Você está na página 1de 53

ACTIO PUNIENDI

Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

IN MOMENTUM
BREVIS
ACCIPITUR

大象
1
Página

大象城堡
城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Guia de
Acompanhamento
do Manual ou
Sebenta 1

1
Esta, disponível nos locais habituais. Agradecendo a base que utilizamos da Zu (agraciem-na com a bem-aventurança do
vosso bem querer porque se não fosse ela não teria eu tudo isto, se calhar até o curso): no sentir da injustiça da barbárie
egoísta, ignóbil, concorrência (pior: vivem, parece, olvindando que também os antípodas da solidariedade entendiam que
“o trabalho liberta”, também empecilhando, guardando, rancorosamente pisando no outro (primus inter paribus não é quem se
ergue no sufocar, vergando, dos pares mas o que se ergue na sua comunidade de crescimento simbiótico – até lá, que vivam,
2

à vontade, no vosso reino de aparências e sorrisos lamacentos). From dusto to dust – cuidado, não vá a expressão ser,
Página

verdadeiramente, da merda à merda, na constante necessidade de tudo retratar a verdade material, in casu, fétida da vossa
estúpida e interesseira camaradagem. OBRIGADO ZU PORQUE ISTO NUNCA FOSTE!

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Tramitação do processo

CRIME

Aquisição da notícia Detenção em


de crime pelo flagrante delito
Ministério Público (artigos 255.º e 256.º
(artigo 241.º CPP) CPP)

Por Crime particular


conhecimento
próprio
Não há lugar a
Através de detenção em
Órgão de flagrante delito (artigo
Polícia Criminal 255.º, n.º4 CPP)

 Deve Crime público


comunicar o
crime dentro
Crime
de 10 dias
semipúblico
(artigo 248.º,
n.º1 CPP)  Imediata constituição de arguido
 Deve lavrar (artigos 58.º, n.º1, alínea c) e 61.º
auto de notícia CPP);
(artigo 243.º  Revista do suspeito arguido (artigos
CPP) 251.º, n.º1, alínea a) e 174.º, n.º1,
alínea c) CPP);
Obrigatória (artigo 242.º CPP)  Comunicação ao Ministério Público
(artigo 259.º, n.º1, alínea b) CPP);
Denúncia  Busca domiciliária (caso haja perigo
de vida que deva ser afastado
(artigos 251.º, n.º1, alínea a), 174.º,
Facultativa (artigo 244.º CPP) n.º5, alínea a) e 177.º, n.º3 CPP);
 Apreensões (artigo 249.º, n.º2,
alínea c) e 178.º, n.º1 e 2 CPP);
 Identificação do suspeito (artigo
3

250.º, n.º8 CPP);


Página

 Delimitação da área e preservação


dos vestígios do crime (artigo 249.º,
n.2º, alínea a) CPP)
大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Ministério Público adquiriu


a notícia de crime

Qual a natureza do crime?


Público Semipúblico Particular
Não depende de nada Exige queixa Depende de:
senão do cumprimento do  Queixa;
princípio por parte do Declaração de  Declaração dos
Ministério Público vontade do titular do ofendidos que
direito de queixa de pretendem
que pretende a ação constituir-se
penal assistentes (artigo
246.º, n.º4 CPP);
 Constituírem-se
assistentes (artigo
68.º, n.º2 CPP);
 Dedução de
acusação particular
(artigo 285.º, n.º1
CPP)
Mas só depois do
inquérito
Artigo 48.º CPP Artigos 48.º e 49.º CPP Artigos 48.º e 50.º CPP

O Ministério Público recebe a


notícia de crime e pode promover o
processo penal

Dando início ao

Caso contrário, o
Inquérito processo é nulo
(artigo 262.º, n.º2 CPP) (artigo 119.º, alínea b) CPP)
4 Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

O Ministério Público é o dominus do


Inquérito (artigo 263.º, n.º1 CPP)
A sua insuficiência praticando atos dos artigos 268.º e
gera nulidade (artigo Inquérito 267.º CPP, podendo colaborar com
120.º, n.º2, alínea d) (artigo 262.º, n.º2 CPP) os Órgãos de Polícia Criminal
CPP) (artigo 263.º, n.º2 CPP) delegando os
artigos do artigo 270.º, n.º1 e 3 CPP)

Conclusão do inquérito

Suspensão
Existem indícios suficientes? provisória do
processo (artigo
Não
281.º CPP)

Envio para
Arquivamento do inquérito
forma
(artigo 277.º CPP)
sumaríssima
(artigo 392.º
CPP)
Pode existir (artigo 278.º Envio para
CPP): processo de
 Intervenção hierárquica; mediação (Lei
 Requerimento para Ultrapassado o n.º21/2007, 12
Abertura da Instrução prazo para junho)
intervenção
hierárquica, só
pode haver
abertura do
inquérito perante
elementos novos
(artigo 279.º CPP)
5 Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Arquivamento por dispensa de pena


Sim (artigo 280.º CP)

Despacho de acusação
Crime público e semipúblico

Acusação do Ministério
Público (artigo 283.º CPP)

Crime particular

Acusação particular em 10
dias (artigo 285.º, n.º1 CPP)

O Ministério Público
pode, mas não está
obrigado a deduzir
acusação pelos novos factos
(artigo 285.º, n.º4 CPP)
6 Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Ou seja
Inquérito
Crime Público Crime semipúblico
Denúncia Queixa
Acusação (artigo 283.º CPP) Requerimento para Abertura de Instrução por Alteração
Substancial de Factos (artigo 287.º, n.º1, alínea b) CPP)
Assistente
Acusação igual à do Ministério
Artigo 284.º CPP Público
Arguido
Alteração Não Substancial de
Factos
Alteração da Qualificação
Jurídica

Requerimento para Abertura


da Instrução (artigo 287.º,
n.º1, alínea a) CPP)

Requerimento para Abertura de Instrução por


Arquivamento (artigo 277.º CPP) Alteração Substancial de Factos (artigo 287.º,
n.º3 CPP)
Assistente
Intervenção Hierárquica (artigo 278.º CPP)*

Arguido

Paulo Sousa Mendes: Requerimento para Abertura da Instrução (artigo


287.º CPP)
 Para produzir uma decisão de mérito de não pronúncia que possa
fazer caso julgado que dê segurança à situação jurídica do arguido
face a posteriores acusações pelos mesmos factos

Doutrina maioritária: nada pode fazer


7
Página

*exclui a possibilidade de RAI

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Crime particular
 Queixa;
 Declaração dos ofendidos que pretendem constituir-se assistentes (artigo 246.º,
n.º4 CPP);
 Constituírem-se assistentes (artigo 68.º, n.º2 CPP);
 Dedução de acusação particular (artigo 285.º, n.º1 CPP)
Mas só depois do inquérito
Ministério Público

Notifica o assistente

E este ou:
Deduz acusação Não deduz
(artigo 285.º, n.º1 acusação
CPP) (artigo 285.º, n.º1
X CPP)

Sendo crime particular não pode o


Ministério Público fazer-se valer
do n.º4 do mesmo artigo para Pode o arguido deduzir
deduzir de acusação. Requerimento para
Abertura de Instrução
(artigo 287.º, n.º1, in
fine CPP)
Deduzida acusação:
Julgamento
 Saneamento (artigo 311.º, n.º1 CPP);
 Rejeição judicial da acusação (artigo
Atos preparatórios 311.º, n.º2 CPP);
 Marcação da audiência (artigo 312.º
CPP)
 Princípio do contraditório (artigos 327.º,
n.º1 e 32.º, n.º5 CPP);
 Princípio da concentração (artigo 312.º,
Audiência de julgamento 265.º, 373.º, 328.º CPP);
(artigos 321.º e seguintes CPP)  Princípio da imediação (artigo 355.º
CPP);
 Princípio da oralidade;
8

 Princípio da identidade do juiz.


Página

A sentença (artigos 365.º e seguintes CPP)

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Aplicação das leis processuais penais no tempo:


 Normas de conteúdo material: condicionam a responsabilização penal do arguido
em sentido amplo ou contendem com os direitos fundamentais do arguido e do
recluso;
 Normas de conteúdo formal: estabelecem as formalidades do procedimento
criminal.

Está em crescimento uma corrente que acolhe uma criteriosa perspetiva material:
1. Distingue leis processuais penais de conteúdo material das leis processuais penais
de conteúdo formal.
a. Às primeiras são aplicados o princípio da retroatividade da lei mais favorável
e o da irretroatividade da lei desfavorável.
i. Ratio: a proibição da retroatividade da lei penal desfavorável serve
como garantia política contra a arbitrariedade legislativa, judicial ou
penitenciária, tutelando assim os direitos fundamentais do cidadão.

Falamos da retroatividade da lei PENAL e


não Processual Penal.

Mas não há problema, porque o


Processo Penal pressupõe o Direito
Penal e o Direito Penal só se
concretiza através do Processo Penal.

b. Ou seja:
i. Lei Nova (desfavorável): proíbe-se a retroatividade e aplica-se a lei
antiga.
ii. Lei Nova (favorável): impõe-se a retroatividade da lei nova (é esta a
9
Página

aplicável)

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Artigo Conteúdo
Imposição da aplicação retroativa das
29.º, n.º4, 2.ª parte CRP
leis penais mais favoráveis
Proibição da retroatividade das leis
18.º, n.º3, 2.ª parte CRP restritivas dos direitos, liberdades e
garantias
Aplicação imediata das leis processuais
formais, exceto os casos dos n.º2 a 5

Mas, Vital Moreira e Gomes


Canotilho (anotação ao artigo
282.º, n.º3, 2.ª parte CRP):
5.º CPP O enunciado linguístico deve
abranger não só as normas de
Direito material sancionatório
(Direito Penal) mas, também, as
normas processuais de natureza
substantiva.

Aplicação do regime mais favorável

Apesar de se tratar de um artigo do


Código Penal, ele não se reporta
somente às normas penais:
2.º, n.º4 CP «O n.º4 do artigo 2.º CP consagra um
princípio geral que abrange todo o caminho da
responsabilização penal, sendo ilegítima e
desrespeitadora da Constituição toda a
interpretação que dele pretenda excluir as
10

normas processuais penais materiais».


Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Tempus delicti (artigo 3.º CP): o momento da aplicação das normas em causa é o momento
em que estas se realizam, quer dizer, o momento em que elas produzem e esgotam os
seus efeitos jurídicos.
 Os efeitos da prescrição do procedimento criminal são a extinção do procedimento
e a extinção da (eventual) responsabilidade penal:
o Os efeitos produzem-se no dia em que se consumou, se esgotou o respetivo
prazo.
o No caso da liberdade condicional, é o momento em que o condenado
cumpriu integralmente a pena: assim, até este momento, é possível que uma
alteração legislativa produza efeitos.
 Atenção: uma eventual declaração de inconstitucionalidade da norma processual
penal material já aplicada pode produzir efeitos, desde que estes sejam favoráveis,
nos termos do artigo 282.º, n.º3, 2.ª parte CRP.

Sucessão de leis sobre prescrição:


A comete o crime x
 Entre o momento da conduta e do resultado passam 6 meses;
 No momento da conduta: Lei y – prazo de prescrição: 6 meses;
 Depois da prática da conduta, mas antes da ocorrência do resultado, entra em
vigor a lei z: prescrição entre 6 e 10 anos.
Tempus delicti Resultado da conduta

Lei y Lei z
(6 meses) (6-10 anos)

1. Resolução: A Lei Nova (lei z) é mais desfavorável, logo, temos de aplicar a Lei Antiga
(lei y).
 No caso de causas de interrupção ou de suspensão da prescrição, o regime aplicável é constituído
pela mistura das normas mais favoráveis.
11
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Lei penal favorável quanto à sucessão de leis sobre queixa e acusação particular: a queixa
e a acusação particular condicionam a responsabilidade penal, pelo que são condições
positivas (pressupostos processuais de conteúdo material) do procedimento criminal.

Ac. STJ 24/10/1996:


«As normas processuais penais (…) condicionam a responsabilidade penal (…) pelo que,
nessa medida, estão sujeitas aos princípios constitucionais de imposição de lei material
intertemporal mais favorável…».

1. Passagem de crime público a semipúblico (ou particular):


a. Queixa e acusação particular: contém duas vertentes:
i. Artigos 49.º a 52.º CPP: exclusivamente processual - formal
ii. Artigos 117 e 118.º CP: normais processuais materiais
b. Nunca a Lei Nova desfavorável pode ser aplicada retroativamente.
c. Lei favorável ao infrator/arguido é aplicável retroativamente.

Se, quando entra em vigor, numa lei que converte um crime público em semipúblico (ou particular),
ainda não se iniciou o procedimento criminal, o início deste passa a ficar dependente da apresentação
da queixa;
Mas, quando entra em vigor a referida lei, o procedimento criminal já foi iniciado, não é necessária
queixa (pois o processo já está em andamento).
Mas, ainda assim, pode o defendido extinguir o processo, desistindo do prosseguimento da ação
penal.

2. Termo a quo da contagem do prazo:


o Na hipótese de a Lei Nova converter o crime público em semipúblico, no
caso de o titular do direito já conhecer o facto e os seus autores, o prazo
contar-se-á a partir do momento em que entrou em vigor a Lei Nova;
o Na hipótese de a Lei Nova encurtar o prazo, a solução será:
12
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

 Aplicar-se-á a Lei Nova se o tempo que ainda falta decorrer para


preencher o prazo da Lei Antiga for superior ao prazo da Lei Nova;
caso contrário, continuará a aplicar-se a Lei Antiga.
o Atenção: a oposição à desistência da queixa (artigo 116.º, n.º2 CPP) constitui
um impedimento à extinção da eventual responsabilização penal, extinção
que ocorreria por força da desistência;
 Logo, deve ser sempre considerada como lei penal mais favorável
aquela que exclui o direito de oposição à desistência.

§ 大象城堡
13
Página
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Sujeitos:
1. Ministério Público: é o órgão do Estado ao qual compete representar este e
defender os interesses que a lei determinar, participar na execução da política
criminal (definida pelos órgãos de soberania), exercer a ação penal e defender a
legalidade democrática (artigo 219.º CRP e Estatuto do Ministério Público –
Decreto-Lei n.º60/98, 27 agosto) sendo que no Código a ação penal como seu
exercício fundamental encontra-se no artigo 48.º CPP.
a. Características:
i. Enquanto órgão do Estado é um órgão judicial: pois colabora com
o tribunal na administração da justiça;
ii. Constitui uma magistratura autónoma (artigos 219.º, n.º2 CRP e
2.º, n.º2 CPP):
1. Autonomia funcional: isto está de acordo com a estrutura
acusatória onde a atividade jurisdicional é promovida por
entidades diversa do tribunal que julga:
a. Critério de legalidade;
b. Critério de estrita objetividade.
2. Autonomia orgânica: a Procuradoria Geral da República tem
competência exclusiva para nomeação, colocação,
transferência e desenvolvimento da carreira dos representantes
do Ministério Público (artigo 219.º, n.º5 CRP).
iii. Integrado por magistrados responsáveis mas que são subordinados
hierarquicamente (artigo 219.º, n.º4 CRP): os magistrados têm o
dever de recusar ordens ilegais, podendo fazê-lo, mas só com base na
objeção de consciência.
14
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

1. O poder de hierarquia resume-se à possibilidade de o superior


hierárquico avocar o processo e distribui-lo a um magistrado
subordinado (artigo 79.º EMP);
2. Mas, as diretivas do Procurador Geral da República não dão
margem a recusa. Este tem a bomba atómica: pode escolher um
magistrado para dirigir um processo concreto.
b. Assim:
i. O Ministério Público é somente parte acusatória no processo. É parte
no sentido formal, enquanto titular do direito processual de ação, mas
não é parte em sentido material, enquanto titular de um interesse
jurídico próprio (é uma parte imparcial);
ii. As suas atribuições no processo são enunciadas genérica mas não
taxativamente no artigo 53.º, n.º2 CPP;
iii. A legitimidade do Ministério Público na promoção da ação penal
depende da natureza dos crimes:
Nota: 1. Crimes públicos: o Ministério Público exerce a ação penal com
No concurso de crimes total autonomia (artigo 48.º CPP);
públicos ou semipúblicos ou
particulares, aplica-se o artigo
2. Crimes semipúblicos: a promoção do procedimento criminal
52.º CPP; pelo Ministério Público depende de queixa ou participação do
Nos crimes cometidos por
titulares de certos cargos ofendido (artigo 49.º, n.º1 CPP);
políticos, há restrições ao
exercício de ação penal 3. Crimes particulares: a promoção do procedimento criminal
(artigos 130.º e 157.º CRP).
pelo Ministério Público depende (artigo 50.º, n.º1 CPP):
a. Queixa ou participação do ofendido;
b. Constituição de assistente;
c. Dedução de acusação particular por este.
15
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

iv. O Ministério Público é sujeito a impedimentos e suspeições,


aplicando-se os artigos 39.º e seguintes CPP com as necessárias
adaptações (artigo 54.º, n.º1 CPP)

As constantes dos n.º2 e 3 do artigo 54.º CPP;


Supostamente, os artigos 39.º, n.º1, alínea c) e 40.º CPP são exclusivamente
aplicáveis aos juízes.

c. Relação do Ministério Público com os Órgãos de Polícia Criminal: aos Órgãos de


Polícia Criminal cabe-lhes coadjuvar o Ministério Público (artigos 1.º, n.º1,
alínea c) 55.º, n.º1 e 9.º, n.º2 CPP), fazendo-o sob direção da autoridade
judiciária e na sua dependência funcional (artigos 56.º, e 264.º, n.º2 CPP).

A ajuda deve ser realizada nos termos Não há uma subordinação hierárquica
indicados por esta autoridade, pois os entre Órgãos de Polícia Criminal e
atos praticados são primariamente da autoridade judiciária, exceto no exercício
competência desta. da concreta função processual em que o
Órgão de Polícia Criminal coadjuva a
autoridade judiciária.

O Ministério Público orienta a investigação mas não a pode realizar materialmente pois a
experiência e o saber científico pertencem aos Órgãos de Polícia Criminal

d. Os órgãos de Polícia Criminal não podem abrir inquérito (pois é da


competência do Ministério Público) e também não podem realizar
inquéritos policiais preliminares que envolvam realização de diligências de
investigação. Mas o Ministério Público pode delegar determinados atos para
serem realizados pelos Órgãos de Polícia Criminal (artigo 270.º CPC). Estes,
16
Página

têm, porém, competência própria para medidas cautelares e de polícia (artigo

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

248.º e seguintes CPC) que têm depois de ser validados pela autoridade
judiciária.
e. O que deve um Órgão de Polícia Criminal fazer ao deter uma pessoa?
i. Imediata constituição como arguido e dizer a este os seus direitos
(artigo 58.º, n.º1, alínea c) CPP): não é necessário dizer todos mas,
apenas, o direito ao silêncio e à constituição de advogado (artigo 61.º
CPP);
ii. Revista do suspeito arguido (artigos 298.º, n.º1, alínea a) e 174.º, n.º1,
alínea c) CPP);
iii. Comunicação imediata da detenção ao Ministério Público (artigo
259.º, n.º1, alínea b) CPP);
iv. Busca domiciliária (caso haja um perigo de vida que deva ser afastado
– artigos 251.º, n.º1, alínea a), 174.º, n.º5, alínea c) e 177.º, n.º3 CPP);
v. Apreensões (artigos 249.º, n.º2, alínea c) e 178.º, n.º1 e 2 CPP);
vi. Identificação do suspeito (artigo 250.º CPP);
vii. Colheita de informações (artigo 250.º, n.º8 CPP);
viii. Delimitação da área e preservação dos vestígios do crime (artigo 249.º,
n.º2, alínea a) CPP).
2. Tribunal:
a. Competência: a jurisdição penal está exclusivamente atribuída aos tribunais
judiciais ou comuns (artigo 211.º CRP) excetuando a competência do
Tribunal Constitucional para fiscalização da Constitucionalidade (artigos
221.º a 224.º CRP).
b. Princípios:
i. Independência judicial: o Tribunal só está submetido à lei, a qual os
juízes devem aplicar dentro dos limites da própria consciência (artigos
17
Página

203.º CRP e 4.º e 2.º LOSJ). Esta independência é garantida através

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

da independência pessoal e objetiva do próprio juiz, pois este nunca


está sujeito a supervisão administrativa (artigo 216.º, n.º4 CRP). Os
magistrados são indestituíveis e inamovíveis contra a sua vontade
(artigo 216.º, n.º2 CRP).
ii. Juiz natural ou legal: nenhuma causa pode ser subtraída ao Tribunal
cuja competência esteja fixada em lei anterior, de modo a evitar a
designação arbitrária ou política de um tribunal ou juiz (artigo 32.º,
n.º9 CRP): concretizado pelo tribunal competente para o julgamento.
c. A competência é:
i. Funcional: determina o tribunal competente em função da fase
processual em que o processo se encontra:
1. Inquérito e instrução: serão competentes os tribunais judiciais de
1.ª instância, salvo se for competente o Supremo Tribunal de
Justiça ou o Tribunal da Relação (a contrario: artigos 11.º e 12.º
CPP e 80.º LOSJ); quanto ao inquérito: atos do catálogo dos
artigos 268.º e 269.º CPP.
a. Particularidades:
i. O Tribunal Central de Instrução Criminal é competente
para os atos de inquérito dos artigos 268.º e 269.º CPP
e para a fase de instrução em função dos critérios previstos
no artigo 120.º LOSJ;
ii. Quando a acusação não contenda nenhum crime de
catálogo, o Tribunal Central de Instrução Criminal não
mantém a competência (Ac. TC n.º41/2006, 1 março e
Ac. STJ nº.2/2017, 16 março retificado pela Declaração
de Retificação n.º8/2017).
18
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

2. Julgamento: são competentes os tribunais de primeira instância


(judiciais), salvo se não for competente o Supremo Tribunal de
Justiça ou Tribunal da Relação;
3. Recursos: são competentes o Supremo Tribunal de Justiça
(artigos 11.º, n.º3, alínea b) e 11.º, n.º4, alínea b) CPP) e o
Tribunal da Relação.
4. Execução de penas: é competente o tribunal de execução de penas
(artigo 18.º CPP).
ii. Os tribunais (judiciais) de primeira instância funcionam, consoante os
casos, como:
1. Tribunal singular (artigos 16.º CPP e 132.º LOSJ);
2. Tribunal coletivo (artigos 14.º CPP e 133.º a 135.º LOSJ);
3. Tribunal de Júri (artigos 13.º CPP e 136.º e 137.º LOSJ).
iii. Material: delimita a jurisdição penal dos diversos tribunais em razão
da natureza dos processos, qualidade de certos agentes, certas
matérias específicas, tipos de crimes e respetivas penas:
1. Critério quantitativo: atente à gravidade das penas:
Anos de prisão

0 Tribunal singular 5 Tribunal coletivo 8 Tribunal de júri 25

a. Artigo 13.º, n.º2 CPP: o tribunal de júri é competente


para o julgamento de crimes cuja pena máxima aplicável
for superior a 8 anos;
b. Artigo 14.º, n.º2, alínea b) CPP: o tribunal coletivo é
competente para o julgamento dos crimes cuja pena
19
Página

máxima aplicável for superior a 5 anos;

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

c. Artigo 16.º, n.º2, alínea b) CPP: o tribunal singular é


competente para o julgamento de crimes cuja pena
máxima aplicável for igual ou inferior a 5 anos.
2. Critérios qualitativos: atende à espécie do crime ou à natureza de
algum dos seus elementos:
a. Tribunal de júri (artigo 13.º, n.º1 CPP):
i. Crimes contra a integridade pessoal e identidade cultural;
ii. Crimes contra a segurança do Estado;
iii. Crimes previstos na Lei n.º31/2004: violações do
Direito Internacional Humanitário

O Tribunal intervém na dependência de requerimento do Ministério


Público, do assistente ou do arguido. Está vedada/excluído de julgar
os crimes de terrorismo e de criminalidade altamente organizada
para o tribunal e os jurados não estarem sujeitos a uma eventual
pressão (artigos 207.º, n.º1 CRP, 137.º LOSJ e Lei n.º52/2003, 22
agosto)

b. Tribunal coletivo (artigo 14.º, n.º1 e 2, alínea a) CPP):


i. Crimes contra a identidade cultural e integridade
pessoal;
ii. Crimes contra a segurança do Estado;
iii. Crimes previstos na Lei n.º31/2004 (artigo 14.º,
n.º1 CPP);
iv. Crimes previstos no artigo 14.º, n.º2, alínea a)
CPP:
1. Crimes dolosos quando for elemento do
tipo morte de uma pessoa;
20
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

2. Crimes agravados pelo resultado quando


for elemento do tipo a morte de uma
pessoa;
3. Homicídios, incluindo privilegiados
(artigos 131.º e seguintes CP) e tentativa,
porque é sempre dolosa;
4. Incitamento ou ajuda ao suicídio (artigo
139.º CP): porque analogicamente não se
pode deixar de estender na medida em que
é difícil estabelecer a fronteira entre a
autoria mediata do homicídio e a ajuda ao
suicídio e apenas comprovável mediante
prova em julgamento.
5. Crimes agravados pelo suicídio da vítima
(artigo 177.º, n.º4 CP);
6. Crimes de participação em rixa (artigo
151.º CP) quando do mesmo resulte a
morte de uma pessoa;
7. O crime de aborto (artigo 140.º, n.º2 e 3
CP) não cabe na competência do tribunal
coletivo porque pessoa não abrange a vida
intrauterina e questões ético-jurídicas não
são critério de competência (logo, é
competente o x)
c. Tribunal singular (artigo 16.º, n.º2, alínea a) CPP):
i. Crimes contra a autoridade pública
21
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

d. Mas, atente-se, o artigo 16.º CPP contém dois critérios


de atribuição de competência:
1. Residual: será competente o tribunal
singular em tudo aquilo que não for
competência atribuída aos outros tribunais;
2. Especial: nos casos do artigo 14.º, n.º2,
alínea b) CPP, o Ministério Público pode
requerer para que o Tribunal competente
seja o singular visto que, feito um juízo
objetivo de prognose, não será aplicada,
no caso concreto, pena superior a 5 anos
de prisão.
a. Se a pena for superior a 5 anos de prisão
e o Ministério Público submeter o processo
ao Tribunal Singular, estará a violar o
princípio da legalidade das penas.
iv. Territorial: delimitação da competência de cada tribunal da mesma
espécie com base na sua localização geográfica.
1. Ratio: obter-se proximidade do tribunal em relação à prova.
v. Regras especiais: artigos 20.º a 23.º CPP (prevalecem sobre as gerais);
vi. Regra geral: artigo 19.º CPP (supletiva), tem uma lógica subsidiária:
n.º 4 > n.º3 > n.º2 > n.º1 (área de consunção).
d. Competência por conexão: desvio às regras normais de competência em razão
da organização de um único processo para a pluralidade de crimes ou de
apensação de vários processos que hão de ser apreciados e decididos
conjuntamente. Esta conexão pode ser:
22
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

i. Subjetiva: crimes perpetrados pelo mesmo agente (artigos 24.º, n.º1,


alíneas a) e b) e 25.º CPP);
ii. Objetiva: vários agentes participam no mesmo crime e vários crimes
tinham entre si uma especial ligação (artigo 24.º, n.º1, alínea c), d) e e)
CPP).
e. Tem vantagens inequívocas de economia processual, celeridade, garantias
de defesa (o arguido terá vantagem na pena única), previne-se a contradição
de julgados e a preservação da prova.
i. Requisitos:
1. Pluralidade de processos (real ou hipotética);
2. Pluralidade de tribunais competentes;
3. Situação típica de conexão (artigo 24.º, n.º1 e 25.º CPP);
4. Tramitação concomitante (artigo 24.º, n.º2 CPP);
a. E, nesta, inexistência de limites (artigo 26.º CPP).
ii. Delimitação da competência por conexão:
1. Artigo 27.º CPP: é competente o tribunal da hierarquia
superior ou espécie mais elevada:
a. Tribunal coletivo e de júri: são mais elevados do que o
tribunal singular;
b. Tribunal coletivo e de júri estão no mesmo patamar
entre si mas é competente o tribunal de júri por força
do artigo 30.º, n.º2 CPP.
2. Artigo 28.º CPP: se as regras do artigo 27.º CPP não forem
suficientes para determinar o tribunal competente, aplicam-se
as regras territoriais do artigo 28.º CPP:
a. Visão derrogativa: o artigo 27.º CPP funciona como
23
Página

regra geral de resolução de conflitos, escolhendo um

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

dos tribunais potencialmente competentes (quer


material, quer territorialmente);
b. Visão do critério autónomo de competência: o artigo
27.º CPP apenas afere a competência material e o artigo
28.º CPP afere a competência territorial (João Caires).
iii. O artigo 25.º CPP implica concurso de crimes. O Código possui uma
lacuna pois nada diz sobre a competência do tribunal para proferir
uma só sentença que abranja todos os crimes. Preenchemos esta
lacuna com os artigos 77.º e 78.º CP (sobre pena única em razão de
concurso de crimes).
iv. Declaração de incompetência: a incompetência por violação das regras de
competência pode ser:
1. Material: (artigo 32.º, n.º1 CPP) pode ser arguida até ao trânsito
em julgado:
a. Nulidade sanável dos atos (artigos 119.º, alínea c) e 122.º,
n.º4 CPP) que, se deduzida, o processo é remetido para
o tribunal competente, anulando os atos que nãos e
teriam praticado se fosse esse o tribunal competente
desde o início (artigo 33.º, n.º1 CPP);
2. Territorial: (artigo 32.º, n.º2 CPP) pode ser deduzida até ao
início do debate instrutório (artigo 32.º, n.º2, alínea a) CPP) ou
até ao início da audiência de julgamento (artigo 32.º, n.º2, alínea
b) CPP).
a. Se deduzido dentro do prazo: artigos 119.º, alínea c),
122.º, n.º1 e 32.º, n.º1 CPP;
b. Se deduzido fora do prazo: a incompetência fica sanada.
24
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

3. O arguido e o defensor:
Arguido ≠ Suspeito ≠ Lesado
Pessoa contra quem corre o Aquele relativamente ao Aquele que sofre dano com
processo como eventual qual há indícios de que o crime
responsável pelo crime cometeu ou participou ou
se prepara para cometer ou
participar num crime
Não é sujeito processual
São sujeitos processuais
Mas o suspeito também
tem garantias:
 Não pode ser
obrigado a fornecer
provas;
 Não pode ser
obrigado a prestar
declarações
autoincriminatórias.
a. Constituição como arguido: é necessária a capacidade jurídica passiva:
i. Pessoas físicas maiores de 16 anos (artigo 19.º CP);
ii. Pessoas jurídicas pelos crimes pelos quais possam responder (artigo
11.º CP);
iii. Possuir personalidade judiciária (artigo 11.º CPC).
b. O arguido assume esta qualidade com a acusação ou requerimento para
abertura da instrução (RAI) – artigo 57.º, n.º1 CPP.
25

i. Ele tem de ser comunicado da sua qualidade como arguido por


Página

escrito e oralmente (artigo 58.º, n.º2 CPP)

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

1. Se tal não ocorrer, todas as declarações por si prestadas não


podem ser utilizadas como prova (artigo 58.º, n.º5 CPP).
ii. Há, ainda, constituição obrigatória de arguido, antes da acusação ou
do requerimento para abertura da instrução, nos casos dos artigos
58.º, n.1º, alíneas a), b), c) e d) e 59.º, n.º1 e 2 CPP.
iii. Se a constituição de arguido for feita pelo Órgão de Polícia Criminal,
então, tem de ser comunicada ao Ministério Público no prazo de 10
dias para este validar a constituição (artigo 58.º, n.º3 CPP);
1. A não validação não prejudica as provas anteriormente obtidas
(artigo 58.º, n.º6 CPC).
iv. A falta de constituição de arguido é uma mera irregularidade (artigo
118.º, n.º2 CPP) que pode ser reparada a todo o tempo (artigo 123.º,
n.º2 CPP).
1. Nunca é tarde demais para constituir-se um suspeito como arguido.
O arguido
Direitos Deveres
Artigo 61.º, n.º1 CPP Artigo 61.º, n.º3 CPP
v. Presunção de inocência do arguido: artigos 32.º, n.º2 CRP, 6.º CEDH
e 14.º PIDCP.
c. O defensor: sujeito processual através do qual pode, e em alguns casos deve,
ser exercida a função defensiva do arguido.
i. Este arguido pode constituir mais do que um defensor, mas só contará aquele que
foi indicado em primeiro lugar (artigo 63.º, n.º2 CPP).
26
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

A defesa
Formal versus Material
A cargo do próprio arguido Abrange também a
e do seu defensor atividade do próprio
tribunal enquanto dirigida à
realização da justiça
Pessoal versus Técnica
Exercida pessoalmente Realizada através ou com
pelo arguido assistência do defensor

d. Este defensor pratica atos:


i. De assistência: atos que o arguido tem de praticar pessoalmente e
relativamente aos quais o defensor apenas o auxilia;
ii. De representação: o defensor substitui-se ao arguido manifestando
vontade que ao arguido pertence, podendo ele retirar eficácia desse
mesmo ato (artigo 63.º, n.º2 CPP) mas só enquanto esse atua como
seu representante.
e. Constituição de defensor: o arguido pode constituir defensor a qualquer
altura do processo (artigo 62.º, n.º1 CPP)
i. Se o não tiver feito é nomeado pelo juiz (artigo 64.º, n.º3 CPP) artigo 66.º
CPP´
ii. Estamos perante a obrigatoriedade de constituição do defensor,
mesmo que contra a vontade do arguido:
1. Paulo Pinto de Albuquerque: viola o dirieto a autodefesa do
arguido (artigo 32.º, n.º1 e 3 CRP), a norma é inconstitucional;
27

2. Doutrina maioritária e jurisprudência: esta detina-se a


Página

assegurar a plenitude do direito de defesa, a regularidade do

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

processo e o contraditório e não prejudica a participação do


arguido no processo.
iii. Artigo 65.º CPP: vários arguidos no mesmo processo podem ser
assistidos por um único defensor, salvo se nisso contrariar a função
de defesa. Basta que um dos arguidos fique prejudicado (a sua
defesa) ou se verifique um conflito de interesses.

iv. Mas um defensor também pode ser substituído por outro, nos termos
do artigo 67.º CPP.
v. Garantias do defensor: artigos 187.º, n.º5, 179.º, n.º2, 135.º CPP e
208.º CRP.
4. Assistente e ofendido:
a. Assistente: definido no artigo 69.º, n.º1 CPP como colaborador do Ministério
Público, a cuja atividade subordina a sua intervenção no processo, salvas as
exceções da lei:
i. Artigo 69.º, n.º2 CPP: mas o assistente tem tantos poderes próprios
de conformação do processo penal como um todo que é um
verdadeiro sujeito processual.
ii. Legitimidade para a sua constituição: têm-na os ofendidos, ou seja, os
titulares dos interesses que a lei quis especialmente proteger com a
incriminação (artigo 68.º, n.º1, alínea a) CPP).
b. Ofendido: tem o seu conceito em divergência:
i. Conceito restrito puro: ofendido é o titular do interesse exclusivo que
a incriminação visa proteger, ou seja, constitui objeto jurídico
imediato do crime [Maia Gonçalves, Germano Marques da Silva Ac. STJ
n.º579/2001]
28
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

ii. Conceito amplo: o interesse do ofendido que a lei visa proteger é


abrangido pelo âmbito de tutela do bem jurídico tutelado, abarcando
até bens jurídicos coletivos ou interesses difusos [Augusto Silva Dias,
Paulo Sousa Mendes, Ac. TC n.º8/2006]
iii. Conceito restritivo alargado: a circunstância da incriminação proteger
um interesse de ordem pública não afasta a possibilidade de
simultaneamente ser também imediatamente protegido um outro
interesse de titularidade individual
c. Requisitos para a constituição como arguido:
i. Ter legitimidade para tal (artigo 68.º, n.º1 CPP);
1. Crimes públicos: ofendido tem legitimidade para se constituir
assistente;
2. Crimes semipúblicos e particulares: o titular do direito de
queixa ou de acusação particular é também ofendido, logo
também tem legitimidade para constituir-se como assistente.
ii. Estar em tempo (prazo) de 10 dias (artigo 68.º, n.º2 CPP);
iii. Pagar a taxa de justiça (artigo 519.º CPP);
iv. Ser representado por advogado (artigo 70.º CPP).
d. Artigo 68.º, n.º1, alínea c) CPP: constitui o direito de outras pessoas serem
assistentes no caso de morte do assistente (vítima).
Não funciona com homicídios porque o de cuiús
não teve tempo de se constituir como assistente e
passa-lo aos sobrevivos;
Mas a doutrina maioritária discorda: entende que tal
interpretação não é conforme ou correta,
estendendo-o aos sobrevivos.
29
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

5. As partes civis:
Ofendido versus Lesado
Vítima do crime, titular dos Pessoa que sofreu danos
interesses que a lei penal ocasionados pelo crime,
visa proteger ainda que se não tenha
constituído ou não possa
constituir assistente (artigo
74.º, n.º1 CPP).

O lesado e todas as pessoas com responsabilidade civil são partes civis.


a. A indemnização tem natureza civil
i. O pedido de indemnização civil é deduzido pelo lesado contra
quaisquer pessoas com responsabilidade relacionada com o facto que
é objeto do processo penal ao qual adere a ação civil.
1. A lei impõe a adesão da ação civil à ação penal (princípio da
adesão) – artigo 71.º CPP:
a. Embora com as exceções constantes do artigo 72.º, n.º1
CPP.
b. Mas há que ter em atenção a conjugação do artigo 72.º
CPP, nos seus n.º1, alínea c), com o n.º2.
i. Sistema optativo puro: o lesado pode optar por
apresentar queixa tendo em vista a abertura do
processo penal ou intentar uma ação civil
pedindo a condenação do responsável no
pagamento de uma indemnização civil;
ii. Germano Marques da Silva: se a instauração da
30
Página

ação civil preceder a queixa, valerá como

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

renúncia, mas se depois de formulada a queixa se


verificar alguma das condições previstas nas
alíneas do artigo 72.º, .º1 CPC, essa permissão
vale também para os crimes semipúblicos e
particulares.

§ 31
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Medidas de coação e de garantia patrimonial: visam acautelar a eficácia do


procedimento, quer quanto ao seu desenvolvimento, quer quanto à execução das decisões
condenatórias (possuem uma função cautelar).
1. Medidas de coação: prevenir a fuga, a perturbação do decurso da atividade
instrutória, a perturbação da ordem e tranquilidade públicas, continuação da
atividade criminosa (artigo 204.º CPP);
2. Medidas de garantia patrimoniais: prevenir que faltem ou sejam diminuídas
substancialmente as garantias de pagamento da pena pecuniária, das custas do
processo ou de qualquer outra dívida para com o Estado relacionada com o crime,
ou o pagamento de indemnizações ou outras obrigações civis derivadas do crime
(artigo 227.ºe 228.º CPP).
As medidas de coação têm de obedecer a:
1. Princípios:
a. Legalidade (artigo 191.º CPP): só são admitidas as medidas previstas na lei –
só as dos artigos 204.º, 227.º e 228.º CPP;
b. Proporcionalidade (artigo 193.º CPP):
i. Necessidade;
ii. Adequação:
1. Perspetiva positiva: um meio é adequado se com a sua ajuda a
exigência cautelar pode ser facilitada;
2. Perspetiva negativa: um meio é inadequado se for totalmente
ineficaz para a realização da exigência cautelar.
iii. Proporcionalidade stricto sensu;
iv. Judicialidade (artigo 194.º, n.º1 e 2 CPP);
v. Subsidariedade da obrigação de permanência na habitação e da prisão preventiva
(artigo 193.º, n.º2 CPP);
32
Página

vi. Direito de audiência e defesa (artigo 194.º, n.º4 CPP).

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

2. Condições gerais:
a. Taxatividade (artigo 191.º CPP);
b. Prévia constituição de arguido (artigo 192.º, n.º1 e 58.º, n.º1, alínea b) CPP);
3. Pressupostos gerais:
a. Fumus comissi delicti: é necessário formular um juízo de indicação da prática
de certo crime doloso pelo agente;
b. Periculum libertatis: é necessário que se verifique algum dos pericula libertatis
referidos no artigo 204.º (exceto na medida do Termo de Identidade e
Residência – artigo 96.º CPP) e 227.º, n.º1 e 2 CPP.
4. Requisitos gerais: de cada uma das medidas de coação.

Critério de escolha da medida de coação: necessidade, adequação e proporcionalidade


(artigo 193.º CPP);
 Se a medida aplicável depender de mera pena, atende-se ao limite máximo da pena
aplicável para o tipo de crime indicado (artigo 195.º CPP).
o A aplicação de uma medida de coação deve ser fundamentada nos termos
do artigo 194.º, n.º6 CPP, sob pena de nulidade (artigo 120.º CPP), uma vez
que é um ato decisório (artigo 97.º, n.º5 CPP).

§
33
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Objeto do processo: é um facto humano com relevância penal.


1. O objeto do processo é constituído pelos factos descritos na acusação e a pretensão
nela também formulada.
a. Princípio da identidade: o objeto do processo deve manter-se idêntico, o
mesmo, da acusação à sentença definitiva.
b. Princípio da unidade ou indivisibilidade: o objeto do processo deverá ser
conhecido na sua totalidade, unitária e individualmente:
i. É do interesse do arguido que se resolva, de uma vez por todas, a
totalidade do facto por que é acusado;
ii. A multiplicação de provas e decisões poderia ser contraditória;
iii. Há imposição legal da pena unitária.
c. Princípio da consunção: o conhecimento e decisão do objeto do processo
deverá considerar-se como tendo esgotado a sua apreciação jurídico-
criminal.
2. Critérios de identidade do objeto do processo:
a. Identidade subjetiva: pressupõe a identidade do(s) arguido(s): tantos objetos
quanto arguidos;
b. Identidade objetiva: os factos propriamente ditos que estão a ser avaliados
e julgados no processo.
3. Fixação do objeto do processo:
a. Crime público e semipúblico: a partir da acusação do Ministério Público
(artigo 283.º, n.º1 CPP) ou do Requerimento para Abertura da Instrução
(artigo 287.º, n.º1, alínea b) CPP);
b. Crimes particulares: a partir da acusação do assistente (artigo 285.º CPP).
4. Assim,
a. A partir da acusação ou do Requerimento para a Abertura da Instrução, o
34
Página

objeto do processo fixa-se nos seus limites máximos;

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

b. Se o juiz de instrução criminal pisar fora das estruturas do seu poder de


investigação:
i. Artigo 309.º, n.º1 CPP: nulidade da decisão instrutória na parte em
que pronunciar o arguido por factos que constituem alteração
substancial de factos;
ii. Artigo 309.º, n.º2 CPP: é uma nulidade dependente de arguição.
c. A alteração substancia de factos descrita na acusação ou pronúncia não pode
ser tomada em conta pelo tribunal para o efeito de condenação no processo
em curso (artigo 359.º, n.º1 CPP).
5. Mas, mesmo depois de fixado o objeto do processo, podem aparecer factos novos:
a. Factos totalmente novos/independentes: traduzem-se numa realidade
completamente nova (artigo 262.º, n.º2 CPP). Pode, eventualmente, fazer-
se conexão de processos (artigos 24.º e seguintes CPP);
b. Alteração de factos: variação da descrição destes mesmos factos pode ser
(artigo 1.º, nº1, alínea f) CPP):
i. Alteração Não Substancial de Factos;
ii. Alteração Substancial de Factos.
c. Que dependerá, no seu regime, de:
i. Os factos novos serem autonomizáveis: possibilidade de os separarmos
daqueles que já constituem objeto do processo sem se prejudicar o
processo em causa; há condições para criar um novo processo penal;
ii. Os factos novos não são autonomizáveis: os factos novos não são separáveis
do objeto do processo.
6. Alteração da qualificação jurídica: os factos mantém-se mas a sua valoração jurídico-
penal é que diverge. Como a integrar no objeto do processo:
a. Doutrina maioritária: não integram/alteram o objeto;
35
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

b. Germano Marques da Silva: a alteração da norma incriminadora pode alterar a


significação do facto, logo, a sua relevância jurídica;
c. Paulo Sousa Mendes: o problema jurídico é composto por elementos de facto
e de Direito e a diferença entre estes é mais de ordem metodológica do que
substancial;
d. Posição adotada [Augusto Silva Dias]: a alteração da qualificação jurídica
integra o objeto do processo pois os factos sem a respetiva interpretação
não são um problema jurídico:
i. Mas qual o regime aplicável? O da alteração substancial de factos?
1. João Caires: nem sempre! Deve-se fazer um juízo comparativo
entre ANSF e ASF e escolher aquele que mais se aproxima.
2. No entanto, a lei remete para ANSF:
a. Na instrução: artigo 303.º, n.º5 artigo 303.º, n.º1 e 3
CPP
i. Abrange todo o regime da ANSF em bloco:
1. A violação do artigo 303.º CPP é
cominada com mera irregularidade
dependente de arguição e sanável (artigo
123.º, n.º1 ex vi artigo 118.º, n.º2 por
exclusão dos artigos 119.º e 120.º CPP);
2. Logo
ii. No julgamento: artigo 358.º, n.º3 CPP
1. À sentença que condene por diversa
Alteração da Qualificação Jurídica aplica-
se o regime da preterição das regras
relativas à ANSF (artigo 379.º, alínea b)
36
Página

CPP): A sentença é nula.

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

e. Num processo em que se não prove um facto, o que se poderá fazer?


i. Para alguns autores: poderá haver ASF se houver variação do objeto;
ii. João Caires: há um facto negativo inverso. Mas qual é o regime?

Factos novos

Alteração não Alteração


substancial de substancial de
factos factos
(ANSF) O Juiz de Instrução criminal (ASF)
comunica ao arguido a
Na instrução: ANSF, interroga-o e concede
8 dias para preparar a defesa,
Não não havendo requerimento
ANSF Não para preparação da defesa,
determina a
pode prosseguir para com
incompetência
tramitação
do Juiz de
(artigo 303.º, n.º1 CPP).
Instrução
Criminal?
Sim Remessa para o Juiz de
Não Instrução Criminal
competente
(artigo 303.º, n.º2 CPP).

No Julgamento A ANSF foi gerada por factos alegados pela defesa?

O juiz deve recusar a Sim Não


acusação na parte em
que ela represente Não é preciso conceder É preciso conceder
uma ASF prazo para preparar a prazo para preparar a
(artigo 311.º, n.º2,
37

defesa defesa
alínea b) CPP) (artigo 358.º, n.º2 CPP) (artigo 358.º, n.1 CPP)
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Factos Alteração
autonomizáveis substancial de
factos
(ASF)
Na instrução

Os factos autonomizáveis devem ser destacados do processo em


curso e dar lugar à abertura do inquérito noutro processo penal.
O processo original continua a correr nos seus tramites
(artigo 303.º, n.º3 CPP)

No julgamento

Os factos novos autonomizáveis devem ser igualmente


comunicadas ao Ministério Público para que proceda por eles
(artigo 359.º, n.º1 CPP)

[Problema]
Crimes complexos:
Aqueles que mantêm filiação de especialidade com respeito a dois ou mais tipos
fundamentais
 Há uma tendência a converter o crime complexo em duas (ou
mais) infrações separadas e para cada uma delas abrir
inquérito separado.
 Mas esta não é a melhor opção pois iria causar entraves à
verdade material imposta pela estrutura acusatória do
processo. [é contrário ao princípio da indivisibilidade
38
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Factos não
1.ª Corrente [Tese da continuação do processo] – Paulo Sousa autonomizáveis
Mendes
 Os factos novos não devem ser conhecidos, devem ser Na instrução
ignorados tanto neste processo como em qualquer outro. O
arguido pronuncia-se pelos factos de que vinha acusado. O
processo segue os seus trâmites com inexorável sacrifício
parcial do conhecimento da verdade material.
2.ª Corrente
 Devem conhecer-se os factos em conjunto, esse conhecimento
não poderá ser imediato
o [Tese da repetição do inquérito]
 O juiz suspende a instância nos termos dos artigos
276.º, n.º1, alínea c) e 279.º, n.º1, in fine CPP para
realizar a repetição do inquérito
O Ministério Público conclui pela suficiência de
indícios?
Sim Não

Deduz acusação também Mantém a primeira


pelos factos que levaram à acusação
ASF

o [Tese da organização de um novo processo com todos os


factos]
 Há absolvição da instância por se considerar haver uma
exceção dilatória inominada, devido à falta de um
pressuposto processual relativo ao objeto do processo
(artigo 308.º, n.º3 CPP). O processo é arquivado e pode
abrir-se um novo já com todos os factos.
o [Tese da anulação do processo]
 Na falta de caso análogo, deve recorrer-se à norma que
o próprio intérprete criaria, se houvesse de legislar
dentro do espírito do sistema (artigo 10.º, n.º3 CC):
 Preterição de nulidade insanável (artigo 119.º,
alínea d) CPP) ou nulidade dependente de
39

arguição (artigo 120.º, n.º2, alínea d) CPP;


 Reforma de 2007 proíbe a absolvição da instância,
Página

pois esta implica a sua extinção.

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

[Problema]
Crimes alternativos:
Casos em que a matéria da alteração substancial de factos implica a subsunção
de factos num tipo legal de crime alternativo com respeito àquele que estava
pressuposto no objeto do processo em curso
 Paulo Sousa Mendes: os factos descobertos devem dar lugar à
abertura de um novo processo. No original o juiz deve
proferir um despacho de não pronúncia.
 João Caires: a posição anterior não faz sentido – para quê abrir
um novo processo só com factos novos se eles não são
autonomizáveis? O processo está condenado ab initio.
o Solução: regressar ao inquérito no âmbito do processo
penal pendente para conhecer todos os factos em
conjunto, aplicando a anulação do processado por
analogia (artigo 120.º, n.º2, alínea d) CPP).

No julgamento

ou
Organização de um novo Continuação do processo em
processo penal com todos os curso
factos

Caso se trate de ASF não autonomizáveis, o silêncio do arguido não vale como
consenso para efeitos do artigo 359.º, n.º3 CPP:
 O acordo previsto nessa norma não é assegurado com declarações tácitas. Tal
corresponderia a uma fraude do regime previsto no Código.
40
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

Prova:
Enquanto resultado
Enquanto atividade Enquanto meios de Enquanto
de uma atividade
probatória prova provas materiais
probatória
É o esforço São os elementos É a motivação da São os objetos
metódico através do com base nos quais convicção da relacionados
qual são os factos podem ser entidade decisora com a
demonstrados os demonstrados acerca da ocorrência preparação e a
factos relevantes dos factos relevantes, prática do facto
para a existência do contanto que essa qualificado como
Regime: são
crime, a punibilidade admissíveis as motivação se crime (artigo
provas que não
do arguido e a conforme com os 174.º, n.º1 CPP):
forem proibidas
demonstração da por lei, segundo o elementos
artigo 125.º CPP.
pena ou medida de adquiridos «objetos
segurança aplicáveis representativamente relacionados com
(artigo 124.º, n.º2 no processo e um crime ou que
CPP) respeite as regras da possam servir de
experiência, as leis prova».
científicas e os
princípios da lógica.

Mas essa proclamação da liberdade de escolha dos meios de prova a utilizar no


processo é, afinal de contas, ilusória. Senão vejamos, a lei estabelece um catálogo de
meios de prova:
 O depoimento de testemunha (artigo 128.º e seguintes CPP);
 As declarações do arguido, do assistente e das partes civis (artigo 140.º e seguintes
CPP);
41

 O confronto entre as pessoas que prestaram declarações contraditórias (artigo 146.º


CPP);
Página

 O reconhecimento de pessoas e objetos (artigos 147.º e seguintes CPP);

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

 A reconstituição do facto (artigo 150.º CPP);


 O juízo técnico, científico ou artístico inerente ao exercício de funções periciais
(artigos 151.º e seguintes CPP);
 Os documentos (artigos 164.º e seguintes CPP).

A não taxatividade dos meios de prova que o artigo 125.º CPP estabelece respeita
apenas a meios de prova não previstos e não pode significar liberdade relativamente
aos meios já disciplinados.

Portanto, a única liberdade que existe relativamente à escolha dos meios de prova
consiste na possibilidade de selecionar do catálogo dos meios de prova típicos aqueles
que forem considerados como adequados ao processo em curso.
1. Não admira, pois, que a epígrafe do artigo 125.º CPP seja, muito expressamente,
a legalidade da prova.

O regime legal dos meios de prova típicos visa garantir a máxima credibilidade dos
mesmos para a demonstração dos factos probandos.
1. Nesse campos, são proibidos, por exemplo:
a. O testemunho de ouvir dizer (artigo 129.º, n.º1 CPP);
b. A reprodução de vozes ou rumores públicos (artigo 130.º, n.º1 CPP);
c. O depoimento de uma testemunha não esclarecida sobre a sua faculdade
de recusa de depoimento (artigo 134.º, n.º2 CPP);
d. A leitura em audiência de autos e declarações fora dos casos
expressamente permitidos (artigo 356.º CPP).
2. A própria lei estabelece os casos em que as provas não podem ser produzidas,
nem valoradas.
a. A título de exemplo:
i. O artigo 129.º, n.º1 CPP;
ii. O artigo 130.º, n.º1 CPP;
iii. O artigo 167.º, n.º1 CPP (as reproduções mecânicas só valem
como prova dos factos ou coisas reproduzidas se não forem
ilícitas, nos termos da lei penal.
b. A violação destas disposições gera nulidade dependente de arguição,
embora a lei não comine aqui expressamente a nulidade (artigo 120.º, n.º2
CPP). Mas deve entender-se que a cominação de nulidade não depende
necessariamente da utilização da palavra nulidade, podendo a mesma
consequência retirar-se de expressões como não pode, não é admissível, ou só
valem como prova.
42
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

1. A proibições de prova:

Os temas de prova Os meios de prova Os métodos de prova


proibidos proibidos proibidos
Por exemplo, os factos Por exemplo, a proibição Os métodos de prova são
abrangidos pelo Segredo de da produção de prova os procedimentos usados
Estado (artigos 137.º e através dos suportes pelas autoridades
182.º CPP) técnicos e respetivas judiciárias, pelas policias
transcrições quando criminais, pelos advogados
tiverem sido gravas e até pelos particulares (em
conversações em que especial, os ofendidos) para
intervenham o Primeiro a aquisição de meios de
Ministro (artigo 11.º, n.º2, prova e sua utilização no
alínea b) CPP), ainda que a processo.
interceção telefónica tenha
sido autorizada porOs meios de prova não
despacho de juiz. Neste devem ser obtidos
caso, é o próprio meio de mediante procedimentos
prova que está inquinado, contrários aos direitos de
mesmo que o conteúdo das liberdade, salvo nos casos
conversações não refira expressamente previstos na
factos que constituam Constituição.
Segredo de Estado, não 1. A este propósito, rege a
sendo, portanto, um tema distinção entre:
de prova proibido. a. Métodos de prova
absolutamente
proibidos;
b. Métodos de prova
relativamente proibidos.
A violação de formalidades relativas à obtenção das provas não deve ser confundida
com os métodos de prova proibidos:
1. Os métodos contrários aos direitos de liberdade: nas múltiplas garantias
constitucionais do processo penal, cabem as proibições de prova subentendidas
na cominação da nulidade de todas as provas obtidas mediante tortura, coação,
ofensa da integridade física ou moral da pessoa, abusiva intromissão na vida
provada, no domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações (artigo 32.º
CRP).
a. A tortura, a coação ou a ofensa da integridade física ou moral da pessoa
43

em geral são métodos absolutamente proibidos de obtenção de prova. Já


Página

a intromissão na vida provada, no domicílio, na correspondência ou nas

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

telecomunicações são métodos relativamente proibidos, por isso mesmo


que a proibição é agora afastada quer pelo acordo do titular dos direitos
em causa, quer pelas restrições à inviolabilidade desses direitos constantes
do artigo 34.º, n.º2, 3 e 4 CRP.
b. O artigo 126.º CPP repete a citada distinção entre as proibições absolutas
e as proibições relativas de obtenção de prova.
i. No caso do artigo 126.º, n.º1 e 2 CPP, vigora uma proibição
absoluta de provas através dos meios ali indicados, ainda que sejam
obtidas a coberto do consentimento do titular dos direitos em
causa.
ii. No caso do n.º3 do artigo 126.º CPP, a proibição é afastada pelo
acordo do titular dos direitos em causa, ou então é removida
mediante as ordens ou autorizações emanadas de certas
autoridades, nos termos da lei. Assim sendo,
1) a busca domiciliária (artigo 177.º CPP),
2) a apreensão de correspondência (artigo 179.º CPP),
3) a apreensão de documentos em escritório de advogado ou
consultório médico (artigo 189.º CPP)
são permitidas nas condições expressamente previstas na lei.
A proibição de certos métodos de obtenção de prova dirige-se preferencialmente
aos órgãos de perseguição penal.
a. Antes da abertura oficiosa do inquérito, os métodos de obtenção de
provas podem surgir como medidas cautelares e de polícia da competência
dos Órgãos de Polícia Criminal.
b. Mas o inquérito é a fase do processo penal na qual ocorre normalmente o
maior número de diligências para a obtenção de meios de prova.
i. Nomeadamente, o Ministério Público, dirigindo o inquérito, e os
Órgãos de Polícia Criminal que o assistem (artigo 263.º, n.º1 CPP)
sentem então a premência de trazer para o processo todos os
elementos necessários para deduzir a acusação, sendo caso disso
(artigo 283.º CPP).
ii. Escusado será lembrar que muitas das diligências para a obtenção
de meios de prova porventura julgadas necessárias pelo Ministério
Público só podem ser levadas a cabo se forem autorizadas pelo juiz
de instrução, na sua veste de juiz das liberdades.
c. Nas fases de inquérito e instrução, o juiz de instrução poderá ele mesmo sentir
a necessidade de ordenar que se realizem ainda mais diligências de
obtenção de provas, podendo recorrer aos Órgãos de Polícia Criminal
44

para a realização das mesmas (artigo 288.º, n.º1 e 290.º, n.º2 CPP).
Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

i. Escusado será dizer que as proibições de produção de prova se destinam a


disciplinar a atuação do juiz do julgamento no tocante à ampla margem de
atuação que lhe é conferida pelo princípio da investigação (artigos 340.º e
seguintes CPP).
d. Na fase do julgamento: o juiz está igualmente habilitado a ordenar todas as
diligências que se lhe afigurem necessárias para a descoberta da verdade
material (artigo 340.º, n.º1 CPP), embora esteja subordinado ao tema
definido pela acusação ou pela pronúncia (princípio da vinculação
temática).
2. Os procedimentos violadores das formalidades: o regime legal dos métodos de
obtenção de provas estabelece várias formalidades cuja inobservância torna o ato
ilegal: por exemplo,
a. A entidade competente para receber o depoimento deve advertir os parentes
e afins do arguido acerca da faculdade que lhes assiste de recusarem o
depoimento (artigo 134.º,n.º2 CPP);
b. Os investigadores policiais devem entregar ao visado a cópia do despacho
que determinou a revista (artigo 175.º, n.º1 CPP); e
c. A revista deve respeitar o pudor do visado (artigo 175.º, n.º2 CPP).
Embora o respeito pelas formalidades dos métodos de obtenção de prova
tenham um significado material, a violação das formalidades não cabe no
domínio das proibições de prova se não atentar contra direitos de liberdade.

2. As proibições de valoração de prova: a consequência processual do


reconhecimento do caráter proibido das provas devia ser a proibição de as mesmas
serem utilizadas como fundamento de decisões prejudiciais ao arguido, devendo
essas provas ser desencadeadas dos autos, uma vez que, perdida a sua única
utilidade, serviriam agora apenas para as entidades decisórias, continuarem a avaliar,
na prática, algo que verdadeiramente não deviam conhecer. Tudo se passa, no
entanto, de maneira mais complicada que isso. Ou seja:

As proibições de produção As proibições de produção As proibições de valoração


de prova cuja violação de prova cuja violação não de prova independentes
prejudica o uso das provas tem consequências
As proibições de prova cuja Por exemplo, os exames ao Há proibições de valoração
violação prejudica o uso das corpo de uma pessoa de provas alheias à
provas são normais. devem respeitar o pudor de existência de qualquer vício
quem a eles se submeter na anterior produção de
(artigo 172.º, n.º1 CPP), prova.
45

assim como a revista deve As escutas na pendência de


Página

uma dada investigação

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

respeitar o pudor do visado criminal, estando


(artigo 175.º, n.º2 CPP). devidamente autorizadas e
Nos termos do Código de sendo as gravações das
Processo Penal, essas conversas telefónicas
violações não implica, levadas ao conhecimento
porém, a subtração das do juiz que as autorizou,
provas eventualmente aliás acompanhadas da
obtidas à posterior transcrição das passagens
valoração. consideradas relevantes
pelos investigadores
policiais só podem ser
valorados se porventura
couberem na classe dos
crimes do catálogo (artigo
187.º, n.º7 CPP). Caso
contrário, trata-se de uma
proibição de valoração que
não depende de qualquer
vício na anterior produção
de prova.
Outro exemplo, a busca
domiciliária legitimamente
ordenada ou autorizada
pelo juiz pode levar,
naturalmente, à apreensão
de objetos ou documentos
de grande interesse para a
prova de um crime, quem
sabe, os diários íntimos.
Ora, o regime da prova
documental na lei
processual penal nada diz
acerca da utilização de
diários íntimos como meio
de prova, mas pode ser
questionada essa espécie de
devassa da esfera íntima de
outrem para se garantir a
46

investigação da verdade a
Página

qualquer preço (são

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

inadmissíveis, por força do


artigo 18.º CRP, os meios
de prova que lesem o
direito ao livre
desenvolvimento da
personalidade e à reserva da
intimidade da vida privada).
A lei estabelece os casos em
que as provas não devem
ser valoradas, ao estatuir,
no n.º1 do artigo 126.º
CPP, que as provas obtidas
mediante tortura, coação,
etc., não podem ser
utilizadas, e, no n.º3, que as
provas obtidas mediante
intromissão da vida
privada, no domicílio, etc.,
também não podem ser
utilizadas.

3. A invalidade do ato processual: qualquer proibição de prova pode, por definição,


ser violada pelo aplicador do Direito. A violação determina a invalidade do ato e,
eventualmente, dos seus termos subsequentes.
a. O sistema das nulidades e irregularidades:
i. As infrações mais graves dão lugar às nulidades insanáveis, que devem
ser oficiosamente declaradas em qualquer estado do procedimento,
mas que não obstam à formação do caso julgado (artigo 119.º CPP);
ii. As infrações de média gravidade originam as nulidades dependentes
de arguição, que devem ser arguidas pelos interessados dentro de
determinados prazos, ficando ainda sanadas pela intersecção de
certos eventos previstos na lei (artigos 120.º e 121.º CPP);
iii. As infrações mais leves, quase sempre de caráter formal, são relegadas
para a figura das irregularidades, que está sujeita a causas de sanação
fulminantes (artigo 123.º CPP).
b. No artigo 122.º, n.º1 CPP, diz-se que as nulidades tornam inválido o ato em
que se verificaram, bem como os que dele dependerem e aquelas puderem
afetar. A invalidade é uma qualificação jurídica e a ineficácia é uma realidade
47

prática. Posto isto, os atos inválidos podem ser eficazes, assim como os atos
Página

válidos podem ser ineficazes. Na realidade, os atos processuais penais

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

inválidos produzirão muitas vezes efeitos até que sejam declarados nulos,
salvo se forem estruturalmente inaptos para tal.
c. As nulidades extra-sistemáticas e o seu regime sui generis: o Título V do Código não
esgota as espécies de nulidades. Senão, vejamos, o artigo 118.º, n.º3 CPP
sugere a possibilidade de haver um ou vários regimes sui generis para as
nulidades resultantes da violação das normas que estabelecem proibições de
prova. Portanto, de três uma:
i. Ou bem que a lei estabelece tal (ou tais) regime(s) sui generis para (algumas d)as
nulidades resultantes da violação das normas da prova;
ii. Ou bem que a lei comina expressamente a nulidade insanável deste ou daquele
ato em que se verificar a violação das normas da prova;
iii. Ou bem que não estabelece regime algum.
d. Bem vistas as coisas, o legislador criou, pelo menos, um regime sui generis, a
saber: as nulidades do artigo 126.º CPP.
i. Na verdade, a nulidade mencionada no artigo 32.º, n.º8 CRP e 126.º
CPP não é uma nulidade em sentido técnico-processual, mas uma
nulidade dotada de uma autonomia técnica completa em face do
regime das nulidades processuais. Assim,
1. O artigo 126.º, n.º1 CPP proíbe implicitamente a produção das
provas mediante a ofensa à integridade física ou moral das
pessoas, por isso mesmo que comina a nulidade das provas
obtidas dessa maneira. Ademais, o preceito proíbe
expressamente a valoração dessas provas, porquanto
acrescenta que as mesmas não podem ser utilizadas na
fundamentação da acusação, da pronúncia ou da sentença
condenatória.
2. O artigo 126.º, n.º3 CPP diz que são igualmente nulas, não
podendo ser utilizadas, as provas obtidas mediante intromissão
na vida privada, no domicílio, na correspondência ou nas
telecomunicações. Esses métodos configuram contra direitos
de liberdade cuja importância não fica atrás das situações
descritas nos números anteriores do artigo.
a. De mais a mais, a Constituição inclui os direitos à
reserva da intimidade da vida privada e à inviolabilidade
do domicílio e da correspondência ou outros meios de
comunicação nas garantias do processo penal (artigo
32.º, n.º8 CRP).
b. É verdade que, tanto o artigo 32.º, n.º8 CRP como o
48

artigo 126.º, n.º3 CPP, admitem a restrição desses


Página

direitos nos casos e segundo as formas previstas na lei.

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

i. Mas esses casos ficam já fora das proibições de


prova, sendo aliás métodos de prova permitidos
e regulamentados.
ii. Acresce que os direitos em causa são disponíveis,
obstando assim o acordo do respetivo titular à
ofensa dos mesmos.
iii. Essas hipóteses nada abundam, portanto, para a
caracterização do regime das nulidades do artigo
126.º, n.º3 CPP.
3. Em suma, o regime sui generis das nulidades cominadas no
artigo 126.º CPP consiste essencialmente no seguinte:
4. São nulidades de conhecimento oficioso a todo o tempo
e podem ser atacadas excecionalmente depois do trânsito
em julgado da decisão final, caso só sejam descobertas
depois disso.
5. À parte o disposto no artigo 126.º CPP, há ainda as nulidades
diretamente resultantes da violação dos preceitos da lei que
estabeleça, por via positiva, o âmbito das restrições legítimas
aos direitos de liberdade, a saber:
a. Os pressupostos da revista e das buscas, inclusive a
domiciliária (artigos 174.º, n.º3 e 5 e 177.º CPP);
b. Os pressupostos da apreensão de correspondência,
inclusive em escritório de advogado ou em consultório
médico (artigo 179.º e 180.º CPP);
c. Os pressupostos das escutas telefónicas ou equiparadas
(artigos 187.º e 189.º CPP).
6. É forçoso que os atos cuja invalidade advenha da violação dos
pressupostos neles estabelecidos deem lugar à mesma nulidade
e à mesma inutilização da prova cominadas no próprio artigo
126.º, n.º3 CPP.
e. As violações reconduzíveis ao sistema das nulidades processuais: há, porém, outras
nulidades de prova reconduzíveis ao sistema das nulidades processuais, as
quais seguem o regime das nulidades dependentes de arguição (artigo 120.º,
n.º1 CPP).
i. É o caso dos atos cuja invalidade resulta da violação das meras
formalidades da prova, contanto que a nulidade seja cominada nas
disposições legais em causa.
ii. Maria de Fátima Mata-Mouros entende que na maior parte dos casos
49

de nulidades de escutas telefónicas arguidas nos nossos tribunais, o


Página

que tem sido discutido é, tão só, a verificação, ou não, da nulidade na

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

sua vertente sanável. A ideia de que uma prova adquirida sem o


adequado controlo do juiz possa configurar uma prova
absolutamente proibida tem desvirtuado estas regras, levando à
repetição, a seu ver excessiva, de prolação de decisões sucessivas
sobre a mesma questão num mesmo processo, mesmo antes de se
atingir a instância de recurso. As proibições de prova geram prova
absolutamente nula e, por isso, podem ser declaradas a qualquer
momento, argumenta. Prática, a seu ver, excessiva e a revelar, de facto,
falta de maturidade na apreciação destas questões. Indefinição,
imprecisão, enfim, hesitação característica de quem não encontrou
ainda a segurança que só a experiência permite atingir.
f. As irregularidades de prova: toda a violação de formalidades de prova que não
for cominada com a nulidade é uma irregularidade (artigos 118.º, n.º2 e 123.º
CPP).
4. O efeito à distância das proibições de prova: o efeito à distância é a única forma de
impedir que os investigadores policiais, os procuradores e os juízes menos
escrupulosos se aventurem à violação das proibições de produção de prova na mira
de prosseguirem sequências investigatórias às quais não chegariam através dos
meios postos à sua disposição pelo Estado de Direito.
a. O efeito à distância pode, no entanto, ser atenuado por uma série de
exceções, que se reconduzem á ideia de saber se as provas secundárias
poderiam ter sido obtidas na falta de prova primária maculada.
b. O Tribunal Judicial de Oeiras (sentença do 3.º Juízo, 5 março 1993) decidiu
que a nulidade do primeiro dos meios de prova é extensiva ao segundo,
impossibilitando, da mesma forma, o julgador de extrair deste último,
qualquer juízo valorativo.
c. Depois disso, o efeito à distância foi declarado em vários arestos, assim
como a necessidade de se lhe impor restrições (Ac. TC n.º198/2004, 24
março).
i. Em referência ao artigo 122.º CP o Tribunal Constitucional
considerou que esta norma abre um espaço interpretativo no qual há
que procurar relações de dependência ou de produção de efeitos
(artigo 122.º, n.º1 CPP fala em atos dependentes ou afetados pelo ato
inválido) que, com base em critérios racionais, exijam a projeção do
mesmo valor que afeta o ato anterior. O entendimento do artigo 122.º,
n.º1 CPP, subjacente à decisão recorrida mostra-se
constitucionalmente conforme, não comportando qualquer
sobreposição interpretativa a essa norma que comporte ofensa ao
50

disposto nos preceitos constitucionais invocados.


Página

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

d. Na doutrina:
Defendia como claramente inscrita
Figueiredo Dias
no artigo 32.º CRP esta doutrina
Afirma que a doutrina norte
americana da independent source legitima
a valoração de provas secundárias
sempre que elas foram ou poderiam
ter sido obtidas por via autónoma e
legal, à margem da exclusionary rule que
Casta Andrade impende sobre a prova primária. Tal
só ocorrerá nos casos em que a
produção da prova secundária, por
via independente e legal, se possa, em
concreto, considerar como iminente,
but in fact unrealized source of evidence
(inevitable discovery exception).
Trata do efeito remoto das
proibições de prova e do percurso da
Helena Mourão sua limitação, mas critica a relevância
dos percursos hipotéticos de
investigação
Aceita igualmente limitações ao efeito
à distânicia, mas recusa a invocação
Pinto de Albuquerque de percursos hipotéticos de
investigação e, em especial, a doutrina
da descoberta inevitável
Reconhece que a invocação de
percursos hipotéticos de investigação
não pode ser aceite sem reflexão mas,
com as limitações que a
jurisprudência americana tem vindo
paulatinamente a impor à doutrina da
descoberta inevitável, esta acaba
Paulo Sousa Mendes
sendo a mais adequada aos juízos de
ponderação envolvidos no caso
concreto.

Caso Nix vs Williams, o Supremo Tribunal estipulou que a exceção só teria


51

aplicação se a acusação demonstrasse, com um grau de probabilidade


superior a 50% (preponderance of the evidence), que a informação teria sido
Página

obtida inevitavelmente descoberta por meios legais.

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

e. O efeito à distância das proibições de prova no ordenamento jurídico português: tem sido
frequente a referência ao artigo 122.º, n.º1 CPP.
i. Esta referência é, no entanto, duvidosa, atendendo à autonomia
técnica das proibições de prova (Paulo Sousa Mendes defende-o
fortemente) e, portanto, à sua independência relativamente ao regime
das nulidade processuais.
1. O Ac. TC n.º198/2004, 24 março 2004, já teve ocasião de
demonstrar que a afirmação genérica das garantias de defesa
que está contida no artigo 32.º, n.º1 CRP bastaria para que
entre esses direitos de defesa se considerasse incluído o de ver
excluídas do processo as próprias provas ilegais reportadas a
valores constitucionalmente relevantes.
a. Assim, o n.º8 do mesmo artigo 32.º CRP, mais não faz
do que sublinhar e tornar indiscutível esse direito à
exclusão. Não teria sentido, estando em causa valores
(os elencados no artigo 32.º, n.º8 CRP) a que a
Constituição confere tal importância, que a prova que
os atingisse e fosse obtida com inobservância das regras
que permitem a compressão desses mesmos valores,
produzisse consequências processuais que ficassem
aquém da nulidade dessas provas.
2. Helena Mourão: considera que o recurso à norma do artigo
122.º, n.º1 CPP, é desnecessário pois basta o fundamento
constitucional contido no artigo 32.º, n.º8 CRP.
3. Paulo Sousa Mendes: crê que a referência ao artigo 122.º, n.º1
CPP só pode servir de argumento a fortiori, considerando que
se a lei reconhece o efeito à distância das nulidades processuais
quando poderá estar em causa, por exemplo, a violação de
meras formalidades de prova, então por maioria de razão ter-
se-á de reconhecer o efeito à distância das proibições de prova
quando está em causa a violação de direitos de liberdade.
5. As garantias de defesa contra o ato inválido: é admissível o recurso de quaisquer
decisões cuja irrecorribilidade não esteja prevista na lei (artigo 399.º CPP).
a. O recurso dos despachos que decidam a admissibilidade das provas ou o
recurso das decisões de mérito fundadas numa valoração das provas nulas
terá como fundamento o erro de Direito (artigo 410.º, n.º3 CPP).
b. O regime da irrecorribilidade da decisão instrutória que pronunciar o
arguido por factos constantes da acusação do Ministério Público, mesmo na
52

parte que veda a reapreciação de nulidades e outras questões prévias (artigo


Página

310.º, n.º1 CPP), não pode ser aplicado às proibições de prova,

大象城堡
Actio Puniendi in momentum brevis accipitur

considerando que estas têm autonomia relativamente às nulidades


processuais.
i. Os atos processuais nulos só podem ser anulados até ao trânsito em
julgado da decisão final.
ii. Mas as nulidades cominadas no artigo 126.º CPP, dada a perversão
do processo inerente á violação dos direitos de liberdade, não podem
escapar à sindicância a pretexto do trânsito em julgado da decisão
final.
iii. A revisão do Código de 2007 introduziu, no artigo 449.º, n.º1, alínea
e) CPP, uma causa de revisão pro reo nova: a descoberta de que
serviram de fundamento à condenação provas proibidas nos termos
do n.º1 a 3 do artigo 126.º CPP.
1. Pinto de Albuquerque critica, afirmando que põe gravemente
em perigo o valor constitucional do caso julgado;
2. Paulo Sousa Mendes não crê que tal periculosidade se possa
verificar.
6. As consequências penais da violação das proibições de prova:
a. No Direito Processual Penal aparece a dicotomia admissível vs inadmissível;
b. No Direito Penal Material aparece aqueloutra lícito vs ilícito.
7. O artigo 126.º, n.º4 CPP, ao referir-se à licitude, parece um preceito desligado da
intencionalidade específica do processo penal. Ou talvez não: o preceito cumpre a
função de avisar os órgãos de perseguição criminal de que ninguém está acima da
lei, dizendo em alto e bom som que não há diferenças de estatuto entre os
representantes da lei e da ordem e os cidadãos delinquentes. O artigo 124.º, n.º4
CPP sintetiza, pois, as finalidades preventivas do instituto das proibições de prova
e o ideário do Estado de Direito.

53
Página

大象城堡

Você também pode gostar