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HJ Maculuve - Reduplicação Verbal em Línguas Bantu
HJ Maculuve - Reduplicação Verbal em Línguas Bantu
1. Introdução
Na perspectiva de Bleek (1862), Línguas Bantu refere-se a um conjunto de línguas faladas na
África Meridional e que apresentam características comuns a nível fonético, fonológico, sintácti-
co e morfológico.
O presente trabalho é concebido no âmbito dos estudos da cadeira de Línguas Bantu e tem como
objectivo, dissertar sobre a reduplicação verbal na língua Changana, uma língua bantu falada
maioritariamente no sul de Moçambique.
A reduplicação verbal consiste na repetição do radical ou uma parte dele, o que gera uma estru-
tura composta reduplicada.
Assim, como forma de operacionalizar o objectivo supracitado, vamos descrever o processo de
reduplicação verbal na língua changana bem como trazer exemplos do quotidiano deste fenóme-
no.
Portanto, para a elaboração deste trabalho recorreu-se à revisão bibliográfica das obras que ver-
sam sobre o assunto, bem como de artigos extraídos na internet e que foram devidamente citadas
e colocadas na referência bibliográfica do trabalho. Assim, como forma de permitir melhor com-
preensão do trabalho, propôs-se a seguinte estrutura: Parte Introdutória - é composta pela intro-
dução e objectivos do trabalho, esta parte apresenta a visão geral do trabalho, a sua relevância no
âmbito académico e social. Desenvolvimento - Revisão da Literatura, onde faz-se o enquadra-
mento teórico e conceptual, apresenta-se as definições e discussão dos conceitos sobre a temática
em estudo. Desfecho - apresenta as considerações finais e as referências bibliográficas.
1.1.Objectivos do Trabalho
1.1.1. Objectivo Geral
» Dissertar sobre a reduplicação verbal na língua Changana.
2. Fundamentação Teórica
Este tópico diz respeito á revisão de literatura cujo objectivo é apresentar sinteticamente os temas
importantes que respondem ao objectivo central da pesquisa. Portanto são discutidos os seguintes
subtemas: conceito e descrição de reduplicação verbal.
Marcuschi (2002, p.107), defende que a repetição consiste na “produção de segmentos discursi-
vos idênticos ou semelhantes duas ou mais vezes no âmbito de um mesmo evento comunicativo”
e pode exercer diversas funções na língua oral ou escrita. Esse processo, comumente, contribui
para a organização discursiva e auxiliar a coerência e coesão textuais, assim como nas atividades
interativas.
Portanto, acrescenta o autor que a presença desse tipo de recurso é muito mais frequente no âm-
bito da fala, já que, muitas vezes, a atividade discursiva da repetição faz parte da própria formu-
lação do texto falado.
Para (Koch & Souza, 1996), apesar de a repetição interferir consideravelmente na densidade in-
formacional do enunciado, isso não representa prejuízo, pois a reiteração pode agir em favor da
compreensão do interlocutor. Além disso, a repetição pode funcionar como estratégia de intensi-
ficação, pois “obedece a uma espécie de princípio de iconicidade, em que uma cadeia de lingua-
gem idêntica, posta em posição idêntica, é concernente a um maior volume informacional”.
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2.2.Tipos de reduplicação
Jensen (1962, p.68) afirma que a reduplicação pode ser total (completa) ou parcial. Portanto, é
completa “quando todo o morfema é reduplicado e parcial quando apenas uma parte é redupli-
cada”.
-khoma pegar'
-khomisa – khomisa 'ajudar a pegar'
O exemplo supracitado ilustra o caso da reduplicação total normal em que o reduplicante é repe-
tido completamente a nível segmental na forma reduplicada, com objectivo exprimir a frequência
em que a acção descrita pelo verbo ocorreu. Portanto, essa reduplicação é usada para expressar
acções iterativas segundo um ponto de vista de um observador que vê ou assiste alguém ou algo
a exercer repetidamente a mesma acção. Estas formas têm a sua correspondente não reduplicada
na língua por isso têm registo no dicionário.
Importa, também, frisar que os constituintes da reduplicação total são independentes desta visto
que se comportam como itens lexicais autónomos. Não obstante, os verbos uma vez reduplica-
dos, comportam-se como morfemas lexicais que formam um bloco que não pode ser quebrado ou
decomposto em unidades morfológicas, daí que são sujeitos às mesmas regras morfológicas (de-
rivação, flexão) como qualquer verbo na língua.
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- mbombomela 'afundar-se'
- phepherha 'peneirar'
Nos exemplos supracitados, destacou-se a reduplicação parcial nas silabas em itálico. Na pers-
pectiva de (Ngunga, 1998, p.8), do ponto de vista semântico,
Os temas verbais parcialmente reduplicados aceitam ser totalmente reduplicados para dar a ideia
de quantidade de vezes em que o conjunto das “micro-acções” descritas pelo verbo é repetido.
Não obstante, uma vez totalmente reduplicados, comportam-se como temas verbais normais com
as mesmas restrições morfológicas que as dos verbos normalmente reduplicados. A seguir ilus-
tramos exemplos de re-reduplicação:
3. Conclusão
Depois duma leitura minuciosa e exaustiva das obras e artigos que debruçam sobre a reduplica-
ção verbal, foi possível compreender que a reduplicação em linguística é um processo morfoló-
gico pelo qual o radical de uma palavra ou parte dela é repetido de forma exacta ou com pequena
modificação. Sendo que é usada como uma flexão para indicar uma função gramatical, tais como
pluralidade e intensidade em derivação de léxicos para criar novas palavras. Não obstante, é com
frequência usada quando quem fala usa um tom mais expressivo ou figurativo do que numa con-
versação normal ou quando se trata de algo icónico em seu significado.
Em relação aos tipos de reduplicação constatamos, através da leitura bibliográfica, que destacam-
se duas formas ou tipos, a saber: reduplicação completa e parcial.
Portanto, a condição para a efectivação da reduplicação total depende da estrutura do verbo, que
deve ser do tipo - CVC- ou mais longa. Do ponto de vista morfológico, os constituintes da redu-
plicação (o reduplicante e o reduplicado), são dependentes uma vez que só admitem uma única
posição, para acomodar as morfologias, o que não acontece em termos semânticos. Por outro
lado, a reduplicação deve satisfazer à condição morfológica e semântica visto que a não obser-
vância de uma destas condições resulta na agramaticalidade da palavra reduplicada.
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4. Bibliografia
» Matthews, P.H. (1974). Morphology: An Introduction to the Theory of Word – Structure. CUP. Cam-
bridge.
» Ngunga, A. (2000). Phonology and Morphology of the Ciyao Verbs. CSLI Publications. Leland Stan-
ford Junior University. Stanford, California
» Ngunga, A. (1998). Reduplicação do Tema Verbal em Ciyao. V Conferência Luso-Afro-Brasileira.
» Sitoe & Ngunga (eds).(2000). II Seminário Sobre A Padronização da Ortografia das Línguas Mo-
çambicanas. Editora Escolar, Maputo
» Albuquerque, L. R. & Gonçalves, C. A. V. (2004). Análise da reduplicação em dados de aquisição:
uma abordagem otimalista. In: Silva, J.P. Questões de morfossintaxe. Rio de Janeiro: CiFeFil
» Vialli, L. D. (2013). Reduplicação de base verbal: uma análise pela morfologia construcional. Tese
(Doutorado): Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.
» Marcuschi, L. A. (2002). A repetição na língua falada como estratégia de formulação textual. KOCL,
I. G. V. (org). Gramática do Português Falado. 2ª. ed. rev. Campinas, SP: Editora da UNICAMP.
» Koch, I. G. V & Silva, M. C. P. S.(1996). Atividades de Composição do Texto Falado: a elocução
formal. In Castilho, A. T. de. e Basílio, M. (org). Gramática do Português Falado, vol. 1. Campinas,
Editora da Unicamp.