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Epistemologo Suiço, Jean Piaget, um dos mais importantes pensadores do seculo XX.
Revolucionário do estudo da linguagem e do pensamento infantis.
O pensamento autístico por sua vez é individualista e obedece uma serie de leis
especiais que lhe são próprias.
Entre estes dois modos de pensamento contrastante: embora a sua função principal
continue a ser a satisfação das necessidades pessoais, já engloba em si algumas
adaptações mentais, um pouco da orientação para a realidade característica do
pensamento do adulto. O pensamento egocêntrico das crianças “situa se a meio caminho
entre o autismo no sentido estrito da palavra e o pensamento socializado, esta é a base
da hipótese de Piaget.
Piaget defende que o egocentrismo se encontra a meio caminho entre o autismo extremo
e a logica da razão, tanto cronológica, como estrutural e funcionalmente. Ou seja, o
autismo é forma original, mais primitiva do pensamento egocêntrico é o elo genético
entre ambos.
Do ponto de vista genérico, temos que partir da actividade da criança para podermos
compreender o seu pensamento, e essa actividade é incontestável egocêntrica e egotista.
A base factual da convicção de Piaget é – lhe dada pelas investigações a que a que
submeteu o uso que as crianças dão a linguagem. As suas observações sistemáticas
levaram no a concluir que todas as convecções das crianças se podem classificar em um
de dois grupos: o egocentrismo e o socializado. A diferença entre ambas reside
sobretudo nas suas funções. No discurso egocêntrico da criança fala apenas dela própria,
não se preocupa com o interlocutor, não tenta comunicar, não espera qualquer resposta,
e frequentemente nem sequer se preocupa co saber se alguém a escuta.
As experiências de Piaget mostram que a parte de longe mais importante das conversas
das crianças em idade pré-escolar é constituída por falas egocêntricas. Chegou a
conclusão de que 44 a 47 por centos do número total de conversas registadas em
crianças com sete anos de idade era de natureza egocêntrica.
Quando, com 7 ou 8 anos de idade, o desejo de trabalhar com os outros começa, e a fala
egocêntrica continua a subsistir.
Eis como Stern traduz as primeiras palavras: O significado da palavra infantil mamã
traduzida para a linguagem desenvolvida, não é a palavra “mãe”, mas antes uma frase
do gênero “Mamã, chega aqui”, ou “Mamã, dá-me”, ou “Mamã, põe-me em cima da
cadeira”, ou “Mama, ajuda-me” (38) (38, p. 180). No entanto, quando observamos as
crianças em ação, torna-se óbvio que não é só a palavra mamã que significa, digamos,
“Mamã, põe-me em cima da cadeira”, mas o conjunto do comportamento da criança
nesse momento (o seu gesto de aproximação em direção à cadeira, tentando agarrar-se a
ela, etc. Aqui, a orientação “afetiva-conotativa” em direção a um objeto (para utilizar os
termos de Meumann) é ainda inseparável da tendência intencional da fala: ambas as
tendências constituem ainda um todo homogêneo e a única tradução correta de mamã,
ou de quaisquer outras palavras primitivas é o gesto de apontar que as acompanha. A
princípio a palavra é um substituto convencional para o gesto; surge muito antes da
crucial “descoberta da linguagem” pela criança e antes que esta seja capaz de executar
operações lógicas. O próprio Stern admite o papel mediador dos gestos, especialmente
do apontar, no estabelecimento do significado das primeiras palavras. A conclusão
inevitável seria a de que o apontar é de fato. uma atividade percursora da “tendência
intencional”. No entanto. Stern escusa-se a ir buscar as raízes da história genética dessa
tendência. Para ele, esta não resulta de uma evolução a partir da orientação afetiva para
o objeto no ato de apontar (gesto ou primeiras palavras) — surge do nada e é
responsável pelo nascimento do significado. A mesma abordagem anti-genética
caracteriza também o tratamento que Stern dá a todas as outras questões importantes
analisadas no seu vigoroso livro, tais como o desenvolvimento do conceito e os
principais estádios do desenvolvimento da linguagem e do pensamento. Nem podia ser
de outra maneira: esta abordagem é consequência direta das premissas filosóficas do
personalismo, o sistema desenvolvido por Stern. Stern tenta erguer-se acima dos
extremos tanto do empirismo como do inatismo. Contrapõe o seu próprio ponto de vista
do desenvolvimento da linguagem, por um lado, ao de Wundt, que considera a
linguagem da criança como um produto do meio ambiente, sendo a participação da
criança inteiramente passiva e, por outro lado, ao ponto de vista dos psicólogos para os
quais o discurso primário (as onomatopéias ou o chamado papaguear dos bebês) foi
inventado por uma geração infindável de bebês. Stern tem cuidado em não descurar o
papel desempenhado pelos jogos de imitação no desenvolvimento da linguagem, ou o
papel da atividade espontânea da criança, aplicando a estas questões seu conceito de
“convergência”: a conquista da linguagem pela criança dá-se através de uma constante
interação de disposições internas que preparam a criança para a linguagem e para as
condições externas — isto é, a linguagem das pessoas que a cercam -, que lhe fornecem
quer o estímulo quer a matéria prima para a realização dessas disposições, Para Stern, a
convergência é um princípio geral, aplicável à explicação de todos os comportamentos
humanos. Este é certamente mais um dos casos em que podemos dizer com Goethe: As
palavras da ciência ocultam a sua substância”. A sonora palavra convergência, que
exprime aqui um princípio metodológico perfeitamente inatacável (quer dizer, o
princípio metodológico de que o desenvolvimento deveria ser estudado como um
processo determinado pela interação entre o organismo e o meio ambiente), liberta na
realidade o autor da tarefa de analisar os fatores sociais e ambientais no
desenvolvimento da linguagem. É certo que Stern afirma realmente com bastante ênfase
que o meio ambiente social é o fator principal do desenvolvimento da linguagem, mas,
na realidade, limita o seu papel ao de um fato que se limita a acelerar ou retardar o
desenvolvimento, que obedece às suas próprias leis imanentes. Como tentamos mostrar,
utilizando o seu exemplo de como o significado emerge na linguagem, Stern
sobrestimou os fatores orgânicos internos. Esta deformação é resultado direto do quadro
personalista de referência. Para Stern, a “pessoa” é uma entidade psicologicamente
independente que, “apesar da multiplicidade das suas funções parciais, manifesta uma
atividade unitária, orientada para um objetivo” . Esta concepção “monadista”, idealista,
da pessoa individual, leva a uma teoria que vê a linguagem como algo radicado numa
teleologia pessoal — e daí o intelectualismo e o pendor anti-genético do ponto de vista
de Stern sobre os problemas do desenvolvimento linguístico, o personalismo de Stern,
ao ignorar como ignora a faceta social do comportamento linguístico, conduz a absurdos
patentes. A sua concepção metafísica da personalidade, ao fazer decorrer todos os
processos de desenvolvimento de uma teleologia pessoal, inverte completamente as
relações genéticas reais. Em vez de uma história evolutiva da própria personalidade, em
que a linguagem desempenha um papel que se encontra longe de ser secundário, temos
a teoria metafísica segundo a qual a personalidade gera a linguagem a partir dos fins
para que tende a sua própria natureza essencial.