Você está na página 1de 25

LIPASES

Bioquímica– Bacharelado em Química


Professor: Priscila Henriques
Aluno: Phellipe Botelho Fogaça
Introdução
• O lipídio é uma das classes de biomoléculas mais importantes para a vida, os organismos
vivos utilizam das propriedades dos fosfolipídeos para formar suas membranas celulares e
compartimentares.
• Os Triacilglicerois, Triglicerídeos, são utilizados como reserva de energia potencial. São
ésteres apolares muito pouco solúveis.
• Esterases comuns que atuam no meio aquoso não são adequadas para metabolizarem
estes TAG. Para isso os organismos secretam as Lipases, Triacylglycerol Acyl Esterases,
capazes de hidrolisar o TAG na superfície entre as fases polar-apolar (Superfície água-óleo)

2
• Além dos TAG, as Lipases também aceitam diversos outros tipos de moléculas em
seu sítio ativo. Por isso são amplamente utilizadas na indústria biotecnológica e na
síntese orgânica.
• As Lipases são valiosas também na indústria farmacêutica por causa de sua
enantioseletividade, sendo capazes de “resolver” misturas racêmicas de drogas
facilitando a separação de dois enantiomeros.
3
2
R
2 2
R O
R O R O
OH OH
Lipase Lipase O

+ +
1
R 1
R
O
OH O R-ester
2 R R 1 R R
2 1 2 R R 1

3
Estrutura da Lipase
• Para ser considerada uma Lipase, a enzima tem que apresentar duas
características principais: (a) deve ser ativada em interfaces aonde os lipídeos
formam emulsões, este fenômeno é chamado de ativação interfacial. (b)Deve
conter uma espécie de tampa proteica protegendo o sítio ativo quando ela esta em
fase aquosa.

4
Ativação interfacial
• Em 1958, Sarda e Desnuelle definiram as lipases baseados no fenômeno da
ativação interfacial.
• Ela possui uma baixa atividade em substratos monoméricos em fase aquosa, mas
apresenta uma grande atividade nos chamados Supersubstratos (Emulsões e
arranjos misceliares)
• A Ação da lipase depende estritamente do contato da enzima com a interface
água-óleo.

5
• A Cristalografia em Raio-x
sugere que a Lipase sofre
uma modificação
conformacional ao entrar
em contato com o
supersubstrato, a emulsão
da interface polar-apolar.
• Um cuidado que deve ser
tomado é de que outras
classes de enzimas possuem
mecanismos semelhantes
porem não são Lipases

6
Mecanismo de catalise
• As Lipases que tiveram suas estruturas elucidadas, mostraram uma arquitetura em
comum de seus sítios ativos, uma sequência específicas de α-hélices e Folhas β-
preguiadas.
• A tríade catalítica é composta por um resíduo de Serina, histidina e aspartato ou
glutamato.
• Todas as Lipases, não importando a espécie produtora, apresentam semelhanças
em seu mecanismo catalítico e estrutura cristalina. Porém algumas diferenças sutis
em seu sítio ativo podem ter um efeito forte em suas propriedades, como
temperatura de operação, pH e estabilidade em solvente.

7
• A Serina funciona
como o nucleofilo
da reação
enquanto o
aspartato/glutam
ato são
conectados via
ligação de
hidrogênio
• O intermediário é
estabilizado por
um ânion de
oxigênio.

8
9
Obtenção de lipases
• Maior parte das lipases comerciais são obtidas de microrganismos, elas fazem
parte do “suco digestivo” excretado pelo microrganismo e deve ser separada.
• O advento da engenharia genética aumentou o número de lipases comerciais
disponíveis por meio de DNA recombinante.
• A lipase do Humicula lanuginosa possui uma produção de mais de 100 toneladas
por ano, esta lipase foi clonada do H. lanuginosa para o Aspergillus oryzae.

10
• As Lipases são
enzimas
extracelulares e
devem passar por um
mecanismo de
excreção.
• Este maquinário de
excreção as
transformam na
conformação ativa.

11
Lipase pancreática
• Ao contrário de outras enzimas
digestivas que são produzidas
no pâncreas em uma forma
inativa, e passam por uma
clivagem proteolítica. As lipases
já são secretadas em sua forma
catalítica com 449 aminoácidos
e um PM de 50kDa

12
• A Lipase Pancreática humana
apresenta em sua estrutura uma
Co-lipase, que possuí a função
de “ancorar” a enzima na
emulsão formada entre o lipídeo
e os sais da bile.
• O lid domain se abre, expondo o
sítio ativo para o acesso das
moléculas de TAG e DAG e as
converte em ácidos graxos livres
e MAG que são absorvidos em
miscelas formadas com a bile
pelo intestino delgado.

13
INTERESSE
BIOTECNOLÓGICO

14
Uso como hidrolases
• Lipases hidrolíticas são amplamente utilizadas em detergentes, sendo
provavelmente o seu maior uso industrial. 1000 toneladas de Lipases são
adicionadas em 13 bilhões de toneladas todos os anos. As vendas de enzimas para
este fim superam 30 milhões de dólares.
• Em 1994, Novo Nordisk disponibilizou a primeira enzima comercial, a Lipolase™,
em 1995 surgiram a Lumafast™ e a Lipomax™ como seus concorrentes diretos.
• Lipases em detergentes devem ter baixa especificidade de substrato, resistência a
pH de 10-11 em temperaturas de 30 – 60ºC e devem ser resistentes ao Lauril
sulfato e resistente a degradação proteolítica que podem ser causadas por
proteases também presentes nos detergentes.

15
• Lipases são utilizadas para remover “bolsões hidrofóbicos” na polpa de madeira
utilizada para a produção do papel.
• Esses “Bolsões” são chamados de pitch e são formados por TAG e Ceras, podem
comprometer a qualidade do papel produzido.

Detergentes enzimáticos são usados


principalmente em aplicações
hospitalares, pois as enzimas
garantem a completa remoção de
matéria orgânica que possa estar
contaminando materiais críticos.

16
Uso das lipases na síntese orgânica
• Outro uso muito importante e promissor das Lipases, é
a biocatalise de reações orgânicas finas, como aquelas
que ocorrem na indústria farmacêutica.
• As lipases são particularmente enantioseletivas e
regioseletivas, e na indústria farmacêutica, um dos
principais problemas na produção, é a formação de
racematos, misturas de enantiomeros.
• Lipases também tem uma notação relacionada à
química verde.

17
Regra empírica de Kazlauskas e Resolução
Racêmica.
• Através da análise da
estrutura da Lipase, foi
admitida presença de duas
porções hidrofóbicas, uma de
tamanho grande “Large
hidrofobic pocket” e outra de
tamanho médio “Medium
hidrofobic pocket”. Estas
porções seriam responsáveis
por acomodar os
grupamentos substituintes.

18
• Assim, um dos enantiomeros vai ser preferencialmente convertido pela enzima
em outro produto, o racemato é “resolvido” facilitando a separação.

19
• Síntese da Paroxetina enantiomericamente pura ((-)-Paroxetina) utilizando a
Candida antarctica lipase B (CAL-B)
• O Cloridrato de Paroxetina é um antidepressivo inibidor da recaptação da
serotonina.

20
• Exemplo do uso da Pseudomonas cepacia Lipase (PSL) na resolução racêmica na produção do
(s)-Propanolol
• O (s)-Propanolol é um anti-hipertensivo utilizado na prevenção do infarto.
• Biocatalisadores são
altamente seletivos e
evitam a realização de
etapas de “proteção” na
molécula sintetizada,
reduzindo drasticamente
o E-factor do processo.
• Outro aspecto que torna o
uso da lipase interessante
na síntese orgânica, se da
a propriedade
apresentada de ser estável
em solventes orgânicos, o
que não ocorrem com a
maioria das enzimas que
acabam desnaturadas.

22
“E-Factor”
• E-Factor é o nome dado à quantidade de produto desprezado em uma reação sintética
(Descarte por Kilograma de produto)
• Um determinado enantiomero não desejado é descartado gerando custos extras e
impactos ambientais. Ele se torna o E-fator da reação.

• E-Factors típicos da indústria:


- Química “bruta”: <0,1 waste/Kg
- Química fina: 5-50 waste/Kg
- Processos Farmacêuticos: 25-100 waste/Kg
Produto desprezado Produto
principal da
reação
Conclusão
• As lipases são uma das classes de enzimas mais importantes no organismo.
• É a Enzima mais promissora da indústria farmacêutica e sintética, Com potencial
de substituir catalisadores metálicos e mesmo assim produzir substâncias mais
puras de forma mais eficiente que estes.
• Diversos outros usos das Lipases são propostos por estudos, Karl-Erich Jaeger
publica diversos artigos sobre esta classe de enzimas.

24
Referências
• SCHMID, Rolf D.; VERGER, Robert. Lipases: interfacial enzymes with attractive
applications. Angewandte Chemie International Edition, v. 37, n. 12, p. 1608-
1633, 1998.
• JAEGER, Karl-Erich; EGGERT, Thorsten. Lipases for biotechnology. Current
opinion in biotechnology, v. 13, n. 4, p. 390-397, 2002.
• JAEGER, K. E.; DIJKSTRA, B. W.; REETZ, M. T. Bacterial biocatalysts: molecular
biology, three-dimensional structures, and biotechnological applications of
lipases. Annual Reviews in Microbiology, v. 53, n. 1, p. 315-351, 1999.
• JAEGER, Karl-Erich; REETZ, Manfred T. Microbial lipases form versatile tools for
biotechnology. Trends in biotechnology, v. 16, n. 9, p. 396-403, 1998.
• PATEL, Ramesh N. Enzymatic synthesis of chiral intermediates for drug
development. Advanced Synthesis & Catalysis, v. 343, n. 6‐7, p. 527-546, 2001.

25

Você também pode gostar