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PLANEJAMENTO E CONTROLE

INT R O D UÇ ÃO
O mundo moderno é constituído de vários tipos de organizações, sem as quais, a
sociedade moderna não poderia existir. Por mais diferentes que as or- ganizações
possam ser entre si, todas elas possuem atividades semelhantes, como por exemplo:
atividades mercadológicas, contábeis, de gestão de pessoas, de logística e de
produção.
As atividades de produção existem e precisam ser administradas em qualquer
tipo de organização, não apenas em organizações industriais, como possa parecer em
uma primeira instância.
Uma organização pode processar informações, materiais ou até mesmo os
próprios consumidores. Este processo produtivo pode ser traduzido em um modelo
didático simples, conhecido como modelo de transformação, que ex- plica a
transformação de recursos de entrada em produtos e serviços.
As atividades da administração da produção remontam à origem do ser
humano, mas começaram a ter ênfase especial no início da revolução indus- trial,
por volta de 1780, quando seu estudo e evolução aceleram-se, vertigino- samente.
Vários cientistas e estudiosos, como Taylor, Fayol, Ford dentre outros, contribuíram
de forma significativa para o avanço da administração da pro- dução, em um novo
tipo de organização que surgiu com a revolução industrial, representado pelas
indústrias.
As técnicas de administrar a produção, que tiveram sua origem nas ind- ústrias,
passam paulatinamente a ser aplicadas também em outras formas de organizações,
como as comerciais e as de prestação de serviço. Mais recente- mente, também têm
sido úteis na organização dos empreendimentos "virtuais" ligados à Internet.
O processo de industrialização no Brasil teve seu início por volta de 1880, um
século depois da consolidação da revolução industrial no hemisfério norte. Este
atraso cronológico produziu conseqüências até hoje sentidas no sistema de
produção nacional, como também será discutido neste capítulo.

PLANEJAMENTO E CONTROLE NA ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO


O tema planejamento e controle é um assunto pertencente a administração da
produção, da qual compreende uma vasta gama de assuntos, que não devem ser
vistos de forma isolada sob pena de perderem seu significado conjunto. As
atividades de administração da produção acontecem a todo o instante, em número e
freqüência muito maiores do que possam parecer. O cotidiano atual nos mantém
imersos, de tal forma, nas atividades de produção que julgamos ser necessário
emergir deste contexto para visualizar e compreender o funcionamento destas
atividades, a fim de poder administrá-las com maior propriedade.
Julgamos fundamental iniciar com uma visão geral e compreensiva do tema e
sua abrangência. Na verdade, a administração da produção envolve três importantes
conceitos: o conceito de organizações, de administração e de atividades de produção.
Estes três conceitos são discutidos a seguir.

O QUE SÃO AS ORGANIZAÇÕES?


O mundo moderno é feito de organizações. A vida das pessoas de qualquer
sociedade gira em torno e mantém profunda dependência das organizações. Os livros
sobre administração trazem várias definições para organização, todas elas muito
similares entre si. A seguir são citadas, como exemplo, três definições obtidas de
autores renomados.

Organização
Segundo Robbins (2002), uma organização é um arranjo sistemático de duas ou mais pessoas que
CONCEITO OU

cumprem papéis formais e compartilham um propósito comum.


DEFINIÇÃO

Silva (2001) considera que uma organização é definida como duas ou mais pessoas trabalhando
juntas, cooperativamente dentro de limites identificáveis, para alcançar um objetivo ou meta
comum.
Stoner & Freeman (1985), por sua vez, definem organização como sendo duas ou mais pessoas
trabalhando juntas e de modo estruturado para alcançar um objetivo específico ou um conjunto de
objetivos.

Não é possível imaginar uma sociedade sem as organizações. Como con-


firmação, basta imaginar o despertar da manhã de hoje como ponto de partida. Desde
o despertar, as pessoas têm intenso contato com os produtos e serviços que as
organizações lhes oferecem, senão vejamos: as pessoas dormem sobre um colchão,
que é um produto material, produzido em uma fábrica que é um tipo de organização.
Se a noite foi fria, provavelmente foram utilizados cobertores que também foram
produzidos em uma fábrica que, como já visto, trata- se de uma organização. Talvez o
despertar aconteça por meio de um rádio relógio, um outro produto fabricado em uma
organização do tipo fabril. O rádio relógio permite ouvir uma estação de rádio que é
uma organização, que oferece um tipo de serviço. Ao levantar as pessoas se dirigem
ao banheiro para lavar as mãos e o rosto. A água que sai da torneira está à disposição
porque uma outra organização providenciou este serviço. Ao utilizar o chuveiro
elétrico ou acender a luz utiliza-se energia elétrica, que está sendo produzida e
fornecida ao usuário por uma organização, a concessionária de energia elétrica. O gás,
que é utilizado no preparo do café da manhã, é disponibilizado por uma outra
organização. O ônibus utilizado para ir ao trabalho está à disposição graças a uma
outra organização. Também são organizações as lojas e os supermercados, os
hospitais, a polícia, as indústrias, as escolas, a prefeitura, os bancos, a empresa que faz
coleta de lixo etc.
Como se pode perceber, o dia-a-dia das pessoas envolve uma infinidade de
interações com organizações.

TIPOS DE ORGANIZAÇÕES
Embora exista uma infinidade de exemplos de organizações, é possível classificá-
las de acordo com sua atividade econômica. Uma das formas de fazer isto é adotando
a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), elaborada sob a
coordenação do IBGE, no Brasil, que segue as diretrizes fornecidas pelo Departamento
de Estatísticas da ONU. Esta classificação dis- tingue três setores fundamentais. São
eles:
✓ setor primário: organizações da área extrativista, agropecuária e pesca.

✓ setor secundário: organizações da área manufatureira.

✓ setor terciário: organizações da área de serviços.

Organizações do setor primário


As organizações do setor primário são as mais antigas formas de organização e
estão relacionadas à exploração dos recursos naturais: terra (agropecuária,
silvicultura e extrativismo vegetal); água (pesca) e recursos minerais (extrativismo
mineral).
Organizações manufatureiras (setor secundário)
Este tipo de organização produz (fabrica ou monta), ou seja, industrializa algum
produto. Como será visto mais adiante, um produto é uma combinação de bens e
serviços. Em uma indústria de manufatura acontece uma atividade de transformação
de um produto com alta intensidade de material, seja matéria-prima transformada em
produto em uma fábrica, ou componentes montados em produtos numa montadora.
São inúmeros os exemplos de organizações de manufatura, dentre os quais se
destacam:
Indústrias da área metalúrgica: montadoras de automóveis, montadoras de
eletrodomésticos de linha branca, fundições e demais organizações, em que a maior parte
da matéria-prima é composta por metais.
Indústrias da área alimentícia: fabricantes de massas, biscoitos, doces, sor- vetes,
indústrias de beneficiamento, empacotadoras de cereais, indústrias do laticínio,
frigoríficas etc.
Indústrias do vestuário: representadas pelas tecelagens, que produzem teci- dos, e
confecções, que produzem as roupas a partir dos tecidos.
Indústrias da área cerâmica: empresas que têm a cerâmica como matéria- prima
principal.

Organizações de serviços (setor terciário)


As organizações de serviços podem prestar serviços para empresas
manufatureiras, para empresas do setor primário ou diretamente para o con- sumidor.
Atualmente, é cada vez mais comum que atividades de contabilidade, transporte,
vigilância, refeição e marketing, dentre outras, sejam terceirizadas pelas empresas
manufatureiras ou do setor primário, deixando de ser executa- das por departamentos
dentro daquelas organizações e sendo atribuídas a em- presas de serviços
especializadas. As organizações de serviços podem ser classificadas em cinco
subgrupos:

serviços empresariais: consultorias, finanças, bancos, escritórios de


contabilidade, vigilância, limpeza etc.;
serviços comerciais: lojas de atacado e varejo, serviços de manutenção e reparos;
serviços de infra-estrutura: comunicações, transporte, eletricidade, telefonia,
água, esgoto etc.;
serviços sociais e pessoais: restaurantes, cinema, teatro, saúde, hospitais, etc.;
serviços de administração pública: educação, policiamento, saúde, etc.

O QUE É ADMINISTRAÇÃO?
Administração é palavra de ordem no mundo das organizações. Na verdade não
existem empresas ou organizações intrinsecamente boas ou más, vencedoras ou
perdedoras. O sucesso ou fracasso de qualquer entidade está ligado à forma como é
administrada.
De maneira simplificada pode-se dizer que administrar é cuidar das atividades
de uma organização, qualquer que seja o seu tipo: setor primário, manufatura ou
serviços.
A quantidade de definições para a administração é praticamente tão extensa
quanto o número de livros escritos sobre o assunto, como é possível observar em uma
breve pesquisa.
Administração
Stoner e Freeman (1985) definem administração como sendo o processo de planejar, organizar, liderar e
controlar o trabalho das pessoas da organização e de usar da melhor forma possível os recursos disponíveis
da organização para conseguir re- alizar os objetivos estabelecidos.
Chiavenato (2000) afirma que a tarefa básica da administração é a de fazer as coisas por meio das pessoas,
de maneira eficiente e eficaz. Também define a administração como o processo de planejar, organizar,
dirigir e controlar o uso de recursos a fim de alcançar objetivos estabelecidos.
CONCEITO OU DEFINIÇÃO

Bateman e Snell (1998) definem a administração como o processo de trabal har com pessoas e recursos
para realizar objetivos organizacionais.
Certo (2003) afirma que o termo administração pode ser empregado de diferentes maneiras, mas define
administração como o processo que permite alcançar as me-tas de uma empresa, fazendo uso do trabalho
com e por meio de pessoas e outros recursos da empresa.
Megginson et al. (1998) consideram que administração é o trabalho com recursos humanos, financeiros e
materiais para atingir objetivos organizacionais, por meio do desempenho das funções de planejar,
organizar, liderar e controlar.
Silva (2001) comenta sobre o grande número de conceitos para o termo e formula a seguinte definição:
administração é um conjunto de atividades dirigidas à utilização eficiente e eficaz dos recursos, no sentido
de alcançar um ou mais objetivos ou me- tas organizacionais.
Montana e Charnov (1999) definem administração como o ato de trabalhar com e através de pessoas para
realizar os objetivos tanto da organização quanto de seus membros.
Maximiliano (2002) define administração como sendo o processo de tomar e colocar em prática, decisões
sobre objetivos e utilização de recursos, salientando que as de- cisões abrangem quatro funções:
planejamento, organização, execução e controle.

Em que pese existirem várias definições que procuram dizer o que é ad-
ministração, elas são, em geral, muito próximas, como se pôde notar. É possível
adotar qualquer uma destas definições sem prejuízo do entendimento do seu real
significado.

ATRIBUIÇÕES DO ADMINISTRADOR

A lei número 4769/651 define a atividade profissional do administrador como envolvendo:

▪ elaboração de pareceres, relatórios, planos, projetos, arbitragens e laudos em que se exija a aplicação de conhecimentos
inerentes às técnicas de organização;
▪ pesquisa, estudos, análises, interpretação, planejamento, implantação, coordenação de programas de trabalho, orçamento,
administração geral, administração e seleção de pessoal, administração financeira, relações públicas, administração
mercadológica e de vendas, administração da produção, relações industriais, bem como outros campos em que esses se
desdobrem ou com os quais sejam conexos;
▪ exercício de funções e cargos em administração do serviço público federal, estadual, municipal, autárquico, sociedade de
economia mista, empresas estatais e privadas, em que fique expresso e declarado o título do cargo abrangido;
▪ exercício de funções de chefia ou direção, intermediária ou superior; assessoramento e consultoria em órgãos, ou seus
compartimentos, da administração ou de entidades priva- das, cujas atribuições envolvam, principalmente, a aplicação de
conhecimentos inerentes às técnicas de administração;
▪ magistério em matérias técnicas do campo da administração e organização.
O CICLO DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA

O amadurecimento das teorias de administração incluiu, em sua definição, o


processo de planejar, organizar, liderar e controlar. Na verdade trata- se de um ciclo,
como ilustrado na abaixo:

Relacionamento das quatro funções da administração

Planejar
Qualquer processo de administração, independente do nível de importância e
grau de abrangência, deve ser iniciado com uma etapa de pla- nejamento. É preciso
pensar e estabelecer os objetivos e ações que devem ser executados com a maior
antecedência possível. Por meio de planos, os gerentes identificam com mais exatidão o
que a organização precisa fazer para ser bem sucedida. Os objetivos devem ser
estabelecidos com base em alguma metodologia, plano ou lógica, de forma a evitar
que as ações não sejam associadas a meros palpites e suposições. Albert Einstein
costumava dizer que a formulação de um problema é muito mais importante que a sua
solução, que pode ser simplesmente uma questão de capacidade matemática ou
experimental. Levantar novas questões, novas possibilidades e ver velhos problemas a
partir de um novo ângulo exigem imaginação criativa e representam um avanço real na
ciência.
Pode-se enfatizar a necessidade de planejamento dizendo que: “antes de
começarmos a caminhar é necessário saber para onde queremos ir”. Em uma
organização é preciso saber o que se deseja fazer, antes de se tomar qualquer atitude.
Qualquer coisa nova que se deseje fazer precisa ser planejada antes.

O planejamento exige que as decisões sejam tomadas com suporte de in-


formações baseadas em fatos e dados, uma vez que o risco de insucesso pode ser
alto, ao se basear apenas em palpites ou suposições.

Organizar
Com o planejamento definido, inicia-se a segunda fase do ciclo de administração.
Organizar é o processo de designar o trabalho, a autoridade e os recursos aos membros
da organização, criando um mecanismo para que o que foi planejado seja posto em
andamento.
Em outras palavras: “após definir onde queremos chegar, é preciso organizar as
coisas de modo a conseguir chegar lá”.
Liderar
Quem administra a organização deve influenciar e motivar os seus membros para
que possam dar o melhor de si. O líder deve ser motivador, criativo, amigo e justo,
dentre tantas exigências do cargo. A tarefa do líder não é fácil. Em inúmeras situações
não é possível agradar a todos. O interesse geral deve prevalecer, exigindo que o líder
assuma, em muitos casos, uma postura de mediador.

Controlar
Qualquer pessoa que administra uma organização deve verificar sempre se as
coisas estão saindo de acordo os objetivos inicialmente planejados. Caso haja desvio
do planejado, o administrador deve tomar ações para que o trabalho volte à
normalidade. Enfim, o líder deve ter o controle do que está acontecendo.

AS ATIVIDADES DAS ORGANIZAÇÕES


As organizações são sistemas dinâmicos que estão em funcionamento
constante para produzir os bens ou serviços a que se destinam. Tratam-se de
sistemas integrados de atividades.
Todas as organizações, sem exceção, possuem pelo menos cinco atividades
básicas: atividades mercadológicas, contábeis, de gestão de pessoas, logísticas, e
atividades de produção. É possível fazer uma analogia entre uma organização e um
animal. Existe uma infinidade de espécies de animais, porém as funções de respiração,
digestão, circulação e movimentação acontecem em todos eles. Da mesma forma,
existem inúmeros tipos de organizações, mas as seis atividades descritas
anteriormente acontecem, em maior ou menor escala, em todas elas.

Atividades mercadológicas
São atividades ligadas à busca de demanda e incluem ações de marketing e vendas.
Kotler (1998) define marketing como sendo um processo social e gerencial pelo qual
indivíduos e grupos obtêm aquilo que necessitam e desejam por meio da criação,
oferta e troca de produtos de valor com outros.
As atividades mercadológicas são praticadas com maior ou menor intensidade por
qualquer tipo de organização, mesmo que não tenha fins lucrativos. Uma associação de
moradores de bairro tenta “vender” sua imagem, na busca por associados. Um partido
político “vende” a imagem do candidato, na busca de votos para sua eleição. Uma
faculdade "vende" sua imagem de responsabilidade e qualidade de ensino, buscando
angariar alunos em época de vestibular e assim por diante.
Atividades relacionadas à venda do produto ou à imagem da organização são
atividades ligadas ao mercado, portanto, atividades mercadológicas.

Atividades contábeis
A função básica do contador é produzir informações úteis aos usuários da
contabilidade para a tomada de decisões. As atividades de contabilidade abrangem três
importantes áreas de uma organização:

Contabilidade financeira - também chamada de contabilidade geral, é exigida por lei para
fins de fiscalização e apuração de impostos, além de ser um importante recurso para a
avaliação de um empreendimen- to e da sua atratividade.
Contabilidade de custos - trata de informações voltadas ao cálculo dos custos dos bens ou
serviços produzidos pela organização. A con- tabilidade de custos evoluiu, nas últimas
décadas, de mera auxiliar na avaliação de estoques e lucros para uma importante arma de
con- trole e auxílio às decisões dos gerentes.

Contabilidade gerencial - o profissional que atua na área da contabilidade gerencial é


atualmente conhecido como controller. Na verdade a função de controller na organização
substitui a antiga função dos gerentes administrativos. O controller procura suprir a
organização, e os demais gerentes que fazem parte dela, de um elenco de informações
financeiras importantes para a tomada decisões.

As atividades contábeis são praticadas com maior ou menor intensidade pelos


diversos tipos de organização. A associação de moradores de bairro, já citada como
exemplo, precisa contabilizar suas receitas e gastos. O partido político também
contabiliza as entradas e saídas de caixa de uma campanha política. Uma faculdade
precisa acompanhar o recebimento de mensalidades dos alunos, que representam a
entrada de caixa, e às diversas despesas necessárias ao seu funcionamento e assim por
diante.
As atividades relacionadas ao controle das contas e informações financeiras da
organização são classificadas como atividades administrativas financeiras ou atividades
de contabilidade.

Atividades de gestão de pessoas


As atividades de gestão de pessoas surgiram em conseqüência do aumento do
tamanho e grau de complexidade das organizações ao longo do tempo, o que passou a
exigir um controle e gerenciamento dos recursos humanos disponíveis.
Esta área tem como principal incumbência conciliar necessidades e desejos
pessoais dos indivíduos que fazem parte das organizações com as necessidades das
próprias organizações, às vezes, contraditórios.
As atribuições básicas dos gestores de pessoas são a seleção, contratação,
treinamento e demissão de funcionários.

Atividades logísticas
São atividades normalmente ligadas aos materiais físicos necessários ao
funcionamento de uma organização. Dentre elas destacam-se a previsão e compra de
materiais, o recebimento, a conferência, o armazenamento em almoxarifados e
depósitos, o controle de estoques, a movimentação de materiais, materiais sendo
processados e produtos acabados dentro da empresa e a dis- tribuição dos produtos
acabados para os clientes.
A utilização de materiais é mais ou menos intensa, dependendo do tipo de
organização. De maneira geral, pode-se atribuir três diferentes graus de intensidade de
material para as organizações: alta, média e baixa.
Organizações de alta intensidade de materiais
Quando os materiais físicos têm alta representatividade nas atividades
executadas pela organização, estas são ditas organizações de alta intensidade de
material. De certa forma, este tipo de organização existe e vive em função dos
materiais físicos. Nesses casos, os estoques (de matérias-primas, componentes,
materiais em processo e produtos acabados) podem ser bastante representativos na
composição dos ativos da organização.
As organizações de alta intensidade de material são do tipo industriais ou
comerciais, representadas por fábricas, montadoras, lojas de varejo, supermercados,
distribuidoras etc. As empresas desta categoria precisam desempenhar forte
gerenciamento das atividades logísticas, com estrutura formalmente definida para
este fim.
Organizações de média intensidade de materiais
São organizações em que os materiais físicos e as atividades de serviço têm, mais
ou menos, a mesma representatividade. Os estoques são menos representativos na
composição dos ativos da organização e, normalmente, se referem a matérias-primas.
As empresas desta categoria possuem atividades de gerenciamento das
atividades logísticas, porém a estrutura para tal é, geralmente, menos complexa
do que a existente para as organizações com alta intensidade de material, um
restaurante representa bem este tipo de organização. Neste caso, a importância dos
materiais que compõem a refeição equivale à importância do serviço necessário para
a sua preparação e ao trabalho de atendimento ao cliente.
Organizações de baixa intensidade de materiais
Organizações deste tipo praticamente não utilizam matéria-prima física. O
produto oferecido por estas organizações é intangível no aspecto físico. É o caso, por
exemplo, de uma organização de serviços de consultoria ou um escritório de
advocacia.
Mesmo as organizações de baixa intensidade de material possuem algumas
atividades logísticas, limitadas à compra de material de expediente, manutenção e
limpeza. Porém, é fácil perceber que estas atividades têm um grau de relevância
pequeno para este tipo de organização. A próxima figura, ou alguma variação dela,
é freqüentemente utilizada na literatura para demonstrar, em forma de escala, o
maior ou menor grau da representatividade do material no produto final de diversos
exemplos de organizações.

Atividades de produção (ou da operação)


São atividades diretamente ligadas ao processo produtivo, independentemente
da intensidade de material físico que compõe o produto. Tratam dos processos
utilizados pelas organizações para produzir bens e serviços. O termo produção,
geralmente, traz à mente das pessoas imagens de linhas de produção, fábricas,
operários próximos às máquinas e demais atividades diretamente ligadas à
transformação de bens tangíveis (alta intensidade de materiais). Porém, o escopo das
atividades de produção se expandiu consid- eravelmente. O termo atividades da
operação passou a ser utilizado, ao invés de atividades de produção, para ressaltar esta
ampliação no escopo da atividade, que deixa de fazer parte, exclusivamente, do
contexto das indústrias e passa a abranger todo e qualquer tipo de organização.
Administração da produção
Considerando a definição de administração como sendo o processo de planejar,
organizar, liderar e controlar o trabalho das pessoas da organização e de usar da melhor
forma possível os recursos disponíveis para conseguir realizar os objetivos
estabelecidos. é possível dizer que administrar a produção consiste em utilizar, da
melhor forma, os recursos destinados à produção de bens ou serviços. São várias as
definições de administração da produção ou de administração de operações
apresentados na literatura. A seguir são transcritas algumas.

Administração da produção (ou da operação)

Slack et al. (2002) definem administração da produção como sendo as atividades, decisões e
CONCEITO OU
DEFINIÇÃO

responsabilidades dos gerentes de produção.


Davis et al. (2001) defendem que, a partir de uma estratégia corporativa, a adminis- tração da produção
pode ser definida como o gerenciamento dos recursos diretos que são necessários para a obtenção dos
produtos e serviços de uma organização.
Stevenson (2001) considera que a função de operações engloba todas as atividades diretamente ligadas à
produção de bens ou ao fornecimento de serviços e ressalta a ampliação do escopo da função para outros
tipos de organização além de fábricas.

Gerentes de produção ou de operação


Gerentes de produção ou de operação são as pessoas que ocupam cargos ligados à
gestão da produção, independentemente de se tratar da produção de bens tangíveis ou
intangíveis.
AS ATIVIDADES DE PRODUÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES
Apesar de não ser a única, nem, necessariamente, a mais importante, a função
produção é central a todas as organizações. A gestão da produção é responsável pela
produção dos bens e serviços disponibilizados pelas organizações aos seus clientes, que
são a razão essencial da sua existência. Todas as demais funções são interligadas à
função produção. O Quadro a seguir, apresenta um resumo das atividades e objetivos de
cada uma das funções organizacionais, vistas até o momento, em vários exemplos
distintos de organizações.

Conforme se pôde observar, as atividades exercidas pelas funções mercadológica,


contábil, de gestão de pessoas e atividades logísticas, apresentam certo grau de
similaridade, independente do tipo de organização. Já as atividades ligadas à
produção/operação são mais específicas, variando bastante de organização para
organização. A atividade de produção é, usualmente, a atividade que mais distingue
operações de tipos de organização diferentes.
O PROFISSIONAL DE PRODUÇÃO É MAIS ESPECÍFICO?

Analisando-se as semelhanças e diferenças das atividades de cada função organizacional, para organizações de diferentes
tipos, como foi feito no Quadro 1, é possível concluir que e- xiste maior mobilidade para os profissionais de outras áreas que
não a produção, ou seja, um profissional na área contábil/financeira pode ter mais facilidade na execução de suas funções ao
se transferir para uma organização com atividade-fim completamente diferente,

p. ex., de um supermercado para uma indústria, ou vice-versa. Da mesma forma, é possível imaginar que a mudança de um
profissional da área produtiva de uma empresa para outra com atividade muito diferente possa exigir um tempo de adaptação
e aprendizagem muito maior, o que pode tornar proibitiva a sua migração para uma empresa com negócio muito di- ferente
daquela em que trabalhava anteriormente.

O MODELO DE TRANSFORMAÇÃO
O processo de produção, sob o ponto de vista operacional, envolve recur- sos a serem
transformados e recursos transformadores que, submetidos ao processo produtivo, dão
origem ao produto final, ou seja, aos bens e serviços criados pela organização.
A função produção está focada na transformação de certos insumos em algum
resultado desejado. O modelo apresentado na Figura seguinte, ficou consagrado em
praticamente toda a literatura referente ao tema.

Entradas
Recursos a serem transformados: são aqueles que serão convertidos por meio de
um processo de produção. Geralmente são um composto de:

✓ matérias-primas e componentes;
✓ informações;
✓ consumidores.

Recursos transformadores: são aqueles que agem sobre os recursos a serem


transformados. Eles atuam de forma “catalisadora”, ou seja, fazem parte do processo de
produção, mas não sofrem transformações diretamente, apenas permitem que a
transformação aconteça. Os recursos transformadores, geralmente incluem:

✓ instalações, ou seja, os prédios, máquinas, equipamentos, terreno etc.


✓ conhecimento, representado pela tecnologia do processo de produção e a
necessidade do domínio da técnica (know-how).
✓ funcionários para operar, manter, planejar e administrar a produção.
Transformação
Processamento de materiais: pode transformar suas propriedades físicas
(composição, forma ou características), sua localização (p. ex., entrega de encomendas),
sua posse ou propriedade (p. ex., vendas no varejo) ou proporcionar acomodação ou
estocagem (p. ex., armazém). O processamento de mate riais ocorre em organizações do
tipo manufatura, empresas de mineração e extração, operações de varejo, armazéns,
serviços postais, transportadores de cargas etc.
Processamento de informações: pode transformar suas propriedades informativas
(forma da informação), sua posse (p. ex., venda dos resultados de uma pesquisa de
mercado), sua localização (p. ex., telecomunicações) ou possibilitar a sua estocagem (p. ex.,
em arquivos e biblioteca). São exemplos de processamento de informações o trabalho de
contadores, advogados, bancos, empresas de pesquisa de marketing, analistas financeiros,
empresas de telecomunicações, bureaus de armazenamento de dados etc.
Processamento de consumidores: pode transformar suas propriedades físicas
(p. ex., um spa ou clínica de emagrecimento, um cabeleireiro), acomodá los (p. ex., hotéis
e pensões), mudar a sua localização (p. ex., serviços de transportes de passageiros) ou
seu estado fisiológico (p. ex., hospitais ou restau- rantes) e seu estado psicológico (p.
ex., serviços de entretenimento, rádios, teatros, cinema, parques).
Saídas
As saídas do processo produtivo, conforme mostradas na Figura a seguir, que
apresenta o modelo de transformação produtiva, são o produto final desejado e,
eventualmente, outros sub-produtos, desejados ou não.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PRODUÇÃO


As atividades da administração da produção remontam à origem do ser humano.
As primeiras atividades de produção extrativista e as plantações e criação de animais,
que vieram na seqüência, já exigiam algum esforço no sentido produtivo.
O avanço das civilizações, desde a antiguidade, permitiu a construção de grandes
empreendimentos, como as pirâmides do Egito, a grande muralha da China, pontes e
estradas, grandes embarcações, além de inúmeras outras obras monumentais de que
se tem notícia. Estes projetos certamente exigiram grande esforço de administração e
gerenciamento de produção.
Não faz parte do escopo deste livro um aprofundamento da evolução histórica da
produção nos períodos anteriores à grande transformação desta atividade, que ocorreu
a partir da revolução industrial. O período pós-revolução industrial marca o início da
administração da produção revestida do cunho técnico que a caracteriza nos dias de
hoje.

A seguir, são apresentados alguns marcos históricos na evolução da administração


da produção, sem pretensão de exaurir o assunto, uma vez que a sua discussão em
profundidade ocorre em outras disciplinas como Teoria Geral da Administração,
Introdução à Administração ou Evolução do Pensamento Administrativo.

A literatura disponível sobre o assunto é bastante expressiva, tanto em quantidade


como em qualidade. Aqui será apresentado um esboço bastante resumido do que, na
realidade, é um abrangente conjunto de designações, fatos e conhecimentos que
alicerçam o atual estágio do conhecimento da administração da produção.

Para fins didáticos, apenas, a cronologia foi dividida em seis períodos, iniciando
com a Revolução Industrial e concluindo com o período atual, em que os esforços das
empresas se concentram no fortalecimento da cadeia de suprimentos.

Primeiro período – Revolução Industrial

A revolução industrial teve como berço a Inglaterra, a partir da segunda metade


do séc. XVIII, quando o surgimento das fábricas e a invenção das máquinas a vapor
impulsionaram as tendências que o mercantilismo havia iniciado. O aparecimento de
um novo tipo de organização, a empresa industrial, proporcionou a substituição do
processo de produção manual pelo processo de produção mecânica e fabril, o que
acabou por provocar influências nunca antes imaginadas nas técnicas de produção e de
administração. A Revolução Industrial passou a ser, naturalmente, considerada o marco
inicial do processo gerador da administração da produção conforme conhecida nos dias
de hoje, porque esta exigiu novas técnicas gerenciais de produção, específicas para a
indústria.

1780 a 1860: Primeira Revolução Industrial - do carvão e do ferro

As primeiras organizações industriais utilizaram o carvão como fonte de energia e


o ferro como matéria-prima para a fabricação de produtos e, principalmente, para a
fabricação das próprias máquinas industriais, que começavam a surgir. Este primeiro
período permaneceu restrito à Inglaterra, com a preponderância da produção de
produtos têxteis e o aparecimento do motor a vapor, impulsionado pelo uso do carvão.

Alguns dos principais personagens desta primeira fase e suas contribuições para
o avanço da administração, e mais especificamente da administração da produção, são
apresentados no Quadro a seguir.
1850 a 1914: Segunda Revolução Industrial - do aço e da eletricidade
Este foi o período em que “a grande mudança” da Revolução Industrial, iniciada na
Inglaterra, se espalhou pela Europa, América e Ásia, aumentando a concorrência e
proporcionando o desenvolvimento da indústria de bens de pro- dução. Houve a
descoberta do processo de fabricação do aço industrial, em substituição ao ferro,
concomitantemente à utilização de outras formas de energia, mais limpas, eficientes e
acessíveis, como a eletricidade e o petróleo, em substituição ao carvão.
Em 1880, estimava-se existirem 2,7 milhões de trabalhadores industriais nos
Estados Unidos. Duas décadas depois, este número já ultrapassava os 4,5 milhões.
Alguns dos principais personagens desta fase e suas contribuições são
apresentados no Quadro a seguir.

CONTRA TUDO E CONTRA TODOS SURGE O AUTOMÓVEL

Podemos dizer que o surgimento do automóvel foi uma coincidência do acaso e do destino, pois Gottlieb Daimler e Karl Benz
sofreram muito com seus inventos. As críticas da época eram pesadas e houve, em função disto, muitas perseguições nas cidades
em que trabalhavam. O jornal Connstatter Zeitung, em 1885, fez duras queixas contra o triciclo e o motor que Daimler
estava testando pelas ruas de Connstatt. Dizia que aquele invento era diabólico, repugnante e muito perigoso para a vida e o
bem estar dos cidadãos, solicitando uma enérgi- ca e drástica intervenção dos policiais e autoridades locais. Daimler, apesar da
angústia e mágoa, não desistiu. Continuou sua pesquisa e testes com o triciclo. Concentrou-se ainda nas pesquisas de seu
barco, em estágio adiantado. “O Marie” tinha um motor a explosão de 1,5 HP. Quando foi fazer seus testes em um rio
próximo, disfarçou o barco com muito ara- me, fios intermináveis, diversos isolantes e caixas que não serviam para nada. Disse
aos curiosos que se tratava de um barco movido a eletricidade. Só após o sucesso do teste Daimler revelou a verdade e ganhou
a batalha psicológica de seus concorrentes. No mesmo período, Karl Benz era vítima também de um violento ataque de jornalistas
e outros inimigos. Mannheimer, um conhecido jornalista, descreveu o invento de Benz como indecente e como uma ameaça a
toda a sociedade. “Quem seria o louco interessado em adquirir um invento (a carruagem sem cavalos de Benz) que ocuparia
espaço, sem qualquer segurança e conforto, uma vez que havia centenas de cavalos a venda, algo bem mais útil ao homem da
região?”. Com essas críticas, Benz pensou em desistir, mas sua esposa insistiu para que não o fizesse, pois há muito tempo Benz
trabalhava naquele projeto. No final do verão de 1888, camponeses e fazendeiros assustados viram um dos veículos de Benz
avançar ao meio da estrada cheia de buracos levantando leve poeira. O veículo era dirigido por um de seus filhos, acompanhado
por Benz, a esposa e seu outro filho. Benz ganhou confiança e acabou convencendo até seus inimigos. Por volta de 1875, mais
de dois mil motores tinham sido vendidos na Europa.

Texto adaptado de: http://www.negocioseantigos.com.br/contandohist_mercedesbenz.htm


Segundo período – Pesquisas por tentativas, erros e acertos
A proliferação das organizações industriais também criou problemas outrora
inexistentes. As novas organizações se transformaram em terreno fértil para pesquisas,
testes, experimentos, análises e criação de teorias que contribuíram para a elevação da arte
da administração à categoria de ciência. Muitos “pesquisadores organizacionais”
sentiram-se encorajados a escrever sobre suas experiências e técnicas empregadas na
administração em grande parte por conta dos sucessos que obtiveram ao administrar
estes novos desafios. O resultado dos trabalhos deste segundo período da cronologia é
conhecido na literatura das teorias da administração como abordagem clássica da
administração. Dentre os pioneiros dos estudos das organizações produtivas destacam-se
alguns, cujos feitos são descritos no Quadro a seguir.

UNIDADE DA FORD VAI MONITORAR AS IDAS AO BANHEIRO

A fabricante de automóveis americana Ford, anunciou ontem que a gerência da unidade da empresa na cidade de Wayne (Michigan) irá
monitorar o tempo que os funcionários gastam em idas ao banheiro.
Segundo memorando emitido pela unidade Wayne, muitos de seus 3.500 funcionários gastam mais do que os 48 minutos permitidos
por turno para usar o banheiro. O tempo perdido com as longas ausências dos funcionários de seus postos de trabalho estaria
impactando negativamente a produção dos veículos utilitários.
“No ambiente competitivo de hoje é importante que a fábrica de Michigan elimine imediata- mente essa preocupação para evitar os
riscos associados à segurança, qualidade, custo e moral” diz o memorando, segundo reportagem do “Detroit News”.
Fonte: Folha de São Paulo, 28 de outubro de 2005.
Terceiro período – Consolidação da ciência da administração
Em continuidade à evolução natural dos fatos, a ciência da administração avançou
rapidamente para uma fase de amadurecimento e consolidação das práticas
administrativas. Inicialmente, a administração da produção foi conduzida exclusivamente
por engenheiros. Mas o fato de a abordagem clássica não considerar as variáveis humanas
adequadamente permitiu que profissionais de outras áreas do conhecimento humano,
principalmente os psicólogos, passassem a ter uma atuação importante no desenvolvimento
da ciência da administração. Em paralelo à evolução desta abordagem comportamental,
incorporaram-se à administração uma série de modelos estatísticos e matemáticos.
Algumas das principais contribuições à administração e, especificamente, à administração
da produção que ocorreram neste período são apresentadas no quadro a seguir:

Quarto período – Abordagem quantitativa


A abordagem quantitativa da administração teve sua origem durante a Segunda
Guerra Mundial. Neste período, equipes multidisciplinares de matemáticos, físicos,
estatísticos e outros profissionais foram formadas para criar ferramentas mais sofisticadas
que as existentes até então para auxílio à tomada de decisão, inicialmente em questões de
interesse militar. Como estes problemas envolviam materiais, armazenamento, logística,
pessoas e outras preocupações similares às de qualquer organização, as teorias e técnicas
criadas foram rapidamente adotadas por organizações não militares.
O foco principal de qualquer método quantitativo consiste na busca de um processo
de auxílio à tomada de decisão baseado em critérios absoluta- mente racionais e analíticos,
enfim quantitativos. A maioria dos métodos quan- titativos se baseia em algum critério de
decisão envolvendo algum fator econômico.
Esta abordagem tem uma visão distinta das abordagens até então adota- das, em
função da aplicação de matemática, estatística, pesquisa operacional e outras técnicas, ditas
quantitativas, para auxílio à tomada de decisão pelos administradores. Os principais
personagens desta fase e seus legados são a- presentados no quadro a seguir:

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