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2009
Artigo de Atualização/Divulgação
Resumo: Este estudo tem como proposta analisar quais elementos que permitem apontar como se dá a
formação e intervenção do profissional de Educação Física no âmbito do lazer. Assim, o objetivo é
apresentar algumas considerações acerca da formação e a intervenção do profissional de Educação Física
no contexto do lazer. Perpassando por algumas das funções, formação, características e campo de
intervenção do profissional. Como justificativa considerou-se que muitos profissionais são atraídos pelas
possibilidades lucrativas, ignorando-se em alguns momentos a relevância do lazer na busca de qualidade
na vida dos indivíduos e de alternativas para o enfrentamento dos limites sócio-culturais e históricos. Trata-
se de um estudo qualitativo, utilizou-se como técnica pesquisa bibliográfica e fonte documental. Buscou-se
fomentar o debate acerca do profissional de Educação Física no contexto do lazer, superando as barreiras
entre teoria e prática, trabalhando em equipes multidisciplinares, procurando romper com paradigmas
alienantes e atender as demandas da sociedade.
Palavras-chave: Formação. Intervenção. Educação Física. Lazer.
recreativas, mas vale dizer que as atividades área pode proporcionar e que, também, não se
como modalidades do exercício físico, ginástica, pode “negar que a demanda pela formação
jogo, esporte, dança, entre outras podem ser profissional no lazer sofre influências dessa
desenvolvidas sob a perspectiva do lazer, situação”. Por outro lado, “muitas das vezes é
destacando seus conteúdos culturais: interesse ignorada a importância do lazer enquanto um
físico/esportivo, artístico, social, intelectual passo fundamental para a busca de qualidade na
(DUMAZEDIER, 1980), virtual (SHWARTZ, 2003), vida dos sujeitos e de alternativas para o
espiritual (CORRÊA, 2006). enfrentamento dos limites sócio-culturais
Diante das diversas possibilidades de históricos de nossa realidade” (WERNECK, 1998,
intervenção do profissional de Educação Física p. 52).
torna-se necessário uma formação consistente,
Métodos
com disciplinas que ofereçam conhecimentos
Como procedimentos metodológicos no
para que este profissional atue de forma coerente
âmbito do processo arrolado esta pesquisa
com as necessidades do lócus onde está
procurou responder à questão levantada e ao
inserido.
objetivo proposto. Porém, Lüdke e André (1986,
Atualmente, encontra-se um vasto campo do p. 01) alertam que “para se realizar uma pesquisa
lazer a ser explorado por profissionais de é preciso promover o confronto entre os dados,
diversas áreas (Educação Física, Turismo, as evidências, as informações coletadas sobre
Hotelaria, Pedagogia, Engenharia Civil etc.). determinado assunto e o conhecimento teórico
Neste estudo não se pretende analisar a sua acumulado a respeito dele”.
complexidade, mas entendê-lo não “sob uma
De acordo com Schwandt (2006) o saber não
ótica disciplinar, mas sim como multidisciplinar”,
é passivo, e sim ativo, onde a mente capta as
onde vários campos têm a contribuir para a
impressões, formando em abstrações ou
compreensão e atuação no lazer, com uma
conceitos e traz para discussão o chamado
equipe multidisciplinar atuando em conjunto.
construcionismo social. Dessa forma o autor
Assim, com uma proposta interdisciplinar teria
descreve que “inventamos conceitos, modelos e
possivelmente melhores condições de realizar um
esquemas para entender uma experiência, e
trabalho efetivo. No entanto, não queremos aqui
testamos e modificamos continuamente essas
prescindir o especialista, mas prepará-lo de uma
construções a luz de uma nova experiência” (p.
forma diferente e ciente dos riscos de sua
201). Entretanto, para que haja esta construção
atuação (MELO; FONSECA, 1997, p.653).
deve-se levar em consideração a dimensão
Nesse sentido, os cursos de formação em histórica e sociocultural, pois não se constrói as
Educação Física tem sua parcela de interpretações isoladamente, “mas contra um
responsabilidade e devem “assegurar uma pano de fundo de compreensões, de práticas, de
formação generalista, humanista e crítica, linguagem, etc., que temos em comum” (p. 201).
qualificadora da intervenção acadêmico-
Sob a ótica do construcionismo social esta
profissional, fundamentada no rigor científico, na
pesquisa é de ordem qualitativa, e segundo
reflexão filosófica e na conduta ética” (BRASIL,
Camargo (1997), normalmente as posições
2004, p.1). Portanto, a formação e a intervenção
qualitativas estão baseadas em duas linhas de
do profissional de Educação Física e sua
pesquisa:
interlocução com o lazer torna-se uma questão
complexa, ponderando-se que se entra no rol de a) os enfoques subjetivistas-
atividades específicas que não apresentam uma compreensivistas (Weber, Dilthey, Jaspers,
Heidegger, Hussert, Sartre, etc) que
configuração territorial nítida ou de limites claros.
privilegiam os aspectos conscienciais,
Mediante está possível complexidade, este subjetivo dos atores como, percepção,
estudo apresenta como problemática a seguinte compreensão do contexto cultural, relevância
questão: quais seriam os elementos que do fenômeno para o sujeito, etc e
permitem apontar como se dá a formação e b) os enfoques crítico-participativos com
intervenção do profissional de Educação Física visão histórico-estrutural (Marx, Engels,
no âmbito do lazer? Como objetivo geral procurou Gramsci, Adorno, Horkheimar, Marcuse,
Fromn, Habermas, etc) que partem da
apresentar algumas considerações acerca da
necessidade de conhecer a realidade para
formação e intervenção do profissional de transformá-la, ou seja, da dialética da
Educação Física no contexto do lazer. realidade social. (p.172-173).
No que se refere a justifica, por um lado levou- Contribuindo, ainda, para este debate
se em consideração que, muitos profissionais são Schwandt (2006, p.205) relata que a investigação
atraídos pelas possibilidades lucrativas que essa qualitativa “baseia-se em uma profunda
contribuição de Lundberg, mencionando “que por Neste breve percurso histórico, “a partir de
volta de 1915, oito cidades já haviam criado seu 1940 são articulados programas de recreação
próprio serviço de parques e de recreação, e o para os trabalhadores adultos e suas famílias,
autor contemporâneo cita para o mesmo ano a destacando-se o "Serviço de Recreação
quantidade de 83 cidades empregando líderes de Operária" do Ministério do Trabalho” (WERNECK;
recreação”. Outro dado interessante data de SANTOS, [ca. 2003]).
1966, apontando que cerca de 60% das 3142 A partir da década de 1950, instituições como
cidades e condados recenseados dos EUA o Serviço Social do Comércio (SESC) e Serviço
tinham empregados permanentes no campo da Social da Indústria (SESI), bem como a criação e
recreação e dos parques. Na década de 1970 a a instalação de clubes privados por vários
proporção passa a ser 72%, sobre 3229 cidades municípios do país, se dedicaram a questão do
e condados. desenvolvimento do lazer (PINA, 1995).
Na Inglaterra, observa-se que já existiam em Segundo Marcellino (1987, p. 30), os
1868 mais de 260 clubes operários, “com principais autores entre os pioneiros e
bibliotecas, salas de leitura, sala de reuniões e, abrangência da produção teórica do lazer
às vezes, um ginásio para ginástica. Na virada do encontram-se Ethel Bauzer Medeiros, O lazer no
século, atingiam em total de um mil, planejamento urbano (1971) e Educação para o
aproximadamente, e nos anos de 1930 mais de lazer (1980); Renato Requixa, Conceito de lazer
2500”. A YMCA (Young Men Cristian Association) (1972), O lazer no mundo moderno (1974),
ou como conhecida no Brasil ACM (Associação Sugestões de diretrizes para uma política
Cristã de Moços) teve seu primeiro clube fundado nacional de lazer (1980).
em Londres, em 1844 (PRONOVOST, 1983,
p.35). No entanto, de acordo com vários autores
(SOUZA; ISAYAMA, 2004; MARCELLINO, 1996;
Sobre estes indícios históricos Guerra (1988) GOMES, 2004) o trabalho de Acácio Ferreira
pontua que o movimento da recreação (1959), intitulado O lazer operário, é considerado
sistematizada iniciou-se na Alemanha em 1774 um marco no âmbito do pioneirismo sobre a
com a criação do Philantropinum, por Basedow, temática.
professor das escolas nobres da Dinamarca.
Nestas escolas as atividades intelectuais eram Entretanto, a partir da década de 1970 o Brasil
desenvolvidas lado a lado às atividades físicas. passou a desenvolver estudos mais
No Philantropinum havia cinco horas de matérias sistematizados sobre o lazer – ligados
teóricas, duas horas de trabalhos manuais, e três especialmente ao trabalho do sociólogo francês
de recreação. Joffre Dumazedier –, sendo difundido nos meios
acadêmicos no decorrer das décadas seguintes,
De acordo com as análises efetuadas em currículos de cursos de formação profissional
verificou-se que, a intervenção no lazer é de (Educação Física, Turismo, Pedagogia etc.).
longa data. No Brasil não se tem nada registrado,
especificamente, sobre esse pioneirismo, mas No ano de 1969 com a Resolução n.69, o
com a universalização do direito do trabalhador termo recreação passou a compor o rol de
aos repousos diários, semanais e anuais, disciplinas dos cursos de graduação em
ampliou-se a preocupação em torno da racional Educação Física. Isso até a década de 80,
organização das horas de lazer. quando da aprovação da Resolução n.03/87, a
Educação Física tornou-se à primeira área cuja
Werneck e Santos [ca. 2003] apresentam que legislação passou a prever, além da formação
“nas primeiras décadas do século XX foram básica, um aprofundamento na graduação,
engendradas, em vários países, estratégias de possibilitando, assim, trocas com o mercado de
controle social das massas trabalhadoras - trabalho, o respeito as peculiaridades regionais,
dissimuladas na idéia de diversão "sadia e além, dos perfis profissionais desejados. Isayama
educativa" -, visando a ocupação do tempo livre (2002, p. 8) relata que essa resolução determinou
conquistado”. Em diversas cidades brasileiras que uma área de conhecimento deve ser
(Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo), o composta por disciplinas ministradas por
poder público municipal desenvolveu o chamados Institutos Superiores de Educação, sendo
"programas de recreação", cujo objetivo, estava desenvolvidas com caráter teórico-prático. Dessa
em consonância com o pensamento eugênico- forma, com “a incorporação das idéias presentes
higienista e na pedagogia escolanovista, sendo na Resolução n.03/87 e com os avanços
destinados, até a década de 1930, apenas a apresentados pelos estudos do lazer no Brasil,
crianças e jovens (Werneck; SANTOS, [ca. esse campo passou a ampliar o espaço ocupado
2003]).
no interior dos currículos de formação profissional Porém, Garcia (1995, p. 23) descreve um
em Educação Física”. novo profissional
[...] comunicativo, versátil e de muita
Verifica-se, assim, que o lazer se insere
imaginação, ele trabalha quando todos
institucionalmente nos cursos de Educação Física descansam e tem a pretensão de vender a cada
a partir da década de 80, ampliando-se nos anos um de nós uma pequena parte do paraíso. Ou,
seguintes no seio das IES. Estabelecendo ao menos, uma certa ilusão de felicidade que,
relações com diversas dimensões da vida cultural como se sabe, nunca esta onde nós estamos.
Esse profissional, diz que veio pra colocá-la no
(o trabalho, a economia, a educação etc.), e devido lugar.
possivelmente constituídas, também, numa
perspectiva transdisciplinar, corroborando para o O “profissional” que atua no lazer, ainda,
desenvolvimento profissional no lazer, tanto na apresenta as seguintes características: ter
formação como na sua intervenção. formação ampla e específica, informação,
comportamento e atitude, atualização,
O “profissional” do Lazer imaginação, criatividade, cooperativismo,
Com a globalização, a terceirização de dedicação, comunicação, auto-formação
serviços está cada vez mais presente na permanente, bom senso e talvez a principal delas
sociedade. Neste sentido Werneck (1998, p. 49) amar o que faz, não importando como o chamem
pontua que “devido às estratégias do marketing ou onde trabalhe.
de mercado, são criadas necessidades de No sentido de identificar algumas
consumo e impostos novos padrões de vida, os características, vale mencionar, também, os
quais atingem profundamente as dimensões do diversos nomes dados a este “profissional” como,
trabalho e do lazer em nossa sociedade”. por exemplo: animador, animador cultural,
Existe uma demanda crescente no que se recreador, monitor, GO (gentil organizador),
refere a prestação de serviços no lazer, o que militante cultural, entre outros, dos quais
leva a um aumento no número de ofertas para “sugerem moças e rapazes simpáticos, aplicados
profissionais que desejam atuar na área. De um e atenciosos, sempre prontos para fazer alguma
lado encontra-se a expansão e a conquista para a ‘animação’ [...] organizar uma festa ou um show
atuação de “bons” profissionais, do outro, pode [...] orientando-nos e instruindo-nos, sempre
tornar-se um risco, se o trabalho for desenvolvido solícitos, sobre o que fazer com o nosso tempo
em uma abordagem mercantilizada, priorizando a livre”. E também conhecidos como “profissionais
ação em uma perspectiva abstrata e tradicional do lazer, o que ajuda a reforçar esta primeira
(ISAYAMA, 2002, p. 06-07). impressão – uma caricatura, evidentemente – de
Para os profissionais formados em Educação excessiva jovialidade e de inesgotável otimismo”
Física, a atuação no lazer, exige conhecimentos (GARCIA, 1995, p. 24).
específicos ou a eles relacionados, como: Corrêa (2003) relata que não é somente essa
atividades físicas, esportes, lúdico, prazer, as caricatura de jovialidade e inesgotável otimismo,
emoções e sensações, entre outras. Esse pois esses profissionais têm outros perfis, exerce
aspecto pode ser visualizado, dentre várias funções burocráticas, de gerenciamento, de
possibilidades, “no seu trabalho com o esporte marketing, organizando e coordenando projetos e
escolar, com a ginástica, com os jogos e com eventos, está envolvido em planejamento dos
outros conteúdos culturais que propiciam equipamentos e espaços de lazer.
vivências lúdicas, prazerosas e significativas para Garcia (1995, p. 33) em seu texto destaca o
os sujeitos envolvidos” (ISAYAMA, 2002, p. 07). “profissional” como “militante cultural”, uma
Dessa forma, como descrever um definição ainda que provisória coloca-o como
“profissional” com diversas possibilidades de [...] todo aquele que realiza ações no plano da
intervenção, com objetivos muitas vezes cultura, no tempo livre dos indivíduos, seja para
estimulá-los à produção de bens culturais, seja
diferentes? O que dizer de um campo profissional para ampliar a sua participação na apropriação
ainda em formação? Pode-se chamar este agente desses bens, tendo como motivação básica
de profissional no seu sentido stricto? Uma vez tanto o prazer de dedicar-se a algo com se
que, o lazer, não constituiu uma categoria identifica fortemente, quando valores pessoais
profissional que esteja consolidada no mercado que conferem à cultura papel importante para o
desenvolvimento das pessoas, dos grupos, das
de trabalho e no sistema social, ou seria ainda comunidades e da sociedade em geral.
uma ocupação? Talvez, pelas peculiaridades de
sua intervenção, não se pode caracterizar como O militante cultural não é apenas um
tal, de forma rígida ou institucionalizada? Estas espectador, ele “age, faz, participa, realiza”,
algumas entre muitas das perguntas que se ressaltando, “contudo, que é mais tênue o sentido
encontram em debate. da transformação que estaria pretendendo. Mais
correto seria afirmar que ele se ocupa mais em número de ofertas de emprego para os
ampliar, diversificar, incorporar que propriamente profissionais que desejam atuar nesta área. O
que nos leva a observar o aparecimento de uma
em transformar”. A sua ação, “não é romper, grande diversidade de funções que estes
transgredir, alterar drasticamente certa ordem profissionais podem assumir, tais como: o
dada de coisas, mas torná-la mais flexível, dócil e planejamento, a organização, a administração, a
complacente”, estaria assim “mais voltada à animação e a avaliação de atividades de lazer.
democratização cultural que a uma efetiva Desta forma, podemos encontrar profissionais
trabalhando com formação diferenciada em
transformação” (GARCIA, 1995, p. 34). varias instituições públicas (prefeituras
Outro ponto a ser considerado acerca do universidades, secretarias) e privadas (hotéis,
clubes, acampamentos, academias de ginástica,
“profissional” que atua no lazer, é que em muitos
empresas de viagens) (ISAYAMA; STOPPA,
momentos, este confunde sua vida privada com a 1997, p. 661).
profissional, pois em várias situações o seu
companheiro de trabalho é o seu amigo, sua Pina (1995, p. 118) menciona que este
namorada, sua esposa. Neste sentido Isayama e “profissional” está presente diversas
Stoppa (1997, p. 663) assinalam que “ele não organizações, privadas e públicas, nas várias
consegue evitar que ambos se misturem, devido situações de cotidiano das pessoas e das
ao fato de estar vivendo dentro de um mesmo coletividades: desenvolvendo recreação nos
ambiente cultural”. hotéis; programações nas secretarias de esporte,
cultura, turismo e lazer, sejam estaduais e
Essa distinção entre o lazer e trabalho do
municipais; “preparando e coordenando
“profissional” não é bem definida nas áreas de
atividades em organizações não-governamentais,
intervenção. Neste sentido, Bramante (1993)
como SESC, SESI e Associação Cristã de Moços
pontua que o profissional em muitos momentos
– ACM; atuando na imensa rede dos clubes
confunde o seu próprio trabalho com as
privados no Brasil”.
experiências de liberdade, produção e
desenvolvimento que caracterizam o lazer. Deste Estes “profissionais” são encontrados atuando
modo que às pessoas vêem este campo de também nos clubes dos bancos, ministrando
atuação como “fácil” e gostoso de ser realizado aulas sobre lazer nas faculdades e cursos
em comparação a outros trabalhos. técnicos, centros culturais e esportivos inclusos
os radicais, museus, bibliotecas, parques,
Este trabalho considerado “fácil” leva muitas
balneários, parques temáticos e aquáticos,
pessoas a aturem nesta área, por considerarem
marinas, teatros, casa de espetáculos,
ter uma “vida boa”, a possibilidade de brincar o
restaurantes e lanchonetes, shoppings, igrejas,
dia todo, e o mais interessante, ser remunerado
programas de TV, ônibus, feiras, congressos e
por este trabalho. As pessoas que tem essa
convenções, exposições, entre outros.
atitude, por não conhecerem a importância e os
conhecimentos produzidos pelo lazer, “acaba não Dessa forma o profissional encontra-se
estabelecendo uma práxis, mas sim um situado “em várias instâncias: organizando
‘tarefismo’, que é o trabalho embasado em atividades para as pessoas [...], liderando grupos
manuais recreativos da área, que se restringem a e comunidades; iniciando pessoas em várias
descrever atividades a serem desenvolvidas”, modalidades artísticas e esportivas [...]”
meros feitores de atividades, “sem ao menos viabilizando e administrando recursos “para que
contextualizá-las, planejá-las coletivamente, grupos ou coletividades possam usufruir de
buscar metodologias diversificadas, avaliá-las atividades de lazer”. Portanto, o “profissional” do
com o grupo envolvido” (ISAYAMA; STOPPA, lazer desenvolve suas atividades nos mais
1997, p. 663). diferentes equipamentos e espaços de lazer,
sendo considerados por Corônio e Muret (apud
Enfim, esses “profissionais”, devem ter uma
PINA, 1995, p. 124) como “a alma do
visão mais abrangente acerca dos conteúdos do
equipamento de lazer”.
lazer, poderiam se organizar melhor, numa
categoria estruturada, por exemplo, criar uma Camargo (1997, p. 678) pontua que “um
associação dos profissionais do lazer, e terceiro segmento começa a se definir: (...) o
principalmente lutar por melhores condições de setor da animação cultural urbana, ou seja, a
trabalho e não encarar como um mero “bico”. intermediação entre a produção cultural e o
consumo da população, trabalho eminentemente
O “profissional” e o campo de intervenção baseado na comunicação pessoal e grupal”.
O “profissional” do lazer depara-se atualmente Dentre os quais estão a: recreação pública,
com um vasto campo de trabalho, recreação industrial, recreação comercial,
[...] com o crescimento do setor de prestação de recreação escolar, recreação turístico-hoteleira,
serviços na área de lazer, vem aumentando o recreação ecológica, recreação hospitalar.
Muitas dificuldades são encontradas no melhor seus profissionais para atuar no campo de
campo de atuação desse “profissional”, trabalho.
principalmente no “setor econômico do lazer e No caso do campo de intervenção do lazer,
entretenimento, tão inovador e que não pode apresenta um quadro com uma definição clara,
parar de inovar, trouxe a luz à importância de um contudo, pode-se constatar a necessidade de um
profissional até então raro no mercado: o profissional diferenciado dos demais setores de
animador cultural. No entanto, dois fatores serviços com características próprias. Assim,
associados emperram no momento o seu estes profissionais devem atentar e ter a
crescimento: a falta de identidade” a qual já foi consciência das novas exigências de qualidade e
mencionada neste texto e a “formação as atuais tendências em seu lócus de atuação,
profissional” (CAMARGO, 1997, p. 681). conseqüentemente proporcionará uma melhor
Neste contexto, Isayama (2004, p. 93) chama integração com a sociedade, respeitando o
a atenção que “lamentavelmente, ainda se pensa contexto histórico vigente.
que, para atuar nessa área, não é necessário ter Fica evidente a necessidade de uma melhor
formação específica e aprofundada sobre o capacitação profissional que vai atuar no lazer,
tema”. Contudo, é necessário “repensar os mas como deve ser esta capacitação? As
pressupostos que encaminham a formação de faculdades estão preparadas para oferecer uma
profissionais e como ela esta sendo processada formação adequada, que atenda as demandas de
em nosso contexto”. mercado? Qual seria e como se daria esta
Assim, “ao mesmo tempo em que se abrem as formação, especificamente nos curso de
novas oportunidades, torna-se mais evidente a graduação em Educação Física? Quais são as
necessidade de uma melhor capacitação demandas exigidas pelo mercado e pela
profissional” (PINA, 1995, p. 129), incluindo o sociedade?
profissional de Educação Física. Nesse sentido Constata-se que há um longo caminho a se
pode se cobrar dos profissionais que atuam no percorrer no que se refere a formação
lazer “um trabalho permanente e aprofundado de profissional e intervenção do profissional de
aperfeiçoamento nos campos prático e teórico Educação Física no âmbito do lazer. Apesar do
relacionados com os temas aos quais se possível domínio deste profissional no campo do
dedicam” (p.130). lazer, torna-se necessário que procurem uma
Desse modo compreendemos o profissional formação ampla e ao mesmo tempo específica, já
que atua no lazer (entre eles o profissional de que entre suas funções está pesquisar, conhecer,
Educação Física) como recurso fundamental no dominar, compreender, analisar de forma crítica e
setor de serviços em qualquer organização. Um criativa, produzir e avaliar a realidade social e os
profissional que deveria estar preparado para efeitos da aplicação de diferentes técnicas,
planejar, administrar, projetar, pensar, mediar, instrumentos, equipamentos.
instigar e animar as atividades de lazer, um Dessa forma, os profissionais de Educação
agente transformador procurando atender as Física devem buscar conhecimentos e vivenciar
demandas exigidas pela sociedade, bem como novas experiências procurando romper com os
propiciar a quebra de possíveis paradigmas de paradigmas alienantes da sociedade. Neste
alienação. sentido, cabe destacar que os profissionais do
lazer trabalham geralmente em equipes
Considerações Finais
multidisciplinares, com o objetivo de oferecer uma
Com base nos indícios apresentados neste
gama de possibilidades, contemplando os
estudo sobre a formação e intervenção
diversos interesses do lazer – interesse
profissional no âmbito do lazer, o profissional de
físico/esportivo, social, artístico, intelectual, entre
Educação Física teria competências e perfil para
outros – proporcionando a melhoria da qualidade
atuar neste campo? No entanto, é preciso
de vida.
fornecer subsídios para a consolidação do
profissional de Educação Física com o intuito de Sob está ótica o profissional de Educação
superar as barreiras existentes entre teoria e Física no contexto do lazer, pode intervir em
prática, entre a academia e o mercado. Exigindo- várias instancias, como por exemplo, na
se, assim, um aprofundamento acerca da ocupação de funções desde gerente,
temática em sua formação na graduação e num encarregados de setor, consultores dirigentes
processo continuum. Esta formação profissional, públicos e privados, programadores,
seja na graduação ou numa perspectiva coordenadores, animadores sócio-culturais,
continuada no contexto do lazer, deve procurar monitores de atividades, recreadores,
unir teoria e prática, com o intuito de preparar participantes de atividades como voluntários tanto