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O Uso da Gaze de Combate “QuikClot” na Hemorragia Cervical e Vaginal

Nicole Vilardo⁎, Jacqueline Feinberg, Jonathan Black, Elena Ratner

Yale School of Medicine, Department of Obstetrics, Gynecology and Reproductive Sciences,


333 Cedar Street, New Haven, CT 06510, USA
Tradução Livre por Vitor Henrique Palazzi de Almeida

ABSTRACT
QuikClot combat gauze is a synthetic hemostatic dressing used for hemorrhage control. There is a paucity
of data describing the clinical use and hemostatic results of combat gauze in the obstetric and gynecologic
setting. This case series demonstrates the use of combat gauze as an effective hemostatic agent when used
as vaginal packing in cervical and vaginal hemorrhage. Hemostasis was achieved rapidly in all cases and
further interventions were avoided. The combat gauze remained in place for a mean time of 15 h with no
adverse side effects observed. The use of combat gauze as vaginal packing may provide an alternative
option in the treatment of cervical and vaginal hemorrhage when other traditional conservative and surgical
interventions fail or are unavailable.

Palavras-chave: Hemorragia Cervical, Gaze de Combate, Hemorragia Vaginal e Curativo Vaginal.

1. Introdução 2014). A hemorragia obstétrica e ginecológica


também pode levar a graves morbidades e a
A hemorragia relacionada a um evento
hemorragia pós-parto continua a ser uma das
traumático é uma das principais causas de
principais causas de morte materna (American
morbidade e mortalidade (Gegel et al., 2013;
College of Obstetricians and Gynecologists,
Champion et al., 2003). Curativos hemostáticos 2006). Lacerações cervicais e vaginais, em
sintéticos foram desenvolvidos como uma forma
particular, podem causar grandes perdas de
fácil, de baixo custo e método eficaz de volume de sangue e o gerenciamento
tratamento dessas hemorragias (Kheirabadi et
hemostático tradicional inclui sutura e
al., 2010; Alam et al., 2005; MacIntyre et al.,
tamponamento com gaze vaginal (Ghirardini et
2011; Mueller et al., 2012). A gaze de combate
al., 2012; MartinHirsch et al., 2010).
é um curativo hemostático aprovado pela FDA
Ocasionalmente, hemorragia cervical e vaginal
para uso externo a fim de parar o sangramento
pode ser difícil de controlar com intervenções
moderado a grave (Fig. 1). Um mais novo, convencionais devido ao tecido friável,
porém semelhante produto, QuikClot Control +, múltiplas lacerações da mucosa ou
foi aprovado para uso de espaços internos em coagulopatias (Patel et al., 2012). Literatura que
pacientes com sangramento grave. A gaze de
descreve o uso de gaze de combate como
combate QuikClot contém caulim, um
abordagem alternativa para obter hemostasia
adsorvente que promove a coagulação criando
rápida no campo da obstetrícia e ginecologia e
um efeito de hemo-concentração, aumentando
as subespecialidades associadas (ou seja,
assim o número de plaquetas e fatores de
Ginecológica Oncologia) é limitada (Schmid et
coagulação próximos à ferida (Granville- al., 2012; Schmid et al., 2013; Patel et al., 2012).
Chapman et al., 2011). Nas forças armadas e em
Esta série de casos demonstra o uso do combate
meios militares, a gaze de combate QuikClot é QuikClot gaze como um agente hemostático
recomendada como primeira linha de tratamento eficaz e seguro para cervical e vaginal
para hemorragia com risco de vida não passível
hemorragia quando usado como tampão vaginal.
de utilização do torniquete (Bennett e Littlejohn,
2. Casos sucesso na anticoagulação terapêutica e não teve
mais episódios de sangramento vaginal.
Caso 1. Hemorragia vaginal em contexto de
anticoagulação terapêutica. Ela recebeu alta para reabilitação de curto prazo
e subsequente acompanhamento ambulatorial
Mulher pós-menopausa de 69 anos com
que transcorreu sem intercorrências. No exame
histórico médico significativo para hipertensão e
físico duas semanas depois da alta hospitalar,
câncer de mama BRCA +, estado pós-
não havia evidências de necrose tecidual ou
mastectomia, radioterapia e terapia com
qualquer reação adversa secundária ao uso de
tamoxifeno, apresentou anormal sangramento
QuikClot.
uterino. Ela foi diagnosticada com hiperplasia
atípica complexa em espécime de curetagem Caso 2. Hemorragia retardada de cone cervical.
endometrial. Ela passou por uma histerectomia
Uma pessoa de 25 anos com história de displasia
laparoscópica total, salpingo-ooforectomia
bilateral e cistoscopia. Sua cirurgia foi simples, de alto grau no esfregaço de Papanicolaou e
notável apenas por tecido adesivado no neoplasia intraepitelial cervical (NIC) 2-3 na
colposcopia foi submetida a biópsia em cone a
quadrante superior direito, que foi reconstituído.
laser de CO2. Em relação à sua história, ela foi
O exame histopatológico mostrou complexa
inicialmente marcada pelo aparecimento de
hiperplasia atípica, miomas, adenomiose e
células escamosas atípicas, não podendo
ovários normais juntamente com as tubas
descartar lesões intraepiteliais de alto grau, no
uterinas.
início da gravidez. Ela foi submetida a
Ela apresentou cinco dias de pós-operatório com colposcopia, que mostrou uma lesão vascular
dor abdominal inferior e foi diagnosticada com que foi biopsiada e lida pela patologia como NIC
uma hérnia local no quadrante inferior esquerdo, 2-3. Ela foi tratada de forma conservadora
que foi reestabelecida na sala de cirurgia. Ela se durante toda gravidez com exames seriados de
recuperou bem e estava de alta para um centro Papanicolaou que permaneceram inalterados.
de reabilitação de curto prazo. Após a alta, ela No pós-parto, um esfregaço de Papanicolaou foi
apresentou episódios de hipóxia e repetido e novamente mostrou células
posteriormente foi diagnosticada com múltiplos escamosas atípicas. Ela foi encaminhada para a
êmbolos pulmonares. Ela estava Oncologia Ginecológica para uma biópsia em
hemodinamicamente estável e começou a tomar cone cervical. A biópsia do cone de laser de CO2
enoxaparina com transição para varfarina para foi simples. Lesões extensas foram observadas
anticoagulação terapêutica. Cinco dias depois, no exame colposcópico. A vasopressina foi dada
ela teve um aumento no sangramento vaginal circunferencialmente antes da ablação e toda a
com aumento da saturação das compressas lesão foi ablada. Solução de Monsel foi aplicada
perineais. Sua vagina estava cheia de gaze e a ao final do procedimento e uma excelente
paciente foi transferida para o hospital. Na hemostasia foi notada. A paciente recebeu alta
chegada, as compressas de gaze estavam para casa mais tarde naquele dia, após um curso
totalmente saturadas e o exame mostrou que o pós-operatório sem intercorrências.
colo uterino estava intacto com tecido de
Aproximadamente 12 h depois, o paciente
granulação. Estava com um ativo sangramento
apresentou-se à emergência do departamento
visualizado a partir do colo uterino e paredes
laterais bilaterais que não foi resolvido com a com sangramento vaginal intenso. No exame,
colocação da solução de Monsel. A perda de sangramento da cirurgia pregressa foi notado.
Surgicel foi colocado e sua vagina foi embalada
sangue total foi de aproximadamente 700 cm3.
com gaze padrão. No reexame 2 h depois, ela
A vagina foi então embalada com QuikClot, que
teve novamente sangramento vaginal intenso,
resultou na resolução rápida do sangramento
saturando o tampão vaginal. A perda total de
vaginal. O tampão foi removido após
sangue foi de aproximadamente 800 cm3. Neste
aproximadamente 20 horas sem sangramento
ativo adicional observado. Ela foi tratada com momento, a QuikClot foi colocada sobre o
Surgicel aplicado anteriormente. Ela foi
observada por 12 horas e não teve episódios
adicionais de sangramento vaginal depois que o estável durante o resto do caso. No total, a perda
QuikClot foi removido. Ela teve alta para casa e de sangue estimada foi de 8 litros e o paciente
subseqüente acompanhamento ambulatorial necessitou de 11 unidades de concentrado de
transcorreu sem intercorrências. No exame hemácias, 3 unidades de plaquetas, 6 unidades
físico, duas semanas após a alta hospitalar, não de plasma e 4 unidades de crioprecipitado no
houve evidência de necrose do tecido ou intraoperatório. A gaze de combate permaneceu
qualquer reação adversa secundária ao uso do no local por via vaginal por 12 horas no pós-
QuikClot. operatório. O tampão vaginal foi removido sem
incidentes e nenhum sangramento vaginal foi
Caso 3. Hemorragia obstétrica no cenário de observado durante o curso pós-operatório do
DIC (Coagulação Intravascular Disseminada
paciente. O paciente se recuperou bem e teve alta
após histerectomia por cesariana.
no sexto dia pós-operatório.
Uma mulher de 27 anos grávida sem nenhuma No exame pós-parto 4 semanas após o parto, não
história médica significativa foi admitida no
houve evidência de necrose do tecido ou
início do trabalho de parto com 39 semanas de
quaisquer reações adversas secundárias ao uso
gestação e progrediu para totalmente dilatada.
do QuickClot.
Uma cesariana transversal baixa primária foi
realizada durante o segundo estágio do parto. 3. Discussão
Após o fechamento da histerotomia, o
A gaze de combate QuikClot tem sido usada
sangramento foi notado do lado esquerdo da veia
predominantemente em traumas e cirurgias do
uterina e a hemostasia foi obtida com hemoclips
meio militar e de combate (Gegel et al., 2013;
e ligadura da veia uterina. Posteriormente,
Motamedi e Sagafinia, 2011), e seu uso na área
desenvolveu-se atonia uterina grave. Várias
intervenções para reverter a atonia foram de obstetrícia e ginecologia e as especialidades
associadas são limitadas (Patel et al., 2012).
tentadas, incluindo Pitocina IV (110 unidades),
Enquanto houver muitas maneiras
metergina IM (0,4 mg IM), misoprostol retal
convencionais de controlar a hemorragia no
(1000 mcg), sutura B Lynch e colocação do
ambulatório e cenário cirúrgico, essas
balão Bakri. Apesar destas tentativas, uma
intervenções têm certas limitações e em algumas
grande perda de sangue foi observada e o
paciente tornou-se hemodinamicamente configurações clínicas, abordagens criativas
instável. O ‘protocolo de transfusão massiva’ foi para hemostasia são necessárias em um esforço
iniciado e a decisão foi feita para prosseguir com para atingir hemostasia rápida e / ou evitar
uma histerectomia. O paciente desenvolveu procedimentos cirúrgicos adicionais, que podem
estar associados a maior morbidade.
coagulação intravascular disseminada (DIC) e
um segundo ‘protocolo de transfusão massiva’ Descrevemos três casos separados em que a gaze
foi iniciado. A histerectomia foi realizada de de combate QuikClot apresentou ter utilidade
forma conveniente. Após o fechamento do colo clínica significativa. Em todos os três casos, foi
uterino, um sangramento constante e rápido foi usado com excelente efeito hemostático e sem
observado nas extensões vaginais anteriores e quaisquer efeitos colaterais identificáveis como
posteriores e várias outras lacerações vaginais. era o caso com as interações anteriores do
Foram feitas muitas tentativas de fechar a QuikClot (Kheirabadi et al., 2010). Em dois dos
extensão vaginal por baixo, no entanto, devido à casos, uma intervenção cirúrgica adicional para
DIC e ao tecido altamente friável, isso não teve o controle de sangramento foi evitado e no
sucesso. Tamponamento vaginal padrão foi terceiro caso a hemostasia foi obtida em um
usado duas vezes com sangramento contínuo, paciente com coagulação intravascular
disseminada quando todos os outros meios de
Neste ponto, a vagina foi preenchida com
obter hemostasia falharam.
QuikClot Combat Gauze. O sangramento
vaginal foi rapidamente resolvido e a paciente Dado o uso eficaz nessas configurações agudas,
não precisou de futuras transfusões de sangue. O no cenário de hemorragia não controlada no
paciente permaneceu hemodinamicamente campo da Oncologia Ginecológica, a gaze de
combate QuikClot, ou uma gaze de combate dressing to treat lethal noncompressible hemorrhage.
alternativa, deve ser considerada como uma J. Trauma Acute Care Surg. 73, S134–9. Patel, S.A.,
medida para controlar a hemorragia quando as Martin, M., Chamales, I., 2012. Vaginal hemorrhage
estratégias convencionais foram exauridas ou from transobturator sling controlled with QuikClot
combat gauze. Mil. Med. 177, 997–998. Schmid,
uma intervenção cirúrgica não está prontamente
B.C., Rezniczek, G.A., Rolf, N., Maul, H., 2012.
disponível ou é contra-indicada. Postpartum hemorrhage: use of hemostatic combat
Conflitos de interesse gauze. Am. J. Obstet. Gynecol. 206, e12–3. Schmid,
B.C., et al., 2013. Uterine packing with chitosan-
Os autores não têm conflitos de interesse a covered gauze for control of postpartum hemorrhage.
divulgar. Am. J. Obstet. Gynecol. 209 (225) (e1-5).

Artigo Original:
https://www.sciencedirect.com/science/article/p
ii/S235257891730084X?via%3Dihub
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