Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Diretoria
Presidente | Elisa Zaneratto Rosa
Vice-presidente | Adriana Eiko Matsumoto
Secretário | José Agnaldo Gomes
Tesoureiro | Guilherme Luz Fenerich
Conselheiros
Alacir Villa Valle Cruces; Aristeu Bertelli da Silva; Bruno
Simões Gonçalves; Camila Teodoro Godinho; Dario
Henrique Teófilo Schezzi; Gabriela Gramkow; Graça Maria
de Carvalho Camara; Gustavo de Lima Bernardes Sales;
Ilana Mountian; Janaína Leslão Garcia; Joari Aparecido
Soares de Carvalho; Livia Gonsalves Toledo; Luis Fernando
de Oliveira Saraiva; Luiz Eduardo Valiengo Berni; Maria das
Graças Mazarin de Araujo; Maria Ermínia Ciliberti; Marília
Capponi; Mirnamar Pinto da Fonseca Pagliuso; Moacyr
Miniussi Bertolino Neto; Regiane Aparecida Piva; Sandra
Elena Spósito; Sergio Augusto Garcia Junior; Silvio Yasui
Organização do caderno
Paulo Paranhos
Revisão ortográfica
Paulo Paranhos | Vírgula & Crase
___________________________________________________________________________
C755c Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.
Psicologia do Esporte: Contribuições para a atuação profissional.
Conselho Regional dePsicologia de São Paulo. - São Paulo: CRP SP,
2016.
178p.; 21x28cm.(Cadernos Temáticos CRP SP)
ISBN: 978-85-60405-37-4
CDD 158.2
__________________________________________________________________________
Ficha catalográfica elaborada por Marcos Antonio de Toledo – CRB-8/8396.
Cadernos Temáticos do CRP SP
Desde 2007, o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo inclui, en-
tre as ações permanentes da gestão, a publicação da série Cadernos Temáti-
cos do CRP SP, visando registrar e divulgar os debates realizados no Conselho
em diversos campos de atuação da Psicologia.
07 Apresentação
09 Parte 1
Abertura e agradecimentos
12 Yan Cintra
13 Fernanda Magano
19 Flávio de Campos
28 Michel Mattar
38 Debates
Bom dia a todas e todos, gostaria de agradecer a aos membros do Núcleo de Psicologia do Esporte,
presença de vocês nesta manhã gelada; dizer que é muito obrigado pela parceria e por todo trabalho
um momento muito importante para o Conselho Re- que a gente vem desempenhando junto ao Núcleo.
gional de Psicologia de São Paulo a ii Mostra de Prá- Falar da diversidade da Psicologia enquanto campo
ticas em Psicologia do Esporte. Meu nome é Camila científico, é falar também das diversas áreas que
Teodoro. Como vocês podem ver, no momento con- possibilitam um exercício profissional de psicólogas
selheira do Conselho Regional de Psicologia de São e psicólogos. A Psicologia do Esporte ainda é pouco
Paulo, coordenadora da subsede do Grande ABC e reconhecida por nossa sociedade, porém, já é uma
também estou coordenando o Núcleo de Psicologia área construída e constituída na Psicologia. Ela está
do Esporte. Para compor a mesa, então, gostaria de em constante desenvolvimento. Acho que é dife-
convidar Yan Cintra que é representante da Associa- rente de alguns anos atrás, quando falávamos que
ção Brasileira de Psicologia do Esporte (ABRAPESP). a Psicologia do Esporte “está em ascensão ou está
Fernanda Magano que é presidente da Federação em construção”. Não. Acho que a Psicologia do Es-
Nacional dos Psicólogos (FENAPSi), tesoureira do porte está sendo construída, já mostra certo desen-
Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo, volvimento e precisa crescer ainda mais no que diz
psicóloga na Coordenadoria de Saúde, na Secretaria respeito ao campo científico e na realização de pes-
Bom dia a todos. Meu nome é Yan Cintra; faço riados na Psicologia, em especial na Psicologia
parte da atual diretoria da Associação Brasilei- do Esporte; temos como base a Carta internacio-
ra de Psicologia do Esporte - ABRAPESP; é um nal da Educação Física e do Esporte da Unesco.
prazer para mim estar aqui representando a E ela considera que a prática da educação física
Associação nesta Segunda Mostra estadual de e do esporte é direito fundamental ao longo da
práticas em Psicologia do Esporte. A ABRAPESP vida. Acredito que já é hora de discutirmos os te-
apoia este evento, e também faz parte do Núcleo mas propostos deste evento e também dar mais
de Psicologia do Esporte do Conselho Regional voz ativa aos protagonistas do movimento, ou
de Psicologia de São Paulo. Nosso agradecimen- seja, os profissionais e estudantes das ciência e
to especial à Camila Teodoro, líder e conselheira do esporte, os atletas profissionais e amadores,
deste Núcleo de Psicologia do Esporte; aos pa- os praticantes de atividade física de um modo
lestrantes que aceitaram o convite de participar geral. Então, espero que todos aproveitem bem o
do evento e a todos vocês aqui presentes. O mo- evento; possam criar, contribuir, compartilhar de
vimento humano se apresenta em contextos va- alguma forma. Muito obrigado.
Fernanda Magano 13
Presidente da Federação Nacional dos
“A minha relação de estar aqui
Psicólogos; Tesoureira do Sindicato também é para pensarmos essa
dos Psicólogos no Estado de São
Paulo; Psicóloga na Coordenadoria de perspectiva na lógica de um mundo
Saúde na Secretaria de Administração
Penitenciária de São Paulo.
sindical: o quanto a gente precisa
Bom dia a todos e a todas; agradeço aqui nas pesso- Depois, enquanto ciência e estudos e cons-
as da Camila e do Luís esta oportunidade; agradeço trução mesmo desse conhecimento teórico para a
ao Yan por vir representar a ABRAPESP e à Luciana realidade brasileira, de 1980 para a frente, temos no
por representar aqui o Grupo de Trabalho do Conse- início dos anos 2000 a construção do título de es-
lho Federal de Psicologia, e todo trabalho que já cons- pecialista, quando a Psicologia do Esporte se con-
truiu também no decorrer desses tempos na própria sagra como uma das áreas para titulação de espe-
ABRAPESP e no próprio Regional de Psicologia, nas cialistas. E de lá para cá, vai avançando nas suas
publicações e em toda uma construção mesmo. Dizer especialidades, fato que esta mostra então deta-
que é importante marcar que a ABRAPESP faz par- lhará bastante bem para cada um de nós. A minha
te do Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia – relação de estar aqui também é para pensarmos
FENPB - que, inclusive, discute, compartilha, traça as essa perspectiva na lógica de um mundo sindical:
ações e políticas conjuntas para pensar a Psicologia o quanto a gente precisa avançar para consolidar
como um todo, e trata então, da especificidade da a Psicologia do Esporte como um mercado de tra-
Bom dia a todos. Primeiramente, agradeço o con- São instituições centenárias, enfim. isso tem
vite para participar da mesa e desse debate. Pa- uma interface histórica e uma razão de ser. Mas
rabenizo o Conselho pela iniciativa. Na verdade, de qualquer forma, uma maneira muito mais prag-
a minha abordagem é uma abordagem bastante mática, como o profissional, a atividade do psicó-
pragmática. Em relação a como a Psicologia do logo e o profissional ele se encaixa nisso. Quais
Esporte pode se aplicar hoje dentro das organiza- são os dilemas, o que eventualmente pode ser
ções. É uma abordagem, uma reflexão na verdade aprimorado, enfim, discutido, principalmente por-
que proponho e acho que depois a interação com que estamos aqui no Conselho com uma série de
vocês talvez seja ainda mais rica. Essa reflexão par- cabeças pensantes e lideranças, enfim, na área;
te fundamentalmente de uma análise conjuntural. que tipo de proposta, que tipo de reflexão deve ser
Quer dizer, como estão caracterizadas as nossas feita para que a atividade, enfim, atinja níveis ain-
organizações esportivas, instituições do esporte da mais profundos dentro do dia a dia dos clubes,
em geral e em função disso (e talvez o professor das federações. E evidentemente para mim, que
fale, pudesse em outro momento até) as razões his- não sou psicólogo e não estou no dia a dia dessas
tóricas que justificam e que, enfim, acabam justifi- reflexões, é realmente uma satisfação; primeiro a
cando a formação dessas organizações da maneira quantidade de pessoas que estão aqui, mas fun-
que elas são, porque realmente existe uma, aliás, é damentalmente em função da exposição inicial
muito interessante essa questão da relação espor- da primeira mesa, ter-se pelo menos uma noção
te com a sociedade porque está presente em tudo. inicial da quantidade de pessoas que estão re-
Eu já havia feito alguns cursos também na parte re- fletindo sobre o tema, grupos formados nas mais
lativa a Esporte e Sociologia e isso explica quase diversas partes do Brasil, refletindo sobre isso e
tudo. Muito embora hoje a gente tenda a simplificar aquilo; dá muita satisfação e dá uma perspectiva
as análises, realmente a História acaba explicando diferente para a área, através de conhecimento
muito das questões do dia a dia das organizações, científico, através da interface dessas pessoas
de como elas foram formadas. E fundamentalmen- com a prática, com os clubes, com as federações,
te, então, eu imagino que claro que há uma razão, com o poder público, enfim, então realmente isso
estamos falando de instituições, principalmente é bastante gratificante e dá uma perspectiva di-
das mais tradicionais do Brasil. ferente. Porém, e aí talvez estou agindo um pou-
quinho como advogado do diabo, muito embora eu
não goste de fazer essa função, mas sob a ótica
geral, sob a ótica de quem não está na prática da
“Na verdade, a minha abordagem Psicologia, é importante dizer que dentro dessas
é uma abordagem bastante instituições a percepção que reina é de um redu-
pragmática. Em relação a como cionismo da atividade. Reducionismo da atividade
muito mais voltada para o campo, para a quadra,
a Psicologia do Esporte pode para a parte técnica. E aí eu acho que é uma gran-
se aplicar hoje dentro das de proposta que a gente tem que fazer em termos
organizações”. de reflexão, de entender isso e de como, de repen-
acarreta. Por outro lado, o setor em si, de esporte,
29
“Sob a ótica geral, sob a ótica e vamos falar especificamente da área de negó-
cios do esporte, enfim, mercado, tem demandado
de quem não está na prática da dessas instituições um tipo muito mais profundo,
Psicologia, é importante dizer muito mais qualificado de intervenção. Então, ve-
que dentro dessas instituições jam o dilema que os dirigentes dessas instituições
vivem hoje. Eles têm, por um lado, uma estrutura
Bom dia. Primeiramente agradeço o convite do da Psicologia nesses quinze anos que eu tive de
Conselho Regional de Psicologia, é um prazer estar São Paulo; nos dois de Barueri e nesses 30 dias
aqui com vocês, e também parabenizar o Conselho que eu tenho hoje de ituano Futebol Clube. Hoje
pela atitude, e parabenizar quem teve a ideia de sou o gerente de futebol do ituano, um clube mo-
nos colocar aqui à frente. Então, vou tentar colocar desto, com uma gestão bem profissional, que vai
alguns tópicos que anotei. dar bastante fruto na frente. E finalizar com alguns
casos dentro dessa linha do tempo com as coisas
que aconteceram, aproveitando os exemplos do
“Qualquer grande empresa que professor Flávio, do Michel e um pouquinho do que
eu vou dizer aqui.
tenha hoje uma receita anual de
mais de um milhão de reais tem
um setor de metodologia que “Futebol é aquela coisa do QI, que
pensa no clube”. só é indicado quem entra para
trabalhar aquele que é amigo do
São cinco, desde a minha apresentação, de conselheiro, do técnico, ou que for
como eu comecei, até onde eu cheguei, e dentro
um ex-jogador”.
dessa apresentação, nessa linha do tempo, colo-
car as outras questões que seriam o que é o clube
de futebol, o que é o futebol, o que é uma metodo- Então, primeiramente comecei como prepara-
logia, porque hoje infelizmente nenhum clube pos- dor físico em 2001, uma coisa inédita dentro do São
sui uma metodologia aplicada, e na verdade defi- Paulo que tinha um plano de estágio dentro da Uni-
nida - muito menos aplicada. Mas nem a definição versidade de São Paulo com seleção, com algo que
de metodologia os clubes hoje possuem. Qualquer eu nunca imaginei que iria encontrar no futebol. Fu-
grande empresa que tenha hoje uma receita anual tebol é aquela coisa do Qi, que só é indicado quem
de mais de um milhão de reais tem um setor de entra para trabalhar aquele que é amigo do conse-
metodologia que pensa no clube. Os clubes hoje lheiro, do técnico, ou que for um ex-jogador. Sem uma
têm montantes aí de 300, 400 milhões/ano, nin- capacitação, ele já entra no mercado e começa a tra-
guém se preocupa com planejamento estratégico, balhar com uma coisa tão importante e delicada que
com o método que é aplicado, entre outras áreas, e é uma categoria de base. E dentro desse caminho eu
a Psicologia faz parte da metodologia, e na minha percorri todas as categorias, como preparador físico,
opinião é o fundamental no processo das áreas- depois como fisiologista e, num determinado mo-
meio para que se chegue ao fim, que é o futebol. mento com certo sucesso nas duas áreas, fui con-
Dessas áreas-meio, a Psicologia é uma delas, só vidado para um projeto bem interessante, que era o
que tem que ter uma atuação total em todas elas. Grêmio Barueri e ambos os gestores que lá estavam
E ela faz parte delas, só que infelizmente ninguém deram-me a oportunidade para fazer a coordenação
aproveita. Passar também a visão hoje da atuação no clube. Abro aqui parênteses para falar sobre a pa-
lavra “gestão”, que não existe no futebol. Digo, a vo- Quando eu falar na metodologia citarei sobre
33
cês que desde 2001, não digo hoje, mas está come- a forma de jogar, pois ela tem tudo a ver com o
çando a melhorar mais, mas até 2008, 2009 não havia que o Flávio narrou aqui; a forma de gerir também
gestão num clube, a gestão era totalmente amadora; tem tudo a ver com a parte que o Flávio comen-
é aquele indicado para fazer um tipo de gestão que tou. A história da instituição tem que estar acima
está de acordo com o presidente, que também não de tudo, e ela tem que ser preservada, modifica-
está de acordo com todo o contexto do clube. Bom da aos poucos culturalmente com a presença de
Michel Mattar: Só aproveitando o “gancho”, para Não identificado: Eu trabalho com Psicologia do
ilustrar para vocês: quando falo que faltam estí- Esporte, voltada para a área do esporte para pes-
mulos externos, o estímulo que a gente tem hoje é soas com deficiência. Gostaria de saber do Michel
totalmente oposto, o estímulo (o José Aníbal bem e do Flávio, talvez por uma contextualização his-
colocou), a formação 10, 15 anos, enfim, o estímu- tórica, por que para o desporto no país, de acordo
lo que você tem hoje. Se eu tenho um contrato de com o iBGE, com 25% da população apresentando
um atleta de 5 anos que assinei com 16 anos, ou características para a deficiência, ainda os deixa-
enfim, eu quero que esse atleta seja maduro com ram de lado, quando a gente discute políticas pú-
19, 20 anos para poder vender. É o estímulo contrá- blicas, quando a gente discute até mesmo eventos
rio que nós temos hoje. E aqui não estou dizendo como esse, a questão do paradesporto, o que falta
que sou contra o mecanismo econômico, nem nada. na questão de proporcionar melhor qualidade para
Eu só estou reforçando que o estímulo que o indiví- esses profissionais, e se tem algum viés histórico,
duo recebe hoje ou seja pela pressão da imprensa, também, a questão da pessoa com deficiência ser
ou pela pressão da torcida, então fica muito difícil sempre deixada de lado, discriminada.
essa questão da ausência de objetivos, que é fun-
damental, quer dizer, qual que é o objetivo de uma Michel Mattar: Eu tenho uma visão muito pragmá-
formação? É você formar atletas para a sua cate- tica com relação a isso, da maneira como o Flávio
goria profissional, é você formar atletas para ven- já colocou desde o início - e a gente vai reforçando
der na categoria de base, ou é você ganhar títulos isso - vivemos num país muito esportivo. E imagino
em qualquer uma das categorias? Se você não tiver que a gente só consegue desenvolver as modalida-
isso muito bem mapeado e disseminado na cultura des no contexto atual, no esporte enquanto negó-
da organização, ou do próprio setor como um todo, cio, que tem demanda econômica, porque você tem
isso é canibalismo, aí você gera esse tipo de situa- duas formas de financiar: ou você vai financiar com
ção que o Marcelo mencionou; então, a métrica, qual capital privado, ou você vai financiar por iniciativas
a métrica? Você não tem métrica, a métrica é se eu públicas. Certo?
lantropia, e são diferentes; um indivíduo hoje que
43
“O capital privado vai para uma entra com um capital privado, ele espera ter al-
modalidade, pois são raras as gum tipo de retorno, seja diretamente econômico,
seja com retorno de imagem, enfim, outros tipos
exceções de algumas outras de benefícios. Quando você já vai para uma ini-
modalidades, às vezes um voleibol, ciativa de benevolência, por exemplo, aí você faz
um basquete, alguma coisa, ou uma doação e hoje você até tem leis de incentivo
Primeiro queria agradecer o convite do CRP SP para no nosso projeto quando a gente resolve ter uma
falar aqui. A gente começa a ficar velho e começa parceria com o instituto de Psicologia, 1996, 1997,
a contar os anos, não é? Eu estou há 20 anos atu- talvez, e hoje é uma prática mais ou menos comum
ando na área de esporte, há 20 anos como uma encontrarmos muitos psicólogos atuando em pro-
das coordenadoras do Programa Desenvolvimento jetos sociais, mais até do que imaginamos. Enfim,
Humano por Esporte da Universidade de São Pau- vamos começar. A ideia é não partir da Psicologia
lo. Não comecei como coordenadora de esporte, do Esporte em si, mas provocar vocês. Como eu es-
obviamente, comecei como assistente técnica de tou mergulhada em um processo de construção de
basquetebol em um projeto que praticava especia- um do novo Sistema Nacional de Esporte, acho que
lização precoce, selecionava crianças de 10 anos isso é bastante relevante para a nossa discussão
para saber quem deveria ou não ficar no projeto. hoje. Eu trouxe uma apresentação tipo quiz, são
E ao longo desses 20 anos a Psicologia do Espor- perguntas que vocês vão ter que responder comigo
te foi uma área que me ajudou a entender o meu para fazermos um aquecimento para as duas ou-
papel como profissional de esporte, como técnica tras apresentações da mesa e para pegar firme na
e mais tarde como gestora esportiva. Tem gente discussão. Qual a visão de esporte que temos no
que me conhece também do curso de especializa- Brasil? Quem me ajuda? O que é o esporte no Brasil,
ção em Psicologia do Esporte do SEDES, porque como é que ele é visto? Vocês que trabalham com
também tenho atuado como docente em cursos esporte, estudam esporte, ou querem atuar com
de especialização; fui docente universitária res- esporte, como é que o esporte é visto e entendido?
ponsável por disciplinas de Psicologia do Esporte, Certo, chegou chegando Marisa: futebol! Alguém
então, tenho passeado por essa área. Quando me dá mais? O esporte de alto rendimento. Quem está
formei em esporte pensei em fazer Psicologia, mas falando? Negócio. Que mais? Política do pão e cir-
achei que era mais fácil casar com um psicólogo, co. Tem alguma visão um pouco mais positiva, ou
e foi isso que eu fiz! Alguns de vocês conheceram não? Por que vocês querem trabalhar nessa área
o José Aníbal, que é meu marido, também há qua- se é um negócio, se é somente futebol, e somente
se 20 anos juntos! O que eu trouxe para vocês é voltada para o esporte de alto rendimento? O que o
um pouco das reflexões e do que pude aprender psicólogo tem a fazer lá? Prazer. Que mais? Alguém
nesses 20 anos, não sozinha, pois muito do que já leu a “Lei Pelé”? Vocês têm um monte de dicas
a gente construiu no Programa Desenvolvimento de estudo e visitas de sites para vocês. Vamos
Humano pelo Esporte, que é o antigo projeto “Es- lá! Como é que o esporte era visto no século XX?
porte Talento” fundado pelo instituto Ayrton Senna Vamos fazer uma retrospectiva histórica, quando
em 1985, como primeiro projeto do instituto depois pensamos em século XX, alguns de vocês já tinham
derivou para o Programa Educação pelo Esporte, nascido e já estavam estudando, atuando, traba-
muitas das coisas que se faz hoje no terceiro se- lhando, o que é o esporte no século XX? Mais ou
tor. Quem aqui trabalha em ONG? Quem já traba- menos isso que vocês estão falando, não é? Temos
lhou em ONG? Então, por exemplo, a possibilidade o esporte moderno emergindo fortemente, talvez
de pensarmos em psicólogo do esporte atuar no vocês tenham visto um pouquinho disso de manhã
terceiro setor, atuar em projetos sociais, começa lá na primeira mesa sobre história.
dimento, quase 30 anos depois da promulgação
47
“Acho que é muito simples a gente da Constituição, vemos que há algo errado nessa
história. Porque já estamos chegando em 30 anos
falar do futebol, culpar o futebol, que o esporte é um direito constitucional, direito
e falar que o esporte no Brasil de todo cidadão brasileiro. É efetivado ou não? Aí é
é somente futebol. Se olharmos uma grande história para discutirmos. O fato é que
a gente começa a ter um outro cenário de esporte.
Ricardo Santoro
Psicólogo pela PUC/SP, Especialista em Saúde Mental, Idealizador
Obrigado, Ricardo, pela sua provocação. Muito pelo existindo um trabalho bom com esporte em Ribeirão
contrário, eu não sou tecnicista, não. Estava comen- Preto, porque eu não moro lá, apesar de ser de lá, fui
tando com os meus colegas, eu dei aula para crianças atleta de lá, fiz 16 anos, representei jogos regionais,
há um bom tempo e sou da mesma linha de raciocí- jogos abertos, fui medalhista de jogos abertos com 16
nio do Cristiano; também simplesmente apresentei anos, tem a capa do jornal, a cidade, e eu voltar pes-
um quadro aqui com relação ao esporte de auto ren- soalmente é simbólico, eu quero ir para contribuir, eu
dimento. O que eu falo com relação ao tecnicismo é não gostaria de estar indo como atleta, mas foi o que
que vivemos isso num período histórico no nosso país, o meu técnico falou “eu quero que você esteja presen-
que acabou coincidindo com o final da ditadura militar; te” e eu aceitei a proposta.
acho que a Paula colocou isso, que foi essa democra-
tização do esporte e convencionou-se de falar que o O ideal seria que eu ficasse lá em Ribeirão, fi-
que veio antes é coisa do demônio, vou colocar as- zesse um trabalho com os mais jovens (eu vou fazer
sim, tudo ruim. E aí foi do 8 ao 80 e eu sou formado isso), só que só nos momentos dos jogos, os jogos
em Educação Física, esporte em Educação Física, o abertos serão em Ribeirão Preto, então tem isso,
que acontece hoje, você não encontra profissionais tem a cobrança e expectativa para o resultado, mas
formados para trabalhar com esporte, você encontra eu gostaria de outras expectativas, o que vai ficar
profissionais formados em Educação Física e quem depois dos jogos abertos, assim como nos Jogos
aqui é profissional de Educação Física, principalmente Olímpicos, o que vai ficar para o Brasil? E essas ex-
licenciatura que é o meu caso, sabe que a Educação pectativas eu coloquei com relação a resultados em
Física não é esporte. E aí tem um hiato: quem traba- si, porque as outras, depois, eu não gosto nem de fa-
lha com esporte, então, da maneira como se tem que lar, vocês viram o gráfico que eu mostrei, eu comen-
trabalhar? Seja no rendimento, seja na participação, tei aqui antes da minha apresentação que “é chato
seja na educação, porque eu dei aula na graduação, vir falar que o nosso futuro é negro, não tem boas
convicto de que o profissional de Educação Física perspectivas”, então é isso, eu acho que a palavra do
hoje não é preparado para trabalhar com esporte, Cristiano é perfeita, é claro que eu tive vinte minutos
ele é preparado para trabalhar com Educação Físi- e ainda extrapolei o tempo, porque poderia ficar fa-
ca. E quem trabalha? Responde para mim, se alguém lando disso o dia todo. Eu vim falar do esporte rendi-
conseguir responder. “Ah! é um ex-atleta?”, pode ser, mento, mas tem algo por trás para chegar no rendi-
desde que ele seja preparado para isso, porque senão mento que é a participação, tem eu como ex-atleta,
ele só vai trabalhar com o rendimento. Nos jogos re- qual o meu papel no esporte como ex-atleta? É o que
gionais, vou representar minha cidade, que é Ribeirão a Paula mostrou, nós não temos, tem a taxa cinza
Preto, eu sou de lá, e é muito interessante essa minha que é rosa, que não tem. E por acaso eu consegui
participação porque eu, enquanto ex-atleta, vejo que um espaço com um híbrido de ir lá em Ribeirão Preto,
posso contribuir para quem está como atleta hoje, é na minha cidade, contribuir de alguma forma. Eu pre-
esse o meu papel. Fico indignado de eu ter espaço de firo assim do que há 5 anos quando fui representar
participação, na verdade porque eu não deveria par- Sertãozinho, lutei contra minha cidade e ganhei, isso
ticipar como atleta, deveria participar como, não digo é o pior de tudo, aí eu fiquei mais indignado ainda,
técnico, mas consultor ou algo do tipo, não como atle- falei “não, não é possível”, não é possível porque não
ta. E eu participar como atleta quer dizer que não está existiu renovação, algo está errado, eu vejo isso.
Roberta Freitas Lemos 63
Doutoranda em Ciências do Comportamento pela UnB. Assessora Parlamentar no
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Experiência de atuação
na interface entre Psicologia e Esporte no Instituto Passe de Mágica, Centro de
Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e Projeto Esporte Talento.
Obrigada aos participantes da mesa. Precisamos Naressi; a Júlia Amato; o Ednei Sanchez; a Fabíola
encerrar, mas antes não poderia deixar de agra- Matarazzo; Marisa Markunas; Gabriela Gonçalves
decer aos membros do Núcleo de Psicologia do e o Rodrigo Falcão, meu agradecimento mais pes-
Esporte do Conselho Regional de Psicologia de soal a vocês, que são profissionais da Psicologia
São Paulo. Gostaria que ficassem de pé: Victor do Esporte que estão trabalhando em seus am-
Cavallari, que tem papel muito importante nesse bientes particulares, mas também fazendo um
Núcleo, ele me apoia na coordenação e é tam- trabalho conosco no CRP São Paulo. São muitas
bém colaborador da subsede de Ribeirão Preto, as discussões, são muitas as pautas, mas acho
pensando na regionalização das subsedes junto que temos um ótimo grupo, eu conto com vocês,
às temáticas da Psicologia do Esporte; a Luciana o CRP São Paulo conta com vocês, vocês também
Angelo; o Gabriel, para quem não sabe, o apelido que estão nos assistindo, acho parte fundamental
dele é Bilé, então às vezes as pessoas falam “Bilé” de todas as discussões que temos feito enquanto
e não sabem quem é; Marcelo Abuchacra; Augusto categoria, então, meu muito obrigada.
Informações do evento
Data 27/06/2015
Inscritos 401
Presentes 105
Trabalhos expostos 11
18 Ciclo Estadual de Debates
Boa noite. Gostaria de agradecer a presença de A atual gestão do Conselho tem trabalhado
vocês aqui no nosso i Encontro do Ciclo de Deba- através de uma gestão descentralizada. O que
tes em Psicologia do Esporte. Gostaria de cumpri- isso significa? Estamos procurando conversar com
mentar, também, os nossos internautas que estão diversas áreas da Psicologia, algumas delas até
nos assistindo; dizer a vocês que estão por meio desafios para o Conselho Regional de Psicologia
da internet, que também poderão realizar pergun- de São Paulo e a Psicologia do Esporte está inclu-
tas para os convidados da Mesa. Vocês têm um ída dentro dessas áreas que são desafios. Hoje
link onde podem acessar e encaminhar as suas temos um núcleo chamado área “Desafio para o
questões. Gostaria também de dizer que é um mo- CRP São Paulo”; são incubadoras temáticas, em
mento muito importante para o Conselho Regional que estamos procurando ter um pouco mais de
de Psicologia de São Paulo, nesta gestão estamos aproximação e diálogos com elas e a Psicologia do
procurando falar mais sobre Psicologia do Esporte Esporte; então, ela se tornou um Subnúcleo desse
Boa noite. Uma alegria estar aqui, muito bom ter as demandas locais sejam atendidas com mais
a Psicologia do Esporte dentro do Conselho no- eficiência, com mais proximidade. Desta forma,
vamente. Estou aqui para falar um pouco mais a faz com que a comunicação entre Conselho e
respeito dessa questão que a Camila levantou da categoria seja aprimorada; esta é a grande ideia
figura do colaborador e, também, dessa política de por trás disso. E a figura do colaborador é mui-
regionalização, decentralização da gestão do CRP, to importante, porque são pessoas que estão
uma maneira que eu escolhi para exemplificar, isto participando das atividades de cada subsede e
é, contar como que cheguei aqui. trazendo um pouco da sua experiência, da sua
prática, colaborando para discussões, para en-
caminhamentos e para formação de uma ideia
de sugestões para que o CRP consiga articular
“O intuito é que cada subsede melhor todas as demandas de cada região. En-
tenha uma autonomia para tão, é muito importante que as pessoas que es-
tão na internet nos acompanhando via site, que
determinadas ações e atividades também procurem o seu Conselho, tenham uma
e também para que as demandas participação, se envolvam, porque todas as es-
locais sejam atendidas com mais pecialidades são contempladas nesses eixos,
nesses núcleos temáticos.
eficiência, com mais proximidade”.
Trazendo um pouco mais para o nosso
Subnúcleo de Psicologia do Esporte, hoje aqui
Sou colaborador da subsede de Ribeirão estamos alinhando dois eventos, dois aconteci-
Preto e ali comecei a participar de reuniões que mentos importantes para nós: o i Encontro des-
tratavam desde a organização do CRP, trata- te diálogo, que estamos propondo aqui como
vam dos núcleos, núcleos temáticos, os eixos Subnúcleo. Então, é o primeiro dia de mais três
que foram separados, que pautam a gestão e que estão por vir ao longo do ano e, também,
também uma maneira de contribuir e chamar o lançamento do nosso site. Qual é a ideia do
outros psicólogos da região de Ribeirão Preto site? O principal objetivo do site é ser, realmen-
que estão trabalhando no esporte para discutir te, uma plataforma de comunicação para que os
a Psicologia do Esporte. E a partir dessa partici- psicólogos, estudantes tenham uma referência
pação, surgiu o convite como representante da dentro do Conselho para buscar informações,
subsede de vir aqui compor o Subnúcleo de Psi- para dispor suas dúvidas, sugestões, críticas,
cologia do Esporte. Essa ligação é resultado do enfim, esse é um instrumento no qual estamos
planejamento estratégico que o CRP trouxe para investindo muito para ser um meio, um canal de
essa gestão, que é pautado na descentralização comunicação direto entre a categoria e o CRP.
e regionalização desta gestão. O intuito é que Então, enfatizo que a construção dessa pági-
cada subsede tenha uma autonomia para deter- na é contínua; não temos uma página fechada,
minadas ações e atividades e também para que ela vai estar em constante atualização, ela vai
estar em constante construção de referência, mente converse com os psicólogos; e a parte de
71
de comunicação, de esclarecimento, de orien- contatos, também, aqui no “Contato”, tem esse
tação para os psicólogos. Gostaria de mostrar formulário que qualquer um pode enviar suges-
duas abas principais: aqui vocês podem ver os tões, críticas, comentários, dúvidas, enfim, é um
objetivos, quem faz parte e tudo mais, mas as canal de comunicação indireta dos interessa-
abas para as quais eu queria chamar a atenção dos no Subnúcleo. Aqui é uma solução eficaz,
é para a Prática Profissional, que vai ser real- rápida e simples, de fácil acesso para todo mun-
Boa noite! Obrigada, Camila, pelo convite, sempre te colabora muito com isso. A coisa mais importante
é um prazer falar de Psicologia do Esporte. iremos que eu vejo do psicólogo atuando em Psicologia do
dialogar acerca da Psicologia do Esporte, mídia, Esporte é que ele tenha muito claro qual é o papel
comunicação. Aqui quem é jornalista? Tem alguém dele e como ele atua. Trabalho muito com alto ren-
aqui na plateia jornalista? Psicólogos? Estudantes dimento e com jovens que estão partindo, fazendo
de Psicologia? Educadores físicos? Mais alguma a sua escolha para o esporte em alto rendimento.
outra profissão? Técnicos? Atletas? Afins? Bom, é Então, atuo em outras áreas nesse sentido e aí você
importante falar de algumas questões no exercício começa a reparar e se você não tiver muito coeren-
da Psicologia do Esporte. te na abordagem psicológica que sustente a sua
prática, uma abordagem filosófica, sociológica, que
venha a ser coerente com a sua abordagem psico-
“A coisa mais importante que eu lógica, você se perde no meio do caminho, você não
sustenta o seu trabalho e não cria a legitimidade do
vejo do psicólogo atuando em
trabalho. E aí, não adianta, nem técnico vai acreditar
Psicologia do Esporte é que ele em você, nem atleta, nem você mesmo vai acreditar
tenha muito claro qual é o papel no que você está fazendo.
dele e como ele atua”.
Muito bem, boa noite a todos e todas, um prazer Psicologia é uma das profissões regulamenta-
estar aqui falando a vocês mais uma vez. Eu queria das, por isso, existe um conselho profissional eleito
começar propondo uma reflexão, eu queria fazer pela própria categoria para gerenciar a categoria no
uma pergunta: que sociedade nós queremos? Va- seu fazer social. E a Psicologia, precisamos nos or-
mos ver quem pode dar algumas respostas? Que gulhar muito da profissão que temos, porque a pro-
sociedade nós queremos? Quem pode nos ofere- fissão de psicólogos e psicólogas ela vem com uma
cer alguma resposta na plateia? pauta de construção social materializada nos sete
princípios fundamentais do nosso Código de Ética e
Não identificado: Uma sociedade crítica e eu vou começar a nossa reflexão sobre ética falan-
resistente. do desses princípios. Esses princípios refletem o tipo
de sociedade que a gente quer construir, os quais
Não identificada: Uma sociedade igualitária os colegas apontaram um olhar da Psicologia, que
e plural. é o seguinte: princípio fundamental um: “Psicólogo
baseará seu trabalho no respeito e na promoção da
Luiz Eduardo Valiengo Berni: Mais alguém? liberdade, da dignidade, da igualdade, da integridade
Muito bom. Então, pensando nessas excelentes re- do ser humano apoiado nos valores que embasam a
flexões sobre a sociedade, precisamos compreender, Declaração Universal dos Direitos Humanos”. Dois:
de maneira crítica, qual é o lugar da Psicologia e no “O psicólogo trabalhará visando promover a saúde
lugar da Psicologia existem princípios que nos colo- e a qualidade de vida das pessoas e da coletivida-
cam frente ao estado brasileiro. Primeiro, somos uma de; contribuirá para a eliminação de qualquer forma
profissão regulamentada, isso é muito importante; de negligência, discriminação, exploração, violência,
o que é uma profissão regulamentada? Uma profis- crueldade e opressão”. Três: “O Psicólogo atuará
são regulamentada, ela é regida por uma lei porque com responsabilidade social, analisando crítica e
o estado entende que a participação daquele pro- historicamente a realidade política, econômica, so-
fissional daquela categoria profissional compõe de cial e cultural”. Quatro: “O psicólogo atuará com res-
maneira importante e relevante para a construção ponsabilidade por meio de contínuo aprimoramento
da sociedade. E o Estado delega à própria categoria profissional contribuindo para o desenvolvimento da
o gerenciamento de como vai se fazer um serviço de Psicologia como campo científico de conhecimento
qualidade prestado à sociedade. e de prática”. Cinco: “O psicólogo contribuirá para
promover a universalização do acesso da popula-
ção às informações e ao conhecimento da ciência
psicológica e aos serviços e aos padrões éticos
“O Psicólogo atuará com da profissão”. Seis: “O psicólogo zelará para que o
responsabilidade social, exercício profissional seja efetuado com dignidade,
analisando crítica e historicamente rejeitando situações em que a Psicologia esteja
sendo aviltada”. Sete “O psicólogo considerará as
a realidade política, econômica, relações de poder nos contextos em que atua e os
social e cultural”. impactos dessas relações sobre as suas atividades
profissionais”. Então vejam, esses sete princípios
precisam dormir conosco, eles apontam para o pro- que faço parte da história da Psicologia do Esporte
83
jeto de construção social que a Psicologia, dentre as e não consigo ter um título de especialista? O que
profissões regulamentadas, tem na sociedade. En- é isso que nós estamos falando aqui? Que lugar
tão, o psicólogo não pode agir de forma ingênua, ele que a Alessandra ocupa? Um lugar de notório saber,
se compromete criticamente com a construção da que é diferente daquele que fez um curso de espe-
sociedade em que ele vive, entendendo que a qua- cialização. Então, vejam, a Alessandra faz parte de
lidade da saúde psicológica da população está inti- uma trajetória de construção dessa Psicologia que,
Camila Teodoro Godinho: Vamos, abrir para nossa própria profissão, mas das relações in-
questões da plateia; já temos aqui algumas terdisciplinares, que já não são mais multi, são
questões que foram enviadas via internet, quero inter, e essa é a grande possibilidade, eu não
dizer que temos, no momento, mais de 60 pontos vejo mais a Psicologia do Esporte como uma
no Estado assistindo ao nosso evento, então, área emergente, pois já temos mais de vinte e
vamos começar agora. tantos anos, a Alessandra, mesmo, tem mais de
vinte anos de profissão na área, na militância,
Luciana Angelo – Presidente da ABRAPESP: eu também; o primeiro grupo de Psicologia do
Boa noite, meu nome é Luciana, eu sou Presi- Esporte que tinha a Fabíola, que está aqui com a
dente da Associação Brasileira de Psicologia gente, no ano de 2000 com o primeiro livro “En-
do Esporte, a ABRAPESP, e ouvindo vocês, acho contros e Desencontros”, então acho que não
que vale a pena a gente pensar em algumas somos mais emergentes, acho que em políticas
questões: primeiro o título de especialista foi públicas, sim, ainda temos pouca representati-
um título muito discutido, muito debatido, no vidade, porque não são todos os profissionais
fim da década de 1990, começo dos anos 2000 da Psicologia do Esporte que entendem que po-
e não havia uma unanimidade. Temos ainda al- demos atuar em políticas públicas, mas é uma
guns respaldos em relação aos próprios mar- área que podemos atuar, entender como se faz
cos da titulação e acho que devemos pensar essa atuação, então queria polemizar essas re-
na questão específica do Código de Ética pro- lações para que pudéssemos ampliar e não ter
fissional relacionada com os marcos legais do só a visão do alto rendimento, pois existem psi-
esporte; estamos falando de um contexto que cólogos em tantas outras áreas. Obrigada.
é bastante amplo, nós não falamos só do alto
rendimento, nós falamos da área de Educação Alessandra Dutra : A única coisa que eu gostaria
Física, dos profissionais que trabalham conos- de falar é que quando a gente pensa em futuro,
co, dos nutricionistas, dos fisioterapeutas, dos não tem como pensar, pelo menos aqui o futu-
médicos esportivos. Temos aí duas possibilida- ro no esporte, não tem como não pensar se não
des, dois pontos de vista para olhar a Psicolo- pensar nos projetos sociais. De onde vão surgir
gia do Esporte: uma, como especialidade da Psi- esses atletas? Esses atletas do futuro, não tem
cologia e outra, como sendo a Psicologia uma só 2016, tem 2020, 24, 28… e acho que hoje, as
das ciências do esporte. Acho que temos uma políticas públicas deveriam ser dirigidas, espe-
questão bastante complexa quando pensamos cialmente, para dar mais apoio para esses pro-
a partir do nosso Código, acho que o exercício é jetos sociais e instrumentalizar cada vez mais
interessante quando fazemos esta discussão a os psicólogos que trabalham com os projetos
partir dos sete pontos que você levantou, Luiz, sociais, porque acho que é daí que vão surgir os
porque estamos totalmente relacionados no futuros atletas que vão representar o Brasil em
Código de Ética, nessa perspectiva de atuação megaeventos; não vejo outra forma, não vejo ou-
profissional, então, nosso fazer profissional é tra saída que não seja essa, infelizmente, as es-
bastante complexo, não só do ponto de vista da colas hoje, a educação, o Ministério… o MEC está
revendo o papel do profissional de Educação gia é também em outras áreas, e é bacana que
89
Física dentro das escolas e está cada vez mais assim seja, porque a Psicologia tem uma enorme
limitando o papel da Educação Física e fazendo dispersão dentro da… é um campo não unificado,
com que isso afete também os futuros talentos isso é muito importante que a gente entenda: o
que saíam antigamente das escolas e então, que é um campo não unificado? Que é diferen-
acho que é isso, a grande saída para o Brasil, não te da física que tem campo unificado. Campo
sei em outros países, mas pelo menos para nós, unificado traz a seguinte situação para nós; um
Obrigada. É interessante ouvir daqui, que eu sou nascido - eu já tinha uma psicóloga e fez a diferen-
coachee, não é? Eu estou na minha sétima sessão ça muito grande na minha vida, acho que foi isso
e ouvi todas essas. Acho que vai abrir uma dis- que me encantou em estudar alguns pontos da
cussão bem interessante, como eu fui atleta de Psicologia, porque ela modifica e eu tenho apren-
natação, fui vice-campeã sul-americana, tivemos dido agora um pouco como coachee que a gente é
um suporte muito bom da parte de Psicologia do parecida, que é rápido e certeiro, está sendo inte-
Minas Tênis Clube; hoje, eles têm vinte psicólogos ressante a experiência. Então, vou passar a pala-
no clube e sempre - isso vocês não tinham nem vra para a Fabíola.
102 Fabíola Matarazzo
Psicoterapeuta; Pós-graduada em Psicologia do Esporte (Havana /Cuba); em
Psicologia Analítica - Universidade São Francisco. Especialista em Psicologia
do Esporte - reconhecida pelo CFP. Especializada em Arte Terapia - Instituto
Sedes Sapientiae e Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP.
Boa noite, gente! Gostaria de agradecer ao CRP, à Ca- expressivos e artísticos variados; ela tem uma te-
mila, principalmente, pela oportunidade de estar aqui oria específica, as pessoas precisam ter uma gra-
contando para vocês a minha experiência com a Psi- duação para serem Arteterapeutas; no Brasil não
cologia do Esporte e, principalmente, o meu trabalho existe a graduação em Arteterapia, como existe
da Arteterapia na Psicologia do Esporte. Gostaria de em outros países, então, se você quer ser um Ar-
começar contando como foi esse meu caminho de teterapeuta você precisa ter uma graduação e a
formação, a minha experiência também com espor- Arteterapia é uma especialização; então, você terá
te competitivo, da iniciação até o alto rendimento e a base da sua formação e utilizar como um recurso
trabalhando com aqueles que sempre queriam ser os no seu trabalho. Para que ela serve?
melhores; eu tinha sempre essa questão interna, mi-
nha: “Bom, o que eu posso fazer para ser um pouco
melhor? O que eu posso fazer para ser um pouco me-
lhor, para oferecer algo a mais?”. Sempre algo a mais. “Arteterapia é o fazer arte de
forma terapêutica, não tem nada
a ver com a questão estética,
“Até que eu encontrei a não tem valor estético, o mais
Arteterapia e pude vivenciar que importante é o processo de fazer
na realidade o que eu buscava e não o produto final”.
sempre fora estava dentro”.
Para facilitar o contato com o seu mundo inter-
Então, fui percorrendo diferentes cursos de no, na realidade, os recursos utilizados eles são es-
diferentes áreas, não existia a formação da Psi- colhidos com muito cuidado, não é uma técnica pela
cologia do Esporte aqui, por isso que eu fui bus- técnica, eles têm toda uma qualidade e um valor in-
car fora do Brasil e aí, assim, acabava um curso, dependente do trabalho, assim, aliás, dependendo
muitas coisas foram positivas, interessantes, mas do trabalho que estaremos escolhendo. Arteterapia
eu tinha uma sensação assim: ainda não é isso. Aí, é o fazer arte de forma terapêutica, não tem nada a
acabava um outro curso: não, ainda não é isso. Até ver com a questão estética, não tem valor estético,
que eu encontrei a Arteterapia e pude vivenciar o mais importante é o processo de fazer e não o
que na realidade o que eu buscava sempre fora produto final. Algumas pessoas falam assim: “Eu fui
estava dentro e aí tive a oportunidade de nsinar na minha aula de pintura, então eu estou fazendo
isso aos atletas, aquilo que eles buscam o tempo Arteterapia”, aí mostra o quadro lindo e maravilhoso
todo está fora, mas antes de chegar, tem que estar igual a todos os alunos, mas então falo: “isso não
dentro, não é? E digo que essa minha parceria, na é Arteterapia”, isso sim é um trabalho onde existe
qual estou até hoje, junto da Arte Terapia, que é o um produto final onde existe o belo, todo mundo
que eu vou contar aqui para vocês. A Arteterapia é quer fazer o belo; e no trabalho o objetivo principal
uma prática terapêutica que se utiliza de recursos não é ensinar ao outro, dentro da Arteterapia, ha-
bilidade manual, talento artístico, você nem precisa
103
ter essas qualidades e essa habilidade, a intenção “Na hora de escolher, isso
é concretizar, dar uma representação visual àquilo
que é desconhecido. Então, a partir do momento em faz parte da escolha, o que
que a gente expressa, seja de qualquer maneira, um é importante fazer em cada
rabisco, escolher imagens em revistas, coisas que momento ou dependendo do
nós todos fazemos, estamos expressando alguma
Vocês estão vendo o quanto vocês são importan- sofrida e sem vocês não existe campeão, então,
tes para nós, atletas? Estão vendo que não aca- dediquem, venham em todas as palestras, porque
bou ainda a identidade de atleta, não é? Vocês não vocês não têm noção de o quanto vocês são im-
têm noção do que vocês fazem com a vida da gen- portantes para os atletas. Vamos passar a palavra
te, porque a parte física, técnica, tática, ela é muito para o Luiz.
108 Luiz Eduardo Berni
Conselheiro do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo – SP.
Presidente da Comissão de Orientação e Fiscalização do CRP SP.
Uma alegria estar aqui com vocês, de novo, uma hon- nida, um estado, uma política de saúde que vai tratar
ra estar dividindo a Mesa com as colegas, ver esta de algumas práticas integrativas que complementam
casa cheia, muito bom. Eu queria… vou fazer algumas os trabalhos de saúde. Eu tenho que dizer que estou
considerações, vou começar pela minha biografia de surpreso com a Mesa porque estava esperando ou-
atleta… opa! Eu sou uma negação como atleta, aque- vir alguma coisa que estaria mais ligada com a práti-
le que a bola vinha e caía na cara, entendeu? Então, ca integrativa e complementar que vem da política,
péssimo! Mas o que eu entendo… então, eu quero co- como por exemplo como imagino que o esporte deva
meçar um pouco falando por aí. O que é isso? O que usar acupuntura. Acupuntura é uma prática integra-
é o esporte? O que é esse lugar? É o lugar que o ser tiva e complementar. Por que ela é uma prática inte-
humano ocupa neste planeta, de desafiar tudo que grativa e complementar e onde que isso se situa? A
ele vê pela frente. Então, eu imagino assim: eu ando acupuntura, ela vem da medicina tradicional chinesa;
de bicicleta, eu posso dizer hoje que eu sou ciclista, vocês falaram muitas coisas aqui que vêm de prá-
eu sempre gostei de ficar em cima de uma bicicleta, ticas tradicionais que foram reduzidas pela ciência
já fiz viagens longas de bicicleta, andei cento e trinta ocidental a determinados recursos terapêuticos que
quilômetros em um dia e tal, coisas desse tipo, assim. usamos, por exemplo, na Psicologia do Esporte. En-
O que é isso? É a busca do desafio, nós gostamos do tão, acupuntura é um desses elementos que vem da
desafio, o ser humano gosta do desafio. Então, quer medicina tradicional chinesa e na cultura brasileira e
dizer, eu imagino que a alta performance nada mais na cultura, enfim, ocidental de maneira geral, ela foi
é do que: até onde é possível chegar? No meu limite reduzida a um recurso terapêutico, estudada a sua
e a competição com o outro. E é disso que estamos eficácia, etc. e ela é usada - e imagino que muito usa-
tratando o tempo todo aqui. Então, queria começar da - porque eu, apesar de não ser tenista, já tive um
situando desse lugar que fala, sou psicólogo, eviden- cotovelo de tenista, mas a minha atividade foi pin-
temente, e o título desse evento é Psicologia do Es- tar a casa, então, eu aluguei um andaime e subi no
porte e as práticas integrativas e complementares. andaime e pintei a casa de dois andares, segurando
Então, quero voltar para trás para falar o que são prá- com uma mão no andaime que o bicho fazia assim e
ticas integrativas e complementares? com a outra eu pintei, tive cotovelo de tenista, chi-
que, mas era só porque eu fiquei lá pintando a casa. E
aí eu entrava no hospital e toma injeção disso, toma
“Acupuntura é uma prática injeção daquilo, e faz isso, faz aquilo, aí me aborreci
com esse negócio, falei: “Vou tentar um negócio di-
integrativa e complementar. Por ferente”, fui na acupuntura. Primeira sessão, já saí de
que ela é uma prática integrativa lá apertando o desodorante, porque eu não conse-
e complementar e onde que isso guia nem apertar o desodorante. Então, por exemplo,
acupuntura é uma prática integrativa e complemen-
se situa?” tar, porque ela vem de uma outra racionalidade que
se junta à racionalidade ocidental e complementa a
Práticas integrativas e complementares, esse medicina convencional, que é muito usada, evidente-
nome remete a uma política pública, claramente, defi- mente, na prática do esporte.
Uma outra prática complementar na política Psicologia do Esporte não se faz sozinha, aliás, o
109
pública é a antroposofia, que é, vamos dizer, uma que se faz sozinho, não é, gente? Nada se faz sozi-
medicina homeopática, que tem um fundamento nho, sempre nesse diálogo com outras profissões,
dentro do pensamento antroposófico de Rudolf ela fala dessa relação multidisciplinar, às vezes in-
Steiner, que era um alemão que inventou esse ne- terdisciplinar, com outras profissões, por exemplo,
gócio que tem toda uma racionalidade, é mais do quando o técnico, acho eu que é um professor de
que simplesmente um recurso terapêutico, a antro- Educação Física, tem uma formação nessa área,
Primeiro, é essa questão que se coloca, que pes- Não identificada: Boa noite, eu queria perguntar
soas, que time, que sei lá o que tem uma demanda para a Carla, o que você comentou e eu queria per-
institucional, a perspectiva do clube, o que o clube guntar da questão do bio e o neurofeedback, eles
espera, quer dizer, o cara que me contratou espe- são ferramentas que podem ser usadas no coa-
ching ou eles entram como uma prática integrativa
e complementar à parte?
“Então, o profissional, no caso do
Carla di Pierro: Coaching não usa biofeedback, não.
psicólogo, ele precisa ter muita Biofeedback é um recurso que também não é só
clareza… primeiro, ele precisa estar do psicólogo, é um recurso que utilizamos da tec-
constantemente estudando, nada nologia de conseguir acessar estados internos do
indivíduo através de um aparelho que ou mede a
pode ser reduzido a técnica, isso sua resistência galvânica da pele que é a sudo-
que é uma coisa muito importante, rese ou mede seu batimento cardíaco ou as suas
a técnica tem que estar a serviço ondas cerebrais. Então, é um recurso que pode ser
utilizado pelo psicólogo para acessar, para ajudar
de uma visão integrativa, uma visão a treinar controles de estados internos, ansieda-
integral do ser humano, por que as de, batimento cardíaco, então não tem nada a ver
técnicas integrativas surgiram?” com coaching.
Marisa: Vou mudar um pouquinho o rumo das úl- as informações que temos são informações sigi-
116
timas perguntas, mas retomando algo que vocês losas e, ao mesmo tempo, isso não quer dizer que
comentaram. Em algum momento, na fala inicial do não vamos aparecer na mídia, que não vão nos
Luiz, ele falou alguma coisa que eu anotei como se perguntar do atleta e que temos que nos escon-
um psicólogo faz um trabalho que não é legal, isso der? Também acho que não, porque precisamos
de alguma maneira é comunicado ou pode recair no dizer o que fazemos, como fazemos, qual é o ob-
Conselho, mas eu vou simplificar numa coisa que jetivo do que fazemos? Sem, necessariamente,
eu acho que está por trás do mote desse encon- quebrar as regras do nosso Código de Ética, sem
tro que é isso: recair na imagem do profissional de perder a mão, porque eu acho que tem gente que
uma instância da profissão. Então, eu, Marisa, pro- perde a mão. Os coaches, às vezes, por eles não
fissional, posso ter feito uma atividade x, utilizado terem essa regulamentação que temos; vemos
uma prática y que foi muito mal adequada ou que eles fazendo muitas coisas que não podemos fa-
foi muito infeliz numa instituição e isso foi publica- zer, que seríamos punidos se fizéssemos também.
do e estou trazendo à vista o assunto do encontro
anterior, que era a relação com a mídia. Então, eu Ricardo: Boa noite. Meu nome é Ricardo, não sou
só estou misturando os assuntos para pedir para psicólogo, apesar de respeitar não só os profissio-
vocês conversarem um pouco sobre a ideia da res- nais, mas como os estudantes, sou formado em
ponsabilidade; a Carla usou muito fortemente essa Administração Esportiva e concluí o mestrado em
palavra, da responsabilização, da responsabilidade Políticas Públicas e em Educação. Minha carreira
do profissional e, no fundo, eu me pergunto o se- profissional é toda voltada à gestão de projetos
guinte: o fazer em Psicologia do Esporte, ele está esportivos em instituições de ensino e juntamen-
transitando com “n” profissões e “n” profissionais. te com os atletas jovens talentos esportivos. No
Então, acho que a Carla exemplificou o profissional mestrado, concluí uma pesquisa sobre escolariza-
do coaching e assim por diante. Quando estamos lá ção de atletas, na verdade, diagnostiquei uma eva-
fazendo, se somos reconhecidos como psicólogo, são escolar muito grande de atletas por conta de
isso tem um tipo de repercussão na mídia; pode- vários conflitos, e indo na pesquisa de campo que
mos levantar alguns casos de passado recente e, eu fiz com os clubes, identifiquei o papel de alguns
provavelmente, de alguns de futuro próximo, estou psicólogos, mas na maioria deles, assistentes so-
falando dos nossos megaeventos. Enfim, eu acho ciais e eu, quando fiquei sabendo desse encontro,
que estamos dentro do Conselho de Psicologia, pensei: “Vou lá para saber um pouco disso tam-
não estamos numa universidade, não estamos em bém”. A questão é a seguinte: eu vejo que a Psi-
outro tipo de fórum, então estamos aqui para pen- cologia Esportiva está muito no alto rendimento,
sar a partir das provocações que os convidados no topo da pirâmide, só alto rendimento da perfor-
trouxeram, o que é esse fazer profissional e como mance, mas não vejo muito na formação, na base
podemos transitar cuidando do nosso fazer - e e onde tem também uma frustração muito grande,
chamo de nosso, dos profissionais graduados para não por questão de resultados, mas por questões
tal e do nosso fazer que é inter e, eventualmente, de quebra dos sonhos, então, eu queria saber um
transdisciplinar - porque é isso, no mundo real, es- pouco qual é o envolvimento do psicólogo na base,
tamos lidando com pessoas que são os atletas, na formação do atleta, na questão do sonho inter-
clientes, etc. e em conjunto com outras tantas pro- rompido, porque a evasão me mostrou, a evasão
fissões, na mistura dessas coisas, uma profissão escolar me mostrou que muitos desses atletas
regulamentada e com todas as bagagens que eu não souberam lidar com essa frustração e muitos
penso que a Psicologia tem no Brasil; muitas vezes, deles, quando viram a carreira esportiva desmoro-
somos jogados na mídia – vamos chamar mídia de nar, entraram para o mundo das drogas, largaram
televisão, redes sociais e afins – e aí, uma sequ- os estudos, enfim, tiveram um desvio de compor-
ência de consequências que até você explicar que tamento. Então, gostaria de saber um pouquinho
“focinho de porco não é tomada”, eu acho que a mais qual é o papel e se o psicólogo está presente
conversa da nossa Mesa poderia ir para essa dire- na formação do atleta.
ção, me digam o que pensam, por favor?
Carla di Pierro: Deveria estar, mas não necessa-
Carla di Pierro: Já falamos em algumas situações, riamente está. Tem um aqui que trabalha na for-
Marisa, sobre isso. É delicada a relação com a mí- mação. Deveria, porque até se tivéssemos mais
dia, é muito delicada, porque quando estamos fa- na formação, iríamos precisar estar menos no alto
lando de um atleta, ele é o nosso atleta paciente, rendimento, porque aí ele ia ter sido acompanhado,
ia ter ganhado habilidades, ia ter aprendido a lidar e estão tentando ser atletas profissionais, a dife-
117
com fracasso, ia ter pensado, inclusive, qual é o pa- rença é gritante! O atleta que fez a universidade,
pel dele como atleta, quais são os outros papéis que sabe uma segunda língua, que… puxa, é outro
que ele pode ter e como fazer uma transição de ser, é outro ser que sabe lidar com… tem uma vi-
carreira, bom, mas não necessariamente temos o são aberta, fora da caixa e o menino que parou de
psicólogo do esporte na base. Em alguns clubes já estudar, que o pai ficou lá pagando as coisas para
existem psicólogos e há a preocupação de ter esse ele, ou que ficou tentando ali no futebol, no tênis,
Bom, antes de passar para o Victor, que vai co- em que a Psicologia esteja aviltada”, e o 7: “O
ordenar a Mesa, eu queria falar um pouquinho psicólogo considerará as relações de poder nos
de alguns princípios fundamentais. Na verdade, contextos em que atua e os impactos dessas
apontar alguns princípios fundamentais que es- relações sobre as suas atividades profissionais,
tão no nosso Código de Ética e que eu acho que posicionando-se de forma crítica em consonân-
são imprescindíveis para pensarmos um pouco cia com os demais princípios desse Código”.
sobre o assunto que vemos falar hoje, o nosso Então, é importante enquanto psicólogos e psi-
tema é “Formação em Psicologia do Esporte no cólogas que atuam no esporte, pensarmos no
Estado de São Paulo”, então, eu pensei em al- Código de Ética, nas questões que estão impli-
guns princípios que são eles, o 3: “O psicólogo cadas no Código, nos princípios fundamentais e
atuará com responsabilidade social, analisan- como traduzimos isso na nossa prática do dia a
do crítica e historicamente na realidade políti- dia, ok? Então, acho que essa é uma provocação,
ca, econômica, social e cultural”. Outro princípio talvez uma reflexão que eu queria trazer agora
fundamental é o 4: “O psicólogo atuará com res- nessa introdução para o nosso tema da Mesa,
ponsabilidade por meio de contínuo aprimora- mas, principalmente, pensar como temos feito
mento profissional, contribuindo para o desen- Psicologia todos os dias em todos os lugares.
volvimento da Psicologia como campo científico Então, fica aí para vocês. Desejo um ótimo even-
de conhecimento e de prática”, o 6: “O psicólo- to, vou passar para o Victor que vai coordenar a
go zelará para que o exercício profissional seja Mesa e, depois, abriremos para o debate para
efetuado com dignidade, rejeitando situações conversarmos um pouco.
Victor Cavallari Souza 123
Colaborador CRP SP – Subsede Ribeirão Preto. Psicólogo formado na USP Ribeirão Preto. Mestre em Ciências
pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP, na linha de pesquisa “Emoções e
Esporte”. Tem experiência com atendimento de atletas e atualmente é coordenador da Associação Pró-
Esporte e Cultura que realiza projetos sociais esportivos em 9 cidades do Estado de São Paulo.
Olá, boa noite a todos! Vinte minutos é um tempo isto, Psicologia é uma ferramenta sensacional para
extremamente minúsculo para falar tanta coisa que as pessoas e a Psicologia precisa ser acessível, eu
temos para debater. Para quem me conhece um achei aquilo tão espetacular e tive conhecimento da
pouquinho, sabe que eu gosto de falar e pelos co- Psicologia no ensino médio, no curso técnico, tendo
tovelos, então, vou fazer um exercício hercúleo de aula de Psicologia. Então, estar aqui falando, para
falar com muita objetividade, isso também não é o mim, sobre formação é também estar falando de um
meu forte, mas é um prazer tremendo estar aqui; em projeto de vida em exercício, não vou dizer realizado
termos de aquecimento de apresentação, queria si- porque são muitos percalços de ser professor e são
tuar duas ou três informações e aí, vai diminuindo muitos desafios de fazer isto dentro de um contex-
os respondentes, em português, o friozinho na bar- to chamado Psicologia do Esporte, obviamente, não
riga. Assim como a Fabíola, que acabou de chegar, comecei pensando em Psicologia do Esporte, mas
Luciana Angelo e eu somos remanescentes da pri- isso, de alguma maneira, passou pela minha história.
meira turma que compôs um grupo de Psicologia do Passei pelo ensino médio como professora de ensi-
Esporte dentro do Conselho Regional de São Pau- no técnico, passei pelo ensino de graduação e pós-
lo no ano 2000. isso é um prazer tremendo pensar graduação de não-psicólogos, e aí, já coloco aqui
como se forma, como se faz Psicologia do Esporte, uma provocação para pensarmos o que é falar de
então, aproveito para agradecer à Fabíola, porque formação em Psicologia do Esporte quando a nos-
é uma pessoa de longa jornada, de longo trabalho sa plateia não é formada em Psicologia, não estou
e de uma generosidade tremenda em dividir com a falando do estudante, porque ele está dentro de um
gente a sua prática. Eu acho que eu já estou ten- processo que passa pela Psicologia, mas eu estou
tando responder uma das nossas perguntas que é pensando no não-psicólogo, no treinador esportivo,
como nós nos formamos em Psicologia do Esporte; no fisioterapeuta, no nutricionista, no gestor espor-
formamo-nos trocando com os colegas, por isso é tivo, nos outros profissionais que estão neste ne-
um prazer estar aqui. E essa troca com os colegas, gócio, neste cenário, neste contexto e que precisam
ela pode ser um pouco mais formalizada ou mais entender o que temos a contribuir ou não, então, se
formatada, como querem alguns e isso cai no papel eu pudesse ser extremamente sintética e encerrar
de professor para muitas oportunidades. Quando aqui a minha fala, eu diria que o nosso maior exercí-
eu fui pensar algumas questões para conversar aqui cio é pensar em “psicologuês” e falar em português.
nesse momento, uma delas foi também fazer uma Talvez, esse seja o maior desafio da prática da Psi-
rápida revisão da minha própria trajetória e me lem- cologia e aí eu fecho um pouco o meu ciclo ali como
brei de uma coisa que poucas pessoas sabem, até exercício pessoal de pensar a Psicologia para as
porque já faz um bom tempo, mas eu escolhi fazer pessoas, pensar a Psicologia acessível, eu acho que
Psicologia na graduação com o compromisso de que dar aula é uma maneira de fazer isso.
eu daria aula de Psicologia. Então, é uma satisfação
ter decidido isso aos 16 anos e já passei um pou- Vou ter que dar uma corridinha aqui para que
quinho já faz uns 20 anos e mais uns quebradinhos, eu possa dar conta de tantos slides que eu ela-
eu escolhi trabalhar com Psicologia para dar aula de borei, mas para que eu possa falar um pouquinho
Psicologia e existe uma razão muito pontual para mais especificamente em termos de formação em
Psicologia do Esporte, vou rapidinho caracterizar o que no ano 2000, na Resolução de número 14 que
125
próprio campo de atuação. Bom, formação eu tra- fala sobre a prática profissional, sobre aspectos da
duzo em português como um jeito de fazer, como atuação, estamos falando da questão em ser es-
é que fazemos, quando pensamos em qual é a for- pecialista em várias áreas, entre elas a Psicologia
mação necessária ou qual é a formação que exis- do Esporte. Naquela época, você tinha alguns cami-
te para se atuar em Psicologia do Esporte, então nhos para ser especialista, provar experiência, dois
queremos saber como é que fazemos isso, como aos cinco anos, experiência contínua ou intercalada;
Bom, primeiro boa noite. Muito obrigada pelo convi- “Nossa, chegou o momento, estou formada, tenho
te. Recebi o convite alguns dias atrás pela Camila e, especialização e agora? Vou buscar um emprego”; um
para mim, foi um grande prazer receber e poder vir pouco do papel profissional do psicólogo e algumas
aqui compartilhar um pouco com vocês a minha ex- questões da ética, de conduta profissional, os meus
periência. Antes de qualquer coisa, além de agrade- desafios diários e, de uma forma geral, como é que na
cer a presença de todos vocês, agradecer o pessoal minha visão podemos construir uma carreira dentro
que está em casa. Acredito que falar um pouco sobre de um cenário que é o esporte e que, de certa forma,
Psicologia para quem gosta do esporte é algo muito instável para quem trabalha no alto rendimento, como
animador e eu sou uma das pessoas bastante otimis- eu. Bom, então falando um pouquinho da minha linha
tas com a área, eu gosto muito mesmo da atuação do tempo, falando do meu planejamento profissional,
e além de tudo, só uma pontuação, mas para mim é então, em 2000, mais ou menos quando eu decidi fa-
muito importante estar aqui presente, professoras zer Psicologia, eu pensava no esporte e eu coloquei
minhas, a Lu, a Marisa foi minha professora também ali uma bandejinha cheia de ouros que era realmente
no Sedes, então para mim é muito legal ver alguns o que eu desejava. Para mim era um potinho de ouro
companheiros de trabalho que eu já conheço alguns ali, cheio de expectativas, uma série de coisas que eu
rostinhos atuando na área, então isso é muito legal! poderia desenvolver, que naquela época, eu tão nova,
Eu acredito até que a continuação da fala das pro- achava que ia construir um pedaço da Psicologia do
fessoras anteriores pode complementar um pouco Esporte, tinha isso como expectativa e, desde então,
ou eu posso, talvez, apresentar um pouco da minha acho que em 2000… eu me formei em 2006, mas em
realidade. Eu sou psicóloga, me formei na São Judas, 2005 mais ou menos, 2004, eu tive uma palestra, eu
até quando a Camila me passou um pouquinho sobre me recordo como se fosse hoje da Susy Fleury e da
o que falar, o que podemos trazer, eu falei para ela Anahy Couto falando sobre a Psicologia do Esporte e,
assim: “Eu gosto muito de falar algumas coisas que ali, eu encaixei exatamente o que eu queria, no último
possa, de certa forma, estimular as pessoas a entra- ano de faculdade que foi em 2006, eu realmente fo-
rem na área e, de repente, refletir como construir o quei, falei: “Para eu realmente saber qual é esse cená-
próprio caminho, como a professora Silvia falou agora rio da Psicologia dentro do Esporte…”, já que não era
há pouco assim, eu acho que até a construção é algo falado, eu nem imaginava que já existia com a força
peculiar e tão subjetivo que cada um vai descobrin- que tinha naquele momento, eu decidi fazer o meu
do ao longo das experiências, e vai construindo a sua TCC, então fiz sobre o nível de estresse em jogadores
própria caminhada. Comigo foi assim, então, hoje, o de futebol e, logo na sequência, eu comecei a procurar
meu objetivo é compartilhar com vocês um pouquinho as especializações e como a Marisa falou, na época,
como é que eu trilhei, até onde eu estou no momento, eu só encontrei o Sedes, encontrei alguns outros cur-
quais são os meus desafios no meu dia a dia e por sos também, mas não atendiam as minhas expectati-
isso, eu pensei em falar um pouco sobre a minha linha vas e à medida que eu fui para o Sedes, eu fui conhe-
do tempo profissional, de que maneira eu ingressei, cendo e fui realmente me apaixonando; lá tínhamos
como é que fui descobrindo os meus objetivos dentro na época a versão do curso com vários professores
da Psicologia do Esporte, em busca de um emprego, que traziam um pouco das suas experiências e aquilo
que para mim é algo que a gente fala assim, sempre: foi me cativando cada vez mais.
Então, começamos a pensar: “Por onde come-
135
“Tenho que aproveitar essa çamos? Não dá para começar pelo futebol, porque
as pessoas vão direto nas modalidades que talvez
oportunidade, conhecer, aplicar sejam mais difíceis por conta do glamour ou qual-
tudo aquilo que eu aprendi dentro quer outra coisa, sejam mais difíceis de acessar”,
da especialização”, então, começa então, pensamos com muita inteligência e, a partir
daí, pensamos na possibilidade de levantar, de fato,
e Esporte Paralímpico: da
Inclusão ao Alto Rendimento
Boa noite a todas e todos, hoje nós estamos no desenvolvimento em relação à formação em Psi-
nosso 4º debate do Ciclo de Debates sobre Psico- cologia do Esporte e, ao longo desses três anos,
logia do Esporte aqui no CRP São Paulo, falaremos 2014, 2015 até 2016, temos feito um diálogo com
sobre saúde mental e esporte Paralímpico da inclu- a ABEP; fizemos um evento que foi o evento pas-
são ao alto rendimento, então, nós temos convida- sado sobre Formação em Psicologia do Esporte no
das e convidados com práticas diferentes que vão Estado de São Paulo. Então, as nossas ações são
mostrar um pouco para nós de suas experiências guiadas por essas diretrizes que são construídas a
no esporte e também na questão da inclusão pelo cada três anos. O processo para a próxima gestão
esporte e, também, da inclusão de pessoas com que é 2016/2019 inicia agora. Então, vocês já po-
deficiência. É um evento que estamos fazendo em dem participar democraticamente desse processo
parceria com o Núcleo de Psicologia, Deficiência e realizando propostas. Durante o evento, se vocês
Pessoas com Deficiência. Acho que também é um tiverem alguma ideia, se pensarem realmente em
Obrigado, Ricardo. A questão da rede, essa res- transtorno mental, a crise, o surto, esse sujeito vai
significação do atendimento, saindo dos centros perder todos os seus vínculos, ele perde o víncu-
para as redes. Eu trabalho dentro da assistência, lo com a família, com amigos, com emprego, com
também estamos tentando trabalho, trabalho escola, com a comunidade e para reestabelecer
num Centro da Referência da Assistência Social e esses vínculos, ele vai enfrentar uma série de bar-
a nossa briga é conseguir trabalhar numa rede de reiras. Quando você coloca o sentido que o espor-
assistência social, junto com a seguridade social. te adquire para essa reinstituição de um sujeito,
O que você fala é bem verdade, quando pensamos a ressignificação desses vínculos. É interessan-
que os centros, eles tendem a se tornar guetos, o te se pensarmos junto com a Psicanálise, vamos
gueto quando colocamos… aqui temos a pessoa reinstaurar esse ego ideal, para ele se reorganizar.
com deficiência, a pessoa com transtorno mental, Quando você traz que ele não é café com leite. A
aqui, vamos colocar a pessoa com situação de rua, tendência é pensarmos que a pessoa com defici-
esses centros, eles se propõem a promover a in- ência é criança, toda pessoa com deficiência é in-
clusão social, só que eles trabalham justamente ao fantilizada: ela não pode, ela não tem condições,
contrário, enquanto a instituição, o objetivo final ela não aguenta e essa atitude, essa relação que
de qualquer instituição é sua própria extinção, elas se estabelece com ela, essa atitude de não ouvir,
tentam se perpetuar o máximo possível. como você mesmo coloca, não ouvir quais são as
necessidades dessa pessoa, vão perpetuar, vão
Queria trazer aqui a definição que estamos dificultar ainda mais isso.
usando atualmente de pessoa com deficiência. A
Convenção não define o que é deficiência, mas ela
define quem é a pessoa com deficiência. A pessoa
“A pessoa com deficiência é
com deficiência é aquela cujo impedimento de na-
tureza física, intelectual, mental ou sensorial em aquela cujo impedimento de
interação com as barreiras impostas pelo meio natureza física, intelectual, mental
tem a sua participação em igualdade de condi-
ou sensorial em interação com as
ções prejudicada. Então, vemos que a questão do
impedimento de natureza mental, que são esses barreiras impostas pelo meio tem
transtornos mentais, hoje voltam a ser considera- a sua participação em igualdade
dos deficiência, por quê? Quando temos dentro do
de condições prejudicada”.
Mariana Maeda 165
Graduada em Psicologia pelo Mackenzie; pós-graduada em Psicologia do Esporte pelo Instituto Sedes
Sapientiae. Trabalhou no Projeto Esporte e Talento (PET) – Programa de Educação pelo Esporte, do Instituto
Ayrton Senna e no Projeto Social Espaço Criança Esperança, em parceria com o Instituto Sou da Paz. Atuou com
futsal na Sociedade Esportiva Palmeiras e com Basquete sobre rodas no clube GADECAMP. Atualmente trabalha
no Instituto Olga Kos de Inclusão Social com as modalidades karatê e taekwondo para pessoas com deficiência.
Edgar Bittner Silva: Obrigado, Mariana. Eu acho que conta de uma lesão, o que vai fazer? Você dá uma… o
com a fala da Mariana, vimos que, trazendo um pou- esporte proporciona uma vida nova para essas pes-
co junto com os nossos outros palestrante quando soas. Eu acho que agora podemos abrir nossa roda
a Gabriela coloca aquelas três modalidades do es- para debates. Então, pessoal, perguntas!
porte, como educação, como participação e como
rendimento. Acho que aqui, vimos essas três moda- Eliana: Boa noite. Eu esperei mais ou menos des-
lidades, vimos a participação social aqui com o Ri- de 1992 por essa reunião, porque desde 1992 eu
cardo, reinstituindo a essas pessoas o direito de es- trabalho com atletas de alto rendimento. Comecei
tar na comunidade, estar com outras pessoas para com os cegos, trabalhei com basquete, desenvol-
além do gueto da deficiência, a Gabriela nos mostra vi projetos para crianças em 2000 e aí, Edgar, com
esse esporte de alto rendimento, a construção des- todo respeito, eu gostaria só de corrigir um pou-
sa entidade do atleta, quem é o atleta, essa ideia de quinho a sua fala, no sentido de que nenhum atle-
que ele tem uma rotina, que ele tem uma disciplina, ta de alto rendimento que possui uma deficiência,
que ele tem necessidades nutricionais, de descan- ele busca superar a falta, porque na verdade, com
so, como o atleta típico e, também, ele vai buscan- a sua classificação funcional devidamente para a
do destaque para ele também, ele está querendo ir sua prática esportiva, ele terá o equipamento que
para além das limitações, apesar de que para entrar lhe dê a condição para esse rendimento. Eu acho
na modalidade, ele tem que estar classificado numa que é superimportante alinharmos isso, até para
falta, ele luta para superar essa falta. E a Mariana não alimentarmos até justamente essa questão
coloca para nós também o esporte numa modali- do preconceito em relação ao atleta. Porque atle-
dade educacional, quando ela traz os benefícios do ta, quando você diz que ele só se supera, supera,
esporte, em termos da disciplina, a hierarquia, quan- ele fala: “Eu me supero”, esse é o grande desafio,
do trabalhamos com pessoas com o transtorno do estamos aí às portas das Paralimpíadas, e é um
espectro do autismo, com passos pequenos, como momento extremamente importante. Então, eu es-
ela disse, se conseguirmos fazer com que ele fique tou muito feliz por estar aqui e estar participando
no tatame, entenda que para entrar tem que cum- dessa conversa com vocês; quero parabenizá-los.
primentar o dojô, para sair, tem que cumprimentar o Então, acho que a gente tem futuros campeões,
dojô, tem que respeitar os limites de faixa, que é um mesmo, para 2016, vai ser muito bom. Então, Ma-
sistema organizado que é até bastante bom para riana, eu gostaria de fazer uma pergunta para você
pessoa com autismo, para a pessoa com deficiência em relação a sua proposta com as crianças, isso
intelectual também, e ele vai aprendendo aos pou- tem me chamado muita atenção porque precisa-
cos. Nisso, vai estabelecendo os seus vínculos com mos buscar novos atletas justamente na escola,
o professor, ela começa a ter um destaque e a partir se você tem feito alguma ação de intervenção
desse destaque, um reconhecimento social. Vemos junto as escolas, porque temos tido um problema
o papel do esporte então no desenvolvimento des- muito sério, principalmente no processo de inclu-
sas pessoas. Quando fala da identidade do atleta e são dessas crianças com deficiência no ensino
trazendo o que a Mariana coloca que eles ficavam regular e agora que temos a LBi que regulamenta
em casa, ou mesmo quando ele foi aposentado por e dá mais força ainda para a questão da conven-
ção, se vocês estão realizando algo diretamente plo, quando você chega com o cara, isso para mim
171
levando a atividade motora adaptada para dentro foi emblemático, uma vez eu cheguei num PS com
da escola ou vocês estão acompanhando essas um cara com diarreia, mas ele tem um F20 chapado,
crianças que fazem parte do projeto; conheço o igual a um boi, mesmo, F20, ele não pode passar no
Olga Kos, eu sou fã do trabalho deles, conheço PS, ele está com diarreia, mas ele é maluco, então,
mais a questão das Artes, se vocês estão fazendo se ele é maluco, ele tem que primeiro passar na psi-
uma intervenção direta nas escolas, se tem essa quiatria para depois passar no clínico. Eu acho que