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PODER JUDICIÁRIO

PROCESSO nº 0103436-88.2021.5.01.0000 (TutCautAnt)


REQUERENTE: BANCO BRADESCO S.A.
REQUERIDO: ARTUR MAX GILA DA SILVA
RELATOR: ALBA VALERIA GUEDES FERNANDES DA SILVA
EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL. IMPUGNAÇÃO A ACÓRDÃO REGIONAL.


INADEQUAÇÃO. AGRAVO NÃO CONHECIDO. O recurso manejado
pela parte é manifestamente inadequado, porquanto o ato judicial não
se encontra arrolado nas hipóteses do art. 236 do Regimento Interno
deste Regional. Com efeito, cuida-se de decisão colegiada, e não de
monocrática do relator, passível de impugnação pela via de agravo.

RELATÓRIO

Trata-se de agravo regimental interposto pelo BRADESCO (ID


daa92be) em face do Acórdão proferido pela 10ª Turma, que extinguiu sem resolução do mérito a
ação cautelar antecedente com pedido de liminar, por inadequação da via eleita (art. 485, IV, do
CPC).

Acórdão (ID 6b08c34).

Alega o agravante que a ação cautelar antecedente é o remédio


adequado para obter efeito suspensivo ao recurso ordinário, conforme Súmula nº 414, I, do TST,
e que, uma vez indeferida a liminar pela Relatora, é cabível o agravo regimental, na forma do art.
236 do Regimento Interno desta Corte. Afirma que estão presentes o fumus boni juris, já que o
banco se comprometeu a não dispensar empregados apenas por 60 dias, e o periculum in mora,
pois os valores pagos ao trabalhador não poderão ser restituídos ao final se a ação trabalhista for
julgada improcedente.

O Ministério Público do Trabalho não foi oficiado em razão do


disposto no art. 85 do Regimento Interno desta Corte e Ofício nº 737/2018 da PRT/1ª Região.

Éo relatório.

FUNDAMENTAÇÃO
ADMISSIBILIDADE
CABIMENTO - NÃO CONHEÇO

Alega o agravante que a ação cautelar antecedente é o remédio


adequado para obter efeito suspensivo ao recurso ordinário, conforme Súmula nº 414, I, do TST,
e que, uma vez indeferida a liminar pela Relatora, é cabível o agravo regimental, na forma do art.
236 do Regimento Interno desta Corte.

Analiso.

O reclamante ajuizou reclamação trabalhista (ação principal 0101051-


52.2020.5.01.0082) postulando a nulidade da dispensa, ocorrida durante a pandemia, e sua
reintegração, tendo obtido decisão liminar favorável naqueles autos, a qual foi confirmada em
sentença.

As partes interpuseram recurso ordinário, distribuído à 5ª Turma, de


relatoria do Des. José Luis Campos Xavier, os quais, até o momento (7.2.2022), não foi julgados.

Quando o recurso do BRADESCO ainda pendia de decisão de


admissibilidade no 1º grau, o banco ajuizou a presente ação cautelar antecedente, por meio da
qual pretendia obter efeito suspensivo ao recurso ordinário dos autos principais.

Este Colegiado decidiu pela inadequação da via eleita, extinguindo o


feito sem resolução do mérito.

Transcreve-se:

"Inicialmente, quanto ao efeito suspensivo, o artigo 899 da CLT estabelece que os


recursos devem ser recebidos com efeito meramente devolutivo.
Excepcionalmente, pode ser concedido efeito suspensivo, caso haja perigo de dano
de difícil reparação e irreversível.

Sobre o pedido de efeito suspensivo, o C. TST já consolidou no item I da Súmula


414 como deve ser feito o requerimento:

Súmula nº 414 do TST

MANDADO DE SEGURANÇA. TUTELA PROVISÓRIA CONCEDIDA ANTES OU


NA SENTENÇA (nova redação em decorrência do CPC de 2015) - Res. 217/2017 -
DEJT divulgado em 20, 24 e 25.04.2017

I - A tutela provisória concedida na sentença não comporta impugnação pela via do


mandado de segurança, por ser impugnável mediante recurso ordinário. É
admissível a obtenção de efeito suspensivo ao recurso ordinário mediante
requerimento dirigido ao tribunal, ao relator ou ao presidente ou ao vice-
presidente do tribunal recorrido, por aplicação subsidiária ao processo do
trabalho do artigo 1.029, § 5º, do CPC de 2015. - grifo nosso

Já o art. 1.029, §5º, do CPC, prevê:

Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na


Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente
do tribunal recorrido, em petições distintas que conterão:

(...)

§5º O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a


recurso especial poderá ser formulado por requerimento dirigido:

I - ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da


decisão de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o relator designado
para seu exame prevento para julgá-lo;
II - ao relator, se já distribuído o recurso;

III - ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período


compreendido entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de
admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos
termos do art. 1.037.

Registre-se que o recurso ordinário no processo nº 0101051-52.2020.5.01.0082,


até o presente momento (23.9.2021) ainda se encontra na 25ª Vara do Trabalho do
Rio de Janeiro, restando ainda realizar a intimação para apresentação das
contrarrazões, não tendo sido distribuído, portanto, a nenhum desembargador.

De qualquer maneira, verifico que o banco nem sequer requereu a concessão de


efeito suspensivo em seu recurso.

Por mais que o Processo do Trabalho seja informado pela singeleza e princípio da
simplicidade, não é possível receber o pedido de tutela provisória para emprestar
efeito suspensivo a recurso por meio de "tutela cautelar antecedente", já que esta
via corresponde a um processo preparatório, que busca uma tutela provisória de
urgência ou evidência. Já existindo processo, diante da consolidada jurisprudência
em Súmula do C. TST, constitui erro grosseiro a propositura de nova ação
autônoma, impedindo a utilização do princípio da fungibilidade.

Nesse sentido:

TUTELA CAUTELAR ANTECEDENTE. AÇÃO AUTÔNOMA. INDEFERIMENTO DA


INICIAL. AGRAVO INTERNO. DESPROVIMENTO. Mantida a decisão que indeferiu
liminarmente a inicial por inadequação da medida, tendo em vista que, ante a
entrada em vigor do CPC de 2015, o pedido de concessão de efeito suspensivo ao
recurso ordinário deve ser formulado por simples petição, nos próprios autos em
que se processa o recurso, visto que a "medida cautelar inominada", como ação
autônoma, não mais existe no ordenamento jurídico vigente. Agravo desprovido.
(TRT 1ª Região, Segunda Turma, Ag-0101483-65.2016.5.01.0000, Rel. Des. Volia
Bomfim Cassar, Data da Publicação: 14.03.2017)

Diante da incorreção da via eleita, não se pode sequer analisar os argumentos do


mérito do efeito suspensivo ao Recurso Ordinário.

Assim, por inadequada a via eleita para providência tão simples, extingo a
presente Tutela Cautelar Antecedente, com base no art. 485, IV, do CPC." (ID
6b08c34)

Diferentemente do que alega o ora agravante, a decisão ora atacada


é colegiada, e não monocrática, ou seja, a parte se vale do agravo regimental para reformar
acórdão proferido pela 10ª Turma.

Assim, o recurso manejado é manifestamente inadequado, porquanto


o ato judicial atacado não se encontra arrolado nas hipóteses do art. 236 do Regimento Interno
deste Regional da Primeira Região. Cita-se, in verbis:

CAPÍTULO II

DOS RECURSOS DAS DECISÕES PROFERIDAS NO TRIBUNAL

Seção I

Do Agravo Regimental

Art. 236. Cabe agravo regimental, oponível no prazo de oito dias, contados da
intimação, contra despacho ou decisão: (Caput com redação dada pela Emenda
Regimental nº 14, de 12.11.2009).
I - do Presidente do Tribunal, que concede ou nega pedido de suspensão da
execução, de liminar ou de tutela provisória, nos termos da legislação; (Inciso com
redação dada pela Emenda Regimental nº 27, de 22.2.2018).

II - do Corregedor Regional, proferidas em correições parciais e pedidos de


providências; e (Inciso acrescentado pela Emenda Regimental nº 14, de
12.11.2009)

III - do Presidente de Seção Especializada, de Presidente de Turma e de relator,


que concede ou denega medida liminar, tutela provisória ou tutela específica, ou
que indefere inicial de ação de competência originária do Tribunal. (Inciso com
redação dada pela Emenda Regimental nº 27, de 22.2.2018)

Com efeito, em se tratando de Acórdão, e não de decisão


monocrática da Relatora, não é passível de impugnação pela via de agravo.

No mesmo sentido:

AGRAVO REGIMENTAL INCABÍVEL. ERRO GROSSEIRO. SÚMULA 412 DO TST.


Incabível o presente agravo regimental que busca a reforma da decisão colegiada
referida acima, o que caracteriza erro grosseiro, nos termos da súmula nº 412 do
TST, motivo pelo qual não conheço do recurso. Apelo não conhecido. (TRT 1ª
Região, AIRO-0100925-70.2019.5.01.0006, 10ª Turma, Rel. Des. Marcelo Antero
de Carvalho, Publ. 12.6.2021)

Ante o exposto, NÃO CONHEÇO do agravo regimental por ser


incabível na hipótese.

ACORDAM os Desembargadores que compõem a 10ª Turma do


Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, não conhecer do agravo
regimental, nos termos do voto da Exma. Sra. Desembargadora Relatora.

Rio de Janeiro, 08 de abril de 2022.

ALBA VALERIA GUEDES FERNANDES DA SILVA


Relator
AVGFS/fg

Votos

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