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Disciplina: Sociologia e Antropologia Aplicadas à Administração

Profa: Daniela Cartoni

Resumo - Parte 1

Introdução ao Estudo da Sociologia e Antropologia Aplicadas à Administração

Sugestões de Leitura

Este resumo está baseados nos livros:

DIAS, Reinaldo. Sociologia Geral. Campinas: Alinea, 2008.


(PLT 254)

Capítulo 1: Introdução ao Estudo das Ciências Sociais

BERNARDES, Cyro; MARCONDES; REYNALDO.


Sociologia Aplicada à Administração. São Paulo: Saraiva, 2000.

Capítulo 1: “Uma ponte entre a Sociologia e a Administração”

As Ciências Sociais se fazem presentes na grande maioria da grade curricular dos cursos universitários,
em geral por meio de disciplinas como a Sociologia, a Antropologia e a Ciência Política. Todas essas
áreas possuem em comum o fato de se dedicarem ao estudo do mundo e da realidade social e, em
geral, tais estudos são tão diversificados que acabam por trazer significativas contribuições às mais
diversas áreas de atuação profissional.

Na área de gestão, temos a disciplina “Sociologia e Antropologia Aplicadas à Administração”. Ela trata da
aplicação dos princípios destas ciências sociais para análise do comportamento dentro das
organizações, ou seja, a aplicação dos conhecimentos sociológicos - conceitos, princípios e teorias – à
análise das relações sociais encontradas nas empresas de modo geral.

Assim, compete à Sociologia da Administração (que também pode se chamada de Sociologia das
Organizações e Sociologia Industrial) “o estudo sistemático das relações sociais e interações entre
indivíduos e grupos relacionados com a função econômica da produção e distribuição de bens e serviços
necessários à sociedade.” (Lakatos, 1997, p. 16).

Portanto, é o objeto de estudo da Sociologia Aplicada à Administração:

• Estudar as relações dentro do contexto organizacional, seja industrial, comércio ou serviços,


assim como público, privada ou do terceiro setor.

• Estudar os sistemas organizacionais e os subsistemas que se relacionam a uma estrutura


econômica, onde os indivíduos assumem papéis de acordo com as relações de trabalho.

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• Observar os conteúdos dos papéis profissionais, as normas e expectativas de comportamento
coletivo nas diferentes empresas, com os diferentes papéis dentro de uma organização.

• Compreender os elementos de integração e da cultura organizacional que definem os papéis e


padrões de comportamento nos grupos.

• Estudar as relações de poder, tanto no aspecto de organização em estruturas formais no


ambiente de trabalho (hierarquia, liderança e tomada de decisão) como nos aspectos informais
(influências e controle).

• Estudar os impactos sociais e humanos da aplicação de novas tecnologias, desde o processo de


mecanização, até mudanças decorrentes de modelos de gestão para estímulo à produtividade
(como exemplo, centralização X descentralização, hierarquia e controle, modelos de organização
do trabalho – fordismo, qualidade total, reengenharia, dentre outros).

• Compreender que a empresa não é uma entidade social isolada, mas depende tanto da
dinâmica interna na relação com seus funcionários, mas também depende de um contexto sócio-
cultural e político mais amplo, considerando todos os stakeholders (partes interessadas, que
direta ou indiretamente são afetados pelas atividades da organização).

Um contexto recorrente nesta disciplina é o de “organização” e vale a pena ser esclarecido. Entende-se
por organização como as formações sociais articuladas, com determinada estruturas internas, voltadas
para a oferta de um produto ou serviço que se caracterizam como seus fins e objetivos específicos. Para
tanto, são ordenadas de forma racional, buscando a prestação de resultados de qualidade, a partir de
aplicação de métodos intencionalmente aplicados para cumprir seus fins e objetivos.

É importante perceber, que do ponto de vista da Sociologia aplicada à Administração, as organizações


são apenas uma parte das formas de ordenação social, inserida no contexto mais amplo das
“organizações sociais”, que englobam toda a vida em sociedade (como família, parentesco, classes
sociais, Estado, economia, movimentos sociais e de mobilização da sociedade organizada, etc).

Neste sentido, os sistemas de valores presentes nas empresas influenciam a sociedade e vice-versa.
Sociedade e empresa entrelaçam-se econômica, jurídica, política e socialmente.

O surgimento da Sociologia

Entre as Ciências Sociais mais estudadas está a Sociologia que consiste no estudo da vida social
humana, dos grupos e das sociedades. Muito da riqueza da análise sociológica está justamente no fato
de que o seu objeto de estudo é o nosso próprio comportamento como seres sociais.

Hoje no começo do século XXI a Sociologia se faz bastante presente como ciência, considerando que
estamos vivendo em mundo profundamente preocupante, porém repleto das mais extraordinárias
promessas para o futuro. É um mundo marcado por conflitos, tensões e divisões sociais, como também
pelo ataque destrutivo da tecnologia moderna ao ambiente natural

Não por acaso, o surgimento da Sociologia se deu também em uma época na qual o mundo passava por
grandes e profundas alterações. Isso foi no século XIX, em um momento em que o mundo vivia as
consequências da Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra.

As indústrias causaram importantes mudanças no campo social e nas relações entre os indivíduos e, a
Sociologia, como ciência, nasceu voltada especificamente à análise da nova sociedade que nascia em
meio a questões complexas e que exigiam reflexões.

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Entre os impactos causados no mundo pela Revolução Industrial estão o crescimento das cidades, antes
as pessoas viviam no campo e trabalhavam como camponeses, mas com as fábricas grandes massas
começaram a se deslocar para as cidades em busca de vagas de trabalho como operários.

É assim que nasce uma nova classe social: o chamado proletariado industrial que trabalhava em troca
de salários em condições quase sempre precárias e de forte exploração, se trabalhava mais de 16 horas
por dia, inclusive mulheres e crianças que recebiam salários ainda menores que os pagos para os
homens, sem qualquer tipo de proteção social ou direito trabalhista.

Por outro lado, os empresários capitalistas, proprietários das fábricas, passaram a acumular riquezas e
poderes sociais. Tudo isso em meio a um cenário de urbanização caótica, marcada por surtos de
doenças e epidemias, violência e condições precárias de moradia, muitos trabalhadores chegavam a
viver nas fábricas em que trabalhavam.

A profundidade de todas essas transformações alteraram o modo de viver das pessoas e as relações
sociais de modo tão caótico que se constituíram em problemas que, por sua vez, se tornaram objeto de
pensadores considerados os fundadores da Sociologia como ciência, entre os quais podemos citar
Auguste Comte, Émile Durkeim, Karl Marx e Max Weber. Cada um desses sociólogos representa
diferentes correntes de pensamento porém, de modo geral, todos eles se dedicaram a fazer análises dos
impactos das mudanças trazidas pela modernização ao mundo social. Estudaremos um pouco mais
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sobre as ideias de cada um deles à frente.

A Sociologia como ciência possui certas particularidades que precisam ser destacadas. Diferentemente
do que ocorre com outras ciências, a Sociologia tem como parte integrante do seu universo de pesquisa
o próprio pesquisador, ou seja, ao mesmo tempo em que observam e analisam fenômenos sociais, os
sociólogos os vivenciam, de modo que sofrem influência e influenciam seus objetos de estudo.

Na Sociologia enfrentamos dificuldades especiais por causa de problemas complexos ligados ao fato de
submetermos nosso próprio comportamento ao estudo.

O fazer científico do sociólogo requer então um constante vigiar em relação à objetividade. Em outras
palavras, o sociólogo precisa se policiar para que, ao estudar um fenômeno, não deixe que suas
opiniões, valores e crenças interfiram na coleta e análises dos dados, pois isso pode comprometer o
resultado de suas análises que, afinal de contas, devem ser exclusivamente científicas.

O Sociólogo é um ser humano que pode ser muito afetado pelo seu objeto de estudo, mas deve sempre
prezar pela neutralidade em suas análises. Por exemplo, um Sociólogo pode escolher estudar uma
determinada instituição religiosa e, por outro lado, ser um seguidor dos princípios religiosos. Mas em sua
pesquisa, deve prevalecer o olhar do pesquisador e a utilização do método científico e não a postura do
homem com crenças religiosas.

A atuação do sociólogo é então marcada por sua dupla condição: a de ser humano e a de cientista,
sendo assim duplo também o seu compromisso: com a humanidade e com a ética científica.

Seja como for, os Sociólogos concordam que a Sociologia é uma disciplina na qual deixamos de lado
nossa visão pessoal do mundo para olhar mais cuidadosamente para as influências que modelam as
nossas vidas e as dos outros. Ainda que os seres humanos tenham muito em comum, há muitas
variações entre diferentes sociedades e culturas.

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No surgimento da Sociologia, em um momento de grandes impactos para a vida em sociedade e a relação com o trabalho, foi
importante a contribuição do economista Adam Smith, que exerceu particular influência para as ideias e críticas de Karl Marx
aos fundamentos da Economia Política, em especial sobre a relação capital X trabalho, como um fenômeno social baseado na
desigualdade inerente entre as classes (conceito de “luta de classes”), com premissa do capitalismo.
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Métodos de Pesquisa em Sociologia

A Sociologia, que surgiu no século XIX e é considerada a “mãe” de todas as Ciências


Sociais, consiste no estudo científico e sistemático do comportamento humano que é
construído pela sociedade, bem como no estudo das interações entre os homens. Sendo
assim, os sociólogos examinam as forças sociais e observam as tendências e os padrões que
podem ser generalizados e então fundamentam as explicações sociológicas que permitem a
visualização da conexão entre as dificuldades particulares dos indivíduos e os problemas
sociais. Vale destacar que uma das características mais importantes da Sociologia é a sua
preocupação com a desigualdade institucionalizada ou a estratificação social.

Na Sociologia e nas Ciências Sociais, de maneira geral, tem-se a particularidade de que


o assunto ou objeto de que tratam se confunde com o próprio ser humano que assim é, ao
mesmo tempo, observado e observador. Considerando isso, é preciso buscar constantemente
a objetividade nas análises desenvolvidas, isto é, o cientista social deve ver e aceitar o fato
como estes são e não como se deseja que os fatos sejam.

A objetividade do cientista social, por sua vez, se associa diretamente à utilização


metódica de técnicas de pesquisa social. Entres os métodos que se podem aplicar nas
investigações sociais estão: o método histórico, o método comparativo, o estudo de caso ou
monográfico e estatístico.

Destaca-se, ainda, que a Sociologia surgiu, em grande medida, devido aos abalos na
sociedade ocasionados pela Revolução Industrial, bem como por causa da evolução das
formas de pensamento dos indivíduos que se somaram ainda aos problemas sociais que
eclodiram a partir da industrialização.

Nesse contexto, se destaca Auguste Comte, pai da sociologia como ciência e do


Positivismo como forma de pensamento que versava sobre a preservação da ordem na nova
sociedade industrial e capitalista, que posteriormente influenciou também o pensamento de
Émile Durkheim. Por outro lado, Karl Marx, lançou o chamado marxismo que se propunha a
justamente fazer uma crítica radical ao novo tipo de ordem social, colocando em evidência
seus antagonismos e contradições. Não se pode deixar de falar de Max Weber e sua
importância para os estudos da burocracia e relações de poder.

Passam-se assim a acumular nomes importantes para a Sociologia e sua


fundamentação como ciência. No caso brasileiro, as Ciências Sociais se institucionalizaram no século
XX, a partir da década de 1930. Destacaram-se então pensadores como Gilberto Freyre, Sérgio
Buarque de Hollanda e Florestan Fernandes como pensadores influentes no século XX2.

Portanto, as Ciências Sociais e a Sociologia por meio de seus teóricos ajudam na


tradução e compreensão do universo social e das relações humanas como um todo. São
indispensáveis para a visão consciente e crítica de cidadãos e profissionais, devendo ser então
valorizadas e estudadas em nome de uma melhor visão do presente e de uma melhor sucedida
construção do futuro.

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Na Antropologia, um dos nomes de destaque é o de Darcy Ribeiro, com reflexões sobre a formação cultural e
identidade do povo brasileiro.

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