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Diagnóstico

Socioambiental
Participativo – DSP
Projeto Parque Linear
Nascentes do Ribeirão
Jaguaré: formação do
grupo comunitário
de Educação Ambiental
Janeiro 2014
Ficha técnica: Sumário
Presidente: Augusto Vieira IPESA 5
Vice-Presidente: Camila Duarte
Coordenadora do Programa Redes Formação Cidadã no
Ecológicas: Paola Rodrigues Samora Projeto de Educação
Coordenador do Projeto: Ambiental 6
Gustavo Veronesi
Educadora: Camila Mello Apresentação
Educadora voluntária: Guaíra Maia e agradecimentos 8
Revisora de texto: Maria Alice
Como Trabalhamos 9
Rodrigues Dias
Edição de arte: Estúdio Dupla Ideia Design Etapa 1
Formação do Grupo
Agentes Ambientais Formados: Comunitário de Educação
Jonatas Pereira Sampaio Ambiental 10
Julia Aureliano Oriental
Julio Cesar Lima Santos Etapa 2
Kelvin A. Rodrigues Curso teórico 11
Layane Telles dos Santos
Leticia de Mello Pereira Lima Atividades de Campo
Leticia Pardo de Oliveira ou Estudos do Meio 12
Marcella Nair de Oliveira Carneiro
Marcelo Silva de Santana Palestrantes convidados: 13
Matheus Batista de Sousa
Monique Kerolayne Gonsaga Dinâmicas e Jogos
Pedro Henrique Santos da Silva Cooperativos 14
Thalia dos Santos Silva
Etapa 3
Vitoria Batista Nacimento
Diagnóstico Socioambiental
Williane Magalhães de Oliveira
Participativo (DSP) 19
Comissão de Acompanhamento Saída de trem (Foz) 24
Técnico do Projeto (CAT) FEMA
Renê Costa Mutirão de Limpeza de Rios 25
Sônia Joana Jabur Salomão
Caracterização da Área –
A sub bacia do
Ribeirão Jaguaré 26

Conclusão 29

Referências Bibliográficas 31
IPESA
ambiental, pesquisas e o intercâmbio de experi-
ências ecológicas entre escolas, comunidades,
parques, espaços comunitários e empresas.
Amplia seu alcance promovendo o diálogo e a
prática de ações que auxiliam no processo de

O
Instituto de Projetos e Pesquisas So- conscientização e mudança de comportamen-
cioambientais – IPESA – é uma Orga- to, proporcionando a construção de uma “cul-
nização Não Governamental focada tura de sustentabilidade”.
na realização de ações que visam a preserva- Nesse sentido, a Educação Ambiental repre-
ção ambiental e o desenvolvimento social sus- senta um componente essencial no processo de
tentável. Tem como missão “incentivar a pre- formação e educação permanente. Com abor-
servação e o uso equilibrado do meio ambiente, dagem direcionada para a resolução de proble-
bem como a inclusão social, compartilhando mas, contribui para o envolvimento ativo do pú-
conhecimentos e sensibilizando a sociedade blico, torna o sistema educativo mais relevante,
sobre novas alternativas de vida mais integra- mais realista e, estabelece, uma maior interde-
das ao meio e com respeito ao próximo”. pendência entre o ambiente natural e o social.
Para isso fomenta o conhecimento sobre o Desenvolver projetos de educação ambiental
espaço vivido e discute as possibilidades de com jovens é um desafio fundamental na expe-
intervenção e ferramentas essenciais para a riência profissional de um educador, pois não
construção de ações coletivas em prol do am- bastam somente ferramentas tradicionais da
biente. A metodologia de trabalho compreen- educação para sensibilizar os jovens sobre a
de o conhecimento da realidade local, do públi- questão ambiental e tudo que a envolva, é pre-
co envolvido e, a partir disto, o planejamento de ciso propiciar a eles a possibilidade de interagir
ações que visem às mudanças socioambientais. com o meio ambiente e integrar-se em uma
O IPESA vem atuando desde 2005 em ações ação de mudança.
e projetos de caráter socioambiental que têm O projeto despertou nos jovens um olhar di-
como pressupostos: o envolvimento comunitá- ferenciado sobre o espaço vivido, principal-
rio, a promoção de posturas mais conscientes mente do ambiente natural, muitas vezes des-
através da Educação Ambiental, e o desenvol- conhecido no cotidiano das grandes cidades.
vimento de métodos e técnicas que promovam Diante disso, o projeto Parque Linear Nascen-
a inclusão socioambiental. Suas frentes de tra- tes do Ribeirão Jaguaré é um sonho antigo da
balho estão divididas em três Programas de equipe IPESA, o qual propiciou a interação e
atuação: Resíduos Sólidos, Unidades de trocas constantes entre educandos e educa-
Conservação e Redes Ecológicas. dores, onde todos aprenderam e ensinaram ao
O Projeto Parque Linear Nascentes do Ribei- mesmo tempo. É com prazer que apresenta-
rão Jaguaré – Formação do Grupo Comu- mos nosso projeto. Boa leitura!!!
nitário de Educação Ambiental – integra os
projetos do Programa Redes Ecológicas. Paola Rodrigues Samora (Coordenadora
O Programa realiza projetos de educação Programa Redes Ecológicas)
5
Formação Na oportunidade, contrapondo-se às me-
didas preventivas pontuais, apresentamos

Cidadã no
a proposta do Parque Linear Nascentes do
Jaguaré como instrumento de requalifica-

Projeto de
ção ambiental e urbana, por envolver ações
integradas de saneamento, dentre as quais
a despoluição do córrego. Iniciava-se ali um

Educação processo de mobilização da comunidade


pela implantação do Parque Linear Nascen-

Ambiental
tes do Jaguaré.
A rede dos movimentos sociais do Distrito
Raposo Tavares promoveu em 2007 o semi-
nário “Parque Linear Nascentes do Jaguaré”,
que resultou num compromisso formal do

O
Distrito Raposo Tavares, situado na Poder Público com a implantação do Par-
Subprefeitura do Butantã, é carac- que. Entre 2008 e 2010, a agenda de mo-
terizado por um processo de urbani- bilização envolveu trabalhos de educação
zação periférica, marcada por assentamentos ambiental com as comunidades escolares
de favelas e de conjuntos habitacionais popu- da região, tendo o córrego como objeto de
lares, onde os serviços públicos chegam em estudo e o parque como instrumento de re-
função da mobilização da população. qualificação.
Apesar da deterioração da qualidade ur- Em 2010 a Secretaria do Verde e Meio Am-
bana e ambiental promovida por esse tipo biente convidou a comunidade do Distrito
de urbanização, a rica rede hidrográfica, os Raposo Tavares para participar do processo
remanescentes florestais e as áreas arbori- de implantação do Parque Linear Nascentes
zadas formam componentes essenciais na do Jaguaré. Trata-se de um projeto piloto da
paisagem que possibilitaram definir o Distrito SVMA denominado “Ambiências” que tem
como Macrozona de Proteção Ambiental como objetivo promover o envolvimento da
no Plano Diretor da Cidade. Na elaboração população no processo de implantação do
do Plano Diretor Regional, privilegiaram-se parque, bem como articular ações integra-
proposições e ações de parques lineares e das entre o poder público e as comunidades.
caminhos verdes como instrumentos de re- Concebido como espaço da formação, do
qualificação ambiental e urbana do Distrito. debate, da proposição e da articulação, foi
Em 2006, a rede dos movimentos sociais do formado por técnicos do Poder Público, lide-
Distrito organizou reunião com o Poder Pú- ranças dos movimentos sociais e cidadãos e
blico e lideranças comunitárias para discutir cidadãs das comunidades o Fórum “Ambiên-
e integrar ações visando a requalificação cias - Parque Linear Nascentes do Jaguaré”.
urbana e ambiental dos bairros da Sub-bacia No período entre 2010 e 2012 foram re-
do Jaguaré. Naquele momento, os agentes alizadas quatro plenárias do Fórum, com a
comunitários do programa “Ação Família” participação de mais de 400 pessoas. Nesse
identificaram o agravo da saúde das famílias processo, constituiu-se uma ideia de Parque
moradoras das favelas próximas ao córrego, Linear enquanto instrumento catalisador das
em função das infestações dos animais sinan- intervenções socioambientais no território,
trópicos, dentre os quais o rato. associando-se o Parque às ações de requa-
6
lificação ambiental e urbana, em especial ações, estudo do meio, oficinas de produção
aquelas voltadas ao saneamento ambiental e de rádio e vídeo e participação em eventos
à conservação das áreas verdes. na região.
Observamos uma intensa participação de Foram atividades que, além de possibilitar
adultos e crianças ao longo desse processo, o diálogo com a realidade, colocaram os
contrapondo-se, por outro lado, com a au- jovens em contato com outras formas de
sência do público jovem. linguagens, ampliando e enriquecendo as re-
Nesse contexto, o projeto “Parque Linear presentações sociais sobre a cidade.
Nascentes do Ribeirão Jaguaré: Formação Observamos que, mais do que fortalecer a
do Grupo Comunitário de Educação Am- participação em torno da implantação do
biental” realizado pelo Instituto de Projetos Parque Linear Nascentes do Jaguaré, esse
e Pesquisas Socioambientais – IPESA - veio, projeto construiu, em uma perspectiva de
em um primeiro momento, atender a neces- política cidadã, novos referenciais de atua-
sidade de inserir o público jovem no projeto ção para os jovens envolvidos no processo.
Ambiências.
No entanto, em face de uma realidade mar- Sonia Joana Jabur Salomão e Renê
cada por carências e ausências de equipa- Costa (Comissão de Acompanhamento
mentos socioculturais, os educadores do Técnico do Projeto)
IPESA transcenderam o objetivo de forma-
ção e construíram com os jovens um espaço
de convivência e de reflexão sobre a temáti-
ca urbana que articulou atividades socioam-
bientais e culturais envolvendo, dentre outras
7
Apresentação e
agradecimentos

A
o longo deste ano de atividades foram texto para expor a percepção deles em relação
trabalhados diferentes conceitos, habi- às descobertas propiciadas pelo projeto sobre
lidades, competências, responsabilida- a cidade e o bairro em que vivem.
des, promovidos intensos debates, rodas de con- Realizar um projeto com objetivos ambiciosos
versas, leituras da paisagem tendo como foco é um desafio constante para toda a equipe,
principal a construção e o amadurecimento de desse modo é importante ressaltar que todas
valores sociais voltados para a cidadania, cons- as ações e as atividades só foram possíveis pelo
cientização e o uso sustentável do ambiente. envolvimento de todos os parceiros, aos quais
Uma das etapas do projeto foi a realização pe- o IPESA manifesta profundo agradecimento.
los jovens do Diagnóstico Socioambiental Par- À Liga Solidária, nas pessoas de Mário Mar-
ticipativo da Microbacia Hidrográfica do Ribei- tini, Neide Cavalcante e Marcos Muniz, que
rão Jaguaré. Essa publicação tem por objetivo nos cedeu salas, espaços externos, materiais e
apresentar os resultados desse diagnóstico do muita dedicação fundamentais para a realiza-
entorno do futuro Parque Linear Nascentes do ção do projeto. Ao Diretor Cristiano Pereira
Ribeirão Jaguaré e descrever as atividades rea- da Silva e à Diana Cunha, da ETEC Uirapuru
lizadas para a construção desse material. que incentivou muito alunos da instituição a
As etapas 1 e 2 desta publicação apresentam participarem do projeto. À EMEF Professora
as metodologias utilizadas no projeto,durante o Ileusa Caetano da Silva, na pessoa de Cláudia
curso teórico, onde vídeos, dinâmicas, rodas de Estevan, ativos apoiadores da implantação do
conversas e palestras com especialistas baliza- Parque Linear Nascentes do Ribeirão Jagua-
ram os jovens para a realização do Diagnóstico ré. À Escola Estadual João XXIII por abrir suas
Socioambiental Participativo, descrito na etapa portas para apresentarmos o projeto. À Maria
3 sob a perspectiva dos jovens. Uma missão foi Lucia Belenzanni e Caio Baccini, do gabinete
dada a parte do grupo de jovens: elaborar um do vereador Nabil Bonduki, pelos apoios e pa-
8
lestras. Ao Cesar Pegoraro, da Associação dos
Moradores para implantação do Parque Linear
do Riacho Água Podre, pelos ensinamentos e Como
animação. À SOS Mata Atlântica que cedeu o
kit de monitoramento da qualidade da água que Trabalhamos
proporcionou o acompanhamento mensal da
qualidade do Ribeirão Jaguaré. Ao Camilo Ta-

O
vares da Pequi Filmes, que cedeu o filme Sobre Projeto Parque Linear Nascentes
Rios E Córregos, exibido no curso teórico. À do Ribeirão Jaguaré - Formação do
Enraize - Soluções Participativas, na pessoa de Grupo Comunitário de Educação
Guaíra Maia, educadora voluntária no projeto. Ambiental foi desenvolvido pelo IPESA com
Somos gratos ao Fundo Especial do Meio financiamento do Fundo Municipal de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
(FEMA) da Secretaria do Verde e do Meio (FEMA) da Secretaria Municipal do Verde
Ambiente da Prefeitura Municipal de São e do Meio Ambiente, contemplado em seu
Paulo, que acreditou no projeto e na capa- edital de número 07 de 2009.
cidade executiva do IPESA, cujos recursos Iniciado em fevereiro de 2013, o projeto se
foram imprecindíveis para a realização dos integra à mobilização comunitária para cria-
trabalhos. Em especial à Comissão de Acom- ção do Parque Linear às margens dos cór-
panhamento Técnico do Projeto, Sônia Joa- regos que formam o Ribeirão Jaguaré, que
na Jabur Salomão e Renê Costa, que foram posteriormente deságua no Rio Pinheiros.
solícitos em tudo que a equipe requisitava e Durante o projeto, os jovens vivenciaram um
que sempre estiveram muito entusiasmados curso teórico, saídas à campo, análises de
para que o projeto se realizasse da melhor qualidade de água, mutirão de limpeza no
forma possível; à comunidade do entorno das córrego, elaboração de diagnóstico socioam-
nascentes do Ribeirão Jaguaré e aos pais dos biental da microbacia hidrográfica e apresen-
jovens participantes. tações à comunidade dos resultados obtidos.
Agradecemos também à diretoria, anterior e Após tanto estudo, empenho, percepção,
atual, e toda a equipe do IPESA, por acredi- conhecimento e reconhecimento do espaço
tarem no trabalho dos educadores executores vivido, nesta publicação estarão descritas as
do projeto, e por estarem sempre à disposição três primeiras etapas do projeto.
para ajudar. Agradecimentos especiais à Co-
ordenadora do Programa Redes Ecológicas, • Etapa 1 – Formação do Grupo Comuni-
Paola Samora, a Alexandre Rodrigues, Lisa tário de Educação Ambiental;
Barros, Melissa Barbosa, Beatriz Maroni, • Etapa 2 – Curso teórico;
Camila Duarte, Luciana Lopes, Luciana Sá e • Etapa 3 - “PesquisaAção”: construção
Augusto Vieira. do diagnóstico do entorno e publicação dos
E, principalmente, agradecer aos jovens agen- resultados;
tes ambientais participantes do projeto, que se • Etapa 4 - Produção de materiais de
dedicaram incondicionalmente nas ações pro- apresentação dos resultados do diagnóstico
postas, trazendo e buscando alternativas para (vídeo, exposição de fotos, apresentação em
a melhoria e bem estar da sociedade, além de diapositivos e fanzine para divulgação);
nos ensinarem e nos alimentarem com a ener- • Etapa 5 - Organização da exposição e
gia revigorante da juventude. apresentação dos resultados à comunidade.

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Etapa 1
Formação
do Grupo
Comunitário
de Educação
Ambiental

D
urante dois meses, a equipe técnica do
projeto, composta pelos educadores
Camila Mello, Guaíra Maia e Gustavo
Veronesi (e pela voluntária Carina Björnstad
Lütke que colaborou nessa fase inicial do pro-
jeto) contataram as Diretorias Regionais de
Ensino da Rede Municipal e Estadual da região
de atuação do projeto, bem como, as institui-
ções de ensino e entidades representativas lo-
cais, a fim de apresentar o projeto aos adoles-
centes e selecionar 15 jovens para comporem
o grupo comunitário de agentes ambientais.
No total 146 alunos assistiram às apresenta-
ções de chamada para participação no pro-
jeto, destes, 45 manifestaram interesse e fo-
ram convidados para uma entrevista. Por fim,
21 jovens foram selecionados a integrarem
a equipe que passaria a estudar e conhecer
melhor o local em que vivem. Com algumas
desistências ao longo do caminho, o projeto
manteve-se na sua maior parte com 16 parti-
cipantes, quando a meta era trabalhar com 15.
Com o grupo formado, carta de parceria e
termo de responsabilidades assinados pelos
responsáveis dos jovens, autorizando a parti-
cipação no projeto no contraturno escolar, as
atividades foram iniciadas.
10
Etapa 2
Curso teórico

C
omo forma de despertar o olhar
dos jovens para temas relaciona-
dos principalmente aos recursos
hídricos locais e reforçar conhecimentos já
apreendidos ao longo da trajetória escolar,
o projeto realizou durante dois meses curso
teórico sobre conceitos ligados à bacia hi-
drográfica, qualidade da água, plano diretor
estratégico, parque linear, entre outros temas.
Totalizando 48 horas e 16 encontros formati-
vos, os jovens tiveram a oportunidade de ouvir
diferentes profissionais convidados, assistir a
vídeos e debaterem com a equipe de educa-
dores sobre os temas trabalhados no curso.
Essa metodologia de trabalho de múltiplas
ações combinadas foi escolhida como um
meio de adequação da linguagem com o pú-
blico alvo do projeto, tornando as aulas mais
dinâmicas e integradoras.
Ao final de todos os encontros do curso teóri-
co, como encerramento das atividades do dia,
os jovens escreviam suas impressões do dia
em um papel onde estava desenhado um rio,
que chamamos de Rio da Aprendizagem.

11
Atividades
de Campo ou
Estudos
do Meio

N
o terceiro encontro foi realizada O grupo saiu da ETEC Uirapuru rumo à Pra-
uma atividade de saída a campo, ça Ramos de Azevedo. Visitou o Banespão
que aconteceu no dia 16 de maio (Edifício Altino Arantes), a Praça da Sé, onde
de 2013. As saídas a campo, ou estudo do observaram o marco zero da cidade, a Cate-
meio, que ocorreram ao longo do projeto, dral Metropolitana e o Páteo do Colégio. Em
tinham como objetivo fazer uma leitura da seguida, passaram pela Rua Boa Vista, pelo
paisagem e trabalhar com os jovens concei- Mosteiro de São Bento, Avenida São João,
tos relacionados aos rios e ao ambiente urba- Vale do Anhangabaú, Viaduto do Chá, visuali-
no. Com esse objetivo, a primeira atividade zação externa do Teatro Municipal, local onde
de campo realizada foi ao centro da capital. findou o estudo pelo centro.
12
Palestras
realizadas
1. Plano Diretor - Maria Lúcia Belen-
zanni, Caio Baccini e Gustavo Schorr - Gabi-
nete do Vereador Nabil Bonduki;
2. Planos de Bairro - Gustavo Frei-
berg – Gabinete do Vereador Nabil Bonduki;
3. Parques Lineares - César Pego-
raro - Comissão de Moradores da Região do
Córrego Água Podre;
4. Tecnologias Sociais - Paola Sa-
mora e Luciana Sá – IPESA;
5. Roda de Conversa com ato-
res locais - Sr. Adão, liderança comuni-
tária do bairro e vice-presidente do PIDS do
Butantã; o técnico Renê Costa, CAT do Pro-
jeto (SVMA); Mário Martini, Diretor da Liga
Solidária e três representantes da SABESP:
Hélio Rubens Figueiredo, Gilmar Massoni e
Anderson Pereira.
Além da contribuição dos convidados, os
jovens tiveram a oportunidade de assistir a
diversos vídeos relacionados aos temas con-
versados. Dentre eles pode-se citar: “Man”,
“Entre Rios”, “Abuella Grillo”, “Sobre Rios
e Córregos”, “Manejo de Água” – IPESA e
“História das coisas” (as ligações – “links” – dos
vídeos estão no final da publicação).

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Dinâmicas
• Crescimento da cidade – É um
jogo cooperativo que estimula uma breve re-

e Jogos
flexão junto aos jovens sobre o crescimento das
cidades, e de como a ausência, ou um planeja-

Cooperativos
mento urbano inadequado têm consequências
na vida de muitas pessoas. O jogo inicia a partir
de uma brincadeira simples e lúdica, em que no
começo cada um tem sua “casa” (representada
por uma folha de jornal no chão). Após cada

P
ara reforçar conceitos e estimular refle- reflexão feita, é colocada uma música e os
xões, ocorreram diversas dinâmicas nos participantes andam pela sala. Enquanto isso, a
encontros formativos, como: facilitadora tira os jornais do chão. Ao parar a
música, os jovens têm que se alocar nas “casas”
• Apresentação dos presentes existentes, até o limite de ficarem duas ou três
- Para a apresentação do grupo foram sele- folhas de jornal no chão. Os participantes então
cionadas oito ações escritas em tarjetas. Cada são convidados a relatarem as percepções que
ação foi impressa em duplicata: Surfar, Dançar, possuem sobre a cidade, o que nesta atividade
Cantar, Plantar, Fotografar, Jogar Futebol, Pu- fez emergir pontos bastante relevantes como:
lar. Cada participante foi convidado a escolher crescimento populacional, egoísmo, individuali-
uma tarjeta referente a uma ação individual. dade, casas mais apertadas, perda de qualidade
Em seguida, num pátio externo à sala utilizada, de vida, entre outros.
fizeram mímicas dessas ações e cada um teve
que identificar quem fazia a mesma ação que
a sua. Ao se encontrarem, as duplas conver-
saram para se conhecerem mais e cada um
apresentou seu companheiro de “ação” para
o restante o grupo.

• Word café - Dinâmica em que os


participantes são divididos em grupos com
número iguais de pessoas, aleatoriamente.
Ao formar o grupo, é escolhida uma pessoa,
designada “garçom” que será o facilitador da
conversa e estimulará todos a participarem.
Após o tempo dado pelo facilitador da ativi-
dade, todos mudam de grupo com exceção
do “garçom” que permanece na mesa para
receber os demais participantes. O desejável
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é que cada pessoa do grupo anterior vá para • “Construindo” a Bacia Hi-
uma mesa diferente para obter outras opini- drográfica – Os jovens são convi-
ões sobre a pergunta sugerida. Em seguida, é dados a construir coletivamente o território
feita mais uma rodada com a mesma pergun- que habitam de maneira colaborativa, com
ta. Na próxima troca de pessoas é feita a troca a utilização de tecido (TNT). Em um primei-
de pergunta também, a nova pergunta é feita ro momento, os jovens vivenciam de forma
em mais duas rodadas. Ao final, os “garçons” lúdica, através de um jogo, os conceitos so-
apresentam as opiniões e conclusões coleta- bre bacias hidrográficas. Exercitam o olhar
das nas rodas de conversas. para as relações indissociáveis dos elemen-
tos que compõem uma bacia hidrográfica
e podem identificar de forma coletiva os
principais elementos físicos, os padrões na-
turais, os rios, e o elemento água a partir da
montagem da Bacia do Ribeirão Jaguaré.
Num segundo momento, mapeiam o terri-
tório das nascentes do Ribeirão do Jaguaré
e identificam as principais nascentes do ri-
beirão. Em seguida, a partir de imagens já
pré-selecionadas, colocam nos pontos da
bacia os principais usos e conflitos analisa-
dos. Durante todo o exercício, os partici-
pantes trazem reflexões e questionamentos
• Caracol – O grupo é convidado a formar bastante pertinentes em relação ao uso do
uma roda. Em seguida, uma pessoa é orienta- território e à necessidade de buscar meios e
da a soltar uma das mãos e ir para o centro da formas de manter a qualidade das águas e a
roda. A partir desta orientação essa pessoa é conservação do ribeirão e das suas nascen-
envolvida como um “caracol”. Durante a dinâ- tes. O terceiro momento é de reflexão so-
mica, o grupo é orientado a se movimentar em bre as possibilidades futuras de como lidar
diversos sentidos e todos devem seguir enlaça- com estes conflitos. Por fim, a partir de per-
dos, depois todos voltam à forma inicial da roda guntas facilitadoras, os jovens respondem e
quando é feita uma breve reflexão sobre os indicam de que forma eles podem contribuir
valores que envolvem um trabalho em grupo. com este processo.

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• Gestão da água (canecas) –
Em uma área externa são reunidos os partici-
pantes e separados em dois grupos. Um deles
tem suas canecas cheias de água enquanto os
demais, vazias. Os participantes de posse da
água caminham de olhos fechados pelo pátio e
no momento que querem despejam a água. Os
que estão com canecas vazias tem a missão de
evitar o desperdício de água, direcionando seus
recipientes para coletar o líquido. Após acabar
a água, faz-se uma roda para refletir sobre a
atividade: a importância de evitar o desperdício,
como a união de esforços pode garantir uma
melhor gestão dos recursos hídricos e a impor-
tância do trabalho em grupo e coordenado.

• Me agrada x Me incomoda -
Com o objetivo de investigar assuntos que
agradam ou incomodam no ambiente da mi-
crobacia, sejam de ordem física, humana, da
comunidade, ou então, ligados à questões de
meio ambiente bem específicas, é formado um
só grupo ou pequenos grupos (de duas, cinco
ou até dez pessoas), dependendo do número
de presentes. A cada grupo é dada uma folha • Realidade x Desejo – São levantadas
de papel dobrada ao meio. Cada grupo esco- as opiniões sobre a situação, as expectativas
lhe um redator. De um lado da folha será colo- e os sonhos de cada um ou do grupo; por fim,
cado o título “ME AGRADA”, do outro “ME as formas e processos de como realizar esses
INCOMODA” e, durante aproximadamente sonhos e alcançar as aspirações. Essa técnica é
vinte minutos, os grupos debatem anotam tudo parecida com a “Me agrada x Me incomoda”,
o que percebem no bairro ou na rua em que com a diferença de que as pessoas já são moti-
moram e que se encaixe em cada um dos lados vadas a discutirem pistas e saídas para alcança-
da folha. Em seguida, os grupos apresentam o rem seus desejos, em vez de somente constatá-
que foi discutido e as contribuições vão sendo -los. Explica-se aos participantes que eles irão
anotadas na forma de palavras-chave que sin- falar da sua realidade e depois dos desejos em
tetizam as ideias do grupo em geral. Para isso, relação a ela. O mediador questiona o grupo
as “falas” vão sendo anotadas em tarjetas ou sobre a realidade da rua, da comunidade, do
cartelas de tamanho adequado à visualização bairro, do ribeirão e assim por diante, colocan-
por todos e, ao mesmo tempo, para motivar a do as ideias com as quais o grupo concorda
participação. num quadro ou papel. Depois é feita a reflexão
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de quais os desejos das pessoas em relação ao ta a reflexão das conquistas e desafios para se
local que também é colocado no quadro. Por chegar ao que foi pensado. Para registrar o que
fim, estimula-se a reflexão de como, a partir da pensaram, os participantes desenham como é
realidade, pode-se achar caminhos para che- esse futuro almejado.
gar ao que se deseja.

• Disponibilidade de recursos
hídricos - Água é colocada em baldes,
garrafas, copos e tampinha de garrafa pra re-
lacionar a quantidade de água total no planeta,
o quanto tem de água doce, o quanto de água
potável e o quanto disponível para o consu-
mo. Foi utilizado como referência a atividade
Água é Vida, componente da publicação da
WWF Brasil “Cadernos de Educação Am-
biental - Água Para A Vida Água Para Todos
– Guia de Atividades”.

• De volta do futuro - Nesta ativida-


de os participantes projetam a visão individual
sobre como seria o Parque Linear Nascentes
do Jaguaré a partir de um ponto de vista futu-
ro. As pessoas são convidadas a fecharem os
olhos e, com música tranquila, são ”conduzidas”
pelo facilitador a irem para um futuro próximo • Rodas de conversas – Todos os
e imaginarem como estará o bairro depois encontros foram feitos em círculos ou semi-
da implantação do Parque Linear. Após esse círculos com o intuito de integrar e estimular a
momento “volta-se” ao momento atual e é fei- participação verbal de todos.

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• Guerra do lixo - A dinâmica tem
como objetivo estimular o olhar dos partici-
pantes para a problemática e o desafio que
envolve a questão do lixo. A partir de uma
“brincadeira” os participantes são divididos
em dois grandes grupos que possuem como
objetivo principal manter o seu território
limpo sob qualquer hipótese. Diante deste
desafio, os participantes são estimulados a
pensarem coletivamente a melhor forma de
resolverem este problema, que é comum à
todos, e a refletirem sobre as diferentes res-
ponsabilidades em relação à produção e ao
descarte dos resíduos.
Imagem do Google Earth do ponto de coleta
mensal.

Nos três primeiros meses de coletas os resulta-


dos foram os seguintes:

As análises completas podem ser encontradas


em: http://sosobstiete.znc.com.br/grupos/
Como o tema prioritário do projeto eram os re- PSP74/avaliacoes/
cursos hídricos, foi apresentada a metodologia
de análise de qualidade da água desenvolvida
pela Fundação SOS Mata Atlântica, que cedeu
um kit de monitoramento para os jovens acom-
panharem a da qualidade da água de um ponto
do Ribeirão Jaguaré. O local escolhido para
o monitoramento foi bem próximo à portaria
principal do Educandário Dom Duarte e da
ETEC Uirapuru e CEU Uirapuru, nas esquinas
das ruas Professor João de Lorenzo e Osvaldo
Libarino de Oliveira.
18
Etapa 3 Aprendizagem
Diagnóstico
no espaço e no
Socioambiental
tempo em que
Participativo
a vida estava
(DSP)
sendo vivida!

O
Diagnóstico Socioambiental é um cativa com a formação crítica do grupo que o
importante instrumento para com- compõe. Quando o grupo passa a conhecer e
preender uma determinada realida- compreender sua territorialidade de maneira
de. Trata-se de uma poderosa ferramenta que ampla e complexa, amplia-se a percepção e a
permite a identificação, localização, avaliação criticidade do grupo sobre as potencialidades e
e análise de diferentes aspectos referentes a fragilidades do território.
um local ou comunidade, incluindo suas rela- Com base nestes princípios, os jovens do Proje-
ções socioculturais e de processos naturais. to Parque Linear Nascentes do Ribeirão Jagua-
Desta forma, realizar um Diagnóstico Socioam- ré realizaram um processo de mapeamento da
biental de forma participativa para desenvolver microbacia hidrográfica do Ribeirão Jaguaré,
um trabalho de educação ambiental é essen- a fim de conhecer a história de formação dos
cial, pois o processo que envolve o mapeamen- bairros, a economia local, as diferentes culturas
to de uma localidade contribui de forma signifi- e pessoas, os movimentos organizados, as ins-

19
tituições, as instâncias de decisão, os conflitos ao longo do percurso do córrego. O grupo
socioambientais e as possibilidades concretas caminhou cerca de 12 km buscando as princi-
que todo esse conjunto de elementos oferece. pais nascentes e, a partir deste trajeto, puderam
Somente assim é possível identificar necessida- compreender a formação da microbacia.
des e desafios prioritários, as suas causas, além Observaram maior presença de vegetação
de recursos e potencialidades que ali existem, e melhores condições em algumas partes do
constituindo-se como reais oportunidades de Ribeirão e trouxeram elementos de grandes
desenvolvimento e configurando-se como descobertas a cerca do bairro. Um ponto im-
ponto de partida para a criação do Parque Li- portante neste momento foram as inúmeras
near Nascentes do Ribeirão Jaguaré (PLJ). considerações e questões sobre a situação
Foi sob este olhar que o grupo pôde fazer varia- do Jaguaré sem, necessariamente, julgar a
das abordagens ao longo de três meses, através ação dos moradores. Mas, o que realmente
de saídas a campo, pesquisas em fontes secun- chamou atenção do grupo, foi “enxergar” a
dárias, como sites oficiais do governo munici- bacia hidrográfica, espacializando e tornando
pal, estadual e federal, além de visitar escolas concreto os exercícios realizados na etapa do
e creches que obtêm informações sobre a lo- curso teórico.
calidade, entrevistas com moradores locais, etc Após a travessia, dividiu-se o bairro em 5 áre-
(dados primários). Como apoio metodológico as, de acordo com as nascentes identificadas
para o grupo, disponibilizou-se fotos aéreas e no percurso: Nascente Jardim João XXIII,
mapas do bairro para o suporte na orientação Nascente Serra, Nascente Jardim Arpoador,
das equipes de campo em seu roteiro e, poste- Nascente COHAB Educandário e Nascente
riormente, na espacialização das informações EMEF Ileusa. Os jovens percorreram sema-
trazidas das visitas e entrevistas. nalmente as ruas do bairro, observando, foto-
Após as pesquisas de dados primários e se- grafando e entrevistando os moradores com
cundários sobre o território da microbacia o intuito de descobrirem as potencialidades
hidrográfica do Ribeirão Jaguaré foram inicia- e vulnerabilidades do bairro e, também, os
das as atividades de diagnóstico em campo. O principais desafios para a criação do Parque
processo do DSP teve início com uma travessia Linear Nascentes do Ribeirão Jaguaré.

20
Dados do Trajeto da travessia formação interna de todos os envolvidos.
12 km de caminhada; O mapa a seguir é parte fundamental para
6h de percurso; a elaboração de uma política pública estru-
5 córregos identificados (Jd. João XXII, Jd. turante que dialogue com o experienciado,
Arpoador, Serra, COHAB Educandário e que possibilite a emergência do potencial das
EMEF Ileusa). pessoas e suas localidades e que possibilite
Ao fim do processo, o grupo elaborou um que tenhamos educadoras e educadores am-
Mapa do Bairro, localizando as principais bientais populares em todos os cantos deste
observações e pontos que consideraram país, sonhando e construindo uma sociedade
importantes para serem informados à comu- realmente sustentável.
nidade local. Também elaboraram outras es- Nesse contexto, além do DSP, os jovens parti-
tratégias de divulgação destas descobertas: ciparam de outras atividades: uma saída a cam-
um vídeo, uma exposição de fotos e palestras po no entorno do Rio Pinheiros, feito de trem,
temáticas para serem apresentadas em dife- e um mutirão de limpeza do Ribeirão Jaguaré,
rentes instituições localizadas nos bairros do esse idealizado, planejado e executado pelos
entorno do Ribeirão. novos agentes ambientais do Raposo Tavares.
É nesse solo extremamente fértil para gran-
des transformações que caminhamos, reco-
nhecendo esse território como parte de ou-
tras territorialidades, para juntos buscarmos
os verdadeiros potenciais e desafios deste
lugar. O olhar dos jovens, em um processo
contínuo, trouxe a dimensão necessária à per-
cepção de que qualquer mudança, ou ação
futura, deve estar baseada na relação direta
com o território, uma vez que a transforma-
ção e a produção deste se refletem na trans-
21
22
23
Saída de
A saída de campo teve como objetivo notar a
situação das margens do Rio Pinheiros e tam-

trem (Foz)
bém as mudanças nas paisagens ao longo do
caminho. Este trajeto é feito diariamente por
muitas pessoas, mas nem sempre é possível
observar com atenção os aspectos impor-
tantes sobre a formação da nossa cidade e a
relação com os nossos rios. Durante o trajeto
foram feitas paradas e, através de rodas de
conversas, todos puderam trazer suas per-
cepções e descobertas. Um momento impor-
tante foi a leitura coletiva dos mapas temáticos
de São Paulo. Os jovens foram estimulados a
interpretarem os mapas para exercitarem o
olhar integrado sobre a produção do território.

“Achei super interessante nossa saída de cam-


po no dia 18/08. Pude ver o contraste entre
mundos diferentes, mas que na verdade são
completamente iguais. Dois mundos, um de

A
saída a campo de trem teve início na industrialização, comércio e luxo e outro de
Estação Jaguaré (Zona Oeste) com pobreza, miséria e porque não dizer angústia.
destino ao Grajaú, (Zona Sul) rumo Porém, ambos vivem à beira de um rio com-
às áreas do entorno dos principais manan- pletamente poluído e todos ali parecem não
ciais que abastecem a região metropolitana: se preocupar (exceto a área mais pobre, que
as represas Billings e Guarapiranga. Pude- é a que mais sofre com isso) e todos parecem
ram observar o Rio Pinheiros, onde deságua “normal”.
o Ribeirão Jaguaré, que é um dos principais Relato de Williane Magalhães (jovem do
responsáveis pela formação das represas. Projeto).

24
Mutirão
Durante a manhã de um sábado ensolarado,
cerca de 40 pessoas participaram do mutirão.

de Limpeza
Além da limpeza do entorno do córrego, houve
uma oficina de terrários, onde cada participan-
te pôde criar o seu em garrafas pet e levar para

de Rios casa. A oficina teve como objetivo sensibilizar


a população sobre as dinâmicas das águas, das
florestas e do planeta como um todo.
Por fim, o DSP foi uma importante ferramenta
do projeto, entretanto, sua função foi essen-

O
s jovens do projeto organizaram o cialmente subsidiária, já que a “ParticipAção”
Mutirão de Limpeza do Ribeirão Ja- como fim democrático em si, o enfrentamen-
guaré como atividade do DSP. Esta to de silêncios e silenciamentos no processo
ação fez parte do dia Mundial de Limpeza de participativo, a delimitação do campo socio-
Rios e Praias como estratégia de mobilização e ambiental, a conceituação de problema e pro-
sensibilização para a criação do Parque Linear blemática, dentre outros, foram os grandes
junto aos moradores do entorno do córrego. objetivos desta etapa.

O que são terrários? Há cerca de 150 anos, o médico inglês Nathaniel Ward resolveu colocar algumas pupas
de borboletas junto a um pouco de terra, dentro de uma caixa de vidro fechada para observar a metamorfose desses insetos.
Mas, para sua surpresa, o que ele observou foi o desenvolvimento de esporos e sementes, dando origem a plantas que sobre-
viveram naquele local, mesmo sem qualquer cuidado de sua parte. A partir deste incidente, a manutenção de espécies em
recipientes fechados popularizou-se e, atualmente, esse sistema natural em escala reduzida é chamado de terrário. O terrário
refere-se a pequenas estufas em que se recriam as condições de um ambiente tropical, ou seja, umidade e temperatura altas
e constantes, possibilitando o cultivo de plantas tropicais e subtropicais. É possível observar, por meio do terrário, o ciclo da
água através da transpiração das folhas e da evaporação que se condensa sobre as paredes de vidro, de onde escorrem de
volta para a terra sendo novamente absorvidas pelas plantas. Podem ter variados tamanhos e serem feitos de diversos mate-
riais; são comuns terrários de madeira, rede metálica, acrílico, pvc e etc. Possuem sempre pelo menos uma de suas paredes
feita com algum material transparente, geralmente vidro ou acrílico, para facilitar a visão do interior. Normalmente contém
pedras, carvão, terra e plantas que permitem observar o comportamento dos seres vivos no mundo natural.

25
Caracterização décadas seguintes, atraiu centenas de fábri-
cas, tornando-se um dos distritos mais indus-

da Área – trializados da cidade.


O principal rio que compõe o distrito de

A sub bacia Raposo Tavares é o Rio Jaguaré. Contudo,


o mesmo também denomina a microbacia

do Ribeirão em que nós moramos. Desde sua nascente,


o ribeirão compõe junto a tantos outros cór-

Jaguaré regos, a Bacia Hidrográfica do Rio Jaguaré


que desagua no Rio Pinheiros. É possível
Autoria: grupo de jovens conhecer esse caminho seguindo a Avenida
do projeto Engenheiro Heitor Antônio Eiras Garcia, a
partir do supermercado Clímax, para obser-
var algumas das nascentes que deságuam no

N
ós, do grupo de jovens do projeto: Ribeirão Jaguaré.
Nascentes do Ribeirão Jaguaré nos A Bacia do Jaguaré foi uma das muitas áreas
reunimos para informá-los e ajudá-los a rurais situadas além dos rios Tietê e Pinheiros
situar- se com relação à caracterização da loca- cuja ocupação e exploração só se iniciou após
lidade do distrito que abrange o córrego Jagua- o expressivo crescimento do parque industrial
ré. Após realizar o Diagnóstico Socioambiental paulistano e da explosão demográfica a que a
Participativo – DSP, elaboramos coletivamente cidade assistiu a partir das primeiras décadas
o texto que segue e acreditamos que a partir do século 20.
deste breve resumo, o leitor poderá conhecer Os mesmos bairros que abrangem o Ribeirão
melhor a nossa realidade. Sejam bem vindos! Jaguaré e consequentemente fazem parte des-

A Sub-bacia do Ribeirão Jaguaré encontra-se


na região Oeste da cidade, na Subprefeitura
do Butantã, mais precisamente no Distrito de
Raposo Tavares, região denominada Oeste
Extremo. No distrito, existem duas áreas in-
dustriais e comerciais, no Jaguaré e ao longo
da Rodovia Raposo Tavares, entremeados
por uma grande mancha residencial, onde a
ocupação de casas e prédios se mesclam a
diferentes usos do território e pequenos nú-
cleos comerciais. De certa forma, o distrito
apresenta grande diversidade de usos apesar
de serem espacialmente concentrados.
O distrito foi projetado e construído pelo
engenheiro Henrique Dumont Villares em
1935. Ele dividiu a região em áreas residen-
ciais, comerciais e industriais, e incentivou sua
ocupação, consolidada após a construção da
ponte do Jaguaré, sobre o rio Pinheiros. Nas
26
te projeto, em conjunto com outros bairros poso Tavares, Conjunto Promorar, Raposo
compõem a microbacia mapeada. Estes mes- Tavares, Jardim Batalha, Jardim Boa Vista,
mos bairros, presentes no projeto, possuem Jardim Cambará, Jardim Cláudia, Jardim das
alguns aspectos positivos, como: fácil acesso, Esmeraldas, Jardim Dracena, Jardim Gilda
escolas bem estruturadas, ETECs, comércios, Maria, Jardim Guaraú, Jardim Lúcia, Jardim
diversificados tipos de transportes públicos, Lúcio de Castro, Jardim Luiza, Jardim Maria
etc. Mas, como todo bairro, estes também Augusta, Jardim Monte Alegre, Jardim Monte
possuem aspectos negativos: áreas de lazer Belo, Jardim Raposo Tavares, Jardim Rubini,
inadequadas para uso, condições inadequa- jardim Rúbio, Parque Ipê, Vila Maria Augusta,
das de moradia, descarte de esgoto a céu Vila Borges, Jardim Rosa Maria.
aberto e no rio, ausência de equipamentos A partir das observações em campo, realiza-
culturais, etc. mos também um breve levantamento de fontes
A seguir, os bairros que abrangem o DSP da oficiais sobre o distrito de Raposo Tavares.
microbacia do Ribeirão Jaguaré que em con-
junto com outros bairros compõem o distrito: 1. População - Dados demográficos do
• COHAB Educandário; Distrito de Raposo Tavares segundo o Censo
• Jardim Amaralina; de 2010: o distrito era o 47° mais populoso da
• Jardim Arpoador; cidade de São Paulo com uma população de
• Jardim Educandário; 96.914 habitantes.
• Jardim João XXIII; Área geográfica total: 12,30 km²
• Jardim Paulo VI; População total: 100.743 habitantes
• Jardim São Jorge; População de 0 a 9 anos: 14.923 habitantes
• Jardim Uirapuru. População de 10 a 14 anos: 8.343 habitantes
Outros bairros componentes: COHAB Ra- População de 15 a 19 anos: 7.996 habitantes
População de 20 a 29 anos: 18.923 habitantes
População de 30 a 59 anos: 41.417 habitantes
População com 60 anos ou mais: 9.140 ha-
bitantes.
Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística) - Censos Demográficos / SMDU/
Dipro - Retroestimativas e Projeções 2011

2. Habitação
Na região existem 04 Zonas Especiais de In-
teresse Social – ZEIS = área que contém des-
tinação obrigatória de parte da área construída
computável para Habitação de Interesse Social
(HIS) e Habitação de Mercado Popular (HMP).
01 Jardim Arpoardor
02 Uirapuru
01 Educandário
No Jaguaré encontra-se a Vila Nova Jaguaré,
maior favela da cidade em área contínua, ocu-
pando o Morro do Sabão.
27
3. Abastecimento de água região é atendida pelos serviços de coleta de
O abastecimento de água na região cobre resíduos da prefeitura, mas ainda não recebe
boa parte da população, no entanto, existem a Coleta Seletiva. Outro fator importante é a
muitas áreas ainda descobertas e em condi- ausência de lixeiras nas ruas, desta forma, o
ções precárias de uso. Principalmente nas rio novamente passa a ser um local de despe-
regiões onde encontram-se moradias em jo, e isso é um dos tantos fatores degradantes
condições inadequadas e de difícil acesso do rio.
por parte da rede pública.
6. Pontos de lazer
4. Saneamento Os principais locais de acesso a atividades de
Em parte, o território tem coletores de es- lazer e cultura na região são o Educandário
goto, porém ainda é insuficiente em relação Dom Duarte (Liga Solidária) e o CEU Uira-
a demanda local, ainda é comum encontrar puru. Não há em toda a microbacia nenhum
despejo de esgoto diretamente nos córregos equipamento público cultural como: salas
em vários locais. A demanda por tratamento de cinema, museus, salas de teatro, espaços
de esgoto é antiga por parte da população para oficinas culturais e casas de cultura.
local, e agora é parte também do Plano de
Recuperação e instalação de coletores tron- Por fim, para nós o principal desafio é estabe-
co da SABESP. lecer um diálogo permanente com a socie-
dade em geral e com o poder público, e que
5. Coleta de lixo seja bom, frutífero e fortalecedor para todas
Pelos bairros existem inúmeros locais de as partes envolvidas com o processo de cria-
despejo de resíduos de forma inadequada. A ção do Parque Linear Nascentes do Jaguaré.
28
Conclusão
de uso comum. Desta forma, o Parque Line-
ar Nascentes do Jaguaré só terá sentido se
houver a total coleta e tratamento dos esgo-
tos gerados, o efetivo trabalho de coleta e
A água de boa destinação adequada dos resíduos sólidos, a
qualidade é como recuperação da área de várzea do ribeirão, a
implantação de instalações esportivas, cultu-
a saúde ou a rais e recreativas no seu entorno.
Diante das dificuldades que são encontradas
liberdade: para que as ações do poder público sejam
integradas e complementares, esse desafio
só tem valor torna-se ainda maior quando é necessário
quando acaba. envolver, além de diferentes secretarias den-
tro de um mesmo governo, diversos níveis de
governos, como no caso, o municipal, com do-
(Guimarães Rosa)
tação de toda infraestrutura urbana, como ha-
bitação, calçamento, arruamento, iluminação
pública, dentre outras, e o estadual, com sane-

A
presentar novos conceitos ligados à amento básico (no caso, a cargo da SABESP).
temática socioambiental, principal- Portanto, o entendimento que tudo isso só
mente sobre esse recurso vital que terá sentido se houver diálogo com a popula-
é a água, é algo fundamental para a gestão ção local e uma forte integração com a políti-
e cuidado com nossos recursos hídricos e as ca habitacional municipal, sem remoções de
Bacias Hidrográficas. Apesar do Brasil ser pessoas para áreas longínquas da metrópole
um país privilegiado com cerca de 13% de e sim, que as pessoas que hoje vivem na área
toda água doce disponível para consumo hu- usufruam num futuro próximo de todos os
mano do planeta, a distribuição espacial não benefícios que sejam gerados pela constru-
equivale a distribuição da população em nos- ção do Parque Linear.
so território. Tão desigual é essa distribuição, Neste sentido, convidar jovens a se engaja-
que o município de São Paulo, o mais rico do rem nessa temática foi uma tarefa desafia-
país, é o que sofre com menor disponibilidade dora e ao mesmo tempo extremamente gra-
de água por habitante, comparado as cida- tificante, pois quando há sensibilização, eles
des do semiárido nordestino, local que logo utilizam de toda energia inerente a essa fase
nos vem a mente quando pensamos em falta da vida para lutar por aquilo que acreditam,
d´água no Brasil. Portanto, sensibilizar e en- nesse trabalho, especificamente, pela me-
gajar a sociedade para cuidar dos ribeirões, lhoria do rio de nossa “aldeia”.
rios e represas que correm por São Paulo, Sendo assim, o projeto Parque Linear Nas-
além de desejável, é essencial, pois trata-se centes do Ribeirão Jaguaré: Formação do
de algo cuja responsabilidade é comparti- Grupo Comunitário de Educação Ambiental
lhada entre governos, empresas e cidadãos. atingiu seu objetivo de engajar e mobilizar
Entender que a sinergia de ações do poder jovens multiplicadores do conhecimento ad-
público, com ações integradas e comple- quirido (curso teórico) e gerado (Diagnós-
mentares, são fundamentais para o êxito da tico Socioambiental Participativo). Durante
mobilização de criação de um equipamento o tempo de duração do projeto, os jovens
29
puderam ter outra visão do local em que vi- um convite à percepção da realidade em sua
vem e se relacionarem com diversos atores totalidade, integralidade e transversalidade
locais, sejam de órgãos públicos ou da pró- nas ações e reflexões.
pria comunidade. Também tomaram contato Com este projeto, reforçamos o entendi-
com o processo de tomada de decisões e de mento de que o ambiente é educador, e
como a sociedade engajada e mobilizada pensar-agir no ambiente é a fonte original
consegue ganhos significativos em suas rei- do saber humano, fonte da cultura, assim
vindicações. como o processo de socialização. E a socia-
Podemos então dizer que após estes 12 meses lização entre os atores/autores do território,
de projeto, os jovens passaram a pensar no seu pautados pelo ambiente, é extremamente
lugar de forma diferente, como um todo, cons- transformadora. Por fim, para a equipe de
truindo seu caminho para sua perspectiva de educadores, o projeto propiciou momentos
qualidade ambiental e de vida. Um processo riquíssimos de aprendizagem e profundas
ambientalizado de territorialização que apre- reflexões, afinal educador não é só aquele
sentou outros recortes geográficos, como o que ensina, mas aquele que também sabe
da Bacia Hidrográfica, configurando-se como aprender com os educandos.

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