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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

Graduação em Direito

Avaliação 1 - análise de julgado

Fernanda Beatriz Turatti Barbosa (11821DIR233)


João Vitor Caligaris Bernardino (11821DIR200)
10º período - Turma 77J (noturno)

Professor: Humberto Bersani

Uberlândia - MG
29 de março de 2023
Questão 3) Analise a questão meritória relativa à pessoa com deficiência e seus
desdobramentos no caso em análise para, em seguida, apresentar suas reflexões quanto à
resposta jurídica dada ao caso.

Em relação à questão meritória relativa à pessoa com deficiência e seus desdobramentos


no caso em análise, é válido que seja feito um panorama geral dos pontos mais importantes
tratados na decisão. Do que se verificou, trata-se de decisão acerca de um empregado com
deficiência que acabou sendo demitido, aparentemente, sem justa causa durante a pandemia.
O panorama, se feito por meio de uma observação histórica-social, apontar-nos-ia atos de
eliminação, castigos e exclusão social das pessoas com deficiência (FIGUEIRA, 2008). Seria
simples de concluir, portanto, que a luta pela sobrevivência e por garantias fundamentais dessa
comunidade se respaldaria, por exemplo, no direito ao trabalho.
A aderência ao mercado de trabalho e aos direitos trabalhistas das pessoas com
deficiência vem abarcados pela legislação brasileira, em normas como as Lei nº 7.853, de 24 de
outubro de 1989; Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990; Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991;
Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999; Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004; Lei
nº 13.146, de 6 de julho de 2015.
Por certo, a legislação atinente à matéria prevê que é vedada a dispensa sem justa causa
do empregado pessoa com deficiência no contexto do estado de calamidade pública que
perpassamos, nos termos do art. 17 lei 14.020/2020. Assim concordou a Magistrada, atribuindo
nulidade à dispensa.
Na tentativa de se defender, a empregadora justificou a demissão dizendo que já possuía
empregados com deficiência para além da cota mínima exigida por lei. A lei mencionada é a de
nº 8.213/91, que no art. 93 dispõe a cota mínima de 2% para uma empresa de 100 funcionários, e
assim sucessivamente.
Todavia, a Magistrada entendeu não serem suficientes as provas apresentadas pela
reclamante. Por óbvio, embora exista a outorga legal, são diversos os casos de organizações que
não cumprem com as cotas de inserção das pessoas com deficiência (FERREIRA; RAIS, 2016).
Logo, é risório a motivação apresentada pela empresa, como se, em seu caso, o oposto fosse
verificado: sobram pessoas com deficiência trabalhando no local; fato esse que não fora
comprovado pelas provas.
A garantia de que trata a lei nº 8.213/91 não se aduz a perpetuidade empregatícia, e sim
uma forma de salvaguardar o direito fundamental das pessoas com deficiência de acesso ao
trabalho. Por isso, a reserva de mercado legal a ser mantida e seguida pelo empregador. De outra
maneira, como concorreriam em equidade de condições com o restante dos trabalhadores, sem
que essa relação resultasse, muitas vezes, em capacitismo e exclusão?
Por vezes, é desanimador perceber durante a leitura da sentença a quantidade de pedidos
reconhecidos em desfavor da empregadora, pois, à medida que vão se empilhando uns sobre os
outros, dão-nos um relance da verdadeira situação vivenciada pelo trabalhador. São sucessivos
casos de inobservância de seu horário da jornada de trabalho, momentos de descanso e almoço
encurtados, insalubridade não recompensada, salários longe dos montantes devidos, para não
tocar na direta discriminação sofrida no ambiente de trabalho.
Esse não é um caso isolado. A inclusão de toda a comunidade das pessoas com
deficiência se faz um desafio, especialmente quando se esbarra nas barreiras atitudinais
(CAMARGO; CARVALHO, 2019). Muitas das empresas, inclusive, não possuem o hábito de
fiscalizarem o cumprimento das cotas nas organizações, ou a existência de atitudes prejudiciais e
comportamentos discriminatórios, o que justifica a perpetuação das ocorrências, como vistos no
caso em tela.
Ainda, em pesquisas realizadas por Lima, metade dos entrevistos considerava ruim a
atuação do RH nas empresas quanto às pessoas com deficiência, tendo em vista o despreparo
grave. Um deles, por sua vez, menciona que os responsáveis da empresa não sabiam lidar de
forma alguma com a situação (LIMA et al, 2021).
Cenas como as da empresa não fornecer um profissional versado em linguagem de sinais
para se comunicar com o trabalhador que enfrenta dificuldades de audição são atos capacitistas
que, vistos na sentença, não deixam de ocorrer pela simples existência das leis
(BITTENCOURT; FONSECA, 2011). Isso pode se dar, também, conforme a pesquisa informa,
pelo completo desencontro e ruído entre as pessoas com deficiência e as empresas. Afinal, em
um mundo globalizado, a ausência de informações está diretamente atrelada ao agravamento do
preconceito, o que culmina na dificuldade em efetivamente inserir as pessoas com deficiência no
mercado (LIMA et al, 2021).
Portanto, acertada a decisão da Magistrada em anular a demissão do trabalhador do caso
em tela e de reintegrá-lo a função que ocupava, mediante o pagamento dos salários, décimo
terceiro, férias e FGTS devidos, além de adicionais de insalubridade e pagamento de danos
morais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bittencourt, Z. Z. L. de C., & Fonseca, A. M. R. da. (2011). Percepções de pessoas com baixa
visão sobre seu retorno ao mercado de trabalho. Paidéia, 21(49), 187-195.
https://doi.org/10.1590/S0103-863X2011000200006

Camargo, F. P. de, & Carvalho, C. P. de. (2019). O direito à educação de alunos com deficiência:
a gestão da política de educação inclusiva em escolas municipais segundo os agentes
implementadores. Revista Brasileira de Educação Especial, 25(4), 617-634.
https://doi.org/10.1590/s1413-65382519000400006

Ferreira, L. C. de M., & Rais, L. A. (2016). Qual a relação entre diversidade e desempenho? Um
estudo sobre a relação entre a proporção de pessoas com deficiência na produtividade das
empresas brasileiras. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, 18(59), 108-124.
https://doi.org/10.7819/rbgn.v18i59.2769

Figueira, E. (2008). Caminhando no silêncio: uma introdução à trajetória das pessoas com
deficiência na história do Brasil Giz Editora.

LIMA, M. M. et al.. Um panorama do mercado de trabalho da pessoa com deficiência visual na


cidade do Rio de Janeiro. Interações (Campo Grande), v. 22, n. Interações (Campo Grande),
2021 22(1), p. 211–223, jan. 2021.

SANTANA, G. DA S.; COSTA, F. M.; OLIVEIRA, R. P. DE .. PRODUÇÃO CIENTÍFICA


BRASILEIRA SOBRE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL EM CONTEXTOS DE
TRABALHO1. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 28, n. Rev. bras. educ. espec., 2022
28, p. e0074, 2022.

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