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ADOÇÃO

Vínculos e Rupturas: do Abrigo


à Família Adotiva
Peiter, Cynthia. 2ª Ed. São Paulo: Zagodoni
Editora. (2016).
ADOÇÃO - Prefácio e Apresentação
• Pesquisa clínica psicanalítica – Winnicot
• Peculiaridades na escuta psicanalítica: demanda específica,
prazo, pais não diretamente envolvidos (equipe técnica)
• Universo da adoção tardia
• Conceitos de holding e handling; transicionalidade,
paradoxo; desamparo; trauma
• Trabalho de mediação entre instituição e o novo lar
• Grupo Acesso – Estudos, Pesquisa e Intervenção em
Adoção
• 1ª edição: 2011
Cap. 1 - O CASO JOANA
• Deixada no hospital, doente, após o parto;
• Encaminhada a instituição de abrigo, tratada e cuidada;
• Ao final de dois anos, disponível para adoção;
• Tentativas fracassadas de adoção;
• Evitava o contato, chorava, era arredia e grudada na
responsável;
• Encaminhada ao atendimento psicológico pela equipe da
Vara da Infância e da Juventude (3 anos de idade);
• Processo de adoção suspenso, aguardando parecer para
reabertura do processo.
O CASO JOANA - Estabelecimento de um vínculo
• 1ºs encontros: chora, não faz contato visual, não fala, não entra
sozinha;
• Confere se a acompanhante ainda a aguarda na sala da espera,
confere o motorista;
• Demonstra algum interesse na caixa lúdica;
• Após o 4º encontro, terapeuta propõe que a acompanhante
salsa da sala ao final da sessão. Choro muito forte, mas tolera;
• Alterna sessões sem chorar, outras com choro;
• Ganhando confiança, estabelecendo rituais (lencinhos,
banheiro, cortar e colar, etc.)
O CASO JOANA - Estabelecimento de um vínculo (cont.)
• Aproximação delicada (espaço novo, semelhante à família adotiva)
• Ambivalência em relação ao vínculo: adoção significando mais
abandono que acolhimento;
• Angústias impensáveis remetem ao medo da desintegração. Ausência
de uma figura materna que segure a criança física e psiquicamente;
• Apego ao abrigo como garantia de sua sobrevivência. Presença da
terapeuta ameaça esse apego, e remete às angústias impensáveis.
• Medo de vincular-se, como se investir em novos objetos pudesse
oferecer riscos, levando um afastamento geral;
• Manter distância segura, não invadi-la, evitar uma imposição
traumática e ficar num lugar de desprezo e rejeição;
• Holding – ofertar lencinhos.
O CASO JOANA – Marcas corporais
• Ambivalência do vínculo: MEDO X CURIOSIDADE;
• Busca pelo controle total da situação: atendimento urgente de suas
demandas, manutenção de um ambiente previsível;
• Diferentes rituais de marcar seu corpo com diversos elementos
(cola, etiquetas, fitas, desenhos) - Experiência primitiva de marcas
identificatórias;
• Handling: a figura materna na tarefa de manejar o corpo do bebê
de forma a proporcionar a instalação de uma trama psicossomática.
Contrapartida materna no percurso da construção do self;
• Desejo de ser reconhecida em suas necessidades, sem precisar
falar – Criatividade primária.
O CASO JOANA – Separação e Transicionalidade
• Construção de uma nova história;
• Elaboração de uma bolsa/envelope, em que colecionava
recortes, e lencinhos – amuleto que lhe trazia segurança
(separações e ligações);
• Função equivalente à dos objetos transicionais;  Importante
recurso para lidar com a ansiedade de perceber-se separado,
podendo ser retomados em momentos de solidão;
• O objeto permitia um ir-e-vir, sem o perigo da quebra da
continuidade do ser (self integrado);
[Após 6 meses deu-se a reabertura do processo de adoção]
O CASO JOANA – Hora de rupturas
• Introdução do tema sobre famílias e famílias adotivas;
• Busca pelo espaço vazio deixado pelos recortes nas revistas;
• Busca pela família atende às necessidades dela, porém nesse
momento parece uma invasão traumática – mudanças no
comportamento de Joana;
• Necessidade de introdução do tema da adoção, em um tempo que
não foi determinado pela criança;
• Mudanças na relação com a terapeuta, alvo de hostilidades, que
permite a elaboração de sua agressividade, sem direcionar aos
pais adotivos;
• Holding.
O CASO JOANA – Elaborações
• Após uma brincadeira com recortes de golfinhos há a
transformação de Joana: tom de voz mais forte;
• Sessão seguinte chega mais espontânea, demonstrando
autonomia, maior exploração da sala, retomada de
brinquedos anteriores;
• Agradece a “conversa” sobre mudanças: encontros abertos a
diálogos, em que ela é consultada e pode até discordar;
• Compreensão sobre continuidade do processo;
• Tema da adoção encontra uma área intermediária (objeto
transicional) quando se torna possível brincar com isso.
O CASO JOANA – A interminável espera pela família
• Mais descontraída nas sessões subsequentes, apropriando-se do
espaço;
• Tempo como tema recorrente, e desenrolas de fios/fitas
(reconstrução histórica contribuindo com a construção do self);
• Desarmonia entre o tempo cronológico, o tempo jurídico e o tempo
psíquico da criança. (Paiva, 2004);
• Possibilidade de adoção, que não se concretiza;
• Defesas onipotentes, sem risco de desintegração: já tinha uma mãe
internalizada;
• Começou a frequentar a escola, sem problemas de separação e com
bom vínculo com colegas;
[9 meses de trabalho terapêutico, Joana com 4 anos:
encaminhada para adoção internacional]
O CASO JOANA – A interminável espera pela família
• Surgimento de uma família adotiva interessada;
• Dificuldade para a aproximação gradual (questões burocráticass),
desabrigamento compulsório;
• Terapeuta encontra dificuldade em manter contato com a menina e
com a nova família;
• Urgência do tempo  Joana mostrou-se fortalecida e preparada
para estabelecer limites e incluir estágios intermediários na
constituição do vínculo;
• Estágio de amadurecimento “eu sou”, capacidade de ficar sozinha
na presença e na ausência do outro;
[Último contato com a terapeuta]
O CASO JOANA – Notas finais
Caso utilizado para pesquisa científica na USP,
apresentado e discutido em alguns eventos, como
importante referencial para o estudo mais aprofundado
sobre o que se passa com crianças nesse momento
delicado de vida.
O método psicanalítico de pesquisa que se utiliza de
material clínico é um modo privilegiado de observação
dos fenômenos psíquicos e presta-se a um tipo de
produção de conhecimento que, investigando o
particular, possibilita a composição de modelos mais
abrangentes do psiquismo humano. (Safra, 1993)

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