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A História repensada

Keith Jenkins

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A disciplina História no mundo pós-moderno

 destina-se primordialmente aos


estudantes
 Foi escrito tanto como introdução quanto
como polêmica.
 linguagem clara e objetiva
 elucidativos exemplos para suas
argumentações e questionamentos

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A disciplina História no mundo pós-moderno

 “um dentre uma série de discursos a respeito


do mundo”
 embora esses discursos não criem o mundo,
eles se apropriam do mundo e lhe dão todos os
significados que têm” (p. 23).
 algumas perguntas, antes encobertas pela névoa
sombria das falsas certezas universalizantes,
estarão presentes na nossa profissão

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Questões

 Afinal, o que faz o historiador? Para que e para


quem busca o acontecido?
 A partir de que instrumentos, teorias, valores e
concepções recorta seus temas, seleciona seu
material documental e produz as escrita do
passado?
 E, aliás, de que passado se trata? Dos ricos e
dos pobres? Dos brancos e dos negros?
 Das mulheres e dos homens
especificamente considerados? Das
crianças e dos adultos?
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Primeiro Capítulo: O que é a história?

 limitações impostas pela estrutura escolar


e o discurso impositivo do livro didático
 seguro, neste caso, era memorizar e
reproduzir o que o livro didático ditava
 fomos treinados pela escola a reproduzir o
texto de enciclopédias, biografias,
paradidáticos e livros didáticos

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Primeiro Capítulo: O que é a história?

 a leitura era positiva (fechada). O texto é a


verdade e ponto
 responder a ela de maneira que não
necessariamente copiem formulações mais
“inglesas”, que deixem inquestionáveis
esses tipos de discurso dominante
 linha pensamento: o exame do que a
história é na teoria;
 depois, do que ela é na prática; e,

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Primeiro Capítulo: O que é a história?

 por último, “juntar teoria e prática em uma


definição cética e irônica, construída
metodologicamente
 a história é um discurso em constante
mudança forjado pelos historiadores
 do passado não se deduz uma
interpretação única
 mude o olhar, desloque a perspectiva, e
urgirão novas interpretações.

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Primeiro Capítulo: O que é a história?

 os historiadores, mesmo sabendo disso,


de caso pensado se empenham em
alcançar a objetividade e a verdade
mesmo assim
 E essa busca pela verdade transcende
posições ideológicas e/ou
metodológicas
 no campo da teoria, a história compõe-se de
epistemologia, metodologia e ideologia.

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Epistemologia

 Teorias do conhecimento
 A história integra outro discurso, a
filosofia, tomando parte da questão
geral do que é possível saber com
referência à própria área do
conhecimento da história: o passado
 A fragilidade epistemológica permite
que as interpretações dos
historiadores sejam múltiples

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O que torna a história tão frágil em termos
epistemológicos?

1. nenhum historiador consegue abarcar e


assim recuperar a totalidade dos
acontecimentos passados porque o
“conteúdo” desses acontecimentos é
praticamente ilimitado
2. Nenhum relato consegue recuperar o
passado tal como ele era, porque o
passado são acontecimentos, situações,
etc., e não um relato

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3. Está fadada a ser um construto
pessoal, uma manifestação da
perspectiva do historiador como
“narrador”
4. A história é menos que o passado,
os historiadores só conseguem
recuperar fragmentos

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Conclusões

 O estudo da história (o passado) é o


estudo da historiografia
 O ponto de vista e as predileções do
historiador ainda moldam a escolha
do material e nossos próprios
construtos pessoais determinam
como o interpretamos

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 Assim como somos produtos do passado,
assim também o passado conhecido (a
história) é um artefato nosso
 Para explicarem o passado, os
historiadores vão além do efetivamente
registrado e formulam hipóteses seguindo
os modos de pensar do presente
 As fontes impedem a liberdade total do
historiador

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 Nós sabemos mais sobre o passado do
que as pessoas que viveram lá
 As pessoas e formações sociais são
captadas em processos que só podem ser
vistos retrospectivamente, enquanto
documentos e outros vestígios do passado
são tirados de seus propósitos e funções
originais para ilustrar, por exemplo, um
padrão que nem remotamente tinham
significado para seus autores

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Metodologia

 Os métodos dos historiadores são


tão frágeis quanto as suas
epistemologias
 Para alguns historiadores, o
conhecimento e a legitimidade
advém de regras e procedimentos
metodológicos
 É isso que limita a liberdade
interpretativa dos historiadores

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Conclusões

 Embora a maioria dos historiadores


concorde que um método rigoroso é
importante, existe o problema de saber a
qual método rigoroso eles se referem
 Questão: como poderíamos saber qual
método nos conduziria ao passado mais
“verdadeiro”?
 É enganoso falar de método como o
caminho para a verdade

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 Têm-se a forte impressão de que eles são
mesmos óbvios e eternos e constituem os
componentes básicos e universais do
conhecimento histórico
 Historicizar a própria história – ver que
todos os relatos históricos não são
prisioneiros do tempo e do espaço e,
assim, ver que os conceitos historiográficos
não são alicerces universais, mas
expressões localizadas e particulares
 São ideológicos

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Ideologia

 Os significados dados às histórias


de todo tipo são necessariamente
significados que vêm de fora
 Não significados intrínsecos do
passado mas significados dados ao
passado por agentes externos.
 A história nunca se basta, ela
sempre se destina a alguém

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 O fato de a história ser um construto
ideológico significa que ela está sendo
constantemente retrabalhada e reordenada
por todos aqueles que, em diferentes
graus, são afetados pelas relações de
poder
 Os dominados e os dominantes têm suas
próprias versões do passado para legitimar
suas respectivas práticas

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 versões que precisam ser tachadas
de impróprias e assim excluídas de
qualquer posição no projeto do
discurso dominante
 A questão não é “o que é a história?”
mas “para quem é a história?”
 Se trata de um termo e um discurso
em litígio, com diferentes
significados para diferentes grupos

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Conclusões

 As pessoas no presente necessitam de


antecedentes para localizarem-se no agora
e legitimarem seu modo de vida atual e
futuro
 Os passados são usados para explicar
existências presentes e projetos futuros
 A história é a maneira pela qual as
pessoas criam, em parte, suas identidades

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 A história é teoria, e a teoria é a
ideologia, e a ideologia é pura e
simplesmente interesse material.

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Algumas perguntas e algumas respostas – Da
verdade

 Não temos como saber as verdades


do passado, então por que continuar
procurando por elas?
 Como o termo verdade se opera nos
discursos da história?
 Sem a objetividade, como é que
poderíamos discriminar entre relatos
rivais de um mesmo fenômeno?

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Da verdade

 Para além das necessidades


práticas mais imediatas, de onde se
origina essa ânsia de certeza?
 Platão: o conhecimento absoluto é
possível em suas formas mais puras
e pode ser apurado mediante a
discussão filosófica
 Cristãos: Deus é a verdade e
conhecê-lo é conhecer a verdade

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 tentativas do pensamento ocidental (filosofia, teologia, estética) para
formular correspondência entre a palavra e o mundo pelas teorias da
verdade distanciaram-se do ceticismo

 Hoje: desconstruimos e tornamos


arbitrários e pragmáticos os vínculos
entre a palavra e o mundo
 Século XX: incapacidade da razão
para desbancar o irracionalismo de
forma convincente

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 Por que é que o mundo exterior, no
sentido simples e óbvio, deve
coincidir com os postulados de
regularidade, as expectativas
matemáticas e regristas do
racionalismo investigativo?

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 A verdade é uma figura de retórica
cujo quadro de referências não vai
além de si mesma, incapaz de
apreender o mundo dos fenômenos:
a palavra e o mundo, a palavra e o
objeto, continuam separados
 Separação análoga que ocorre entre
o passado fenomênico e a história
discursiva

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 verdade e certeza são consideradas
descobertas e não criações
 A verdade fica na dependência de
alguém ter poder para torná-la
verdadeira. É assim que fazem o
conceito de verdade funcionar como
um censor

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Conceito de verdade em Foucault

 Conjunto das coisas verdadeiras segundo


as quais se distingue o verdadeiro do falso
e das regras se atribui ao verdadeiro
efeitos específicos de poder
 Deve ser entendida como um conjunto de
procedimentos regulados para a produção,
a lei, a repartição, a circulação e o
funcionamento dos enunciados
 A verdade está ligada a um sistema de
poder que a produzem e a sustentam
 Regime da verdade
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Conceito aplicado à história

 Um discurso, um jogo de linguagem, nela,


a verdade e as expressões similares são
expedientes para iniciar, regular e findar
interpretações
 A verdade age como um censor
estabelecendo limites
 Ficções úteis que estão no discurso graças
ao poder que se utiliza do conceito para
exercer controle – regime da verdade

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 A verdade evita a desordem e é
esse medo da desordem que vincula
funcionalmente a verdade aos
interesses materiais

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Dos fatos e da interpretação

 Aos historiadores não importa apenas o


que aconteceu mas como e por que
aconteceu e o que as coisas significavam
e significam
 Não há método capaz de explicar o que os
fatos significam
 Se o passado é um texto para ser lido e
receber significado – cabem as críticas aos
limites de qualquer textualidade

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Dos fatos e da interpretação

 A história é interpretação
 Não existem centros em si, mas
padrões localizados de dominação e
marginalização, os quais são todos
elaborados historicamente e
precisam ser historicamente
interpretados
 Não existem história que não se
destinem a alguém

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Da parcialidade

 Só tem sentido se usado em


oposição a imparcial, alguma
espécie de objetividade ou verdade
 Empiricismo:fontes submetidas ao
desejo de objetividade
 Formas de como grupos ou classes
se apossam do passado
 Não há critério para julgar o grau de
parcialidade

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Da parcialidade

 Por quê o termo é de uso geral se


só tem sentido para os empiristas?
 Já que se trata de prática
dominante, seus problemas se
distribuem como se fossem de todos
 Mas não o são
 Outros discursos têm seus
problemas que não se expressam
em termos de parcialidade

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Da empatia

 É possível? Não
 Mas por que ocupa um lugar
importante no projeto
historiográfico?

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Da empatia

1. Apesar de crerem na
impossibilidade, não se leva em
conta a levantar questões
baseadas nesse pressuposto
2. Todo ato de comunicação acarreta
um ato de interpretação –
transplanta o presente para o
passado
 Dificuldades práticas

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Da empatia

 Está com os historiadores por motivos


advindos de pressões díspares:
pedagógica, acadêmica e ideológica
 Opção pelo idealismo: inserir vestígios do
passado nas mentalidades que lhes deram
vida
 Elaborada pela pedagogia e pelo idealismo
necessita da ideologia para completar-se
 Liberdade de Mill - abolir idéias
preconcebidas - ironia
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Da empatia

 Posição empiricista liberal-direitista:


Não precisamos da empatia porque
esse tipo de idéia nos incentiva a
pensar que as pessoas do passado
estão sempre presas á cultura, nuca
são naturais e, por conseguinte,
nunca podemos realmente saber o
que elas tinham na cabeça

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Da empatia

 Ceticismo relativista
 Presença de reações
universalizantes
 Inexiste constância de natureza
humana
 Impossível criar um modelo dessa
natureza
 Não estudamos o passado mas a
historiografia
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Da empatia

 A necessidade é estabelecer quais


os pressupostos que os
historiadores transportam para o
passado
 Empatia com os historiadores e não
com o passado

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Das fontes primárias e secundárias e das fontes
e provas

 Não existem fontes mais “profundas”


às quais possamos ir para
estabelecer a verdade
 Prioriza-se a fonte original, faz-se
dos documentos um fetiche e
distorce-se todo o processo de
produzir história

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Das fontes primárias e secundárias e das fontes
e provas

 Questão: grau e tipo de liberdade


que tem o historiador para que aja
na qualidade de intérprete
 Outra questão: se a prova histórica é
sempre o produto do discurso do
historiador, antes do formular aquele
discurso a prova não existe. Só
existe vestígios

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Das fontes primárias e secundárias e das fontes
e provas

 O domínio do passado sobre a


história é, na realidade, o domínio do
historiador sobre a história

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Dos pareamentos: causalidade etc.

 Causa e efeito, continuidade e


mudanças, semelhança e diferença
 Reproduções da historiografia

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A história é ciência ou arte?

 Semiciência

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Conclusão

 Intesubjetiva e ideologicamente
posicionada
 Objetividade e imparcialidades são
quimeras
 Empatia é um conceito viciado
 Não é arte nem ciência mas uma
coisa diferente

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Construindo a história no mundo pós-moderno

 Lyotard: morte dos centros e


incredulidade ante as metanarrativas
 Metanarrativa: burguesa, marxista
 Restou-se apenas: posições,
perspectivas, modelos, ângulos,
paradigmas
 Pluralidade das histórias

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Construindo a história no mundo pós-moderno

 Intextualidade
 Relação entre poder e saber
 História é interpretação

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