Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. INTRODUÇÃO
Perelman chama sua teoria de Nova Retórica, pela importância que atribui ao auditório,
ou seja, os destinatários de um discurso e o presente estudo pretende de forma breve
apresentar os conceitos e pensamentos do supra citado autor para que se possa ter uma
conhecimento básico sobre a sua teoria, valendo esclarecer que o presente trabalho não
possui meios de explanar toda substância contida nas lições de Chaïm Perelman.
A teoria defendida pelo filósofo é uma retomada da antiga retórica concebida por
Aristóteles, mas com uma nova visão. A lógica jurídica tem um lugar de destaque na
Nova retórica, rejeitando o positivismo lógico e fugindo da lógica formal.
c) por fim o terceiro campo diz respeito à dogmatica juridica, que possui as seguintes
funções: fornecer critérios para a produção do Direito nas diversas instâncias em que ele
ocorre; ordenar e sistematizar um setor no ordenamento jurídico; oferecer critérios para
a aplicação do Direito. Ressalta-se que enquanto os órãos aplicadores tem que resolver
os casos concretos o dogmático do Direito se ocupa com os casos abstratos, como por
exemplo quais são os limites entre o direito à vida e o direito à liberdade. Mas é
importante lembrar que esta distinção não pode ser feita de forma taxativa, o praticante
precisa recorrer aos critérios fornecidos pela dogmática quando enfrenta um caso difícil
e ao mesmo tempo a dogmatica muitas vezes se apoia em casos concretos.[5]
"A argumentação juridical (como, aliás, qualquer argumentação) visa criar uma
convicção num destinatário. Aquela argumentação provém de um interessado e tem,
pelo menos, um destinatário – o contra-interessado ou contraparte -, mas, muito
frequentemente, ela tem ainda um outro destinatário – o juiz com competência para a
decisão do caso concreto. Nesta hipótese, os interessados procuram influenciar a
construção da decisão, recorrendo a argumentos que possam levar a formar no julgador
a convicção de que o caso deve ser resolvido pela regra juridical que pretendem que seja
aplicada e da forma como pretendem que ela seja aplicada."[6]
Afirma Perelman que o seu trabalho trata de uma visão acerca da antiga retórica
concebida por Aristóteles, mantendo com relação a esta, basicamente a ideia de
auditório. Assevera que o discurso é compreendido como argumentação.[8]
O conceito de auditório pode ser dividido a partir da sua extensão de três formas
distintas: o primeiro é o auditório universal, o segundo formado apenas pelo interlocutor
a quem se dirige e o terceiro abrange o próprio sujeito, hipótese em que coincidem os
elementos auditório e orador.
Atienza diz que o conceito de auditório universal de Perelman não é muito claro, mas
aponta os seguintes aspectos:
Isso significa que se for o caso de uma argumentação perante um único ouvinte
(auditório particular), a estratégia argumentativa adotada deve ser a persuasiva. Porém,
se a tratar-se de auditório universal, a estratégia escolhida deve ser pautada no
convencimento.
As técnicas argumentativas podem ser classificadas em dois grupos, que são o da união,
que unem elementos distintos e permitem estabelecer entre eles uma solidariedade que
pretenda estruturá-los e a outra classificação. O outro grupo é o da dissociação, cujo
objetivo é separar os elementos considerados componentes de um todo ou de um
conjunto solidário no interior de um sistema de pensamento.[16]
Essa relação ato-pessoa dá lugar a vários tipos de argumentos como por exemplo o
argumento da autoridade, que serve dessa relação como meio de prova a favor de uma
tese, argumento da dupla hierarquia, que se justifica por meio de outra hierarquia, e os
argumentos relativos às diferenças de ordem e grau, pois uma mudança de grau pode
originar uma mudança de natureza que dá lugar a diversos tipos de argumentos. [22]
Por fim veremos os argumentos que dão a base para a estrutura do real, sendo que a aqui
veremos essencialmente três tipos de argumentos: o exemplo, a ilustração e o modelo.
Na argumentação pelo exemplo, o caso particular serve para permitir uma generalização
que no caso do Direito seria a invocação do precedente que se equivale a considerá-lo
um exemplo que funda uma regra nova. Na ilustração é garantida uma regularidade já
estabelecida, ou seja, nas palavras de Atienza: "uma determinada disposição jurídica
será vista como ilustração de um princípio geral conforme torna patente o princípio;
este, entretanto, não deve sua existência a ela.". Para finalizar, no modelo, um
comportamento particular serve para estimular a uma ação que se inspira nele
mesmo.[23]
Durante séculos, a busca pela solução mais justa era o valor que deveria ser levado em
conta pelo magistrado, sendo que os critérios do justo do direito eram estabelecidos pela
moral e religião e se caracterizava pela competência atribuída a certos órgãos para
legislar, julgar e administrar.
Com a Revolução Francesa, esta situação mudou, pois foi proclamado o princípio da
separação dos poderes e uma série de leis e inclusive com obrigações para o juiz, de
motivar suas sentenças. [25]
Sendo assim, Perelman utiliza como parâmetro para estudo da lógica jurídica a
Revolução Francesa e divide em três partes: antes da revolução, logo depois e muito
tempo depois. No primeiro momento o raciocínio jurídico era puramente formal. Em
um segundo momento o direito de torna sistemático, formal e legal, calcado em um
raciocínio dedutivo e por fim na atualidade o direito se depreende mais do que está
codificado e assim o magistrado pode aplicar outros critérios que entenda sem que viole
a lei, julgando de acordo com o seu critério de justiça.[26]
"O fato de o juiz submeter-se à lei ressalta a primazia concedida ao poder legislativo na
elaboração das regras de direito. Mas disso não resulta, de modo algum, um monopólio
do legislativo na formação do direito. O juiz possui a este respeito, um poder
complementar indispensável que lhe permitirá adaptar a lei aos casos específicos. Se
não lhe reconhecessem tal poder, ele não poderia, sem recorrer a ficções, desempenhar
sua missão, que consiste no solucionamento dos conflitos: a natureza das coisas obriga a
conceder-lhe um poder criativo e normativo no domínio do direito.
Esta visão das relações entre o legislativo e o judiciário supõe que, em um Estado de
direito, o poder judiciário nunca fique diante de um vazio normativo, e que os textos
validamente promulgados permaneçam válidos até o momento em que, de modo
implícito ou explícito, tiverem sido ab-rogados."[27]
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Perelman quer demonstrar que o aplicador das leis não pode ater-se somente à
literalidade da norma, deve pensar nos fatos como situações que podem ser valoradas
pelo juiz.
Para ele é possível a inserção de juízos de valores no âmbito racional, ou seja, a lógica
da argumentação é uma lógica de valores, razoável e do preferível. Para os retóricos
nada é absoluto.
Nas decisões em que não há uma unanimidade percebemos a presença da retórica e dos
raciocínios dialéticos. Quando há uma controvérsia, os raciocínios possuem a finalidade
de estabelecer um acordo sobre os valores e a sua correta aplicação.
Pode-se perceber também que Perelman por diversas vezes trata da importância da
motivação das decisões judiciais, que hoje é largamente reconhecida. Sendo que para
decidir o juiz deve ter a razão reduzindo a arbitrariedade.
O filósofo esclarece que a sentença reflete o diálogo entre o juiz e os advogados, sendo
que estes apresentam suas teses da melhor maneira possível para que sejam aceitas e o
magistrado procura convencer os demais de seus argumentos e de sua decisão,
utilizando-se da retórica.
A Nova Retórica prima pela força dos argumentos capazes que garantir a adesão do
auditório, sendo que o auditório universal é um limite a ser atingido, e se constituí de
toda a humanidade, ou pelo menos por todos os homens adultos e normais, conforme as
palavras de Perelman.
4. REFERÊNCIAS
PERELMAN, Chaïm. Lógica jurídica. Tradução Vergínia K. Pupi. 2. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2004.
VENOSA, Silvio de Salvo. Introdução ao estudo do Direito. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2010.
[2] VENOSA, Silvio de Salvo. Introdução ao estudo do Direito. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2010. p. 156.
[3] ATIENZA, Manuel. As razões do Direito. Teorias da Argumentação Jurídica. 3. ed.
Tradução de Maria Cristina Guimarães Cupertino. São Paulo: Landy, 2003. p.18.
[10] PERELMAN, Chaïm. Lógica jurídica. Tradução Vergínia K. Pupi. 2. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 144.
[26] PERELMAN, Chaïm. Lógica Jurídica. Tradução Verginia K. Pupi. São Paulo:
Martins Fontes, 1998. p. 184.
[27] PERELMAN, Chaïm. Lógica Jurídica. Tradução Verginia K. Pupi. São Paulo:
Martins Fontes, 1998. p. 203.
[28] PERELMAN, Chaïm. Lógica Jurídica. Tradução Verginia K. Pupi. São Paulo:
Martins Fontes, 1998. p. 223.