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FUNÇÕES
NEUROPSICOLÓGICAS
COGNITIVAS – COGNIÇÃO E
APRENDIZAGEM
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Não existe uma definição estabelecida no que diz respeito às funções
executivas. Sabemos que envolvem capacidades cognitivas superiores, mas
diferentes autores podem dar ênfase a diferentes conjuntos de funções.
Além disso, é quase impossível falar de funções executivas sem citar o
controle inibitório: competência desenvolvida ao longo da infância e da
adolescência que permite suprimir os impulsos e pensar antes de reagir ou de
falar.
A pesquisadora e neurocientista cognitiva Adele Diamond (2013),
especialista no estudo de funções executivas, cita ainda como funções básicas
o controle de interferência, que inclui domínio sobre a atenção e inibição
cognitiva (que envolve o controle e seleção de informações e pensamentos), a
memória de trabalho (fortemente correlacionada à atenção) e a flexibilidade
cognitiva (capacidade de mudar de estratégia e adaptar-se a novas situações).
Mas existem especialistas que incluem no conjunto a formação de
padrões (capacidade de identificar padrões nas informações para inferir o que
irá acontecer na sequência) e a categorização (capacidade de formar
categorias de informações, formando uma base cognitiva para que se possa
aplicar habilidades superiores, como analisar e avaliar tais informações).
As funções executivas, segundo Adele Diamond (2013), são cruciais para
a saúde mental e física, para o sucesso nos estudos, bem como na vida e no
desenvolvimento social, psicológico e cognitivo.
Não apenas se constroem como consequência de processos biológicos
do amadurecimento cerebral, como a mielinização, mas também são moldadas
pelo ambiente, especialmente pelas relações sociais. Essas funções superiores
podem ser estimuladas por uma série de práticas, como jogos, atividades
esportivas, meditação e atividades cooperativas, além da repetição.
E por que a repetição? Todas as tarefas que colocam o córtex pré-frontal
para trabalhar, exercitando as funções executivas, exigem esforço e são,
portanto, realizadas de forma lenta e dispendiosa.
No entanto, à medida que ganhamos mais domínio sobre determinada
habilidade, o córtex pré-frontal passa a ser menos acionado e, a partir de então,
são as estruturas subcorticais que assumem a tarefa, realizada, dessa forma,
com menos esforço, de maneira automática e inconsciente. Isso vale para
qualquer conhecimento, desde as habilidades motoras até as condutas sociais.
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Para que a aprendizagem seja consolidada, a ação e a repetição da ação são
fundamentais. Somos o que fazemos repetidamente.
Todas as funções executivas são dependentes do direcionamento
consciente da atenção, uma das nossas capacidades mais vulneráveis e,
portanto, facilmente afetadas por problemas ou por desequilíbrios tanto
emocionais quanto físicos.
Dessa forma, o trabalho de desenvolvimento dessas funções superiores
é mais eficaz quando o ambiente proporciona segurança e apoio emocional. O
sono, os exercícios físicos e fatores como hidratação e alimentação também
estão diretamente relacionados ao desempenho cognitivo.
Então, ajudar estudantes a alcançar melhor desempenho significa ir muito
além dos conteúdos programados. Importante investir em atividades
consideradas não acadêmicas, mas que trabalham todas as funções executivas,
além dos âmbitos social, emocional e físico. Artes, dança, música, esportes,
artes marciais, narração de estórias, meditação e jogos são algumas das práticas
que conciliam todas essas necessidades e que, infelizmente, não são a
prioridade na maior parte das instituições de ensino.
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A capacidade de inibir a resposta a um sentimento, de não ceder aos
impulsos governados por emoções muitas vezes desconhecidas ou
desorganizadas é fortemente dependente do meio social para se desenvolver.
Como o córtex pré-frontal, envolvido nessa função, é a região que mais demora
a amadurecer, a dificuldade em controlar certos impulsos ou reações
exageradas a algumas emoções pode parecer incompatível com outras
habilidades cognitivas já tão desenvolvidas.
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Bebês de menos de um ano de idade podem permanecer focados em atividades
sensório-motoras que prendem seu interesse, como blocos e peças de encaixar.
No entanto, nos primeiros anos, o controle sobre a atenção é bastante imaturo,
e a tendência é que crianças se distraiam facilmente e deixem estímulos
externos interromperem a atividade na qual estão engajadas. Por isso, recursos
que as ajudem a desenvolver tal função cognitiva devem fazer parte do processo
de educação infantil.
Entre esses recursos estão o cuidado na seleção dos estímulos
oferecidos nos ambientes em que haja interação com crianças. Jogos e
brincadeiras que envolvem o controle do impulso são extremamente importantes
para o desenvolvimento infantil. Muitas vezes, a educação se precipita em
alfabetizar crianças em idade pré-escolar ou em repassar certa quantidade de
conteúdo acadêmico, sendo que atividades lúdicas e esportivas — que
trabalham o controle dos impulsos e que ensinam a esperar antes de responder
ou agir — poderão trazer resultados mais significativos para o desenvolvimento
cognitivo e até mesmo para o desempenho acadêmico das crianças.
De acordo com Adele Diamond, há evidências (Lakes; Hoyt, 2004) de que
as artes marciais trazem ótimos resultados no trabalho do autocontrole, pois,
além dos movimentos, regras e objetivos, envolvem questionamentos que levam
à reflexão sobre o próprio comportamento e sobre a importância da disciplina e
do planejamento, mas sem desconsiderar o presente.
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A memória de curto prazo está mais relacionada à armazenagem de
informações por um período de tempo. Já a memória de trabalho envolve não
apenas a retenção, mas também a manipulação das informações, que se
desenvolve mais lentamente e depende do córtex pré-frontal dorsolateral.
A manipulação das informações não depende somente da sua retenção
temporária na mente, mas também da capacidade de manter o foco na tarefa e,
assim, ignorar os estímulos irrelevantes, bem como inibir o impulso de desviar a
atenção. Portanto, a memória de trabalho e o controle inibitório trabalham
semprem em comunhão.
Fonte: OLYGON/SHUTTERSTOCK
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soluções pouco óbvias e também para entender o ponto de vista de outra
pessoa.
A flexibilidade cognitiva nos permite mudar de ideia, rever nossos
conceitos, mudar de hábitos, aproveitar oportunidades inesperadas e também
nos adaptarmos às mudanças — o que se faz cada vez mais necessário em um
mundo de rápidas transformações. É a função que nos permite aproveitar as
oportunidades que surgem de forma inesperada.
Flexibilidade mental está diretamente associada à criatividade. Não existe
trabalho criativo sem uma mente flexível por trás. Desde um projeto de escola
que exige geração de ideias e criação autônoma até um negócio inovador, todas
as novas soluções foram fruto da capacidade de buscar informações fora dos
caminhos mais comuns e de associá-las de uma forma inédita — ações que
exigem mudança de perspectiva, típicas do pensamento elástico.
Crianças pequenas tendem a ser extremamente adaptáveis a novas
circunstâncias, mas têm dificuldade de mudar de perspectiva. Em experiências
com figuras ambíguas, por exemplo, crianças de menos de cinco anos de idade
não conseguem perceber a figura alternativa mesmo quando é mostrada a elas
(Gopnik; Rosati, 2001).
Ademais, outros testes que exigem capacidade de mudança de foco e
mudança de tarefas indicam que apenas entre os sete e nove anos de idade as
crianças estão prontas para essa habilidade (Gupta; Kar; Srinivasan, 2009).
Tal qual acontece com os músculos, a mente pode ser flexível ou rígida.
Assim, da mesma forma que fazemos com o físico, podemos exercitar a
flexibilidade mental. Atividades em que as regras são constantemente invertidas
são indicadas para o treino dessa habilidade. Mas não apenas testes e
exercícios garantem o desenvolvimento da flexibilidade: a capacidade de
mudança e adaptação é desenvolvida em ambientes em que a
interdisciplinaridade, a criatividade e o pensamento crítico são estimulados,
conforme oportunamente veremos. Aprender novas habilidades e adquirir
conhecimentos em diversas áreas mantêm a mente flexível e aberta.
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capacidades, juntamente com várias outras que veremos nesta aula, fazem parte
daquilo que chamamos de pensamento crítico. Envolvem diretamente todas as
funções executivas que acabamos de aprender.
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Em seguida, passa-se para a síntese, que é a capacidade de combinar
informações compreendidas em uma nova ideia. Essa é a etapa da criatividade,
também fortemente relacionada à flexibilidade cognitiva e à memória de trabalho.
Recentemente, uma versão atualizada da Taxonomia de Bloom transformou a
síntese em criação ou criatividade e transferiu a habilidade para o topo da
estrutura.
Finalmente, a última etapa da hierarquia original compreende as
capacidades relacionadas à avaliação, como o julgamento, a comparação de
ideias e de teorias. Espera-se que os estudantes dominem com propriedade tal
etapa, que depende de todas as outras durante a fase universitária. É quando
deverão fazer o julgamento crítico de ideias com base em informações muitas
vezes conflitantes e de diversas áreas.
A Taxonomia de Bloom (Adams, 2015) passou por uma revisão recente,
em que foram alteradas a nomenclatura e a ordem das habilidades. Todos os
objetivos passaram a ser expressos por meio de verbos e o criar passou para o
topo da estrutura, que ficou nesta ordem: lembrar, compreender, aplicar,
analisar, avaliar e criar.
Apesar de ser a mais conhecida, a hierarquização dos objetivos
educacionais não é o único domínio contemplado pela Taxonomia de Bloom.
Existem outros dois, também fundamentais para o desenvolvimento humano e
diretamente relacionados ao desenvolvimento cognitivo: o domínio psicomotor e
o afetivo. Neste último, são organizadas, também de forma hierárquica, as
habilidades relacionadas à consciência das atitudes e dos sentimentos em um
ambiente educacional. No próximo módulo, iremos abordar a relação das
emoções com a aprendizagem.
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REFERÊNCIAS
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2698, Feb. 2011. Disponível em: <http://www.pnas.org/content/108/7/2693/tab-
article-info>. Acesso em: 29 ago. 2018.
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