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ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM URGÊNCIAS OBSTÉTRICAS

PROF. I v a n a
NASCIMENTOS NO BRASIL
A cada ano acontecem no Brasil cerca de 3 milhões de nascimentos, envolvendo quase 6
milhões de pessoas, ou seja, as parturientes e os seus filhos ou filhas, com cerca de 98% deles
acontecendo em estabelecimentos hospitalares, sejam públicos ou privados. Isso significa que, a
cada ano, o nascimento influencia parcela significativa da população brasileira, considerando as
famílias e o seu meio social. (BRASIL, 2017)
Obstetrícia e Neonatologia compreendem área do saber e atuação onde o profissional enfermeiro
exerce papel fundamental no cuidado especializado.

Apesar de prevalecer o prognóstico fisiológico, as emergências obstétricas e neonatais são


constantes dentro de uma estatística controlada, e em algumas situações, envolvem riscos de morbi-
mortalidade para o binômio mãe-bebê.

Por tanto, é fundamental que o profissional responsável pela assistência dentro dessas
situações, saiba atuar de forma eficiente e eficaz, realizando condutas respaldadas nas evidências
científicas e protocolos mais atuais.
OBJETIVO

Reconhecer, avaliar e realizar ações de enfermagem para atendimento das


urgências/emergências obstétricas segundo protocolos do Ministério da Saúde e Sociedade
Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia.

Identificar a parada cardiorrespiratória e prestar o atendimento à criança, seguindo


o Suporte Avançado de Vida (SAV), segundo as diretrizes do Programa de Reanimação Neonatal
da Sociedade Brasileira de Pediatria (2016), e também de elaborar um plano de cuidado de
enfermagem.
1:1000 Recém-nascido precisa de RCP
15% dos partos apresentam alguma distócia
MORTALIDADE MATERNA

Entre mais de 60 mil disfunções maternas em 115 países, as causas de morte materna estão
distribuídas da seguinte forma:
1. hemorragia grave (especialmente durante e depois do parto): 27%
2. hipertensão na gestação: 14%
3. infecções: 11%
4. parto obstruído e outras causas diretas: 9%
5. complicações de abortos: 8%
6. coágulos sanguíneos (embolias): 3%
Fonte: OMS, 2016.
MORTALIDADE NEONATAL

1) Sepse;
2) Infecções Congênitas;
3) Prematuridade
TRABALHO DE PARTO E PARTO NORMAL

• Fase de latência do primeiro período do trabalho de parto – um período não necessariamente


contínuo quando:
- há contrações uterinas, porem não dolorosas
- há alguma modificação cervical, incluindo apagamento e dilatação até 4 cm.
• Trabalho de parto estabelecido – quando:
- há contrações uterinas regulares e dolorosas
- há dilatação cervical progressiva a partir dos 4 cm.
A duração do trabalho de parto ativo pode variar:
- nas primíparas dura em média 8 horas e é pouco provável que dure mais que 18 horas;
- nas multíparas dura em média 5 horas e é pouco provável que dure mais que 12 horas.
- dequitação da placenta: 20min. - 2h
• Observações da mulher:
- pulso >120 bpm em 2 ocasiões com 30 minutos de intervalo;
- PA sistólica ≥ 160 mmHg OU PA diastólica ≥ 110 mmHg em uma única medida;
- PA sistólica ≥ 140 mmHg OU diastólica ≥ 90 mmHg em 2 medidas consecutivas com 30 minutos de intervalo;
- proteinúria de fita 2++ ou mais E uma única medida de PA sistólica ≥ 140 mmHg ou diastólica ≥ 90 mmHg;
- temperatura de 38°C ou mais em uma única medida OU 37,5°C ou mais em 2 ocasiões consecutivas com 1 hora de
intervalo ;
- qualquer sangramento vaginal, exceto eliminação de tampão;
- presença de mecônio significativo;
- dor relatada pela mulher que difere da dor normalmente associada às contrações;
- progresso lento confirmado do primeiro e segundo períodos do trabalho de parto.
• Observações fetais:
- qualquer apresentação anômala, incluindo apresentação de cordão;
- situação transversa ou oblíqua;
- suspeita de restrição de crescimento intra-uterino ou macrossomia;
- suspeita de anidrâmnio ou polihidrâmnio;
- frequência cardíaca fetal (FCF) < 110 ou > 160 bpm;
- desacelerações da FCF à ausculta intermitente.
ATENÇÃO PARA O QUE NÃO É UMA EMERGÊNCIA!
(se não há evidência de sofrimento fetal)

• Circular de cordão;
• Bradicardia transitória durante a contração quando pólo cefálico atinge + De Lee;
• RN nascer “roxinho”.
PARTO SEM DISTÓCIA EM GESTAÇÃO A TERMO
FORA DE UMA UNIDADE OBSTÉTRICA
CUIDADOS PRIORITÁRIOS:

1) Minimizar exposição e risco externo ao binômio;


2) Manter algum acompanhante próximo à mulher;
3) Verificar cartão de pré-natal (se possível) investigar idade gestacional;
(risco de prematuridade)
4) Sem expor a mulher, retirar roupas e objetos que possam atrapalhar a saída do bebê;
5) Não tentar interromper, impedir ou acelerar a saída do bebê;
6) Dar liberdade para a mulher escolher a posição, incentivando posições verticais ou genito-peitoral
que minimizam distócia de apresentação e necessidade de manobras (ampliação da pelve);
7) Se possível, realizar 1 aferição S.V. maternos;
8) Recepcionar o recém-nascido em superfície macia;
CUIDADOS PRIORITÁRIOS:

9) Manter RN no colo da mãe, secar a cabecinha e tronco, manter RN e puérpera aquecidos;


10) Observar reatividade do RN;
11) Observar sangramento materno e tônus uterino;
12) Clampeamento e corte do cordão não é prioridade!
13) Observar dequitação placentária (manejo ativo sem tração demasiada do cordão);
14) Envolver a placenta em material impermeável e conduzir a tríade intacta à unidade de
referência;
15) Se kit de clampeamento estiver disponível, aguardar no mínimo três minutos para clampear;
16)Manter pele a pele e aguardar dados do pré-natal e testes rápidos para promover
amamentação.
PERÍODO EXPULSIVO:

• Primíparas: cerca de 0,5 – 2,5 horas sem peridural e 1 – 3 horas com peridural.
• Multíparas: até 1 hora sem peridural e 2 horas com peridural.
INSPECIONE A PLACENTA!
Hemorragia pós-parto
Objetivos
- Reconhecer a hemorragia pós parto
- Intervir prontamente quando há hemorragia pós parto
- Conhecer a conduta de ressucitação e estabilização da puérpera para transferência.
MORTALIDADE MATERNA

No Brasil:
⦁ 75 mortes de mulheres/100 mil nascidos vivos.
⦁ Hemorragias:
⦁ Uma das três principais causas
⦁ Em SC nos anos de 2004-2005 – principal causa de MM
Tenha uma certeza:
Se você está desconfiando que o sangramento está aumentado,
com certeza é um sangramento aumentado!
MONITORAMENTO:

1) Sinais vitais;
2) Contração uterina (globo de segurança de Pinard);
3) Sinais de sangramento.

MAS QUANTO SANGRA UM PARTO NORMAL


OU UM P.O. DE CESARIANA???
A hemorragia pós-parto (HPP) é comumente definida como uma
perda de 500 ml de sangue ou mais no período de 24 horas após o parto normal ou
mais de 1000ml após cesariana.

A HPP é a principal causa de mortalidade materna em países de


baixa renda e a causa primária de quase um quarto de todas as mortes maternas
no nível global.

A maioria das mortes resultantes da HPP ocorre durante as


primeiras 24 horas após o parto: a maioria dessas mortes poderia ser evitada por
meio do uso de uterotônicos profiláticos durante a terceira fase do parto e através
da gestão adequada em tempo hábil. (OMS, 2014)
ÍNDICE DO CHOQUE HIPOVOLÊMICO

⚫ Relação entre FC/PAS


⚫ Normal entre 0,7 – 0,9
⚫ < 0,9 = tranquilizador
⚫ > 1,0 = preditor de perda sanguínea
⚫ > 1,7= atenção urgente
PROTOCOLO

Colocar em monitorização SV contínuo


• Acesso venoso CALIBROSO
• Oxigênio (8ml/h)
• Preparo de drogas
Elevação MMII
• Massagem Uterina externa e Bimanual
• Encaminhar para bloco cirúrgico (Balão tamponamento/condon, B lynch, histerectomia)
CURIOSIDADE

A OMS lançou em 2013 novas recomendações para o tratamento de HPP, e recomendou como primeira medida
a ser tomada a administração de ocitocina endovenosa somada a massagem uterina.

A dificuldade encontrada nesse quesito é que há um número considerável de países cuja maioria dos
partos ocorre em ambiente extra-hospitalar e a ocitocina não está disponível pois necessita de
condições especiais de armazenamento.

Por essa razão, apesar da ocitocina ser superior ao misoprostol no combate ao sangramento pós-
parto aumentado, alguns estudos têm recomendado o uso de misoprostol para tratamento de HPP,
principalmente em contextos nos quais o acesso à ocitocina é restrito.
MASSAGEM UTERINA

BIMANUAL – Manobra de Hamilton

COMPRESSAS INTRAUTERINAS: NÃO RECOMENDADAS PELA OMS!!!


HEMORRAGIA (ATONIA OU NÃO)

• Dois acessos comAbocath 16.


• No primeiro coloque 1000ml Soro Fisiológico correndo aberto
(no máximo 3 litros).
•No segundo, colete sangue em um tubo seco e mais
amostras para:
• Prova cruzada
• HB/HT
• Plaquetas
• Coagulograma – TP,TTPA, INR, fibrinogenio.
• Depois de coletadas as amostras, coloque um soro
fisiologico de 500 ml com 4 ampolas (20 UI) de Ocitocina

Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia / FEBRASGO (vigente)


UTEROTÔNICOS
Progressão passo-a-passo:
DOIS ACESSOS VENOSOS CALIBROSOS: abocath 16 ou 18

⦁Ocitocina(ampola de 5 UI) – 2 ampolas (10 UI) IM + 4 ampolas (20 UI) em 500ml


de SF (500ml em 10 minutos, a seguir 250ml/hora) – não ultrapassar 3 litros de
soro com ocitocina.

⦁Metilergometrina (ampola de 0,2mg) – 1 ampola IM ou EV lento (repetir s/n com


15 min e a seguir 1 ampola IM a cada 4 horas – máx. 5 doses = 1mg) Não utilizar
em hipertensas ou cardiopatas!!!

⦁Misoprostol (comprimido de 200mcg) – 400-800mcg VO, SL ou VR (2-4


comprimidos)
Tamponamento uterino adaptado com camisinha

⦁ Sonda de Foley ou nasogastrica + camisinha Balão de Bakri


⦁ Antissepsia
⦁ Sondagem vesical
⦁ Preparação do sistema (camisinha + SN)
⦁ Tamponamento vaginal
⦁ Inflar a camisinha com 500ml de SF

Akhter S,Begum MR, Kabir Z, Rashid M, LailaTR, Zabeen F.Use of a condom to control massive
postpartum hemorrhage. MedGenMed. 2003 Sep 11;5(3):38
SUTURA B - LYNCH
PENSE ATÔNICAMENTE E AJA SISTEMATICAMENTE!

TREINE A EQUIPE E SIGA O PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL!


HIPERTENSÃO GESTACIONAL – Pré-eclampsia

Pressão Sistólica maior ou igual a 140 mm/Hg ou Pressão Diastólica maior ou igual a 90 mm/Hg em duas ocasiões com
pelo menos 4 horas de diferença em gestante com mais de 20 semanas e sem hipertensão prévia.

Pressão Sistólica maior ou igual a 160 mm/Hg ou Pressão Diastólica maior ou igual a 110 mm/Hg a hipertensão pode ser
confirmada em duas medidas com menor intervalo de tempo.

Proteinúria > 300mg em 24h.

OU (na ausência de proteinúria):

Trombocitopenia: Plaquetas menos de 100.00/ ml

Insuficiência Renal Creatinina maior que 1,1 mg/dl ou o dobro da creatinina normal sem outra patologia renal

Função hepática alterada Enzimas hepáticas o dobro da concentração normal


Não há cura conhecida para PE – apenas a interrupção da gestação interromperá
o processo.

Quadros hipertensivos MATAM mães e bebes


Atenção para:
_ Ganho de peso;
_ Edema;
_ Não queda fisiológica da PA;
Os distúrbios hipertensivos persistem como maior causa de mortes maternas
no Brasil. A forma mais grave e que é responsável por um número significativo de óbitos é a
eclampsia. A realização de um pré-natal adequado é uma das estratégias para evitar óbitos por
eclâmpsia, uma vez que possibilita a identificação precoce de mulheres com risco de
desenvolverem a doença. Além de antecipar o diagnóstico da doença ainda em sua forma
menos grave, a pré-eclâmpsia, permite a utilização de medicações profiláticas, evitando a
progressão para o desfecho convulsivo.

No entanto, apesar da importância do atendimento pré-natal, uma das


formas mais eficientes de evitar óbitos por essa doença é o adequado atendimento de
urgência/emergência. É fundamental que todos os médicos que possam vir a atender uma
gestante com eclampsia na emergência, obstetras ou não, conheçam os passos a serem dados
no atendimento inicial.
A eclâmpsia é uma emergência obstétrica e clínica, e deve mobilizar toda a equipe. É
importante que os cuidados instituídos para a paciente respeitem um atendimento sequencial das
situações que se relacionam mais diretamente com o óbito. Esses passos podem ser organizados de forma
mnemônica como: A, B, C, D, E, F e G. Dessa forma, além dessa sequência poder ser ligeiramente
modificada pela situação especifica, incluem-se também os passos F e G, prevendo a abordagem do Feto
e da Gestação.
A
A (vias Aéreas e Ajuda):

Como em toda situação de emergência, o atendimento precisa ser feito por uma equipe
multiprofissional. Dessa forma, ao identificar a situação, chamar Ajuda! Deve-se de maneira simultânea a outros
procedimentos, posicionar a gestante em decúbito lateral esquerdo e elevado para assegurar a permeabilidade
das vias Aéreas.

A maioria das mulheres não vai precisar de intubação, apenas quando o escore na escala de Glasgow
for menor ou igual a oito. Deve-se aspirar as vias aéreas, lateralizar o rosto durante a convulsão para evitar
broncoaspiração e, se necessário, utilizar a cânula de Guedel. A cânula de Guedel além de garantir uma via aérea
provisória, evita o trauma de língua durante as convulsões. Realizar a prevenção de traumas, sem contenção ativa
da paciente.
B
B (ventilação-Breathing):

Deve-se prover suporte de oxigênio nasal de 8 a 10 litros/minuto com cateter ou


máscara a fim de melhorar a oxigenação cerebral.
C
C (Circulação):

Providenciar dois acessos venosos periféricos calibrosos (cateter 16 ou 18) para


administração do sulfato de magnésio por uma via e administração de outras medicações pela
outra. Evitar hiper-hidratação sob o risco da ocorrência de edema agudo de pulmão.
D
D (Danos -Disabilities):

Com a finalidade de prevenir danos clínicos e obstétricos secundários à convulsão


eclâmptica, deve-se iniciar o sulfato de magnésio que é a droga de escolha pela sua efetividade
em comparação a outros anticonvulsivantes. A dose de ataque deve ser feita de forma lenta em
até 20 minutos, pois, considerando que a crise convulsiva da eclâmpsia é autolimitada, o
objetivo do tratamento é evitar crises recorrentes. O esquema adotado pode variar de acordo
com o protocolo de cada instituição e está descrito no quadro:
PREPARO
-Sulfato de Magnésio: 50% - ampola 10 ml
*Ataque 4 a 6g: 8 a 12 ml EV, diluido em 100 ml de solução glicosada 5%, em
20 min.
*Manutenção 1 a 2g/h: 12 a 24 ml em cada solução glicosada 5%, 28gts/min ou
84 ml/h.
*Manter sulfatoterapia por 24h após o parto ou após a última convulsão.
*Monitorar reflexos patelares /diurese / frequência respiratória: Suspender se ↓
dos reflexos patelares ou diurese ≤ 30 ml/h ou
FR ≤ 16ipm).
Ótimo aliado
“O sulfato de magnésio para Pré-eclâmpsia é citado como uma das 56
intervenções essenciais baseadas em evidências que, juntas, poderiam eliminar as mortes
prematuras de 358.000 mulheres e 7,6 milhões de crianças em países de baixa e média renda. A
droga aparece atualmente em 50% das listas de medicamentos essenciais de 89 países e foi
recentemente incluída como um dos 13 produtos essenciais para Saúde Materna e Infantil”
(ONU, 2011)
E
E (Exames):
Nesse momento se procede ao Exame físico geral e Exame obstétrico. Lembrando que uma complicação que pode se associar é
o Edema agudo de Pulmão. Deve-se avaliar a altura de fundo uterino (AFU) para estimativa da idade gestacional, a dinâmica uterina (é
comum a ocorrência de contrações pois em muitos casos as crises convulsivas acontecem no período intraparto) e o tônus uterino (para
afastar a presença de descolamento placentário associado).

Avaliação da Emergência hipertensiva. Na presença de hipertensão arterial grave (PAS ≥160mmHg e PAD ≥110mmHg) deve-se
fazer uso de anti-hipertensivos de ação rápida. A finalidade é a redução de 20mmHg na pressão arterial média (PAM). Deve-se ter
cautela, pois a redução intempestiva da pressão arterial pode levar a hipofluxo materno e placentário.

Exames laboratoriais para rastreamento de síndrome HELLP e de lesão renal aguda, complicações comuns que podem se
associar a eclâmpsia (hemograma com coagulograma, transaminases, bilirrubina total, desidrogenase láctica, ácido úrico, uréia e
creatinina e gasometria). Além disso, avaliar a proteinúria.
F
F (Feto):

A avaliação do Feto deve ser realizada imediatamente após o manejo materno e


começa pela ausculta fetal. Bradicardias fetais podem ocorrer como consequência da hipóxia e
acidose que a mãe está sujeita pelas convulsões. A maioria dessas bradicardias são transitórias e
superadas após estabilização materna, porém, caso persistam por mais de dez minutos, é
preciso levantar a hipótese de situação fetal não-tranquilizadora e/ou descolamento placentário,
podendo ser necessária a antecipação da interrupção da gestação). Onde estão disponíveis,
recomenda-se realizar após controle cardiotocografia, ecografia obstétrica com estimativa de
peso fetal e avaliação de líquido amniótico, além da doplerfluxometria.
G
G (interromper a Gestação):

A eclâmpsia é indicação de interrupção da Gestação. Essa interrupção, no entanto,


não deve ser intempestiva nem imediata. O ideal é aguardar pelo menos uma hora após a última
crise convulsiva para que a acidose do feto seja compensada pela mãe. Além disso, deve-se
aguardar pelo menos a contagem plaquetária. Importante lembrar que existe indicação de
interrupção da gestação, mas que a via de parto é obstétrica. Lembrar de realizar corticoterapia
para maturação pulmonar fetal, se necessário, pelo menos a primeira dose. Em alguns serviços
se recomenda reservar sangue para as pacientes.
DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA

Trata-se da separação prematura da placenta normalmente inserida. Complica cerca


de 1% dos nascimentos, e cerca de 80% dos casos ocorrem antes do início do trabalho de parto.

FATORES DE RISCO:

DPP em gestação anterior: é o maior determinante de risco, elevando-o em 15 a 20


vezes na gestação atual.
FATORES DE RISCO:
- Multiparidade
- Idade materna avançada
- Tabagismo
- Uso de cocaína
- Trauma
- Hipertensão materna
- Rotura prematura das membranas ovulares
- Gestação múltipla
- Polidramnia com rápida descompressão da cavidade uterina
- Trambofilias (hereditárias ou adquiridas)
- Miomatose e malformações uterinas
- Anomalias placentárias
- Sangramento no início da gravidez
DIAGNÓSTICO

- A hipertensão arterial é freqüentemente diagnosticada ou referida pela paciente.

- Dor abdominal espontânea (subitânea e de intensidade variável) ou à palpação.

- Hipertonia uterina (identificação difícil na presença de obesidade).

-Sangramento vaginal (80% dos casos) podendo ser mínimo, eventual, ou não observado (sangramento oculto, hematoma
retroplacentário) em 10 a 20% dos casos.

- Bolsa das águas tensa.

- Líquido amniótico ocasionalmente hemorrágico (hemoâmnio).

- Sinais de hipovolemia materna podem estar presentes.

- Bradicardia fetal importante ou BCF inaudível.

- Cardiotocografia geralmente anormal, com padrão não reativo ou bradicardia fetal acentuada.

- A ultra-sonografia é importante para o diagnóstico de óbito fetal. Quando normal, não afasta o DPP.
CONDUTA

- Internação imediata.
- AVP calibroso.
- Cateterismo vesical.
- Administração de oxigênio úmido sob máscara (3-8ml/h).
- Avaliação laboratorial, da função renal e da coagulação sangüínea.
- Reposição da volemia, se necessário.
- Correção dos distúrbios de coagulação, se presentes (Grau IIIB).
CONDUTA OBSTÉTRICA

Estando o concepto vivo (Grau II), realizar o parto o mais rápido possível, por operação cesariana
(conduta preferencial), ou por via baixa, com o emprego do fórcipe, se em período expulsivo.

Estando o concepto morto (Grau III), utilizar a via mais segura para a mãe, preferencialmente o
parto vaginal.
PARTO PÉLVICO

Hands off, menos manipulação, mais fisiologia, mais paciência!


Melhores resultados com a mulher em quatro apoios
• Contra-indicado o parto em posição de litotomia
• Episiotomia não é necessária
• Evitar manipular o períneo
• Evitar manipular o bebê
• Evitar manipular o cordão
• NÃO BOTE A MÃO EM NADA, SALVO NECESSIDADE!
• JAMAIS TRACIONAR O FETO!
• JAMAIS CLAMPEAR O CORDÃO!
MANOBRAS
SINAIS DE ALERTA:
Desprendimento fetal não evolui, ausência de prega peitoral, invisibilidade do queixo.

- ROTAÇÃO 180/90 graus. (liberação braço e nuca)


- Franks Nudge. (liberação polo cefálico)
- Mauriceau-Cronk. (cabeça hiperestendida)
PREGA PEITORAL: TUDO CERTO!
REANIMAÇÃO NEONATAL (rn > 34s)
Estima-se que apenas 10% de todos os RN necessitem de algum procedimento de auxílio para
transição normal da vida fetal
• E que apenas 1% deles precisarão de manobras intensivas de reanimação, como drogas,
massagem cardíaca e intubação
• Um profissional com experiência em reanimação neonatal deve estar presente em todos os
partos.
• Mas procedimentos de reanimação devem ser feitos apenas se o bebê PRECISAR deles!
No país, em 2013, a mortalidade neonatal correspondeu a 69% dos óbitos infantis
e, dos 26.730 óbitos neonatais, 76% ocorreram entre 0-6 dias após o nascimento.

A mortalidade neonatal precoce associada à asfixia perinatal em recém-nascidos


de baixo risco, ou seja, com peso ao nascer ≥2500g e sem malformações congênitas, é elevada
em nosso meio.

Estudo feito pelo Programa de Reanimação Neonatal mostrou que, entre 2005 e
2010 no Brasil, ocorreram 5-6 mortes precoces por dia de neonatos ≥2500g sem anomalias
congênitas por causas associadas à asfixia perinatal, sendo duas delas, em cada dia, decorrentes
de síndrome de aspiração de mecônio.

A maior parte dessas mortes aconteceu no primeiro dia de vida (SBP, 2016)
As intervenções para reduzir a morbidade e a mortalidade neonatal associadas à asfixia perinatal e à
síndrome de aspiração de mecônio incluem:

1)Medidas de prevenção primária, com melhora da saúde materna, reconhecimento de situações


de risco no pré-natal, disponibilização de recursos humanos capacitados para atender ao parto e
reconhecer complicações obstétricas, entre outras;

2) Tratamento do evento, que consiste na reanimação neonatal imediata;

3) Tratamento das complicações do processo asfíxico, compreendendo o reconhecimento da asfixia


e suas complicações, com terapia dirigida à insuficiência de múltiplos órgãos.
As práticas da reanimação em sala de parto baseiam-se nos documentos publicados pelo
International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR) a cada cinco anos, sendo o último
publicado em 2015.17-19 A Força Tarefa Neonatal, responsável pela publicação mais recente,
incluiu 38 membros de 13 países dos cinco continentes, com representantes brasileiros.

Tais especialistas realizaram a revisão sistemática de 26 temas relacionados à reanimação na


sala de parto, com a abordagem metodológica proposta pelo “Grading of Recommendations,
Assessment, Development and Evaluation (GRADE) Working Group”.

Conforme orientação do ILCOR, as recomendações publicadas servem de guia para a construção


das diretrizes adaptadas à realidade de cada nação ou grupo de nações.
Fatores Relacionados ao Parto
1 Padrão anormal de frequência cardíaca fetal
2 Parto cesáreo 12 Corioamnionite
3 Anestesia geral 13 Uso de opioides 4 horas anteriores ao parto
4 Uso de fórcipe ou extração a vácuo 14 Rotura de membranas >18 horas
5 Hipertonia uterina
15 Descolamento prematuro da placenta
6 Apresentação não cefálica
16 Trabalho de parto >24 horas
7Líquido amniótico meconial
8 Trabalho de parto prematuro 17 Placenta prévia

9 Prolapso ou rotura de cordão 18 Segundo estágio do parto >2 horas


10 Parto taquitócico 19 Sangramento intraparto significante
11 Nó verdadeiro de cordão
Todo material necessário para a reanimação deve ser preparado, testado e estar disponível em
local de fácil acesso, antes do nascimento.

Esse material é destinado à avaliação do paciente, manutenção da temperatura, aspiração de


vias aéreas, ventilação e administração de medicações.
CIRCULAÇÃO FETAL

• O sangue oxigenado chega da placenta através da veia umbilical


•Divide-se: parte para circulação hepática, parte para ducto venoso e, daí, para veia cava
inferior
• Pela veia cava inferior, o sangue chega no AD e é direcionado através do forame oval para o AE
• Mistura de sangue oxigenado com sangue pouco oxigenado (vindo das veias pulmonares –
pulmão apenas extrai O2)
• Dos átrios para os ventrículos e daí para a aorta
• Ducto arterial (desvia o sangue da artéria pulmonar para a artéria aorta) protege os pulmões
da sobrecarga
Forame Oval
Ao se clampear o cordão umbilical, a circulação placentária é interrompida e a
resistência periférica se eleva subitamente, e o recém-nascido apresenta uma redução
progressiva dos níveis de O2.

O tecido fetal apresenta uma resistência notável à hipóxia, em virtude da


hemoglobina fetal (HbF), a qual apresenta maior afinidade com o O2 e maior concentração.
A transição da circulação fetal para neonatal é (ou deveria ser) um processo fisiológico
gradual que deveria iniciar-se com a respiração, não com o clampeamento.
FISIOPATOLOGIA DA ASFIXIA PERINATAL

APNÉIA PRIMÁRIA:
- Quando ocorre hipoxemia o feto ou RN reage centralizando o fluxo sanguíneo para os órgãos
mais nobres (cérebro, coração e supra renais);
- Se a condição persiste, os movimentos respiratórios cessam, ocorre aumento da PA
para manter a perfusão dos órgãos nobres e uma leve queda da FC.

APNÉIA SECUNDÁRIA:
- Persistindo a asfixia, o feto ou RN desenvolvem movimentos respiratórios profundos
(‘gaspings”), a FC continua a diminuir e a PA cai progressivamente.

- Acidose metabólica acontece.


NO PRIMEIRO MINUTO....

O bebê não respira, mas...


• A FC é maior que 100 bpm?
• O bebê tem algum tônus?
• Faz caretas, espirra ou tosse?
• O cordão umbilical não foi clampeado e a placenta ainda não dequitou?

Provavelmente é uma apneia primária e uma transição normal.


NO PRIMEIRO MINUTO....

• O bebê não respira e...


• O bebê nunca apresentou tônus?
• Não reage a nenhum estímulo?
• A FC está abaixo de 100bpm?
• O cordão já foi clampeado e/ou placenta dequitou??

Provavelmente é uma apneia secundária: este bebê precisa de ajuda!


Prepare-se para iniciar a reanimação, que deve ser feita de preferência sem clampeamento do
cordão!

1) SECAR E AQUECER O RN;

2) POSICIONAR A CABEÇA;

3) AUSCULTA CARDÍACA;

4) INICIAR RCP / REAVALIAR


1- CINCO INSUFLAÇÕES LENTAS DE RECRUTAMENTO.
2 - INÍCIO DA RCP 3:1 (1,2,3 apeeeerta, solta, solta), acompanhar SpO2.
3 - CONSIDERAR O2
4 – ENTUBAÇÃO
Ventilações de Recrutamento
Objetivo: esvaziar os alvéolos de fluido e ocupá-los com ar
•Para expandir pulmões cheios de líquido, é necessário mais pressão e
mais tempo .
• A pressão será de 30-35 mmHg no manômetro, com duração
de 3 segundos
• Contagem:
• 1, 2, 3, solta (ou qualquer uma que dure 3 segundos a pressão contínua)
• SEMPRE CINCO
• Após as cinco primeiras ventilações de recrutamento,
REAVALIAR o bebê.
• Se ele ainda não estiver respirando, REPOSICIONE a cabeça e
faça OUTRO CICLO DE RECRUTAMENTO.
•Depois de 1 ou 2 ciclos de recrutamento, a maioria dos bebês
estará respirando bem.
• Se ele ainda não está respirando, passaremos ao próximo
passo.
A ventilação pulmonar é o procedimento mais importante e efetivo na reanimação do RN em
sala de parto.

A VPP está indicada na presença de apneia, respiração irregular e/ou FC 100 bpm.

De modo geral, iniciar com pressão inspiratória ao redor de 20 cmH2O, sendo raramente
necessário alcançar 30-40 cmH2O naqueles pacientes com pulmões imaturos ou doentes. Após
as cinco primeiras ventilações, reajustar a pressão inspiratória de modo a visualizar o
movimento torácico leve e auscultar a entrada de ar nos pulmões. É recomendável monitorar a
pressão oferecida pelo balão com o manômetro.
Ventilações de manutenção/oxigenação
• Objetivo: levar O2 para o pulmão já livre de fluidos com alvéolos expandidos
• Precisamos de menos pressão e menos tempo (20-25 mmHg)
• Frequência: 40 a 60 movimentos por minuto.
Observar
• Adaptação da máscara à face do RN
• Permeabilidade das vias aéreas
• Expansibilidade pulmonar
• Sinais de efetividade:
• Aumento da FC
• Início da respiração regular
• Aumento do tônus
• Reavaliar em 30 segundos :
• Há melhora? Interromper VPP
• Não há melhora? Checar técnica
• Técnica ok? Iniciar O2 suplementar
FC < 60: Após ventilação bem estabelecida com O2 100%, iniciar Massagem Cardíaca.
Intubação
• VPP adequada e O2 suplementar e RN não melhora: indicada
intubação
• Lembrar que 9 em cada 10 RNs melhoram com VPP se a
técnica estiver correta – técnica incorreta, principal causa de insucesso.
APÓS 60s de RCP com ventilação e massagem cardíaca e FC mantém < 100:

Cateterismo umbilical de emergência + adrenalina!


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