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PODERES DO EMPREGADOR

Adelino Ernesto
Adelinoernesto3@gmail.com
PhD. Baptista Isseque

Academia Militar Marechal Samora Machel


Mestrado em Gestão e Desenvolvimento de Recursos Humanos
Modulo: Direito, Regulação e Mercado de Trabalho

Resumo
Noção de poder se identifica com a de domínio de facto, força, potência, mas também com a de prerrogativa
jurídica. O poder disciplinar consiste na faculdade de aplicar sanções correctivas aos agentes que, pelo seu
procedimento, prejudiquem o melhor funcionamento dos serviços. O poder disciplinar do empregador é uma
faculdade que lhe é atribuído por lei. O empregador tem poder disciplinar sobre o trabalhador que se encontre ao
seu serviço. A sanção disciplinar é uma medida administrativa que tem em vista reprimir o comportamento
negativo do trabalhador. O funcionário ou agente do Estado que não cumpre ou que falte aos seus deveres, abuse
das suas funções ou de qualquer forma prejudique a Administração Pública está sujeito a procedimento
disciplinar. A sanção de repreensão pública é em geral aplicada às infracções que revelam falta de interesse pelo
serviço A sanção de despromoção é aplicável ao funcionário do Estado que revele incompetência profissional
culposa de que resultem prejuízos para o Estado ou para terceiros e nos casos de violação de deveres
profissionais fundamentais e negligência grave. A infracção considera-se particularmente grave sempre que a sua
prática seja reiterada, intencional e provoque prejuízo ao Estado. O direito de instaurar o processo disciplinar
prescreve passados 3 anos sobre a data em que a infracção tiver sido cometida. Nenhuma sanção disciplinar pode
ser aplicada sem a audição prévia do trabalhador.

Palavras-Chave: Poder de empregador; poder disciplinar; sanções disciplinar.

1. Introdução

Quando entramos no universo das relações de trabalho, deparamo-nos com uma série de
dinâmicas e normativas que regem a actuação do empregador. Nesse sentido, torna-se
imprescindível analisar os poderes conferidos a esse agente, em especial no que tange ao
exercício do poder disciplinar e à aplicação de sanções disciplinares. A compreensão da
graduação das sanções e das infracções disciplinares se revela como um elemento-chave para
a análise da complexa teia que envolve as relações laborais. Ao longo deste estudo,
buscaremos desvendar os meandros desses aspectos, visando lançar luz sobre a intersecção
entre os poderes do empregador e o cotidiano laboral.
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2. QUADRO TEÓRICO

2.1. PODERES DO EMPREGADOR

Em sentido geral, a noção de poder se identifica com a de domínio de facto, força, potência,
mas também com a de prerrogativa jurídica. Todavia, não se confunde com faculdade,
entendida como a possibilidade jurídica de praticar ou não determinado acto. (Cornu, 2007).

Do ponto de vista estritamente jurídico, no campo do direito privado, o Vocabulário Jurídico,


de Gérard Cornu, apresenta para “poder” cinco diferentes definições, das quais se destaca a
quarta: “prerrogativa finalista que seu titular recebeu com a missão de exercer no interesse
pelo menos parcialmente distinto do seu e cujo exercício se submete ao controle judicial
(quando o poder é desviado do seu fim). Ex.: poderes dos titulares da autoridade paterna”.
Excluída a referência ao direito de família, esta definição se aplica aos poderes do
empregador, valendo salientar a nota de que é exercido em interesse pelo menos parcialmente
distinto do de seu titular.

O poder se expressa por meio do direito. Nas sociedades modernas, é pelo direito que o poder
se define, se justifica, se estabiliza, se institucionaliza. O direito legitima relações e as torna
aceitáveis. Neste particular, merece restrições a definição de Max Weber, que, pela óptica
voluntarista, encampa o ponto de vista do detentor do poder, vale dizer, daquele que detém
capacidade ou aptidão para realizar seus projectos, levando outras pessoas a agir na
conformidade de sua vontade ou seus desígnios. Para Max Weber, poder significa “toda
probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências,
seja qual for o fundamento dessa probabilidade”.

Na execução do contrato individual de trabalho, o empregador exerce poderes em face do


empregado. Estes poderes são, de acordo com a corrente doutrinária majoritária, quatro:
poderes, sanções disciplinares, graduações das sanções e infracções disciplinares, como é o
caso da Lei n.º 13/2023 de 25 de Agosto Artigo 61 e 62 consagra que: Dentro dos limites
decorrentes do contrato e das normas que o regem, compete ao empregador ou à pessoa por
ele designada, fixar, dirigir, regulamentar e disciplinar os termos e as condições em que a
actividade deve ser prestada.
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Artigo 62 (Poder regulamentar)

1. O empregador pode elaborar regulamentos internos de trabalho, contendo normas de


organização e disciplina do trabalho, os regimes de apoio social aos trabalhadores, a utilização
de instalações e equipamentos da empresa, bem como as referentes às actividades culturais,
desportivas e recreativas, sendo, obrigatório para os médios e grandes empregadores.
2. A entrada em vigor de regulamentos internos de trabalho, que tenham por objecto a
organização e disciplina do trabalho é, obrigatoriamente, precedida de consulta ao comité
sindical da empresa ou, na falta deste, ao órgão sindical competente e estão sujeitos à
comunicação ao órgão competente da administração do trabalho.
3. A entrada em vigor de regulamento interno de trabalho que estabeleça novas condições de
trabalho é tida como proposta de adesão em relação aos trabalhadores admitidos em data
anterior à publicação dos mesmos.
4. Os regulamentos internos de trabalho devem ser divulgados no local de trabalho, de forma
que os trabalhadores tenham conhecimento adequado do respectivo conteúdo.

2.2. Poder disciplinar

Tradicionalmente, o poder disciplinar consiste na faculdade de aplicar sanções correctivas aos


agentes que, pelo seu procedimento, prejudiquem o melhor funcionamento dos serviços,
expulsando-os se necessário for. Segundo o Caetano, (2009), o poder disciplinar desdobra-se
em duas faculdades, a saber: a primeira ocupa-se com acção disciplinar, ou seja, é relativa à
competência para exercer o referente poder, por isso é entendida como infracções, para efeito
de aplicação da pena, diferenciando-se do poder de inspecção.

De acordo com Caetano, (2009), afirma que se a competência para aplicar sanções pertence a
um superior hierárquico, temos, assim, a disciplina hierarquizada. Isto quer dizer que, quando
falamos de hierarquização da disciplina, significa que será necessário distinguir o poder
hierárquico íntegro que faculta ao superior hierárquico decidir por si, consoante o seu critério,
não passível de recurso, e o poder hierárquico condicionado em que existe uma necessidade
de um processo formal, recorrendo a audiência obrigatória antecipada de um órgão colegial
consultivo, permitindo assim a impugnação contenciosa para distinguir a legalidade da
decisão.
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O poder disciplinar do empregador é uma faculdade que lhe é atribuído por lei. Compreende o
poder de qualificar comportamentos com infracções, instaurar processos disciplinares e de
punir o trabalhador que viola os seus deveres profissionais.

O poder disciplinar tem como fundamento a relação de trabalho existente entre o empregador
e o trabalhador, havendo ou não contrato de trabalho. Ou seja, mesmo em caso de não haver
contrato de trabalho escrito, o empregador tem o poder de instaurar processo disciplinar
contra o trabalhador que lhe presta trabalho subordinado. Isso vem escrito no Artigo 63, n.°1 e
2 da Lei do Trabalho:

1. O empregador tem poder disciplinar sobre o trabalhador que se encontre ao seu serviço,
podendo aplicar-lhe as sanções disciplinares previstas no artigo 64.
2. O poder disciplinar pode ser exercido directamente pelo empregador ou pelo superior
hierárquico do trabalhador, nos termos por aquele, estabelecidos.

2.3. Sanções disciplinares

A sanção disciplinar é uma medida administrativa que tem em vista reprimir o


comportamento negativo do trabalhador, mas também pretende educá-lo a não cometer novas
infracções disciplinares, bem como chamar atenção ao trabalhador e seus colegas para
evitarem a violação dos deveres profissionais.

A lei do trabalho não nos diz o que é uma infracção disciplinar, somente indica as sanções
disciplinares que o empregador, dentro dos limites da lei, pode aplicar aos seus trabalhadores
– Artigo, n.°1, 2 e 3 da Lei do Trabalho.

No Artigo 108 da Lei n.º 4/2022 de 11 de Fevereiro no seu numero 1, 2 e 3, define que:

1. O funcionário ou agente do Estado que não cumpre ou que falte aos seus deveres, abuse das
suas funções ou de qualquer forma prejudique a Administração Pública está sujeito a
procedimento disciplinar ou à aplicação de sanções disciplinares, sem prejuízo de
procedimento criminal ou cível.

2. A principal finalidade da sanção é a educação do funcionário ou agente do Estado para uma


adesão voluntária à disciplina e para o aumento da responsabilidade no desempenho da sua
função.
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3. A falta de cumprimento dos deveres por acção ou omissão dolosa ou culposa é punível
ainda que não tenha resultado prejuízo ao serviço.

Artigo 64 da Lei n.º 13/2023 de 25 de Agosto sobre Sanções disciplinares no número 1


consagra:

1. O empregador pode aplicar, dentro dos limites legais, as seguintes sanções disciplinares:

a) admoestação verbal;

b) repreensão registada;

c) suspensão do trabalho com perda de remuneração até ao limite de 10 dias por cada
infracção e de 30 dias, em cada ano civil;

d) multa até 20 dias de salário;

e) despromoção para a categoria profissional imediatamente inferior, por um período não


superior a um ano;

f) despedimento.

2. Não é lícito aplicar quaisquer outras sanções disciplinares, nem agravar as previstas no
número 1 do presente artigo, no instrumento de regulamentação colectiva, regulamento
interno ou contrato de trabalho.

3. Para além da finalidade de repressão da conduta do trabalhador, a aplicação das sanções


disciplinares visam dissuadir o cometimento de mais infracções no seio da empresa, a
educação do visado e a dos demais trabalhadores para o cumprimento voluntário dos seus
deveres.

4. A aplicação da sanção de despedimento não implica a perda dos direitos decorrentes da


inscrição do trabalhador no sistema de segurança social se, à data da cessação da relação
laboral, reunir os requisitos para receber os benefícios correspondentes a qualquer um dos
ramos do sistema.
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2.4. Os tipos de sanções disciplinares

De acordo com a Lei n.º 4/2022 de 11 de Fevereiro, no Artigo 111 que prevê os tipo de
sanções disciplinares, no seu nº 1 define que as sanções disciplinares aplicáveis ao
funcionário do Estado são as seguintes:
a) advertência;
b) repreensão pública;
c) multa;
d) despromoção;
e) demissão; e
f) expulsão.

ARTIGO 112 (Conteúdo das sanções disciplinares)

As sanções disciplinares consistem no seguinte:

a) Advertência - crítica formalmente feita ao infractor pelo respectivo superior hierárquico;

b) Repreensão pública - crítica feita ao infractor pelo respectivo superior hierárquico, na


presença dos funcionários ou agentes do Estado do serviço onde o infractor esteja afectado;

c) Multa - desconto de uma importância correspondente ao vencimento do funcionário ou


agente do Estado pelo mínimo de cinco e máximo de 90 dias, graduada conforme a gravidade
da infracção, que reverte para os cofres do Estado. O desconto em cada mês é efectuado nos
vencimentos do infractor, não podendo exceder um terço do seu vencimento;

d) Despromoção - descida para a classe ou categoria inferior no primeiro escalão da faixa


salarial pelo período de seis meses a dois anos;

e) Demissão - afastamento do infractor do aparelho do Estado, podendo ser readmitido


decorridos oito anos sobre a data do despacho punitivo, desde que cumulativamente:

i. haja vaga no quadro de pessoal;

ii. haja disponibilidade orçamental;

iii. seja aprovado em concurso; e

iv. se prove que através do seu comportamento se encontra reabilitado.


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f) Expulsão – afastamento do infractor do aparelho do Estado, podendo ser readmitido


decorridos doze anos sobre a data do despacho punitivo, desde cumulativamente:

i. haja vaga no quadro de pessoal;

ii. haja disponibilidade financeira; e

iii. se prove que através do seu comportamento se encontra reabilitado.

Artigo 113 (Advertência)


Consoante o que está disposto no Artigo 113 da Lei n.º 4/2022 de 11 de Fevereiro, a sanção
de advertência recai em faltas que não tragam prejuízo ou descrédito para os serviços ou para
terceiros.

Artigo 114 (Repreensão Pública)


1. A sanção de repreensão pública é em geral aplicada às infracções que revelam falta de
interesse pelo serviço.
2. É nomeadamente aplicável ao funcionário e ao agente do Estado que:
a) não cumpra exacta, pronta e lealmente as ordens e instruções legais dos seus superiores
hierárquicos, relativas aos serviços, desde que não resulte em descrédito ou prejuízo para os
serviços ou terceiros;
b) durante o mês, se ausente ou falte ao serviço até 24 horas de trabalho sem justa causa;
c) não acate as regras das instituições vigentes, ou não manifeste a deferência devida aos seus
símbolos e autoridades representativas;
d) sem motivo justificado, não participe nos actos e solenidades oficiais para que tenha sido
convocado;
e) assuma um comportamento indisciplinado nas relações de trabalho, se sanção mais grave
não couber;
f) deixe de prestar contas do seu trabalho ou não o analise criticamente desenvolvendo crítica
e autocrítica;
g) assuma um comportamento incorrecto na sua qualidade de cidadão;
h) falte ao dever de manter relações harmoniosas de trabalho e não crie um ambiente de
estima e respeito mútuo;
i) falte ao serviço sem justificação até cinco dias seguidos ou oito interpolados durante o ano
civil; e
j) não se apresente ao serviço limpo, asseado e aprumado.
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ARTIGO 115 (Multa)


A sanção de multa também, consagrado no Artigo 115 da Lei n.º 4/2022 de 11 de Fevereiro
define que:
1. A sanção de multa é aplicável ao funcionário e ao agente do Estado no caso de negligência
ou falta de zelo no cumprimento dos deveres.
2. É nomeadamente aplicável ao funcionário e ao agente do Estado que:
a) não zele pela conservação e manutenção dos bens do Estado que lhe estão confiados;
b) exerça outra função ou actividade remunerada sem prévia autorização;
c) esbanje ou permita esbanjamento, não usando racionalmente e com austeridade os meios
humanos, materiais e financeiros disponíveis;
d) retarde ou omita injustificadamente a resolução de um assunto ou a prática de um acto em
razão da sua função, ou ainda se recuse a fazê-lo;
e) guarde ou conserve de forma inconveniente livros, documentos e outro material a seu
cargo, violando instruções ou ordens superiores ou que não lhes dêem o devido destino;
f) falte ao serviço sem justificação até 15 dias seguidos ou interpolados durante o ano civil; e
g) não use com correcção o uniforme prescrito na Lei.

Artigo 116 (Despromoção)

1. A sanção de despromoção é aplicável ao funcionário do Estado que revele incompetência


profissional culposa de que resultem prejuízos para o Estado ou para terceiros e nos casos de
violação de deveres profissionais fundamentais e negligência grave.
2. Considera-se incompetência profissional culposa o exercício de forma não eficiente das
funções, com prejuízo ou criação de obstáculos ao processo e ritmo de trabalho, à eficiência e
relações de trabalho.
3. É nomeadamente aplicável ao funcionário do Estado que:
a) não respeite os superiores hierárquicos, tanto no serviço como fora dele;
b) tolere manifestações de tribalismo, regionalismo e racismo;
c) não se apresente com pontualidade, correcção, asseio e aprumo nos locais onde deva
comparecer por motivo de serviço;
d) se apresente em estado de embriaguez ou sob efeitos de substâncias psicotrópicas e
alucinogénias no local de trabalho, se pena mais grave não couber;
e) assedie moral, material ou sexualmente os seus colegas;
f) deixe de informar os dirigentes da prática ou tentativa de prática de qualquer acto contrário
à Constituição da República ou princípios definidos pelo Estado de que tenha conhecimento;
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g) falte sem justificação aceitável ao serviço até 30 dias seguidos ou 45 dias interpolados
durante o ano civil;
h) se sirva das suas funções ou invoque o nome do órgão, estrutura, dirigente ou superior
hierárquico para obter vantagens, exercer pressão ou vingança;
i) não aceite exercer funções em qualquer lugar para onde seja designado;
j) pratique nepotismo, favoritismo, patrimonialismo e clientelismo na admissão, promoção ou
movimentação de pessoal;
k) pratique actos administrativos que privilegiem interesses estranhos ao Estado em
detrimento da eficácia dos serviços;
l) não atende o cidadão com civismo e respeito;
m) pratique actos ou omissões que, de forma determinante, concorram para o início de
actividades de agentes cujo ingresso não tenha sido precedido de publicação em Boletim da
República, salvo os casos previstos na Lei;
n) mau atendimento ao público.

Artigo 117 (Demissão)

A sanção de multa consagrado no Artigo 117 da Lei n.º 4/2022 de 11 de Fevereiro define que:
1. A sanção de demissão é aplicável nos seguintes casos:
a) procedimento atentatório ao prestígio e dignidade da função; e
b) incompetência profissional grave, designadamente ignorância indesculpável, inaptidão,
erro indesculpável, bem como reiterado incumprimento de leis, regulamentos, despachos e
instruções superiores.
2. É, nomeadamente, aplicável ao funcionário que:
a) reiteradamente não cumpra exacta, pronta e lealmente as ordens e instruções dos seus
superiores hierárquicos relativas aos serviços;
b) divulgue ou permita a divulgação de informação classificada que conheça em razão do
serviço;
c) pratique actos administrativos ilegais que incorram prejuízos ao Estado;
d) abandone injustificadamente o local ou sector de trabalho, recusando enfrentar riscos ou
dificuldades resultantes do próprio trabalho ou local;
e) negligencie a missão que lhe tiver sido confiada em País estrangeiro ou não regresse logo
após o cumprimento da missão;
f) falte ao serviço sem justificação aceitável até 45 dias seguidos ou 60 dias interpolados,
durante o mesmo ano civil;
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g) viole regras relativas ao conflito de interesses, quando se trate de funcionário ou agente que
não exerça função de direcção, chefia ou confiança;
h) pratique actos ou omissões que, de forma determinante, concorram para o início de
actividades de funcionário ou agente cujo ingresso não tenha sido precedido de visto do
tribunal administrativo competente, salvo os casos previstos na lei; e
i) pratique actos ou omissões que, de forma determinante, concorram para o exercício de
actividades ou funções sem o visto do tribunal administrativo competente.

Artigo 118 (Expulsão)


A sanção de Expulsão, consagrado no Artigo 118 da Lei n.º 4/2022 de 11 de Fevereiro define
a sanção de expulsão é aplicável ao funcionário e agente do Estado que:
a) atente contra a unidade nacional;
b) atente contra o prestígio ou dignidade do Estado;
c) pratique cobranças ilícitas ou outros actos de corrupção;
d) agrida, injurie ou desrespeite gravemente qualquer cidadão ou funcionário ou agente no
local de serviço ou fora dele por assunto relacionado com o serviço;
e) incite o funcionário e agente do Estado à indisciplina, à desobediência às leis e ordens
legais superiores ou provoque o não cumprimento dos deveres inerentes à função pública;
f) viole o segredo profissional ou confidencialidade de que resultem prejuízos materiais ou
morais para o Estado ou para terceiros;
g) pratique ou tente praticar desvio de fundos ou bens do Estado;
h) se sirva das suas funções para solicitar ou receber dinheiro ou promessa de dinheiro ou
qualquer vantagem patrimonial, para praticar ou não praticar um acto que implique violação
dos deveres a seu cargo;
i) viole regras relativas ao conflito de interesses, quando se trate de funcionário ou agente que
exerça função de direcção, chefia e ou confiança;
j) falte ao serviço sem justificação aceitável por um período superior a 60 dias interpolados
durante o mesmo ano civil; e
k) abandono de lugar.

2.5. Graduação das sanções disciplinares

De acordo com o Artigo 119 da Lei n.º 4/2022 de 11 de Fevereiro, o nº 1 e 2 consagra que:
1. Para efeitos de graduação das medidas disciplinares deve-se ponderar a gravidade da
infracção praticada, o valor do prejuízo causado e, em especial, as circunstâncias em que a
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infracção foi cometida, o grau de culpabilidade e a conduta profissional do funcionário ou


agente do Estado.
2. A infracção considera-se particularmente grave sempre que a sua prática seja reiterada,
intencional e provoque prejuízo ao Estado ou à economia nacional ou, por qualquer forma,
ponha em causa a subsistência da relação do trabalho com o Estado.

Na Lei n.º 13/2023 de 25 de Agosto, versa também sobre a graduação das medidas
disciplinares uma vez que esta lei de trabalho no seu Artigo 65 (Graduação das sanções
disciplinares) consagra:
1. A aplicação das sanções disciplinares, previstas nas alíneas c) à f) do número 1 do artigo
64, deve ser obrigatoriamente fundamentada, podendo a decisão ser impugnada no prazo de
seis meses.
2. A sanção disciplinar deve ser proporcional à gravidade da infracção cometida e atender ao
grau de culpabilidade do infractor, à conduta profissional do trabalhador e, em especial, às
circunstâncias em que se produziram os factos.
3. Pela mesma infracção disciplinar não pode ser aplicada mais do que uma sanção
disciplinar.
4. Não é considerada como mais do que uma sanção disciplinar a aplicação de uma sanção
acompanhada do dever de reparação dos prejuízos causados pela conduta dolosa ou culposa
do trabalhador.
5. A infracção disciplinar considera-se particularmente grave sempre que a sua prática seja
repetida, intencional, comprometa o cumprimento da actividade adstrita ao trabalhador, e
provoque prejuízo ao empregador ou à economia nacional ou por qualquer outra forma, ponha
em causa a subsistência da relação jurídica de trabalho.

As leis conjugadas destacam a necessidade de considerar a gravidade da infracção, o valor do


prejuízo causado, as circunstâncias em que a infracção foi cometida, o grau de culpabilidade e
a conduta profissional do funcionário ou agente do Estado. Além disso, enfatizam que uma
infracção disciplinar é considerada particularmente grave quando é repetida, intencional e
provoca prejuízo significativo.

2.6. Procedimento disciplinar

Procedimento disciplinar está plasmado no artigo 110 da Lei n.º 4/2022 de 11 de Fevereiro do
EGFAE e também encontramos plasmado no Artigo 66 da Lei n.º 13/2023 de 25 de Agosto,
versa sobre Prescrição do procedimento disciplinar.
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Segundo a Lei n.º 4/2022 de 11 de Fevereiro, o nº 1 e 2 do Artigo 110 consagra:


1. O direito de instaurar o processo disciplinar prescreve passados 3 anos sobre a data em que
a infracção tiver sido cometida.
2. Suspende o prazo de prescrição a instauração do processo disciplinar, de inquérito, de
sindicância ou de averiguação, mesmo que não tenha sido instaurado o procedimento
disciplinar contra o funcionário ou agente do Estado a quem a prescrição aproveita, caso se
venha a apurar infracção de que seja autor.

E o Artigo 66 da Lei n.º 13/2023 de 25 de Agosto, o nº 1 a 5 consagra o seguinte:


1. A aplicação de qualquer sanção disciplinar, com a excepção das previstas nas alíneas a) e
b) do número 1 do artigo 64, deve ser precedida de prévia instauração do processo disciplinar,
que contenha a notificação ao trabalhador dos factos de que é acusado, a eventual resposta do
trabalhador e o parecer do órgão sindical, ambos a produzir nos prazos previstos nas alíneas
b) e c) do número 1 do artigo 70 da presente Lei.

2. A infracção disciplinar prescreve no prazo de seis meses, a contar da data da ocorrência da


mesma, excepto se os factos constituírem igualmente crime, caso em que são aplicáveis os
prazos prescricionais da lei penal.

3. Nenhuma sanção disciplinar pode ser aplicada sem a audição prévia do trabalhador.

4. Sem prejuízo do recurso aos meios judiciais ou extrajudiciais, o trabalhador pode reclamar
junto da entidade que tomou a decisão ou recorrer para o superior hierárquico, suspendendo o
prazo, nos termos da alínea a) do número 4 do artigo 57 da presente Lei.

5. A execução da sanção disciplinar deve ter lugar nos 90 dias subsequentes à decisão
proferida no processo disciplinar, excepto a sanção de despedimento cujo cumprimento é
imediato após a comunicação da decisão.

6. A contagem do prazo de prescrição referida no presente artigo suspende-se durante o


período de licença de maternidade, paternidade ou durante o período em que o trabalhador se
encontre privado da sua liberdade, ou por doença que o impossibilite de comparecer no local
de trabalho.
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2.7. Infracções disciplinares

É o facto ou comportamento voluntário (uma acção ou uma omissão) praticado pelo


trabalhador com violação dos seus deveres profissionais. Significa que o trabalhador pode ser
punido “por fazer o que é proibido” ou “por deixar de fazer o que é devido”.
A infracção disciplinar está relacionada com a violação culposa de deveres profissionais.

Lei n.º 13/2023 de 25 de Agosto no Artigo 67, no seu nº 1 nas alíneas a) até o):
Considera-se infracção disciplinar todo o comportamento culposo do trabalhador que viole os
seus deveres profissionais, nomeadamente:
a) o incumprimento do horário de trabalho ou das tarefas atribuídas;
b) a falta de comparência ao trabalho, sem justificação válida;
c) a ausência do posto ou local de trabalho no período de trabalho, sem a devida autorização;
d) a desobediência a ordens legais ou instruções decorrentes do contrato de trabalho e das
normas que o regem;
e) a falta de respeito aos superiores hierárquicos, colegas de trabalho e terceiros ou do
superior hierárquico ao seu subordinado no local de trabalho ou no desempenho das suas
funções;
f) a injúria, ofensa corporal, os maus tratos ou ameaça a outrem no local de trabalho ou no
desempenho das suas funções;
g) a quebra culposa da produtividade do trabalho;
h) o abuso de funções ou a invocação do cargo para a obtenção de vantagens ilícitas;
i) a quebra de sigilo profissional ou de segredos da produção ou dos serviços;
j) o desvio, para fins pessoais ou alheios ao serviço, de equipamentos, bens, serviços e outros
meios de trabalho ou a utilização indevida do local de trabalho;
k) a danificação, destruição ou deterioração culposa de bens do local de trabalho;
l) a falta de austeridade, o desperdício ou esbanjamento dos meios materiais e financeiros do
local de trabalho;
m) a embriaguez ou o estado de drogado e o consumo ou posse de estupefacientes ou
substâncias psicotrópicas no posto ou local de trabalho ou no desempenho das suas funções;
n) o furto, roubo, abuso de confiança, burla e outras fraudes praticadas no local de trabalho ou
durante a realização do trabalho;
o) o abandono do lugar.
No nº 3 do mesmo artigo consagra que quando a conduta referida no número 1 do presente
artigo seja praticada pelo empregador ou pelo seu mandatário, confere ao trabalhador
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ofendido o direito a ser indemnizado em 20 vezes o salário mínimo do sector de actividade,


sem prejuízo de procedimento judicial, nos termos da lei aplicável.
4. A prática de assédio no ambiente de trabalho e todo acto discriminatório, lesivo ao
trabalhador ou candidato a emprego ou estagiário, confere o direito à indemnização por danos
patrimoniais e não patrimoniais, nos termos gerais de Direito.
5. Não constitui infracção disciplinar, susceptível de instrução de processo disciplinar ou a
aplicação de sanção disciplinar, a desobediência do trabalhador a uma ordem ilegal ou que
contraria os seus direitos e garantias legais ou convencionais.

3. Conclusão

Terminado o trabalho conclui-se que a noção de poder se identifica com a de domínio de


facto, força, potência, mas também com a de prerrogativa jurídica.

O poder disciplinar consiste na faculdade de aplicar sanções correctivas aos agentes que, pelo
seu procedimento, prejudiquem o melhor funcionamento dos serviços.

O poder disciplinar do empregador é uma faculdade que lhe é atribuído por lei. O empregador
tem poder disciplinar sobre o trabalhador que se encontre ao seu serviço. A sanção disciplinar
é uma medida administrativa que tem em vista reprimir o comportamento negativo do
trabalhador. O funcionário ou agente do Estado que não cumpre ou que falte aos seus deveres,
abuse das suas funções ou de qualquer forma prejudique a Administração Pública está sujeito
a procedimento disciplinar. A sanção de repreensão pública é em geral aplicada às infracções
que revelam falta de interesse pelo serviço A sanção de despromoção é aplicável ao
funcionário do Estado que revele incompetência profissional culposa de que resultem
prejuízos para o Estado ou para terceiros e nos casos de violação de deveres profissionais
fundamentais e negligência grave. A infracção considera-se particularmente grave sempre que
a sua prática seja reiterada, intencional e provoque prejuízo ao Estado. O direito de instaurar o
processo disciplinar prescreve passados 3 anos sobre a data em que a infracção tiver sido
cometida. Nenhuma sanção disciplinar pode ser aplicada sem a audição prévia do trabalhador.
Não constitui infracção disciplinar, susceptível de instrução de processo disciplinar ou a
aplicação de sanção disciplinar, a desobediência do trabalhador a uma ordem ilegal ou que
contraria os seus direitos e garantias legais ou convencionais.
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4. Referencias Bibliográficas

Caetano, Marcelo (2009). Manual de Direito Administrativo. Tomo II, Coimbra Ed. p. 823 – 835

Cornu, Gérard. Pouvoir. In: Vocabulaire juridique. 8. ed. Paris: PUF, 2007. p. 701.

Lei n.º 13/2023 de 25 de Agosto

Lei n.º 4/2022 de 11 de Fevereiro

Weber, Max (2000). Economia e sociedade. 4. ed. Brasília: Universidade de Brasília, v. I.


p.33.

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