● JUS ACTIONIS: direito subjetivo que o cidadão tem de poder acionar as
autoridades públicas, quando tem um direito seu violado. ● Processo em geral é um conjunto de atos e regras que o possuidor de um direito deve seguir a fim de obter o seu reconhecimento. ● Processo civil romano é o conjunto das ações e regras que o cidadão romano devia seguir para realizar o seu direito ● A definição de ‘actio’ foi dada pelo jurisconsulto Celso é: o direito de perseguir em juízo aquilo que é devido a alguém. ● evolução mais perfeita do exercício do direito subjetivo, que se iniciou com o ‘fazer justiça com as próprias mãos’. CONCEITOS BÁSICOS ● AÇÃO – em latim, ‘actio’ deriva do verbo ‘agere’ (agir, realizar). Actiones in personam - actiones in rem. ● JUS e JUDICIUM – são as duas fases em que tramitava o processo civil romano mais antigo (legis actiones). In jure - apud judicem. ● PARTES – eram o ‘actor’ (autor) e o ‘reus’ (réu). Cidadãos “sui juris”. ● REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL INDIRETA ○ Somente no período de Justiniano, surgiu a figura do 'advogado' como representante da parte, podendo se manifestar em nome desta. ● ‘jurisdictio’ (jurisdição: dizer o direito - jus dicere) ● “coercitio” (coerção: castigar os descumpridores) PRETORES - MAGISTRADOS SUPERIORES ● PRETORES: a partir de 367 a.C., magistrados encarregados de administrar e exercer a justiça. Poder de “imperium” (jus imperii) ● Dividiam-se em: ○ Pretores urbanos – julgavam causas entre os cidadãos romanos; ○ Pretores peregrinos – julgavam causas entre cidadãos romanos e estrangeiros ou entre estrangeiros somente; ○ Edis curuis - julgavam as questões envolvendo vendas de animais e de escravos. ○ Governadores – nas províncias romanas, acumulavam as funções executivas e judiciárias. ● JURISDIÇÃO: ‘jurisdictio’ era realizada com as três palavras formulares obrigatórias: ‘do’ (designo um julgador); ‘dico’ (declaro o direito em favor de fulano); ‘addico’ (adjudico, isto é, entrego a coisa a fulano). ÓRGÃOS JULGADORES ESPECÍFICOS ● JUÍZES OU ÁRBITROS – Eram cidadãos designados pelos pretores para o julgamento de uma causa determinada. ● Recuperatores – existiram no final da república, eram um conselho de três a cinco cidadãos, que julgavam causas entre romanos e estrangeiros; ● Decenviri litibus juricandis – colegiado de dez cidadãos, que existiu entre os anos 242 a 227 a. C., para julgar ações que envolviam a liberdade e as vendas públicas; ● Centunviri – conselho de 150 cidadãos, que existiu na segunda metade da República, para julgar ações sobre propriedade, sucessão e estado das pessoas. TRIBUNAL E ÓRGÃOS COLEGIADOS ● Dentro do Fórum Romano, havia o juiz sentava numa cadeira especial (“sella curulis”), que ficava sobre um pedestal de madeira elevado (“tribunal”). ● Depois, foram criadas as Basílicas, recintos fechados por cortinas, onde eram praticados os atos judiciais. Abriam-se as cortinas para a sentença. ● Questiones perpertuae – órgão julgador colegiado, sob a presidência de um pretor, para julgamento das ações criminais. Compunha-se de cinquenta cidadãos, formando uma espécie de grande tribunal do júri nos moldes modernos, em que o pretor apenas presidia e anunciava o resultado, não interferindo nas decisões. ● Havia os juízes pedâneos, que ficavam na entrada do Fórum. SISTEMAS PROCESSUAIS ● O Direito Romano conheceu três sistemas processuais, divididos em duas ordens de formação. ● ORDO JUDICIORUM PRIVATORUM - compreendia dois sistemas: ○ LEGIS ACTIONES - ações da lei, que remontam à Lei das XII Tábuas (totalmente oral) ○ PROCESSO FORMULAR - sistema de fórmulas, criado pela Lei Aebutia (149 a.C.), em parte oral e em parte escrito. ○ julgamento feito por um juiz privado (cidadão designado) ● EXTRAORDINARIA COGNITIO: a partir do séc. III d. C., início da justiça administrada e aplicada pelo Estado. ● Início da atividade da advocacia, com representação direta. LEGIS ACTIONES ● Exclusivo para cidadãos romanos (“jus civile”) ● Direito consuetudinário oral ● Pronúncia de palavras rituais obrigatórias ● Descrição de Cretella Junior: ○ “o réu é procurado pelo autor que, se o encontra na rua, lhe dirige as 'verba certa' chamando- o ao tribunal. O réu é obrigado a atender à citação e, se não a atende, o autor arranja testemunhas e o prende. Se o demandado foge, o autor tem o direito de empregar a força, prendendo-o e torcendo-lhe o pescoço.” ● Não cabia apelação das decisões. ● Execução da sentença a cargo do vencedor. FASES PROCESSUAIS ● Todas as ações processuais são empreendidas pelas partes, sem participação do juiz ou dos agentes públicos. ● A primeira chamava-se IN JURE. O autor comparece perante o magistrado e expõe as suas pretensões e o réu as contesta. ● A segunda fase, chamada de IN JUDICIO ou APUD JUDICEM. O magistrado designa um juiz ou árbitro para julgar a demanda. Marca audiência. ● As partes travarão os embates judiciários perante o juiz ou árbitro, cada um defendendo o seu ponto de vista. ● Ao final, o juiz proferirá a sentença, cabendo ao vencedor a execução. ● Caso o perdedor não cumpra, o autor intentará ação executória. LEGIS ACTIONES - ESPÉCIES PROCESSUAIS ● LEGIS ACTIO PER SACRAMENTUM - espécie genérica usada quando a lei não prescrevia uma ação específica. Sacramentum = aposta judicial. ● LEGIS ACTIO PER JUDICIS POSTULACIONEM - ação para cobrança de dívidas de contratos verbais solenes. Sem sacramentum. Petição direta ao juiz. ● LEGIS ACTIO PER CONDITIONEM - ação para cobrança de dívidas de coisas e dinheiro. Conditionem = citação prévia do devedor pelo credor. ● LEGIS ACTIO PER MANUS INJECTIONEM - execução pessoal de decisões judiciais e dívidas monetárias. Injectionem = apoderamento do devedor. ● LEGIS ACTIO PER PIGNORIS CAPTIONEM - execução real de decisões judiciais ou dívidas, voltada para os bens do devedor. Pignoris = penhor. Podia ser intentada diretamente pelo credor ou através dos publicanos. LEGIS ACTIONES - EVOLUÇÃO ● Os três primeiros tipos de ações evoluíram para transformar-se no atual processo de conhecimento. ● As duas últimas evoluíram para transformar-se nas ações executivas. ● As ações “per sacramentum” podiam ser intentadas “in personam” ou “in rem” (ações pessoais - ações reais). ● As execuções do sistema “legis actiones” eram dirigidas totalmente pelos particulares, sem controle estatal. ● Seu excessivo formalismo e oralidade exigiram um aperfeiçoamento dos processos, assim como da estrutura judiciária estatal, evoluindo para o processo formular. PROCESSO FORMULAR ● Criado pela Lei Aebutia (149 a.C.), foi utilizado inicialmente em paralelo com o sistema “legis actiones”. ● Mantinha as etapas orais, mas tinha uma “fórmula” escrita pelo magistrado. ● A fórmula indicava ao juiz o fundamento jurídico da questão. ● Por força do “jus gentium”, era utilizado para romanos e estrangeiros. ● A fórmula significou ampliação do poder do magistrado estatal, dando mais importância ao conteúdo do que ao formalismo das “verba certa”. ● O sistema “legis actiones” foi abolido definitivamente pelo imperador Augusto, em 17 a. C. ● Processo formular mantinha as duas fases (in jure - apud judicem) PROCESSO FORMULAR - 1a FASE ● As partes se dirigem ao magistrado, que toma conhecimento do pedido, faz o seu enquadramento e resume os pontos da lide (fórmula). ● O magistrado designa o juiz para julgar, encaminhando a este a fórmula, que deve ser seguida pelo julgador. ● O juiz deixa de ser mero expectador e pode participar ativamente da discussão entre as partes. ● Retirado o aspecto da violência, em caso de não comparecimento do réu perante o magistrado, que lhe aplicará multa. Reincidência = delito. ● O autor faz a “postulatio” e o réu faz a “contestatio”. ● O magistrado resume ambas na fórmula (litis contestatio). PROCESSO FORMULAR - 2a FASE ● A fórmula é encaminhada ao juiz, a quem compete acompanhar a produção de provas do autor e as exceções apresentadas pelo réu. ● As provas podem ser orais ou escritas. Apreciando as provas e os argumentos, o juiz proferirá a “sententia”. ● Caso o juiz não obtenha um convencimento, pode abster-se de julgar aquela causa, que será passada para outro juiz. ● O julgamento deverá ser feito seguindo a fórmula traçada pelo magistrado. ● Não havia recurso, mas a parte perdedora podia tentar anular a sententia oferecendo o dobro do valor da condenação e pedindo novo julgamento. ● Podia pedir ao pretor a substituição do juiz. PROCESSO FORMULAR - RECURSOS ● No período do império, foi instituído o recurso da sententia ao magistrado autor da fórmula; em última instância, recurso ao imperador. ● Princípio da “coisa julgada” (res judicata): ○ após a decisão final, as partes não podiam mais litigar pelo mesmo motivo, entendendo-se que a sententia é verdadeira em relação às mesmas partes e objeto. ○ a sententia, porém, era coisa julgada relativa, não absoluta, sendo proferida pelo juiz ○ mesmo assim, o magistrado não aceitaria novo pedido idêntico. ● Na execução da sentença, não era mais permitido escravizar o devedor, mas apenas apossar-se dos seus bens. ● A venda dos bens foi adotada em substituição às sanções corporais. COGNITIO EXTRA ORDINEM - 3a FASE ● A evolução do processo formular trouxe a possibilidade de um recurso ao magistrado autor da fórmula. Tornou obsoleta a figura do juiz. ● Com isso, a “ordo judiciorum privatorum” aos poucos foi entrando em desuso e surgindo um novo sistema processual “extra ordinem”. ● A cognitio extra ordinem ou extraordinaria cognitio significou o abandono da “ordo” antiga e com isso a abolição dos dois sistemas anteriores. ● A partir do séc. III d.C., iniciou-se a terceira fase do processo civil romano, que se caracterizou pela união das duas fases processuais tradicionais (in jure e apud judicem). ● Os próprios imperadores exerciam diretamente a jurisdição. EXTRAORDINARIA COGNITIO ● Principais mudanças da nova ordem processual: ○ unificação das fases anteriores ○ fim da oralidade, adoção de documentos escritos pelo magistrado e seus auxiliares ○ juízes deviam ter formação jurídica (profissionalização dos magistrados) ○ adotou-se a representação direta (profissionalização dos advogados) ○ fim da gratuidade judiciária (pagamento de custas processuais) ○ tramitação reservada aos litigantes apenas ○ magistrado passou a ter uma sala reservada (criação dos cancelos) ○ instituído o direito de apelação (organização das instâncias recursais) ○ o Estado Romano assume o comando das ações processuais ○ passagem do processo da esfera privada para o direito público ○ iniciou nas Províncias distantes, chegando até Roma REESTRUTURAÇÃO DA MAGISTRATURA Havia três classes de magistrados:
i) superiores (os imperadores, os quais podiam julgar em qualquer
instância, mas também eram a instância máxima, e os praefecti pretorii);
ii) ordinários (os magistrados, os prefeitos de Roma e de Constantinopla
e os governadores das províncias);
iii) os pedâneos (juízes de pequenas causas, que ficavam na parte
anterior do fórum e apreciavam as causas mais magistrados as causas mais complexas). APERFEIÇOAMENTO DA REPRESENTAÇÃO ● A partir de Justiniano, surgiu a figura do 'procurator' ou representante para a lide, a quem uma pessoa confere poderes para representá-lo e agir em seu lugar. ● Podiam representar tanto o autor quanto o réu. ● Os advogados começaram a se reunir em corporações, constituindo uma classe social de destaque, com maiores prerrogativas. ● Eles participavam também do rateio das custas processuais (sportulae), juntamente com os serventuários da justiça. TRAMITAÇÃO PROCESSUAL ● O processo tramitava totalmente perante o magistrado. ● O autor apresentava o pedido (libellus conventionis) ● O juiz manda fazer a citação (litis demonstratio) por um “executor” ● O réu tinha prazo de 10 dias para contestar (libelus contraditionis) ● Perante o magistrado, as partes e advogados faziam um juramento de boa fé e tinham início os debates e produção de provas orais ● Concluídas as provas, o magistrado profere a “sententia” ● O perdedor podia interpor recurso (appelatio), que ia até o imperador ● Havendo apelação, a execução da sententia ficaria suspensa até a decisão final. EXECUÇÃO DA SENTENTIA ● A execução do julgado ficava ao encargo dos agentes judiciários. ● Admitia-se usar a força pública, em caso de recusa do executado ● A execução se dirigia aos bens do devedor, não à sua pessoa ● Caso o devedor não possuísse bens, podia ser preso em prisão pública ● Intervencionismo estatal na esfera dos negócios privados ● Este formato processual é adotado de forma geral em todos os países. ● A doutrina processualística brasileira é elaborada com base na tradição romanista, trazida para cá pelos portugueses. ● Após a queda do Império Romano, o Direito Romano continuou sendo utilizado em toda a Europa e no Oriente Médio.
Programa de Combate Ao Absenteísmo Do Médico Do Trabalho DR Thomas Eduard Stockmeier, PHD em Medicina Ocupacional Pela ANAMT, Publicado em Março de 2005.