas transformações aglutinaram-se com a pre- —como instituição que representa espaço de educação
sença do Estado como um dos gerenciadores e respon- e transmissão de valores e normas bem como de expres-
sáveis pela educação da criança, influenciando e refle- são da afetividade entre os seus componentes.
tindo, diretamente, em mudanças na construção e no Caro(a) aluno(a), tendo compreendido o trajeto his-
ideal de famílias da sociedade contemporânea. Confor- tórico da infância, passaremos a buscar o entendimento
me Perez (2012), essas transformações nas finalidades de como essas mudanças no conceito e no ideal de famí-
da família resultaram das mudanças que aconteceram lia e de sociedade influenciaram o campo da educação
no processo histórico, social, econômico e cultural — no atendimento às crianças que necessitavam de cuida-
muitos aspectos contribuíram para a caracterização do dos, afinal, a educação também precisou se adequar para
grupo familiar tal qual o concebemos em nossos dias satisfazer a estas novas demandas sociais.

16
EDUCAÇÃO FÍSICA

A escola começa a exercer um papel essencial na Para ampliar a compreensão desta afirmativa, vale
formação do sujeito e, para tanto, o devir pedagógico nos voltarmos para Kramer (2001), que destaca a Se-
torna-se significativo às ações desencadeadas nesse con- gunda Guerra Mundial como impulso para o desenvol-
texto. De acordo com Saviani (1997, p. 17), o trabalho vimento da Educação Infantil:
educativo é entendido como “o ato de produzir, direta e
in­tencionalmente, em cada indivíduo singular, a humani- [...] a segunda guerra mundial provocou um
novo impulso ao atendimento pré-escolar, vol-
dade que é produzida histórica e coletivamente pelo con-
tando-se principalmente para aquelas crianças
junto dos homens”. Na prática cotidiana escolar, há de se cujas mães trabalhavam em indústrias bélicas
considerar todos os conhecimentos e elementos produzi- ou naquelas em que substituíam o trabalho mas-
dos ao longo da história — por meio da ciência e do em- culino. Por um lado, foi introduzido o conceito
pirismo — sobre quem é a criança, como é ser criança e o de assistência social para as crianças pequenas,
sendo ressaltada a sua importância para a co-
que significa a infância, visando um trabalho pedagógico
munidade na medida em que liberava a mulher
qualificado, com condições de oportunizar o desenvolvi- para o trabalho (KRAMER, 2001, p. 27).
mento nesses espaços educativos de educação formal.
No compasso das discussões acerca do papel da Como consequência deste movimento necessário de
escola, surge a discussão bem como a necessidade de ingresso da mulher no mundo do trabalho, a Educação
uma modalidade de ensino que dê conta das chama- Infantil passa a ter, como objeto de ação e discussão, os
das crianças pequenas: surgem aí os primeiros indí- elementos culturais que precisavam ser assimilados pe-
cios da Educação Infantil. Evidentemente, essa moda- los sujeitos inseridos na sociedade. Isso significava que,
lidade teve origens diversas, mas a unanimidade dos para buscar o desenvolvimento da industrialização e do
estudos relata que a sua origem sempre esteve atre- comércio, ou seja, para que a sociedade fosse transfor-
lada às necessidades econômicas e sociais, associada mada, era preciso que a mulher também passasse a fazer
às diferentes necessidades dentro do contexto históri- parte deste cenário, daí a necessidade de se efetivar um
co-social onde as famílias e as crianças encontram-se local onde as crianças pequenas pudessem ficar sob de-
inseridas. Segundo Dornelles (2005, p. 28): terminados cuidados e iniciarem a sua formação. Assim,
foram concebidas as primeiras creches:
[...] entender as condições históricas da emergên-
cia do ‘sentimento de infância’ possibilita também [...] a creche, ao longo da história, foi concebida
a compreensão de que esse sentimento começa a como refúgio assistencial de crianças desprovidas
se fazer necessário a partir do século XVI. Inventá- de cuidados, ou seja, criança pobre, para uma fa-
-lo foi uma estratégia de governo para preservar as mília que não sabe cuidar, tem até seus dias atu-
crianças de diversas práticas, como a dos hospícios ais definido a infância com um caráter privativo,
de menores abandonados, a criação dos filhos por desconsiderando as políticas públicas de proteção
amas-de-leite e a educação artificial das crianças e direitos a educação da infância. A creche como
ricas. Acima de tudo, de impedir a morte das crian- substituta da família, cabe, portanto, organizar ati-
ças. O governo dos infantis enquanto população vidades que atendam aos cuidados tipicamente do-
constitui-se num certo sentido como uma tomada mésticos, deslocados do conhecimento e da cultura
de poder sobre as crianças, a fim de fazê-las viver. na qual está inserida (REGO, 2006, p. 8).

17


“A memória do brincar, hoje, encontra-se apa-


gada pelo excesso de estímulos oferecidos
incessantemente, em um ritmo veloz e instan-
tâneo. A exaltação do objeto eleva minúsculos
brinquedos à extrema potência, para dali a
alguns dias serem substituídos por outros,
novas versões tecnológicas, mais avançadas,
melhores. Hoje, a dimensão do social confere
ao sujeito um lugar onde o singular encontra-
-se fragmentado na multiplicidade que o rege.
[...] Os games e jogos virtuais não têm a mes-
ma dimensão simbólica de uma brincadeira
com carrinhos ou bonecas. São formas que
as crianças encontram de falar do universo
que as cerca, de apropriar-se dele ao navegar
Após a criação do jardim de infância de Froebel, mui-
nas vias eletrônicas, mas a automatização que
tas versões foram criadas para atender à demanda, mas,
rege os jogos virtuais apresenta efeitos de
com o passar do tempo, esse espaço educativo tornou-se apagamento do tecido social que se construi-
parte da escola e foi integrado a ela. Na definição de Sa- ria em presença.
cristán (2005, p. 125): [...] O brincar é tecido por histórias e a traves-
sia pelos brinquedos feitos com arte, elabora-
a escola e as práticas que nela se desenvolvem não dos com as mãos das crianças e dos adultos
nasceram nem são somente cenários do desen- que as cercam, representa uma via possível
volvimento, nos quais os atores podem melhorar
de construir suas bordas”.
ou fracassar em suas atuações: a maneira de viver
nelas é que faz o ator. A criança vai à escola, e esta Fonte: Meira (2003, p. 75-85).
prepara a criança.

A escola é, portanto, um espaço para desenvolver, transfor-


mar, modificar e ser modificado a partir de todas as mu- O cuidar e o educar na Educação Infantil
danças que são implícitas no percurso escolar, isso porque,
segundo Bissoli (2005), na escola, a criança amplia os seus A função da escola e, em especial, da Educação Infan-
interesses além do mundo infantil e dos objetos, estende til, tem sido um emaranhado de ações cujos significa-
as possibilidades de relações sociais, estabelece interações dos e funções oscilam entre o cuidar e o educar, entre
mais diversificadas com os adultos, compreende, paulatina- o fazer pedagógico e o assistencialismo. Esta dicotomia
mente, as atitudes e as várias formas de atividades humanas, cuidar/educar se refletirá, também, no campo das políti-
tais como: trabalho, lazer, produção cultural e científica. cas públicas educacionais, inclusive nas políticas sociais.

18
EDUCAÇÃO FÍSICA

Segundo Campos (2013), no Brasil, a educação da in- ensino. Dentre eles, destacam-se os pressupostos es-
fância surge como princípio de uma política assistencial tabelecidos no Referencial Curricular Nacional para
associada ao processo civilizatório, o qual teve, por sua a Educação Infantil (BRASIL, 1998), no qual se tem a
vez, como base, as necessidades individuais e não cole- proposição de que deve haver a indissociabilidade das
tivas, evidenciando as responsabilidades individuais e ações de cuidar e educar crianças de zero a seis anos de
não a questão do direito social. Esta ideia influenciou a idade, sem hierarquizar os profissionais ou a instituição
Educação Infantil enquanto instituição que tinha, como que atuam com as crianças pequenas. De acordo com o
função inicial, a ação civilizatória e assistencial, mas cujo documento, educar significa:
papel assumido foi o de compensar carências.
Outro paradigma relacionado à Educação Infan- [...] propiciar situações de cuidados, brincadeiras e
aprendizagens orientadas de forma integrada e que
til está vinculado ao termo utilizado. De acordo com
possam contribuir para o desenvolvimento das ca-
Vieira (1999), as instituições dessa modalidade, durante pacidades infantis de relação interpessoal, de ser e
a história, tiveram dupla trajetória: os jardins de infân- estar com os outros em uma atitude básica de acei-
cia, mais tarde, chamados de pré-primário e pré-escolar, tação, respeito e confiança, e o acesso a educação
davam ênfase ao aspecto educacional, sendo destinados poderá auxiliar o desenvolvimento das capacida-
des de apropriação e conhecimento das potencia-
para as crianças ricas, com métodos e atividades peda-
lidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas,
gógicas voltadas ao desenvolvimento social e cognitivo na perspectiva de contribuir para a formação de
e a outras habilidades; por outro lado, nas instituições crianças felizes e saudáveis (BRASIL, 1998, p. 23).
denominadas creches e escolas maternais, era enfatiza-
da a guarda, a alimentação e os cuidados com saúde e a Por outro lado, o cuidar, no documento, está definido
higiene, além da formação de hábitos de bom compor- como:
tamento na sociedade, sendo destinadas para as crianças
pobres e abandonadas. [...] parte integrante da educação, embora exigir
conhecimentos, habilidades e instrumentos que
Essa relação entre o educar e o cuidar no ambiente
extrapolam a dimensão pedagógica, ou seja, cuidar
da Educação Infantil gerará conflitos, também, na atu- de uma criança em um contexto educativo deman-
ação junto às questões pedagógicas a serem desenvol- da integração de vários campos de conhecimentos
vidas nessas instituições. Conforme descreve Campos e a cooperação de profissionais de diferentes áreas
(2013), é muito importante reconhecer quais são os (BRASIL, 1998, p. 24).

objetivos que se deseja alcançar com a criança, pois eles


orientarão as ações. É preciso definir se os objetivos são Ainda que haja tanto conflitos quanto distanciamentos
cuidar e educar, aliando as questões pedagógicas com as entre as ações pedagógicas e as delimitações com os cui-
questões ligadas a higiene, alimentação e cuidados em dados básicos de subsistência da criança nesses espaços
geral, ou se o objetivo é, apenas, um ou outro. educacionais e o que seria o seu objetivo central, tanto os
Afinal, qual seria a função da Educação Infantil? documentos orientadores quanto os estudiosos da área
Para amenizar essas dicotomias e compreender os ob- entendem que, na Educação Infantil, o educar está rela-
jetivos deste período educacional, devemos recorrer cionado a preparar para o convívio junto à sociedade,
aos documentos norteadores para essa modalidade de para o mundo do trabalho, e o cuidar, ao bem-estar re-

19


lacionado às questões básicas de subsistência da criança, A história da Educação Infantil brasileira não diferiu das
tais como alimentação e higiene. Ao longo da história da demais realidades sociais. De acordo com Kuhlmann Ju-
educação e da infância, a Educação Infantil passa a as- nior (1991), a constituição dessa modalidade educacio-
sumir, na sociedade, o pedagógico que auxilia no desen- nal apresentou, como marco representativo, os anos 40
volvimento integral da criança na atualidade, atrelado às do século XX, quando ela começou a sofrer transforma-
necessidades de desenvolvimento econômico e político ções. O autor também destaca o fato de que o processo
de determinado grupo social. de legalização do ensino da Educação Infantil se consti-
tuiu, efetivamente, a partir das definições da Constitui-
A ESCOLA E A INFÂNCIA: A ção Nacional de 1988 (BRASIL, 1988, on-line).
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA CRIANÇA Outro destaque legislativo para a Educação Infantil
E DA INFÂNCIA ocorreu nos anos 90, com as criação e implementação do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), por meio
da Lei nº 8.069 (BRASIL, 1990, on-line), a qual regula-
mentou os artigos da Constituição Federal e esclareceu as
ações que deveriam ser realizadas, efetivando a legalidade
dos direitos da criança a partir de uma normativa legal.
Além da Constituição de 1988 e do ECA em 1990, a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação — Lei nº 9.394/96
— legalizou, de forma efetiva, as ações políticas enquan-
to predisposições, orientações e normativas de uma le-
gislação educacional na qual se reconhece, oficialmente,
que as creches e pré-escolas para crianças de zero a seis
anos são parte integrante do sistema educacional, sen-
do consideradas a primeira etapa da Educação Básica
(BRASIL, 1996, on-line).
Mesmo com as definições legais, no entanto o ob-
jetivo da Educação Infantil ainda causa polêmica na
sociedade, haja vista que, de acordo com Craydi (2001,
p. 24), é preciso estar claro que as “creches e pré-escolas
têm uma função de complementação e não de substitui-
ção da família, como muitas vezes foi entendido”. Nesse
sentido, estes espaços educativos devem estar integra-
dos às diversas realidades e necessidades das infâncias,
considerando as realidades das famílias bem como o
contexto cultural, econômico e social das comunidades,
para que se possa oferecer o que a criança necessita ao
seu desenvolvimento.

20
EDUCAÇÃO FÍSICA

Vale ressaltar que a Educação Infantil a qual temos crianças nas suas singularidades. Devem ser espaços nos
abordado se refere ao estabelecido pela lei, compreendendo quais a ludicidade, a imaginação e as interações sociais
o atendimento em creches e pré-escolas. Segundo Kramer sejam os eixos estruturantes considerados parte das cul-
(2001, p. 49), a diferença entre ambas está no fato de que turas infantis (SARMENTO, 2005b).
Esta relação entre infância e educação, aspectos
[...] creche e pré-escola, em geral, distinguidas ora conceituais e orientações normativas e pedagógicas
pela idade das crianças incluídas nos programas –
acontecerão, no entendimento de Molina e Lara (2008,
a creche se definiria por incluir crianças de 0 a 3
anos e pré-escola de 4 a 6 –, ora pelo seu tipo de p. 3.982), pela compreensão de que
funcionamento e pela sua extensão em termos so-
ciais – a creche se caracterizaria por uma atuação [...] infância, do mesmo modo que a educação, não
diária em [horário integral], e a pré-escola, por um pode ser compreendida fora de um contexto socio-
funcionamento semelhante à escola, em [meio pe- econômico e político. Por isso, quando se fala em
ríodo]. Há ainda uma terceira classificação que diz infância, não é possível se referir à criança sem se
respeito à vinculação administrativa: a creche se considerar o tempo, o lugar e a estrutura social na
subordinaria, assim, a órgãos de caráter médico ou qual ela está inserida.
assistencial, e a pré-escola ao sistema educacional.
Logo, infância, educação, políticas públicas e ações peda-
A Educação Infantil é considerada a primeira etapa da gógicas estão, sempre, entrelaçadas, afinal, para desenvol-
educação básica que tem por objetivo o desenvolvimen- ver as proposições e encaminhamentos nessa instituição
to integral da criança, em seus aspectos físico, psicológi- de ensino, é preciso seguir as normativas da legislação.
co, intelectual e social. Constitui-se em um espaço pri- De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
vilegiado para interação e aprendizagens significativas, cação Nacional, nos Art. 29, 30 e 31, específicos da Edu-
onde o lúdico é o foco principal (BRASIL, 1996). cação Infantil (BRASIL, 1996, on-line), tem-se estabele-
cido essa modalidade de ensino como a primeira etapa
da Educação Básica. Consolidando essa lei, o Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL,
Se a Educação Infantil é uma necessidade so-
1998) também traz as orientações para as ações nesses
cial, por que os organismos nacionais e interna- espaços educativos, definindo a Educação Infantil como
cionais tratam esses espaços educativos como um espaço onde se deve considerar que
espaços onde o educar sucumbe ao cuidar?
[...] as crianças possuem uma natureza singular, que as
caracteriza como seres que sentem e pensam o mun-
do de um jeito muito próprio. E isto através das in-
terações que estabelecem desde cedo com as pessoas
Segundo Kramer (2006), deve-se entender que a Educa- que lhe são próximas e com o meio que as circunda,
ção Infantil e o Ensino Fundamental são indissociáveis as crianças revelam seu esforço para compreender o
e, para tanto, devem assumir a apropriação da cultura mundo em que vivem as relações contraditórias que
presenciam, por meio das brincadeiras, explicitam as
como suporte à educação das crianças, respeitando-se,
condições de vida a que estão submetidas e seus an-
em contrapartida, nas duas modalidades de ensino, as seios e desejos (BRASIL, 1998, p. 21).

21


Para além dos documentos orientadores que legis- Informe de Seguimiento de la EPT en el Mundo: Bases
lam e deliberam acerca da Educação Infantil brasileira, Sólidas – Atención y Educación de la Primera Infan-
há os documentos provenientes das agências e organis- cia; Situação Mundial da Infância 2007. Mulheres e
mos multilaterais, os quais trazem orientações acerca da Crianças: O Duplo Dividendo da Igualdade de Gênero
compreensão do conceito de infância a partir das aná- (UNESCO, 2007); Pobreza infantil en América Latina
lises descritas em seus documentos. Rosemberg (2001, y el Caribe (CEPAL, 2010); Metas Educativas 2021: la
p. 27-28) postula que “as políticas de educação infantil Educación que Queremos para la Generación de los
contemporâneas nos países subdesenvolvidos têm sido Bicentenarios; e o relatório Educação para Todos 2000-
fortemente influenciadas por modelos ditos ‘não formais’ 2015: Progresso e Desafios (UNESCO, 2015).
a baixo investimento público, propugnados por organis- Dale (2004) ainda destaca os documentos para a
mos multilaterais”. Na concepção dessa autora, as influ- Educação Infantil propostos à América Latina com o
ências sobre os projetos da Educação Infantil brasileira, formato de projetos, sendo eles a Agenda Iberoame-
na atualidade, provêm, em especial, do Banco Mundial. ricana para a Infância e a Adolescência, o Programa
Outro destaque é a afirmativa de Campos (2013). Se- Ibero-Americano de Educação e o Projeto Regional de
gundo a autora, nas últimas décadas, cresceram as discus- Educação para América Latina e Caribe, projetos de-
sões acerca das crianças e dos seus direitos, inclusive sendo senvolvidos e coordenados pela Organização dos Esta-
este o tema de diferentes conferências e reuniões interna- dos Ibero-Americanos, pela Organização dos Estados
cionais e regionais. Dentre os direitos aí referidos, o direito Americanos e pela Unesco.
à educação, sobretudo à Educação Infantil, configurou-se Dentre esses documentos, a Educação Infantil é tra-
como uma questão fundamental para os governos locais. tada, com destaque, no Plano Ibero-Americano de Edu-
De acordo com Dale (2004), as agências e organismos mul- cação (OEI, 1998), no qual as discussões e determinações
tilaterais, tais como a Unesco e a Unicef, têm influenciado, se configuraram a partir da proposição de que deveriam
de forma significativa, o desenvolvimento das ações políti- ser aplicadas e direcionadas ações denominadas, no do-
cas e governamentais voltadas à Educação Infantil. cumento, como “políticas compensatórias e intersetoriais
Dentre esses documentos que, na atualidade, têm para populações vulneráveis” (OEI, 1998, p. 4), deixando
transformado as relações, objetivos e metas a serem de- claro os elementos que consolidam o objetivo e o desen-
senvolvidas na Educação Infantil, destacam-se as orien- volvimento da Educação Infantil, uma vez que essa mo-
tações continuadas da Conferência de Jomtienbem, dalidade de ensino deve ser uma forma de
como: Propuesta de Proyecto Regional de Educación
para América Latina y el Caribe (UNESCO, 2002); Sín- [...] fortalecer os programas destinados à primeira
infância e dinamizar a produção de conhecimentos
tesis Regional de Indicadores de la Primera Infancia;

22
EDUCAÇÃO FÍSICA

sobre a infância na região, apoiando o esforço de


pesquisa educacional baseada nas experiências in- cada tempo e espaço, vinculado a um fazer social neces-
tersetoriais com populações vulneráveis, e difundir sário a cada momento vivido pela sociedade.
as lições aprendidas (OEI, 1998, p. 5). Vimos que a infância, em suas múltiplas facetas, tem
sido abordada, no espaço escolar, como uma ação neces-
Segundo Rosemberg (2001), a entrada de organiza- sária ao desenvolvimento do ser humano para a vida em
ções internacionais como a Unesco e a Unicef, no âm- sociedade, mas, na Educação Infantil, persevera a dico-
bito da Educação Infantil na América Latina, trouxe tomia de como tratar a criança inserida em seu espaço
implicações referentes aos incentivos e às políticas de escolar, vagando entre as ações de cunho assistencialista
indução à expansão desse nível de atendimento edu- e as práticas de caráter, totalmente, educativos.
cacional por meio das instituições não formais, mas o A partir da análise estrutural e conjuntural do con-
seu apoderamento suscitou uma mudança no modus ceito de infância segundo o lócus social, percebemos
operandi desses organismos, que começaram a se en- a existência de uma linha tênue entre o ser criança e a
volver nos projetos educativos destinados à infância e necessidade de se estruturar e/ou normatizar as ações
à juventude em seus países-membros. políticas e governamentais de tal modo que a finalidade
As ações desencadeadas enquanto normativas serão do atendimento às crianças da Educação Infantil e das
detalhadas na unidade seguinte, mas é preciso que você séries iniciais nas instituições educativas seja por meio
entenda, caro(a) aluno(a), que a Educação Infantil, ao lon- de ações de corresponsabilidade, nas quais Estado e fa-
go da sua constituição histórica, se oficializa enquanto um mília comunguem dos mesmos anseios, a fim de tornar
campo educacional passível de provocar mudanças, mas as relações escolares bem-sucedidas.
que também é visto, ainda, inúmeras vezes, como um es- Tendo essa compreensão, é possível que você tenha
paço, apenas, destinado aos cuidados básicos da criança. chegado ao final desta unidade com o entendimento
Ainda há de se repensar e refletir acerca do que se de que a Educação Infantil é uma modalidade de ensi-
espera para a Educação Infantil, mas muitos passos já fo- no com características próprias, que as crianças envol-
ram dados. O planejar pode ser um gesto essencial para vidas nesse contexto devem ter suas particularidades
que os resultados nas áreas sociais possam ser refletidos respeitadas e que essa é uma modalidade integrada ao
a partir do reconhecimento e da valorização da infância. conjunto da estrutura educacional a qual compõe a
Caro(a) aluno(a), no decorrer desta unidade, trou- Educação Básica no país. Assim, teremos um(a) edu-
xemos as discussões acerca do conceito de infância, cador(a) reflexivo(a) com condições de compreender
discutimos e refletimos sobre o fato de que a infância que as ações locais são, sempre, originárias ou influen-
se constituiu, historicamente, enquanto artefato social ciadas pelo global e, portanto, a Educação Infantil não
e histórico que foi e tem sido moldado de acordo com se difere ou se distancia deste fato.

23
agora é com você

1. O conceito de infância tem se alterado durante o decorrer da história da so-


ciedade. Releia o conteúdo a respeito dos principais acontecimentos que in-
fluenciaram a construção do conceito de infância existente na atualidade. Em
seguida, explique como esse conceito está modificando o trato pedagógico
no campo da Educação Infantil.
2. A infância é vista de formas diferenciadas, em cada tempo histórico. Explique
como a infância era vista na Antiguidade até chegar aos dias atuais.
3. Os documentos provenientes das agências e organismos multilaterais in-
fluenciam, de forma significativa, os objetivos de atendimento da Educação
Infantil. Explique como esses documentos influenciam a ação na prática des-
sa educação.
4. A Educação Infantil é uma fase de desenvolvimento essencial para a criança.
Com isso em mente, quais as contribuições da Educação Física à Educação
Infantil?
5. O conceito de infância altera-se, sempre, ao longo da história. É possível afir-
mar que, na atualidade, a infância não é valorizada?

24
LEITURA
COMPLEMENTAR

Educação Infantil: Jogos e Brincadeiras em construção, modelagens, reconhecimento de figuras e


Pauta símbolos, desenhos e linguagem, que trabalham o sim-
A educação infantil brasileira tem sido um tema recor- bólico da criança e, assim, posteriormente são codifi-
rente nos debates educacionais que tratam das políticas cadas e aparecem como o processo de leitura e escrita
da educação, das questões pedagógicas, do seu papel (alfabetização).
na sociedade atual e do trato com a infância. Kramer
(2006) corrobora essa afirmativa ao defender a ideia de Conhecendo e Conceituando Jogos e
que nos últimos vinte anos no Brasil têm-se destacado Brincadeiras
as discussões da educação infantil nos fóruns estadu- A compreensão de infância, cultura, jogos e brincadeiras
ais de educação, especificamente no tocante ao finan- infantis pode ser tratada a partir de diversos olhares. A
ciamento e ao papel que a educação infantil ocupa no opção foi partir do pressuposto e entendimento de uma
cenário da educação. [...] infância enquanto categoria social e da criança como ser
Para Ferrero e Teberosky (1999, p. 105), devemos con- produtor de cultura (PEREIRA, 2013), que, por meio da
siderar que interação com os seus pares no contexto escolar, produz
uma série de culturas, que se tornam conhecimentos e
[...] as crianças possuem conceitualizações sobre a
natureza da escrita muito antes da intervenção de práticas infantis que serão transformados de modo a

um ensino sistemático. Porém, além disso, essas adquirir novos conhecimentos, construindo, configuran-
conceitualizações não são arbitrárias, mas sim pos- do e reconfigurando seus saberes e seu universo. [...]
suem uma lógica interna que as torna explicáveis Na visão de Vygotsky (1979), existem duas concepções
e compreensíveis sob um ponto de vista psicoge- importantes do jogo e do ato de brincar: a imaginação
nético. e as regras. O jogo e a brincadeira são atividades que
Afinal, a educação infantil deve ser vista como um espa- ajudam a recriar a realidade da criança com objetos sim-
ço de experiência, em que o uso da linguagem deveria bólicos. Brincando, a criança representa papéis do mun-
partir de uma temporalidade, de um processo de cria- do adulto que irá desempenhar mais tarde, desenvolve
ção que possibilite ao pensamento se entrelaçar e nave- capacidades físicas, verbais e intelectuais, tornando-se
gar por outros universos e assim encontrar semelhan- capaz de se comunicar. O jogo e o brinquedo são fatores
ças, construir e desconstruir suas ações. de comunicação mais amplos do que a linguagem, pois
[...] Para Abramovay e Kramer (1984), inicialmente, as propiciam o diálogo entre pessoas de culturas diferen-
atividades trabalhadas no campo escolar aparecem ba- tes.
sicamente como ações e desenvolvem a coordenação Atualmente, os jogos também podem se constituir de
motora e sensorial das crianças; em seguida vêm as ati- um brinquedo ou brincadeira que a criança executa por
vidades que aparecem como imitações, dramatizações, puro prazer e com vontade de exercer. De acordo com

25
LEITURA
COMPLEMENTAR

Brougère (1996), o brinquedo seria munido de significa- Os Jogos e Brincadeiras no Processo de


dos, carregando consigo uma representação de infância, Alfabetização
e a brincadeira deveria desvendar essa representação, Quando brinca, a criança não está preocupada com a
decodificando o brinquedo. [...] aquisição de conhecimentos ou com o desenvolvimento
de qualquer habilidade – assim, a atividade pedagógica/
Os Jogos e Brincadeiras no Desenvolvimento lúdica proposta com determinados jogos ou brincadei-
nos Primeiros Anos ras devem ter por base a conduta dos educandos, suas
[...] espontaneidades e estímulos externos durante as brin-
Vygotsky (1991) explica que existe uma grande relação cadeiras. Segundo Kishimoto (2000, p. 26), “o jogo edu-
entre o jogo e a aprendizagem, em que a criança executa cativo utilizado em sala de aula desvirtua o conceito de
papéis, assume as regras das brincadeiras e desempe- brincar ao dar prioridade para o produto”, ou seja, para
nha funções para as quais ainda não está apta e prepa- a aprendizagem e as habilidades adquiridas.
rada na realidade. Vygotsky defende que o ato de brin- Os jogos e brincadeiras estimulam a curiosidade e o de-
car permite que a criança aprimore a sua imaginação, senvolvimento de habilidades físicas e cognitivas que
fazendo com que ela conviva e entenda melhor o grupo auxiliam posteriormente o processo alfabetizador. Se-
social no qual está inserida. [...] gundo o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Cer-
Segundo Kishimoto (1994), o jogo está vinculado à ima- ta (PNAIC) (Brasil, 2012), o processo de alfabetização
ginação, aos símbolos e ao pensamento. A criança pré- é um processo cognitivo complexo – a criança precisa
-escolar aprende por modo espontâneo e intuitivo, e o não só decorar o formato e nome dos códigos, mas re-
brinquedo, se usado com propósito pedagógico, trans- construir em sua mente propriedades complexas des-
forma-se em um instrumento muito importante e essen- se sistema, ou seja, ela precisa compreender sua lógica
cial para a aprendizagem e o desenvolvimento intelec- funcional. No primeiro ano do ensino fundamental, os
tual infantil. A autora ainda esclarece que o jogo, para alunos deverão iniciar, aprofundar e consolidar alguns
vários professores da educação infantil, é visto como conhecimentos convencionais e, como dito no PNAIC, a
uma prática desnecessária, que não ajuda na educação educação infantil se constitui de um espaço e tempo de
por não apresentar características sérias. Entretanto, ao vivências e experimentações que poderão ser transpor-
jogar os alunos mostram muita concentração e dedica- tadas no momento da alfabetização da criança.
ção nas atividades lúdicas. Fonte: Bonora, Krüger e Souza (2016, p. 1-9)

26
material complementar

Título: Crianças Invisíveis


Ano: 2006
Sinopse: o documentário Crianças Invisíveis, lançado em 2006, mostra a reali-
dade de um grupo de crianças, muitas delas em situação de vulnerabilidade,
que vivem nos seguintes países: Brasil, Itália, Inglaterra, Sérvia, Burkina Faso,
China e Estados Unidos. O filme retrata a infância construída por crianças que
coletam sucata nas ruas de São Paulo ou que roubam para viver em Nápoles
e no interior da Sérvia. Mostra a realidade vivida por essas crianças de forma
explícita, denunciando problemas, erros e dificuldades que elas enfrentam no seu dia a dia.
Comentário: este documentário permitirá trazer à tona as suas lembranças de infância, mas também
te fará refletir sobre o que estamos fazendo pelas crianças da nossa realidade. Assista: https://www.
youtube.com/watch?v=T51eWnlV9DU

27
A EDUCAÇÃO INFANTIL
E A LEGISLAÇÃO

Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira


Dra. Vânia de Fátima Matias de Souza

Oportunidades de aprendizagem
• Apresentar os aspectos legais que norteiam a Educação Infantil no Brasil, em
especial, no que se refere à Constituição Federal, à Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional e às Diretrizes Curriculares Nacionais.

• Analisar o papel da Educação Física no contexto da Educação Infantil.

• Refletir sobre a importância da atuação do professor de Educação Física no


campo da Educação Infantil.

Plano de Estudo

• Educação, Educação Infantil e Educação Física

• A Educação Infantil na Legislação

• Refletindo sobre a Educação Física na Educação Infantil


unidade

II


A infância tem se constituído, ao longo da história, en- que comparar as informações trazidas neste texto com a
quanto um conceito social de representação de uma sua prática docente.
fase de formação do ser humano, considerando esse Vamos aos estudos!
ser um integrante do processo de transformação e de
mudanças na sociedade, o qual é refletido no universo EDUCAÇÃO, EDUCAÇÃO INFANTIL
escolar. A partir desta compreensão, traremos tanto as E EDUCAÇÃO FÍSICA
discussões quanto as reflexões que tratam das perspec-
tivas de atuação sobre a infância, a partir das orienta-
ções políticas voltadas ao campo educacional, afinal, a
educação escolar reflete o conceito e a valorização rela-
cionados à criança e à infância.
A Educação Infantil é um espaço escolar, um ní-
vel de ensino no qual se considera a ação pedagógica,
tendo, como ponto de partida, a socialização, o diálogo,
o brincar, a brincadeira, o faz-de-conta e o imaginário
infantil. Nesta modalidade de ensino, a criança, a partir
das experiências educacionais, desenvolve-se tanto em
seus aspectos cognitivos quanto sociais, afetivos e mo-
tores, assim, nesse contexto, a Educação Física contribui,
de maneira significativa, a esse desenvolvimento, haja
vista que o cerne do trabalho pedagógico na Educação Ao nos referirmos ao termo “educação”, estamos trazendo
Infantil são o movimento, a linguagem corporal, a cultu- à tona as reflexões acerca do educar compreendido como
ra lúdica, os jogos e as brincadeiras, elementos que, por uma ação que acontece ao longo da vida do ser humano,
sua vez, também são os objetos de ação pedagógica do haja vista que estamos em constantes processos de mudan-
campo da Educação Física. ças, transformações individuais e coletivas que nos levam
A partir destas considerações, você verá, nesta uni- a desenvolvimentos no campo social, intelectivo, cognitivo
dade, que o trabalho docente e as orientações didático- ou motor. O educar é um processo constante, em movimen-
-pedagógicas que normatizam e regulamentam a atua- to e, quando abordado no ambiente escolar, passa a ser visto
ção na Educação Infantil seguem os pressupostos bem como uma ação consciente de busca pelo aprender. A escola
como as orientações da legislação educacional brasilei- é um espaço de educação formal onde professores e alunos
ra. Afinal, a Educação Infantil é um nível de ensino cuja compartilham os anseios, as necessidades e as angústias
estruturação é marcada pelo entendimento de ser um com o mundo do saber e do conhecimento.
espaço educacional, no qual é proporcionado à criança O aprender é uma ação de reciprocidade que se dá
aprender, brincar e a se desenvolver. a partir das relações sociais, das interações que, por ve-
Apresentaremos a você as análises das orientações zes, provocam transformações, pois a educação escolar
para o desenvolvimento das ações no campo da Educa- possibilita aos envolvidos refletir, transformar, cotidia-
ção Infantil. A partir desta leitura, faça as reflexões e bus- namente, os seus conceitos, ideias e concepções.

30
EDUCAÇÃO FÍSICA

A educação está atrelada ao desenvolvimento e for- por sua vez, organizam-se pelas experiências vivencia-
mação do ser humano. Isso porque, de acordo com Fer- das, coletivamente. Então, é possível dizer que a educa-
reira (1993), a educação é um ato ou o efeito de educar e/ ção escolar é um espaço no qual o ensinar não se restrin-
ou se educar, que se concretiza com o desenvolvimento ge à mera transferência de conhecimento, mas deve ser
da capacidade física, intelectual e moral do ser humano. entendida como uma possibilidade de produzir a partir
Palma, Oliveira e Palma (2008) vão além e destacam que da curiosidade, inclusive da constante busca pelo apren-
o objetivo da educação escolarizada deve ser o de pro- der (FREIRE, 1996).
porcionar aos alunos momentos nos quais eles possam A educação escolar é, nesse sentido, um espaço de
criar, construir e modificar conceitos. Para isso, os alu- intervenção no qual a criança é apresentada a situações
nos devem interagir com o meio. que a levem ao desenvolvimento integral de suas po-
Estas reinvenção, criação e construção nas quais a tencialidades, portanto, uma das formas de oportunizar
criança constrói bem como desconstrói os seus sabe- esse desenvolvimento é por meio de ações que tratem do
res, constantemente, para criar outros conceitos, outras real e do imaginário, do concreto ao abstrato, do lúdico
normas e compreensões de mundo, precisa ser orienta- ao formal, do cognitivo-intelectual ao motor, ou seja, é
da, planejada e estruturada a partir de objetivos defini- preciso promover, no espaço da Educação Infantil, uma
dos. A fim de que a educação escolar tenha significado educação motora que conduza ao desenvolvimento in-
para a criança, é necessário promover situações, meios tegral da criança.
de intervenção que a levem a querer aprender, a buscar Como afirma Bracht (1999), a educação não deve
desenvolver-se. Afinal, como afirma Freire (1992, p. 28): ser tratada de forma fragmentada, haja vista que é um
equívoco tratar o desenvolvimento intelectivo separado
[...] o ser humano, principalmente quando criança, do corporal, afinal, é preciso romper com a ideia
precisa construir seus próprios meios de transpor-
te para empreender essa viagem chamada vida. Se
[...] culturalmente cristalizada, da superioridade da
ele não consegue alcançar um objeto que o atrai,
esfera mental ou intelectual – a razão como identi-
que ele deseja, só resta um recurso: construir um
ficadora da dimensão essencial e definidora do ser
mecanismo que o leve ao seu objetivo. Um bebê
humano. O corpo deve servir. O sujeito é sempre
de poucos meses, que ainda não sabe engatinhar,
razão, ele (o corpo) é sempre objeto; a emancipação
terá que realizar um enorme esforço, arrastando-
é identificada com a racionalidade da qual o corpo
-se, para pegar qualquer objeto que esteja distante.
estava, por definição, excluído (BRACHT, 1999, p.
Em pouco tempo, assim que a maturação biológica
70).
gere força muscular e organização nervosa sufi-
cientes, o arrastar-se permite à criança uma viagem
muito limitada, enquanto o engatinhar já lhe per-
Neste contexto de formação do indivíduo enquanto um
mite ir mais longe e empreender novas conquistas.
ser social, crítico e reflexivo, há as ações desencadeadas
Esta busca por desafios e novas conquistas no espaço es- na Educação Infantil que, portanto, carecem, em mui-
colar ocorre por meio de uma prática educativo-crítica tos momentos, de romper com a linearidade pedagógi-
que se sustenta em ações construídas, coletivamente, a ca, trazendo, assim, um planejamento flexível, voltado a
partir de saberes e conhecimentos individuais os quais, atender às necessidades da criança. Segundo Faria e Pa-

31


lhares (1999), o modelo de escolarização da Educação do mundo pela criança é feita por meio do corpo, de
Infantil deve ser repensado. Os autores destacam que, movimento. Assim, a Educação Física vem como um
neste mesmo nível de ensino, podemos encontrar carac- campo de conhecimento que colabora com esta integra-
terísticas diferenciadas para creches e pré-escolas, ção dos saberes, dos conhecimentos sociais à formação
cognitiva e afetiva da criança, tão importantes nessa fase
[...] com intencionalidade educativa, que possibili- de desenvolvimento. De acordo com Rodrigues (2003,
ta superar qualquer resquício: escolarizante (cen-
p. 11): “[...] a educação física infantil tem por finalidade
trado na professora, alfabetizante, seriado, com
matérias/disciplinas, etc.); assistencialista; e tam- contribuir para a formação integral do educando, utili-
bém adultocêntrico, higienista, maternal, discri- zando-se das atividades físicas para o desenvolvimento
minatório, preconceituoso, reforçando o objetivo de todas as suas possibilidades”.
principal da educação das crianças de 0 a 6 anos A criança da Educação Infantil tem, em seu desen-
que é o cuidado/educação (sem confundir com as-
volvimento, a necessidade de realizar atividades que lhe
sistência/escola) (FARIA; PALHARES, 1999, p. 78).
oportunizem o fazer, o experimentar, o vivenciar, isso
É importante lembrarmos que, quando nos referirmos porque, nessa fase, caracterizada como a primeira infân-
aos estudos no campo da Educação Infantil, como nos cia, a criança necessita de ações e tarefas que a levem a
lembra Didonet (2001), seja no formato de creche, seja aperfeiçoar e a estimular os movimentos adquiridos. Por
no formato de pré-escola, estamos tratando de uma ins- meio das atividades planejadas, as aulas de Educação Fí-
tituição de ensino, portanto, torna-se necessário abordar sica promovem o aperfeiçoamento dos movimentos já
tanto as suas qualidades quanto os seus defeitos, a sua adquiridos, além de oportunizarem a aprendizagem de
necessidade social ou importância educacional. Deve-se novas habilidades motoras. Afinal, a criança, nessa fase,
considerar que o objeto central da Educação Infantil é anseia pelo novo, pelo aprender, busca atividades que a
a criança, um ser humano em desenvolvimento, com deixem explorar o mundo, por meio de sua corporalida-
características e necessidades próprias. Também, como de, de suas experimentações.
nos alerta Sayão (1999, p. 234): Palma e Palma (2005 apud PALMA; OLIVEIRA;
PALMA, 2008, p. 99) colaboram com esta discussão ao
[...] tomar a criança como ponto de partida signifi- afirmarem que:
ca pensar num currículo que contemple diferentes
linguagens em suas múltiplas formas de expressão,
[...] quanto mais ricas e numerosas forem as expe-
as quais se manifestam por meio da oralidade, ges-
riências motoras das crianças, maior será o número
tualidade, leitura, escrita, musicalidade. Estas for-
de esquemas por elas construídos, o que possibili-
mas de expressão, vividas e percebidas pelo brincar,
tará, pelas coordenações estabelecidas entre esses
representam a totalidade do ser criança e precisa-
esquemas, a construção de inúmeras e diferentes
riam estar garantidas na organização curricular da
habilidades motoras: as operações motoras.
sua educação e não enquadradas em áreas do co-
nhecimento e alocadas em disciplinas.
Portanto, essas atividades vivenciadas nas aulas de Edu-
Nesse cenário, a criança na Educação Infantil deve ser cação Física, no contexto da Educação Infantil, devem
vista de forma integral, contextualizada, entendendo estar vinculadas bem como integradas às ações desen-
que, nesta fase da vida, a primeira fonte de exploração volvidas no Projeto Pedagógico, de forma a integrar as

32
EDUCAÇÃO FÍSICA

atividades, por meio de uma sequência lógica, partin- A Educação tem sido compreendida, ao longo da his-
do do simples para o complexo, permitindo que os co- tória, como um direito adquirido pela sociedade, cujas
nhecimentos possam ser experimentados, explorados e responsabilidades e obrigações, quanto a regulamenta-
modificados ao longo da trajetória escolar da criança. ção, organização, normatização, orientação, princípios
No entanto, para que isso ocorra, segundo Kuhlmann e diretrizes, ficam a cargo do Estado. Entretanto, ao
Junior (1999, p. 64), é importante ressaltar o seguinte: abordarmos a Educação Infantil, esse direito tem sido
questionado, haja vista que a sua materialização efetiva
[...] a educação infantil não pode deixar de lado a ou consolidação, enquanto parte integrante dos direitos
preocupação com uma articulação com o ensino
educacionais da criança, tem sido construída, lentamen-
fundamental, especialmente para as crianças mais
velhas que logo mais estarão na escola e se interes- te, na história da legislação educacional brasileira.
sam por aprender a ler, escrever, contar. Mesmo com a Educação Infantil tendo surgido e se
constituído como um espaço necessário já na segunda
Nesse contexto, as aulas de Educação Física na Educação metade do século XIX, foi, apenas, na Constituição Fede-
Infantil passam a considerar a criança a partir de suas ral de 1988 (BRASIL, 1988, on-line) que ela começou a ser
particularidades, considerando o fato de que, por meio definida como responsabilidade do Estado, pois, até en-
do trabalho corporal realizado nas aulas — cujo traba- tão, esta etapa da escolarização das crianças de zero a seis
lho dá-se a partir da gestualidade e da corporeidade — a anos não estava regulamentada de modo mais objetivo.
criança integra-se, com mais facilidade, ao universo es- Os questionamentos acerca da função da Educação
colar em que se encontra inserida. Infantil perpassam, basicamente, as discussões e com-
preensões ligadas ao entendimento de que essa tem sido
A EDUCAÇÃO INFANTIL NA LEGISLAÇÃO uma das etapas destinadas à primeira infância, sendo
formada, essencialmente, pela creche e pelo jardim de
infância, seguindo o modelo adotado em outros países
e, tendo, inicialmente, um caráter assistencialista bem
como raras orientações de caráter pedagógico.
Para explicitar estes conflitos conceituais acerca da
compreensão do objetivo da Educação Infantil, pode-
mos trazer os apontamentos de Souza (2007). Segundo
o autor, esta dificuldade no processo de institucionali-
zação da Educação Infantil acontece em função de seu
percurso histórico conturbado na educação brasileira.
Souza (2007, p. 15-16) afirma que:

[...] a educação institucionalizada de crianças peque-


nas surgiu no Brasil no final do século XIX. O setor
privado da educação pré-escolar, voltado para as
elites - os jardins-de-infância de orientação fröebe-
liana -, já tinha seus principais expoentes no Colégio

33


Menezes Vieira no Rio de Janeiro, desde 1875, e na


Escola Americana anterior a isso. No setor público, Caro(a) aluno(a), é importante entendermos que o
o jardim de infância da Escola Normal Caetano de movimento de legitimação e institucionalização da
Campos, que atendia à elite paulistana, foi inaugu- Educação Infantil, ao longo dos tempos, sempre esteve
rado apenas em 1896, mais de vinte anos depois das associado ao entendimento de que a Educação Infantil
fundações da iniciativa privada. O jardim de infância
da Escola Caetano de Campos, cujo trabalho peda-
refere-se a uma instituição de ensino cuja função es-
gógico se baseava em Fröebel, tinha como princípios sencial está ligada à sua função social, cuja dimensão
educativos os conteúdos cognitivo e moral. Nas duas dos conhecimentos está, sempre, atrelada ao desen-
primeiras décadas do século XX, foram implantadas volvimento das linguagens, das interações, dos jogos
em várias regiões do Brasil, as primeiras instituições
e das brincadeiras. Kuhlmann Junior (1999, p. 61) co-
pré-escolares assistencialistas.
labora com essa discussão, afirmando que até o século
Corroborando as discussões acerca da institucionali- XIX o que se observava para a Educação Infantil era
zação da Educação Infantil, Kuhlmann Junior (1999) uma ação vista a partir de uma “[...] filantropia que re-
afirma que a dificuldade na estruturação da Educação presentava a organização racional da assistência, em
Infantil, enquanto um campo educacional, deu-se em substituição à caridade, prática dominada pela emo-
função de o seu objetivo inicial estar centrado nas ques- ção, por sentimento de simpatia e piedade”.
tões assistenciais e de custódia. Além disso, o autor diz A Educação Infantil tem apresentado, ao longo de
que as instituições de Educação Infantil, em geral, pre- sua história, compassos e descompassos com os objeti-
ocupavam-se com questões relacionadas aos cuidados vos distintos — ora preocupados com o educar, ora com
com a criança, sendo que as ações do campo educativo o cuidar — objetivos os quais são refletidos no processo
se centravam nas atividades desenvolvidas, as quais ob- de construção legal da área. Segundo Kramer (1991), o
jetivavam que as crianças pudessem adquirir hábitos de caminho da legalização da Educação Infantil foi partir de
obediência e bondade, a identificar as letras do alfabeto, conquistas e da valorização da infância. Haja vista que,
pronunciar bem as palavras, além de assimilar noções conforme este autor, os principais marcos legais surgi-
de moral e religião. De acordo com Marafon (2012), essa ram em 1940, com a criação Departamento Nacional da
mudança na perspectiva de trato com a infância aconte- Criança, cuja finalidade era a ordenação das atividades
ceu, mais especificamente, após o final do século XIX. dirigidas a infância, maternidade e adolescência, admi-
nistrados pelo Ministério da Saúde. Por volta de 1950,
O atendimento às crianças de 0 a 6 anos apareceu disseminou-se a tendência médico-higiênica do Depar-
no Brasil no final do século XIX, pois antes deste
tamento Nacional da Criança, por meio do desenvolvi-
período, o atendimento de crianças pequenas longe
da mãe em instituições como creches praticamente mento de vários programas e campanhas visando ao
não existia. Na zona rural, onde vivia a maior parte
da população, as famílias de fazendeiros assumiam [...] combate à desnutrição, vacinação e diversos
o cuidado das crianças abandonadas, geralmente estudos e pesquisas de cunho médico realizadas no
fruto da exploração sexual da mulher negra e índia, Instituto Fernandes Figueira. Era também forne-
pelo senhor branco. Na área urbana, bebês aban- cido auxílio técnico para a criação, ampliação ou
donados, por vezes filhos de moças pertencentes reformas de obras de proteção materno-infantil do
a famílias de prestígio social, eram recolhidos na país, basicamente hospitais e maternidades (KRA-
roda dos expostos (MARAFON, 2012, p. 4-5). MER, 1991, p. 65).

34
EDUCAÇÃO FÍSICA

Ainda segundo o autor, nos anos 60, o Departamento Na- A Educação Infantil está assegurada na CF por meio
cional da Criança enfraqueceu-se e teve que transferir al- do Art. 7º, inciso XXV, no qual se estabelece que deve ser
gumas de suas responsabilidades para outros setores, pre- assegurada “[..] a assistência gratuita a filhos e dependen-
dominando o caráter médico-assistencialista, cuja ênfase tes desde o nascimento até seis anos de idade em creches
eram ações de redução da mortalidade materna infantil. e pré-escolas” (BRASIL, 1988, on-line). Observe que, na
E, em 1970, tem-se a promulgação da Lei 5.692/1971, a CF, aparecem, ainda, os termos “creches e pré-escolas”, já
qual faz referência à Educação Infantil, apresentando de que a mudança para o uso do termo Educação Infantil
que modo ser conveniente à educação em escolas mater- acontecerá, somente, na Emenda Constitucional no 14,
nais, jardins de infância e instituições equivalentes. a qual trouxe uma nova redação ao parágrafo 2º da CF:
De acordo com Merisse et al. (1997, p. 49), “[...] este passa a adotar o termo “Educação Infantil” ao atendi-
essa legitimação mesmo com a Lei 5.692, de 1971, não mento de crianças de zero a seis anos (e que foi alterado,
se tinha garantias de educação para a criança que estava posteriormente), sendo compreendido como creche o
inserida na Educação Infantil”. Segundo estes autores, é atendimento a crianças de zero a três anos de idade, e pré-
nesse período que surge o movimento de luta por cre- -escolas o atendimento de crianças de quatro a seis anos.
ches, sob influência do feminismo, que “[...] apresentava Esta inserção na legislação brasileira efetiva o de-
suas reivindicações aos poderes públicos no contexto por ver do Estado com o cumprimento, a organização e as
direitos sociais e da cidadania, modificando e acrescen- normatizações para a Educação Infantil. Tal inserção, de
do significados à creche enquanto instituição” (MERIS- acordo com Corrêa (2002), é considerada uma conquis-
SE et al., 1997, p. 49). A creche começa a aparecer como ta, haja vista que:
um equipamento especializado para atender e educar a
criança pequena, mas que deveria ser compreendido não Uma nova lógica se impõe, dado que qualquer fa-
mília que deseje colocar sua criança numa creche
mais como um mal necessário, mas como alternativa que
poderá recorrer a promotoria pública para que
poderia ser organizada de forma a ser apropriada e sau- está, baseada e fundamentada na Constituição Fe-
dável para a criança, desejável à mulher e à família. Esta deral, acione o Estado a fim de que este cumpra seu
instituição escolar aparecerá, então, como um serviço de dever (CORRÊA, 2002, p. 19).
direito à criança e à mulher, oferecendo a possibilidade de
um atendimento complementar ao oferecido pela famí- As orientações para a Educação Infantil também se da-
lia, necessário e, também, desejável. rão por meio do ECA, atualizado pela Lei 12.796/2013,
Nesse sentido, a Educação Infantil configura-se a que garante o direito ao atendimento da criança em cre-
partir de orientações político-governamentais no país, ches e pré-escolas. Entretanto a Lei 13.306/2016 altera o
oficialmente, a partir da CF de 1988, sendo afirmada ECA e prevê que a Educação Infantil passa a compreen-
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de der o ensino de zero a cinco anos.
1990 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- Com relação às responsabilidades administrativas
cional (LDB), de 1996, documentos nos quais esta mo- da oferta da Educação Infantil, de acordo com a CF, no
dalidade de ensino é assumida como dever de Estado, Art. 211 (BRASIL, 1988, on-line), e com a LDB, no Art.
sendo a educação um direito social. 11 (BRASIL, 1996, on-line), essa modalidade deve ser,

35


prioritariamente, responsabilidade dos municípios, en- 1996, on-line), isso porque estava vinculada ao Ensino
quanto o Ensino Fundamental é competência compar- Fundamental, cuja legislação determinava, nos Art. 5º e
tilhada entre estados e municípios e o oferecimento do 6º, que este nível, enquanto um direito público subjetivo,
Ensino Médio é incumbência dos estados. considerava a matrícula a partir dos sete anos de idade.
Entretanto este cenário se alterou com as modificações
A Educação Infantil na Lei de Diretrizes e ocorridas nessa legislação, no ano de 2005, a partir da
Bases da Educação: Lei nº 9.394/1996 Lei 11.114 (BRASIL, 2005, on-line), que passa a con-
siderar o ingresso nas séries iniciais do Ensino Funda-
A inserção da Educação Infantil, enquanto parte cons- mental efetivado com a matrícula a partir dos seis anos
tituinte da Educação Básica, foi resultado de conquis- de idade. Como consequência, a Educação Infantil foi
tas das mobilizações realizadas ao longo da história da modificada, também, sendo considerada, a partir dessa
Educação Infantil brasileira, haja vista que, ao pertencer legislação, um nível de ensino direcionado a crianças de
à Educação Básica, passa-se a ter outras ações de desen- zero a cinco anos.
volvimento voltadas a este nível de ensino bem como O Ensino Fundamental, com ingresso e matrícula
investimentos, financiamentos, orientações pedagógicas aos seis anos, de acordo com as normatizações estabele-
e administrativas relacionadas aos objetivos de atendi- cidas pela Lei Federal 11.274 (BRASIL, 2006, on-line), é
mento dessa modalidade de ensino. Assim, a LDB, no prioridade dos municípios com a colaboração do Esta-
Art. 29, efetiva a Educação Infantil como a primeira eta- do, enquanto o Ensino Médio é prioridade dos estados
pa da Educação Básica: e a União deve prestar assistência técnica e financeira.
De acordo com a alteração da lei, as ações pedagó-
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da gicas consideram que os níveis de ensino apresentam as
educação básica, tem como finalidade o desen-
seguintes características:
volvimento integral da criança até os seis anos de
idade, em seus aspectos físicos, psicológicos, inte-
lectuais e sociais, completando a ação da família e Educação Infantil: creche (0 a 3 anos) e pré-escola
da comunidade (BRASIL, 1996, on-line). (4 a 5 anos); desenvolvimento integral da crian-
ça, não existe reprovação (Art. 29 a 31). O Ensino
Fundamental: (mínimo 9 anos) objetivo de desen-
Ainda de acordo com a LDB, dentre as atribuições e fun- volver a capacidade de aprender, fortalecer os vín-
ções da Educação Infantil, o Art. 29 destaca o fato de que culos da família, da solidariedade e tolerância. Ten-
a referida legislação preconiza que “cabe aos docentes à do pelo menos 4 horas de trabalho diário (BRASIL,
2005, on-line) (Art. 32-34).
função de contribuir para que as crianças que frequen-
tam esse nível de ensino construam e exerçam a sua ci-
dadania” (BRASIL, 1996, on-line). Com relação à atuação docente na Educação Infantil,
Outra deliberação da LDB aponta, no Art. 29 que de acordo com a LDB, Art. 62, define-se que, para ser
a faixa etária de atendimento das crianças nos espaços docente na Educação Infantil, o indivíduo deverá se for-
de creches e pré-escolas, deveriam ser realizadas, na mar em “[...] nível superior, admitindo-se como forma-
Educação Infantil, com idade até os seis anos (BRASIL, ção mínima, a oferecida em nível médio, na modalidade

36
EDUCAÇÃO FÍSICA

normal” (BRASIL, 1996, on-line). Observe, caro(a) alu- belece, como Diretrizes Curriculares Nacionais para a
no(a), a não existência de nenhuma orientação acerca Educação Infantil, no seu inciso primeiro do Art. 8º:
de um trabalho docente que siga as especificidades de
formação das áreas componentes do corpo de conheci- § 1º [...] as propostas pedagógicas das instituições
de Educação Infantil deverão prever condições
mentos pedagógicos abordados no âmbito da Educação
para o trabalho coletivo e para a organização de
Infantil, aceitando-se, para esse nível de ensino, a atua- materiais, espaços e tempos que assegurem: II a
ção chamada de unidocência. indivisibilidade das dimensões expressivo­motora,
Esta sustentação de uma formação unidocente tam- afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e socio-
bém está nas orientações dos Parâmetros Nacionais de cultural da criança (BRASIL, 2009, p. 2)

Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL, 2006), nos


quais ainda há a orientação de que os espaços da Edu- Essa resolução vai ao encontro do estabelecido no Re-
cação Infantil “[...] são construídos e organizados para ferencial Curricular Nacional para a Educação Infan-
atender às necessidades de saúde, segurança, descanso, til (BRASIL, 1998), no qual a disciplina de Educação
interação, estudo, conforto, aconchego de profissionais Física não se encontra incluída nos eixos norteadores
e familiares e/ou responsáveis pelas crianças” BRASIL, dessa modalidade de ensino. Entretanto a referida
2006, p. 43), o que resulta, equivocadamente, na com- legislação estabelece, como objeto do conhecimen-
preensão da não necessidade de inserção de profissio- to aplicado à Educação Infantil, o movimento como
nais especializados e qualificados nas áreas distintas dos prioridade das atividades didático-pedagógicas a se-
saberes e conhecimentos. rem realizadas nesse nível de ensino.
Caro(a) aluno(a), ainda se evidencia — nas legisla-
A EDUCAÇÃO INFANTIL NAS DIRETRIZES ções que buscam normatizar e orientar as ações didáti-
co-pedagógicas e administrativas direcionadas à Educa-
As Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil ção Infantil — o assistencialismo e a preparação para o
também se constituíram como uma ação política que Ensino Fundamental. Porém uma preocupação ocorre
buscou efetivar os direitos dessa modalidade, os quais em relação à qualidade do atendimento profissional: a
se consolidaram a partir da aprovação na Câmara de falta de exigência na qualificação do profissional que
Educação Básica (CEB) e no Conselho Nacional de atua nesse nível de ensino.
Educação (CNE) e da Resolução nº 1/1999, que institui De acordo com Campos (1999), essa preocupação
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação com a qualificação profissional tem sido um processo his-
Infantil, cujo objetivo centrou-se em nortear a organi- tórico na educação. “Confirma-se por toda a parte a regra
zação das propostas pedagógicas das instituições dessa que estabelece que, quanto menor a criança a se educar,
modalidade. O Parecer nº 4/2000 é o dispositivo da lei menor o salário e o prestígio profissional de seu educa-
responsável por dispor acerca das Diretrizes Operacio- dor e menos exigente o padrão de sua formação prévia”
nais para a Educação Infantil. (CAMPOS, 1999, p. 130). Esta falta de valorização se re-
Outra legislação significativa foi a Resolução nº 5, fletirá tanto na formação inicial quanto na formação con-
estabelecida pela CEB em dezembro de 2009, que esta- tinuada dos professores que atuam nesse nível de ensino.

37


REFLETINDO SOBRE A EDUCAÇÃO a primeira interação social da criança com a sociedade


FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ocorre com o seu ingresso na escola, sendo nesse espaço
que a criança começa a ampliar o seu entendimento de
mundo, a perceber outras pessoas ao seu redor, pois é a
escola que preparará o aluno a uma participação ativa e
transformadora nas várias instâncias da sociedade.
A Educação Infantil é um espaço no qual as des-
cobertas da criança acontecem por meio da ampliação
das experiências, situações e vivências corporais dessa
criança com o universo que a cerca. Em geral, essas ex-
perimentações com o corpo e com o movimento possi-
bilitam o aluno a descobrir os seus limites, valorizando
as suas potencialidades, expandindo as possibilidades
para reconhecer, perceber, construir e desenvolver cada
movimento, afinal, é o corpo da criança a fonte de sua
comunicação social. Por meio da linguagem corporal e
das experiências motoras, o aluno, na Educação Infantil,
A escola enquanto meio educacional, como aponta tem a oportunidade de desenvolver as suas capacidades
Canfield (2000), é responsável por oferecer à criança tanto intelectuais quanto afetivas.
práticas motoras diversificadas, pois elas são essenciais e Mesmo a Educação Infantil sendo relevante para
determinantes no processo de desenvolvimento. A esco- o processo de desenvolvimento da criança, ainda exis-
la é, nesse sentido, um espaço de intervenção e atuação te uma lacuna nesta orientação, haja vista que, segundo
que oportuniza a criança desenvolver-se, integralmente, o Art. 34 da LDB (BRASIL, 1996, on-line), a prática da
logo, a Educação Infantil, por ser um nível constituinte Educação Física — em nível da Educação Básica — in-
da Educação Básica, é considerada, também, um espaço tegrada à proposta pedagógica da escola, é componente
educativo no qual a intervenção e o planejamento são curricular, ajustando-se às faixas etárias e às condições da
orientados rumo ao desenvolvimento da criança. população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos.
Nessa perspectiva da Educação Infantil, a Educação Conforme Melo (2006), ao compreender a Educa-
Física constitui-se em uma área de conhecimento essen- ção Física como componente curricular, temos um novo
cial para colaborar com esse processo, uma vez que as pensar e um novo agir dos seus professores.
aulas de Educação Física ministradas por professores
especializados na área, com planejamento sistematiza- O novo pensar é caracterizado pela necessidade de
se conceber a Educação Física na escola nas mes-
do, possibilitam, por meio de conteúdos específicos e
mas condições dos demais componentes curricu-
adequados a cada momento ou fase da criança, opor- lares, nos quais as organizações dos seus aspectos
tunizar a construção do conhecimento, de forma lúdica didáticas os consolidam na educação escolarizada
e recreativa. Afinal, como nos lembra Libâneo (1992), (MELO, 2006, p. 188).

38
EDUCAÇÃO FÍSICA

um currículo (ou seja, integra o seu trabalho em


Como vimos, caro(a) aluno(a), de acordo com a LDB um projeto formativo global do qual ele mesmo faz
(BRASIL, 2006, on-line), a Educação Infantil, sendo a parte); esta nova visão do professor(a) como pro-
primeira etapa da Educação Básica, tem, como finali- fissional do currículo exige um novo repertório de
dade, o desenvolvimento integral da criança até os seis competências profissionais que vão além de uma
simples atitude positiva em relação à mudança e ao
anos, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectuais trabalho coletivo.
e sociais, complementando a ação da família e da comu-
nidade. Assim, a Educação Física inserida no contexto Tal realidade, porém, está sendo alterada, e estamos
da Educação Infantil possui, como pressupostos para o observando movimentos e ações que buscam promo-
trabalho, o movimento, o qual, segundo Neira (2003), é ver essa valorização. Como exemplo, citaremos a Lei
mais do que o deslocamento do corpo no espaço, mas 10.172/2001, na qual se tem as orientações rumo a uma
apresentando como linguagem que permite a ação da política global de magistério, que implica a formação
criança sobre o meio físico e a sua atuação sobre o am- profissional inicial, as condições de trabalho, salário e
biente humano, mobilizando as pessoas com base em carreira bem como a formação continuada.
seu teor expressivo. O professor de Educação Física é o Caro(a) aluno(a), defendemos, aqui, a inserção do
mediador deste processo, aquele que leva o movimento, professor de Educação Física na Educação Infantil com
a experimentação e a vivência motora, de forma orien- qualificação especializada por entendermos que, a partir
tada e planejada, para a criança. dessa formação específica na área, que tem o corpo e o
Nem sempre, entretanto, essa é a realidade do pro- movimento como um de seus objetos centrais, as contri-
fessor de Educação Física atuando no contexto da Edu- buições para a Educação Infantil são essenciais. Contudo
cação Infantil, pois, ainda para as turmas de Educação a histórica da Educação Física, nesse nível de ensino, tem
Infantil, não são exigidos professores licenciados, espe- se dado, por vezes, de forma deturpada ou equivocada.
cializados na área, uma vez que se permite a atuação, Este fato acontece, segundo Sayão (1999, p. 226), porque:
nesse nível, do professor regente de sala com a chamada
formação unidocente. [...] num primeiro momento, muito mais no setor
privado do que no público, com a proliferação de
Como já destacamos, a fragilidade da formação uni-
escolinhas infantis nas décadas de 1970 e 1980, as
docente consiste no fato de que, muitas vezes, esse pro- quais se utilizaram de elementos como o ballet,
fissional não está qualificado para atender às necessida- jazz, inglês, artes marciais e, mais recentemente,
des e especificidades do currículo, dos conteúdos, afinal, da informática como estratégia de marketing para
segundo Zabala (1998, p. 14): atrair os pais que podiam pagar por isso.

o professor(a), como profissional do currículo, Sayão (2002, p. 59) destaca, ainda, que:
significa estar além do que poderia significar uma
referência a ele na acepção mais habitual de pro-
[...] só se justifica a necessidade de um/a profes-
fissional de ensino. O professor(a) não só ensina a
sor/a dessa área na Educação Infantil se as propos-
sua matéria ou atende à sua turma (o que reduz o
tas educativas que dizem respeito ao corpo e ao
seu trabalho a alguns conteúdos específicos, uma
movimento estiverem plenamente integradas ao
sala de aula e um grupo de alunos), mas desenvolve

39


projeto da instituição, de forma que o trabalho dos


adultos envolvidos se complete e se amplie visando por meio de uma variedade de maneiras, e a forma de
possibilitar cada vez mais experiências inovadoras efetivar essa ação é pelo brincar, uma vez que ele pode
que desafiem as crianças. ser visto como o equivalente ao trabalho dos adultos,
pois o brincar é o meio prioritário pelo qual as crian-
Nesse sentido, ao defendermos a inserção do professor ças aprendem sobre os seus corpos, além de facilitar o
especializado nas aulas de Educação Física da Educação crescimento afetivo e cognitivo bem como fornece um
Infantil, é possível afirmar que essa ação ocorrerá a par- importante instrumento ao desenvolvimento das habi-
tir da organização e da construção de um planejamento lidades motoras grossas e finas.
com qualidade, o qual considere a criança, o movimen- Nesse sentido, as aulas de Educação Física Infantil,
to e a relação dela com o mundo. Afinal, como afirma de acordo com Basei (2008, p. 1):
Kunz (2002, p. 24):
[...] têm um papel fundamental na Educação
[...] a linguagem e o movimento humano podem ser Infantil, pela possibilidade de proporcionar às
considerados como diálogo com o mundo, são as crianças uma diversidade de experiências atra-
poucas possibilidades que nos restam para uma me- vés de situações nas quais elas possam criar, in-
lhor compreensão de quem somos e ter, a partir deles, ventar, descobrir movimentos novos, reelaborar
uma melhor consciência do mundo em que vivemos. conceitos e idéias sobre o movimento e suas
ações. Além disso, é um espaço para que, atra-
vés de situações de experiências – com o corpo,
Por meio das aulas de Educação Física na Educação In-
com materiais e de interação social – as crianças
fantil, temos a possibilidade de oportunizarmos a am- descubram os próprios limites, enfrentem de-
pliação dessas vivências, expandindo, assim, os saberes safios, conheçam e valorizem o próprio corpo,
e conhecimentos da criança acerca do mundo, a partir relacionem-se com outras pessoas, percebam a
origem do movimento, expressem sentimentos,
de corpo, da linguagem corporal e do movimento dela.
utilizando a linguagem corporal, localizem-se
É importante destacar que, de acordo com Libâneo no espaço, entre outras situações voltadas ao de-
(1992), cada aula é uma situação didática específica, senvolvimento de suas capacidades intelectuais
na qual objetivos e conteúdos se combinam com pro- e afetivas, numa atuação consciente e crítica.
cedimentos metodológicos e formas didáticas, visando
a, fundamentalmente, propiciar a assimilação ativa de
conhecimentos e habilidades pelos alunos. A Educação
Infantil vem ainda mais carregada dessa necessidade de, Entendendo que a criança tem as suas ca-
em cada aula, planejar, orientar, buscar caminhos dife- racterísticas próprias e individuais, como o
renciados, porque a criança, nessa fase, busca pelo novo, professor de Educação Física pode incluir
pelo explorar, pelo experimentar. atividades que atendam às necessidades
Segundo Rolim (2004), crianças, nessa fase, são, ati- da turma?
vamente, envolvidas em melhorar as suas habilidades

40
EDUCAÇÃO FÍSICA

Ayoub (2001) vai além e afirma que a Educação Físi- Caro(a) aluno(a), entendemos que o professor de Edu-
ca na Educação Infantil costuma configurar-se como cação Infantil é essencial em sua atuação especializada
um espaço onde a criança brinca com a linguagem na Educação Física, porque ele é o profissional que tra-
corporal, com o corpo e o movimento, alfabetizan- balha com o corpo, considera o movimento como ação
do-se nessa linguagem. educativa, engloba o brincar e a brincadeira como ele-
mentos educativos. A Educação Física no contexto da
Brincar com a linguagem corporal significa criar Educação Infantil torna-se um momento cuja ludicida-
situações nas quais a criança entre em contato
de é o centro das atividades propostas.
com diferentes manifestações da cultura corporal
(entendida como as diferentes práticas corporais A Educação Física, nesse período, não deve se limi-
elaboradas pelos seres humanos ao longo da his- tar, apenas, à brincadeira. Logo, o professor generalista,
tória, cujos significados foram sendo tecidos nos isto é, o docente que atua em sala de aula, não pode exer-
diversos contextos socioculturais), sobretudo cer a função sem ter a formação adequada na área.
aquelas relacionadas aos jogos e as brincadeiras,
O professor de Educação Física deve planejar as
às ginásticas e às danças, sempre tendo em vista a
dimensão lúdica como elemento essencial para a aulas, organizar a sua ação didático-pedagógica e, as-
ação educativa na infância. Ação que se constrói sim, desenvolver um trabalho diferenciado com qua-
na relação criança/adulto e criança/criança e que lidade educativa, justificando a importância de sua
não pode prescindir da orientação do(a) profes-
atuação na Educação Infantil.
sor(a) (AYOUB, 2001, p. 55).
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, discutimos a relação
entre a infância e a importância das aulas de Educação Fí-
sica ministradas por professores da área para atuarem jun-
to à Educação Infantil. A discussão aconteceu a partir da
As aulas de Educação Física aplicadas na
construção e do entendimento de que o tempo da infância
Educação Infantil se constituem em um é um tempo do lúdico, das brincadeiras, do faz-de-conta,
espaço de interação constante, no qual o do movimento, dos risos, dos choros, da exploração dos
brincar é o elemento central ao desenvol- tempos e espaços e do fazer tudo de novo. Então, é por
vimento das ações que levam ao apren- meio desse explorar que, segundo Sarmento (2004), é defi-
dizado. A criança, quando brinca de for- nida a capacidade de reiteração das crianças.
ma orientada, com objetivos definidos, é Para o autor, a reiteração caracteriza-se como o tem-
levada a realizar ações motoras, cogniti- po recursivo da infância, que se exprime em um plano
vas e afetivas, em um contexto social que sincrônico, ou seja, no qual há uma contínua recriação
proporciona situações as quais a levem a das mesmas situações e rotinas, mas também em um
desenvolver, de forma lúdica e prazerosa,
plano diacrônico, por meio do qual ocorre a transmis-
as suas potencialidades.
são de brincadeiras, jogos, rituais e rotinas, de modo
contínuo e incessante, começando tudo de novo.

41


Entendemos, ainda, que a atual concepção de Edu-


cação Física para a Educação Infantil recebeu contribui-
ções das discussões nas áreas de Psicologia, Historio-
grafia, Sociologia e Antropologia. A infância brasileira,
segundo documentos oficiais, por meio das políticas
educacionais, perpassa o cuidar e o educar, mas busca,
também, trazer orientações que levem à ampliação de
oportunidades, com a criança apropriando-se de expe-
riências tanto diversificadas quanto significativas para a
própria humanização.
Chegamos ao final desta unidade entendendo que
os contextos histórico, político e social da sociedade e da
educação escolar são elementos significativos para com-
preendermos como deve acontecer a inserção da Edu-
cação Física nos espaços da Educação Infantil. A partir
deste momento, você é convidado(a) a refletir sobre as
ações concretas das aulas de Educação Física voltadas à
Educação Infantil, por exemplo, planejar as orientações
para a organização do currículo e das aulas.
Bons estudos!

42
agora é com você

1. A Educação Infantil é um espaço escolar, um nível de ensino considerado


um espaço de intervenção pedagógica integrada, atualmente, à Educação
Básica. Em posse deste conhecimento, descreva quais as principais legis-
lações que contribuíram para a Educação Infantil se tornar um direito da
infância.
2. Para as turmas de Educação Infantil, não são exigidos professores licencia-
dos com formação específica em Educação Física, isso porque essa moda-
lidade de ensino caracteriza-se pela intervenção profissional pautada na
unidocência. Sabendo deste fato, justifique a importância de o professor
de Educação Física com formação na área atuar nestes espaços.
3. Qual o papel do lúcido nas aulas de Educação Física Infantil?
4. Como explorar as potencialidades motoras da criança, nas aulas de Edu-
cação Física?
5. Quais os elementos essenciais a serem considerados no desenvolvimento
das aulas de Educação Física Infantil?

43
LEITURA
COMPLEMENTAR

Caro(a) aluno(a), buscando refletir sobre o papel da Edu- ca infantil. Os dados foram tratados por meio da análise
cação Infantil enquanto uma área de conhecimentos de conteúdo. Os resultados apresentaram como desta-
constituída a partir de uma disciplina essencial para co- que o fato de que a educação infantil possui conteúdos
laborar com o processo de ação pedagógica e desenvol- específicos da disciplina da área da educação física, en-
vimento da criança, trouxemos o resultado de uma pes- tretanto os documentos legais não garantem a obrigato-
quisa realizada pelo Grupo de Pesquisa Educação Física riedade de professores com a qualificação da área para
Escolar CNPq/DEF/UEM da Universidade Estadual de Ma- atuarem na área na referida modalidade. Evidenciou-se
ringá, com o intuito de discutir a presença da Educação a disciplina educação física enquanto um componente
Física nos documentos da Educação Infantil. curricular nesta modalidade de ensino, garantida por
Os resultados do estudo indicaram que a Educação Física meio dos conteúdos a serem trabalhos no cotidiano do
está inserida enquanto conteúdos de ensino para a Edu- ensino. Entretanto, a menção a obrigatoriedade e a efe-
cação Infantil, entretanto não há nenhuma especificação tivação do professor de educação física nestes espaços
do rompimento com a unidocência nesses espaços edu- ou modalidade de ensino não são garantidas nos docu-
cativos. Há de se pensar em ações e movimentos que mentos oficiais de governo para a educação. Conclui-se
levem à efetivação da obrigatoriedade do professor de que, ainda há que se fazerem estudos e investigações
Educação Física nesses espaços. Leia o texto, a seguir, e que acrescentem o investimento e a inserção efetiva do
reflita sobre o assunto! profissional nestes espaços de inversão, haja vista que o
conteúdo é primordial, mas a garantia do professor se
Educação Física na Educação Infantil: Realidade faz necessária de maneira clara para que o pedagógico

ou Necessidade para essa Intervenção de possa ser realmente contemplado.

Qualidade?
Introdução
A educação física tornou-se obrigatória nos currículos
Resumo
escolares, e efetivou-se como componente curricular,
Este trabalho tem como objetivo analisar o papel do pro-
consolidando-se enquanto uma disciplina que possui o
fissional de Educação Física na modalidade de Educação
seu conteúdo estruturante denominado nas Diretrizes
Infantil, por meio de documentos e legislações que regu-
Curriculares (2007): esporte, jogos, brinquedos e brinca-
lamentam o ensino desta modalidade. Para isso, o estu-
deiras, ginástica, lutas, dança. E, ainda, possui os elemen-
do recorreu a pesquisa bibliográfica, cuja coletado dos
tos articuladores dos conteúdos estruturantes da educa-
documentos orientadores da educação infantil se deu a
ção básica: o corpo, a ludicidade, a saúde, o mundo do
partir da busca em acervos públicos disponibilizados por
trabalho, a desportivização, a tática e a técnica, o lazer,
meio de sites oficiais de educação do governo federal e
a diversidade étnico-racial, de gênero e de pessoas com
estadual, que tratam da especificidade da educação físi-

44
LEITURA
COMPLEMENTAR

necessidades educacionais especiais, a mídia. educativas incluindo a segurança, acolher as crianças, ali-
A educação física tida como um componente curricular mentar sua curiosidade, a ludicidade e a expressividade
passava a ter então sua legislação específica, sendo in- infantil.
tegrada como atividade escolar regular e obrigatória no Tendo esse conhecimento, o estudo originou-se da in-
currículo de todos os cursos e níveis dos sistemas de quietude lançada pela problemática: se a educação in-
ensino para crianças acima de 6 anos, de acordo com a fantil está entrelaçada com os conteúdos da educação
promulgação da Lei 9.394/1996, artigo 7º e pelo Decreto física, como o professor qualificado na área específica
11.274/2006. da educação física está inserido nesse contexto? Para
Do ponto de vista legal, a Educação Infantil é a primeira tanto, buscando responder essa inquietude a pesquisa
etapa da Educação Básica e tem como finalidade o de- realizada objetivou analisar o papel do profissional de
senvolvimento integral da criança de zero a cinco anos educação física na modalidade de educação infantil, por
de idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, meio de documentos e legislações que regulamentam o
linguístico e social, complementando a ação da família ensino desta modalidade.
e da comunidade (Lei nº 9.394/1996, art. 29). As Diretri- Este estudo tem como característica a ser descrito como
zes Curriculares Nacionais (2013) propõem que para a um estudo bibliográfico que é definido por Cervo e Ber-
educação das crianças da educação infantil é necessá- vian (1983), tendo como subsídios documentos legislati-
rios profissionais com a formação específica que atenda vos e orientadores tratados a partir da análise de conte-
às necessidades básicas de todas as crianças, como as údos.
dimensões expressivo-motora, afetiva, cognitiva, linguís- Para que pudéssemos entender o quão importante é a
tica, ética, estética e sócio cultural. Todos esses aspectos atuação de um professor de educação física na área da
se desenvolvem a partir das interações que as crianças educação infantil, primeiramente, temos que entender
estabelecem com o mundo. como que regem as leis do Estado, ou seja, analisar toda
Ainda nas Diretrizes Curriculares Nacionais (2013) é enfa- a sua estrutura e saber como é planejado e como o Es-
tizado como fator de extrema importância para a criança tado vê a educação brasileira. Desse modo, por meio de
o ato de brincar, já que este proporciona oportunida- suas políticas educacionais, públicas e sociais consegui-
des para o imitar, construir o novo, recriar. As crianças mos entender como que funciona toda essa base cons-
usam de sua fantasia para copiar o cotidiano do adulto, truída para manter a sociedade.
por isso é importante que os professores desenvolvam A partir da construção desse itinerário infância, foi ne-
brincadeiras, contem histórias, conversem sobre diver- cessário que o governo pudesse qualificar profissionais
sos temas, promovendo sempre a capacidade infantil de para atender essas crianças com qualidade. A qualidade
conhecer o mundo e a si mesma. Por isso o planejamen- para a educação infantil começa na educação infantil,
to político-pedagógico deve sempre tratar de atividades onde profissionais capacitados iniciam a alfabetização

45
LEITURA
COMPLEMENTAR

de crianças que serão preparadas futuramente para o promover o bem-estar da criança, seu desenvolvimento
mercado de trabalho. “É necessário então uma organi- físico, motor, intelectual, emocional, moral e social, esti-
zação eficaz capaz de fazer com que seus alunos obte- mulando a criança a interessar-se pelo processo do co-
nham independentemente da sua origem sociocultural nhecimento do ser humano, da natureza e da sociedade.
e econômica, níveis elevados de rendimento acadêmico” Isso deve ocorrer, num processo prazeroso, que valorize
(ZABALZA, 1988, p. 36). o lúdico, a cultura, as múltiplas formas de comunicação,
É necessária a educação para que possam existir pro- diálogo e interação.
gressos pessoais que talvez sem essa formalização não
fosse possível alcançá-los, é assim que vemos a impor- Conclusões
tância para que haja a educação para todos os tipos de Os dados indicaram que o trato dos conteúdos da edu-
crianças, incluindo todas as classes sociais e econômicas. cação física na educação infantil, estão presentes de
Sendo assim, o profissional da educação ajuda para po- forma recorrente. Entretanto, se faz necessário a in-
tencializar, reforçar e multiplicar o desenvolvimento da serção e obrigatoriedade nos documentos legislativos
criança (ZABALZA, 1998). e orientadores da educação infantil que destaquem
Desse modo, o professor/educador precisa refletir acer- para a necessidade de professores qualificados de
ca da importância e o papel das brincadeiras no seu educação física para atender a todas as crianças nos
trabalho e deve fazer de todas as atividades de cuidar centros de educação infantil pois há que se destacar
e educar um brincar. A deliberação 003/99, do Conselho que esse profissional contribuiria de forma significa-
Estadual de Educação em seu art. 6º, ressalta que a edu- tiva para o processo de desenvolvimento infantil em
cação infantil deve cumprir suas duas funções: cuidar e função de sua formação específica.
educar, sendo estas indispensáveis e indissociáveis, para
Fonte: Carmo e Souza (2016, p. 1-4).

46
material complementar

Tratado com seriedade, o direito de brincar é o tema deste documentário que aborda
o conceito de “espírito lúdico” e convida para a reflexão do desenvolvimento do ho-
mem adulto. Um documentário incrível, dirigido por Cacau Rhoden e produzido pela
Maria Farinha Filmes e pelo Instituto Alana, fala, exatamente, sobre um dos melhores
remédios para a vida toda: a brincadeira. “Quando você perde a capacidade de brincar,
você perde uma conexão com a sua essência”. Em uma referência a adultos e crianças,
a frase é do ator Domingos Montagner e faz parte da abertura de Tarja Branca – A Revolução que Faltava.

Para acessar, use seu leitor de QR Code.

O professor e pesquisador Jorge Alberto de Oliveira, do Laboratório de Pedagogia do


Movimento Humano (Lapem), traz uma excelente contribuição acerca dos principais
aspectos a serem considerados no desenvolvimento da criança e que são essenciais
para pensarmos tanto no planejamento quanto no desenvolvimento de nossas aulas
na Educação Infantil.

Para acessar, use seu leitor de QR Code.

47
PLANEJANDO A EDUCAÇÃO
FÍSICA ESCOLAR

Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira


Dra Vânia de Fátima Matias de Souza

Oportunidades de aprendizagem
• Compreender as etapas do planejamento para as aulas de Educação Física.

• Apresentar indicadores da organização do planejamento das aulas de Educação


Física.

• Refletir sobre a relevância do planejamento para as aulas de Educação Física.

Plano de Estudo

• Planejar é Imprescindível

• Como Pensar a Educação Física de Forma Sistematizada

• Caminhos para o Processo de Estruturação dos Conteúdos da Educação Física


unidade

III


Ao longo da história, a Educação Física percorreu cami- para que você possa, autonomamente, em um futuro
nhos acidentados e, até o presente momento, esta discipli- profissional próximo, ter a condição de organizar um
na ainda busca construir caminhos mais suaves. Houve plano educacional à Educação Física escolar.
muita problematização em nossa tradicional Educação Vamos ao trabalho!
Física escolar, desde a sua forma de se colocar no contex-
to educacional como atividade até o fato de se submeter, PLANEJAR É IMPRESCINDÍVEL
incondicionalmente, à prática do esporte-performance,
entendendo-se como formadora de atletas e responsável
pelo sucesso esportivo nacional. Grande engano!
Inicialmente, houve a busca pelo desmantelamen-
to desta concepção tão equivocada quanto limitada da
área, colocando a Educação Física como integrante do
processo educacional e com uma participação que supe-
ra a visão reducionista da atividade. Nesta empreitada,
podemos afirmar que a Educação Física escolar avan-
çou, significativamente, em todos os sentidos, mas pre-
cisamos avançar muito mais.
A educação, de forma geral, assim como as demais
áreas, possui propostas que se baseiam em pressupostos
de concepções distintas de indivíduo e sociedade. Isso
se reflete na forma propositiva de cada vertente, com
indicativos, por vezes, similares, mas que trazem raízes
e intencionalidades diferentes. Por isso, ao ler uma pro- O ato de planejar se aplica a todas as atividades de nos-
posta, faz-se necessário saber as suas raízes, proponen- sas vidas. Se não houver cuidado e atenção a este ato,
tes e intencionalidades. corremos o risco de desenvolvermos ações sem sen-
Dessa forma, um aspecto assume papel preponde- tido e significado aos propósitos idealizados. É como
rante nesta tarefa de apresentar uma área de conheci- pensarmos em ir ao mercado para fazermos compras e
mento no processo educacional: o planejamento. Este é não termos clareza de quais mantimentos precisamos,
o elemento central que nos auxilia a valorizar e a colocar quanto dinheiro temos e o quanto é necessário, como
as nossas expectativas em curso no processo educativo. transportaremos as compras e se ir ao mercado seria a
Assim, nesta unidade, você será capaz de visualizar melhor opção, uma vez que, na feira do produtor, seria,
como podemos organizar a Educação Física escolar bem talvez, mais barato. Se as etapas bem como os detalhes
como os seus conteúdos, dando sequência lógica ao lon- não estiverem bem organizadas, as compras poderão ser
go dos anos escolares, respeitando o desenvolvimento um verdadeiro desastre. Este é um simples exemplo de
dos alunos e o grau de complexidade exigido para cada nosso cotidiano para demonstrar que planejar está in-
tema estabelecido. Essa organização visa a capacitá-lo(a) cluído nas mais corriqueiras atividades.

50
EDUCAÇÃO FÍSICA

Ao pensarmos o ato educativo, temos a mesma situ- integrante do processo educacional. Se não houver tal
ação, mas com agravantes futuros muito mais comple- preocupação, estaremos mantendo uma atividade na es-
xos, os quais podem decorrer de: falta de planejamento, cola ao invés do desenvolvimento de um componente
desinteresse dos alunos, desvalorização da área de co- curricular, como foi bem salientado na Unidade I.
nhecimento, entendimento de perda de tempo e muitos
outros problemas que comprometem várias gerações.
Dessa forma, pensar, antecipadamente e com rigor es-
trutural, se coloca como estratégia básica para o sucesso O planejamento é uma ação pedagógica que
educacional. deve ocorrer de forma integrada a todos os
Em específico, ao observar as aulas de Educação Fí- acontecimentos escolares, além de deve en-
sica, se não for alguém da área, é possível ter a impressão volver, nas discussões, toda a comunidade
de que elas não exigem planejamento, pois são crianças escolar, pois, somente, dessa forma o conhe-
brincando ou jogando sem demonstrar preocupação cimento tem chances de chegar ao aluno de
com algum objetivo que não seja o de se divertir e/ou forma significativa, com objetivos possíveis
ganhar. É óbvio que isso é um sério erro de interpretação de se concretizar. Acesse: https://novaescola.
e, também, uma visão de leigos sobre a área. Mas se os org.br/conteudo/295/planejamento-escolar.
leigos podem ter essa visão é porque nem sempre nos
preocupamos em despertar neles visões para além das
atividades. Este é um cuidado pedagógico que os pro-
fessores de Educação Física precisam ter, ou seja, fazer As Etapas do Planejamento e a
com que os participantes das aulas consigam enxergar Relevância Delas
para além da diversão e da movimentação. É fundamen-
tal que se demonstre aos participantes o sentido, o sig-
nificado, a importância bem como a utilidade do que é
trabalhado nas aulas de Educação Física.
O professor de Educação Física deve ter claro que
todas as ações desenvolvidas em suas aulas precisam ser
muito bem organizadas e estruturadas, pois delas decor-
rem o aprendizado e a futura autonomia dos alunos para
que eles sejam capazes de usufruir desses conhecimen-
tos em suas vidas.
Nesse sentido, selecionar, adequadamente, os obje-
tivos, os conteúdos, os procedimentos metodológicos e
avaliativos, coloca-se como vital para o sucesso das au-
las e, também, para a valorização dessa área enquanto


Os alunos do 5º ano chegam para a aula e perguntam: O exemplo citado carrega um processo histórico que
“professor, o que teremos na aula, hoje?”. O professor denigre a imagem da área, além de fortalecer, no ima-
responde: “hoje, vamos brincar de bola queimada”. Um ginário social, uma imagem muito desfavorável ao pro-
aluno problematiza: “mas de novo, professor?”. “Sim”, res- fissional da Educação Física e da própria área. Essas
ponde o profissional. Outro aluno questiona: “mas por crianças, com certeza, integrarão a sociedade em postos
que a queimada?”. “Porque eu já planejei esta atividade”, o de trabalho, serão pais e mães e carregarão consigo uma
professor responde. Boa parte dos alunos foi para a brin- imagem deplorável de suas experiências escolares com a
cadeira e os que não queriam, ficaram conversando e/ou Educação Física.
fazendo outras atividades durante a aula. No fim, os alu- Para mudar tanto este quadro quanto esta prática,
nos despedem-se do professor e vão para a sala de aula. o professor precisa ter clareza da importância de orga-
Nesta experiência, podemos questionar: nizar os conhecimentos a serem trabalhados na escola.
• Este exemplo de aula é muito comum nas escolas O tempo que se tem com as crianças é curto, portanto,
brasileiras? ele precisa ser valorizado, em cada segundo, com opor-
• O professor possuía um planejamento? tunidades de aprendizagem. Desse modo, não é reco-
• Os alunos participaram da elaboração do plane- mendado ter tempo ocioso no processo educacional, e
jamento da disciplina? todas as ações devem ter o compromisso de contribuir
• As atividades estão de acordo com os interesses e com o processo formativo e informativo dos alunos. As
as necessidades dos participantes?
atividades vivenciadas devem estar encaixadas em pro-
• O que os alunos levaram para suas vidas, de rele-
pósitos que levem os alunos a patamares cognoscentes,
vante, desse exemplo de aula?
sociais, afetivos e motores superiores. Aqui, utilizaremos
• Qual será a ideia que esses alunos carregarão
o termo trabalhado pelo professor Manuel Sérgio (2005,
consigo sobre aulas de Educação Física e sobre
esse professor, ao longo de suas vidas? p. 50): “Transcendência é o ato de ultrapassar os estágios
anteriores e atingir novos estágios de desenvolvimento
As respostas a estas questões não são favoráveis ao pro- em cada um dos domínios trabalhados”.
fissional e à área da Educação Física. Mesmo que tenha Em relação às etapas do planejamento, elas não fo-
ocorrido certa evolução na produção do conhecimento gem às etapas que estão apresentadas na Figura 1, in-
da área, ainda sofremos com práticas descontextualiza- dependentemente das diversas propostas educacionais
das e frágeis, pedagogicamente. que surgem. Essas etapas colocam-se como o alicerce de
qualquer planejamento, um caminho a ser observado e
atendido, a fim de haver coerência no que se pretende
com a disciplina trabalhada. Assim, de acordo com Oli-
Se consideramos o planejamento integrado veira et al. (2009), para se pensar em um planejamento,
às necessidade e realidade da criança e da é necessário seguir um esquema coerente e coeso com a
comunidade escolar, é possível afirmar que finalidade de obter o sucesso das suas aulas.
ele deve ser flexível, não engessado? Veja, a seguir, as indicações dos autores para a elabo-
ração de um bom planejamento.

52
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 1 - Etapas do planejamento / Fonte: Oliveira et al. (2009, p. 242).

O Diagnóstico

Quais são os elementos culturais da comunidade e como Como é a localidade em que se insere a escola?
eles podem intervir em relação às atividades sociais? O Lembre-se sempre que a escola não está em uma
diagnóstico se coloca como o ponto de partida de um abóboda, então, não deve ser considerada fora da reali-
planejamento, afinal, saber para quem e com quem se dade do seu entorno. Assim, mapeie a população com a
planeja é de fundamental importância para haver har- qual você interagirá: nível socioeconômico, sexo, idade,
monia e sucesso. Nesse sentido, alguns pontos são im- densidade demográfica. Levante a infraestrutura da lo-
portantes de serem considerados e observados nesse calidade bem como os pontos de convivência e esporte
levantamento. Os veremos, a seguir. que são disponibilizados.


Quais são os hábitos locais em relação às ativi- Objetivos


dades sociais?
Não deixe de verificar como a comunidade se diver- De acordo com Oliveira et al. (2009, p. 246-247):
te e faz uso do tempo livre. Tente mapear as brincadei-
ras, os esportes praticados, as danças e festividades mais [...] após a elaboração do diagnóstico e de sua res-
pectiva análise, inicia-se a fase de estruturação dos
frequentes e características do local.
objetivos. Nesta fase, perspectiva-se um futuro e
Quais são os problemas sociais que a localidade o projeta em etapas por meio dos objetivos que se
enfrenta? definirão como alvos de suas atuações ao longo do
As escolas estão cada vez mais vulneráveis. Nesse período que compreende o planejamento. Os obje-
sentido, verifique se, na comunidade, há problemas rela- tivos devem expressar as intenções, o que se busca
com o desenvolvimento da disciplina. [...]
cionados a drogas, gangues e delinquência de forma ge-
ral. Você precisa se preparar para futuros enfrentamen-
tos e, se necessário, deverá saber como agir. No curso Para que haja harmonia na estruturação e hierar-
quização dos objetivos, é importante que se atente
de formação, você não terá acesso a todo tipo de infor-
para o fato de que deve haver relação direta entre
mação necessária, portanto, precisa ter iniciativa para eles. Os objetivos específicos são parcelas menores
verificar como a sua comunidade vivencia os problemas que, unidas, devem favorecer ao atendimento ple-
sociais e tentar se preparar, adequadamente. no do objetivo geral.
Quem serão os alunos atendidos?
Este ponto é vital. Ter o perfil do seu grupo de alunos Nesse cenário, os autores destacam o fato de que alguns
é imprescindível para que não haja equívocos no plane- cuidados são necessários para manter a relação entre os
jamento. Portanto, tenha clareza sobre idades, sexo, re- objetivos:
lação idade/série, histórico na escola, características das • Especificar o conhecimento para assimilação e
turmas, assim como as atividades físico-esportivas que sua aplicação na vida cotidiana (o que meu aluno
costumam praticar, também não deixe de verificar como pode levar para sua vida);
é o processo histórico da Educação Física na escola. Este • Garantir a sequência lógica para compreensão
conjunta (organizar os objetivos de maneira que
panorama geral facilita a organização de ações pedagó-
avance para um estágio posterior, garantindo
gicas para futuras mudanças e com qual ritmo elas po- aquisição de informações necessárias para tare-
dem ser realizadas. fas futuras);
Estas questões devem, de forma inicial, apresentar • Garantir a clareza dos objetivos, fazendo com
um quadro real da situação em que se encontra a escola que os alunos percebam que os mesmos são seus
e a localidade com a qual você estará se relacionando. (que o aluno se perceba como parceiro na con-
Por isso, são imprescindíveis de serem levantadas, a fim cepção e desenvolvimento dos propósitos da dis-
de contribuir no processo de planejamento que aconte- ciplina, assim como saiba aonde se pode chegar
com o que está sendo perspectivado);
cerá a partir destas informações gerais.

54
EDUCAÇÃO FÍSICA

• Oferecer graduação nas experiências, tornando


geral, ou seja, são os caminhos que se percorrerá para
o ensino motivante (que o desafio seja mantido
para o grupo de alunos e sirva como fator esti- chegar ao final de um processo”. E, ainda:
mulante à sua superação - transcendência);
• Organizar objetivos para verificar resultados Esses objetivos podem ser temporais ou temáticos.
Assim, ao determinar os objetivos gerais, devem-se
que permitam o controle avaliativo (os obje-
escolher quais podem ser os melhores caminhos
tivos devem possibilitar meios de comparação
para atingi-los num período específico de tem-
entre início e fim das ações) (OLIVEIRA et
po, por exemplo, em um mês com dez/doze aulas
al., 2009, p. 247). (OLIVEIRA et al., 2009, p. 248).
Para Oliveira et al. (2009), a Educação Física escolar
se constitui a partir da perspectiva do esporte educa- Considerando os objetivos gerais exemplificados, an-
cional, considerando os princípios pedagógicos par- teriormente, estabelecemos objetivos específicos para
ticipantes e emancipatórios. Seguindo estas premis- um mês de aula, sendo três aulas por semana. Os pro-
sas, as aulas serão desenvolvidas tendo um princípio fessores deverão atentar-se à estruturação de objetivos
educacional formativo constante, no decorrer do seu específicos que consigam demonstrar, claramente, os
desenvolvimento. caminhos a serem seguidos, a fim de alcançar o pleno
objetivo geral traçado para a disciplina.
É importante observar que os objetivos específicos
exemplificados tratam, apenas, de uma parte do que se pre-
Unidade de tempo é entendida como um pe-
tende com os objetivos gerais idealizados, anteriormente. A
ríodo necessário para o desenvolvimento de partir dos específicos, outros deverão ser organizados com
determinadas atividades, podendo ser uma vistas a atender, plenamente, aos gerais. Esse foi apenas um
unidade mensal, bimestral, trimestral, qua- exemplo de uma pequena parcela a ser organizada.
drimestral, ou, mesmo, semestral. É imprescindível que os professores considerem a
realidade de cada turma de alunos, por isso, a importân-
cia do diagnóstico. Do contrário, o planejamento não
surtirá o efeito desejado.
É fundamental que se tenha clareza da intencionalidade
demonstrada no objetivo construído e partilhá-lo com A Seleção e Organização dos Conteúdos
todos os alunos para que estejam cientes das intenções
e propósitos gerais dos trabalhos a serem desenvolvidos. Após a estruturação dos objetivos para a disciplina,
Os alunos precisam ser corresponsáveis pelo desenvol- vem o momento de selecionar e organizar os conteúdos
vimento da disciplina! que serão trabalhados durante o ano. Dando sequên-
Conforme Oliveira et al. (2009, p. 248), quando nos cia às atividades desenvolvidas até aqui e com base no
referimos aos objetivos específicos, deve-se levar em que o diagnóstico demonstrou, deve-se ter claro que os
consideração o fato de que eles “[...] devem ser organi- conteúdos precisam ter relação com os dados levanta-
zados em função do que se designou enquanto objetivo dos e a realidade do local onde a escola está inserida.


Dois aspectos precisam ter a atenção do professor, Seguindo as palavras de Oliveira et al. (2009, p. 251):
em especial:
• É muito comum trabalhar conteúdos que são de [...] deve-se considerar que os conteúdos são uma
domínio do docente e do grupo. herança cultural diversificada e têm uma relação
com a vida dos alunos. A Educação Física pode
• A vivência de novos conteúdos e conhecimentos
abarcar muitos conhecimentos e precisa ter clareza
exige estudo, dedicação e convencimento, o que,
na seleção a ser feita para os diversos anos escola-
por vezes, provoca limitações de novas experi- res.
ências.

Estes dois aspectos devem ser, continuamente, cuida- Por último, é necessário entender que a docência exige
dos, pois a escola é o ambiente no qual os alunos pre- contínuo estudo e aperfeiçoamento. Um professor não
cisam ter a chance de novos conhecimentos e vivências. deve se limitar à sua formação inicial. Ele deve estar
Trata-se de um processo que exige o comprometimento atento para elaborar estratégias de ensino que contem
de todos, além de ser um exercício que, como forma de com as novidades surgidas na área.
treinamento, deve ser contínuo. É necessário aprender a
dar chances ao novo, ao desconhecido e às novas expe- A Natureza dos Conteúdos
riências — sendo elas positivas ou negativas — de todas
elas, há a possibilidade de extrair conhecimentos impor- De acordo com Oliveira et al. (2009), os conteúdos sem-
tantes a nossas vidas. pre estão no cerne das discussões de programas de en-
Este destaque foi dado, nesse momento, pois é co- sino, devem ser considerados e elencados, considerando
mum que, nas aulas de Educação Física, por consequ- todas as possibilidades de utilização. Assim, os autores
ência da falta de uma organização mais consistente e propõem um novo olhar sobre esses conteúdos.
vinculada aos demais conhecimentos da formação, tra- Desse modo, exemplificaremos utilizando as regras
balhe-se conteúdos esportivos vinculados, somente, às dos esportes e/ou jogos e brincadeiras (para qualquer
vivências dos professores. Por exemplo: um professor um deles serve o exemplo). A natureza básica deste con-
que é técnico de handebol trabalha, apenas, essa moda- teúdo — regras dos esportes — é apresentar a orga-
lidade ao longo dos diversos anos escolares. Com isso, os nização dos esportes. Ao ensinar como essas regras se
alunos são obrigados a vivenciar, somente, o handebol, relacionam com as nossas regras sociais de convivência
sem a chance de novas experiências. ou como se aplicam ao nosso cotidiano, o conteúdo pro-
É fundamental entender que os conteúdos reúnem posto é apresentado sob um novo olhar. Trata-se de en-
conhecimentos organizados, de forma pedagógica e di- sinar as regras dos esportes fazendo uso da transcendên-
dática, tendo em vista a aplicação prática na vida dos cia desse conteúdo básico, ou seja, um olhar ampliado e
alunos (LIBÂNEO, 1994). complexificado.

56
EDUCAÇÃO FÍSICA

Fatos e Conceitos Atitudes

Segundo Oliveira et al. (2009), os conceitos — os Segundo Oliveira et al. (2009, p. 211): “As atitudes refe-
quais, em geral, são abstratos e estão ligados às rem-se à personalidade, às ações que os indivíduos têm
compreensão e memorização dos fatos vivenciados numa relação. [...] é preciso considerar que as atitudes
— permitem a interpretação sobre os significados. abrangem valores e normas de comportamento, de na-
Quanto mais compreensão dos conceitos houver, tureza relacional”.
mais fatos são aprendidos. Sob essa perspectiva, de acordo com Oliveira et al.
Dessa forma, segundo Oliveira et al. (2009, p. 254), (2009, p. 211), “[...] é preciso considerar que todas as
“[...] há um grande desafio para o professor de Educação práticas esportivas têm uma dimensão conceitual, pro-
Física: como escolher e organizar conteúdos conceituais cedimental e atitudinal, naturalmente em alguns casos
e utilizá-los em aulas de práticas esportivas”. predominam uma ou outra dimensão, mas todas estão
presentes”.
Procedimentos
Critérios para a seleção dos conteúdos
Para Oliveira et al. (2009), os conteúdos de ordem proce-
dimental estão ligados ao “fazer”, à ação propriamente dita. Além dos aspectos já salientados para a seleção e orga-
Aqui, cabe a ressalva de que a Educação Física é acu- nização dos conteúdos, há a necessidade de cuidar de al-
sada, continuamente, de se embasar, somente, nos pro- guns critérios destacados por Piletti (1997). Aqui, se en-
cedimentos dos conhecimentos que são trabalhados. fatiza o fato de que os conteúdos da Educação Física são
Dada a aproximação com os aspectos práticos da disci- conteúdos de aplicação e utilização imediata dos alunos,
plina, por vezes, as ações se reduzem a vivências sem a ou seja, ao finalizar a aula, os alunos já podem usufruir
devida atenção aos demais aspectos conceituais e atitu- desses conteúdos nos seus cotidianos. Contudo o pro-
dinais. Aqui, todo cuidado é pouco! Se o professor não fessor precisa estar atento e, continuamente, demonstrar
ficar atento e não cuidar, de forma adequada, das ações, aos alunos como isso pode ser aplicado.
elas correm o risco de serem reduzidas a atividades com A seguir, veremos indicações de critérios que devem
fim em si mesmas. ser cuidados nessa seleção de conteúdos.


Figura 2 - Critérios de seleção dos conteúdos / Fonte: adaptada de Piletti (1997).

Estratégias Metodológicas

Agora, chegou o momento de se definir pelo caminho todologia de ensino apresentados por Libâneo (1994):
metodológico: como apresentar e desenvolver os con- exposição do professor; trabalho independente; elabo-
teúdos selecionados? Qual a melhor forma e estratégia ração conjunta; trabalho em grupo; atividades especiais.
para isso? Como envolver os alunos? De que modo Tais conceitos colocam-se de forma global bem como
aproveitar os momentos, a fim de que sejam ricos, peda- abarcam procedimentos essenciais ao que podemos de-
gogicamente, e que todos possam enxergar e aproveitar, nominar “bom trabalho metodológico”.
em seus cotidianos, os temas trabalhados? De acordo com Oliveira et al. (2009, p. 212), no con-
Nem sempre conseguiremos atender, por meio de nos- texto escolar,
sas aulas, a todos estes questionamentos, mas é importante
entendermos a importância das estratégias. A estratégia é o [...] todas essas situações entendidas, discutidas e re-
fletidas a partir das práticas corporais, podem gerar
caminho, o rumo, o percurso utilizado para atingir os ob-
apropriação de conhecimentos significativos para
jetivos determinados. A escolha dela está relacionada aos os alunos. Entretanto, é preciso entender que, para
conteúdos que serão desenvolvidos e às características do o desenvolvimento dos conteúdos, o professor pode
grupo de alunos. Quanto mais próximo do aluno, maiores (deve) optar por uma ou mais estratégias. Tudo vai
as chances de acertar a escolha metodológica. depender do estágio de desenvolvimento e de que
recursos o grupo constituído precisa para se apro-
A Pedagogia e a própria Educação Física possuem
priar dos conhecimentos e vivências trabalhadas.
muitas opções de caminhos, contudo, para facilitar um
pouco este trabalho, utilizaremos os conceitos de me- Veja, a seguir, o exemplo:

58
EDUCAÇÃO FÍSICA

Rugby – Adaptação das regras do jogo para a in- Estratégias


clusão As estratégias utilizadas para colocar os conteúdos
O rugby tem um histórico de ações viris e que exi- em prática serão:
gem muita força! • Exposição do professor.
O objetivo, nesta aula, será se organizar a atividade • Trabalho independente.
de forma que todos possam ter chances iguais de • Trabalho em grupo.
participação no rugby. • Elaboração conjunta.
Organização da ação • Atividades especiais.
1. Apresentação do rugby e suas regras. Tais estratégias serão utilizadas de acordo com o
2. Apresentação de um vídeo do jogo com momento de ensino no qual a modalidade esportiva
destaque às regras centrais do esporte. estiver.
Exemplo 1: quando o ensino de determinada prática
3. Verificar junto ao grupo quais são as exi-
corporal estiver no início, haverá a exposição do
gências motoras básicas para participar do
professor, para que os alunos entendam o conceito
jogo.
da atividade e, depois, praticá-la.
4. Discussão sobre as possibilidades de parti-
Exemplo 2: quando determinada prática corporal
cipação de todos.
já tiver sido, de certa forma, assimilada, passa-se à
5. Reorganização das regras de forma que
utilização do método de trabalho independente,
todos possam ser contemplados e valoriza-
momento no qual os alunos poderão praticar, auto-
dos no jogo.
nomamente, e criar sobre as formas pré-concebidas
6. Vivência das ações e reorganização das re- do próprio esporte.
gras e ações tantas vezes quantas forem Exemplo 3: quando for identificado que os alunos
necessárias, para o atendimento aos pro- têm condição de trabalhar em grupo e solucionar
pósitos de valorização pessoal, participação problemas de forma não conflituosa, será utilizado
e cooperação. o trabalho em grupo. Este é o momento fulcral da
Metodologias envolvidas criação e adaptação, pois os alunos poderão alterar,
Exposição verbal do professor com o objetivo de substancialmente, o desenho geral do esporte e or-
nivelar o entendimento de todos sobre o jogo, as ganizá-lo de acordo com seus interesses, vontades
suas regras e exigências físico-motoras. e condições físico-motoras.
Demonstração por intermédio de vídeos e exposi- Como é possível verificar, várias estratégias, em uma
ções práticas. aula, podem ser utilizadas. Este cuidado o professor
Trabalho conjunto no qual os alunos, cooperativa- precisa tomar sempre que planejar as suas ações,
mente, discutem as ações e formas de como adaptar porque é a partir dessa organização que resulta o
o jogo à realidade do grupo e as suas possibilidades. sucesso da aula.


Visando ao fechamento deste tópico, apresentamos


algumas recomendações baseadas no trabalho de Pal- na construção do conceito de corpo e se perceba
como um corpo em movimento e com possibilidades
ma, Oliveira e Palma (2010). Estes autores indicam os
diferentes de ação.
cuidados e as ações que os professores precisam ter no
As ações docentes devem ser organizadas e plane-
desenvolvimento das aulas:
jadas de modo a possibilitar que o aluno construa
esquemas de ação — habilidades motoras — o que
contribui na tomada de consciência de sua corporei-
Proporcionar às crianças situações nas quais elas se-
dade e das ações próprias como operações.
jam capazes de inventar, construir, reelaborar con-
ceitos e ideias, numa atuação tão consciente quanto
crítica, repleta de significado e significância, evitan-
do, assim, a reprodução de ações provenientes das
Recursos
gerações anteriores, portanto, deve-se promover
aprendizagens, significativamente, construídas. A
valoração e consideração devem ser dadas aos mo- Chegamos ao aspecto relacionado aos recursos disponi-
mentos bem como aos conhecimentos construídos bilizados para as aulas. No Brasil, ainda há muita carência
e vividos, intensamente. de recursos, sejam eles físicos, sejam eles materiais e há,
Possibilitar situações as quais ofereçam vivências de até mesmo, carência de pessoal. Nesse sentido, dobra-se
movimentos corporais sob várias formas, para que o cuidado ao se planejar, pois há a necessidade de prever
os alunos reflitam sobre as suas ações, compreen- muito bem o que se tem disponível para o que se pre-
dem a sua utilização, identificando-as nas diversas tende oferecer aos alunos. Por outro lado, não podemos
tarefas do cotidiano. nos acomodar, correndo o risco de deixar de improvisar
As atividades propostas nas diversas situações de e enriquecer as nossas práticas, quando não houver ma-
uma aula devem possibilitar a compreensão das teriais e/ou espaço suficientes às ações. O professor pre-
razões de se vivenciar as manifestações culturais —
cisará partir tanto para os processos adaptativos quanto
esporte, dança, jogo, ginástica e lutas — estudando,
criativos, a fim de deixar a sua disciplina estimulante.
com mais profundidade, aquelas que fazem parte
do contexto estudado.
Avaliação
Ao organizar as situações das aulas, para as vivên-
cias das formas culturais, deve ser possibilitado ao
aluno identificar as ações motoras que acontecem Conforme Oliveira et al. (2009, p. 263), a avaliação nas
quando ele as vivencia. aulas de Educação Física deve ocorrer de forma contí-
As ações e atividades propostas devem, também, nua, sendo “[...] refletida e discutida, em conjunto (pois
favorecer, em amplitude e profundidade, a amplia- isoladamente não se consegue despir de valores), na es-
ção dos conhecimentos que o aluno possui sobre o cola, para assim resignificá-la”.
ato de movimentar, para que esse aluno contribua Os autores descrevem que os objetivos a serem ava-
liados devem ser:

60
EDUCAÇÃO FÍSICA

[...] reais, apontam as capacidades que se quer atin-


gir e estão relacionados com a cultura do local, se- Fundamentação Teórica
ria simples avaliar, porém quando o planejamento
de ensino é uma ação burocrática e os conteúdos Todo plano deve ter, como base, uma fundamentação te-
são desenvolvidos sem considerar os interesses e as órica. Não é possível existir um planejamento sem que
necessidades do grupo, avaliar é algo praticamente
impossível. (OLIVEIRA et al., 2009, p. 263).
o professor se atente aos pressupostos teóricos os quais
fundamentam tal planejamento. A base central para isso,
De acordo com Oliveira et al. (2009), pode-se con- dentro da escola, será o Projeto Pedagógico. Portanto, o
siderar, para o acompanhamento e desenvolvimento professor, ao elaborar o plano de sua disciplina, não deve
das aulas, alguns instrumentos voltados à avaliação negligenciar os pressupostos definidos pela equipe peda-
dos alunos: ficha de acompanhamento individual; de gógica da escola bem como a matriz geral curricular.
acompanhamento de turmas e de autoavaliação; en- É evidente que, para a elaboração do Projeto Peda-
trevistas e questionários com os alunos. gógico da escola, os professores e demais integrantes da
Oliveira et al. (2009, p. 264) destacam, ainda, que estrutura escolar devem participar, efetivamente. Con-
“[...] os conteúdos devem ser tratados em sua dimensão tudo nem sempre tal recomendação é acatada, ficando
conceitual, procedimental e atitudinal, logo a avaliação essa organização sob a responsabilidade de poucos, o
deve utilizar instrumentos que identifiquem a assimila- que se coloca como um sério erro de gestão.
ção desses conteúdos”. Assim, a avaliação deve: Dessa forma, fica o alerta: envolva-se, participe, exi-
• Verificar como o aluno utiliza os conceitos ora ja, demonstre a importância da disciplina sob a sua res-
apresentados pelo professor e os relaciona com ponsabilidade, verifique os pressupostos gerais da esco-
a sua vida; la, atualize-se, ou seja, mantenha-se por dentro de todas
• Observar se o aluno demonstra satisfação na re- as ações de sua escola, isso é fundamental para os alunos
alização das manifestações corporais, dentro de
se sentirem seguros frente a tudo que vivenciam dentro
suas limitações e capacidade de execução, não
impondo um padrão a ser alcançado; dela e que deve servir às suas vidas.
• Identificar se o aluno demonstra assimilação
conceitual e procedimental das práticas corpo- COMO PENSAR A EDUCAÇÃO FÍSICA DE
rais e se essas efetuaram transformações na forma FORMA SISTEMATIZADA
de comportar-se frente às atividades e ao grupo a
que pertence (OLIVEIRA et al., 2009, p. 264). Este, talvez seja, ainda, um dos maiores problemas que
temos com a Educação Física escolar, pois, tradicional-
Para Oliveira et al. (2009, p. 265), “[...] a avaliação não mente, ela é trabalhada de forma distante dos demais
pode centrar-se nas respostas prontas e decoradas ou na componentes curriculares, o que se coloca como um
execução perfeita de movimentos específicos de moda- erro pedagógico tremendo.
lidades esportivas”. Assim como os demais componentes curriculares, a
Lembre-se que a avaliação deve oportunizar que o Educação Física precisa ser organizada e estruturada de
aluno demonstre autonomia para solucionar os proble- forma sistematizada, de modo a oferecer aos alunos uma
mas, incorporando valores, conceitos, conhecimentos e sequência lógica e gradativa de conteúdos, respeitando o
saberes à sua prática cotidiana. desenvolvimento desses alunos ao longo da vida escolar.


Nesse sentido, deve-se pensar em como os conheci- com graus de complexidade adequados aos conheci-
mentos e vivências podem ser estruturados em uma sequ- mentos e vivências para cada ano. Trata-se, apenas, de
ência lógica com potencial de estimular a todos no decorrer uma proposta, mas passível de contribuir com a futura
das aulas. Essa condição exige que o professor: fique atento estruturação que você fará em sua escola, servindo de
às fases de desenvolvimento (cognitivo, motor, físico e so- base para os dados a serem levantados e elencados em
cial) dos alunos, se preocupe com o que as demais discipli- seu planejamento.
nas desenvolvem ao longo dos anos escolares e como esses
conhecimentos servem de base para a seleção dos conhe- CAMINHOS PARA O PROCESSO DE ES-
cimentos da Educação Física e das ações interdisciplinares. TRUTURAÇÃO DOS CONTEÚDOS DA
Por fim, como as teorias da aprendizagem indicam que os EDUCAÇÃO FÍSICA
conhecimentos são tratados e potencializados de forma que
os alunos aprendam com mais facilidade. O professor precisa se atentar a aspectos que potenciali-
Esta possibilidade de sistematização está apresenta- zam a estruturação de conteúdos e, também, como tais
da, de maneira bastante rica, no livro de Palma, Oliveira aspectos contribuem com o processo formativo e infor-
e Palma (2010). Nesta obra, há uma proposta de orga- mativo dos alunos, da mesma forma que se vinculam ao
nização da Educação Física em núcleos temáticos que Projeto Pedagógico da escola e às demais áreas do co-
devem ser trabalhados ao longo de toda a vida escolar, nhecimento, ano a ano, trabalhadas.

Figura 3 - Estruturação dos conteúdos / Fonte: os autores.

62
EDUCAÇÃO FÍSICA

Alguns pontos costumam servir de base para a estrutu- A Educação Física tem evoluído, sistematicamen-
ração da sistematização dos conteúdos. te, e disponibilizado muitos conhecimentos que fa-
vorecem o processo formativo. As práticas corporais
Conhecimentos Produzidos na Área envolvem manifestações esportivas e rítmicas, jogos,
da Educação Física brincadeiras, expressão corporal, ginástica, lutas, dan-
ça, sendo consubstanciadas para além de seu próprio
As práticas corporais compõem um leque enorme entendimento em temas relacionados a saúde, biome-
de possibilidades e ações que devem ser trabalhadas cânica, ergonomia, Sociologia, Antropologia, Filosofia
na Educação Física escolar. Tais práticas colocam-se e outras dimensões pedagógicas.
como um acervo rico que deve ser refletido, vivencia- A Educação Física é uma área, digamos assim, “abu-
do e, se necessário, reformulado e adaptado no pro- sada” em se tratando de possibilidades de intervenção
cesso educacional. Entretanto é imperioso ter claro e formação, pois ela consegue, por intermédio de suas
que a Educação Física escolar não se restringe e se vivências, trabalhar os seus conhecimentos bem como
responsabiliza, apenas, pelo trabalho com as práticas apoiar todas as demais áreas formativas do processo
corporais, já que elas são, somente, parte do que se educacional. Para tanto, se exige do professor dedicação
deve trabalhar na sequência escolar. e um processo de planejamento muito detalhado e ar-
Na organização das aulas, as práticas assumem, ticulado com as demais áreas de conhecimento. Nesse
muitas vezes, papéis distintos de acordo com o objetivo cenário, ressalta-se que, para todos os componentes, isso
traçado, que vão desde o acesso aos conhecimentos de é vital, porque, desse modo, haverá a chance de trabalhos
sua própria estrutura até a organização do meio para o mais produtivos e que poderão, muito facilmente, favo-
ensino de outros conteúdos. Por exemplo, inicialmen- recer o processo de aprendizagem dos alunos.
te, são organizadas aulas de atletismo com as provas de As demais disciplinas de formação e os seus cader-
pista para os alunos tanto entenderem quanto conhe- nos são prova fiel desta afirmativa que acabamos de
cerem como são organizadas e estruturadas essas pro- apresentar, ou seja, todos têm muitos conhecimentos da
vas, assim como as técnicas motoras exigidas por esta Educação Física a serem organizados e trabalhados com
modalidade. Este será um bloco de estudo para algumas os alunos no processo educacional.
aulas e, oportunamente, as provas de pista podem ser
utilizadas nos trabalhos de conhecimentos vinculados Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendi-
a saúde e treinamento, tais como: capacidade aeróbica e zagem Humana
anaeróbica, força explosiva etc.
Nesse exemplo, as provas de pista, em dado momen- A Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem
to, são o objeto de estudo das aulas, em outro, servem de Humana trabalha conhecimentos os quais balizam o
meio (estratégia) ao acesso a outros objetos de estudo. grau de profundidade e de exigência que podemos atri-
É muito importante que o professor domine e entenda buir à organização de nossas aulas.
isso, pois, do contrário, o profissional fará, apenas, a re- Portanto, estaremos atentos ao que autores como
petição de atividades, sem chance de aprofundamento, Erikson e Erikson (1998), Olds e Papalia (2000), Wallon
tampouco de enriquecimento pedagógico das vivências. (1953), Vayer (1982), Piaget (1986), dentre outros. Esses


autores fornecem informações que vão do estado psico- diferentes das etapas de desenvolvimento desses alunos.
lógico de desenvolvimento até as etapas de desenvolvi- De forma muito recorrente, há um descompasso entre
mento motor, apresentando indicativos de como o pro- aquilo que se tem condições de realizar, com chances
fessor é capaz de dar complexidade à organização das de sucesso, e o que se programa para as aulas. Portanto,
ações no planejamento, inclusive em suas aulas. recorrer às teorias de desenvolvimento trabalhadas por
A base teórica é a consistência que o professor pre- Magill (1984), Boulch (1987), Tani et al. (1988), Gallahue
cisa para consolidar e justificar o seu planejamento. Sem e Ozmun (2005), entre outros, para fundamentar a orga-
estrutura teórica, o plano fica vulnerável, correndo o ris- nização dos conhecimentos e vivências, é imprescindível
co de incorrer em equívocos que diminuem a importân- ao planejamento da Educação Física escolar.
cia da disciplina.
O professor que mantém a consistência teórica e Teorias Pedagógicas
tem, claramente, justificadas as ações selecionadas, terá
tranquilidade nas defesas frente ao corpo docente e pe- As teorias pedagógicas colocam-se como opções aos
dagógico de sua escola, assim como junto à comunida- professores e projetos pedagógicos das escolas. A for-
de. Com isso, a disciplina ganha em relevância na pro- ma de entender e desenvolver o processo formativo
posta pedagógica da escola. é carregada de intencionalidades que trazem consigo
o entendimento de indivíduo, mundo e sociedade.
Teorias do Desenvolvimento Motor Esse entendimento é traduzido na forma de organi-
zar a escola, de selecionar e trabalhar os conteúdos
Em relação às teorias do desenvolvimento motor, é im- bem como na maneira de avaliar. Assim, reforça-se a
portante ter clareza das etapas bem como das formas de importância da participação efetiva de todos na ela-
estimulações motoras possíveis, sendo importante, tam- boração do Projeto Pedagógico da escola, afinal, será
bém, que elas sejam interessantes aos alunos. Por algum com base neste documento norteador que a escola e
tempo, a área da Educação Física criticou, sem muito os seus integrantes organizarão as ações pedagógicas
fundamento, as teorias desenvolvimentistas. Contudo, e administrativas gerais.
nos dias atuais, isso está mais bem-resolvido, assim, o Tais tendências são, apenas, alguns exemplos os quais
que importa é saber fazer uso dos conhecimentos abor- possibilitam observar que a escolha de uma tendência
dados por essas teorias, a fim de qualificar as ações mo- recairá na forma de trabalhar os diversos componentes
toras, ao longo da vida escolar de nossos alunos. curriculares da escola. Contudo é muito importante que
Um dos mais sérios equívocos que os professores co- todos entendam as propostas e as suas bases teóricas, afi-
metem e que acaba por desestimular os alunos é a pro- nal, é a partir delas que se estruturam os procedimentos
gramação de ações motoras em graus de complexidade e, também, as discussões gerais do processo formativo.

64
EDUCAÇÃO FÍSICA

Em específico à Educação Física, é possível recorrer aos de quanto ao rendimento esportivo.


trabalhos apresentados por Oliveira et al. (2009) e Darido Como trabalhar isso: uma boa forma é por inter-
(2008), os quais trazem uma síntese das propostas da área médio da expressão corporal, na qual o grupo poderá
para a intervenção. Elas, por sua vez, se relacionam, direta se dividir para a estruturação dos componentes do
ou indiretamente, às propostas antes apresentadas. grande sistema — coração, pulmões, sistema, san-
gue — os alunos fazem, então, uma representação
Conhecimentos e Estrutura Sistematizada das de como o sangue circula no sistema e como realiza
Demais Áreas Atuantes na Escola a troca gasosa. Aqui, vale a criatividade dos grupos
para a representação. Uma vez que os alunos realizam
As demais áreas de conhecimento trabalhadas na es- esta experiência sinestésica — pois, é isso que acon-
cola possuem uma estrutura sistematizada e podem tece — eles representam, por meio dos seus corpos,
servir de base para a organização a ser estruturada toda a estrutura do grande sistema circulatório, não
pela Educação Física. esquecendo, tão cedo, todas as fases. Destacamos que
Como citado, anteriormente, a Educação Física é é muito importante todos trocarem de funções, a fim
capaz de fazer a relação de seus conhecimentos com as de realizar as vivências.
demais áreas trabalhadas na escola. Assim, visando a No trabalho interdisciplinar, o professor de Ciências
aproveitar, um pouco, desta facilidade que existe na nos- descreve, teoricamente, todo o sistema, enquanto o pro-
sa área, é oportuno o professor verificar o que as demais fessor de Educação Física o representa, sinestesicamente,
áreas estão trabalhando em cada um dos anos escolares, com os alunos. Depois, ambos os docentes poderão re-
então, buscar vínculos os quais possibilitem a boa visua- forçar, em suas aulas, os aspectos relacionados ao quan-
lização dos conhecimentos que podem ser enriquecidos to esse sistema é vital às condições gerais de saúde e de
no processo formativo. performance.
As áreas que costumam ter um vínculo mais forte No exemplo, houve a aplicação de trabalho teórico
são: Ciências, Geografia, História, Linguagem e Artes. em vivências motoras expressivas e, também, a poten-
Porém, como salientado, todas têm a capacidade de con- cialização do tema como base para futuros trabalhos em
tribuir nesse processo. Apenas para exemplificar o que ambos os componentes curriculares, afinal, tal trabalho
estamos defendendo: veja que o grande sistema, em Ci- não se esgota nessa fase: é, apenas, uma introdução ao
ências, é trabalhado, normalmente, no 4º ou 5º ano do que se fará, oportunamente.
Ensino Fundamental. Este é um bom momento para o Da mesma forma que o exemplificado nas demais
professor de Educação Física trabalhar as questões rela- áreas, há a mesma possibilidade de aproximações de co-
cionadas a trocas gasosas, capacidade aeróbica e anaeró- nhecimentos, o que, fatalmente, favorecerá a organiza-
bica, inclusive como estes aspectos são vitais tanto à saú- ção curricular geral da escola.


COMO PENSAR A EDUCAÇÃO FÍSICA SOB


O OLHAR DA BNCC

Não podemos excluir da nossa discussão sobre o plane- Em 2015, deu-se início ao processo de discussão a
jamento da educação física na escola, a nova compreen- respeito da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
são baseada nas habilidades, direitos e competências que Esse documento foi debatido ao longo de vários gover-
norteiam o trabalho pedagógico: estamos nos referindo nos e gestores, ganhando, por meio de consultas e audi-
à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). ências públicas, milhares de contribuições. Houve cerca
Este documento é o mais recente norte da Educação de 12 milhões de contribuições na primeira versão, me-
Básica no país e foi construído por longos anos. Atual- tade delas originárias de 45 mil escolas.
mente, ele está na base dos currículos de estados e muni- A segunda versão viajou pelos estados brasileiros, por
cípios e interfere na forma de constituir os conteúdos e meio de seminários estaduais, no ano de 2016. Tais semi-
os componentes curriculares, as antigas disciplinas. nários foram organizados pelo Consed (Conselho Nacional
Vamos aprender, um pouco mais, acerca deste as- de Secretários de Educação) e pelo Undime (União Nacio-
sunto, pensando como organizar o nosso planejamento nal dos Dirigentes Municipais de Educação), com a parti-
de Educação Física diante destes novos desafios? cipação de mais ou menos 9 mil pessoas, incluindo educa-
dores e alunos, a fim de discutir, em detalhes, o documento.
A construção da BNCC Já no ano de 2017, o Conselho Nacional de Educa-
ção (CNE) recebeu a terceira versão que, por sua vez,
Hoje, no Brasil, temos um documento normativo que quis dar voz, novamente, à opinião do Brasil, em uma
orienta toda a educação básica desde a Educação Infan- nova rodada de seminários regionais. No final desse
til até o Ensino Médio. Conheceremos, um pouco mais mesmo ano, a BNCC foi homologada pelo órgão com-
sobre ele e como ocorreu a sua construção. petente (MEC) e passou a ter validade para todo o país.

66
EDUCAÇÃO FÍSICA

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é


um documento de caráter normativo que define o Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento
conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens na Educação Infantil
essenciais que todos os alunos devem desenvolver • Conviver com outras crianças e adultos, em pe-
ao longo das etapas e modalidades da Educação quenos e grandes grupos, utilizando diferentes
Básica, de modo a que tenham assegurados seus linguagens, ampliando o conhecimento de si e
direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em do outro, o respeito em relação às cultura e dife-
conformidade com o que preceitua o Plano Nacio-
renças entre as pessoas.
nal de Educação (PNE) (BRASIL, 2018, p. 7).
• Brincar, cotidianamente, de diversas formas, em
diferentes espaços e tempos, com diferentes par-
As principais mudanças relativas à implementação da ceiros (crianças e adultos), tanto para ampliando
BNCC dizem respeito às políticas educacionais, tais quanto para diversificar o seu acesso a produções
como: elaboração dos currículos locais, formação inicial culturais, os seus conhecimentos, imaginação e
e continuada dos professores, material didático, avalia- criatividade, experiências emocionais, corporais,
ção e apoio pedagógico aos alunos. sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e rela-
cionais.
A BNCC passa a ser referência para a elaboração
• Participar, ativamente, com adultos e outras
dos currículos de todas as escolas do país. Em sua cons-
crianças, tanto do planejamento da gestão da
trução, o documento estabelece, como pilares, dez com- escola e das atividades propostas pelo educador
petências gerais, as quais serão o principal orientador do quanto da realização das atividades da vida coti-
trabalho a ser realizado em todos os componentes curri- diana, tais como: a escolha das brincadeiras, dos
culares da Educação Básica. materiais e dos ambientes, por meio do desen-
volvimento de diferentes linguagens e da elabo-
Mobilização de conhecimentos (conceitos e proce- ração de conhecimentos, decidindo, mas tam-
dimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioe- bém, se posicionando.
mocionais), atitudes e valores para resolver demandas • Explorar movimentos, gestos, sons, formas, tex-
complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da ci- turas, cores, palavras, emoções, transformações,
dadania e do mundo do trabalho (BRASIL, 2018, p. 9) relacionamentos, histórias, objetos, elementos da
natureza, na escola e fora dela, ampliando os seus
A Educação Física na Educação Infantil e os saberes sobre a cultura, em suas diversas modali-
campos de experiência na BNCC dades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.
• Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sen-
Na Educação Infantil, a aprendizagem acontece sobre sível, as suas necessidades, emoções, sentimentos,
os eixos estruturantes da brincadeira, assim como das dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões e ques-
tionamentos, por meio de diferentes linguagens.
interações (entre as crianças, com os demais participan-
• Conhecer-se e construir a sua identidade pesso-
tes do processo educativo etc.), com vistas a garantir os
al, social e cultural, constituindo uma imagem
direitos de aprendizagem conforme propõe a BNCC positiva de si e de seus grupos de pertencimento,
(BRASIL, 2018): conviver, brincar, participar, explorar, nas diversas experiências de cuidados, intera-
expressar-se e conhecer-se. ções, brincadeiras e linguagens vivenciadas na
A seguir, estão detalhados como ocorrem os direitos instituição escolar e em seu contexto familiar e
de aprendizagem e desenvolvimento. comunitário.


dade e de interdependência com o meio. Por sua vez,


Na BNCC, a organização curricular da Educação In- na Educação Infantil, é preciso criar oportunidades
fantil (BRASIL, 2018) foi disposta por meio de campos de para que as crianças entrem em contato com outros
experiências (cinco no total). Neles são definidos os objeti- grupos sociais e culturais, outros modos de vida, di-
vos de aprendizagem e desenvolvimento da criança. Tam- ferentes atitudes, técnicas e rituais de cuidados pes-
soais e do grupo, costumes, celebrações e narrativas.
bém é possível enxergar os objetivos que atendem às áreas Nessas experiências, elas podem ampliar o modo de
específicas, como Educação Física, Artes e Línguas. perceber a si mesmas e ao outro, valorizar sua iden-
tidade, respeitar os outros e reconhecer as diferen-
Tendo em vista os eixos estruturantes das práticas ças que nos constituem como seres humanos.
pedagógicas e as competências gerais da Educa-
Corpo, gestos e movimentos – Com o corpo (por
ção Básica propostas pela BNCC, seis direitos de
meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos
aprendizagem e desenvolvimento asseguram, na
ou intencionais, coordenados ou espontâneos), as
Educação Infantil, as condições para que as crian-
crianças, desde cedo, exploram o mundo, o espaço
ças aprendam em situações nas quais possam de-
e os objetos do seu entorno, estabelecem relações,
sempenhar um papel ativo em ambientes que as
expressam-se, brincam e produzem conhecimen-
convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se pro-
tos sobre si, sobre o outro, sobre o universo social
vocadas a resolvê-los, nas quais possam construir
e cultural, tornando-se, progressivamente, cons-
significados sobre si, os outros e o mundo social e
cientes dessa corporeidade. Por meio das diferen-
natural (BRASIL, 2018, p. 39).
tes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as
brincadeiras de faz de conta, elas se comunicam
Por meio dos campos de experiência, acontece uma co- e se expressam no entrelaçamento entre corpo,
lheita das experiências reais do cotidiano da criança — o emoção e linguagem. As crianças conhecem e re-
conhecem as sensações e funções de seu corpo e,
que ela tem aprendido com a vida — e incorpora-se aos
com seus gestos e movimentos, identificam suas
conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural. potencialidades e seus limites, desenvolvendo, ao
Considerando esses saberes e conhecimentos, os cam- mesmo tempo, a consciência sobre o que é seguro
pos de experiências nos quais se organiza a BNCC são: e o que pode ser um risco à sua integridade física.
Na Educação Infantil, o corpo das crianças ganha
centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado das
O eu, o outro e o nós – É na interação com os pares
práticas pedagógicas de cuidado físico, orienta-
e com adultos que as crianças vão constituindo um
das para a emancipação e a liberdade, e não para
modo próprio de agir, sentir e pensar e vão desco-
a submissão. Assim, a instituição escolar precisa
brindo que existem outros modos de vida, pessoas
promover oportunidades ricas para que as crianças
diferentes, com outros pontos de vista. Conforme
possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e na
vivem suas primeiras experiências sociais (na famí-
interação com seus pares, explorar e vivenciar um
lia, na instituição escolar, na coletividade), constro-
amplo repertório de movimentos, gestos, olhares,
em percepções e questionamentos sobre si e sobre
sons e mímicas com o corpo, para descobrir va-
os outros, diferenciando-se e, simultaneamente,
riados modos de ocupação e uso do espaço com o
identificando-se como seres individuais e sociais.
corpo (tais como sentar com apoio, rastejar, engati-
Ao mesmo tempo que participam de relações so-
nhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços,
ciais e de cuidados pessoais, as crianças constroem
mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr,
sua autonomia e senso de autocuidado, de reciproci-
dar cambalhotas, alongar-se etc.).

68
EDUCAÇÃO FÍSICA

Traços, sons, cores e formas – Conviver com dife- em conversas, nas descrições, nas narrativas elabo-
rentes manifestações artísticas, culturais e científi- radas individualmente ou em grupo e nas implica-
cas, locais e universais, no cotidiano da instituição ções com as múltiplas linguagens que a criança se
escolar, possibilita às crianças, por meio de experi- constitui ativamente como sujeito singular e per-
ências diversificadas, vivenciar diversas formas de tencente a um grupo social.
expressão e linguagens, como as artes visuais (pin-
tura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, Desde cedo, a criança manifesta curiosidade com
o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com relação à cultura escrita: ao ouvir e acompanhar a
base nessas experiências, elas se expressam por vá- leitura de textos, ao observar os muitos textos que
rias linguagens, criando suas próprias produções circulam no contexto familiar, comunitário e escolar,
artísticas ou culturais, exercitando a autoria (cole- ela vai construindo sua concepção de língua escrita,
tiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, reconhecendo diferentes usos sociais da escrita, dos
mímicas, encenações, canções, desenhos, modela- gêneros, suportes e portadores. Na Educação Infan-
gens, manipulação de diversos materiais e de re- til, a imersão na cultura escrita deve partir do que as
cursos tecnológicos. Essas experiências contribuem crianças conhecem e das curiosidades que deixam
para que, desde muito pequenas, as crianças desen- transparecer. As experiências com a literatura infan-
volvam senso estético e crítico, o conhecimento de til, propostas pelo educador, mediador entre os textos
si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. e as crianças, contribuem para o desenvolvimento
Portanto, a Educação Infantil precisa promover a do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da
participação das crianças em tempos e espaços para ampliação do conhecimento de mundo. Além dis-
a produção, manifestação e apreciação artística, de so, o contato com histórias, contos, fábulas, poemas,
modo a favorecer o desenvolvimento da sensibi- cordéis etc. propicia a familiaridade com livros, com
lidade, da criatividade e da expressão pessoal das diferentes gêneros literários, a diferenciação entre
crianças, permitindo que se apropriem e reconfigu- ilustrações e escrita, a aprendizagem da direção da
rem, permanentemente, a cultura e potencializem escrita e as formas corretas de manipulação de livros.
suas singularidades, ao ampliar repertórios e inter- Nesse convívio com textos escritos, as crianças vão
pretar suas experiências e vivências artísticas. construindo hipóteses sobre a escrita que se revelam,
inicialmente, em rabiscos e garatujas e, à medida que
Escuta, fala, pensamento e imaginação – Desde o vão conhecendo letras, em escritas espontâneas, não
nascimento, as crianças participam de situações convencionais, mas já indicativas da compreensão da
comunicativas cotidianas com as pessoas com as escrita como sistema de representação da língua.
quais interagem. As primeiras formas de interação
do bebê são os movimentos do seu corpo, o olhar, Espaços, tempos, quantidades, relações e transforma-
a postura corporal, o sorriso, o choro e outros re- ções – As crianças vivem inseridas em espaços e tem-
cursos vocais, que ganham sentido com a inter- pos de diferentes dimensões, em um mundo consti-
pretação do outro. Progressivamente, as crianças tuído de fenômenos naturais e socioculturais. Desde
vão ampliando e enriquecendo seu vocabulário e muito pequenas, elas procuram se situar em diversos
demais recursos de expressão e de compreensão, espaços (rua, bairro, cidade etc.) e tempos (dia e noi-
apropriando-se da língua materna – que se torna, te; hoje, ontem e amanhã etc.). Demonstram também
pouco a pouco, seu veículo privilegiado de intera- curiosidade sobre o mundo físico (seu próprio corpo,
ção. Na Educação Infantil, é importante promover os fenômenos atmosféricos, os animais, as plantas,
experiências nas quais as crianças possam falar e as transformações da natureza, os diferentes tipos de
ouvir, potencializando sua participação na cultura materiais e as possibilidades de sua manipulação etc.)
oral, pois é na escuta de histórias, na participação e o mundo sociocultural (as relações de parentesco e


sociais entre as pessoas que conhece; como vivem e


em que trabalham essas pessoas; quais suas tradições e
seus costumes; a diversidade entre elas etc.). Além dis-
so, nessas experiências e em muitas outras, as crianças
também se deparam, frequentemente, com conheci-
mentos matemáticos (contagem, ordenação, relações
entre quantidades, dimensões, medidas, comparação
de pesos e de comprimentos, avaliação de distâncias,
reconhecimento de formas geométricas, conhecimen-
to e reconhecimento de numerais cardinais e ordinais
etc.) que igualmente aguçam a curiosidade. Portanto,
a Educação Infantil precisa promover experiências
nas quais as crianças possam fazer observações, mani-
pular objetos, investigar e explorar seu entorno, levan-
tar hipóteses e consultar fontes de informação para
buscar respostas às suas curiosidades e indagações.
Assim, a instituição escolar está criando oportunida-
des para que as crianças ampliem seus conhecimentos
do mundo físico e sociocultural e possam utilizá-los
em seu cotidiano (BRASIL, 2018, p. 42-43).

Veja o quadro, a seguir, com a síntese dos campos de


aprendizagem.

70
EDUCAÇÃO FÍSICA

Síntese das aprendizagens


Respeitar e expressar sentimentos e emoções.
Atuar em grupo e demonstrar interesse em construir novas relações, respei-
O eu, o outro e o nós
tando a diversidade e solidarizando-se com os outros.
Conhecer e respeitar regras de convívio social, manifestando respeito pelo outro.
Reconhecer a importância de ações e situações do cotidiano que contribuem
para o cuidado de sua saúde e a manutenção de ambientes saudáveis.
Apresentar autonomia nas práticas de higiene, alimentação, nas vestimentas e
Corpo, gestos e movimentos nos cuidados com o seu bem-estar, valorizando o próprio corpo.
Utilizar o corpo, intencionalmente, com criatividade, controle e adequação,
como instrumento de interação com o outro e com o meio.
Coordenar as suas habilidades manuais.
Discriminar os diferentes tipos de sons e ritmos e interagir com a música, per-
cebendo-a como forma de expressão individual e coletiva
Traços, sons, cores e formas Expressar-se por meio das artes visuais, utilizando diferentes materiais.
Relacionar-se com o outro empregando gestos, palavras, brincadeiras, jogos,
imitações, observações e expressão corporal.
Expressar ideias, desejos e sentimentos em distintas situações de interação,
por diferentes meios.
Argumentar e relatar fatos, oralmente, em sequência temporal e casual, orga-
Escuta, fala, pensamento e nizando e adequando a sua fala ao contexto em que é produzida.
imaginação Ouvir, compreender, contar, recontar e criar narrativas.
Conhecer diferentes gêneros e portadores textuais, demonstrando compreen-
são da função social da escrita e reconhecendo a leitura como fonte de prazer
e informação.
Identificar, nomear, adequadamente, e comparar as propriedades dos objetos,
estabelecendo relações entre eles.
Interagir com o meio ambiente e com fenômenos naturais ou artificiais, de-
monstrando curiosidade e cuidado com relação a eles.
Utilizar vocabulário relativo às noções de grandeza (maior, menor, igual etc.)
Espaços, tempos, quantida- espaço (dentro e fora) e medidas (comprido, curto, grosso, fino) como meio de
des, relações e transforma- comunicação de suas experiências.
ções Utilizar unidades de medida (dia e noite, dias, semanas, meses e ano) e noções
de tempo (presente, passado e futuro: antes, agora e depois), para responder
às necessidades e questões do cotidiano.
Identificar e registrar quantidades por meio de diferentes formas de repre-
sentação (contagens, desenhos, símbolos, escrita de números, organização de
gráficos básicos etc.).
Quadro 1 - Síntese de aprendizagens / Fonte: os autores.


Fica evidente que o conteúdo da Educação Física está sonora e, contemporaneamente, digital. A interação das
contido no campo de corpo, gestos e movimentos, po- pessoas consigo mesmas e com os outros é feita por es-
rém é possível, também, perceber que há espaços para sas linguagens e, nesse processo, ocorre a construção do
o trabalho desta disciplina em outros campos devido à sujeito social. Estão envolvidos conhecimentos, atitudes
extensão e aos desdobramentos dos conteúdos, por isso, e valores culturais, morais e éticos.
faz-se necessário que o professor de Educação Física não
trabalhe de forma isolada, mas esteja próximo dos de- Na BNCC, a área de Linguagens é composta pelos
seguintes componentes curriculares: Língua Por-
mais professores, buscando os eixos que se aproximam
tuguesa, Arte, Educação Física e, no Ensino Funda-
dos conteúdos da área, fazendo a busca interdisciplinar, mental – Anos Finais, Língua Inglesa. A finalidade
a fim de trabalhar os conteúdos. Este processo conjunto é possibilitar aos estudantes participar de práticas
faz a diferença na aprendizagem, pois a torna significa- de linguagem diversificadas, que lhes permitam
tiva aos alunos. ampliar suas capacidades expressivas em mani-
festações artísticas, corporais e linguísticas, como
também seus conhecimentos sobre essas lingua-
A Educação Física no Ensino gens, em continuidade às experiências vividas na
Fundamental como Área de Linguagens Educação Infantil. As linguagens, antes articuladas,
e as Suas Competências passam a ter status próprios de objetos de conhe-
cimento escolar. O importante, assim, é que os es-
tudantes se apropriem das especificidades de cada
Na BNCC (BRASIL, 2018), há uma compreensão do co- linguagem, sem perder a visão do todo no qual elas
nhecimento por áreas de saberes, pois, é por meio das estão inseridas. Mais do que isso, é relevante que
atividades humanas que as práticas sociais se realizam, compreendam que as linguagens são dinâmicas, e
que todos participam desse processo de constante
expressas por diferentes linguagens: verbal (oral ou vi-
transformação (BRASIL, 2018, p. 65).
sualmotora, como Libras, e a escrita), corporal, visual,

BNCC

CIÊNCIAS DA CIÊNCIAS
LINGUAGEM MATEMÁTICA NATUREZA HUMANAS

Língua
portuguesa

Língua
estrangeira

Artes

Educação física

Figura 4 - Áreas da BNCC / Fonte: os autores.

72
EDUCAÇÃO FÍSICA

A Educação Física é compreendida como uma das lin- amadurecimento integral do aluno que está vivenciando
guagens, ela tem uma linguagem específica, que é o mo- esse processo bem como a construção de habilidades as
vimento corporal, porém esse movimento tem as suas quais, por sua vez, podem ocorrer em longo prazo.
particularidades e deve, também, ser entendido sob o
olhar que nenhuma outra linguagem possui, o olhar so- A finalidade é possibilitar aos estudantes participar
de práticas de linguagem diversificadas, que lhes
bre o movimento construído, culturalmente.
permitam ampliar suas capacidades expressivas
em manifestações artísticas, corporais e linguísti-
É fundamental frisar que a Educação Física ofere- cas, como também seus conhecimentos sobre es-
ce uma série de possibilidades para enriquecer a sas linguagens, em continuidade às experiências
experiência das crianças, jovens e adultos na Edu- vividas na Educação Infantil. As linguagens, antes
cação Básica, permitindo o acesso a um vasto uni- articuladas, passam a ter status próprios de objetos
verso cultural. Esse universo compreende saberes de conhecimento escolar. O importante, assim, é
corporais, experiências estéticas, emotivas, lúdicas que os estudantes se apropriem das especificidades
e agonistas, que se inscrevem, mas não se restrin- de cada linguagem, sem perder a visão do todo no
gem, à racionalidade típica dos saberes científicos qual elas estão inseridas. Mais do que isso, é rele-
que, comumente, orienta as práticas pedagógicas na vante que compreendam que as linguagens são
escola. Experimentar e analisar as diferentes formas dinâmicas, e que todos participam desse processo
de expressão que não se alicerçam apenas nessa ra- de constante transformação (BRASIL, 2018, p. 65).
cionalidade é uma das potencialidades desse com-
ponente na Educação Básica. Para além da vivência,
Assim, as habilidades são a base das competências. Estas,
a experiência efetiva das práticas corporais oportu-
niza aos alunos participar, de forma autônoma, em por sua vez, são classificadas em simples e complexas e
contextos de lazer e saúde (BRASIL, 2018, p. 215). assim devem ser consideradas, no trabalho pedagógi-
co, para alcançar a eficácia do processo educacional. A
O intuito da BNCC (BRASIL, 2018) é organizar os co- competência é, portanto, entendida como a capacidade
nhecimentos na dimensão de tornar os alunos capazes de mobilizar soluções, conhecimentos ou experiências,
de fazer a transposição didática do saber para o seu dia visando a resolver questões da vida legítima.
a dia, buscando respeitar a ética, os direitos humanos,
a justiça social e a sustentabilidade ambiental. O docu- É importante considerar, também, o aprofunda-
mento da reflexão crítica sobre os conhecimentos
mento aponta, também, como aspectos importantes do
dos componentes da área, dada a maior capacidade
conhecimento: a dimensão social, física, emocional e de abstração dos estudantes. Essa dimensão analí-
cultural. O que, permite, assim, uma educação integral, tica é proposta não como fim, mas como meio para
não, somente, intelectual. a compreensão dos modos de se expressar e de
Buscando este caminho, a BNCC (BRASIL, 2018) é participar no mundo, constituindo práticas mais
sistematizadas de formulação de questionamentos,
focada nas competências que se deseja desenvolver nos
seleção, organização, análise e apresentação de des-
alunos para que estes possam acessar na vida aquilo que cobertas e conclusões. Considerando esses pressu-
aprendem na escola. Esse processo é longo e exige uma postos, e em articulação com as competências ge-
continuidade do processo de ensino-aprendizagem no rais da Educação Básica, a área de Linguagens deve
garantir aos alunos o desenvolvimento de compe-
mesmo foco, porque algumas competências podem de-
tências específicas (BRASIL, 2018, p. 65).
morar anos para serem desenvolvidas, afinal, exigem um


As habilidades previstas na BNCC aparecem ao longo de todas as


competências descritas e podem ser divididas em três grupos, das
mais simples para as mais complexas:

Identificação
A categoria de habilidades mais Verbos associados a esse grupo:
simples previstas pela BNCC se Observar, reconhecer, indicar,
relacionam ao reconhecimento a à representar, apontar, identificar e
reprodução de fatos, textos, localizar.
imagens ou tabelas observadas.

Transformação
Verbos associados a esse grupo: Ao observar e compreender
Ordenar, medir, calcular por os fatos, o estudante passa a
estimativa, compor e decompor, fazer operações mentais que
classificar, seriar e conservar. envolvem a transformação
dos dados interpretados.

Compreensão
São ações mais complexas porque envolvem Verbos associados a esse grupo:
o raciocínio para resolver problemas, Avaliar, analisar, julgar, criticar,
compreender cenários complexos, formular explicar causas e efeitos,
preposições e diagnósticos, além de argumentar, justificar, apresentar
apresentar conclusões. conclusões e fazer prognósticos.

Figura 5 - Habilidades previstas / Fonte: Movimento pela Base (2020, on-line).

Apresentamos no infográfico, a seguir, todas as competências gerais que se deseja alcançar na escola, por meio desta
educação integral, contemplando o desenvolvimento de cada uma delas e as suas principais características:

74
EDUCAÇÃO FÍSICA

10. Responsabilidade
e cidadania 1. Conhecimento
O que: agir pessoal e Para: Tomar decisões com O que: Valorizar e utilizar Para: Entender e explicar
coletivamente com autonomia, base em princípios éticos, os conhecimentos sobre o a realidade, continuar
responsabilidade, flexibilidade, democráticos, inclusivos, mundo físico, social, aprendendo e colaborar
resiliência e determinação sustentáveis e solidários cultural e digital com a sociedade

9. Empatia e cooperação 2. Pensamento científico-crítico


e pensativo
O que: Exercitar a Para: Fazer-se respeitar e promover
empatia, o diálogo, a o respeito ao outro e aos direitos O que: Exercitar a Para: Investigar causas,
resolução de conflitos humanos com acolhimento e curiosidade intelectual e elaborar e testar hipóteses
e a cooperação valorização da diversidade, sem utilizar as ciências com formular e resolver
preconceitos de qualquer natureza
criticidade e criatividade problemas e criar soluções
8. autoconhecimento e COMPETÊNCIAS
autocuidado 3. Repertório cultural
GERAIS
O que: Conhecer-se, Para: Cuidar de sua saúde física e O que: Valorizar Para: Fruir a participar de
compreender-se na emocional, reconhecendo suas emoções BNCC
diversas manifestações práticas diversificadas da
diversidade humana e as dos outros, com autocrítica e artísticas e culturais produção artístico-cultural
e apreciar-se capacidade para lidar com elas
7. Argumentação 4. Comunicação
O que: Para: Expressar-se e partilhar
O que: Argumentar Para: Formular, negociar e defender ideias, Utilizar informações experiências, ideias,
com base em fatos, pontos de vista e decisões comuns, com base em diferentes sentimentos e produzir sentidos que
dados e informações direitos humanos, consciência socioambiental, linguagens levem ao entendimento mútuo
confiáveis consumo responsável e ética
5. Cultura digital
6. Trabalho e
projeto de vida O que: Compreender, Para: Comunicar-se, acessar
utilizar e criar tecnologias e produzir informações e
O que: Valorizar-se Para: Entender o mundo do trabalho e digitais de forma crítica, conhecimentos, resolver
apropriar-se de fazer escolhas alinhadas à cidadania e ao significativa e ética problemas e exercer
conhecimentos e seu projeto de vida com liberdade, protagonismo e autoria
experiências autonomia, criticidade e responsabilidade

Figura 6 - Competências gerais da BNCC / Fonte: os autores.

Dentro da Educação Física, especificamente, temos uma visão mais pessoal para atender aos conteúdos próprios da
área, buscando implementar as competências gerais focadas no campo específico da disciplina: são as competências
específicas à área de linguagem na Educação Física.


Competências específicas de Educação Física


para o Ensino Fundamental

1 Corpo e movimento: compreender a origem de cultura corporal de movimento e seus


vínculos com a organização da vida coletiva e individual.
Práticas corporais e cultura: planejar e empregar estratégias para resolver desafios e
2 aumentar as possibilidades de aprendizagem das práticas corporais, além de se envolver
no processo de ampliação do acervo cultural nesse campo.

3 Vida e saúde: refletir criticamente sobre as relações entre a realização das práticas corporais,
e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais.
Formação cidadã: identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza
4 e estética corporal, analisando criticamente, os modelos disseminados na mídia e discutir
posturas consumistas e preconceituosas.

5 Combate ao bullying: identificar as formas de produção dos preconceitos, compreender seus efeitos e
combater posicionamentos discriminatórios em relação às práticas corporais e aos seus participantes.

6 Educação em valores: interpretar e recriar os valores, os sentidos e os significados


atribuídos às diferentes práticas corporais, bem como aos sujeitos que delas participam.

7 Identidade e cultura: reconhecer as práticas corporais como elementos constitutivos da


identidade cultural dos povos e grupos.

8 Autonomia: usufruir das práticas corporais da forma autônoma para potencializar o


envolvimento em contextos de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da saúde.

9 Inclusão: reconhecer o acesso às práticas corporais como direito do cidadão, propondo e


produzindo alternativas para a sua realização no contexto comunitário.
Experimentação e valorização: experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes
10 brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura,
valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo.

Figura 7 - Competências específicas de Educação Física / Fonte: os autores.

A concepção do ensino por competência não consiste em ter uma aula ou um componente curricular específico
para abordar isso, mas diz respeito à forma como deve estar organizada a aprendizagem — não fechada em si
mesma, mas sim, uma aprendizagem dialogal, integral, que conserva o todo, mesmo apreendendo cada parte — é
um desafio que impacta todos os processos da escola e todos os sujeitos integrantes do saber escolar.

76
EDUCAÇÃO FÍSICA

Podemos afirmar que a Educação Física na escola — sob o entendimento da BNCC (BRASIL, 2018) — compre-
ende o conhecimento, integralmente, nas dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais, buscando superar a
prática que fragmenta o saber e permanece limitada no saber fazer. É preciso ir além e aprender o como fazer, o porquê
fazer e o para que fazer; buscar, na direção da corrente da aprendizagem significativa, dar um significado ao conteúdo.

OBJETIVOS

CONCEITUAIS PROCEDIMENTAIS ATITUDINAIS


Saber sobre Saber fazer Saber ser e conviver

Reflexão sobre a ação Experimentação Construção de valores


Análise Uso e apropriação Protagonismo
Compreensão Fruição Comuitário

DIMENSÕES DO CONHECIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 8 - Objetivos conceituais, procedimentais e atitudinais / Fonte: os autores.

Dentro das propostas da BNCC (BRASIL, 2018) para a Educação Física como área de linguagens, os conteúdos são
estabelecidos por anos e agrupados de acordo com o desenvolvimento integral do aluno.


No quadro, a seguir, temos uma divisão feita por anos.

UNIDADES
OBJETOS DE CONHECIMENTO
TEMÁTICAS 1º e 2º anos 3º ao 5º ano 6º e 7º anos 8º e 9º anos
• Brincadeiras e jogos
Brincadeiras e jogos
populares do Brasil e
da cultura popular
Brincadeiras do mundo
e jogos presentes no Jogos eletrônicos
contexto comunitário • Brincadeiras e jogos
e regional de matriz indígena e
africana

• Esportes de campo • Esportes de marca • Esportes de rede/parede


e taco • Esportes de precisão • Esportes de campo e taco
• Esportes de marca
Esportes • Esportes de • Esportes de invasão • Esportes de invasão
• Esportes de precisão rede/parede
• Esportes técnico- • Esportes de combate
• Esportes de invasão combinatórios

• Ginástica de
Ginástica de condicionamento físico
Ginásticas Ginástica geral Ginástica geral condicionamento
• Ginástica de
físico
conscientização corporal

• Danças do Brasil e
Danças do contexto do mundo
Danças comunitário e Danças urbanas Danças de salão
regional • Danças de matriz
indígena e africana

• Lutas do contexto
comunitário e
Lutas regional Lutas do Brasil Lutas do mundo
• Lutas de matriz
indígena e africana

Práticas Práticas corporais de Práticas corporais de


corporais
de aventura aventura urbanas aventura na natureza

Quadro 2 - Divisão de linguagens de conteúdo / Fonte: os autores.

Ao longo desta unidade, apresentamos reflexões é o planejamento que te conduzirá no caminho trilhado.
e apontamentos acerca dos principais elementos que Para tanto, ao elaborar o seu planejamento, não se esque-
devem compor um bom planejamento para a ação no ça de responder aos seguintes questionamentos: como?
campo da Educação Física escolar. Você deve entender Com que? O quê? Para quê? Para quem? Respondendo
que a ação do planejar deve ser orientadora da prática a essas questões, no seu planejamento, você conseguirá
docente, uma vez que, por meio do planejamento es- visualizar e materializar se o tempo e a organização pro-
truturado e organizado, será possível ter, em suas aulas, postos estão coerentes com o que deseja trabalhar.
uma prática pedagógica adequada. Além desse fato, o planejamento das aulas de Educa-
O planejamento te levará a alcançar os objetivos pro- ção Física escolar ajudará você nas tomadas de decisão,
postos para o ano, semestre, bimestre ou aula, isso porque nas ações necessárias ao longo do processo, para que seja

78
EDUCAÇÃO FÍSICA

possível atingir os objetivos propostos, os quais devem


estar, sempre, em consonância com o Projeto Pedagógi-
co da escola bem como atrelados às demais ações esco-
lares. Assim, entendemos que não seja possível propor
uma prática pedagógica com qualidade sem a existência
de um bom planejamento estabelecido.
A qualidade nas aulas de Educação Física é uma
ação necessária à prática docente desta disciplina, uma
vez que, tendo a Lei 9.394/1996 instituído a Educação
Física no ambiente escolar como um componente curri-
cular, passamos a ter, também, a obrigatoriedade de uma
ação pedagógica com cunho formativo e informativo
nas aulas, por meio dos conteúdos estabelecidos como
prioritários, a serem desenvolvidos em cada momento
de desenvolvimento da criança no contexto educacional.
Atualmente, é, ainda, imprescindível que os pro-
fissionais da área se apropriem da nova Base Nacional
Comum Curricular, para que o planejamento esteja
coerente com a busca das competências de aprendiza-
gem, como está posto na própria BNCC. Tal apropria-
ção atende aos direitos de aprendizagem e aos campos
de experiências para a Educação Infantil e as áreas de
conhecimento, inclusive às competências específicas
deste nível de ensino, buscando, então, fazer do processo
educacional algo significativo e coerente com a vida.
agora é com você

1. Sabemos que a escolha dos conteúdos é uma ação essencial para que o
planejamento escolar esteja adequado às necessidades e realidade da
criança. Tendo este conhecimento para a escolha da seleção dos conteú-
dos, é preciso considerar:
a. Apenas o contido no projeto pedagógico e organizado nas disciplinas da
série.
b. A validade, flexibilidade, significado, possibilidade de elaboração pessoal,
utilidade, interesse, adequação às necessidades culturais e sociais
c. Os interesses pessoais e os métodos de ensino, os quais devem ser os
mais diversificados possíveis.
d. As regras dos esportes, jogos e brincadeiras trabalhadas no desenvolvi-
mento das aulas.
e. Os esportes que devem ser desenvolvidos nas aulas e as suas exigências
motoras e físicas.

2. A avaliação é um processo contínuo que deve indicar elementos para di-


recionar a ação docente e o desenvolvimento do aluno bem como propor
uma reflexão acerca dos caminhos a serem adotados. Nesse sentido, é
correto afirmar que a avaliação:
a. É aquela que consegue identificar se o aluno, realmente, compreendeu a
importância do conteúdo.
b. Deve ser aplicada em um único momento, durante a disciplina no semes-
tre.
c. Não precisa ser aplicada nas aulas de Educação Física.
d. A avaliação em Educação Física exerce um papel secundário na organiza-
ção das aulas.
e. É um instrumento que, na Educação Física, serve para mensurar a perfor-
mance motora e física dos alunos.

80
agora é com você

3. Após a elaboração do diagnóstico e da sua respectiva análise, inicia-se a


fase de estruturação dos objetivos. Com relação à elaboração do objetivo,
assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
( ) Nessa fase, perspectiva-se um futuro, então, ele é projetado em etapas,
por meio dos objetivos que se definirão como alvos de suas atuações, ao
longo do período que compreende o planejamento.
( ) Os objetivos devem expressar as intenções, o que se busca com o desen-
volvimento da disciplina.
( ) Os objetivos devem ser organizados de forma que contemplem todas as
turmas, sem variação exagerada, pois tais objetivos não devem ampliar a
complexidade já existente nos conteúdos.
A sequência correta para a resposta da questão é:
a. V, V, F.
b. V, F, V.
c. F, V, F.
d. F, F, V.
e. V, V, V.

4. Para a escolha dos conteúdos tratados no universo da Educação Física es-


colar, quais critérios devem ser considerados para a seleção dos conteú-
dos?
5. O diagnóstico é um ponto essencial a ser considerado no início do plane-
jamento, uma vez que ele aponta as necessidades e a realidade escolar.
Sabendo deste fato, descreva os principais pontos a serem observados no
diagnóstico para que se possa iniciar o planejamento.

81
LEITURA
COMPLEMENTAR

O texto elaborado pelo professor Amauri A. B. Oliveira traz símbolos, admitem que: “Os significados institucionais de-
uma análise acerca das propostas metodológicas emer- vem ser impressos poderosa inesquecivelmente na consci-
gentes na área da Educação Física. Caracteriza-se como ência do indivíduo. Como os seres humanos são frequen-
sendo um estudo do tipo descritivo. Como estratégia me- temente preguiçosos e esquecidos, deve também haver
todológica, o professor utilizou a bibliografia específica re- procedimentos mediante os quais estes significados pos-
lacionada ao assunto e a aplicação de um questionário aos sam ser reimpressos e rememorizados, se necessário, por
idealizadores das propostas apresentadas. Esse questio- meios coercitivos geralmente desagradáveis. Além disto,
nário aborda os pontos: referencial teórico, objeto de estu- como os seres humanos são freqüentemente estúpidos,
do, conteúdos básicos, enfoque metodológico, relação pro- os significados institucionais tendem a ser simplificados no
fessor-aluno e avaliação. Entenderam-se como propostas processo de transmissão, de modo que uma determinada
metodológicas emergentes da área: metodologia aberta, coleção de ‘fórmulas’ institucionais possa ser facilmente
metodologia crítico-superadora, metodologia construtivis- aprendida e guardada na memória pelas gerações suces-
ta e crítico-emancipadora. Vamos à leitura! sivas. O caráter de ‘fórmula’ dos significados institucionais
assegura sua possibilidade de memorização”.
METODOLOGIA DO ENSINO ABERTO Tendência educacional: progressista crítica.
Idealizadores: Reiner Hildebrandt e Ralf Laging, da Alema- Objeto de estudo: o mundo do movimento e suas impli-
nha (1986), e Cardoso et al. (1991) – Organizador do Grupo cações sociais.
de Trabalho Pedagógico, UFPe e UFSM, do Brasil. Objetivos gerais: trabalhar o mundo do movimento em
Referencial teórico: Teoria Sociológica do Interacionismo sua amplitude e complexidade, com a intenção de propor-
Simbólico (Mead/Blumer); Teoria Libertadora (Paulo Freire). cionar, aos participantes, autonomia para as capacidades
Interacionismo Simbólico (Blumer, 1981) de ação.
a) o atributo simbólico é justificado pela premissa de que Seriação escolar: pode ser trabalhada dentro da atual
os homens agem baseados nos significados em relação a estrutura curricular escolar. Preocupa-se mais em como
coisas e a pessoas; b) estes significados são adquiridos em trabalhar, acessar e tornar significativos os conteúdos aos
interações sociais; c) estes significados podem ser modi- participantes.
ficados por meio de processos interpretativos. Berger e Conteúdos básicos: o mundo do movimento e suas rela-
Luckman (1985, p. 98), comentando sobre os significados/ ções com os outros e as coisas; os conteúdos são constru-
ídos por meio de temas geradores.

82
LEITURA
COMPLEMENTAR

METODOLOGIA CRÍTICO-SUPERADORA Objeto de estudo: motricidade humana, entendida como


É assim chamada porque tem a concepção histórico-críti- o conjunto de habilidades que permitem ao homem pro-
ca como ponto de partida. Assim como ela, a metodolo- duzir conhecimento e expressar-se.
gia crítico-superadora entende ser o conhecimento um Objetivos gerais: ensinar as pessoas a se saberem corpo.
elemento de mediação entre o aluno e o seu apreender Ou seja, terem consciência de que são corpo. Mais espe-
(no sentido de construir, de demonstrar, de compreender cificamente, seria ensinar as habilidades que permitem as
e de explicar para poder intervir) a realidade social com- expressões no mundo.
plexa onde esse aluno vive. Diferentemente da concepção
histórico-crítica, porém, a visão crítico-superadora privile- METODOLOGIA CRÍTICO-EMANCIPADORA
gia uma dinâmica curricular que valoriza, na constituição Idealizador: Elenor Kunz (1994).
do processo pedagógico, a intenção dos diversos elemen- Referencial teórico: teoria sociológica da razão comuni-
tos (trato do conhecimento, tempo, espaço pedagógico...) cativa (Habermas).
e segmentos sociais (professores, funcionários, alunos e Tendência educacional: progressista crítica.
seus pais, comunidade e órgãos administrativos...). Objeto de estudo: movimento humano – o esporte e as
suas transformações sociais.
METODOLOGIA CONSTRUTIVISTA Objetivos gerais: conhecer e aplicar o movimento, cons-
Apesar de o trabalho não ser considerado, totalmente, cientemente, libertando-se de estruturas coercitivas; re-
construtivista (pelo próprio autor que não gosta de classi- funcionalizar o movimento.
ficação), assim ele denominou-se como tal por apresentar, Conteúdos básicos: o movimento humano por meio do
dentro da área da Educação Física, a ligação mais próxima esporte, da dança e das atividades lúdicas.
a esta metodologia educacional.
Fonte: adaptado de Oliveira (1997).

83
material complementar

Na série de documentários sobre a Educação Física apresentada pelo programa “Salto


para o Futuro” da TV Escola, você encontrará os principais teóricos da Educação Física
refletindo acerca do nosso campo de atuação.

Para acessar, use seu leitor de QR Code.

Título: Educação Física e a Organização Curricular: Educação Infantil e Ensino


Fundamental
Autores: Ângela P. T. V. Palma, Amauri A. B. de Oliveira e José Augusto V. Palma
Editora: Eduef
Sinopse: esta obra é resultado de estudos sobre a temática do ensino da Educa-
ção Física na escola, em suas dimensões históricas, filosóficas, políticas, institucio-
nais e pedagógicas, abordadas em suas possibilidades educacionais. Trata-se de
um trabalho consistente e que, com certeza, provocará ampla discussão acerca
desse assunto, além de contribuir para fechar uma das lacunas presentes no ensino da Educação Física
na Educação Básica: a organização curricular.

84
UNIDADE
IV
SISTEMATIZAÇÃO E AÇÕES
PEDAGÓGICAS NA
EDUCAÇÃO INFANTIL

Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira


Dra Vânia de Fátima Matias de Souza

Oportunidades de aprendizagem
• Compreender as etapas do desenvolvimento da criança da Educação Infantil.

• Compreender as características da criança na Educação Infantil.

• Apresentar propostas didáticas para ações pedagógicas no contexto dos


diferentes níveis da Educação Infantil, por meio do mapa conceitual dos
conteúdos.

• Apresentar indicadores para o planejamento das aulas da Educação Infantil.

Plano de Estudo

• A Educação Física na Educação Infantil: Quem é a Criança

• Características da Criança da Educação Infantil

• Mapa Conceitual dos Conteúdos da Educação Infantil

• Planejando as Aulas para a Educação Infantil


unidade

IV


Discutir a Educação Física na Educação Infantil implica A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO


refletir acerca das especificidades e dos desafios que são INFANTIL: QUEM É A CRIANÇA
inerentes ao processo educativo, no qual a criança, inse-
rida no mundo da imaginação, do faz-de-conta, constrói
os seus saberes a partir da experimentação e da explo-
ração dos objetos ao seu redor por meio de seu corpo,
na sua relação com o outro e com o mundo que a cerca,
permitindo que esse corpo se torne um sujeito único
com relações e interações próprias e individuais.
O corpo, para a criança da Educação Infantil, é o seu
primeiro espaço de construção dos saberes. Por meio
dele, é possível interagir, criar e recriar a construção do
mundo, a partir do olhar lúdico que é ofertado pelas au-
las, nas quais o movimento, o movimentar-se e o viven-
ciar colaboram, de forma significativa. Desse modo, há
a possibilidade de avançar dos movimentos simples aos
complexos, nos quais as atividades de alta intensidade e
curta duração são substituídas por ações que requerem Ao dialogarmos acerca do processo de intervenção e
baixa intensidade e maior duração. Isso porque a criança ação pedagógica nas aulas de Educação Física na Edu-
passa a explorar todas as vivências em graus diferentes cação Infantil, torna-se relevante trazermos à pauta dis-
das possibilidades de sua realização. cussões que englobam os elementos constitutivos do
É preciso nos atentar para o fato de que “[...] escolas planejamento e que subsidiam a organização das aulas
que são asas não amam pássaros engaiolados. Ensinar e atividades as quais compõem o cenário das aulas des-
o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nas- ta disciplina. Sabemos que, nesses espaços de atuação
ce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado” docente, é essencial considerar o contexto da criança, o
(ALVES, 2004, p. 54). Na Educação Infantil, temos que seu cotidiano escolar bem como as suas características
ajudar na construção do voo, fazendo com que a criança e necessidades, para que as ações definidas no Projeto
se sinta livre e à vontade para criar e recriar, sempre com Pedagógico, a valorização da cultura infantil e todas as
a perspectiva de que o errar é possível e a mesma tarefa demais experiências que compõem o universo da Edu-
pode ser realizada de diversas formas. Tudo dependerá cação Física neste nível de ensino possam colaborar
da forma de se olhar, afinal, o movimento não é único, para a obtenção de significado no processo de ensino e
ele é capaz de ser, infinitamente, reinventado. aprendizagem, colaborando, desse modo, com a cons-
Nesta unidade, pensaremos, juntos, em ações didá- trução do ser social infantil.
tico-pedagógicas que ajudem a dar espaço aos voos das Esta construção da identidade da criança influen-
crianças nas aulas de Educação Física infantil. ciada pelo ambiente da Educação Infantil constitui-se a

88
EDUCAÇÃO FÍSICA

partir de suas interações e vivências múltiplas que são


ofertadas a este aluno. Por este motivo, o currículo da
Educação Física para a Educação Infantil deve centrar- No livro Compreendendo o Desenvolvimen-
-se no desenvolvimento de ações cujo foco seja o lúdico to Motor, Gallahue e Ozmun (2005) afirmam
— presente nos jogos, brinquedos e brincadeiras ofereci- que o estímulo às competências motoras
dos nas aulas de Educação Física — enquanto elementos fundamentais amadurecidas é básico para
essenciais da ação didática-pedagógica. Tais ações preci- o desenvolvimento e a educação motores
sam, também, se constituir, nestes espaços de interven- das crianças. Uma ampla variedade de ex-
ção, como elementos essenciais. Lembrando que, segun- periências motoras fornece muita riqueza de
do Palma, Oliveira e Palma (2010, p. 27), “[...] o currículo informações e, por meio dela, essas crianças
não é, apenas, mais uma área voltada para a aplicação e podem basear a percepção de si próprias e
desenvolvimento de métodos e técnicas de ensino. Ele é do mundo que as rodeia.
Fonte: adaptado de Gallahue e Ozmun (2005).
guiado por questões sociais, políticas e epistemológicas
e considerado um artefato social e cultural”. Logo, o cur-
rículo estruturado para a Educação Infantil deve con-
siderar todos os elementos os quais colaboram com as
ações desenvolvidas pelo aluno, no período da infância. Ao iniciarmos o processo de planejamento e organiza-
Dessa forma, o currículo torna-se um instrumento ção das aulas, o primeiro passo é conhecer as especifici-
de auxílio à efetivação da ação docente, na qual a prática dades da criança a qual atenderemos e que está matricu-
didático-pedagógica constitui-se a partir das opções e lada na Educação Infantil.
estratégias adequadas voltadas a contemplar as necessi- Conforme a Lei 9.394 (BRASIL, 1996, on-line), a
dades da criança. No entanto há de se destacar que, de criança da Educação Infantil é aquela que se encontra
acordo com Palma, Oliveira e Palma (2010, p. 51), “[...] entre os quatro e cinco anos de idade e está constituindo
os professores, de maneira geral, têm muita dificuldade o seu desenvolvimento motor, social, cognitivo e afeti-
em sistematizar os conteúdos. Quando ensinar e para vo. Ou seja, este é um momento no qual a criança está
ensinar em cada uma das séries”. Isso porque as diretri- passando por vivências e experiências que contribuirão
zes da Educação Infantil personificam os saberes e co- para a compreensão de mundo e, a partir desta intera-
nhecimentos que devem ser contemplados, entretanto ção, o indivíduo é capaz de avançar fases ou etapas de
elas flexibilizam os conteúdos a serem tratados nos con- seu desenvolvimento. O lúdico, o brincar, o brinquedo e
textos do processo formativo da criança. Nesse sentido, a brincadeira — tão expressivos à criança — ocorrerão
quando trabalhamos com o planejamento curricular pela ação motora, na qual o corpo e o movimento são a
para a Educação Infantil, os questionamentos são: primeira forma de interagir com o mundo, ampliando,
• Quais os saberes e conhecimentos necessários a assim, o repertório motor, influenciando, significativa-
serem abordados na Educação Física infantil? mente, o desenvolvimento integral dessa criança.
• Como organizar esses saberes e conhecimentos nas Tendo este conhecimento, as atividades planejadas e
aulas de Educação Física da Educação Infantil? orientadas para as aulas de Educação Física na Educação

89


Infantil devem levar a criança a pensar e a agir, por meio um ser social, o qual deve ser englobada em sua essência,
de movimentos e experimentações que a façam interagir nas suas particularidades individuais. À criança deve ser
com as linguagens corporais, nas experimentações pro- oportunizada uma gama de experimentações destinada
piciadas por atividades de interação corpo-movimento, a ampliar os conhecimentos culturais bem como o re-
corpo-brinquedo-brincadeira e corpo-objeto-espaço. Já pertório motor. Segundo Nista-Piccolo e Moreira (2012,
que, de acordo com Sayão (2002, p. 61): p. 17), as escolas as quais se propõem a trabalhar com
a Educação Infantil devem saber que “[...] antes de pro-
[...] o trabalho pedagógico na Educação Infantil por atividades, é importante que os professores identifi-
deve se sustentar em planejar situações que levem
quem os diferentes perfis de capacidade das crianças; o
as crianças a brincar, a interagir e a manifestar-se
através de diferentes linguagens, o que significa ambiente vivido no dia a dia da criança deve propiciar
permitir e reconhecer que a oralidade, a escrita, o um diálogo com as múltiplas linguagens”.
desenho, a dramatização, a música, o toque, a dan-
ça, a brincadeira, o jogo, os ritmos, as inúmeras A Criança da Educação Infantil: de Quem
formas de movimentos corporais, são todos eles
expressões das crianças, que não podem ficar limi-
Estamos Falando?
tadas a um segundo plano.
Entendemos que a infância vai se consolidando por
meio do movimento e das interações com o mundo que
a cerca. Na Educação Infantil, à criança deve ser oportu-
Se o jogo, o brincar e a brincadeira devem nizada a experimentação, a vivência motora cujo ponto
ser o foco central das ações didático-peda- de partida seja o lúdico e as interações do seu corpo com
gógicos no ambiente da Educação Infantil, o espaço, com os objetos e os seus pares.
por que a Educação Física não é, ainda, uma
obrigatoriedade legal em todos os estabele-
cimentos de ensino dessa modalidade?

De acordo com a legislação da Educação Infantil, con-


sidera-se a primeira infância — que abrange a faixa etá-
ria de zero a cinco anos — a fase do desenvolvimento
da criança. Este momento é primordial, uma vez que é
nessa fase que a criança arquitetará uma base a qual a
favorecerá por toda a existência.
Em posse deste conhecimento, é válido ressaltar o
seguinte: cabe ao professor que planejará a Educação
Física na Educação Infantil iniciar as suas ações didáti-
co-pedagógicas considerando o fato de que a criança é

90
EDUCAÇÃO FÍSICA

É importante entendermos que cada criança apre- para o desenvolvimento da criança, a infância dos dois
senta características próprias e particulares, mas con- aos dez anos de idade, sendo que tal período será, ainda,
sideraremos para as discussões, aqui, apresentadas, as dividido em três fases: o período de aprendizagem (dos
semelhanças nessas características, sendo diferenciadas 24 aos 36 meses); a infância precoce (dos três aos cinco
a partir da forma de agir, pensar, sentir e vivenciar os anos); por fim, a infância intermediário-avançada, dos
episódios do cotidiano. Haja vista que, de acordo com seis aos dez anos de idade.
Nista-Piccolo e Moreira (2012, p. 22), “[...] o corpo é o Como estamos falando das aulas de Educação Física
primeiro objeto que a criança percebe por meio de suas na Educação Infantil, nos atentaremos às características
satisfações, de suas dores, das sensações visuais e audi- das crianças que se encontram na faixa dos quatro a cin-
tivas”. Por este motivo, nas aulas de Educação Física no co anos, uma vez que, em geral, é nessa fase que há mais
contexto da Educação Infantil, temos a possibilidade de especificidade nas aulas de Educação Física.
ampliação das linguagens corporais, uma vez que, por De acordo com Gallahue e Ozmun (2005), uma
meio dos movimentos, pelas relações interpessoais, ex- criança por volta dos quatro e cinco anos de idade já
periências com o outro, com o meio e os objetos, a crian- compreende melhor o mundo à sua volta, tornando-se,
ça é possibilitada a ampliar tanto o seu repertório motor gradualmente, menos egocêntrica e com mais enten-
quanto o de convívio social. Por isso, é tão importante dimento do fato de que as suas ações podem afetar as
para o professor de Educação Física conhecer os estágios pessoas ao seu redor. Segundo Harrow (1983), essa fase
de desenvolvimento das crianças, considerando tanto os é o período sensível para desenvolver, corretamente, as
domínios quanto as habilidades e competências. formas motoras básicas na criança. Dessa maneira, as
A fim de discutirmos os estágios de desenvolvi- atividades pré-escolares devem fundamentar-se nessas
mento infantil, traremos a classificação de Gallahue e formas desenvolvidas pela Educação Física, favorecen-
Ozmun (2005), na qual os autores propõem considerar, do, assim, o amadurecimento infantil.

Linguagem A criança de Fase de transição


corporal e oral 4 e 5 anos Período pré-operatório

Distingue Fase dos Coordenação Lúdica Egocêntrica Começa a


fantasia porquês motora ter noção
do real ainda requer de tempo e
estímulos Dificuldade espaço
Atividades
Comunicativa de faz de com jogos:
conta ganhar e
Sensório perder Preferência
• Tem opiniões próprias motor por atividades
intenso Facilidade na de alta
• Expressa-se com clareza intensidade e
aprendizagem Dificuldades
• Gosta de brincadeiras de com baixa
de novos
faz de conta aceitação complexidade
movimentos
• Permanece mais tempo de regras
em uma brincadeira

Figura 1 - Quem é a criança da Educação Infantil: principais características da criança de quatro a cinco anos de idade / Fonte: os autores.

91


Consideramos que a construção da infância é um processo De acordo com Caetano, Silveira e Gobbi (2005), o desen-
que ocorre pela ação conjunta dos contextos cotidianos da volvimento motor é um processo de alterações no nível
sociedade, pois, de acordo com Kishimoto (2000, p. 19): de funcionamento de um indivíduo, onde é adquirida, ao
longo do tempo, a expansão da capacidade de controlar
[...] a imagem de infância é reconstituída pelo adul- movimentos, por meio da interação entre as exigências
to por meio de um duplo processo: de um lado, ela
da tarefa, da biologia do indivíduo e o ambiente.
está associada a todo um contexto de valores e as-
pirações da sociedade, e, de outro, depende de per- Segundo Haywood e Getchell (2004), é preciso con-
cepções própria do adulto, que incorporam memó- siderar que o desenvolvimento motor é um processo
rias de seu tempo de criança. contínuo e sequencial, ligado à idade cronológica, na
qual o indivíduo progride de um movimento simples,
Logo, a existência da influência e da apropriação da sem habilidade, até atingir o ponto das habilidades mo-
cultura infantil bem como das brincadeiras e dos jogos toras mais complexas e organizadas e, assim, chegar ao
oportunizados estão muito ligados a este repertório. Por ajuste dessas habilidades que acompanharão esse indiví-
esta razão, é necessário conhecer as especificidades e duo até o envelhecimento.
características de cada fase de desenvolvimento infan- Gallahue e Ozmun (2005) vão além e destacam que
til, em especial, o perfil motor da criança da Educação o desenvolvimento humano ocorre em um indivíduo
Infantil, afinal, a nossa ação didático-pedagógica se dará, desde a sua concepção até a morte. Explicam, ainda, que
em especial, neste campo. a palavra “desenvolvimento” em si implica mudanças
comportamentais e/ou estruturais dos seres vivos du-
CARACTERÍSTICAS DA CRIANÇA rante a vida, já o processo de desenvolvimento motor
DA EDUCAÇÃO INFANTIL revela-se por alterações no comportamento motor. Para
os autores, é necessário considerar que bebês, crianças,
adolescentes e adultos estão envolvidos no processo de
aprender a se mover com controle e competência, em
reação aos desafios enfrentados, diariamente. Por esta
razão, os indivíduos devem ser, continuamente, estimu-
lados a movimentar-se.
Nessa fase de desenvolvimento da criança, o apren-
dizado acontecerá de forma contínua, pois, pela explo-
ração do ambiente, a criança conhece as suas habilida-
des corporais. Por isso, segundo Mattos e Neira (2003),
a realização de atividades motoras oportunizadas, nes-
te momento, devem ser, sempre, aquelas que visam ao
desenvolvimento das habilidades motoras básicas, tais
como: andar, correr, saltar, correr, arremessar, receber,
empurrar, puxar, subir, descer, enfim, habilidades para
explorar o mundo.

92
EDUCAÇÃO FÍSICA

tegrações dos movimentos espaciais e temporais


Conforme Neto et al. (2004), as experiências mo-
são mínimas. A criança atinge este nível por volta
toras estão presentes no dia a dia das crianças e repre- de dois a três anos de idade.
sentam toda e qualquer atividade corporal realizada • Estágio elementar: envolve maior controle e
em casa, na escola e nas brincadeiras. As experiências melhor coordenação dos movimentos funda-
motoras antes vivenciadas pelas crianças bem como as mentais. Evidencia-se por volta dos quatro a
suas atividades diárias eram suficientes à aquisição das cinco anos de idade, dependendo do processo de
habilidades motoras e, também, à formação de uma maturação.
base para o aprendizado de habilidades mais comple- • Estágio maduro: é caracterizado como, meca-
nicamente, eficiente coordenado e de execução
xas, devido à disposição de grandes áreas livres para
controlada. Tipicamente, as crianças têm poten-
brincar, como praças, ruas e quintal. Entretanto, atu-
cial de desenvolvimento para estar no estágio
almente, a criança necessita, nas suas experiências vi- maduro perto de seis a sete anos.
venciadas nas aulas de Educação Infantil, destas ações
oportunizadas pelo lúdico. Outro aspecto a ser considerado acerca do desenvolvi-
A fim de planejar, organizar e elaborar atividades mento da criança da Educação Infantil está relacionado
adequadas a cada momento da criança, deve-se compre- às características cognitivas dela, as quais, nessa fase, se-
ender o que cada categoria de movimentos representa. gundo Piaget (1993), encontram-se no período pré-ope-
Segundo Gallahue e Ozmun (2005), as habilidades ratório, dos dois a sete anos, quando há o destaque para
motoras fundamentais são divididas em três categorias: a fase dos quatro aos seis anos, por ser um período de
• Habilidades locomotoras: movimentos que emergência da linguagem, e o eixo do desenvolvimento
indicam uma mudança na localização do corpo cognitivo da criança, neste momento, acontecerá pela
em relação a um ponto fixo na superfície. Ex.: ca- linguagem e pela reorganização da ação cognitiva, por-
minhar, correr, saltar, saltitar etc.
que esse autor coloca o desenvolvimento da linguagem
• Habilidades manipulativas: movimentos de
como dependente do desenvolvimento da inteligência.
manipulação motora. Ex.: tarefas de arremesso,
recepção, chutes (manipulativas grossas) e costu- Em relação ao desenvolvimento afetivo e social da
rar, cortar (manipulativas finas). criança na Educação Infantil, há de se considerar, segun-
• Habilidades estabilizadoras ou de equilíbrio: do Wallon (1953), que esta é a fase de formação da per-
a criança, na tentativa de manter a postura ver- sonalidade do indivíduo. Segundo o autor, a partir dos
tical, é envolvida em constantes esforços contra três anos ocorre o estágio do personalismo, momento da
a força da gravidade. Ex.: girar braços e tronco, constituição do eu, no qual a criança, em seu confronto
flexionar o tronco, entre outros. com o outro, passa por uma verdadeira crise de persona-
Outro aspecto relevante das habilidades motoras fun- lidade, caracterizada pelas mudanças nas suas relações
damentais, de acordo com Gallahue e Ozmun (2005), é com o seu entorno, assim como pelo aparecimento de
que, durante o seu desenvolvimento, o indivíduo passa novas aptidões.
por três estágios distintos. São eles: Outro destaque de Wallon (1953) para essa idade
• Estágio inicial: representa a primeira metade consiste na seguinte definição: por volta dos quatro anos
orientada da criança, na tentativa de executar de idade, a criança desenvolve maneiras de ser admira-
um padrão de movimento fundamental. As in- da e chamar a atenção para si na necessidade de agra-

93


[...] o desenho do corpo não exprime unicamente


dar, com o objetivo de obter a aprovação dos demais. A a gnosia corporal. Nele se projetam às experiências
criança passa a se considerar em função da admiração emocionais, as sensações erógenas, as pressões só-
que acredita ser capaz de despertar nas pessoas. cio-culturais, isto é, o desenho do corpo é reflexo
Acerca da coordenação motora ampla da criança, do que a criança viveu, nas relações com o meio
ambiente, não só no que sentiu como também no
Araújo (1992, p. 35) destaca que, nesta fase da Educação que simbolicamente integrou. Através do conheci-
Infantil, mento das sensações que provém do corpo e das
experiências táteis, cria-se um esquema corporal,
[...] a criança pode andar, correr, saltar, rolar, pular, que regula a postura e o equilíbrio. Esse esquema é
arrastar-se, nadar, lançar-pegar, sentar. Permite a re- a base essencial para a criação da imagem corporal.
alização de múltiplos movimentos ao mesmo tempo,
com cada membro realizando uma atividade dife-
rente, sem perder a conservação de unidade do gesto. De acordo com Mattos (1999, p. 37), a estruturação es-
pacial da criança nada mais é do que “[...] a tomada de
Em relação à noção de corpo e espaço, na Educação consciência de seu corpo em um ambiente, isto é, do lu-
Infantil, segundo De Meur e Staes (1991, p. 122), “[...] a gar e da orientação que pode ter em relação às pessoas
criança não distingue ainda o tempo subjetivo e o tem- e as coisas”. Logo, a estruturação espacial possibilita que
po objetivo. Para ela, é importante que vivencie situações a criança consiga organizar-se diante do universo que
com vários tempos de execução para que comece a per- a cerca, organizar os objetos entre si e movimentá-los.
ceber o tempo longo, curto, e situações rápidas e lentas”. Segundo Oliveira (1997, p. 82), “[...] em primeiro lugar, a
Segundo Le Boulch (1983, p. 190), “[...] a estruturação es- criança percebe a posição de seu próprio corpo no espa-
pacial é fundamental para a criança se situar no meio em ço, depois, a posição dos objetos em relação a si mesma
que vive, estabelecendo relações entre os objetos, fazendo e, por fim, aprende a perceber as relações das posições
observações, comparações, combinações e vendo seme- dos objetos entre si”.
lhanças e diferenças entre eles”. Sobre a imagem corporal, Caro(a) aluno(a), o Quadro 1 apresenta a síntese das
considerada o conhecimento do corpo, consciente e inte- principais características da criança da Educação Infan-
lectualmente, junto com a função de seus membros e de til, de modo a te ajudar a visualizar quem é o aluno que
seus órgãos, Fonseca (1983, p. 262) destaca: você deve considerar em seus planejamentos.

94
EDUCAÇÃO FÍSICA

Características da
criança da Educação
Infantil
Brincadeira e
Motor Intelectual Emocional e social
estimulação
• Egocentrismo ainda • Utiliza habilidades aprendidas
presente. para enfrentar novas situa-
• Aos poucos passa a con- ções.
siderar o ponto de visto • Avalia a sua atuação como
• Andar do outro. satisfatória, resultando em
• Brincadeiras
• Correr • Associa ideias a eventos uma percepção positiva de si
em grupo.
• Saltar próximos. (autoestima).
• Amigo imagi-
• Subir e descer • Continua pensando uma • Precisa estar segura do apoio
nário.
escadas ideia por vez. dos pais, ser orientada e
• Faz-de-conta.
• Pedalar • Confunde imaginação aprovada em suas decisões e
com realidade. ações.
• Julga as experiências pe- • O que, quando, como e por
los resultados aparentes. que são perguntas constantes.
• Fala o tempo todo.
Quadro 1 - Características da criança da Educação Infantil / Fonte: adaptado de Costa (2008).

Em síntese, o desenvolvimento da criança que está na Educação Infantil, segundo Gallahue e Ozmun (2005), encon-
tra-se na fase dos movimentos fundamentais, na qual pegar, engatinhar, andar, correr, saltar, girar e rolar são essenciais
na Educação Infantil. Além disso, as tarefas motoras de estabilização, locomoção e manipulação podem ser explo-
radas, pois as crianças, ao final da Educação Infantil, já conseguem entender regras e compreendê-las, começam a
apresentar mais atenção e concentração e, também, a se organizar em grupos.
Além destes fatos, é necessário considerar que os movimentos da criança nas aulas de Educação Física na Educa-
ção Infantil, por vezes, se apresentarão, inicialmente, de forma global, desarmônica e, quase sempre, simétricas. No en-
tanto, por meio das atividades planejadas e estruturadas de modo lúdico, a criança descobre os próprios movimentos
bem como produz ações que, aos poucos, produzem movimentos caracterizados pelas destreza e eficiência.

95


MAPA CONCEITUAL DOS CONTEÚDOS Vieira (2007, p. 5), “[...] a Educação Física na Educação
DA EDUCAÇÃO INFANTIL Infantil pode configurar-se como um espaço em que a
criança brinque com a linguagem corporal, com o corpo,
com o movimento, alfabetizando-se nessa linguagem”.
Nas aulas de Educação Física, as atividades estrutura-
das e planejadas devem criar situações em que a criança
entre em contato com várias manifestações da cultura
corporal, tendo em vista, sempre, a dimensão lúdica como
um dos elementos principais à ação educativa na infância,
afinal, para a criança, o ato do brincar se relaciona com a
sua forma de se expressar perante o mundo. É a lingua-
gem corporal a sua primeira forma de se comunicar.
Nesse sentido, Mattos e Neira (2003, p. 183) colabo-
ram ao afirmar que:

[...] a pré-escola e a 1° série têm grande relevância


na proposição das atividades que visam ao desen-
volvimento das habilidades básicas à alfabetização,
Quando pensamos na organização dos conteúdos das percepção, lateralidade, orientação espaço-temporal,
aulas de Educação Física na Educação Infantil, instinti- coordenação visual e motora e esquema corporal,
vamente, nos reportamos ao trabalho com o movimen- parece-nos bastante clara a noção de que o trabalho
to, certo? Esta forma de pensar é correta, haja vista que, na educação física deva caminhar na mesma direção.

de acordo com Garanhani (2002), o corpo em movi-


mento constitui a matriz básica da aprendizagem infan- Portanto, trabalhar a Educação Física na Educação Infantil
til. Entretanto, mesmo adotando esta delimitação para a é buscar novas estratégias, métodos e atividades que opor-
abrangência das ações no campo das aulas da Educação tunizem “[...] possibilidades de ampliação do repertório de
Física na Educação Infantil, outros questionamentos po- movimentos, gestos, capacidade expressiva e capacidade de
dem surgir. Por exemplo: planejar seu próprio movimento, assim como reconheci-
• Quais são os conteúdos na Educação Infantil? mento da cultura corporal” (VIEIRA, 2007, p. 7).
• Como devem ser organizados? A prática corporal abordada na Educação Infantil
• Qual a contribuição da Educação Física para o deve ser uma ação que permita à criança criar, recriar,
desenvolvimento infantil? construir e reconstruir os seus movimentos, as suas
capacidades bem como as suas potencialidades, sendo
A fim de responder a estas reflexões, iniciaremos pela considerados, para tanto, o aprendizado sistematizado
compreensão de que a Educação Infantil é um espaço das normas de convivência, dos hábitos culturais e de
no qual o brincar, o lúdico, o movimento, o jogo da imi- outros objetos sociais de conhecimento que contribu-
tação e do faz-de-conta são elementos essenciais a todas am, expressivamente, para o processo de socialização e
as ações desenvolvidas neste ambiente. De acordo com desenvolvimento da criança.

96
EDUCAÇÃO FÍSICA

Conteúdo da Educação Infantil

Eixo 1: Eixo 2: Eixo 3: Eixo 4:


Movimento Movimento em Corporeidade e Movimento e a
e os jogos expressão e ritmo autonomia corporeidade

Expressão corporal Corpo e movimento Brincadeiras Corpo e Corpo e os


rítmico em grupos objeto sentidos

• Esquema
corporal Atividades Atividades Noções lógico Cantigas
expressivas de escolhas matemáticas de roda
• Lateralidade
e decisão
• Coordenação
Som e Jogos de
• Equilíbrio movimento • Pesado/leve
imitação
• Perto/longe
Atividades • Igual/diferente
Brincadeiras • Duro/mole
manipulativas rítmicas Brinquedos e
brincadeiras
Jogos motores cantadas
Brincadeiras
populares
Jogos e
brincadeiras
da cultura
infantil

Figura 2 - Continuidade da educação: explicando os eixos do desenvolvimento / Fonte: os autores.

Na Figura 2, respondemos ao nosso primeiro questiona- forma que levem as crianças a assimilar e a acomodar os
mento apresentado no início desta discussão: quais são os novos conhecimentos apresentados, construindo novas
conteúdos na Educação Infantil? Em geral, os conteúdos perspectivas, reconstruindo conceitos e conhecimentos
abordados nas aulas de Educação Física na Educação In- tanto do mundo quanto da realidade.
fantil devem estar relacionados com as questões do corpo Assim, as aulas de Educação Física precisam trazer
e do movimento, para que, por meio deles, a criança possa para o seu contexto a valorização dos conhecimentos da
conhecer o seu corpo, explorar as possibilidades de movi- própria criança, pois, conforme afirma Wallon (1953), a
mentos, buscar as diversas formas de gestualidades possí- cultura e a linguagem fornecem ao pensamento os ele-
veis de serem produzidas, por meio das atividades lúdicas. mentos por meio dos quais a criança possa se modificar.
Segundo Piaget (1993), o começo do conhecimen- A socialização, nesse momento, faz-se necessária porque,
to é a ação do sujeito sobre o objeto, o que significa, por meio de atividades lúdicas, a criança interage, tendo,
de acordo com o autor, que o conhecimento humano então, a possibilidade de reconfigurar os próprios con-
se constrói na interação homem-meio, sujeito-objeto. ceitos. Não existe linearidade no desenvolvimento — este
Portanto, cabe ao professor, nas aulas de Educação Fí- é, sempre, descontínuo — por isso, sofre crises, rupturas,
sica, organizar estes momentos nos quais haja, sempre, conflitos, retrocessos, enfim, um movimento que tende a
equilibração e reequilibração dos conhecimentos, de tal levar a criança a conquistar outros conhecimentos.

97


Entendemos que a criança tem as suas características próprias e, enquanto um ser


social, ela sofre influências do meio no qual está inserida. Na Figura 3, apresentamos
um mapa conceitual, traçando diferentes conteúdos para cada momento da criança na
Educação Infantil.

Expressão
corporal

Eixo: • Jogos de mímica


Lateralidade movimento • Brincadeiras de roda
e os jogos • Jogos motores

Coordenação
motora Conhecimento de si Linguagem Regras: criar
(grossa e fina) e do mundo corporal e recriar

Interagir com Expressão


o outro lúdica

Figura 3 - Eixo: o movimento e os jogos / Fonte: os autores.

Eixo:
Postura Movimento em Corpo e
corporal ritmo
expressão e ritmo

Equilíbrio • Brinquedos cantados


(Dinâmico e • Percepção • Cantigas de roda
Coordenação
estático) de espaço
• Direção

Óculo – manual
e pedal • Lateralidade: noção de
direita e esquerda
• Direcionalidade: Dentro/fora,
Frente/atrás

Figura 4 - Eixo: o movimento em expressão e ritmo / Fonte: os autores.

98
EDUCAÇÃO FÍSICA

Eixo:
Movimento e
(ZABALA, 1998). Vale ressaltar o que afirma Bron-
corporeidade fenbrenner (1996, p. 47):

Qualquer relação didática envolve questões de reci-


Corpo e Corpo e Corpo, meio
espaço sentidos e cultura procidade, equilíbrio, poder e relação afetiva. No caso
de uma criança pequena, a participação numa inte-
ração didática oferece a oportunidade de aprender
• Rolar em diferentes Conhecimento do corpo a conceber e a lidar com relações de poder diferen-
direções ciadas. As relações afetivas tendem a se tornar mais
• Saltar
• Saltitar diferenciadas e pronunciadas no curso da atividade
Expressividade
• Correr/andar conjunta. Na medida em que estas são positivas e recí-
• Equilibrar
procas no início se tornam cada vez mais positiva, há
Gestualidade
muita chance de que aumentem o ritmo e a probabili-
Figura 5 - Eixo: o movimento e a corporeidade / Fonte: os autores. dade de ocorrência dos processos desenvolvimentais.

Eixo:
Percepção:
Corporeidade
Percepção PLANEJANDO AS AULAS PARA
Espaço – Temporal corporal
e autonomia
A EDUCAÇÃO INFANTIL

Corpo e Imagem
Relação:
objeto corporal
Segundo Hoffmann (2001), a organização e planejamento
• Corpo
• Corpo-objeto das atividades diárias proporcionam ao professor a reflexão
• Corpo-espaço
• Corpo-outro
Movimentos de suas ações e metodologias, quando ele analisa os resulta-
• Corpo-tempo
dos de seu projeto. De acordo com o Referencial Curricular
• Engatinhar Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 196)
• Sentar
• Levantar cabe “[...] ao professor planejar uma sequência de ativida-
• Andar
• Rolar des que possibilite uma aprendizagem significativa para as
• Arrastar
• Quadrupejar crianças, nas quais elas possam reconhecer os limites de
seus conhecimentos, ampliá-los e/ou reformulá-los”.
Figura 6 - Eixo: corporeidade e autonomia – Conteúdos aborda-
dos / Fonte: os autores. O planejamento pedagógico na Educação Infantil
precisa ser discutido e articulado aos sujeitos que estão
As Figuras 3, 4, 5 e 6 representam os elementos que inseridos nestes ambientes coletivos de educação, assim,
compõem os eixos motores essenciais para o desenvol- é imprescindível trazer à sala de aula, por meio dos pla-
vimento do planejamento das aulas da Educação Física nejamentos, as manifestações que as crianças expressam
no contexto da Educação Infantil. Mas deve-se conside- no seu dia a dia, a partir de seus balbucios, choros, falas,
rar que, em todos os eixos, cabe ao professor possibilitar gestos, desejos, hipóteses e conhecimentos prévios. Estes
o desenvolvimento de ações relacionadas à elaboração são de suma relevância para um trabalho que respeite as
de conteúdos conceituais, atitudinais e procedimentais culturas infantis (AHMAD, 2011).

99


Schmitt (2006) vai além e afirma que o objetivo humano, em especial ao desenvolvimento motor, além
principal do planejamento é possibilitar um trabalho de garantir a aprendizagem de habilidades específicas. A
mais significativo e transformador na sala de aula, na construção de movimentos varia de indivíduo para in-
escola e na sociedade. O plano escrito é o produto do divíduo, a organização construída pelo sujeito depende
processo de reflexão e decisão. Assim, não deve ser feito tanto dos recursos biológicos e psicológicos de cada pes-
por uma exigência burocrática, mas, ao contrário, “deve soa quanto das condições do meio ambiente onde ela se
corresponder a um projeto-compromisso do professor, encontra. Por isso, o ser humano não precisa, somente,
tendo, pois, suas marcas” (SCHMITT, 2006, p. 2). do que está presente nele, parte do que ele precisa para
O planejamento pedagógico na Educação Infantil viver está, também, no mundo lá fora, no meio ambiente
precisa ser discutido e articulado com os interesses cul- e ao seu redor.
turais das crianças, pois, assim “é possível trazer para as Conforme Hernández (1998), o planejamento ne-
aulas de Educação Física manifestações que as crianças cessita envolver as questões culturais, de forma que as
expressam no seu dia a dia, suas hipóteses e conhecimen- ações docentes levem a criança a construir alternativas
tos prévios, que são de suma relevância para um trabalho de conhecimentos, a fazendo romper com a linearidade
que respeite as culturas infantis” (AHMAD, 2011, p. 4). estabelecida, ou seja, é preciso que as aulas deem possi-
bilidade de a criança
O planejamento educativo deve ser assumido no
cotidiano como um processo de reflexão, pois, mais refazer e de renomear o mundo e de ensinar os
do que ser um papel preenchido, é atitude e envol- alunos a interpretar os significados mutáveis com
ve todas as ações e situações do educador no coti- que os indivíduos das diferentes culturas e tempos
diano do seu trabalho pedagógico. Planejar é essa históricos dotam a realidade de sentido. Ao mesmo
atitude de traçar, projetar, programar, elaborar um tempo em que lhes abre as portas para compre-
roteiro para empreender uma viagem de conhe- ender suas concepções e as de quem os rodeiam.
cimento, de interação, de experiências múltiplas e (HERNÁNDEZ, 1998, p. 28).
significativas para com o grupo de crianças. Plane-
jamento pedagógico é atitude crítica do educador
diante de seu trabalho docente. Por isso não é uma É importante pensar que a criança, sendo um ser
fôrma! Ao contrário, é flexível e, como tal, permite social e, também, em adaptação, a ela deve ser opor-
ao educador repensar, revisando, buscando novos
tunizada a construção de conhecimentos. Afinal,
significados para sua prática pedagógica. O pla-
nejamento marca a intencionalidade do processo conforme indica Freire (2003), para que a criança se
educativo, mas não pode ficar só na intenção, ou adapte ao mundo, para agir sobre o mundo, transfor-
melhor, só na imaginação, na concepção (OSTET- mando-o e resolvendo problemas, é necessário que
TO, 2004, p. 41).
ela construa o seu próprio movimento corporal espe-
cífico. Isso só poderá ocorrer por meio de esquemas
Nas palavras de Paim (2003, on-line), a Educação Fí- de ação, pois é com eles que o ser humano expressa-
sica adquire um papel importantíssimo à medida que rá, em todas as ocasiões de sua vida, os seus movi-
ela possa estruturar o meio ambiente adequado para mentos. Lembrando que a primeira fase da infância é
a criança, oferecendo experiências, resultando em um crucial, porque é a partir dela que se desenvolvem as
auxiliar considerável e promotor do desenvolvimento movimentações corporais básicas.

100
EDUCAÇÃO FÍSICA

Tendo esta compreensão, você, enquanto professor, as potencialidades e possibilidades para o processo de
deverá planejar as suas atividades considerando as ca- aprendizagem. Além, é claro, de considerar que, em ge-
racterísticas das crianças, os conhecimentos culturais ral, as aulas de Educação Física para a Educação Infantil
delas bem como as potencialidades, afinal, a aula deve ocorrem de maneira global, sustentando-se na ludicida-
ser desafiadora e levar a criança a buscar novos saberes e de, colaborando, efetivamente, na ação motora para o
conhecimentos, de tal forma que o repertório motor e a desenvolvimento afetivo, social e cognitivo da criança.
linguagem corporal do aluno sejam ampliados. Além de pensar na rotina do aluno, na sua cultura e
Nesta unidade, ressaltamos que o movimento é a es- no seu meio social, cabe ao professor ir além, organizan-
sência da infância e, nesse sentido, a ação do professor de do atividades as quais estimulem a criança a explorar os
Educação Física, atuando didática e pedagogicamente próprios movimentos corporais, a aprender a vivenciar
neste espaço de intervenção, torna-se essencial. O nos- experiências que, por meio de brincadeiras, a auxiliem
so intuito, aqui, foi promover uma discussão acerca do no desenvolvimento de suas habilidades motoras, a fim
movimento, objetivando dar a você uma sustentação te- de aprimorar, pouco a pouco, as suas habilidades e, as-
órica a respeito de quem é a criança da Educação Infantil sim, alavancar os processos de desenvolvimento motor.
e, assim, te ajudar a compreender a complexidade que Toda ação didático-pedagógica do professor de Edu-
envolve o desenvolvimento dessa criança, as suas fases e cação Física necessita ser marcada por constantes refle-
etapas da aprendizagem. xões acerca de sua ação docente, entretanto, quando nos
Evidenciamos que o desenvolvimento é um proces- referimos ao trabalho com a Educação Infantil, há de se
so contínuo e constante, portanto, as atividades escolares atentar ao fato de que a criança é um ser social, em cons-
devem ser, sempre, planejadas e organizadas de acordo tante transformação e que, portanto, deve ser pensada,
com uma sistematização prévia, na qual se engloba a sempre, de forma global, acenando para as potencialida-
idade cronológica da criança, os limites dela bem como des dela, colaborando na superação de suas fragilidades.

101
LEITURA
COMPLEMENTAR

As discussões acerca da valorização da cultura da criança diversos modelos de movimentos corporais provenientes
no ambiente da Educação Infantil têm sido uma preocu- da cultura em que se encontra. Neste cenário, as ações sis-
pação latente no campo da pesquisa da Educação Física. tematizadas e intencionais poderão proporcionar à criança
Em posse deste conhecimento, trazemos para você o ar- pequena o conhecimento e domínio de sua movimentação
tigo “Cultura e Escola & Movimento e Linguagem na Edu- corporal como uma linguagem que mobiliza e aprimora a
cação de Crianças Pequenas”, resultante da pesquisa da sua expressão e comunicação.
professora Marynelma Camargo Garanhani, do Programa [...]
de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
do Paraná – PPGE/UFPR, e da professora da Rede Munici- A movimentação do corpo: uma linguagem da
pal de Ensino de Curitiba, Lorena Fátima Nadolny. Vamos criança...
à leitura! Desde que nascem as crianças se movimentam e, progres-
Resumo: Este texto discute o papel da cultura na educa- sivamente, se apropriam de possibilidades corporais para
ção escolar da pequena infância por meio da pesquisa de a interação com o mundo. Por meio do movimento, apren-
autores que compreendem a criança como sujeito histó- dem sobre si mesmas, se relacionam com o outro e com
rico e social, capaz de expressar idéias, sentimentos e de os objetos, desenvolvem suas capacidades e aprendem
produzir cultura. [...] Além disso, apresenta proposições habilidades. Portanto, o movimento é um recurso utilizado
sobre o movimento do corpo infantil como uma das lingua- pela criança para o seu conhecimento e do meio em que se
gens que a criança se utiliza para apropriação e construção insere, para expressar seu pensamento e também experi-
de conhecimentos da e sobre a cultura que está inserida. mentar relações com pessoas e objetos.
Concluiu-se, neste estudo, que a concepção de infância O movimento corporal se apresenta na Educação Infantil
determina as instituições que proporcionam a educação como uma linguagem, pois toda a movimentação da crian-
escolar para as crianças pequenas e, consequentemente, ça tem um significado e uma intenção. Palomo (2001) nos
o trabalho pedagógico desenvolvido nestes contextos. Ao explica que linguagem é um sistema complexo de significa-
entendermos que a instituição de Educação Infantil é o ção e comunicação e pode ser de dois tipos: a verbal, cujos
meio em que a criança pequena extrai, experimenta, ajusta sinais são as palavras e a não-verbal, que emprega outros
e constrói movimentos corporais provenientes da inser- sinais que não as palavras, como as imagens, os sons, os
ção e interação num grupo diferente do seu meio familiar, gestos. Com base neste conceito entendemos o movimen-
concluímos que esta escola é um meio privilegiado para to como uma linguagem não-verbal que permite à criança
o desenvolvimento da autonomia corporal e vivências de agir no meio em que está inserida, através da expressão de

102
LEITURA
COMPLEMENTAR

suas intenções e construção de relações de comunicação.


Portanto, o movimento é uma importante dimensão do
desenvolvimento e da cultura humana (BRASIL, 1998) e o
corpo em movimento constitui a matriz básica da aprendi-
zagem infantil (GARANHANI, 2002). A justificativa para esta
afirmação é que a criança necessita agir para compreender
e expressar significados presentes no contexto histórico-
-cultural em que se encontra, ou seja, ao transformar em
símbolo aquilo que pode experimentar corporalmente, a
criança constrói o seu pensamento primeiramente sob a
forma de ação. Por isto, a criança necessita agir, se movi-
mentar para conhecer e compreender os significados pre-
sentes no seu meio. (GARANHANI, 2004).
Neste cenário, a criança utiliza a movimentação do seu
corpo como linguagem para compreender, expressar e
comunicar suas idéias, entendimentos, desejos, etc e, este
fato, nos faz (re)pensar uma concepção de Educação Infan-
til que valorize a movimentação da criança, não somente
como uma necessidade físico-motora do desenvolvimento
infantil, mas também como uma capacidade expressiva e
intencional.
Assim, é necessário estar atento ao fazer pedagógico da
Educação Infantil que contemple o conhecimento e de-
senvolvimento de diferentes linguagens, dentre elas o
movimento corporal. Mas esta condição está diretamente
atrelada à formação de professores responsáveis pela es-
colarização da pequena infância.

Fonte: adaptado de Garanhani e Nadolny (2009).

103
agora é com você

1. De acordo com a legislação da Educação Infantil, considera-se que a primeira


infância é a fase do desenvolvimento da criança que abrange a idade entre:
a. Zero a cinco anos.
b. Dois a quatro anos.
c. Quatro a cinco anos.
d. Um a seis anos.
e. Um a sete anos.

2. Conceitualmente, o desenvolvimento motor pode ser compreendido como:


a. Um processo de alterações no nível de funcionamento de um indivíduo,
considerando a interação entre as exigências da tarefa, da biologia do in-
divíduo e o ambiente.
b. Um processo restrito que ocorre, apenas, nos três primeiros anos de vida
da criança.
c. Um processo que acontece a partir dos seis anos de idade da criança.
d. Um processo que ocorre ao longo do tempo e independe das caracterís-
ticas do meio.
e. Um processo que independe dos estímulos e das motivações externas.

104
agora é com você

3. De acordo com Gallahue e Ozmun (2005), as habilidades motoras fundamen-


tais são divididas em três categorias. Observe as afirmativas, a seguir, e assi-
nale V para as verdadeiras e F para as falsas.
( ) Habilidades locomotoras: movimentos que indicam uma mudança na loca-
lização do corpo em relação a um ponto fixo na superfície. Ex.: caminhar,
correr, saltar, saltitar etc.
( ) Habilidade locomotoras: movimentos que ocorrem, apenas, na primeira
infância.
( ) Habilidades manipulativas: movimentos de manipulação motora. Ex.: ta-
refas de arremesso, recepção, chutes (manipulativas grossas), costurar,
cortar (manipulativas finas).
( ) Habilidades manipulativas: são representadas por movimentos de correr,
saltar, rolar e saltitar.
( ) Habilidades estabilizadoras ou de equilíbrio: a criança é envolvida em
constantes esforços contra a força da gravidade, na tentativa de manter a
postura vertical. Ex.: girar braços e tronco, flexionar o tronco, entre outros.
A sequência correta para a questão é:
a. F, V, F, V, F.
b. V, F, F, V, V.
c. V, F, V, F, V.
d. V, V, F, F, V.
e. V, V, V, V, F.

4. Ao elaborar um plano de aula voltado à Educação Física infantil, quais os ele-


mentos corporais essenciais a serem considerados para o desenvolvimento
da aula?
5. Qual o papel do professor de Educação Física para as aulas de Educação Fí-
sica infantil?

105
agora é com você

Título: Corpo em Movimento na Educação Infantil


Autores: Vilma Leni Nista-Piccolo e Wagner Wey Moreira
Ano: 2012
Sinopse: este livro pretende contribuir para a compreensão de aspectos que
envolvem o desenvolvimento da criança, a corporeidade associada à criativida-
de, a importância da motricidade, do jogo e do aspecto lúdico nas atividades,
entre outros. A obra oferece um repertório de prática aliado a uma base teórica
e ambos poderão proporcionar aos professores melhores práticas educativas
na Educação Infantil.

Título: O Começo da Vida


Ano: 2016
Sinopse: um dos avanços mais significativos da Neurociência a descoberta de
que os bebês são muito mais do que uma carga genética. O desenvolvimento
de todos os seres humanos encontra-se na combinação da genética com a qua-
lidade das relações que desenvolvemos e do ambiente onde estamos inseridos.
Comentário: O Começo da Vida convida todos, como parte da sociedade, a
refletir: estamos cuidando bem dos primeiros anos de vida, os quais definem
tanto o presente quanto o futuro da humanidade?

106
UNIDADE
V
PLANEJANDO AS AULAS
PARA AS SÉRIES INICIAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL

Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira


Dra Vânia de Fátima Matias de Souza

Oportunidades de aprendizagem
• Analisar as perspectivas de ação pedagógica para a Educação Física nas séries
iniciais do Ensino Fundamental, apontando a relação e a atuação didático-
pedagógica nas intervenções.

• Apresentar uma proposta pedagógica para a Educação Física no contexto dos 1º,
2º e 3º anos das séries iniciais.

• Apresentar uma proposta pedagógica para a Educação Física no contexto dos 4º e


5º anos das séries iniciais.

Plano de Estudo

• A Educação Física nas Séries Iniciais a Partir das Abordagens Educacionais: Quem
é a Criança

• Elementos para a Construção de uma Proposta Pedagógica: Mapa Conceitual dos


Conteúdos dos 1º, 2º e 3º Anos das Séries Iniciais

• Elementos para a Construção de uma Proposta Pedagógica: Mapa Conceitual dos


Conteúdos dos 4º e 5º Anos das Séries Iniciais
unidade

V


O Ensino Fundamental, no Brasil, tem passado por inú- Com este enfoque, preparamos esta unidade para
meras transformações ao longo de sua história, dentre ajudar você a pensar tanto na estrutura quanto na orga-
elas, destacamos a organização do ensino. Entenda que, nização das aulas de Educação Física das séries iniciais.
de acordo com a legislação educacional brasileira, a Lei Boa leitura!
4.024/1961 estabeleceu quatro anos de escolaridade
obrigatória; já a Lei 5.692/1971 determinou a exten- A EDUCAÇÃO FÍSICA NAS SÉRIES
são da obrigatoriedade para oito anos; enquanto a Lei INICIAIS A PARTIR DAS ABORDAGENS
9.394/1996 sinalizou um ensino obrigatório de nove EDUCACIONAIS: QUEM É A CRIANÇA
anos de duração, a iniciar-se aos seis anos de idade, o
que, por sua vez, tornou-se meta da educação nacional,
por meio da Lei 10.172/2001, a qual aprovou o Plano
Nacional de Educação (PNE). Em 2006, a Lei 11.274
concretizou esse plano, tornando obrigatória a matrícu-
la das crianças de seis anos de idade no Ensino Funda-
mental de nove anos de duração.
Com estas mudanças na educação e com o processo
de ampliação do Ensino Fundamental, muitos questio-
namentos têm surgido. Na Educação Física, eles ocor-
rem, principalmente, acerca do currículo a ser trabalha-
do: quais os conteúdos? Como os organizar?
Precisamos entender que os conteúdos e as práticas
pedagógicas trabalhadas nas séries iniciais do Ensino
Fundamental precisam seguir uma estrutura de planeja-
mento a qual contemple para essa etapa de ensino obje- De acordo com a Lei 11.274 (BRASIL, 2006, on-line), as
tivos, saberes e conhecimentos estabelecidos. Estes, por séries iniciais da Educação Básica compreendem a ensi-
sua vez, devem corresponder às necessidades e expecta- no realizado do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Em
tivas da criança em cada fase ou momento do desenvol- posse desta compreensão, nesta unidade, apresentare-
vimento dela. mos elementos e apontamentos iniciais que te auxiliarão
Compreendemos que a Educação Física — enquanto na construção do planejamento das aulas de Educação
componente curricular das séries iniciais do Ensino Fun- Física, tendo, como pressupostos teóricos, o entendimen-
damental — se constitui em um espaço cuja relação entre to em relação à criança no contexto da sua infância, com
os processos de ensino e aprendizagem parte dos princí- as suas características e singularidades próprias.
pios de uma educação de qualidade, centrada nos saberes Entendemos que a infância, enquanto categoria so-
necessários ao desenvolvimento integral da criança. Por cial, engloba a criança em seus múltiplos contextos bem
isso, consideramos que toda ação pedagógica do profes- como em suas relações históricas e sociais. Por este mo-
sor deve ser tratada a partir da estrutura e da organização tivo, para se discutir os conteúdos escolares, é necessário
de um planejamento adequado às necessidades infantis. conhecer a criança da qual estamos falando.

110
EDUCAÇÃO FÍSICA

Precisamos partir do pressuposto de que, para obter- Tendo a compreensão de que as aulas de Educação
mos educação de qualidade, é importante haver um bom Física escolar contribuem, de modo fundamental, para o
planejamento, no qual conste as necessidades tanto da desenvolvimento integral das crianças, entendemos que
criança quanto da escola e da sociedade, a fim de que os conhecer as caraterísticas destes seres em formação, assim
conteúdos abordados no currículo estejam adequados. como os interesses e as necessidades de cada momento da
Assim, ao organizarmos a estrutura das aulas de Educa- infância permite que as aulas de Educação Física sejam
ção Física para as séries iniciais, precisamos nos questio- estruturadas atendendo às necessidades dos alunos.
nar: quais as condições à implementação do currículo da Ao concebermos o fato de que a criança tem a sua
Educação Física? Qual é o papel das aulas de Educação própria história, é fruto e produtora de um contexto so-
Física para as crianças das séries inicias do Ensino Fun- cial, as aulas passam a apresentar mais significado aos
damental? Qual o significado dos conteúdos e atividades alunos. Por meio desta perspectiva, quando conside-
selecionadas? Como trabalhar com as crianças de ma- ramos o contexto, as condições concretas nas quais as
neira que sejam considerados o contexto cultural delas, o crianças estão inseridas e onde acontecem as suas práti-
desenvolvimento e o acesso aos conhecimentos? cas e interações, a ação educativa começa a ser mais inte-
Para iniciarmos a organização e planejamento ressante para o aluno, afinal, como vimos, anteriormen-
das aulas da Educação Física, há de se considerar que te, o planejamento consiste em um trabalho orientado
a criança traz consigo os seus próprios conhecimen- às dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais.
tos de mundo e de si mesma, resultantes de sua histó-
ria e, também, do meio cultural do qual ela faz parte.
Por isso, deve-se pensar na história das crianças, no
momento de construir a estrutura organizacional das Se entendemos que a Educação Física contri-
aulas de Educação Física escolar, afinal, como afirma bui para o desenvolvimento integral das crian-
Benjamin (1984, p. 14), as crianças “fazem história a ças e consta na Lei 9.394/1996 como compo-
partir da história”. nente obrigatório na Educação Básica, quais
Por meio das relações sociais, dos jogos e brincadei- os motivos que ainda levam à ausência, em
ras, as crianças são capazes de criar e recriar situações muitas escolas, deste componente curricular?
bem como compreender regras, pois a cultura infantil
consiste em um processo no qual o criar, o recriar, o pro-
duzir conhecimentos, o transformar e transformar-se
acontecem a partir das interações cotidianas da criança Entendemos que a ação docente voltada às organização
com o mundo adulto e com o universo infantil, inclusive e estruturação do planejamento das aulas de Educação
nas relações de pertencimento, considerando as relações Física deve levar em conta as características individuais
com o tempo e o espaço. Logo, as aulas de Educação Físi- da criança, as suas relações e interações sociais, porque
ca se constituem em um ambiente importante, para que tanto a apropriação quanto a influência do meio e das
essas interações ocorram, de forma significativa, no de- tarefas oportunizadas para a criança serão elementos
senvolvimento da criança. importantes na formação dela.

111


Considerando a relevância das interações sociais para mutuamente, sendo considerado um processo perma-
o desenvolvimento infantil, Vygotsky (1996, p. 98) aponta nente que abrange todas as etapas da vida do indivíduo.
que “[...] as interações sociais ocupam a centralidade do
processo de desenvolvimento do sujeito e são percebidas
como constitutivas da sua identidade do sujeito”, o que sig-
nifica dizer que a criança experimentará, no fluxo do seu Entendendo que a criança tem características
desenvolvimento, as influências e contribuições decorren- próprias, mas que o ambiente e as tarefas
tes das relações sociais que ela possui com o seu meio, rela- oportunizadas influenciam o desenvolvimen-
ções estas mediadas pelas interações com outros indivídu- to dela, como deve ocorrer o processo de en-
os, a partir de um processo cíclico e histórico. sino e aprendizagem nas aulas de Educação
Podemos conceituar, também, como elementos Física para as séries iniciais?
que colaboram, significativamente, para o desenvolvi-
mento da criança, as influências exercidas pela cultura,
pelas relações sociais, pelo meio, afinal, a criança, no
seu cotidiano escolar, passa a ter relações sociais mais Compreendendo que o processo de desenvolvimento da
intensas e, consequentemente, por meio dos valores, criança não é algo estático e que depende de elementos
conceitos, regras e interações com o outro, ela começa derivados do universo que a cerca, é importante ressaltar o
a conhecer e a construir a sua concepção de mundo, seguinte fato: é por meio da aquisição e do desenvolvimen-
a qual, por sua vez, pode ser, constantemente, reelabo- to dos padrões de movimento da criança que o professor
rada e internalizada. Nesse contexto, a aula de Educa- consegue planejar as aulas de Educação Física bem como
ção Física torna-se um espaço oportuno ao desenvol- integrar a proposta pedagógica da escola ao momento no
vimento da criança porque, por meio dos jogos e das qual a criança se encontra e às necessidades dela.
brincadeiras, ela interage com o grupo, aprende regras, Vale destacar que a criança das séries iniciais vai en-
realiza, a partir de suas relações, a própria construção contrar-se no que Gallahue e Ozmun (2001) denominam
identitária. Dessa forma, as aulas de Educação Física “padrão fundamental de movimentos”, considerado um
possibilitam o desenvolvimento da criança seja esti- momento no qual o aluno deve receber uma ampla ofer-
mulado, motivado a alavancar, em especial, pelo fato ta de vivência corporais. Isso porque, segundo os autores,
de a ampliação e variabilidade das ações motoras pro- a maioria das crianças possui um potencial de desenvolvi-
porcionar o desenvolvimento de todas as habilidades. mento que as conduz ao estágio maduro dessas habilidades,
Afinal, como Gallahue e Ozmun (2001) enfatizam, o portanto, a ampliação de ações motoras ofertadas possibi-
desenvolvimento não é uma ação única, mas é, também, litará que a criança vivencie um processo de refinamento,
resultante das interações dos domínios motor, cognitivo mas também de combinação de movimentos, os quais serão
e socioafetivo, os quais acontecem, sempre, de forma in- responsáveis pela aquisição das habilidades especializadas,
terligada. Isso porque os três domínios influenciam-se, amplamente, utilizadas nas ações motoras especializadas.

112
EDUCAÇÃO FÍSICA

Levam em conta a utilização dos grupamentos musculares,


sendo classificados em coordenação motora grossa (grandes
1. Aspectos musculares
grupamentos musculares) e coordenação motora fina (peque-
nos grupamentos musculares).
Levam em conta o tempo no qual o movimento acontece, po-
dendo ser classificados em:

a. Movimento discreto (o início e o fim são bem definidos).


2. Aspectos temporais do movimento b. Movimento em série (simples e repetido diversas vezes, em
sucessão rápida).
c. Movimento contínuo (repetido de forma cíclica, por um
período de tempo).
Levam em conta o contexto onde o movimento acontece, divi-
dindo-se em:
3. Aspectos ambientais do movimento a. Tarefa motora aberta (acontece em um ambiente onde as
condições estão, constantemente, mudando).
b. Tarefa motora fechada (ambiente estável ou previsível).
Apesar de todas as tarefas envolverem, sempre, elementos de
equilíbrio, pode-se dividir os movimentos com base na intenção:

a. Tarefa de estabilidade (ganhar ou manter a orientação


corporal estável ou realizar movimentos axiais, como flexão,
4. Função intencional do movimento alongamento, torção e giro).
b. Tarefas locomotoras (têm por objetivo transportar o corpo
de um lugar a outro).
c. Tarefas de manipulação de objetos (dar ou receber a força
de um objeto).
Levam em conta as fases da aquisição e de aprimoramento do
movimento, tais como:

a. Fase reflexiva (tem característica involuntária, como os movi-


5. Níveis de desenvolvimento do movimento mentos reflexos primitivos e posturais da infância precoce).
b. Fase rudimentar (movimentos da primeira infância).
c. Fase fundamental (movimentos da segunda infância).
d. Fase especializada (movimentos complexos utilizados por
crianças com idade mais avançada, adolescentes e adultos).

Quadro 1 - Elementos da construção dos movimentos motores / Fonte: adaptado de Gallahue e Ozmun (2001).

113


É importante considerar que cada criança apresenta o


seu próprio tempo para se desenvolver. No entanto, nas
aulas de Educação Física, há alguns fatores que Gallahue
e Ozmun (2001) consideram que precisam ser observa-
dos, ou seja, fatores como: idade, gênero, nível de habi-
lidade e o contexto no qual as crianças estão inseridas,
porque é nesta amplitude de ações que o aluno tem a
possibilidade de expandir, gradativamente, o seu reper-
tório motor, experimentando um avanço significativo
em seu comportamento motor.

Características gerais da criança Características gerais da criança


Teoria de Gallahue e Ozmun (2001) Teoria de Eckert (1993)
A criança na idade dos seis a sete anos: fase dos
movimentos fundamentais – Maduro.
Principais características: surgimento de múltiplas
Tarefas dos seis aos dez anos: fase de grandes
formas (correr, saltar, arremessar, receber, quicar,
mudanças. Do convívio familiar para o convívio em um
chutar) e suas combinações, as quais variam conforme
grupo de pares; preferência pelo domínio dos jogos;
as atividades e o desempenho da criança.
compreensão do mundo dos conceitos adultos, o qual
A criança na idade dos sete a dez anos: fase dos
requer a aquisição gradual das habilidades e da arte
movimentos especializados. Transição: início da ten-
da lógica, do simbolismo e da comunicação.
tativa de combinação dos movimentos fundamentais;
aumento de práticas mais complexas (esportes, danças
e jogos).
Aspectos gerais Aspectos gerais
Aumento rápido e qualitativo do rendimento. Período no qual a criança muda do ambiente pro-
Aumento de disponibilidade variável das formas de tegido do lar para o clima de envolvimento social da
movimento. escola. Necessidades de ampliação de atividades de
Aumento da capacidade de aplicação em diferentes socialização, por meio de trabalhos, como: jogos e
tarefas e situações. brincadeiras em grupo.

Quadro 2 - Características da criança das séries iniciais do Ensino Fundamental / Fonte: adaptado de Gallahue e Ozmun (2001) e Eckert (1993).

Entenda que o desenvolvimento da criança é contínuo, tampouco se traduz, de forma exclusiva, em determinantes
biológicos ou genéticos. Deve-se considerar o meio como fator preponderante ao desenvolvimento das habilidades
da criança, então, dentro deste contexto, observa-se que as crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental, as
quais têm, em geral, entre seis e 11 anos de idade, encontram-se em uma fase cujas força e habilidades esportivas
passam a ser aprendidas bem como melhoradas (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).

114
EDUCAÇÃO FÍSICA

A coordenação motora desses alunos é a base para a ex- aprendizagem nas séries iniciais, com destaque para os 1º,
pansão da capacidade de aprendizagem sensório-motora, 2º e 3º anos, afinal, é neste momento que a criança é inse-
logo, quanto mais elevado for o nível de desenvolvimento, rida no universo escolar normatizado e, então, a sua lin-
mais rápido e mais seguramente poderão ser aprendidos guagem corporal começa a ser a interlocução do seu pro-
movimentos novos ou difíceis, também com economia de cesso de aquisição desses novos saberes e conhecimentos.
esforço, o que propicia melhores orientação e precisão (PE- Estes, por sua vez, são inseridos no cotidiano escolar.
REIRA, 2002). Por esta razão, as aulas de Educação Física De acordo com Freire (2003, p. 20), para o proces-
devem oportunizar uma gama de experiências motoras so de aprendizagem da criança, deve-se pensar que “[...]
cujas práticas corporais possam corroborar, significativa- entre os sinais gráficos de uma língua escrita e o mun-
mente, o desenvolvimento de todo esse processo. do concreto, existe um mediador, que é a ação corpo-
ral”. Por este motivo, as aulas de Educação Física devem
ELEMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DE abordar, nos 1º, 2º e 3º anos das séries inicias do Ensino
UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA: MAPA Fundamental, vivências e ações motoras com foco na lu-
CONCEITUAL DOS CONTEÚDOS DOS 1º, dicidade, na interação com o meio, mas que sejam ativi-
2º E 3º ANOS DAS SÉRIES INICIAIS dades que possibilitem alavancar a criança no processo
de aquisição de novas habilidades.
Nesta fase escolar, a criança ainda é muito lúdica e, por
isso, ela busca por atividades que evoquem o brincar, que
são próprias da cultura infantil. Esse pode ser um elemento
inicial a ser considerado no planejar das aulas de Educação
Física escolar, uma vez que, segundo Vygotsky (1996), pela
brincadeira, a criança vincula-se com o mundo que a cerca,
podendo interferir e ser interferida, diretamente, durante a
atividade. Por esta razão, os jogos motores são elementos
essenciais: eles contribuem para a sociabilização e o desen-
volvimento da aprendizagem nessa fase.
Nesse contexto, o professor, ao planejar suas aulas
de Educação Física, necessita levar em conta os conhe-
cimentos e saberes trazidos pelas crianças, afinal, como
afirmam Betti e Liz (2003, p. 135): “[...] o ponto de vista
dos alunos, os significados e valores que eles vinculam às
Segundo Pain (1992, p. 22), “é com o corpo que se apren- várias atividades do ensino devem ser considerados pelo
de”. Logo, entendemos que as aulas de Educação Física professor, pois a alteridade é um dos princípios pedagó-
no ambiente escolar são o alicerce central do processo de gicos que deve orientar a Educação Física”.

115


Para o desenvolvimento das aulas dos 1º, 2º e 3º anos representações por ela aprendidas, o que significa dizer
das séries inicias, é de muita importância considerar os que as aulas de Educação Física para esses anos escolares
valores educativos em cada atividade proposta. Estando deve centrar-se na qualidade e diversidade de atividades
ou não centrada no ato do brincar ou da dimensão lúdi- propostas, tendo, como pressuposto, a valorização da
ca, a atividade deve primar por valores pedagógicos sus- criança, de forma participativa, na aula.
tentados por uma prática formativa, na qual seja opor- A seguir, apresentamos um quadro com os ob-
tunizada à criança o aprendizado de novos padrões, jetivos a serem considerados no desenvolvimento e
gestos ou movimentos motores e, ao mesmo tempo, seja na estruturação das aulas de Educação Física Escolar
possibilitada, por meio das atividades, a modificar as para as séries iniciais.

Eixos Objetivos 1a ao 5a ano das séries iniciais do Ensino Fundamental


Organizar situações de vivências corporais e estudos que possibilitem
O movimento e a corporeidade a compreensão em ser um corpo em movimento e em constantes
interações com objetos e pessoas.
Favorecer o estudo e a vivência de manifestações lúdicas e esportivas
O movimento e os jogos como integrantes da cultura motora, contribuindo com o processo de
construção da motricidade
Promover a compreensão do movimento rítmico como forma de ex-
O movimento em expressão e ritmo pressão corporal e de representação social, valorizando-o em diversas
manifestações culturais.
Possibilitar o entendimento e o envolvimento da interação entre a
O movimento e a saúde ação motora e a saúde, destacando os benefícios que esses conheci-
mentos trazem à melhora da qualidade de vida.

Quadro 3 - Objetivos da Educação Física nas séries iniciais / Fonte: Palma, Oliveira e Palma (2010, p. 74).

Daolio (1996) discute a relevância dos aspectos culturais da construção do campo da Educação Física
escolar, apontando as relações históricas que influenciam, sobremaneira, a forma de se conceber as
aulas na realidade escolar. Segundo o autor, entendemos que a Educação Física Escolar é uma prática
cultural, com tradição respaldada em certos valores. Ela ocorre, historicamente, em certo cenário, com
certo enredo e para certo público que, por sua vez, demanda certa expectativa.
É justamente isso que faz a Educação Física escolar ser o que é. Sendo uma prática tradicional, ela possui
certas características, muitas vezes, inconscientes para os seus atores. Em outras palavras, existe deter-
minado estilo de lecionar aulas de Educação Física, estilo que, na maioria das vezes, é valorizado pelos
alunos, comunidade e direção da escola.
Fonte: adaptado de Daolio (1996).

116
EDUCAÇÃO FÍSICA

Eixo: Eixo:
O movimento em 1º ANO Movimento e a
Ritmo e Expressão Corporeidade
Movimentos em
construção e
estruturação
Brincadeiras Eixo:
cantadas: O movimento Lançar e Agarrar
representação e os jogos
• Andar em diferentes
original e
Com uma formas
representação
mão, para • Correr em diferentes
criativa
frente, no velocidades e direções
Brincadeiras Participar solo, com as • Rolar: decúbito
populares: de jogos duas mãos, ventral, dorsal para
tradicionais simbólicos com um pé frete e para trás
na família • Saltar com os dois
pés lateralmente com
um pé em altura

Figura 1 - Mapa conceitual: conteúdos para o 1º ano / Fonte: os autores.

Eixo: Eixo:
O movimento em 2º ANO Movimento e a
Ritmo e Expressão Corporeidade

Movimentos

Danças Eixo:
populares, O movimento • Girar sobre os dois pés (no mesmo
origem, música e os jogos lugar), para direita, para esquerda
e movimento
• Sustentar em pé (frontal, dorsal, lateral),
sentado, de joelhos
• Estender partes do corpo e o corpo todo
Brincadeiras Jogos com
cooperativas regras • Empurrar com as duas mãos (para cima,
em pequenos e simples para baixo, lateralmente), com uma mão
médios grupos • Rebater com uma mão, com as duas
mãos, com o pé, com a perna

Figura 2 - Mapa conceitual: conteúdos para o 2º ano / Fonte: os autores.

Eixo:
O movimento nas 3º ANO Movimento e a
manifestações Corporeidade
lúdicas e esportivas
Movimentos

Ginástica: Eixo:
rolamentos para O movimento • Conduzir com as mãos para frente,
frente, para trás, e os jogos para trás, para direita/esquerda
vela simples,
estrela (executar • Chutar com a ponta dos pés, com
no solo, a lateral interna/externa com o
ultrapassar um calcanhar, com o peito do pé, com
objeto) Brincadeiras o objeto parado/movimento
Jogos com
em grandes
regras
grupos

Figura 3 - Mapa conceitual: conteúdos para o 3º ano / Fonte: os autores.

A organização apresentada nos mapas conceituais permite a compreensão de uma organização prévia dos conteúdos
que devem ser trabalhados com a criança nos 1º, 2º e 3º anos das séries iniciais do Ensino Fundamental.

117


ELEMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA: MAPA CON-


CEITUAL DOS CONTEÚDOS DOS 4º E 5º ANOS DAS SÉRIES INICIAIS

A Educação Física escolar tem se constituído en- é importante romper com a dicotomia corpo e men-
quanto um componente curricular que possibilita a te, muito presente nas aulas de Educação Física deste
articulação dos saberes e conhecimentos tanto teó- nível de ensino, uma vez que a aula necessita ser um
ricos quanto práticos, além da articulação da expe- momento de construção, a partir do movimento, da
rimentação interdisciplinar, em especial, nas séries autonomia e da criticidade da criança.
iniciais do Ensino Fundamental. Segundo Melo e Urbanetz (2008), a aprendiza-
Vale lembrar que a construção dos objetivos e fi- gem que ocorre no ambiente escolar dá-se de forma
nalidades da Educação Física escolar, para as crian- organizada e envolve tanto as condições específicas
ças com 9 e 10 anos de idade — que se encontram para a transmissão e assimilação de conhecimentos e
nos 4º e 5º anos — deve ter a perspectiva da formação habilidades quanto a organização intencional, plane-
integral dos alunos, contemplando as necessidades jada e sistemática das finalidades, além das condições
biológicas e culturais dos mesmos. Por este motivo, das aulas no ambiente escolar.

118
EDUCAÇÃO FÍSICA

Desse modo, na organização e estruturação das escolar, torna-se possível integrar a Educação Física com
aulas para os 4º e 5º anos das séries iniciais, é essencial os demais saberes e conhecimentos das demais áreas.
pensar, sempre, nos objetivos da Educação Física es- Em posse desta perspectiva, trazemos, na sequência,
colar, a proposta pedagógica da escola e a forma como uma proposta de organização e sistematização dos con-
deve ocorrer o processo de sistematização dos saberes teúdos que devem ser abordados como elementos bási-
abordados nas aulas, pois, ao se estabelecer essas rela- cos das aulas de Educação Física Escolar nos 4º e 5º anos
ções com as demais ações desencadeadas no ambiente das séries iniciais do Ensino Fundamental.
Eixo:
O movimento nas 4º ANO Movimento e a
manifestações Corporeidade
lúdicas e esportivas
Movimentos

• Ginástica: Rolamentos Eixo:


para frente com as O movimento • Conduzir com os pés para frente,
pernas estendidas/com e os jogos para trás, para a direita/esquerda
as pernas estendidas e • Combinações: andar e chutar;
afastadas correr e saltar; correr e chutar;
• Rolamento para trás correr e arremessar; correr e
com as pernas unidas e Jogos receber; correr e transportar; lançar
estendidas cooperativos e receber; saltar e arremessar
• Estrela
• Ponte
• Parada de mãos

Figura 4 - Mapa conceitual dos conteúdos dos 4° ano das séries iniciais / Fonte: os autores.

Eixo: Eixo:
movimento nas 5º ANO Corpo e
manifestações Atividade Física
lúdicas e esportivas
Eixo: • Aspectos relacionados a
O movimento atividade física e saúde
e os jogos • Efeitos dos exercícios
• Iniciação às lutas anaeróbicos e aeróbicos
• Ginástica (elementos básicos) sobre o corpo
• Dança (brasileiras e populares) Jogos
• Práticas corporais (skate, escalada) Cooperativos
e Recreativos

Figura 5 - Mapa conceitual dos conteúdos dos 5° ano das séries iniciais / Fonte: os autores.

Ao observar os mapas conceituais destinados aos 4° e gundo Zabala (1998), educar significa trabalhar em prol
5° anos das séries iniciais, lembre-se que, para além das da formação do indivíduo, de forma integral. Portanto,
dimensões procedimentais tratadas nas aulas, é impor- as finalidades e os objetivos devem ser explícitos, para
tante ter, como foco, o desenvolvimento dos aspectos que possam ser desenvolvidos de acordo com as neces-
conceituais e atitudinais durante as aulas, porque, se- sidades de todos os envolvidos no processo.

119


Evidentemente que esse processo de ensino e apren- a Educação Física escolar aborda, por meio da apropria-
dizagem nas aulas de Educação Física escolar estão, ção do movimento e das relações culturais, as condições
sempre, centradas nas questões motoras, afinal, como para que a criança vivencie formas diversificadas para os
diz Canfield (2000), não é possível negar a importância movimentos, possibilitando que os mesmos tenham sig-
de trabalhar o aspecto motor no decorrer da infância do nificados próprios na relação da criança com o dia a dia.
ser humano, logo, as salas de Educação Física, enquanto Como vimos, as aulas de Educação Física escolar
um espaço de intervenção que possibilita e oportuniza, para os primeiros anos das séries iniciais do Ensino Fun-
de maneira efetiva, a vivência motora, por meio de jo- damental ocorrem graças às constituição e articulação
gos, atividades lúdicas e esportivas bem como conheci- entre o movimento, a cultura e os interesses da criança,
mentos sobre saúde, possibilitam que a criança do 4º e 5º afinal, ela é o ponto central das aulas. O professor é, nes-
anos das séries iniciais do Ensino Fundamental colabo- se contexto, o agente de transformação responsável por
rem como fatores essenciais para o processo de desen- oportunizar a inter-relação entre os saberes interpelados
volvimento da criança. pelo movimento e o cotidiano da vida da criança.
Com esta compreensão, os mapas conceituais apre-
sentados nesta unidade trouxeram a possibilidade de
estruturar as aulas centradas em movimentos que en-
O processo de ensino caracteriza-se pela
globam os contextos dos alunos, trazendo eixos de
combinação de atividades do professor e dos aprendizagem que apresentam uma prática pedagógi-
alunos. Estes, pelo estudo das matérias, sob ca a qual valoriza as relações bem como interações da
a direção do professor, vão atingindo, pro- criança com o universo em torno dela.
gressivamente, o desenvolvimento de suas Entendemos que a criança matriculada nas séries
capacidades mentais. A direção eficaz desse iniciais do Ensino Fundamental tem mais facilidade
processo depende do trabalho sistematiza- com o processo de aprendizagem e com a compreensão,
do do professor que, tanto no planejamento por meio do movimento, do universo que a cerca, pois,
quanto no desenvolvimento das aulas conju- nas aulas de Educação Física, a criança tem o potencial
ga objetivos, conteúdos, métodos e formas de explorar, pela interação com o meio, o próprio cor-
organizativas do ensino.
po no espaço. Afinal, os atos motores auxiliam o aluno a
Fonte: adaptado de Libâneo (1994).
exteriorizar o seu desenvolvimento, o qual é decorrente
das suas dimensões cognitiva, corporal, afetiva, ética, es-
tética, interpessoal e biológica.
Outro fator a ser considerado é o fato de que a escola da Como alerta Vygotsky (1996), o desenvolvimento da
atualidade deve atender a demandas próprias. Etchepare criança ocorre no meio escolar, mas também das inte-
(2000) afirma a necessidade de compreender que a es- rações de vários fatores, tais como: a hereditariedade, o
cola atual tem, como objetivo principal, desenvolver no crescimento orgânico, a maturação neurofisiológica e o
aluno as características necessárias à ação efetiva e, tam- meio social. Assim, as aulas de Educação Física escolar
bém, à participação ativa na sociedade. Nesse contexto, intensificam a relação entre o ser e o desenvolver infantil.

120
EDUCAÇÃO FÍSICA

Encerramos esta unidade com a perspectiva de que


você tenha compreendido que as aulas de Educação Físi-
ca escolar devem seguir uma sequência lógica e sistema-
tizada de tal forma que os movimentos se completem e
colaborem para o desenvolvimento das potencialidades
da criança.

121
agora é com você

1. A Educação Física escolar deve seguir a organização e a estruturação sistemá-


tica, além de ser sustentada em objetivos claros e coerentes. Sabendo deste
fato, cite os principais objetivos da Educação Física escolar.
2. Quais principais dimensões do conhecimento devem estar presentes na or-
ganização do planejamento das aulas de Educação Física das séries iniciais?
3. Sabendo que a criança deve ser considerada, de forma integral, nas aulas
de Educação Física escolar, quais os elementos que precisam ser levados
em conta no processo de elaboração das atividades cujo foco deve estar na
aprendizagem significativa da criança?
4. Qual a importância da cultura para a construção das aulas de Educação Física
no Ensino Fundamental?
5. Qual o papel do planejamento para o sucesso das aulas de Educação Física
no Ensino Fundamental?

122
meu espaço

123
meu espaço

124
meu espaço

125
LEITURA
COMPLEMENTAR

As discussões e reflexões acerca das ações no campo da mica da Educação Física. Ou seja, os alertas emitidos por Sil-
construção da Educação Física escolar têm acontecido, ao va (2000 e 2007) vêm sensibilizando gradativamente a área.
longo da história, a partir de diferentes vertentes pedagó- Considerando que toda decisão curricular é uma decisão
gicas. Sabendo deste fato, apresentamos a você uma re- política e que o currículo pode ser visto como um território
flexão levantada pelos professores Marcos Garcia Neira e de disputa em que diversos grupos atuam para validar co-
Mario Luiz Ferrari Nunes. Vale a pena a leitura do texto. nhecimentos (SILVA, 2007), é lícito afirmar que, ao promover
o contato com determinados textos culturais, o currículo,

CONTRIBUIÇÕES DOS ESTUDOS CULTURAIS além de viabilizar o acesso e uma gradativa compreensão

PARA O CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO FÍSICA dos conteúdos veiculados, influencia nas formas de inter-

Neste começo de século, a democratização dos contextos pretar o mundo, interagir e comunicar ideias e sentimentos.

educacionais remete, por um lado, ao questionamento dos A partir dos EC, o currículo da Educação Física também pode

currículos em vigor em grande parcela das escolas, dado ser imaginado sob o modelo da textualidade. Enquanto tex-

seu tratamento privilegiado aos elementos provenientes to, envolve práticas, estruturas institucionais e as complexas

da cultura dominante e, por outro, à necessária inserção formas de atividade que estas requerem, condições legais

e problematização daqueles conhecimentos advindos das e políticas de existência, determinados fluxos de poder e

culturas subordinadas (HALL, 2003). conhecimento, bem como uma organização semântica es-

As investigações sobre o currículo inspirados nos Estudos pecífica de múltiplos aspectos. Simultaneamente, esse tex-

Culturais (EC) retificam seu papel decisivo na constituição to só existe dentro de uma rede de relações intertextuais

de identidades. O acesso a certos conhecimentos e não (a rede textual da cultura corporal, da cultura escolar, da

outros, fazendo uso de certas atividades e não outras, ter- prática pedagógica). Trata-se de uma entidade ontologica-

mina por posicionar o aluno de uma determinada forma mente mista e para a qual não pode haver nenhuma forma

diante das “coisas” do mundo, influenciando fortemente as “correta” ou privilegiada de leitura. Tal perspectiva questiona

representações construídas. Nessa vertente, o currículo é e ajuda a compreender o privilégio que determinados gru-

concebido como campo de lutas para validação de modos pos possuem para fazer valer suas concepções de mundo,

de ser, o currículo forja identidades (SILVA, 2007). sociedade e práticas corporais, por exemplo. É justamente

Resultado de lutas travadas em meio a relações de poder esse aspecto, mais do que qualquer outra coisa, que desen-

tecidas no âmbito de contextos culturais e sociais o debate cadeou o interesse por investigar as principais produções

curricular subsidiado pelo campo teórico dos EC, pode-se dos EC e garimpar suas contribuições mais relevantes, a fim

dizer, tem recebido pouca atenção da comunidade acadê- de esboçar encaminhamentos para a construção e o desen-
volvimento de currículos da Educação Física.

126
LEITURA
COMPLEMENTAR

Em tempos de repetidas críticas aos diversos modelos nadas representações é o primeiro passo para reescrever
curriculares em voga e diante da tentativa de transformar os processos discursivos e alcançar a formação de outras
a realidade social brasileira tão desigual, os EC fornecem identidades (NELSON; TREICHLER; GROSSBERG, 1995).
subsídios para afirmar o caráter político do currículo da Compreender melhor seus fundamentos é, como diz Co-
Educação Física, ao incitar uma investigação mais rigorosa razza (2006), o primeiro passo para artistar currículos da
que busque desvelar como se dão os processos de identi- Educação Física comprometidos com uma construção
ficação/diferenciação travados no seu interior. Para os EC, identitária mais democrática.
revelar os mecanismos pelos quais se constroem determi- Fonte: Neira e Nunes (2011, p. 672-673).

127
material complementar

Título: Esporte como Conhecimento e Prática nos Anos Iniciais do Ensino Fun-
damental
Autores: Vilma L. Nista-Piccolo e Wagner Wey Moreira
Editora: Cortez
Ano: 2012
Sinopse: neste livro, os autores propõem reflexões acerca da Educação Física es-
colar praticada nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Amparados em amplas
pesquisas e acompanhamentos de práticas em escolas, estes autores levantam
questões para pensar, criticamente, o modo como as noções de esporte e corporeidade são encaradas,
hoje, por professores de todas as áreas, reflexões as quais contribuem às novas visão e estruturação
da disciplina, ressaltando o valor dos saberes como componente imprescindível na formação integral
dos alunos. Com considerações abrangentes sobre tais noções, o livro é, ainda, enriquecido com um
repertório de atividades que servem como sugestões diversificadas para aulas pautadas na construção
de novos conhecimentos.

A Educação Física, quando integrada à proposta pedagógica da escola, é componente


curricular obrigatório da Educação Básica. A série apresentada pela TV Escola enfo-
ca esta disciplina por meio das atividades físicas realizadas nos centros escolares,
mas sob outro ângulo: atletas, professores e especialistas mostram como a prática
esportiva pode contribuir para a formação da cidadania. Cada programa contém
uma sugestão de jogos ou de atividades físicas e explicações de como produzir os
materiais necessários a essas atividades.

Para acessar, use seu leitor de QR Code.

128
referências

UNIDADE 1

AGAMBEN, G. Infância e História: destruição da experiência e origem da história. Belo Horizonte: UFMG,
2005.
ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
BECCHI, E. Retórica de Infância. Tradução de Ana Gomes. Perspectiva, Florianópolis, a. 12, n. 22, p. 63-95,
ago./dez. 1994.
BISSOLI, M. de F. Educação e desenvolvimento da personalidade da criança: contribuições da teoria histó-
rico-cultural. 2005. 281 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade
Estadual Paulista, Marília, 2005.
BONORA, J.; KRÜGER, V. F.; SOUZA, V. de F. M. Educação Infantil: jogos e brincadeiras em pauta. In: SE-
MANA DE PEDAGOGIA – ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO. 12., 2016, Maringá. Anais [...].
Maringá: UEM, 2016. Disponível em: http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brinca-
deiras-em-pauta.html. Acesso em: 25 maio 2022.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Organização dos textos, notas e índices por Juarez de Olivei-
ra. 6. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 1996.
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá
outras providências. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em:
24 maio 2022.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 24 maio 2022.
BRASIL. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. v. 1. Brasília: MEC; SEF, 1998.
BUJES, M. I. E. Escola Infantil: pra que te quero. In: CRAIDY, C. M.; KAERCHER, G. E. (org.). Educação
Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001.
CAMPOS, R. As indicações dos organismos internacionais para as políticas nacionais de educação infantil:
do direito à focalização. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 39, n. 1, p. 195-209, jan./mar. 2013.
CASTRO, M. G. Noção de criança e infância: diálogos, reflexões, interlocuções. In: COLE – CONGRESSO
DE LEITURA DO BRASIL, 16., 2007, Campinas. Anais [...]. Campinas: COLE, 2007.
CEPAL. Pobreza Infantil en América Latina y el Caribe. Santiago: Cepal; Unicef, 2010.
COELHO, B. Contar Histórias: uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 2001.
CRAIDY, C. M. Educação infantil e as novas definições da legislação. In: CRAIDY, C. M.; KAERCHER, G. E.
(org.). Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 23-26.

129
referências

DALE, R. Demonstrando a existência de uma “cultura educacional mundial comum” ou localizando uma
“agenda globalmente estruturada para educação”. Educação & Sociedade, Campinas, v. 25, n. 87, p. 423-460,
maio/ago. 2004.
DE MAUSE, L. Historia de la Infancia. Madrid: Alianza Universidad, 1991.
DORNELLES, L. V. Infâncias que nos Escapam: da criança na rua à criança cyber. Petrópolis: Vozes, 2005.
DURKHEIM, É. Educação e Sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1996.
ELIAS, N. A Sociedade dos Indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
GUIRALDELLI, P. Infância, Escola e Modernidade. São Paulo: Cortez, 1996.
KRAMER, S. A Política Pré-Escolar no Brasil: arte do disfarce. São Paulo: Cortez, 2001.
KRAMER, S. As crianças de 0 a 6 anos nas políticas educacionais no Brasil: educação infantil e/é fundamen-
tal. Educação & Sociedade, Campinas, v. 27, n. 96, p. 797-818, out. 2006.
KUHLMANN JUNIOR, M. Instituições pré-escolares assistencialistas no Brasil (1899-1922). Cadernos de
Pesquisa, São Paulo, n. 79, p. 17-26, 1991.
HEYWOOD, C. Uma História da Infância: da Idade Média à época contemporânea no Ocidente. Porto Ale-
gre: Artmed, 2004.
LEVIN, E. A Infância em Cena: constituição do sujeito e desenvolvimento psicomotor. Petrópolis: Vozes,
1997.
MEIRA, A. M. Benjamin, os brinquedos e a infância contemporânea. Psicologia & Sociedade, v. 15, n. 2,
p. 74-87, jul./dez. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/psoc/v15n2/a06v15n2.pdf. Acesso em: 24
maio 2022.
MOLINA, A. A.; LARA, A. M. B. Infância e Políticas Educacionais no Brasil na Década de 1990. Curitiba:
Educere, 2008.
OEI. Plano Ibero-Americano de Educação. Brasília: OEI, 1998.
PEREZ, M. C. A. Infância e Escolarização: discutindo a relação família, escola e as especificidades da infância
na escola. Práxis Educacional, Vitória da Conquista, v. 8, n. 12, p. 11-25, jan./jun. 2012.
PLATÃO. As Leis, ou da Legislação e Epinomis. 2. ed. Tradução de Edson Bini. Bauru: Edipro, 2010.
REGO, M. C. F. D. Entrelaçando Vivências e Saberes na Educação Infantil. Natal: UFRN-NEI, 2006.
ROSEMBERG, F. Avaliação de programas, indicadores e projetos em educação infantil. Revista Brasileira de
Educação, São Paulo, n. 16, p. 19-29, jan./abr. 2001.

130
referências

SACRISTÁN, J. G. O Aluno como Invenção. Tradução de Daisy Vaz de Moraes. Porto Alegre: Artmed, 2005.
SARMENTO, M. J. Gerações e alteridade: interrogações a partir da sociologia da infância. Educação & Socie-
dade, Campinas, v. 26, n. 91, p. 361-378, maio/ago. 2005a.
SARMENTO, M. J. Crianças: educação, culturas e cidadania activa refletindo em torno de uma proposta de
trabalho. Perspectiva, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 17-39, jan./jul. 2005b.
SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações. 6. ed. Campinas: Autores Associados,
1997. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo).
STEINBERG, S. R.; KINCHELOE, J. L. Cultura Infantil: a construção corporativa da infância. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2001.
UNESCO. Educação para Todos 2000-2015: Progresso e Desafios. Paris: Unesco, 2015.
UNESCO. Propuesta de Proyecto Regional de Educación para América Latina y el Caribe. Habana: Unesco,
2002.
UNICEF. Situação Mundial da Infância 2007. Mulheres e Crianças: O Duplo Dividendo da Igualdade de
Gênero. Brasília: Unicef, 2007.
VIEIRA, L. M. F. A formação do profissional de educação infantil no Brasil no contexto da legislação, das
políticas e da realidade do atendimento. Revista Pro-Posições, Campinas, v. 10, n. 1, p. 28-39, mar. 1999.

UNIDADE 2

AYOUB, E. Reflexões sobre a educação física na educação infantil. Revista Paulista de Educação Física, São
Paulo, supl. 4, p. 53-60, 2001.
BASEI, A. P. A Educação Física na Educação Infantil: a importância do movimentar-se e suas contribuições
no desenvolvimento da criança. Revista Ibero-Americana de Educação, v. 47, n. 3, p. 1-12, out. 2008.
BRACHT, V. A constituição das teorias pedagógicas da Educação Física. Caderno CEDES – Corpo e Educa-
ção, Campinas, n. 48, p. 69-88, 1999.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 25 maio 2022.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 25 maio 2022.
BRASIL. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras provi-
dências. 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm. Acesso em: 25
maio 2022.

131
referências

BRASIL. Lei 11.114, de 16 de maio de 2005. Altera os arts. 6o, 30, 32 e 87 da Lei no 9.394, de 20 de dezem-
bro de 1996, com o objetivo de tornar obrigatório o início do ensino fundamental aos seis anos de idade.
2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11114.htm. Acesso em:
26 maio 2022.
BRASIL. Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei nº 9.394, de
20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração
de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade.
2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11274.htm. Acesso em:
26 maio 2022.
BRASIL. Parâmetros Nacionais de Qualidade Para a Educação Infantil. v. 2. Brasília: MEC; SEB, 2006.
BRASIL. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. v. 1. Brasília: MEC; SEF, 1998.
BRASIL. Resolução nº 5, de 17 dezembro de 2009. Fixa as diretrizes curriculares nacionais para a Educa-
ção Infantil. Brasília: MEC; CNE; CEB, 2009. Disponível em: http://www.seduc.ro.gov.br/portal/legislacao/
RESCNE005_2009.pdf. Acesso em: 26 maio de 2022.
CAMPOS, M. M. A formação de professores para crianças de 0 a 10 anos: modelos em debate. Educação &
Sociedade, Campinas, v. 20, n. 68, p. 126-142, 1999.
CANFIELD, M. de S. A Educação Física nas séries iniciais: paralelo entre 15 anos. Kinesis, Santa Maria, n.
23, p. 87-102, 2000.
CARMO, G. G. do; SOUZA, V. de F. M. de. Educação Física na Educação Infantil: Realidade ou Necessidade
para essa Intervenção de Qualidade? In: ENCONTRO ANUAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – EAIC. 25.,
2016, Maringá. Anais [...]. Maringá: UEM, 2016. Disponível em: http://www.eaic.uem.br/eaic2016/anais/ar-
tigos/883.pdf. Acesso em: 26 maio 2022.
CORRÊA, B. C. A educação infantil. In: OLIVEIRA, R. P.; ADRIÃO, T. (org.). Organização do Ensino no
Brasil: níveis e modalidades na Constituição Federal e na LDB. São Paulo: Xamã, 2002. p. 17-28.
DIDONET, V. Creche: a que veio, para onde vai. Em Aberto, Brasília, v. 18, n. 73, p. 11-28, jul. 2001.
FARIA, A. L. G.; PALHARES, M. S. Educação Infantil Pós-LDB: rumos e desafios. Campinas: Autores Asso-
ciados; Unicamp, 1999.
FERREIRA, N. T. Cidadania: Uma questão para a educação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
FREIRE, J. B. Educação de Corpo Inteiro: teoria e prática da Educação Física. 2. ed. São Paulo: Scipione, 1992.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
KRAMER, S. A Política Pré-Escolar no Brasil: arte do disfarce. São Paulo: Cortez, 2001.

132
referências

KUHLMANN JUNIOR, M. Educação Infantil e currículo. In: FARIA, A. L. G.; PALHARES, M. S. Educação
Infantil Pós-LDB: rumos e desafios. Campinas: Autores Associados; Unicamp, 1999. p. 51-65.
KUNZ, E. Didática da Educação Física II. Ijuí: Unijuí, 2002.
LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1992.
MARAFON, D. Educação Infantil no Brasil: um percurso histórico entre as ideias e as políticas públicas
para a infância. 2012. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Educação) – Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, Curitiba, 2012.
MELO, J. P. Perspectivas da Educação Física escolar: reflexão sobre a Educação Física como componente cur-
ricular. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 20, sup. 5, p. 188-190, set. 2006.
MERISSE, A. et al. Lugares da Infância: reflexões sobre a história da criança na fábrica, creche e orfanato. São
Paulo: Arte e Ciência, 1997.
NEIRA, M. G. Educação Física: desenvolvendo competências. São Paulo: Phorte, 2003.
PALMA, A. P. T. V.; OLIVEIRA, A. A. B. de; PALMA, J. A. V. Educação Física e Organização Curricular:
Educação Infantil e Ensino Fundamental. Londrina: Eduel, 2008.
RODRIGUES, M. Manual Teórico e Prático de Educação Física Infantil. 8. ed. São Paulo: Ícone, 2003.
ROLIM, L. R. O professor de Educação Física na Educação Infantil: uma revisão bibliográfica. 2004. 104
f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Centro Universitário
Nove de Julho, São Paulo, 2004.
SARMENTO, M. J. As culturas da infância nas encruzilhadas da 2ª modernidade. In: SARMENTO, M. J.;
CERISARA, A. B. Crianças e Miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância e educação. Porto: Edições
ASA, 2004.
SAYÃO, D. T. Infância, prática de ensino de Educação Física e Educação Infantil. In: VAZ, A. F.; SAYÃO, D.
T.; PINTO, F. M. (org.). Educação do Corpo e Formação de Professores: reflexões sobre a prática de ensino
de Educação Física. Florianópolis: UFSC, 2002.
SAYÃO, D. T. Educação Física na Educação Infantil: riscos, conflitos e controvérsias. Motrivivência, Floria-
nópolis, v. 11, n. 13, p. 221-238, 1999.
SOUZA, M. C. B. R. de. A Concepção de Criança para o Enfoque Histórico-Cultural. 2007. 154 f. Tese
(Doutorado em Educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Programa de Pós-Graduação em Educação,
Universidade Estadual Paulista, Marília, 2007.
ZABALA, A. A Prática Educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

133
referências

UNIDADE 3
BOULCH, J. L. Rumo a uma Ciência do Movimento Humano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.
DARIDO, S. C. EF na Escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
ERIKSON, E. H.; ERIKSON, J. O Ciclo da Vida Completo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
GALLAHUE, D. L; OZMUN, C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes
e adultos. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2005.
LIBÂNEO, J. C. Didática. 19. reimp. São Paulo: Cortez, 1994.
MAGILL, R. A. Aprendizagem Motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Edgar Blücher, 1984.
MOVIMENTO PELA BASE. Competências Gerais da BNCC. 15 set. 2020. Disponível em: https://observa-
torio.movimentopelabase.org.br/competencias-gerais-da-bncc/. Acesso em: 30 maio 2022.
OLDS, S. W.; PAPALIA, D. E. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artmed, 2000.
OLIVEIRA, A. A. B. de. et al. Planejamento do Programa Segundo Tempo: a intenção é compartilhar conhe-
cimentos, saberes e mudar o jogo. In: OLIVEIRA, A. A. B. de; PERIM, G. L. (org.). Fundamentos Pedagógi-
cos do Programa Segundo Tempo: da reflexão à prática. Maringá: Eduem, 2009.
OLIVEIRA, A. A. B. de. Metodologias emergentes no ensino da Educação Física. Revista da Educação Físi-
ca, Maringá, v. 8, n. 1, p. 21-27, 1997. Disponível em: https://ojs.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/
view/3868/2694. Acesso em: 30 maio 2022.
PALMA, A. P. T. V.; OLIVEIRA, A. A. B. de; PALMA, J. A. V. Educação Física e Organização Curricular:
Educação Infantil e Ensino Fundamental. Londrina: Eduel, 2008.
PIAGET, J. A Linguagem e o Pensamento da Criança. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
PILETTI, C. Didática Geral. 8. ed. São Paulo: Ática, 1997.
SERGIO, M. Para um Novo Paradigma do Saber e... do Ser. Coimbra: Ariadne, 2005.
TANI, G. et al. Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo:
EPU, 1988.
VAYER, P. A Criança Diante do Mundo. 3. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.
WALLON, H. Psicologia e Educação da Criança. Lisboa: Editorial Veja, 1953.

134
referências

UNIDADE 4

AHMAD, L. A. S. Planejamento na Educação Infantil: uma construção mediada pela coordenação pedagó-
gica no núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo. Curitiba: PUC, 2011.
ALVES, R. A Arte do Voo ou a Busca da Alegria de Aprender. Porto: Edições Asa, 2004.
ARAÚJO, V. C. de. O Jogo no Contexto da Educação Psicomotora. São Paulo: Cortez, 1992.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 30 maio 2022.
BRASIL. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. v. 1. Brasília: MEC; SEF, 1998.
BRONFENBRENNER, U. A Ecologia do Desenvolvimento Humano: experimentos naturais e planejados.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
CAETANO, M. J. D.; SILVEIRA, C. R. A.; GOBBI, L. T. B. Desenvolvimento motor de pré-escolares no inter-
valo de 13 meses. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Rio Claro, v. 7, n. 2, p.
5-13, 2005.
COSTA. F. N. do A. O cuidar e o educar na Educação Infantil. In: ANGOTTI, M. (org.). Educação Infantil:
para que, para quem e por quê? Campinas: Alínea, 2008.
DE MEUR, A.; STAES, L. Psicomotricidade: educação e reeducação. São Paulo: Manole, 1991.
FONSECA, V. Psicomotricidade. São Paulo: Martins Fontes, 1983.
FREIRE, J. B. Educação de Corpo Inteiro. 4. ed. São Paulo: Scipione, 2003.
GALLAHUE, D. L; OZMUN, C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes
e adultos. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2005.
GARANHANI, M. C. A Educação Física na escolarização da pequena infância. Pensar a Prática, Goiânia, n.
5, p. 106-122, jul./jun. 2001-2002.
GARANHANI, M. C.; NADOLNY, L. F. Cultura e Escola & Movimento e Linguagem na Educação de Crian-
ças Pequenas. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDUCERE, 11., 2009; ENCONTRO SUL-
-BRASILEIRO DE PSICOPEDAGOGIA, 3., 2009, Curitiba. Anais […]. Curitiba: PUC, 2009. Disponível em:
https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2009/3264_1510.pdf. Acesso em: 31 maio 2022.
HARROW, A. J. Taxinomia do Domínio Psicomotor. Rio de Janeiro: Globo, 1983.
HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N. Desenvolvimento Motor ao Longo da Vida. Porto Alegre: Artmed,
2004.
HERNÁNDEZ, F. Transgressão e Mudança na Educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed,
1998.

135
referências

HOFFMANN, J. Avaliar para Promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2001.
KISHIMOTO, T. M. (org.). Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
LE BOULCH, J. A Educação pelo Movimento: a psicocinética na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas,
1983.
MATTOS, M. G. de. Educação Física Infantil: construindo o movimento na escola. São Paulo: Phorte, 1999.
MATTOS, M. G. de; NEIRA, M. G. Educação Física Infantil: construindo o movimento na escola. 4. ed. São
Paulo: Phorte, 2003.
NETO, A. S. et al. Relação entre fatores ambientais e habilidades motoras básicas em crianças de 6 e 7 anos.
Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 3, n. 3, p. 135-140, 2004.
NISTA-PICCOLO, V. L.; MOREIRA, W. W. Corpo em Movimento na Educação Infantil. São Paulo: Cortez,
2012.
OLIVEIRA, G. de C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. 3. ed. Petró-
polis: Vozes, 1997.
OSTETTO, L. E. “Mas as crianças gostam!” Ou sobre gostos e repertórios musicais. In: OSTETTO, L. E.; LEI-
TE, M. I. (org.). Arte, Infância e Formação de Professores: autoria e transgressão. Campinas: Papirus, 2004.
p. 41-60.
PAIM, M. C. C. Desenvolvimento motor de crianças pré-escolares entre 5 e 6 anos. EFdeportes, Buenos Ai-
res, a. 8, n. 58, mar. 2003. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd58/5anos.htm. Acesso em: 31 maio
2022.
PALMA, A. P. T. V.; OLIVEIRA, A. A. B. de; PALMA, J. A. V. Educação Física e Organização Curricular:
Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. 2. ed. Londrina: Eduel, 2010.
PIAGET, J. A Linguagem e o Pensamento da Criança. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
SAYÃO, D. T. Infância, prática de ensino de Educação Física e Educação Infantil. In: VAZ, A. F.; SAYÃO, D.
T.; PINTO, F. M. (org.). Educação do Corpo e Formação de Professores: reflexões sobre a prática de ensino
de Educação Física. Florianópolis: UFSC, 2002.
SCHMITT, A. Registro de Planejamento na Educação. EdFURB, Blumenau, v. 1, n. 2, 2006.
VIEIRA, M. S. Por uma educação física com sabor: possibilidades e desafios no ensino infantil. In: CON-
GRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 15., 2007; CONGRESSO INTERNACIONAL DE CI-
ÊNCIAS DO ESPORTE, 2., 2007, Recife. Anais […]. Recife: CBCE, 2007.
WALLON, H. Psicologia e Educação da Criança. Lisboa: Editorial Veja, 1953.
ZABALA, A. A Prática Educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

136
referências

UNIDADE 5

BENJAMIN, W. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus, 1984.


BETTI, M.; LIZ, M. T. F. Educação Física Escolar: a perspectiva de alunas do ensino fundamental. Motriz, Rio
Claro, v. 9, n. 3, p. 135-142, set./dez. 2003.
BRASIL. Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei nº 9.394, de
20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração
de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade.
2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11274.htm. Acesso em:
31 maio 2022.
CANFIELD, M. de S. A Educação Física nas séries iniciais: paralelo entre 15 anos. Kinesis, Santa Maria, n.
23, p. 87-102, 2000.
DAOLIO, J. Educação Física escolar: em busca da pluralidade. Rev. Paul. Educ. Fís., São Paulo, supl. 2, p. 40-
42, 1996.
ECKERT, H. M. Desenvolvimento Motor. 3. ed. Barueri: Manole, 1993.
ETCHEPARE, L. S. A avaliação escolar da Educação Física na rede municipal, estadual, particular e federal
de ensino de Santa Maria. 2000. Dissertação (Mestrado em Ciência do Movimento Humano) – Centro de
Educação Física e Desportos, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2000.
FREIRE, J. B. Educação de Corpo Inteiro. 4. ed. São Paulo: Scipione, 2003.
GALLAHUE, D. L; OZMUN, C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes
e adultos. 1. ed. São Paulo: Phorte, 2001.
LIBÂNEO, J. C. Didática. 19. reimp. São Paulo: Cortez, 1994.
MELO, A. de; URBANETZ, S. T. Fundamentos de Didática. 20. ed. Curitiba: Ibpex, 2008.
NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. Contribuições dos Estudos Culturais para o currículo da Educação Física.
Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 3, p. 671-685, jul./set. 2011. Disponível em: http://www.
scielo.br/pdf/rbce/v33n3/a10v33n3. Acesso em: 1 jun. 2022.

137
referências

PAIN, S. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
PALMA, A. P. T. V.; OLIVEIRA, A. A. B. de; PALMA, J. A. V. Educação Física e Organização Curricular:
Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. 2. ed. Londrina: Eduel, 2010.
PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. 8. ed. Tradução de Daniel Bue-
no. Porto Alegre: Artmed, 2006.
PEREIRA, C. O. Estudo dos parâmetros em crianças de 02 e 06 anos de idade na cidade de Cruz Alta. 2002.
Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano) – Centro de Ciências da Saúde e do Esporte,
Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2002.
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1996.
ZABALA, A. A Prática Educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

138
gabarito

UNIDADE 1

1. Caro(a) aluno(a), a história da infância foi marcada por acontecimentos provenientes dos contextos so-
ciais, econômicos e políticos de cada época. Os que mais marcaram o campo da Educação Física se rela-
cionaram ao ingresso da mulher no mundo do trabalho, após a Revolução Industrial. O que se percebe,
ao longo da história, é a dicotomia com relação ao objetivo da Educação Infantil: o educar e o cuidar,
aspectos relevantes que sempre foram considerados essenciais nesta modalidade de ensino.
2. A história da infância foi marcada por inúmeros acontecimentos. A criança pequena era vista, na Anti-
guidade, como um ser que pouco ou nada influenciava a casa e a vida, assim como na Idade Média ela
era vista, apenas, sob a responsabilidade da família, tida como um adulto em miniatura, que poderia ser
descartada/rejeitada quando afligida por alguma anomalia. Esta ideia muda, somente, com o advento
da sociedade moderna, quando a criança passa a ser vista pelo prisma da ciência e a ocupar um lugar
central nas discussões do Estado, na constituição da família e dos cuidados com o seu desenvolvimento.
3. Caro(a) aluno(a), a questão da influência das agências e organismos multilaterais na Educação Infantil
está em destaque no tópico “A Escola e a Infância: A Institucionalização da Criança e da Infância”. Como
vimos, a influência reside no fato de que esses organismos internacionais, por meio de seus documentos,
repassam aos países-membros as indicações de ações políticas que devem regular e regulamentar as
ações relacionadas à criança, em especial, na Educação Infantil. Esses documentos tornam-se os parâme-
tros globais acerca das definições das finalidades e dos objetivos que devem ser seguidos.
4. A Educação Física pode contribuir para o desenvolvimento da criança nas atividades que exploram, por
meio da linguagem corporal e do movimento, as potencialidades deste ser.
5. Na atualidade, o conceito de infância está atrelado ao próprio conceito que se tem de sociedade e de ser
humano.

UNIDADE 2

1. Caro(a) aluno(a), os principais documentos orientadores da Educação Infantil são a Constituição Federal
de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
ção Nacional (Lei 9.394/1996), nos quais a Educação Infantil é assumida como dever do Estado, sendo a
educação um direito social.
2. Caro(a) aluno(a), é importante lembrar que a presença do professor de Educação Física na Educação
Infantil se justifica pelas ações didático-pedagógicas que possibilitam a intervenção centrada em ativida-
des as quais permitem que a criança, por meio de seu conhecimento corporal, da sua imagem corporal
e do seu movimento, possam ser integradas ao projeto da instituição, ampliando e possibilitando, cada
vez mais, experiências inovadoras, levando a criança ao desenvolvimento das habilidades básicas para o
processo educativo.
3. Possibilitar a interação da criança com o universo que a cerca, a partir da diversidade cultural da realida-
de dessa criança.
4. Por meio das ações lúdicas, do faz-de-conta e de atividades adequadas à faixa etária atendida.
5. É preciso considerar a individualidade da criança, as características culturais e as necessidades que a
criança apresenta.

139
gabarito

UNIDADE 3

1. B.
2. A.
3. A.
4. O diagnóstico, a reflexão sobre o universo em que se está inserido. Isso permitirá identificar quais são
as reais necessidades dos grupos com os quais o professor interagirá durante o ano. Olhar para a reali-
dade, estabelecer julgamento sobre essa realidade e prever caminhos que possibilitem atender às suas
necessidades básicas contribui e evita erros desnecessários.
5. Deve-se considerar: validade, flexibilidade, significado, possibilidade de elaboração pessoal, viabilidade,
utilidade, interesse e adequação às necessidades.

UNIDADE 4

1. A.
2. A.
3. C.
4. Corpo, movimento, expressão corporal e ritmo, entre outros.
5. O papel do professor de Educação Física é essencial, uma vez que contribui tanto para o desenvolvimen-
to motor quanto para o desenvolvimento afetivo, cognitivo e social da criança.

UNIDADE 5

1. Organizar situações de vivências corporais e estudos que possibilitem a compreensão em ser um corpo
em movimento e em constantes interações com objetos e pessoas. Favorecer o estudo e a vivência de
manifestações lúdicas e esportivas como integrantes da cultura motora, contribuindo com o processo de
construção da motricidade. Promover a compreensão do movimento rítmico como forma de expressão
corporal e de representação social, valorizando-o em diversas manifestações culturais. Por fim, possibili-
tar o entendimento e o envolvimento da interação entre a ação motora e a saúde, destacando os bene-
fícios que esses conhecimentos podem trazer para a melhora da qualidade de vida.
2. Deve-se considerar as dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais para a opção e o desenvolvi-
mento das aulas de Educação Física escolar.
3. Deve-se considerar os fatores hereditários, culturais, biológicos e ambientais.
4. Valorizar a cultura é de suma importância, uma vez que se passa a valorizar os conhecimentos da própria
criança na construção das aulas.
5. O planejamento é essencial para garantir que os objetivos sejam alcançados com êxito e que as aulas
tenham muita qualidade no seu ensino.

140

Você também pode gostar