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NOVOS RESTAURANTES

DE CASCAIS
As novidades gastronómicas
na vila à beira-mar – dos pratos
tradicionais à comida do mundo
Cascais
sabe a novo
Na vila, há novos restaurantes
com sabores únicos, dos pratos
tradicionais às carnes suculentas
e à cozinha do mundo. Um roteiro
com partida junto à praia capaz
de saciar todos os apetites
S U S A N A L O P E S F A U S T I N O slopes@visao.pt
MARCOS BORGA

A
A vista e a proximidade do mar não são o familiar de Cascais, com uma loja de roupa de
único atrativo para quem se senta à mesa do praia e o Sup com Alma, um centro de atividades
restaurante Emma. No paredão de Cascais, ligadas ao mar.
resvés o areal da Praia da Conceição, esta Deixando a praia para trás, seguimos rumo
concessão há muito que é um ponto de encontro ao Bairro Amarelo – Restaurant District Cascais.
dos cascalenses e de quem gosta de conviver São cerca de dez minutos a pé, em passo
à volta de boa comida. O ambiente informal moderado, até encontrarmos as três ruas que
e a carta, em que há propostas para partilhar, compõem esta iniciativa – Nova da Alfarrobeira,
como os peixinhos da horta (€5), o choco frito Alexandre Herculano e Afonso Sanches –,
com maionese de coentros (€8) ou o filete de todas fechadas ao trânsito e preenchidas com
robalo com esmagada de batata e espinafres esplanadas sobre o piso pintado de amarelo. À
(€12), primam pela frescura dos produtos (o hora do jantar, as mesas ao ar livre do mexicano
peixe é do mar) e pela apresentação. “Somos Malacopa, instalado na Rua Afonso Sanches,
um restaurante com vista para o mar, mas estão compostas, mas o espírito festivo e a
com preços acessíveis”, diz André Simões de música convidam a entrar. Na sala, frases em
Almeida, que conhece este lugar como ninguém néones cor de rosa dão o mote à refeição:
(a concessão está na família desde 1999). Neste “comida, daquela que nenhum mexicano se
verão, transformou-o no primeiro beach club pode queixar”, dizem os cinco sócios e amigos,

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proprietários do restaurante, entre eles Pedro Mais discreto do que os vizinhos, todos com uma A esplanada
Leitão, chefe de cozinha e a quem se deve a ideia. oferta diferenciada, “e com quem temos uma do Malacopa no
Depois de oito anos a viver no México, é da sua relação muito boa”, diz, o Coal ganha no tamanho Bairro Amarelo,
experiência que se faz a carta, um festim de – tem duas salas e duas zonas de esplanada aglomerado
sabores que inclui aguachile verde de camarón –, no serviço (informal, mas cuidado) e na gastronómico
(€12,50) e chicharrón de ribeye (carne de vaca decoração, feita com mobiliário de linhas sóbrias, atualmente com
crocante, guacamole e tortilhas, €9,50), tacos apontamentos em azul, potes de cerâmica na cor 12 restaurantes
(o al pastor leva carne de porco marinada em do carvão e madeiras. As carnes premium e os que se
espalham
molho achiote) e tostadas. Para acompanhar, cortes nobres dão origem ao bife do lombo e ao
por três ruas
há margaritas e cocktails. alto da vazia, ao T-Bone (600g/ 2 pessoas, €53)
pedonais
O Bairro Amarelo tem outras novidades e, e ao chuletón maturados (800g/ 2 pessoas, €55),
a uma dúzia de passos, os toldos anunciam o mas também a lagartos e ao entrecôte. “Tentamos
inquilino mais recente daquela rua. O Coal, que quase todos os pratos passem pelo carvão,
dedicado às carnes grelhadas, tem a marca de incluindo as sobremesas, como o ananás grelhado
Vasco Simões de Almeida, dono do Moules & com gelado de coco”, explica Vasco, que apostou
Gin (na rua Nova da Alfarrobeira). “No início dos numa forma de preparação simples, “a mais pura
anos 90, nos meus 15-16 anos, isto era a zona da possível, sem inventar muito”. Para acompanhar,
moda, o nosso ponto de encontro”, conta Vasco. há batatas fritas crocantes ou um aromático

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HAYLEY KELSING

HAYLEY KELSING
A sobremesa O Coal, dedicado às carnes proprietários, por exemplo, do Hotel Albatroz –,
de morango grelhadas, tem a marca de Vasco gosta de desenvolver projetos originais, baseados
nas tendências da restauração. No Kappo, tem
com chantilly Simões de Almeida, dono do como sócios João Maria Trocado e o chefe de
de soja do
Kappo, o
Moules & Gin. “No início dos anos cozinha Tiago Penão que, depois de ter passado
restaurante de 90, nos meus 15-16 anos, isto era pelo restaurante Midori, em Sintra, e pelo Praia
alta-cozinha a zona da moda, o nosso ponto no Parque, em Lisboa, se fixou em Cascais. O
japonesa de encontro”, conta restaurante é uma viagem ao Japão, nos sabores
liderado pelo e na forma delicada com que recebe os clientes.
chefe de A alta-cozinha japonesa é praticada ao estilo
cozinha Tiago omokase, que significa qualquer coisa como
Penão “ficar nas mãos do chefe”. Escolha-se o balcão, o
risoto de trufa e sete molhos feitos na casa, melhor lugar para se apreciar a técnica, a frescura
entre os quais, o Coal, um demi-glace clássico. do produto e o resultado, que pode ser saboreado
Os torresmos caseiros, no couvert, e o tutano à carta, com sugestões como suimono de amêijoa
grelhado, nas entradas, merecem uma prova. (€8), edomae nigirizushi (8 peças, €32) ou
No Bairro Amarelo estão 12 restaurantes, mas tempura de ouriço-do-mar (€10), mas também
fora deste circuito há novidades a merecer visita em menus de degustação. O Danketsu (€90)
e paladar apurado. Falamos do Kappo, um caso inclui momentos como o chawamushide de milho
sério de alta-cozinha japonesa “e já a apontar (uma espécie de pudim) e oito nigiris ao estilo
para a Estrela Michelin”, diz, entusiasmado, André edomae, em que se usam peixes conservados
Simões de Almeida, um dos responsáveis, cuja com sal e vinagre. A este, juntam-se o Omokase,
experiência não se fica pelo Emma, na praia. ao almoço (€75), e o Saikai (€50), ao jantar.
Com família ligada à gestão hoteleira – foram “Diferenciamo-nos de toda a oferta existente em

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PORTO SEGURO
Z O N A S D E PA S S E I O , L O J A S
E R E S TA U R A N T E S . A M A R I N A
D E C A S C A I S TA M B É M C H E I R A
A NOVO

As obras de renovação ainda decorrem,


devendo estar concluídas no final do
ano, mas já é visível a transformação da
Marina de Cascais, e exemplo disso é
a nova praça pedonal, ponto de partida
para um passeio. Há quem pare para
fotografar os azulejos da Viúva Lamego,
a dar cor aos pilares dos dois edifícios
comerciais, ou o trabalho artístico em
tons de azul de Gonçalo Mar. Mas é
sobretudo na zona da restauração, com
esplanadas, que se percebe que muita
coisa mudou. A mais recente novidade
chama-se Kafeine, cuja carta inclui
sugestões tão diferentes como lavagante
com molho de limão e manteiga, batata
frita e salada; um menu brunch, em
que entram até mimosas; cocktails e
café de especialidade. Na vizinhança,
estão o Coco Pollo, que aposta numa
ementa de frango, da versão desossada
às espetadas, e o Marias do Mar, com
peixe fresco assado na grelha, à vista
dos clientes (ambos do grupo Flow,
FELÍCIO AGUIAR

proprietário do novo Cuá Cuá, na Quinta


do Lago, no Algarve). A poucos passos,
há gelados e waffles na Mioo. No outro
edifício, no piso superior, o Nassau
combina música com cocktails e o
Cascais, o feedback diz-nos que já somos uma QabdaQ Café, com vista para o farol
No Emma, de Santa Maria, serve tapiocas, pão de
referência na zona, mas julgo que o seremos até junto à Praia
mais longe”, afirma André Simões de Almeida. queijo e bowls de açaí. Em breve, hão
da Conceição, de abrir o Peyote Tex-Mex e a Quinta
o menu inclui do Saloio Gourmet, com um espaço
ENCONTRO MARCADO NO PEREIRA choco frito do chefe Vítor Sobral. Na chamada
Não importa a hora nem o dia. No Mâide, as com maionese Fashion Promenade já se encontra a loja
mesas rodam à medida dos apetites dos clientes. de coentros e da marca brasileira Osklen, à qual se
O horário contínuo assim o permite, tal como a poke de atum juntarão a Torres Joalheiros, a Pricci, a
carta com propostas de brunch, pokes, tostas e (em cima); as Caban e a Zutto. O projeto para a Marina
saladas. Afastado do centro da vila, fica na zona carnes assadas de Cascais, do gabinete de arquitetura
da Torre. Ali, tanto se vai pela manhã à procura no carvão são Saraiva e Associados, inclui ainda um
do café de especialidade, 100% arábica orgânico, a especialidade hotel de cinco estrelas e uma galeria
como se combina um almoço de amigos para do Coal comercial. Mas isso não será para já.
se provar a cozinha do mundo, a que os sócios (em baixo)
Madalena Sousa Coutinho e Nuande Pekel
batizaram de “comida exótica”. Uma fusão de
sabores, desde a América do Sul ao Sudeste
Asiático, que se traduz em pratos como pad
thai, yakisoba, nasi goreng (arroz frito, típico
da Indonésia), rendang (caril seco de origem
indonésia, novilho e arroz) e kare (caril japonês).
“Sentimos que faltava um sítio como este,
descontraído, com comida leve e aberto durante
todo o dia, para ir ao encontro do estilo de vida

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KAPPO
X 
Av. Emídio
Navarro, 23,
Cascais
> T. 21 484 4122
> ter-sáb
12h30-15h30,
19h30-22h30

EMMA
RESTAURANTE
Luís X 
Rodrigues, R. Frederico
Arouca, Praia
chefe da Conceição,
de cozinha Cascais
no Pereira > T. 21 486 5138
(à esquerda); > ter-dom
10h-22h
Trem Velho,
um clássico
renovado COAL
(em cima); X 
e a sala do Av. Afonso
Mâide, Sanches, 54,
na Torre Cascais
> T. 21 246 2895
(ao lado)
D.R.

> seg-dom
12h30-24h

com reforço nos pratos de carne, como chuletón, MALACOPA


No Pereira, as arrozadas de
T-Bone, vários bifes e, ainda, francesinhas, feitas X 
cabidela, bacalhau, polvo ou com massa folhada em vez do pão.” O charme R. Afonso
lavagante, caldosas e no ponto, mantém-se, bem como as pipocas oferecidas Sanches, 38,
Cascais
são a especialidade, mas há outros com a bebida. Em dias de jogos de futebol, é > T. 96 764 3319
pratos de comida tradicional destino certo quer para adeptos quer para quem > ter-qui e dom
12h-24h, sex-sáb
portuguesa que chegam à quer comer fora de horas. 12h-2h
Num registo completamente diferente, o
mesa, como as favas com carne, restaurante Pereira, um clássico da vila, oferece
provadas ao almoço comida de tacho. As arrozadas de cabidela, pato,
PEREIRA
bacalhau ou polvo (todas a €14) e de lavagante X 
(€29), caldosas e no ponto, são a especialidade da Tv. da Bela Vista,
42, Cascais
casa, mas há outros pratos de comida tradicional > T. 21 483 1215
descontraído de Cascais”, diz Madalena. portuguesa que chegam à mesa. As favas com > seg-dom
Se, na Torre, o Mâide já entrou no roteiro carne, provadas ao almoço, atestam que a 12h-16h, 19h-24h
gastronómico da vila, há outros restaurantes qualidade se manteve, embora tenham mudado
que nunca dele saíram. Apesar de não serem os proprietários e o chefe de cozinha – é Luís TREM VELHO
novidade, tanto o Trem Velho, junto à estação Rodrigues quem agora dá conta dos tachos. X 
ferroviária de Cascais, como o Pereira, perto do “Ficámos com o negócio no início de 2020, mas só Al. Duquesa
Jardim Visconde da Luz, sofreram mudanças, abrimos em junho deste ano. Demos continuidade de Palmela 261,
Cascais
e é disso que aqui damos conta. A carruagem ao legado do sr. Manuel, antigo proprietário, mas > T. 21 486 7355
verde, estacionada desde 1973 junto à linha com o nosso cunho”, garantem os sócios Frederico > seg-dom 12h-2h
do comboio, é um dos restaurantes-bar mais Vidal, Filipe Pinto Gomes, Bruno Leste, Francisco
antigos da vila. Passou de mãos em 2016, quando Vidal e Lopo Cancella de Abreu, responsáveis MÂIDE
Francisco Jorge, cliente assíduo há muitos também pelo conhecido Páteo do Petisco. Com
anos, o adquiriu diretamente a Manuel Saltão, casa cheia ao almoço e pratos do dia a chamarem X 
R. Joaquim Ereira
um dos fundadores. “É a cara do restaurante cada vez mais clientes, o Pereira continua a ser 1543, Loja B,
e continua a colaborar com o Trem Velho”, diz um dos protagonistas das boas mesas de Cascais. Cascais
Karen, mulher de Frederico e quem nos fala das Afinal, entre moradas novas e pontos de encontro > T. 21 092 7605
> ter-dom
novidades. “Aproveitamos o confinamento para de sempre, o que conta é a comida e o ambiente 9h30-23h
fazer a remodelação. O interior é todo novo, – e quando estes são bons, não se escolhe a terra,
montámos uma esplanada e mudámos a carta, elege-se o restaurante.

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Manifesto
O QUE ANDAMOS A GOSTAR (OU NEM POR ISSO) DE DESCOBRIR POR AÍ

I N Ê S B E L O ibelo@visao.pt

> muitíssimo bom > bom


MÁ-LÍNGUA EM PODCAST MIRÓ EM SERRALVES
Passaram-se 25 anos A partir deste sábado, 9, a Coleção
Miró regressa à Casa de Serralves.
desde a última vez que o A exposição Joan Miró – Signos
e Figuração acontece depois das
programa de televisão foi obras de restauro e de adaptação
do edifício art déco, pelo arquiteto
para o ar. A Noite da Má Álvaro Siza
Língua está de regresso,
agora em formato
podcast, para nosso > bonzinho
contentamento. E que
bom é voltar a ouvir Rita NOVIDADES DE OUTONO
NOVIDA
A FIARTIL,
FIARTIL no Estoril, recebe
Blanco, Júlia Pinheiro,
eiro, neste fim de semana, dias 9 e 10,
a primeira edição de outono do
Manuel Serrão e Rui Zink mercado organizado
o por Maria
numa conversa animada.
mada. (Stylista). Além de novas
Guedes (Sty
coleções – como as malas da
Todas segundas, há um Josefinas –, algumas marcas
portuguesas
portuguesa vão aproveitar para
episódio novo fazer saldos
saldo de peças de verão.
Das 10h às 19h, €3

> assim-assim
MANTEIGARIA EM ALVALADE
MANTEIGA
A fábrica de pastéis de nata (os
melhores de Lisboa?) abriu uma loja
em Alvalade. Todos os dias, das 8h às
20h, saem fornadas quentinhas, no
número 44 da Avenida 31 de Janeiro,
anunciadas pelo tocar do sino

> para esquecer


TRÂNSITO PANDÉMICO
Filas de carros, buzinadelas e
ultrapassagens perigosas nas ruas
de Lisboa. Haja paciência para
o trânsito, que voltou aos tempos
pré-pandemia

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COM ER E BEBER

Maat Café & Kitchen Lisboa


À beira-Tejo, o Museu
de Arte, Arquitetura e
Tecnologia (MAAT) é um
lugar especial, com uma
arquitetura surpreendente.
E que já merecia um
restaurante à sua altura.
Desde meados de setembro,
ao serviço de cafetaria com
brunch ao fim de semana
o grupo Mercantina juntou

LUIS FERRAZ
um novo restaurante, com
duas ementas distintas.
Aos almoços e jantares, o
Maat Kitchen Fine Fusion

Cavalariça Lisboa
Dining oferece uma cozinha
de autor e mediterrânica.
Arroz no forno com jarret de

À carga
cordeiro cozinhado no fogo
(€46/2 pessoas), magret de
pato em teriyaki fumado, pak
choi na brasa, cogumelos
e azeite de trufa (€23) e
Da Comporta para a capital, o restaurante de Bruno Caseiro e Filipa porco bísaro confitado, puré
Gonçalves é um pop-up de longa duração com uma cozinha de técnica de alho-francês e abóbora
(€22) destacam-se nos
que potencia o sabor de cada produto pratos de carne. Já nos
sabores de mar, o lombo
Em dezembro de 2020, parte up que, entretanto, se prolongou no de bacalhau, grão, legumes
da equipa do Cavalariça, na tempo e ainda não tem data de término grelhados e cremoso de
Comporta, galopou em (é aproveitar). Com escola feita nas coentros (€24) é uma boa
aposta. Nas sobremesas,
grande estilo até Lisboa. cozinhas londrinas, em que se conta a
há chocolate em quatro
Instalou-se no extinto do chefe Nuno Mendes, aqui trabalha-
texturas (€8) e ananás dos
restaurante Optimista, na se sobre a máxima “encontrar bom Açores na grelha com gelado
Rua da Boavista, manteve a estética produto e aplicar boas técnicas”, resume chá verde Gorreana (€8),
original do espaço e apresentou uma Bruno Antunes, o braço-direito da entre outras opões. Entre as
carta 99% diferente da que servia na dupla no restaurante de Lisboa. duas refeições principais, o
casa-mãe, sempre assente numa Para provar neste menu, há focaccia, restaurante transforma-se
cozinha sazonal, em que os produtos brioche, manteiga envelhecida (a fazer no Riverside Bar & Bistro,
são trabalhados com as mais variadas lembrar um queijo cremoso) e azeite com uma ementa para
técnicas. Pandemia oblige, o restaurante (€5); snacks de uma ou duas dentadas, partilhar, exemplo dos ovos
fechou passadas algumas semanas e como o de gamba-rosa, limão e pele rotos trufados com presunto
reabriu no verão, com um menu de de galinha (€7) ou o de batata soufflé, (€13) e do ceviche do mar,
sabores mais frescos. Semelhanças com brandade de pescada e azeitona cogumelos recheados com
o restaurante da Comporta? A qualidade (€6,50); há uma entrada de tomate- menta, limão e presunto
da cozinha, a partilha de alguns coração-de-boi grelhado, migas, (€11). Nas noites de quinta
fornecedores biológicos, o pão caseiro curgete e uma granita (€11) e outra a sábado, entre as 21h e a
de massa mãe e fermentação lenta e o imperdível de tortellini de galinha, salsa 1h da manhã, há animação
brioche com parfait de aves e chutney e queijo da ilha de São Jorge (€11,50); e musical com DJ residentes.
de laranja – o único prato com lugar nos pratos principais, por exemplo, um S.P.

cativo em qualquer altura do ano. peixe-espada ao vapor, com couve-


Bruno Caseiro e Filipa Gonçalves roxa grelhada, beringela e beurre blanc X
Museu de Arte, Arquitetura e
foram desafiados por Christopher (€16). Ao almoço, têm um menu de Tecnologia > Av. Brasília, Lisboa
Morrell a assumir a cozinha do €25 com entrada, prato principal e > T. 91 058 3709 > qua, dom
Cavalariça Comporta em 2017. Já com sobremesa, uma sugestão em conta 12h-15h30, 19h-23h, qui-sáb 23h30;
Riverside Bar & Bistro seg-qua, dom
planos para abrir em Lisboa, no Largo para esta cozinha criativa. Mariana 16h-23h, qui-sáb até 1h; cafetaria
de Camões, decidiram fazer um pop- Correia de Barros qua-dom 11h-18h

X
R. da Boavista, 86 Lisboa > T. 21 346 0629 > qua-sáb 12h30-15h, 19h-22h30

98 VISÃO 7 OUTUBRO 2021


Barão do Hospital Loureiro
Vinho Verde Branco 2020
Feito à base da casta
Loureiro (85%) com
um complemento de
Alvarinho (15%).
O mosto fermentou a
baixa temperatura e
POR
o vinho permaneceu
MANUEL
G O N ÇA LV E S
longamente sobre as
D A S I LVA borras finas. Apresenta
aspeto cristalino, cor
comer&beber@visao.pt amarelo-citrina, aroma
intenso com boas notas
frutadas e florais, em
especial a frutos cítricos,
a folha e flor de loureiro,
paladar vivo com grande
frescura e alguma
mineralidade. Só, ou
com peixes, mariscos,
saladas, pratos leves.

Provas dadas €8,49

Quinta da Extrema Ensaios


Branco ou tinto, é para deliciar Extremes Rabigato Douro
Branco 2019
Um branco da casta Loureiro, outro de vinhas velhas e um tinto Cem por cento Rabigato,
de Touriga-Nacional que nos alegram com vinificação e estágio
de dez meses em barrica
de carvalho-francês.
Tem aspeto cristalino,
Chegou com a primavera uma nova marca da Região
cor amarelo-esverdeada,
dos Vinhos Verdes e, com ela, dois monocastas de aroma fino com boas
categoria: Barão do Hospital Alvarinho 2020 e Barão notas cítricas e sugestivo
do Hospital Loureiro 2020. Trata-se de um projeto da toque mineral, paladar
Falua, empresa de referência na produção de vinhos cheio com boa textura, boa
da região do Tejo, que pertence ao grupo Roullier e está acidez e boa fruta em justo
em fase de expansão, tendo adquirido recentemente a Quinta do equilíbrio, final persistente
Hospital, em Monção, na sub-região de Monção e Melgaço. Este é a revelar qualidade e
o território de eleição da casta Alvarinho, como se sabe, e o Barão caráter. €18,50
do Hospital demonstra-o bem com a sua intensidade, a sua
elegância e o seu caráter. E o preço também é excelente, atendendo
à qualidade (€14,99). Mas o nosso destaque vai para o Loureiro, Boa-Vista Touriga-Nacional
porventura mais discreto no que respeita à elegância
e complexidade, mas com uma frescura dificilmente igualável.
Douro Tinto 2017
E o preço muito menos (€8,49). Exclusivamente Touriga-
A Quinta da Extrema, que pertence à Sociedade Agrícola -Nacional, com vinificação
Colinas do Douro e tem características singulares, por estar muito cuidada, a fim de
numa zona de transição geológica entre o granito do planalto extrair com suavidade
todas as características
beirão e o xisto do vale do Douro, em altitude, e com exposição
da casta. Estagiou
a norte, apresentou, este ano, excelentes vinhos monocasta.
15 a 20 meses em barricas
Sugere-se a quem não conhece o Quinta da Extrema Ensaios de carvalho-francês.
Extremes Rabigato 2019 que o procure, porque o esforço será A cor é de um profundo
recompensado. O vinho vale muito mais do que custa. rubi, o aroma complexo
Da histórica Quinta da Boavista saíram os vinhos da colheita com elegantes notas de
de 2017, dando natural destaque aos famosos Boa-Vista Reserva, frutos pretos e de flores,
Quinta da Boavista Vinha do Oratório e Quinta da Boavista Vinha e o paladar intenso e rico
do Ujo, e chamando também a atenção para três monovarietais com taninos maduros,
muito bem concebidos: Alicante Bouschet, Donzelinho Tinto e acidez equilibrada e
Touriga-Nacional. O Touriga-Nacional é simplesmente soberbo. estrutura elegante.
Muito gastronómico. €28

7 OUTUBRO 2021 VISÃO 99


VIAJA
COM ERR ECOBEBER
M O CHEF KIKO

JOSÉ CARLOS CARVALHO


Método japonês
A técnica e os TATAKI DE MAGRET DE PATO ASIÁTICO
sabores da culinária INGREDIENTES PREPARAÇÃO
japonesa numa Para 4 pessoas Marque o magret de pato do lado da gordura num sauté morno.
receita simples Deixe a pele do magret ir tostando lentamente durante cerca
• 2 peitos de pato
e deliciosa • 100 ml de molho
de cinco minutos. Garanta que a gordura que se vai soltando é
escorrida.
de soja
Vire o magret de lado e deixar cozinhar mais cinco minutos.
• 2 c. de sopa de molho
de sésamo Deixe o magret descansar cinco minutos. Enquanto espera,
misture todos os ingredientes do molho (soja, água, molho de
• Gengibre q.b.
sésamo e gengibre) numa tigela.
• 50 ml de água
Lamine o magret e cubra com o molho.
• Cebolete q.b.
• 1 c. de sopa de sementes Polvilhe com sementes de sésamo e cebolete, e sirva.
de sésamo

TATAKI É UMA TÉCNICA DA CULINÁRIA JAPONESA,


em que a carne fica cozinhada
nhada por fora e crua por
dentro. No Japão, é utilizada sobretudo na preparação
de peixe, acompanhada
panhada por temperos daquele
país, como o molho de soja, o wasabi e
o óleo de sésamo. A minha sugestão
vai para um magret de pato
preparado segundo esta
técnica e estes sabores.
Delicioso!

CHEF KIKO

100 VISÃO 7 OUTUBRO 2021


SAIR

Cultura no Chiado Lisboa


Torto Porto Outubro é um mês dado

Um bonito sítio para se estar


à curiosidade no Chiado,
a partir de uma iniciativa
do Centro Nacional de
Cultura que dá a conhecer
Neste novo bar, perto dos Aliados, os cocktails de autor são as estrelas o património deste bairro
lisboeta através de passeios
e bebem-se ao ritmo da conversa… Tchim-tchim (Portas Abertas) e visitas
(Encontros à Esquina),
ambos grátis. Entre os dias
No Edifício Árabe, antigo (a partir de €6), que levam nomes
11 e 17, será possível entrar
Depósito de Materiais da como JJ Make My Day, Voulez Vous
no Grémio Literário, clube
Companhia de Cerâmica Cognac Avec Moi ou LCC, fresco e cultural que ali se instalou em
das Devesas, com fachada equilibrado, à base de gin. 1875, guiados por Guilherme
revestida a azulejos e janelas A ligação à comida faz-se numa d’Oliveira Martins, ou
em arco, na Rua José Falcão, carta de petiscos, inspirada na cozinha apreciar as bonitas fachadas
onde se instalou, vai para dois anos, tradicional portuguesa e criada, de raiz, dos edifícios desta zona
o Selina Navis Cowork, há agora um por Diana Barnabé e Tiago Lessa, a da cidade, num itinerário
novo inquilino. À entrada, no meio dupla do Estúdio de Cozinha. Entre as conduzido por Maria Calado.
de dezenas de plantas e néons, está sugestões está arancini de cabidela com O historiador Anísio Franco
o Torto, que “não é um bar, é um sítio. maionese de vinho (€5/3 unidades), dá a descobrir o Bairro de
E ainda por cima mal frequentado”, croquetes de cozido à portuguesa (€5/3 São Roque, composto pelos
dizem, em jeito provocador. “Esteve unidades), bifana em brioche (€4) e edifícios da Santa Casa da
para ser o clube do Selina, mas, devido jardineira em pão de batata (€6). Nos Misericórdia de Lisboa,
à pandemia, acabou suspenso”, conta doces (€4), servem sanduíche de gelado do Museu e Igreja de São
Pedro Melo, um dos sócios. e churros com leite-creme. Para beber Roque, a que se veio juntar,
O ambiente descontraído, e a e apreciar cada sabor nos cadeirões de recentemente, o centro
filosofia do próprio lugar, a lembrar veludo, enquanto se ouve os diversos cultural Brotéria. Fazem
uma galeria, tem curadoria de André estilos musicais, selecionados pela ainda parte do programa
Carvalho, da Circus Network, e um melómana Ana Pacheco, que ali tocam. outros locais, como as
Oficinas da Joalharia Leitão
mural do coletivo Crack Kids. Ao lado, De vidas anteriores, o Torto ficou
& Irmão, no Bairro Alto, e
encontra-se o bar, com bancos altos, com a coluna de ferro, junto ao balcão,
as estações ferroviárias do
onde os bartenders José Mendes, e as bonitas janelas, abertas Rossio e do Cais do Sodré,
João Costa, Ludvic e João Salgado ao exterior, e, atrevemo-nos a dizer, esta última projetada pelo
ajudam na escolha do cocktail. Além tem tudo para ser bem frequentado. arquiteto Porfírio Pardal
de clássicos, há 12 cocktails de autor Susana Silva Oliveira Monteiro, no início do século
passado. Serão também
disponibilizadas online
cinco visitas guiadas sobre
a presença da cantora
Josephine Baker no Chiado,
a importância das muitas
livrarias que existem, ou
existiram, nesta zona, os
vestígios no local das Portas
de Santa Catarina (uma
das entradas da Lisboa
medieval), a relevância
cultural do Teatro São Luiz e
a belíssima oferta de artigos
muito nossos da loja A Vida
Portuguesa, de Catarina
Portas. I.B.
LUCÍLIA MONTEIRO

X
Vários locais do Chiado > Lisboa
> 11-17 out > grátis, mediante
inscrição > www.e-chiado.pt

X
R. José Falcão, 199, Porto > ter-dom 18h-2h

7 OUTUBRO 2021 VISÃO 101


C OMP RA R

LUCÍLIA MONTEIRO
Montana Shop Porto
Cheia de lata
A marca catalã, pioneira na pintura em spray para graffiti, abriu uma loja a dois passos da estação
de metro da Trindade. Um paraíso para os artistas de rua – e não só

Saltam logo à vista as mil e uma cores ocupam a estante de alto a baixo. Outro bestseller Depois dos
das latas de spray para graffiti, assim é a gama Hardcore (a primeira da Montana), ateliers para
que se entra na Montana Shop Porto. “mais brilhante, de alta pressão e com preços crianças,
Inaugurada em abril, um ano depois mais acessíveis (€3,50 cada)”. As latas mais a loja vai
do previsto (pandemia oblige), numa recentes são as das linhas Water Based (à base começar a
rua sem saída que vai dar à estação de de água) e Pro, que garante “efeitos especiais” organizar
metro da Trindade – já com chapas pintadas por como mármore, azulejo, cromado ou metalizado. workshops
para ado-
artistas de rua como Mr. Dheo, Fedor, Mesk, Mas há outros produtos como marcadores
lescentes e
Oaktree –, a loja tem sido um paraíso para os (procurados por ilustradores), vernizes,
adultos, uma
amantes de muralismo, graffiti, desenho, primários ou zincos (indicados para trabalhos vez por mês.
ilustração e outras artes. “Portugal sempre foi um de pintura caseira), cadernos, roupa da MTN, Neste sábado,
mercado importante para a Montana”, explicar- revistas e livros sobre artistas como Banksy, a 9 (10h30-
nos-á Marta Ferreira, a gerente que foi comercial dupla Moses & Taps ou Futura. 12h30, €25),
da marca durante cinco anos e conseguiu A sustentabilidade é uma preocupação da é destinado
convencer o catalão Jordi Rubio – fundador da marca; daí que a loja conte com um bar com a famílias.
Montana (MTN), em 1994, em Barcelona –, a comida vegan, a cargo do alemão Matthias
abrir uma loja própria no Porto (até então, tinha Tholen, café de especialidade da Combi e batidos
um franchisado em Lisboa). com as cores das tintas. Marta Ferreira só
As tintas mais procuradas, diz Marta, são lamenta que o Porto “não tenha nenhuma parede
as da linha MTN 94 “de baixa pressão e mate”, livre para os artistas”. A bem da arte pública.
disponíveis em 217 cores (€3,80 cada), que Florbela Alves

X
Tv. Alferes Malheiro, 83, Porto > T. 22 208 2870 > ter-sáb 10h-19h

102 VISÃO 7 OUTUBRO 2021


VE R

Iminente Lisboa Tomás Wallenstein Coimbra


e Porto
Espaço de liberdade Um ano depois de se ter
estreado a solo ao piano,
com uma data única no
Lux, em Lisboa, o músico,
Dedicado à cultura urbana nas mais variadas formas, o festival regressa compositor e vocalista dos
no seu formato habitual, agora numa nova casa, na zona oriental da cidade Capitão Fausto parte agora
pelo País em digressão,
num formato mais intimista
e exploratório, com um
repertório feito de uma
“compilação de versões de
outros autores, compositores
ou poetas”. O alinhamento
é apresentado como “a
playlist da vida de Tomás
Wallenstein” interpretada
pelo próprio. Depois destes
dois primeiros concertos, em
Coimbra e no Porto, seguem-
se, na próxima semana,
em Aveiro, no Avenida Café
Concerto, a 15, e, de novo,
em Lisboa, na Casa do
Capitão, a 16.
MARCOS BORGA

X
Salão Brazil > Lg. do Poço, 3,
Coimbra > T. 239 837 078 > 7 out,
qui 21h30 > €12 > Passos Manuel
Desde a estreia, em 2016, o conjunto de convidados de diversas > R. de Passos Manuel, 37, Porto >
T. 22 203 4121 > 8 out, sex 20h30
Iminente já passou por áreas artísticas e os moradores e > €12
cinco cidades de quatro associações locais de quatro bairros
países, num total de nove lisboetas (Alta de Lisboa, Bairro do

Norton Lisboa
edições com mais de 300 Rego, Vale de Alcântara e Vale de
artistas portugueses e Chelas), cujos resultados – filmes,
internacionais, o que torna este performances, instalações ou
festival um grande evento de intervenções no espaço público – vão Editado no início do ano
expressão da cultura urbana à escala ser apresentados no decorrer do passado, Heavy Light
global. Isso acontece também, e Festival. Quanto à música, como é marcou o regresso da
especialmente, pelo modo como a habitual, haverá um pouco de tudo, banda de Castelo Branco
criatividade e o entretenimento se num cartaz distribuído por quatro aos discos, com um álbum
entrelaçam na programação resultante dias e três palcos. Destaque para os exemplarmente pop, mas
da parceria curatorial entre o concertos de Victor Torpedo, Plutónio, ao mesmo tempo intimista
Iminente, o artista Alexandre Farto Scúru Fitchádo, Shaka Lion ou DJ e adulto, cuja apresentação
(mais conhecido como Vhils) e o Ride, na quinta, 7; CelesteMariposa, ao vivo foi adiada devido à
coletivo Underdogs. Isso mesmo volta Emir Kusturica & The No Smoking pandemia. Agora, os Norton
a acontecer neste ano no novo espaço Orchestra, Ricardo Toscano, Julinho estão de volta aos palcos
da Matinha, em Marvila, na zona KSD, Batida, Dino D’Santiago ou Paus, para o mostrarem aos fãs,
oriental de Lisboa, onde a música na sexta, 8; Da Chick, Tekilla, Prétu, em três concertos que se
iniciam na quarta, em Lisboa,
continua a ser o principal chamariz Slum Village, Silverio ou Branko, no
e que os levarão também ao
para um fervilhante cartaz, que inclui sábado, 9; e, ainda, David Bruno,
Porto (Auditório do CCOP, a
também exposições, conversas sobre Pedro Mafama, EU.CLIDES, Jorge 14) e ao Fundão (no Sons à
temáticas sociais e urbanas, Palma, Jon Luz e Ana Moura, no Sexta, a 15).
performances e projetos próprios, domingo, 10. Os bilhetes são limitados:
como a iniciativa Os Bairros, apenas 2 250 diários e 250 passes
X
resultante da colaboração entre um gerais. Miguel Judas Teatro Maria Matos > Av. Frei
Miguel Contreiras, 52, Lisboa > T. 21
362 1648 > 13 out, qua 21h > €10
X
Matinha > Marvila, Lisboa > festivaliminente.com > 7-10 out, qui-dom 17h30 > €18 a €55 (passe)

7 OUTUBRO 2021 VISÃO 103


VER

Válvula Lisboa
O espetáculo que
juntou o autor,
ilustrador e
performer visual
António Jorge
Gonçalves ao rapper
e ativista Flávio
Almada (aka LBC
Soldjah) regressa
ao LU.CA, onde se
estreou em 2019.
Válvula, que andou
pelo País, passou
por Moçambique e

JOÃO TUNA
Cabo Verde, volta
ao “questionamento
da cidade, do
espaço público e

O Julgamento de Ubu Porto do significado da


transgressão”,
escreve o desenhador
no seu site. Numa

Ditador no banco dos réus performance que


é um híbrido entre
uma palestra com
desenho digital e um
Sátira sobre o duelo entre a justiça legal e moral, esta coprodução entre o Teatro concerto de hip-hop,
de Marionetas do Porto e o Teatro Nacional São João tem muito dos tempos modernos parte-se do grafíti
espalhado pelos
muros das cidades
para lançar questões:
Há alguns anos, uma década atores (Micaela Soares, Vítor Gomes,
“Porque desenhamos
talvez, que não se via uma Shirley Resende, Joana Petiz e Bernardo
nas paredes desde
coprodução desta dimensão Gavina) vão mostrar-nos um Ubu “numa há milhares de anos?
entre duas das maiores forças versão muitíssimo atual e pertinente” dos São esses traços
vivas da cidade, o Teatro de ditadores contemporâneos, salienta Isabel transgressão ou
Marionetas do Porto e o Teatro Barros, diretora artística do Teatro de arte, comunicação
Nacional São João. O desafio lançado ao Marionetas do Porto. “Quando Stephens ou ocupação?” O
encenador Nuno M. Cardoso não era senta Ubu no banco dos réus – nesta rapper responde:
pequeno: partir de um texto encenação na carteira da escola, lugar “Escrevemos,
contemporâneo para uma criação com as primordial de formatação e de exercício grafitamos, para
Marionetas. A escolha recaiu em O do poder, e no banquinho do castigo, celebrar a vida.
Julgamento de Ubu, texto em que o a primeira prisão de toda a liberdade e Escrevemos,
dramaturgo britânico Simon Stephens pega criatividade –, propõe-nos julgar os crimes grafitamos, para
no “ditador megalomaníaco grotesco e contra a Humanidade que são perpetrados poder respirar.” F.A.
amoral” Ubu (O Rei Ubu), de Alfred Jarry, não por Ubu mas pelo exercício do poder
estreado em 1896, para o pôr diante de um e pela própria Humanidade, expondo X
tribunal internacional do século XXI. a imoralidade da justiça”, escreve o LU.CA. Teatro Luís de
Camões > Calçada da
Também Jarry, aliás, tinha imaginado o seu encenador, Nuno M. Cardoso. Isabel Barros Ajuda, 80, Lisboa > T. 21
Ubu para marionetas, tendo escrito uma não tem dúvidas, pois, de que o público 593 9100 > 9, 10, 23 e
versão para o seu Théâtre des Phynances. verá refletidos na peça os muitos Ubus que 24 out, 16h30 > €7, €3
(menores de 18 anos)
No palco do Carlos Alberto, cinco hoje nos rodeiam. F.A.

X
Teatro Carlos Alberto > R. das Oliveiras, 43, Porto > 22 340 1900 > 7-16 out, qua-sáb 19h, dom 16h > €10

104 VISÃO 7 OUTUBRO 2021


Fantasma da Ópera Lisboa
Noite Fechada Lisboa Associamos sempre o

Sós mas acompanhadas


Fantasma da Ópera ao
musical de Andrew Lloyd
Webber, no West End e na
Broadway, mas a Bruno
É o primeiro espetáculo de um díptico de Mónica Calle intitulado “Caminho Bravo e à sua companhia
Primeiros Sintomas
para a Meia-Noite”. Em dezembro, chegará “O Lugar do Meio-Dia” interessou-lhes ir ao original,
à obra literária de Gaston
Leroux. Não é a primeira vez
Foi a condição dupla de estar encontro com a grande dramaturgia
que trabalham sobre um
em grupo e ao mesmo tempo da História da Europa”, explica a
texto do escritor francês.
sozinha, de se sentir encenadora. “A sua escrita tem a ver Há quatro anos, encenaram
acompanhada mas com este roubo, de todas as figuras A História Assombrosa de
introspetiva, ao ter feito o da dramaturgia teatral mas também Como o Capitão Michel
caminho de Santiago de de autores. Pego nela como ponto Alban Perdeu o seu Braço,
Compostela a pé, com as outras duas de partida, como estímulo e como a partir de Une Histoire
atrizes que integram este projeto, que liberdade para ir à procura de textos.” Épouvantable ou Le Dîner
Mónica Calle transpôs para Noite Calle pretende aqui jogar com o que o des Bustes. Agora, uma
Fechada, enquanto dispositivo – cénico teatro tem de mais artificioso e mágico. figura misteriosa deambula
e narrativo. O palco desdobra-se em três Um teatro dentro de um teatro, esse pelos bastidores de uma
espaços, para três plateias, pelos quais dispositivo cénico vai ser comum aos ópera parisiense. Dele se diz
Calle, Mónica Garnel e Inês Vaz vão dois espetáculos do díptico, mas de que é um génio musical, com
circulando. Também aqui se encontram forma diferente. um defeito na cara escondido
sós mas acompanhadas. O texto, a partir “Presumo que toda a gente já ouviu por uma máscara. Apaixona-
de Fiama Hasse Pais Brandão e de falar de mim. O meu nome é signora se por uma das cantoras,
alguns contos de Edgar Allan Poe, é Psyche Zenobia. Isto sei eu que é um mas, então, entra ao barulho
percecionado pelo público na íntegra à facto. Ninguém, a não ser os meus um jovem patrono das artes.
medida que as atrizes trocam de lugares. inimigos, me chama de Suky Snobbs”, Neste misto de teatro, ópera
“Ao contrário do que tenho andado começa(m) por dizer a(s) narradora(s) e bailado, a tradução do texto
e as letras são da autoria de
a fazer nos últimos anos, construí um a partir de um conto de Allan Poe,
João Paulo Esteves da Silva,
processo de trabalho e um projeto a mestre da literatura gótica e fantástica.
a música original é de Sérgio
partir da palavra”, explica Mónica Calle. “Garantiram-me que Suky não passa de Delgado e as coreografias de
“Mais do que fazer as peças da Fiama, uma corrupção vulgar de psyche, que é Lígia Soares. C.M.S.
interessa-me o que ela propõe a partir grego do bom, e quer dizer ‘a alma’. Sou
da sua escrita; permitiu-me ter um eu.” Cláudia Marques Santos
X
Culturgest > R. Arco do Cego, 50,
Lisboa > T. 21 790 5155 > 7-9 out,
qui-sex 21h, sáb 19h > €14
ALÍPIO PADILHA

X
Teatro do Bairro Alto > R. Tenente Raul Cascais, 1A, Lisboa > T. 218 758 000 > 7-12 out, qui, sex e ter
18h30 e 21h30, sáb-dom, 17h e 20h30 > €12

7 OUTUBRO 2021 VISÃO 105


VER

Vieira da Silva e Arpad Szenes na Coleção Ilídio Pinho Lisboa


“O osso da pintura moderna” Vi uma Cadela Minha
Encerrada a exposição “Irradiação Vieira”, eis nova oportunidade para prolongar
reencontros e olhares sobre as obras fluidas e poéticas do casal de pintores
com Lobos São João
da Madeira
Vieram de coleções
particulares de
França, Áustria,
Portugal e Suíça, e
de museus como a
Fundação Gulbenkian
e a Collection de l’Art
Brut de Lausanne,
estas cerca de 40
obras de Jaime,
nascido Jaime
Fernandes, filmado
por António Reis e
Margarida Cordeiro
em 1973, artista
que passou a última
década da sua vida
a desenhar mundos
singulares. Internado
por esquizofrenia
no Hospital Miguel
Bombarda desde
D.R.

os 38 anos, aos
60 agarrou nas
Após o fim da exposição que “retratos” do atelier feitos por Arpad: esferográficas e criou
colocou 17 obras de Vieira da cadeira, óculos, flores que evocam Matisse. seres ancestrais,
Silva (1908-1992) ao lado de Compreendidas entre 1940 e 1980, as geometrias, homens
nomes significativos da arte pinturas recordam o processo criativo da de perfis e pés
contemporânea portuguesa, artista: a sua escolha de cores por estações fortes, canídeos
igualmente abrigados no acervo (vermelhos, no inverno; azuis-verdes, no fantasmagóricos.
do colecionador Ilídio Pinho, regressa-se a verão), as suas composições de influência A frase do título
um zoom intimista, centrado nas abstrações musical, a preparação. “Estamos perante desta exposição,
e linhas baléticas de Vieira e nas paisagens uma pintura mental, por vezes metálico- resultante de uma
interiores de Arpad Szenes (1897-1985). eifelliana, uma arquitetura pictórica investigação de três
Escreve Isabel Carlos que este núcleo de construída como uma encruzilhada urbana anos, foi escolhida
obras de Maria Helena Vieira da Silva é vista de cima e de longe ou de dentro do pela curadora
representativo das suas linhas temáticas e esqueleto da cidade”, explica Isabel Carlos. Andreia Magalhães
expressivas, “as bibliotecas, as cidades, os “Vieira, que teve aulas de Anatomia e que nos escritos soltos do
azulejos, os labirintos, as tramas e teias e, gostava mais de desenhar os ossos do que artista que escreveu
de um modo mais lato, o espaço, a luz e a os músculos, olha para a cidade do mesmo versos nas obras e
perspetiva”. A pintura mais antiga de Vieira modo que olhou enquanto estudante para cartas constantes
da Silva na exposição é de 1941: Sem Título, o corpo humano, interessa-lhe mais o à mulher. Um
acervo de arte bruta
têmpera sobre cartão, um quadriculado osso do que a carne, mais a omoplata do
internacionalmente
intenso e descontínuo, em que se afundam que o braço, mais a estrutura e a malha
valorizado e
figuras humanas, e que a curadora remete urbana do que as casas e o reboco ou as fascinante. S.S.C.
para a soturnidade dos sete anos de exílio superfícies. O osso da pintura moderna.”
vividos pelo casal no Brasil. E aqui estão Sílvia Souto Cunha
X
Centro de Arte Oliva
> R. da Fundição, 240,
X São João da Madeira > T.
Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva > Pç. das Amoreiras, 56-58, Lisboa > T. 21 388 0044 > 7 out-16 jan, qua- 256 004 190 > 9 out-20
dom 10h-18h > €5 mar, ter-dom 10h-12h30
14h-17h30 > €2

106 VISÃO 7 OUTUBRO 2021


A Metamorfose dos Pássaros
Cada frame do filme
de Catarina Vasconcelos
poderia ser emoldurado
num quadro de uma
exposição; cada excerto
que o acompanha poderia
ser isolado e inscrito num
livro de poesia. Assim se
pode definir o elevado
patamar de beleza em que
se situa A Metamorfose dos
Pássaros, longa de estreia
da realizadora lisboeta que,

CAROLE BETHUEL
após um bem-sucedido
percurso por festivais de
cinema (incluindo um prémio
em Berlim), chega finalmente
às salas portuguesas.

Titane O filme partiu de uma ideia


de documentário.
Uma busca solitária
e pessoal de raízes

Um dia, hei de amar uma máquina familiares, centrado na


memória da avó (Beatriz),
que nunca chegou a
conhecer, mas também na
Um filme do outro mundo para abalar as convenções dos géneros e voltar sequência do isolamento
a fazer do ecrã um palco de emoções do avô e da morte da mãe
(a quem dedicara a sua
primeira curta).
Ducournau é, até ver, uma promissora Em confronto com a
Há muitos filmes sobre
realidade, ou com a ausência
extraterrestres, mas Titane herdeira de Carax de Holy Motors – e,
de elementos palpáveis que
parece ter sido feito por um. nesse aspeto, até mais caraxiana do permitissem construir um
Ou por uma, para ser mais que o próprio realizador francês. documentário propriamente
rigoroso. O segundo filme Um breve resumo do enredo é dito, a realizadora derivou
de francesa Julia Ducournau o suficiente para auferir o grau de para um objeto híbrido,
foi a grande surpresa do Festival de imaginação fantástica. O filme conta difícil de catalogar.
Cannes, ao arrebatar a cobiçada Palma a história de uma serial killer que tem A Metamorfose dos Pássaros
de Ouro. E surpreende porque, logo à relações sexuais com automóveis pertence, inevitavelmente,
partida, não é comum o júri do mais e acaba por engravidar. No processo à subcategoria dos retratos
prestigiado festival europeu deixar-se de fuga à justiça, faz-se passar por de família. É um filme íntimo,
impressionar por filmes de género. Mas uma criança desaparecida e acaba pessoal e partilhável, em
a imaginativa e imagética exploração de enturmada num peculiar quartel que se serve de voz-off
universos raros proposta pela jovem de bombeiros que funciona como (várias, em registo coral ou
realizadora francesa atravessa e uma seita. polifónico), numa escrita
suplanta as questões de género e abala Acresce a isto um ritmo visual literária, para nos conduzir
os quadros referenciais. intenso, de filme de ação, em que se por um conjunto de imagens
A esse nível, aponta-se facilmente descobre espaço, em contraste, para em movimento com um
à cabeça David Cronenberg (Crash, cenas de comovente e insólita ternura. tratamento estético apurado
Videodromme...), Ridley Scott (Blade Um papel extraordinário, visceral, de e criativo, próximo das artes
Runner) e também Quentin Tarantino Agathe Rousselle, uma personagem visuais. M.H.
(Kill Bill, À Prova de Morte) ou o Manga intuitiva, animalesca, em constante
japonês. Mas talvez também se possa processo metamorfósico. E o sempre X
De Catarina Vasconcelos, com
olhar para Titane como o filme que brilhante Vincent Lindon, aqui, arrisca Manuel Rosa, João Móra, Ana
Leos Carax estava a dever-nos, só que, fugir do seu habitual contexto realista, Vasconcelos > 101 minutos
em vez disso, resolveu fazer aquele mas ainda assim enche de humanidade
insípido musical chamado Annette. um filme metálico. Manuel Halpern

X
De Julia Ducournau, com Agathe Rousselle, Vincent Lindon > 108 minutos

7 OUTUBRO 2021 VISÃO 107


LIVR O S E DI S CO S

Para quê Tudo Isto? Álvaro Magalhães


Retrato do amigo quando poeta
Uma biografia de Manuel António Pina que também se assume como ensaio literário e um
testemunho da forte ligação que o jornalista, cronista e poeta mantinha com os seus amigos
Não é segredo para ninguém: Álvaro da vida de Manuel António Pina para lhe fixar
Magalhães era amigo de Manuel os aspetos não só nucleares como permanentes
António Pina. Mais: pertencia àquele de todo o seu trajeto. A força da infância, onde
grupo restrito que todos os dias, ou a quimera se ligou à descoberta das palavras; a
todas as noites, se sentava alegremente vontade de criar raízes num lugar depois de várias
à espera da sua chegada, sempre adiada andanças familiares, o que veio a acontecer no
por um imprevisto qualquer, depois relatado (ou Porto; o jornalista de prosa limpa e sedutora; o
inventado) com os recursos que só os bons poeta de um livro único, sempre renovado; e o
contadores de histórias possuem. Além disso, homem de paixões, que se atirava de corpo inteiro
partilhavam gostos e escolhas literárias, da e mente aberta a qualquer assunto ou vício.
dedicação a uma outra literatura para a infância à Tudo isto é oferecido ao leitor com a clareza e
paixão pelo futebol (embora não torcendo pelo o engenho a que Álvaro Magalhães nos habituou
mesmo clube). Mas essa proximidade não se nos seus livros. Conta-nos muitas histórias e
revelou um obstáculo à escrita da biografia do episódios, mas dá-nos sobretudo a imagem de
jornalista (sempre no Jornal de Notícias), do uma figura, mais do que singular, irrepetível,
cronista (de leitores fiéis) e do poeta (distinguido que em tudo punha graça, no viver (das doenças,
com o Prémio Camões, entre muitos outros). Pelo por exemplo, ou do jogo) e no contar. E também
contrário, é justamente nessa intimidade o retrato (que muitas vezes se aproxima do
partilhada, nesse conhecimento aprofundado da informado ensaio literário) de um poeta e
pessoa e da obra, que Para quê Tudo Isto? se prosador que trabalhava em cima da ideia de
afirma como um estimulante trabalho biográfico. um certo esgotamento do dizer, o que obrigava
Dividindo a biografia em seis partes, que à convocação de outros saberes (incluindo os
correspondem, grosso modo, a outras tantas orientais ou os da infância) e a uma entrega total,
décadas de vida, Álvaro Magalhães desfia o novelo literária e humana. Luís Ricardo Duarte

Para quê Tudo


Isto? (480
págs., €19,90)
é a quarta
biografia de
grandes figuras
da cultura
portuguesa
contemporânea
publicada na
Contraponto,
depois das
de Agustina,
Manoel de
LUCÍLIA MONTEIRO

Oliveira e José
Cardoso Pires

108 VISÃO 7 OUTUBRO 2021


TV

Filmin Jazz
My Name is Pauli Murray Amazon Prime Video A plataforma de streaming

Uma mulher com muito nervo


Filmin, dedicada ao cinema
independente, acrescentou
ao seu acervo digital uma
compilação do melhor do
jazz. Uma seleção de cerca
Documentário sobre uma das precursoras da luta contra a segregação racial de 70 concertos – proveniente
nos EUA e o preconceito sobre a sexualidade e a identidade de género do catálogo do Medici.tv,
canal de música clássica,
aberto há 13 anos, com mais
de dois mil títulos – ficou
disponível no passado dia 28
de setembro, data em que se
assinalaram os 30 anos da
morte de Miles Davis (1926-
1991). Na verdade, no canal
Filmin Jazz, “não há nada
que um bom melómano não
tenha já acesso, mas esta é
uma boa coleção de jazz”,
reforça João Vintém, membro
da equipa editorial. Destaque
para os três concertos de
Miles Davis (com amigos em
Paris; em quinteto, no Festival
de Antibes; ao vivo em Paris)
ou o filme Fim de Semana
no Ascensor (1958), de Louis
Malle, com banda sonora do
D.R.

músico e compositor norte-


americano.
Sem a tradicional bandeira se centrou nos Direitos Humanos.
O segmento Grandes Vozes
colorida do arco-íris Mais do que ter sido uma mulher à
dedica-se a um jazz mais
associada à comunidade frente do seu tempo, ela foi uma pessoa vocal, interpretado por Nina
LGBTQIA+, este é um visionária, tornando os direitos das Simone, Ella Fitzgerald ou
documentário sobre uma mulheres uma parte significativa da Aretha Franklin, incluindo
realidade a preto-e-branco, luta dos Direitos Humanos. Amazing Grace (2019),
literalmente. É uma viagem no tempo, Nesta realização de Betsy West e documentário musical com a
ao início do século XX, em que as de Julie Cohen – criadoras de RBG cantora durante a gravação
desigualdades com base na cor da pele (2018), documentário sobre Ruth Bader do álbum de gospel mais
faziam parte da vida dos afro-america- Ginsburg (1933-2020), a mais antiga bem-sucedido da História
nos. Nos autocarros, os lugares traseiros juíza do Supremo Tribunal dos EUA (1972). Na secção Ícones,
ficavam para os negros, enquanto os e que deu continuidade ao que Pauli incluem-se grandes nomes
brancos iam à frente; a entrada nos Murray defendia – pouco se explora a como B.B. King e James
restaurantes e nos teatros estava vedada sexualidade de Murray, mas ficamos Brown, mais dos blues e do
aos negros; nas universidades, poucos a conhecer-lhe as dúvidas que lhe soul. E de Contemporâneos
negros, e muito menos ainda mulheres provocaram uma depressão, bem fazem parte concertos mais
negras, investiam no ensino. como as histórias de amor com outras recentes, como o de Brad
As questões de segregação racial e de mulheres. Mehldau em Three Pieces
preconceito sobre a orientação sexual e Desde a sua morte, é na Biblioteca After Bach ou o de Tony Allen
a identidade de género não se discutem Schlesinger, na Universidade de ao vivo no Luxemburgo, a
linguagem do afrobeat a
na atualidade sem se saber mais sobre Harvard, que se guardam 135 caixas
exemplificar uma maior
a vida de Anna Pauline Murray (1910- com os seus documentos, pensamentos,
diversidade musical. S.C.
1985). Escritora, advogada (formada em teses, ensaios, poemas, dissertações.
Yale), reverenda, poetisa, feminista, mas Uma pessoa de nervo que, há quase 100
X
também pessoa não binária, Murray anos, pôs em causa questões que ainda Disponível em filmin.pt > Catálogo
acreditava piamente que a Humanidade hoje andam a ser discutidas. Sónia de jazz incluído na subscrição
deve ser respeitada, e toda a sua vida Calheiros mensal ou alugado à unidade

X
Disponível na plataforma de streaming

7 OUTUBRO 2021 VISÃO 109


E SC A PA R

LUCÍLIA MONTEIRO
Casa da Companhia Porto
O peso da História e a leveza do presente
O novo boutique-hotel de cinco estrelas da cidade ocupa um edifício emblemático
da Rua das Flores, onde funcionou a Real Companhia Velha. Uma reabilitação surpreendente

Há quem diga que a Região Demarcada cujo ocre das paredes confere um convidativo A reabilitação
do Douro, delimitação territorial feita calor mediterrânico, uma das primeiras pistas da manteve
em 1756, foi definida numa das salas da decoração do arquiteto de interiores Paulo Lobo, parte das
Casa da Companhia. O nome revela as a conjugar tradição com modernidade. Ali se tem características
ligações ao universo do vinho do Porto, acesso ao restaurante, distribuído por quatro originais, desde
nomeadamente à Real Companhia salas, todas com decoração distinta, e pormenores a fachada
Velha, já que esta funcionou como sede da como velhos, e volumosos Diários do Governo ou aos tetos
empresa desde o século XVIII. No entanto, as garrafas antigas de vinho do Porto. Numa delas, abobadados do
origens do edifício são mais longínquas e fronteira à cozinha, a interação com a equipa é piso inferior.
“As pessoas
remontam a 1592, sendo este um dos mais antigos privilegiada. Quanto à carta, assinada pelo chefe
procuram
da Rua das Flores. A reabilitação, assinada pelo Duarte Batista, aposta em sabores e produtos
cada vez
arquiteto Pedro Gomes Fernandes, manteve parte portugueses, com influência mediterrânica mais edifícios
das características originais, desde a fachada aos e internacional. No bar, onde também servem históricos”,
tetos abobadados do piso inferior. “As pessoas refeições, há uma forte oferta de vinhos acredita
procuram cada vez mais edifícios históricos”, e de cocktails. Bernardo
acredita Bernardo Sampaio, diretor do hotel, Subindo a escadaria central de granito, acede- Sampaio, diretor
aberto em julho, pertencente a um grupo de -se aos 40 quartos, elegantes e confortáveis, os do hotel aberto
investimento canadiano. Mas a intervenção mais convidativos com vista fabulosa para a zona em julho
também teve soluções arrojadas, nomeadamente histórica ou com jardim interior. A circular entre
nas duas piscinas, uma exterior, com vista para a os diferentes blocos do hotel, com três frentes
Sé, e outra interior, oferta rara na Baixa do Porto. para as ruas das Flores, Vitória e da Ferragem,
Além do spa, com rituais à base de uva e algas, percebe-se como o engenho arquitetónico
o hotel dispõe de banho turco, sauna e ginásio. disfarçou a sua dimensão. Um pequeno grande
A entrada principal dá acesso a um pátio, hotel, no coração da cidade. Joana Loureiro

X
R. das Flores, 69, Porto > T. 22 976 1020 > a partir de €144

110 VISÃO 7 OUTUBRO 2021


O gosto dos outros

Leonor Keil
A bailarina
e coreógrafa volta
ao CCB, em novembro,
Lisboa para interpretar Maputo Moçambique
Apaixonada por Lisboa, onde vive, Paradoxos de Alice, Foi a cidade onde viveu dos 4 aos
adora perder-se em longos passeios um espetáculo para a 10 anos e da qual guarda vivências
a pé e descobrir
escobrir coisas novas. “É
cidade que
ue me atafulha, preenche
É uma infância, a partir dos significativas. “A
A experiência
exp ficou
gravada no modo de olhar as coisas,
e submerge,
erge, sem nunca me irritar.” livros de Lewis Carroll frente”, confessa.
de seguir em frente”
Na verdade,
ade, às vezes, Leonor precisa deseja regressar em
Maputo, aonde dese
de sair para voltar a olhar e ficar S U S A N A S I LVA O L I V E I R A breve, mostrou-lhe, recorda, novos
“embevecida
ecida com os recantos, scoliveira@visao.pt caminhos. “Muita co coisa vem dali.”
diversidade,
ade, arquitetura dos bairros...”

Leitura Os Rapazes
R
de Nicke
Nickel,
l, de
Whitehead,
Colson Whit tehead,
foi o últimoo livro
que leu. “É É uma
triste,
história trriste,
sobrevivência,
de sobreviv vência,
entre dois a amigos
negros n
reformatório,
re
refo
efo
num
f rmattório,
Sri Lanka
na
aAAmérica
Amméric
mé ca dos Viajou pelo país em 2015, durante três
anos
ano
os 60”
s6 0” semanas, e apaixonou-se.
apaixono “É incrível
como as diversas rereligiões coabitam,
criando cor, diversidade
diversid e dinâmicas
distintas.” Conta ainda
ain que, apesar
do aparente caos, de trânsito e de
pessoas, “é tudo muito
mu calmo, sem
stresse”.

Blade Ru
Runner“É o filme
da minha vida. Houve alturas
em que até sabia
sab os diálogos
de cor. Muito denso, muito
Livrariaa Dentu Zona
ZonaAmadora
Amadora humano onde
humano, ond parece que
nada se passa,
passa mas tudo é
Nesta livraria,
vraria, na Cova da Moura, um intenso”
inten
“sítio suii generis”, diz, encontra livros
de literatura
tura negra, dedicados às
temáticasas e problemáticas culturais
do racismo.
mo. E, tal como diz Vítor
Sanches, s, mentor da Dentu Zona,
nascido e criado no bairro, “só faz
sentido estar naquele lugar”.

7 OUTUBRO 2021 VISÃO 111


11
111
J OGO S

Palavras cruzadas
>> H O R IZONTAIS >> 1. Pedaços de louça, telha ou vidro. Género
de moluscos acéfalos hermafroditas que vive encerrado numa concha
bivalve. // 2. Colocar junto a. Instrumento de sopro, com ou sem pistões,
de som estridente. // 3. Molusco marítimo cefalópode, de tentáculos
retráteis. Órgão propulsor de navios e aeroplanos, acionado por motor.
// 4. Toquei o apito. Corda estendida de um navio para o outro para o
rebocar. // 5. Que ou quem tem excesso de peso. // 6. Coisa que prende,
que sujeita. // 7. Rebanho de gado ovino. Aguardente de cereais (cevada,
trigo, aveia). // 8. Grito de dor ou de alegria. Bem dirigido. // 9. Duro como
rocha. Ter tonturas. // 10. Puxaram para cima. Designa repugnância,
admiração, agastamento, alívio, (excl.). // 11. Grupo preponderante.
Grande massa de água salgada que cobre cerca de três quartas partes
da superfície do Globo. >> V ERTICAIS >> 1. Abertura num fruto para
ver se está maduro. Filtraram. // 2. Assuada. Instrumento musical, de
cordas, de sons mais graves do que os da guitarra e de caixa em forma
de 8. // 3. Pássaro tenuirrostro. Tomba. // 4. Pessoa que perdeu o uso
da razão. Animal do grupo dos acarídeos, que inclui os causadores da
sarna do Homem e as carraças dos cães. // 5. Frigir ovos, sem os mexer.
// 6. Guincho. Irídio (s.q.). Terceira nota da escala musical. // 7. Exprime
entusiasmo, ênfase ou apoio. Que perdeu o gume. // 8. Impulsionar o
corpo para se elevar do chão. Usa-se para apresentar algo ou alguém,
geralmente presente ou próximo dos interlocutores. // 9. Trecho musical
para três vozes ou instrumentos. Atuaram. // 10. Mulher que possui
muitos bens. Grande mamífero ruminante, de pescoço muito comprido.
// 11. Deseje. Cortejar.

> > Q U I Z > > 1. C // 2. A // 3. A // 4. C // 5. B // 6. A // 7. C // 8. A // 9. B // 10. B


SOLUÇÕES

Cai. // 4. Orate, Ácaro. // 5. Estrelar. // 6. Chio, Ir, Mi. // 7. Olé, Boto. // 8. Saltar, Eis. // 9. Trio, Agiram. // 10. Rica, Girafa. // 11. Ame, Namorar.
Ai, Certeiro. // 9. Rocal, Oirar. // 10. Alaram, Safa. // 11. Maioria, Mar. >> VERTICAIS >> 1. Cala, Coaram. // 2. Apupo, Viola. // 3. Colibri,
>> HORIZONTAIS >>1. Cacos, Ostra. // 2. Apor, Clarim. // 3. Lula, Hélice. // 4. Apitei, Toa. // 5. Obeso. // 6. Braga. // 7. Oviário, Gim. // 8.

Sudoku MÉDIO Quiz


POR PEDRO DIAS DE ALMEIDA

1. Na sua primeira aventura, 6. Onde nasceu, em 1941, o cantor


publicada em 1929, para que cidade brasileiro Roberto Carlos?
viaja o herói de BD Tintim? A. Cachoeiro de Itapemirim
A. Berlim B. Santa Maria de Jetibá
B. Nova Iorque C. Divinópolis
C. Moscovo
7. Quem apresenta o talk show
2. Quem escreveu o romance Jantar Indiscreto, na RTP 2?
Alcateia, recentemente reeditado? A. Joana Barrios
A. Carlos de Oliveira B. Beatriz Tavares
B. Soeiro Pereira Gomes C. Myriam Taylor
C. Fernando Namora
8. Em que ano foi inaugurada,
3. De que país é a equipa de futebol em Nova Iorque, a Estátua
FC Sheriff Tiraspol? da Liberdade?
A. Moldávia A. 1886
B. Ucrânia B. 1899
C. Roménia C. 1912
4. Onde fica a Biblioteca Municipal 9. Qual destes escritores ficou cego
Fernando Piteira Santos? a partir dos 6 anos?
A. Vila Franca de Xira A. Júlio Dantas
B. Barreiro B. António Feliciano de Castilho
C. Amadora C. Sebastião da Gama
5. Como se chama a personagem 10. Quem canta a canção No Time
interpretada pela atriz Daniela to Die, da banda sonora do mais
Melchior no blockbuster recente filme de James Bond com
O Esquadrão Suicida? o mesmo título?
DÊ-NOS NOTÍCIAS > T. 21 870 5000 > T. 22 099 3810 A. Batlocker A. Lorde
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C. Mongal C. Taylor Swift

112 VISÃO 7 OUTUBRO 2021


Proprietária/Editora: TRUST IN NEWS, UNIPESSOAL LDA.
Sede: Rua da Fonte da Caspolima – Quinta da Fonte
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Redação: Carmo Lico (online), Cesaltina Pinto, Clara Soares, Clara Teixeira, Florbela
Alves (Coordenadora VISÃO Se7e/Porto), Joana Loureiro, Luísa Oliveira, Luís Ribeiro
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Colaboradores Texto: Manuel Gonçalves da Silva, Manuel Halpern, Miguel Judas;
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A caixa-forte
de Pandora
POR RICARDO ARAÚJO PEREIRA

N
o mito de Pandora, a caixa abre-se e dela está a salvo de impostos. Com estas revelações, limi-
saem todos os males do mundo. (Parece ta-se a não ficar a salvo de críticas, mas as críticas,
que só é uma caixa desde a Idade Média. como se sabe, não desvalorizam a moeda. Que espe-
Até aí, o recipiente era outro – o que, rança nos resta? Que os titulares destas contas se-
na verdade, não interessa muito para a cretas estejam a chorar amargamente nos seus palá-
história.) A caixa fecha-se a tempo de cios por termos descoberto os estratagemas através
conseguir conter apenas a esperança, o dos quais os adquiriram? Ou estou a procurar mal
que significa, segundo se diz, que é esse o ou não encontro essa esperança no fundo da caixa,
único instrumento de que a Humanida- pelo que o nome com que baptizaram os achados
de dispõe. Talvez eu não tenha percebido constitui, para mim, um pomo da discórdia. Que, a
bem o mito, mas francamente não me parece bem propósito, dá o nome a um mito mais instrutivo. O
que o novo pacote de documentos sobre transacções “pomo da discórdia” original era uma maçã. Éris, a
financeiras esquisitas com o auxílio de offshores se deusa da discórdia, não foi convidada para o casa-
chame Pandora Papers. Trata-se de um conjunto de mento de Peleu e de Tétis. Mesmo assim, apareceu
12 milhões de ficheiros confidenciais com informa- na boda e deixou uma maçã de ouro com uma nota:
ções sobre empresas secretas ligadas a dezenas de “Para a mais bela da festa”. As deusas Hera, Atena e
actuais e antigos Chefes de Estado e de governo. Até Afrodite pediram a Zeus que decidisse qual delas era
aqui, a história bate certo com o mito. A questão é a mais bela, mas Zeus entregou a missão a Páris. Para
que não me parece que haja esperança de que venha convencer Páris a dar-lhe o prémio, cada deusa pro-
a acontecer seja o que for. O dinheiro destas pessoas meteu-lhe um presente: Hera disse que o faria rei
da Europa e da Ásia, Atena ofereceu-lhe sabedoria
e habilidade, e Afrodite jurou entregar-lhe o amor
da mulher mais bonita do mundo, Helena de Tróia.
Páris deu a vitória a Afrodite, seduziu Helena e deu
origem a uma guerra de dez anos. É uma história
estranha por várias razões: não ser convidado para
casamentos é uma bênção – e, no entanto, Éris fica
magoada; três deusas competem por uma maçã de
ouro – uma peça de decoração bastante pirosa que
não fica bem em casa nenhuma; Zeus, mesmo sendo
todo-poderoso, sabe que não é prudente ser jurado
em concursos de beleza; Páris, em vez de escolher
capacidades que lhe garantiriam várias mulheres,
opta por ter apenas uma. Pessoalmente, discordo do
pomo da discórdia. E dos Pandora Papers também.
visao@visao.pt

O dinheiro destas
pessoas está a salvo de
impostos. Com estas
revelações, limita-se
ILUSTRAÇÃO: JOÃO FAZENDA

a não ficar a salvo de


críticas, mas as críticas,
como se sabe, não
desvalorizam a moeda

114 VISÃO 7 OUTUBRO 2021


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