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Descrição
Propósito
Objetivos
Módulo 1
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Educação de jovens e adultos e a diversidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02976/index.html#
Diversidade
Reconhecer a diversidade como princípio norteador da EJA.
Módulo 3
Inclusão e tecnologia
Relacionar a inclusão dos estudantes dessa modalidade com as
práticas avaliativas e novas tecnologias na EJA.
Introdução
Qual é a relação entre a EJA e a educação popular? Você já
pensou sobre isso?
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!
Educação para o povo
Vamos começar conhecendo o conceito de educação popular. Ele vai
aparecer algumas vezes aqui e é bom ouvir os professores Rodrigo
Rainha e Nathália Serenado.
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"
Os sujeitos que são público-alvo dessa
modalidade de ensino
"
O contexto sociopolítico da educação
fundamental no Brasil
"
O silenciamento histórico de milhares de
sujeitos dos processos educativos
É importante para o nosso processo de reflexão saber que cada um
tem suas experiências pessoais. Portanto, abrimos aqui um
momento para um relato, a fim de que possa aproximar as suas
histórias de tantas outras.
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(Experiência do autor)
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IBGE
Reflexão
BNCC
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Competência 1: Conhecimento #
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Competência 4: Linguagem #
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mais fácil este ano, mas acho que isso tudo não é para
mim!”. Aquele seria seu último ano, ele demostrava diversas
insatisfações por estar crescendo e a todo momento
perceber o fluxo das turmas, os colegas passavam e ele
continuava na mesma série. Por mais que eu conversasse
com ele sobre o direito de ele estar naquele lugar e que nós
enquanto professores deveríamos oferecer um ensino
adaptado à sua realidade, ele demonstrava constrangimento
e uma sensação de não pertencer àquele espaço.
Competência 7: Argumentação #
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E x e geral
m p l o da
d a BNCC.
c o m p e tUma
ê n c i aansiedade
6 : Tr a b a lpor
h o eresultados,
p r o j e t o d epor
v i d aconstruir
modelos e por não observar aqueles que estão apagados
em seus processos de aprender e ensinar.
!
A vida do meu aluno Daniel
Quantos alunos iguais ao Daniel existem por aí? Com quantos você
esbarrou? Isso se repete cotidianamente com muitos jovens e adultos
que percebem no trabalho uma alternativa aos percalços vividos
durante sua vida escolar. Percebemos uma visão equivocada de que o
trabalho oferece aos alunos uma sensação de emancipação e de
garantia de direitos. Mas será que todos os alunos da EJA conquistarão
seus objetivos nesse mercado?
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Mão na Massa
Questão 1
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A reflexão proposta
Q u e s t ãéo um
2 convite para problematizar a ausência dessa modalidade de ensino e
seu silenciamento na Base Nacional Comum Curricular, além de destacar o alijamento da EJA.
Ao ingressar numa turma de EJA, os estudantes podem revisitar
suas memórias e encontrar novas relações de afeto com o mundo
da leitura. Nessa nova experiência com a escola, podemos dizer
que:
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Na EJA, os estudantes poderão fazer uma leitura crítica de suas primeiras tentativas de
ingressar no universo
Q u e s t ã o da
3 leitura e restabelecer uma arqueologia da leitura que seja pautada nas
novas experiências que serão construídas nessa modalidade de ensino.
Numa sala da EJA, foi escrita pela professora a palavra “coletivo”.
Nesse momento, as histórias de vida começaram a se encontrar.
Numa turma que começava com alunos de 15 anos e com
trajetórias distintas, eles entenderam que aquele lugar, aquela sala,
era um espaço de todos. Quando a BNCC silencia esse aspecto da
EJA, podemos dizer que:
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Ao estruturar o ensino regular e pensar numa concepção de educação espiralada, a BNCC não
faz uma leitura
Q ucrítica
e s t ã o dos
6 alunos que não serão atendidos por essa proposta. Além disso, não
se propõe a romper com as estruturas clássicas de exclusão presentes nas escolas.
A BNCC propõe a construção de um currículo que integre os alunos
ao mercado de trabalho. Podemos dizer que esse desejo serve
para?
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Teoria na prática
Ao longo deste módulo compartilhamos experiências acerca da
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Para cada uma das letras do nome, escreva uma palavra ou uma
frase e crie um texto que traga a legitimidade das histórias de
vida dessas pessoas para a educação de nosso País.
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A proposta deQuestão
BNCC de2 produzir um aluno apto ao mercado de trabalho insere na educação
regular uma pressão por um desenvolvimento pedagógico linear.
A Educação de Jovens e Adultos é uma iniciativa popular e coletiva.
As práticas e os currículos são pautados nas narrativas e nas
histórias de vida dos discentes. Qual o impacto direto da ausência
desse currículo coletivo na BNCC?
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Olhar para os sujeitos que foram excluídos da educação regular seria uma oportunidade de
rever as diretrizes das políticas públicas em educação. No movimento de ignorar as
historicidades desses sujeitos, o ensino continua fomentando as evasões e criando
entrelugares na educação.
+++++
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2 - Diversidade
Ao fim do módulo, você será capaz de reconhecer a diversidade como princípio
norteador da EJA.
!
Ser educador popular
Assista agora a uma conversa entre os professores Rodrigo Rainha e
Nathália Serenado sobre suas experiências como educadores
populares.
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Reflexão
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Você pode pensar, citar uma estrela não é muito ousado? Acredito
que não, devido à grandiosidade das histórias de vida e da
necessidade de investigar a complexidade. Cada aluno precisa ser
valorizado em sua subjetividade e no reconhecimento de seus
valores.
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Estive numa sala por mais tempo, uma que produzia um mural
sobre Carolina Maria de Jesus, conversei com eles sobre minha
relação afetiva com a escritora, o fato de ela se parecer muito com
minha mãe e participei da construção do mural.
Carolina Maria de Jesus (1914-1977) autografando seu livro Quarto de Despejo em 1960.
Algo que não compartilhei com vocês era o fato de muitos alunos
acreditarem que eu seria um colega novo de classe e que isso era
como um sinal de acolhimento, eles sorriam e diziam apenas, “seja
bem-vindo”. Acredito que até hoje a professora não entendeu os
percursos práticos da diversidade.
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Mão na massa
Questão 1
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Ao cedermos Qpara
u e s tas
ã overdades
3 viciosas sobre o outro, rumamos para a concepção
preconceituosa e limitadora das representações sociais.
Uma professora da EJA recebeu vários relatórios dos alunos que
vieram de uma escola regular. Ela levou em consideração todos os
apontamentos dos colegas e não deu oportunidade para os alunos
contarem as suas histórias. Os relatórios foram aceitos como
verdade absoluta e fator determinante da identidade de cada um
dos novos alunos. Sobre essa situação, é correto dizer que:
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Ao (re)afirmarQsuas
u e s t ãidentidades,
o5 os alunos possuem mais uma oportunidade de se estabelecer
na educação formal.
Ao dizer que o crescimento do público-alvo mais jovem da EJA é
um mecanismo de silenciamento das diversidades, afirmamos que:
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Podemos dizer
Q uque
e s t ãesse
o 6 processo é uma falha na inclusão das diversidades no cotidiano do
ensino regular.
Qual é a relação entre a EJA e os movimentos de evasão/fracasso
escolar do ensino regular?
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Podemos dizer que esse processo é uma falha na inclusão das diversidades no cotidiano do
ensino regular.
!
Comentando as questões
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Teoria na prática
Observe o esquema abaixo e, para cada ponto (Protagonismos,
Diversidade e Novos olhares), descreva uma sugestão para
colocá-lo em prática. Caso tenha algum exemplo de uma
experiência vivida ou observada, vale também!
!
Refletindo: onde nós estamos
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Entender a diversidade é perceber que as identidades dos alunos da EJA foram excluídas da
educação regular e que esse é o momento de dialogar com suas histórias para promover uma
inclusão educativa efetiva.
+++++
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3 - Inclusão e tecnologia
Ao fim do módulo, você será capaz de relacionar a inclusão dos estudantes dessa
modalidade às práticas avaliativas e novas tecnologias na EJA.
!
Qual é o papel do mundo digital na
educação popular?
Vamos ver agora relatos de experiência na área.
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(TAKAHASHI, 2000)
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Perguntei como eles escreviam e todos disseram que era mais fácil,
por ter o corretor ortográfico, e que havia uma função de
transformar o áudio em texto. Compartilharam comigo as suas
ferramentas e disseram que utilizam essas estratégias para se
comunicarem também com seus familiares e com os colegas de
trabalho.
Primeiro passo
Abandonar o preconceito geracional, nem sempre o jovem é
familiarizado com a tecnologia ou o adulto não conhece os novos
recursos.
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Segundo passo
Construir uma relação associada entre a alfabetização que
emancipa a EJA e a utilização das ferramentas tecnológicas.
Terceiro passo
Identificar os mecanismos sociais de exclusão e potencializar o
acesso daqueles que são historicamente alijados dos processos de
pensar e produzir conteúdo tecnológico.
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(OLIVEIRA, 1999)
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Exemplo
Minha avó sempre conta que foi aluna do MOBRAL e que isso trazia
uma série de preconceitos para a vida dela, e que lá ela não
conseguiu aprender nada, apenas a escrever o primeiro nome.
Cresci ouvindo seus relatos sobre essa política pública e de como
ela não atendia aos interesses dela enquanto pessoa adulta que
sonhava com sua alfabetização.
MOBRAL
(FGV, 2020)
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ENCCEJA
“I‒ Construir uma referência nacional de autoavaliação para jovens e adultos por meio de avaliação de competências e
habilidades, adquiridas no processo escolar ou nos processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência
humana, no trabalho, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais;
II – Estruturar uma avaliação direcionada a jovens e adultos, que sirva às Secretarias de Educação para que procedam à
aferição de competências e habilidades dos participantes, de conclusão no nível de Ensino Fundamental, nos termos do artigo
38, §§ 1º e 2º da Lei 9.394/96 (LDB); 1
III – Oferecer uma avaliação para fins de classificação da correção do fluxo escolar,
IV – Construir, consolidar e divulgar banco de dados com informações técnico-pedagógicas, metodológicas, operacionais,
socioeconômicas e culturais que possa ser utilizado para a melhoria da qualidade na oferta da Educação de Jovens e Adultos
e dos procedimentos relativos ao Exame;
V‒ Construir um indicador qualitativo que possa ser incorporado à avaliação de políticas públicas da Educação de Jovens e
Adultos.” (D.O.U., 2008)
Relembrando
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"
Maiores informações sobre os resultados
do ENCCEJA
"
A problematização dos pressupostos
ideológicos
"
Os impactos regionais de sua aplicação
Os Fóruns de Educação de Jovens e Adultos também trazem a
crítica da validade pedagógica desse exame, como uma avaliação
externa nessa perspectiva pode impactar diretamente no cotidiano
das salas de aula.
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Um diálogo distante do fim
Um exercício que convido vocês a fazerem, sim, mais um exercício, é
entender a diversidade e a função de cada um dos processos
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Avaliação formativa
Esta avaliação é um movimento coletivo em que os professores e
os alunos constroem ferramentas para mensurar de maneira
coletiva o que foi aprendido. O professor só conduz esse processo
de maneira efetiva se pensar no impacto negativo de uma
classificação irresponsável sobre esses alunos.
Avaliação externa
Podemos utilizar os dados dessas avaliações em nossas salas de
aula, entendendo que são apenas amostragem do que foi aprendido
e ensinado. O professor pode fazer uma leitura dos dados
nacionais, regionais e locais e fazer contextualizações com a sua
turma. O foco não precisa estar nos resultados dos alunos de
maneira individual, mas na observação constante do impacto de
suas intervenções em comparativo com outras realidades. Entender
a dimensão limitada dos dados estatísticos é o nosso desafio e
proteger nossos alunos de uma associação desses resultados a
seus processos de educação, a nossa missão.
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Mão na massa
Questão 1
Precisamos olhar com muito cuidado para os resultados e todos os processos que envolvem
as avaliaçõesQexternas,
u e s t ã o 2 afinal de contas, elas representam uma construção de dados
estatísticos que servem apenas como uma amostra do cotidiano escolar.
Podemos dizer que o ENCCEJA funciona como uma atração
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Ao certificar de
Q umaneira
e s t ã o 3 direta os estudantes, os jovens podem ver nesse exame uma saída
para os processos crônicos de exclusão educativa.
Podemos dizer que as novas tecnologias podem:
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Ao utilizarmosQ uas
e stecnologias,
tão 4 é preciso compreender o risco de excluir de maneira recorrente
os nossos alunos da EJA.
Como o olhar atento e apurado das realidades sociais pode
favorecer a utilização das novas tecnologias na EJA?
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Ao observar aQforma
u e s t ã ocomo
5 cada um dos alunos se relaciona com as tecnologias, o professor
pode propor intervenções individuais e coletivas que respeitem as suas subjetividades.
Sobre a construção de um movimento de autoria e de apropriação
dos alunos pelas novas tecnologias, é correto dizer:
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Os alunos da EJA
Q u e ssão
t ã o autores
6 e sabem utilizar as tecnologias como ferramenta! Precisamos
dialogar com essas autorias e utilizar esses recursos em nosso cotidiano.
Em nossa conversa, abordamos a utilização das tecnologias como
um recurso sociopolítico. De acordo com o texto e com as suas
observações, o que esse conceito pode dizer sobre a Educação de
Jovens e Adultos?
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Entender as tecnologias como recurso é uma forma de perceber que elas podem servir para a
inclusão social e política de milhares de alunos. Mas precisamos ter um olhar atento para os
aspectos políticos dessa utilização.
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Teoria na prática
No esquema que apresento a seguir, estão articulados os
pontos centrais das políticas de avaliação externa da EJA.
Quando falamos dos dados levantados pelo Movimento
Brasileiro de Alfabetização e do ENCCEJA, estamos dizendo que
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Educação de jovens e adultos e a diversidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02976/index.html#
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Educação de jovens e adultos e a diversidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02976/index.html#
alunos da EJA?
As novas tecnologias
Questão 2precisam ser aliadas de todo o movimento de aprendizagem, assim elas
são utilizadas como mais um recurso na inclusão dos estudantes.
Temos o desafio de promover uma avaliação que seja centrada na
permanência de nossos alunos no ensino formal. Leia o esquema
abaixo e procure o item que não fez parte de nossa conversa sobre
esse tema.
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Educação de jovens e adultos e a diversidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02976/index.html#
C Avaliação formativa.
Os resultados das avaliações externas precisam ser lidos como um retrato que não define
diretamente a relação dos alunos com a aprendizagem.
+++++
Considerações finais
Os pontos que apresentamos abordaram as políticas públicas pela EJA
e uma definição do não lugar delimitado pela ausência dessa
modalidade na EJA, ponto que denota muitos debates e que evidencia
uma incoerência direta entre as competências gerais.
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Educação de jovens e adultos e a diversidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02976/index.html#
Por fim, falamos do aspecto inclusivo que pode ser limitado pela
avaliação e na urgência de inserção das novas tecnologias na
educação. Seus processos precisam estar presentes em nossas salas
de aula, mas de maneira crítica e pautada na diversidade sociopolítica
desse grupo. Nosso papel depois desta conversa é manter os olhos
abertos e realizar análises críticas constantes desses instrumentos.
,
Compartilhando vivências
Agora, os professores Rodrigo Rainha e Nathalia Serenado encerram o
tema compartilhando vivências.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular.
- Baixar conteúdo
Brasília: Ministério da Educação, 2018.
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Educação de jovens e adultos e a diversidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02976/index.html#
Explore +
Para saber mais sobre os assuntos tratados neste conteúdo, assista:
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Educação de jovens e adultos e a diversidade https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02976/index.html#
Leia:
O artigo Analfabetismo cai, mas Brasil ainda tem 11 milhões sem ler e
escrever, de Mariana Tokarnia, Agência Brasil-EBC.
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DESCRIÇÃO
Um breve histórico sobre o ensino de jovens e adultos no Brasil, com foco nas principais
iniciativas e nos precursores que inauguraram a modalidade no Brasil.
PROPÓSITO
Apresentar uma visão retrospectiva da modalidade de educação de jovens e adultos no
Brasil, demonstrando a relação entre as ações e os contextos precursores da EJA.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
INTRODUÇÃO
A educação de jovens e adultos pode ser definida como o conjunto de organização das
políticas educacionais voltadas para adolescentes e adultos fora da chamada idade-série
apropriada. Foi pensado historicamente como um processo de “recuperação” dos sujeitos
que não tiveram condições de acesso à educação em idade apropriada por questões
familiares, sociais e econômicas, devendo considerar a regionalidade de cada problema.
Por isso, ela ocorre desde as fases de alfabetização de jovens e adultos, em Letras ou em
Matemática, até as fases finais do ensino básico — segundo segmento do fundamental e
ensino médio.
A partir de agora, você verá as estruturas das fases da educação de jovens e adultos no
Brasil (EJA). Primeiro, realizaremos uma retrospectiva ampla, em seguida explanaremos
sobre as duas fases da EJA. Isto é, teremos um primeiro movimento para a formação de
mão de obra e a institucionalização da EJA, e, posteriormente, para a educação de adultos
como um processo de cidadania, percebendo-os como os dois principais vieses da tradição
dessa modalidade de ensino no Brasil.
MÓDULO 1
Ainda que estivesse vivendo uma “revolução” com a chegada de Vargas em 1930, esse
movimento é fruto de uma construção de identidade e de intensificação da participação
popular.
E qual foi o motivo?
É simples! Cada vez havia mais pessoas na cidade, pois o processo de urbanização do
Brasil já havia sido iniciado e continuaria por muitos anos.
A cena cultural e educacional brasileira estava tomada por novos debates e caminhos.
⋆ EXEMPLO
MOVIMENTO TENENTISTA
Em um Brasil em que a absoluta maioria estava fora da educação formal, os poucos que
tinham a possibilidade de frequentar a escola estavam na vanguarda dos debates
internacionais sobre escola, metodologias e qualidade da educação.
Entre as décadas de 1920 e 1930, personalidades como Lourenço Filho (1897-1970), Anísio
Teixeira (1900-1971) e Fernando de Azevedo (1894-1974) criaram o movimento Escola
Nova, que reunia educadores brasileiros baseados na pedagogia de Dewey (1859-1952),
em que o aluno ganha protagonismo na formação. Propunha uma educação menos centrada
na figura do professor, já pensando a ideia de educar como um movimento construído a
partir da interação entre saberes diversos.
Também surge nesse período a ideia de uma escola integral, que será defendida e
experimentada por Anísio Teixeira na conhecida Escola Parque, em Salvador.
#
O CENTRO POPULAR DE EDUCAÇÃO CARNEIRO
RIBEIRO FOI O ESPAÇO ONDE ANÍSIO TEIXEIRA
INTRODUZIU E EXPERIMENTOU AS SUAS
CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO. A SUA LUTA MAIOR
CONSISTIA NA BUSCA DA CONQUISTA DA
UNIVERSALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA E
GRATUITA. EM SEUS TRABALHOS RESSALTOU A
IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO ESCOLAR PARA
INTEGRAR O PAÍS NA CIVILIZAÇÃO LETRADA.
ENTENDIA A ESCOLA PÚBLICA COMO UMA
MÁQUINA PARA A PRODUÇÃO DA DEMOCRACIA
ALMEJADA, CONSIDERANDO-A COMO O MAIS
SIGNIFICATIVO INSTRUMENTO DE JUSTIÇA SOCIAL
E DE CORREÇÃO DAS DESIGUALDADES
PROVENIENTES DA POSIÇÃO E DA RIQUEZA.
CONSIDERAVA QUE O INVESTIMENTO NA
EDUCAÇÃO REPRESENTAVA DESENVOLVIMENTO
SOCIAL E PESSOAL, TENDO COMO PRODUTO,
RESPOSTA OU CONSEQUÊNCIA A ASCENSÃO
SOCIAL, COMO ACREDITAVAM OS LIBERAIS
NAQUELA ÉPOCA.
(CORDEIRO, 2001)
À época, ainda era predominante, em diversas partes do mundo, a ideia de que a educação
escolar deveria se voltar para as elites, sendo incumbência de cada família, cabendo a esta
definir quem estudaria, como e às suas próprias expensas, ou seja, despesas. Nas
Constituições brasileiras desse período aparece a educação primária como gratuita, laica e
acessível a todos, dever do Estado e das famílias, e as mais abastadas deveriam contribuir
solidariamente para a chamada Caixa Escolar — modelo assistencialista mantido por
beneméritos. Outros níveis educacionais só seriam supridos pelo Estado nos casos de
comprovada falta de recursos dos interessados.
$ COMENTÁRIO
Após a Revolução de 1930, o Brasil terá uma sequência de três Constituições, uma
“Revolucionária”, depois uma Estado Novista – na ditadura de Vargas – e outra na
democratização com Dutra, mas a linha mestra sobre a educação como um elemento
fundamental foi mantida.
% ATENÇÃO
Até esse momento, todo o esforço de organização da educação nacional havia sido pensado
e feito para atender ao público definido como “em idade escolar apropriada”. Isso significava
sobretudo as crianças. Assim, a partir daquele censo começou-se a discutir a necessidade
de políticas educacionais voltadas para a população que não havia podido frequentar
escolas ao longo de sua infância e/ou juventude.
Seu princípio inicial justifica-se quando pensamos que, se há demanda educacional pela
dinâmica social — em outras palavras, se a educação atendia a um número pequeno de
pessoas, não era um problema que um contingente de adultos não tivesse esse
conhecimento —, a partir do momento em que passa a ser necessário um maior número de
letrados, ainda que de forma básica, a massa de adultos que não tinha tal acesso se torna
um problema.
Fonte: Shutterstock.com
REFLEXÃO
⋆ EXEMPLO
Pense em uma grande fábrica, com centenas de trabalhadores. Agora imagine que eles não
sabem ler. Como seria para dar ordens a todos? Não seria possível que o patrão,
literalmente, falasse com todos, mas se todos soubessem ler, ele poderia disponibilizar as
regras em papel para cada um.
Ou, então, imagine que não soubessem contar. Como seria para operar as máquinas?
Tal situação trouxe uma demanda diferente das que existiam antes e, por isso, era
necessário cobrar do governo ações para ofertar algum tipo de formação.
Lembrando que éramos um país de mão de obra escrava e que vinha, desde o fim do século
XIX, buscando a ampliação — em especial nos grandes centros urbanos — de uma nova
mão de obra, a imigrante. No entanto, muitos imigrantes também tinham baixa escolaridade,
como os portugueses, italianos e espanhóis que chegaram ao Brasil naquele momento.
Eles, do mesmo modo, também vinham do campo e quase não tinham educação formal.
Aqui, contudo, assumiam condições superiores nas fábricas, passando à frente dos locais —
analfabetos e marcados pela “mestiçagem”.
Isso se deve muito ao fato de que não havia uma base de educação infantil e/ou de
educação fundamental. O cenário era composto por trabalhadores, ex-escravos e
imigrantes, que, na maior parte dos casos, não tinham contato algum com educação,
escolas, formação ou capacitação.
MESTIÇAGEM
Fonte: Shutterstock.com
Por isso, era necessário implementar um ensino que recuperasse e levasse aquele enorme
número de analfabetos a serem letrados. Era necessário criar algo que oferecesse uma
base mínima para que todas essas pessoas pudessem trabalhar.
Nosso crescimento urbano solidifica-se nas décadas de 1930 e 1940, quando é necessária a
consolidação das leis trabalhistas. Nesse período também passa a ser uma demanda
funcional e necessária a criação de ensino técnico e de formação para aqueles adultos que
já estavam incorporados ao mundo do trabalho.
% ATENÇÃO
O problema era nacional e estava em processo de expansão, fazendo com que o governo
não tivesse alternativa a não ser criar os primeiros projetos nacionais voltados para a
educação.
Podemos destacar ações que ocorreram no governo Getúlio Vargas, mantidas durante o
governo Dutra e fortalecidas nos anos de 1950 e 1960, no retorno de Vargas. Depois, nos
governos de Juscelino Kubitschek, de Jânio Quadros e de João Goulart. Em todos esses
movimentos havia uma ideia de que era necessário um investimento diferenciado em
educação.
Getúlio Vargas
(1882-1954)
Fonte: Governo do Brasil / Wikimedia commons / Domínio público
(1883-1974)
(1902-1976)
Jânio Quadros
(1917-1992)
Fonte: Governo do Brasil / Wikimedia commons / Domínio público
João Goulart
(1919-1976)
Por um lado, para que se pudesse pensar e ampliar o Brasil, com o propósito de aumentar a
qualificação da população e gerar um crescimento econômico. Por outro, o projeto que
gerasse melhoria da imagem do Brasil no mundo.
Fonte: Shutterstock.com
REFLEXÃO
Não havia professores suficientes para iniciar um projeto dessa envergadura. Não havia
dinheiro, ao menos no limite do interesse político, para gerar um projeto desse tipo com
profissionais de educação formados.
Para se ter um mecanismo de multiplicação focado nas demandas do trabalhador, foi criado
um método específico, com foco na escala, para que pudesse alcançar o máximo de grupos
com o menor custo possível. O programa foi implementado principalmente a partir de
professores leigos, que mediante uma primeira proximidade com as letras, recebiam
treinamentos, vídeos e materiais que deveriam ser multiplicados para cada uma das
cidades.
O objetivo era que essas pessoas obtivessem suas certificações provando que, pelo menos,
não eram mais analfabetos, de modo que pudessem votar. Assim, elas se formavam no
Mobral.
% ATENÇÃO
Fica mensurada também a ideia de uma escola que era fortemente excludente. Jovens
que não obtinham êxito escolar, que não conseguiam passar ou cursar todas as etapas de
ensino dentro de sua faixa etária, eram retirados da escola — expulsos, reprovados —,
gerando altos índices de evasão.
Naquele momento, alunos com dificuldade eram separados e encaminhados para outras
formas de ensino. Estudantes com problemas de indisciplina eram enviados para centros
como a FUNABEM, pois formar de verdade era o menos importante. O mais recorrente era,
simplesmente, concluir. Daí, o grande número de pessoas que tiveram oportunidade de
estudar, mas não internalizaram seus estudos.
FUNABEM
A Fundação do Bem Estar do Menor foi criada pela ditadura civil militar com grandes
campanhas televisivas que buscavam um ambiente mais sadio para crianças que os
pais não tinham condições de criar, crianças marcadas por delitos e jovens infratores.
Apesar de ter sido criada como um projeto de educação, acabou se tornando um
modelo de prisão infantil.
Fonte: Shutterstock.com
REFLEXÃO
Com muito mais gente nos centros urbanos, e muitos sem conseguir concluir os estudos,
não havia uma política clara de inclusão. Ou havia uma escola separada para quem
possuía necessidade educacional especial ou não havia políticas que permitissem dinâmicas
de inclusão. Dessa maneira, um contingente enorme tornou-se alvo de outra
modalidade de educação, a educação de jovens e adultos.
Durante os anos 1960, 1970 e 1980, era um contingente em ampliação, que crescia
anualmente. Quando a educação foi efetivamente popularizada para as crianças, a demanda
urbana de educação de jovens e adultos foi multiplicada em progressão geométrica.
Assim, uma vez consolidado como um problema, o governo passou a interpretar que os
desafios a serem vencidos precisavam passar por essa modalidade, obtendo um espaço
singular — ainda que o governo não a considerasse uma demanda obrigatória.
#
[...] ISSO CONTRARIA A CONCEPÇÃO DE
EDUCAÇÃO COMO FORMAÇÃO HUMANA, QUE
PRESSUPÕE APRENDIZADOS DE FORMA
CONTINUADA AO LONGO DE TODA A VIDA,
ENTENDENDO QUE, ENQUANTO HÁ VIDA, HÁ
POSSIBILIDADE DE FORMAÇÃO/TRANSFORMAÇÃO.
Se considerarmos todas as bases dos censos educacionais dos últimos 30 anos, notamos
um trajeto:
SUPLETIVO
PRIMEIRO
As principais escolas de redes importantes, como do Rio de Janeiro e de São Paulo, tiveram
um notório incremento no oferecimento de novas modalidades. Entendia-se que era um
momento de reparação histórica, mas com debates intensos sobre custo e qualidade. Esse
cenário, porém, não tardaria a avançar para um segundo movimento.
SEGUNDO
Esse segundo movimento, por sua vez, é efeito do primeiro: a ampliação do acesso e a
obrigatoriedade da rede para as crianças geraram grandes mudanças na EJA. A
popularização da educação básica, a preocupação de diminuir a evasão escolar e a redução
da distorção idade-série contribuíram para uma menor demanda da educação de jovens e
adultos.
Esse é um primeiro panorama, rápido e ilustrativo, que fornece fundamentos para que
possamos, a partir daqui, compreender de maneira específica cada momento, demanda,
metodologias e dinâmicas relacionados à educação de jovens e adultos.
No módulo 2, vamos conhecer um dos autores que ajudaram a fundamentar esse processo
no Brasil: Lourenço Filho e a institucionalização da educação de jovens e adultos no Brasil!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) As afirmativas I e II.
B) As afirmativas II e III.
C) As afirmativas I e III.
D) As afirmativas I, II e III.
GABARITO
i. Educação de todas as pessoas que atingiram idade superior à idade prevista para o
ensino regular.
ii. Política pública voltada ao público que não adquiriu certificação do ensino regular
na idade apropriada.
iii. Processo relativo ao contexto brasileiro, em que o crescimento das cidades exige
ações para oferecer formação a potenciais operários.
A educação de jovens e adultos é uma política pública voltada àqueles que não tiveram
condição de desenvolvimento na idade apropriada. Teve fases diversas no Brasil, primeiro
voltada ao mercado de trabalho, como apontam as alternativas II e III.
Falaremos primeiro sobre sua biografia no intuito de entendermos quem ele foi e como atuou
para a implementação dessa política educacional na história brasileira. Posteriormente,
trataremos da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos, por ele gerida como
política de governo a partir de fins da década de 1940.
O intelectual foi muito criticado por sua participação nas políticas educacionais do governo
Vargas durante o Estado Novo. Porém, ele entendia que precisava estar no centro do poder
para implementar reformas que considerava essenciais à educação brasileira, em especial
no sentido de democratizar o acesso de todos à educação formal.
Após duas décadas de construção e atuação no campo da educação pública para crianças,
incluindo seu trabalho na expansão e consolidação da área de formação de professores,
Lourenço Filho tornou-se o diretor geral da Campanha de Educação de Adolescentes e
Adultos (CEAA) de 1947 a 1950.
De acordo com Costa e Araújo (2011), no momento político vivido à época no país com a
redemocratização pós-Estado Novo, “[...] a CEAA foi concebida como a primeira
campanha oficial de caráter nacional para o ‘combate’ ao analfabetismo”.
#
A CEAA TEVE GRANDE PENETRAÇÃO EM
PRATICAMENTE TODOS OS ESTADOS DA
FEDERAÇÃO. COM FIRME COORDENAÇÃO DE
LOURENÇO FILHO, ESTABELECEU CONVÊNIOS COM
MUITAS SECRETARIAS DOS ESTADOS E
MUNICÍPIOS. NÃO SE LIMITOU A ATUAR NAS
CAPITAIS, ATINGIU MUITAS CIDADES DO INTERIOR.
SIGNIFICOU, AO MESMO TEMPO, UM MOVIMENTO
DE ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS E UM
MOVIMENTO DE EXTENSÃO DA ESCOLARIZAÇÃO
NO MEIO RURAL. EMBORA DEFININDO-SE COMO
EDUCAÇÃO DE ADULTOS, A CAMPANHA LIMITOU-SE
À ALFABETIZAÇÃO; FOI MESMO MUITO CRITICADA
POR TER SE TORNADO UMA “FÁBRICA DE
ELEITORES”. ESTAVA-SE FAZENDO A
RECOMPOSIÇÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS,
PREPARAVAM-SE ELEIÇÕES, A EDUCAÇÃO DE
ADULTOS RESTRINGIA-SE À ALFABETIZAÇÃO E O
PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO RESTRINGIA-SE A
ENSINAR A ASSINAR O NOME PARA SE OBTER O
TÍTULO DE ELEITOR; “FERRAR O NOME”, COMO
PAULO FREIRE CRITICOU MAIS TARDE.
A campanha tinha grande apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação e a
Cultura (Unesco), órgão da então recém-fundada Organização das Nações Unidas – ONU,
que tinha um grande projeto de educação de base voltado para a promoção da educação
em seus países-membros.
Ainda segundo Fávero, por educação de base entendia-se (e ainda se entende) aquela que
possibilita a escolarização primária dos que não puderam tê-la na chamada idade
apropriada: capacidade de ler, escrever, elaborar contas simples, do cotidiano; noções
básicas de saúde e higiene, além de moral, civismo e política. As motivações individuais
(que também se tornam coletivas) para a alfabetização de adultos pouco mudaram ao longo
das décadas, como:
⋆ EXEMPLO
Ler a Bíblia, ler e escrever cartas sem depender de filhos ou amigos (nos dias atuais, o uso
do celular e suas incontáveis aplicações) e tirar título de eleitor, visto que desde o Império
até 1985 aos analfabetos era vetado o direito ao voto.
#
[...] DESDE A CEAA SE PERCEBE QUE ESCOLAS
IMPROVISADAS, COM PROFESSORES
IMPROVISADOS, MESMO USANDO MATERIAL
DIDÁTICO ESPECÍFICO, NÃO DÃO CONTA DE UM
PROCESSO EDUCATIVO TÃO AMPLO.
O material didático então produzido e largamente utilizado ainda tem uma forte base na ideia
de adaptação dos materiais preparados para a alfabetização de crianças.
Essa questão perdurou quase até o final do século XX nos programas de alfabetização de
adultos no Brasil. Durante um curto espaço de tempo, sob influência das ideias de Paulo
Freire, é que houve um movimento de reestruturação desse tipo de noção, interrompido
pelos anos da ditadura militar — que retoma as antigas cartilhas e os métodos dos primeiros
anos de alfabetização de adultos como política pública.
Outro desafio que se impõe é como organizar a educação para adultos no pós-alfabetização.
A ação da CEAA, na prática, acabou restrita às ações de alfabetização e educação de base,
conforme definida anteriormente.
Fonte: Shutterstock.com
REFLEXÃO
Até meados dos anos 1950, acontecem, em sequência à CEAA, a CNER (Campanha
Nacional de Educação Rural), a CNEA (Campanha Nacional de Erradicação do
Analfabetismo), o Sirena (Sistema Rádio Educativo Nacional) e a Mobilização Nacional
contra o Analfabetismo.
No final dos anos 1950, é criada a Campanha de Educação Rural, uma ação conjunta dos
Ministérios da Educação, Saúde e Agricultura que, nos dizeres de Fávero (2009):
#
COMEÇA A SER REALIZADO UM TRABALHO
INTENSIVO JUNTO ÀS “COMUNIDADES RURAIS”,
ABORDANDO A EDUCAÇÃO SANITÁRIA, A HIGIENE
E A SAÚDE, A INTRODUÇÃO DE ALGUMAS
TÉCNICAS AGRÍCOLAS. EM PARTICULAR, SÃO
REALIZADAS CAMPANHAS DE ÁGUA FILTRADA E
FOSSA SANITÁRIA, ASSIM COMO O ATENDIMENTO
ÀS MÃES NO PRÉ E PÓS-NATAL. UM DE SEUS
GRANDES MÉRITOS FOI FORMAR EXCELENTES
QUADROS MÉDIOS, PRINCIPALMENTE PARA OS
TRABALHOS RELATIVOS AOS SETORES DA SAÚDE:
AGENTES SANITÁRIOS, PREVENÇÃO DA MALÁRIA,
TRATAMENTO DA ESQUISTOSSOMOSE ETC. NO
INÍCIO DOS ANOS DE 1960, ENCONTRAVAM-SE
ÓTIMOS TÉCNICOS TRABALHANDO NO MEIO
RURAL, EMBORA OS SERVIÇOS A QUE
PERTENCIAM ESTIVESSEM DESPRESTIGIADOS E
SEM VERBAS.
Fonte: Missão Rural de Educação de Adultos (Brasil, 1950)
! Atividades: Clubes agrícolas, setor agropecuário, recreação infantil e curso de
enfermagem do lar.
Essa campanha, em que pesem seus ótimos resultados no que diz respeito à melhoria da
vida e da estrutura social no meio rural, não cumpriu o principal objetivo, que era o de
erradicar o analfabetismo naquele grupo populacional. Portanto, mesmo tendo persistido por
vários anos, a CNER vai deixando de ser prioridade como maneira de alfabetizar adultos em
larga escala.
O Sistema Rádio Educativo Nacional (Sirena), além de servir de base para outras ações de
educação de adultos, permitindo inclusive um alcance muito maior de pessoas e lugares, era
uma nova proposta de radioeducação, a partir de iniciativas que já aconteciam desde a
década de 1920.
#
[...] O SIRENA É CONSTITUÍDO COMO UM SISTEMA
INTEIRO: SÃO CONTRATADOS PROFISSIONAIS DAS
ÁREAS DE EDUCAÇÃO, SAÚDE, AGRONOMIA E
VETERINÁRIA ETC.; SÃO PRODUZIDOS
PROGRAMAS EDUCATIVOS RADIOFONIZADOS
PELAS MELHORES VOZES DO BROADCASTING DA
RÁDIO NACIONAL (AS NOVELAS DA RÁDIO
NACIONAL SIGNIFICAVAM O QUE SIGNIFICAM HOJE
AS NOVELAS DA GLOBO, PARA TODO O BRASIL).
ESSES PROGRAMAS ERAM GRAVADOS EM DISCOS
DE ACETATO DE 12 POLEGADAS, DISTRIBUÍDOS ÀS
EMISSORAS CONVENIADAS E RETRANSMITIDOS NO
HORÁRIO OBRIGATORIAMENTE RESERVADO PARA
EMISSÕES EDUCATIVAS (NO PERÍODO DE 18:00H ÀS
18:30H). AS GRAVAÇÕES ERAM
RADIOFONICAMENTE BEM FEITAS, MAS SEU
CONTEÚDO ERA INCOMPREENSÍVEL PARA
ADULTOS ANALFABETOS QUE AS OUVIAM AO PÉ
DE RÁDIOS DE PILHA, EM ESCOLAS COM
INSTALAÇÕES PRECÁRIAS, ILUMINADAS POR
LAMPARINAS OU LAMPIÕES; ERA IMPOSSÍVEL
ENTENDER, POR EXEMPLO, AS AULAS SOBRE
MICRÓBIOS, ESCRITAS E PRODUZIDAS EM
LINGUAGEM TÉCNICA. O SIRENA CONSEGUIU
FAZER A CARTILHA DE ALFABETIZAÇÃO MAIS
BONITA, A PRIMEIRA EM CORES, MAS
DIDATICAMENTE A MAIS PROBLEMÁTICA QUE SE
TEM COMO HERANÇA DOS ANOS DE 1950: A
RADIOCARTILHA.
(FÁVERO, 2009)
Fonte: Shutterstock.com
Alguns desses programas e a radiocartilha traziam conteúdos que, por um lado, eram
infantilizados demais para o público adulto e, por outro, tinham temas e imagens que não
faziam sentido nem integravam a vida cotidiana de grande parte de seu público-alvo. Ainda
segundo Fávero, dada sua larga distribuição pelo país, o livro foi muito criticado e rechaçado
por todos os movimentos de cultura e educação popular dos anos 1960.
Ao longo da década de 1950, houve uma tensão entre os projetos de educação de adultos e
os de educação primária. As campanhas de alfabetização de adultos não surtiram o efeito
desejado de erradicação do analfabetismo no país, ainda que muitos avanços tivessem
acontecido em relação ao seu alcance.
Fonte: INEP
Porém, e uma vez mais, essas campanhas não conseguiram recursos nem profissionais
habilitados para que fossem transformadas em projetos nacionais, seja na forma de
educação primária para crianças ou na forma supletiva para a tão almejada erradicação do
analfabetismo no Brasil.
Fonte: Shutterstock.com
A primeira LDBEN foi finalmente promulgada em 1961, pelo presidente João Goulart, após
longos anos de debates e disputas no Congresso Nacional sobre seu conteúdo. Uma das
principais disputas, a partir da qual houve intensa mobilização da sociedade civil, foi sobre a
prioridade da escola pública em troca dos partidários da liberdade de ensino.
Então, a questão é: como os recursos públicos devem ser gastos na educação? Neste
ponto temos dois grupos. Veja:
Os recursos do Estado deveriam ser empregados na manutenção e na expansão das
escolas públicas, que deveriam ministrar ensino obrigatório, gratuito e laico.
Para os outros, esses recursos deveriam ser transferidos às instituições particulares, que
ministrariam o ensino conforme as orientações ideológicas das famílias, cabendo ao Estado
apenas ocupar o espaço não preenchido pela iniciativa privada.
Uma das importantes fontes para esses movimentos foi a conclusão apresentada por Paulo
Freire no 2º Congresso Nacional de Educação de Adultos, em 1958, quando ele afirma
que o problema do analfabetismo no Brasil é a situação de desigualdade social em que vive
a maior parte da população. Complementa dizendo que não haverá sucesso na luta contra o
analfabetismo sem encarar o problema da desigualdade e das más condições de vida da
população.
( RESUMINDO
Os programas de educação de jovens e adultos, como percebemos, têm uma longa história
em nossa sociedade. Esses programas aparecem em iniciativas populares, em projetos de
níveis governamentais diferentes e cada um tem uma história, que com certeza dialoga com
o que aqui expusemos.
Você conhece algum desses programas? Você sabe se o seu município tem alguma ação de
educação popular ou de educação de jovens e adultos? Já teve? Quando começou?
Conhecer e desenvolver educação depende também de sua ação. Pesquise e conheça —
sempre é um ótimo caminho!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Ele entendia que a educação deveria ser um direito humano fundamental de todos, a
qualquer momento da vida.
B) Para Lourenço Filho, era fundamental uma política educacional nacional que alcançasse
todas as crianças e se estendesse aos adultos analfabetos, porque disso dependia o
desenvolvimento do país como nação industrializada.
D) Lourenço Filho entendia que era fundamental democratizar o acesso à educação para
todos os cidadãos do país como política de segurança nacional, incentivando as classes
mais abastadas a pagar pela educação das classes populares.
E) Ele defendia que adolescentes e jovens deveriam ser alfabetizados para realizarem
atividades básicas da vida, como ler e escrever cartas, ler a Bíblia, executar operações
matemáticas básicas e aprender hábitos de higiene e saúde.
A) Foi uma campanha cujo maior objetivo era formar pessoas mais qualificadas para o
mercado de trabalho e que pudessem tirar seus títulos de eleitor.
B) Uma campanha idealizada pelo governo federal para tirar o país do atraso intelectual a
partir dos dados do censo de 1940, que apontou mais de 55% da população adulta e
economicamente ativa como analfabeta.
E) Uma campanha que visava instituir o voluntariado como prática comum nas ações de
educação supletiva no Brasil.
GABARITO
1. Qual afirmação melhor define as preocupações de Lourenço Filho com seu projeto
político educacional?
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Você conheceu um pouco do contexto e do olhar para a educação de jovens e adultos, como
ela surgiu no Brasil, quais papéis assumiu e o modo como suas modalidades voltadas para
trabalho e educação contribuíram para a formação da cidadania a partir de vários debates.
A ideia de que pessoas que não foram educadas na infância podem sê-lo depois e, por fim,
de que é um direito ter acesso à educação marca a nossa história. Uma das primeiras
iniciativas nesse sentido nos leva ao passado, mas a nada institucional. A institucionalização
só veio a partir dos anos 1920 e 1930, e teve Lourenço Filho como um de seus principais
nomes.
Certo é que, desde então, temas como movimentos pela educação de jovens e adultos e o
papel que essa educação deveria ofertar — melhores empregos, autonomia, cidadania —
têm sido debatidos e fazem parte do complexo quadro da educação brasileira.
FALA, MESTRE!
Mestres de diversas áreas do conhecimento compartilham as informações que tornaram
suas trajetórias únicas e brilhantes, sempre em conexão com o tema que você acabou de
estudar! Aqui você encontra entretenimento de qualidade conectado com a informação que
te transforma.
Política de Cotas
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, reflete sobre a importância da política de cota para a
diminuição da desigualdade social.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, reflete sobre a importância da política de cota para a
diminuição da desigualdade social.
Direitos das crianças, religiões de matriz africana e perseguição religiosa
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, relata o racismo existente em processos da vara de
infância e juventude envolvendo religiões de matriz africana.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, relata o racismo existente em processos da vara de
infância e juventude envolvendo religiões de matriz africana.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, compartilha suas memórias do período em que atuou na
vara de infância e juventude e o seu compromisso com a sua função.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, compartilha suas memórias do período em que atuou na
vara de infância e juventude e o seu compromisso com a sua função.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BARCELOS, L. B. Dimensões históricas, sociais e políticas da EJA – o âmbito legal: um
olhar sobre o passado e o presente. In: MEDEIROS, C. C.; GASPARELLO, A.; BARBOSA, J.
L. (orgs.). Educação de Jovens, Adultos e Idosos na diversidade: saberes, sujeitos e
práticas. Niterói: UFF/Cead, 2015.
EXPLORE+
Artigos:
Para saber mais sobre a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos, leia os artigos:
Lourenço Filho e a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA) no estado
do Espírito Santo em 1947, de Deane Monteiro Vieira Costa.
Para saber mais sobre a questão da EJA entre 1947 e 1967, leia o artigo: Memória da
educação de jovens e adultos (1947-1967), de Osmar Fávero.
Vídeos:
Pesquise vídeos da professora Cleuza da Silva Pulice. Em um deles, ela fala sobre
Lourenço Filho.
Veja o vídeo Lourenço Filho, Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo por Diana Vidal. O
documentário conta um pouco da história dos precursores do movimento da Escola Nova no
Brasil e que estiveram à frente das principais reformas educacionais do país. O programa é
conduzido pela Prof.ª Diana Vidal.
Site:
Vale a pena visitar o site do FÓRUM EJA. Lá você terá vídeos, textos e pesquisas.
CONTEUDISTA
Jéssica Ferreira
) CURRÍCULO LATTES
<
DESCRIÇÃO
A educação na perspectiva de Paulo Freire, destacando sua educação de adultos popular crítica e
voltada à transformação social, sua metodologia e suas formas pedagógicas, em especial, a da
esperança e da autonomia.
PROPÓSITO
Compreender o pensamento freireano, suas características, intencionalidades e possibilidades de
aplicação à educação de jovens e adultos (EJA), além dos processos históricos e sociais que
envolveram a produção da obra do autor, bem como sua atualidade.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Definir a proposta de uma educação de adultos popular formulada por Paulo Freire
MÓDULO 2
MÓDULO 3
Identificar características das proposições pedagógicas de Paulo Freire nas obras: Pedagogia da
esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido e Pedagogia da autonomia
INTRODUÇÃO
Paulo Freire? Por que estudar sobre Paulo Freire? Você provavelmente já deve ter ouvido falar
do autor, bem e mal, mas infelizmente poucos conhecem, de modo efetivo, seu trabalho e suas
contribuições. Paulo Freire é uma referência mundial para a área de Educação. Pouquíssimos
teóricos brasileiros alcançaram em sua área a notoriedade atingida por ele!
Além de um teórico fundamental, desenvolveu projetos em que buscou efetivamente testar, provar
e realinhar suas linhas pedagógicas. Seu compromisso fundamental: educação para todos e
educação que servisse para a emancipação do sujeito. Essas perspectivas parecem
recorrentes, mas até aquele momento, na década de 1960, não eram.
Paulo Freire, reconhecendo o campo teórico-prático que se notabiliza na Pedagogia, funda um
conjunto de concepções fundamentais no desenvolvimento da Pedagogia. E é da compreensão
dessas proposições que passaremos a tratar.
MÓDULO 1
! Definir a proposta de uma educação de adultos popular formulada por Paulo Freire
Pela importância de sua obra, foi designado como Patrono da Educação Brasileira, em 13 de abril
de 2012, quando foi sancionada a Lei nº 12.612, que o declara como tal. Ainda no campo da
relevância do autor, em pesquisa mundial sobre os pensadores mais lidos nas Ciências Humanas e
Sociais, Paulo Freire é o único brasileiro na lista dos cem principais. Segundo levantamento feito,
em 2016, por Elliot Green, pesquisador especialista em estudos sobre desenvolvimento e
aprendizagem da London School of Economics, a obra Pedagogia do oprimido, de Paulo Freire, é
o terceiro livro mais citado em trabalhos da área de Humanidades no mundo.
Em todo o mundo, cerca de 350 escolas e instituições, como bibliotecas e universidades, levam o
seu nome como forma de homenagem. No Brasil, há numerosas escolas públicas “Paulo Freire”
espalhadas por diferentes estados e municípios.
Embora sua relevância não se restrinja ao campo da educação de jovens e adultos (EJA), foi nele
que Freire atuou mais fortemente no início de sua carreira, em função de suas preocupações
políticas e sociais com a população pobre e analfabeta, abundante no Nordeste do país na época
em que começou a atuar como educador, após uma graduação em Direito que não o levou ao
caminho da advocacia.
# ATENÇÃO
Até o seu retorno ao Brasil, em 1980, Freire fez viagens a mais de trinta países pelo CMI,
prestando consultoria educacional e implementando projetos voltados para a alfabetização, a
redução da desigualdade social e a garantia de direitos. Foi nesse período que o pensador
brasileiro implementou importantes projetos educativos em diferentes países.
A noção de diálogo e a oposição que formula entre educação bancária e educação dialógica.
A compreensão dos processos de transformação social que Freire formula desenvolvendo a noção
de inédito-viável.
É O QUE ESTUDAREMOS NESTE PRIMEIRO MÓDULO.
Em suas primeiras obras, Freire enuncia suas preocupações com clareza. Quando se refere à
educação como prática de liberdade, ele mostra sua preocupação com a superação da
educação que domestica, que submete e não liberta. Assim, neste primeiro livro, Educação como
prática da liberdade, Paulo Freire já torna evidente que seu pensamento educacional não é apenas
pedagógico, mas também social e tem direção definida: a da busca de superação das
desigualdades sociais, o que significa dizer que seu pensamento e sua proposta visam à
transformação social.
$ SAIBA MAIS
Educação como prática da liberdade foi escrito por Paulo Freire no exílio, em 1965, em que
descreve sua experiência de alfabetização no Nordeste.
É importante notar que o filósofo não pensava em transformação a partir de algumas consciências
supostamente esclarecidas que libertariam outras. Quando fala em liberdade e em sua prática, ou
mesmo em seu segundo livro, o famoso Pedagogia do oprimido, sua preocupação é com o
desenvolvimento da consciência crítica de todos, para que, compreendendo melhor o mundo, seja
possível intervir nele e transformá-lo em um mundo melhor, como menos desigualdades sociais.
Foto: CulturaGovBr / CC Search / CC BY-SA 2.0
! Manuscrito da obra Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire.
É nesse sentido que devemos compreender uma de suas mais conhecidas frases:
(FREIRE, 2017)
Essa afirmação evidencia o caráter horizontalizado que inspirou sempre suas propostas e práticas
educacionais e a preocupação com uma transformação social tecida coletivamente, por sujeitos de
consciências autônomas, sem imposições. Podemos sem dúvida identificar Paulo Freire como um
democrata, que respeitava todos em seus diferentes conhecimentos, que também fazem com que
os homens se eduquem entre si, pelas trocas que estabelecem nos processos sociais de
aprendizagens.
CONHECENDO UM POUCO MAIS DE PAULO
FREIRE
Nesse contexto temos, também, outra construção famosa do pensador, na qual ele afirma que “
ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo. Por isso aprendemos sempre”. Defendia, com isso,
a ideia de que “não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”. Isto é, podemos
entender que, na perspectiva de Paulo Freire, o diálogo entre os diferentes conhecimentos é
necessário ao processo educativo, mais do que a imposição dos conhecimentos formais,
escolares, sobre os alunos. Sem descuidar da preocupação política e pedagógica com os
conteúdos de ensino, que defendia serem necessários e um direito de todos, o autor entendia a
importância de valorizar os conhecimentos populares e dialogar com eles.
Em sua defesa do direito ao acesso aos conhecimentos formais, Paulo Freire argumentava que
essa aprendizagem contribuiria para munir as classes populares de conhecimentos hegemônicos,
valorizados, capazes, portanto, de se tornar arma de luta contra a desigualdade social.
Atualmente sabemos que ele tinha razão, uma vez que as políticas de universalização do acesso à
escola e à universidade trouxeram maior mobilidade social aos trabalhadores e permitiram a muitos
uma vida melhor do que as das gerações anteriores de suas famílias. Podemos, também,
confirmar a ideia de que o diálogo entre diferentes conhecimentos potencializa a aprendizagem e a
formação da consciência cidadã, visto que incontáveis experiências escolares realizadas no Brasil
e no mundo, baseadas em perspectivas educacionais dialógicas, foram e são bem-sucedidas.
Educar é, para Freire, uma luta pela humanização, ou (re)humanização, do homem de quem se
extraiu a humanidade por meio da opressão social. Em luta, também, contra o fatalismo que
entende essa desumanização como “destino”, Freire (2014) diz:
Daí o comprometimento do primeiro livro com a liberdade na prática educativa como foco principal
de uma preocupação com o povo brasileiro. Em seu prefácio à obra de Paulo Freire, Francisco
Weffort (FREIRE, 1982) traz dados assustadores sobre as condições de vida da população
brasileira nos anos 1960, esclarecendo que aquela obra faz uma sistematização teórica que:
(FREIRE, 1982)
Weffort afirma, ainda, que o olhar de Freire defende pensar a educação pelo olhar do educando e
pela sua liberdade, usando como exemplo desse respeito o fato de ele jamais se referir aos alunos
como analfabetos, mas sempre como alfabetizandos, e ao fato de propor, no processo de
alfabetização, sempre a máxima interferência possível do povo na estrutura do programa, restando
ao educador apenas a tarefa de registrar o vocabulário e selecionar as chamadas palavras-chave.
Imagem: wavebreakmedia/Shutterstock.com
SABERES DE EXPERIÊNCIA FEITOS
Para Paulo Freire, todos os educandos, ao chegarem à escola, trazem algum tipo de
conhecimento. Sejam crianças, jovens ou adultos, todos trazem seus “saberes de experiência
feitos” – aquilo que aprenderam em suas vidas cotidianas – para dentro das escolas. Caberia,
então, à escolarização produzir a ascensão dos educandos a saberes escolares formais.
Essa noção cria a impressão de que, para o autor, os conhecimentos formais e os saberes de
experiência feitos são opostos ou muito distintos, e que, de um ao outro o processo é de ascensão,
o que significaria uma compreensão de que existe uma hierarquia entre eles. Contudo, numa
leitura mais atenta, percebemos outras possibilidades de entendimento.
Na formulação freireana, essa diferença não vai constituir necessariamente uma desigualdade,
mas uma pluralidade. São conhecimentos distintos, mas não melhores ou superiores aos outros.
Como o pensamento mais frequente entre nós é o de que saberes teóricos são superiores aos
saberes práticos, e Freire tinha consciência disso, ele fala em ascensão.
Concretamente, em diversas obras, Freire reafirma que a expressão saber de experiência feito
foi cunhada exatamente para “desmistificar a ciência”, colocando-a no seu devido lugar de ser mais
um saber entre outros. Essa noção também foi formulada em defesa do que há de conhecimento
no senso comum, ou seja, do que nele há de bom senso.
Imagem: Diego Schtutman/Shutterstock.com
Em todas as obras em que aborda o tema, a preocupação é de formular algo que seja útil aos
educadores, afirmando que o saber de experiência feito traduz a leitura de mundo dos educandos
e deve ser tomado como ponto de partida na relação educador-educandos, e implica, portanto, o
saber escutar por parte do educador. A importância disso também está na necessidade de
compreensão da ideia de que não existe saber em geral e ignorância em geral, mas saberes e
ignorâncias.
Podemos compreender sua proposta de “ascensão” quando nos voltamos para o tema da
conscientização, sempre ligada aos processos educativos, que seria uma ascensão da consciência
ingênua à criticidade. Seria a criação, por meio de reflexão coletiva e aprendizagem sobre a
sociedade e seus processos perversos de produção e reprodução de desigualdades, de uma
compreensão do mundo e uma possibilidade de dialogar com ele em bases mais firmes, em virtude
do aprendido no processo de alfabetização.
O processo educativo se desenvolveria, nessa perspectiva, por meio do diálogo, no qual o respeito
aos conhecimentos anteriores dos educandos, a escuta daquilo que trazem e a interação entre os
diferentes conhecimentos sejam a tônica. É uma perspectiva que valoriza conhecimentos não
escolares reconhecendo sua validade, ao mesmo tempo que promove a aprendizagem dos
conhecimentos formais, e também a possibilidade de uso desses diferentes conhecimentos na
compreensão e na solução de problemas concretos.
Para Freire, o que cada trabalhador a ser alfabetizado sabe é a primeira grande questão a ser
considerada no processo educativo, porque aquilo a que não se pode atribuir sentido não pode ser
aprendido. Freire percebia, pelas experiências que tinha, pela sensibilidade que tinha de educador,
que se o aluno não estabelece relação entre o que sabe e o que deve aprender, ele não aprende.
Então, para promover aprendizagens, é preciso partir da ideia de que o aprendente/educando
sabe. A instauração do diálogo só se dá, portanto, no mútuo reconhecimento da palavra do outro
como expressão de seu saber sobre o mundo. O trabalhador analfabeto sabe, e a criança diante
de nós nas escolas também. Cabe aos educadores desenvolverem seu “saber escutar”.
É com base nessa necessidade do diálogo entre sujeitos e saberes, entre educadores e
educandos, nesse processo de troca e não de imposição que Paulo Freire desenvolve sua
amplamente difundida crítica à educação formal convencional, identificando-a como uma educação
bancária e a ela opõe a necessidade dessa dialogicidade nos processos educativos
problematizadores. Na sua Pedagogia do oprimido, a apresentação desses modelos educativos
merece um capítulo.
É com base nessa necessidade do diálogo entre sujeitos e saberes, entre educadores e
educandos, nesse processo de troca e não de imposição que Paulo Freire desenvolve sua
amplamente difundida crítica à educação formal convencional, identificando-a como uma educação
bancária e a ela opõe a necessidade dessa dialogicidade nos processos educativos
problematizadores. Na sua Pedagogia do oprimido, a apresentação desses modelos educativos
merece um capítulo.
Foto: wavebreakmedia/Shutterstock.com
Freire mostra como se estruturava, nos anos 1960, a educação escolar brasileira. Em que pese a
existência de muitas experiências escolares progressistas e diferentes desse modelo, ainda é essa
educação, chamada por Paulo Freire de bancária, que prevalece atualmente. Ele inicia o capítulo
criticando o caráter narrativo da educação formal, que traz consigo uma configuração que tem um
sujeito narrador e “objetos pacientes, ouvintes – os educandos”. Com isso, há uma tendência ao
tratamento daquilo que se narra como algo fixo, permanente.
Trata-se de um processo em que se depositam conhecimentos sobre um objeto antes vazio deles.
Como bancos em que sujeitos depositam valores, a educação, segundo esse modelo, é nomeada
pelo autor como sendo uma educação bancária. Evidentemente, nem na época do autor nem
agora esse modelo existe tal qual na realidade educacional. Porém, como já dito, é ainda essa
ideia – de que conteúdos devem ser aprendidos a partir das aulas pelo educando, que não sabe –
que persiste nos processos de elaboração de normas e debates educativos e curriculares.
A hierarquia professor-aluno, intocada nos mais de cinquenta anos que nos separam do momento
em que o filósofo escreveu sua obra, evidencia que, se não estamos iguais, tampouco
transformamos a escola e a compreensão dominante do que seja a educação formal.
Depositar, transmitir, transferir conhecimentos e valores – como fazemos nos bancos – são a tônica
dessa perspectiva de educação, cujas características Paulo Freire (2017) enumera em sua obra,
afirmando que nela o educador educa, sabe, pensa, diz a palavra, disciplina, opta e prescreve sua
opção, atua, escolhe o conteúdo, identifica a autoridade do saber com a sua própria e é sujeito do
processo. Nesse cenário, os educandos são educados, não sabem, são pensados (não pensam),
escutam docilmente, têm a ilusão de que atuam, não são ouvidos nas escolhas dos conteúdos,
devem adaptar-se à autoridade alheia e são objetos do processo.
Sempre em diálogo uns com os outros e com a realidade do mundo em que vivem, educandos e
educadores, na educação problematizadora, percebem-se como sujeitos deste mundo.
E é por isso que esse modo de educar potencializa as possibilidades de transformação do mundo.
Ao aceitá-lo como realidade dinâmica, na qual intervimos e com a qual dialogamos, essa educação
é potencialmente transformadora da realidade, contrária ao conformismo fatalista. Isto é, a
alfabetização estimula o aluno a ler o mundo, ler a sua vida, ler a sua história, e não somente
vivenciá-la, não somente reproduzir, mas entender o mundo em que se vive.
Assim sendo, para Paulo Freire, será na realidade mediatizadora, na consciência que dela
tenhamos, educadores e povo, que iremos buscar o conteúdo programático da educação. O
momento deste buscar é o que inaugura o diálogo da educação como prática de liberdade.
ATIVIDADE
O QUE SÃO OS SABERES DE EXPERIÊNCIA
FEITOS E QUAL A SUA IMPORTÂNCIA PARA A
EDUCAÇÃO LIBERTADORA?
RESPOSTA
Para Paulo Freire, todos os educandos, ao chegarem à escola, trazem algum tipo de conhecimento,
seus saberes de experiência feitos, ou seja, aquilo que aprenderam em suas vidas cotidianas, para
dentro das escolas. A diferença entre os saberes de experiência feitos e os conhecimentos escolares
não constitui necessariamente uma desigualdade, mas uma pluralidade. São conhecimentos distintos,
sim, mas não são uns melhores ou superiores aos outros.
Freire afirma que a expressão foi cunhada para “desmistificar a ciência”, colocando-a no seu devido
lugar de ser mais um saber entre outros. Essa noção também busca defender o que há de
conhecimento no senso comum. Para ela, o saber de experiência feito traduz a leitura de mundo dos
educandos e deve ser tomado como ponto de partida na relação educador-educandos, e implica,
portanto, o saber escutar por parte do educador.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. AS IDEIAS A SEGUIR REPRESENTAM CONCEPÇÕES DE PAULO FREIRE.
EM RELAÇÃO AO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM, FREIRE
AFIRMAVA QUE:
A) I e II apenas.
B) I, III e IV apenas.
C) I, II e III apenas.
E) II e III apenas.
A) O necessário é preservar na escola o sentido que a leitura e a escrita têm como práticas sociais,
para conseguir que os alunos se apropriem delas, possibilitando que se incorporem à comunidade
de leitores e escritores, a fim de que consigam ser cidadãos de uma cultura escrita.
B) As práticas de leitura e escrita são práticas sociais que, historicamente, pertenceram mais a
certos grupos sociais do que a outros, tornando o caminho a reprodução do meio para todos.
C) O necessário é fazer da escola uma comunidade de escritores externos que produzam textos e
experiências sobre a realidade daquele grupo, para informar sobre fatos que os destinatários
precisam ou devem conhecer.
D) O necessário é fazer da escola uma comunidade de leitores que recorrem aos textos apenas
para buscar respostas para os problemas que precisam resolver.
E) É necessário valorizar a experiência local, mas mostrar que ela precisa ser superada por
conhecimentos superiores que os grupos não tinham.
GABARITO
I. O educador democrático não pode se negar o dever de, na sua prática docente, reforçar a
capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão.
III. Uma das tarefas primordiais do docente é trabalhar com os educandos a rigorosidade
metódica com que devem se “aproximar” dos conteúdos trazidos pelo docente.
Um dos grandes traços de Freire é perceber o aprendizado a partir do sujeito, o que está reforçado
nas afirmativas I e II. Na alternativa III, existe uma fragilidade pelo excesso positivista, e não na IV,
que centra o olhar do professor e diminui o papel do sujeito.
2. Délia Lerner (2018), em seu livro Ler e escrever na escola: o real, o possível e o
necessário, faz a seguinte afirmativa: “O necessário é fazer da escola um âmbito onde a
leitura e a escrita sejam práticas vivas e vitais, onde ler e escrever sejam instrumentos
poderosos que permitam repensar o mundo e reorganizar o próprio pensamento, onde
interpretar e produzir texto sejam direitos”. De acordo com essa perspectiva, temos um
olhar a ser desenvolvido na perspectiva freireana e a sua proposta para uma educação
popular e de adultos, voltada para a formação do sujeito. Com esse olhar, podemos afirmar
que:
A chave aqui é a educação como prática de liberdade, gerar valor ao conhecimento existente,
reconhecendo o potencial e o desenvolvimento daqueles que serão envolvidos no processo
educacional, e por conta da formação de sujeitos comprometidos, envolvidos, e das culturas e dos
valores.
MÓDULO 2
O Brasil foi um dos países contemplados pelo projeto, e no Nordeste, ainda como fase
experimental, a cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, foi uma das primeiras grandes
tentativas de erradicação do analfabetismo. A escolha da cidade e a verba destinada ao projeto de
Angicos vieram desse plano norte-americano. Paulo Freire elaborou o projeto, formou uma
comissão de coordenadores e treinou professores para desenvolver o plano.
Imagem: Marcelo Moryan/Shutterstock.com
" Na cidade de Angicos, em 1963, o método Paulo Freire foi testado pela primeira vez. Este teste
tinha como objetivo alfabetizar alunos adultos em 40 horas, sem cartilha.
Em um curso com duração de apenas quarenta horas, percorridas durante quase um mês,
trezentos jovens e adultos foram alfabetizados pelo método desenvolvido por Freire. O educador
brasileiro criticava o modelo de “educação bancária”, baseado na visão de que o professor é o
centro do processo e detentor do conhecimento, sendo o responsável por “depositar” aquilo que
sabe em seus alunos.
Assim, a leitura e, da mesma maneira, a escrita somente fariam sentido se fossem acompanhadas
de uma capacidade de ler o mundo, de perceber o mundo, de reconhecer os papéis
desempenhados pelos atores do mundo e de reconhecer-se como peça naquele mundo. Por isso,
Freire agia com base nas palavras que faziam parte do cotidiano dos trabalhadores em processo
de alfabetização para ensiná-los, e foi assim que a experiência de Angicos foi bem-sucedida.
Marcos Guerra (2013), advogado e coordenador do projeto em Angicos, conta que “a alfabetização
era baseada em 12 a 15 palavras apenas que continham todos os fonemas da língua portuguesa”.
Essas palavras eram pensadas junto com os educandos, dentro do universo social e vocabular que
era o deles. Com isso, era possível alfabetizar e pensar o mundo na mesma ação, alfabetizar e
ampliar a consciência crítica dos educandos, alfabetizar e contribuir para a libertação. Palavras
como tijolo, barro, trabalho, labuta e telha eram as norteadoras do método, que não foca no
conteúdo ensinado, mas no processo e no desenvolvimento da consciência paralelamente ao
trabalho pedagógico.
Para ele, e muitos dos seus seguidores, essa tarefa é necessária para a criação de um novo Brasil,
mais justo e igualitário.
Para seus críticos mais conservadores, as propostas de Freire abrem uma porta para o que
chamam de “doutrinação marxista nas salas de aula”. Foi com base nessa acusação que a
ditadura militar suspendeu o Programa Nacional de Alfabetização de Adultos e levou Paulo Freire
ao exílio, depois de mantê-lo preso. É, ainda, com base nessa ideia que, atualmente, grupos
políticos ligados à extrema direita condenam o pensador, do mesmo modo que em 1964.
$ SAIBA MAIS
O inquérito da época, comandado pelo tenente-coronel Hélio Ibiapina Lima, dizia que Paulo Freire
era “um dos maiores responsáveis pela subversão imediata dos menos favorecidos”, que “sua
atuação no campo da alfabetização de adultos nada mais é que uma extraordinária tarefa marxista
de politização das mesmas” e que Freire “é um criptocomunista encapuzado sob a forma de
alfabetizador” (FREIRE, 2017).
EDUCAÇÃO POPULAR COMO PONTO DE
PARTIDA
(GADOTTI, 2007)
É também Gadotti que atualiza o tema da educação popular, prevendo boas possibilidades de
futuro para essa tendência educacional voltada às classes mais pobres e pouco escolarizadas da
educação, entendendo que as “intuições originais estão presentes, como a obra de Paulo Freire,
em muitas práticas educativas”, e complementa:
(GADOTTI, 2007)
Imagem: smolaw/Shutterstock.com
Assim, com Moacir Gadotti, vamos perceber que a reafirmação da educação popular e de seus
princípios, associando-a tanto a práticas educativas contemporâneas escolares quanto às
reflexões progressistas que reiteram a necessidade da democracia e da horizontalidade nas
relações entre sujeitos e entre conhecimentos, é a base para aquilo que ficou conhecido como o
método Paulo Freire, que defende a alfabetização dos adultos mediante a discussão de suas
experiências de vida entre si, a partir de palavras presentes na realidade dos alunos, decodificadas
para a aquisição da palavra escrita e da compreensão do mundo.
O MÉTODO, OS FUNDAMENTOS E AS
ETAPAS
Podemos dizer que, com base na crença de que a educação não deve ser bancária, mas sim
formar para a consciência crítica e para a libertação, Paulo Freire vai propor um processo de
alfabetização diferente e inovador, buscando, com isso, superar os modelos formalistas e
destituídos de sentido predominantes nos programas de alfabetização que os antecederam e na
própria estrutura da escola.
Imagem: marekuliasz/Shutterstock.com
A primeira grande ruptura com a estrutura tradicional das escolas é a instauração de “círculos de
cultura” no lugar das salas de aula. Nesses círculos – efetivamente os espaços eram organizados
em círculos, para que todos pudessem participar da conversa em condições de igualdade, vendo-
se uns aos outros –, o diálogo deixa de ser mera metodologia e passa a ter centralidade em toda a
ação educadora. São quatro os fundamentos desses círculos, que apresentaremos resumidamente
a seguir.
1º FUNDAMENTO
Cada pessoa é percebida como uma fonte única de uma forma específica de saber, que, qualquer
que seja, tem um valor.
2º FUNDAMENTO
“Cada cultura representa um modo de vida e uma forma original e autêntica de ser, de viver, de
sentir e de pensar” (BRANDÃO, 2015).
3º FUNDAMENTO
É, ainda, na concepção e nas práticas desses círculos que se vai formular a ideia de que “ninguém
educa ninguém, mas ninguém se educa sozinho”.
4º FUNDAMENTO
A ideia de que alfabetizar e educar é mais do que apenas aprender a ler palavras. Significa
aprender a ler criticamente o seu próprio mundo.
ATIVIDADE
Neste exercício podemos associar o grupo de palavra a um perfil específico para verificarmos
nossa percepção crítica:
GABARITO
Brandão esclarece o alcance e o legado dos círculos de cultura que foram o principal instrumento
de realização das propostas educativas, culturais e políticas abraçadas por Freire.
Pode-se dizer que o método Paulo Freire se estrutura em três etapas, sucessivas e articuladas
entre si, a saber: a etapa de pesquisa no local e sobre o local 1 , a de processamento do
material produzido 2 na primeira etapa, definindo os temas prioritários e as palavras geradoras
e a produção de material a ser utilizado no trabalho de aprendizagem da leitura da palavra e do
mundo. Em seguida, na etapa de problematização 3 , sempre organizados em círculos, os
participantes são incentivados a falar sobre os temas selecionados, opinar e debater, e a
alfabetização propriamente dita seguia-se às discussões.
PESQUISA OU INVESTIGAÇÃO
Educadores e educandos, em conjunto, mergulham na realidade local e no universo vocabular do
grupo social voltados a compreender melhor e mais profundamente a comunidade e extrair, desse
mergulho, temas e palavras para a constituição do material-base para a alfabetização que
substituirá as cartilhas convencionais. Essa pesquisa deveria desenvolver-se pelos próprios
participantes do círculo, sempre com uma pessoa alfabetizada por perto, para a formulação do
material temático e vocabular a ser usado.
Em Angicos, primeira experiência alfabetizadora de Paulo Freire, foi escolhida uma média de 410
palavras, descobertas a partir de um bate-papo com os futuros aprendizes. Com isso, uma equipe
de educadores define quais são as palavras geradoras (GUERRA, 2013).
A TEMATIZAÇÃO
Esse momento é o de processamento do material produzido de modo a obter a “matéria-prima”
para aprender a “ler as palavras e ler o mundo”. Fichas e cartazes são elaborados com a
participação de todos, em um processo de codificação e decodificação dos temas, buscando seu
significado social, o que permite o desenvolvimento da consciência do mundo vivido pelos alunos.
É nesse momento que os educadores fazem associação das palavras com alguma situação
cotidiana, conhecida por todos.
A PROBLEMATIZAÇÃO
É realizada nas discussões que se seguem à tematização, sempre com o espaço organizado em
círculos e a partir da reflexão coletiva baseada nas “fichas de cultura” e nos cartazes produzidos na
etapa anterior. O educador ou animador do círculo assume, nesse momento, a função de incentivar
o máximo de participações nessa discussão, em que cada participante deve usar suas próprias
palavras para expressar o que sente e pensa.
O início da alfabetização propriamente dita tinha início, segundo Gadotti (2007), por meio de um
“processo de substituição de elementos reais por elementos simbólicos”, com a utilização de
cartazes, projeções na parede, discussões e leitura, “sequência inversa à utilizada para crianças,
em que a leitura figura como elemento instrumental de construção e enriquecimento dos círculos
de representação mentais”. Nesse processo e no pensamento freireano, educadores e educandos
transformam-se em pesquisadores críticos.
Podemos afirmar que é assim que esse método supera a ideia de que o educando é uma “lata
vazia a ser enchida pelo educador”, e assume o processo educativo – na alfabetização e muito
para além dela – como um processo coletivo de reflexão-ação em que educandos são percebidos
como sujeitos de histórias, experiências, sentimentos, motivações e, portanto, de saberes.
&
Em seguida, separar partes, temas e elementos que constituem essa realidade complexa, e
estudá-las, discuti-las e compreendê-las de modo abstrato e, só então...
&
Voltar à concretude, dessa vez compreendendo-a de maneira mais sistemática, consciente e
estruturada, naquilo que Karl Marx (1818-1883) chamava de concreto pensado e Freire de
percepção crítica do concreto.
Isso significa que, para Freire, a dialogicidade do processo de alfabetização envolve uma dialética
do concreto vivido ao abstrato, que permitirá voltar ao concreto com a ampliação e estruturação
consciente da compreensão dos significados daquilo que se vivencia. É isso que o educador-
educando, que percebe a função libertadora da educação e atua nesse sentido, busca
desenvolver.
CASO REAL
Uma professora de uma comunidade de pescadores foi dar aulas para adultos. Achava-se a velha
professora – leiga – fraca e incapaz de trazer os novos “paradigmas” da educação de adultos.
Resultado: não conseguia promover o aprendizado! Utilizava livros, histórias, queira levar outras
realidades para a sala de aula, mas não conseguia despertar o interesse dos alunos.
Certo dia, uma jovem prostituta morreu. Seus alunos só falavam disso, não conseguiam se
concentrar em mais nada. No auge do seu desespero, ela perguntou:
E todos pararam.
No dia seguinte, ela levou para a escola alguns jornais com notícias sobre o assassinato e disse
aos alunos:
― Estão falando de vocês, e vocês não sabem o quê. Quem quer descobrir?
Esse exemplo explicita o conceito que apresentamos: liberdade para conhecer o que se deseja!
Essa busca da libertação dos homens é, no entendimento de Freire, uma tarefa de humanização e,
para esse educador humanista, “a incidência da ação é a realidade a ser transformada por ele com
os outros homens e não estes”. Por isso é que não podemos, a não ser ingenuamente, esperar
resultados positivos de um programa, seja educativo num sentido mais técnico, seja de ação
política, se, desrespeitando a particular visão de mundo que tenha ou esteja tendo o povo, se
constitui numa espécie de “invasão cultural”, ainda que feita com a melhor das intenções (FREIRE,
2017).
Tentando evitar esse tipo de “invasão cultural” é que Paulo Freire desenvolve seu método de
trabalho – que é mais do que um método de alfabetização –, definindo, sempre junto com os
educandos, os temas geradores e o conteúdo programático dessa educação a partir de
inquietações, conhecimentos e interesses das diferentes comunidades em que o processo se
inscreve, visando à transformação social.
% RESUMINDO
É com base nessa compreensão sobre as possibilidades da ação humana que Paulo Freire
(FREIRE, 2017) formula a ideia de que a humanidade é capaz de ultrapassar aquilo que nomeou
como sendo as situações-limite, percebidas não como barreiras intransponíveis, mas situações
que exigem o que ele chama de atos-limite – “aqueles que se dirigem à superação e à negação
do dado, em lugar de implicarem sua aceitação dócil e passiva”.
Embora não seja o criador do termo situação-limite, Paulo Freire, ao lançar mão dele e construir o
raciocínio que o leva às noções de ato-limite e de inédito-viável, reinventa suas possibilidades.
Diferentemente dos primeiros criadores do termo, e de alguns daqueles que consolidaram seu uso,
Paulo Freire (2017) entende essas situações como potencialmente transformáveis, ou seja, elas
seriam mais do que algo que, atingindo o limite do possível, freiam a ação.
SITUAÇÕES-LIMITE
Para Freire, são dimensões concretas e históricas de dada realidade, as paredes que limitam
as bases. Têm a ver com as pessoas, com a percepção que os homens tenham delas –
realidades – em dado momento histórico, como um freio a eles, como algo que não podem
ultrapassar.
ATOS-LIMITE
A superação de barreiras pelo sujeito, um passo diante de uma situação limitadora, que
permite a ele mudanças vitais. Os obstáculos, aliás, não devem ser contornados, mas
analisados, levados a formas, a um ato para vencê-los, para que não voltem com mais força.
INÉDITO-VIÁVEL
É o atingimento, quando o sujeito chega a uma nova realidade, que deve ser entendida como
a possível, como um esforço vital, mas que não é o fim.
Em seu verbete sobre o termo, publicado no Dicionário Paulo Freire (STRECK; REDIN; ZITKOSKI,
2008), sua viúva, Nita Freire afirma, em tom emocionado, e ao mesmo tempo denso, que o marido
formulou a palavra considerando sua própria concepção de palavra, como uma palavra-ação.
Nita Freire ainda esclarece o que entende por inédito-viável: seria algo inédito, como o nome diz,
que antes não era percebido como possível, mas que, quando atinge essa condição, pode se
tornar realidade.
Pensar e lutar pelos inéditos-viáveis implica, nesse sentido, levar à realização de sonhos possíveis,
de utopias. Mas a cada vez que um inédito-viável se efetiva, ele amplia também o próprio campo
dos possíveis e traz, com isso, “outros tantos inéditos viáveis quantos caibam em nossos
sentimentos e em nossa razão ditada pelas nossas necessidades mais autênticas” (FREIRE, A. M.,
2017). Ou seja, pensar em inéditos-viáveis implica compreender o dinamismo permanente do
mundo e das sociedades, a inexistência do definitivo, e daí a necessidade de estarmos sempre
atentos às possibilidades que emergem em diferentes situações sociais.
Cabe lembrar que inéditos-viáveis nunca são individuais, são sonhos coletivos cuja finalidade não
está neles mesmos, mas nas suas possibilidades de contribuir para a melhoria das sociedades,
para a sua democratização, para que a humanidade se aperfeiçoe e se torne capaz de produzir
“uma nova sociedade: mais justa, menos feia, mais democrática”, relembrando Paulo Freire.
Isto é...
ATIVIDADE
RESPOSTA
O método Paulo Freire se estrutura em três etapas, sucessivas e articuladas entre si, a saber: a etapa
de pesquisa no local e sobre o local, a de processamento do material produzido na primeira etapa,
definindo os temas prioritários e as palavras geradoras e a produção de material a ser utilizado no
trabalho de aprendizagem da leitura da palavra e do mundo. Em seguida, na etapa de
problematização, sempre organizados em círculos, os participantes são incentivados a falar sobre os
temas selecionados, opinar e debater, e a alfabetização propriamente dita seguia-se às discussões.
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: A
HERANÇA DE PAULO FREIRE
VERIFICANDO O APRENDIZADO
AFIRMATIVA 1
C) As ideias dos autores são complementares, pois concebem o aluno como um ser passivo.
E) O aluno, para Freire e Oliveira, aprende apenas com as experiências vividas, e o trabalho é
organizado para ele.
A) I – IV – III – V – II
B) V – III – II – IV – I
C) V – II – III – I – IV
D) II – I – IV – III – V
E) III – V – I – II – IV
GABARITO
Afirmativa 1
Afirmativa 2
“Como tem ficado claro na nossa experiência, esse é um processo de aprendizado árduo
tanto para alunos como para professores, porque fundar o ato pedagógico em perguntas, e
em perguntas quaisquer, não submetidas a uma ‘poda’ a priori por programas curriculares
tradicionais, implica mudar a matriz mesma da relação com o conhecimento” (OLIVEIRA,
2004).
Para Freire, as perguntas são provenientes da curiosidade dos alunos e devem ser estimuladas
pelo professor. A relação entre estudantes e professor deve ser dialógica, indagadora e sem
passividade daqueles que estão falando e/ou ouvindo. Oliveira, por sua vez, considera que nem
toda pergunta é oportuna e que elas devem ser orientadas pelos programas curriculares. Portanto,
em relação à postura sobre perguntas e educação os autores são antagônicos.
O exercício visa garantir o reconhecimento da relação entre o método de Paulo Freire e o papel do
docente. Ele amplia a dinâmica e os procedimentos de seu método para compreensão da ação
docente, e apesar de o foco ser sobre ensinar, o sentido é de gerar as provocações necessárias
para despertar, concentrando-se em especial no educando e nas suas necessidades.
MÓDULO 3
A Pedagogia da autonomia, por sua vez, é apresentada pelo autor como uma obra cuja temática
central é “a questão da formação docente ao lado da reflexão sobre a prática educativo-
progressiva em favor da autonomia do ser dos educandos”, entendendo, ainda, que “embora
diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma
ao ser formado” (FREIRE, 1996).
É, de certa maneira, um livro que revisita a obra anterior de Freire, uma vez que se dedica a tratar
da profissão docente, a partir de suas ideias amplamente difundidas. O grande interesse causado
pelo livro reside no fato de apresentar de modo acessível e simplificado algumas noções
fundamentais do pensamento freireano.
O falecimento do educador no ano seguinte tornou esse um livro emblemático, que tem sido
amplamente usado em cursos de graduação e pós-graduação. Trata-se, ainda, de uma obra de
fácil consulta, o que a potencializa como uma espécie de “livro de cabeceira” daqueles que
estudam o pensamento de Paulo Freire.
O livro traz em todas as suas seções a expressão “ensinar exige”, deixando claro por essa via que
o que ele pretende é mostrar sua compreensão a respeito das exigências colocadas ao exercício
da profissão docente.
PEDAGOGIA DA ESPERANÇA
Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido é um livro de Paulo Freire
com notas de Ana Maria Araújo Freire. É uma obra constituída de quatro momentos, em um
contexto relacionado a experiências, à formação e à inspiração das ideias do autor para a
construção de suas propostas de entendimento das questões envolvendo a educação.
A esperança é, nas palavras do próprio Paulo Freire, um elo entre os sonhos e a realidade. E é
sobre essa base que ele assume, nesse primeiro instante do livro, um compromisso de provar a
necessidade de a esperança ter seu espaço na educação. A partir das relações históricas,
econômicas e sociais, é perceptível a real importância que a educação tem no seio de uma
sociedade repleta de lutas e conflitos. É nesse primeiro momento da obra que Paulo Freire alerta
para os riscos do voluntarismo e do objetivismo mecanicista.
O primeiro é percebido como uma espécie de “idealismo brigão”, enquanto o segundo nega o papel
da subjetividade no processo histórico. Em ambos os casos, a luta pela transformação social se
fragiliza e o papel da educação nela também, visto que, contrariamente ao que pensam os
voluntaristas, a educação não pode tudo, mas complementarmente, também não é completamente
impotente, como creem os objetivistas mecanicistas.
Numa segunda tomada, o autor remonta às experiências vividas da infância à adolescência até o
início de sua carreira no Serviço Social da Indústria (SESI), onde relata que foi nessa etapa de sua
vida que a Pedagogia do oprimido começou a aflorar. A partir de angústias e saudades, Paulo
Freire compreende que é preciso disciplinar as dores e os sentimentos para que a desesperança
não impere sobre a vida humana.
E é por essas e outras que ele define que ser professor é mais do que ser simplesmente um
professor: ele é um alfabetizador e, acima de tudo, um educador. Partindo do princípio de que o
educando traz consigo “o saber de experiência feito”, que, segundo o autor, é um conhecimento já
adquirido da pessoa, ele defende que é fundamental que o educador estabeleça uma troca entre
essas experiências. Mas que não seja uma estagnação nessa primeira etapa, e sim que, por meio
dessa abordagem, a discussão cresça através de uma elaboração de conhecimento conjunto.
(FREIRE, 1992)
O que se percebe, nas semelhanças e renovações que a Pedagogia da esperança possui como
“reencontro” com a Pedagogia do oprimido, é que muitos de seus temas são basicamente os
mesmos: a alfabetização para vida, a luta de classes, a educação crítica e para a consciência
crítica, a importância da leitura de mundo nos processos de aprendizagem da leitura da palavra e
da linguagem no processo de mudança.
Embora a esperança, motivo dessa obra, seja a mesma que o autor possuía ao escrever a
Pedagogia do oprimido, ela se formula de modo mais maduro e completo nesse livro, que também
traz temas não abordados anteriormente, como a descolonização da África, que ocorreu ao longo
da década de 1970 – notadamente, o racismo, a multiculturalidade, entre outros.
Nesse reencontro com a Pedagogia do oprimido, Paulo Freire acata algumas das críticas
recebidas, como o caráter machista da obra – que fala sempre em homens, e nunca na
humanidade ou nas mulheres – e radicaliza ideias, como vimos aqui. Mas se insurge contra críticas
que considera equivocadas, defendendo sua obra e esclarecendo algumas dessas “más leituras”
do texto, notadamente aquelas que alegam que o escrito é elitista. Entende que esses críticos têm
uma concepção distorcida do que seja a conscientização, e ingênua em relação à prática
educativa, que não é e não pode ser neutra, como pensam, sendo sempre política.
E é assim que, sempre atento à necessidade da ação educadora política progressista, ele segue
defendendo que a compreensão crítica da realidade não basta para transformá-la, do mesmo
modo que a educação sozinha não transforma o mundo, embora seja condição necessária para
isso. A favor da radicalidade da política, mas nunca do sectarismo, Paulo Freire defende nessa
obra a tolerância e a união de forças progressistas para a luta pela democracia – tema bastante
atual no Brasil.
(FREIRE, 1992)
Paulo Freire destaca, ainda, que a história não é movida só pela luta de classes, afirmando que o
que dá subsídio a essas lutas é a esperança de um futuro de igualdade plena. Sem sonhos não há
futuro diferente; não havendo futuro novo, a educação torna-se um adestramento. Freire é claro
quando expõe que a esperança e a educação são interlocutoras para as ações e atitudes da
sociedade, principalmente para os oprimidos, que são reprimidos.
Finalizamos este tópico lembrando da atualidade de seus estudos para a reflexão sobre a
democratização da escola e de seus conteúdos como elemento central na possibilidade de
contribuição da escola à transformação social, bem como sua luta contra práticas espontaneístas
que negam a importância dos conteúdos escolares, mais uma vez se colocando em posição de
não aceitação do pragmatismo objetivista nem do espontaneísmo/voluntarismo subjetivista. O autor
ataca, ainda, o dogmatismo da esquerda e o vanguardismo que, para ele, não são capazes de
combater a alienação, ainda bastante intensa no mundo atual, mais de vinte anos após sua morte.
PEDAGOGIA DA AUTONOMIA
Nessa obra, Paulo Freire (1996) deixa claro que, para ele, “ensinar não é transferir conhecimentos,
mas criar possibilidades para a sua produção ou a sua construção”, e busca definir os saberes
necessários à prática docente, problematizados ao longo do livro, ancorando-os na convicção de
que a educação é um processo humanizante, político, ético, estético, histórico, social e cultural. Por
meio da formulação das 27 exigências elencadas ao longo dos três capítulos da obra, ele expressa
essa convicção.
% RESUMINDO
O(a) educador(a) necessita assumir seu papel de um ser pensante e atuante, buscando
envolver-se com sua prática e formando-se permanentemente para ela.
Ele(a) precisa deixar fluir sua curiosidade, que duvida e faz da sua fala um aprendizado de
escuta.
O(a) professor(a) precisa exercitar sua humildade, e que, embora se reconheça condicionado
por circunstâncias sociais, econômicas e culturais, o professor está inserido na sociedade, e
por isso mesmo não pode ser incapaz de gestar transformações sociais.
Ainda como exigências da docência, estão a competência própria de alguém que estuda, se
prepara e tem o domínio do conteúdo que ensina, e a generosidade consigo próprio(a), para
que o possa ser com o educando.
Há, ao longo dos três capítulos do livro, outras muitas exigências, todas relacionadas à ética da
educação que considera a “natureza ética da prática educativa como prática especificamente
humana” (FREIRE, 1996). Assim, Freire defende ao longo da obra que “a ética do ensinar não é
decisão heterônoma, pelo contrário, a dignidade humana é um valor ético construído coletivamente
por sujeitos autônomos” (PAULY, 2008).
E é tanto dessa autonomia quanto dessa consciência ética que decorre aquilo que “ensinar exige”.
A condição para essa atuação no ato de ensinar é possuir uma concepção emancipatória de
educação, uma vez que só há autonomia quando há sujeitos emancipados em ação. Nesse
sentido, é fundamental perceber a dinâmica relacionada a uma educação para direitos humanos,
valorizando o sujeito e sua emancipação como um direito.
Antes mesmo das exigências, em cada um dos três capítulos, Freire traz elementos importantes
das reflexões que desenvolve. No início do capítulo 1, dedicado à discussão do tema “Não há
docência sem discência”, o autor mostra, em meio à discussão sobre a “mão dupla” que
caracteriza a formação, que sua negação e não aceitação do ensino bancário, que volta a criticar,
não impede a atividade aprendente do discente.
(FREIRE, 1996)
O capítulo 2, dedicado ao debate em torno da ideia de que “Ensinar não é transferir conhecimento”,
traz em seu caput a insistência nessa afirmação como um saber indispensável à docência, que
precisa não só ser aprendido por ele e pelos educandos, como também precisa ser vivenciado,
testemunhado. Defende, nesse sentido, que o discurso sobre a teoria, formulado e expresso por
quem forma — aquele que formula o discurso —, precisa também de um exemplo concreto dessa
teoria.
(FREIRE, 1996)
Isso exige a vigilância constante sobre nós mesmos, atenção permanente às nossas dificuldades
de fazê-lo. Cuidado para não ter raiva, para não agir com base nela, e viver a humildade, o que ele
considera cansativo, mas necessário, reconhecendo-a como “condição sine qua non do pensar
certo, que nos faz proclamar o nosso próprio equívoco, que nos faz reconhecer e anunciar a
superação que sofremos” (FREIRE, 1996).
O último capítulo, “Ensinar é uma especificidade humana”, assume como qualidade essencial da
docência democrática a necessidade de “revelar em suas relações com a liberdade dos alunos a
segurança em si mesma”, pois essa “segurança se expressa na firmeza com que atua, com que
decide, com que respeita as liberdades, com que discute suas próprias posições, com que aceita
rever-se” (FREIRE, 1996). Isto é, uma forma não autoritária de exercício da autoridade com
sabedoria.
Podemos finalizar dizendo que a obra Pedagogia da autonomia, mesmo formulada em tom
imperativo sob a forma de exigências para a docência que a maioria de nós não está pronto para
cumprir integralmente, é uma obra amorosa, como a maior parte das obras de Freire.
É uma obra que busca, como foi sempre a tônica do trabalho freireano, dialogar com docentes
formadores e em formação – somos todos um pouco de cada –, buscando a efetivação de
aprendizagens, reflexões e ações autonomizantes, emancipadoras, democráticas e solidárias. Ao
fim e ao cabo, é disso que trata a obra freireana.
ATIVIDADE
RESPOSTA
O livro trata dos saberes necessários à prática educativa. Para Paulo Freire, a temática central desse
livro é a formação de professores, inserida numa reflexão sobre a prática educativo-progressista em
favor da AUTONOMIA dos alunos, uma vez que FORMAR é muito mais do que simplesmente
EDUCAR. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima
prática.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. AO ANALISAR A EDUCAÇÃO, PAULO FREIRE PARTE DO SIGNIFICADO
DE “SUJEITO” EXPRESSO ATRAVÉS DE APORTES TEÓRICOS FILOSÓFICO-
ANTROPOLÓGICOS, EPISTEMOLÓGICOS E ÉTICO-POLÍTICOS. CONFIRA AS
ALTERNATIVAS A SEGUIR.
A) I e II.
B) I e III.
C) I e IV.
D) II e III.
E) III e IV.
GABARITO
I. É a “outredade” do “não eu”, ou do tu, que me faz assumir a radicalidade de meu eu.
Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas, consciente
do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. A consciência do mundo e a consciência
de si inacabado necessariamente inscrevem o ser consciente de sua inconclusão num
permanente movimento de busca.
II. Para mulheres e homens, estar no mundo necessariamente significa estar com o mundo e
com os outros, só existem na oposição entre a condição de ser mulher e a condição de ser
homem.
IV. Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente
impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos. A
consciência do inacabamento entre nós, mulheres e homens, nos fez seres responsáveis.
Todas as dinâmicas dialogam com a perspectiva pedagógica freireana, exceto a II. O debate
desenvolvido sobre o gênero, mesmo o sociológico, ainda que abordado, fica em segundo plano
para a dinâmica de classes.
2. “Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a
sociedade muda” (FREIRE, 2000). A educação em direitos humanos é compreendida como
um processo sistemático e multidimensional que orienta a formação do sujeito de direitos,
articulando, segundo as Pedagogias freireanas, o/a:
III. Formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer presente em níveis cognitivo,
social, ético e político.
IV. Afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expressem a cultura universal dos
povos e a representação de uma unidade pelos direitos humanos.
O processo da autonomia não é estatal, é humano, voltado ao indivíduo e sua relação com a
sociedade. Dessa forma, os itens II e IV, voltados ao entendimento genérico e governamental, não
atendem ao olhar da autonomia proposta por Freire.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dimensão de um homem que sofreu a saudade de sua pátria por dezesseis anos, em tantas
passagens, tantos países e em tantas experiências se revela neste estudo, mostrando a dignidade
de se manter firme e aguardar o tempo da volta, naquela depois dialética e dialogicamente
anunciada esperança esperançosa de que a obra Pedagogia da esperança, de 1992, nos
encharcou. A espera vã não constava da vida de Paulo Freire, nem de sua luta, porque exigia de si
mesmo ação e transformação da realidade, sem o que a esperança é impossível, não tem lugar.
Paulo Freire e seus contemporâneos enfrentaram antes, e nós continuamos enfrentando, a utopia
da construção de um mundo melhor, possível, assumindo essa perspectiva de educação como
desafio e meta, como caminho da utopia, como esperança freireana.
(CORTELLA, 2020)
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, C. R. Paulo Freire: a educação, a cultura e a universidade: memória de uma história
há cinquenta anos atrás. In: Revista Festim, Natal, v. 1, n. 2, p. 157-172, mar. 2015.
FREIRE, A. M. A. Paulo Freire: uma história de vida. São Paulo: Paz e Terra, 2017.
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1982.
FREIRE, P. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora
UNESP, 2000.
FREIRE, P. Carta de Paulo Freire aos professores. In: Estudos avançados, v. 15, n. 42, p.
259-268, 2001.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 64. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2017.
FREIRE, P. Pedagogia dos sonhos possíveis. Organização, apresentação e notas Ana Maria de
Araújo Freire. São Paulo: Paz e Terra, 2020.
FREIRE, P.; FREIRE, A. M. A.; OLIVEIRA, W. F. Pedagogia da solidariedade. São Paulo: Paz e
Terra, 2014.
GADOTTI, M. A escola e o professor: Paulo Freire e a paixão de ensinar. São Paulo: Publisher
Brasil, 2007. (Série Prefácios).
PAULY, E. L. Dicionário Paulo Freire. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, p. 313-319, 2008.
STRECK, D. R.; REDIN, E.; ZITKOSKI, J. J. (orgs.). Dicionário Paulo Freire. 4. ed. rev. e amp.
Belo Horizonte: Autêntica, 2019.
EXPLORE+
Leia o artigo
Palavra aberta: o legado da obra de Paulo Freire para a educação global contra-hegemônica,
de Nita Freire.
Indicação de site
Muitas informações e notícias, além de trabalhos evidenciando a obra de Paulo Freire, estão
disponíveis em universidades e nos muitos institutos Paulo Freire espalhados pelo mundo, e
no primeiro deles, o Instituto Paulo Freire, brasileiro. Acesse o site do instituto e conheça mais
sobre a obra de Freire.
Livros
Para aqueles que querem aprofundar as relações da obra de Paulo Freire com a educação e
encontrar novas informações, sugerimos o livro Paulo Freire e a educação, de Jaime Zitkoski.
Indicações de filmes
CONTEUDISTA
Inês Barbosa de Oliveira
DESCRIÇÃO
Apresentação dos projetos de educação a partir dos anos 1970, especificamente o
MOBRAL, a Lei Federal n. 5692/1971 e a Educação Supletiva, ressaltando a importância da
transição para a concepção da EJA como modalidade, da LDB e do direito à educação ao
longo da vida.
PROPÓSITO
Compreender a trajetória da EJA desde os anos 1970, suas características em cada
momento histórico, as diferentes abordagens dessa modalidade de ensino e os processos
históricos e sociais que envolveram sua evolução.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer as principais iniciativas e política educacional para a EJA nos anos 1970.
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de educação que, por suas
características próprias e de seu público, exige que o trabalho educacional se desenvolva
com base em projeto político pedagógico específico e tecido coletivamente, já que as
experiências e os conhecimentos anteriores de seu público precisam ser levados em
consideração.
A primeira menção à educação na Constituição Federal do Brasil é logo no art. 6º, dentro do
capítulo dos Direitos Sociais. A educação, juntamente com a saúde, a alimentação, o
trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância e a assistência aos desamparados são elencados como Direitos
Sociais. É um tema tão importante que, em seu art. 24 (inciso IX), está determinado que
compete, concorrentemente, à União, aos estados e ao Distrito Federal legislar sobre ele,
evidenciando sua relevância.
A partir do art. 205, o texto constitucional garante que a educação é um direito de todos e
um dever do Estado e da família, devendo ser promovida e incentivada com a colaboração
de toda a sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o
exercício da cidadania e à sua qualificação para o trabalho.
No art. 208 (inciso I), consta que compete ao Estado garantir a educação básica e gratuita
dos quatro aos dezessete anos de idade, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita a todos
os que a ela não tiveram acesso na idade própria. Estes são, justamente, a quem se destina
a Educação de Jovens e Adultos, que aparece pela primeira vez na Constituição. Nos
parágrafos subsequentes do mesmo artigo, o texto constitucional reforça que o acesso ao
ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo e seu não oferecimento pelo Poder
Público, ou sua oferta irregular, importa em responsabilidade da autoridade competente. Isso
significa que o titular de um direito público subjetivo tem asseguradas a defesa, a proteção e
a efetivação desse direito imediatamente, em caso em que este seja negado.
A Constituição traz como princípio a noção de que toda educação visa ao pleno
desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o exercício da cidadania e à sua
qualificação para o trabalho. Esse princípio, que está explicitado na Lei n. 9.394/1996, Lei
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu art. 2º, abriga o conjunto das pessoas e
dos educandos como universo de referência sem limitações. Assim, a Educação de Jovens
e Adultos, modalidade estratégica do esforço da nação em prol de uma igualdade de
acesso à educação como bem social, participa deste princípio e, sob esta luz, deve
ser considerada.
Dividiremos nosso estudo em três módulos. No primeiro, abordaremos as iniciativas e
políticas educacionais no Brasil para a Educação de Jovens e Adultos ao longo dos anos
1970. Após isso, verificaremos as mudanças ocorridas na EJA com a criação da LDB de
1996 e com a noção da importância do direito à educação ao longo da vida. Por fim, no
último módulo, mostraremos os principais elementos das diretrizes para a educação da EJA.
Vamos lá?
MÓDULO 1
Até então, os exames dos que não haviam seguido seriação só eram possíveis em
estabelecimentos oficiais. A partir da Lei n. 4.024/1961, essa orientação não diz quem são
os responsáveis pelos exames. Assim, ao lado dos estabelecimentos oficiais, as escolas
privadas, autorizadas pelos conselhos e secretarias, passaram também a realizá-los.
A Constituição de 1967 mantém a educação como direito de todos (art. 168) e, pela primeira
vez, estende a obrigatoriedade da escola até os 14 anos. Essa extensão parece incluir a
categoria dos adolescentes na escolaridade apropriada, propiciando, assim, a emergência
de outra faixa etária, a partir dos 15 anos, sob o conceito de jovem. Esse conceito será uma
referência para o ensino supletivo. Essa mesma Constituição, que retira o vínculo
constitucional de recursos para a educação, obriga as empresas a manterem o ensino
primário para os empregados e seus filhos (art. 170).
Fonte: Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
A Emenda Constitucional de 1969, também conhecida como Emenda da Junta Militar, usa
pela primeira vez a expressão direito de todos e dever do Estado para a educação. A
emenda constitucional obriga os municípios, beneficiários menores na repartição dos
impostos, a serem os responsáveis, por lei, pela oferta do ensino fundamental, devendo
aplicar 20% de seus impostos em educação.
É no interior de reformas autoritárias, como foi o caso, por exemplo, das Leis 5.540/1968,
5.692/1971 e dessa "modernização conservadora", que o ensino supletivo teve suas bases
legais específicas.
Com a Lei 5.692/1971, o ensino supletivo ganhou capítulo próprio, determinando que ele se
destinava a “suprir a escolarização regular para adolescentes e adultos, que não a tinham
seguido ou concluído na idade própria”. Esse ensino podia, então, abranger o processo de
alfabetização, a aprendizagem, a qualificação, algumas disciplinas e a atualização. Os
cursos poderiam acontecer via ensino a distância, por correspondência ou por outros meios
adequados.
Os cursos e os exames seriam organizados dentro dos sistemas estaduais de acordo com
seus respectivos Conselhos de Educação. Os exames, conforme o art. 26, seriam entregues
a “estabelecimentos oficiais ou reconhecidos”, cuja validade de indicação seria anual, ou
“unificados na jurisdição de todo um sistema de ensino ou parte deste”, cujo polo seria um
grau maior de centralização administrativa. E o número de horas, consoante o art. 25,
ajustar-se-ia de acordo com o “tipo especial de aluno a que se destinam”, resultando daí
uma grande flexibilidade curricular.
(Lei 5.692/1971)
A criação do MOBRAL pode ser entendida como uma resposta do governo militar à retração
dos movimentos de educação de base e de alfabetização de adultos, após as mudanças
políticas de 1964, e ao vácuo político-educacional que deixou. Logo após a supressão ou o
confinamento dos movimentos tidos como de inspiração esquerdista, como o Movimento de
Educação de Base (MEB), o Movimento de Cultura Popular (MCP) e outros que utilizavam
predominantemente o método Paulo Freire, o Ministério da Educação passou a apoiar
movimentos similares, mas de orientação ideológica compatível com o novo regime. Um
bom exemplo é o da Cruzada ABC. Conheça melhor a seguir:
CRUZADA ABC
Iniciativa da Igreja Presbiteriana do Recife foi o mais importante desses novos movimentos.
A presença de missionários norte-americanos nessa igreja propiciou o apoio financeiro da
United States Agency for International Development (USAID) à Cruzada ABC, que se
espalhou por outros estados do Nordeste, chegando até mesmo à Guanabara. Mas, à
medida que a Cruzada ABC crescia, perdia o ímpeto inicial, ficando cada vez mais claro,
para o governo e para a USAID, que não era capaz de cumprir a função técnica e ideológica
que dela se esperava. Diante desse fracasso, o Estado assumiu diretamente o controle da
alfabetização de adultos. Pela Lei 5.379, de 15 de dezembro de 1967, foi criada, no âmbito
do Ministério da Educação, uma fundação de direito público: o MOBRAL.
CRUZADA ABC
Concretamente, Paulo Freire havia obtido grande sucesso com seu método na experiência
em Angicos e, por isso, foi convidado pelo então Presidente João Goulart para ampliar a
experiência no sentido de erradicar o analfabetismo no país.
Apesar da oposição ferrenha a Freire, o método de alfabetização usado pelo MOBRAL era
fortemente influenciado pelo Método Paulo Freire, utilizando-se, por exemplo, do conceito de
"palavra geradora".
Fonte: Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
A diferença é que o Método Paulo Freire utilizava palavras tiradas do cotidiano dos alunos,
enquanto na proposta do MOBRAL, as palavras eram definidas a partir de estudo das
necessidades humanas básicas por uma equipe técnica que buscava seguir elementos da
norma padrão da língua portuguesa, na época chamada de norma culta.
ATIVIDADE
Você sabe qual era o objetivo principal do MOBRAL?
RESPOSTA
RESPOSTA
Ao longo do seu período de funcionamento, o MOBRAL desenvolveu sua atuação por meio
de quatro programas:
ALFABETIZAÇÃO FUNCIONAL
EDUCAÇÃO INTEGRADA
DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO
ATIVIDADES CULTURAIS
ALFABETIZAÇÃO FUNCIONAL
Com cinco meses de duração e duas horas diárias de aulas, em postos onde os alunos
eram escolarizados sob a direção de monitores.
EDUCAÇÃO INTEGRADA
DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO
ATIVIDADES CULTURAIS
Durante seu primeiro período de funcionamento até 1977, o MOBRAL teria alfabetizado,
segundo estatísticas oficiais, um total de 11,2 milhões de pessoas, fazendo baixar a taxa de
analfabetos no país para 14,2%. Mas há quem questione esses dados, já que pelos dados
do IBGE, obtidos na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 1976, o
percentual de analfabetos com mais de dez anos de idade era de 24%, pouco abaixo da
taxa encontrada em 1973, de 28%. Esse fracasso do Programa e da própria Fundação
foram atestados inequivocamente, em 1980, no Censo nacional, que atestou no período de
dez anos (1970-1980) um aumento de 540 mil analfabetos de quinze anos ou mais no país.
Mesmo com o aumento da população total, os números eram desalentadores.
(CPDOC/FGV 2009)
O MOBRAL durou quase duas décadas e foi um dos programas de educação mais caros
que o Brasil já teve, mas que fracassou, especialmente porque seus objetivos eram
ideológicos e não condiziam com a realidade da EJA.
O MOBRAL não deu certo, ao menos nas metas e objetivos que o próprio programa se
impunha, porque foi imposto, não foi idealizado por seus educadores, não possuía material
didático adequado, os professores não recebiam uma boa remuneração e tratava-se de um
instrumento para impor o autoritarismo do regime militar.
A TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA E AS
NOVAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS
A democracia foi um longo processo. Desde o governo de Ernesto Geisel, em que foi criado
o conceito de uma abertura lenta e gradual, até o presidente militar que tinha ordens
expressas de organizar a transição – Figueiredo – das eleições indiretas que elegeram a
chapa no congresso Tancredo Neves e José Sarney (com a morte do primeiro), iniciava-se a
fase de redemocratização dos anos 1980, que culminaria com a Nova República a partir da
eleição de Fernando Collor de Melo. A educação de Jovens e Adultos tramita e se
transforma junto com esse momento.
"
No primeiro semestre de 1985, a equipe técnica que atuava junto ao presidente Sarney
desenvolveu um breve debate sobre o tipo de intervenção que o governo deveria adotar com
relação ao MOBRAL.
"
"
Em 1990, foi instaurada a política de enxugamento da máquina estatal proposta por Collor.
Em Junho de 1991, a Fundação EDUCAR foi uma das vítimas dessa política, sendo
finalmente extinta. De alguma forma, nesse momento foi enterrada uma fase de nossa
história educacional.
"
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Apenas I, II e III.
C) Apenas I, II e IV
D) Apenas I, III e IV
A) I, II e III.
B) Apenas I e II
C) Apenas II e III
D) Apenas a I
E) Apenas a II.
GABARITO
2. Qual é a diferença entre o método utilizado pelo MOBRAL e o Método Paulo Freire?
I. A diferença é que o Método Paulo Freire utilizava palavras tiradas do cotidiano dos
alunos, enquanto, na proposta do MOBRAL, as palavras eram definidas a partir de
estudo das necessidades humanas básicas por uma equipe técnica, que buscava
seguir elementos da norma padrão da língua portuguesa, na época chamada de norma
culta.
II. O Educador Paulo Freire deveria estar identificado com o cotidiano e presente na
realidade de seus educandos; no MOBRAL, o governo via seu papel de ofertar
cidadania e instrumentalizar os alunos.
III. Apoiado pelo plano MEC - USAID, o objetivo do MOBRAL era multiplicar o acesso e
a disponibilidade de educação ao maior número de pessoas. Para Paulo Freire, o foco
estava no sujeito, no projeto e no resultado, além do despertar da autonomia; dessa
forma, ele e suas propostas eram entendidos como um risco para o projeto de país
que pretendiam levar à frente.
Em 1964, Freire era entendido como o nome a levar um projeto nacional de educação de
adultos, em especial a partir de ações bem sucedidas criadas no nordeste brasileiro. A
crítica dialoga em relação ao objetivo (autonomia x cidadania) e ao projeto de nação
(sujeitos participativos x cidadãos comprometidos com o país).
MÓDULO 2
Retomado pela Lei 9.394/1996 (a nova LDB), esse princípio abriga o conjunto das pessoas
e dos educandos como um universo de referência sem limitações. Assim, a Educação de
Jovens e Adultos (EJA), modalidade estratégica do esforço da nação em prol de uma
igualdade de acesso à educação como bem social, participa desse princípio e sob essa luz
deve ser considerada.
Fonte: Site Senado
ATIVIDADE
De acordo com os princípios citados, leia o texto abaixo e complete as lacunas com as
palavras que melhor se encaixam no contexto da EJA no Brasil. Para isso, utilize as palavras
do quadro.
Essas considerações adquirem substância não só por representarem uma dialética entre
dívida social, abertura e promessa, mas também por se tratar de postulados gerais
transformados em direito do cidadão e dever do Estado. O art. 208 é claro ao garantir o
ensino fundamental como obrigatório e gratuito, assegurando, inclusive, que sua oferta será
de graça para todos os que a ele não tiverem acesso em idade própria.
Esta redação pressupõe a educação básica para todos e, dentro dela, em especial, o ensino
fundamental como seu nível obrigatório, inclusive para os adultos.
Para mais detalhes sobre as metas para educação presentes na Constituição Federal de
1988, clique no botão a seguir.
DETALHES
O art. 214 da Constituição Federal de 1988 traz como meta para a educação como um todo
a erradicação do analfabetismo (inciso I) e a universalização do atendimento escolar (inciso
II). Erradicar o analfabetismo e universalizar o atendimento são faces da mesma moeda e
significam o acesso de todos os cidadãos brasileiros ao ensino fundamental.
O art. 60 do Ato das Disposições Transitórias, com redação dada pela Emenda
Constitucional 14/1996, os estados, o Distrito Federal e os municípios destinarão não menos
de 60% dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituição Federal à
manutenção e ao desenvolvimento do ensino fundamental, com o objetivo de assegurar a
universalização do seu atendimento e a remuneração condigna do magistério (...). O
parágrafo 6º do mesmo artigo reafirma que a União aplicará na erradicação do
analfabetismo e na manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental nunca menos
que o equivalente a 30% dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituição
Federal.
(UNICEF, 1990)
No Brasil, a situação não é tão grave, mas dados pouco animadores – ainda nos dias atuais
– tornaram necessária a definição de políticas educacionais efetivas para o problema desde
que, no final do período militar, a EJA se inscreveu na luta pela democratização de nossa
sociedade como direito de todos os “que não tiveram oportunidade de se escolarizar no
momento devido”. Assim, é no processo de redemocratização dos anos de 1980 que a
Constituição dará o passo decisivo em direção a uma nova concepção de educação de
jovens e de adultos. Foi muito significativa a presença de segmentos sociais identificados
com a EJA no sentido de recuperar e ampliar a noção de direito ao ensino fundamental
extensivo aos adultos, já posta na Constituição de 1934.
# RESUMINDO
Desde que a Educação de Jovens e Adultos passou a fazer parte constitutiva da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, ela se tornou modalidade da educação básica e é
reconhecida como direito público subjetivo na etapa do ensino fundamental. Logo, ela é
regular enquanto modalidade de exercício da função reparadora. E como direito público
subjetivo, atinge também sua função equalizadora. E é como direito de educação “ao longo
da vida” que ela se caracteriza como permanente.
1
2
Essa vertente passa a constituir o verdadeiro sentido da EJA na atualidade, por ressignificar
os processos de aprendizagem pelos quais os sujeitos se produzem e se humanizam, ao
longo de toda a vida. Essa concepção reconceitualiza a área, não mais restrita à questão da
escolarização, ou da alfabetização, como foi vista por largo tempo.
E é nessa perspectiva que a associação entre o direito de aprender por toda a vida se
articula com a dignidade da pessoa humana, também fundante na compreensão atual da
modalidade.
A opção governamental, vigente do início dos anos 1990 até 2002, intensificou o
afastamento da EJA como um processo de educação continuada, indispensável para
acompanhar a velocidade e as necessidades atuais de desenvolvimento das ciências,
técnicas, tecnologia, das artes, expressões, linguagens, culturas, enfim, o que o mundo,
especialmente a partir do fenômeno da globalização, conferia à história.
Apesar dessa posição, dos embates dos educadores e dos fóruns de EJA com as políticas
do MEC (e talvez mesmo por causa delas), o Parecer CEB/CNE, de 11 de maio de 2000,
conferiu à EJA um texto de diretrizes que a recoloca no plano em que precisa ser discutida,
compreendida e apreendida: o do Direito.
Não apenas a escolarização se reforçava como ação da educação de jovens e adultos, mas
também as demais ações educativas que trabalhavam com os segmentos mais pobres da
população, com a finalidade de lhes proporcionar a experiência de saber o que é ter direito e
de se organizar para conquistá-lo.
Fonte: Shutterstock.com
No contexto da busca pela Educação Para Todos, há duas fortes razões para que educação
e escolaridade não sejam igualadas, como fica claro na fala de McCowan (2011), que nos
alerta o quanto é importante não esquecer que a associação corrente entre direito à
educação e direito à escolarização pode nos levar a enganos. Em primeiro lugar, muitas
escolas ao redor do mundo não conseguem oferecer uma experiência que possa ser
chamada efetivamente de educação.
Entre muitos exemplos possíveis, destaca-se o estudo etnográfico de Palme (1999) sobre
escolas no norte de Moçambique, o qual proporciona uma imagem viva, e desalentadora
desse fato. Os alunos passam a maior parte do tempo ouvindo sem entender, copiando sem
entender e simplesmente esperando.
McCowan (2015) alerta para o fato de que a educação, entendida como direito humano,
precisa atender a quatro características essenciais:
VALOR INTRÍNSECO
Fonte: Shutterstock.com
As políticas públicas que vigoraram entre 2003 e 2015 foram relevantes e tinham foco na
constituição do direito à educação para todos, independentemente da idade, possibilitando
condições de dignidade a milhares de brasileiros.
Fonte: Shutterstock.com
Fonte: Shutterstock.com
A Constituição Federal de 1988, no inciso III do artigo 1°, preceitua a dignidade da pessoa
humana como princípio, valor fundamental e base da democracia, o que na educação de
jovens e adultos (EJA) é enunciado como premissa básica para pensar o direito à educação.
$ ATENÇÃO
(DANTAS, 2018)
# RESUMINDO
Finalizando este módulo, podemos afirmar que o percurso da EJA no Brasil dos últimos
cinquenta anos mostra com clareza a importância dos novos conceitos e do aprofundamento
de debates. Estes suscitados pelo fato de a educação estar incluída, em todos os níveis e
em todas as modalidades, num conjunto de direitos relacionados não só a aprendizagens de
conteúdos escolares ou à alfabetização, mas envolvendo o direito de se desenvolver por
toda a vida, tanto em relação a esses conteúdos formais quanto a outras aprendizagens
permanentes, que nos aperfeiçoam como cidadãos e mesmo como seres humanos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. LEIA AS AFIRMATIVAS ABAIXO QUE TRATAM DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL DE 1988 PARA A EDUCAÇÃO:
A) I e III apenas.
B) II e III apenas.
C) I e II apenas.
A) A função reparadora pode ser vista como uma oportunidade de os jovens se tornarem
cidadãos ativos e serem inseridos no mercado de trabalho.
E) A função de formar homens do campo, que não tiveram acesso à educação como
defendida na Declaração de Jomtien, assinada pelo Brasil.
GABARITO
As duas afirmativas primeiras estão corretas. A terceira falha em não mensurar a educação
como um direito e um compromisso para todos os brasileiros. É dado um destaque às
crianças, mas afirma o direito de todos, independentemente da idade, de ter acesso à
educação básica, princípio organizado na LDB de 1996.
A resposta é D, uma vez que a função reparadora tem uma função constitucional de
devolver ao cidadão que não teve oportunidade de ter educação de qualidade, como
preconiza a Constituição Brasileira, como um direito de todos os cidadãos.
MÓDULO 3
Diferentemente das propostas anteriores, essas novas diretrizes deixam para cada sistema
de ensino definir a estrutura e a duração dos cursos da EJA, respeitadas as diretrizes
curriculares nacionais, a identidade dessa modalidade de educação e o regime de
colaboração entre os entes federados (art. 6º).
Fonte: Shutterstock.com
A resolução também legisla sobre as possibilidades de oferta e permite, além dos cursos
presenciais, cursos semipresenciais e a distância (art. 9º). Os alunos só podem ser
avaliados, para fins de certificados de conclusão, em exames supletivos presenciais
oferecidos por instituições especificamente autorizadas, credenciadas e avaliadas pelo
poder público, dentro das competências dos respectivos sistemas, conforme a norma própria
sobre o assunto e sob o princípio do regime de colaboração.
Vinte anos são passados e a resolução permanece vigente, apesar de algumas adaptações
que se tornaram necessárias, seja porque houve mudanças sociais significativas no período,
seja em função de novas normas curriculares aprovadas e em vigor, que também implicam
em mudanças na EJA.
EJA, enquanto uma modalidade da educação básica no interior das etapas fundamental e
média, deve evidentemente se pautar pelos mesmos princípios postos na LDB para o ensino
fundamental e médio regulares. E, no que se refere aos componentes curriculares dos seus
cursos, ela toma para si as diretrizes curriculares nacionais dessas etapas, conforme
referidas acima. Valem, pois, para a EJA as mesmas diretrizes do ensino fundamental e
médio regulares.
DETALHES
O parecer recupera elementos da LDB 9394/1996 para reafirmar a EJA como uma
modalidade da educação básica nas etapas do ensino fundamental e médio, o qual usufrui
de uma especificidade própria e, portanto, deveria receber um tratamento consequente.
ADAPTAÇÃO PEDAGÓGICA
Muitos alunos da EJA têm origens em quadros de desfavorecimento social, e suas
experiências familiares e sociais divergem, por vezes, das expectativas, dos conhecimentos
e das aptidões que muitos docentes possuem com relação a esses estudantes. Identificar,
conhecer, distinguir e valorizar tal quadro é princípio metodológico para se produzir uma
atuação pedagógica capaz de produzir soluções justas, equânimes e eficazes para esse
conjunto de estudantes.
Não pode faltar atenção também a outros aspectos que se relacionam com o perfil do
estudante jovem e adulto. Veja dois exemplos que precisam ser considerados:
FLEXIBILIDADE CURRICULAR
TRABALHO
FLEXIBILIDADE CURRICULAR
Deve significar um momento de aproveitamento das experiências diversas que esses alunos
trazem consigo como, por exemplo, os modos pelos quais eles trabalham seus tempos e seu
cotidiano. A flexibilidade poderá atender a essa tipificação do tempo mediante módulos,
combinações entre ensino presencial e não presencial e em sintonia com temas da vida
cotidiana dos alunos a fim de que possam se tornar elementos geradores de um currículo
apropriado aos alunos e às suas experiências.
TRABALHO
Este é outro elemento relevante, seja pela experiência, seja pela necessidade imediata de
inserção profissional, o tema merece especial destaque nos processos de escolarização na
modalidade EJA.
O projeto pedagógico para a EJA e a preparação dos docentes para a atuação nessa
modalidade, sempre segundo a resolução da qual tratamos aqui, devem considerar, sob a
ótica da contextualização, o trabalho e seus processos e produtos desde a mais simples
mercadoria, até os seus significados na construção da vida coletiva.
Mesmo na perspectiva da transversalidade temática, tal como proposta nas atuais diretrizes
curriculares e na Base Nacional Comum Curricular para o ensino fundamental e médio, cabe
aos projetos pedagógicos a forma de definição dos modos usados para abordá-los na
proposta pedagógica, aí incluindo o trabalho ou outros temas de especial significado.
% VOCÊ SABIA
LAZER
Uma questão relevante está no reconhecimento da importância do tempo de lazer e os
modos como é usado pelos sujeitos. Isso implica em investigar e considerar o impacto dos
meios de comunicação sobre os estudantes, bem como o das redes sociais – ausentes do
parecer, mas determinantes atualmente.
DIFERENÇA DE IDADE
Importante é também distinguir as duas faixas etárias consignadas nessa modalidade de
educação. Apesar de partilharem uma situação comum desvantajosa, as expectativas e
experiências de jovens e adultos frequentemente não são coincidentes. Esses e muitos
outros exemplos deverão ser ressignificados, onde o zelar pela aprendizagem, tal como
disposto no art. 13, III da LDB, ganha grande relevância.
oferta de educação escolar regular para jovens e adultos (LDB, art. 4 º VII) ou o ensino
noturno regular (LDB, art. 4º VI) são prejudicados em seus itinerários escolares, não se
pode reduplicar seu prejuízo mediante se desfazer da obrigação da qualidade da oferta
educacional a eles destinada. Torna-se fundamental, portanto, a formulação de projetos
pedagógicos próprios e específicos dos cursos noturnos regulares e da Educação de Jovens
e Adultos. Já no Parecer CEB n. 15/1998, encontra-se a preocupação expressa com uma
política de qualidade dentro dos projetos pedagógicos.
E como é possível ver na CNE, 2000, p. 64, identifica-se, ainda, a associação deles ao
prazer de fazer bem feito e à insatisfação com o razoável, quando é possível realizar o bom,
e com este, quando o ótimo é factível. Para essa concepção estética, o ensino de má
qualidade é, em sua feiura, uma agressão à sensibilidade e, por isso, será também
antidemocrático e antiético. A EJA não pode sucumbir ao imediatismo que sufoca a estética,
comprime o lúdico e impede a inventividade.
(LDB, art.38)
A oferta de cursos de EJA deve ser um esforço constante e localizado dos poderes públicos,
com o objetivo de tornar a função reparadora cada vez mais uma coisa do passado e que
desapareça de nossos códigos a imposição do “erradicar o analfabetismo”. Mais importante,
até para o sucesso de projetos destinados a alfabetizar universalmente a população
brasileira, é eliminar as condições gerais de vida social que não permitem um mínimo de
equidade, além de algumas das condições específicas que, dentro dos cursos, não
consideram o perfil do aluno em adequação aos métodos e diretrizes, como ocorre tão
frequentemente com os alunos da EJA.
É aqui que a noção de currículo em ação ganha força, já que na prática educativa cotidiana
professores e alunos em interação recriam as propostas ao usá-las em função dos limites e
possibilidades da realidade, na qual estão imersos mais do que a partir daquilo que
pensaram os planejadores quando propuseram a atividade. Ou seja, toda recriação e
adaptação que favoreça aprendizagens é bem-vinda, desde que não comprometa o direito
de acesso ao conjunto dos conteúdos.
Fonte: Shutterstock.com
A resolução afirma que: a base nacional comum dos componentes curriculares deverá estar
compreendida nos cursos da EJA. E o zelar pela aprendizagem dos alunos (art. 13, III)
deverá ser de tal ordem que o estudante esteja apto a prosseguir seus estudos em caráter
regular (art. 38). Mudaram as diretrizes, e os pareceres de 1998 foram substituídos pelas
BNCCs, mas permanece a lógica da EJA como uma modalidade de ensino que precisa
potencializar as aprendizagens para favorecer a inclusão escolar e social de seus alunos, ao
mesmo tempo em que permanece válida a compreensão de que os conteúdos, sendo os
mesmos, as especificidades do público devem ser consideradas nos currículos específicos.
Se nos pareceres de 1998 a base nacional comum referia-se ao conjunto dos conteúdos
mínimos das áreas de conhecimento articulados aos aspectos da vida cidadã, de acordo
com o art. 26 da LDB, atualmente as BNCCs mantêm a lógica da distinção entre o que é
para todos e o que é local e, ainda, a ideia de que a parte diversificada não é um recurso
adicional a essa Base. Os conteúdos dessa parte são integrados à Base Nacional Comum.
Fonte: MEC
Na resolução acerca das diretrizes do ensino médio em sintonia com o parecer do ensino
fundamental, está claro que:
Nas bases atuais, esses princípios continuam enunciados como válidos e necessários,
mesmo que do ponto de vista da realidade não possamos confiar tanto no que se enuncia, já
que algumas de suas premissas e propostas são incompatíveis com esses princípios. Há,
portanto, atualmente, muitas interrogações em relação aos currículos da EJA, o quanto
atendem e permanecerão atendendo aos princípios e às propostas da Resolução n. 1/2000,
assegurando a qualidade da oferta, a contextualização dos conteúdos e o respeito às
trajetórias, especificidades culturais, aos conhecimentos e às experiências dos alunos.
Essa é uma questão que permanece e que exige de todos os envolvidos com ela,
professores, estudiosos, alunos, formuladores de políticas, atenção ao que se produz, ao
que se aprende e se pensa com relação à EJA.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
ESTÃO CORRETAS:
A) Apenas a I
B) Apenas a II
C) Apenas a III
D) Apenas I e II
E) Apenas II e III
A) I, II e III
B) Apenas a I
C) Apenas a II
D) Apenas a III
E) Apenas I e II
GABARITO
Estão corretas:
A resolução atualiza os debates, mas tem suas bases nas reflexões já presentes na LDB de
1996. Como modalidade, no entanto, passa a ter preocupações sobre o sujeito e sua
formação de maneira específica.
2. A questão do EJA continuou sendo vital no século XXI no Brasil. Isso se dá pelo
fato de que:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebemos que a EJA passa por um reconhecimento fundamental, pois era necessária
uma reparação histórica. Vinculada e pensada em um projeto liderado por Freire, ainda que
abandonada, a proposta permaneceu viva com o MOBRAL.
Propostas pedagógicas, leis, normas e seus ideários, ideias sobre Educação e suas
premissas, documentos e negociações que lhes deram origem, debates e embates políticos
e acadêmicos, são alguns dos assuntos que se enredam e dialogam, nas escolas e fora
delas, na reflexão em torno da EJA, sua história e suas possibilidades no Brasil
contemporâneo.
FALA, MESTRE!
Mestres de diversas áreas do conhecimento compartilham as informações que tornaram
suas trajetórias únicas e brilhantes, sempre em conexão com o tema que você acabou de
estudar! Aqui você encontra entretenimento de qualidade conectado com a informação que
te transforma.
Política de Cotas
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, reflete sobre a importância da política de cota para a
diminuição da desigualdade social.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, reflete sobre a importância da política de cota para a
diminuição da desigualdade social.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, relata o racismo existente em processos da vara de
infância e juventude envolvendo religiões de matriz africana.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, relata o racismo existente em processos da vara de
infância e juventude envolvendo religiões de matriz africana.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, compartilha suas memórias do período em que atuou na
vara de infância e juventude e o seu compromisso com a sua função.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira
desembargadora negra do TJRJ, compartilha suas memórias do período em que atuou na
vara de infância e juventude e o seu compromisso com a sua função.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Brasília: 1988.
BRASIL. Casa Civil. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o
ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências. (Revogada pela Lei n. 9394/1996)
BRASIL. Resolução CNE/CEB de janeiro de 2000. Diário Oficial da União, 19 jul. 2000. s.
1, p. 18.
DANTAS, A.; OLIVEIRA, I. B.; PAIVA, J. Pensar o Direito Humano à Educação. In:
Educational Policy Analysis Archives, 27 jul. 2020. v. 28, n. 110. Consultado em meio
eletrônico em: 28 nov. 2020.
FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA. UNICEF. Declaração mundial sobre
educação para todos. Jontiem: UNICEF, 1990.
PALME, M. Cultural ambiguity and the primary school teacher: lessons from Rural
Mozambique. In: LEACH, F.; LITTLE, A. (Eds.). Education, cultures, and economics:
dilemmas for development. New York: Falmer Press, 1999.
UNESCO. Declaração mundial sobre educação para todos e plano de ação para
satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. In: UNICEF. Jomtien, mar. 1990.
EXPLORE+
Para saber mais sobre EJA de uma maneira geral, é muito interessante visitar o site do
Fórum Eja. Lá você encontrará vídeos, textos e um rico material.
Outros textos:
CONTEUDISTA
Inês Barbosa de Oliveira
PROPÓSITO
Descrever os processos de alfabetização, letramento e formação de leitores entre as
pessoas jovens e adultas, assim como o direito à educação e os aspectos culturais, de raça,
de gênero e de classe, além dos desafios da inclusão digital para as pessoas jovens e
adultas no contexto da contemporaneidade de forma mais ampliada e com potencial para
uma reflexão sobre questões do cotidiano escolar.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos o Parecer CNE/CEB nº 11/2000, que
estabelece as diretrizes curriculares nacionais para a educação de jovens e adultos.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
Definir as relações entre culturas, raça, gênero e classe no cotidiano da educação de jovens
e adultos, além de suas potencialidades na garantia do direito à educação
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Neste tema, estabeleceremos um diálogo sobre a modalidade EJA no contexto da
contemporaneidade a partir da compreensão dos conceitos de alfabetização e de
letramento. Para isso, contaremos também com os processos formativos de leitores e
escritores jovens, adultos e idosos, levando em consideração suas trajetórias, suas
especificidades e seus usos sociais da leitura e da escrita.
MÓDULO 1
! Identificar os conceitos de alfabetização e de letramento, assim como sua
importância para a formação de leitores e escritores jovens e adultos autônomos
OS DESAFIOS DA ALFABETIZAÇÃO E
LETRAMENTO DA POPULAÇÃO JOVEM E
ADULTA: FORMAÇÃO DE LEITORES E
ESCRITORES E A AUTONOMIA
INTELECTUAL
Os desafios da alfabetização e do letramento são tema de inúmeras conversas entre
professores. Como decorrência disso, constitui um desafio ainda maior para a educação em
geral a formação de leitores e escritores que consigam utilizar socialmente a leitura e a
escrita. Como você deve imaginar, a educação de jovens e adultos não fica de fora desse
desafio.
ALFABETIZAR E FORMAR UM ADULTO
LEITOR. ISSO É POSSÍVEL?
O professor Antônio Giacomo Macedo falará neste vídeo sobre a formação e a alfabetização
de pessoas na fase adulta.
Certamente, dialogar sobre esse desafio na modalidade EJA requer que nos apropriemos
dos conceitos de alfabetização e letramento. A partir daí, poderemos reconhecer os usos da
leitura e da escrita para as pessoas jovens, adultas e idosas.
Pense um pouco sobre essas três questões. Anote no seu caderno de estudo ou em um
arquivo em seu computador suas ideias, retomando essas anotações ao final do estudo
deste módulo.
Foto: Shutterstock.com
Aprender a ler o mundo, como nos ensinou o mestre Paulo Freire, precisa acontecer antes
da leitura da palavra, do texto escrito. Conceituar alfabetização e letramento requer então a
compreensão de que o movimento de ler o mundo é cotidiano e se constrói durante toda a
vida.
Por mais que pareça óbvio, é importante compreender que todos os seres humanos
aprendem a ler justamente lendo, assim como aprendem a escrever escrevendo. E é
necessário que, nesse movimento de leitura e escrita, cada pessoa compreenda e se
aproprie do que lê e do que escreve.
Mas, na prática, o que isso quer dizer? Os seres humanos – inseridos no mundo e na vida
em sociedade, seja ela qual for, urbana ou rural – precisam aprender a ler de maneira
contextualizada o que vivem e com tudo que os cercam.
Este deve ser o primeiro passo para o processo de leitura e de escrita da palavra, do texto:
com sentido e de forma significativa.
Os contos de fada eram contados para pessoas de diferentes idades nos séculos XVII e
XVIII. Isso transcorreu da mesma maneira ao longo da história com os mitos e as lendas.
autor/shutterstock
Essa oralidade praticada atravessa gerações pelas vozes dos narradores, dos contadores
de histórias e dos griôs. Ela também faz essa travessia graças às vozes de cada pessoa do
campo, da cidade e de todos os lugares nos quais sejam contados seus causos e suas
receitas, compartilhando saberes populares carregados de ciência.
GRIÔS
TODES
DECOLONIZAR
Sendo assim, você pode perceber que estamos falando de formas de se ler o mundo por
diferentes olhares e formas. Por outro ponto de vista, verifica-se que é possível educar por
meio de:
PRÁTICAS ORAIS
LEITURA
TÉCNICAS DE ESCRITA
Essas ações podem estar presentes no cotidiano da sala de aula e ser mais valorizadas pela
escola. Se compreendermos a educação como um ato político na sua ampla dimensão,
como também destacou Paulo Freire em vários momentos de sua vasta obra, poderemos,
assim, entender a alfabetização.
Dessa forma, damos sentido ao que é lido e escrito e aos processos de aprendizagem da
leitura e da escrita. Além disso, ganha sentido a perspectiva do letramento nos processos de
alfabetização como algo essencial, já que ela se constitui conjuntamente.
! SAIBA MAIS
EDUCAÇÃO COMO ATO POLÍTICO
Além disso, desenvolve-se a análise do que se viu e do que se viveu à luz de suas
compreensões e percepções de forma democrática e segundo princípios que resguardem a
ética humana.
Fonte: Autor/Shutterstock
Leda Verdiani Tfouni (1997) define a alfabetização como o processo de apropriação das
habilidades necessárias para a leitura e a escrita, a qual, aliás, ocorre individualmente. O
Letramento, segundo seus estudos, relaciona-se aos aspectos históricos e sociais do
processo de apropriação dessas habilidades, tendo em vista os contextos sociais
Foto: Shutterstock.com
Considere que os seres humanos que vivem em sociedade são, por sua condição de vida,
letrados, uma vez que eles têm acesso, mesmo os não alfabetizados, ao mundo das letras.
Tenha em mente que o texto se manifesta de diferentes formas: cartaz, letreiro do ônibus,
outdoor, letreiro de lojas, jornal etc. Além disso, considere também que os seres humanos,
permanentes aprendizes, têm seu processo de alfabetização em constante construção.
RESPOSTA
RESPOSTA
Letramento, por sua vez, refere-se mais especificamente aos usos sociais da leitura e da
escrita pelas pessoas. Dessa forma, ele se relaciona com:
AS HISTÓRIAS DE VIDA
OS CONTEXTOS SOCIAIS
OS VALORES
Para começar o estudo deste subtópico, é importante que você saiba que o debate sobre
alfabetização e letramento envolvendo pessoas jovens e adultas (assim como as idosas)
contém especificidades que caracterizam os modos de ensinar ou aprender na modalidade
EJA.
Ainda não havíamos tratado do direito à leitura e à escrita dentro do contexto do direito a
uma educação para todos. Esse entendimento nos leva à compreensão dela como um ato
político no sentido freiriano.
NO BRASIL, AINDA LIDAMOS COM A BUSCA PELA
UNIVERSALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA
TODOS INDEPENDENTEMENTE DE SUAS IDADES.
No caso da educação de jovens e adultos, esse problema perdura, ainda que a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) estabeleça, em seu artigo 37,
dois itens importantes:
1
2
Exames de conclusão de curso para todos as pessoas jovens, adultas e idosas que ainda
não tiveram acesso à escolarização nos níveis fundamental e médio.
Dos jovens e adultos que compõem esse total, seguramente estão aqueles mais
desfavorecidos socioeconomicamente e os que se encontram em situação de
vulnerabilidade social.
Foto: Shutterstock.com
Para que essas iniciativas articuladas e mudanças sociais ocorram, é necessário que sejam
criadas diversas possibilidades de aprendizagem para as pessoas jovens e adultas que
considerem os seus saberes prévios, incluindo suas culturas.
Olhando para trás e recuperando na memória sua trajetória escolar desde a educação
básica, você, se estudou quando criança, já deve ter notado que se aprende com melhor
apropriação dos saberes os conteúdos mais significativos.
Isso também vale para os processos de alfabetização que não se esgotam ou se resumem
às classes de alfabetização. Eles precisam ser entendidos como um procedimento mais
ampliado, de aperfeiçoamento das práticas leitoras e escritoras.
Vamos nos alfabetizando e nos aperfeiçoando nas formas de ler e de escrever quanto mais
utilizamos e nos apropriamos das ferramentas de leitura e de escrita – e de forma ainda
mais intensa quanto mais elas nos tocam.
Ao se estabelecer uma comunicação, é possível que sejam criadas estratégias para que as
pessoas não alfabetizadas lidem com práticas cotidianas em que a linguagem esteja
presente. Dessa forma, são apreendidas formas de participação, havendo o
desenvolvimento de:
Ações
Conhecimentos
Saberes
Valores
Hábitos
Esses itens desenvolvidos impactam e são impactados pelas formas como jovens adultos (e
idosos) agem e interagem em sociedade. Leva-se sempre em consideração seus grupos de
pertença, havendo uma relativa e necessária autonomia para sua atuação em uma
sociedade letrada.
Como você pode notar, considerar que a alfabetização e o letramento precisam caminhar
juntos requer que o professor tenha a sensibilidade aguçada para valorizar os
conhecimentos e as habilidades que cada estudante traz consigo quando chega à sala de
aula. Cabe a ele perceber e se apropriar de formas de ensinar a ler e a escrever que
ultrapassem os limites de uma prática alfabetizadora convencional.
Não funciona para a EJA uma técnica que se restrinja a ensinar letras, sílabas, frases e,
somente depois, os textos. Até porque a alfabetização é infinitamente maior do que isso. Ao
dialogar sobre as práticas de leitura e de escrita que se ancorem nas práticas sociais, é
preciso ter em mente que a alfabetização e o letramento, de forma indissociada, vão além da
escola.
Foto: Shutterstock.com
Casa
Foto: Shutterstock.com
Trabalho
Foto: Shutterstock.com
Instituições religiosas
Foto: Shutterstock.com
Comunidades
Foto: Shutterstock.com
Como nos diz Paulo Freire, alfabetizar adultos e jovens é um ato político de conscientização,
de conhecimento e de criação. Sendo assim, o ato de ler:
autor/shutterstock
Com o que você leu e estudou até aqui, deve ter observado que há desafios a serem
superados nos processos de apropriação da leitura e da escrita com sentido por pessoas
jovens e adultas.
A educação pressupõe uma relação de poder. Assim ocorre com o direito à educação, o
qual, ainda que esteja efetivamente assegurado para todos no texto legal, não exibe na
prática a mesma eficácia.
Ler e escrever, assim como a condição de estar alfabetizado e fazer uso social da leitura e
da escrita, também se ancora em relações de poder. Formar leitores e escritores em uma
sociedade como a nossa — em que as desigualdades de acesso e de informação ainda se
fazem presentes — é de grande relevância.
O despertamento do prazer por ler e escrever não acontece da mesma forma na vida das
pessoas, como se, por exemplo, fosse uma receita ou saísse de um manual.
Lembro-me de uma importante escritora brasileira, Marina Colasanti (2004), que, no conto
Erros e acertos de uma mãe contaminada, narra uma experiência de formação de leitores
ocorrida em sua família com suas filhas.
Ambas tinham o mesmo acesso aos livros e a mesma liberdade para escolher na estante
qual deles gostaria de ler.
3
A outra, embora tivesse o mesmo acesso e a mesma liberdade de ter contato com os livros
— de diferentes gêneros e livre do rótulo, o que muitas vezes acontece na escola quando
determinado livro é designado para uma faixa etária específica —, não gostava de ler.
Até que determinado livro a conquistou: a partir dali, ela se tornou leitora.
4
Verídica, essa história nos permite perceber que o despertamento do prazer de ler – e, com
ele, do gosto pela leitura – acontece quando nos identificamos com o texto.
Dito isso, é importante ressaltar que, além de alfabetizar, a escola precisa investir na leitura
e no despertamento desse gosto pelos estudantes.
" RESPOSTA
O motivo de isso ocorrer é porque, muitas vezes, essas leituras os remetem a alguma
memória da infância ou a um desejo de encontrar aquele livro para ler, em casa, com os
filhos ou mesmo para eles.
Você já havia parado para pensar que não tem lógica ofertar nesse banquete livros com
histórias de e para adultos? Pois é… Não faz sentido, porque ler não tem idade. Além disso,
não existe livro certo ou errado, e sim tema de interesse.
Esse aspecto remete a outro que – ainda que brevemente – consideramos importante
abordar. Trata-se da importância da formação e da prática docente na educação de jovens e
adultos. Para essa reflexão, lançaremos uma pergunta:
Volto a conversar com Marina Colasanti (2004), que, no conto Em busca do mapa da mina
ou pensando em formação de leitores, desafia-nos a refletir sobre o ato de se formar leitores
como sendo simplesmente o de dar uma forma, ou seja, um espaço a um leitor que já existe
em cada pessoa, fazendo desabrochar a sua potência leitora.
Exemplo disso são as potentes rodas de leituras que funcionam como espaços de:
COMPARTILHAMENTOS DE SABERES
TROCAS DE EXPERIÊNCIAS
VIVÊNCIAS
SUGESTÕES DE LEITURAS
A valorização desses momentos – e, mais do que isso, dessas práticas leitoras – indica
potencialmente a elevação de uma técnica alfabetizadora que se (pre)ocupe com a
formação do leitor e do escritor crítico, consciente, problematizador e transformador. Com
isso, é possível que sejam dadas asas à imaginação e que seja despertado o prazer da
escrita, da criação e da autoria.
Todavia, para que essa prática pedagógica e alfabetizadora se materialize (até mesmo além
dos muros da sala de aula da alfabetização), é fundamental que o professor assuma seu
papel de pesquisador.
Em síntese, não existe receita para se formar leitores com autonomia intelectual. Há
caminhos a se trilhar. Além disso, uma boa dose de sensibilidade e de ousadia precisa estar
presente na prática pedagógica.
Fonte: autor/shutterstock
Propor escritas sobre algumas dessas leituras, mas não para todas elas! Lembre-se de que
ler é e precisa ser prazeroso!
Deve-se propor escritas sobre a vida, fatos do cotidiano, tudo… e valorizá-las. À medida que
se estimula o estudante a escrever e a perder o medo de errar, desperta-se a emoção e
promove-se o encontro com o leitor escritor.
A essa altura você deve estar se perguntando: como fazer? Isso é fácil? Que tal o professor
ser um pesquisador? Investigar seus alunos?
QUEM ELES SÃO? DE ONDE VIERAM? SÃO
MIGRANTES; ENTÃO, POR QUE VIERAM PARA CÁ?
É começar a ler o próprio mundo antes de ler e escrever a palavra. Isso significa que, ao
escrever já de forma desinibida, ele pode ser autor de sua história com autonomia.
Agora aproveite o final deste módulo e leia aquelas anotações iniciais que você fez.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
B) Consiste em ler, escrever e fazer usos da leitura e da escrita nos contextos sociais de
vida do ser humano.
GABARITO
MÓDULO 2
! Definir as relações entre culturas, raça, gênero e classe no cotidiano da educação
de jovens e adultos, além de suas potencialidades na garantia do direito à educação
CONCEITOS
Contudo, assegurar o direito público subjetivo à educação não significa somente ter escola e
salas de aula disponíveis com professores. É muito mais do que isso.
Neste módulo, trataremos das concepções de culturas, raça, gênero e classe, apontando
seus impactos na modalidade EJA e estabelecendo um diálogo com o princípio do direito
público subjetivo à educação.
Antes de continuar seu estudo, procure pensar como você define cada uma dessas
concepções. Anote no seu caderno ou em um arquivo do seu computador. No final, volte às
suas anotações e reflita sobre elas a partir do estudo realizado.
O DIREITO À EDUCAÇÃO — ALGUMAS NOTAS
Você já deve ter lido o Parecer CNE/CEB nº 11/2000, certo? Ele estabelece as diretrizes
curriculares nacionais para a educação de jovens e adultos. Se não o fez, este é o momento
crucial para fazê-lo, pois ele será fundamental para o entendimento do que vamos estudar a
seguir.
Esse documento assegura o direito à educação para as pessoas jovens, adultas e idosas,
além de reparar uma histórica dívida social com aproximadamente 11 milhões de
analfabetos com 15 anos ou mais no Brasil, segundo dados da PNAD Contínua (2019).
Foto: Shutterstock.com
LITERATURA DE CORDEL
Foto: Shutterstock.com
TEATRO POPULAR
Crédito editorial: Maila Facchini/Shutterstock.com
CANCIONEIRO REGIONAL
Crédito editorial: Kleber Cordeiro/Shutterstock.com
REPENTISTAS
FESTA POPULARES
Foto: Shutterstock.com
FESTAS RELIGIOSAS
Crédito editorial: Erica Catarina Pontes/Shutterstock.com
Contudo, resta a dúvida: tantos e tão ricos saberes são valorizados nos currículos e
cotidianos das escolas? Sabemos que, na maior parte das vezes, não. Essa, aliás, também
é uma questão cultural. Trata-se de uma negação das culturas brasileiras em suas diferentes
formas de manifestações, as quais refletem, por sua vez, a diversidade e a pluralidade do
ser brasileiro.
SÃO MARCAS DAS RAÍZES HISTÓRICO-SOCIAIS –
ALÉM DE CULTURAIS – QUE TÊM EM BOA ESTIMA O
COMPORTAMENTO EUROCÊNTRICO HEGEMÔNICO
NAS ESCOLAS, VALORIZADO, ALIÁS, PELA MINORIA
QUE CONSTITUI A ELITE SOCIAL E ECONÔMICA.
Elite essa que, ainda hoje, teima por ditar as regras da educação escolar a ser ofertada aos
negros, aos indígenas, aos camponeses e a tantos outros que permanecem tendo suas
cidadanias negadas.
Você precisa saber que essas pessoas (jovens, adultas e idosas), cuja trajetória inclui um
histórico de saberes negados que lhes recusa a própria cidadania, têm o direito à educação
básica dentro do princípio do direito público subjetivo à educação – e, como tal, ela deve ser
assegurada pelo Estado.
Certamente você já sabe que a Constituição Federal de 1988 assegura o direito à educação
para as pessoas jovens, adultas e idosas. Há no capítulo destinado à educação um artigo
simbólico para o que estamos tratando aqui.
Foto: Shutterstock.com
O artigo 208 da Constituição Federal de 1988 apresenta como dever do Estado a garantia
de obrigatoriedade do ensino fundamental, de forma gratuita, para todas as pessoas que
não puderam ter acesso a ele na idade considerada própria (àquela época, dos 7 aos 14
anos), além de assegurar a oferta do ensino noturno regular. Atualmente, a obrigatoriedade
da garantia desse direito está assegurada para toda a educação básica, o que significa
incluir o nível médio de ensino na modalidade EJA.
Ainda no percurso da busca por direitos à educação para pessoas jovens, adultas e idosas
no Brasil, consideramos importante ressaltar a V Conferência Internacional de Educação de
Adultos (CONFINTEA) realizada no ano de 1997 em Hamburgo, na Alemanha.
# RESUMINDO
Ao longo do tempo, temos visto um grande avanço dessas reuniões em nível estadual. Hoje
em dia, elas possuem organização própria, representação e articulação de diferentes
setores da sociedade e do governo.
Além disso, esses fóruns constituem um espaço plural de debates e de busca por
encaminhamentos que assegurem à modalidade EJA o respeito às diferenças e às
especificidades plurais que a constituem.
Tendo como ponto de referência, entre outros aspectos, essa necessidade, as diretrizes
curriculares nacionais para a educação de jovens e adultos representam um processo de
luta por direitos no campo da EJA.
Crédito editorial: Dado Photos/Shutterstock.com
$ Multidões protestam contra cortes na educação no Brasil.
A REPARADORA
Indica a restauração do direito negado à educação por meio do reconhecimento da
necessária oferta de escolarização de qualidade social.
A EQUILIZADORA
Refere-se à possibilidade de se assegurar melhores e maiores oportunidades de acesso à
educação para as pessoas jovens, adultas e idosas que interromperam, de forma forçada,
seus estudos por situações de repetência ou pela necessidade de deixarem a escola, o que
muitas vezes é provocado pela ausência de condições ou de oportunidades para eles
permanecerem nela.
A QUALIFICADORA OU PERMANENTE
É reconhecida como o sentido pleno da EJA por considerar a incompletude do ser humano,
que tem um imenso potencial de aprender sempre e, portanto, ao longo da vida.
Esperamos que você esteja percebendo que a EJA é uma possibilidade de qualificação para
todas as pessoas de diferentes idades, além de constituir uma potência para os
compartilhamentos dos mais diversos ensinamentos, saberes e conhecimentos entre
diferentes gerações e pessoas de diferentes origens.
DONAS DE CASA
CAMPONESES
PRIVADOS DE LIBERDADE
QUEM JÁ SE APOSENTOU
Esse contingente representa a diversidade cultural que encontramos nas salas de aula e nas
escolas da EJA. Além deles, ainda devemos incluir:
NEGROS
INDÍGENAS
MIGRANTES
GAYS
LÉSBICAS
BISSEXUAIS
TRANSEXUAIS
TRANSGÊNEROS
LGBTS+
Imaginamos que você já esteja percebendo que a valorização das diferentes culturas que
constituem o povo brasileiro e que circulam pelas escolas da modalidade EJA seja de
grande relevância, observando também que elas são um desafio para os profissionais de
educação que atuam na ou com a modalidade.
Para Paulo Freire (2013), cultura é uma ação criadora produzida pelo trabalho humano.
Outro autor, Laraia (2009), considera que somos seres adaptáveis às culturas e que elas
não são genéticas, ou seja, os seres humanos são resultados do meio comportamental em
que vivem e do fato de se comunicarem entre si.
Diante dessas ideias, você pode perceber que o ser humano produz culturas e que elas são
decorrentes de seus:
COSTUMES
HÁBITOS
TRADIÇÕES
SABERES
Trata-se de saberes populares que passam de geração a geração desde os tempos mais
antigos de que se possa ter registro. Logo, o homem está sempre sendo impregnado pelas
culturas de acordo com os espaços de circulação e vivência dele e com seus contextos de
convivência.
Pare um pouco sua leitura neste momento. Procure refletir sobre quais saberes caracterizam
as culturas populares que, em sua pluralidade e diversidade, entram na sala de aula da EJA.
A ESCOLA É PLURAL
Cada uma se compõe na sua diversidade. Imagino que você já reconheça isso. E a escola
da EJA não é diferente.
Ela se constitui por jovens, adultos e idosos de diferentes faixas etárias que chegam à
escola com suas histórias de vida, assim como seus hábitos, costumes, crenças e saberes.
Quem já não escutou uma pessoa de mais idade ensinar um chá para algum mal-estar?
Pois é… Este é um exemplo de um saber popular. Ele também “invade” a escola – e, se não
for valorizado, ficará lá, esquecido.
Foto: Shutterstock.com
Portanto, é importante considerarmos que esse saber popular tem uma ciência.
% VOCÊ SABIA
Propor uma pesquisa a partir de um saber que chegou à sala pela voz de um estudante da
EJA pode ser um trabalho bem interessante, envolvendo toda a turma.
Como você deve estar percebendo, repensar o currículo e considerar outros caminhos para
se trabalhar o conteúdo, articulando o saber popular e o científico, são tarefas muito
importantes.
Considerar o trabalho em sala de aula com as diferentes culturas do povo e suas formas de
manifestação representa:
TRABALHAR COM A PLURARIDADE DE SABERES...
&
RECONHECER A DIVERSIDADE
&
E VALORIZÁ-LA
Se você revisitar a LDB, vai encontrar nela alguns artigos que tratam da questão das
relações étnico-raciais e das questões de gênero.
Muitas situações cotidianas que ocorrem na sociedade comprovam essa afirmação. Não é
difícil, por exemplo, ligar a televisão e se deparar com alguma notícia que reflete o racismo
que ainda existe na nossa sociedade.
Como a escola da EJA pode potencializar os saberes que eles trazem e as culturas que se
refletem tanto nos seus jeitos de falar e vestir quanto nos seus hábitos alimentares, assim
como em tantos outros ricos saberes?
Essas perguntas têm o objetivo de lhe provocar para que você, agora ou depois, possa
refletir sobre tal questão, além de conversar sobre ela com seus colegas de turma da
faculdade ou em seu local de trabalho.
Esses questionamentos facilmente nos levam a fazer outras perguntas tão importantes
quanto:
ETAPA 01
ETAPA 02
ETAPA 03
PERGUNTA 1
PERGUNTA 2
Como construir uma proposta de prática pedagógica que considere os diálogos necessários
com as políticas promotoras de cidadania e de direitos humanos?
PERGUNTA 3
Vivemos em uma sociedade na qual não é incomum os homens ganharem mais do que as
mulheres por um mesmo trabalho desenvolvido. Em que uma vaga de emprego, mesmo que
isso não seja revelado, é ocupada de acordo com a cor da pele ou a identidade de gênero.
Nesse mesmo contexto social, não dar visibilidade a lésbicas, gays, transexuais, travestis,
transgêneros e LGBTs+ representa a negação dos direitos humanos e esconde o debate
necessário sobre a diversidade sexual.
Foto: Shutterstock.com
Se a escola precisa ser o espaço da inclusão social, ela também necessita ser o de
reconhecimento desses diferentes e plurais saberes.
A CAMINHO DA DECOLONIZAÇÃO
Significa dar voz a eles e empoderá-los, possibilitando conhecer suas formas de viver e as
experiências vividas. Desse modo, aprenderemos todos nós, estudantes e professores, com
eles.
Para que a prática pedagógica se constitua a partir desses olhares, é importante educarmos
o olhar para ver o que há além dos muros da escola.
Além de histórias contadas e recontadas pela sabedoria popular, há muitos saberes que
precisam ultrapassar os muros e circular:
DANÇA
COMIDAS
HÁBITOS DE VIDA
CANTOS
Imagem: Shutterstock.com
CONTEMPLEM NOS SEUS CURRÍCULOS
PRATICADOS E COTIDIANOS OS SABERES DO
POVO.
Imagem: Shutterstock.com
Imagem: Shutterstock.com
Esses desafios cabem à escola segundo a perspectiva freiriana. Afinal, ela é emancipadora
e libertadora das condições de opressão a que esses jovens, adultos e idosos estiveram
submetidos nos seus percursos de vida.
Aproveite o término deste módulo e releia agora suas anotações iniciais com outro olhar.
ROMPENDO AS AMARRAS DO
PATRIARCADO
As especialistas Wilna Mello e Dalta Barreto versarão neste vídeo sobre o projeto com o
DEAM e o rompimento das amarras do patriarcado.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Função reparadora
B) Função equalizadora
C) Função supletiva
D) Função formadora
E) Função qualificadora
A) Os saberes de cada estudante devem ser reconhecidos por meio da interface com seus
valores culturais e visões de mundo, assim como a pluralidade étnico-racial e de gênero.
GABARITO
MÓDULO 3
Essa ausência pode se dever à ausência de uma tomada disponível ou mesmo por não
haver um pacote de dados de internet ou uma boa conexão. Ainda que os equipamentos
funcionem, isso não quer dizer que existe uma inclusão digital.
Listaremos a seguir alguns exemplos para esse começo de conversa sobre os desafios da
inclusão digital na EJA, mas sabemos que há muitos outros.
Para que ela ocorra de fato, é necessário que, além do acesso à informação neles contida, a
pessoa consiga se apropriar dela e transformá-la em novo conhecimento, gerando, dessa
forma, um impacto positivo em sua vida pessoal ou coletivamente.
Na sala de aula da modalidade EJA, a inclusão digital se apresenta como uma necessidade.
Nesse contexto, a pandemia do Coronavírus em 2020 nos fez perceber quão urgente é
assegurar uma efetiva inclusão digital para todos os membros da sociedade de uma forma
geral – e não só na escola.
Fonte: Autor/Shutterstock
No entanto, observe que nem sempre o uso das tecnologias digitais assegura uma
comunicação efetiva. Um blog, por exemplo, poderá ser alimentado e não ter interatividade
se for somente um espaço para a leitura de quem o acessa ou um repositório de material de
estudo. O mesmo pode ocorrer com um ambiente virtual de aprendizagem (AVA), embora
ambos sejam muito mais potentes do que isso.
As TICs compreendem um amplo leque de tudo que pode ser usado para informar e
comunicar por intermédio da tecnologia e de suas ferramentas. Elas englobam, por exemplo,
o jornal, o rádio, a televisão, o telefone fixo, o videocassete e a internet, sendo utilizadas em
vários setores da sociedade como meios de comunicação e de circulação da informação,
incluindo o campo educacional. Já as tecnologias digitais da informação e comunicação
reúnem diferentes mídias digitais que empregam a tecnologia, como, por exemplo,
computadores, notebooks, tablets e celulares, sendo, portanto, mais restritas que as TICs.
&
Os seus usos...
&
As suas potencialidades...
&
E de que forma isso pode se apresentar dentro do contexto da sala de aula e ter lugar nas
práticas pedagógicas.
A partir dos sentidos que os adultos e os idosos atribuem à escola da EJA, cabe ressaltar
que, na maior parte das vezes, além de ser o espaço do aprender, ela é o da socialização –
e, muitas vezes, o único à disposição para essas pessoas.
Sendo assim, as experiências sociais e as culturas dos estudantes da EJA precisam ser
consideradas como aspectos relevantes no trabalho com as TDICs. Somente dessa forma
haverá a efetiva inclusão digital, ampliando-a para parte desses estudantes que ainda não
incorporou a seus modos de vida o uso dessas tecnologias.
Se os jovens do século XXI são considerados nativos digitais, essa caracterização não se
adequa aos adultos e aos idosos que frequentam as salas de aula da EJA. Diante disso,
para parte deles, há um mundo novo a ser desbravado.
Ligar o computador e usar o celular além de sua função como telefone nem sempre são
tarefas simples. Para desbravar esse mundo novo, a função mediadora do professor em sala
de aula é fundamental.
Foto: Shutterstock.com
Temos ainda outro desafio: os professores estão habilitados para lidar com as tecnologias na
escola? Pare e reflita…
Sabemos que nem todos estão habilitados ou se sentem em condições de desenvolver uma
proposta pedagógica utilizando-se dessas tecnologias. Diante disso, como é possível inserir
os usos das tecnologias no currículo se nem todos sabem como fazê-lo?
PRIMEIRA
A concepção freiriana de que aprendemos pelos compartilhamentos, pela troca de saberes
em um movimento permanente de ensinar e aprender.
SEGUNDA
A de Vygotsky de que os processos de ensino-aprendizagem consideram a influência do
meio em que vivemos e as interações para que o estudo se efetive.
No entanto, nada disso será possível se não houver um ambiente propício a esse processo
horizontalizado de ensinar e aprender e se a escola, como sinalizamos anteriormente, não
disponibilizar equipamentos e acessos a esses meios.
Foto: Shutterstock.com
Para os jovens, como afirmam Costa, Duqueviz e Pedroza (2015), um elemento facilitador é
o fato de as pessoas dessa faixa etária já utilizarem essas tecnologias em suas ações e
relações cotidianas fora da escola.
Foto: Shutterstock.com
Por outro lado, para adultos e idosos, as TDICs poderão servir a esse mesmo objetivo à
medida que eles forem inseridos no acesso às tecnologias digitais, considerando a
perspectiva do letramento digital como condição para que se saiba lidar efetivamente com
elas.
Reconhecer os desafios da inclusão digital para os estudantes da EJA passa pelo olhar
lançado a alguns dos desafios (ou das dificuldades) apontados inicialmente neste módulo,
assim como pelo diálogo sobre eles, de forma associada a um repensar sobre o currículo.
Sabemos que incluir alguém digitalmente é diferente de saber ligar e desligar o computador
– e até mesmo de digitar um texto. Vai além…
Jovens estudantes
'
Adultos/idosos estudantes
Já para os adultos e idosos estudantes da EJA, ele pode ser um mundo a ser desbravado –
e, para muitos, efetivamente é.
Essas descobertas e as formas de apropriação dos usos das tecnologias passam pelo
estabelecimento de novas formas de socialização e por outras experiências sociais trazidas
pelo compartilhamento das experiências pessoais. Essas experiências foram se
configurando como culturas incorporadas à vida cotidiana em tempos mais recentes.
Se o uso de WhatsApp, Facebook, Instagram ou outras mídias sociais, para algum grupo, é
normal, existe outro para o qual tais formas de interação e de comunicação ainda não se
apresentam. Isso ocorre por essas pessoas estarem excluídas do acesso às tecnologias
digitais ou por lhes faltar um letramento digital mais desenvolvido.
Culturais
Constituintes de valores
Tradições
Costumes
No Brasil, segundo dados da PNAD Contínua de 2018 divulgados pelo IBGE (2018), em um
grupo de quatro pessoas, uma não tem acesso à internet. Isso representa 46 milhões de
brasileiros, ou seja, 25,3%.
Quase a metade dos que não têm acesso revelam seu desconhecimento para fazer uso e
pouco mais de 30% deles informam não ter interesse em fazê-lo. O alto custo do acesso ao
serviço de internet, bem como para obter o equipamento necessário, também se apresentam
como um limitador.
Os dados da pesquisa nos permitem perceber que um dos polos do desafio de se incluir
digitalmente os estudantes da EJA passa pela necessidade de criação e de execução de
políticas públicas, haja vista que muitos brasileiros ainda estão excluídos do acesso ao
equipamento e do serviço de internet.
De igual forma, podemos observar que, se a escola, muitas vezes, é o único espaço onde
estudantes mais carentes têm acesso a um livro, também constitui aquele em que eles
podem acessar as tecnologias e seus usos. Diante disso, é necessário reconhecer a
urgência de que todos no espaço escolar desenvolvam o letramento digital e possam se
conectar, fazendo os mais diferentes e plurais usos dos recursos tecnológicos.
Muito mais do que ministrar uma aula tendo como recurso o projetor multimídia e o suporte
do notebook, é preciso explorar os usos e recursos que estão postos, por exemplo, em sites
de museus e centros culturais, blogs, jogos didáticos etc.
Esses outros usos, inadiáveis por já estarmos no século XXI, precisam estar previstos nos
currículos escolares. Esses currículos devem considerar a necessária interatividade dos
modos de ensinar e aprender para que, assim, possam ampliar as potencialidades dos
processos de construção de conhecimento.
Reconhecer a potência das mensagens de WhatsApp, SMS e chats como espaços de leitura
e de escrita (e, portanto, de comunicação e interação) é uma das formas de compreendê-los
como potenciais meios de produção textual já incorporados ao cotidiano da sociedade em
que vivemos.
Moran (2020) afirma que a construção do conhecimento se torna mais fluida e mais
interconectada quando estas habilidades são consideradas:
A sensorial
A emocional
A organização da racionalidade
Isso requer um esforço para se rediscutir o modelo societário que ainda carrega as marcas
das desigualdades sociais, econômicas, culturais e educacionais. O grande intuito, com isso,
seria o de construir um projeto de país que contemplasse as necessidades da sociedade em
sua plenitude.
Que isso sirva tanto para os professores como para os estudantes que convivem com as
possibilidades de construção de conhecimento mediadas pelas tecnologias.
SERÁ QUE UM CAMINHO TECNOLÓGICO
É POSSÍVEL PARA O EJA?
As especialistas Wilna Mello e Dalta Barreto apontarão neste vídeo os possíveis caminhos
tecnológicos dentro da realidade do EJA.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Letramento digital
B) Alfabetização tecnológica
C) Alfabetização digital
D) Letramento informacional
E) Alfabetização funcional
GABARITO
1. Leia um trecho de autoria de Magda Soares (2002) e indique a opção que faz
referência a este conceito: “Estado ou condição que adquirem os que se apropriam da
nova tecnologia digital e exercem práticas de leitura e de escrita na tela”.
2. Após a leitura deste tema, assinale a alternativa que indica uma estratégia para a
promoção da inclusão digital e social de pessoas jovens, adultas e idosas.
Considerando que a escola pode representar o único espaço no qual os estudantes mais
carentes têm acesso a um livro, também pode ser aquele em que eles conseguem acessar
as tecnologias e seus usos. Diante disso, é importante haver a realização de investimentos
permanentes que promovam a inclusão digital.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentamos neste tema a modalidade EJA no contexto contemporâneo, bem como o
direito à educação e os aspectos culturais, étnico-raciais, de gênero e classe envolvidos.
Ainda falamos sobre a inclusão digital esperada.
No módulo 3, por fim, reconhecemos os desafios da inclusão digital para jovens e adultos
em escolarização no contexto da contemporaneidade. Esse debate foi realizado de forma
mais ampliada, oferecendo a você potencial teórico e prático para uma reflexão acerca de
questões do cotidiano escolar.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da
cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo:
Cortez, 2008.
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( CURRÍCULO LATTES