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Opioides

1- Histórico

O ópio, e provavelmente suas propriedades hipnóticas, eram


conhecidas na Grécia antiga. Em escavações arqueológicas na ilha de
Samos, foram encontrados bottons de barro e de marfim, datados do
século VII a.C., que representavam a cápsula da papoula.
A papoula é descrita em um ideograma dos sumérios, 5.000 anos atrás,
como a “planta da alegria”.
O papiro de Ebers (1552 a.C.) descreve uma mistura de substâncias,
entre as quais o ópio, que era empregada com eficiência para a
sedação de crianças.
Era assim que a Deusa Isis
sedava seu filho, Hórus.
O ópio, é extraído da papoula, uma das muitas espécies da família das
Papaveráceas, que se caracteriza por apresentar folhas solitárias e
frutos capsulados.
O processo para obtenção do ópio é o mesmo desde a antiguidade. É
iniciado duas semanas após a queda das folhas, quando as cápsulas
que contêm as sementes endurecem. A cápsula é escarificada,
permitindo fluir o látex. Com a evaporação dos fluídos, há a formação
da goma e posteriormente, o pó.
2 – Opiáceo e opioide

Definição de opiáceo: qualquer opioide natural derivado do ópio, como


por exemplo, a morfina.
Definição de opioide: todas as substâncias naturais, semi sintéticas ou
sintéticas que reagem com os receptores opioides, quer como agonista
ou antagonista. (Martin WR – Pharmacology of opioids)
Todos os efeitos dos opioides, inclusive os adversos, são consequentes
a complexas interações entre essas drogas e receptores específicos,
identificados ao longo do sistema ascendente de transmissão da dor e
do sistema descendente inibitório, sendo o mais importante o que tem
origem na substância cinzenta periaqueductal, no mesencéfalo e dirige-
se ao corno posterior da medula espinhal.
Um fármaco que, através de sua ligação a seu receptor, favorece a conformação
ativa deste receptor é denominado agonista.
Um fármaco que impede a ativação do receptor pelo agonista é designado como
antagonista.
Os antagonistas de opioides surgiram em 1915. Ganharam importância
clínica na metade do século XX, ao se buscar um antídoto para a
superdose de drogas agonistas e mais especificamente para reverter a
depressão respiratória gerada por essas drogas.
Idealmente, os antagonistas não deveriam exercer qualquer atividade
agonista. A naloxana e a naltrexona são considerados antagonistas
puros e interagem com os três tipos de receptores Os primeiros
trabalhos com a naloxana foram realizados no início da década de 60.
Em 1973, vários tipos e subtipos de receptores foram sugeridos, sendo
aceitos os receptores mi, delta e kapa.
3- Opioide endógeno

Opioides naturais são encontrados em plantas (morfina) ou produzidos


pelo corpo humano (opioides endógenos), onde são amplamente
distribuídos por todo o snc. Esses opioides endógenos são peptídeos
que apresentam diferentes afinidades para cada grupo de receptores
opioides.
Suas ações incluem a modulação da dor e controle do sistema
cardiovascular, principalmente em situações críticas. Parte dessas
proteínas são transformadas em endorfinas, encefalinas ou dimorfinas.
A endorfina apresenta importante papel na mediação do prazer, nos
circuitos de recompensa.
4 – Classificação dos opioides

Tradicionalmente baseada na potência analgésica.


Opioide forte: morfina, fentanil e metadona.
Opioide fraco: codeína e tramadol*.
* O papel do tramadol no controle da dor oncológica e seu papel como
degrau 2 da escada analgésica da OMS, não está claro.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28510996/
5 – Prescrição de opioides

Indicação do uso de opioides: dor moderada ou severa.


A dor tem duas características importantes: subjetividade e
pessoalidade.
Importante: paciente em uso de opioide deve ter uma boa diurese, pois
os metabólitos são eliminados predominantemente por via renal.
Codeína: sempre prescrever codeína pura. Em nosso meio, há
apresentações de 30 mg e 60 mg. A meia vida é de 4 a 6 horas. A dose
teto é de 400 mg/dia.
Morfina: meia vida de 4 horas. A prescrição inicial via oral é de 5 a 10
mg. Há apresentação de liberação lenta (LC), entretanto não deve ser
utilizada para tratamento de dor oncológica. As apresentações são de
comprimidos sulcados de 10 mg e 30 mg. Doses de reforço são
habitualmente 50% da dose dos horários fixos; são prescrições distintas
e não é admissível adiantar horário fixo; nos intervalos da dose fixa
deve-se utilizar dose de reforço. Não há dose teto, “o céu é o limite”.
Exemplo de prescrição de morfina:
Morfina 10 mg via oral de 4/4 horas: 08-12-16-20-24-04
Morfina 5 mg via oral de 1/1 hora nos intervalos dos horários fixos, se
houver dor.

Coeficientes para calcular doses equianalgésicas:


Via oral => via endovenosa: dividir por 3.
Via endovenosa => via oral: multiplicar por 3.
Doses de início de tratamento:
Codeína 30 mg 4/4 horas
Tramadol vo 50 a 100 mg 6/6 horas
Tramadol ev 50 a 100 mg 6/6 horas
Morfina vo 5-10 mg 4/4 horas
Morfina ev 5 mg 4/4 horas
Metadona vo 5 mg de 12/12 horas
Metadona ev 2,5 mg de 12/12 horas
Efeitos colaterais dos opioides:
Constipação
Náuseas
Sedação e confusão mental: afastar IRA, desidratação, lesão de snc,
insuficiência hepática, potencialização com outras drogas.
Xerostomia
Depressão respiratória
6 - Barreiras para Controle da Dor.

a) Origem médica: desconhecimento do uso do analgésico; medo de


não controlar os efeitos colaterais; medo da tolerância,
dependência física e dependência química.
b) Origem do paciente: relutância em relatar a dor, relutância em
seguir a prescrição, medo da adição, crença que a dor é inevitável e
não tratável, dificuldade de acesso aos médicos, medo dos efeitos
colaterais, custo dos medicamentos e desconhecimento de como
ajustar a dose.
7 – “Fantasmas” que não deveriam existir na
cabeça de quem prescreve opioide
Dependência física: resposta fisiológica à utilização crônica de opioides.
Observada na interrupção abrupta. Sempre realizar redução gradativa.
Tolerância: fenômeno fisiológico. Preocupar-se com tolerância??
Poupar opioide?? Raro!!! Primeiro descartar progressão de doença.
Dependência química, adição ou dependência psicológica: alteração
patológica e psicológica. Compulsão por efeitos psíquicos.
Extremamente rara!!! Discussão: dependência química versus
qualidade de vida e dignidade=RESULTADO IRRELEVANTE.

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