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TEXTOS DO LADEIRA PARA INSPIRAR

Eu queria ser igual aqueles caras que parecem ter saído direto de uma revista de moda e usam
ternos tão alinhados que parecem ter sido costurados direto no corpo, por fadas estilistas e
seminuas.

Eu queria falar um português tão impecável, que faria um dicionário se sentir inadequado e
Camões ficar com inveja.

Eu queria ter um cabelo macio e sedoso, que voasse quando batesse um vento e depois cada fio
retornaria ao seu lugar magicamente.

Eu queria caminhar com tanta graça e leveza, que meus passos seriam confundidos com
movimentos elegantes de uma valsa.

Mas, não...

Se eu coloco um terno, pareço um adolescente um tanto quanto desajeitado, preparado para


ouvir um “Vamos ser só amigos”, em um baile de formatura.

Meu português é tão impecável que o Google sempre sugere que talvez eu esteja tentando me
comunicar em algum idioma desconhecido.

Quanto ao meu cabelo, parece ter vida própria e resiste qualquer tentativa minha em
domesticá-lo.

Meu andar? Acho que não consigo sequer seguir uma linha reta por uns dez metros sem
tropeçar nos próprios pés ou me distrair com alguma coisa e mudar o percurso.

E mesmo assim conquistei amizades verdadeiras, um amor sincero e momentos de muita


felicidade, que ao contrário de um terno alinhado e um cabelo arrumado, não precisam de
nenhum ajuste.

A verdade é que a perfeição é uma ilusão. Mas tudo o que conquistei, não poderia ser mais
perfeito.
Trago verdades: Esse ensaio durou cerca 2 horas, a criança foi subornada com um pacote de
biscoitos para colaborar, e eu senti que estava pagando a penitência de algum pecado. Eu não
fui subornado, fui obrigado a ir, tive que fazer cara de feliz, e o pior, tive que ir com roupinha
combinado.

Esses pais parecem lindos e felizes né? Mentira, a fotografa teve que retocar as olheiras com IA.
Estávamos exaustos, essa criança de 2 anos e 8 meses parece um anjinho, mas se ela ficar
sozinha por um minuto, oferece mais perigo para a humanidade do que o Putin com prisão de
ventre.

Mas o pior ainda está por vir, e aliás, ele tem nome e data marcada: daqui a 2 meses o Gabriel
chega, e com ele a frase que todo pai que tem o segundo filho tem que dizer: vai começar tudo
de novo.

Mas dessa vez eu não vou ser pego de surpresa, agora eu sou um pai experiente. Agora sei que
cheirar não é a melhor maneira de checar se ele está com cocô.
Acordei cedo, pra um dia normal, combinei com o cara da internet para vir aqui em casa ás 9h.
Às 9h40 ele mandou uma mensagem dizendo que ia atrasar 20 minutos, chegou aqui às 11h e
esqueceu o equipamento, vai ter que voltar outro dia. Perdi a manhã e não resolvi nada.

Na hora do almoço fui ver um problema de infiltração no meu apartamento. Já quebrei o teto da
casa todo, quebrei o piso, armário, já falei com engenheiro, caça vazamento, especialista em
impermeabilização… Até numa benzedeira eu fui, ninguém consegue descobrir de onde vêm a
água, tem uma gota pingando no teto há uns 30 dias. Sem contar num prejuízo de uns 30, 40 mil
reais.

Às 15h, recebi uma mensagem de um pessoa da família, falando que vai precisar fazer um
tratamento de um canal no dente e uma cirurgia, e já se foram mais uns 7 mil.

Às 18h eu saio do escritório da empresa, não vejo um pequeno bloco de concreto que estava
sinalizando uma obra, arranquei o parachoque do meu carro, farol e provavelmente alguma outra
coisa cara. Por que o cara da obra colou um bloco de concreto ao invés de um cone de plástico?
Acho que ele queria fechar meu dia com chave de ouro. Coitado, não sabia o que estava por vir.

Cheguei em casa chateado, puto, com o humor do ex-marido da Ana Hickmann depois de ver a
foto dela beijando o Edu Guedes.

Cheguei em casa e a Pati perguntou o que houve? Eu contei um breve resumo do meu dia
maravilhoso. Ela falou:

- Tá, mas você acabou abrir uma turma promocional do VTSD, faturou mais de 1 milhão nos
primeiros 10 minutos, não é pra isso que a gente tem dinheiro? Para não se chatear com os
imprevistos?

Pronto, foi a gota d’água! No final do dia, depois de tudo isso, ainda tinha que admitir que minha
mulher tinha razão.

Moral da história: Imprevistos acontecem. Quem tem dinheiro, dorme feliz. Quem não tem, nem
dorme.
Aos 29, eu podia beber uma garrafa inteira de vodka; no outro dia, não tinha ressaca.

Com 38, eu nem preciso beber. Só de levantar rápido a cabeça já dói.

Com 10 anos, meus pais eram meus heróis. Com 20, eu tinha vergonha deles. Com 38, enquanto
cuido do meu filho de 2, tenho vergonha de mim, por um dia ter tido vergonha deles.

Com 20 eu estava na busca de um corpo bonito. Com 38, estou em busca de um corpo que não
doa.

Com 20, achava que todos que conhecia eram meus amigos. Com 38, eu conheço os poucos
que realmente posso contar.

Com 10, meus avós cuidavam de mim. Com 30, eu cuidava deles. Com 38, minha preocupação é
manter vivas as lembranças. Até as que pareciam mais fortes, vão se perdendo. Quando percebi
que até as lembranças se vão, anotei num papel as frases, conversas e histórias que não queria
perder. Aí, perdi o papel.

Com 20, achava que aos 30 estaria com a vida resolvida. Com 30, tinha a certeza de que
passaria a vida toda resolvendo problema.

Eu não tenho ideia de como vou estar aos 60, mas uma coisa aprendi aos 38: a vida é aquilo que
passa enquanto a gente se distrai.

Ainda assim, ainda me sinto jovem, afinal ainda estou longe dos 40.
Certa vez ouvi: “Quanto mais dinheiro gasto, mais dinheiro atraio, porque entro na frequência da
prosperidade”. Não, amigo, é exatamente o contrário disso; quanto mais dinheiro você gasta de
forma errada, menos dinheiro sobra para o seu futuro.

Escassez, merecimento, crenças limitantes, zona de conforto, energia da prosperidade. Que


preguiça que eu tenho dessa conversa.

Esse pensamento de que você tem a crença da escassez e que deve se permitir “desfrutar” para
atrair mais dinheiro é uma das maiores bizarrices que já ouvi.

Você pode achar que é o maior merecedor do mundo, mas a verdade é que é burrice gastar
dinheiro que não tem e dividir uma viagem em 12 para mostrar que é próspero. Postar foto de
picanha nos stories com a legenda: “a vida tá difícil” é a definição mais assertiva da palavra
brega.

Sabe onde esse papo vai te levar? Para dívidas, empréstimos, juros altos e destruição de
patrimônio.

Não troque um futuro realmente próspero por uma pseudo-prosperidade ou “merecimento” no


presente. Eu vou vir com um papo muito menos sedutor, mas talvez te ajude muito mais.

Desenvolva as habilidades para ganhar mais, trabalhe mais e melhor, gaste menos do que ganha,
não divida uma viagem em 12x; ao invés disso, viaje para um lugar que caiba no seu bolso,
compre um carro popular ao invés de financiar um carro (e acabar pagando por três), invista o
que sobrar, repita isso por duas ou três décadas.

É provável que no futuro você acabe comprando à vista, por uma fração do valor que realmente
vale, o carro e a casa do espertalhão que gastou dinheiro para atrair a energia da prosperidade,
para impressionar e se sentir aceito na rodinha dos outfit high ticket, mas que não conseguiu
sustentar o estilo de vida e vai deixar seu patrimônio ir a leilão. Futuro triste ou feliz, as escolhas
do hoje é que vão determinar.
Não compensa ter filhos. Pra mim, não é nem uma questão financeira, é uma questão de
liberdade. Pense comigo, eu e a Pati, um casal jovem, que enriqueceu muito cedo, teoricamente
a gente teria liberdade para fazer o que quiser, quando quiser. Viajar pra qualquer lugar do
mundo, conhecer todos os bons restaurantes, hotéis, pousadas, surf trips, e as cabanas no meio
do mato que a gente adora.

Aí você inventa de ter filho, sabadão é enfiado numa brinquedoteca com cheiro de chulé,
desenhando o mickey em casa, e filme (que a gente tanto gostava!), só depois que ele dormir. E
normalmente estamos tão cansados que dormimos antes que ele. Somos desses pais antigos
que escolheram que o filho não vai ser criado pela babá.

Se parar pra pensar, não vale a pena, a conta não fecha. Aí do nada, ele vem e fala “papai, eu
gostei do nosso dia”, e te desmonta inteiro. A conta continua não fechando, mas mesmo assim a
gente decidiu dar um irmão de presente pra ele.

No final das contas, a vida não é sobre quantos carimbos temos no passaporte, quantos guia
michellins visitamos ou qualquer outra besteira que essa falsa liberdade ilude. Pra mim, a vida, é
sobre como me emociono com algumas pequenas frases das pessoas que amo. Liberdade não
é sobre fazer o que quiser e quando quiser, é sobre ser feliz, mesmo quando “não compensa”.
Fiz um exercício de imaginação, escrevendo uma carta para meus filhos, imaginando que hoje é
o último dia da minha vida.

Segue a carta:

Não estou triste em ir embora, claro que vou sentir saudades. Tivemos bons momentos, espero
que as lembranças aqueçam seus corações e refresquem suas almas.

Antes de ir, queria deixar uma reflexão, tomara que seja útil.

Eu estava numa festa da Universidade de Brasília, entrei na fila para pegar um drink. Na minha
frente, vi uma menina morena, baixinha, com 1,65m de altura, cabelo liso e um sorriso
inacreditavelmente grande, parecendo uma princesa dos filmes modernos da Disney.

Meu coração bateu forte, fiquei com medo da rejeição. Ela era linda, e seu pai... bom, eu não sou
muito bonito hoje, mas aos 22 anos, vamos dizer que não atendia aos padrões mínimos de
beleza da época. Eu me casei com essa menina, tive dois filhos, e essa família é o que tenho de
mais valioso na vida.

Quando comecei meu negócio, tinha medo de dar errado, de não agradar. Hoje, sou um
profissional reconhecido, realizado e participei indiretamente na ascensão social de milhares de
famílias.

A conversa que mais me apavorou na vida foi a de uma enfermeira. Lembro-me até hoje do dia
em que saí com o Guto (meu primeiro filho) do hospital após o nascimento. Ela disse: "Ele está
ótimo, forte e saudável, vocês receberam alta, podem levá-lo para casa.

Levar aquele pedaço de gente, sabendo que eu seria o responsável por aquela vida, me deu
medo. Hoje, me sinto um bom pai. Tivemos nossos momentos.

Para mim, o medo é um sinal de que você está no caminho certo. A fuga do medo é sinal de que
está deixando coisas boas irem embora da sua vida.

Se eu morrer hoje, vou com medo, mas com entusiasmo para saber o que tem do outro lado.

Aproveitem a vida, cuidem um do outro, cuidem da sua mãe. Por causa da diferença nos nossos
hábitos alimentares, estou partindo alguns anos antes.

Escutem seus medos, mas aprendam a falar mais alto que eles.

Papai ama vocês.


Na escola pública tinha macarrão com salchicha e suco de caju, servidos num kit com copo,
prato e colher azul.

Na escola pública tinha um uniforme cinza com o mapa do GDF gigante. Só faltava estar
estampado: esse é pobre. Quando a gente ia almoçar no Pátio Brasil, guardava a camisa na
mochila.

O pessoal da Marista e Galois, exibia o uniforme bonitão no shopping: eram os meninos da


escola particular.

Não quero me fazer de vítima, no segundo grau estudei no GISNO, uma boa escola pública na
Asa Norte. As vezes tinha uma greve ou outra, mas como ninguém ali tinha esperança de passar
na UNB, a vida seguia normal.

Fora isso, tive bons professores e um ambiente relativamente saudável. Tirando os caras do 2º
ano D. Eram os repetentes, que tinham 28 anos, 2 filhos e algumas passagens pela polícia.
Drogas, adolescentes idiotas, malandragem e más influências, tudo isso também tinha escola
particular.

Estudei em escola pública, mas morava num bairro de classe média em Brasília, as 400 das asa
sul. A maioria dos meus vizinhos eram de escolas particulares.

Pra ser sincero, lidar com gente de escola pública me ensinou coisas que eu nunca ia aprender
com meus vizinhos pseudo ricos.

Eles se faziam de ricos, eu acreditava, mas entendo que a maioria era classe média, bem média
mesmo, e que os pais se matavam para dar “a melhor” educação, que a maioria não valorizava.

No Gisno, tinha amigo que trabalhava depois da aula, amigo que cuidava dos irmãos: dava
banho e fazia comida. Amigo que pegava 3 ônibus pra chegar na escola, e passava por baixo da
roleta pra não gastar o ticket estudantil.

O Objetivo era um dos colégios mais caros de Brasília. O slogan da escola era: Objetivo, as
melhores cabeças. A gente tinha nossa paródia: GISNO, as piores cabeças.

Nossa cabeça era boa, a autoestima que era fraca.

Esse é um texto para levantar a cabeça de quem estuda, ou tem filho na escola pública. A
dificuldade fortalece, a facilidade te deixa mole.

To aqui para falar com orgulho que um dos maiores do marketing do Brasil veio do GISNO.

P.S. Desculpem os erros de português, estudei no GISNO, o professor falava mais de política do
que de gramática.
Quem olha pra essa foto imagina: que família feliz!! Não sabem: é uma família cheia de
problemas.

O marido joga a roupa suja no chão, ao lado do cesto, a esposa tem um ataque de raiva sempre
que isso acontece.

Essa esposa, ela tem carinha de anjo, mas é a compulsiva por compras de coisas que nunca usa
na shopee (eu acho que só tiveram a ideia de taxar as compras depois de analisar o histórico
dela).

Esse neném com cara de fofo, hoje teve o primeiro dia sem fralda. Ele cagou na sala, me
chamou e falou “olha Papai, cocô.

Essa família parece feliz, ela tem problemas, mas eles sem amam.

Eu não sei se felicidade existe, mas eu fico mais perto dela quanto estou com eles.
Entrevista com um medroso

Reporter: Olá medroso, tudo bom? Pronto para entrevista?


Medroso: Vou te confessar que estou com um pouco de medo.
Reporter: Fique tranquilo, são só algumas perguntas. Do que você tem medo?
Medroso: De saber o que as pessoas pensam sobre mim.
Reporter: Como você lida com isso?
Medroso: Eu nunca me exponho, se ninguém me notar, não vão me julgar.
Reporter: Como foi trabalhar por 30 anos com algo que não gosta?
Medroso: Foi bom demais, o salário sempre caiu na conta no dia 05, nunca tinha grandes
desafios, todo dia fazia a mesma coisa. O importante é ter emprego.
Reporter: Como é viver ganhando tão pouco?
Medroso: É bom demais, ganhar muito deve ser estressante: ficar pensando investimentos,
medo de perder dinheiro, ou até mesmo de ser assaltado. Ter que planejar viagens caras… Deus
me livre. Não ter dinheiro é a melhor coisa do mundo.
Reporter: Você não fica imaginando como seria sua vida se tivesse arriscado mais?
Medroso: Não, na verdade esse é o maior dos meus medos.

No final da vida, você vai se arrepender mais das coisas que não faz do que das que fez. Quando
você arrisca, tem chances de perder, quando não arrisca, tem a certeza disso.
Sou filho de goiano com mineira. A primeira vez que vi o mar, molhei os dedos na água e lambi
para saber se era salgado mesmo.

Até os meus 18 anos, tinha ido poucas vezes à praia. Tinha que aproveitar as oportunidades
escassas: um amigo de alguém tinha uma casa dando sopa, a família ia e dormia todo mundo
amontoado na sala. Era uma bagunça peculiar, compartilhar um banheiro com seis pessoas não
era exatamente agradável, mas como sinto falta daquela confusão com meus tios, primos,
minha irmã e meus pais.

Um dia vi um cara surfando e falei que queria fazer aquilo. Virei piada, me apelidaram de siri
porque era magrelo, branquelo, perna fina e desengonçado.

Quando comecei a ganhar dinheiro, lembrei do meu desejo de criança. Passei algumas
temporadas em praias para aprender a surfar. Tomei muita onda na cabeça, não sabia remar,
passei muito sufoco na zona arrebentação. Remava, Remava, Remava e não pegava nada, e
tomava muito caldo. O primeiro que tomei, parecia que estava numa máquina de lavar, pensei
que ia morrer.

“Nunca mais vou fazer isso! Para quem eu quero isso? Já estou velho! Não vai mudar nada na
minha vida! Posso me machucar seriamente!” Pensei em desistir mil vezes.

Ainda estou ruim, estou longe de ser um surfista. Também estou longe de desistir. Sei entrar no
mar, sei remar, sei cair, sei dropar, consigo subir e descer a onda. Agora aproveito meus 10
segundos de glória em cada onda, e o mais importante, sigo praticando e aprendendo. Agora
estou aprendendo Foil e Kite.

Semana passada foi a minha viagem dos sonhos: Namotu, quem é do surf sabe a importância
desse lugar.

Estou vivendo as experiências que queria porque não desisti. Ignorei medos e zombarias. Estou
vivendo a vida dos sonhos.
Um homem desabafou comigo: "Estou com 40 anos, vejo que ainda não conquistei nada, me
sentindo frustrado e fracassado."

Tem algo errado acontecendo; o mundo está sendo acometido por um sentimento de fracasso
coletivo.

Por que isso é perigoso para você? Duas palavras: comparação e ostentação.

A comparação gera frustração; você compara sua vida com quem tem mais, e na maioria das
vezes, compara com uma distorção da realidade; as pessoas só postam um pedaço pequeno e
maquiado de suas vidas.

O carro é alugado, a viagem dos sonhos muitas vezes foi comprada como estratégia de
marketing, exatamente para que você sinta esse vazio. Marketeiros experientes colocam o valor
da viagem no custo do lançamento. “Viagem dos sonhos converte”.

Se você vê carrão, viagem, Rolex e restaurante caro todos os dias, está se frustrando todos os
dias.

Seu cérebro arruma ótimas desculpas para pegar essa dose de frustração diária (a frustração
vicia). A mais frequente é: eu vejo para me inspirar aonde quero chegar.

A ciência diz que isso gera um efeito contrário. Seu cérebro tende a sofrer com fenômenos
conhecidos como "assimilação do objeto" e “Ilusão da verdade”.

Quando você vê alguém com a vida dos sonhos, seu cérebro inconsciente se confunde e acha
que você já tem a vida dos sonhos. Aí você trabalha menos para conquistar, afinal, tem a
sensação inconsciente de que já tem a vida dos sonhos.

Se você trabalha duro e conquista algo, recebe como recompensa dopamina. Se vê alguém em
uma viagem dos sonhos no Instagram, recebe o dobro de dopamina sem ter que fazer esforço.

Quer se inspirar? Procure alguém que mostre mais seus valores do que seus bens. Se imagine
trabalhando com foco, mais do que imaginando conquistando bens.

Isso não é uma crítica aos ostentadores; eu acredito na liberdade de expressão, cada um publica
o que quer. Isso é um alerta aos expectadores: ver ostentação na internet deixa seu cérebro
preguiçoso e seu coração angustiado.

Se você está na casa dos 40 anos, você tem tempo, mas não tem tempo de sobra. Tenha senso
de urgência, não gaste seu tempo iludindo o cérebro com ostentação.
O mundo é injusto com os homens, ele só tem 2 mãos.

Julho de 2023, 18h00. A mãe dá o primeiro aviso para o pai desavisado.

- Combinamos de ir para a festa junina às 19h, estamos atrasados, você pode trocar o Guto
enquanto eu me arrumo?

- Claro, deixa comigo.

Onde está a roupa? Odeio macacões complexos. Vou escolher a roupa mais fácil de vestir. Acho
que quem que projeta roupa de criança são os engenheiros da Nasa.

Uma estratégia é traçada: primeiro, a escolha da roupa. Ao lado, uma fralda limpa, pronta para
uso. Mas é realidade não facilitou a execução da complexa tarefa, o moleque não fica parado
esperando a gente fazer as coisas, ele fica correndo e desafiando a gravidade atirando objetos
ao chão.

Olho para a porta do quarto e vejo uma cena que me tira o fôlego: uma mulher linda, adentra
aquele quarto de criança cheio de brinquedos no chão. Com um vestido preto, meia-calça,
cabelo deslumbrante, maquiada, em cima de um salto alto de uma bota imponente. Ela está ao
mesmo tempo passando batom, respondendo uma mensagem no WhatsApp, e tirando o único
fio de cabelo desalinhado do sobrancelha com uma pinça. Em câmera lenta, ela se vira pra mim,
com uma olhar sexy e diz:

- Eu não acredito que vocês não estão prontos.

O Guto sai correndo de dentro do banheiro com uma fralda na cabeça gritando: papaaaaai coco!

Ela pega o menino no colo uma uma maestria incrível, dá banho na criança, troca a fralda, abre a
pomada do hipoglos só com uma mão e besunta a criança com a destreza de um pedreiro
chapiscando um muro. Dois minutos e meio ela e a criança estavam prontos.

Ela fez isso enquanto conversava no WhatsApp, estava resolvendo alguma coisa importante do
trabalho, acho que tinha a ver com uma campanha de branding da multinacional que trabalha, lá
ela lidera um time de 12 pessoas.

Eu estava imóvel admirando a injustiça do mundo, a mulher nasce com 12 braços, 10 invisíveis,
que só elas podem ver.

Eu não fiquei pra trás, coloquei minha calça jeans, minha camiseta e também fiquei pronto
sozinho, tudo em dois minutos e meio.

Minha admiração a todas as mulheres de 12 braços e a incrível habilidade sobrenatural de


gerenciar diversas tarefas ao mesmo tempo.
Meu primeiro cabelo branco

A relação do homem com os pelos é confusa. Quando eu tinha 13 anos, comemorei meu
primeiro pelo pubiano. Olhava para ele orgulhoso: imponente, porém solitário.

Com 15, já me sentia homem, com 17 os pelos começaram a nascer em lugares indesejados.

Dos 19 aos 30, os pelos assumem o papel de coadjuvantes na vida adulta, passam
despercebidos, a exceção sendo a figura icônica de Claudia Ohana.

Nessa idade, nossas preocupações se ampliam para questões de maior magnitude, como
conquistar estabilidade financeira - ou, pelo menos, simular a façanha, uma maestria muitas
vezes demonstrada pelo pessoal do marketing digital.

Mas de maneira súbita, quando você menos espera, ele volta ao protagonismo: O pelo, o
primeiro cabelo branco. Você está se olhando no espelho e ele salta aos olhos. O que todo
mundo faz? Arranca. Droga! Uma semana depois você olha de novo e aparecem mais seis. O
mito é real! Nunca mais vou arrancar. Uma semana sem arrancar e… aparecem mais seis,
arrasando qualquer ilusão de que temos controle sobre nossos pelos, ou sobre o inevitável, o
tempo vai passar.

Já imagino os sustos que eles vão me dar: o primeiro pelo pubiano branco deve ser causa de
muitos infartos. Depois disso, a cabeça fica toda branca (isso para os que tiverem a sorte de
manter seus cabelos) e o final de todos é o mesmo: o primeiro pelo no ouvido. Talvez essa seja
a última peça que os pelos pregam em nós.

Os pelos desempenham, de maneira irônica, a função de nos avisar que a vida passa, e que
temos coisas mais importantes para nos preocupar. É cientificamente comprovado, estresse por
coisas bobas deixam os cabelos brancos.
O menino que não rola a tela

Em 2013, eu lia 13 livros por mês; em 2014, 15. Em 2015, os celulares ficaram mais inteligentes
e com a internet mais rápida. Eu me tornei mais burro, com o cérebro mais lento, e li apenas 7
livros. Em 2016, li menos de 5; em 2017, parei de contar.

Em 2021, os vídeos curtos dominaram o cérebro humano. Nossos olhos pulam de vídeo em
vídeo: vídeos com 90 segundos e 120 cortes, músicas repetitivas e impacto visual apelativo
hipnotizaram boa parte da humanidade. Os efeitos colaterais são muitos: diminuição da
atenção, isolamento social, falta de energia e, o pior deles, do nada, você começa a cantarolar:
"aaaaaahh novinha senta pan pan!"

Talvez meu cérebro já seja um caso perdido; minha missão é preservar o dele.

Esse menino não sabe rolar a tela, não sabe ligar um celular, não sabe abrir o Youtube; é um
verdadeiro alienado digital. Ele brinca de bola, pula-pula, bicicleta; está sempre procurando
alguma coisa para quebrar: um copo, um enfeite, um braço… Ele tem dois anos e adora ler; toda
noite ele fala "lê, papai, lê". Para mim, seria mais fácil dar o celular, deixar ele vidrado na
companhia da galinha Pintadinha. Com isso, ele perderia a minha companhia, a capacidade de
imaginar, de sentir tédio, de se expressar e de construir as lembranças, as mais profundas
memórias da primeira infância.

Irônico alguém que ensina a trabalhar usando a internet, na mesma semana, fazer duas
publicações que alertam sobre o uso do celular. Essa ferramenta pode ser um presente ou um
veneno. Pode te dar tempo e dinheiro, ou pode te roubar energia, concentração, a sua memória e
as memórias de coisas que não viveu. Os negócios são digitais, mas a sua alma, apesar de
invisível, não tem conexão Wi-Fi, acredite.
Diário: um dia perdido

O despertador me acorda às 6h30 como o planejado. O plano é simples, acordar, lavar o rosto,
escovar os dentes, colocar roupa de academia, preparar um café coado com grão moído na
hora. Banana amassada com aveia e pasta de amendoim, encher minha garrafinha com água
bem gelada e ir pro treino. A ideia é voltar antes das 8h para ter um dia bem produtivo.

Mas antes, vou ali no banheiro, nada como começar liberando espaço no intestino.

Nessa hora, tomo a decisão que pode fazer meu dia um sucesso ou um fracasso. Vou com ou
sem ele nas mãos. Hoje eu perdi para ele.

Abaixo as calças, me sento no trono, e ali se vai pelo menos 30 minutos de puro desrespeito ao
meu tempo e sanidade mental.

Longo no primeiro olhar vejo uma notificação de dividendos caindo na minha conta da XP,
dopamina da boa jogada da minha cara. Depois, aquela olhadinha no Instagram. Mais de 99
notificações no inbox. Gente perguntando sobre meus produtos (opaaaa), elogio, elogio, elogio,
propaganda de trader de criptomoeda… Crítica! Aí meu ego sensível. Respondo? Não respondo?
Respondi com um textão. Droga!

Deixa eu olhar os reels. Maldita lupinha me mostrou o vídeo viral de um concorrente que na
minha opinião é muito “pior”. Como tanta gente pode gostar de um negócio tão tosco assim. Aí
meu ego sensível! Deixa eu me distrair fingindo que vou planejar o dia, olho a agenda, olho o
relógio e já são 7h.

Acho que não vai dar tempo de ir para academia hoje. Vou tomar um café e começar a trabalhar.
Agora tenho outra decisão importante, vou com ou sem ele nas mãos?

São 9h, não malhei, não comi bem, não enchi minha garrafinha com água gelada e o pior de tudo,
assisti pelo menos 5 dancinhas da Virgínia.
Um homem adulto, no alto dos seus 40 anos, me mandou a seguinte mensagem:

"Eu não tenho tempo e não gosto de estudar. Não quero fazer seu curso, quero que alguém faça
para mim”. Quanta inocência.

Acho um absurdo ter que explicar isso para adultos, mas sim, você tem que estudar pelo resto
da sua vida.

Recentemente, um conhecido me ligou pedindo dinheiro emprestado, na verdade, dinheiro dado,


porque sei que ele não vai conseguir pagar e que provavelmente eu tenha é que "emprestar" de
novo.

Como foi a vida dessa pessoa? Funcionário público, salário bom. Gastava tudo o que ganhava e
durante a vida adulta não estudou. Não estudou sobre finanças, investimentos, novas
tecnologias, renda extra, empreendedorismo, nada! No final de semana, era aproveitar a vida, "eu
mereço". Nos dias de semana, depois do trabalho, nada de livro ou curso, era TV, novela,
programa do ratinho...

Moral da história? Não teve patrimônio para cobrir a diferença entre a inflação e o aumento do
salário – que sempre vai ser menor.

Mas a realidade – até mesmo para o funcionário público que tem "estabilidade" – uma hora
chega: Vai ser impossível manter o mesmo padrão de vida.

Uma pessoa que viveu por 30 anos a vida de classe média alta, morando em bairro bom, com
empregada doméstica, plano de saúde, conseguindo comprar tudo o que queria no mercado…
Ela desaba quando ela percebe que isso vai acabar.

30 minutos de leitura diária, meia dúzia de cursos e atualizações constantes teriam feito essa
mesma pessoa, que está tendo um final de vida difícil, possivelmente, um milionário.

Esse efeito vai ser cada vez pior, porque o mundo muda cada vez mais rápido. Se eu parar de
estudar por 6 meses, vem um menino de vinte e poucos anos e me engole.

Se você não gosta de estudar, trate bem seus filhos, você vai precisar deles.

O adulto que não queria estudar, é o mesmo idoso que se arrependeu.

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