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PODERES DO EMPREGADOR
Adelino Ernesto
Adelinoernesto3@gmail.com
PhD. Baptista Isseque
Resumo
Noção de poder se identifica com a de domínio de facto, força, potência, mas também com a de prerrogativa
jurídica. O poder disciplinar consiste na faculdade de aplicar sanções correctivas aos agentes que, pelo seu
procedimento, prejudiquem o melhor funcionamento dos serviços. O poder disciplinar do empregador é uma
faculdade que lhe é atribuído por lei. O empregador tem poder disciplinar sobre o trabalhador que se encontre ao
seu serviço. A sanção disciplinar é uma medida administrativa que tem em vista reprimir o comportamento
negativo do trabalhador. O funcionário ou agente do Estado que não cumpre ou que falte aos seus deveres, abuse
das suas funções ou de qualquer forma prejudique a Administração Pública está sujeito a procedimento
disciplinar. A sanção de repreensão pública é em geral aplicada às infracções que revelam falta de interesse pelo
serviço A sanção de despromoção é aplicável ao funcionário do Estado que revele incompetência profissional
culposa de que resultem prejuízos para o Estado ou para terceiros e nos casos de violação de deveres
profissionais fundamentais e negligência grave. A infracção considera-se particularmente grave sempre que a sua
prática seja reiterada, intencional e provoque prejuízo ao Estado. O direito de instaurar o processo disciplinar
prescreve passados 3 anos sobre a data em que a infracção tiver sido cometida. Nenhuma sanção disciplinar pode
ser aplicada sem a audição prévia do trabalhador.
1. Introdução
Quando entramos no universo das relações de trabalho, deparamo-nos com uma série de
dinâmicas e normativas que regem a actuação do empregador. Nesse sentido, torna-se
imprescindível analisar os poderes conferidos a esse agente, em especial no que tange ao
exercício do poder disciplinar e à aplicação de sanções disciplinares. A compreensão da
graduação das sanções e das infracções disciplinares se revela como um elemento-chave para
a análise da complexa teia que envolve as relações laborais. Ao longo deste estudo,
buscaremos desvendar os meandros desses aspectos, visando lançar luz sobre a intersecção
entre os poderes do empregador e o cotidiano laboral.
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2. QUADRO TEÓRICO
Em sentido geral, a noção de poder se identifica com a de domínio de facto, força, potência,
mas também com a de prerrogativa jurídica. Todavia, não se confunde com faculdade,
entendida como a possibilidade jurídica de praticar ou não determinado acto. (Cornu, 2007).
O poder se expressa por meio do direito. Nas sociedades modernas, é pelo direito que o poder
se define, se justifica, se estabiliza, se institucionaliza. O direito legitima relações e as torna
aceitáveis. Neste particular, merece restrições a definição de Max Weber, que, pela óptica
voluntarista, encampa o ponto de vista do detentor do poder, vale dizer, daquele que detém
capacidade ou aptidão para realizar seus projectos, levando outras pessoas a agir na
conformidade de sua vontade ou seus desígnios. Para Max Weber, poder significa “toda
probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências,
seja qual for o fundamento dessa probabilidade”.
De acordo com Caetano, (2009), afirma que se a competência para aplicar sanções pertence a
um superior hierárquico, temos, assim, a disciplina hierarquizada. Isto quer dizer que, quando
falamos de hierarquização da disciplina, significa que será necessário distinguir o poder
hierárquico íntegro que faculta ao superior hierárquico decidir por si, consoante o seu critério,
não passível de recurso, e o poder hierárquico condicionado em que existe uma necessidade
de um processo formal, recorrendo a audiência obrigatória antecipada de um órgão colegial
consultivo, permitindo assim a impugnação contenciosa para distinguir a legalidade da
decisão.
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O poder disciplinar do empregador é uma faculdade que lhe é atribuído por lei. Compreende o
poder de qualificar comportamentos com infracções, instaurar processos disciplinares e de
punir o trabalhador que viola os seus deveres profissionais.
O poder disciplinar tem como fundamento a relação de trabalho existente entre o empregador
e o trabalhador, havendo ou não contrato de trabalho. Ou seja, mesmo em caso de não haver
contrato de trabalho escrito, o empregador tem o poder de instaurar processo disciplinar
contra o trabalhador que lhe presta trabalho subordinado. Isso vem escrito no Artigo 63, n.°1 e
2 da Lei do Trabalho:
1. O empregador tem poder disciplinar sobre o trabalhador que se encontre ao seu serviço,
podendo aplicar-lhe as sanções disciplinares previstas no artigo 64.
2. O poder disciplinar pode ser exercido directamente pelo empregador ou pelo superior
hierárquico do trabalhador, nos termos por aquele, estabelecidos.
A lei do trabalho não nos diz o que é uma infracção disciplinar, somente indica as sanções
disciplinares que o empregador, dentro dos limites da lei, pode aplicar aos seus trabalhadores
– Artigo, n.°1, 2 e 3 da Lei do Trabalho.
No Artigo 108 da Lei n.º 4/2022 de 11 de Fevereiro no seu numero 1, 2 e 3, define que:
1. O funcionário ou agente do Estado que não cumpre ou que falte aos seus deveres, abuse das
suas funções ou de qualquer forma prejudique a Administração Pública está sujeito a
procedimento disciplinar ou à aplicação de sanções disciplinares, sem prejuízo de
procedimento criminal ou cível.
3. A falta de cumprimento dos deveres por acção ou omissão dolosa ou culposa é punível
ainda que não tenha resultado prejuízo ao serviço.
1. O empregador pode aplicar, dentro dos limites legais, as seguintes sanções disciplinares:
a) admoestação verbal;
b) repreensão registada;
c) suspensão do trabalho com perda de remuneração até ao limite de 10 dias por cada
infracção e de 30 dias, em cada ano civil;
f) despedimento.
2. Não é lícito aplicar quaisquer outras sanções disciplinares, nem agravar as previstas no
número 1 do presente artigo, no instrumento de regulamentação colectiva, regulamento
interno ou contrato de trabalho.
De acordo com a Lei n.º 4/2022 de 11 de Fevereiro, no Artigo 111 que prevê os tipo de
sanções disciplinares, no seu nº 1 define que as sanções disciplinares aplicáveis ao
funcionário do Estado são as seguintes:
a) advertência;
b) repreensão pública;
c) multa;
d) despromoção;
e) demissão; e
f) expulsão.
g) falte sem justificação aceitável ao serviço até 30 dias seguidos ou 45 dias interpolados
durante o ano civil;
h) se sirva das suas funções ou invoque o nome do órgão, estrutura, dirigente ou superior
hierárquico para obter vantagens, exercer pressão ou vingança;
i) não aceite exercer funções em qualquer lugar para onde seja designado;
j) pratique nepotismo, favoritismo, patrimonialismo e clientelismo na admissão, promoção ou
movimentação de pessoal;
k) pratique actos administrativos que privilegiem interesses estranhos ao Estado em
detrimento da eficácia dos serviços;
l) não atende o cidadão com civismo e respeito;
m) pratique actos ou omissões que, de forma determinante, concorram para o início de
actividades de agentes cujo ingresso não tenha sido precedido de publicação em Boletim da
República, salvo os casos previstos na Lei;
n) mau atendimento ao público.
A sanção de multa consagrado no Artigo 117 da Lei n.º 4/2022 de 11 de Fevereiro define que:
1. A sanção de demissão é aplicável nos seguintes casos:
a) procedimento atentatório ao prestígio e dignidade da função; e
b) incompetência profissional grave, designadamente ignorância indesculpável, inaptidão,
erro indesculpável, bem como reiterado incumprimento de leis, regulamentos, despachos e
instruções superiores.
2. É, nomeadamente, aplicável ao funcionário que:
a) reiteradamente não cumpra exacta, pronta e lealmente as ordens e instruções dos seus
superiores hierárquicos relativas aos serviços;
b) divulgue ou permita a divulgação de informação classificada que conheça em razão do
serviço;
c) pratique actos administrativos ilegais que incorram prejuízos ao Estado;
d) abandone injustificadamente o local ou sector de trabalho, recusando enfrentar riscos ou
dificuldades resultantes do próprio trabalho ou local;
e) negligencie a missão que lhe tiver sido confiada em País estrangeiro ou não regresse logo
após o cumprimento da missão;
f) falte ao serviço sem justificação aceitável até 45 dias seguidos ou 60 dias interpolados,
durante o mesmo ano civil;
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g) viole regras relativas ao conflito de interesses, quando se trate de funcionário ou agente que
não exerça função de direcção, chefia ou confiança;
h) pratique actos ou omissões que, de forma determinante, concorram para o início de
actividades de funcionário ou agente cujo ingresso não tenha sido precedido de visto do
tribunal administrativo competente, salvo os casos previstos na lei; e
i) pratique actos ou omissões que, de forma determinante, concorram para o exercício de
actividades ou funções sem o visto do tribunal administrativo competente.
De acordo com o Artigo 119 da Lei n.º 4/2022 de 11 de Fevereiro, o nº 1 e 2 consagra que:
1. Para efeitos de graduação das medidas disciplinares deve-se ponderar a gravidade da
infracção praticada, o valor do prejuízo causado e, em especial, as circunstâncias em que a
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Na Lei n.º 13/2023 de 25 de Agosto, versa também sobre a graduação das medidas
disciplinares uma vez que esta lei de trabalho no seu Artigo 65 (Graduação das sanções
disciplinares) consagra:
1. A aplicação das sanções disciplinares, previstas nas alíneas c) à f) do número 1 do artigo
64, deve ser obrigatoriamente fundamentada, podendo a decisão ser impugnada no prazo de
seis meses.
2. A sanção disciplinar deve ser proporcional à gravidade da infracção cometida e atender ao
grau de culpabilidade do infractor, à conduta profissional do trabalhador e, em especial, às
circunstâncias em que se produziram os factos.
3. Pela mesma infracção disciplinar não pode ser aplicada mais do que uma sanção
disciplinar.
4. Não é considerada como mais do que uma sanção disciplinar a aplicação de uma sanção
acompanhada do dever de reparação dos prejuízos causados pela conduta dolosa ou culposa
do trabalhador.
5. A infracção disciplinar considera-se particularmente grave sempre que a sua prática seja
repetida, intencional, comprometa o cumprimento da actividade adstrita ao trabalhador, e
provoque prejuízo ao empregador ou à economia nacional ou por qualquer outra forma, ponha
em causa a subsistência da relação jurídica de trabalho.
Procedimento disciplinar está plasmado no artigo 110 da Lei n.º 4/2022 de 11 de Fevereiro do
EGFAE e também encontramos plasmado no Artigo 66 da Lei n.º 13/2023 de 25 de Agosto,
versa sobre Prescrição do procedimento disciplinar.
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3. Nenhuma sanção disciplinar pode ser aplicada sem a audição prévia do trabalhador.
4. Sem prejuízo do recurso aos meios judiciais ou extrajudiciais, o trabalhador pode reclamar
junto da entidade que tomou a decisão ou recorrer para o superior hierárquico, suspendendo o
prazo, nos termos da alínea a) do número 4 do artigo 57 da presente Lei.
5. A execução da sanção disciplinar deve ter lugar nos 90 dias subsequentes à decisão
proferida no processo disciplinar, excepto a sanção de despedimento cujo cumprimento é
imediato após a comunicação da decisão.
Lei n.º 13/2023 de 25 de Agosto no Artigo 67, no seu nº 1 nas alíneas a) até o):
Considera-se infracção disciplinar todo o comportamento culposo do trabalhador que viole os
seus deveres profissionais, nomeadamente:
a) o incumprimento do horário de trabalho ou das tarefas atribuídas;
b) a falta de comparência ao trabalho, sem justificação válida;
c) a ausência do posto ou local de trabalho no período de trabalho, sem a devida autorização;
d) a desobediência a ordens legais ou instruções decorrentes do contrato de trabalho e das
normas que o regem;
e) a falta de respeito aos superiores hierárquicos, colegas de trabalho e terceiros ou do
superior hierárquico ao seu subordinado no local de trabalho ou no desempenho das suas
funções;
f) a injúria, ofensa corporal, os maus tratos ou ameaça a outrem no local de trabalho ou no
desempenho das suas funções;
g) a quebra culposa da produtividade do trabalho;
h) o abuso de funções ou a invocação do cargo para a obtenção de vantagens ilícitas;
i) a quebra de sigilo profissional ou de segredos da produção ou dos serviços;
j) o desvio, para fins pessoais ou alheios ao serviço, de equipamentos, bens, serviços e outros
meios de trabalho ou a utilização indevida do local de trabalho;
k) a danificação, destruição ou deterioração culposa de bens do local de trabalho;
l) a falta de austeridade, o desperdício ou esbanjamento dos meios materiais e financeiros do
local de trabalho;
m) a embriaguez ou o estado de drogado e o consumo ou posse de estupefacientes ou
substâncias psicotrópicas no posto ou local de trabalho ou no desempenho das suas funções;
n) o furto, roubo, abuso de confiança, burla e outras fraudes praticadas no local de trabalho ou
durante a realização do trabalho;
o) o abandono do lugar.
No nº 3 do mesmo artigo consagra que quando a conduta referida no número 1 do presente
artigo seja praticada pelo empregador ou pelo seu mandatário, confere ao trabalhador
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3. Conclusão
O poder disciplinar consiste na faculdade de aplicar sanções correctivas aos agentes que, pelo
seu procedimento, prejudiquem o melhor funcionamento dos serviços.
O poder disciplinar do empregador é uma faculdade que lhe é atribuído por lei. O empregador
tem poder disciplinar sobre o trabalhador que se encontre ao seu serviço. A sanção disciplinar
é uma medida administrativa que tem em vista reprimir o comportamento negativo do
trabalhador. O funcionário ou agente do Estado que não cumpre ou que falte aos seus deveres,
abuse das suas funções ou de qualquer forma prejudique a Administração Pública está sujeito
a procedimento disciplinar. A sanção de repreensão pública é em geral aplicada às infracções
que revelam falta de interesse pelo serviço A sanção de despromoção é aplicável ao
funcionário do Estado que revele incompetência profissional culposa de que resultem
prejuízos para o Estado ou para terceiros e nos casos de violação de deveres profissionais
fundamentais e negligência grave. A infracção considera-se particularmente grave sempre que
a sua prática seja reiterada, intencional e provoque prejuízo ao Estado. O direito de instaurar o
processo disciplinar prescreve passados 3 anos sobre a data em que a infracção tiver sido
cometida. Nenhuma sanção disciplinar pode ser aplicada sem a audição prévia do trabalhador.
Não constitui infracção disciplinar, susceptível de instrução de processo disciplinar ou a
aplicação de sanção disciplinar, a desobediência do trabalhador a uma ordem ilegal ou que
contraria os seus direitos e garantias legais ou convencionais.
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4. Referencias Bibliográficas
Caetano, Marcelo (2009). Manual de Direito Administrativo. Tomo II, Coimbra Ed. p. 823 – 835
Cornu, Gérard. Pouvoir. In: Vocabulaire juridique. 8. ed. Paris: PUF, 2007. p. 701.