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Superior Tribunal de Justiça

AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.166.037 - PB (2017/0236905-7)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


AGRAVANTE : JOÃO PAULO BARBALHO INÁCIO DA SILVA
ADVOGADOS : TICIANO FIGUEIREDO DE OLIVEIRA - DF023870
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO - DF023944
LINDBERG CARNEIRO TELES ARAÚJO E OUTRO(S) -
PB017922
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA PARAÍBA
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. SENTENÇA
DE PRONÚNCIA. DELITO DE TRÂNSITO. EMBRIAGUEZ E
EXCESSO DE VELOCIDADE. HOMICÍDIO E LESÃO
CORPORAL. ALEGAÇÕES FINAIS ORAIS. INTERVALO
ENTRE AS AUDIÊNCIAS DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO.
INDEFERIMENTO DE DILIGÊNCIA. CERCEAMENTO DE
DEFESA. INOCORRÊNCIA. DOLO EVENTUAL. CULPA
CONSCIENTE. LEI 13.546/2017. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL. EXAME APROFUNDADO DE PROVAS.
SÚM. 7/STJ.
1. "O ordenamento jurídico processual penal adota a oralidade como
regra para a apresentação das alegações finais, somente contendo
previsão para sua dedução mediante memoriais escritos quando,
'considerada a complexidade do caso ou o número de acusados', o
magistrado entender prudente a concessão de prazo para a dedução
escrita dos argumentos. Doutrina e precedentes. Note-se que o
afastamento da regra de oralidade da apresentação das alegações
finais constitui faculdade do juiz, que deve verificar, caso a caso, a
adequação da medida" (HC n. 340.98l/SP, Relator Ministro JOEL
ILAN PACIORNICK, QuintaTurma).
2. O prazo constante no artigo 400 do Código de Processo Penal –
60 (sessenta) dias, em regra, para a realização da audiência de
instrução e julgamento – é impróprio, ou seja, inexiste sanção em caso
de inobservância.
3. O deferimento de realização de diligência e de produção de provas
é faculdade do juiz, no exercício da sua discricionariedade motivada,
cabendo ao magistrado desautorizar a realização de providências que
considerar protelatórias ou desnecessárias e sem pertinência com a sua
instrução.
4. Consoante reiterados pronunciamentos deste Tribunal de
Uniformização Infraconstitucional, o deslinde da controvérsia sobre o
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elemento subjetivo do crime, especificamente, se o acusado atuou com
dolo eventual ou culpa consciente, fica reservado ao Tribunal do Júri,
juiz natural da causa, no qual a defesa poderá desenvolver amplamente
a tese contrária à imputação penal.
5. Na espécie, foram apontados elementos que podem sugestionar a
presença do dolo eventual: ação volitiva do réu, que ingeriu bebida
alcoólica antes de conduzir o veículo e trafegava em alta velocidade -
151,2 km/h -, desrespeitando os cruzamentos com vias preferenciais,
colidindo com veículo de terceiro.
6. O Superior Tribunal de Justiça vem entendendo que o dolo eventual
não é extraído da "mente do agente", mas das circunstâncias do fato,
de forma que a ocorrência de uma morte e de uma lesão corporal faz
parte do resultado assumido pelo agente, que sob a influência de
álcool, em alta velocidade e desrespeitando as regras de trânsito, foi o
responsável pelo fatídico acidente. Tais elementos, bem delineados na
denúncia, demonstram a antevisão do acusado a respeito do resultado
assumido, justificando a imputação.
7. O art. 302 do CTB define o delito de homicídio culposo na direção
de veículo automotor. O §3º acrescido pela Lei n. 11.546/2017
apenas previu que, se o agente por ocasião do acidente estiver sob
influência de álcool ou outra substância psicoativa, a pena será mais
grave – 5 a 8 anos de reclusão.
8. Não significa, por isso, dizer que aqueles que dirigiam embriagados
ou sob efeito de substâncias psicoativas e se envolveram em homicídio
no trânsito, assumindo o risco de produzir o resultado, tenham que, de
pronto, ser beneficiado com a desclassificação do delito para a
modalidade culposa.
9. A análise da alegada divergência jurisprudencial está prejudicada,
pois a suposta dissonância aborda a mesma tese que amparou o
recurso pela alínea "a" do permissivo constitucional, e cujo julgamento
esbarrou no óbice do Enunciado n. 7 da Súmula deste Tribunal.
- Conforme a jurisprudência desta Corte, a incidência da Súmula
7/STJ impede o exame do dissídio jurisprudencial aventado nas
razões do apelo nobre (AgRg no REsp 1532799/SC, Rel. Ministro
NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 22/03/2018, DJe
03/04/2018).
10. Agravo regimental a que se nega provimento.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
negar provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik,
Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado do TJ/PE) e Jorge Mussi votaram
com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 17 de dezembro de 2019(Data do Julgamento)

Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA


Relator

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AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.166.037 - PB (2017/0236905-7)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


AGRAVANTE : JOÃO PAULO BARBALHO INÁCIO DA SILVA
ADVOGADOS : TICIANO FIGUEIREDO DE OLIVEIRA - DF023870
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO - DF023944
LINDBERG CARNEIRO TELES ARAÚJO E OUTRO(S) -
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AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA PARAÍBA

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA (Relator):

Trata-se de agravo regimental contra decisão de minha lavra que conheceu


do agravo para negar provimento ao recurso especial de JOÃO PAULO BARBALHO
INÁCIO DA SILVA, pronunciado por infração ao art. 121, caput, c/c art. 18, I, (segunda
parte), – vítima Bruno Bernadino de Sousa –, e art. 129, caput, ambos do Código Penal –
vítima Priscila Raquel Barbosa de Melo.

Nas razões do regimental, sustenta as seguintes alegações assim sumariadas:

a) Da negativa de vigência aos artigos 400, §1°, 403, §3° e 564, IV,
todos do Código de Processo Penal. Intervalo de 10 (dez) meses entre as audiências
de instrução e julgamento. Rito Ordinário. Alegações finais orais. Prejuízo flagrante à
defesa. Nulidade absoluta.

Afirma a ocorrência de cerceamento de defesa, em razão de o juízo


singular ter indeferido o requerimento de apresentação de alegações finais por
memoriais, não obstante a complexidade do caso, cumulada ao intervalo de dez meses
entre as audiências conduzidas por juízes diversos (e-STJ fl. 1.508)

Alega que "as alegações finais orais, trazidas pela Lei n. 11.689/2008, são
cabíveis na hipótese em que a audiência de instrução é una e indivisível, o que não é o caso
dos autos, já que, além de a instrução processual ter sido desmembrada, houve um intervalo
de dez meses entre os autos que foram conduzidos por magistrados distintos" (e-STJ, fl.

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1.513).

Prossegue dizendo que a legislação infraconstitucional é expressa em


determinar que, em caso de alegações finais orais, a sentença será proferida em seguida, o que
inocorreu no caso dos autos, pois a sentença foi prolatada mais de dois meses após a
apresentação das alegações finais.

Conclui que, "se o juízo de primeiro grau não se sentiu apto a proferir
decisão logo após as partes exporem as suas razões finais, levando mais de dois meses para
tal, isso é prova de que a defesa também não tinha condições hábeis para apresentar as
alegações orais ao final da instrução, uma vez que não teve acesso imediato e a tempo à prova
produzida há dez meses atrás" (e-STJ, fl. 1.515).

b) Da negativa de vigência aos arts. 159, §§ 3° e 5°, incs. II e 411, §§


1° e 2° e art. 564, III, "b" do Código de Processo Penal.

Insurge-se, neste ponto, contra o indeferimento do pedido relativo à


indicação de assistentes e formulação de quesitos complementares, anteriormente deferidos,
afirmando que houve violação ao princípio da inércia da jurisdição, pois o mesmo Juízo que
inicialmente habilitou os assistentes técnicos e deferiu a sua oitiva em audiência
nessa condição, voltou atrás para revogar a decisão e determinar apenas a vistoria, na
qualidade de prova particular, sob o argumento de que os laudos e perícia que interessa
ao processo já foram juntados (e-STJ, fl. 1.520).

Enfatiza que "a prova pericial, em crimes que envolvem acidentes de trânsito,
além de legalmente exigida e, no mais das vezes, decisiva, seja perante um juiz togado, seja,
com muito mais prejuízo, perante juízes leigos" (e-STJ, fl. 1.521).

c) Da ausência de indícios de dolo eventual. Ponto de urgência:


necessidade de reforma. Novatio legis in mellius. Dissídio jurisprudencial não
analisado.

Diz que a decisão recorrida não enfrentou a tese de novatio legis in mellius
posta em petição juntada às e- STJ fls. 1459-1468, (tópico c.2), tampouco o dissídio

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jurisprudencial posto pela defesa (tópico c.3)

c.1) Da afronta aos artigos 302 do Código de Trânsito Brasileiro.


Negativa de vigência aos arts. 239, 413 e 413 do Código de Processo Penal e aos arts.
18, I e II, 121, caput, e 129, caput, todos do Código Penal.

Aduz que o acórdão recorrido, ao dar parcial provimento ao recurso em


sentido estrito, mantendo a pronúncia do recorrente pela prática de homicídio com dolo
eventual – vítima fatal –, desclassificando, todavia, em relação à vítima sobrevivente, a conduta
para lesão corporal leve, apresenta-se contraditório.

Argumenta que o magistrado de piso e o Tribunal a quo, a despeito da


lógica elementar e da dogmática penal, decidiram por bem cindir o dolo global de uma
única conduta com relação a resultados distintos, contrariando a legislação penal
vigente (e-STJ, fl. 1.528). O recorrente não pode assumir, com relação a uma das vítimas, o
risco de matar e, com relação a outra, o risco de lesionar.

Defende que, se o acórdão admite que o agravante assumiu o risco de


lesionar a vítima sobrevivente ao supostamente dirigir em alta velocidade e embriagado,
logo – e aqui há teratologia por ausência de qualquer explicação concreta no caso –
deveria aplicar o mesmo entendimento em relação à vítima fatal, desclassificando a
conduta para o crime de lesão corporal seguida de morte, uma vez que não é possível
que o agente tenha assumido riscos distintos em relação às vítimas que ocupavam o
mesmo veículo. Assim, é flagrante a violação dos artigos 18, I e II, 121, caput, e 129,
caput, todos do Código Penal (e-STJ, fl. 1.531).

Enfatiza, ademais, que não se vê na pronúncia demonstração do elemento


volitivo, não bastando o fato de o recorrente estar dirigindo em alta velocidade e embriagado,
até porque condutas relacionadas a acidentes automobilísticos são punidas, em regra, a título
culposo.

c.2 Da absoluta desconsideração novatio legis in mellius.


Necessidade de reforma da decisão agravada.

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Aduz que, em 9/8/2018, a defesa peticionou requerendo a desclassificação
da acusação de homicídio doloso para a forma culposa, com base na Lei n. 13.546/2017 – lei
penal mais benéfica e complementariedade recursal –, mas o pleito não foi analisado.

Argumenta que referido diploma normativo deu nova disciplina aos crimes de
trânsito, criando hipótese típica e específica de homicídio culposo na direção de veículo
automotor, quando supostamente há embriaguez (art. 302, §3º, do CTB).

Excluiu-se, assim, a presunção de dolo eventual diante do exclusivo elemento


da suposta influência de álcool quando do cometimento de homicídio na direção de veículo
automotor.

c.3) Do Dissídio jurisprudencial: Incerteza quanto a ocorrência de


crime de competência do Tribunal do Júri impõe a desclassificação. Tese constante do
relatório, mas não analisada devidamente.

Afirma que a decisão ignorou recente jurisprudência do STF (ARE n.


1.067.392), que entendeu pela inaplicabilidade do in dubio pro societate para a decretação
ou manutenção da sentença de pronúncia, além de dar interpretação diametralmente oposta à
dada pelo TJPE – RSE 0011197-16.2014.8.17.0000 –, no qual se entendeu que, havendo
dúvidas sobre a assunção do agente com o possível resultado, faz-se imperiosa a
desclassificação, nos termos do art. 419, c/c art. 74, §2º, todos do CPP.

Pugna, ao final, pelo provimento do recurso, para:

a) sejam anulados todos os atos posteriores às alegações finais,


tendo em vista o prejuízo causado ao agravante, nos termos do art.
564, IV, do CPP;
b) seja anulada a sentença de pronúncia, propiciando a reabertura
da instrução processual a fim de possibilitar a realização de
vistoria nos veículos envolvidos no acidente, como outrora
autorizado, bem como a oitiva dos assistentes técnicos em
audiência;
c) seja desclassificada a conduta imputada para crime diverso da
competência do tribunal do júri, nos termos do art. 419, c/c art. 74,
§2°, do Código de Processo Penal, considerando que a alta
velocidade é clássica circunstância a revelar a presença de crime
culposo nas modalidades negligência e imprudência. Ademais, com
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relação à suposta embriaguez e também à velocidade alta houve
novatio legis in mellius que criou hipótese típica específica que se
aplica ao caso do ora agravante, com fundamento no art. 5o LXVIII
da Constituição Federal art. 654°, §2°5 do Código de Processo
Penal, seja concedido habeas corpus de ofício para o fim de se
determinar a desclassificação da acusação de homicídio doloso
para a forma culposa, com base no art. 5o, XL, da Constituição
Federal e na Lei n° 13.546/2017, enviando-se os autos, por
conseqüência, ao Juízo comum.
d) considerando que tal ponto passou ao largo da decisão
agravada, se dê prevalência à interpretação proferida pelo TJPE
no âmbito da Recurso em Sentido Estrito n°
0011197-16.2014.8.17.0000, determinando-se a reforma do
acórdão recorrido para desclassificar a conduta descrita na
pronúncia para crime diverso da competência do Tribunal do Júri,
nos termos do art. 419, c/c art. 74, §2°, do Código de Processo
Penal.

Subsidiariamente, requer que o presente agravo regimental seja levado a


julgamento perante a Quinta Turma desse egrégio Superior Tribunal de Justiça, para que se dê
provimento, nos termos supracitados.

É o relatório.

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AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.166.037 - PB (2017/0236905-7)

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA (Relator):

No caso, são estas as alegações de JOÃO PAULO BARBALHO INÁCIO


DA SILVA, pronunciado por infração ao art. 121, caput, c/c art. 18, I (segunda parte), do
Código Penal – vítima Bruno Bernadino de Sousa – e art. 129, caput, do Código Penal –
vítima Priscila Raquel Barbosa de Melo.

a) Da negativa de vigência aos artigos 400, §1°, 403, §3° e 564, IV,
todos do Código de Processo Penal. Intervalo de 10 (dez) meses
entre as audiências de instrução e julgamento. Rito Ordinário.
Alegações finais orais. Prejuízo flagrante à defesa. Nulidade
absoluta.
b) Da negativa de vigência aos arts. 159, §§ 3° e 5°, incs. II e 411,
§§ 1° e 2° e art. 564, III, "b" do Código de Processo Penal.
c) Da ausência de indícios de dolo eventual. Ponto de urgência:
necessidade de reforma. Novatio legis in mellius. Dissídio
jurisprudencial não analisado.
c.1) Da afronta aos artigos 302 do Código de Trânsito
Brasileiro. Negativa de vigência aos arts. 239, 413 e 413 do
Código de Processo Penal e aos arts. 18, I e II, 121, caput, e
129, caput, todos do Código Penal.
c.2 Da absoluta desconsideração novatio legis in mellius.
Necessidade de reforma da decisão agravada.
c.3) Do Dissídio jurisprudencial: Incerteza quanto a
ocorrência de crime de competência do Tribunal do Júri
impõe a desclassificação. Tese constante do relatório – mas
não analisada devidamente.

Passo, então, à análise das alegações defensivas.

a) Da negativa de vigência aos artigos 400, §1°, 403, §3° e 564, IV,
todos do Código de Processo Penal.

Veja o dispositivo legal acerca da apresentação das alegações finais no

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Código de Processo Penal:

Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo


indeferido, serão oferecidas alegações finais orais por 20 (vinte)
minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa,
prorrogáveis, por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir,
sentença.
[...]
§3º. O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o
número de acusados, conceder ás partes o prazo de 5 (cinco) dias
sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, terá
o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença.

Da leitura do dispositivo legal, nota-se que "o ordenamento jurídico


processual penal adota a oralidade como regra para a apresentação das alegações
finais, somente contendo previsão para sua dedução mediante memoriais escritos
quando, 'considerada a complexidade do caso ou o número de acusados', o magistrado
entender prudente a concessão de prazo para a dedução escrito dos argumentos.
Doutrina e precedentes. Note-se que o afastamento da regra de oralidade da
apresentação das alegações finais constitui faculdade do juiz, que deve verificar, caso
a caso, a adequação da medida" (HC n. 340.981/SP, Relator Ministro JOEL ILAN
PACIORNICK, Quinta Turma, DJe de 18/10/2016). Nesse sentido:

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS


CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. ALEGAÇÕES FINAIS ORAIS.
POSSIBILIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO
OCORRÊNCIA. PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO
MOTIVADO. RECURSO DESPROVIDO.
1. Em homenagem à celeridade processual, as alegações finais,
como regra, serão oferecidas de forma oral, pela acusação e pela
defesa, respectivamente, sendo facultada a apresentação por
memoriais, na hipótese de a causa ser complexa ou ter um número
elevado de acusados (art. 403, § 3º, do Código de Processo Penal).
2. A utilização do meio audiovisual para a colheita de provas no
processo penal tem por finalidade proporcionar celeridade ao
trâmite do feito, sem a necessidade de redução a termo dos
depoimentos do acusado, da vítima e das testemunhas. Estabelece o
§ 2º do art. 405 do CPP que, "no caso de registro por meio
audiovisual, será encaminhado às partes cópia do registro original,
sem necessidade de transcrição".

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3. No caso dos autos, a Defensora participou da audiência em que
foram colhidos os depoimentos das testemunhas e interrogado o
recorrente, não havendo falar em constrangimento ilegal na
apresentação de suas alegações finais em audiência, sem a
degravação dos depoimentos, por não se tratar de causa complexa
ou com elevado número de acusados.
4. Sem embargo do amplo direito à produção das provas
necessárias a dar embasamento às teses defensivas, é facultado ao
magistrado o indeferimento das diligências protelatórias,
irrelevantes ou impertinentes, desde que mediante decisão
motivada. Por sua vez, cabe à parte interessada demonstrar a real
imprescindibilidade da produção da prova requerida. Precedentes.
5. Aferir a indispensabilidade da prova requerida durante a
instrução demandaria ampla incursão no acervo fático-probatório
dos autos, o que é incompatível com a via mandamental.
6. Recurso ordinário desprovido. (RHC 77.616/SP, Rel. Ministro
RIBEIRO DANTAS, Quinta Turma, julgado em 13/6/2017, DJe
23/6/2017)

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. NÃO


CABIMENTO. TRÁFICO DE DROGAS. NULIDADE POR
CERCEAMENTO DE DEFESA. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE
CONVERSÃO DAS ALEGAÇÕES FINAIS ORAIS E MEMORIAIS
ESCRITOS. DESTITUIÇÃO DO ADVOGADO E CONSTITUIÇÃO
DE DEFENSORA AD HOC. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO
ILEGAL. ART. 403, § 3º, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
FACULDADE DO MAGISTRADO. HIPÓTESE EM QUE NÃO
DEMONSTRADO O PREJUÍZO CONCRETO. PAS DE NULLITÉ
SANS GRIEF. DOSIMETRIA DA PENA. CAUSA ESPECIAL DE
DIMINUIÇÃO DE PENA (ART. 33, § 4º, DA LEI Nº 11.343/06).
APLICABILIDADE. QUANTIDADE EXPRESSIVA DE DROGA.
DEDICAÇÃO A ATIVIDADES CRIMINOSAS. FUNDAMENTO
INIDÔNEO. REFAZIMENTO DA DOSIMETRIA. WRIT NÃO
CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
[...]
2. O ordenamento jurídico processual penal adota a oralidade como
regra para a apresentação das alegações finais, somente contendo
previsão para sua dedução mediante memoriais escritos quando,
"considerada a complexidade do caso ou o número de acusados", o
magistrado entender prudente a concessão de prazo para a
dedução escrito dos argumentos. Doutrina e precedentes. Note-se
que o afastamento da regra de oralidade da apresentação das
alegações finais constitui faculdade do juiz, que deve verificar, caso
a caso, a adequação da medida.
In casu, verifica-se que o Magistrado de origem apresentou
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adequada fundamentação para indeferir o pleito de apresentação
de memoriais escritos em lugar da dedução oral das alegações
finais. Mencionou não se tratar de causa complexa ou com
multiplicidade de réus, mas de procedimento para apuração de um
único delito - tráfico ilícito de entorpecentes - por um único
acusado. Registre-se que os argumentos deduzidos pelo defensor do
ora paciente se revelam insuficientes para demonstrar a
imperatividade da concessão de prazo para memoriais escritos, pois
se cingem à dificuldade de rememoração de elementos essenciais da
instrução ocorridos no curso de um ano - inconveniência
plenamente previsível ao causídico, que, todavia, somente veio a
alegar sua insuperabilidade após o oferecimento das razões orais
pela acusação.
Assim, não há como entender configurado constrangimento ilegal
pelo indeferimento do pedido de conversão das alegações finais
orais em memoriais escritos.
[...]
Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para
reduzir a reprimenda a 4 (quatro) anos e 2 (dois) meses de
reclusão, e 500 (quinhentos) dias-multa, em regime prisional
semiaberto, nos termos da fundamentação supra. (HC 340.981/SP,
Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado
em 04/10/2016, DJe 18/10/2016)

PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM


MANDADO DE SEGURANÇA. CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS
CERCEAMENTO DE DEFESA. PEDIDO PARA APRESENTAR
ALEGAÇÕES FINAIS NA FORMA DE MEMORIAIS ESCRITOS.
INDEFERIMENTO. RECUSA DO ADVOGADO CONSTITUÍDO.
DESTITUIÇÃO DO PATRONO. NULIDADE AFASTADA.
APRECIAÇÃO DA JUSTIFICATIVA DO CAUSÍDICO.
IMPOSSIBILIDADE. REEXAME PROBATÓRIO. NOMEAÇÃO DE
DEFENSOR PÚBLICO. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO.
1. A conversão da sustentação oral em memorais escritos constitui
faculdade do Juízo a quo que examinará a necessidade da adoção
da citada medida, de acordo com a complexidade do caso ou a
quantidade de acusados.
2. Não se admite adentrar no ponto relacionado à justificativa
consignada pelo recorrente, porquanto demandaria profunda
incursão na seara fático-probatório, inviável na estreita via do
mandamus.
3. No caso, não restou demonstrado prejuízo à defesa, pois,
segundo consta dos autos, o Defensor Público foi nomeado em
decorrência da destituição do recorrente para apresentar
alegações finais, mediante aceitação do réu.
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4. Recurso ordinário em mandado de segurança desprovido. (RMS
33.922/RN, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado
em 13/10/2015, DJe 03/11/2015)

Na espécie, o acórdão recorrido é claro ao mencionar que não estão


presentes nenhumas das hipóteses elencadas na legislação a autorizar a conversão das
alegações finais orais em memoriais escritos. Assim, modificar tal entendimento demandaria
incursão no acervo probatório dos autos, inviável na via eleita.

Mas não é só. De fato, o artigo 400 do Código de Processo Penal, em


homenagem ao princípio da celeridade processual, prevê o prazo de 60 (sessenta) dias, em
regra, para a realização da audiência de instrução e julgamento.

Referido prazo é impróprio, ou seja, inexiste sanção em caso de


inobservância. Em se tratando de réu preso, porém, o excesso de prazo pode dar ensejo a
constrangimento ilegal a ser reparado via habeas corpus, o que não é, todavia, a hipótese dos
autos.

Vale destacar, ainda, em relação à audiência una, que sempre se deve


respeitar o motivo de força maior, como o excesso de serviço na Vara ou a complexidade do
feito, a demandar maior número de diligências, bem como as diversas intercorrências que
sobrevêm no curso do procedimento, que, por vezes, fazem com que o deslinde da ação penal
não se efetue em única audiência.

Na hipótese, a despeito da ausência de prequestionamento acerca da


alegação, a própria defesa relata nas razões de seu apelo raro, in verbis (e-STJ, fl. 1.146):

Ocorre que ao realizar-se a audiência do dia 29 de outubro de


2014, constatou-se a ausência de uma testemunha de acusação
(Anésio Batista da Silva Neto), bem como de testemunhas de defesa,
razão pela qual o Ministério Público insistiu na oitiva daquela, o
que ensejou a cisão da instrução com a designação de nova
audiência no dia 06.08.2015, ou seja, quase dez meses depois.
Nesta foram ouvidas as testemunhas faltantes e interrogado o
recorrente, tudo em gravação de áudio. Na mesma oportunidade, a
defesa postulou pela oitiva dos assistentes técnicos já habilitados,
conforme outrora autorizado.
Documento: 1903178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 13 de 4
Superior Tribunal de Justiça

b) Da negativa de vigência aos arts. 159, §§ 3° e 5°, incs. II e 411, §§


1° e 2° e art. 564, III, "b" do Código de Processo Penal.

Nesse ponto, insurge-se a defesa contra o indeferimento do pedido relativo à


indicação de assistentes e formulação de quesitos complementares, anteriormente deferidos.

No caso, veja o que disse o magistrado ao repelir a nulidade suscitada pela


defesa (e-STJ, fl. 838):

Requereu a defesa a suspensão do interrogatório do acusado, após


a oitiva das testemunhas, ao final da instrução, até a realização de
uma vistoria por ela requerida no curso do processo, precisamente
a fls.199/200.
Ora, todos os laudos periciais já estão acostados nos autos, e como
bem disse o requerente, tal perícia não tinha o condão de substituir
nenhuma das perícias oficiais já efetivadas e de que se tratava tão
somente peça do seu interesse. Tal perícia foi deferida por este
juízo, nos termos do despacho de fls.715 e até a presente data não
realizada, por desinteresse da parte requerente, no que pese o
Alvará de Autorização de fls.719.
[...]
Como se vê, a alegada perícia, só linha interesse para a defesa -
que aliás no caso sub judice - está muito bem exercida pelos seus
dignos e inúmeros patronos, aplicando este julgador tão somente a
lei de regência, indeferindo uma prova absolutamente
desnecessária ao processo já sobejamente instruído, principalmente
pelos laudos oficiais acostados. Não tendo o requerimento da
"perícia particular" se é que assim se pode nominar, nenhuma
relação com a apuração da verdade real no processo para fins de
autoria e materialidade, muito menos tratou-se de prova faltante.
Seu objetivo seria tão somente o procrastinatório, devendo o
magistrado, no zelo pela celeridade processual, indeferi-la, como
foi feito. Com esses fundamentos, INDEFIRO a primeira
preliminar, não vislumbrando nenhum cerceamento de defesa, como
ventilado nas razões orais.

Ora, o deferimento de realização de diligência e de produção de provas é


faculdade do juiz, no exercício da sua discricionariedade motivada, cabendo ao magistrado
desautorizar a realização de providências que considerar protelatórias ou desnecessárias e sem

Documento: 1903178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 14 de 4
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pertinência com a sua instrução.

Não há, portanto, que se falar em nulidade.

c) Da ausência de indícios de dolo eventual. Ponto de urgência:


necessidade de reforma. Novatio legis in mellius. Dissídio jurisprudencial não
analisado.

A decisão recorrida não enfrentou a tese de novatio legis in mellius posta


em petição juntada às fls. 1459-1468 (tópico c.2), tampouco o dissídio jurisprudencial posto
pela defesa (tópico c.3)

c.1) Da ausência de indícios de dolo eventual. Da afronta aos artigos


302 do Código de Trânsito Brasileiro. Negativa de vigência ao art. 239, 413 e 413 do
Código de Processo Penal e aos arts. 18, I e II, 121, caput, e 129, caput, todos do
Código Penal.

Nesse ponto, argumenta a defesa que não é possível que o agente tenha
assumido riscos distintos em relação às vítimas que ocupavam o mesmo veículo – risco de
matar e risco de lesionar –, sendo flagrante a violação dos artigos 18,1 e II, 121, caput, e
129, caput, todos do Código Penal (e-STJ, fl. 1.165).

Enfatiza, ademais, que não se vê na pronúncia demonstração do elemento


volitivo, não bastando o fato de o recorrente estar dirigindo em alta velocidade e embriagado,
até porque condutas relacionadas à acidentes automobilísticos são punidas em regra a título
culposo.

Veja, contudo, o que consta da sentença de pronúncia (e-STJ, fl. 842):

No presente processo, a materialidade é inconteste, conforme já


referimos, e a autoria é indubitável, uma vez que o réu confessou
estar conduzindo o veículo causador do choque, embora tenha
aventado sua ausência volitiva em obter o resultado, embora eu
entenda que mesmo não desejando o resultado, assumiu o risco de
produzi-lo, corporificando o dolo eventual ou indireto.
Nesta fase processual, não há de se analisar de forma exaustiva,
mesmo porque é defeso ao juiz processante, todas as provas
carreadas, quer técnicas ou testemunhais, mas, tão somente se
restam evidenciadas a prova da materialidade e indícios suficientes
Documento: 1903178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 15 de 4
Superior Tribunal de Justiça
da autoria para pronunciar o réu a julgamento pelo juízo
competente que é o Tribunal do Júri Popular.
Há de se verificar, finalmente, que o MP em sua denúncia, havia
narrado as condutas típicas e capitulado as ações nela narradas
nas penas do art. 121, caput, c/c o art. 18, Inciso I (segunda parte)
do CP, em relação à vítima fatal Bruno Bernardino de Sousa e nas
penas do art. 121, caput, c/c o art. 18 (segunda parte) e art. 14,
Inciso II do CP, em relação à vítima Priscila Raquel Barbosa de
Melo, todos combinados ainda com o art. 70 do CP.
Na fase das alegações finais, a Douta Representante do Parquet,
modificou a capitulação, sem alterar o fato narrado, em relação à
vítima sobrevivente que restou tão somente lesionada. No dolo
eventual se responde pelo resultado e nunca pela intenção do
agente, razão pela qual entendo contraproducente a tentativa de
homicídio por dolo eventual. Não há como o agente, no caso de
várias vítimas, por tratar-se de concurso formal, que exige ação
única e resultados plúrimos, eleger, na mesma ocasião, vítimas
distintas para crimes diversos. Responde tão somente pelo resultado
obtido, em concurso formal.
Não cabe, de igual forma, nesta fase, se analisar a gravidade das
lesões, para se definir competências, uma vez que, havendo
conexão de crimes, basta que um deles seja de competência do
Tribunal do Júri, para arrostar todos ao crivo do sinédrio, pelo
princípio da especialidade. Somente o Conselho de Sentença, nos
casos de conexão entre homicídio e lesões, pode averiguar e
classificar a gravidade dessas lesões, uma vez que o juiz (inclusive
o de fato) não fica adstrito a qualquer laudo médico, pericial ou da
natureza das lesões, cabendo exclusivamente ao MP estabelecer a
capitulação.
Ao juiz sumariante ou da pronúncia é defeso extirpar do processo
nessa fase, crime A ou crime B, que não seriam de competência do
júri, quando praticados em conexão com um delito que o seja, sob
pena de subtrair ao juízo natural (conselho de sentença) a sua
apreciação e julgamento.
POSTO ISTO:
Convencido da materialidade de um crime de homicídio consumado
em concurso formal com lesões corporais, praticados com dolo
eventual e da existência de indícios suficientes de que ao acusado
JOÃO PAULO BARBALHO INÁCIO DA SILVA pode ser
imputada a autoria, à luz da análise processual, embasado no art.
413 do CPP, hei por bem PRONUNCIÁ-LO, como por pronunciado
o tenho a julgamento pelo Tribunal do Júri desta Comarca,
delimitando a acusação nos termos do art. 121, caput, c/c o art. 18,
Inciso I (segunda parte) do CP, em relação à vítima fatal Bruno
Bernardino de Sousa e nas penas do art. 129, § 1o, Inciso II, c/c o
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Superior Tribunal de Justiça
art. 18 , Inciso I (segunda parte) do CP, em relação à vítima
sobrevivente Priscila Raquel Barbosa de Melo, todos combinados
ainda com o art. 70 do CP.

O pleito defensivo de desclassificação da conduta encontra óbice na


impossibilidade de revolvimento do material fático/probatório dos autos em sede de recurso
especial, a teor da Súm. n. 7/STJ.

O debate a respeito do elemento subjetivo do tipo — se houve dolo eventual


ou culpa — é de grande complexidade técnica, como mencionou a defesa no bojo de suas
minuciosas razões recursais, mas não por esse motivo deve ser suprimida da avaliação do juiz
natural da causa.

E não se pode generalizar a exclusão do dolo eventual em comportamentos


humanos voluntários praticados no trânsito. "Na hipótese, em se tratando de pronúncia, a
desclassificação da modalidade dolosa de homicídio para a culposa deve ser calcada em prova
por demais sólida. No iudicium accusationis, inclusive, a eventual dúvida não favorece o
acusado, incidindo, aí, a regra exposta na velha parêmia in dubio pro societate" (HC n.
321.354/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, julgado em 4/8/2016, DJe
23/8/2016).

Assim, "consoante reiterados pronunciamentos deste Tribunal de


Uniformização Infraconstitucional, o deslinde da controvérsia sobre o elemento subjetivo do
crime, especificamente, se o acusado atuou com dolo eventual ou culpa consciente, fica
reservado ao Tribunal do Júri, juiz natural da causa, onde a defesa poderá desenvolver
amplamente a tese contrária à imputação penal" (AgRg no AREsp n. 693.045/ES, Rel.
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Quinta Turma, julgado em 17/9/2015, DJe
22/9/2015).

Na espécie, foram apontados elementos que podem sugestionar a presença


do dolo eventual: ação volitiva do réu, que ingeriu bebida alcoólica antes de conduzir o veículo
e trafegava em alta velocidade – 151,2 km/h (e-STJ fl. 457) –, desrespeitando os
cruzamentos com vias preferenciais, colidindo com veículo de terceiro.

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Superior Tribunal de Justiça
A respeito do tema, vale destacar os seguintes julgados:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


HOMICÍDIO QUALIFICADO DESCLASSIFICAÇÃO. CULPA
CONSCIENTE OU DOLO EVENTUAL. PRESENÇA DE
ELEMENTOS AUTORIZADORES DA PRONÚNCIA. SÚMULA
83/STJ. REVISÃO INVIÁVEL. REEXAME DO ACERVO
FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A pronúncia não exige a existência de prova cabal da autoria do
delito, sendo suficiente, nessa fase processual, a mera existência de
indícios da autoria, devendo estar comprovada, apenas, a
materialidade do crime, uma vez que vigora o princípio do in dubio
pro societate.
2. O Tribunal estadual firmou entendimento consentâneo com a
jurisprudência desta Corte, no sentido de que, havendo elementos
nos autos que, a princípio, podem configurar o dolo eventual, como
in casu (presença de embriaguez ao volante, excesso de velocidade
e tráfego na contramão, em rodovia federal de intenso movimento),
o julgamento acerca da sua ocorrência ou da culpa consciente
compete ao Tribunal do Júri, na qualidade de juiz natural da
causa.
3. A desconstituição do julgado, no intuito de abrigar o pleito
defensivo de desclassificação da conduta, não encontra espaço na
via eleita, porquanto seria necessário aprofundado revolvimento do
contexto fático-probatório, providência incabível em recurso
especial, conforme já assentado pelo enunciado n. 7 da Súmula
desta Corte.
4. Agravo regimental improvido. (AgRg no AREsp 1013330/TO, Rel.
Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 25/09/2018,
DJe 03/10/2018)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


HOMICÍDIO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. DOLO
EVENTUAL X CULPA CONSCIENTE. COMPETÊNCIA. TRIBUNAL
DO JÚRI. INCIDÊNCIA DA LEI 12.971/14. IMPOSSIBILIDADE.
CIRCUNSTÂNCIA ATENUANTE. REDUÇÃO DA PENA-BASE
ABAIXO DO MÍNIMO LEGAL. OFENSA AO ART. 65, III, "d", DO
CÓDIGO PENAL. NÃO OCORRÊNCIA. SUMULA 231/STJ.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Uma vez verificada, na fase de pronúncia, a presença de
elemento indiciário, por menor que seja, da existência de dolo
eventual, deve o acusado ser submetido ao julgamento pelo
Tribunal de Júri.
2. Constatado pelas instâncias ordinárias que o dolo eventual
restou devidamente comprovado, "o deslinde da controvérsia sobre
Documento: 1903178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 18 de 4
Superior Tribunal de Justiça
o elemento subjetivo do crime, especificamente, se o acusado atuou
com dolo eventual ou culpa consciente, fica reservado ao Tribunal
do Júri, juiz natural da causa, onde a defesa poderá desenvolver
amplamente a tese contrária à imputação penal." (AgRg no AREsp
693.045/ES, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 17/09/2015, DJe 22/09/2015).
3. "Tendo sido reconhecido o homicídio por dolo eventual e não a
infração ao art. 302, § 2º, da Lei 9.503/97, não há que proceder à
aplicação da Lei 12.971/14" (AgRg no REsp 1.688.027/SP, Rel.
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
21/06/2018, DJe 01/08/2018).
4. "A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à
redução da pena abaixo do mínimo legal" (Súmula 231/STJ).
5. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp
1215136/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,
julgado em 04/09/2018, DJe 14/09/2018)

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. DOLO EVENTUAL. REVISÃO. SÚMULA 7/STJ.
CONTRARIEDADE AO ART. 619 DO CPP. INOCORRÊNCIA.
INCIDÊNCIA DA LEI 12.971/14. IMPOSSIBILIDADE. DECISÃO
MANTIDA. AGRAVO IMPROVIDO.
1. A decisão agravada deve ser mantida por seus próprios
fundamentos, porquanto em sintonia com a jurisprudência pacífica
do STJ.
2. Tendo o Tribunal de origem concluído que os elementos
probatórios evidenciam a prática de homicídio na condução de
veículo automotor, sob a influência de álcool, em velocidade
excessiva e mediante ultrapassagem de sinal vermelho,
circunstâncias indicativas de dolo eventual, que atrairiam a
competência do Tribunal do Júri, a desconstituição dessas
premissas exigiria revolvimento fático-probatório, o que encontra
óbice na Súmula 7/STJ.
3. A obrigatoriedade de fundamentação das decisões judiciais não
impõe ao magistrado o dever de responder a todos os
questionamentos das partes, nem de utilizar os fundamentos que
entendem elas serem os mais adequados, mas apenas aqueles
suficientes ao deslinde do processo, como ocorreu na hipótese.
4. Tendo sido reconhecido o homicídio por dolo eventual e não a
infração ao art. 302, § 2º da Lei 9.503/97, não há que proceder à
aplicação da Lei 12.971/14.
5. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1688027/SP, Rel.
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 21/06/2018,
DJe 01/08/2018)

Documento: 1903178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 19 de 4
Superior Tribunal de Justiça

No mais, afirma a defesa que, no dolo eventual, o agente não responderá


pelo resultado, mas sim pelo risco que assentiu ao iniciar a sua conduta.

Ora, o Superior Tribunal de Justiça vem entendendo que o dolo eventual não
é extraído da "mente do agente", mas das circunstâncias do fato, de forma que a ocorrência de
uma morte e de uma lesão corporal faz parte do resultado assumido pelo agente, que, sob a
influência de álcool, em alta velocidade e desrespeitando as regras de trânsito, foi o
responsável pelo fatídico acidente. Tais elementos, bem delineados na denúncia, demonstram a
antevisão do acusado a respeito do resultado assumido, justificando a imputação.

Nada obsta, portanto, que o acusado seja pronunciado por homicídio


doloso – dolo eventual –, em relação à vítima fatal e por lesão corporal dolosa, quanto à vítima
sobrevivente.

A propósito:

HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO SIMPLES E LESÃO CORPORAL


LEVE NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. WRIT
SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO.
VERIFICAÇÃO DE EVENTUAL COAÇÃO ILEGAL À LIBERDADE
DE LOCOMOÇÃO. VIABILIDADE. DOLO EVENTUAL.
PRETENSÃO DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA A FORMA
CULPOSA. PRONÚNCIA QUE ADMITIU A ACUSAÇÃO DO
PACIENTE, QUE, EM TESE, DIRIGINDO SOB A INFLUÊNCIA DE
ÁLCOOL E EM ALTA VELOCIDADE NA CONTRAMÃO DE
DIREÇÃO, VEIO A OCASIONAR A MORTE DE DUAS PESSOAS E
LESÃO CORPORAL EM OUTRA. CIRCUNSTÂNCIAS DO FATO
CAPAZES DE DEMONSTRAR A OCORRÊNCIA DO DOLO
EVENTUAL. OFENSA À INTEGRIDADE DAS VÍTIMAS QUE FAZ
PARTE DO RESULTADO ASSUMIDO PELO AGENTE. ALCANÇAR
CONCLUSÃO INVERSA. REEXAME DE PROVAS. TAREFA
RESERVADA AO CONSELHO DE SENTENÇA.
1. O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, em
recentes decisões, não admitem mais a utilização do habeas corpus
como sucedâneo do meio processual adequado, seja o recurso
próprio ou mesmo a revisão criminal, salvo em situações
excepcionais.
2. O Superior Tribunal de Justiça tem decidido que o dolo eventual
não é extraído da "mente do agente", mas das circunstâncias do
fato, de modo que a ocorrência das duas mortes e da lesão
Documento: 1903178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 20 de 4
Superior Tribunal de Justiça
corporal, ou seja, a ofensa à integridade física de três vítimas, faz
parte do resultado assumido pelo agente, que, sob a influência de
álcool e em alta velocidade, trafegou na contramão de direção.
3. No caso, tais elementos foram bem delineados na denúncia,
demonstrando-se a antevisão do acusado a respeito do resultado
assumido, sendo capaz, portanto, de justificar a imputação.
4. Alcançar conclusão inversa da estampada pelas instâncias
ordinárias, além de demandar reexame de provas, é tarefa que
compete ao Conselho de Sentença, quando do julgamento do
paciente pelo Tribunal do Júri. Precedentes.
5. Writ não conhecido. (HC 301.295/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 28/04/2015, DJe
13/05/2015)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. LESÃO


CORPORAL GRAVE E HOMICÍDIO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO
AUTOMOTOR. ART. 129, §1º, E ART. 121, CAPUT (POR DUAS
VEZES), AMBOS DO CP. ALEGADA VIOLAÇÃO AO ART. 619 DO
CPP. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
INOCORRÊNCIA. NOVA PRONÚNCIA. REFORMATIO IN PEJUS
INDIRETA E OFENSA AO PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO.
INEXISTÊNCIA. PEDIDO DE DESCLASSIFICAÇÃO CRIME DE
HOMICÍDIO CONSUMADO PARA DELITO DIVERSO DA
COMPETÊNCIA DO JÚRI. REVALORAÇÃO DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO. FATOS EXPLICITAMENTE ADMITIDOS E
DELINEADOS NO V. ACÓRDÃO PROFERIDO PELO EG.
TRIBUNAL A QUO. POSSIBILIDADE. PRONÚNCIA. DOLO
EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE. COMPETÊNCIA DO
TRIBUNAL DO JÚRI. INDEFERIMENTO DE PRODUÇÃO DE
PROVAS PARA A DEFESA (SEGUNDO MOMENTO)
ANTERIORMENTE DEFERIDAS PELO JUÍZO (PRIMEIRO
MOMENTO). APONTADA PRECLUSÃO PRO JUDICATO.
INOCORRÊNCIA. AGRAVO DESPROVIDO.
I - Não padece de vícios a decisão que, fundamentadamente,
abraça tese diversa daquela levantada pela defesa. Assim, não se
verifica, no caso, violação ao art. 619 do CPP, uma vez que o eg.
Tribunal a quo expôs, suficientemente, as razões pelas quais
entendeu por manter a decisão de pronúncia.
II - Na linha dos precedentes desta Corte, "a decisão de pronúncia,
embora não possa ser incisiva a ponto de prejudicar a defesa do
acusado no Tribunal do Júri, de forma a influir no ânimo dos
jurados, não pode se limitar a repetir simplesmente os termos da
denúncia, como ocorreu no caso dos autos" (PExt no HC n.
130.429/CE, Quinta Turma, Rel. Ministro Reynaldo Soares da
Fonseca, DJe de 21/10/2015, grifei).
III - Na espécie, a pronúncia primeva foi cassada, abrindo espaço
Documento: 1903178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 21 de 4
Superior Tribunal de Justiça
para a prolação de uma nova decisão. Essa nova decisão, desde
que proferida dentro do espectro cognitivo típico de uma decisão
interlocutória do jaez da pronúncia, autoriza o julgador a decidir
com base na denúncia, sem olvidar, outrossim, do que foi colhido
na instrução - desde que não seja a hipótese de mutatio libelli,
como no caso vertente - não se limitando simplesmente a repetir os
mesmos termos da denúncia (doutrina e precedentes), razão pela
qual não há falar em reformatio in peius indireta e ofensa ao
princípio da correlação.
IV - A revaloração da prova ou de dados explicitamente admitidos e
delineados no decisório recorrido, quando suficientes para a
solução da quaestio, não implica o vedado reexame do material de
conhecimento. Os elementos probatórios delineados no v. acórdão
increpado são suficientes à análise do pedido, exigindo, tão
somente, uma revaloração de tais elementos, o que, ao contrário,
admite-se na via extraordinária.
V - Não se pode generalizar a exclusão do dolo eventual em delitos
praticados no trânsito. Na hipótese, em se tratando de pronúncia, a
desclassificação da modalidade dolosa de homicídio para a culposa
deve ser calcada em prova por demais sólida. No iudicium
accusationis, inclusive, a eventual dúvida não favorece o acusado,
incidindo, aí, a regra exposta na velha parêmia in dubio pro
societate.
VI - O dolo eventual, na prática, não é extraído da mente do autor
mas, isto sim, das circunstâncias. Nele, não se exige que o resultado
seja aceito como tal, o que seria adequado ao dolo direto, mas isto
sim, que a aceitação se mostre no plano do possível, provável.
VII - "A desclassificação da infração penal de homicídio tentado
qualificado para lesão corporal leve só seria admissível se
nenhuma dúvida houvesse quanto à inexistência de dolo. Havendo
grau de certeza razoável, isso é fator o bastante para que seja
remetida ao Conselho de Sentença a matéria, sob pena de
desrespeito à competência ditada pela Constituição Federal" (AgRg
no AgRg no REsp n. 1.313.940/SP, Sexta Turma, Relª. Ministra
Maria Thereza de Assis Moura, DJe de 30/4/2013, grifei).
(Precedentes do STF e do STJ).
VIII - A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça tem firme
entendimento no sentido de que em matéria de instrução probatória
não há se falar em preclusão pro judicato, isto porque o princípio
do livre convencimento motivado, como fundamento principiológico
da etapa probatória do processo penal, pelo dinamismo a ele
inerente, afasta o sistema da preclusão dos poderes instrutórios do
juiz.
IX - "O fato de a juíza sentenciante ter julgado a lide, entendendo
desnecessária a produção de nova prova pericial anteriormente
deferida, não implica preclusão "pro judicato", pois, em questões

Documento: 1903178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 22 de 4
Superior Tribunal de Justiça
probatórias, não há preclusão para o magistrado" (AgRg no REsp
n. 1.212.492/MG, Quarta Turma, Rel. Ministra Maria Isabel
Gallotti, DJe de 2/5/2014, grifei).
Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1579818/SC, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 27/06/2017,
DJe 01/08/2017)

c.2) Da absoluta desconsideração novatio legis in mellius – Lei n.


13.546/2017. Necessidade de reforma da decisão agravada. Argumento defensivo não
apreciado.

c.3) Do dissídio jurisprudencial: Incerteza quanto a ocorrência de


crime de competência do Tribunal de Júri – tese não analisada.

O inconformismo da defesa, no sentido de que a novatio legis in mellius e


dissídio jurisprudencial não foram analisados, em nada altera a conclusão do julgado.

Isto porque prevalece no Superior Tribunal de Justiça o entendimento no


sentido de que "o julgador não é obrigado a rebater cada um dos argumentos aventados pela
defesa ao proferir decisão no processo, bastando que pela motivação apresentada seja
possível aferir as razões pelas quais acolheu ou rejeitou as pretensões da parte" (AgRg no
AREsp n. 1.009.720/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Quinta Turma, julgado em
25/4/2017, DJe 5/5/2017).

O agravante argumenta que a Lei n. 13.546/2017 deu nova disciplina aos


crimes de trânsito, criando hipótese típica e específica de homicídio culposo na direção de
veículo automotor quando supostamente há embriaguez.

Com efeito, a Lei n. 13.546 de 19/12/2017 alterou dispositivos do Código


de Trânsito Brasileiro, assim dispondo sobre crimes cometidos na direção de veículos
automotores, no que interessa.

Art. 3º. O art. 302 da Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997


(Código de Trânsito Brasileiro), passa a vigorar acrescido do
seguinte §3º.
§3º Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de
álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine
dependência:
Documento: 1903178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 23 de 4
Superior Tribunal de Justiça
Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do
direito de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor.

Ora, o art. 302 do CTB define o delito de homicídio culposo na direção de


veículo automotor. O §3º acrescido pela Lei n. 11.546/2017 apenas previu que, se o agente,
por ocasião do acidente, estiver sob influência de álcool ou outra substância psicoativa, a pena
será mais grave – 5 a 8 anos de reclusão.

Não significa, por isso, dizer que aqueles que dirigiam embriagados ou sob
efeito de substâncias psicoativas e se envolveram em homicídio no trânsito (dolo eventual)
tenham que, de pronto, ser beneficiado com a desclassificação do delito para a modalidade
culposa.

Ademais, na hipótese, de acordo com os autos, o acusado, além de


embriagado, dirigia em velocidade incompatível com a via de tráfego, ultrapassando em muito
o limite permitido, tendo as instâncias ordinárias entendido que assumiu o risco de produzir o
resultado morte, impondo-se a submissão ao Tribunal do Júri, juízo natural da causa.

Finalmente, a análise da alegada divergência jurisprudencial está prejudicada,


pois a suposta dissonância aborda a mesma tese que amparou o recurso pela alínea "a" do
permissivo constitucional, e cujo julgamento esbarrou no óbice do Enunciado n. 7 da Súmula
deste Tribunal.

Nesse sentido:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL. ESTELIONATO. ART. 171, § 3º, DO
CÓDIGO PENAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
NÃO OCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE DOLO E ERRO DE
PROIBIÇÃO. REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. INVIABILIDADE DA
ANÁLISE DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. AGRAVO
IMPROVIDO.
1. Ausente a apontada negativa de prestação jurisdicional, na
medida em que voto condutor do acórdão apreciou,
fundamentadamente, todas as questões necessárias à solução da
controvérsia, não havendo falar em violação ao art. 619 do CPP.

Documento: 1903178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 24 de 4
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2. Tendo a Corte de origem, soberana na apreciação da matéria
fático-probatória, concluído que as condutas imputadas ao
recorrente caracterizam o tipo previsto no art. 171, § 3º, do CP,
porque comprovadas a materialidade e autoria do delito, bem como
o dolo, o exame da pretensão de absolvição encontra óbice na
Súmula 7/STJ.
3. Conforme a jurisprudência desta Corte, a incidência da Súmula
7/STJ impede o exame do dissídio jurisprudencial aventado nas
razões do apelo nobre.
4. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1532799/SC, Rel.
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 22/03/2018,
DJe 03/04/2018)

Diante do exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É como voto.

Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA


Relator

Documento: 1903178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 25 de 4
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2017/0236905-7 PROCESSO ELETRÔNICO AREsp 1.166.037 /
PB
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00010700520168150000 10700520168150000

EM MESA JULGADO: 17/12/2019

Relator
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RIBEIRO DANTAS
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MÁRIO FERREIRA LEITE
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
AGRAVANTE : JOÃO PAULO BARBALHO INÁCIO DA SILVA
ADVOGADOS : TICIANO FIGUEIREDO DE OLIVEIRA - DF023870
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO - DF023944
LINDBERG CARNEIRO TELES ARAÚJO E OUTRO(S) - PB017922
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA PARAÍBA

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a vida - Homicídio Simples

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : JOÃO PAULO BARBALHO INÁCIO DA SILVA
ADVOGADOS : TICIANO FIGUEIREDO DE OLIVEIRA - DF023870
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO - DF023944
LINDBERG CARNEIRO TELES ARAÚJO E OUTRO(S) - PB017922
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA PARAÍBA

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental."
Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik, Leopoldo de Arruda Raposo
(Desembargador convocado do TJ/PE) e Jorge Mussi votaram com o Sr. Ministro Relator.

Documento: 1903178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 26 de 4

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