1- Seria possível ou pertinente hoje manter a distinção
entre a opinião (doxa) e a ciência (episteme)? Em que termos ela se colocaria?
R:. A opinião varia de pessoa para pessoa, se baseia na avaliação
subjetiva sobre algo. “Eu acho que estes queijos estão bons, mas meu amigo acha o contrário”. A pluralidade de avaliações pessoais torna impossível construir um verdadeiro conhecimento baseado numa simples opinião. Se quisermos nos aproximar da verdade, devemos analisar o que varia de acordo com as situações, sujeitos e as mutações da realidade. A garantia de um saber verdadeiro está na possibilidade de sua demonstração a partir de um conhecimento já demonstrado como a episteme. A diferença entre opinião e conhecimento (doxa e episteme) foi abordada por Parmênides e posteriormente por Platão. Segundo o primeiro, a doxa parte dos sentidos, dos desejos e das experiências pessoais (senso comum), enquanto que a episteme (conhecimento cientifico) é a tentativa de construir uma verdade distante da subjetividade individual e sim no conjunto de teorias, estudos e observações científicas que sejam coerentes e que possam se comunicar entre si. Conforme Platão, a doxa é o conhecimento que depende das aparências, portanto, é enganosa. Platão defendia os ideais de doxa e os chamava de modo depreciativo como doxógrafos, que podem ser traduzidos como opinantes. Para a maioria dos filósofos gregos a doxa é um substituto do verdadeiro conhecimento. Por meio da opinião, podemos nos comunicar, compartilhar experiências e avaliar qualquer aspecto da realidade do ponto de vista individual. No entanto, se queremos saber algo com um critério de verdade e de maneira objetiva, devemos seguir o caminho da episteme. Esta distinção entre uma forma ou outra de conhecimento é crucial para compreender a diferença entre o que é científico e o que não é e se distingue no cotidiano.
2 - Quais as alterações mais visíveis, para você, no sentido
do termo substância desde o modo como é definido por Aristóteles até o modo como é compreendido hoje pelo senso comum?
R: Aristóteles foi um dos maiores filósofos de sua época,
influenciando grande parte do pensamento filosófico de eras posteriores, como na idade média por exemplo, graças a livros como “Metafísica” onde podemos encontrar o conceito de Aristóteles sobre a substância. A substância, que vem do grego “ousia” e que significa “ser” e que alguns chamam de essência, seria basicamente aquilo que fundamenta as coisas e que teve sua teoria criada basicamente para explicar a mudança. Para Aristóteles a substância possui quatro características, que seriam: seria tudo aquilo que não pode ser predicado, aquilo que existe independente de todo o resto, aquilo que permanece através da mudança e sendo também aquilo que é a união da matéria e da forma essencial. A primeira característica devemos conhecer antes o conceito das categorias de Aristóteles, onde ele tenta mostrar algumas categorias, sendo a primeira a substância e considerada por ele o único sujeito e todas as outras categorias sendo predicados, ou seja, a substância não pode ser dita de um sujeito e nem em um sujeito. A substância então seria um recebedor de predicados, mas nunca seria um predicado propriamente.O significado da segunda característica seria a de que a substância existe e pode ser pensada independente da matéria e da propriedade. Ela então seria a base de tudo e sem ela nada poderia existir. Nessa característica podemos ver uma relação entre os números e a substância, mas apesar dos números poderem ser pensados independentes de todo o resto sua existência possui dependências.Na terceira característica vemos que a substância só sofre mudança nela mesma, há outras coisas que podem ser assim, porém essa mudança seria extrínseca a ela enquanto na substância a mudança seria na forma de geração e corrupção, ou seja, nela mesma. Uma boa forma de se entender esse fato é que ao colocarmos um pedaço de cera de abelha (tendo ela características como aroma, forma e textura) no fogo, ela sofreria mudanças em suas características, porém continuaria sendo cera, pois a substância (essência) que a define não mudaria .Na última característica vemos a substância como a união entre dois conceitos: a matéria e a forma. A matéria seria aquilo de que um ser é constituído ou é feito. Aquele indeterminado que poderia receber determinações. A forma seria aquilo que se mostra de algo, ou seja, seu aspecto. Assim podemos concluir que, para Aristóteles a substância seria o fundamento de tudo, seria aquilo do qual podemos falar algo, que poderíamos pensar sem interligarmos a nada diretamente, que se mantêm quando todo o resto muda e que seria a base para a união daquilo que se mostra feito .E hoje em dia vejo no senso comum e aceitamos como realidade apenas o que é tratado pelas ciências naturais.
3 - Você alguma vez já refletiu sobre a importância e/ou
necessidade de separar, numa questão, os aspectos meramente acidentais daquilo que lhe pertence substancialmente? No plano do conhecimento? No plano da vida prática? As ciências atuais continuam com essa distinção entre atributos acidentais e atributos essenciais? Em que sentido?
R: A divisão do que é cada qualidade essencial (aquilo sem o qual
o objeto nunca seria o que é) e do que é um acidental (aquilo que consegue se modificar, é dinâmico), se faz importante para que conheçamos a dificuldade das questões que analisamos. No mesmo tempo que cada qualidade essencial permanece no objeto pelo resto de sua existência, cada qualidade acidental fica para indicar o relação atual desse objeto, ou o que o afeta no momento em que o analisamos. Na vida prática fazemos isso quando passamos, por exemplo, por problemas em uma relação: separamos uma pequena briga, por molde, do amor e sentimos por outras pessoas. No campo do conhecimento é importante notar a influência dessa divisão quando observamos cada objeto de conhecimento, por modelo, a cultura. A cultura tem propriedades essenciais, por exemplo: é parâmetro para comportamentos, mas tem seus pontos acidentais, informações por contexto histórico e atuação individual. As ciências naturais mantém essa divisão para melhor compreender um determinado fenômeno. No caso da análise biológica, por exemplo, temos os pontos essenciais: a necessidade de oxigênio para que um ser humano sobreviva, por modelo, mas temos também a maneira pela qual esse oxigênio pode ser obtido, que pode ser acidental: pela respiração natural, com ajuda de aparelhos e etc.