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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CURSO DE MEDICINA
DISCIPLINA: FARMACOLOGIA

Anestésicos Locais

Profº. Dra. Rachel Melo


e-mail: rachelmeloribeiro@gmail.com

São Luís
2014
ESTRUTURA QUÍMICA

 Os tipos de cadeia intermediária é a chave


para a classificação em ésteres ou amidas

 São compostos por um grupo lipofílico (anel benzeno) e separado de uma


parte hidrofílica (amina secundária ou terciária) por uma cadeia
intermediaria que inclui uma ligação éster ou amida

 São bases fraca -> compostos prontamente ionizáveis, que atravessam as


membranas celulares no estado não-ionizado e tornam-se ionizados
dentro da célula, interagindo assim com o componente intracelular dos
canais de sódio
Agentes mais
usados
clinicamente

Amidas Esteres
Lidocaína Cloroprocaína
Bupivacaína Cocaína Uso: cirurgia
Ropivacaína Procaína nasal (efeitos
anestésicos e
Prilocaina Tetracaina vasoconstritores)
Etidocaina
Mepivacaina
Propriedades Físico-Químicas
Amidas
pKa Ionização Coef Partição Ligação
(Lipossolubilidade) Proteica
Bupivacaína 8,1 83 3420 95
Levo-Bupi 8,1 83 3420 95
Etidocaína 7,7 66 7317 94
Lidocaína 7,9 76 366 64
Mepivacaína 7,6 61 130 77
Prilocaína 7,9 76 129 55
Ropivacaína 8,1 83 775 94
Propriedades Físico-Químicas
Ésteres

pKa Ionização Coef Partição Ligação


(Lipossolubilidade) Proteica
Clorprocaína 8,7 95 810 Nd
Procaína 8,9 97 100 6
Tetracaína 8,5 93 5822 94
Farmacocinética
Fluxo sangüíneo para os órgãos
Distribuição Coeficiente de partição compartimental
Ligação proteíca

 Aminoésteres → esterases plasmáticas


Metabolização e (processo rápido = meia-vida curta)
Eliminação

 Aminoamidas → Metabolização
hepática (amidases hepáticas) : processo mais
lento = meia-vida + longa
Mecanismo de Ação
 Atuam sobre os canais de sódio voltagem-dependentes responsáveis
pelos potenciais de ação;
 Agem inibindo a condução dos nervos periféricos, por uma
diminuição na permeabilidade ao Na+, o que impede a
despolarização;
 Bloqueiam de forma reversível os potenciais de ação responsáveis
pela condução nervosa;

Teoria do receptor específico: acredita-se que AL com grupo hidrofílico


penetrem a membrana e liguem-se a porção interna do canal,
bloqueando a condução de Na+ (não há despolariz.)

Teoria da expansão da membrana: AL sem grupo hidrofílico (benzocaína/


apenas uso topico) agem por alterarem a conformação do canal em razão
da expansão causada por sua penetração
Local de ligação com o
AL
Outros receptores:

1. Receptor nicotínico

2. Canais de K+ e Ca++

3. Acoplados a Proteina G: ß-adrenérgicos, muscarinicos e receptores da

substancia P

Efeitos tóxicos
Duração do período de anestesia

1- Depende da afinidade as proteínas plasmática glicoproteína


ácida α-1 ou albumina: quanto maior a afinidade maior o tempo
de duração
Ex: bupivacaína

2- Atividade vasodilatadora do AL: quanto maior essa atividade


mais rápida a absorção o que pode limitar seu uso
Ex: lidocaína é grau 1 (vasodilatação)
Latência
Depende do pKa do anestesico, quanto mais proximo
for do pH fisiológico (7,4), maior forma não ioizada ->
inicio de ação mais rápida -> menor latência

Locais inflamados (pH≈ 6,0): mais ácido e portanto há


predomínio da forma ionizada do AL que não penetra
na membrana -> dificuldade de instalação anestesica

ANESTESICO pKa LATENCIA (MIN) ATIVIDADE


VASODILATADORA
LIDOCAINA 7,7 2A4 1 padrão no Brasil e em
outros paises
ARTICAÍNA 7,8 2A4 1
padrão na Alemanha
MEPIVACAINA 7,9 2A4 0,8
PRILOCAÍNA 7,7 2A4 0,5
BUPIVACAINA 8,1 1 A 3 (INFILTRAÇÃO) 2,5
2 A 14 (BLOQUEIO)
Relação da lipossolubilidade com potência e toxicidade dos
anestésicos locais

Agentes Potência Toxicidade


Lidocaína 1 1,0
Bupivacaína 4 4
Prilocaína 1 0,6 RISCO DE
METEMOGLOB
Evitar paracetamol
Mepivacaína 1 1,0

OUTROS

ARTICAÍNA 1,5 1,0

A toxicidade está relacionada ao SCV e SNC, sendo este primeiramente afetado


TOXICIDADE
Medicamentos comercializados contendo anestésicos
locais associados a vasoconstritores
A absorção sistêmica é proporcional à vascularização:

Intravenoso> traqueal > intercostal > caudal > epidural


> ciático > subcutâneo

O uso de vasoconstritores é importante para redução


da absorção sistêmica: melhora a captação neuronal, melhora a
qualidade da anestesia, prolonga a duração da ação anestésica e limita
os efeitos tóxicos.
Efeitos da Adição de Epinefrina

↓ Nível
Agentes ↑ Duração
Sangüíneo (%)

Bupivacaína + 10-20

Lidocaína ++ 20-30
LIDOCAÍNA
Ainda é considerada o AL padrão ouro
Metabolização hepática: monoetilglicinexilidida e glicinexilidida ambos
ativos, e quando em doses toxicas afetam o SCV e SNC (lidocaína 4,5
ug/mL e 7,5 ug/mL no plasma)
Excreção: renal (80% na forma de metabólitos)
Meia vida: 1,6 horas
Duração anestésica: 5 a 10 min (sem vasoconstrictor) e 40 a 60 min
(com vasoconstrictor)

Pontos relvantes:
1. Ainda é o AL mais empregado no mundo
2. Quando não associada a vasoconstrictor, seu potente efeito
vasodilatador promove sua rápida eliminação do local de injeção
(ação muito curta)
3. É eficaz como Anestésico tópico : pomada (5 a 6%) e spray (10%)
ARTICAÍNA
• FOI APROVADO USO EM 2000
• POSSUI GRUPO AMIDA E ESTER NA MESMA ESTRUTURA
• PODE PROMOVER REAÇÃO ALÉRGICA
• É 90% INATIVADA POR COLINESTERASES (HIDROLISE)
• MENOS TÓXICA AO SNC E SCV EM RELAÇÃO A LIDOCAINA
• CUSTO ELEVADO
ANEL TIOFÊNICO
BLOQUEADORES
NEUROMUSCULARES
Bloqueadores neuromusculares (BNMs) são utilizados
em anestesia para prejudicar a transmissão neuromuscular e
proporcionar relaxamento da musculatura esquelética

Essas drogas permitem ao anestesiologista realizar a


intubação orotraqueal, facilitam a ventilação e
promovem condições operatórias ótimas, por
exemplo durante laparotomia.
Análogos estruturais da acetilcolina

(não –despolarizantes)

BLOQUEIO COMPETITIVO

(despolarizantes)

Outros relaxantes musculares: DIAZEPAM, DANTROLENE E BACLOFENO


RELAXANTES DE AÇÃO CENTRAL:
NEUROFARMACOLOGIA
BNM’S AGONISTAS E ANTAGONISTAS DE
RECEPTORES NICOTÍNICOS

O atracúrio é o BNM mais


administrado em todos os
estados brasileiros, exceto no
Norte e Nordeste do Brasil,
onde o primeiro lugar é do
pancurônio
CLASSIFICAÇÃO dois grupamentos amônios quaternários
ligados entre si por uma cadeia de
grupos metil (Benzilisoquinolínicos)

BNMs são compostos


amônios quaternários estruturalmente
duas moléculas de ACh ligadas
semelhantes à acetilcolina (ACh) que
entre si (Despolarizantes)
atuam primordialmente no Receptor
Nicotínico pós-juncional da Junção
Neuromuscular

um grupamento amônio quaternário ligado a


um anel esteróide: Aminoesteróides
BNMs podem ser agonistas (BNMs
“despolarizantes”) e antagonistas (BNM
“adespolarizantes”) do Receptor
Nicotínico da Junção Neuromuscular.

Duas moleculas de Ach ligadas pelos seus


grupos acetado de metila.
Ações dos BNM’s
Succinilcolina

Com formação de succinilmonocolina e colina


Succinilcolina
Procedimentos rápidos:
eletroconvulsoterapia, intubação
endotraqueal
Succinilcolina

 A succinilcolina se liga às duas subunidades alfa do receptor, mimetizando a ACh,


e resulta em despolarização da membrana.

 A despolarização resulta rapidamente em contração muscular, observada


clinicamente na forma de fasciculações.

 A succinilcolina resulta em um bloqueio de fase I, caracterizado pela ausência de


fadiga e de potencialização pós-tetânica à estimulação de nervo periférico.
 Após a despolarização, o potencial de membrana deve ser restabelecido antes que
uma próxima despolarização possa ocorrer e, até que isso ocorra, o músculo
permanece em um estado de relaxamento flácido.
Succinilcolina

Hipertermia Maligna: Essa condição pode ser desencadada pelo succinilcolina e portanto
seu uso está absolutamente contra-indicado em pacientes suscetíveis.

Anafilaxia: A succinilcolina é responsável por 50% das reações anafiláticas aos BNMs.

Bloqueio de fase II: Pode ocorrer após grandes ou repetidas doses de succinilcolina. O
bloqueio neuromuscular é prolongado e a estimulação de nervo periférico resulta em
fadiga da resposta de quatro estímulos e potenciação pós-tetânica.

Hipercalemia: O potássio sérico médio aumenta em 0,5mmol/l após a administração de


succinilcolina. Pacientes com hipercalemia pré-existente estão sob risco de arritmias
cardíacas e morte.
Succinilcolina
é o único BNM despolarizante disponível para uso clínico atualmente

Hipercalemia fatal pode ocorrer em pacientes com queimaduras,


distrofias musculares e paraplegia. Isso pode ser devido à proliferação
de receptores extra-juncionais nesses pacientes. O risco máximo de
hipercalemia em pacientes queimados ocorre do 9º ao 60º dia pós-
queimadura. A utilização de succinilcolina nos primeiros 2 a 3 dias
após queimaduras graves é considerado seguro.
Ocorre comumente, principalmente
Succinilcolina em jovens saudáveis que deambulam
precocemente após a cirurgia.
é o único BNM despolarizante disponível para uso clínico atualmente

Estratégias como pré-curarização


existem para reduzir a sua incidência,
Mialgia: Ocorre comumente, principalmente em porém nenhum
jovens saudáveis estratégia
que deambulam é
completamente
precocemente após a cirurgia. Estratégias como preventiva.
pré-curarização existem para
reduzir a sua incidência, porém nenhum estratégia é completamente preventiva
Succinilcolina

Bradicardia: Ocorre devido à estimulação de


receptores muscarínicos no nó sinoatrial. É mais
comum em crianças e após doses repetidas.
Succinilcolina
Succinilcolina
DEVIDO A SUA CURTA DURAÇÃO DE AÇÃO É O FARMACO DE ESCOLHA PARA A
PARALISIA DURANTE A INTUBAÇÃO

INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA
ANTAGONISTAS DE
RECEPTORES NICOTÍNICOS

Antagonizam seletivamente os RN impedindo a


ligação da ACh endógena e a despolarização
Bloqueio não
despolarizante
Compostos Compostos
Benzilisoquinolínicos Aminoesteróides

• Atracúrio • Pancúrio
• Tubocurarina • Vecurônio
• Mivacúrio • Rocurônio

São mais suscetíveis à hidrólise no Eles tendem a não causar


plasma e causam liberação de liberação de histamina
histamina
QUANTO À DURAÇÃO DA AÇÃO

São de ação longa

• Pancurônio
• Tubocurarina Indução do bloqueio neuromuscular
em cirurgias
• Vecurônio
• Rocurônio
• Mivacúrio e Atracúrio São de ação intermediária

Ação curta
Efeitos adversos principais: taquicardia, broncoespasmos,
insuficiencia respiratoria.

• Pancurônio
• Tubocurarina Redução da pressão arterial

• Vecurônio
• Rocurônio
• Mivacúrio
• Atracúrio

Todos estão relacionados a reações


de hipersensibilidade
Estudo dirigido 2,0 pnt (dupla)

1- Conceitue anestésicos locais. Dê a classificação. Cite exemplos e utilização clínica.


2- De acordo com as propriedades fisico-quimicas dos anestesicos locais , explique:
a) Duração
b) Latência
c) Toxicidade
d) Absorção
e) Mecanismo de ação

3- Assinale a opção que indica o anestésico local pertencente ao grupo dos aminoésteres:
A) tetracaína
B) levobupivacaína
C) lidocaína
D) prilocaína
E) Mepivacaína

4- Assinale a opção que indica o estado conformacional do canal de sódio com a menor afinidade de
ligação aos anestésicos locais.

A) estado repouso-ativado
B) estado repouso-fechado
C) estado ativado-aberto
D) estado inativado-fechado
E) estado ativado-fechado
5- A anestesia local é realizada através da utilização de agentes como a lidocaína e
bupivacaína no local de ação. Sobre a as propriedades farmacodinâmicas desses
agentes, é correto afirmar que:
a) Eles agem através de interações com os canais de Na+ dependentes de voltagem
no período de repouso da membrana celular
b) São compostos ionizáveis, sendo bases fracas, que interagem com canais de sódio
abertos e ativos
c) Bloqueiam de forma reversível os potenciais de ação responsáveis pela condução
nervosa
d) A lidocaína é potencialmente mais cardiotóxica que a bupivacaína
e) Todas estão incorretas

6-Existem diversos anestesicos locais com características únicas e nas mais diversas
aplicações como por exemplo, dor oral, hemorróidas. Quanto às propriedades
farmacocinéticas desses compostos afirma-se que:
f) São todos metabolizados pelas CYP’s
g) Assim que alcançam a corrente sanguínea podem ligar-se à albumina plasmatica
h) São metabolizados pelas colinesterases
i) A reação alérgica (hipersensibilidade) é mais comum para os aminoesteres
j) Todas estão incorretas
7- Os anestésicos locais podem ser tóxicos de acordo com a dose aplicada e o grau de
absorção sistêmica. Todos podem ser perigosos, principalmente a bupivacaína. Nesse
contexto afirma-se que:

a) A toxicidade clínica está relacionada aos efeitos da droga em outras membranas


excitáveis no sistema nervoso central, cardiovascular e renal
b) As múltiplas alterações em canais iônicos cardíacos, podem levar à arritmias e aumento
da contratilidade miocárdica
c) Em pacientes que apresentem alterações na farmacocinética dos anestésicos locais
deve-se estar mais atento à possibilidade de toxicidade do AL.
d) No caso da lidocaína os efeitos cardíacos são de difícil tratamento pelo alto grau de
ligação protéica desse anestésico, tornando difícil sua remoção do miocárdio.
e) Todas estão incorretas

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