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TÉCNICAS DE TOMADA DE NOTAS
Orlando Bahule2

A tomada de notas assenta em duas dimensões de comunicação linguística: a dimensão


receptivo (ouvir e/ou ler) e a produtiva (escrever). Há que tomar nota do que lemos e do
que ouvimos em exposições, entrevistas, aulas, debates, para delas nos servirmos
posteriormente.

1. Conceitos de tomada de nota


São inúmeras as concepções sobre a tomada de notas:
• Modo particularmente fiável de arquivo das informações ;
• Prolongamento da memória ao mundo visual;
• Exercício mental extremamente formador: é indispensável um esforço intelectual;
• Redução do texto, seleccionando, de forma sintética, determinadas informações
de um texto (oral ou escrito), mantendo o seu sentido inicial;
• Treino para reconhecer as ideias – força do pensamento de outrem.

Destes conceitos, destaca-se a necessidade de raciocínio/reflexão (para compreender
as ideais veiculadas pelo enunciador) e de arquivo de informações num suporte
material (o escrito).

2. Finalidades da tomada de notas


De acordo com o objectivo do que se anota e de quem faz as anotações, a tomada de
notas pode ter uma das seguintes finalidades:
• Reunir uma documentação sólida sobre um determinado assunto a partir dos
registos dos assuntos mais relevantes em determinados documentos;
• Remediar os lapsos da memória, fixando as informações essenciais dos textos que
lemos ou ouvimos;
• Seleccionar e arquivar as informações de um texto básico;
• Retransmitir o conteúdo de um texto de maneira tão completa e fiel quanto
possível;
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• Transmitir um conjunto de informações, preservando integralmente o sentido da
mensagem original, numa formulação mais económica;
• Base para a redacção de resumo (entendido como a reescrita de um texto, usando
construção sintáctica e vocábulos novos e uma estrutura menos complexa que a do texto
original, de tal modo que se possa captar a essência do texto original), relatórios…

3. Procedimentos
A tomada de notas é precedida de uma percepção da coerência semântica e sintáctica do
conjunto de palavras. Os conectivos ajudam o leitor/ouvinte a seguir o fio do discurso.
Esses conectivos podem ser lógicos, pronomes (com função anafórica), repetição de
palavras, nominalizações e expressões de transição (exemplificação, contraste,
conclusão, etc.).

3.1. Tomada de notas a partir do material escrito


Apresentamos alguns procedimentos que podem ser úteis para anotações a partir do
suporte escrito:
• (Re)ler o texto, sublinhar e escrever à margem as siglas correspondentes: usar
siglas para sublinhar a importância das informações (p. ex.: IMP (importante); CIT
(citar); R (rever/reler); CF (confrontar.) e sublinhar de forma criteriosa (diferenciar os
sublinhados, as cores. Esta prática serve para assinalar as pistas do que é interessante e
permite a detecção dos aspectos importantes, volvido muito tempo. No entanto, nem
sempre é possível ou aconselhável sublinhar o escrito: o livro não é da nossa propriedade;
a obra é uma preciosidade; o livro poderá ser emprestado a colegas…
• Produzir fichas (de leitura, de citação…);
• Fazer pequenos resumos: frases, com sujeito, verbo e complementos;
• Recorrer a palavras-chave: as ideias aparecem de modo esquemático, usando-se
setas ou outros sinais;
• Produzir mapas de ideias: demonstração gráfica das correspondências e
hierarquias entre as palavras. Usam-se esquemas e/ou palavras-chave.

3.2. Tomada de notas a partir de discursos orais


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A mensagem do discurso oral passa rapidamente é não se deve interromper o orador.
Esta situação exige do receptor a assunção de determinadas habilidades e procedimentos
diversos. Eis alguma propostas:
• Apontar o maior número de coisas possíveis no mínimo espaço de tempo, o que
requer não anotar frases inteiras ou frases textuais;
• Assentar o que é útil ou necessário reter: palavras-chave, conclusões parciais e
gerais;
• Anotar as informações com exactidão, respeitando o que se diz, com recurso ao
estilo telegráfico (frases curtas e sem verbos, abreviaturas, símbolos e
esquematizações).

3.2.1. Constrangimentos na tomada de notas a partir de textos orais


Como se pode depreender, a tomada de notas não é tarefa fácil.
• Para uns, custa escutar e/ou ler (em caso de data show) e escrever ao mesmo
tempo.
• Há os que nem chegam a tomar notas (se o fazem, são poucas notas), porque não
conseguem acompanhar a exposição.
• Outros ainda querem anotar tudo e falham, perdem-se.
• Há quem apenas anota as informações com que está de acordo.

O que anotar depende, muitas vezes, de factores como:


• Assunto: o desconhecimento/conhecimento do assunto concorre para a
quantidade de anotações;
• Orador: o estilo do orador, a velocidade do discurso pode ou não facilitar o
acompanhamento da exposição;
• Receptor: a disposição mental, a atenção e a capacidade de análise e síntese
influenciam na tomada de notas;
• Objectivo: a quantidade de notas depende do que se pretende com essas notas
(compare as notas tomadas na sala de aula com as que obteve num debate…).

3.2.2. Técnicas de escrita acelerada


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Perante a dificuldade/impossibilidade de anotar tudo o que é dito, há que ter atenção nos
seguintes aspectos:
• Tom de voz;
• Palavras/frases que chamem atenção;
• Repetição de ideias;
• Tempo dedicado a cada assunto;
• Registos feitos no quadro;
• Indicações expressas pelo orador.

No acto de registo, é conveniente observar as seguintes práticas:


- Supressão de palavras (p.e. artigos, preposições, verbos: ser, dever, ter, estar…)
(Ex.: As línguas bantu são aglutinantes: LB = aglutinantes);
- Supressão por nominalização de expressões (ex.: falha de memória = esquecimento), de
verbos ( ex.: O Carlos adquiriu um propriedade: aquisição propriedade);
- Codificação de palavras, com recurso a símbolos, Sinais…
(Ex.: homem: ♂ ; trabalho: w ; muito: x;)
- Generalização: com recurso a hiperónimos.
(Ex.: comprei livros, cadernos, sebentas, esferográficas = compra de material escolar);
- Ordenação de diferentes partes do discurso, atribuindo um número (Ex.: para começar
(1), segue-se (2), finalmente (3));
- Abreviaturas: reduções, consagradas pelo uso, de palavras ou grupo de palavras, embora
possamos criar as nossas abreviaturas. (Ex.: páginas: pp., problemas = prbls,
desenvolvimento = dsv.)

Uma vez que as notas são de carácter pessoal, cabe ao receptor seleccionar estratégia (s)
de tomada de nota, tais como:
• Estilo telegráfico: desaparecem as relações de significação entre as palavras,
recorrendo-se a travessões, letras, palavras, números…)
(Ex.: crítica histórica: literatura e correntes literárias ↔ obra; Registou-se acidente de
viação hoje: acidente viação hoje).
Sem uma leitura imediata das notas, perde-se o sentido do que se disse.
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• Estilo de frases completas: conserva o sentido do texto, mas requer muito
tempo. Um dos riscos é a escrita ilegível ou perda de partes significativas do
discurso, na angústia de anotar tudo;
• Estilo de sinais simbólicos: recorre-se aos nexos entre as partes que constituem o
sentido do discurso (relações de implicação, de oposição, de causa-efeito, de
conclusão …)
Ex.: A mortalidade infantil deve-se à miséria de muitas famílias e à falta de cuidados de
saúde.
Mortalidade infantil → miséria + – cuidados de saúde).

4. Conclusão
Na tomada de notas é possível combinarem-se vários estilos.
Uma tomada de notas eficiente adquire-se com a prática: deve-se exercitar estas práticas
não só na aula mas ainda nos debates e nas exposições…
- Depois de anotações, devemos passar os apontamentos a limpo num curto espaço de
tempo.
A produção de um resumo depende da qualidade e quantidade das notas tomadas.
A simples posse das fotocópias não substitui a leitura, por isso deve-se fazer anotações
sobre ou nesse material.

1 Palestra apresentada na UP, sob organização do CEPE-NEPOCULI, aos 17 de Outubro


de 2008
2 Assistente Universitátio no Departamento de Português, Faculdade de Línguas.
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Bibliografia

CUNHA, Dalila. O Resumo (Texto de apoio). ISPU, 2000.

ECO, Umberto. Como se faz uma tese em Ciências Humanas, 9ª Edição, Ed. Presença,
Lisboa, 2002.

JÚNIOR, Ernesto, SIMÃO, Jerónimo, SANTOS, Nobre, BAHULE, Orlando. Técnicas


de Expressão em Língua Portuguesa. CEAD, UP, 2007.

MAVALE, Cecília. Tomada de notas (Texto de apoio). UP, 1977.

SERAFINI, Maria Teresa. Como se faz um trabalho escolar, 4ª Edição. Ed. Presença,

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