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A vantagem dos institutos das astreinte e do contempt of court, tais quais consagrados no direito
brasileiro, é que eles se inserem num ordenamento como o nosso, com acentuado viés
constitucional, com um amplo catálogo de direitos fundamentais e onde se reconhece, já algum
tempo, inclusive por expresso dispositivo legal ( §1º do art. 5º da CF), a aplicabilidade imediata das
normas que o consagram.
Isto e uma vantagem crucial, porém tanto a jurisprudência sobre tais institutos, como a própria
doutrina, em grande parte, ainda não incorporaram adequadamente este paradigma
constitucionalc, o que podemos chamar de “lógica dos direitos fundamentais”, na aplicação
concreta desses institutos, ou seja, no exercício concreto, pelo juiz, dos poderes que tais institutos
lhe confere.
Uma evidência disso é a “conversão em regra automática” da criação, por determinado juiz, de
uma entre indetermináveis medidas que tais institutos, em particular o contempt of court, autoriza
o juiz a decretar.
Esse é o caso paradigmático da famigerada “suspensão de CNH e passaporte do devedor”, como
medida coercitiva decretada no âmbito de uma execução por quantia certa.
Medidas coercitivas dessa ordem tem sido decretadas de forma automática, como se estivessem
expressamente previstas na lei, e sem qualquer exame da situação concreta.
Outra é análise parcial e insuficiente que se faz tanto para fundamentar, como para criticar,
medidas assim.
Por um lado, justifica-se medidas como a suspensão mencionada, afirmando que elas promovem a
efetividade da tutela jurisdicional; por outro lado, refuta-se o uso desta medida, afirmando que elas
cerceiam a liberdade de ir e vir.
Ambas afirmações, consideradas isoladamente e tomadas como meras afirmações “descritivas”,
são indiscutivelmente corretas.
Contudo, elas não se restam, por si só, a justificar nem a adoção, nem a não adoção dessas
medidas, pois elas desconsideram a lógica própria dos direitos fundamentais, para a qual a
possibilidade de restrições mútuas, sempre à luz das circunstâncias concretas, é inafastável.
Quem quer que pretenda que um direito fundamental se aplica de forma absoluta, não compreende
bem em que consiste um valor, que admitem múltiplas formas de realização concreta, e sempre
passíveis de, ao ser realizado num caso concreto, entrar em conflito com outros valores, justamente
no que diz com alguma forma de realização deste.
A efetividade da tutela jurisdicional é passível, sim, de limites e restrições.
A própria lei processual, ao estabelecer que a tutela de urgância não será concedida quando houver
risco de situações irreversíveis, é um inequívoco exemplo disso – mesmo com a correta ressalva da
doutrina que este limite não prevalece quando a denegação da tutela gerar situações irreversíveis
mais graves.
Por outro lado, o recente lock-out imposto pelo Governo na época da pandemia, é o mais eloquente
exemplo de limitação ao direito de ir e vir, não de uma pessoa, uma parte no processo, mas de toda
uma nação.
Como agir?
Eis uma sugestão, um breve modelo para essa lógica dos direito fundamentais”,
na aplicação do contempt of court (e da astreinte), no direito brasileiro.
Requerida ou cogitada (no caso de medida de ofício), o juiz deve identificar os
direitos fundamentais em jogo, aqueles sendo promidos pela e aqueles sendo
restringidos por ela, cuidando de estabelecer a distinções entre direito
meramente fundamentais formais e aqueles materiais indiretamente promovidos
com a promoção dos primeiros.
Determinar a relevância em abstrato desses direitos fundamentais.
Determinar, mesmo que em chave puramente argumentativa, a intensidade com
que a medida promove os direitos fundamentais de um lado, e a intensidade com
que ela restringe os direitos fundamentais de outro lado.
Como se vê, a indispensável necessidade de se examinar a intensidade com que
uma medida promove determinado direito fundamental e restringe outro, afasta
definitivamente qualquer aplicação “automática, nesses caos: é que tal
intensidade é uma “grandeza” ligada, inexoravelmente, à situação concreta.
Isso conduz e deve conduzir a distinções.
Não é o caso de se considerar: João é devedor nesta execução e o
Bacenjud foi infrutífero, então determino a suspensão de sua CNH.
Da mesma forma, não é o caso de se considerar, João ter´seu direito
de ir e vir tolhido, então não é devida suspensão de sua CNH.
O que se impõe saber é:
De que execução se trata: de uma dívida alimentar ou uma
referente a um empréstimo bancário?
Quem é João: um membro de uma família abastada (mesmo que
sem dinheiro na conta pessoal) ou um motorista de aplicativo?
Apenas quando essas circunstâncias sejam devidamente apuradas
pelo juiz, e levadas na devida conta na fundamentação de sua
decisão, é que se terá uma aplicação constitucionalmente adequada
do contempt of court e da astreinte no direito brasileiro.
Ora, os facta probantia consistem nos meios de prova.
Com efeito, meios de prova são, na compreensão mais elementar,
fatos: documentos, depoimentos de partes e testemunhas, o laudo
pericial, os fatos descritos numa inspeção judicial.
Portanto, a compreensão mais elementar e tradicional da justificativa
do convencimento, reduz esta justificação a um conjunto composto de
fatos, consistentes em meios de prova, e convicção, unidos por um
vínculo tal que tais fatos – ou antes, a crença do juiz quanto a eles –
autoriza ou compele o juiz a se convencer sobre a verdade do fato a ser
provado, o fato objeto de prova.
Como se vê, já por essa tradicionalíssima e elementar concepção da
relação entre meios de prova e convicção do juiz quanto ao fato a ser
provado, corresponde, integralmente, à noção básica de argumento já
analisada.
Assim, os meios de prova – ou melhor, aqueles que o juiz considerou
como suficientemente relevantes – consistem nas premissas desse
argumento, o convencimento do juiz sobre a veracidade ou não do fato a
ser provado é a conclusão.
Todavia, a concepção tradicional falha em perceber, que em qualquer
caso, utilizada nessa argumento, normalmente de forma implícita, uma
generalização, que é, precisamente, aquilo que confere a determinado
meio de prova a sua “força probatória”.
Um ponto fundamental é este: nenhum fato é dotado de “força
probatória” em absoluto: apenas com relação a determinado outro
fato é que ele pode ou não ser dotado de força probatória.
Meios de prova, portanto, apenas podem ser dotados de força
probatória no contexto de um argumento probatório, do qual eles
sejam a premissa e a alegação de fato a conclusão.
Compreender o conjunto composto por um dado convencimento
judicial e os meios de prova em que ele justifica tal convencimento
como um argumento, abre avenida de perspectivas para compreender
a prova e a valoração da prova.
Isso porque, de saída, a assim chamada “ força probatória” de
determinado meio de prova, nada mais é do que a força justificatória
do argumento, para o qual ele serve como premissa.
Portanto, ao se realizar uma “valoração da prova”, o que se faz não é
valorar este ou aquele meio de prova, mas sim o argumento probatório
que tenha este meio como premissa.
Lay out de Toulmin
R (Exceções possíveis)
D (premissa/razão) C (conclusão)
W (regra de inferência)
Q (Qualificador)
B (suporte)
Por outro lado, todos os argumentos probatórios são argumentos não-dedutivos.
Dessa forma, só por isso o Modelo Toulmin se revela uma ferramenta de importância crucial
para a valoração deles.
Mas a outra contribuição fundamental do modelo Toulmin na compreensão da própria noção
de prova, ou seja, dos argumentos probatórios.
Com ele, é possível compreender que cada um dos tipos de meio de prova específico (oral,
documental e pericial) pressupõe a aceitação, implícita em práticas sociais e na própria
legislação processual, de diferentes generalizações, autorizando a passagem de determinado
meio para uma conclusão, ou seja, determinado convencimento do juiz sobre os fatos
relevantes.
O modelo Toulmin permite tornar explícitas essas regras, bem como seu papel nos
argumentos probatórios construídos com cada um dos tipos de meio de prova disciplinados
na lei, permitindo, assim, uma valoração das provas mais criteriosa, na medida em que
permite se avaliar argumentos probatórios também na dimensão do suportes empírico e das
exceções possíveis às generalizações características de cada meio de prova.
Por isso mesmo, o modelo Toulmin também fornece um guia seguro para a colheita da prova.
TOULMIN
E A PROVA TESTEMUNHAL
X tem motivo para mentir
X não tem boa memórias
X não tem boa percepção
X não teve condiçõespara saber
Experiência comum
TOULMIN
E A PROVA DOCUMENTAL
X é representação
documental falsa
X é representação
documental obtida
mediante fraude
Se x é representação documental
de p, então p.
A posse de conhecimentos
científicos e técnicos.
O amparo e a participação em uma
comunidade científica
Y tem motivos para mentir
Y não é especializado na
área
Y desprezou dados
relevantes
Y extrapolou suas
atribuições
O perito Y disse, em
conclusão ao seu laudo, que Se alguém trabalhar nas condições
trabalhar nas
se alguém C, então estará propenso a adquirir
condições C, está propenso a doença D em decorrência do
adquirir doença D em trabalho
decorrência do trabalho
Se o perito diz que (Se C, então D),
então (Se C, então D).
A posse de conhecimentos
científicos e técnicos.
O amparo e a participação em uma
comunidade científica
O que o perito não pode dizer:
Por exemplo:
Se alguém utilizar um EPI tal e tal, então a insalubridade está (ou não está) eliminada.
Por conta disso, alguns são mais fortes do que outros, ou seja, alguns
tem força justificatória maior que outros.
Apenas uma coisa se pode saber com certeza: ele é diverso e menos
rigoroso do que aquele específico para o julgamento de mérito.