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Direito Empresarial Iii - 1 Unidade
Direito Empresarial Iii - 1 Unidade
TEORIA DA VONTADE REAL O negócio jurídico deve se pautar na vontade real do agente.
Havendo divergências entre a vontade interna e a vontade declarada, aquela deverá prevalecer.
CC, Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do
que ao sentido literal da linguagem.
CRÍTICAS
Basear o NJ contratual apenas na vontade real do agente pode gera insegurança jurídica
Prejudica o tráfego negocial, porque os contratantes poderiam sempre alegar que jamais tiveram
a intenção de contratar.
CC, Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental
de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.
CRÍTICAS
No caso de vício do consentimento, como o erro, o negócio jamais poderia ser invalidado, pois o
declarante estaria vinculado a sua declaração.
Essas teorias devem ser entendidas como complementares e não como antagônicas.
“A vontade interna ou real é que traz a força jurígena, mas é a sua exteriorização pela declaração
que a torna conhecida, o que permite dizer que a produção de efeitos é um resultado da vontade,
mas que esta não basta sem a manifestação exterior.” (Caio Mario)
O CC contempla essa teoria por meio dos arts 138, 171 e 309, 311 e 330.
CONTRATOS
CONCEITO
NATUREZA JURÍDICA
ELEMENTOS
PRINCÍPIOS
CLASSIFICAÇÕES
https://universobh.wordpress.com/2013/06/01/direito-civil-iii-classificacao-dos-contratos-
esquematizado/
EXERCÍCIO DO BLACKBOARD
1. O contrato nasce da convergência da proposta e da aceitação. Como bem disciplina a teoria geral
dos contratos, a proposta obriga, sendo o proponente forçado a perdas e danos, caso não a
mantenha. Sobre a matéria, é correto afirmar que:
A) reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi aceito. (proposto, art. 435)
B) o silêncio nunca importa anuência. (quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for
necessária a declaração de vontade expressa art.111)
C) a proposta se mantém obrigatória se, feita sem prazo, por telefone, não for imediatamente aceita,
mas em próximo contato. (art. 428, I)
D) a proposta do contrato obriga o proponente, salvo se seus termos evidenciarem a falta de
obrigatoriedade. (A proposta obriga o proponente, contudo deixa de haver obrigação se nos termos
da proposta constar a falta de obrigatoriedade)
E) na promessa por fato de terceiro, a responsabilização não recairá sobre o terceiro, mesmo que
tenha anuído à promessa, restando o promitente como devedor único.
(Ao anuir à promessa, o terceiro passa a ser o devedor único; no caso de descumprimento, o
devedor primário ficará liberado)
Comentário
É o princípio que assegura a liberdade de contratar, seja contratar ou não, com quem, como e
objeto.
Sofre restrições relativas à ordem pública e aos bons costumes, como, por exemplo, os jogos ilícitos.
O princípio da boa-fé flexibilizou o pacta sunt servanda, e as cláusulas passam a ser mutáveis,
dependendo das condições em que foram contraídas durante negociação e conclusão do contrato.
O princípio da autonomia da vontade está fundamentado na Constituição Federal, art. 5.º, caput
(garante liberdade, igualdade e a propriedade), art. 170, caput, II e IV (traz como princípio da ordem
econômica a propriedade privada e a livre concorrência) e o art. 421 do CC (a liberdade de contratar
será exercida em razão e nos limites da função social do contrato).
3. Relativo aos princípios fundamentais dos contratos, é correto afirmar que:
A) os efeitos dos contratos só serão produzidos entre as partes, não se admitindo que o terceiro que
não contratou sofra qualquer consequência.
B) o princípio da força obrigatória é aquele pelo qual o contrato faz lei entre as partes. Contudo,
permite exceções, como as hipóteses em que se admite a revogação do contrato.
C) o princípio da função social dos contratos está relacionado à busca do equilíbrio social, impondo
que o contrato seja um instrumento de adequado convívio social, contudo estão excluídas do
princípio as matérias que versem sobre meio ambiente, devendo ser tratadas dentro do direito
ambiental.
D) cabe às partes a verificação dos termos do contrato no momento da sua assinatura. Dessa forma,
é obrigação de quem não redigiu o contrato verificar se constam as cláusulas conforme o
combinado.
E) o princípio da boa-fé objetiva serve de vetor interpretativo dos contratos; contudo, diante de uma
cláusula contratual ambígua, por exemplo, deve-se ficar com a interpretação que preserve a boa-fé
do contratante.
Comentário
O princípio da relatividade admite exceções como o cumprimento do contrato pela sucessão do
falecido até o limite da herança, bem como as estipulações em favor de terceiros.
Segundo o princípio da força obrigatória, pacta sunt servanda, os pactos devem ser respeitados; não
é absoluto, admitindo algumas exceções; as hipóteses em que se admite a revogação do contrato
são algumas delas.
O princípio da função social dos contratos impõe respeito aos interesses coletivos, ou seja, o
contrato não deve prejudicar os interesses difusos e coletivos, como o interesse pelo meio ambiente
ecologicamente equilibrado.
Pelo princípio da boa-fé objetiva, agir de boa-fé na fase de celebração do contrato é redigir o
contrato conforme o combinado e de modo claro. Diante de cláusula contratual ambígua, deve-se
ficar com a interpretação que preserva a boa-fé das partes.
Comentário
Nos contratos não solenes a forma é livre, podendo simplesmente ser verbal.
Nos contratos gratuitos a fraude contra credores é presumida, já nos contratos onerosos a fraude
deve ser provada.
Comentário
Também chamado intuitu personae, nesse tipo de contrato geralmente há obrigação de fazer, e tem
como característica elementos de confiança, qualidade técnica e qualidade artística.
Comentário
Segundo o Código Comercial Brasileiro, os vocábulos empregados nos contratos mercantis devem
ser entendidos em consonância com o costume e o uso do comércio (art. 130), prevalecendo o
costume sobre qualquer outro significado que se possa dar às palavras (art. 131).
Comentário
Conforme o art. 2.035 do Código Civil: "[...] Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se
contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a
função social da propriedade e dos contratos".
Comentário
Refere-se à boa-fé objetiva, adotada pelo art. 422 do Código Civil. A boa-fé objetiva é regra de
conduta dos indivíduos nas relações jurídicas obrigacionais. Interessam as repercussões de certos
comportamentos na confiança que as pessoas normalmente neles depositam. Confia-se no
significado comum, usual, objetivo da conduta ou comportamento reconhecível no mundo social. A
boa-fé objetiva importa conduta honesta, leal, correta. É a boa-fé de comportamento.
Em geral as normas de compra e venda são dispositivas, isto é, admitem que as partes alterem
as suas disposições, mas ao mesmo tempo vamos ter normas imperativas, normas proibitivas de
ordem pública (ex: normas que proíbe o contrato de herança de pessoa viva (art. 426, CC), eu não
posso alienar herança não recebida)
Conceito apenas obriga o vendedor a transferir o domínio de certa coisa e ao comprador obriga-
lhe a pagar certo preço em dinheiro, isto é, em moeda corrente (art. 481, CC). Essa coisa precisa ser
apropriável economicamente, deve possuir valor patrimonial.
Natureza jurídica:
(I) consensual a compra e venda nasce da vontade consensual das partes, isto é, reputa-se
configurado o contrato de compra e venda com o consentimento das partes, o fato de uma das
partes não adimplir a sua prestação não invalida, não descaracteriza ou não desconstitui o contrato;
(II) bilateral : a compra é uma via de mão dupla, as obrigações entre as partes se equivalem em
termos econômicos, o que eu compro vale o que eu pago;
(III) onerosa a compra e venda importa em ganhos e perdas recíprocos, em vantagens
patrimoniais (circulação de riqueza) recíprocas;
(IV) comutativa (sinalagma) na compra e venda eu sei o que estou recebendo ou pagando, cada
parte sabe exatamente o que suas respectivas obrigações correspondem, excepcionalmente, por
vontade das partes uma das obrigações pode se tornar aleatória.
São elementos necessários à existência do contrato: consentimento (art. 482), preço (arts. 485/489)
e coisa (art. 483).
Formalidade nem sempre é exigida, depende do tipo de bem. No caso de bem imóvel é
obrigatório o registro para se efetivar a transferência se o valor do imóvel for superior a trinta vezes o
maior salário mínimo vigente no País (art. 108, CC)
A coisa é o objeto sobre o qual se funda o contrato; trata-se de um bem, móvel ou imóvel cuja
existência pode ser atual ou futura, e deve ser suscetível de apreciação econômica. No que se
refere a esse elemento, destaca-se que deve ser a coisa lícita, determinada ou determinável.
Salienta-se que o art. 483 do Código Civil permite a compra e venda de coisa futura, como, por
exemplo, ocorre nas encomendas. Nesse caso, a coisa deve existir no momento futuro, sob pena de
trazer ao contrato sua ineficácia, com exceção dos contratos de risco, nos chamados contratos
aleatórios.
Não obstante, também em relação à coisa, o vendedor deve possuir a propriedade da coisa, sob
pena da ineficácia do contrato, no chamado venda a non domino, não constituindo a tradição do bem
móvel a alienação da propriedade (art. 1268 do Código Civil). Em relação ao preço, só pode ser
fixado em moeda estrangeira se tratar-se de um contrato de compra e venda internacional, nos
termos do Decreto-Lei 857/1969. Já em relação às partes, elas devem ser capazes (sob pena de
nulidade ou anulabilidade do contrato).
DESAFIO
O contrato de compra e venda, disposto entre os artigos 481 até 532 do C. C., é o primeiro contrato
tipificado no Código Civil, o que demonstra sua grande importância nas relações sociais privadas.
Trata-se de um contrato em que as partes, livremente, se comprometem a transferir uma coisa em
troca de um preço justo, podendo ser realizado de forma escrita ou verbal.
Imagine que você foi contratado pelo senhor Carlos (promitente comprador), que necessitava de um
paracer jurídico sobre o contrato realizado na compra de um imóvel. No momento da compra, foi
realizado um contrato de compra e venda do imóvel e, em uma das cláusulas, foi estipulada multa
de mora para o caso de atraso na entrega.
No entanto, a data estipulada para a referida entrega não foi cumprida. O senhor Carlos, acreditando
que as cláusulas contratuais seriam devidamente cumpridas, vendeu e entregou o imóvel em que
morava, tendo que alugar um imóvel para residir, enquanto aguarda a entrega do imóvel, o que está
acarretando prejuízos financeiros.
Tendo ocorrido atraso na entrega do imóvel e sendo prevista multa de mora nesse caso, eu
aconselharia meu cliente a requerer do promitente vendedor, além do cumprimento da obrigação e
do valor fixado como cláusula penal moratória prevista no contrato, a indenização correspondente
aos lucros cessantes pela não fruição do imóvel durante o período de mora. Isso acontece porque a
cláusula penal compensatória (art. 410 do C.C.) incide sobre o inadimplemento integral da
obrigação. Porém, no caso apresentado, foi utilizada a cláusula penal moratória (art. 411 do C.C.),
prevista nos casos em que há descumprimento parcial de uma obrigação ainda possível e útil; é
entendimento jurisprudencial que as cláusulas moratórias não contêm previsão de compensação e,
sendo assim, permitem que o credor exija cumulativamente o cumprimento do contrato, a execução
da cláusula penal e eventual indenização por perdas e danos. Não obstante, devido ao prejuízo
sofrido em relação à necessidade de alugar novo imóvel, cabe ainda danos materiais em relação ao
valor do aluguel.
NA PRÁTICA
Nas relações cotidianas, em especial em razão da crise econômica vivenciada no Brasil e da grande
expansão das construções imobiliárias, um grande problema vivenciado pelos brasileiros diz respeito
à rescisão do compromisso de compra e venda de imóveis na planta, também conhecido como
distrato.
Tantas foram as demandas verificadas, que o STJ editou a Súmula n.º 543: “Na hipótese de
resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel submetido ao Código de Defesa
do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador –
integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso
tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento”.
IMPOSSIBILIDADE DO PAGAMENTO
QUESTÃO
1) A rescisão contratual constitui tema de grande discussão jurídica entre os doutrinadores.
Recentemente, o próprio Superior Tribunal de Justiça abordou o tema em entendimento sumulado.
Com relação à rescisão aplicada à promessa de compra e venda e tendo em vista o posicionamento
do STJ, assinale a alternativa correta.
B) O STJ, na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel
submetido ao Código de Defesa do Consumidor, entende que deve ocorrer a imediata restituição
das parcelas pagas pelo promitente comprador – integralmente, em caso de culpa exclusiva do
promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao
desfazimento, tal posicionamento está inclusive sumulado. (Súmula n.º 543 do STJ)
2) O art. 108 do Código Civil prescreve: "Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é
essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou
renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a 30 (trinta) vezes o maior salário mínimo
vigente no País". Com relação ao registro imobiliário da promessa de compra e venda e ao
posicionamento do STF, assinale a alternativa correta.
C) O STF tem decisão firmada no sentido de permitir a inscrição imobiliária do compromisso de
compra e venda, entendendo que o direito meramente obrigacional da promessa de compra e venda
se transforma em direito real à aquisição (oponível erga omnes), com o poder de sequela que é
próprio dos direitos dessa natureza. Sobre tal assunto, há inclusive a Súmula n.º 168.
Comentário
O STF tem a Súmula n.º 168 que possibilita, “a inscrição imobiliária do compromisso de compra e
venda no curso da ação". Além disso, tem como jurisprudência, “com o registro, o direito meramente
obrigacional da promessa de compra e venda se transforma em direito real à aquisição (oponível
erga omnes), com o poder de sequela que é próprio dos direitos dessa natureza. (...)" (MS 24.908
AgR, Rel. min. Joaquim Barbosa, voto do Min. Ayres Britto, P, j. 27-10-2005, DJE 47 de 29-06-2007,
republicação no DJE 77 de 10-08-2007).
3) O contrato de compra e venda poderá dispor de cláusulas especiais, como a venda a contento, a
venda sujeita à prova, a retrovenda, a venda de reserva de domínio, a venda sobre documentos, a
preempção e a preferência. A respeito da cláusula de retrovenda, disciplinada pelo Código Civil de
2002, assinale a alternativa correta.
E) Está prevista no art. 505 do Código Civil e trata-se de uma cláusula acessória. Consiste na
possibilidade que o vendedor tem de resgate do bem imóvel que fora vendido. Somente é aplicável
em bens imóveis, respeitando o prazo de caducidade, de até 3 anos a partir da data da compra do
bem.
Comentário
A cláusula de retrovenda (pactum de retrovendendo) está prevista no art. 505 do CC, sendo
caracterizada como uma cláusula acessória. Nessa cláusula, somente é aplicável em bens imóveis,
respeitando o prazo de caducidade, de até três anos a partir da data da compra do bem. Tal cláusula
consiste na possibilidade que o vendedor tem de resgate do bem imóvel que fora vendido,
constituindo assim um pacto acessório. Para tal, é necessário que haja a devolução ao comprador
do "preço justo" do bem imóvel, incluindo as despesas gastas com impostos, por exemplo; o valor do
bem corrigido monetariamente; e as benfeitorias necessárias.
4) Utilizada em demasia nos negócios de importação e exportação, a venda sobre documentos foi
disciplinada no Código Civil de 2002 com alguns aspectos especiais. A respeito da venda sobre
documentos, assinale a alternativa correta.
A) De acordo com o art. 529 do CC, na venda sobre documentos, a tradição da coisa é substituída
pela entrega do seu título representativo e dos outros documentos exigidos pelo contrato ou, no
silêncio deste, pelos usos. Tal modalidade é mais comum de ocorrer em casos envolvendo comércio
marítimo como um instrumento para agilizar o processo contratual.
Comentário
De acordo com o art. 529 do CC, "na venda sobre documentos, a tradição da coisa é substituída
pela entrega do seu título representativo e dos outros documentos exigidos pelo contrato ou, no
silêncio deste, pelos usos". Essa modalidade é mais comum de ocorrer em casos envolvendo
comércio marítimo como um instrumento para agilizar o processo contratual, adiantando algumas
etapas efetivando o negócio jurídico sem que tenha havido a análise da coisa, que está em posse de
terceiros. Sendo assim, ocorre a entrega do título e a mercadoria ainda está pendente de liberação.
DESAFIO
A promessa de compra e venda é bastante comum no cotidiano. Trata-se de uma espécie de
contrato em que uma pessoa, física ou jurídica, se obriga a vender a outra um imóvel por preço,
condições e modos pactuados.
No caso em análise, você deverá requerer ao juiz a adjudicação do imóvel, mesmo tendo sido a
promessa de compra e venda sido celebrada por instrumento particular com base nos arts. 1.417 e
1418 do Código Civil, conforme segue a seguir:
"Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento,
celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis,
adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel.
Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou de
terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e
venda, conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se houver recusa, requerer ao juiz a
adjudicação do imóvel."
Não obstante, a Súmula n.º 168 do STF e a jurisprudência também do STF entendem que, "com o
registro, o direito meramente obrigacional da promessa de compra e venda se transforma em direito
real à aquisição (oponível erga omnes), com o poder de sequela que é próprio dos direitos dessa
natureza. (...)" (MS 24.908 AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, voto do Min. Ayres Britto, P, j. 27-10-
2005, DJE 47 de 29-06-2007, republicação no DJE 77 de 10-8-2007).
CONTRATO DE FRANCHISING
De acordo com Fran Martins, franchising “é o contrato que liga uma pessoa a uma empresa, para
que esta, mediante condições especiais, conceda à primeira o direito de comercializar marcas ou
produtos de sua propriedade sem que, contudo, a esses estejam ligados por vínculo de
subordinação”.
O contrato de franquia exerce hoje uma função sócio-econômica sem igual em todo mundo,
especialmente em países subdesenvolvidos, como é o caso do Brasil. Ele auxilia no aprimoramento
de setores como o fast food, trazendo novas formas de comercialização dos produtos, técnica de
vendas, entre outros benefícios.
A Lei 13.966/2019 (atual Lei das Franquias) disciplina o sistema de franquia (vide art. 1º)
o art. 2º da Lei 8.955/94 (revogada) trata-se de um sistema pelo qual um franqueador cede ao
franqueado o direito de uso da marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva de
produtos ou serviços e eventualmente ao direito de uso da tecnologia de implantação e
administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador
mediante remuneração direta ou indireta sem que, no entanto, fique caracterizado o vínculo
empregatício. Trata-se, portanto, de um contrato entre duas empresas, uma que fornece todo o
conjunto de competências (know how), habilidades, relações e técnicas para outra que por sua vez
se encarrega de gerenciar e comercializar esse conjunto em troca de uma contrapartida financeira,
geralmente um percentual sobre o lucro.
O art. 2º da LEI 13.966/2019 elenca os requisitos legais que deverão constar no COF, sob pena
de rescisão contratual.
2. O modelo original de franquia foi se aperfeiçoando ao longo dos anos. Passou a ser utilizada com
mais frequência pelos comerciantes do século XV, momento no qual atingiu formas mais similares
com o modelo atual. Nesse contexto, qual empresa foi a pioneira no sistema de franquias?
D) Singer Sewing Machine Company.
O formato atual do contrato de franquia foi observado pela primeira vez com a Singer Sewing
Machine Company, de Connecticut (EUA), em 1860. A empresa, com o intuito de ampliar sua
participação no mercado varejista, outorgou franquias a pequenos comerciantes, que passaram a
comercializar seus produtos em lojas com a denominação Singer, arcando com as despesas e os
riscos. Os comerciantes credenciados podiam utilizar a marca, os produtos, as técnicas e o know-
how para abrirem as filiais.
CONCEITO DE FRANQUIA
A franquia consiste em uma espécie de contrato, no qual um empresário – chamado de franqueador
ou franchisor – empresta, por meio de licenciamento e mediante remuneração, o uso de sua marca
para outro empresário, o qual é intitulado de franqueado ou franchisee. É um sistema pelo qual um
franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de
distribuição exclusiva ou semiexclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito
de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional
desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração.
É por meio do contrato de franquia que o franqueador, detentor da marca, pode ingressar em
mercados nos quais dificilmente entraria se dependesse de seus recursos próprios, sejam
financeiros ou humanos. Para isso, conta com a presença física do franqueado e com o
conhecimento que cada um tem dos hábitos e cultura da região onde vive e trabalha.
Além de disponibilizar o produto, garante exclusividade de exploração sobre determinada área,
assistência técnica e, muitas vezes, publicidade.
A franquia é uma alternativa interessante para o investidor, pois os produtos já foram testados pelo
mercado, já possuem ampla aceitação, além de proporcionar uma forma mais acessível inserção no
mercado com toda uma estrutura pronta e know how (expertise) do franqueador. Ademais, o custo
de dinheiro e de tempo é muito maior se vc começa um negócio do zero com produtos
desconhecidos do público-alvo até alcançar um certo patamar de maturidade do negócio.
A ideia básica da franquia é expandir o negócio com capital alheio. Nesse caso, o investidor não
adquire parte do negócio, não se trata de participação no capital da empresa franqueadora, o
franqueado apenas obtém autorização desta para explorar a marca, aproveitando a consolidação
dos produtos da franqueadora no mercado.
O sistema de franquia estrutura o negócio com métodos, com padrões (processos padronizados),
com sistematização da cadeia produtiva, desde a aquisição da matéria-prima até a forma de
atendimento do cliente, nesse sentido, todo o processo é racionalizado para que se tenha ganhos de
escala ao montar uma grande rede.
A economia em escala é uma vantagem, mas o poder de decisão limitado, a localização forçada e
a dificuldade na transferência do negócio são desvantagens.
https://www.conjur.com.br/2017-jun-23/luciana-crincoli-franquias-exigem-atencao-formalidades-legais
https://www.conjur.com.br/2019-set-25/franqueador-nao-responde-divida-trabalhista-franqueada
Esse tipo de contrato exclui a relação de consumo ou vínculo empregatício acerca do franqueado ou
seus colaboradores, ainda que seja durante o treinamento.
Para a implantação da franquia, o franqueador deverá fornecer, pelo menos, 10 dias antes da
assinatura do contrato, a Circular de Oferta de Franquia (COF) de forma objetiva, contendo tudo
sobre a marca. Antes da Lei de Franquia (Lei 8955/94, revogada pela Lei 13.966/2019) o franqueado
entrava no negócio desprotegido juridicamente.
A COF deve conter informações claras e detalhadas. O franqueador é obrigado a comprovar toda
capacidade técnica vendida sob pena de nulidade contratual. Ora, se o franqueador omitir
informações exigidas em lei ou veicular informações falsas na COF, o franqueado poderá arquir a
nulidade do contrato e exigir a devolução de todas e quaisquer quantias já pagas ao franqueador,
sem prejuízo das sanções penais cabíveis (art. 4º da Lei de Franquia).
Antes de assinar um contrato de franquia o candidato a franqueado deve ser diligente e tomar as
cautelas devidas quais sejam: (1) avaliar se atende aos requisitos/critérios exigidos quanto ao perfil
(ex: escolaridade, experiência) para saber se ele se enquadra na descrição do negócio; (2) avaliar a
viabilidade jurídica (analisa as atividades, o uso da marca e outros direitos de propriedade
intelectual, se existe alguma omissão ou veiculação de informação inverídica no contrato); (3)
analisa a viabilidade financeira (remuneração, vantagens e desvantagens oferecidas, despesas,
taxas, payback, análise das demonstrações contábeis); (4) entrevistar franqueados e ex-
franqueados; (5) como ocorre o suporte do franqueador, isto é, o acompanhamento especializado da
rede, a logística (o fornecimento estratégico de mercadoria, o treinamento (recursos tecnológicos,
sistemas e comunicação); (6) qual o valor da taxa de publicidade? o franqueado pode promover a
marca por conta própria?
Não, pois o contrato de franquia exclui a relação de consumo ou vínculo empregatício acerca do
franqueado ou seus colaboradores, ainda que seja durante o treinamento, conforme dispõe o art. 1º
da Lei de Franquia (Lei 13.966/2019). Não há relação de subordinação entre franqueador e
franqueado, o franqueado tem autonomia econômica e jurídica, atuando como um empreendedor e
não como empregado, assumindo os riscos do negócio e se responsabiliza pelos empregados e
todas as despesas que eventualmente surgirem com o desenvolvimento do negócio.
QUESTÃO DESAFIO 1
O contrato de franquia pode ser classificado como consensual, visto que ele se aperfeiçoa com a
vontade das partes; bilateral, pois dele se desdobram obrigações para ambas as partes; oneroso,
uma vez que a cada parte incumbe um ônus; de trato sucessivo, pois a sua execução ocorre dentro
do prazo acertado; e atípico, porque a regência da relação entre as partes se realiza por cláusulas
convencionais.
Alberto é um empresário do ramo alimentício que já possui uma loja de médio porte no centro do
Distrito Federal (DF). Como ele entende bem do assunto e estava interessado em ampliar seus
negócios, procurou uma franquia da mesma área para se candidatar a franqueado.
Recebeu deles a Circular de Oferta de Franquia (COF) com prazo de 10 dias de antecedência,
conforme estipulado pela Lei n.° 8.955/94. Ele analisou as informações prestadas pelo franqueado e
decidiu pela filiação. Ao ingressar na rede, Alberto pagou a taxa de franquia, que funciona como uma
validação do contrato entre a rede e o franqueado.
Contudo, quando estava prestes a implementar a franquia, ele sofreu o seguinte incidente,
conforme pode ser observado na imagem a seguir:
PADRÃO DE RESPOSTA ESPERADO
Contrário à Alberto, pois como o franqueado não é destinatário final do produto e serviço oferecidos
pela franqueadora, não se encaixa no conceito de consumidor, não sendo possível falar em Código
de Defesa do Consumidor. Como a dissolução do contrato decorreu de desistência unilateral por
parte do franqueado, não há como condenar a empresa franqueadora ao pagamento de multa
contratual nem ao de indenização por lucros cessantes. Além disso, a rescisão do contrato antes da
implementação da franquia autoriza a retenção parcial da taxa de franquia na proporção do prejuízo
experimentado pela franqueadora, conforme Lei das Franquias (n.° 8.955/94) e Código Civil.
QUESTÃO DESAFIO 2
Coughlan et al. (2011) afirmam que um dos segredos para o sucesso do modelo de franquias é uma
relação estreita entre franqueador e franqueado. Essa relação envolve a utilização de diferentes
recursos e estruturas para que possa ser articulada de forma clara e benéfica a todos os envolvidos.
A partir do momento em que o franqueado inicia suas atividades, ambos se preocupam com o
sucesso da franquia e o fortalecimento da sua marca. De acordo com Caughlan et al. (2011),
franqueadoras estabelecidas no mercado como a empresa McDonald's têm manuais elaborados
para detalhar aos seus franqueados suas normas, questões contratuais e indicações operacionais.
Em relação aos processos e às garantias de retorno, o empreendedor pode conferir com calma o
manual operacional do franqueado. Esse material trará as principais orientações para que a franquia
traga o retorno esperado, como uma unidade de negócios. Em caso de dúvidas quanto a esse
material, o empreendedor pode, e deve, solicitar auxílio dos gestores/consultores de franquias da
franqueadora. Parte do seu trabalho é justamente garantir esse tipo suporte.
CONTRATOS COMERCIAIS
DESAFIO
Apesar de certos contratos serem eminentemente mercantis quando firmados por empresários,
como é o caso do leasing feito, por exemplo, entre a indústria e o banco para aquisição de máquinas
novas, podem eventualmente se submeter às normas do Código de Defesa do Consumidor (CDC),
bastando para tanto que um dos contratantes seja consumidor, ou seja, o destinatário final do
produto ou serviço negociado conforme o art. 2º do CDC.
Sendo assim, você foi contratado para prestar consultoria jurídica de uma empresa de importação e
exportação. Diante de determinada situação, seu cliente está tentando encontrar uma solução para
um desentendimento.
Sim, conclui-se que nas relações entre empresários, em regra, não se aplicará o CDC, posto que
nenhuma das partes assume a condição de destinatário final, já que os produtos ou serviços serão
usados, de forma direta ou indireta, na atividade econômica que exercem.
Aplica-se o CDC quando uma das partes, ainda que seja um empresário individual ou uma
sociedade empresária, assume a condição de destinatário final econômico do produto ou
serviço.
1. A solução de conflitos por meios alternativos é uma realidade moderna. Pode-se afirmar que:
B) Trata-se de uma inovação de simples implementação.
Os meios alternativos de solução de conflitos, cuja aceitação pela sociedade tem aumentado, são
uma alternativa à morosidade dos processos judiciais, sendo menos burocráticos, mais baratos e
adequados às diferentes espécies de conflitos.
2. É possível utilizar os meios alternativos de conflito como uma possibilidade para solucionar todos
os conflitos, inclusive os que ocorrem nos meios empresarias. Marque a alternativa correta:
C) Na mediação e na arbitragem há a intervenção de um terceiro, embora ele tenha funções
distintas.
A mediação e a arbitragem terão sempre a intervenção de um terceiro, mas com diferentes papéis.
Enquanto o mediador tenta induzir que os conflitantes achem a própria solução; na arbitragem, o
árbitro decidirá pelas partes, atribuindo uma solução.
3. A resolução de conflito pode ser previamente pactuada entre os contratantes. Quanto às cláusulas
contratuais compromissárias, pode-se afirmar que:
E) prescrevem o uso de meios alternativos de soluções de conflitos.
As cláusulas vazia e cheia têm coercitividade própria. Mas quando as partes não pactuarem sobre o
estabelecimento do árbitro e procedimento na cláusula vazia, o Poder Judiciário será chamado a
resolver sobre essas lacunas. Considera-se cheia a cláusula que prescreve a forma de escolha de
árbitro e opta pelo procedimento de alguma câmara específica.
Vale pontuar em primeiro lugar que os contratos empresariais (mercantis) são por natureza paritários
e simétricos (art. 421-A da Lei 13.874/2019 - Lei de Liberdade Econômica), não há nenhuma
desigualdade nessa relação. Em segundo lugar, conforme descrito no enunciado, fica evidente que a
pandemia da COVID-19 trouxe reflexos negativos que abalaram os contratos empresariais (aumento
dos custos em razão da escassez de insumos) a ponto de causar desequilíbrios na execução
contratual. Ora, pela teoria da imprevisão, o acontecimento narrado na questão caracteriza um fato
imprevisto e extraordinário que torna para uma das partes ou para ambas a prestação
excessivamente onerosa, justificando, portanto, a revisão do contrato para trazê-lo a uma situação
de equilíbrio (princípio do equilíbrio contratual ou da equivalência material), conforme previsão do
art. 478 do CC.
As partes no uso de sua autonomia privada podem submeter eventuais conflitos gerados a partir do
dos reflexos da pandemia no cumprimento de suas obrigações contratuais a uma forma alternativa
de solução de conflito por meio da Arbitragem ou da Mediação/Conciliação para se chegar a uma
denominador comum de forma mais célere sem envolver a justiça comum que costuma ser muito
lenta.