Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Vitória da Conquista - BA
2009
1
Vitória da Conquista – BA
2009
2
Vitória da Conquista
2009
3
AGRADECIMENTOS
O ato de agradecer não atinge por completo a extensão dos sentimentos que
queremos reconhecer – o gesto de carinho, o apoio, a solidariedade, a
compreensão, a participação...
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar a gestão dos resíduos sólidos da cidade de
Piripá-BA e suas conseqüências sócio-ambientais, a partir da análise do processo
de coleta, transporte e armazenamento dos resíduos; da avaliação das políticas
públicas destinadas à limpeza urbana, bem como da atuação do poder público
municipal e da sociedade local em relação a essas políticas; analisando também as
condições de trabalho dos servidores públicos que atuam no gerenciamento dos
resíduos. Para o desenvolvimento da pesquisa foram realizadas entrevistas com os
gestores municipais (prefeito atual do município e da gestão 2004/2008), e com o
secretário de infra-estrutura, além da aplicação de dois tipos de questionários, sendo
o primeiro aplicado em 90 domicílios, o equivalente a 5% do número total de
domicílios urbanos; e o segundo, aos 30 servidores que atuam no serviço de
limpeza urbana. Após a análise dos dados coletados entre os meses de dezembro
de 2008 e janeiro de 2009, foi confirmada a hipótese principal da pesquisa: o mau
gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos, que se explica, principalmente, pelo
fato de toda a produção residual da cidade ser depositada em um vazadouro a céu
aberto. Observa-se, dentre outras deficiências, carência de políticas públicas e falta
de planejamento destinado a este seguimento tão importante do saneamento básico,
além da pouca participação da sociedade local neste setor. Porém, há uma
expectativa de melhoria, a partir do interesse demonstrado pelo poder público
municipal em rever a situação em que se encontra a gestão dos resíduos sólidos
urbanos. Por fim, pode-se afirmar que, com políticas eficazes e maior interesse do
poder público municipal, será possível pensar numa gestão de resíduos sólidos
pautada na qualidade sócio-ambiental.
LISTA DE TABELAS
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE FOTOGRAFIAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10
1 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS ....................................... 12
1.1 QUESTÕES SOBRE GESTÃO URBANA ................................................... 12
1.2 SANEAMENTO E MEIO AMBIENTE........................................................... 16
1.2.1 Saneamento básico e saneamento ambiental............................................. 16
1.2.2 Políticas públicas de saneamento no Brasil ................................................ 21
1.3 RESÍDUOS SÓLIDOS ................................................................................. 23
1.3.1 Gestão de resíduos sólidos urbanos ........................................................... 25
1.3.2 Limpeza urbana ........................................................................................... 26
1.3.3 Coleta e transporte de resíduos sólidos urbanos ........................................ 27
1.3.4 Destino final de resíduos sólidos ................................................................. 30
1.4 IMPACTOS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS EM AMBIENTES URBANOS ...... 36
1.4.1 Populações expostas aos resíduos sólidos urbanos ................................... 38
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 83
10
INTRODUÇÃO
Sabe-se que tem sido difícil a implementação desses instrumentos, tanto pela
escassez de recursos quanto pela falta de colaboração de alguns grupos sociais que
agem contrariamente aos resultados positivos em relação à qualidade ambiental.
Daí a necessidade de novos instrumentos de gestão nesta área.
1
Conjunto de obras e instalações destinadas à coleta, transporte, afastamento e disposição final das
águas residuárias da comunidade, de uma forma adequada do ponto de vista sanitário (Pesquisa
Nacional de Saneamento Básico 2000).
19
governo para o setor no horizonte dos próximos vinte anos, com vistas à
universalização do acesso aos serviços de saneamento básico como um direito
social.
A Lei Federal nº 11.445, de 05 de Janeiro de 2007, estabelece diretrizes
nacionais para o saneamento básico e para a política federal de Saneamento
básico, estabelecendo a universalização do acesso aos serviços de abastecimento
de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos,
disponibilizando os serviços de drenagem e de manejo das águas pluviais em todas
as áreas urbanas.
jornais ou papelão para evitar acidentes com os funcionários que fazem à coleta. Em
localidades onde o carro não passa para fazer a coleta, os habitantes devem
carregar seus resíduos até a rua ou praça mais próxima, por onde passa o veículo
coletor.
Neste contexto, vale ressaltar que mesmo em áreas onde há coleta regular,
muitas pessoas depositam seus resíduos domiciliares em terrenos baldios,
provocando mau cheiro na vizinhança e atraindo insetos e roedores. Isso mostra o
descaso de parte da população urbana em relação à limpeza pública e/ou o
desconhecimento dos malefícios que os resíduos a céu aberto podem provocar à
sociedade e ao ambiente. Sendo importante lembrar que, embora o serviço de
limpeza urbana seja de responsabilidade dos gestores municipais, a população deve
colaborar para que a mesma seja mantida.
Além dos detritos das residências, são coletados, dentre outros, os resíduos
gerados pelo comércio e pela indústria, os resultantes da limpeza de vias públicas,
como ruas e praças, de podas de árvores e dos hospitais. A coleta dos resíduos
hospitalares merece atenção especial, pois os quais representam maior perigo à
população e principalmente aos coletadores.
fim de cada dia. A área para a instalação de um aterro deve ser cuidadosamente
escolhida, visando proteger, acima de tudo, as águas superficiais e subterrâneas,
dando preferência a terrenos que necessitam ser recuperados (valas, erosão, areias,
etc.)
O aterro sanitário é uma obra de engenharia projetada para receber vários
tipos de resíduos. Para sua construção, precisa basicamente dos seguintes serviços:
terraplanagem; forração do terreno com material impermeável, de preferência argila;
canalização das águas da chuva e do chorume 2; tubulação para a saída de gases;
plantio de grama; e finalmente, instalação de uma cerca ao redor da área de serviço.
“A técnica de compactação utilizada para a obtenção de bons resultados, estabelece
que o lixo seja descarregado no solo e seja empurrado pelo trator de baixo para
cima.” (BERTÉ, 2004, p.36)
Esse método de enterrar os resíduos não agride nem prejudica a saúde das
pessoas. Além de eliminar os impactos visuais, evita o mau cheiro, a atividade de
catação, a proliferação de “vetores”, a presença de animais à procura de alimentos,
o espalhamento de detritos pelo vento ou pelas enxurradas e o surgimento de focos
de fogo e fumaça. O aterro protege também as águas de poços e rios do chorume
que, pode causar sérios problemas à operação do aterro. Este deve ser retirado
através de um sistema de drenos (canaletas abertas sobre camadas de resíduos e
preenchido com pedras britadas ou material similar). Dessa forma, o chorume é
captado e bombeado para cima do aterro.
Em geral, um aterro deve ser utilizado até, no máximo dez anos, alguns
chegam a durar vinte anos, tornando sua implantação mais vantajosa do ponto de
vista econômico. É importante ressaltar que após o fim das atividades do aterro, ao
contrário do que acontece com os lixões, os moradores da vizinhança podem
usufruir de um parque, jardim ou campo de futebol, construídos em cima das últimas
camadas de resíduos, sem que o terreno apresente qualquer risco à saúde dessas
pessoas.
O aterro controlado é mais uma forma de disposição final dos resíduos
sólidos. Esse tipo de aterro é menos prejudicial que os lixões pelo fato de os
resíduos dispostos no solo serem posteriormente cobertos com terra, o que acaba
por reduzir a poluição local. Porém, trata-se de solução com eficácia bem inferior à
2
Líquido malcheiroso, de coloração negra, resultante da decomposição de matéria orgânica.
34
possibilitada pelos aterros sanitários, pois, ao contrário destes, não protege o solo
nem as águas subterrâneas contra possíveis contaminações.
A incineração, processo de queima de resíduos em altas temperaturas,
também se constitui numa forma de destinação final de resíduos, a qual não
consiste em simples queima, pois as temperaturas devem ser muito elevadas para
que os resíduos sejam realmente reduzidos a cinzas. A incineração deve ser
aplicada, principalmente para resíduos hospitalares e/ou contaminados, e suas
cinzas devem ser dispostas em aterros apropriados. Vale destacar que o “volume de
cinza do lixo incinerado é aproximadamente 10% (dez por cento) do volume inicial.”
(BERTÉ, 2004, p.37). Além dessa vantagem, a energia resultante da queima de
resíduos pode ser aproveitada para a geração de eletricidade ou ainda para
movimentar máquinas industriais. A incineração não pode ocorrer de forma irregular,
pois nesse processo há liberação de gases tóxicos, principalmente, originados da
queima de embalagens plásticas.
Alguns agentes físicos comuns nas atividades com resíduos podem provocar
efeitos muito negativos nas pessoas que mantém contato com equipamentos de
coleta ou de sistemas de gerenciamento de manuseio, transporte e destino final. A
poeira, por exemplo, pode ser responsável por desconforto, irritação dos olhos e por
problemas respiratórios; o mau cheiro pode causar mal estar, dores de cabeça e
náuseas, principalmente nos trabalhadores da limpeza pública e catadores; e ruídos
em excesso, a depender da intensidade, pode promover a perda parcial ou
permanente da audição, causar cefaléia, dentre outros problemas. “Responsáveis
por ferimentos e cortes nos trabalhadores da limpeza urbana, os objetos
37
Pediplano do Alto Rio Pardo e Planaltos dos Geraizinhos. A região onde o município
se localiza apresenta uma litologia variada, com os principais tipos de solos:
Latossolos Amarelos, Solos Litólicos e Areias Quartzosas. Com relação à
hidrografia, faz parte da Bacia Hidrográfica do Rio de Contas, sendo o município
banhado pelos rios Canabrava e Gavião.
0°
10° S
14°36'S
20° S
0 1150 km
Escala Aprox.
30° S
15°00'S
Bahia:
Localização da Região de Serra Geral
10° S
15°24'S
14° S
0 270 km
Escala Aprox.
0 16 32 km 18° S
Escala
15°48'S
43°36'W 43°12'W 42°36'W 42°12'W 41°36'W
Município de Piripá Fonte: Base Cartográfica Digital do IBGE, 2008. Elaboração: Ismaily Cunha, 2009.
família. Após sua morte, dois dos seus filhos, Augusto e José Marinho foram tomar
conta do terreno que havia comprado, tornando-se também mercadores.
Conta-se que em suas viagens da Ressaca para Condeúba, sempre paravam
para descansar com suas tropas embaixo de uma árvore, hoje território piripaense.
Numa de suas viagens, dormiram no local e acabaram perdendo a feira, surge então
a idéia de realizarem-na ali mesmo, e assim o fizera. Estava plantada a semente, e a
partir deste momento, Piripá começa a “germinar”. A feira atraía um grande número
de pessoas, e por esse motivo, tempos depois a árvore já não fazia mais sombra
para tanta gente, o que resultou na construção de um barracão, onde hoje é o
Mercado Municipal.
O desenvolvimento do comércio impulsionou a construção das primeiras
residências e a atração de moradores, fato que justifica o surgimento das cidades.
Além da atividade comercial, por volta de 1917, Augusto e José Marinho, atraídos
pela fertilidade das terras e pela existência do riacho Cana Brava, aí se fixaram com
o cultivo da cana-de-açúcar, e deram ao local o nome de Cabeça da Vaca. A imensa
produção de cana-de-açúcar impulsionou o surgimento de vários engenhos e em
poucos anos já existia um povoado chamado Lagoa da Tabua.
Em decorrência do crescente desenvolvimento do povoado, em 1926, já com
o nome Piripá, foi elevado à condição de distrito de Condeúba. Segundo
informações dos moradores mais antigos, a partir desta época, muitas foram as
tentativas para que o distrito tornasse município, o que aconteceu em 31 de julho de
1962, com a sua emancipação. Seu primeiro prefeito foi o Sr. Benjamim da Rocha
Castro. O nome Piripá é originário do vocábulo indígena Tupi: piri-ypá, que significa
lagoa do junco ou dos piris. A partir da emancipação, as características urbanas se
intensificaram no território piripaense.
Atualmente, o espaço urbano do município possui aproximadamente 1.800
domicílios. Embora não apresente grande dimensão territorial, encontra-se dividido
em localidades popularmente conhecidas como bairros, que são: Centro, Bairro
Novo, Alto do Campo, Horizonte Azul, além do Conjunto Habitacional Casas
Populares e do Loteamento Califórnia (de formação recente), mais conhecido como
Bairro Califórnia, conforme Figura 2.
43
nem todas as ruas são iluminadas, a coleta dos resíduos sólidos é realizada apenas
uma vez por semana e não existe arborização. Além disso, parte do loteamento
encontra-se numa área de alta umidade, como retrata a Foto 01.
Em relação à água que abastece a cidade de Piripá, esta vem do rio Cana
Brava, e é distribuída à população pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento
S/A (Embasa). Conforme a gerente da Embasa de Piripá, Andréia Almeida Silva, a
água do manancial apresenta alto teor de ferro, mas a correção é feita com o uso de
produtos químicos, tornando-a potável. E acrescenta que, depois de tratada, a água
não oferece riscos à população, apresentando a média de 98,9%, referente ao
Índice de Qualidade da Água (IQA), sendo o teste de qualidade realizado duas
vezes por semana no laboratório da Embasa, em Vitória da Conquista.
Muitos moradores reclamam do odor, cor e sabor da água que chega às suas
residências. Para eles, o odor muito forte e o gosto desagradável podem ser
provocados pelo uso de produtos químicos, o que é confirmado pela funcionária da
Embasa. A cor amarelada pode ser atribuída à sujeira presente na rede hídrica, pois
após algum tempo no reservatório, a água torna-se límpida.
A pesquisa revela que 100% das residências são atendidas pelo
abastecimento de água, no entanto, os moradores reclamam da existência de
problemas em relação a esse serviço, o que é explicitado por 41,6% dos mesmos,
revelando que o maior problema enfrentado em relação à água é o “abastecimento
insuficiente”, enquanto que 37,5% dizem não perceber problemas. Para 6,6%, o
problema enfrentado é a “poluição” e 18,3% dizem conviver com outros problemas
no que se refere à água que chega as suas residências. Como aponta o Gráfico 02.
%
48
%
51
Pavimentação %
Ruas pavimentadas 50
Ruas não pavimentadas 50
Total 100
Fonte: Pesquisa de campo, setembro e outubro de 2006.
3
Informações fornecidas pelo ex-prefeito Jeová Barbosa Gonçalves, em 30/12/2008.
54
Apesar dos avanços que a nova Constituição trouxe, deve ser notado
que, segundo a ótica da distribuição de competências, foi ampliado o
rol das competências concorrentes entre as três esferas de governo.
Assim, grande parte das políticas públicas, principalmente sociais,
acabam não sendo efetivadas e enfrentadas, pois a competência
4
Informações fornecidas pelo ex-prefeito Jeová Barbosa, em 30/12/2008.
55
Através da tabela, vê-se que dentre as funções exercidas pelo pessoal que
atua no gerenciamento dos resíduos na cidade, a de varredor apresenta maior
número de servidores, seguida das funções de coletador, motorista, capinador e
fiscal, apresentando situação semelhante à registrada na Pesquisa Nacional
realizada pelo (SNIS), pois “as taxas no serviço de varrição sempre são as maiores,
seguidas do serviço de coleta e por último o serviço de capina” (Diagnóstico do
Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos, 2008, p.70).
Tratando-se especificamente do serviço de varrição que acontece somente
nas ruas pavimentadas, fica sob responsabilidade dos próprios moradores a limpeza
das demais, o que provoca certa insatisfação de uma parcela significativa da
população, pois conforme Rocha (2006) apenas 50% das ruas da cidade são
pavimentadas (ver tabela 02, p. 52).
Um aspecto que merece destaque é a limpeza das ruas e praças,
principalmente no centro da cidade, onde o serviço de varrição é realizado
diariamente, que é uma das atividades mais visíveis da limpeza urbana, como se
observa nas Fotos 07 e 08. Para manter a limpeza na praça principal, a prefeitura
distribuiu uma quantidade significativa de pequenas lixeiras e destinou um dos
servidores da limpeza pública para esta função, o qual presta seu serviço
exclusivamente nesta área.
Vale destacar que tais lixeiras não são igualmente distribuídas no espaço
urbano, e as existentes nem sempre são adequadamente utilizadas pela população,
que deposita seus resíduos domiciliares, muitas vezes, desembalados, dificultando a
coleta e favorecendo a proliferação de insetos e roedores.
por semana, 8% e outra, 1%, que corresponde a não existência de coleta, como
indica o Gráfico 04.
5
Local utilizado para despejo do lixo coletado, em bruto, com o cuidado de, após a jornada de
trabalho, cobrir esses resíduos com uma camada de terra diariamente, sem causar riscos à saúde
pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais (PNSB, 2000).
63
6
Informações fornecidas pelo ex-prefeito Jeová Barbosa, em 30/12/2008.
64
Ainda informa que o material recolhido é vendido no próprio lixão, que depois
é transportado pelo comprador para o município de Vitória da Conquista, e diz
66
receber em torno de 100,00 (cem reais) por mês, mas este valor pode variar a
depender da quantidade de produtos recolhida, ou seja, da produção mensal.
Segundo Manoel, por falta de residência, chegou a passar 30 dias com sua família
(esposa e dois filhos) na área do “lixão”. Para isso, construiu um barraco (Foto 24),
que hoje é utilizado para descansar, pois mora na cidade, mas passa em torno de 12
horas por dia trabalhando como catador. Comenta que passou por dificuldades, mas
diz que agora está tudo bem.
também que nunca teve problemas de saúde causados pelo contato direto com os
resíduos, o que não é comum, mas demonstra ter consciência de que pode ser
vítima de problemas provenientes do espaço que freqüenta diariamente, quando diz:
“Peço a Deus prá num causar problema nenhum. Das doenças, eu peço a Deus prá
me livrar, e os colegas meus também” 8.
Nesse sentido, importa dizer que os chamados catadores são populações
bastante expostas aos resíduos sólidos urbanos. Conforme Ferreira e Anjos (2001),
“além dos incômodos do mau cheiro, convivem com a presença de vetores e sofrem
os efeitos da poluição/contaminação [...]”. Em se tratando dos problemas
decorrentes da destinação dos resíduos gerados pelo consumo humano, em matéria
publicada na Revista Aquecimento Global/2008, Cláudio Blanc afirma que
8
Informação fornecida pelo catador de materiais recicláveis, em 20/01/2009.
68
Por fim, nota-se o nível de satisfação dos servidores públicos no que se refere
às condições de trabalho. Apesar de não serem as melhores, uma porcentagem
relevante 77% declara estar satisfeita, enquanto 20% demonstram sua insatisfação
e 3% dizem que não estão totalmente satisfeitos (Gráfico 08).
cidades grandes, como atesta um dos servidores, pois: “É melhor trabalhar aqui do
que correr risco de vida em cidade grande, como São Paulo” (conhecido destino de
muitos trabalhadores de Piripá que vão à procura de emprego). Considerando esta
última justificativa, é possível afirmar que a satisfação não está diretamente
relacionada às condições de trabalho, e sim à possibilidade de um emprego em sua
própria cidade, e talvez esta seja a única opção, o que não ficou muito claro.
Os servidores insatisfeitos com as condições de trabalho manifestam
apresentando os seguintes motivos: falta de uniforme, falta de materiais para
proteção individual, baixo salário, falta de carros próprios para coleta e transporte do
lixo, dentre outras. Alguns reclamam das exigências e da falta de compreensão dos
responsáveis (da Secretaria de Infra-estrutura), quando necessitam faltar ao
trabalho, até mesmo para irem ao médico.
Levando-se em conta as informações acima, é notória a necessidade de
melhoria das condições de trabalho dos servidores da limpeza urbana, tanto no que
se refere aos equipamentos necessários aos serviços quanto em relação ao salário,
ao respeito de seus direitos e à própria valorização do seu trabalho. Neste sentido,
cabe destacar que os trabalhadores da limpeza urbana são, normalmente, pouco
valorizados, fato que pode ser atribuído ao preconceito comum em relação ao
trabalho manual e às atividades tidas como subalternas numa sociedade cindida
pela desigualdade como o Brasil, o que não justifica, pois exercem uma função tão
importante quanto tantas outras.
9
Falas inscritas no questionário aplicado à população, destinado à pesquisa sobre a gestão dos
resíduos sólidos da cidade de Piripá-BA.
73
Mesmo aqueles que avaliam o serviço como bom e dizem que as ruas são
limpas e que existe coleta regular, mencionam algumas deficiências como falta de
aterro sanitário, transporte inapropriado, baixo salário dos servidores e inexistência
de coleta seletiva. É importante destacar que para muitos a limpeza pública é boa
pelo simples fato de existir o serviço de coleta, desconsiderando a forma como esta
é realizada, o pessoal que atua no gerenciamento dos resíduos e seu destino final.
Neste caso, nota-se que a resposta está vinculada ao nível de percepção de cada
pessoa em relação ao assunto abordado. Por outro lado, há também os que só se
preocupam com os problemas do seu entorno, ignorando os que dizem respeito a
toda a população.
Outro aspecto considerado foi a existência de lixeiras públicas nas
proximidades das residências. Neste item constatou-se que para 92,2% dos
pesquisados tais lixeiras simplesmente não existem (Tabela 04), o que torna comum
o hábito de utilizar os locais à frente das residências para depositar o “lixo” antes da
coleta.
Existência de lixeira %
Há lixeira 7,8
Não há lixeira 92,2
Total 100
Fonte: Pesquisa de campo, janeiro de 2009.
11
Informação fornecida pelo prefeito da gestão 2004/2008, em 30/12/2008.
77
Olha, eu acho que já teve pior, mas a gente precisa melhorar muito,
[...] sabendo que nada provisório atende às necessidades. É... a
coisa tem que ser tratada com urgência, ainda mais nós aqui que
temos os rios próximos desse aterro provisório. A gente sabe que
boa parte desses já tá contaminado, e é difícil voltar... E os
moradores das margens dos rios, eles têm reclamado. Foram feitos
alguns ajustes, foi encanado água para eles de postos artesianos
para que não precisassem comprar [...], mas a gente sabe que
precisa fazer muito mais, porque o Rio Gavião recebe tudo... é mal
utilizado por todos nós. Essa é uma questão urgente, [...].
(informação verbal) 12
12
Informações fornecidas pelo prefeito da gestão 2004/2008, em 30/12/2008.
78
13
Informações fornecidas pelo secretário de Infra-estrutura Gil César da Silva Santos, em
31/01/2009.
14
Informações fornecidas pelo prefeito do município Anfrísio Barbosa Rocha, em 13/02/2009.
79
[...] é difícil eu lhe dar uma resposta sobre a destinação final, porque
ainda não tenho conhecimento do que o Ministério Público exige, o
que a lei exige que seja feito. E também dos riscos ao meio
ambiente. Eu não sei o que deve ser feito. Eu não posso dar a
resposta exata, mas a gente vai trabalhar nessa área, contratar um
profissional que entenda para avaliar o que vai ser feito de agora em
diante. (informação verbal) 15
15
Informações fornecidas pelo prefeito do município, em 13/02/2009.
16
Informações fornecidas pelo prefeito do município, em 13/02/2009.
80
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANJOS, Luiz Antonio dos; FERREIRA, João Alberto. Aspecto de saúde coletiva e
ocupacional associados à gestão dos resíduos sólidos municipais. Cadernos
de Saúde Pública, 2001.
BRAGA, Maria Cristina Borba; DIAS, Natália Costa. Gestão de Resíduos Sólidos
Urbanos. Volume I. Curitiba, 2008. Disponível em http: www.google.com.br. Acesso
em 11/10/2008.
CARLOS, Ana Fani Alessandri; LEMOS, Amália Inês Geraiges (org.). Dilemas
Urbanos: Novas abordagens sobre a cidade. São Paulo: Contexto, 2005.
MACHADO, C; PRATA FILHO, D. A., 1999. Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos
em Niterói. In: ANJOS, Luiz Antonio dos; FERREIRA, João Alberto. Aspecto de
saúde coletiva e ocupacional associados à gestão dos resíduos sólidos
municipais. Cadernos de Saúde Pública, 2001.
RODRIGUES, Francisco Luiz; CAVINATTO, Vilma Maria. Lixo: de onde vem? Para
onde vai? São Paulo: Moderna, 2003.
RUBERG, C; PHILIPPI Jr., A. In: ANJOS, Luiz Antonio dos; FERREIRA, João
Alberto. Aspecto de saúde coletiva e ocupacional associados à gestão dos
resíduos sólidos municipais. Cadernos de Saúde Pública, 2000.
SILVA, José Afonso da. Direito urbanístico brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2000.
VILLA, Bona de; COSTA, Luiz Carlos. In: CARVALHO, Pompeu Figueiredo de.
Instrumentos Legais de Gestão Urbana: Referências ao Estatuto da Cidade e ao
Zoneamento. Artigo originalmente publicado em: BRAGA, R; CARVALHO, P.F (org.)
Estatuto da Cidade: política urbana e cidadania. Rio Claro: UNESP, 2000.