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Aspectos Neurobiológicos

e
Neuropsicológicos do Autismo
Autismo

Descrito em 1943 por Leo Kanner => estudou 11 casos


clínicos que chamou de distúrbios autísticos, nos quais
enfatizou:
• Incapacidade de relacionar-se com pessoas desde o
nascimento
• Insistência na monotonia
• Respostas incomuns ao ambiente
• Maneirismos motores esteriotipados
• Resistência a mudança
• Aspectos não usuais das habilidades de comunicação da
criança => inversão dos pronomes e ecolalia.
(GIRODO; NEVES; CORREA, 2008, p.230).
Autismo

• Durante os anos de 1950 e 1960 a crença mais comum era de


que o autismo era causado por pais não emocionalmente
responsivo com os filhos – visão abandonada em virtude de
diversos estudos que refutaram fortemente esta idéia. (GIRODO;
NEVES; CORREA, 2008, p.231).

• Muitas evidências sugeriam o autismo como um transtorno


orgânico-cerebral presente desde a infância e encontrado em
indivíduos de todos os países, grupos socieconômicos e étnicos
investigados. (Ibdem).
• Em 1980 o autismo foi pela primeira vez reconhecido e
colocado em uma nova classe diagnóstica: os transtornos
invasivos do desenvolvimento (TDI) no DSM-III. O termo TDI
também foi adotado na décima revisão da CID-10 e no DSM-IV.
(Ibdem).
Autismo

• Distúrbio de comportamento de início precoce


(antes dos três anos) e curso crônico;
• Já se observa sintomas nos dois primeiros
meses de vida;
• Impacto variável em áreas múltiplas;
• Prejuízos na interação e na comunicação sociais;
• Interesses restritos;
• Padrões de comportamento repetitivos e
estereotipados. Maneirismos. (GIRODO; NEVES; CORREA, 2008,
p.230).

Prejuízo na interação social


combinado a déficit de linguagem e
alterações do comportamento.
Autismo

• 60 a 70 % associado a retardo mental;


• 33 % associado a epilepsia;
• Determinado biologicamente;
• Diagnóstico essencialmente clínico (CID 10 e DSM IV);
• É um TDI – Transtorno Invasivo do Desenvolvimento;
• Epidemiologia: 4 a 5 vezes mais no sexo masculino;
• Etiologia: heterogênea e multifatorial, com forte e
complexa influência genética (90%). Causa conhecida
em apenas 10% dos casos => síndrome do X frágil,
esclerose tuberosa e anormalidades cromossômicas,
infecções pré-natais por influenza e citomegalovírus.
(GIRODO; NEVES; CORREA, 2008, p.230).
Autismo
Curso e Prognóstico:
•Vários fatores são preditores do curso e
prognóstico, particularmente a presença de alguma
linguagem por volta dos 5 ou 6 anos, inteligência não
verbal, gravidade da condição e a resposta à
intervenção educacional; (GIRODO; NEVES; CORREA, 2008, p.234-235).

• Dois terços têm um prognóstico pobre; (Ibdem).


•somente um terço conseguem atingir algum grau de
independência pessoal e suficiência como adultos;
(Ibdem).

•Somente um décimo é capaz de exercer atividade


profissional eficiente e ter vida independente. (Ibdem).
Autismo

Neurobiologia: afeta o cerebelo, tronco encefálico,


lobos frontais, parietais, hipocampo, amígdalas. (GIRODO;
NEVES; CORREA, 2008, p.232).

• Estudos de Ressonância Magnética indicam:


diminuição no volume do cerebelo, tronco, lobo
parietal e parte do corpo caloso. (Ibdem).

Estreitamento do foco espacial da atenção.

• Amígdalas – anormalidades no processamento


emocional e comportamento social. (Ibdem).
Autismo

• Fatores Biológicos (comorbidades: alta incidência de


retardo mental e epilepsia – também associado a
condições neurológicas, como rubéola congênita,
fenilcetonúria, esclerose tuberosa e síndrome de Rett).
(GIRODO; NEVES; CORREA, 2008, p.232-233).

• Fatores genéticos (herdabilidade de 90%) (Ibdem).

•Fatores perinatais (anemia neonatal, síndrome


sofrimento respiratório) (Ibdem).
• Fatores psicossociais (respondem com exarcebação
sintomática a estressores psicossociais como
discórdia, nascimento de novo irmão ou mudanças na
família) (Ibdem).
Autismo
CARACTERÍSTICAS:

• Crianças autistas não apresentam interação social com


seus pais. (GIRODO; NEVES; CORREA, 2008, p.233-234).
• Quando bebês, não tem sorriso social ou postura
antecipatória, além de pobre contato visual. (Ibdem).
• Seu desenvolvimento social é caracterizado por apego
prejudicado e ausência de diferenciação entre pessoas
importantes. (Ibdem).
• Podem apresentar ansiedade extrema diante de
mudanças na rotina. (Ibdem).
• Quando atingem idade escolar seu retraimento pode ser
menos óbvio. (Ibdem).
• Há notável prejuízo na capacidade de brincar com seus
pares e em se defender adequadamente. (Ibdem).
Autismo
•Interesse por atividade repetitiva (memorizar
números). (GIRODO; NEVES; CORREA, 2008, p. 234).

• Esteriotipias, maneirismos e caretas são muito


comuns. (Ibdem).
• Distúrbios do sono (ficar acordado por longos
períodos a noite) e alimentares (aversão a certos
alimentos devido à textura, cor, odor ou recusa em
provar alimentos novos e insistência em comer
apenas uma pequena seleção de alimentos). (Ibdem).
•Hetero e autoagressividade (morder mãos ou punhos
até sangrar) (Ibdem).
•Frustração pode levar à explosões de agressividade.
(Ibdem).
Autismo

Cognição
•Alterações precoces e fundamentais no processo de
socialização; (GIRODO; NEVES; CORREA, 2008, p.235).
•Retardo mental é presente em 75% dos casos; (Ibdem).
•O autismo clássico pode estar presente em pessoas com
inteligência normal ou superior (teste de QI não é critério
diagnóstico); (Ibdem).
• “Ilhas de precocidade” = habilidades surpreendentes e
até prodigiosas, pela preservação de muitas áreas do
funcionamento cognitivo; (Ibdem).
• “Ilhotas de habilidades especiais” ou splinter skills –
um dos mais fascinantes fenômenos cognitivos do
autista => habilidades preservadas ou altamente
desenvolvidas. (Ibdem).
Autismo

Cognição
•Talvez 10% exibam uma forma de habilidade
savant – desempenho alto, as vezes prodigioso
em uma havilidade específica. Ex. Memória. (GIRODO;
NEVES; CORREA, 2008, p.235).

• Predileção por rotinas e invariância. (Ibdem).


• Déficits de raciocínio abstrato, formação de
conceitos verbais e habilidades de integração, e
em tarefas que exigem certo grau de raciocínio
verbal e compreensão social. (Ibdem).
• Sistematização => preferência por detalhamento
de partes de um objeto ou cena em detrimento do
todo. (Ibdem).
• Preferência por raciocínios e tarefas repetitivos.
(Ibdem).
Autismo
Cognição
• Prejuízo das funções executivas como planejamento
de manutenção de um objetivo, aprendizado por
feedback e inibição de respostas irrelevantes. (GIRODO;
NEVES; CORREA, 2008, p.236).

• Incapacidade ou limitação em deduzir os


sentimentos ou estado mental de seus pares;
• Vários estudos apontam para um déficit no
processamento de emoções faciais em autistas (medo,
raiva). (GIRODO; NEVES; CORREA, 2008, p.237).

De fato, problemas em reconhecer, representar e


expressar pensamentos e emoções estão diretamente
relacionados à incompetência social e apresentam
forte associação com os prejuízos comunicativos no
autismo.
Autismo

Teoria da Mente 
As bases neurais da empatia parecem depender da integridade dos
corpos amigdalóides, dos córtices frontal e medial e orbiofrontal, do
sulco temporal superior e do giro temporal superior. Juntas estas
estruturas são chamadas de cérebro social. (GIRODO; NEVES; CORREA, 2008, p.237)
 Crianças com autismo de alto funcionamento apresentam prejuízos na
habilidade de compreender estados mentais representacionais. (Ibdem).
 Denomina-se “teoria da mente” essa capacidade de inferir a respeito
dos estados mentais dos outros a partir de um sistema de referências
que viabiliza comparações entre nosso estado interno (subjetividade) e
externo. (Ibdem).
 Uma característica do estilo cognitivo de crianças autistas é a
incapacidade ou a limitação em deduzir os sentimentos ou estado
mental de seus pares, o que as torna incapazes de interpretar o
comportamento social dos outros e leva à falta de reciprocidade social.
(Ibdem).
Autismo

Processamento emocional

•Aversão ao contato visual direto:


Estudos da movimentação ocular têm mostrado
anormalidades na fixação do olhar: quando o autista
olha para uma face humana ele olha para a boca. Em
pessoas sem o transtorno, o olhar é direcionado para
a região dos olhos. (GIRODO; NEVES; CORREA, 2008, p.237).
Autismo
Linguagem

Prejuízo global da linguagem: (GIRODO; NEVES; CORREA, 2008, p.238).


Recepção e produção fonológica (sons da fala); (Ibdem).
Sintaxe (gramática); (Ibdem).
Semântica (significado); (Ibdem).
Pragmática (uso comunicativo da linguagem,
processamento e produção do discurso) – problema
mais severo; (Ibdem).
Prejuízos notáveis na percepção da ênfase da
prosódia, bem como sua produção; (Ibdem).

•Aproximadamente metade dos autistas nunca chega


a desenvolver a linguagem oral e os que chegam a
falar podem apresentar uso atípico da linguagem. (Ibdem).
F84.0 - 299.00
TRANSTORNO AUTISTA -
DSM.IV 
Critérios diagnóstico DSM IV para o
AUTISMO

Precisa ter dois prejuízos na


interação social,
um na comunicação e um no
comportamento.
Critérios diagnóstico DSM IV para o AUTISMO

1- Interação social – padrão diferente, prejuízo


qualitativo.
a) Prejuízo comportamento não verbal (expressão facial,
corporal, olhar). O prejuízo se deve a dificuldade das
expressões não verbais.
O autista não considera humanos como um estímulo
“melhor” do que um estímulo inanimado.
b) Fracasso em desenvolver relacionamentos com seus
pares apropriados ao nível do desenvolvimento. Não
conseguem dar atenção ao outro, se isolam.
c) Falta de tentativa espontânea de compartilhar prazer,
interesses ou realizações com outras pessoas.
d) Falta de reciprocidade social ou emocional. Maior
dificuldade do autista. Não tem empatia.
Critérios diagnóstico DSM IV para o AUTISMO

2- Prejuízo qualitativo da comunicação – a


comunicação não é melhor nem pior e sim diferente.
a) Atraso ou ausência total de desenvolvimento da
linguagem falada. O autista gorjeia, balbucia, fala
primeiras palavras mas, quando a linguagem deve ser
comunicativa ele não fala. Não tem interesse em
comunicar.
b) Em indivíduos com fala adequada, acentuado prejuízo
na capacidade de iniciar ou desenvolver uma
conversação.
c) Uso estereotipado e repetitivo da linguagem (descolada
do contexto),
d) Falta de jogos ou brincadeiras de imitação social
variados e espontâneos apropriados ao nível do
desenvolvimento. Não quer brincar de faz de conta.
Critérios diagnóstico DSM IV para o AUTISMO

3- Padrões restritos e repetitivos de


comportamentos, interesses e atividades
a) Preocupação insistente com um ou mais padrões
estereotipados e restritos de interesse, anormais em
intensidade ou foco. Ilha de competência.
b) Adesão aparentemente inflexível a rotinas ou rituais
específicos e não-funcionais.
c) Maneiras motores estereotipados e repetitivos (agitar
ou torcer mãos ou dedos, balanceio do tronco, girar
punho...
d) Preocupação persistente com partes de objetos.
Autismo
Tratamento
Várias terapêuticas:
•Medicamentosa: alívio nos sintomas para facilitar
reabilitação, proporcionando convivência familiar
menos prejudicada)
-Neurolépticos (facilitar aprendizado por diminuir agitação)
-Anfetaminas (diminuição da hiperatividade e otimização da
aprendizagem)
-Anti-opióides (diminuição da auto-agressividade,
hiperatividade, impulsividade e repetição contínua de atitudes)
-Complexos vitamínicos (melhora da atenção e interesse por
fatos do meio ambiente) (CAMARGOS, 2002, p.41)
Autismo

Tratamento
•Treino cognitivo: comportamental
(desenvolvimento adequado das AVDs e
comportamento social) e cognitivo-
comportamental (desenvolvimento da reflexão
entre o estímulo e a resposta)
•Acompanhamento terapêutico
Autismo

Reabilitação
•Treino cognitivo (modificação de
comportamento);
•Otimização da comunicação; ·
•Técnicas de integração sensorial;
•O método “Teacch” fundamenta-se em
pressupostos da teoria comportamental e da
psicolinguística.
•Terapia de "Holding“.
Autismo

Filmes

Rain Man
Adam
Temple Grandin
Loucos de amor (Mozart and the whale)
Autismo

Referências
CAMARGOS JR., Walter (coord.). Transtornos invasivos do
desenvolvimento: 3º milênio. Brasília: Ministério da Justiça,
Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência, AMES, ABRA, 2002.

GIRODO, Carla M., NEVES, Maila de C.L. das; CORREA, Humberto.


Aspectos neurobiológicos e neuropsicológicos do autismo. Cap.
13. In: FUENTES, Daniel et al. Neuropsicologia: teoria e prática.
Porto Alegre: Artmed, 2008.

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