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Estudosgramaticais NewtonMamede Alterado
Estudosgramaticais NewtonMamede Alterado
Estudos gramaticais
Newton Luís Mamede
Sobre o autor
Caro(a) graduando(a).
Você está diante de um livro que apresenta as estruturas básicas para um estudo sério
e seguro do nosso idioma, a bela língua portuguesa. Não importa o curso que você
estuda, para compreender e aprender os fatos fundamentais da língua que você fala.
Para se comunicar de maneira fluente, elegante e correta, o estudante de nível
universitário precisa dominar alguns detalhes do idioma que não se aprendem na
simples aquisição da linguagem coloquial, no ambiente familiar, no início da vida.
Este livro apresenta-lhe alguns desses detalhes. Não todos, evidentemente, pois o
universo do idioma é quase infinito. Mas o conhecimento básico já é um porto seguro
para uma boa comunicação em linguagem culta e formal. Alguns assuntos, você já
estudou no Ensino Médio. Agora, você vai recordar e ampliar seus conhecimentos
linguísticos.
Introdução
Embora tais condutas sejam louváveis e benéficas da parte dos estudiosos de Letras,
elas não são, ou não constituem a única visão que se deve adotar nas práticas de
estudos nos cursos de graduação. O apego aos estudos elevados de linguística não
pode descuidar do conhecimento da língua no seu todo, em todos os seus aspectos,
dos quais as noções fundamentais e tradicionais da gramática da língua fazem parte e
não podem, por assim dizer, ser desprezadas.
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Objetivos
Esquema
Esta é uma variante ou apenas um aspecto sob o qual a língua é considerada. É o nível
próprio da linguagem formal, em suas estruturas gramaticais apresentadas ou expostas
nos livros de estudo sobre a língua, como as gramáticas, os dicionários, as obras dos
escritores de renome ou de elevada qualidade intelectual. É o nível que identifica as
chamadas pessoas cultas, dotadas de escolaridade elevada, detentoras de cursos
universitários ou simples autodidatas de notório saber, quando escrevem ou quando
falam. É o nível presente nos textos científicos, literários, didáticos, oficiais, jornalísticos,
os quais são elaborados ou redigidos dentro das normas de correção conforme as
regras ou normas estabelecidas pela “gramática”. Daí uma das denominações deste
nível: norma padrão.
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O termo primordial que caracteriza a língua padrão é correção. Trata-se de não escrever
“errado”, não transgredir a ortografia, o vocabulário, o estilo, as normas ou as famosas
regras de concordância verbal e nominal, de regência, de pontuação. E, ainda, de
empregar corretamente as flexões de gênero e número das palavras, as corretas flexões
verbais, os termos adequados nas construções de frases. O que é necessário é escrever
corretamente, isto é, sem erro. É esta variante culta que determina as revisões de
linguagem em gráficas, editoras, jornais, secretarias e demais órgãos que utilizam a
língua no padrão culto em seus exercícios de trabalho.
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A língua coloquial é a “verdadeira” língua do homem, ser social. É por ela que ele se
comunica e se interage na sociedade, ao longo de toda sua vida. É o nível da conversa,
independentemente de escolaridade, de grau de instrução. O habitante de cidade, o
doutor universitário, o operário, o trabalhador humilde, o habitante rural, o sertanejo, o
analfabeto, qualquer pessoa, ou qualquer ser humano é detentor da língua coloquial. É
por meio dela, como já o dissemos, que as pessoas se comunicam na sociedade. As
pessoas: qualquer pessoa.
Uma concordância indevida, uma grafia errada, uma frase mal construída ou ambígua,
uma palavra mal empregada são desvios que se devem corrigir no emprego culto da
língua, para que a expressão seja adequada ao nível cultural e intelectual de seu
usuário. Um desvio constatado num jornal, numa revista, num cartaz afixado em lugar
público, num texto de publicidade ou propaganda, num livro; ou proferido oralmente por
um palestrante, um pregador religioso, um político, um professor, um advogado, um
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orador, agora, sim, trata-se propriamente do “erro” de linguagem, objeto de crítica ou
zombaria das demais pessoas.
Como o nome o diz, é a gramática que apresenta as normas de uso correto da língua.
É também chamada de gramática expositiva. Conforme diz Torres (1973, p. 11), “a
gramática expositiva ou normativa expõe os fatos atuais de um idioma, sua finalidade
precípua é estabelecer normas para o bom uso da língua, num determinado período de
sua evolução”.
Esta é a gramática que inspira a língua padrão, ou língua culta. É a que deve ser seguida
pelos usuários da língua que desejam expressar-se de acordo com os ditames da
correção de linguagem, dos acertos gramaticais e estilísticos, coerentes com o grau de
instrução de que são detentores. É, portanto, a gramática que constitui a fonte de
comprovação de “certo ou errado” de uma estrutura linguística.
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1.2.3 Gramática reflexiva
Esta é uma extensão da gramática escolar. De início, trata-se do estudo dos conteúdos
da gramática normativa, dos fatos e da estrutura da língua, e de suas relações com
situações quotidianas de comunicação pela linguagem, aproximando o estudo da língua
da realidade concreta, vivida pelos estudantes, na fala e na escrita.
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Em seguida, apresenta a forma verbal “chegaram” e discrimina seus morfemas: o radical
“cheg-“; a vogal temática “-a”, marca da primeira conjugação; o morfema “-ra”,
desinência modo-temporal, marca de um tempo verbal do passado; o morfema “-m”,
desinência número-pessoal, marca do plural da terceira pessoa. Isso é uma descrição
linguística de uma estrutura gramatical da língua portuguesa.
Mais uma vez, a gramática descritiva não tem finalidade ou intenção normativa, de
ensinar as normas ou regras de bom uso da língua. É tão somente uma ciência
linguística, cujo objeto formal é a língua em todos os seus aspectos.
As palavras variáveis são as que sofrem flexão ou modificação em seu final, como as
desinências de gênero (masculino e feminino) e de número (singular e plural) para
algumas, como neste caso da palavra gato:
gat-o
-a
-o-s
-a-s
A palavra é uma só, mas possui quatro “finais” ou terminações em suas ocorrências de
uso ou funcionamento da língua. Não são, portanto, quatro palavras.
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As palavras invariáveis são fixas, não apresentam modificações em seu final, como no
caso da palavra aqui, que permanece sempre nessa forma.
1.3.1.1 Substantivo
Classificação do substantivo
Concreto: designa o ser que tem existência em si mesmo, própria, e não existente em
outro ser. O substantivo concreto nomeia pessoas, animais e coisas.
Abstrato: designa o ser que não possui existência em si mesmo ou independente, mas
situações de concepção da razão (seres de razão). O substantivo abstrato nomeia,
principalmente, qualidades, sentimentos, estados e ações.
Aqui cabe uma explicação adicional, nem sempre compreendida pelas pessoas,
inclusive por alguns estudiosos do idioma.
O substantivo amor é abstrato, mas o amor é real, ele existe de fato, não é um ser
apenas imaginário.
E o substantivo saci é concreto, embora o saci seja apenas uma criação fictícia, um ser
que não existe de fato.
Comum: designa todos os seres de uma mesma espécie, ou uma abstração. Exemplos:
menino, laranja, laranjeira, árvore, país, cidade, clima, aluno, alma, anjo, jornal, mão.
Próprio: designa o indivíduo, um ser de uma espécie. Exemplos: Carlos, Rio de Janeiro,
Brasil, Jornal do Comércio.
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Coletivo: é o substantivo comum que, morfologicamente palavra do singular, designa
conjunto de seres de uma espécie. O substantivo coletivo, todavia, pode ter flexão de
plural, quando designa mais de um coletivo, como os arquipélagos, as constelações, as
turmas.
Arquipélago: ilhas.
Banda: músicos.
Cardume: peixes.
Constelação: estrelas.
Corja: velhacos, vadios, desordeiros.
Esquadrilha: aviões.
Fauna: animais de uma região ou país.
Flora: vegetais de uma região ou país.
Junta: bois, médicos, examinadores.
Matilha: cães caçadores.
Nuvem: gafanhotos.
Prole: filhos.
Quadrilha: ladrões.
Turma: pessoas, alunos.
Vara: porcos.
1 – Dê-me um abraço.
2 – O vento foi muito forte.
3 – O lobisomem ainda assusta muita gente.
Flexão do substantivo
• Gênero
Particularidades genéricas
Além das situações regulares de formação do gênero feminino, com a desinência -a, o
substantivo possui as seguintes particularidades:
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a) Substantivo comum de dois – Possui uma só forma, sem flexão, para o gênero
masculino e para o feminino. A distinção entre os gêneros se faz pelos termos
determinantes do substantivo, como o artigo, o adjetivo, o numeral. Exemplos:
o homem / a mulher
o bode / a cabra
o cavalo / a égua
o carneiro / a ovelha
o boi / a vaca
o burro / a mula
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Agora é a sua vez
Outras particularidades
o poeta / a poetisa
o maestro / a maestrina
o imperador / a imperatriz
o embaixador / a embaixatriz (mulher do embaixador)
a embaixadora (a titular da função)
o perdigão / a perdiz
o sacerdote / a sacerdotisa
o profeta / a profetisa
o bispo / a episcopisa
o papa / a papisa
o frade / a freira
o frei / a sóror
o marajá / a marani
o judeu / a judia
Note que é errada a flexão do feminino “bispa”, muito frequente nos dias atuais devido
à existência de mulheres que detêm esse título em certas religiões.
• Número
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couves-flores (substantivo + substantivo)
cirurgiões-dentistas (substantivo + substantivo)
amores-perfeitos (substantivo + adjetivo)
guardas-noturnos (substantivo + adjetivo)
guardas-civis (substantivo + adjetivo)
altos-relevos (adjetivo + substantivo)
terças-feiras (numeral adjetivo + substantivo)
bananas-maçã
escolas-modelo
mangas-espada
navios-escola
palavras-chave
pombos-correio
claraboias
girassóis
pontapés
vaivéns
beija-flores
furta-cores
guarda-chuvas
guarda-roupas
pega-ladrões
pés de moleque
pães de ló
fogões a gás
mulas sem cabeça
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5 – Substantivos constituídos de dois verbos antônimos, ou de verbo e advérbio, ligados
por hífen: ambos permanecem invariáveis, ficando a noção de plural a cargo dos
elementos determinantes desses substantivos.
os bota-fora
os leva-e-traz
os perde-ganha
os pisa-mansinho
reco-recos
tico-ticos
tique-taques
bem-te-vis
ex-diretores
sempre-vivas
vice-presidentes
alto-falantes (note que “alto”, neste caso, é advérbio, palavra invariável)
abaixo-assinados
1 – o guarda-noite.
2 – a palavra-chave.
3 – o navio-escola.
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Para os substantivos terminados em -r, a letra -e da desinência -es fica após a palavra
primitiva, antes do sufixo, e a letra -s vai para o final da palavra, depois do sufixo.
Note que, aqui, não ocorre a consoante de ligação -z- antes do sufixo -inho. A letra S
de “pires” e de “lápis” é parte da palavra primitiva, e não desinência de plural.
Para os substantivos terminados em -L, a letra -i da desinência -is fica após a palavra
primitiva, antes do sufixo, e a letra -s vai para o final da palavra, depois do sufixo.
1.3.1.2 Adjetivo
Adjetivo é a palavra que indica qualidade, estado, característica, aspecto, modo de ser
do substantivo. Sua acepção primordial é de modificador do substantivo. Exemplos:
livro novo
casa nova
cidade grande
menina bonita
carro branco
rua estreita
conta errada
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dois livros (numeral)
duas revistas (numeral)
uns livros (artigo indefinido)
umas revistas (artigo indefinido)
estes livros (pronome)
meus filhos (pronome)
Classificação do adjetivo
livro novo, casa nova, cidade grande, menina bonita, carro branco.
Flexão do adjetivo
• Gênero
menina inteligente
mulher elegante
pessoa feliz
atitude louvável
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• Número
Nas situações de flexão de número, merece destaque o plural dos adjetivos compostos,
nos seguintes principais casos:
camisas amarelo-claras
clínicas médico-cirúrgicas
nações latino-americanas
conferências luso-brasileiras
conferências luso-franco-brasileiras
reações físico-químicas
Observação: Note que, neste caso, a flexão só do último elemento é dupla, isto é,
flexão de número e de gênero. Em “conferências luso-franco-brasileiras”, só o elemento
“brasileiras” é que se flexionou no plural e no feminino, ficando os anteriores na forma
invariável masculina.
camisas verde-água
saias vermelho-sangue
blusas amarelo-limão
paredes azul-piscina
1 – funcionário técnico-administrativo.
atividades _____________________.
2 – acordo político-partidário.
alianças _______________________.
Graus do adjetivo
a) Superlativo relativo
De superioridade: o mais...de.
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João é o mais estudioso dos alunos.
De inferioridade: o menos...de.
b) Superlativo absoluto
A forma erudita provém do adjetivo magro em latim: macer. Com o acréscimo do sufixo
formador do grau superlativo -rimo, formou-se o adjetivo macérrimo.
A pronúncia “magérrimo” não se justifica, por se tratar de palavra erudita, e não vulgar.
Portanto, se se pretende usar o superlativo absoluto sintético do adjetivo “magro” na
forma vulgar, deve-se falar magríssimo, forma correta, e não a forma ridícula e errada
“magérrimo”.
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A título de informação, mencionamos os seguintes adjetivos no grau superlativo
absoluto sintético erudito:
agudo: acutíssimo
amargo: amaríssimo
áspero: aspérrimo
benéfico: beneficentíssimo
benévolo: benevolentíssimo
célebre: celebérrimo
comum: comuníssimo
cristão: cristianíssimo
cruel: crudelíssimo
doce: dulcíssimo
fácil: facílimo
fiel: fidelíssimo
humilde: humílimo
incrível: incredibilíssimo
íntegro: integérrimo
livre:libérrimo
magro: macérrimo
magnífico: magnificentíssimo
maléfico: maleficentíssimo
malévolo: malevolentíssimo
negro: nigérrimo
nobre: nobilíssimo
pessoal: personalíssimo
pobre: paupérrimo
sábio: sapientíssimo
sagrado: sacratíssimo
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1.3.1.3 Artigo
Esta classe é mencionada neste estudo apenas como informação, pois seu emprego é
natural e espontâneo na sociedade falante, restando raros casos de emprego estilístico
ou regional.
1.3.1.4 Numeral
Numeral é a palavra da língua que exprime a ideia ou noção de número. Não se trata
dos símbolos aritméticos ou matemáticos. Trata-se da palavra que nomeia os números.
Numerais cardinais – exprimem os números básicos: um, dois, doze, oitenta, duzentos,
quatrocentos.
No emprego dos numerais na língua falada, requer maior atenção a denominação dos
numerais ordinais, bastante “judiados” pelas pessoas que falam em público, tais como
locutores de jornais e de telejornais, apresentadores de programas de televisão,
palestrantes, oradores.
Cardinais Ordinais
Dezenas
dez décimo
vinte vigésimo
trinta trigésimo
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quarenta quadragésimo
cinquenta quinquagésimo
sessenta sexagésimo
setenta setuagésimo ou septuagésimo
oitenta octogésimo (Atenção: octogésimo, e não “octagésimo”)
noventa nonagésimo
Centenas
cem centésimo
duzentos ducentésimo (e não “duocentésimo”)
trezentos trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo
quinhentos quingentésimo
seiscentos sexcentésimo ou seiscentésimo
setecentos septingentésimo
oitocentos octingentésimo
novecentos nongentésimo ou noningentésimo
a) 484.º
b) 567.º
c) 256.º
d) 384.º
e) 798.º
f) 847.º
g) 569.º
h) 986.º
i) 485.º
1.3.1.5 Pronome
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No presente capítulo, apresenta-se a classe do pronome em sua estrutura mórfica com
as respectivas classificações e subdivisões, bem como algumas situações sintáticas de
funcionamento do pronome.
Etimologicamente, pronome é uma palavra que ocorre “em lugar do nome”. Por
extensão, pronome é a palavra que substitui o nome substantivo ou a ele se refere como
determinante na estrutura sintática da frase. Essa dupla função na frase determina o
conceito de pronomes substantivos e pronomes adjetivos para todos os tipos de
pronomes. Assim, temos:
Classificação do pronome
a) Pronomes pessoais
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Singular Plural
Singular Plural
Os pronomes pessoais oblíquos de terceira pessoa O, A, OS, AS, que exercem apenas
a função sintática de objeto direto, sofrem as seguintes transformações, com a mesma
função sintática de objeto direto:
LO, LA, LOS, LAS: depois de formas verbais terminadas nas letras R, S ou Z, letras
que se eliminam.
NO, NA, NOS, NAS: depois de formas verbais terminadas em M ou em ditongo nasal
ÃO, ÕE, letras que permanecem.
Fizeram-no (fizeraM-O).
Fizeram-nas (fizeraM-AS).
Dão-no (dÃO-O).
Propõe-na (propÕE-A).
Quanto à relação com o sujeito e com o objeto direto e objeto indireto, os pronomes
oblíquos classificam-se em reflexivos e não reflexivos.
Eu me feri.
Tu te feriste.
Ele se feriu.
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Nós nos ferimos.
Vós vos feristes.
Eles se feriram.
Ele me feriu.
Eu te feri.
Ele nos feriu.
Eu os feri.
Nós o ferimos.
Eu vos feri.
Ele se feriu.
Ele ficou fora de si.
Ele fala consigo mesmo.
Eu o feri.
Eu a conheço.
Eu falo com ele.
Sintaticamente, alguns pronomes funcionam como objeto direto e como objeto indireto:
Eu o conheço.
Há tempo não a vejo.
Quero encontrá-lo.
Encontraram-no.
Só objeto indireto:
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Constitui erro, desvio da norma culta, dizer “Eu lhe conheço”, “Há tempo não lhe vejo”,
pois o pronome lhe não funciona como objeto direto, e os verbos “conhecer” e “ver” são
transitivos diretos.
Substitua os termos grifados pelos pronomes oblíquos LHE ou O, conforme sejam objeto
direto ou objeto indireto:
b) Pronomes possessivos
Indicam as pessoas do discurso a que uma coisa pertence, isto é, ideia de posse. Daí o
nome “possessivo”.
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Exemplo: Nosso livro sumiu (um só livro pertencente a mais de um possuidor).
c) Pronomes demonstrativos
Indicam o lugar em que uma pessoa ou coisa se encontra ou o tempo em que um fato
ocorre, em relação às pessoas do discurso.
Os pronomes isto, isso, aquilo não possuem flexão de gênero nem de número.
Alguns exemplos:
Este relógio que está comigo é novo (relógio perto da 1.ª pessoa – a que fala).
Esse relógio é novo? (relógio perto da 2.ª pessoa – com quem se fala).
Aquele relógio é novo (relógio distante da pessoa que fala e da pessoa com quem
se fala).
Alguns exemplos:
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d) Pronomes indefinidos
Alguns exemplos:
Os pronomes nada, alguém, ninguém, tudo, cada não possuem flexão de gênero nem
de número. Exemplos:
Alguém me chamou?
Ninguém me viu.
Nada se perde.
Tudo lhe agrada.
Cada coisa em seu lugar.
e) Pronomes relativos
que
quem
o qual, a qual, os quais, as quais
cujo, cuja, cujos, cujas
onde, aonde
quanto, quanta, quantos, quantas
Alguns exemplos:
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Agora é a sua vez
Complete os espaços com a forma correta dos pronomes pessoais oblíquos de terceira
pessoa, O, A, LO, LA / LHE, conforme sua função sintática de objeto direto ou objeto
indireto, dentre as formas verbais e pronominais mencionadas nos parênteses:
1.3.1.6 Verbo
o Regulares são os verbos que não sofrem modificação ou alteração em seu radical
ou nas desinências dos verbos considerados modelos ou paradigmas para os demais
verbos da mesma conjugação, tradicionalmente assim expostos:
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Como exemplo, o radical mand- do verbo “mand-ar” é o mesmo em todas as pessoas
de todos os tempos e modos. Assim também as desinências de cada tempo e modo são
as mesmas para todos os verbos da mesma classe. As desinências e a vogal temática,
para o tempo presente do modo indicativo dos verbos da 1.ª conjugação, regulares, são:
-o
-as
-a
-amos
-ais
-am
Isso significa que qualquer verbo da 1.ª conjugação se forma, no tempo presente do
modo indicativo, com o acréscimo dessas terminações (vogal temática e desinências)
aos respectivos radiais. Exemplos:
Assim, por exemplo, o verbo faz-er, cujo radical original é faz-, possui, nas flexões de
pessoas, números, tempos e modos, as seguintes alterações do radical, constituindo,
portanto, mais de um radical:
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o Anômalos são os verbos irregulares que se formaram com radicais de verbos
diferentes na sua etimologia latina. São apenas os verbos ser e ir.
o Defectivos são os verbos que não possuem todas as formas ou não se conjugam
completamente. Subdividem-se em defectivos impessoais e defectivos pessoais.
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Defectivos pessoais: são verbos que possuem sujeito, mas não se conjugam em
todas as formas, faltando algumas pessoas em alguns tempos. Exemplo:
abolir – No presente do indicativo não possui a 1.ª pessoa do singular, ficando assim
sua conjugação nesse tempo e modo:
Eu ..............
Tu aboles
Ele abole
Nós abolimos
Vós abolis
Eles abolem
Por não possuir a 1.ª pessoa do singular, não possui, também, nenhuma das seis
pessoas do tempo presente do modo subjuntivo, que é uma forma derivada daquela
pessoa do presente do indicativo. Não existe, portanto, uma forma do verbo “abolir” para
uma frase como esta, por exemplo:
São também defectivos, dentre outros, os verbos reaver, precaver-se, colorir, falir,
adequar (veja o emprego deste último no capítulo 2).
o Abundantes são os verbos que possuem mais de uma forma para a mesma
estrutura número-pessoal ou modo-temporal, ou de forma nominal, geralmente do
particípio. Neste caso específico do particípio, ocorre dupla denominação: particípio
regular e particípio irregular.
Particípio regular: formado com as vogais temáticas -a, para os verbos da 1.ª
conjugação, e -i, para os verbos da 2.ª e da 3.ª conjugação, e da desinência -do,
acrescidas ao radical do respectivo verbo, sempre regular.
Regular Irregular
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O emprego de uma ou de outra forma dos particípios abundantes se faz da seguinte
maneira:
Particípio irregular: com os demais verbos auxiliares, como ser, estar, ficar, continuar,
parecer. Exemplos:
Note que existem verbos que não são abundantes no particípio, sendo alguns só
regulares, e outros só irregulares.
As formas irregulares desses verbos são largamente empregadas por pessoas cultas,
instruídas, como se fossem corretas, havendo pessoas que até “corrigem” as que falam
corretamente. São, portanto, erradas as seguintes expressões:
Fui à casa do Alfredo, mas ele ainda não tinha chego. (correto: chegado)
O deputado tinha falo a verdade. (correto: falado)
O funcionário não tinha trago o dinheiro. (correto: trazido)
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o Auxiliares são os verbos que servem para a formação e conjugação de tempos
compostos ou locuções verbais.
Conjugações
pus-E-r
pus-E-sse
1.3.2.1 Advérbio
Advérbio modificando adjetivo: Ele é muito alto. Elas são muito altas.
Advérbio modificando outro advérbio: Ele mora muito longe. Elas moram muito longe.
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Classificação do advérbio
Locuções adverbiais
em breve: brevemente
às pressas: apressadamente
às claras: claramente
de propósito: propositalmente
1.3.2.2 Preposição
Preposição é a palavra invariável que liga dois termos entre si, dentro da oração,
estabelecendo entre esses termos uma relação de complemento ou de subordinação
sintática e semântica. Exemplos:
Principais preposições: de, em, para, por, com, sem, contra, sobre, sob, entre, desde,
ante, antes, após.
Combinação
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deste, desta, destes, destas (combinação com pronomes demonstrativos)
dele, dela, deles, delas (combinação com pronomes pessoais)
Locuções prepositivas
abaixo de, acima de, acerca de, a fim de, além de, a respeito de, na conta de, ao redor
de, a par de, apesar de, depois de, diante de, em torno de, em vez de, por causa de,
através de, junto a, por detrás de, para com.
1.3.2.3 Conjunção
Conjunção é a palavra invariável que liga duas orações entre si, dentro do período,
estabelecendo entre essas orações relações de coordenação e de subordinação. Daí
sua divisão em conjunções coordenativas e conjunções subordinativas.
Conjunções coordenativas
Ligam orações coordenadas, isto é, orações que não exercem função sintática em outra
oração. Semântica e sintaticamente, possuem as seguintes classificações:
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Esse aluno estudou, mas foi reprovado.
Você pode sair. Leve, porém, o paletó.
Os negócios foram bons, todavia houve alguns prejuízos.
Ele recebeu o dinheiro, no entanto as notas eram falsas.
Conjunções subordinativas
Ligam orações subordinadas, isto é, orações que exercem função sintática em outra
oração, denominada oração principal. Classificam-se em subordinativas integrantes e
subordinativas adverbiais.
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• Causais: porque, pois, já que, desde que (com verbo no indicativo), uma vez
que (com verbo no indicativo), como (no início do período ou antes da oração
principal). Exemplos:
• Condicionais: se, caso, contanto que, desde que (com verbo no subjuntivo),
uma vez que (com verbo no subjuntivo). Exemplos:
• Temporais: quando, enquanto, antes que, depois que, até que, desde que,
sempre que, logo que, assim que. Exemplos:
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Ainda chovia muito quando o avião pousou.
Ficarei na sala até que todos os alunos terminem a prova.
Desde que ele se casou, nunca mais foi pescar.
Depois que os pais saíram, as crianças começaram a algazarra.
Assim que os pais saíram, as crianças começaram a algazarra.
Locuções conjuntivas
já que, visto que, desde que, uma vez que, ainda que, por mais que, a menos que,
contanto que, à medida que, à proporção que, antes que.
Atenção: Note que algumas conjunções são homônimas, isto é, pertencem a mais de
uma classificação. O que as diferencia e identifica é o sentido em cada contexto.
Exemplo:
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1.3.2.4 Interjeição
Locuções interjetivas
ai de mim! quem me dera! ó de casa, bem feito! muito bem! valha-me Deus!
Considerações finais
A gramática é um dos pilares de uma língua. Não existe língua sem gramática. A simples
fala de um sertanejo analfabeto possui gramática. Quando um caminhante encontra
outro e pergunta “Cê tá bão?”, existe, nessa fala, uma estrutura gramatical: “cê”, para a
3.ª pessoa do singular; “tá”, forma verbal na mesma pessoa para concordar com o
sujeito “cê”; “bão”, masculino, para se referir ao sexo masculino do interlocutor. E, na
resposta do outro, “tô”, há também uma estrutura gramatical: “tô”, na 1.ª pessoa do
singular, para concordar com o sujeito “eu”. Os interlocutores não disseram “cê tô” e “eu
tá”. Essas relações entre as palavras constituem a gramática da língua, em qualquer de
suas modalidades ou níveis, tanto culta, elevada, quanto coloquial. Estudar gramática é
apreender e aprender os elementos constitutivos do idioma para o bom domínio desse
maravilhoso objeto de estudo no campo do conhecimento científico: a língua que
falamos.
Resumo
Neste capítulo, você viu alguns tópicos da estrutura da língua portuguesa que
constituem elementos da gramática descritiva e da gramática normativa, conforme
exposto no item 1.2. São situações que tornam exequível o desempenho da língua na
modalidade culta, ou na língua padrão, para a correta expressão do pensamento por
parte das pessoas detentoras de boa escolaridade. Foram apresentados aspectos
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ortográficos, morfológicos, sintáticos e semânticos, dentre outros, com destaque para o
tópico referente às classes de palavras.
Referências
BECHARA, Evanildo Cavalcante. Moderna gramática portuguesa. São Paulo:
Nacional, 1982.
LUFT, Celso Pedro. Novo guia ortográfico. Porto Alegre: Globo, 1976.
41
2 Aspectos pragmáticos: usos e normas
Introdução
A correta expressão do pensamento por meio de linguagem verbal é peculiaridade de
uma língua, ou idioma. No nível culto, ou norma padrão, existem estruturas próprias e
distintas da simples comunicação coloquial diária. São situações de pronúncia, de
escrita ou ortografia, de flexão de palavras e, acima de tudo, de significado. A palavra
certa para o lugar certo é uma questão de respeito para com a identidade daquilo que
desejamos expressar. Essa identidade tem a mesma natureza da identidade de uma
pessoa, por exemplo, em todas as suas marcas. Se a palavra possui tantas letras, e eu
elimino, acrescento ou troco uma letra, eu adulterei a identidade dessa palavra. Ela
passa a ser outra palavra, como no caso de um nome próprio de pessoa: se o nome é,
por exemplo, Eliana, e eu escrevo ou falo Eliane, deixou de ser a pessoa a quem desejo
referir-me. Eu falei ou escrevi o nome errado. É outra pessoa.
O mesmo ocorre com a estrutura de uma língua. Se, na escrita, a palavra tem a letra
“S”, e eu grafo “Z”, deixou de ser o termo que eu desejava expressar. Se a forma verbal
se refere a um sujeito de determinada pessoa e número, e eu expresso essa forma em
outra pessoa ou em outro número, deixou de ser a expressão pretendida por mim, o que
“autoriza”, de certa forma, o interlocutor a entender de maneira diferente a minha ideia
ou o meu pensamento.
A quantidade desses erros ou desvios é enorme. Aqui serão expostos apenas alguns
fatos dos mais frequentes e geralmente apresentados em gramáticas, livros didáticos
ou simples manuais de boa linguagem, para estudiosos ou autodidatas.
Objetivos
Ao término deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:
42
Esquema
2.1 A estrutura da sentença e a pontuação
2.1.1 Pontuação no período simples
2.1.2 Pontuação no período composto
2.1.3 Emprego da vírgula com a conjunção E
2.2 Acentuação gráfica
2.2.1 Posição da sílaba tônica
2.2.2 Casos especiais
2.3 Dificuldades mais frequentes da língua portuguesa
2.3.1 Por que, por quê, porque, porquê
2.3.2 Crase
2.3.3 Palavras e expressões
2.3.4 Funções do pronome SE
2.3.5 Casos de regência verbal
Em outra obra são expostos os elementos constituintes da oração e do período, ou, por
extensão, constituintes da frase ou sentença. O conhecimento das estruturas oracionais
ou frasais conduz ao conhecimento das situações e normas de pontuação, para a
correta expressão do pensamento.
Neste item, serão retomadas essas estruturas para o estabelecimento do emprego dos
sinais de pontuação ocorrentes no uso diário do idioma, nos textos escritos. Sim, os
sinais de pontuação constituem recursos da língua escrita, e não da língua falada.
Nesta, os recursos de compreensão da mensagem são as inflexões de voz, a entonação
e outras situações de expressão oral.
43
Sujeito: simples, eu. (Atenção: sujeito simples, e não “oculto”, numa correta análise,
conforme dispõe a Nomenclatura Gramatical Brasileira).
Predicado verbal: matei Maria.
Objeto direto: Maria. Isto é, “eu matei Maria”.
Essa é a análise da frase tal como foi redigida. No contexto em que foi redigido todo o
texto, é provável que o personagem tenha desejado dizer que matou a barata,
informando isso à personagem Maria. Nesse caso, a redação da frase deveria ser:
– Matei, Maria.
Redigida com a pontuação correta, com emprego da vírgula depois da forma verbal
“matei”, a frase possui esta estrutura sintática:
Agora, sim, a assassinada, a falecida foi a barata. A Maria está salva! A vírgula salvou
sua vida...
Resta dizer, nesta espécie de introdução ao assunto, que os sinais de pontuação podem
ser empregados, também, como recursos estilísticos, e não apenas como obediência
cega às regras decorrentes da estrutura sintática da frase. As aspas, como indicação
de ironia ou de sentido pejorativo; as reticências, como interrupção intencional em casos
de humor ou de quebra do enunciado; a vírgula, em situações de ênfase, são casos
frequentes nas páginas de escritores e redatores em geral. Como se pode ver nos
seguintes enunciados:
44
Entre o verbo e o objeto direto ou objeto indireto:
Ordem direta: Meu irmão caçula ganhou uma bicicleta no dia de Natal.
Meu irmão caçula ganhou uma bicicleta, no dia de Natal.
Ordem inversa: No dia de Natal, meu irmão caçula ganhou uma bicicleta.
Meu irmão caçula ganhou, no dia de Natal, uma bicicleta.
d) Com o termo sintático denominado vocativo, usa-se a vírgula, qualquer que seja sua
posição dentro da oração.
f) Entre termos independentes entre si, não ligados por conjunção, usa-se a vírgula.
45
Valentina prefere a cidade. Sua mãe, o campo. (prefere)
Veja as respostas: 1- vírgula ausente nos dois espaços; 2- vírgula presente, presente,
ausente.
46
Os alunos, porque o calendário foi modificado, fizeram greve.
As praias do litoral paulista que estão poluídas foram interditadas para o público.
As praias do litoral paulista, que estão poluídas, foram interditadas para o público.
Veja as respostas: 1- vírgula ausente nos dois espaços; 2- vírgula presente nos dois
espaços; 3- vírgula presente nos dois espaços.
47
2.1.3 Emprego da vírgula com a conjunção E
nenhuma;
antes da conjunção;
depois da conjunção;
antes e depois da conjunção.
Não se usa vírgula antes nem depois da conjunção “e” quando o termo imediatamente
anterior e o imediatamente seguinte a ela forem da mesma função sintática.
Exemplos:
Esta é a situação que gerou o equívoco de que “não se emprega vírgula antes da
conjunção e.” E o equívoco é tão frequente e tão contundente, que até professores
“corrigem” frases escritas corretamente, quando a vírgula é necessária, e mandam
eliminar ou cortar a vírgula...
Esta regra reporta-se à regra anterior, pois o foco é a função sintática dos termos
antecedentes e consequentes à conjunção.
48
No exemplo seguinte, a falta da vírgula pode ser desastrosa:
Nesse enunciado, o termo anterior à conjunção “e”, “um coelho”, é objeto direto da
oração anterior, e o termo seguinte, “o Jorge”, é o sujeito da segunda oração. Então, por
serem termos de funções sintáticas diferentes, o emprego da vírgula é necessário, ou,
numa afirmação de norma gramatical, obrigatório.
Retirada a vírgula, o coitado do Carlos teria cometido um homicídio, pois teria matado
“um coelho e o Jorge”, já que, sem a vírgula, o termo imediatamente anterior e o
imediatamente seguinte seriam da mesma função sintática, isto é, dois objetos diretos,
conforme visto na regra que impõe nenhuma vírgula antes da conjunção.
Outros exemplos:
Esta situação é análoga à anterior. Usa-se a vírgula depois da conjunção “e” quando,
entre a conjunção e o segundo membro da adição, for intercalado outro termo. Ocorrido
isso, repete-se a situação de o termo imediatamente anterior e o imediatamente
seguinte não serem da mesma função sintática. Exemplo:
Outros exemplos:
49
2.1.3.4 Vírgula antes e depois da conjunção
Aqui, ocorrem os fatos das duas regras anteriores. Usa-se a vírgula antes e depois da
conjunção “e” quando ocorrerem duas intercalações, uma entre o primeiro membro da
adição e a conjunção, e outra entre a conjunção e o segundo membro da adição.
Exemplo:
A primeira impressão é de que a conjunção ficou “entre” duas vírgulas. Mas não é bem
assim. A conjunção “e”, no exemplo citado, liga, de fato, os sujeitos “o Juvenal e o
Osvaldo”. Mas, entre o primeiro sujeito, “o Juvenal”, e a conjunção “e”, foi intercalado o
termo “sempre”, adjunto adverbial; e, entre a conjunção “e” e o segundo sujeito, “o
Osvaldo”, foi intercalado o termo “algumas vezes”. Essa dupla intercalação determinou
duas interrupções, duas quebras na ligação “o Juvenal e o Osvaldo”. Daí a necessidade,
a obrigatoriedade, do emprego das duas vírgulas.
Outros exemplos:
Veja as respostas: 1- vírgula presente nos dois espaços; 2- vírgula presente nos dois
espaços; 3- vírgula presente nos dois espaços.
50
2.2.1 Posição da sílaba tônica
São acentuadas as palavra oxítonas terminadas em A(S), E(S), O(S), EM, ENS.
Daí se conclui que as palavras oxítonas que terminam em outras letras NÃO são
acentuadas:
Uma regra bastante prática consiste no inverso da regra das palavras oxítonas: SÃO
acentuadas as palavras paroxítonas que terminam nas letras das palavras oxítonas
NÃO acentuadas: I(S), US, R, L, N, X, PS e demais terminações.
E NÃO são acentuadas as palavras paroxítonas que terminam nas letras das palavras
oxítonas acentuadas: A(S), E(S), O(S), EM, ENS.
Paroxítonas acentuadas:
51
Agora, as palavras paroxítonas NÃO acentuadas. Note que são as mesmas terminações
das palavras oxítonas acentuadas:
A(S) – casa(s), boneca(s), cantava(s).
E(s) – doce(s), deve(s), dote(s).
O(S) – carro(s), livro(s), inimigo(s).
EM – jovem, homem, item.
ENS – jovens, homens, itens, hifens, germens.
Atenção: Note que as paroxítonas terminadas nas letras ENS não são acentuadas,
mesmo que no singular o sejam, quando terminadas em N:
Essa terminação constitui, foneticamente, um ditongo nasal /ãw/. Ela NÃO ocorre, como
vimos, em palavras oxítonas. Quando esse ditongo nasal ocorre nas palavras oxítonas,
a grafia é ÃO. Assim, temos:
52
Daí se conclui que os monossílabos tônicos terminados em outras letras NÃO são
acentuados:
vai(s), cai(s), rei(s), foi, viu, riu, fui, rui (do verbo “ruir” ou o nome próprio Rui).
São acentuados os ditongos abertos ÉI(S), ÉU(S), ÓI(S) das palavras oxítonas e dos
monossílabos tônicos.
53
2.2.2.2 Vogais I e U dos hiatos
São acentuadas as vogais I e U, tônicas, que formam hiato com a vogal anterior, quando
isoladas ou seguidas de S.
raízes (ra-í-zes), países (pa-í-ses), país (pa-ís), Luísa (Lu-í-sa), Luís (Lu-ís).
baú (ba-ú), baús (ba-ús), Itaú (I-ta-ú), saúde (sa-ú-de), balaústre (ba-la-ús-tre).
Exceções:
Diferencia timbre fechado de timbre aberto. Existe APENAS na forma verbal pôde, do
pretérito perfeito do indicativo, para diferenciar da forma pode, do presente do indicativo
do verbo “poder”.
54
c) Acento diferencial morfológico
Este tópico apresenta alguns fatos da norma padrão ou língua culta que,
frequentemente, geram confusões, dúvidas e os desagradáveis desvios, eufemismo de
“erros”. São situações de várias ordens, em especial ortográfica, morfológica e sintática.
55
Então a frase título de livros e apostilas “Estudo dos porquês” significa “estudo das
causas”, e deveria fazer parte de tratados de filosofia, e não de livros didáticos de
português...
A expressão “por que”, neste caso, equivale às expressões “pelo qual”, “pela qual”,
“pelos quais”, “pelas “quais”. Exemplos:
56
A expressão é usada para as frases interrogativas diretas ou indiretas, no fim de
frase. Exemplos:
2.3.1.3 Porque
2.3.1.4 Porquê
Note que, nesta condição, o substantivo “porquê” é, como dissemos, sinônimo dos
substantivos “causa”, “motivo”, “razão”, conforme o contexto. E, ainda, como
substantivo, pode ser determinado por mais de uma classe de palavra, e não apenas
pelo artigo definido “o”, conforme muitos pensam e afirmam equivocadamente.
Exemplos:
57
Esse porquê não me convence (esse motivo).
A renúncia do presidente tem, no mínimo, dois porquês (duas causas, duas razões,
dois motivos).
Complete os espaços corretamente, com as formas: por que, por quê, porque, porquê:
a) Exijo definitivamente que você diga ____________ terminou o namoro com ela.
b) Está aqui o motivo ____________ não compareci à reunião.
c) Seu livro se intitula: “____________ não fumar”.
d) O diretor não explicou _________________ adiou as provas nem _______________
demitiu aquele professor.
e) ____________ você fez isso, meu filho? ____________ ?
f) Ainda não descobri ________________ ele desistiu do concurso.
g) _____________ pensamos, somos racionais.
h) Você ultrapassou em local proibido. Eis ____________ foi multado.
i) A menina está chorando. Quero saber ______________.
Veja as respostas: a- por que; b- por que; c- por que; d- por que; e- por que / por quê; f-
por que; g- porque; h- por que; i- por quê.
2.3.2 Crase
A marca ortográfica da crase se faz pelo acento grave (`). Note que o nome desse
acento ou sinal gráfico é acento grave, e não crase.
a a(s) à, às
58
Preposição Pronome demonstrativo Crase
a aquele(s) àquele(s)
aquela(s) àquela(s)
aquilo àquilo
Ocorre a crase, então, quando o termo anterior rege a preposição “a”, e o termo seguinte
é antecedido do artigo definido feminino singular ou plural “a” / “as”. Exemplos:
Atenção: Note que a grafia com os dois “aa” é errada. Foi empregada aqui apenas para
mostrar a ocorrência dessas duas vogais que se fundiram numa só.
Ocorre a crase, então, quando o termo anterior rege a preposição “a”, e o termo seguinte
é um pronome demonstrativo iniciado pela letra “a”. Exemplos:
Atenção: Note que a grafia com os dois “aa” é errada. Foi empregada aqui apenas para
mostrar a ocorrência dessas duas vogais que se fundiram numa só.
A maior parte dos casos de emprego da crase com o artigo definido é de não usar crase.
A rigor, pode-se afirmar que existe apenas uma regra para o emprego da crase, que
coincide com o conceito:
• Usa-se a crase quando ocorre a fusão da preposição “a” com o artigo definido
feminino “a” / “as”.
• Não se usa a crase quando faltar um dos dois “aa”, ou a preposição, ou o artigo
definido.
59
Importante:
Um recurso adotado para esclarecer o emprego da crase com o artigo definido, em caso
de dúvida, é substituir o termo antecedente que rege a preposição “a” por outro, que
rege a preposição “de” ou a preposição “em”.
Se, na substituição, ocorrer “de” ou “em”, e não “da” ou “na”, é porque faltou o artigo.
Então não ocorre a crase, o “a” é só preposição, não devendo, pois, ser assinalado
com o acento grave. Exemplos:
Começou a chover.
Parou de chover. – E não: “da” chover
Em todos esses casos, o “a” é só preposição, pois o termo seguinte não admite a
anteposição do artigo “a”.
60
• Não se usa crase antes de palavras masculinas.
Começou a chover.
Estou disposto a colaborar.
Ele se limitou a ficar calado.
Ela estava a conversar com o marido.
Nota: Se o substantivo “casa” estiver determinado por qualquer adjunto adnominal, usa-
se a crase, pois, neste caso, esse substantivo é precedido do artigo “a”.
Nota: Se o nome de cidade estiver determinado por qualquer adjunto adnominal, usa-
se a crase, pois, neste caso, o nome da cidade é precedido do artigo “a”.
Nota: Com o pronome indefinido “outra” / “outras”, ocorre ou não a crase, conforme o
contexto admita ou não a anteposição do artigo “a”.
Não entregue o pacote à Geralda, entregue a outra moça. (Isto é, a uma outra moça
qualquer).
Com o artigo: tratando-se de apenas duas moças. (Isto é, se não é uma, só pode ser a
outra)
62
Não entregue o pacote à Geralda, entregue à outra moça.
• Não se usa crase antes do substantivo “terra”, quando significa chão firme, em
oposição ao ar ou à água.
• Com o pronome relativo “que”, usa-se ou não a crase conforme o contexto, isto é,
conforme ocorra ou não a anteposição do artigo “a”.
Com o artigo: São duas moças. Refiro-me à que está sentada, e não à que está em pé.
Atenção: Note que o emprego da crase é opcional porque o artigo também é opcional.
Se não for possível a anteposição do artigo, então não ocorrerá a crase. O não emprego
da crase é obrigatório. E, se houver a presença do artigo, então o emprego da crase
será obrigatório.
Refiro-me a suas irmãs. – Obrigatório o não emprego da crase, pois a palavra “a”
antes de palavra no plural é só a preposição. Se houvesse o artigo, teria de ser “as”, no
plural.
63
(Confronto: gosto de suas irmãs).
Além de seu emprego para indicar a crase, o acento grave é empregado nas locuções
adverbiais, prepositivas e conjuntivas cujo núcleo é constituído de substantivo
feminino.
Trata-se de uma situação em que não ocorre a crase, isto é, a fusão da preposição “a”
com o artigo definido feminino “a” / “as”, embora possa acontecer coincidência. Mas só
coincidência.
a) Locuções adverbiais
Algumas locuções:
Note que são apenas expressões constituídas de substantivos femininos como núcleo.
Portanto as de núcleo masculino não se grafam com o acento grave, como:
Exemplo:
Esse enunciado quer dizer que o sujeito “meu primo” frequenta escola no período
noturno, sendo o termo, pois, adjunto adverbial de tempo.
o enunciado quer dizer que o sujeito “meu primo” tem como objeto de estudo a noite,
isto é, ele é um astrônomo, um cientista que estuda, pesquisa, analisa a noite. O termo
“a noite”, então, é objeto direto do verbo “estudar”.
Observação: O único caso de locução adverbial que a norma padrão autoriza deixar
sem o acento grave é para as locuções adverbiais de instrumento, ou meio, desde
64
que não ocorra ambiguidade. Caso ocorra, o emprego do acento grave é obrigatório.
Exemplo:
Esse enunciado está com o objeto direto subentendido. O rapaz abriu alguma coisa
usando a faca como instrumento. Então o termo “à faca” é adjunto adverbial de
instrumento. O acento grave é obrigatório, pois sua ausência determinaria outro sentido
ao enunciado:
O enunciado quer dizer que o rapaz abriu uma faca, daquelas que parecem canivete,
tendo a lâmina dobrável, guardada dentro do cabo. Então o termo “a faca” é objeto
direto.
Neles, o objeto do verbo “abrir” está expresso, “a lata”. Portanto não existe a
possibilidade de interpretar o termo “a faca” como objeto direto do verbo, mas apenas
como adjunto adverbial de instrumento. Então o emprego do acento grave é opcional.
b) Locuções prepositivas
Algumas locuções:
à maneira de, à moda de, à custa de, às custas de, à vista de, à luz de, à sombra de,
à força de, à espera de, à procura de.
Exemplos:
c) Locuções conjuntivas
Exemplos:
65
Agora é a sua vez
Veja as respostas: a- a, a, à; b- a, a; c- a.
a) Os turistas chegaram ___ (a, à) Madrid ___ (a, à) uma hora da manhã.
b) Meu sobrinho foi ___ (a, à) cidade ___ (as, às) quatro horas __ (a, à) fim de comprar
um par de sapatos.
c) Não sei ___ (a, à) que garota você se refere: é ___ (a, à) que está de saia verde ou
___ (a, à) que está de blusa azul?
d) Dona Maria, dirijo-me ___ (a, à) Senhora ____ (a, à) procura de informações ____ (a,
à) respeito de nossa viagem ___ (a, à) Florianópolis.
e) Durante sua excursão ___ (a, à) Europa, ele foi ___ (a, à) Portugal e ___ (a, à) França,
mas não foi ___ (a, à) Grécia nem ___ (a, à) Roma.
f) A Luciana está magoada, porque o diretor não se referiu ___ (a, à) ela nem ___ (a, à)
nenhuma de suas colegas de grupo.
Antônimo: BOM.
Exemplos: mau aluno, mau jeito, mau cheiro, mau hálito, mau humor (bom aluno,
bom...).
66
Exemplos: fazer o mal, praticar o mal, evitar o mal, pessoa do mal (fazer o
bem...).
ONDE – Corresponde a termos que regem a preposição EM: morar, estar, ficar, estudar.
No tópico dos pronomes pessoais, vimos que os de caso oblíquo exercem a função
sintática de complemento, e os de caso reto exercem apenas a função sintática de
sujeito. Portanto as expressões “entre eu e ele”, “entre eu e você” e demais da mesma
natureza são erradas, pois os pronomes pessoais EU e TU são apenas do caso reto,
portanto exercem apenas a função sintática de sujeito. As expressões com a preposição
“entre”, nos casos aqui referidos, são complemento, e não sujeito. Por isso devem ser
construídas apenas com as formas pronominais oblíquas MIM e TI. Os demais
pronomes pessoais do caso reto, sim, esses podem ser do caso reto, quando sujeitos,
e do caso oblíquo, quando complementos. Exemplos:
67
Os atritos foram entre MIM e TI. (e não entre eu e tu)
Os atritos foram entre TI e MIM. (e não entre tu e eu)
Entre MIM e ele houve acordo.
Entre ele e MIM houve acordo.
Nunca houve desentendimento entre MIM e você.
Nunca houve desentendimento entre você e MIM.
O assunto será tratado apenas entre MIM e o Alfredo.
O assunto será tratado apenas entre o Alfredo e MIM. (e não entre o Alfredo e eu)
O caso será decidido entre MIM e os alunos. (e não entre eu e os alunos)
Você viu que a ordem dos pronomes não interfere em seu emprego, como “entre mim e
você” ou “entre você e mim”.
É evidente que alguma forma de enunciar pode soar estranha. Mas esse estranhamento
não deve interferir no emprego correto das expressões. Para atender a função poética
da linguagem, escolha a forma que tenha melhor sonoridade.
Numeral fracionário. Neste caso, tem função mórfica de adjetivo, pois determina
substantivo, tendo, portanto, as flexões de gênero e de número: meio, meia, meios,
meias. Exemplos:
meio quilo.
meia dúzia.
meios termos – Detesto pessoas que só dizem meios termos.
meias palavras – Detesto pessoas que só dizem meias palavras.
1 – Alguns políticos dão __________ (mau / mal) exemplo aos próprios filhos.
2 – Minha irmã é aquela ali, aquela __________ (meio / meia) gorda.
3 – Por favor, ___________ (onde / aonde) vão aquelas crianças?
68
2.3.3.5 HÁ / A
HÁ- Emprega-se esta forma nas frases em que a ideia é de tempo passado, ou tempo
decorrido. Equivale à forma verbal FAZ, na mesma acepção. Exemplos:
Ele mora nesta cidade há dez anos. / ...faz dez anos. (e não “fazem”)
Há dez anos que ele mora nesta cidade. / Faz dez anos que... (e não “Fazem”)
Ele chegou há duas horas. / ...faz duas horas. (e não “fazem”)
Há duas horas que ele chegou. / Faz duas horas que... (e não “Fazem”)
Estamos aqui há muito tempo.
Os dinossauros existiram há milhões de anos.
Há muito que não o vejo.
Há muito não se vê tanta corrupção política.
AO ENCONTRO DE (DO, DOS, DA, DAS) – Esta expressão tem ideia de situação
favorável, agradável, boa. Exemplos:
A preocupação com o falar corretamente, com o não errar, com o não ser ignorante ou
caipira faz muitas pessoas exatamente errarem neste tópico, pois aprenderam que a
expressão “com nós” é errada. Mas existem as duas formas.
69
CONOSCO, CONVOSCO – Esta forma pronominal é resultante da fusão da preposição
COM e dos pronomes NÓS e VÓS.
Tal forma é usada apenas quando o pronome pessoal “nós” ou “vós” não é seguido de
determinante ou de aposto. Exemplos:
COM NÓS, COM VÓS – Aqui se trata do pronome pessoal seguido de determinante ou
de aposto. Neste caso, não se usa a forma sintética ou aglutinada do pronome e da
preposição. Exemplos:
70
MELHOR – Trata-se da forma sintética do comparativo de superioridade do advérbio
“bem”. Exemplos:
Nossos alunos estão mais bem preparados que os das outras escolas.
O professor está mais bem informado que o diretor.
Este trabalho está mais bem realizado que aquele.
A sala é mais bem arejada que o quarto.
O galpão da igreja está mais bem construído que o do clube.
As partes da herança estão mais bem divididas agora.
Este texto está mais bem traduzido que o outro.
O bolo está mais bem repartido que o doce.
O assunto agora está mais bem debatido.
As propostas estão mais bem discutidas.
O assunto foi mais bem explicado pelo professor.
71
VIAGEM: substantivo.
Esse verbo é defectivo, não possuindo, portanto, todas as formas de pessoas, tempos
e modos. Possui apenas as formas arrizotônicas, isto é, as pessoas ou formas em que
a vogal tônica ocorre depois do radical. O radical do verbo “adequar” é adequ-. Então
não existem as pessoas em que a vogal tônica seria o “e”. Isto é, não existem as
formas rizotônicas desse verbo.
72
Note que o tempo pretérito imperfeito do indicativo é completo porque todas as pessoas
são arrizotônicas, isto é, todas têm como tônica a vogal temática -a, depois do radical.
Aqui não vale, também, aquele argumento de que, faltando a primeira pessoa do
singular do presente do indicativo de um verbo defectivo, consequentemente não haverá
todo o presente do subjuntivo. Não. O caso aqui é outro, a regra é outra.
Agora surge a dúvida, ou a intrigante questão: como proferir, então, uma frase em que
o verbo “adequar” é defectivo, isto é, uma forma que não existe para esse verbo? A
resposta é simples: as formas inexistentes de um verbo defectivo são substituídas pelas
formas de um verbo sinônimo ou de significação análoga ou equivalente, conforme visto
no capítulo 1, no item referente aos verbos defectivos pessoais. As frases mencionadas
no início deste item, como erradas, ficam assim:
A melhor prova de que esta norma é correta, exata, ortodoxa, é o título de uma das
obras do escritor português Eça de Queirós, Os Maias. Seria um absurdo se o livro se
intitulasse “Os Maia”...
73
2.3.4 Funções do pronome SE
Esta situação ocorre com verbos não transitivos diretos. Então, com verbos intransitivos,
transitivos indiretos e de ligação.
Neste caso, o verbo fica invariável, isto é, emprega-se apenas na 3.ª pessoa do
singular.
Note, mais uma vez, que em todos esses exemplos o verbo ficou na terceira pessoa do
singular.
74
Atenção: Não se trata de sujeito indeterminado.
Exemplos:
Note que, no último par de exemplos, o verbo ficou no plural para concordar com o
sujeito composto “o locutor, o interlocutor, a finalidade e a situação”. Por se tratar de
sujeito composto depois do verbo, ou sujeito posposto, a forma do verbo no singular
também é correta, para concordar com o sujeito mais próximo, conforme prescreve a
regra. Mas não a única forma correta.
Repetimos que, com verbo transitivo direto, o pronome SE não indica sujeito
indeterminado. Como a maior ocorrência na língua portuguesa é dessa situação, os
usuários da língua, falada ou escrita, “pensam” que esse pronome indica apenas sujeito
indeterminado, e escrevem o verbo sempre no singular nas frases de voz passiva. Por
isso existem as famosas placas ou os famosos anúncios com a concordância errada:
vende-se casas, vende-se móveis usados, aluga-se apartamentos, conserta-se
calçados, e tantos outros.
Esse equívoco, esse engano, esse pensamento errado é comum até em pessoas de
escolaridade elevada.
75
2.3.5 Regência de alguns verbos
Em outra obra estão relacionados alguns verbos cuja regência oferece dificuldade ou
confusão em seu emprego na modalidade culta da língua portuguesa. É uma relação
com finalidade didática, com os verbos apresentados com mais frequência em
gramáticas ou em livros didáticos.
A frequência com que tais verbos são empregados de forma errada, mas por pessoas
“importantes”, transformou o erro em “acerto” para as demais pessoas, principalmente
as que são dotadas de menor preparo intelectual ou escolar. Estas veem naquelas o
modelo, o paradigma do bom uso da língua. Então, o que elas proferem é imitado.
Mesmo que seja o erro.
É comum vermos frases mal redigidas, como se fossem corretas, com esses verbos e
nomes deles derivados tendo por complementos termos construídos com a preposição
“a”: residente à rua tal, situado à rua tal. Erro até presente em formulários impressos,
com os espaços para preenchimento do cliente ou freguês.
2.3.5.2 Deparar
Este é outro verbo empregado de forma errada como se fosse certa. Erro cometido,
como dissemos, por intelectuais, professores, escritores.
Trata-se de um verbo que admite três construções, das quais duas são praticamente
ignoradas pelo grande público, mesmo intelectual. Portanto, pouco usadas. A terceira
forma, sim, é a que muita gente conhece e emprega erradamente.
76
Algo deparar-se a alguém: “Ao hoteleiro deparou-se um refresco”. Isto é: apresentou-
se-lhe aos olhos. (FERNANDES, 1953, p. 189).
Essas duas formas não são conhecidas do grande público. São mais de emprego
literário, erudito, clássico.
Atenção: Não confunda, neste caso, o emprego do pronome SE nas frases com sujeito
indeterminado. Aí, sim, há o emprego do pronome, mas não como parte de um verbo
pronominal. Por se tratar de um verbo transitivo indireto, “deparar com”, o pronome SE,
com esse verbo, funciona como índice de indeterminação do sujeito. Exemplos:
Veja as respostas: a- mal; b- mau; c- mau; d- mal / mau; e- onde / aonde; f- na.
77
2.3.5.3 Implicar
Trata-se de mais um verbo empregado de forma errada como se fosse correta, por
pessoas instruídas.
No sentido de acarretar, ter como resultado, esse verbo é transitivo direto, e não
transitivo indireto com a preposição “em”.
Exemplos:
O conserto do meu carro ficou pronto. Hoje vou pagá-lo. – (lo = o conserto: coisa –
objeto direto)
O dentista precisa do dinheiro. Hoje vou pagar-lhe. – (lhe = ao dentista: pessoa –
objeto indireto)
Como são verbos que significam movimento, direção, regem a preposição “A”, e não a
preposição “em”, própria dos verbos que significam repouso. Assim, as expressões
corretas com esses verbos são:
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Vou a casa buscar o dinheiro.
Voltei ao clube, ao teatro.
Voltei à igreja, à casa da vovó.
Voltei a Uberaba, a São Paulo.
Voltei a casa para buscar o dinheiro.
2.3.5.6 Namorar
Exemplos:
2.3.6 Emprego do pronome relativo QUE com verbos que regem preposição
Esta é uma situação bastante “agredida” na fala e na escrita, por pessoas de certa
cultura ou de escolaridade elevada, como já o dissemos em mais de uma ocasião.
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Considerações finais
Os fatos apresentados neste capítulo constituem importante cabedal de conhecimentos
para qualquer estudioso ou usuário da língua. Com maior destaque, para o estudante
de Letras, futuro professor de Português. São aspectos de uso prático e quotidiano, nas
diversas formas de expressão linguística. Estudá-los e compreendê-los é obrigação de
toda pessoa instruída para um satisfatório e coerente conceito na sociedade, não só
para ser respeitada, mas também e principalmente para tornar-se o paradigma da boa
comunicação e expressão em língua portuguesa.
Resumo
Neste capítulo, você viu algumas situações de correção de linguagem e de estruturas
morfossintáticas da língua portuguesa. São situações decorrentes, em geral, de
conteúdos morfológicos e sintáticos vistos no capítulo anterior, mormente no tocante às
classes de palavras. Foram apresentadas algumas normas de pontuação, de ortografia,
de grafia de palavras e de expressões, de crase, de algumas estruturas sintáticas de
emprego do pronome “se” e de regência verbal. Todos esses conteúdos constituem
seguro alicerce para o bom domínio do idioma.
Referências
LUFT, Celso Pedro. Novo guia ortográfico. Porto Alegre: Globo, 1976.
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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.
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