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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ TÍTULAR DA VARA DO

TRABALHO DE ARAGUAÍNA/TO.

Francisco Ailton Soares, brasileiro, casado,


trabalhador braçal, portador de CPF nº 964.263.301-91, residente e
domiciliado na Rua Santa Bárbara, Qd. 62, Lt. 28, Setor Martins Jorge,
Araguaína/To., por seus Advogados que esta subscrevem (m.j.) doc. 01,
com escritório profissional na Rua Ademar Vicente Ferreira nº 1.255,
Centro, Araguaína/To., onde recebem intimações de estilo, vem,
respeitosamente a presença de Vossa Excelência, propor RECLAMAÇÃO
TRABALHISTA cumulada com DANO MATERIAL E MORAL, em
desfavor:

Nacional Construção Civil Ltda., pessoa


jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 33.608.062/0001-06,
estabelecida na Av. LO3, Qd. 208 Sul, Lt. 07-A, Sala 01, Palmas/TO.,
pelos motivos de fato e de direito que passa a aduzir:

PRELIMINARMENTE

Pleiteia o Reclamante, lhe seja deferido o


benefício da assistência judiciária gratuita, eis que, é pobre, na acepção
jurídica do termo, não dispõe de meios para custear a presente demanda
sem prejuízo de própria sobrevivência.

Assim sendo, na forma autorizada pela Lei


1.060/50, requer o deferimento de benefício da assistência judiciária
gratuita, nomeando-se, desde logo o signatário da presente para o
desempenho do encargo profissional.
DO PACTO LABORAL

I) O reclamante foi admitido aos serviços da


reclamada em 17/03/2003, sem registro em CPTS, sendo assinada
somente em 01/11/2005, contrariando os ditames dos arts. 13 a 40 da
CLT, na função de Operador de Trator, percebendo a importância de R$
750,00 (setecentos e cinqüenta reais), por mês.

II) Na realidade, sua função era de trabalhador


braçal, na Fazenda Nossa Senhora Aparecida, de propriedade da
reclamada, para roçar e dar combate com uso de produto tóxico,
“TORDON” nas pastagens da referida Fazenda.

III) Em conseqüência do trabalho com uso do produto


tóxico acima referido, sem a devida proteção, o reclamante sofreu
paralisia do nervo radial direito, com perda funcional da mão direita,
conforme demonstram Atestado de Saúde Ocupacional e Atestado Médico
anexos.

III) Em decorrência de sua inabilidade para o trabalho,


foi demitido pela reclamada em 02/02/2006, sem justa causa, sem baixa
na CTPS, percebendo o mesmo salário, sem cumprimento de aviso
prévio.

IV) A Reclamada, ao permitir, no desempenho de sua


atividade agropecuária, que seu empregado trabalhasse, sem estar
equipado com toda a segurança possível e previsível, omitiu-se, foi
negligente e imprudente, resultando tal comportamento em culpa
gravíssima, que se assemelha ao dolo, obrigando a devida
responsabilidade para com aquele que sofre as conseqüências do
infortúnio, ou seja, o Reclamante.

V) Até o evento danoso, a sua esposa e filhos do


reclamante, vivendo sob sua única dependência, formavam uma família
tranqüila e completa. Enquanto o reclamante trabalhava sua esposa
cuidava dos afazeres domésticos zelando pela educação e criação de seus
filhos. Após o fato, o reclamante, foi acometido de verdadeiro pânico,
tendo que sustentar seus filhos em idade escolar, com os parcos
rendimentos na qualidade de pensionista do INSS, foi obrigado a viver de
favor dos amigos da família, sofrendo diretamente as intempéries da
natureza, pelas más condições de subsistência.
DANO MORAL

VI) Durante longo tempo se debateu na doutrina se


o Direito pátrio, à luz do ordenamento jurídico então vigente,
contemplava a possibilidade de indenização por atos que atingissem a
moral e a imagem do indivíduo, visto que, afora a previsão genérica do
art. 159 do Código Civil de 1916 — com correspondência atual no art.
186 da Lei 10.406/02) e algumas disposições específicas na chamada
Lei de Imprensa, não existia expresso amparo legal a tal pretensão.

VII) Sem embargo de posições em sentido contrário,


entende-se que o patrimônio jurídico do indivíduo não é formado
apenas pelos bens de natureza corpórea e que são economicamente
mensuráveis, mas principalmente pela imagem que projeta no grupo
social. Não menos relevante o conceito que tem sobre si mesmo e se
tal patrimônio resulta atingido por ato de terceiro, seja culposo ou
doloso, nascendo à obrigação para o faltoso, senão de reparar o dano
causado, ao menos de minimizar os efeitos dele advindos.

VIII) Com o advento da Constituição da República não


subsistem dúvidas de que o ordenamento jurídico nacional não apenas
guarnece a imagem e a moral do cidadão, como abriga expressamente
a possibilidade de indenização por danos causados a esta que se
entende ser a parte imaterial de seu patrimônio pessoal, haja visto o
que dispõe o art. 5º da Constituição Federal, em seus incisos V e X.

IX) Guardadas algumas particularidades, a doutrina


hodierna converge no sentido de que a idéia de dano moral tem por
essência o abalo da imagem, a dor pessoal e o sofrimento íntimo do
ofendido.

X) A vida humana não é apenas um conjunto de


elementos materiais (SILVA, José Afonso da, Curso de Direito
Constitucional Positivo, 11ª ed. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 197).
Segundo o magistério do festejado constitucionalista, verbis: A moral
individual sintetiza a honra da pessoa, o bom nome, a boa fama, a
reputação, que integram a vida humana como dimensão imaterial. Ela
e seus componentes são atributos sem os quais a pessoa fica reduzida
a uma condição animal de pequena significância (ob. cit. p. 198).

XI) Carlos Alberto Bittar, a seu turno, qualifica


como morais os danos em razão da esfera da subjetividade, ou do
plano valorativo da pessoa na sociedade, em que repercute o fato
violador, havendo-se, portanto, como tais, aqueles que atingem os
aspectos mais íntimos da personalidade humana (o da intimidade e da
consideração pessoal) (BITTAR, Carlos Alberto, Reparação Civil por
Danos Morais, 1ª ed., São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, p. 41).

XII) Orlando Gomes, citado por Rodolfo Pamplona Filho,


em seu O Dano Moral na Relação de Emprego, SP: LTr, 1998, p. 36,
ensina que, verbis: esse dano não é propriamente indenizável, visto
como indenização significa eliminação do prejuízo e das conseqüências,
o que não é possível quando se trata de dano extrapatrimonial.
Prefere-se dizer que é compensável. Trata-se de compensação e não
de ressarcimento.

XIII) O reclamante, é pai de 05 (cinco) filhos menores,


todos dependentes de seu trabalho para o sustento e educação de toda
sua família.

XIV) A presumida diminuta capacidade laborativa do


reclamante - além de soar como tese ignóbil - somente se presta para
agravar a condenação e não para abrandá-la.

XV) Considera-se, igualmente, a condição sócio-


econômica do reclamante e, em especial, as repercussões
avassaladoras no cotidiano dele - extensão do dano.

XVI) Mostra-se adequado, portanto, arbitrar, como


compensação pecuniária ao dano moral, não um valor estabelecido
com base nos ganhos da reclamante — dada às naturais dificuldades
em se apurar esse quantum, em liquidação — mas um montante fixo,
que deverá ser arbitrado em R$ 300.000,00 (trezentos mil reais),
valor aquém do postulado, acolhendo-se em parte o apelo, no aspecto.

DANO MATERIAL

XVII) Da mesma forma, é o empregador responsável pela


ofensa ao patrimônio material do obreiro, consubstanciada na sua
incapacidade laborativa, na dor física e na precipitação de sua
jubilação. A propósito, a regra constante no art. 950 do Código Civil
Brasileiro, de aplicação supletória, verbis:

“Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa


exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a
capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do
tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença,
incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para
que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu” (grifamos).
XVIII) E nem há se cogitar da não-cumulação das
pretensões, invocando-se a Súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça,
verbis: São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral
oriundos do mesmo fato.

XIX) Em recente julgamento, a 9ª Câmara Cível do


Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, apreciando recurso de
Apelação interposto por OPP Química S/A, confirmou a decisão de
origem que condenou a empresa a indenizar seu empregado, Manoel
Antonio Pires Rodrigues, por danos materiais e morais decorrentes da
redução de sua capacidade auditiva, em razão do trabalho por ele
desenvolvido.

XX) A propósito, os brilhantes fundamentos


consignados no voto do Relator, Desembargador Nereu José Giacomolli,
verbis: [...] Evidenciados os danos materiais havidos por conta do
acidente do trabalho em questão, tenho que a pensão mensal devida
há de se estabelecer de forma vitalícia, pois perenes são as seqüelas a
serem suportadas pela vítima. Ora, se o dano resultante da lesão
laborativa é de índole permanente, é evidente que a
correspondente reparação só se extingue com a morte do
trabalhador.

XXI) Após os revezes oriundos da degeneração de


sua saúde, o reclamante está enfrentando dissabores que repercute
diretamente em seu modo de viver. Pelo quadro clínico evidenciado no
feito, passou a necessitar de uma assistência especial, com dietas
específicas, medicação e exames laboratoriais diversos. E tais são
conseqüências naturalmente presumíveis, em virtude de seu estado de
saúde.

XXII) Por essa razão, e face o seu jubilamento antecipado,


o reclamante, presume-se, teve sensível decréscimo em seus
rendimentos, porquanto passará a perceber tão-somente o benefício
previdenciário correspondente, sem poder complementá-lo — dada a
sua condição de inválido — para fazer frente a todas as despesas que
certamente passará a ter.

XXIII) Observando todos esses elementos é que,


visando a compensar os danos materiais evidenciados, requer a Vossa
Excelência a condenação da reclamada ao pagamento de uma pensão
mensal, vitalícia, a ser depositada em conta-corrente aberta em nome
do reclamante ou naquela que por ele vier a ser indicada — arbitrando-
se, por razoável, e a contar de sua aposentadoria, o valor equivalente
a 50% de seu benefício previdenciário, inclusive para fins de
pagamento de 13º salário, em parcelas vencidas e vincendas, bem
assim visando a emprestar a presente condenação as condições de
exeqüibilidade e segurança ao reclamante, que seja também
condenada a constituição de capital que assegure o pagamento mensal
da referida pensão. O percentual aludido deve acompanhar os mesmos
índices de correção fixados pelo Instituto Nacional do Seguro Social —
INSS às aposentadorias, bem assim as mesmas datas.

DA JORNADA DE TRABALHO

XXIV) Cumpria jornada de trabalho de segunda a


segunda das 7:00 às 17 horas, perfazendo uma carga horária semanal de
60 horas, enquanto a legislação prevê 44 horas semanais, fazendo jus a
16 horas extras por semana, as quais deverão ser pagas com 50% e
100% de acréscimo da hora normal.

DAS VERBAS RESCISÓRIAS

XXV) Como até o momento o reclamante não recebeu


às verbas rescisórias que lhe é de direito, embora tenha afeito o possível
para recebê-las, propõe a presente RECLAMAÇÃO TRABALHISTA,
pleiteando os seguintes créditos:

DOS CRÉDITOS TRABALHISTAS

a) Aviso prévio, R$ 750,00

b) 13º salário de dezembro/2005, R$ 750,00

c) 13º salário prop. a 02/12, R$ 125,00

d) Férias integrais mais 1/3, referente ao


período de 03/2003 a 03/2004, de forma
dobrada, R$ 1.999,95

e) Férias integrais mais 1/3, de forma simples


do período de 03/2004 a 03/2005, R$ 999,97

f) Férias prop., mais 1/3, a 11/12+ 1/3, R$


231,10

g) FGTS+40% relativo a todo o pacto laboral, R$


2.940,00
h) Liberação das Guias de Seguro Desemprego.

i) Multa do art. 477 da CLT, parágrafos 6º e 8º,


R$ 750,00

j) Aplicação do art. 467 do mesmo diploma legal

k) 16 horas extras, por semana, acrescida 50%


e 100% da hora normal, durante todo o pacto
laboral, R$ 11.446,40

l) reflexos das horas extras, no aviso prévio,


13º salário, férias+1/3 e FGTS, R$ 3.643,89

m) Retificação na assinatura da CTPS, para


17/03/2003 e baixa na CTPS.

n) abono PIS/PASEP, R$ 300,00

o) Dano Moral, R$ 300.000,00

p) Dano Material, R$ 100.800,00

ISTO POSTO, requer a Vossa Excelência, a


notificação da reclamada, na pessoa de seu representante legal, para
comparecer a audiência que for designada, sob pena de confissão e
revelia, quanto a matéria de fato nos termos do artigo 844 da CLT, e no
final seja julgada procedente a presente reclamação, condenando a
reclamada ao pagamento de todos os créditos trabalhistas
pleiteados, em liquidação de sentença, acrescidas de juros,
correção monetária, custas processuais, multa e demais
pronunciamentos de direitos, dentre eles, honorários de advogado
na base de 20% sobre o valor dos cálculos, nos termos do artigo
133 da Carta Magna.

Outrossim, requer que a reclamada junte em


audiência inaugural, todos os cartões de pontos, folhas de pagamentos e
comprovantes dos depositos fundiários, sob pena de confissão.

Requer ainda os benefícios da Justiça


gratuita por ser o reclamante pessoa pobre na acepção jurídica do termo,
já expresso no Instrumento Procuratório.
Protestando por todos os meios probatórios
admitidos em lei, tais como, ouvida de testemunhas, perícias, vistorias e
depoimento pessoal do representante legal do reclamado sob pena de
confissão.

Dá-se a causa o valor de R$ 424.736,31


(quatrocentos e vinte e quatro mil, setecentos e trinta e seis reais e trinta
e um centavos).

Nestes termos,
Pede Deferimento.

Araguaína/To., 15 de fevereiro de 2006.

PHILIPPE BITTENCOURT
OAB/TO. Nº 1.073

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