Roteiro - Extorsão - Art. 158 CPB

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CRIMES PATRIMONIAIS

Prof. Pedro Coelho


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Crime de Extorsão – art. 158 do Código Penal Brasileiro

1. Bem Jurídico.

Crime contra a patrimônio, bem como a integridade física e liberdade individual,


revelando-se como um crime PLURIOFENSIVO.

2. Tipo Penal.

Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou
para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro1 a dez anos, e multa.

Obs.1: Cabe ANPP?

Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a
prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos,
o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:

Obs.2: A grave ameaça referida no dispositivo deverá ser analisada conforme as


peculiaridades do caso concreto e as condições da vítima, podendo inclusive recair
em face do patrimônio do ofendido.

(...) 2. Nos termos da jurisprudência desta Corte, configura a grave ameaça necessária para a tipificação
do crime de extorsão a exigência de vantagem indevida sob ameaça de destruição e não devolução de
veículo da vítima, que havia sido dela subtraído. Precedentes. 3. Se a Corte de origem, mediante valoração
do acervo probatório produzido nos autos, entendeu, de forma fundamentada, restar configurada a elementar
grave ameaça prevista no preceito primário do tipo penal incriminador, a análise das alegações concernentes ao

1Além de a pena mínima NÃO SER INFERIOR a 4 anos, esse crime ainda é praticado com violência
ou grave ameaça, razão pela qual resta inviabilizada a oferta de ANPP. Vejamos:
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a
prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o
Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:
pleito de absolvição demandaria exame detido de provas, inviável em sede de writ. 4. Habeas corpus não
conhecido (HC n. 343.825/SC, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em 15/9/2016,
DJe de 21/9/2016).

Obs.3: A promessa de provocar mal espiritual pode ser considerada suficiente para
consumação de extorsão, funcionando como a elementar de grave ameaça.

(...) 3. A alegação de ineficácia absoluta da grave ameaça de mal espiritual não pode ser acolhida, haja
vista que, a teor do enquadramento fático do acórdão, a vítima, em razão de sua livre crença religiosa,
acreditou que a recorrente poderia concretizar as intimidações de "acabar com sua vida", com seu
carro e de provocar graves danos aos seus filhos; coagida, realizou o pagamento de indevida vantagem
econômica. Tese de violação do art. 158 do CP afastada. 4. O pedido de aplicação do princípio da consunção
não foi deduzido nas contrarrazões do apelo do Ministério Público, na apelação criminal da defesa e tampouco
por ocasião da oposição dos embargos de declaração e, por tal motivo, deixou de ser enfrentado pelo Tribunal
de origem, o que caracteriza a ausência de prequestionamento e impede, no ponto, o conhecimento do recurso
especial. (...) (REsp n. 1.299.021/SP, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em
14/2/2017, DJe de 23/2/2017).

Obs.4: A vantagem de outra natureza pode caracterizar o crime de extorsão?

(i) Se a vantagem for devida (lícita): crime de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP).

(ii) Se a vantagem não for econômica (sujeito coage alguém a assumir a autoria de um delito, p ex.): crime
de constrangimento ilegal (art. 146 do CP).

3. Diferenças entre Extorsão e Roubo.

Roubo (art. 155 do CP) Extorsão (art. 158 do CP)

Núcleo do tipo: “subtrair” Núcleo do tipo: “constranger”

Aqui, embora a própria vítima possa entregar o bem ao A própria vítima entrega o bem ao agente,
sendo sua colaboração imprescindível, já que
agente, sua atuação é dispensável, já que, caso não
possui a opção de entregar ou não o bem. A
entregue, o sujeito pode de imediato tomá-lo à vantagem almejada pode ser contemporânea ao
constrangimento ou posterior a ele.
força, se desejar.

Coisas móveis Não há tal restrição. Poderá se relacionar a


bem imóvel.

Não há continuidade delitiva entre os crimes de roubo e extorsão, ainda que praticados em conjunto.
Isso porque, os referidos crimes, apesar de serem da mesma natureza, são de espécies diversas (STJ,
5ª Turma, HC 435.792/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/05/2018).
A prática sucessiva de roubo e, no mesmo contexto fático, de extorsão, com subtração violenta de bens e
posterior constrangimento da vítima a entregar o cartão bancário e a respectiva senha, revela duas condutas
distintas, praticadas com desígnios autônomos, devendo-se reconhecer, portanto, o concurso material (STF,
1ª Turma, HC 190909, rel. org. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em
26/10/2020).

Obs.1: Falso sequestro para obtenção de resgate enseja tipificação em qual delito?

A ação de comunicar falso sequestro de um parente, com exigência de pagamento de resgate, sob o pretexto
de matá-lo, revela que o sujeito passivo em momento algum agiu iludido, mas sim em razão da grave
ameaça suportada, configurando o delito do art. 158 do Código Penal – CP (STJ, AgRg no REsp 1704122,
julgado em 12/12/2018).

4. Diferenças entre Concussão e Extorsão.

Concussão (art. 316 do CP) Extorsão

Crime praticado por funcionário público contra a Crime contra o patrimônio;


administração pública;

Para a exigência da vantagem indevida, se utiliza do Para a exigência da vantagem indevida, se


temor provocado pela função pública utiliza de violência à pessoa ou grave
ameaça, ainda que praticada por
funcionário público.

CAIU NA TCE/PB – AUDITOR (CESPE-2022)2: O funcionário público que se utilizar


de violência ou grave ameaça para obter vantagem indevida cometerá o crime de extorsão
e não o de concussão (CORRETA).

Obs.1: SEXTORSÃO! Advinda da expressão em inglêx “sextorsion”, consiste na utilização


de fotos, vídeos ou outro conteúdo de natureza sexual para chantagear a vítima.

5. Consumação.

Crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado (prescinde de resultado


naturalístico): consuma-se quando a vítima, após sofrer violência ou grave ameaça, realiza a conduta
pretendida pelo agente, ainda que este não obtenha efetivamente a vantagem desejada. O dano patrimonial
configura mero exaurimento a ser levado em consideração na dosimetria da pena-base (art. 59, caput, CP).

Súmula 96 do STJ: O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem


indevida.

2
CORRETO.
6. Tentativa.

É possível (crime plurissubsistente), quando a vítima, devidamente constrangida pela violência ou grave
ameaça, não efetua a conduta pretendida pelo criminoso, por circunstâncias alheias à sua vontade.

(...) 1. O crime de extorsão é formal e se consuma no momento em que a vítima, submetida a violência
ou grave ameaça, realiza o comportamento desejado pelo criminoso. É irrelevante que o agente
consiga ou não obter a vantagem indevida, pois esta constitui mero exaurimento do crime. Súmula n.
96 do STJ. 2. Caso o ameaçado vença o temor inspirado e deixe de atender à imposição quanto à
pretendida ação, é inquestionável a existência da tentativa de extorsão. (...) (REsp n. 1.467.129/SC,
relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 2/5/2017, DJe de 11/5/2017).

7. Causa de Aumento da Pena (3ª Fase da Dosimetria).

Art. 158, §1º, do CP. Se o crime é cometido POR DUAS OU MAIS PESSOAS, ou com EMPREGO DE
ARMA, aumenta-se a pena de um terço até metade.

(i) Se o crime é cometido por DUAS OU MAIS PESSOAS.

- Apenas coautoria ou também incidirá em caso de participação?

- Incidência ainda que os coautores não sejam inimputáveis ou sequer identificados.

(ii) Se o crime é cometido com EMPREGO DE ARMA.

- Arma de fogo ou arma imprópria?

O § 1º do art. 158 do CP prevê que se a extorsão é cometida por duas ou mais pessoas, ou com emprego de
arma, a pena deverá ser aumentada de UM TERÇO ATÉ METADE. Essa causa de aumento prevista no
§ 1º do art. 158 do CP pode ser aplicada tanto para a extorsão simples (caput do art. 158) como também
para o caso de extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima (§ 3º). Assim, é possível que o
agente seja condenado por extorsão pela restrição da liberdade da vítima (§ 3º) e, na terceira fase da dosimetria,
o juiz aumente a pena de 1/3 até 1/2 se o crime foi cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de
arma (§ 1º) (STJ, 5ª Turma, REsp 1353693-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
13/9/2016).

8. EXTORSÃO QUALIFICADA.

Art. 158, §2º, do CP. Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo
anterior.

Art. 157, §3º, do CP: Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos,
além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.
Obs.1: Hediondez e o Pacote Anticrime.

Art. 1º da Lei nº 8.072/90. São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei
n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: (...) III - extorsão qualificada
pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º).

ATENÇÃO! Em respeito ao princípio da legalidade, o crime de extorsão qualificada pela lesão


corporal grave ou morte, tipificado no § 2º, deixou de ser hediondo. Tratando-se de novatio legis in
mellius, deverá ser aplicada retroativamente.

9. EXTORSÃO MEDIANTE RESTRIÇÃO DE LIBERDADE DA VÍTIMA


(Qualificadora) – “Sequestro relâmpago”.

Art. 158, §3º, do CP - Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição
é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos,
além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§
2º e 3º, respectivamente.

Obs.1: Tornou-se crime hediondo com a Lei 13.964/2019. E ANTES? 2


CORRENTES!

Obs.2: Sequestro Relâmpago X Extorsão mediante sequestro.

SEQUESTRO - RELÂMPAGO EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO


(ART. 159, CP)
Restrição da liberdade – lapso temporal Privação da liberdade – lapso temporal
pequeno considerável
Desejo de obter, em razão do A vítima é colocada em cárcere e sua
constrangimento, e não da privação da liberdade é negociada com o pagamento
liberdade, indevida vantagem econômica; de indevida vantagem, como condição ou
preço do resgate

Obs.3: Crime Remetido - Se RESULTA LESÃO CORPORAL GRAVE OU MORTE,


aplica-se o que prescreve o art. 159, CP para a mesma situação:

Art. 159 do CP. (...) § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de
dezesseis a vinte e quatro anos. § 3º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.

Obs.4: Aplicam-se as causas de aumento da pena do parágrafo 1º à extorsão


qualificada pela restrição da liberdade da vítima?

(...) 1. A teor dos precedentes deste Superior Tribunal, ante a interpretação sistemática do art. 158 do CP,
é possível a incidência das causas especiais de aumento de pena do § 1° (concurso de agentes e
emprego de arma) tanto na extorsão simples (caput) quanto na qualificada pela restrição da liberdade
da vítima (§ 3°), inobstante a ordem dos parágrafos no tipo penal, pois a Lei n. 11.923/2009 não
tipificou crime diferente nem absorveu circunstâncias mais graves da extorsão já enumeradas
previamente. 2. Em situações outras, esta Corte já rechaçou a mera interpretação topográfica e reconheceu ser
compatível a utilização de majorante ou privilégio previstos em parágrafo anterior à qualificadora, desde que
relacionados a idêntico crime, como in casu (AgInt no HC n. 439.716/SP, relator Ministro Rogerio Schietti
Cruz, Sexta Turma, julgado em 21/6/2018, DJe de 1/8/2018).

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