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Atuação psicopedagógica no contexto

ARTIGOescolar
DE REVISÃO
: manipulação, não; contribuição, sim

Atuação psicopedagógica no contexto


escolar: manipulação, não; contribuição, sim
Idalina Amélia Mota Pontes

RESUMO – No complexo processo que envolve a aprendizagem,


revela-se significante a atuação preventiva do psicopedagogo no contexto
escolar, onde muitas informações e vários aspectos têm que ser observados
e analisados. Ter conhecimento de como o aluno constrói o seu saber,
compreender as dimensões das relações com a escola, com os professores,
com o conteúdo e relacioná-los aos aspectos afetivos e cognitivos, permite
um fazer mais fidedigno ao psicopedagogo. Deve-se considerar que o
desenvolvimento do aprendente se dá de forma harmoniosa e equilibrada
nas diferentes condições orgânica, emocional, cognitiva e social.

UNITERMOS: Instituições acadêmicas. Psicopedagogia. Família.

Idalina Amélia Mota Pontes – Graduada em Pedagogia Correspondência


com Habilitação em Administração Escolar pela Idalina Amélia Mota Pontes
Universidade Estadual do Ceará; Especialista em Fortaleza, CE, Brasil
Psicopedagogia pela Faculdade Christus, Fortaleza, CE.

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INTRODUÇÃO Barbosa2 afirma que “a escola caracteriza-se


A modernização do sistema educativo, como um espaço concebido para realização do
atual, passa por uma descentralização e por processo de ensino/aprendizagem do conhe-
um investimento das escolas como espaços de cimento historicamente construído; lugar no
formação e não de frustração. Um dos primei- qual, muitas vezes, os desequilíbrios não são
ros passos do psicopedagogo seria realizar um compreendidos”.
diagnóstico buscando a história da escola, para A aprendizagem escolar, durante várias dé-
entender melhor sobre a rede de movimentos e cadas, foi vista como algo distante do prazer e
a identidade dessa instituição. Estabelecendo a entendida como um mal necessário.
partir daí um trabalho de ação preventiva que Então, o grande desafio das escolas, nos dias
amenize ou impeça as dificuldades de apren- de hoje, é despertar o desejo dos alunos para
dizagem, articulando uma postura de diálogos que possam sentir prazer no aprender.
e contribuindo para que as mudanças possam A opinião de Barbosa2 é clara quando argu-
acontecer na comunidade escolar. menta que:
“Transformar a aprendizagem em pra-
DIAGNOSTICANDO NA INSTITUIÇÃO zer não significa realizar uma atividade
ESCOLAR prazerosa, e sim descobrir o prazer no
A atuação psicopedagógica na escola implica ato de: construir ou de desconstruir o
num trabalho de caráter preventivo e de asses- conhecimento; transformar ou ampliar
soramento no contexto educacional. o que se sabe; relacionar conhecimentos
Segundo Bossa1, “pensar a escola à luz da entre si e com vida; ser co-autor ou autor
Psicopedagogia, significa analisar um processo do conhecimento; permitir-se experi-
que inclui questões metodológicas, relacionais e mentar diante de hipóteses; partir de um
sócio-culturais, englobando o ponto de vista de contexto para a descontextualização e
quem ensina e de quem aprende, abrangendo a vice-versa; operar sobre o conhecimento
participação da família e da sociedade”. já existente; buscar o saber a partir do
No diagnóstico psicopedagógico, é essencial não saber; compartilhar suas descober-
que se considere as relações entre produção es- tas; integrar ação, emoção e cognição;
colar e as oportunidades reais que a sociedade usar a reflexão sobre o conhecimento
dá às diversas classes sociais. A escola e a socie- e a realidade; conhecer a história para
dade não podem ser vistas isoladamente, pois o criar novas possibilidades”.
sistema de ensino (público ou privado) reflete a Barbosa2 ressalta, ainda, que “a Psicopeda-
sociedade na qual está inserido. Observa-se que gogia, como área que estuda o processo ensino/
alunos de baixa renda ainda são estigmatizados, aprendizagem, pode contribuir com a escola na
na questão do aprendizado, como deficientes. missão de resgate do prazer no ato de aprender
Ao chegar numa instituição escolar, muitos e da aprendizagem nas situações prazerosas”.
acreditam que o psicopedagogo vai solucionar O psicopedagogo sabe que para aprender
todos os problemas existentes (dificuldade de são necessárias condições cognitivas (abordar o
aprendizagem, evasão, indisciplina, desestímu- conhecimento), afetivas (estabelecer vínculos),
lo docente, entre outros). No entanto, o psico- criativas (colocar em prática) e associativas
pedagogo não vem com as respostas prontas. O (para socializar).
que vai acontecer será um trabalho de equipe, Deve-se estar atento frente às grandes mu-
em parceria com todos que fazem a escola danças que ocorreram nas propostas educacio-
(gestores, equipe técnica, professores, alunos, nais. Atualmente, o conhecimento científico só
pessoal de apoio, família). O psicopedagogo tem sentido se for ligado ao social, engajado ao
entra na escola para ver o “todo” da instituição. cotidiano, onde através dele se possa encontrar

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soluções. A reforma educacional brasileira é Quando o psicopedagogo entra numa escola,


extremamente exigente. Os paradigmas dessa muitas coisas têm que ser levadas em conta,
reforma estão centrados na verdade aberta, pois, por trás de uma fachada, pode-se encon-
no conhecimento múltiplo, transdisciplinar. As trar uma escola “desorganizada”. Diretor pouco
mudanças não acontecem na mesma proporção, envolvido com o trabalho, professores pouco
nem na mesma velocidade. A apropriação leva motivados (dão aulas de acordo com o salário
um tempo até ser introspectada, compreendida que recebem). Então, qual a cultura que está
e colocada em prática. As mudanças (a intro- por trás dessa situação? Situações assim, não são
dução no novo) num ambiente escolar têm que fáceis de se perceber, porque não são visíveis.
ser escalonadas e sucessivas, priorizando-se e Ou seja, as bases conceptuais da escola estão
hierarquizando-se as ações. inseridas numa zona de invisibilidade (não está
O velho paradigma de que muitos são explícito). Uma das bases é a “cultura”, que
oriundos apresenta uma escola cartesiana, exprime valores, crenças e ideais de um grupo.
fragmentada, de pensamento dominante, com Isso significa dizer, que as escolas produzem
verdades absolutas (fechadas), reprodução do uma cultura que lhe é própria. A cultura não
conhecimento. O grande problema da escola é é um sistema de ligações, mas uma rede de
que ela dá um conteúdo e exige resposta “úni- movimentos, numa perspectiva interacionista.
ca”. Analogicamente falando, a escola procede Esse seria o primeiro passo a se tomar, ou
da seguinte forma: um grupo de crianças vai seja, buscar a história dessa instituição para pro-
andando pela calçada e, de repente, depara-se curar entender como acontece o seu movimento.
com um cavalete obstruindo a passagem. Daí, O psicopedagogo tem que tomar conhecimento
a escola adianta-se e retira o cavalete do meio do documento que dar o perfil que identifica a
ou manda que todos passem por baixo. Agindo escola – o Projeto Político Pedagógico (PPP), que
assim, não permite que a criança descubra o que é uma obrigação de toda escola. O PPP é quem
fazer para transpor o obstáculo. Ela poderia ter comanda a energia e a vida da escola. Os profes-
a ideia de passar por baixo, escalá-lo, passar do sores, principalmente, têm que conhecê-lo, até
lado, retirá-lo ou outras. No entanto, a escola para saber com o que eles estão compactuando.
impede o aluno de levantar hipóteses, de trans- Realizar o PPP de forma coletiva é trabalho-
gredir. Existem várias formas de se responder a so: ouvir os outros, refletir com os outros. O que
uma questão ou vários caminhos de se chegar a de fato acaba acontecendo em muitas escolas
ela, pois não existem respostas “prontas”. é a direção convocar apenas a equipe técnica
Como declara Barbosa2: para montar o PPP, sem a participação dos pro-
“É tarefa difícil para o professor pro- fessores. Deve-se romper com essa postura do
vocar a inquietação num sistema tradi- trabalho “solitário”. Tem-se que dar espaço para
cional, em que não é permitido ousar, que todos possam discutir, interagir, modificar,
ser artista ou cientista, e sim no qual a construir. Muitas vezes, até o diretor resolve
reprodução, apesar de todos os discur- fazê-lo sozinho ou “copiar” de algum colega.
sos modernos, continua sendo o objetivo Mas, se o PPP identifica a escola, não poderá
principal de nossas escolas”. ser copiado, pois cada escola tem suas caracte-
Hoje, na escola, tem que haver partilha, co- rísticas próprias, até mesmo o meio onde está
operação, questionamento, reflexão, oportuni- inserida – a realidade de cada escola é diferente,
dade do outro se colocar – o processo é coletivo. tem suas peculiaridades.
Para que o psicopedagogo realize um diag- Quando o diretor da escola não sabe montar
nóstico numa instituição escolar, sugere-se que o PPP, poderá contratar um serviço de assesso-
se observem as características organizacionais, ria, para orientá-lo na elaboração, através de
bem como a abordagem da cultura da escola3. dados e informações (filosofia, meio em que

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está inserida, tipo de clientela que atende, na ausência do diretor, não há necessidade de
aspectos pedagógicos) fornecidos de acordo esperar que o mesmo chegue para que se to-
com a realidade da escola. Sua estrutura física: mem certas decisões. Dentro da escola deverá
prédio, dimensão e organização dos espaços, ter uma pessoa que se responsabilize e tome as
recursos materiais; estrutura administrativa: iniciativas inerentes a cada setor.
gestão (direção), equipe técnica, corpo discente O papel dos estabelecimentos de ensino
e docente, pessoal auxiliar, tomadas de deci- como organizações funciona numa tensão di-
sões, participação da comunidade, relação com nâmica (a interrelação não é estática): entre a
as autoridades centrais e locais (Secretarias de produção e a reprodução; entre a liberdade e a
Educação); estrutura social: relação entre alu- responsabilidade.
nos, professores e funcionários, responsabilida- O psicopedagogo vai questionar o que mais
de e participação dos pais, democracia interna, está acontecendo na escola: produção ou re-
cultura organizacional da escola, clima social. produção do conhecimento? Sabe-se que existe
A modernização do sistema educativo passa a reprodução do conhecimento, mas a escola
pela descentralização e por um investimento das tem que garantir um espaço para a produção
escolas como lugar de formação. do mesmo.
Como declara Bassedas4: Qual o espaço de construção, de produção
“A escola, como instituição social, pode que o professor tem na escola? Muitos profes-
ser considerada de forma ampla e, de sores aproveitam para se acomodarem atrás
acordo com a teoria sistêmica, como um do discurso de “não poder fugir do programa”.
sistema aberto que compartilha funções Esse professor não foi estimulado a criar conhe-
e que se inter-relaciona com outros cimento, ou seja, enquanto aluno não teve essa
sistemas que integram todo o contexto matriz. Quem passou por uma escola que deu
social. Entre esses sistemas, o familiar é espaço para a produção do pensamento?
o que adquire o papel mais relevante à Quanto à questão da liberdade em sala de
educação e assim, na atualidade, vemos aula, o professor pode ministrar o conteúdo
a escola e a família em inter-relação da forma que achar conveniente. Só que essa
contínua, mesmo que nem sempre liberdade está atrelada ao sentido de auto-
sejam obtidas atuações adequadas, já nomia, que implica numa responsabilidade.
que, muitas vezes, agem como sistemas Então, o professor tem que usar essa liberdade
contrapostos mais do que como sistemas e autonomia, para poder propiciar muito mais
complementares”. a questão da produção ou criação. O professor
Dentro do sistema escolar existem vários resiste à mudança em sua forma de ministrar
subsistemas que entre si interagem, numa rede aula com medo de não dar certo – essa dúvida o
de movimentos, onde a informação deve circular impede de mudar. Quando o professor perceber
em todas as direções, contemplando o sistema que, além de ensinar, tem que aprender como é
como um todo. que se aprende, sua postura transformar-se-á.
O tipo de escola onde todas as decisões De acordo com Nóvoa3, o olhar centrado nas
têm que passar por uma única pessoa torna o organizações escolares deve contextualizar to-
trabalho amarrado, preso. Tem que haver des- das as instâncias e dimensões presentes no ato
centralização do poder para que o sistema possa educativo. Para haver a compreensão é necessá-
fluir e, para isso, todos os subsistemas têm que rio que haja contextualização. O contexto ajuda
se interagir mutuamente. a entender e a explicar o que está acontecendo.
O poder de decisão tem que estar mais pró- Na perspectiva de Nóvoa3, a capacidade
ximo dos centros de intervenção, responsabili- integradora pode conceder à análise das organi-
zando diretamente os atores educativos. Assim, zações escolares um papel crítico e estimulante,

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evitando uma assimilação tecnocrática ou um Bassedas4 destaca que “é importante assi-


esvaziamento cultural e simbólico. nalar que em todos os sistemas abertos existem
Isso quer dizer que, quanto mais desintegra- sempre tendências contrapostas à estabilidade
dos forem os subsistemas, menos entrosamento e à mudança”.
vai existir neles. Nesse clima de desintegração, Enfatiza, ainda, Bassedas4 que:
vai acontecer esvaziamento cultural e simbó- “Geralmente, os sistemas tentam man-
lico (empobrecimento e perda da capacidade ter um equilíbrio entre as tendências
de simbolizar o conhecimento de outra forma, que produzem uma transformação e
em outras situações), por exemplo, quando o aquelas que tendem à manutenção da
professor fica amarrado ao planejamento, bem estabilidade, com a finalidade de con-
como, quando ocorre uma assimilação exces- seguir uma homeostase, um equilíbrio
sivamente tecnocrática (os diretores têm que que lhe permita “sobreviver”.
tomar decisões autoritárias). O psicopedagogo é chamado justamente
Para fazer um diagnóstico institucional, o para ver o que está acontecendo com aquela
psicopedagogo vai questionar como se realiza escola, porque a rede de movimento não está
a gestão na escola. Se realmente existe demo- funcionando e por essa razão as mudanças não
cracia. Como fluem as relações. São aspectos estão ocorrendo.
que o psicopedagogo terá que observar. E isso Uma das características de um sistema, seja
não é pouca coisa, é muita coisa! ele qual for, é de manter a homeostase, isto é,
A institucionalização dá-se de forma proces- o movimento de equilíbrio. Às vezes, o que é
sual, ou seja, não acontece de uma hora para o equilíbrio? É uma situação de comodidade,
outra. É toda uma história, todo um caminho, parada. E se alguém propõe uma mudança,
que vai obter um resultado bom ou ruim, mais gera o desequilíbrio. Daí se perde esse aparente
ou menos aceitável. É esse processo de insti- equilíbrio, o que manifesta uma inquietação.
tucionalização que vai viabilizar as mudanças Como é esse olhar da mudança na escola?
organizacionais, podendo também ser de ma- Sabe-se que a maioria das escolas não é essa
neira negativa ou positiva. maravilha de rede de movimentos. O desafio do
A cultura é fruto de uma rede de movimen- psicopedagogo é mobilizar para que haja esse
tos, ou seja, daquelas interações entre os subsis- movimento, para que a mudança consiga ocorrer.
temas de um sistema. É esse funcionamento que Na instituição escolar algumas “manifesta-
vai possibilitar o processo de institucionalização. ções” são identificadas e acabam por retratarem
Caso a rede não funcione ou não seja realmente o que se passa no ambiente escolar3. Essas ma-
uma rede (apenas se faz mera aplicações entre nifestações serão melhor explicadas a seguir.
os subsistemas), tornar-se-á truncada, deixando As manifestações verbais e conceptuais
de gerar mudanças substanciais. compreendem os “heróis” (que pode ser bom ou
Não resta dúvidas de que há resistência às ruim) e as “histórias”, ou seja, é a identificação
mudanças, pois é algo que dá trabalho, que “de- de mitos (algo inatingível) e das narrativas, que
sequilibra” e têm algumas que ameaçam mais, marcam a vida da escola.
exigem mais esforço, demandam mais tempo. No diagnóstico, o psicopedagogo terá que
O professor está acostumado com a sua prática indagar que narrativas são essas e como vai
cotidiana engessada, não quer mudar, pois do identificar heróis, mitos e crenças.
jeito que está sempre deu certo, porque mudar O que é o mito? O mito do incompetente
assusta, é trabalhoso (tem que estudar mais, ou do supercompetente. O mito do bicho pa-
buscar coisas para alterar o seu planejamento). pão, que pode ser o bode expiatório da escola.
Então, entra numa identidade que a Psicologia Quando alguém chega para o psicopedagogo
Social chama de “identidade da mesmice”. e diz que quando for falar com o diretor, por

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exemplo, deve ir bem preparado para essa oca- de integração com o meio social. Por exemplo,
sião. Observa-se aí, o mito (diretor) e a narrativa um projeto pedagógico onde os pais e a comuni-
(advertência). Então, são essas narrativas que dade contribuam para ajudar pessoas carentes.
têm que fluir para que o psicopedagogo entre Como afirma Enguita (apud Goméz & Sa-
em contato. Assim, poderá ajudar o grupo a cristan5, 1998:
desconstruir o mito e entrar em contato com “A escola é uma trama de relações
o personagem. Quando se coloca alguém que sociais materiais que organizam a ex-
pertence à relação numa posição de mito, a periência cotidiana e pessoal do aluno/a
atuação inviabiliza-se. com a mesma força ou mais que as re-
As manifestações visuais e simbólicas são os lações de produção podem organizar as
elementos que têm uma forma material passível, do operário na oficina ou as do pequeno
portanto, de serem identificados através de uma produtor no mercado. Por que então
observação ocular. São os murais, os painéis, os continuar olhando o espaço escolar
cartazes feitos pelos alunos. como se nele não houvesse outra coisa
Como a escola lida e dá vazão a essas mani- em que se fixar além das idéias que se
festações visuais? Por meio da semana esportiva transmitem?”
e cultural, das olimpíadas, da semana da leitura, A escola não deixa de ser uma comunidade
do uso do laboratório de ciências e informática, em si mesma, que estabeleceu ao longo de sua
das oficinas. Essas atividades estão na zona da história relações de afeto entre professores e
visibilidade. Então, o que o psicopedagogo vê, alunos, entre seus membros e a família. O ob-
o que isso lhe conta. jetivo em comum que se observa na escola está
As manifestações comportamentais são os voltado para a família, bem como, estabelecer
elementos susceptíveis de influenciar o com- condições favoráveis ao desenvolvimento inte-
portamento dos atores da organização: as ati- gral dos alunos (dos filhos).
vidades normais da escola e o modo como são O psicopedagogo vai fazer uma “leitura”
desempenhadas, bem como, o conjunto de nor- nas entrelinhas, das narrativas, do currículo
mas e regulamentos que as orientam. Incluem- oculto, da dinâmica entre os atores da escola,
se aqui os rituais e cerimônias que fazem parte das possibilidades de mudança, da necessidade
da vida organizacional da instituição. de ajuda, dos trabalhos realizados, das dificul-
São, por exemplo, a realização de acolhidas dades detectadas, dos vínculos estabelecidos,
ou não; o uso de filas ou não; a prática da reza dos comportamentos e atitudes.
ou não. As reuniões são sistemáticas ou esporá- Concorda Bassedas4 que a observação “é
dicas? Os professores queixam-se das reuniões considerada um recurso muito peculiar do diag-
que são demais ou que são de menos? Tudo nóstico psicopedagógico”.
isso são manifestações comportamentais. O Então, no diagnóstico, a observação é um
psicopedagogo vai ponderar essas possibilida- instrumento que o psicopedagogo utiliza-se
des na instituição, ou seja, se deseja fazer essa para atuar na instituição escolar. Porque, na
construção ou se naquele momento a escola escola, o psicopedagogo não vai fazer testes com
externa que não tem condições, procrastinando os alunos, nem com ninguém. Além de conside-
por um momento mais adequado. rar os aspectos de comunicação e interação es-
Os elementos da cultura organizacional têm senciais para o processo de aprendizagem. É por
de ser lidos na sua interioridade, mas também essa razão que a observação é fator primordial.
nas interrelações com a comunidade envolven- Na instituição escolar, observa-se que ora
te. Se a cultura tem um papel de integração, é se é depositante, ora se é depositário. Esse mo-
também um fator de diferenciação externa. Há vimento de depósito começa na família, com o
de se identificar (ou construir) as modalidades projeto inconsciente dos pais, que acabam por

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marcar um lugar para cada um de seus filhos, A atuação psicopedagógica tem como base o
conforme as necessidades que, imaginariamen- pensar, a forma como o aprendente pensa e não
te, o grupo primário (família) pretende preen- propriamente o que aprende. É buscar compre-
cher com aquele que chega6. ender como eles utilizam os elementos do seu
Segundo Pichon-Rivière (apud Grossi & Bor- sistema cognitivo e emocional para aprender.
din6), “a estrutura dos grupos se compõe pela Na escola, a tarefa do psicopedagogo visa
dinâmica dos 3D. O depositado, o depositário fortalecer a identidade da instituição, bem como
e o depositante”. resgatar suas raízes, ao mesmo tempo em que pro-
Em termos diagnósticos na instituição, o cura sintonizá-la com a realidade que está sendo
psicopedagogo deve tentar detectar quais são vivenciada no momento histórico atual, buscando
esses elementos: depositados - expectativas, adequá-la às reais demandas da sociedade.
alegrias, medos, confiança, frustrações, triste- A intervenção psicopedagógica vem, no
zas; depositários - aluno/família, filho/escola curso de sua história, acontecendo na assistên-
(professor), professor (escola)/pais; depositantes cia às pessoas que apresentam dificuldades de
- escola (professor), família, aluno. aprendizagem, por meio do diagnóstico e da
É a partir do diagnóstico realizado que o terapêutica. Frente ao desempenho acadêmico
psicopedagogo poderá propor e executar a sua insatisfatório e com o objetivo de esclarecer a
intervenção. E a meta da intervenção psico- causa das dificuldades, os alunos são encami-
pedagógica é a construção de uma identidade nhados ao psicopedagogo, pelas escolas que
própria da escola. frequentam. Desde o princípio, a questão é cen-
Trabalhar em co-responsabilidade, vislum- trada no aprendente que não aprende. Agora,
brando uma proposta transdisciplinar requer, a atenção do psicopedagogo não está centrada
principalmente, predisposição às trocas e pre- apenas no aprendente, mas no contexto em que
paro para o diálogo. se realiza a aprendizagem.
A psicopedagogia institucional está atenta
INTERVENÇÃO NA ESCOLA: UM OLHAR à compreensão dos mecanismos inconscientes
PSICOPEDAGÓGICO de uma organização, identificando sua rigidez,
O objeto de estudo da Psicopedagogia é bloqueios e possibilidades de aprender7.
sempre o sujeito aprendente e esta aprendi- Ressalta Barbosa2 que “na instituição escolar,
zagem está sempre relacionada com o próprio convive-se com o ensinar e com o aprender de
sujeito, com o sujeito e o objeto, com o sujeito uma forma muito dinâmica, não sendo possível,
e o meio, portanto sistematicamente. Isto quer na prática, haver uma intervenção que recaia
dizer que o psicopedagogo está comprometido somente sobre o aprender”.
com qualquer modalidade de aprendizagem e Barbosa3, ainda, complementa:
de ensino e não só a exercida na escola. “Quando dizemos que a Psicopedago-
Cabe ao psicopedagogo entender como se gia se preocupa com o ser completo,
constitui o sujeito, como este se transforma em que aprende, não podemos esquecer
suas diversas etapas de vida, quais os recursos que faz parte da compleitude deste ser
de conhecimento de que ele dispõe e a forma a capacidade de aprender em intera-
pela qual produz conhecimento e aprende em ção com aquilo ou aquele que ensina;
relação ao grupo e sua reação frente a este. e que a ação de ensinar não é sempre
O impedimento para aprender não está exercida pelo professor, assim como a
atrelado aos fatores orgânicos, mas, também de aprender não é de responsabilidade
ao estado emocional, que determina e permeia somente do aluno”.
todo tipo de relação, sendo esta uma proposta O trabalho do psicopedagogo na escola é de
educacional ou não. prevenção das dificuldades de aprendizagem.

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Ou seja, vai fazer um trabalho institucional: ave- Uma escola rígida aponta e delimita padrões
riguar a formação dos professores; o currículo de comportamento. No entanto, percebe-se que,
que está sendo dado e se está sendo adequado mesmo assim, os alunos rebelam-se. Outra es-
às necessidades dos alunos. E a partir dessas cola que não tem tanta rigidez, pelo contrário, é
necessidades, se o professor está ou não prepa- mais liberal, mais aberta, propõe-se a lidar com
rado para atender ao aluno. O psicopedagogo os questionamentos que os alunos colocam, de
vai intervir na formação do professor, supervisor repente, fraqueja, porque está havendo muita
ou orientador pedagógico. indisciplina, começando-se a perder o controle
Há exemplos em que os professores são mais da situação.
bem preparados que o supervisor. Então como Na realidade, o sintoma está aparecendo
pode o supervisor coordenar um trabalho peda- nas duas instituições, tanto na que assume cla-
gógico junto aos professores, se nem ele sabe ramente uma postura de rigidez, como naquela
(ou tem conhecimento) para mediar essa prática? que se propõe a ser liberal, democrática.
O papel do psicopedagogo na escola é, além Então, é essa a questão que tem que ser ana-
de realizar uma orientação educacional, propor lisada. Ou seja, qual o sentido que está fazendo
a intervenção no currículo, no projeto político para os alunos essas regras tão demarcadas,
pedagógico, na metodologia de ensino do pro- delimitadas, impostas com clareza? Como esses
fessor, nas formas de aprender do professor. alunos estão entrando em contato com isso?
O psicopedagogo poderá contribuir para A escola até que pode ser liberal, democrática,
que haja uma boa comunicação entre escola e desde que as pessoas que assumem a direção
família, favorecendo a um clima de confiança tenham pelo menos o mínimo de controle dos
e estabelecendo um elo construtivo. Pois esse acontecimentos. A ação democrática significa está
dueto nem sempre é harmônico, podendo o sempre dialogando, negociando, senão perde-se
psicopedagogo deparar-se com situações con- a rédea e não se consegue dar conta da situação.
flitantes, tensas e pouco produtivas. Qual o sentido que esses alunos estão atri-
Para auxiliar na aprendizagem do aluno, buindo à concepção de democracia? E para
faz-se necessário que os pais estejam integrados a direção, coordenação, qual o sentido que
à escola, sendo importante que ambos falem a está fazendo esta reação dos alunos que já é
mesma linguagem e trabalhem em conjunto. de insubordinação, de depredação da escola
Barbosa2 afirma que: (quebra, destrói, rabisca)? Então, tem-se que
“A atuação psicopedagógica junto ir buscar, “lá atrás”, essas reservas de sentido.
a um grupo ou instituição, para ser O psicopedagogo pode ajudar os que fazem a
operante, precisa interpretar os papéis escola a tomarem consciência desse acervo,
desempenhados, a forma como foram dessas reservas de sentido.
atribuídos e assumidos, assim como as No trabalho com a escola, após o diagnósti-
expectativas que se encontram latentes co, o psicopedagogo vai realizar a intervenção
neste movimento de atribuir e aceitar apoiando-se na utilização de recursos que
o papel. [...] A tarefa de cada um deve promovam a operatividade dos vários grupos e
estar voltada para o aprender, desde a instâncias da instituição.
direção até a portaria ou o serviço de A intervenção psicopedagógica vai fazer
limpeza”. com que o aprender na escola esteja sempre em
Neste sentido, na instituição escolar, o movimento, sem esquecer de acompanhar o mo-
trabalho do psicopedagogo terá como meta mento histórico e prevenindo a cristalização de
a integração da tarefa objetiva e subjetiva, vínculos, que só dificultam o desenvolvimento.
promovendo uma mediação que possibilite a O caráter preventivo vislumbra o sentido de
realização eficaz da tarefa. reconstruir processos, definir papéis, valoriza

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novos conhecimentos, novas formas de apren- aprendizagem. Porque se o aluno não gosta do
der / ensinar, novas formas de avaliar o conhe- professor, provavelmente, não se apropriará
cimento, bem como, pessoas, papéis, processos, da matéria. No caso de um professor cativante,
produtos, objetivos7. sensível, acolhedor, motivador poderá levá-lo a
Com relação ao trabalho dos psicopedagogos entender a matéria. Mas, se o professor tem uma
na escola, Fernández8 ressalta que: característica antipática ou de indiferença, o aluno
“[...] precisam utilizar os conhecimentos não será motivado de forma alguma, devido a essa
e a atitude clínica para situarem-se em postura inadequada de quem se diz educador.
outro lugar, diferente ao que têm no Uma atividade convencional, tradicional,
consultório. A experiência de consul- quando trabalhada de forma lúdica, torna-se
tório pode servi-lhes muitíssimo para mais digestiva, mais leve.
situarem-se diante de professores, O psicopedagogo tem que se preocupar com
alunos e de si mesmos como alguém o que está sendo depositado e como vai fazer
que propicia espaços de autoria de para “limpar” esses depósitos. Então, simbo-
pensamento. [...] o psicopedagogo é licamente, seria isso que o psicopedagogo vai
alguém que convoca todos a refletirem ajudar a realizar, ou seja, mediar essa limpeza.
sobre sua atividade, a reconhecerem-se Outro cuidado que o psicopedagogo terá que
como autores, a desfrutarem o que têm ter é como vai agir para entender a linha de ra-
para dar. Alguém que ajuda o sujeito a ciocínio do outro. Todo ponto de vista tem uma
descobrir que ele pensa, embora perma- origem, então o psicopedagogo terá que enten-
neça muito sepultado, no fundo de cada der de onde foi retirado e tentar compreender a
aluno e de cada professor. Alguém que partir daí. Com essa postura não dá para taxar
permita ao professor ou à professora de “errado” a linha de raciocínio de alguém.
recordar-se de quando era menino ou Ao invés disso, deve-se sugerir que ele fale e
menina. Alguém que permita a cada comente sobre sua linha de raciocínio, para que
habitante da escola sentir a alegria de se possa entender. Com isso o psicopedagogo
aprender para além das exigências de poderá argumentar que o que ele está falando
currículos e notas”. pertence a uma linha tal de raciocínio e que a
No entanto, o psicopedagogo nunca deve do outro já leva para um caminho diferente. Isso
confundir “intervir” com “interferir”. No in- nada mais é que uma abertura para a conver-
tervir a intenção é de ajudar a pensar para se sação, para a pergunta circular.
alcançar a resposta. Já o interferir está centrado Para Fernández8:
na manipulação da ação do outro. “Nossa escuta não se dirige aos conte-
A escola tem que aprender a trabalhar com údos não-aprendidos, nem aos apren-
as dificuldades, porque senão corre o risco de didos, nem às operações cognitivas
cair no vício da rotulação. Ou seja, o profes- não-logradas ou logradas, nem aos
sor detecta quinze alunos com dificuldade de condicionantes orgânicos, nem aos in-
aprendizagem e já encaminha todos para a clí- conscientes, mas às articulações entre
nica. Claro que não! Tem que primeiro verificar essas diferentes instâncias. [...] Não se
se há outras formas de trabalharem-se os con- situa no aluno, nem no professor, nem
teúdos. O aluno pode não está rendendo bem na sociedade, nem nos meios de co-
nos estudos, até por um problema na dinâmica municação como ensinantes, mas nas
familiar. Então, como a escola amenizaria isso? múltiplas relações entre eles”.
Quando um aluno declara que não gosta de Na realidade, a questão do fracasso escolar ou o
tal professor é uma maneira do psicopedagogo, problema de aprendizagem sempre vão estar pre-
através dessa fala, deflagrar um problema de sentes nas instituições escolares, revelando-se com

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Pontes IAM

baixo ou alto índice, de forma amena ou alarmante, de cursos de formação continuada, vislumbran-
com um discurso camuflado ou tangencial, apon- do uma visão de homem como sujeito pensante
tando “culpados” ou rotulado comportamentos. e desejante.
O psicopedagogo deverá trabalhar todas Não existem fórmulas mágicas, prontas para
as questões que obstaculizam o ensinar e o se vencer as dificuldades de aprendizagem dos
aprender no “entre”, interagindo, vinculando, alunos. Essas dificuldades muitas vezes são
articulando e cuidando. sintomas de que algo não vai bem, podendo
ser identificado e até amenizado pelo educador,
CONCLUSÃO contando com o apoio do psicopedagogo.
Alguns paradigmas existentes na escola Não existe atuação psicopedagógica na esco-
devem ser repensados. A escola deve ter: uma la sem a postura do ouvir, do falar e do propor.
política de igualdade, que garanta oportunida- A intervenção do psicopedagogo tem que está
des; ética da identidade, para afirmar-se na sua regada do seu saber, da sua criatividade, da sua
individualidade e saber respeitar a diversidade perspicácia, para que tenha condições de adap-
do outro; estética da sensibilidade, proporcio- tar o trabalho a que se propõe, de acordo com
nando o interagir. E é nesse contexto que entra as necessidades e possibilidades do contexto
o trabalho do psicopedagogo como articulador educacional em que está atuando.
e promotor de ações que gerem mudanças, O psicopedagogo vai trabalhar de forma
mesmo que de início sejam acanhadas, mas preventiva para que sejam detectadas as dificul-
que, dentre outras, principalmente, minimizem dades de aprendizagem, antes que os processos
os problemas relativos à aprendizagem. se instalem, bem como, na elaboração do diag-
O psicopedagogo tem que se autorizar sair nóstico e trabalho conjunto com a família frente
da acomodação e questionar os anseios e as às ocorrências provenientes das dificuldades no
expectativas em relação à própria formação, ao processo do aprender. No entanto, não se pode
seu trabalho, a sua vida. falar em aprendizagem desconsiderando-se os
O olhar psicopedagógico tem que está diri- aspectos relevantes na vida desse aluno que se
gido à individualidade do aluno, bem como sua relaciona e troca, a partir do estabelecimento
atuação em grupo. Há a necessidade de tirar de vínculos.
o professor de um lugar que o considera sim- A prática psicopedagógica que respeita a
plesmente como um transmissor de informação, individualidade do sujeito na rotina escolar é
fato este que é abraçado por vários docentes. fundamental. A tentativa de sanar o sintoma
Precisa-se preencher as lacunas da formação do sem compreender suas causas não surte o efeito
professor, não por meio de receitas prontas, mas desejado.

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Atuação psicopedagógica no contexto escolar: manipulação, não; contribuição, sim

SUMMARY
Educational psychology practice in the school framework: not to mani-
pulation, yes to contribution

The educational psychologist has a significant, preventive role in the


complex learning process within the school framework, in which much
information and many aspects must be taken into account and analyzed.
Knowing how the student builds his/her knowledge, understand the
dimensions of the relationships with the school, the teachers and the taught
contents and linking them to the affective and cognitive aspects enable
the educational psychologist to perform a more accurate work. It must be
considered that the student’s development happens in a harmonious and
balanced fashion in the different organic, emotional, cognitive and social
fields.

KEY WORDS: Schools. Psychoeducation. Family.

5. Goméz AI, Sacristan JG. Compreender e


REFERÊNCIAS transformar o conhecimento e a experi-
1. Bossa NA. A Psicopedagogia no Brasil: con- ência. 4ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas;
tribuições a partir da prática. Porto Alegre: 1998.
Artes Médicas; 1994. 6. Grossi EP, Bordin J. Paixão de aprender. Pe-
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2001. vos paradigmas da pós-modernidade. 2ª ed.
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4. Bassedas E et al. Intervenção educativa e diag- análise das modalidades ensinantes com
nóstico psicopedagógico. Tradução: Neves BA. famílias, escolas e meios de comunicação.
3ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1996. Tradução Hickel NK. Porto Alegre: Artes
Médicas; 2001.

Trabalho realizado em Fortaleza, CE, Brasil. Artigo recebido: 9/9/2010


Aprovado: 23/11/2010

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