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Língua Portuguesa /

Estudos gramaticais
Newton Luís Mamede
Sobre o autor

Newton Luís Mamede

Especialista em Língua Portuguesa, pelo PREPES – Programa Regional de


Especialização de Professores do Ensino Superior – da Universidade Católica de Minas
Gerais (PUC – Minas). Aprovado em concurso público na Universidade Federal de
Uberlândia (UFU), como professor de Língua Latina. Graduado em Filosofia
(licenciatura plena) e em Letras – habilitação em Português/ Francês (licenciatura
plena), pela faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Santo Tomás de Aquino”, de
Uberaba – MG. Professor de Língua Portuguesa e de Língua Latina, na Universidade
de Uberaba (Uniube) e em outras instituições de ensino superior. Professor de Língua
Portuguesa, no Ensino Médio, em Uberaba – MG.
Apresentação

Caro(a) graduando(a).

Um livro, sozinho, não se basta. Guardado na estante ou escondido na biblioteca, sua


finalidade praticamente se anula.

Você está diante de um livro que apresenta as estruturas básicas para um estudo sério
e seguro do nosso idioma, a bela língua portuguesa. Não importa o curso que você
estuda, para compreender e aprender os fatos fundamentais da língua que você fala.
Para se comunicar de maneira fluente, elegante e correta, o estudante de nível
universitário precisa dominar alguns detalhes do idioma que não se aprendem na
simples aquisição da linguagem coloquial, no ambiente familiar, no início da vida.

Este livro apresenta-lhe alguns desses detalhes. Não todos, evidentemente, pois o
universo do idioma é quase infinito. Mas o conhecimento básico já é um porto seguro
para uma boa comunicação em linguagem culta e formal. Alguns assuntos, você já
estudou no Ensino Médio. Agora, você vai recordar e ampliar seus conhecimentos
linguísticos.

No primeiro capítulo, “Gramática e estrutura morfossintática”, são expostos alguns


conceitos linguísticos de níveis de linguagem e de tipos de gramática, bem como as
classes gramaticais das palavras da língua portuguesa, como substantivo, adjetivo,
verbo, dentre outras, e suas situações de emprego e funcionamento, como flexões,
ortografia, significado e demais noções gramaticais.

No segundo capítulo, “Aspectos pragmáticos: usos e normas”, são apresentadas


algumas situações da norma padrão ou nível culto da língua portuguesa, com o foco na
correção, ou, em outros termos, na exposição da forma correta de palavras e de
expressões, muitas vezes empregadas de maneira desvirtuada por pessoas de nível
escolar elevado. São situações de uso frequente na fala e na escrita, no exercício diário
da prática da linguagem, que não podem ser ignoradas por quem deseja expressar-se
corretamente.

O livro tem finalidade acadêmica. Destina-se à disciplina institucional “Língua


Portuguesa”, adotada para todos os cursos da Universidade de Uberaba, e à disciplina
“Estudos Gramaticais”, componente da grade curricular do curso de Letras. Vazado em
linguagem simples e acessível, pretende contribuir para o estudo e a aquisição segura
dos fundamentos do idioma pátrio.
1 Gramática e estrutura morfossintática

Introdução

Nos cursos de Letras das escolas brasileiras, faculdades isoladas ou universidades, o


estudo da língua portuguesa vem passando, nas duas últimas décadas, por algumas
transformações decorrentes dos avanços dos estudos linguísticos, mormente os
praticados por novos pesquisadores, ou “pesquisadores novos”, em seus trabalhos
universitários, monografias, dissertações de mestrado ou teses de doutorado. As
modernidades dos estudos têm fascinado os estudiosos de cursos de pós-graduação e,
consequentemente, influenciado professores e estudiosos dos cursos de graduação, os
quais, numa espécie de “corrente”, transmitem aos alunos suas convicções, tendências
e simpatias por teorias e ideias modernas e “avançadas”.

Embora tais condutas sejam louváveis e benéficas da parte dos estudiosos de Letras,
elas não são, ou não constituem a única visão que se deve adotar nas práticas de
estudos nos cursos de graduação. O apego aos estudos elevados de linguística não
pode descuidar do conhecimento da língua no seu todo, em todos os seus aspectos,
dos quais as noções fundamentais e tradicionais da gramática da língua fazem parte e
não podem, por assim dizer, ser desprezadas.

O conhecimento da língua em sua estrutura deve considerar todos os seus aspectos,


como a semântica, a morfologia, a fonologia, a sintaxe, a estilística, a ortografia. E ainda
outros, considerados complementares mas igualmente importantes, como a literatura, a
filologia, a gramática histórica. O estudo amplo e profundo da língua não pode desprezar
nenhum desses aspectos.

Muitas vezes é considerado ultrapassado, antiquado ou obsoleto o currículo do curso


de Letras de uma faculdade ou universidade que contemple, ou simplesmente apresente
conteúdos gramaticais, tanto na forma de unidades formais, ou de “capítulos” paralelos.
Ocorrem até comentários desagradáveis entre pessoas da área de Letras, como se
fosse um absurdo o aluno estudar gramática, palavra que é vista ou tida com um sentido
depreciativo.

Essa atitude revela desconhecimento evidente do conceito ou da noção de gramática,


até mesmo da simples palavra gramática. Não é porque se trata de um termo já
empregado em épocas antigas ou clássicas, entre gregos e latinos, que o termo deixa
de ter ou perde seu sentido ou seu valor. Não é humilhante saber gramática. É
importante, sim, conforme o afirmei linhas atrás, conhecer vários aspectos do estudo da
língua, e não só a gramática. Mas desprezar a gramática e considerá-la desnecessária
torna o estudo da língua incompleto, deficiente.

Neste capítulo, iremos considerar os fatos da língua como objeto de estudo da


gramática. Melhor dizendo: de uma das gramáticas. Para tanto, serão apresentadas
noções de algumas modalidades de gramática, conforme o foco ou objeto formal sob o
qual a língua é estudada. Vale dizer que não existe uma só gramática, mas várias,
considerado o termo em seu sentido primordial de estudo da língua.

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Objetivos

Ao término deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• explicar as diversas modalidades de desempenho de uma língua, mormente a


língua ou norma padrão e a língua coloquial;
• mostrar os diversos conceitos de gramática, no estudo de uma língua;
• justificar a necessidade de estudar gramática para um bom conhecimento
das estruturas da língua portuguesa;
• identificar situações morfológicas das classes de palavras e de seu
funcionamento para o correto desempenho na modalidade culta da língua.

Esquema

1.1 Língua padrão e língua coloquial


1.1.1 Língua Padrão
1.1.2 Língua Coloquial
1.2 Gramática normativa, escolar, reflexiva, descritiva
1.2.1 Gramática normativa
1.2.2 Gramática escolar
1.2.3 Gramática reflexiva
1.2.4 Gramática descritiva
1.3 Classes de palavras
1.3.1 Palavras variáveis
1.3.2 Palavras invariáveis

1.1 Língua padrão e língua coloquial

Nos estudos linguísticos, em especial na disciplina ou na ciência denominada


Linguística, são estudadas as variantes linguísticas, dentre as quais as mais conhecidas
são a variante histórica, a geográfica e a social, cada qual com suas divisões ou
subdivisões. Na variante social, a dicotomia que mais se destaca, ou para a qual mais
se chama a atenção, é a dupla língua padrão e língua coloquial. Conforme o livro ou o
autor, essas denominações podem variar, como norma padrão, norma culta, nível
formal, para a língua padrão, e nível coloquial, língua oral, oralidade, para a língua
coloquial.

1.1.1 Língua padrão

Esta é uma variante ou apenas um aspecto sob o qual a língua é considerada. É o nível
próprio da linguagem formal, em suas estruturas gramaticais apresentadas ou expostas
nos livros de estudo sobre a língua, como as gramáticas, os dicionários, as obras dos
escritores de renome ou de elevada qualidade intelectual. É o nível que identifica as
chamadas pessoas cultas, dotadas de escolaridade elevada, detentoras de cursos
universitários ou simples autodidatas de notório saber, quando escrevem ou quando
falam. É o nível presente nos textos científicos, literários, didáticos, oficiais, jornalísticos,
os quais são elaborados ou redigidos dentro das normas de correção conforme as
regras ou normas estabelecidas pela “gramática”. Daí uma das denominações deste
nível: norma padrão.

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O termo primordial que caracteriza a língua padrão é correção. Trata-se de não escrever
“errado”, não transgredir a ortografia, o vocabulário, o estilo, as normas ou as famosas
regras de concordância verbal e nominal, de regência, de pontuação. E, ainda, de
empregar corretamente as flexões de gênero e número das palavras, as corretas flexões
verbais, os termos adequados nas construções de frases. O que é necessário é escrever
corretamente, isto é, sem erro. É esta variante culta que determina as revisões de
linguagem em gráficas, editoras, jornais, secretarias e demais órgãos que utilizam a
língua no padrão culto em seus exercícios de trabalho.

A língua padrão apresenta as seguintes características:

• Escrita e pronúncia corretas, conforme estabelecidas nas gramáticas, nos


dicionários e na tradição de emprego pelas pessoas cultas.

• Adquirida por meio de estudo. Esta é a grande, a fundamental, a primordial


característica deste nível de uso da língua. Não vale aqui o argumento de que
“quem faz a língua é o povo”. Não. Neste nível, não se considera o “povo”, em
seu sentido puramente de categoria social. A aquisição do nível culto, da norma
padrão da língua é decorrente apenas de estudo. Aprende-se a norma culta, a
língua padrão, estudando. Estudando: e não ouvindo “os outros”, mesmo que
esses outros sejam pessoas detentoras de estudo. É muito comum ouvir
doutores cometerem desvios da norma culta, seja em pronúncia, em
concordância, em vocabulário e outros aspectos da língua.

• Artificial, formal. Suas expressões não jorram espontaneamente da boca ou da


mente do falante, do emissor. É uma linguagem pensada, ensaiada, cuidada,
que pode ser alterada, modificada, transformada no decorrer do discurso. O
emissor, na fala ou na escrita, pensa antes de se expressar. Simplesmente cuida
da correção da linguagem.

• Vocabulário amplo, refinado, erudito, complexo. É uma característica decorrente


das duas anteriores. As palavras ou os termos empregados são adquiridos
individualmente, conforme o grau de estudo e de leitura de seu usuário, e não
por meio do simples convívio social e doméstico. Estão presentes nas grandes
obras dos grandes escritores. Por isso, socialmente, as palavras são chamadas
“palavras difíceis”, ou “palavras bonitas”, pelas pessoas comuns.

• De emprego literário, jornalístico, científico, didático, jurídico. Conforme visto nas


outras características, é o nível empregado e praticado nos setores cultos e
formais da sociedade.

1.1.2 Língua coloquial

Este é o nível que caracteriza propriamente a língua como produto da racionalidade


humana. Antropologicamente, o homem é o animal dotado de linguagem articulada por
meio de signos, de símbolos sonoros, produzidos pela voz, que representam o mundo
biossocial. É o nível da voz do animal “homem”. Biologicamente, os animais possuem
“vozes”, como aprendemos nas séries inicias de nossa vida escolar. O cão late, o gato
mia, o boi berra, e assim por diante. Já o homem fala. Essa é a voz do animal racional,
do homem. Mas não é uma voz simplesmente “fisiológica”, decorrente do instinto animal.
É a voz codificada pela língua, pelo idioma. Portanto, racional.

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A língua coloquial é a “verdadeira” língua do homem, ser social. É por ela que ele se
comunica e se interage na sociedade, ao longo de toda sua vida. É o nível da conversa,
independentemente de escolaridade, de grau de instrução. O habitante de cidade, o
doutor universitário, o operário, o trabalhador humilde, o habitante rural, o sertanejo, o
analfabeto, qualquer pessoa, ou qualquer ser humano é detentor da língua coloquial. É
por meio dela, como já o dissemos, que as pessoas se comunicam na sociedade. As
pessoas: qualquer pessoa.

A língua coloquial apresenta as seguintes características:

• Da conversa diária, entre os falantes. Em casa, em família, com os vizinhos e os


amigos, na escola, no trabalho, na rua. O termo “coloquial” tem origem latina,
com ideia de “conversa”: fala entre pessoas.

• Adquirida desde a infância. A criancinha, por volta de um ano de idade, ou antes,


já começa a balbuciar os primeiros fonemas que irão constituir as palavras, e
depois as frases articuladas para a expressão do pensamento. Adquirida desde
a infância e ao longo da vida. E não por meio de estudo, como a língua padrão,
ou nível culto da língua. A língua coloquial é aprendida em casa, com os pais,
vizinhos, amigos. É chamada muitas vezes de língua materna, por ser,
tradicionalmente, a mãe a primeira a ensinar a criancinha a falar.

• Natural, espontânea, informal. Se é o nível da conversa diária, a língua é usada


automaticamente, simultaneamente ao pensamento. Por isso, não ensaiada,
não pensada anteriormente, não planejada. A língua é articulada ou emitida com
a naturalidade própria do falante, com seu linguajar decorrente de sua cultura,
antropologicamente falando.

• Vocabulário reduzido, simples. A quantidade de palavras é limitada, em


comparação com o vocabulário da língua culta ou padrão. São palavras do
quotidiano, aprendidas no dia a dia, de domínio de todos os falantes de um grupo
ou de uma comunidade. Mas o necessário para a pessoa se comunicar durante
toda sua vida.

Neste nível da língua coloquial não se considera o conceito dicotômico de “certo e


errado”. É com base nessa característica que os linguistas proferiram a famosa
afirmação de que “na língua não existe erro”. É claro que isso não deve ser entendido
ao pé da letra. Não se considera erro, sim, na língua coloquial. Esta decorre do nível de
cultura do falante. O habitante sertanejo e analfabeto, mas não surdo-mudo, fala o
idioma pátrio satisfatoriamente. Uma frase como “nóis já armuçô” não pode ser
considerada “errada”, se proferida por um sertanejo analfabeto. Errada por quê? Esta é
a “língua” própria de seu universo, de seu ambiente, de sua vida social. Como, então,
ele deveria falar? Ele não estudou, para ter aprendido que o “certo” é “nós já
almoçamos”.

O conceito de correção de linguagem, de corrigir o errado para adotar o certo, é próprio


do nível culto da língua, da norma padrão, empregada pelas pessoas instruídas,
estudadas, cultas. Aí, sim, devemos cuidar da correção, de “não errar”.

Uma concordância indevida, uma grafia errada, uma frase mal construída ou ambígua,
uma palavra mal empregada são desvios que se devem corrigir no emprego culto da
língua, para que a expressão seja adequada ao nível cultural e intelectual de seu
usuário. Um desvio constatado num jornal, numa revista, num cartaz afixado em lugar
público, num texto de publicidade ou propaganda, num livro; ou proferido oralmente por
um palestrante, um pregador religioso, um político, um professor, um advogado, um

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orador, agora, sim, trata-se propriamente do “erro” de linguagem, objeto de crítica ou
zombaria das demais pessoas.

1.2 Gramática normativa, escolar, reflexiva, descritiva

Conforme vimos na introdução, serão apresentadas noções de algumas modalidades


de gramática, conforme o foco ou objeto formal sob o qual a língua é considerada. São
várias as denominações, ou os tipos de gramática, dos quais serão apresentados os
quatro seguintes.

1.2.1 Gramática normativa

Como o nome o diz, é a gramática que apresenta as normas de uso correto da língua.
É também chamada de gramática expositiva. Conforme diz Torres (1973, p. 11), “a
gramática expositiva ou normativa expõe os fatos atuais de um idioma, sua finalidade
precípua é estabelecer normas para o bom uso da língua, num determinado período de
sua evolução”.

Expor os fatos atuais de um idioma significa apresentar a estrutura desse idioma em


sua fase sincrônica, numa terminologia linguística. É a apresentação da estrutura da
língua em sua morfologia e sintaxe, com as normas de flexões de nomes e de verbos;
das estruturas sintáticas de concordância, regência e colocação; das situações de
correção e de emprego de vocabulário e de expressões idiomáticas; da ortografia e
demais situações de uso correto da língua.

Esta é a gramática que inspira a língua padrão, ou língua culta. É a que deve ser seguida
pelos usuários da língua que desejam expressar-se de acordo com os ditames da
correção de linguagem, dos acertos gramaticais e estilísticos, coerentes com o grau de
instrução de que são detentores. É, portanto, a gramática que constitui a fonte de
comprovação de “certo ou errado” de uma estrutura linguística.

1.2.2 Gramática escolar

É uma derivação da gramática normativa. Constitui a organização do livro didático de


uma língua, com as adaptações a etapas seriadas, conforme o grau do ensino ou da
grade curricular da instituição.

As normas gramaticais apresentadas ou expostas pela gramática normativa são, agora,


adaptadas à aprendizagem por parte de estudantes de diferentes idades, ou séries. Os
fatos da língua são expostos de forma gradativa, passando da simplicidade à
complexidade conforme o andamento das séries escolares.

Esta é uma gramática destinada ao ensino. Não é isolada, desvinculada de uma


situação real. Apresenta os fatos a partir de situações concretas, geralmente em textos
ou demais ocorrências da língua. A apresentação ou exposição dos fatos é seguida de
exercícios para treinamento dos alunos, com orientações didáticas e pedagógicas.

A gramática escolar é, portanto, eminentemente didática. É um guia de aprendizagem


das estruturas da língua para seu uso correto.

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1.2.3 Gramática reflexiva

Esta é uma extensão da gramática escolar. De início, trata-se do estudo dos conteúdos
da gramática normativa, dos fatos e da estrutura da língua, e de suas relações com
situações quotidianas de comunicação pela linguagem, aproximando o estudo da língua
da realidade concreta, vivida pelos estudantes, na fala e na escrita.

O ponto de partida para a constituição da gramática reflexiva é o texto. É uma extensão,


também, por assim dizer, da filologia, ramo mais elevado dos estudos linguísticos que
parte do texto para apresentar ou expor os fatos da língua. São os textos que
determinam a existência dos fatos constitutivos da língua. O texto é explorado com base
nos fatos gramaticais, na semântica, na teoria do discurso, na linguística textual.

Como o próprio nome indica, a gramática reflexiva é um trabalho integrado de leitura e


reflexão sobre os fatos que constituem a estrutura da língua. A reflexão sobre a língua
conduz ao estudo da gramática como meio para compreender e produzir textos orais e
escritos, isto é, a gramática como meio para o estudante aprender a usar o idioma nas
suas situações reais e sociais de desempenho linguístico.

A gramática reflexiva é uma espécie de filosofia da linguagem. Reflete sobre a essência


e a existência da língua como produto da inteligência humana para a comunicação entre
os membros da sociedade. Reflete sobre a língua em sua ocorrência de realidade, a
partir do texto, para conduzir à compreensão dos fatos e da estrutura da língua real,
concreta, e não apenas “virtual”, para citarmos um termo da moda.

1.2.4 Gramática descritiva

Numa sequência em forma de corrente, a gramática descritiva é, também, uma forma


de reflexão sobre a língua. Ela constitui a base da Linguística, entendida esta como uma
ciência da linguagem.

A gramática descritiva percebe, vê e registra os elementos estruturais da língua em


todos os seus aspectos, em todos os seus níveis. Não é uma gramática normativa, que
“ensina” o uso correto do idioma. Ela apenas constata a existência de uma estrutura da
língua e a apresenta em suas formas de ocorrência e funcionamento. Atuando em todos
os níveis de ocorrência da língua, ela atém-se a todas as variantes linguísticas, da língua
culta ou norma padrão à língua coloquial.

O estudioso da gramática descritiva é o linguista, o estudioso da ciência Linguística.


Neste caso, a gramática descritiva pode apresentar um fato real, uma ocorrência real
de uma situação correta de uso culto, como na frase “Eles chegaram”, como numa
situação de uso coloquial sertanejo, como em “Eles chegô”. A gramática descritiva
registra e apresenta essas ocorrências como situações reais de funcionamento da
língua na sociedade. Não tem a preocupação com o certo e errado, para corrigir o
“errado” e ensinar o “certo”. Não é uma gramática normativa nem escolar. Não é objeto
de livro didático.

Ao registrar e apresentar uma ocorrência, a gramática descritiva “disseca”, por assim


dizer, todos os elementos estruturais de um enunciado. Nos exemplos de frases citados,
como na forma culta “eles chegaram”, a gramática descritiva apresenta a palavra “eles”
como um pronome pessoal de terceira pessoa constituído dos morfemas “el-“, que é o
radical, acrescido do morfema “-e”, designativo do gênero masculino, em oposição ao
morfema “-a”, designativo do gênero feminino, e do morfema “-s”, designativo de plural.

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Em seguida, apresenta a forma verbal “chegaram” e discrimina seus morfemas: o radical
“cheg-“; a vogal temática “-a”, marca da primeira conjugação; o morfema “-ra”,
desinência modo-temporal, marca de um tempo verbal do passado; o morfema “-m”,
desinência número-pessoal, marca do plural da terceira pessoa. Isso é uma descrição
linguística de uma estrutura gramatical da língua portuguesa.

A gramática descritiva pode apresentar, também, a descrição da frase do nível social


sertanejo “eles chegô”, ao mostrar, registrar, que, nesse nível, a marca de plural ocorre
apenas no elemento “eles”, pronome sujeito do verbo. Para a comunicação entre os
falantes desse nível, basta a flexão de plural do sujeito para que a ideia de plural seja
compreendida. O linguista descreve, ainda, a situação fonética da transformação do
ditongo “-ou”, da forma verbal “chegou”, em “-ô”, fato corrente na modalidade coloquial
de uso do idioma. Esse fato é descrito e apresentado pela gramática descritiva como
uma realidade da língua portuguesa em um nível de desempenho linguístico de uma
parcela da sociedade falante. Tem até um nome sofisticado em linguística: denomina-
se monotongo, isto é, um ditongo (no caso presente “ou”) transforma-se em uma
única vogal (no caso presente “ô”). Essa ocorrência é percebida e analisada pelo
linguista, que a apresenta como um fenômeno característico e peculiar do idioma, como
em tantos outros vocábulos: ouro > “ôro”; pouco > “pôco”; roupa > “rôpa”. Trata-se,
portanto, de um objeto de estudo, análise e descrição da gramática descritiva.

Vê-se, assim, que a gramática descritiva é uma espécie de “anatomia” da língua, em


todos os seus “órgãos”, e não apenas nos órgãos nobres da língua culta ou norma
padrão. Ela é a ciência que descreve e apresenta a língua em todas as suas
modalidades, em todas as suas ocorrências.

Mais uma vez, a gramática descritiva não tem finalidade ou intenção normativa, de
ensinar as normas ou regras de bom uso da língua. É tão somente uma ciência
linguística, cujo objeto formal é a língua em todos os seus aspectos.

1.3 Classes de palavras

As classes de palavras de uma língua são apresentadas na parte das gramáticas


denominada morfologia. Sendo a gramática dividida, tradicionalmente, em fonética,
morfologia e sintaxe, o estudo das classes de palavras pertence ao ramo da morfologia.
Esta, por sua vez, estuda a estrutura e formação de palavras e as classes de palavras.

Em português, existem dez classes de palavras, assim distribuídas:

1- Variáveis: substantivo, adjetivo, artigo, numeral, pronome, verbo.


2- Invariáveis: advérbio, preposição, conjunção, interjeição.

As palavras variáveis são as que sofrem flexão ou modificação em seu final, como as
desinências de gênero (masculino e feminino) e de número (singular e plural) para
algumas, como neste caso da palavra gato:

gat-o
-a
-o-s
-a-s

A palavra é uma só, mas possui quatro “finais” ou terminações em suas ocorrências de
uso ou funcionamento da língua. Não são, portanto, quatro palavras.

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As palavras invariáveis são fixas, não apresentam modificações em seu final, como no
caso da palavra aqui, que permanece sempre nessa forma.

1.3.1 Palavras variáveis

1.3.1.1 Substantivo

Tradicionalmente, substantivo é a palavra que designa os seres, entendidos estes como


pessoas, animais e coisas, numa concepção concreta, e como ações, sentimentos,
qualidades, estados, numa concepção abstrata.

A palavra substantivo relaciona-se com substância. Designa, portanto, o ser, entidade


dotada de uma substância existencial. O substantivo é, então, o nome de um ser.

Classificação do substantivo

A tradição de estudos gramaticais expõe as seguintes classificações do substantivo:

Concreto: designa o ser que tem existência em si mesmo, própria, e não existente em
outro ser. O substantivo concreto nomeia pessoas, animais e coisas.

Pessoas: homem, menino, criança, mulher, moço, José, Maria, Paulo.


Animais: cão, gato, macaco, urso, boi, leão, gafanhoto.
Coisas: copo, cadeira, chave, livro, martelo, alçapão, garfo.

Abstrato: designa o ser que não possui existência em si mesmo ou independente, mas
situações de concepção da razão (seres de razão). O substantivo abstrato nomeia,
principalmente, qualidades, sentimentos, estados e ações.

Qualidades: bondade, beleza, honestidade.


Sentimentos: amor, ódio, alegria, tristeza.
Estados: cansaço, magreza, pressa.
Ações: corrida, soco, chute, beijo.

Aqui cabe uma explicação adicional, nem sempre compreendida pelas pessoas,
inclusive por alguns estudiosos do idioma.

Substantivo concreto não é sinônimo de seres reais. E substantivo abstrato não é


sinônimo de seres irreais ou imaginários. Essa confusão é frequente nas escolas.

O substantivo amor é abstrato, mas o amor é real, ele existe de fato, não é um ser
apenas imaginário.

E o substantivo saci é concreto, embora o saci seja apenas uma criação fictícia, um ser
que não existe de fato.

Comum: designa todos os seres de uma mesma espécie, ou uma abstração. Exemplos:
menino, laranja, laranjeira, árvore, país, cidade, clima, aluno, alma, anjo, jornal, mão.
Próprio: designa o indivíduo, um ser de uma espécie. Exemplos: Carlos, Rio de Janeiro,
Brasil, Jornal do Comércio.

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Coletivo: é o substantivo comum que, morfologicamente palavra do singular, designa
conjunto de seres de uma espécie. O substantivo coletivo, todavia, pode ter flexão de
plural, quando designa mais de um coletivo, como os arquipélagos, as constelações, as
turmas.

Alguns exemplos de substantivos coletivos:

Arquipélago: ilhas.
Banda: músicos.
Cardume: peixes.
Constelação: estrelas.
Corja: velhacos, vadios, desordeiros.
Esquadrilha: aviões.
Fauna: animais de uma região ou país.
Flora: vegetais de uma região ou país.
Junta: bois, médicos, examinadores.
Matilha: cães caçadores.
Nuvem: gafanhotos.
Prole: filhos.
Quadrilha: ladrões.
Turma: pessoas, alunos.
Vara: porcos.

Agora é a sua vez

Identifique, nas orações seguintes, os substantivos grifados como concretos ou


abstratos:

1 – Dê-me um abraço.
2 – O vento foi muito forte.
3 – O lobisomem ainda assusta muita gente.

Veja as respostas: 1- abstrato; 2- abstrato; 3- concreto.

Flexão do substantivo

O substantivo apresenta as flexões de gênero e de número.

• Gênero

Os gêneros são o masculino e o feminino. Em português não ocorrem substantivos do


gênero neutro, como em algumas línguas, mormente o latim e o grego.

Particularidades genéricas

Além das situações regulares de formação do gênero feminino, com a desinência -a, o
substantivo possui as seguintes particularidades:

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a) Substantivo comum de dois – Possui uma só forma, sem flexão, para o gênero
masculino e para o feminino. A distinção entre os gêneros se faz pelos termos
determinantes do substantivo, como o artigo, o adjetivo, o numeral. Exemplos:

o colega estudioso / a colega estudiosa


o pianista famoso / a pianista famosa
o personagem estranho / a personagem estranha
dois jovens bonitos / duas jovens bonitas

Observação: O substantivo personagem é comum de dois, isto é, pode ser masculino


ou feminino, conforme se refira a homem ou a mulher. “O personagem famoso” designa
um homem. “A personagem famosa” designa uma mulher. É comum vermos esse
substantivo empregado sempre como sobrecomum, isto é, só no gênero feminino para
se referir aos dois sexos. Errado. Até obras de estudos linguísticos ou literários adotam
essa forma errada do feminino para designar homem ou mulher. Uma frase de uma
questão de prova, por exemplo, como “qual é a personagem principal do romance?”
significa que o professor elaborador da questão deseja que o aluno informe a
personagem “mulher”, e não um personagem “homem”. A afirmação de que esse
substantivo é só feminino é falsa, enganosa, pode até induzir o aluno a erro em questões
de avaliações escolares.

b) Substantivo sobrecomum – Possui um só gênero para os dois sexos. Atenção: o


gênero é um só. Há substantivo só masculino e substantivo só feminino. Exemplos:

a criança (feminino): designa o ser do sexo masculino e o do feminino.


a testemunha (feminino): designa um homem ou uma mulher.
o cônjuge (masculino): designa o homem ou a mulher, no casamento.
o monstro (masculino): designa tanto um ser do sexo ou do gênero masculino quanto
do feminino. – Veja que não existe a forma feminina “monstra”.

c) Substantivo epiceno – É como o sobrecomum, mas designa apenas animais.


Possui, portanto, um só gênero para os dois sexos. Exemplos:

a onça (feminino): designa o macho e a fêmea.


a águia (feminino): designa o macho e a fêmea.
a cobra (feminino): designa o macho e a fêmea.
o jacaré (masculino): designa o macho e a fêmea.
o crocodilo (masculino): designa o macho e a fêmea.
o tatu (masculino): designa o macho e a fêmea.

O gênero desses substantivos é determinado pelas palavras “macho” ou “fêmea”: o


jacaré macho / o jacaré fêmea; a cobra macho / a cobra fêmea.

d) Substantivo heterônimo – É um substantivo de um só gênero para designar o sexo


masculino, e “outro” substantivo, para designar o sexo feminino. Exemplos:

o homem / a mulher
o bode / a cabra
o cavalo / a égua
o carneiro / a ovelha
o boi / a vaca
o burro / a mula

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Agora é a sua vez

Identifique, nas orações seguintes, o substantivo grifado como sobrecomum ou comum


de dois:

1 – A vítima estava consciente.


2 – Aquele dentista é famoso.
3 – Alberto é uma pessoa muito querida.

Veja as respostas: 1- sobrecomum; 2- comum de dois; 3- sobrecomum.

Outras particularidades

Além das particularidades apresentadas, ocorrem outras situações de feminino dos


substantivos, consideradas irregulares ou extravagantes. Exemplos:

o poeta / a poetisa
o maestro / a maestrina
o imperador / a imperatriz
o embaixador / a embaixatriz (mulher do embaixador)
a embaixadora (a titular da função)
o perdigão / a perdiz
o sacerdote / a sacerdotisa
o profeta / a profetisa
o bispo / a episcopisa
o papa / a papisa
o frade / a freira
o frei / a sóror
o marajá / a marani
o judeu / a judia

Note que é errada a flexão do feminino “bispa”, muito frequente nos dias atuais devido
à existência de mulheres que detêm esse título em certas religiões.

• Número

Os números são o singular e o plural. Além das situações regulares de formação do


plural com a desinência -s, como em livro / livros, casa / casas, merece destaque a
flexão de plural dos substantivos compostos, de largo emprego na língua oral e na
escrita.

a) Plural de substantivos compostos

1 – Substantivos compostos constituídos de dois substantivos, de um substantivo e de


um adjetivo, de um adjetivo e de um substantivo, ligados por hífen: ambos os elementos
flexionam-se no plural.

13
couves-flores (substantivo + substantivo)
cirurgiões-dentistas (substantivo + substantivo)
amores-perfeitos (substantivo + adjetivo)
guardas-noturnos (substantivo + adjetivo)
guardas-civis (substantivo + adjetivo)
altos-relevos (adjetivo + substantivo)
terças-feiras (numeral adjetivo + substantivo)

Observação: no caso de substantivo composto de dois substantivos em que o segundo


determina o primeiro com ideia de finalidade ou semelhança, a tradição gramatical
determina que somente o primeiro flexiona-se no plural, embora livros didáticos e certas
gramáticas permitam a flexão de ambos. Mas a flexão só do primeiro é a mais ortodoxa,
sendo, portanto, a preferível.

bananas-maçã
escolas-modelo
mangas-espada
navios-escola
palavras-chave
pombos-correio

2 – Substantivos constituídos de elementos não ligados por hífen: só o segundo flexiona-


se no plural.

claraboias
girassóis
pontapés
vaivéns

3 – Substantivos constituídos de verbo e substantivo: só o segundo elemento flexiona-


se no plural.

beija-flores
furta-cores
guarda-chuvas
guarda-roupas
pega-ladrões

4- Substantivos constituídos de dois substantivos ligados por preposição: só o primeiro


flexiona-se no plural.

pés de moleque
pães de ló
fogões a gás
mulas sem cabeça

Observação: Ás vezes a preposição é subentendida, ou ausente:

horas-aula (de aula)


mestres-escola (de escola)

14
5 – Substantivos constituídos de dois verbos antônimos, ou de verbo e advérbio, ligados
por hífen: ambos permanecem invariáveis, ficando a noção de plural a cargo dos
elementos determinantes desses substantivos.

os bota-fora
os leva-e-traz
os perde-ganha
os pisa-mansinho

6 – Substantivos constituídos de palavras onomatopaicas: só o último elemento flexiona-


se no plural.

reco-recos
tico-ticos
tique-taques
bem-te-vis

7 – Substantivos compostos cujo primeiro elemento é constituído de palavra invariável:


só o segundo elemento flexiona-se no plural.

ex-diretores
sempre-vivas
vice-presidentes
alto-falantes (note que “alto”, neste caso, é advérbio, palavra invariável)
abaixo-assinados

Agora é a sua vez

Escreva no plural os substantivos seguintes:

1 – o guarda-noite.
2 – a palavra-chave.
3 – o navio-escola.

Veja as respostas: 1- guarda-noites; 2- palavras-chave; 3- navios-escola.

b) Plural dos diminutivos

Os substantivos no grau diminutivo sofrem flexão de plural de modo peculiar. A flexão


apresenta as seguintes situações:

• Ocorre apenas no final da palavra, como nas formas primitivas. Exemplos:

árvore: árvore-s > arvore-zinha-s


pé: pé-s > pe-zinho-s

• Ocorre em duas posições da palavra: no meio e no fim.

15
Para os substantivos terminados em -r, a letra -e da desinência -es fica após a palavra
primitiva, antes do sufixo, e a letra -s vai para o final da palavra, depois do sufixo.

trator: trator-es > trator-e-zinho-s


motor: motor-es > motor-e-zinho-s
mulher: mulher-es > mulher-e-zinha-s
bar: bar-es > bar-e-zinho-s

Observação: se a letra S for parte da palavra primitiva no singular, e não a desinência


de plural, essa letra S permanece no seu lugar próprio do radical primitivo, e não é
substituída pela letra Z, consoante de ligação. Exemplos:

pires > pires-inho, pires-inho-s


lápis > lapis-inho, lapis-inho-s

Note que, aqui, não ocorre a consoante de ligação -z- antes do sufixo -inho. A letra S
de “pires” e de “lápis” é parte da palavra primitiva, e não desinência de plural.

Para os substantivos terminados em -ão, o processo é o mesmo: apenas a letra -s vai


para o final da palavra, depois do sufixo. As letras dos ditongos -ão, -ãe, -õe
permanecem na ou após a palavra primitiva, antes do sufixo.

Irmão: irmão-s > irmão-zinho-s


pão: pã-es > pã-e-zinho-s
coração: coraç-ões > coraç-õe-zinho-s
limão: lim-ões > lim-õe-zinho-s

Para os substantivos terminados em -L, a letra -i da desinência -is fica após a palavra
primitiva, antes do sufixo, e a letra -s vai para o final da palavra, depois do sufixo.

jornal: jorna-is > jorna-i-zinho-s


móvel: móve-is > move-i-zinho-s
papel: papé-is > pape-i-zinho-s

1.3.1.2 Adjetivo

Adjetivo é a palavra que indica qualidade, estado, característica, aspecto, modo de ser
do substantivo. Sua acepção primordial é de modificador do substantivo. Exemplos:

livro novo
casa nova
cidade grande
menina bonita
carro branco
rua estreita
conta errada

Sintaticamente, o adjetivo é o determinante do substantivo e com ele concorda,


podendo, portanto, palavras de outras classes gramaticais funcionar como adjetivo.
Exemplos:

16
dois livros (numeral)
duas revistas (numeral)
uns livros (artigo indefinido)
umas revistas (artigo indefinido)
estes livros (pronome)
meus filhos (pronome)

Classificação do adjetivo

O adjetivo pode ser restritivo ou explicativo

• Restritivo: indica aspecto acidental do substantivo. É o adjetivo propriamente


dito, no uso diário da linguagem, como nos exemplos citados no conceito de
adjetivo:

livro novo, casa nova, cidade grande, menina bonita, carro branco.

• Explicativo: indica aspecto essencial ou inerente ao substantivo. Seu uso é


restrito, portanto, aos casos de necessidade de clareza na comunicação,
constituindo uma forma de pleonasmo:

gelo frio, fogo quente, água mole, pedra dura

Um caso de uso necessário do adjetivo explicativo pode ser notado no conhecido


provérbio “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.

Flexão do adjetivo

O adjetivo, assim como o substantivo, flexiona-se em gênero e número.

• Gênero

Na situação de noção de gênero, o adjetivo pode ser biforme e uniforme.

Biforme: o feminino é formado pelo acréscimo de desinências, especialmente e com


maior índice de ocorrência a desinência -a.

novo(a) / casa nova


bonito(a) / menina bonita
limpo(a) / roupa limpa
hospitaleiro(a) / cidade hospitaleira

Uniforme: o adjetivo permanece invariável em gênero.

menina inteligente
mulher elegante
pessoa feliz
atitude louvável

17
• Número

Nas situações de flexão de número, merece destaque o plural dos adjetivos compostos,
nos seguintes principais casos:

1 – Adjetivos compostos formados de dois ou mais adjetivos: só o último elemento


flexiona-se no plural.

camisas amarelo-claras
clínicas médico-cirúrgicas
nações latino-americanas
conferências luso-brasileiras
conferências luso-franco-brasileiras
reações físico-químicas

Observação: Note que, neste caso, a flexão só do último elemento é dupla, isto é,
flexão de número e de gênero. Em “conferências luso-franco-brasileiras”, só o elemento
“brasileiras” é que se flexionou no plural e no feminino, ficando os anteriores na forma
invariável masculina.

2 – Adjetivos compostos constituídos de adjetivo e substantivo: ambos os elementos


permanecem invariáveis.

camisas verde-água
saias vermelho-sangue
blusas amarelo-limão
paredes azul-piscina

Agora é a sua vez

Escreva no feminino plural os adjetivos grifados das expressões seguintes:

1 – funcionário técnico-administrativo.
atividades _____________________.

2 – acordo político-partidário.
alianças _______________________.

Veja as respostas: 1- técnico-administrativas; 2- político-partidárias.

Graus do adjetivo

Um aspecto das noções gramaticais do adjetivo são os graus, conhecidos como


comparativo e superlativo, merecendo destaque, neste estudo, o grau superlativo e
suas subdivisões.

a) Superlativo relativo

De superioridade: o mais...de.

18
João é o mais estudioso dos alunos.

De inferioridade: o menos...de.

João é o menos estudioso dos alunos.

b) Superlativo absoluto

Analítico: forma-se com o acréscimo de palavras com o sentido de


intensidade: muito, excessivamente.

Aquele prédio é muito alto.


O aluno foi excessivamente elogiado.
Aquele homem é muito pobre.
O exercício é muito fácil.
Suas palavras foram muito doces.

Sintético: forma-se com o acréscimo dos sufixos -íssimo, -rimo, -imo.

Aquele prédio é altíssimo.


O aluno foi elogiadíssimo.
Aquele homem é paupérrimo.
O exercício é facílimo.
Suas palavras foram dulcíssimas.

O grau superlativo absoluto sintético constitui um dos aspectos de domínio da língua


culta ou da norma padrão em português, pois grande parte dos adjetivos nesse grau
são formados a partir do radical em latim, e não em português. São os chamados
superlativos absolutos sintéticos eruditos.

Essa situação é traço apenas da variante culta da língua. Sua modificação ou


adulteração decorre de ignorância do usuário da língua quanto à norma padrão de uso
do idioma. É o que ocorre com alguns adjetivos, especialmente com o superlativo do
adjetivo magro: macérrimo. Na sociedade, é comum ouvir-se a palavra “magérrimo”,
pronunciada por pessoas cultas, como apresentadores e locutores de televisão, atores,
professores universitários, palestrantes. Pessoas mais simples, por sua vez, ouvem os
doutos pronunciarem essa forma errada e a adotam como correta.

A forma erudita provém do adjetivo magro em latim: macer. Com o acréscimo do sufixo
formador do grau superlativo -rimo, formou-se o adjetivo macérrimo.

A pronúncia “magérrimo” não se justifica, por se tratar de palavra erudita, e não vulgar.
Portanto, se se pretende usar o superlativo absoluto sintético do adjetivo “magro” na
forma vulgar, deve-se falar magríssimo, forma correta, e não a forma ridícula e errada
“magérrimo”.

São, portanto, dois superlativos, um vulgar, magríssimo, e outro erudito, macérrimo.


A forma “magérrimo” simplesmente não existe, pois não deriva nem do adjetivo “magro”,
em português, nem do adjetivo “macer”, em latim. Então, “magérrimo” não provém de
radical primitivo nenhum, nem do português, nem do latim.

19
A título de informação, mencionamos os seguintes adjetivos no grau superlativo
absoluto sintético erudito:

agudo: acutíssimo
amargo: amaríssimo
áspero: aspérrimo
benéfico: beneficentíssimo
benévolo: benevolentíssimo
célebre: celebérrimo
comum: comuníssimo
cristão: cristianíssimo
cruel: crudelíssimo
doce: dulcíssimo
fácil: facílimo
fiel: fidelíssimo
humilde: humílimo
incrível: incredibilíssimo
íntegro: integérrimo
livre:libérrimo
magro: macérrimo
magnífico: magnificentíssimo
maléfico: maleficentíssimo
malévolo: malevolentíssimo
negro: nigérrimo
nobre: nobilíssimo
pessoal: personalíssimo
pobre: paupérrimo
sábio: sapientíssimo
sagrado: sacratíssimo

Agora é a sua vez

Complete os espaços com as formas de feminino plural ou superlativo absoluto sintético


erudito das palavras mencionadas nos parênteses, conforme o sentido ou o contexto:

a) As atividades ____________________ (didático-pedagógico: feminino plural) são


necessárias para uma boa aprendizagem
b) Aquele juiz possui um caráter ________________ (íntegro: superlativo).
c) As moças de hoje querem ser ________________ (magras: superlativo).
d) As funcionárias ___________________ (técnico-administrativo: feminino plural)
tiveram aumento de salário.
e) Antes das eleições, ocorrem muitas manobras __________________ (político-
partidário: feminino plural).
f) O verdadeiro santo é ________________ (humilde: superlativo).
g) As roupas ___________________ (amarelo-claro: feminino plural) são discretas.
h) As noites de lua nova são ___________________ (negras: superlativo).

Veja as respostas: a- didático-pedagógicas; b- integérrimo; c- macérrimas; d- técnico-


administrativas; e- político-partidárias; f- humílimo; g- amarelo-claras; h- nigérrimas.

20
1.3.1.3 Artigo

Esta classe é mencionada neste estudo apenas como informação, pois seu emprego é
natural e espontâneo na sociedade falante, restando raros casos de emprego estilístico
ou regional.

Sua característica principal é a de acompanhar e preceder o substantivo:

o livro, um livro, a casa, uma casa, os livros, umas casas

O artigo classifica-se em definido e indefinido.

Artigos definidos: o, a, os, as.

Artigos indefinidos: um, uma, uns, umas.

1.3.1.4 Numeral

Numeral é a palavra da língua que exprime a ideia ou noção de número. Não se trata
dos símbolos aritméticos ou matemáticos. Trata-se da palavra que nomeia os números.

O numeral classifica-se em: cardinal, ordinal, multiplicativo e fracionário.

Numerais cardinais – exprimem os números básicos: um, dois, doze, oitenta, duzentos,
quatrocentos.

Numerais ordinais – exprimem ideia de ordem em série: primeiro, segundo, décimo


segundo, octogésimo.

Numerais multiplicativos – exprimem ideia de número multiplicado: dobro, triplo,


quádruplo, quíntuplo.

Numerais fracionários – exprimem ideia de número dividido: meio, um terço, um


quinto, um oitavo.

No emprego dos numerais na língua falada, requer maior atenção a denominação dos
numerais ordinais, bastante “judiados” pelas pessoas que falam em público, tais como
locutores de jornais e de telejornais, apresentadores de programas de televisão,
palestrantes, oradores.

A seguir, apresentaremos apenas os numerais cardinais seguidos das respectivas


denominações como numerais ordinais, nas dezenas e nas centenas.

Cardinais Ordinais

Dezenas

dez décimo
vinte vigésimo
trinta trigésimo

21
quarenta quadragésimo
cinquenta quinquagésimo
sessenta sexagésimo
setenta setuagésimo ou septuagésimo
oitenta octogésimo (Atenção: octogésimo, e não “octagésimo”)
noventa nonagésimo

Centenas

cem centésimo
duzentos ducentésimo (e não “duocentésimo”)
trezentos trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo
quinhentos quingentésimo
seiscentos sexcentésimo ou seiscentésimo
setecentos septingentésimo
oitocentos octingentésimo
novecentos nongentésimo ou noningentésimo

Agora é a sua vez

Escreva por extenso os numerais ordinais seguintes:

a) 484.º
b) 567.º
c) 256.º
d) 384.º
e) 798.º
f) 847.º
g) 569.º
h) 986.º
i) 485.º

Veja as respostas: a- quadringentésimo octogésimo quarto; b- quingentésimo


sexagésimo sétimo; c- ducentésimo quinquagésimo sexto; d- trecentésimo octogésimo
quarto; e- septingentésimo nonagésimo oitavo; f- octingentésimo quadragésimo sétimo;
g) quingentésimo sexagésimo nono; h- noningentésimo, ou nongentésimo octogésimo
sexto; i- quadringentésimo octogésimo quinto.

1.3.1.5 Pronome

Em outra obra expusemos as situações morfológicas e sintáticas do adjetivo, nas quais


consta a classe gramatical do pronome. A menção do pronome na classe do adjetivo
deve-se a uma de suas funções sintáticas análoga à do adjetivo, que é a de modificador
do nome substantivo.

22
No presente capítulo, apresenta-se a classe do pronome em sua estrutura mórfica com
as respectivas classificações e subdivisões, bem como algumas situações sintáticas de
funcionamento do pronome.

Etimologicamente, pronome é uma palavra que ocorre “em lugar do nome”. Por
extensão, pronome é a palavra que substitui o nome substantivo ou a ele se refere como
determinante na estrutura sintática da frase. Essa dupla função na frase determina o
conceito de pronomes substantivos e pronomes adjetivos para todos os tipos de
pronomes. Assim, temos:

Pronomes substantivos: substituem o nome substantivo, funcionando como núcleo de


um termo sintático.

Eu cheguei. (pronome pessoal sujeito da oração)


Vou comprá-lo. (pronome pessoal objeto direto da oração)
Não lhe direi a verdade. (pronome pessoal objeto indireto)
Isto é muito bom. (pronome demonstrativo sujeito)
Tudo está consumado. (pronome indefinido sujeito)
Ninguém me viu. (pronome indefinido sujeito – ninguém;
pronome pessoal objeto direto – me)

Pronomes adjetivos: determinam o nome substantivo, exercendo a função sintática


própria do adjetivo, como adjunto adnominal.

Meu filho viajou. (pronome possessivo adjunto adnominal do sujeito)


Quero ver minha filha. (pronome possessivo adjunto adnominal do objeto direto)
Esse livro é meu. (pronome demonstrativo adjunto adnominal do sujeito)
Quero ler essa revista. (pronome demonstrativo adjunto adnominal do objeto direto)
Comprei outro carro. (pronome indefinido adjunto adnominal do objeto direto)
Outras denúncias foram apresentadas. (pronome indefinido adjunto adnominal do
sujeito)

Classificação do pronome

Morfologicamente, o pronome apresenta as seguintes classificações: pessoal,


possessivo, demonstrativo, indefinido, relativo. Num caso à parte, cita-se também o
pronome interrogativo.

a) Pronomes pessoais

Como o nome sugere, designam as pessoas do discurso. Subdividem-se em pronomes


pessoais do caso reto e do caso oblíquo.

o Caso reto: exercem a função sintática de sujeito da oração.

23
Singular Plural

1.ª pessoa: eu nós


2.ª pessoa: tu vós
3.ª pessoa: ele / ela eles / elas

o Caso oblíquo: exercem a função sintática de complementos da oração,


distribuídos em objeto direto, objeto indireto e complemento nominal. Alguns são
de intensidade átona, presos ao verbo, e outros possuem intensidade tônica,
ocorrendo precedidos de preposição.

Singular Plural

1.ª pessoa: me, mim, comigo nos; conosco


2.ª pessoa: te, ti; contigo vos; convosco
3.ª pessoa: se, se, si; consigo; o, a; lhe se, si; consigo; os, as; lhes

Particularidades de alguns pronomes

Os pronomes pessoais oblíquos de terceira pessoa O, A, OS, AS, que exercem apenas
a função sintática de objeto direto, sofrem as seguintes transformações, com a mesma
função sintática de objeto direto:

LO, LA, LOS, LAS: depois de formas verbais terminadas nas letras R, S ou Z, letras
que se eliminam.

Quero comprá-lo (compraR-O).


Compramo-lo (compramoS-O).
Fê-lo (feZ-O).
Fê-las (feZ-AS)

NO, NA, NOS, NAS: depois de formas verbais terminadas em M ou em ditongo nasal
ÃO, ÕE, letras que permanecem.

Fizeram-no (fizeraM-O).
Fizeram-nas (fizeraM-AS).
Dão-no (dÃO-O).
Propõe-na (propÕE-A).

Quanto à relação com o sujeito e com o objeto direto e objeto indireto, os pronomes
oblíquos classificam-se em reflexivos e não reflexivos.

o Pronomes reflexivos: o complemento é da mesma pessoa do sujeito. Este


pratica a ação em si mesmo. Exemplos:

Eu me feri.
Tu te feriste.
Ele se feriu.

24
Nós nos ferimos.
Vós vos feristes.
Eles se feriram.

o Pronomes não reflexivos: O complemento é de pessoa diferente da pessoa do


sujeito. Este pratica a ação em outro ser, e não nele mesmo. Exemplos:

Ele me feriu.
Eu te feri.
Ele nos feriu.
Eu os feri.
Nós o ferimos.
Eu vos feri.

Alguns pronomes pessoais do caso oblíquo são só reflexivos:

Ele se feriu.
Ele ficou fora de si.
Ele fala consigo mesmo.

Outros são só não reflexivos:

Eu o feri.
Eu a conheço.
Eu falo com ele.

Sintaticamente, alguns pronomes funcionam como objeto direto e como objeto indireto:

Ele me viu. (objeto direto)


Ele me entregou o dinheiro. (objeto indireto)
Eu te conheço. (objeto direto)
Eu te entreguei o dinheiro. (objeto indireto)

Outros funcionam ou só como objeto direto, ou só como objeto indireto:

Só objeto direto: o, a, os, as e suas transformações.

Eu o conheço.
Há tempo não a vejo.
Quero encontrá-lo.
Encontraram-no.

Só objeto indireto:

Vou entregar-lhe o dinheiro.


Eu lhe mostrei o erro.
Não lhes devo explicação.
Vou dizer-lhes a verdade.

25
Constitui erro, desvio da norma culta, dizer “Eu lhe conheço”, “Há tempo não lhe vejo”,
pois o pronome lhe não funciona como objeto direto, e os verbos “conhecer” e “ver” são
transitivos diretos.

Agora é a sua vez

Substitua os termos grifados pelos pronomes oblíquos LHE ou O, conforme sejam objeto
direto ou objeto indireto:

1 – Eu conheço você. – Eu _______ conheço.


2 – Eu conheço o Antônio. – Eu _______ conheço.
3 – Eu entrego esse dinheiro ao Antônio. – Eu _______ entrego esse dinheiro.

Veja as respostas: 1- o; 2- o; 3- lhe.

b) Pronomes possessivos

Indicam as pessoas do discurso a que uma coisa pertence, isto é, ideia de posse. Daí o
nome “possessivo”.

Esse conceito determina as seguintes situações para as noções de posse:

Um só possuidor e uma só coisa possuída, ou singular do possuidor e singular da coisa


possuída:

1.ª pessoa: meu / minha


2.ª pessoa: teu / tua
3.ª pessoa: seu / sua

Exemplo: Meu livro sumiu (um só livro pertencente a um só possuidor).

Um só possuidor e mais de uma coisa possuída, ou singular do possuidor e plural da


coisa possuída:

1.ª pessoa: meus / minhas


2.ª pessoa: teus / tuas
3.ª pessoa: seus / suas

Exemplo: Meus livros sumiram (mais de um livro pertencente a um só possuidor).

Mais de um possuidor e uma só coisa possuída, ou plural do possuidor e singular da


coisa possuída:

1.ª pessoa: nosso / nossa


2.ª pessoa: vosso / vossa
3.ª pessoa: seu / sua

26
Exemplo: Nosso livro sumiu (um só livro pertencente a mais de um possuidor).

Mais de um possuidor e mais de uma coisa possuída, ou plural do possuidor e plural da


coisa possuída:

1.ª pessoa: nossos / nossas


2.ª pessoa: vossos / vossas
3.ª pessoa: seus / suas

Exemplo: Nossos livros sumiram (mais de um livro pertencente a mais de um


possuidor).

c) Pronomes demonstrativos

Indicam o lugar em que uma pessoa ou coisa se encontra ou o tempo em que um fato
ocorre, em relação às pessoas do discurso.

Perto da 1.ª pessoa: este, estes / esta, estas / isto


Perto da 2.ª pessoa: esse, esses / essa, essas / isso
Afastado da 1.ª e da 2.ª pessoa: aquele, aqueles / aquela, aquelas / aquilo

Os pronomes isto, isso, aquilo não possuem flexão de gênero nem de número.

Alguns exemplos:

Este relógio que está comigo é novo (relógio perto da 1.ª pessoa – a que fala).
Esse relógio é novo? (relógio perto da 2.ª pessoa – com quem se fala).
Aquele relógio é novo (relógio distante da pessoa que fala e da pessoa com quem
se fala).

Nas indicações de tempo, as relações são:

Tempo simultâneo ao momento da fala: este, estes / esta, estas.


Tempo não simultâneo ao momento da fala: esse, esses / essa, essas; ou: aquele,
aqueles / aquela, aquelas.

Alguns exemplos:

Neste ano choveu muito. (no ano em que ocorreu a fala).


Esta semana passou muito depressa. (a semana em que ocorreu a fala).
Em 1960, completei dez anos. Nesse ano, a cidade de Brasília foi inaugurada. (a fala
não ocorreu em 1960). Pode ser, também, “naquele ano”.

Note que os pronomes demonstrativos podem ter a combinação com algumas


preposições:

De: deste, desta, dessa, daquele, daquelas.


Em: neste, nesta, nessa, naquele, naquelas.

27
d) Pronomes indefinidos

Referem-se a pessoas ou coisas de modo vago, impreciso. Morfossintaticamente, são


todos da 3.ª pessoa, do singular ou do plural. Alguns se referem a pessoas e a coisas,
outros só a pessoas, outros só a coisas. Os principais são:

algum, alguns / alguma, algumas / algo


nenhum / nenhuma / nada
alguém
ninguém
todo, todos / toda, todas / tudo
outro, outros / outra, outras / outrem
certo, certa / certos, certas
muito, muitos / muita, muitas
bastante, bastantes
pouco, poucos / pouca, poucas
cada
vários
qualquer, quaisquer

Alguns exemplos:

Alguns livros foram destruídos.


Tenho muitos amigos e muitas amigas.
Tenho bastantes amigos.
Certas coisas não devem ser ditas.

Os pronomes nada, alguém, ninguém, tudo, cada não possuem flexão de gênero nem
de número. Exemplos:

Alguém me chamou?
Ninguém me viu.
Nada se perde.
Tudo lhe agrada.
Cada coisa em seu lugar.

e) Pronomes relativos

Referem-se a termos citados anteriormente. Os principais são:

que
quem
o qual, a qual, os quais, as quais
cujo, cuja, cujos, cujas
onde, aonde
quanto, quanta, quantos, quantas

Alguns exemplos:

O livro que comprei é bom. – O pronome “que” retoma o substantivo “livro”.


As pessoas que chegaram estão com fome. – O pronome “que” retoma o substantivo
“pessoas”.
Esse é o autor cujas obras foram premiadas. – O pronome “cujas” retoma o
substantivo “autor” e indica ideia de posse (obras do autor).

28
Agora é a sua vez

Complete os espaços com a forma correta dos pronomes pessoais oblíquos de terceira
pessoa, O, A, LO, LA / LHE, conforme sua função sintática de objeto direto ou objeto
indireto, dentre as formas verbais e pronominais mencionadas nos parênteses:

a) Norberto, amanhã quero ____________________ (encontrá-lo / encontrar-lhe).


b) A distância não vai impedir, meu amor, de _____________________ (lhe encontrar /
encontrá-la).
c) Solange, diga ao seu pai que eu preciso ________________ (vê-lo / ver-lhe).
d) Francisco, você por aqui, há quanto tempo não ______________ (lhe vejo / o vejo)!
e) Caro aluno, em atendimento a sua solicitação, cumpre-me ___________________
(informá-lo / informar-lhe) que sua transferência foi deferida.
f) Fique tranquilo, Paulo. Amanhã eu venho __________________ (lhe procurar /
procurá-lo).

Veja as respostas: a- encontrá-lo; b- encontrá-la; c- vê-lo; d- o vejo; e- informar-lhe; f-


procurá-lo.

1.3.1.6 Verbo

Em outra obra é apresentada a estrutura do verbo com os detalhes necessários ao seu


estudo e à sua compreensão.

Detalhes da estrutura mórfica expõem os elementos constitutivos do verbo, como


radical, vogal temática, desinência modo-temporal e desinência número-pessoal. Tais
morfemas são expostos na formação dos tempos e modos de verbos regulares e
irregulares. Acresce, ainda, a apresentação de quadros de conjugação e formação dos
tempos, com as formas primitivas e as derivadas.

Neste capítulo, constam apenas informações sobre classificação e aspectos flexionais


do verbo. Você pode completar e aprofundar o estudo no volume da série informada no
início deste item.

Classificação dos verbos

Quanto à conjugação, os verbos classificam-se em: regulares, irregulares, anômalos,


defectivos, abundantes e auxiliares.

o Regulares são os verbos que não sofrem modificação ou alteração em seu radical
ou nas desinências dos verbos considerados modelos ou paradigmas para os demais
verbos da mesma conjugação, tradicionalmente assim expostos:

1.ª conjugação: mand-ar


2.ª conjugação: vend-er
3.ª conjugação: part-ir

29
Como exemplo, o radical mand- do verbo “mand-ar” é o mesmo em todas as pessoas
de todos os tempos e modos. Assim também as desinências de cada tempo e modo são
as mesmas para todos os verbos da mesma classe. As desinências e a vogal temática,
para o tempo presente do modo indicativo dos verbos da 1.ª conjugação, regulares, são:

-o
-as
-a
-amos
-ais
-am

Isso significa que qualquer verbo da 1.ª conjugação se forma, no tempo presente do
modo indicativo, com o acréscimo dessas terminações (vogal temática e desinências)
aos respectivos radiais. Exemplos:

Eu mand- / fal- / cant- / estud- o


Tu mand- / fal- / cant- / estud- as
Ele mand- / fal- / cant- / estud- a
Nós mand- / fal- / cant- / estud- amos
Vós mand- / fal- / cant- / estud- ais
Eles mand- / fal- / cant- / estud- am

o Irregulares são os verbos que sofrem alteração ou modificação em seu radical ou


nas desinências dos verbos considerados modelos ou paradigmas da respectiva
conjugação a que pertencem.

Assim, por exemplo, o verbo faz-er, cujo radical original é faz-, possui, nas flexões de
pessoas, números, tempos e modos, as seguintes alterações do radical, constituindo,
portanto, mais de um radical:

faz-: faz-emos, faz-em


faç-: faç-o, faç-am
fiz-: fiz, fiz-emos
fez: fez
far-: far-ei, far-ia
feit-: feito

A ocorrência de verbos irregulares é vasta em português. O conhecimento de cada um


deles, com as devidas variações de radical e de desinências, é necessário e importante
para o bom desempenho da língua no nível culto ou norma padrão.

Alguns exemplos de verbos irregulares, apresentados com a separação dos diferentes


radicais:
diz-er / dig-o / diss-e
traz-er / trag-o / troux-e
da-r / de-r
te-r / tenh-o / tiv-e
ve-r / vi-ram
vi-r / vie-ram
pô-r / ponh-o / pus-eram
cab-er / caib-o / coub-e
sab-er / saib-a / soub-e

30
o Anômalos são os verbos irregulares que se formaram com radicais de verbos
diferentes na sua etimologia latina. São apenas os verbos ser e ir.

se-r / se-rei; e-ra / e-ram; fo-r / fo-ram


i-r / i-rei; va-mos / va-is; fo-r / fo-ram

o Defectivos são os verbos que não possuem todas as formas ou não se conjugam
completamente. Subdividem-se em defectivos impessoais e defectivos pessoais.

Defectivos impessoais: designam fenômenos da natureza, como chover, ventar,


trovejar. Tais verbos empregam-se apenas na 3.ª pessoa do singular dos tempos
e modos ou nas formas nominais.

São denominados impessoais porque não possuem sujeito, sendo as orações


constituídas por eles analisadas como orações sem sujeito.

São também impessoais, em português, o verbo haver, no sentido de “existir” ou de


tempo decorrido, e o verbo fazer, no sentido de tempo decorrido. Assim, pois, são
empregados apenas na 3.ª pessoa do singular. Exemplos:

Houve reclamações. (e não “houveram”)


Havia crianças na rua. (e não “haviam”)
Caso haja vagas,... (e não “hajam”)
Se houver dúvidas,... (e não “houverem”)

Faz dez anos que ele se formou. (e não “Fazem”)


Ele se formou, faz dez anos. (e não “fazem”)

Observação: Em locuções verbais com verbo impessoal, os verbos auxiliares também


tornam-se impessoais, não sofrendo, portanto, flexão de plural. Exemplos:

Vai haver reclamações. (e não “Vão”)


Pode haver muitos candidatos. (e não “Podem”)
Deve haver vagas. (e não “Devem”)
Vai fazer dez anos que ele se formou. (e não “Vão”)
Está fazendo dois meses que ele morreu. (e não “Estão”)

Agora é a sua vez

Preencha os espaços com as formas verbais corretas dentre as mencionadas nos


parênteses:

1 – Durante as manifestações, ______________ (houve / houveram) danificações a


algumas lojas.
2 – Na rua, __________________ (havia / haviam) crianças brincando.
3 – Hoje _____________ (faz / fazem) oito meses que meu cavalo morreu.

Veja as respostas: 1- houve; 2- havia; 3- faz.

31
Defectivos pessoais: são verbos que possuem sujeito, mas não se conjugam em
todas as formas, faltando algumas pessoas em alguns tempos. Exemplo:

abolir – No presente do indicativo não possui a 1.ª pessoa do singular, ficando assim
sua conjugação nesse tempo e modo:

Eu ..............
Tu aboles
Ele abole
Nós abolimos
Vós abolis
Eles abolem

Por não possuir a 1.ª pessoa do singular, não possui, também, nenhuma das seis
pessoas do tempo presente do modo subjuntivo, que é uma forma derivada daquela
pessoa do presente do indicativo. Não existe, portanto, uma forma do verbo “abolir” para
uma frase como esta, por exemplo:

O reitor quer que eu .................. este artigo do regimento.

Quando ocorre semelhante situação, supre-se a defectibilidade do verbo empregando-


se um verbo sinônimo ou de significação análoga ou equivalente. Exemplo:

O reitor quer que eu [elimine, retire] este artigo do regimento.

São também defectivos, dentre outros, os verbos reaver, precaver-se, colorir, falir,
adequar (veja o emprego deste último no capítulo 2).

o Abundantes são os verbos que possuem mais de uma forma para a mesma
estrutura número-pessoal ou modo-temporal, ou de forma nominal, geralmente do
particípio. Neste caso específico do particípio, ocorre dupla denominação: particípio
regular e particípio irregular.

Particípio regular: formado com as vogais temáticas -a, para os verbos da 1.ª
conjugação, e -i, para os verbos da 2.ª e da 3.ª conjugação, e da desinência -do,
acrescidas ao radical do respectivo verbo, sempre regular.

Particípio irregular: formado por um radical regular ou irregular de um verbo, sem a


vogal temática e com a desinência -o. Alguns exemplos de particípio abundante:

Regular Irregular

matar: matado morto


aceitar: aceitado aceito
imprimir: imprimido impresso
pagar: pagado pago
ganhar: ganhado ganho
gastar: gastado gasto
eleger: elegido eleito
entregar: entregado entregue

32
O emprego de uma ou de outra forma dos particípios abundantes se faz da seguinte
maneira:

Particípio regular: com os verbos auxiliares ter e haver. Exemplos:

Eu tinha aceitado o convite.


Eu havia aceitado o convite.
Ele tinha imprimido o texto.
Ele havia imprimido o texto.
O povo tinha elegido o deputado.
O povo havia elegido o deputado.

Particípio irregular: com os demais verbos auxiliares, como ser, estar, ficar, continuar,
parecer. Exemplos:

O convite foi aceito.


O convite está aceito.
O convite ficou aceito.
O convite continua aceito.
O convite parece aceito.
O texto foi impresso.
O texto está impresso.
O texto ficou impresso.
O deputado foi eleito.
O deputado está eleito.
O deputado ficou eleito.

Note que existem verbos que não são abundantes no particípio, sendo alguns só
regulares, e outros só irregulares.

Alguns verbos de particípio só regular:

chegado (chegar) – não existe o particípio “chego”.


falado (falar) – não existe o particípio “falo”.
trazido (trazer) – não existe o particípio “trago”.

As formas irregulares desses verbos são largamente empregadas por pessoas cultas,
instruídas, como se fossem corretas, havendo pessoas que até “corrigem” as que falam
corretamente. São, portanto, erradas as seguintes expressões:

Fui à casa do Alfredo, mas ele ainda não tinha chego. (correto: chegado)
O deputado tinha falo a verdade. (correto: falado)
O funcionário não tinha trago o dinheiro. (correto: trazido)

Alguns verbos de particípio só irregular:

coberto, descoberto (cobrir, descobrir)


dito (dizer)
escrito (escrever)
feito (fazer)
visto (ver)

33
o Auxiliares são os verbos que servem para a formação e conjugação de tempos
compostos ou locuções verbais.

Os principais verbos auxiliares são: ser, estar, ter, haver.

Como exemplos de emprego de verbos auxiliares, citam-se os mencionados no


emprego dos particípios regulares e irregulares dos verbos abundantes, no item anterior.

Agora é a sua vez

Escreva o particípio regular ou irregular dos verbos nas frases seguintes:

1 – O povo havia ______________ (elegido / eleito) o presidente.


2 – O porteiro tinha _______________ (entregado / entregue) o dinheiro à moça.
3 – O dinheiro foi _______________ (entregado / entregue) à moça.

Veja as respostas: 1- elegido; 2- entregado; 3- entregue.

Conjugações

Em português, conforme exposto no item da classificação dos verbos, existem três


conjugações, identificadas pela vogal temática que, geralmente, antecede a desinência
-r do infinitivo. As denominações são feitas pelos numerais ordinais primeira, segunda
e terceira.

Primeira conjugação: -Ar (mandar, falar, cantar)


Segunda conjugação: -Er (vender, receber, escrever)
Terceira conjugação: -Ir (partir, dividir, repetir)

O verbo pôr não constitui conjugação à parte. Pertence à segunda conjugação,


conforme se aduz das pessoas em que a vogal temática -E está presente:

pus-E-r
pus-E-sse

1.3.2 Palavras invariáveis

1.3.2.1 Advérbio

Advérbio é a palavra invariável que modifica o verbo, o adjetivo e outro advérbio,


indicando-lhes uma circunstância. Sintaticamente, o advérbio é o termo que determina
uma dessas três classes de palavras.

Advérbio modificando verbo: Ele estuda muito. Elas estudam muito.

Advérbio modificando adjetivo: Ele é muito alto. Elas são muito altas.

Advérbio modificando outro advérbio: Ele mora muito longe. Elas moram muito longe.

34
Classificação do advérbio

Morfologicamente, o advérbio classifica-se nas seguintes circunstâncias:

De lugar: aqui, ali, lá, longe.


De tempo: agora, já, cedo, tarde, ontem, hoje, nunca.
De modo: bem, mal, melhor, pior, claramente, calmamente.
De intensidade: muito, bastante, pouco, mais, menos, tão.
De dúvida: talvez, porventura, acaso, quiçá, provavelmente.
De afirmação: sim, realmente, perfeitamente, deveras.
De negação: não.

Locuções adverbiais

Denomina-se locução adverbial o conjunto de duas ou mais palavras que equivalem a


um advérbio. Neste caso, classifica-se e analisa-se a expressão toda, e não cada uma
das palavras que constituem a locução.

Algumas locuções adverbiais:

às vezes, às claras, às ocultas, às mil maravilhas, às pressas, de cor, de vez em quando,


pouco a pouco, em breve, de propósito.

Algumas locuções adverbiais podem ter os advérbios delas derivados e a elas


equivalentes:

em breve: brevemente
às pressas: apressadamente
às claras: claramente
de propósito: propositalmente

1.3.2.2 Preposição

Preposição é a palavra invariável que liga dois termos entre si, dentro da oração,
estabelecendo entre esses termos uma relação de complemento ou de subordinação
sintática e semântica. Exemplos:

Eu gosto de doce (relação de complemento do verbo).


Ele confia em Deus (relação de complemento do verbo).
Comprei um anel de ouro (noção de matéria, determinante do substantivo “anel”).
Trabalhamos para viver (relação de finalidade, ligada ao verbo).

Principais preposições: de, em, para, por, com, sem, contra, sobre, sob, entre, desde,
ante, antes, após.

Combinação

Morfologicamente, algumas preposições podem combinar-se com palavras de outra


classe gramatical, como os artigos e alguns pronomes, situação denominada
combinação. Exemplos:

de: do, da, dos, das (combinação com os artigos definidos)

35
deste, desta, destes, destas (combinação com pronomes demonstrativos)
dele, dela, deles, delas (combinação com pronomes pessoais)

em: no, na, nos nas (combinação com os artigos definidos)


num, numa, nuns, numas (combinação com os artigos indefinidos)
neste, nesta, nestes, nestas (combinação com pronomes demonstrativos)
nele, nela, neles, nelas (combinação com pronomes pessoais)
noutro, noutra, noutros, noutras (combinação com pronomes indefinidos)

por: pelo, pela, pelos, pelas (combinação com os artigos definidos)

Locuções prepositivas

Denomina-se locução prepositiva o conjunto de duas ou mais palavras que equivalem


a uma preposição.

Algumas locuções prepositivas:

abaixo de, acima de, acerca de, a fim de, além de, a respeito de, na conta de, ao redor
de, a par de, apesar de, depois de, diante de, em torno de, em vez de, por causa de,
através de, junto a, por detrás de, para com.

Nota: as locuções prepositivas terminam sempre por uma preposição.

1.3.2.3 Conjunção

Conjunção é a palavra invariável que liga duas orações entre si, dentro do período,
estabelecendo entre essas orações relações de coordenação e de subordinação. Daí
sua divisão em conjunções coordenativas e conjunções subordinativas.

Conjunções coordenativas

Ligam orações coordenadas, isto é, orações que não exercem função sintática em outra
oração. Semântica e sintaticamente, possuem as seguintes classificações:

a) Aditivas: ligam simplesmente duas orações sem qualquer ideia subsidiária ou


secundária. São elas: e, nem. Exemplos:

João estuda e trabalha.


João não estuda nem trabalha.

Observação: constitui desvio da norma culta o emprego do conjunto “e nem”, quando


empregado como simples adição de orações ou de termos da oração. Exemplos:

Não estuda e nem trabalha. (forma errada)


Corrija-se: Não estuda nem trabalha. (forma correta)

Ele não leu o livro e nem o jornal. (forma errada)


Corrija-se: Ele não leu o livro nem o jornal. (forma correta)

b) Adversativas: ligam orações com ideia de oposição, advertência, ressalva, dentre


outras. As principais são: mas, contudo, porém, todavia, no entanto. Exemplos:

36
Esse aluno estudou, mas foi reprovado.
Você pode sair. Leve, porém, o paletó.
Os negócios foram bons, todavia houve alguns prejuízos.
Ele recebeu o dinheiro, no entanto as notas eram falsas.

Algumas conjunções adversativas podem ocorrer no início, no meio ou no fim da oração.


Exemplos:

No início da oração: Ele estudou, porém foi reprovado.


No meio da oração: Ele estudou, foi, porém, reprovado.
No fim da oração: Ele estudou, foi reprovado, porém.

Observação: constitui desvio da norma culta o emprego de mais de uma conjunção


adversativa na ligação de duas orações, como em Ele estudou, “mas porém” foi
reprovado.

c) Conclusivas: ligam orações com ideia de conclusão. As principais são: logo,


portanto, pois (no meio ou no fim da oração), por conseguinte, por isso. Exemplos:

Esse aluno estudou, portanto será aprovado.


Ele não estudou, por isso foi reprovado.
Ele foi aprovado em primeiro lugar, é, pois, muito estudioso.

d) Explicativas: ligam duas orações de modo que a segunda explique a primeira. As


principais são: que, porque, pois (no início da oração), porquanto. Exemplos:

Corra, que a polícia está chegando.


Ande depressa, meu filho, pois vai chover.
Choveu esta noite, porque o chão está molhado.

e) Alternativas: ligam dois pensamentos de ocorrência alternada. As principais são: ou


(repetida ou não), já...já, ora...ora, quer...quer. Exemplos:

(Ou) Você estuda ou vê televisão.


Naquela cidade, ora faz frio, ora faz calor.

Conjunções subordinativas

Ligam orações subordinadas, isto é, orações que exercem função sintática em outra
oração, denominada oração principal. Classificam-se em subordinativas integrantes e
subordinativas adverbiais.

a) Integrantes: ligam orações subordinadas substantivas à oração principal. São elas:


que, se. Exemplos:

Quero que você viaje hoje mesmo.


Não sei se ele vai viajar hoje.

b) Adverbiais: ligam orações subordinadas adverbiais à oração principal. Subdividem-


se em:

37
• Causais: porque, pois, já que, desde que (com verbo no indicativo), uma vez
que (com verbo no indicativo), como (no início do período ou antes da oração
principal). Exemplos:

Ele não foi pescar porque estava chovendo.


Como estava chovendo, ele não foi pescar.
Esse menino não vai passear, uma vez que obteve notas muito baixas.
Já que você atrasou o pagamento das parcelas, seu contrato foi cancelado.

• Condicionais: se, caso, contanto que, desde que (com verbo no subjuntivo),
uma vez que (com verbo no subjuntivo). Exemplos:

Ela vai pescar se não chover.


Caso chova, ela não vai pescar.
Uma vez que você obtenha boas notas, eu deixo você passear.

Observação: constitui desvio da norma culta o emprego de mais de uma


conjunção condicional na ligação de duas orações, como em “Se caso”
você vier, traga o dinheiro.

Corrija-se: Caso você venha, ...


Ou: Se você vier, ...

• Concessivas: embora, ainda que, por mais que, conquanto. Exemplos:

Embora esteja chovendo, ele vai pescar.


Ele não consegue vencer o jogo, por mais que se esforce.
Ainda que você implore de joelhos, não lhe perdoarei.

• Comparativas: que, do que, como, quanto, assim como. Exemplos:

Ele chorou como uma criança.


Jorge estuda mais que seu irmão.
Jorge estuda tanto quanto seu irmão.

• Conformativas: como, conforme, consoante, segundo. Exemplos:

Ele agiu como seu pai recomendou.


O mecânico trabalhou conforme recomendei.
Segundo consta no regimento, a matrícula pode ser cancelada.

• Consecutiva: apenas a conjunção que, precedida de palavras de valor intensivo


como tão, tal, tamanho, tanto, na oração principal. Exemplos:

O orador falou de tal maneira, que comoveu os ouvintes.


A moça chorou tanto, que seus olhos ficaram inchados.
Ele é tão rico, que comprou uma ilha e um avião.

• Temporais: quando, enquanto, antes que, depois que, até que, desde que,
sempre que, logo que, assim que. Exemplos:

Enquanto o orador falava, muitas pessoas dedilhavam o aparelho


celular.

38
Ainda chovia muito quando o avião pousou.
Ficarei na sala até que todos os alunos terminem a prova.
Desde que ele se casou, nunca mais foi pescar.
Depois que os pais saíram, as crianças começaram a algazarra.
Assim que os pais saíram, as crianças começaram a algazarra.

• Finais: para que, a fim de que, porque. Exemplos:

Venha cedo, para que você não fique em pé durante a cerimônia.


Estude bastante, a fim de que seja aprovado.

• Proporcionais: à proporção que, à medida que, quanto mais...tanto mais,


quanto mais...tanto menos, quanto menos...tanto menos, quanto menos...tanto
mais. Exemplos:

O funcionário ia salvando o texto à medida que o digitava.


Quanto mais eu estudo, (tanto) mais aprimoro meus conhecimentos.

Locuções conjuntivas

Denomina-se locução conjuntiva o conjunto de duas ou mais palavras que equivalem


a uma conjunção.

Algumas locuções conjuntivas:

já que, visto que, desde que, uma vez que, ainda que, por mais que, a menos que,
contanto que, à medida que, à proporção que, antes que.

Atenção: Note que algumas conjunções são homônimas, isto é, pertencem a mais de
uma classificação. O que as diferencia e identifica é o sentido em cada contexto.
Exemplo:

desde que: 1- causal; 2- condicional; 3- temporal.


como: 1- causal; 2- comparativa; 3- conformativa.

Agora é a sua vez

Classifique as conjunções subordinativas adverbiais grifadas nas orações seguintes:

1 – Como estava gripado, o rapaz não foi jogar.


2 – O protético fez o trabalho como eu havia determinado.
3 – De susto, o rapaz correu como um cavalo.

Veja as respostas: 1- causal; 2- conformativa; 3- comparativa.

39
1.3.2.4 Interjeição

Interjeição é a palavra invariável que exprime emoção ou sentimento súbito, como


alegria, dor, espanto, saudação, chamamento ou vocativo, medo, indignação,
advertência, desagrado. Exemplos:

admiração ou alegria: ah! oh! oba! viva!


animação: eia! avante!
dor: ai! ui!
espanto ou exclamação: oh! puxa!
saudação: oi, olá! salve! viva!
chamamento ou vocativo: ó, ô, alô.
medo: uh! ui! credo!
indignação: fora! morra! abaixo!
advertência: cuidado! devagar!
desagrado: oh! ora bolas!
desejo: oxalá! tomara!
silêncio: psiu! silêncio!

Locuções interjetivas

Denomina-se locução interjetiva o conjunto de duas ou mais palavras que equivalem


a uma interjeição.

Algumas locuções interjetivas

ai de mim! quem me dera! ó de casa, bem feito! muito bem! valha-me Deus!

Considerações finais
A gramática é um dos pilares de uma língua. Não existe língua sem gramática. A simples
fala de um sertanejo analfabeto possui gramática. Quando um caminhante encontra
outro e pergunta “Cê tá bão?”, existe, nessa fala, uma estrutura gramatical: “cê”, para a
3.ª pessoa do singular; “tá”, forma verbal na mesma pessoa para concordar com o
sujeito “cê”; “bão”, masculino, para se referir ao sexo masculino do interlocutor. E, na
resposta do outro, “tô”, há também uma estrutura gramatical: “tô”, na 1.ª pessoa do
singular, para concordar com o sujeito “eu”. Os interlocutores não disseram “cê tô” e “eu
tá”. Essas relações entre as palavras constituem a gramática da língua, em qualquer de
suas modalidades ou níveis, tanto culta, elevada, quanto coloquial. Estudar gramática é
apreender e aprender os elementos constitutivos do idioma para o bom domínio desse
maravilhoso objeto de estudo no campo do conhecimento científico: a língua que
falamos.

Resumo
Neste capítulo, você viu alguns tópicos da estrutura da língua portuguesa que
constituem elementos da gramática descritiva e da gramática normativa, conforme
exposto no item 1.2. São situações que tornam exequível o desempenho da língua na
modalidade culta, ou na língua padrão, para a correta expressão do pensamento por
parte das pessoas detentoras de boa escolaridade. Foram apresentados aspectos

40
ortográficos, morfológicos, sintáticos e semânticos, dentre outros, com destaque para o
tópico referente às classes de palavras.

Referências
BECHARA, Evanildo Cavalcante. Moderna gramática portuguesa. São Paulo:
Nacional, 1982.

___________. Lições de português pela análise sintática. Rio de Janeiro: Fundo de


Cultura, 1970.

___________. Novo acordo ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

ANDRÉ, Hildebrando Afonso de. Gramática ilustrada da língua portuguesa. São


Paulo: Moderna, 1979.

TORRES, Artur de Almeida. Moderna gramática expositiva da língua portuguesa.


Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1973.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio


de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

BARRETO, Mário. Novos estudos da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Presença,


1980.

LUFT, Celso Pedro. Novo guia ortográfico. Porto Alegre: Globo, 1976.

___________. Moderna gramática brasileira. Porto Alegre: Globo, 1986.

DUBOIS, Jean et al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1978.

COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico,


1976.

FERNANDES, Francisco. Dicionário de verbos e regimes. Porto Alegre: Globo,1953.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio


de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro:


Objetiva, 2001.

VOCABULÁRIO Ortográfico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Global, 2009.

BUENO, Francisco da Silveira. Grande dicionário etimológico-prosódico da língua


portuguesa. Santos: Editora Brasília, 1974.

AULETE, Caldas. Dicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro:


Delta, 1964.

SARAIVA, F. R. dos Santos. Novíssimo dicionário latino-português. Rio de Janeiro:


Garnier, 2000.

41
2 Aspectos pragmáticos: usos e normas

Introdução
A correta expressão do pensamento por meio de linguagem verbal é peculiaridade de
uma língua, ou idioma. No nível culto, ou norma padrão, existem estruturas próprias e
distintas da simples comunicação coloquial diária. São situações de pronúncia, de
escrita ou ortografia, de flexão de palavras e, acima de tudo, de significado. A palavra
certa para o lugar certo é uma questão de respeito para com a identidade daquilo que
desejamos expressar. Essa identidade tem a mesma natureza da identidade de uma
pessoa, por exemplo, em todas as suas marcas. Se a palavra possui tantas letras, e eu
elimino, acrescento ou troco uma letra, eu adulterei a identidade dessa palavra. Ela
passa a ser outra palavra, como no caso de um nome próprio de pessoa: se o nome é,
por exemplo, Eliana, e eu escrevo ou falo Eliane, deixou de ser a pessoa a quem desejo
referir-me. Eu falei ou escrevi o nome errado. É outra pessoa.

O mesmo ocorre com a estrutura de uma língua. Se, na escrita, a palavra tem a letra
“S”, e eu grafo “Z”, deixou de ser o termo que eu desejava expressar. Se a forma verbal
se refere a um sujeito de determinada pessoa e número, e eu expresso essa forma em
outra pessoa ou em outro número, deixou de ser a expressão pretendida por mim, o que
“autoriza”, de certa forma, o interlocutor a entender de maneira diferente a minha ideia
ou o meu pensamento.

Neste capítulo, serão apresentadas situações práticas de emprego correto de diversos


aspectos da língua, tanto no campo da ortografia, quanto da morfologia, da sintaxe e da
semântica, dentre outros. O leme deste tópico é a norma padrão, ou nível culto da língua
portuguesa. Isto é: a forma correta da palavra, da expressão, da frase, dos termos
estruturais da língua.

A falta de estudo ou o “esquecimento” do que foi aprendido no passado são os principais


culpados dos desvios ou erros praticados por pessoas de certa cultura intelectual em
suas falas ou em seus escritos. Muitas e muitas vezes são erros cometidos por
professores, escritores, palestrantes, ou por qualquer pessoa que, por ofício, fala em
público ou ao público. O descuido e o hábito sedimentado para a expressão errada
fazem a pessoa pensar que o errado é certo, e esse erro se alastra e torna-se uma
espécie de paradigma para outras pessoas menos instruídas ou menos escolarizadas.

A quantidade desses erros ou desvios é enorme. Aqui serão expostos apenas alguns
fatos dos mais frequentes e geralmente apresentados em gramáticas, livros didáticos
ou simples manuais de boa linguagem, para estudiosos ou autodidatas.

Objetivos
Ao término deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

- explicar algumas normas de pontuação, acentuação gráfica e ortografia;


- realizar a forma correta da pronúncia e da escrita de palavras e expressões;
- mostrar a relação entre morfologia e sintaxe;
- explicar as variantes ortográficas e semânticas presentes nas palavras.

42
Esquema
2.1 A estrutura da sentença e a pontuação
2.1.1 Pontuação no período simples
2.1.2 Pontuação no período composto
2.1.3 Emprego da vírgula com a conjunção E
2.2 Acentuação gráfica
2.2.1 Posição da sílaba tônica
2.2.2 Casos especiais
2.3 Dificuldades mais frequentes da língua portuguesa
2.3.1 Por que, por quê, porque, porquê
2.3.2 Crase
2.3.3 Palavras e expressões
2.3.4 Funções do pronome SE
2.3.5 Casos de regência verbal

2.1 A estrutura da sentença e a pontuação

Em outra obra são expostos os elementos constituintes da oração e do período, ou, por
extensão, constituintes da frase ou sentença. O conhecimento das estruturas oracionais
ou frasais conduz ao conhecimento das situações e normas de pontuação, para a
correta expressão do pensamento.

Neste item, serão retomadas essas estruturas para o estabelecimento do emprego dos
sinais de pontuação ocorrentes no uso diário do idioma, nos textos escritos. Sim, os
sinais de pontuação constituem recursos da língua escrita, e não da língua falada.
Nesta, os recursos de compreensão da mensagem são as inflexões de voz, a entonação
e outras situações de expressão oral.

Na escrita, os sinais de pontuação determinam significados e orientam o leitor às


inflexões de voz e de entonação, no caso da leitura dos textos escritos. Esses sinais
possuem, portanto, dupla finalidade: semântica e de orientação de leitura.

Frase mal pontuada pode gerar confusões, ambiguidades e mal-entendidos. O mau


emprego dos sinais de pontuação constitui erro não só sob o aspecto gramatical ou
ortográfico, mas de entendimento real daquilo que se deseja comunicar. Isto é, o
emissor deseja comunicar ou informar uma coisa, mas diz outra. Nesse caso, a “culpa”
do mal-entendido não é do leitor, mas de quem produziu e redigiu o texto. Como ocorre
no seguinte diálogo de um texto mal pontuado:

– Você matou a barata?


– Matei Maria.

Coitada da Maria!... Com a falta da vírgula na fala do segundo personagem, quem


morreu assassinada foi a Maria, e não a barata...

Agora chegou a vez de conhecer a estrutura sintática da frase constituída de um período


simples. O conhecimento dos termos da oração é indispensável para a aprendizagem
e correto desempenho no emprego dos sinais de pontuação.

A frase com o “desvio” na fala do segundo personagem do diálogo citado possui a


seguinte estrutura sintática:

43
Sujeito: simples, eu. (Atenção: sujeito simples, e não “oculto”, numa correta análise,
conforme dispõe a Nomenclatura Gramatical Brasileira).
Predicado verbal: matei Maria.
Objeto direto: Maria. Isto é, “eu matei Maria”.

Essa é a análise da frase tal como foi redigida. No contexto em que foi redigido todo o
texto, é provável que o personagem tenha desejado dizer que matou a barata,
informando isso à personagem Maria. Nesse caso, a redação da frase deveria ser:

– Matei, Maria.

Redigida com a pontuação correta, com emprego da vírgula depois da forma verbal
“matei”, a frase possui esta estrutura sintática:

Sujeito: simples, eu.


Predicado verbal: matei (com o objeto direto a barata subentendido).
Vocativo: Maria.

Agora, sim, a assassinada, a falecida foi a barata. A Maria está salva! A vírgula salvou
sua vida...

Resta dizer, nesta espécie de introdução ao assunto, que os sinais de pontuação podem
ser empregados, também, como recursos estilísticos, e não apenas como obediência
cega às regras decorrentes da estrutura sintática da frase. As aspas, como indicação
de ironia ou de sentido pejorativo; as reticências, como interrupção intencional em casos
de humor ou de quebra do enunciado; a vírgula, em situações de ênfase, são casos
frequentes nas páginas de escritores e redatores em geral. Como se pode ver nos
seguintes enunciados:

Você foi reprovado? Então deve estar “satisfeitíssimo”...


Ele disse que não veio fazer a prova porque seu candidato perdeu a eleição... Esse
“candidato” era um semianalfabeto seu vizinho...
Ele não tem pena do marginal que foi assassinado. Eu, tenho.

2.1.1 Pontuação no período simples

No período simples, ou seja, na oração, os sinais de pontuação devem ser empregados


entre os termos da oração. Como o sinal em que mais se “erra” é a vírgula,
destacaremos, neste estudo, o seu emprego. Para isso, devem ser observadas algumas
normas ou regras.

Principais casos de emprego da vírgula

a) Entre os termos da oração que mantêm estreita ligação lógica de pensamento, na


ordem direta, não se usa a vírgula, como:

Entre o sujeito e o verbo:

Emprego incorreto: Meu irmão caçula, ganhou uma bicicleta ontem.


Emprego correto: Meu irmão caçula ganhou uma bicicleta ontem

44
Entre o verbo e o objeto direto ou objeto indireto:

Emprego incorreto: Meu irmão caçula ganhou, uma bicicleta ontem.


Emprego correto: Meu irmão caçula ganhou uma bicicleta ontem.

Emprego incorreto: Meu irmão caçula gosta, de doce de goiaba.


Emprego correto: Meu irmão caçula gosta de doce de goiaba.

b) Com o adjunto adverbial no final da oração (ordem direta), é opcional o emprego da


vírgula. Noutra posição, usa-se a vírgula.

Ordem direta: Meu irmão caçula ganhou uma bicicleta no dia de Natal.
Meu irmão caçula ganhou uma bicicleta, no dia de Natal.

Ordem inversa: No dia de Natal, meu irmão caçula ganhou uma bicicleta.
Meu irmão caçula ganhou, no dia de Natal, uma bicicleta.

c) Em qualquer situação de palavras intercaladas entre os termos de ligação lógica,


usa-se a vírgula.

Ela, porém, não acreditou em mim.


O rapaz estava, portanto, enganado.
Ele foi aprovado em primeiro lugar. É, pois, muito estudioso.
A pobre criança estava, talvez, muito assustada.

d) Com o termo sintático denominado vocativo, usa-se a vírgula, qualquer que seja sua
posição dentro da oração.

– Você matou a barata?


– Matei, Maria

Meninos, vamos passear hoje.


Vamos, meninos, passear hoje.
Vamos passear hoje, meninos.

e) Com o aposto explicativo, usa-se a vírgula.

Machado de Assis, autor de Dom Casmurro, nasceu no Rio de Janeiro.


Admiro Machado de Assis, autor de Dom Casmurro.

f) Entre termos independentes entre si, não ligados por conjunção, usa-se a vírgula.

O teatro, a música, a poesia, a oratória, tudo transmite emoção à plateia.


Devemos praticar a honra, a justiça, a honestidade, a caridade, o amor.

g) Usa-se a vírgula para indicar omissão do verbo.

Clodoaldo foi ao cinema. Geraldo, ao teatro. (foi)

45
Valentina prefere a cidade. Sua mãe, o campo. (prefere)

Agora é a sua vez

Empregue ou não a vírgula nos espaços indicados nas frases seguintes.

1 – O Reitor da Universidade São Geraldo ( ) informa ( ) que o vestibular foi adiado.


2 – O Reitor da Universidade São Geraldo ( ) professor Gilson Freitas ( ) informa
( ) o novo calendário.

Veja as respostas: 1- vírgula ausente nos dois espaços; 2- vírgula presente, presente,
ausente.

2.1.2 Pontuação no período composto

No período composto, empregam-se os sinais de pontuação entre as orações do


período. Repetindo a advertência feita no caso do período simples, destacaremos, aqui,
o emprego da vírgula. Para isso, devem ser observadas algumas normas, ou regras.

Principais casos do emprego da vírgula

a) Entre as orações coordenadas assindéticas, usa-se a vírgula.

A mulher de saia suja aproximou-se do portão, abriu-o, contornou a casa, sumiu no


corredor.
Vim, vi, venci.
Os meninos brincam, os jovens estudam, os adultos trabalham, os velhos aguardam.

b) Com as orações subordinadas adverbiais depois da oração principal (ordem direta),


é opcional o emprego da vírgula. Noutra posição (ordem inversa), usa-se a vírgula.

Ordem direta: Os meninos brincavam no jardim quando o caminhão bateu no muro.


Os meninos brincavam no jardim, quando o caminhão bateu no muro.

Ordem inversa: Quando o caminhão bateu no muro, os meninos brincavam no jardim.


Os meninos, quando o caminhão bateu no muro, brincavam no jardim.

Nesses exemplos, a oração “quando o caminhão bateu no muro” é subordinada


adverbial temporal.

Ordem direta: Os alunos fizeram greve porque o calendário foi modificado.


Os alunos fizeram greve, porque o calendário foi modificado.

Ordem inversa: Porque o calendário foi modificado, os alunos fizeram greve.

46
Os alunos, porque o calendário foi modificado, fizeram greve.

Nesses exemplos, a oração “porque o calendário foi modificado” é subordinada


adverbial causal.

c) Embora não se trate de uma norma rígida ou ortodoxa, recomenda-se o uso da


vírgula entre a oração principal e a oração subordinada adverbial consecutiva.

Era um vendaval de tamanha proporção, que as árvores envergavam e quebravam.


O orador falou de tal maneira, que os ouvintes foram às lágrimas.
O muro era tão alto, que nem os gatos o escalavam.
A mocinha chorou tanto, que seus olhos ficaram inchados.

d) Nas orações subordinadas adjetivas, a explicativa se distingue da restritiva pela


presença da vírgula. Note que esse emprego determina, também, distinção de
significados das orações.

Restritivas: O homem que trabalha vence.


A cidade em que ele mora é progressista.

Explicativas: O homem, que é um animal racional, é dotado de livre arbítrio.


Rio de Janeiro, que já foi a capital federal, é cidade maravilhosa.

Agora veja estes dois enunciados:

As praias do litoral paulista que estão poluídas foram interditadas para o público.

As praias do litoral paulista, que estão poluídas, foram interditadas para o público.

No primeiro enunciado, a oração “que estão poluídas” é subordinada adjetiva restritiva,


por isso está ligada à oração principal sem vírgulas. Isso significa que, no universo das
praias do litoral paulista, existem dois tipos de praias, as que estão poluídas e as que
não estão poluídas, e só as que estão poluídas é que foram interditadas para o público.

No segundo enunciado, a oração “que estão poluídas” é subordinada adjetiva


explicativa, por isso está intercalada com as duas vírgulas. Isso significa que todas
as praias do litoral paulista estão poluídas, e todas foram interditadas para o público.

Agora é a sua vez

Empregue a vírgula nos espaços, conforme o sentido e a classificação da oração


subordinada adjetiva:

1 – O candidato ( ) que venceu as eleições ( ) é tio de minha namorada.


2 – O Brasil ( ) que é um país sul-americano ( ) ainda é subdesenvolvido.
3 – Tiradentes ( ) que foi o Mártir da Inconfidência ( ) morreu enforcado.

Veja as respostas: 1- vírgula ausente nos dois espaços; 2- vírgula presente nos dois
espaços; 3- vírgula presente nos dois espaços.

47
2.1.3 Emprego da vírgula com a conjunção E

Um equívoco muito corrente, até entre pessoas de escolaridade universitária, é a


afirmação de que “não se usa vírgula antes da conjunção e”. Nada mais falso,
enganador e perigoso. Uma falta de vírgula antes dessa conjunção pode gerar
confusões e ambiguidades desagradáveis. E, dentre as pessoas de escolaridade
universitária, incluem-se, lamentavelmente, professores e escritores.

O emprego da vírgula com a conjunção e ocorre nas seguintes situações:

nenhuma;
antes da conjunção;
depois da conjunção;
antes e depois da conjunção.

2.1.3.1 Nenhuma vírgula

Não se usa vírgula antes nem depois da conjunção “e” quando o termo imediatamente
anterior e o imediatamente seguinte a ela forem da mesma função sintática.
Exemplos:

O Antenor e o Diógenes foram aprovados. (entre dois sujeitos)


Conheço o Antenor e o Diógenes. (dois objetos diretos)
Confio no Antenor e no Diógenes. (dois objetos indiretos)
Os responsáveis são o Antenor e o Diógenes. (dois predicativos do sujeito)
O trabalho foi realizado pelo Antenor e pelo Diógenes. (dois agentes da voz passiva)
Os dois rapazes ficarão aqui hoje e amanhã. (dois adjuntos adverbiais de tempo)
Eles trabalham em Uberaba e em Uberlândia. (dois adjuntos adverbiais de lugar).

Esta é a situação que gerou o equívoco de que “não se emprega vírgula antes da
conjunção e.” E o equívoco é tão frequente e tão contundente, que até professores
“corrigem” frases escritas corretamente, quando a vírgula é necessária, e mandam
eliminar ou cortar a vírgula...

Vamos, então, desfazer esse equívoco na regra seguinte.

2.1.3.2 Vírgula antes da conjunção

Esta regra reporta-se à regra anterior, pois o foco é a função sintática dos termos
antecedentes e consequentes à conjunção.

Usa-se a vírgula antes da conjunção “e” quando o termo imediatamente anterior e o


imediatamente seguinte a ela não forem da mesma função sintática. Exemplo:

O Juvenal, reitor da Universidade, e o Osvaldo viajaram ontem.

Nessa oração, ou nesse enunciado, o termo imediatamente anterior à conjunção “e”,


“reitor da Universidade”, é aposto, e o termo imediatamente seguinte, “o Osvaldo”, é
sujeito, isto é, o segundo núcleo do sujeito composto “o Juvenal e o Osvaldo”. Ocorre
que o primeiro núcleo do sujeito, “o Juvenal, está seguido do aposto explicativo “reitor
da Universidade”, que vem entre vírgulas. A vírgula antes da conjunção, na frase
apresentada, é a segunda vírgula que isola o aposto, portanto vírgula necessária, e não
opcional ou estilística. Muito menos, “errada”.

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No exemplo seguinte, a falta da vírgula pode ser desastrosa:

O Carlos matou um coelho, e o Jorge, um tatu.

Nesse enunciado, o termo anterior à conjunção “e”, “um coelho”, é objeto direto da
oração anterior, e o termo seguinte, “o Jorge”, é o sujeito da segunda oração. Então, por
serem termos de funções sintáticas diferentes, o emprego da vírgula é necessário, ou,
numa afirmação de norma gramatical, obrigatório.

Todavia, apesar dessa obrigatoriedade, encontram-se desvios dessa natureza em


páginas de livros e de órgãos da imprensa, resultado do equívoco aqui mencionado.

Agora veja a mesma frase, sem a vírgula antes da conjunção “e”:

O Carlos matou um coelho e o Jorge, um tatu.

Retirada a vírgula, o coitado do Carlos teria cometido um homicídio, pois teria matado
“um coelho e o Jorge”, já que, sem a vírgula, o termo imediatamente anterior e o
imediatamente seguinte seriam da mesma função sintática, isto é, dois objetos diretos,
conforme visto na regra que impõe nenhuma vírgula antes da conjunção.

Outros exemplos:

Estavam no aeroporto o presidente do clube, muito abatido, e o tesoureiro.


Chove muito no verão, e a chuva some no inverno.
A cidade agrada aos jovens, e os velhos preferem o sertão.
A menina chorava, querendo comida, e sua mãe não lhe dava atenção.

2.1.3.3 Vírgula depois da conjunção

Esta situação é análoga à anterior. Usa-se a vírgula depois da conjunção “e” quando,
entre a conjunção e o segundo membro da adição, for intercalado outro termo. Ocorrido
isso, repete-se a situação de o termo imediatamente anterior e o imediatamente
seguinte não serem da mesma função sintática. Exemplo:

O Juvenal e, algumas vezes, o Osvaldo viajam a serviço.

Entre a conjunção “e” e o segundo núcleo do sujeito composto, “o Juvenal e o Osvaldo”,


foi intercalado o termo “algumas vezes”. Essa intercalação interrompeu a ligação lógica
entre os dois núcleos do sujeito, de forma que o termo imediatamente anterior à
conjunção, “o Juvenal”, é sujeito, e o termo imediatamente seguinte a ela, “algumas
vezes”, é adjunto adverbial. Portanto, os termos antes e depois da conjunção não
exercem a mesma função sintática, o que torna necessário, obrigatório, o emprego da
vírgula depois da conjunção.

Outros exemplos:

Venha aqui amanhã e, se puder, traga o dinheiro.


Chove muito no verão, e, no inverno, a chuva some.
Você vai formar-se em Direito e, com a graça de Deus, poderá ser um grande juiz.
Compre pão, leite, bolacha e, se o dinheiro der, uma barra de chocolate.
Ela vai a Goiânia e, provavelmente, a Brasília.

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2.1.3.4 Vírgula antes e depois da conjunção

Aqui, ocorrem os fatos das duas regras anteriores. Usa-se a vírgula antes e depois da
conjunção “e” quando ocorrerem duas intercalações, uma entre o primeiro membro da
adição e a conjunção, e outra entre a conjunção e o segundo membro da adição.
Exemplo:

O Juvenal, sempre, e, algumas vezes, o Osvaldo viajam a serviço.

A primeira impressão é de que a conjunção ficou “entre” duas vírgulas. Mas não é bem
assim. A conjunção “e”, no exemplo citado, liga, de fato, os sujeitos “o Juvenal e o
Osvaldo”. Mas, entre o primeiro sujeito, “o Juvenal”, e a conjunção “e”, foi intercalado o
termo “sempre”, adjunto adverbial; e, entre a conjunção “e” e o segundo sujeito, “o
Osvaldo”, foi intercalado o termo “algumas vezes”. Essa dupla intercalação determinou
duas interrupções, duas quebras na ligação “o Juvenal e o Osvaldo”. Daí a necessidade,
a obrigatoriedade, do emprego das duas vírgulas.

Outros exemplos:

Venha aqui amanhã, conforme combinamos, e, se puder, traga o dinheiro.


Você vai-se formar em Direito, tenho certeza, e, com a graça de Deus, será um
grande juiz.
Compre também bolacha, não se esqueça, e, se o dinheiro der, uma barra de
chocolate.

Agora é a sua vez

Empregue ou não a vírgula nos espaços indicados nas frases seguintes:

1 – Eu bebi cerveja ( ) e sua irmã ( ) guaraná.


2 – O Everaldo ( ) diretor do clube ( ) e o Sérgio pediram demissão.
3 – Trabalhe e ( ) se puder ( ) estude.

Veja as respostas: 1- vírgula presente nos dois espaços; 2- vírgula presente nos dois
espaços; 3- vírgula presente nos dois espaços.

2.2 Acentuação gráfica

Para o estabelecimento das regras de acentuação gráfica, consideram-se dois critérios:

posição da sílaba tônica: palavras oxítonas


palavras paroxítonas
palavras proparoxítonas
monossílabos tônicos

casos especiais: casos que não dependem da posição da sílaba tônica.

50
2.2.1 Posição da sílaba tônica

2.2.1.1 Palavras oxítonas

São acentuadas as palavra oxítonas terminadas em A(S), E(S), O(S), EM, ENS.

A(S) – sofá(s), jacá(s), xará, oxalá.


E(S) – café, rapé, jacaré(s), você(s), José.
O(S) – cipó(s), xodó, pivô(s), avô(s), avó(s), Jacó.
EM – alguém, ninguém, convém, mantém, convêm, mantêm.
ENS – parabéns, convéns, manténs.

Daí se conclui que as palavras oxítonas que terminam em outras letras NÃO são
acentuadas:

I(S) – juriti(s), saci(s), repeti(s), dividi(s), caqui (fruta)


U(S) – tatu(s), urubu(s), chuchu(s).
L – jornal, final, papel, anel, funil, anzol, caracol, azul.
R – (o melhor exemplo são os verbos no infinitivo): mandar, vender, partir.
UM, UNS – mutum, mutuns, algum, alguns.
Z – rapaz, feliz, feroz, avestruz.

2.2.1.2 Palavras paroxítonas

Uma regra bastante prática consiste no inverso da regra das palavras oxítonas: SÃO
acentuadas as palavras paroxítonas que terminam nas letras das palavras oxítonas
NÃO acentuadas: I(S), US, R, L, N, X, PS e demais terminações.

E NÃO são acentuadas as palavras paroxítonas que terminam nas letras das palavras
oxítonas acentuadas: A(S), E(S), O(S), EM, ENS.

Paroxítonas acentuadas:

I(S) – júri(s), tênis, lápis, cáqui (cor)


US – vírus, Vênus, ônus.
R – éter, dólar, caráter.
L – móvel, notável, útil.
N – hífen, gérmen, glúten.
X – tórax, ônix, Félix.
PS – fórceps, bíceps, tríceps.
OM, ONS – iândom (espécie de avestruz americano), prótons, nêutrons
UM, UNS – álbum, fórum, álbuns, fóruns.
Ã(S), ÃO(S) – órfã(s), órfão(s), órgão(s).

Além dessas terminações, são acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em


ditongo, seguido ou não de S.

vôlei, jóquei(s), úteis, fáceis, notáveis (ditongos decrescentes).


água(s), lírio(s), espécie(s), Mário, Flávio, Cláudia (ditongos crescentes).

Nota: Observe que os nomes próprios da língua portuguesa seguem as mesmas


normas ortográficas dos substantivos comuns. É falsa, portanto, a afirmação de que
nomes próprios têm grafia livre.

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Agora, as palavras paroxítonas NÃO acentuadas. Note que são as mesmas terminações
das palavras oxítonas acentuadas:
A(S) – casa(s), boneca(s), cantava(s).
E(s) – doce(s), deve(s), dote(s).
O(S) – carro(s), livro(s), inimigo(s).
EM – jovem, homem, item.
ENS – jovens, homens, itens, hifens, germens.

Atenção: Note que as paroxítonas terminadas nas letras ENS não são acentuadas,
mesmo que no singular o sejam, quando terminadas em N:

hífen (com acento)


hifens (sem acento)

gérmen (com acento)


germens (sem acento)

hímen (com acento)


himens (sem acento)

Uma curiosidade: Existe uma terminação de palavras paroxítonas NÃO acentuadas


que não consta nas terminações das palavras oxítonas acentuadas. É a terminação AM.
Ocorre que não existe essa terminação em palavras oxítonas portuguesas. Assim,
temos:

AM – falam, andam, mandam, estudam, falaram, andaram, mandaram, estudaram.

Essa terminação constitui, foneticamente, um ditongo nasal /ãw/. Ela NÃO ocorre, como
vimos, em palavras oxítonas. Quando esse ditongo nasal ocorre nas palavras oxítonas,
a grafia é ÃO. Assim, temos:

Terminação AM – para palavras paroxítonas: falam (presente), falaram (passado).


Terminação ÃO – para palavras oxítonas: irmão, estão (presente), estarão (futuro).

2.2.1.3 Palavras proparoxítonas

Esta é uma situação única: todas as palavras proparoxítonas são acentuadas:

sábado, cômodo, exército, parâmetro, rápido, espírito, Nóbrega, Mônica.

2.2.1.4 Monossílabos tônicos

São acentuados os monossílabos tônicos terminados em A(S), E(S), O(S).

A(S) – pá(s), vá(s), lá, cá.


E(S) – fé, vê(s), ré(s).
O(S) – nó(s), dó, pó(s).

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Daí se conclui que os monossílabos tônicos terminados em outras letras NÃO são
acentuados:

I(S) – vi, ri(s), ti, si, lis


U(S) – tu, nu(s), pus
R – dar, ver, vir.
L – mal, sal, rol.
Z – paz, fez, fiz.
OM, ONS – dom, dons
UM, UNS – rum, zum, zuns.
Ã(S), ÃO(S) – fã(s), mão(s).

Também NÃO são acentuados os monossílabos tônicos terminados em ditongo,


seguido ou não de S.

vai(s), cai(s), rei(s), foi, viu, riu, fui, rui (do verbo “ruir” ou o nome próprio Rui).

Agora é a sua vez

Empregue ou não os acentos, conforme os casos:

1 – Nas redações, empregue corretamente os __________ (hifens / hífens)


2 – Atenção ao _________ (item / ítem) número cinco do contrato.
3 – Atenção aos ___________ (itens / ítens) do contrato.

Veja as respostas: 1- hifens; 2- item; 3- itens.

2.2.2 Casos especiais

As regras de acentuação estabelecidas sob este critério são independentes da posição


da sílaba tônica na palavra, como vimos no primeiro critério. Isso quer dizer que as
regras agora apresentadas podem ser uma espécie de “exceção” das regras anteriores.
A rigor, não constituem exceção, pois dependem de outro critério. São as seguintes:

2.2.2.1 Ditongos abertos

São acentuados os ditongos abertos ÉI(S), ÉU(S), ÓI(S) das palavras oxítonas e dos
monossílabos tônicos.

Monossílabos tônicos: réis, réu(s), véu(s), rói(s), dói.


Palavras oxítonas: anéis, carretéis, chapéu(s), herói(s), destrói(s).

Atenção: Se a palavra for paroxítona, os ditongos NÃO são acentuados:

geleia, Galileia, assembleia, heroico, estoico.

53
2.2.2.2 Vogais I e U dos hiatos

São acentuadas as vogais I e U, tônicas, que formam hiato com a vogal anterior, quando
isoladas ou seguidas de S.

raízes (ra-í-zes), países (pa-í-ses), país (pa-ís), Luísa (Lu-í-sa), Luís (Lu-ís).
baú (ba-ú), baús (ba-ús), Itaú (I-ta-ú), saúde (sa-ú-de), balaústre (ba-la-ús-tre).

Exceções:

Mesmo preenchendo os requisitos mencionados, a vogal “i” NÃO é acentuada quando


seguida de NH ou precedida de outra vogal “i”. Exemplos:

rainha (ra-i-nha), campainha (cam-pa-i-nha).


Xiita (xi-i-ta), Mariita (Ma-ri-i-ta)

Nos demais casos, essas vogais NÃO são acentuadas:

raiz (ra-iz), juiz (ju-iz), ruir (ru-ir), sair (sa-ir).


Raul (Ra-ul), paul (pa-ul).

2.2.2.3 Acentos diferenciais

O acento diferencial ocorre apenas em palavras homógrafas (as que apresentam


mesma grafia, ou mesmas letras). São de três tipos:

a) Acento diferencial de timbre

Diferencia timbre fechado de timbre aberto. Existe APENAS na forma verbal pôde, do
pretérito perfeito do indicativo, para diferenciar da forma pode, do presente do indicativo
do verbo “poder”.

Nos demais casos de palavras homógrafas, mas não-homófonas (timbres diferentes),


NÃO se usa acento. A diferença de timbre se faz pelo sentido, ou pelo contexto.
Exemplos:

o jogo (ô) / eu jogo (ó)


o esforço (ô) / eu esforço (ó)
sede (ê) / sede (é)
o governo (ê) / eu governo (é)

b) Acento diferencial de intensidade

Diferencia palavra tônica de palavra átona, quando homógrafas. Existe APENAS na


forma verbal pôr, palavra tônica, para diferenciar da preposição por, palavra átona.

Nos demais casos, NÃO se usa acento. Exemplos:

para (do verbo “parar”) / para (preposição).


pelo (ê), substantivo / pelo (combinação da preposição “por” com o artigo “o”).

54
c) Acento diferencial morfológico

Diferencia a 3.ª pessoa do plural da 3.ª pessoa do singular do presente do indicativo


APENAS dos verbos ter e vir.

Ele tem, vem.


Eles têm, vêm.

Atenção: As formas compostas desses verbos, por serem oxítonas, seguem as


mesmas regras dessas palavras, mudando apenas o tipo de acento, agudo para
circunflexo, para distinguir, nas mesmas pessoas, o plural do singular. Exemplos:

Ele retém, mantém, contém, entretém (singular: acento agudo).


Eles retêm, mantêm, contêm, entretêm (plural: acento circunflexo).

Ele convém, intervém, provém, sobrevém (singular: acento agudo).


Eles convêm, intervêm, provêm, sobrevêm (plural: acento circunflexo).

2.3 Dificuldades mais frequentes da língua

Este tópico apresenta alguns fatos da norma padrão ou língua culta que,
frequentemente, geram confusões, dúvidas e os desagradáveis desvios, eufemismo de
“erros”. São situações de várias ordens, em especial ortográfica, morfológica e sintática.

2.3.1 Por que, por quê, porque, porquê

O primeiro ponto a considerar é que se trata de quatro palavras independentes ou


autônomas, tanto ortográfica quanto morfológica e sintaticamente. Portanto, não existe
uma palavra sozinha, uma palavra única que seja o plural das quatro. É frequente
vermos em livros, em apostilas, até em gramáticas, o título “Estudo dos porquês”... Erro
tão gritante quanto humorístico.

A palavra porquê, escrita dessa forma, é um substantivo, resultado da substantivação


da conjunção subordinativa adverbial causal porque. Todo conhecedor elementar de
gramática sabe que uma palavra de qualquer classe morfológica pode transformar-se
em substantivo, como:

o não, um não, aquele não (substantivação do advérbio);


o velho, o novo, um velho, um novo (substantivação do adjetivo);
o falar, o agir, um andar, aquele andar (substantivação do verbo);
um ai, aquele ai, vários ais, os meus ais (substantivação da interjeição);
o porquê, um porquê, os porquês, seus porquês, dois porquês (substantivação
da conjunção).

Esta última, por ser substantivação da conjunção subordinativa adverbial causal


porque, passa a ser um substantivo sinônimo dos substantivos causa, motivo, razão.
E, na condição de substantivo, pode ter plural e determinantes sintáticos, como os
mencionados acima: o porquê, um porquê, os porquês, seus porquês, dois
porquês.

55
Então a frase título de livros e apostilas “Estudo dos porquês” significa “estudo das
causas”, e deveria fazer parte de tratados de filosofia, e não de livros didáticos de
português...

2.3.1.1 Por que

Trata-se de duas situações morfológicas.

a) São duas palavras: a preposição “por” e o pronome interrogativo “que”.

A expressão é usada para as frases interrogativas diretas e indiretas, no início ou no


meio de frase. Ou, numa linguagem mais didática: não no fim de frase. Exemplos:

Interrogação direta: Por que ele foi embora?


Por que o Orlando não veio à escola?
Por que ela está chorando?
Por que a água evapora?

Interrogação indireta: Não sei por que ele foi embora.


Quero saber por que o Orlando não veio à escola.
Diga por que ela está chorando.
Explique por que a água evapora.
Perdi o ônibus: eis por que cheguei atrasado.
O Alfredo não disse por que terminou o noivado com a Olga.
Ainda não se sabe por que Jânio Quadros renunciou.

E mais estes exemplos, que podem ser títulos de artigos ou de livros:

“Por que as crianças choram” (título de um artigo ou livro hipotético de


psicologia).
“Por que construí Brasília” (título de um livro do ex-presidente da República
Juscelino Kubitschek de Oliveira).
“Por que Jânio Quadros renunciou” (outro título hipotético).

b) São duas palavras: a preposição “por” e o pronome relativo “que”.

A expressão “por que”, neste caso, equivale às expressões “pelo qual”, “pela qual”,
“pelos quais”, “pelas “quais”. Exemplos:

O susto por que passei foi grande (pelo qual).


A rua por que andei está escura (pela qual, por onde).
O motivo por que ele faltou não foi esclarecido (pelo qual).
Os meios por que venci foram honestos (pelos quais).
As dificuldades por que ele passou foram grandes (pelas quais).
As causas por que luto são justas (pelas quais).
Os caminhos por que passei foram árduos (pelos quais).

2.3.1.2 Por quê

São duas palavras: a preposição “por” e o pronome interrogativo “quê”.

56
A expressão é usada para as frases interrogativas diretas ou indiretas, no fim de
frase. Exemplos:

Interrogação direta: Ele foi embora por quê?


O Orlando não veio à escola por quê?
Ela está chorando por quê?
A água evapora por quê?

Interrogação indireta: Ele foi embora, não sei por quê.


O Orlando não veio à escola. Quero saber por quê.
Ela está chorando. Diga por quê.
A água evapora. Explique por quê.
O Alfredo terminou o noivado, mas não disse por quê.
Jânio Quadros renunciou, não se sabe por quê.

2.3.1.3 Porque

É conjunção, que pode ser:

Coordenativa explicativa: Venha cedo, porque há poucos lugares.


Corra, porque vai chover.
A chuva deve ter sido forte, porque a árvore caiu.
Choveu, porque o chão está molhado.

Subordinativa adverbial causal: Ela está chorando porque foi reprovada.


O Orlando não veio à escola porque perdeu o ônibus.
A árvore caiu porque a chuva foi muito forte.
O chão está molhado porque choveu.

Subordinativa adverbial final, em que a conjunção “porque” é sinônima da locução


“para que”. Trata-se de emprego raro.

É necessário que estudemos, porque possamos vencer na vida.


Vigiai e orai porque não entreis em tentação.
Comecei a rezar porque a tempestade terminasse.

2.3.1.4 Porquê

Conforme dito linhas atrás, trata-se da transformação da conjunção subordinativa


adverbial causal porque em substantivo. Para tanto, escreve-se porquê.

Note que, nesta condição, o substantivo “porquê” é, como dissemos, sinônimo dos
substantivos “causa”, “motivo”, “razão”, conforme o contexto. E, ainda, como
substantivo, pode ser determinado por mais de uma classe de palavra, e não apenas
pelo artigo definido “o”, conforme muitos pensam e afirmam equivocadamente.
Exemplos:

Quero saber o porquê de seu atraso (o motivo, a causa).


A ciência investiga o porquê dos fenômenos (a causa).
A ciência investiga os porquês dos fenômenos (as causas).
Desconheço o porquê da renúncia do presidente (a causa, o motivo, a razão).
Tudo tem seu porquê (sua causa, sua razão).
Será que tudo tem um porquê? (uma causa, uma razão).

57
Esse porquê não me convence (esse motivo).
A renúncia do presidente tem, no mínimo, dois porquês (duas causas, duas razões,
dois motivos).

Agora é a sua vez

Complete os espaços corretamente, com as formas: por que, por quê, porque, porquê:

a) Exijo definitivamente que você diga ____________ terminou o namoro com ela.
b) Está aqui o motivo ____________ não compareci à reunião.
c) Seu livro se intitula: “____________ não fumar”.
d) O diretor não explicou _________________ adiou as provas nem _______________
demitiu aquele professor.
e) ____________ você fez isso, meu filho? ____________ ?
f) Ainda não descobri ________________ ele desistiu do concurso.
g) _____________ pensamos, somos racionais.
h) Você ultrapassou em local proibido. Eis ____________ foi multado.
i) A menina está chorando. Quero saber ______________.

Veja as respostas: a- por que; b- por que; c- por que; d- por que; e- por que / por quê; f-
por que; g- porque; h- por que; i- por quê.

2.3.2 Crase

2.3.2.1 Conceito e estrutura morfossintática

Este é um dos conteúdos bastante “odiados” por usuários da língua, mormente


estudantes.

Todavia, em termos de entendimento ou de aprendizagem, o assunto é bastante


simples, ou, mesmo, elementar.

Como conceito morfossintático, crase é a fusão da preposição a com o artigo definido


feminino a(s) e com os pronomes demonstrativos iniciados pela letra a (aquele,
aqueles, aquela, aquelas, aquilo).

A marca ortográfica da crase se faz pelo acento grave (`). Note que o nome desse
acento ou sinal gráfico é acento grave, e não crase.

Então, crase é isto:

Preposição Artigo definido feminino Crase

a a(s) à, às

58
Preposição Pronome demonstrativo Crase

a aquele(s) àquele(s)
aquela(s) àquela(s)
aquilo àquilo

Com o artigo definido:

Ocorre a crase, então, quando o termo anterior rege a preposição “a”, e o termo seguinte
é antecedido do artigo definido feminino singular ou plural “a” / “as”. Exemplos:

Vou a a escola. – Vou à escola.


Entreguei o livro a a professora. – Entreguei o livro à professora.
Ele se dirigiu a as alunas. – Ele se dirigiu às alunas.
Ele foi a a missa. – Ele foi à missa.
Não devemos dizer isso a as crianças. – Não devemos dizer isso às crianças.

Atenção: Note que a grafia com os dois “aa” é errada. Foi empregada aqui apenas para
mostrar a ocorrência dessas duas vogais que se fundiram numa só.

Com os pronomes demonstrativos:

Ocorre a crase, então, quando o termo anterior rege a preposição “a”, e o termo seguinte
é um pronome demonstrativo iniciado pela letra “a”. Exemplos:

Entregue o livro a aquele aluno. – Entregue o livro àquele aluno.


Entregue o livro a aqueles alunos. – Entregue o livro àqueles alunos.
Entregue o livro a aquela aluna. – Entregue o livro àquela aluna.
Entregue o livro a aquelas alunas. – Entregue o livro àquelas alunas.
Refiro-me a isto, e não a aquilo. – Refiro-me a isto, e não àquilo.

Atenção: Note que a grafia com os dois “aa” é errada. Foi empregada aqui apenas para
mostrar a ocorrência dessas duas vogais que se fundiram numa só.

2.3.2.2 Emprego da crase com o artigo definido

A maior parte dos casos de emprego da crase com o artigo definido é de não usar crase.

A rigor, pode-se afirmar que existe apenas uma regra para o emprego da crase, que
coincide com o conceito:

• Usa-se a crase quando ocorre a fusão da preposição “a” com o artigo definido
feminino “a” / “as”.

Essa regra gera a outra, a do não uso:

• Não se usa a crase quando faltar um dos dois “aa”, ou a preposição, ou o artigo
definido.

59
Importante:

Um recurso adotado para esclarecer o emprego da crase com o artigo definido, em caso
de dúvida, é substituir o termo antecedente que rege a preposição “a” por outro, que
rege a preposição “de” ou a preposição “em”.

Se, na substituição, ocorrer “de” ou “em”, e não “da” ou “na”, é porque faltou o artigo.
Então não ocorre a crase, o “a” é só preposição, não devendo, pois, ser assinalado
com o acento grave. Exemplos:

Começou a chover.
Parou de chover. – E não: “da” chover

Não diga isso a ninguém.


Não gosto de ninguém. – E não: “da” ninguém.
Não confio em ninguém. – E não: “na” ninguém.

Não diga isso a Pedro.


Sou amigo de Pedro. – E não “da” Pedro.
Confio em Pedro. – E não “na” Pedro.

Ele foi a São Paulo.


Ele saiu de São Paulo. – E não: “da” São Paulo.
Ele mora em São Paulo. – E não: “na” São Paulo.

Cheguei a casa muito tarde.


Saí de casa. – E não: “da” casa.
Eu estava em casa. – E não: “na” casa.

Em todos esses casos, o “a” é só preposição, pois o termo seguinte não admite a
anteposição do artigo “a”.

Se, na substituição, ocorrer “da” ou “na”, é porque houve a combinação da preposição


“de” ou “em” com o artigo “a”, isto é, o termo anterior rege preposição, e o termo seguinte
é precedido do artigo “a”. Neste caso, ocorre a crase. Exemplos:

Ele foi à igreja ontem.


Ele saiu da igreja ontem. – “da” (de a)
Ele estava na igreja ontem. – “na” (em a)

Ele foi à grande São Paulo.


Ele saiu da grande São Paulo. – “da” (de a)
Ele vive na grande São Paulo. – “na” (em a)

Cheguei à casa da namorada muito tarde.


Saí da casa da namorada. – “da” (de a)
Eu estava na casa da namorada. – “na” (em a)

Outro recurso muito eficiente é substituir o complemento feminino por um masculino.


Se aparecer “a”, não se usa crase; se aparecer “ao”, usa-se a crase.

Entreguei o livro à aluna. (... ao aluno)


Eles conversaram face a face. (... luta corpo a corpo)

60
• Não se usa crase antes de palavras masculinas.

Esta é a regra fundamental, pois decorre do próprio conceito. Se crase é a fusão da


preposição “a” com o artigo definido feminino “a”, conclui-se que antes de nome
masculino não ocorre crase porque o artigo definido que o precede é masculino, “o”.

Refiro-me a Pedro, e não a Josué.


Graças a Deus.
Ele fez isso a pedido da professora.
Dedico esta obra a meu pai.

• Não se usa crase antes de verbo.

Começou a chover.
Estou disposto a colaborar.
Ele se limitou a ficar calado.
Ela estava a conversar com o marido.

• Não se usa crase antes de pronome pessoal.

Ele se referiu a mim, e não a ela.


Venha a nós o vosso reino.
Conhece-te a ti mesmo.
Comunico a Vossa Senhoria o resultado do concurso.
A você, minha amada, dedico estes versos.

Nota: Com os pronomes pessoais de tratamento a senhora e a senhorita, usa-se a


crase, já que eles se iniciam pelo artigo “a”.

Dedico à senhora estes versos.


Comunico à senhora que os resultados dos exames estão prontos.
Informo à senhorita que sua matrícula foi autorizada.

• Não se usa crase antes de pronome demonstrativo.

Ele sempre vem a esta cidade.


Não se meta a isso.
Diga a essa mulher que não volte mais aqui.

• Não se usa crase antes de artigo indefinido.

Refiro-me a uma pessoa morena e alta.


Ele entregou o pacote a uma aluna.
Ele se entregou a uma vida desregrada.

• Não se usa crase entre palavras repetidas.

Eles conversaram face a face.


61
Foi um diálogo franco, cara a cara.
Tome esse remédio gota a gota.

• Não se usa crase antes do substantivo “casa” quando indeterminado, não


acompanhado de qualquer adjunto adnominal. Neste caso, o substantivo “casa” não
é precedido do artigo “a” e tem o sentido de lar do referente.

Ontem cheguei a casa muito tarde.


Paulo voltou a casa para buscar o dinheiro.
Espere um pouco, vou a casa e volto logo.

Nota: Se o substantivo “casa” estiver determinado por qualquer adjunto adnominal, usa-
se a crase, pois, neste caso, esse substantivo é precedido do artigo “a”.

Ontem cheguei à casa da namorada muito tarde.


Paulo voltou à casa velha para buscar o dinheiro.
Espere um pouco, vou à casa dele e volto logo.

• Não se usa crase antes de nome de cidade quando indeterminado, não


acompanhado de qualquer adjunto adnominal.

Amanhã vamos a Belo Horizonte.


Eles chegaram a Campinas antes do almoço.
Os empresários querem voltar a São Paulo.

Nota: Se o nome de cidade estiver determinado por qualquer adjunto adnominal, usa-
se a crase, pois, neste caso, o nome da cidade é precedido do artigo “a”.

Amanhã vamos à maravilhosa Belo Horizonte.


Ele chegaram à Campinas de Carlos Gomes.
Os empresários querem voltar à grande São Paulo.

• Não se usa crase antes de pronome indefinido.

Não diga isso a ninguém.


Refiro-me a alguma aluna que goste de escrever.
Dirija-se a qualquer pessoa, a toda gente que você vir lá.

Nota: Com o pronome indefinido “outra” / “outras”, ocorre ou não a crase, conforme o
contexto admita ou não a anteposição do artigo “a”.

Sem o artigo: tratando-se de várias moças (sentido vago, impreciso).

Não entregue o pacote à Geralda, entregue a outra moça. (Isto é, a uma outra moça
qualquer).

Com o artigo: tratando-se de apenas duas moças. (Isto é, se não é uma, só pode ser a
outra)

62
Não entregue o pacote à Geralda, entregue à outra moça.

• Não se usa crase antes do substantivo “distância”, quando não acompanhado de


qualquer determinante.

Ele me chamou a distância.


A UNIUBE aderiu ao programa de Educação a Distância.

Se, porém, o substantivo “distância” estiver determinado, usa-se a crase.

Ele me chamou à distância de cem metros.


Eles estavam à distância de dois quilômetros do inimigo.

• Não se usa crase antes do substantivo “terra”, quando significa chão firme, em
oposição ao ar ou à água.

Os marinheiros voltaram a terra, ao notarem defeito no navio.


Chegando a terra, todos se dirigiram ao hospital.

• Com o pronome relativo “que”, usa-se ou não a crase conforme o contexto, isto é,
conforme ocorra ou não a anteposição do artigo “a”.

Sem o artigo: Não sei a que moça você se refere.

Neste caso, o sentido é vago, impreciso, não ocorrendo, pois, a anteposição do


artigo.

Com o artigo: São duas moças. Refiro-me à que está sentada, e não à que está em pé.

• Antes de nomes femininos de pessoas, é opcional o emprego da crase, conforme se


anteponha ou não o artigo definido “a”.

Diga a Gertrudes que eu a amo. (Gosto de Gertrudes – só a preposição)


Diga à Gertrudes que eu a amo. (Gosto da Gertrudes – preposição com artigo)

• Antes de pronome possessivo feminino, é opcional o emprego da crase, conforme se


anteponha ou não o artigo definido “a”.

Refiro-me a sua irmã. (Gosto de sua irmã – só a preposição)


Refiro-me à sua irmã. (Gosto da sua irmã – preposição com artigo).

Atenção: Note que o emprego da crase é opcional porque o artigo também é opcional.
Se não for possível a anteposição do artigo, então não ocorrerá a crase. O não emprego
da crase é obrigatório. E, se houver a presença do artigo, então o emprego da crase
será obrigatório.

Refiro-me a suas irmãs. – Obrigatório o não emprego da crase, pois a palavra “a”
antes de palavra no plural é só a preposição. Se houvesse o artigo, teria de ser “as”, no
plural.

63
(Confronto: gosto de suas irmãs).

Refiro-me às suas irmãs. – Obrigatório o emprego da crase, pois a palavra “as”, no


plural, é artigo, já que não existe preposição no plural. Então esse “às” é a contração da
preposição “a”, regida pelo verbo anterior, com o artigo feminino plural “as” anteposto
ao pronome feminino plural “suas”.

(Confronto: gosto das suas irmãs, e não “da” suas irmãs).

2.3.2.3 Emprego do acento grave em locuções

Além de seu emprego para indicar a crase, o acento grave é empregado nas locuções
adverbiais, prepositivas e conjuntivas cujo núcleo é constituído de substantivo
feminino.

Trata-se de uma situação em que não ocorre a crase, isto é, a fusão da preposição “a”
com o artigo definido feminino “a” / “as”, embora possa acontecer coincidência. Mas só
coincidência.

A necessidade do emprego do acento grave nessas locuções tem o sentido de evitar


ambiguidade, confusão com o “a” ou “as” artigo, que transformaria o termo em objeto
direto, e não em locução adverbial, prepositiva ou conjuntiva.

a) Locuções adverbiais

Algumas locuções:

à tarde, à noite, à faca, à máquina, à tinta, à vista, às claras, às escuras, às


apalpadelas, às mil maravilhas.

Note que são apenas expressões constituídas de substantivos femininos como núcleo.
Portanto as de núcleo masculino não se grafam com o acento grave, como:

a cavalo, a prazo, a esmo.

Exemplo:

Meu primo estuda à noite.

Esse enunciado quer dizer que o sujeito “meu primo” frequenta escola no período
noturno, sendo o termo, pois, adjunto adverbial de tempo.

Caso a redação fosse:

Meu primo estuda a noite,

o enunciado quer dizer que o sujeito “meu primo” tem como objeto de estudo a noite,
isto é, ele é um astrônomo, um cientista que estuda, pesquisa, analisa a noite. O termo
“a noite”, então, é objeto direto do verbo “estudar”.

Observação: O único caso de locução adverbial que a norma padrão autoriza deixar
sem o acento grave é para as locuções adverbiais de instrumento, ou meio, desde

64
que não ocorra ambiguidade. Caso ocorra, o emprego do acento grave é obrigatório.
Exemplo:

O rapaz abriu à faca.

Esse enunciado está com o objeto direto subentendido. O rapaz abriu alguma coisa
usando a faca como instrumento. Então o termo “à faca” é adjunto adverbial de
instrumento. O acento grave é obrigatório, pois sua ausência determinaria outro sentido
ao enunciado:

O rapaz abriu a faca.

O enunciado quer dizer que o rapaz abriu uma faca, daquelas que parecem canivete,
tendo a lâmina dobrável, guardada dentro do cabo. Então o termo “a faca” é objeto
direto.

Veja, agora, estes enunciados.

O rapaz abriu a lata a faca.


O rapaz abriu a lata à faca.

Neles, o objeto do verbo “abrir” está expresso, “a lata”. Portanto não existe a
possibilidade de interpretar o termo “a faca” como objeto direto do verbo, mas apenas
como adjunto adverbial de instrumento. Então o emprego do acento grave é opcional.

b) Locuções prepositivas

Algumas locuções:

à maneira de, à moda de, à custa de, às custas de, à vista de, à luz de, à sombra de,
à força de, à espera de, à procura de.

Exemplos:

O rapaz venceu à custa de muito sacrifício.


Vivemos à procura da felicidade.

c) Locuções conjuntivas

As principais, ou praticamente únicas, são:

à proporção que, à medida que.

Exemplos:

O aluno aprende à medida que estuda.


A ansiedade dos torcedores aumentava à proporção que o tempo corria.

65
Agora é a sua vez

1) Complete os espaços com as formas corretas de crase:

a) – Andando ___ pé ou ___ cavalo, saia sempre ___ tardinha.


b) – Diga ___ ela que estou disposto ___ colaborar com sua campanha.
c) – Refiro-me ___ todas as disciplinas.

Veja as respostas: a- a, a, à; b- a, a; c- a.

2) Complete os espaços com as formas corretas de crase, dentre as mencionadas nos


parênteses:

a) Os turistas chegaram ___ (a, à) Madrid ___ (a, à) uma hora da manhã.
b) Meu sobrinho foi ___ (a, à) cidade ___ (as, às) quatro horas __ (a, à) fim de comprar
um par de sapatos.
c) Não sei ___ (a, à) que garota você se refere: é ___ (a, à) que está de saia verde ou
___ (a, à) que está de blusa azul?
d) Dona Maria, dirijo-me ___ (a, à) Senhora ____ (a, à) procura de informações ____ (a,
à) respeito de nossa viagem ___ (a, à) Florianópolis.
e) Durante sua excursão ___ (a, à) Europa, ele foi ___ (a, à) Portugal e ___ (a, à) França,
mas não foi ___ (a, à) Grécia nem ___ (a, à) Roma.
f) A Luciana está magoada, porque o diretor não se referiu ___ (a, à) ela nem ___ (a, à)
nenhuma de suas colegas de grupo.

Veja as respostas: a- a, à; b- à, às, a; c- a, à, à; d- à, à, a, a; e- à, a, à, à, a; f- a, a.

2.3.3 Palavras e expressões

2.3.3.1 MAU / MAL

MAU – É adjetivo, portanto determina substantivo.

Antônimo: BOM.

Exemplos: mau aluno, mau jeito, mau cheiro, mau hálito, mau humor (bom aluno,
bom...).

MAL – Pertence a três classes de palavras:

Advérbio. – Antônimo: BEM.

Exemplos: mal acabado, mal resolvido, mal acostumado, mal-humorado (bem


humorado, bem...).

Substantivo. – Antônimo: BEM.

66
Exemplos: fazer o mal, praticar o mal, evitar o mal, pessoa do mal (fazer o
bem...).

Neste caso, tem a flexão de plural: os males. Exemplos:

Muitos são os males do progresso.


Devemos fugir dos males da tecnologia moderna.

Conjunção subordinativa adverbial temporal.

Exemplos: Mal cheguei, a chuva caiu.


Mal os pais saíram, as crianças começaram a algazarra.

2.3.3.2 ONDE / AONDE

ONDE – Corresponde a termos que regem a preposição EM: morar, estar, ficar, estudar.

em que lugar? – lugar em que.

EM – Ideia de repouso (em oposição a movimento).

Exemplos: Onde você mora?


Onde seu irmão estuda?

A rua onde moro é asfaltada.


A escola onde ele estuda é de boa qualidade.

AONDE – Corresponde a termos que regem a preposição A: ir, chegar, voltar.

a que lugar? – lugar a que.

A – Ideia de movimento, direção (em oposição a repouso).

Exemplos: Aonde você foi ontem?


Aonde seu irmão chegou?

A igreja aonde fui ontem é bonita.


A cidade aonde ele chegou é pequena.
Que a família comece e termine sabendo aonde vai.

2.3.3.3 ENTRE MIM E ELE

No tópico dos pronomes pessoais, vimos que os de caso oblíquo exercem a função
sintática de complemento, e os de caso reto exercem apenas a função sintática de
sujeito. Portanto as expressões “entre eu e ele”, “entre eu e você” e demais da mesma
natureza são erradas, pois os pronomes pessoais EU e TU são apenas do caso reto,
portanto exercem apenas a função sintática de sujeito. As expressões com a preposição
“entre”, nos casos aqui referidos, são complemento, e não sujeito. Por isso devem ser
construídas apenas com as formas pronominais oblíquas MIM e TI. Os demais
pronomes pessoais do caso reto, sim, esses podem ser do caso reto, quando sujeitos,
e do caso oblíquo, quando complementos. Exemplos:

67
Os atritos foram entre MIM e TI. (e não entre eu e tu)
Os atritos foram entre TI e MIM. (e não entre tu e eu)
Entre MIM e ele houve acordo.
Entre ele e MIM houve acordo.
Nunca houve desentendimento entre MIM e você.
Nunca houve desentendimento entre você e MIM.
O assunto será tratado apenas entre MIM e o Alfredo.
O assunto será tratado apenas entre o Alfredo e MIM. (e não entre o Alfredo e eu)
O caso será decidido entre MIM e os alunos. (e não entre eu e os alunos)

Em todos esses casos, não se usam as formas EU nem TU.

Você viu que a ordem dos pronomes não interfere em seu emprego, como “entre mim e
você” ou “entre você e mim”.

É evidente que alguma forma de enunciar pode soar estranha. Mas esse estranhamento
não deve interferir no emprego correto das expressões. Para atender a função poética
da linguagem, escolha a forma que tenha melhor sonoridade.

2.3.3.4 MEIO / MEIA

A palavra “meio” classifica-se como numeral fracionário adjetivo ou como advérbio.

Numeral fracionário. Neste caso, tem função mórfica de adjetivo, pois determina
substantivo, tendo, portanto, as flexões de gênero e de número: meio, meia, meios,
meias. Exemplos:

meio quilo.
meia dúzia.
meios termos – Detesto pessoas que só dizem meios termos.
meias palavras – Detesto pessoas que só dizem meias palavras.

Advérbio. Nesta classificação, a palavra determina ou modifica adjetivo e é invariável,


não tendo, portanto, flexões. Exemplos:

A menina está meio adoentada.


A moça é meio loira.
A máquina está meio estragada.
Essa pergunta é meio atrevida.
Ela ficou meio preocupada.
Elas ficaram meio preocupadas.

Agora é a sua vez

Preencha os espaços com a forma correta, dentre as mencionadas nos parênteses:

1 – Alguns políticos dão __________ (mau / mal) exemplo aos próprios filhos.
2 – Minha irmã é aquela ali, aquela __________ (meio / meia) gorda.
3 – Por favor, ___________ (onde / aonde) vão aquelas crianças?

Veja as respostas: 1- mau; 2- meio; 3- aonde.

68
2.3.3.5 HÁ / A

HÁ- Emprega-se esta forma nas frases em que a ideia é de tempo passado, ou tempo
decorrido. Equivale à forma verbal FAZ, na mesma acepção. Exemplos:

Ele mora nesta cidade há dez anos. / ...faz dez anos. (e não “fazem”)
Há dez anos que ele mora nesta cidade. / Faz dez anos que... (e não “Fazem”)
Ele chegou há duas horas. / ...faz duas horas. (e não “fazem”)
Há duas horas que ele chegou. / Faz duas horas que... (e não “Fazem”)
Estamos aqui há muito tempo.
Os dinossauros existiram há milhões de anos.
Há muito que não o vejo.
Há muito não se vê tanta corrupção política.

A – Emprega-se esta forma nas frases em que a ideia é de tempo futuro ou de


distância. Exemplos:

Tempo futuro – Meu filho vai casar daqui a dois anos.


De hoje a dois anos será o casamento do meu filho.
Estamos a um mês das próximas férias.

Distância – A casa fica a vinte metros da esquina.


A vinte metros da esquina, vire à direita.
Estamos a dois quilômetros do inimigo.

2.3.3.6 AO ENCONTRO DE/ DE ENCONTRO A

O desconhecimento da primeira dessas expressões grassa na sociedade, até nos meios


cultos ou intelectuais, e faz com que a segunda delas seja usada no sentido da primeira.
“Exatamente” um sentido oposto, contrário.

AO ENCONTRO DE (DO, DOS, DA, DAS) – Esta expressão tem ideia de situação
favorável, agradável, boa. Exemplos:

A urbanização do bairro veio ao encontro do desejo dos moradores.


A prorrogação das férias veio ao encontro da expectativa dos alunos.
O aumento do salário veio ao encontro das aspirações dos funcionários.

DE ENCONTRO A (AO, À, AOS, ÀS) – Esta expressão tem ideia de situação


desfavorável, desagradável, ruim. Exemplos:

Esta reforma da Previdência vem de encontro à dignidade do trabalhador.


A anulação do concurso veio de encontro às expectativas dos candidatos.
A paralisação das obras veio de encontro ao desejo dos moradores.

2.3.3.7 CONOSCO, CONVOSCO / COM NÓS, COM VÓS

A preocupação com o falar corretamente, com o não errar, com o não ser ignorante ou
caipira faz muitas pessoas exatamente errarem neste tópico, pois aprenderam que a
expressão “com nós” é errada. Mas existem as duas formas.

69
CONOSCO, CONVOSCO – Esta forma pronominal é resultante da fusão da preposição
COM e dos pronomes NÓS e VÓS.

Tal forma é usada apenas quando o pronome pessoal “nós” ou “vós” não é seguido de
determinante ou de aposto. Exemplos:

O diretor quer conversar conosco.


Ele vem falar conosco.
Devemos ser sinceros para conosco.
Deus esteja convosco.
Vós deveis ser sinceros convosco.
Ela vai passear conosco.

COM NÓS, COM VÓS – Aqui se trata do pronome pessoal seguido de determinante ou
de aposto. Neste caso, não se usa a forma sintética ou aglutinada do pronome e da
preposição. Exemplos:

O diretor quer conversar com nós alunos.


Ele vem falar com nós dois.
Devemos ser sinceros para com nós mesmos.
Deus esteja com vós todos.
Vós deveis ser sinceros com vós mesmos.
Ela vai passear com nós três.

Agora é a sua vez

Complete os espaços com as formas corretas dentre as mencionadas nos parênteses:

a) Achei sua filha __________ (meio / meia) triste.


b) Ele já chegou _____ (a / há) muito tempo.
c) ______ (A / Há) um quilômetro daqui vocês encontrarão uma oficina.
d) Não o entendo. _________ (Onde / Aonde) você quer chegar?
e) A substituição do ministro agradou muito. Ela veio ____________________________
(ao encontra dos / de encontro aos) desejos da população.
f) Isso é um absurdo, só acontece _________________ (conosco, com nós) engenheiros.

Veja as respostas: a- meio; b- há; c- a; d- aonde; e- ao encontro dos; f- com nós.

2.3.3.8 MELHOR / MAIS BEM

Aqui está outra situação em que as pessoas instruídas, intelectuais, professores,


palestrantes, mestres e doutores erram com frequência, “pensando” que estão falando
corretamente. E, muitas vezes, “corrigem” os que não erram, ou até mesmo zombam
dos que acertam.

Sempre que constatamos esses desacertos, reportamos ao que dissemos no item


referente à língua culta, cuja aquisição ou aprendizagem se faz por meio de estudo.
Mas estudo sério, de gramática, de linguística, de literatura e demais fontes.

70
MELHOR – Trata-se da forma sintética do comparativo de superioridade do advérbio
“bem”. Exemplos:

A Vilma canta melhor que (ou: do que) sua irmã.


Esse mecânico trabalha melhor que (ou: do que) o outro.
Na fazenda vive-se melhor que (ou: do que) na cidade.
Suporta-se melhor a cólica do próximo que (ou: do que) a própria.

MAIS BEM – Esta é a forma analítica do comparativo de superioridade do advérbio


“bem”. É empregada apenas quando modificadora de forma verbal no particípio.
Exemplos:

Nossos alunos estão mais bem preparados que os das outras escolas.
O professor está mais bem informado que o diretor.
Este trabalho está mais bem realizado que aquele.
A sala é mais bem arejada que o quarto.
O galpão da igreja está mais bem construído que o do clube.
As partes da herança estão mais bem divididas agora.
Este texto está mais bem traduzido que o outro.
O bolo está mais bem repartido que o doce.
O assunto agora está mais bem debatido.
As propostas estão mais bem discutidas.
O assunto foi mais bem explicado pelo professor.

2.3.3.9 TAXA, TAXAR, TAXADO / TACHA, TACHAR, TACHADO

TAXA: percentual, alíquota, valor


Derivados: TAXAR, TAXADO.

A taxa de inscrição é de R$200,00.


O governo vai taxar a frequência às praias.
O governo ainda não taxou a frequência às praias.
O imposto foi taxado em vinte por cento.

TACHA: tipo de prego.


Derivados: TACHAR, TACHADO.

Os termos derivados são empregados, geralmente, em sentido figurado, metafórico,


com ideia de acusar de, acusado de.

A ditadura militar vai tachar os operários de comunistas.


O pai da moça tachou o rapaz de vagabundo.
O deputado Alécio Naves foi tachado de corrupto e de ladrão.

2.3.3.10 VIAGEM, VIAJEM / HAJA, AJA

Nestes casos, o problema é apenas de grafia, ou escrita, e não de pronúncia. São


situações de ordem fonética, ortográfica, morfológica e semântica.

71
VIAGEM: substantivo.

A viagem foi demorada.


Desejo-lhe boa viagem.
Vou fazer uma viagem amanhã.

VIAJEM: flexão do verbo viajar na terceira pessoa do plural do presente do subjuntivo.

Quero que vocês viajem ainda hoje.


O chefe manda que o Acácio e o Norberto viajem à capital federal.
É bom que eles viajem imediatamente.

Veja a ocorrência das duas formas na mesma frase:

Quero que vocês viajem amanhã e façam boa viagem.

HAJA: flexão do verbo haver na terceira pessoa do singular do presente do subjuntivo.

Espero que haja vagas.


É bom que não haja desistências.
Haja vista os escândalos praticados pelos políticos.

AJA/AJAM: flexão do verbo agir na terceira pessoa do singular e do plural do presente


do subjuntivo.

Espero que você aja / que vocês ajam com justiça.


Os pais querem que o filho aja / que os filhos ajam com honestidade.
É preciso que o professor aja / que os professores ajam com elegância.

2.3.3.11 Verbo ADEQUAR

Trata-se de um verbo bastante “judiado” nas falas de pessoas instruídas, autodidatas


ou até detentoras de escolaridade de nível superior: professores, oradores,
palestrantes, pregadores religiosos. Constantemente ouvimos frases como: “o texto não
se adequa ao assunto”, “isso não se adequa à realidade do aluno”. Emprego totalmente
errado.

Esse verbo é defectivo, não possuindo, portanto, todas as formas de pessoas, tempos
e modos. Possui apenas as formas arrizotônicas, isto é, as pessoas ou formas em que
a vogal tônica ocorre depois do radical. O radical do verbo “adequar” é adequ-. Então
não existem as pessoas em que a vogal tônica seria o “e”. Isto é, não existem as
formas rizotônicas desse verbo.

Fica, então, assim o verbo “adequar” em alguns tempos e modos:

Presente/indicativo Presente/subjuntivo Pret. imperfeito/indicativo

Eu ..................... [...] eu ..................... Eu adequ-ava


Tu ..................... [...] tu ...................... Tu adequ-avas
Ele .................... [...] ele ..................... Ele adequ-ava
Nós adequ-amos [...] nós adequ-emos Nós adequ-ávamos
Vós adequ-ais [...] vós adequ-eis Vós adequ-áveis
Eles .................... [...] eles ................... Eles adequ-avam

72
Note que o tempo pretérito imperfeito do indicativo é completo porque todas as pessoas
são arrizotônicas, isto é, todas têm como tônica a vogal temática -a, depois do radical.

Aqui não vale, também, aquele argumento de que, faltando a primeira pessoa do
singular do presente do indicativo de um verbo defectivo, consequentemente não haverá
todo o presente do subjuntivo. Não. O caso aqui é outro, a regra é outra.

Agora surge a dúvida, ou a intrigante questão: como proferir, então, uma frase em que
o verbo “adequar” é defectivo, isto é, uma forma que não existe para esse verbo? A
resposta é simples: as formas inexistentes de um verbo defectivo são substituídas pelas
formas de um verbo sinônimo ou de significação análoga ou equivalente, conforme visto
no capítulo 1, no item referente aos verbos defectivos pessoais. As frases mencionadas
no início deste item, como erradas, ficam assim:

O texto não se “adequa” ao assunto. – errado


... não se adapta... / ... não se ajusta... – correto

Isso não se “adequa” à realidade do aluno. – errado


... não se adapta... / ... não se ajusta... – correto

2.3.3.12 Plural de nomes próprios de pessoas

Fato bastante corrente na sociedade, em especial pelo rádio e pela televisão, é a


referência a famílias pelos nomes ou sobrenomes das pessoas. Ocorre que essas
referências são sempre no singular, o que não é correto. Trata-se de erro,
simplesmente. O correto, o certo é o plural. Exemplos:

O lar dos Andrades está em festa. (e não “dos Andrade”)


Os Oliveiras vão promover movimentada festa junina. (e não “os Oliveira”)
Os Cunhas e os Sousas vão unir as famílias, com o casamento de seus filhos. (e
não “os Cunha e os Sousa”)
No clã dos Ferreiras, os festejos do Natal são muito animados. (e não “dos Ferreira)

A melhor prova de que esta norma é correta, exata, ortodoxa, é o título de uma das
obras do escritor português Eça de Queirós, Os Maias. Seria um absurdo se o livro se
intitulasse “Os Maia”...

Agora é a sua vez

Preencha os espaços com a forma correta, dentre as mencionadas nos parênteses:

1 – Meu primo trabalha nesta empresa ______ (a / há) quatro anos.


2 – O dinheiro que ganhei na loteria veio __________________ (de encontro às / ao
encontro das) minhas necessidades. Fiquei muito contente.
3 – Meu violão está ____________ (mais bem / melhor) afinado que o seu.

Veja as respostas: 1- há; 2- ao encontro das; 3- mais bem.

73
2.3.4 Funções do pronome SE

Neste tópico serão apresentadas apenas as situações do emprego do pronome SE que


interferem na concordância verbal: índice de indeterminação do sujeito e pronome
apassivador (partícula apassivadora).

2.3.4.1 Índice de indeterminação do sujeito

Esta situação ocorre com verbos não transitivos diretos. Então, com verbos intransitivos,
transitivos indiretos e de ligação.

Neste caso, o verbo fica invariável, isto é, emprega-se apenas na 3.ª pessoa do
singular.

Com verbos intransitivos: Vive-se bem nesta cidade.


Estuda-se muito na minha escola.
Também se morre de tristeza.
Não se ri durante a missa.
Chora-se por pouca coisa.
Trabalha-se pouco nesta casa.
Dorme-se mal naquele hotel.

Com verbos transitivos indiretos: Precisa-se de operários.


Não se precisa desses livros.
Necessita-se de estagiários.
Acredita-se em almas penadas.
Confia-se pouco nas autoridades.
Não se confia nos políticos.

Com verbos de ligação: Não se é feliz quando se está triste.


Fica-se triste em velórios.

Note, mais uma vez, que em todos esses exemplos o verbo ficou na terceira pessoa do
singular.

2.3.4.2 Pronome apassivador ou partícula apassivadora

Esta situação ocorre apenas com verbos transitivos diretos.

Por tradição, costuma-se mostrar que a voz passiva pronominal ou sintética


corresponde à voz passiva analítica, com o verbo “ser”. Exemplos:

Vendem-se casas. / Casas são vendidas. (Exemplo tradicional, estereotipado...)


Alugam-se apartamentos. / Apartamentos são alugados.
Corrigiu-se o erro. / O erro foi corrigido.
Corrigiram-se os erros. / Os erros foram corrigidos.
Verificar-se-á a falha. / A falha será verificada.
Verificar-se-ão as falhas. / As falhas serão verificadas.

Importante: Neste caso, o sujeito é expresso, determinando, portanto, a concordância


do verbo com ele, isto é, no singular ou no plural, conforme o número do sujeito.

74
Atenção: Não se trata de sujeito indeterminado.

Exemplos:

Vende-se casa. / Vendem-se casas.


Aluga-se chácara. / Alugam-se chácaras.
Cumpriu-se o programa. / Cumpriram-se os programas.
Corrigiu-se o erro. / Corrigiram-se os erros.
Verificar-se-á a falha. / Verificar-se-ão as falhas.
Far-se-á prova bimestral. / Far-se-ão provas bimestrais.
Não se busca lucro. / Não se buscam lucros.
Nunca se descobriu o culpado. / Nunca se descobriram os culpados.
Para isso, consideram-se o locutor, o interlocutor, a finalidade e a situação. / Para
isso, considera-se o locutor, o interlocutor, a finalidade e a situação.

Note que, no último par de exemplos, o verbo ficou no plural para concordar com o
sujeito composto “o locutor, o interlocutor, a finalidade e a situação”. Por se tratar de
sujeito composto depois do verbo, ou sujeito posposto, a forma do verbo no singular
também é correta, para concordar com o sujeito mais próximo, conforme prescreve a
regra. Mas não a única forma correta.

Repetimos que, com verbo transitivo direto, o pronome SE não indica sujeito
indeterminado. Como a maior ocorrência na língua portuguesa é dessa situação, os
usuários da língua, falada ou escrita, “pensam” que esse pronome indica apenas sujeito
indeterminado, e escrevem o verbo sempre no singular nas frases de voz passiva. Por
isso existem as famosas placas ou os famosos anúncios com a concordância errada:
vende-se casas, vende-se móveis usados, aluga-se apartamentos, conserta-se
calçados, e tantos outros.

Esse equívoco, esse engano, esse pensamento errado é comum até em pessoas de
escolaridade elevada.

Agora é a sua vez

Escreva a forma correta do verbo, no singular ou no plural, conforme a função do


pronome SE:

a) ________________ (Abriu-se / abriram-se) as portas para que saísse a fumaça.


b) _________________ (Necessita-se / necessitam-se) de novos monitores.
c) Ainda _____________ (se vê / se veem) pessoas morrendo de fome.
d) _________________ (Confia-se / confiam-se) pouco nos políticos brasileiros.
e) Estamos aliviados. ____________________ (Descobriu-se / descobriram-se) os
responsáveis pelo desvio do dinheiro.
f) Não se ____________________ (cumpriu / cumpriram) todos os itens do programa.

Veja as respostas: a- abriram-se; b- necessita-se; c- se veem; d- confia-se; e-


descobriram-se; f- cumpriram.

75
2.3.5 Regência de alguns verbos

Em outra obra estão relacionados alguns verbos cuja regência oferece dificuldade ou
confusão em seu emprego na modalidade culta da língua portuguesa. É uma relação
com finalidade didática, com os verbos apresentados com mais frequência em
gramáticas ou em livros didáticos.

Neste tópico, constam apenas as situações de verbos empregados quase só de forma


errada na língua falada e na escrita, por pessoas, conforme o afirmamos por mais de
uma vez, dotadas de escolaridade elevada: escritores, intelectuais, doutores.

A frequência com que tais verbos são empregados de forma errada, mas por pessoas
“importantes”, transformou o erro em “acerto” para as demais pessoas, principalmente
as que são dotadas de menor preparo intelectual ou escolar. Estas veem naquelas o
modelo, o paradigma do bom uso da língua. Então, o que elas proferem é imitado.
Mesmo que seja o erro.

2.3.5.1 Morar, residir, situar

É comum vermos frases mal redigidas, como se fossem corretas, com esses verbos e
nomes deles derivados tendo por complementos termos construídos com a preposição
“a”: residente à rua tal, situado à rua tal. Erro até presente em formulários impressos,
com os espaços para preenchimento do cliente ou freguês.

Emprego totalmente errado. Mesmo praticado por advogados, juízes, oficiais de


cartório.

Esses verbos regem a preposição EM.

Na redação de frases, os complementos de verbos e nomes deles derivados podem ter


as combinações NO, NA, NOS, NAS.

Portanto, as construções de frases com qualquer desses verbos ficam assim:

Ele mora na rua Antônio Borges. (e não “à”)


Ele reside na praça da República. (e não “à”)
A loja está situada na avenida Artur de Oliveira. (e não “à”)
O abaixo assinado, residente na rua Leopoldino Machado,.. (e não “à”)

2.3.5.2 Deparar

Este é outro verbo empregado de forma errada como se fosse certa. Erro cometido,
como dissemos, por intelectuais, professores, escritores.

Trata-se de um verbo que admite três construções, das quais duas são praticamente
ignoradas pelo grande público, mesmo intelectual. Portanto, pouco usadas. A terceira
forma, sim, é a que muita gente conhece e emprega erradamente.

As três construções que esse verbo admite são:

Deparar algo a alguém: “O hoteleiro deparou-me um refresco”. Isto é: proporcionou-


me. (FERNANDES, 1953, p. 188).

76
Algo deparar-se a alguém: “Ao hoteleiro deparou-se um refresco”. Isto é: apresentou-
se-lhe aos olhos. (FERNANDES, 1953, p. 189).

Essas duas formas não são conhecidas do grande público. São mais de emprego
literário, erudito, clássico.

Deparar com. – Atenção: DEPARAR COM, e não “deparar-se com”.

Portanto, nesta construção, o verbo “deparar” é transitivo indireto com a preposição


COM, e NÃO pronominal.

Exemplos: “O hoteleiro deparou com um refresco”. Isto é: deu com um refresco.


(FERNANDES, 1953, p. 189).

Então deparei com a realidade. (e não “me” deparei)


Eu sempre deparo com dificuldades. (e não “me” deparo)
Eu ia andando distraído, quando deparei com o pai dela. (e não “me” deparei)
Muitas vezes o aluno depara com dificuldades. (e não “se” depara)
O homem sempre depara com problemas. (e não “se” depara)
Em nossa caminhada, sempre deparamos com dificuldades. (e não “nos”
deparamos.
Deparo sempre com obstáculos. (e não Deparo-“me”)
Deparamos sempre com obstáculos. (e não Deparamo-“nos”)

Atenção: Não confunda, neste caso, o emprego do pronome SE nas frases com sujeito
indeterminado. Aí, sim, há o emprego do pronome, mas não como parte de um verbo
pronominal. Por se tratar de um verbo transitivo indireto, “deparar com”, o pronome SE,
com esse verbo, funciona como índice de indeterminação do sujeito. Exemplos:

Na vida, depara-se muitas vezes com obstáculos.


Sempre se depara com obstáculos nesta vida.

Agora é a sua vez

Preencha os espaços com a forma correta dentre as mencionadas nos parênteses:

a) Essa turma está __________ (mau / mal) preparada para os exames.


b) Devido ao _____________ (mau / mal) jeito no corpo, o atleta não pôde nadar.
c) É um ___________ (mau / mal) costume chegar atrasado.
d) Não seja ________ -humorado (mau / mal). O ___________ (mau / mal) humor é um
defeito.
e) Meu Deus, _____________ (onde / aonde) vamos parar? ____________ (onde /
aonde) vamos chegar?
f) O suplicante reside _____ (à, na) rua das Acácias, nesta cidade.

Veja as respostas: a- mal; b- mau; c- mau; d- mal / mau; e- onde / aonde; f- na.

77
2.3.5.3 Implicar

Trata-se de mais um verbo empregado de forma errada como se fosse correta, por
pessoas instruídas.

No sentido de acarretar, ter como resultado, esse verbo é transitivo direto, e não
transitivo indireto com a preposição “em”.

Então, as expressões corretas ficam assim:

O atraso em até três prestações implica o cancelamento do contrato. (e não “no”)


A infração disciplinar prevista no artigo 45 implica suspensão do aluno. (e não “em
suspensão”)
O conserto do veículo em oficina não autorizada implica a perda da garantia. (e não
“na”)

2.3.5.4 Pagar, perdoar

Esses verbos apresentam duas predicações:

Transitivos diretos – para a coisa que se paga ou que se perdoa;


Transitivos indiretos, com a preposição “a” – para a pessoa a quem se paga ou
a quem se perdoa.

Exemplos:

Você já pagou o liquidificador? – (coisa: o liquidificador – objeto direto)


Você já pagou ao dentista? – (pessoa: ao dentista – objeto indireto)
Preciso pagar o conserto do carro. – (coisa: o conserto – objeto direto)
Preciso pagar ao mecânico. – (pessoa: ao mecânico – objeto indireto)
Deus perdoa o pecado. – (coisa: o pecado – objeto direto)
Deus perdoa ao pecador. – (pessoa: ao pecador – objeto indireto)

Com pronomes pessoais oblíquos:

O conserto do meu carro ficou pronto. Hoje vou pagá-lo. – (lo = o conserto: coisa –
objeto direto)
O dentista precisa do dinheiro. Hoje vou pagar-lhe. – (lhe = ao dentista: pessoa –
objeto indireto)

2.3.5.5 Chegar, ir, voltar

Como são verbos que significam movimento, direção, regem a preposição “A”, e não a
preposição “em”, própria dos verbos que significam repouso. Assim, as expressões
corretas com esses verbos são:

Cheguei ao clube, ao teatro.


Cheguei à igreja, à casa da vovó.
Cheguei a Uberaba, a São Paulo.
Ontem cheguei a casa muito tarde.
Vou ao clube, ao teatro.
Vou à igreja, à casa da vovó.
Vou a Uberaba, a São Paulo.

78
Vou a casa buscar o dinheiro.
Voltei ao clube, ao teatro.
Voltei à igreja, à casa da vovó.
Voltei a Uberaba, a São Paulo.
Voltei a casa para buscar o dinheiro.

2.3.5.6 Namorar

No sentido de cortejar, galantear, ter como namorado, é transitivo direto.


É incorreto, errado, o uso frequente como transitivo indireto, com a preposição “com”.

Exemplos:

O Alfredo namora a Regina. (e não “com” a Regina)


Ela está namorando um colega. (e não “com” um colega)
Ele já namorou duas colegas. (e não “com” duas colegas)
Eu já a namorei. (e não “já namorei com ela”)
Ela já me namorou. (e não “já namorou comigo”)

Agora é a sua vez

Escreva a forma verbal correta, conforme a norma culta:

1 – Naquele hospital, _________________ (necessita-se / necessitam-se) de


enfermeiros.
2 – _________________ (Procura-se / procuram-se) os responsáveis pelo acidente.
3 – O Joseval reside _______ (na / à) rua Orlando Ferreira, nesta cidade.

Veja as respostas: 1- necessita-se; 2- procuram-se; 3- na.

2.3.6 Emprego do pronome relativo QUE com verbos que regem preposição

Esta é uma situação bastante “agredida” na fala e na escrita, por pessoas de certa
cultura ou de escolaridade elevada, como já o dissemos em mais de uma ocasião.

Na fala, e principalmente na escrita, a preposição regida pelo verbo permanece antes


do pronome relativo “que”, em frases como as seguintes:

Goiabada é o doce de que eu mais gosto. (gostar de)


Das moças que Paulo namorou, a Vera é a de que (de quem, da qual) ele mais
gostou. (gostar de)
Dr. Jorge é o médico de que (de quem, do qual) falei. (falar de)
Ele é o médico em que (em quem, no qual) confio. (confiar em)
“A Paixão de Cristo” é o filme a que assisti ontem. (assistir a)
Ser ator é a profissão a que meu primo aspira. (aspirar a)
Esta é uma lei a que (à qual) ninguém obedece. (obedecer a)
Um dos filmes a que mais assisti e de que mais gostei é “A Lagoa Azul”. (assistir a,
gostar de)

79
Considerações finais
Os fatos apresentados neste capítulo constituem importante cabedal de conhecimentos
para qualquer estudioso ou usuário da língua. Com maior destaque, para o estudante
de Letras, futuro professor de Português. São aspectos de uso prático e quotidiano, nas
diversas formas de expressão linguística. Estudá-los e compreendê-los é obrigação de
toda pessoa instruída para um satisfatório e coerente conceito na sociedade, não só
para ser respeitada, mas também e principalmente para tornar-se o paradigma da boa
comunicação e expressão em língua portuguesa.

Resumo
Neste capítulo, você viu algumas situações de correção de linguagem e de estruturas
morfossintáticas da língua portuguesa. São situações decorrentes, em geral, de
conteúdos morfológicos e sintáticos vistos no capítulo anterior, mormente no tocante às
classes de palavras. Foram apresentadas algumas normas de pontuação, de ortografia,
de grafia de palavras e de expressões, de crase, de algumas estruturas sintáticas de
emprego do pronome “se” e de regência verbal. Todos esses conteúdos constituem
seguro alicerce para o bom domínio do idioma.

Referências

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Nacional, 1982.

___________. Lições de português pela análise sintática. Rio de Janeiro: Fundo de


Cultura, 1970.

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ANDRÉ, Hildebrando Afonso de. Gramática ilustrada da língua portuguesa. São


Paulo: Moderna, 1979.

TORRES, Artur de Almeida. Moderna gramática expositiva da língua portuguesa.


Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1973.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio


de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

BARRETO, Mário. Novos estudos da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Presença,


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LUFT, Celso Pedro. Novo guia ortográfico. Porto Alegre: Globo, 1976.

___________. Moderna gramática brasileira. Porto Alegre: Globo, 1986.

DUBOIS, Jean et al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1978.

COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico,


1976.

FERNANDES, Francisco. Dicionário de verbos e regimes. Porto Alegre: Globo,1953.

80
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro:


Objetiva, 2001.

VOCABULÁRIO Ortográfico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Global, 2009.

BUENO, Francisco da Silveira. Grande dicionário etimológico-prosódico da língua


portuguesa. Santos: Editora Brasília, 1974.

AULETE, Caldas. Dicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro:


Delta, 1964.

SARAIVA, F. R. dos Santos. Novíssimo dicionário latino-português. Rio de Janeiro:


Garnier, 2000.

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